Astronaves Na Pre Historia Peter Kolosimopdf Mais de 13 MB 1
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ASTRONAVES
NA PRÉ-HISTÓRIA
PETER KOLOSIMO
ASTRONAVES
NA PRÉ-HISTÓRIA
Tradução de
OCTÁVIO MENDES CAJADO
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EDIÇÕES MELHORAMENTOS
Título do original em lingua italiana:
ASTRONAVI SULLA PREISTORIA
& by Sugar Editore. Milão, Itália
Nx
1- 1976
NÃO É TERRESTRE
O PLANETA DESCONHECIDO
Colaboração fotográfica de
MÁRIO SALOMONE
Desenhos de
GIORGIO FERRERQ
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VII — OS RAIOS E À ATÔMICA ....... soda age marina 193
Um paraiso inquietante ...ciccisssieesoo 196
Em toda parte está o fogo 209
Maio SaLoMoNE é homem muito curioso. Tão curioso que escolheu um hobby
que não tem nada de repousante: o das viagens no tempo. Sai do escritório ou de casa
e desaparece. Reaparece uma hora depois ou (se considerarmos à coisa de outro ponto
de vista) a muitos séculos de distância, em pleno período dos bárbaros, procura o que
lhe interessa e depois se transfere para a época romana. Ou para a pré-história.
Aonde foi ele agora? À Idade do Bronze?
Talvez. Alguns pedaços de terracota, descobertos aqui e ali, parecem querer-nos
indicar essa data, ainda que indistinta, no misterioso calendário do nosso passado. Mas
nada do que o cerca trai a época em que ele se encontra. À paisagem pré-alpina é fe-
chada pelos relevos duros, pela áspera vegetação de sempre, por um silêncio em que
apenas crepitam os ramos partidos, as folhas esmagadas.
O cone inquietante do Musiné, o monte sinistro, ameaça O panorama, quase como
se evocasse dimensões ignotas, a 13 km do local onde deverá surgir Turim, sobre o
qual não cresce nada de belo, nada medra, tudo é repelido por uma natureza inexpli-
cavelmente hostil.
O nosso amigo olha à sua volta, procura algum ponto de referência.
E, de repente, vê um “disco voador”.
Está ali, diante dele, não suspenso no ar, mas esculpido numa rocha.
Esculpido na pré-história. O que é sensacional — e sobretudo palpável — como os
discos avistados e sobre os quais continuam a chegar-nos notícias de todas as partes do
globo.
to Voltatemos amplamente. num próximo trabalho, à imponente auvidade desta associação, que inclu entre os seus fundadores v Dr Mário
Zambelh (autor de descobertas importantíssima) e o Prof. Dario Fogliato, um dos maiores estudiosos das provincias romanas
« O chamado “bloco
de S, Antônio de Susa,
no Piemonte. Pode ser com-
parado às gravações franco-
ibéricas: cireulozinhos grava-
dos e os raios, de faro, nã
correspondem a nenhuma re-
presentação solar conhecida.
“A uns soo metros, num bosque do lado oeste do 'Cume” de Santo Antônio de
Susa”, lemos no seu relatório, “sobre uma rocha de 2,60m de comprimento, que se
destaca do solo cerca de 1,20m, nota-se uma gravação em forma de elipse, cujos tra-
ços têm 1 cm de profundidade e dois de largura (fig. 1).
“Interessante é o fato de que a linha elíptica é encimada por outras, dispostas em
forma de raios: a princípio se apresentam curvas, depois retas c mais curtas; finalmente
duas incisões nítidas a atravessam na parte terminal, dando a idéia de uma cauda.
“Na parte interna da elipse, ro cm mais embaixo, nota-se uma série de copelas lisas,
quase circulares, que seguem a curvatura, colocadas a $ cm uma da outra.
"A gravação está voltada para leste, na direção do Monte Musiné...”
“Voltada para leste”: de fato, poderia tratar-se da representação do astro nascente.
Não nos esqueçamos, porém, que não conhecemos nenhum sinal solar com um círculo
de raios nessas condições, incompleto, falho na parteanterior da elipse, com os traços
obliquos paralelos, fugindo para a direita e dando, assim, uma impressão de movimen-
to. Nem, muito menos, se encontra em alguma parte do mundo uma disposição simé-
trica de tantas copelas que evoca, sem muito esforço da fantasia, uma série de óculos.
Além disso, as copelas não teriam sentido numa representação solar!
Estaremos, acaso, diante da reprodução pré-histórica de uma astronave?
Talvez ainda fosse possível sorrir de um pensamento desse gênero se à gravação de
Santo Antônio de Susa não se juntassem outras, às vezes menos precisas, mas que cons-
tituem sem dúvida uma documentação surpreendente sobre o assunto.
À esse respeito se refere o pesquisador André Michel, catalogando 17 grutas situa-
das na região que ele denomina franco-cantábrica e que se estende desde a zona atra-
vessada pelo Rio Vézere (Limousin, França) até a província espanhola de Santander,
onde se encontram, entre outras, as famosas pinturas murais de Altamira.
10
São pinturas que remontam a uma asvilização desconhecida, que floresceu, aproxi-
madamente, entre os anos 30000 e 10000 a.C.2, « que em sua quase totalidade repre-
sentam animais. Quem se incumbiu de classificá-las contou, em 72 grutas, 610 cavalos,
sto bisontes, 20$ mamutes, 176 cabritos-monteses, além de 500 outros quadrúpedes.
É caro que os representantes dessa cultura enigmática (ou melhor, artistas natos, se
considerarmos à natureza, a perfeição, a beleza das suas obras) atribuíam à caça enorme
importância. Outra coisa, porém, devia impressioná-los tanto que os induzia a incluir-
lhe as imagens entre as que reproduziam os motivos básicos da sua existência.
E são imagens consideradas incompreensíveis pelos estudiosos da pré-história; assim
as julgamos também até ontem, isto é, até que se começou a falar em “discos voadores”
ea reproduzir-lhes as formas.
Suponhamos que vivêssemos numa ilha solitária, sem conhecer o resto do mundo,
mas que pudéssemos redigir um diário: é óbvio que as suas páginas seriam ocupadas
pela descrição dos nossos problemas mais prementes (que diriam respeito, sem dúvida,
à nossa alimentação). Se vissemos uma embarcação passar no horizonte, provavelmente
lhe dedicaríamos algumas palavras, mas não muitas, Entretanto, se a coisa se repetisse,
se algum navio aproasse diretamente às nossas praias, descreveriamos de modo ade-
quado o acontecimento, que viria incidir brusca e profundamente na história dos nossos
dias,
Não poderia ter acontecido alguma coisa parecida aos habitantes das cavernas fran-
cesas e espanholas?
Esses artistas do Paleolítico, observa Michel, “reproduziram muito fielmente tudo o
que quiseram reproduzir. À sua fidedignidade é absoluta”. E continua, referindo-se
sinais que parecem representar vários upos do que hoje denominamos UFOs
(Unidentified Flying Objecis5 “objetos voadores não identificados”): "Se estas obras
não representam nada, é o caso de perguntarmos como fo; que artistas tão ligados ao
realismo em todos os outros campos expressaram as suas fantasias imaginando de modo
preciso, com surpreendente exatidão, formas cuja existência seria demonstrada 15 ou
20 mil anos mais tarde pelo Relatório Condon””
O estudioso francês nos oferece, catalogadas, as reproduções dos desenhos executa-
dos pelo Professor André Leroi-Gourhan (Fig. 2), a maior autoridade viva em matéria
de arte pré-histórica ocidental.
Examinemos essas representações. À nosso ver, algumas são tão vagas que não nos
permitem incluí-las entre as reproduções de objetos voadores não identificados. Ou-
tras, contudo, são impressionantes, como é impressionante o fato de que inúmeros sinais
idênticos, ou muito parecidos, tenham sido descobertos em cavernas separadas por dis-
tâncias consideráveis.
Observemos, por exemplo, os desenhos dos grupos G, O, P: veremos, perfeitamente
estilizadas, as formas mais recorrentes dos veículos espaciais de pressuposta origem ex-
traterrestre, tais como nos foram apresentados pelas fotografias e reconstituições feitas
em nossos dias.
Em algumas representações a idéia do movimento é expressa com uma técnica que
diremos "de histórias em quadrinhos”. Histórias em quadrinhos pré-históricas? Exami-
a “Palacolidhne UFO Shapes” “Fly Saucers Revue”, vol 160m 2. maio-qunho. 1970
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Fig. 2. Sinais encontrados em 17 grutas da região francCO-E
às pesquisas de Leroi-Courban.
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Asletras referem-se à classificação efetuada por Michel segundo os vários tipos de objetos reproduzi-
dos, os números dos lugares em que foram achados, catalogados às págs. 14 e 15. Entre parênteses,
a época aproximada a que remontam as representações
Pair-non-Pair, perto de Marcamps, departamento da Gironda, França (30000 à 20000 a.
Formas concêntricas (A-1)
Villars, departamento da Dordonha, França (cerca de 1 q000 a.C.) Símbolo com protuberância late
ral, talvez aproximável dos correspondentes ds letras C e D (B-2).
Pech Merle, perto de le Cabrerets, departamento de Lot, França (cerca de 17000 a.C.) Sémbol
protuberdncia superior, cabeça humanóide (C-3, ]-3).
Cougnac, perto de Payrignac, departamento de Lot, França (11000 a.C, mais ou menos) Cabeça:
de humanóides (repetidas seis vezes) e símbolos com protuberâncias superiores, coma em Pech Merle; além
disso, sinal com duas protuberâncias simétricas (C-4, D-4).
Las Chimencas, perto de Puente Viesgo, província de Santander, Espanha (cerca de 20000 a.C.)
Forma elíptica com seis copelas alinhadas verticalmente à esquerda (E-s).
Altamira, perto de Santillana, provincia de Santander, Espanha (12000 a 10000 a.C.) “Pratinhos”
que evocam as formas dos UFOs hoje mais recorrentes, um dos quair com uma figurinha ao lado (F-6,
[E
Les Combarclles, perto de Les Eyzies, departamento da Dordonha, França (12000-10500 a.C.)
Simais elípticos atravessados por linhas, algumas das quais parecem lembrar antenas; cabeça de humanóide
que lembra J-3 (Pech Merle) (E-7, H-7, 1-7, J-7).
Font de Gaume, perto de Les Eyzies, departamento da Dordonha, França (cerca de 12000 a.C.)
Símbolos "tetiformes"" (F-B)
Les Trois Frêres, perto de Montesquieu, Avantês-Aricge, França (12000-10090 a.C.) Símbolos
“tetiformes"”, um dos quais parece acompanhado de uma escadinha. “Formas UFO” (F-10, G-ro,
L-10).
Naux, departamento de Ariêge, França (cerca de 12000 4/C.) “Formas UFO”, algumas das quais
sugerem à údéia de movimento (F-1 , G-11,0-11, Qi 1)
La Cullalvera, perto de Ramales, província de Santander, Espanha (12000-to 700 a.C.) "Formas
UFO" (G-12).
14. Ussar, departamento de Ariége, França (cerca de 10500 aC). Simais discoidais, construção que
lembra a Aimé Michel o "módulo lunar” norte-americano. Uma reprodução é acompanhada, no centro,
embaixo,por uma figura humana (H-14, M-14, N-14).
El Castillo, perto de Puente Viesgo, província de Santander, Espanha (12000-10000 a.C.) Quadri-
láteros com sinais internos (Rex 5).
sem muitas histórias, e há, ao contrário, os que o descrevem como portador de rigidos
princípios morais, incapaz de ceder a aliciamentos desse gênero.
Da última versão talvez tenha nascido a curiosa forma de superstição que vê no urso
um personagem venerável, temido e odiado ao mesmo tempo. Seja, porém, como for
que se apresente a história, notemos que ela contém elementos inconciliáveis com o
nível cultural primitivo dos paleossiberianos, Procurando interpretá-la, sentimo-nos
tentados a ver na “estranha pele” uma roupa (talvez um escafandro?), no “rosto de
olhos redondos”, que nos remete ao humanóide da gruta francesa de Les Combarelles,
uma máscara (ou um capacere?), no andar pesado, as atitudes de um ser embaraçado
pela indumentária, no gesto paralisante, a ação de uma arma.
Curioso, todavia, é o fato de que ainda hoje os iucaguiros siberianos (que em tempos
remotos habitaram um vastíssimo território compreendido entre os rios Lena e Coli-
ma, o Mar Glacial Ártico « a cadeia de montanhas de Verkhoiansk, e agora estão
reduzidos a leste do trato inferior do Indiguirsca, em vias de extinção) praticam à
“prostituição da hospitalidade”, oferecendo aos visitantes, em sinal de amizade, as
suas mulheres.
É talvez entre os iucaguiros que poderemos encontrar ainda a chave fantástica de
um enigma que nos foi formulado a milhares e milhares de quilômetros de distância,
nas grutas franco-cantábricas.
Falando nas representações propriamente ditas, aludimos às gravações "tetiformes”,
que têm, às vezes, um sinal superior oval, mas formam, com maior frequência, um
ângulo obtuso, Voltemos às tabelas de Aimé Michel, a F-g ea Q-r1: não representam
pontas de flechas, como alguns julgaram poder afirmar, e isso se torna mais do que
16
evidente no segundo desenho, que parece mostrar um objeto em vias de afastar-se pre-
cisamente daquele “tetiforme”.
Que poderia ser, portanto, este último? Outro objeto voador, um encastelamento
ou uma espécie de hangar?
xaminemos a reprodução de uma “carta de amor” que as jovens iucaguiras traçam
na casca das árvores (Fig. 3), seguindo uma tradição nascida em tempos imemoriais.
A lança esguia à esquerda representaria o homem, a lança mais larga, à direita, a mu-
lher. Os contornos figurariam a casa, as traves superiores transversais, a dor e a sau-
dade. O significado poderia exprimir-se com estas palavras: “Tu te vais, eu fico. Por
tichoro e me entristeço”*
Há quem pense, porém, que o sentido dos desenhos tenha sido, no princípio, bem
diverso, embora se reduzisse sempre a uma expressão de triste despedida: mas despe-
dida dos deuses, que deixam a casa terrestre para dirigir-se ao céu, do qual desceram.
Para muitissimos povos, de fato, a lança colocada verticalmente significa a subida
parao infinito, E há mais ainda: o meio de muitos grupos tungúsios (população de ra-
sa mongólica que, ocupando uma zona imensa entre o Rio Ienissei e o Pacífico, absor-
veu também, há muito tempo, os iucaguiros) encontramos o que poderia ser um ele-
mento de transição entre os desenhos pré-históricos franceses e a “mensagem” ilustra-
da acima: um triângulo isósceles com a base incompleta, em que está gravada verti-
calmente uma flecha. Mas aqui não se trata de uma carta de amor, e sim de um simbo-
lo mágico que indica as relações entre o céu e a Terra. O sinal "retiforme”, com efeito,
representa a típica habitação dos tungúsios, constituída pela tenda cônica ou pela ca-
bana hemisférica.
— Ea arma apontada para cima? Uma astronave, diriam os adeptos da hipótese se-
gundo a qual o nosso planeta teria sido visitado, mais de uma vez, num passado re-
moto, pelos representantes de avançadas civilizações estelares.
Já vimos que outra população siberiana, localizada em alguns vales ocupados ante-
mormente pelos tungúsios, a dos iacutos, coloca o ataúde dos seus mortos sobre galhos
de árvores, enquanto os aircunstantes entoam uma nênia fúnebre, que diz: “Dorme...
dorme enquanto os espíritos não descerem das estrelas nos seus carros resplendentes”*
Juntemos que o estranho costume, com algumas variantes, é próprio de todas as
primitivas da imensa região asiática: os iucaguiros erguem sobre paus os sar-
cófagos, (Fig. 4), ao passo que os tungúsios os depõem, obliquos, sobre encastelimen-
ERR qe, por mais que se queira ser realista, dirigem de maneira bem precisa a imagina-
ção, deixando transparecer o conceito de “alguma coisa” pronta para disparar na di-
reção
do céu, na direção da morada dos deuses. (Fip. 5).
Um míssil?
É uma idéia que, de boa ou de má vontade, não podemos deixar de tomar em con-
eração, uma idéia talvez expressa póf obras de vários gêneros, cujo sentido primi-
se perdeu ou deformou, embora conservasse, de forma frequentemente obscura, o
onginal. Este é o caso dos obeliscos, dos campanários, dos minaretes.
— Háainda os que, referindo-se a tais construções, sustentam tratar-se de uma incons-
Cyar Lioer, Aber Got nor da, Walver Verlag, Oem, 1960
fem E Terreiro, do mesmos auto, Sugar Esiusre, Milão, Estr liveo for eradizado para 1 porcuguês por Anacleto Valtorta. pará às Edisões
Bia deu de" Nãar é Terrestre”
Fig. 3. (ao alto) A “carta de amor juca
guira”, há quem suponha tratar-se da lem
brança de uma despedida de antigos vis
tantes espaciais
ciente imitação de simbolos fálicos antigos, mas essa opinião é absolutamente inacei-
tável, e julgamos havê-lo já demonstrado ao falar das estelas maias!
De resto, para demolir essa hipótese, talvez bastasse um olhar dirigido ao obelisco de
Tutmés em Carnaque, um monólito de granito vermelho extraído das escavações de
Assuã, no Egito, que mede cerca de 23 m de altura (Fig. 6).
Que dizer, pois, de outra construção muito mais próxima de nós no tempo? Mos-
tramos a sua fotografia (fig. 7) a diversos amigos, perguntando-lhes à queima-roupa o
que representava,
“Um míssil”, responderam todos, sem hesitação. Trata-se, porém, do minarete da
“Nova mesquita” de Istambul, que, não obstante, dá realmente a idéia de uma astro-
nave na rampa de lançamento!
Os templos e as estrelas
Templos, astronaves: existe deveras um nexo entre esses conceitos aparentemente
tão discordantes? Viatcheslav Saitsev, o conhecido filólogo da Academia de Ciências
y Terra sets Tempo, do mesmo autor, Sugar Editore, Milão. Este livro fo traduzido para n português por Anacleto Valtorta, para as Edições
Melhoramentos, sob » título de “Antes dos Tempos Conhecidos
18
Fig 3. Outra sepultura estranha: este sarcófago tuagu
sig de madeira parece disposto de modo capaz de favo
tecera subida do defunto para o céu.
bielo-russa, que mais de uma vez pôs em polvorosa o mundo científico com as suas
teorias relativas ao desembarque de “uranidas” em nosso planeta, afirma-o decisiva-
mente:
19
Fig. 7. Um míssil nu-
ma rampa de lança-
mento? Não, trata-se
do minarere da “No-
va mesquita” de
Istambul
idéia assumiu a forma de uma hipótese científica séria, na obra de outro estudioso so-
viético, Modesto Agrest:
“Aos primitivos habitantes do nosso planeta, os visitantes cósmicos deveriam pare-
cer deuses dotados de poderes sobrenaturais. Presumimos que e: s deuses tenham saí-
do de uma máquina (uma astronave), o que nos induz a pensar que se construíram tem-
plos semelhantes a ela na forma; e os templos são próprios a todas as religiões e a
todos os cultos.”
Os chamados “livros apócrifos” (escritos hebraicos ou paleo-cristãos, aparentemente
inspirados, mas não reconhecidos pela Igreja como tais) dizem que Davi subiu ao céu,
onde os anjos lhe teriam mostrado a imagem de um edifício concebido como o futuro
templo de Jerusalém. Voltando ao nosso globo, o famoso rei de Isracl teria ordenado
imediatamente a edificação do mesmo templo, ocorrida no século X a.C.
20
À imagem da “igreja” teria sido, na realidade, a de uma nave espacial vista por
Davi?
E o que pergunta Saitsev e, lembrando que os antigos textos indianos são muito
mais precisos na descrição de "baixéis celestes” e armas terrificantes, cita tudo o que
o soviénco Nicolau Brunov escreveu, já em 1937, nos seus Ensaios sobre a História da
Arquitetura:
“OQ simbolismo dos templos da grande península asiática foi até agora estudado de
modo insuficiente. Os seus arquitetos são guardiões de uma saga esquecida, cujo estu-
do aprofundado levaria a uma nova e vasta interpretação simbólica”.
Não conhecemos, evidentemente, à estrutura dos cruzadores espaciais e, por conse-
guinte, não podemos estabelecer paralelos entre eles e a forma dos templos. À astro-
náutica, todavia, parece dizer-nos que os veículos extraterrestres devem ter sido com-
postos principalmente de duas partes: uma destinada a superar distâncias interestelares,
a outra destinada a funcionar como meio de transporte entre a astronave em órbita e O
corpo celeste escolhido como objetivo. Podemos encontrar um exemplo disso, em pe-
quena escala, na “nave mãe” do “Projeto Apolo” «o LEM, o “módulo lunar”, que se
destaca da primeira para desembarcar no satélite e voltar, depois, à astronave.
Enquanto os “módulos” poderiam ter sido representados com estrelas, campaná-
nos, minaretes, talvez não fosse absurdo ver figuradas as naves nos numerosissimos
isféricos da Antiguidade, cuja forma é identificada por vários estudiosos,
além dos soviéticos, com a dos “discos voadores”, E este perfil — observa Saitsev —
lembra também, cm diversos casos, o dos Vostoks, como nos evoca a arquitetura feni-
cia, cujos traços nos trazem diretamente ao espírito a Gemini estadunidense.
Encontramos os motivos da estela e da cúpula, unidos, nas stupa indianas, que con-
sagram os lugares sagrados ao budismo. “A forma comumente mais difundida”, nos re-
“corda Nicolau Turchi, "é a de base quadrada, constituída de oito degraus, sobre a qual
está assentado um corpo central em forma de panela emborcada, da qual se ergue uma
torrezinha subdividida em seções e terminada por um cume com os simbolos do Sol,
da Lua e do fogo" *,
O simbolismo budista nos faz ver, por exemplo, nos degraus os meios que condu-
em à iluminação, na “panela emborcada” a própria iluminação, nas seções da torrezi-
mha,à representação de vários conceitos religiosos ("o caminho óctuplo, os dez conhe-
“cimentos, os diversos poderes místicos”, etc.). Trata-se, contudo, da adaptação ao bu-
“dismo de elementos que, anteriormente, tinham um significado diverso. À luz dos
“atuais conhecimentos científicos não nos sentiriamos tentados à ver nas seções da tor-
rezinha os compartimentos de um “módulo”, na “panela emborcada” o meio de trans-
“pome espacial a que alude Saitsev, nos sinais do Sol e da Lua a destinação cósmica de
Juma astronave, no do fogo a sua força de propulsão?
Não foi, portanto, por um simples rasgo de fantasia que os terraços de certos templos
es, sobre os quais se apinham construções desse gênero, foram chamadas por
de “monumentos à astronáutica pré-histórica” (Fig. 8). E a mesma definição
se pudesse aplicar, como o sugerem ainda os estudiosos soviéticos, a muitos 4o-
21
Fig. 8 (à esquerda)
A série de cupu-
las encimadas de
pináculos sobre o
terraço de um
templo de Baro
budur (Java)
los! que parec em querer exprimir, em sentido horizontal, o mesmo conceito das stupa,
com a da mesquita de Jerusalém (Fig. 11), construída pelos árabes no século VII, onde
primeiro Salomão « depois Herodes, o Grande, haviam edificado os seus célebres tem-
plos, seguindo com toda a probabilidade os modelos precedentes, não podemos deixar
de maravilhar-nos da semelhança das duas obras, separadas por distâncias impressio-
nantes no tempo e no espaço
E o mesmo se pode dizer a respeito dos paióis mexicanos (Fig. 12) construídos de
acordo com um modelo que se perde em épocas antiguíssimas, das aldeias de Harran
(Fig. 13) (a bíblica cidade da Mesopotâmia, “capital dos enigmáticos sabeus, onde o
culto do Deus Lua era associado ao simbolo da meia-lua e do disco, mais tarde reto-
mado pelos muçulmanos), dos túmulos dos marabutos de El Kasr, no oásis egípcio de
Dacla. (Fig, 14).
Da América ao Mediterrâneo: outra grande surpresa nos aguarda no quadro destas
24
Fig. 13. À grande extensão de ha
bitações abobadadas dos misterio-
sos sabeus (Harran). À analogia
Com os trulli (construções cônicas)
da Apúlia é inegável
26
ig. 16. Um sugesti-
vo escorça dos famo
sos trull: apulienses.
27
E -
A Mas
Fig. 17. Ainda estamos na região dos trull: confronte-se a parte superior dos edifícios
com a do templo de Tenoctitán (fig. 1 5). Até a idéia da pirâmide parece ser expressa
pelos degrauzinhos!
19. Não
é Terreure, já citado,
28
/
em suástica,
Sof El,
E
em sinais planetários,
S +
no misterioso “Tridente dos Andes”, que nos reconduz a Posêidon, à Atlânuda,
9
em referências solares e estelares ao lado da universal "árvore da vida”,
Ea
em referências solares e estelares ao lado da universal "árvore da vida”
se
S
[1
As civilizações antigas, que floresceram em todos os continentes, possuem incgáveis
traços comuns, traços que nos falam de maneira inequívoca numa única matriz, em ha-
mes remotissimos, vivos, ainda que ignorados dos portadores dessas culturas, herdei-
ros sem dúvida de outras ainda maiores.
Acreditamos haver fornecido, com os trabalhos precedentes, certo número de ele-
mentos capazes de sustentar a hipótese que nos conduz à formulação de teorias fasci-
nantes: a teoria relativa à existência de povos altamente evoluídos em tempos para nós
sem data e as teorias que procuram entre as estrelas o berço do progresso humano.
E agora nos propomos ampliar e aprofundar, servindo-nos sobretudo da imedia-
ção dos confrontos fotográficos, a nossa documentação
Fig. 18. A esulização de um espacial? Não, ao menos na concepção corrente aos nossos
dias: trata-se de uma enfiada de cúpulas de srulli com esferas sobrepostas.
H
SEDE DE ESPAÇO
v1 Nós mas ocuparemos mais adiante desta estranha criatura e das referências espaciais à que se presta.
12 Ndo é Terresere, já curado.
31
Marcianos no Vietnã
Agora estamos sobre o cume do teto,
estamos em cima, em cima do teto...
Sopra, ó vento, do mar!
Leva-nos sobre a Terra;
sopra, ó vento da costa,
leva-nos sobre a Terra,
Remai, pássaros de penas resplendentes:
servi-vos dos remos, ó xofrangos..
O arco-íris é o nosso meio de transporte...
Os balaústres da ponte são de ouro.
Este trecho (conservado por tradição oral e tirado, pela primeira vez no século pas-
sado, da fórmula mágica de uma sacerdotisa de Toraja, em Célebes) é referido pelo
Professor Anthony Christie, da Universidade de Londres ", que o interpreta apoian-
do-se “na crença muito difundida na Ásia sul-oriental de que se encontra o mundo do
além descendo o rio ou atravessando o mar”,
O estudioso conseguiu associar, numa apaixonada obra de pesquisa, a “fórmula mi-
gica” aos tambores de bronze da cultura de Dong-son (Vietnã setentrional), nos quais
se encontram representadas numerosas embarcações. Meios para o transporte das al-
mas, portanto? Ainda que assim fosse, o conceito poderia ter sido perfeitamente trans-
posto de um plano real para um plano mágico; mas o próprio Prof. Christie fornece
outra interpretação, ainda mais fascinante: “Parece quase certo”, escreve ele, “que a
barca era usada pelo espírito guia para comunicar-se com o reino dos vivos”.
Por conseguinte, uma espécie de veículo entre à Terra e o além-túmulo. Ou entre à
Terra e 0 espaço?
A hipótese, evidentemente, é arriscada, Mas se observarmos os particulares das re-
presentações, se Os aproximarmos de outros, próprios das culturas asiáticas, americanas,
européias e africanas do passado, encontraremos motivos para muita perplexidade.
Num dos tambores vemos uma profusão de figuras talvez emplumadas, talvez ador-
nadas de chapéus estranhos (Fig. 19), cujos topos são idênticos aos dos remos, das es-
truturas das embarcações, de algumas ninharias inidentificáveis que fazem parte do
meio, mas que não têm relação alguma com à navegação.
Referindo-se a outras obras análogas do Vietnã do Norte, o soviético Leonov su-
gerc a idéia de antenas erguidas para o céu, apoinado-a nos círculos que aparecem, nu-
merosos, e nas duplas espirais estilizadíssimas, muito provavelmente sinais solares ou
cósmicos,
Digno de nota é o fato de que os seres reproduzidos têm características apenas vaga-
mente humanas e de que o personagem central rege um instrumento enigmático, intei-
ramente semelhante aos empunhados pelos chamados “espaciais da Valcamónica”",
a cujo respeito escreve outro investigador russo, Kasantsev:
“Considere-se, por exemplo, o desenho rupestre descoberto num vale alpino pelo
arqueólogo francês Emanuel Anati: ali se vêem figuras antropomorfas com estranhos
32
Fig. 19. Um dos tambores de bronze da anga civilização de Dong-son (Viena seten
vrional): com as espirais, eis sinais solares e outros simbolos de dificil interpretação se dis-
tingue, no centro, um instrumento enigmático que recorda os da Valcamônica
“chapéus” que partem dos ombros; poderiam ser imagens estilizadas dos capacetes
herméticos dos “estrangeiros”: até os apêndices externos dos tais “chapéus” são insó-
litos. As figuras empunham objetos que (...) têm a aparência de simbolos geométricos”.
Outras representações escaparam até agora a qualquer tentativa de interpretação.
Na parte superior de uma delas houve quem quisesse ver quatro remadores e, na parte
inferior, quatro recipientes (Fig. 20). Mas aqui os remos terminam sobre o convés, e os
recipientes desse gênero são estranhos 4os usados no mesmo período na Ásia sul-ori-
ental, como os seus engenhosissimos suportes.
Somos, antes, levados a pensar cm seres que empunham alavancas (nem a sua posi-
ção é a que assumiria uma esquadra de remeiros) associadas a reservatórios subjacentes.
Igualmente indecifrável é a representação de outros quatro personagens que agem
com estranhas pás reviradas sobre objetos de forma nunca vista (Fig. 21). Alguém for-
mulou a hipótese de que se trata de homens ocupados em pisar em dois almofarizes,
mas nada há que a torne aceitável: ao contrário, voltamos à encontrar aqui, embora
variados, os motivos das plumas e “antenas” da Fig. 19. Além disso, a indumentária
dos seres colocados à esquerda contrasta nitidamente com a dos outros: observando à
primeira, poderemos pensar, mais do que num diadema de plumas e num saiote, no
motivo simbólico das asas dobradas.
33
Fig. 2x. Estamos ainda em Dong-son: estranhos seres com plumas e asas dobradas nos
sugerem imagens “espaciais”
”
Fig. 22. À enigmática "campana tt 1 Mia AUi Yo
norte-viernamita com às sinais so- É sed a e
lares eo
nes“tridente”.a à ramoE ay Ea
n
' E Ma Sa
34
Fig. 23. Seção longitudinal da sepultura etrusca denominada "Montagnola”: parece querer representar com
impressionante realismo um veiculo e um “módulo”
Já é uma clara evocação do espaço a meja-luz mesopotâmica que simboliza uma fa-
bulosa embarcação, mas o que nos deixa atônitos são os “fusos” asiáticos e america-
nos, cuja síntese encontramos na Toscana.
Observemos a seção longitudinal da sepultura etrusca conhecida pelo nome de
“Montagnola” (Fig. 23), descoberta em 1959 por Quinto-Sexto Fiorentino, com
28m de comprimento, construida provavelmente no século VIT a.C.: o “veiculo” e o
“módulo” de Saitsev parecem aqui representados com impressionante realismo.
Uma “astronave para o além”, portanto? Sim, mas um “além” que, no início, não
devia ser realmente a morada dos defuntos. Acomodando-nos à “ciência oficial”,
violentando o bom senso, poderemos considerar um caso simples o fato de que em
muitíssimas regiões astáticas e occânicas (da Sibéria à Indochina, da Polinésia à Nova
Guiné, à Nova Zelândia), onde as línguas e dialetos são inteiramente diversos, as mes-
mas expressões designam “morte”e “partida”, “mar” e “céu”, “infinito”, “estrelas”
e “outra terra”, “outra praia”; mas como explicar a correspondência — fonética, fi-
gurada, mitológica — entre o conceito de “serpente” e os de “nave”, “astros”, “cos-
mo”, “obscuridade”, “vida”, “vôo”?
Nos modos, nos tempos, nos lugares mais diversos, tal correspondência é tão viva €
desconcertante que quase diriamos que a aspiração para uma estada ultraterrena das
“almas” beatas foi, em épocas imemoriais, ânsia de vôo, sede de espaço, nostalgia in-
delével, ainda que deformada pelos milênios, de mundos para os quais alguém, na his-
tória não escrita da humanidade, abrira uma janela.
A idade da serpente
36
Fig. 23. A espiral dupla recorre
ainda, na Nova Zelândia, nas
representações em madeira dos
velhos chefes: eis aqui outra
fotografia tirada por Lingé em
Marae
Fig. 26. Espirais múltiplas decoram uma grande pedra colocada diante de um túmulo
céltico de Newgrange, na Irlanda
Fig. 27. Uma taça ritual de basalto do templo canancu de Hazor. com espirais múltiplas.
tória da humanidade, ainda que desta última os papuas não conservem recordação al-
guma.
Precisamente aqui encontramos a origem do simbolo de que nos estamos ocupando:
no princípio era 0 ovo (o ovo cosmogônico (Fig. 29) que encontramos nas religiões de
tantos povos), do qual nasceu a serpente: 0 ovo é o primitivo núcleo atômico, a serpen-
te enrolada numa espiral representa indubitavelmente a protopaláxia!
Esta concordância com as recentissimas conquistas científicas registra-se, como já
dissemos, nas mais longinquas civilizações, conhecidas e desconhecidas: não pode tra-
tar-se de um simples acaso!
A serpente colocada em “8” (o nosso simbolo do infinito!) da América pré-colom-
biana encontra, por exemplo, estranha correspondência nos longos pescoços entre-
laçados dos “leopardos-serpentes” egípcios (Fig. 30); e seja aquém, seja além oceano,
recurva-se numa sugestão de espiral nos chifres dos “monstros sagrados”, encerra-se
numa espiral completa nos símbolos de comando, nos diademas, nos ornatos.
Voltamos a encontrar os cetros em espiral empunhados pelo chamado “astronauta
do Vale do Cauca” (Colômbia ocidental) na magnífica estatueta (Fig. 31) que cvoca
38
Fig. 28. A “eterna espiral” destaca-se também nos escudos e colares dinamarqueses de
há 3,000 anos.
39
Fig. 29. Na “cratera de Vagnonvile”, conservada no museu arqueológico de Florença,
podem-se admirar estes sátiros empenhados em despedaçar 0 “ovo cosmogônico” do
qual sairá Gaia
40
Fig. 32. O alfinete de ouro encontra
do em Trassen, no Saar, lembra muito
de perto 05 cetros em espiral colom-
bianos.
42
Figc34. O “cacique de Muis-
ca”, no centro de um grupo
de figuras de oura descober
tas no altiplano de Bogotá
abundam as espirais. no peito
e nas têmporas.
gião franco-cantábrica. E o mesmo se pode dizer das cerâmicas de Micenas (fig. 39),
que remontam ao século XIV anterior à nossa era.
Rodas para os transportes terrestres, âncoras para a marinha, asas para a aviação. E
para a astronáutica? Como se sabe (tirando os distintivos — diversos entre eles —
adotados pelos soviéticos e pelos estadunidenses), ainda não se encontrou um símbolo
“universal” para os cavaleiros do espaço. Os mísseis condizem mais com a unidade
militar, as formas dos sputniks e explorers já foram superadas, as dos atuais veículos
cósmicos logo o serão também.
Na América do Norte propôs-se a espiral, mas esta foi posta de lado, depois de usa-
da e abusada nos pedidos de máquinas de lavar roupa e outros eletrodomésticos. Hou-
ve, então, quem sugerisse duas espirais juntas, um desenhozinho realmente um pouco
ambicioso, visto que ainda estamos longe das viagens intergalácticas; mas, de qual-
quer maneira, um bom presságio, interpretável até como idealizações do encontro de
mundos diversos,
Não sabemos se será ou não adotado: sabemos, porém, que não é exatamente novo.
Começamos a vê-lo no Saara, gravado nas rochas (Fig. 40) em tempos remotissimos
(Fig. 41), quando o deserto cra um imenso, viçoso, jardim. Tratava-se — dizem-nos —
de um sinal mágico: e é mágico também para nós, visto que nos sugere, mais uma vez,
interrogações apaixonantes: como poderiam os nossos distantes antepassados conhecer
a estrutura da maior parte das galáxias?
43
A esquerda: Fig. 34. Espirais que evocam as da América pré-colombiana ornam a cabeça desta divindade
fenícia de Ras Shamra; à direita: Fig. 36. Uma Astarte fenicia do 139149 século à, C. com os sinais
espiralados no peito.
44
A esquerda: Fig. 37- Estas espirais, que se aproximam de sinais solares, encontradas em Isturicz, na França,
remontam à cerca de 20 mil anos; d direita: Fig. 38. Em Nagada c em El-Ballas (Egito meridional) foram
descobertos, entre outras coisas, estes vasos com as representações de naves, escadas, espirais e até formas
discoidais, que sugerem interpretações demasiado audazes para serem aceitáveis; embaixo: Fig. 39. Desenhos
sugestivos como os cgipeios na louça de Micenas, que remonta, aproximadamente, ao século XTV a. C
Fig. 40. Uma espiral dupla do
Tassili (Wadi Djerat)
48
Página au lado: Fig. 44. A esquerda: sinais
espiralados “oculares” nipônicos. À diref-
ta, no alto: a esulização do deus da Ilha
de Páscoa, Makemake. A direita, embaixo:
esta máscara, que se diria “especial”,
colocada no cri o dos inimigos mortos
na Nova Guiné
49
pelos papuas, que, todavia, ainda os honram, afirmando haver-lhes arrancado “o segre-
do do Sol” (o fogo, provavelmente) e a arte da caça.
Espirais, Sol, caça: em Valcamônica estes motivos também estão unidos, embora
de modo diverso, muito sugestivo: gravados na “Rocha de Borno” (Fig, 45), parecem
querer dar aparência humana a uma rocha esculpida pela natureza em forma de ca-
veira (sem dúvida objeto de culto da parte dos antigos habitantes daquela zona) que |
associa aos aspectos de uma cultura desconcertante fabulosas evocações estelares.
E não falta, para terminar, a ligação com a América: os olhos de “Makemake” pa-
recem espelhar-se, refletidos às dezenas, no famoso vaso maia (Fig. 46) de Copán
(Honduras), confluindo para o centro, entre as asas de traços felinos, para compor o
semblante de um deus desconhecido.
Dentes no Sol
50
ET ps o a TES
de Trkalla (Terra de Arnchm,
RE Ren
Fig. 48. Uma estela tolteca re-
presenta claramente uma divinda-
de (talvez Querzalcóat)) saindo
da boca de um animal de lingua
bifida
52
A esquerda: Fig. so, Quetzalcóar] imediata
mente antes do seu desaparecimento, segua-
do o “Código Florentino” (livro MI): no-
tem-se as chamas, o “capacete”, a estranha
indumentária, embaixo e página do lado, em
coma: Fig. q7- Xiuhcóail é oupra "serpente
de fogo” mexicana: vemo-la representada
com garras, simbolos solares e, talvez, cons-
relações; paga ao lado, embaixo: Fip. 52.
Esta curiosissima representação de répal,
com "secções" internas é apêndices que logo
fizeram pensar em suportes para a aterragem.
encontram-se nas zonas áridas do México
seventrional e são estranhamente semelhantes
às encontradas na Amazônia e na Libéria
Fig. 93: Artefatos pré-históricos
serpentiformes do Trentino: como
acontece com os chamados
“bastões de comando” a que alu-
diremos em seguida, o uso deles
é desconhecido
57
Fig. 36. E muito provável que
esta “pedra que olha”, descaber-
ta por Mário Salomone nas cer-
cantas de Caprice, no Vale de Su-
sa, tenha constituído, há tempos,
um “trampolim sacrificial”
astro que nos dá vida e, talvez, de constelações, como não nos surpreende ver os dentes
ao lado de membros indubitavelmente humanos, esculpidos por outro artista desconhe-
cido.
Nas zonas áridas do México setentrional, portanto — nota ainda Calcagno — en-
contram-se curiosissimas estilizações do reptil (Fig. 52), mais próximas das que foram
encontradas na Amazônia e na Libéria; o animal não só apresenta “seções” internas,
mas também apêndices que fizeram pensar em suportes para à aterragem!
São gravações que remontam ao período arcaico da América pré-colombiana: a ser-
pente rígida, de qualquer maneira, é representada de vários modos em todas as partes
do mundo; reconhecemo-la em plena pré-história, nos chamados “bastões de comando”
da Europa setentrional (Fig. 53), em misteriosos artefatos do Trentino, cujo uso nos é
desconhecido
Em algumas regiões ela se transforma num mágico trampolim para o espaço: suges-
tiva como poucos é a fotografada por outro apaixonado turinense, O Prof. Lamberto
Camerini, nas proximidades de Algajola, na Córsega: carcomida, transformada numa
forma alucinante pelos agentes atmosféricos, surge sobre uma rocha (Fig. 54), à cava-
leiro de uma caverna (Fig. 55), sem dúvida escavada em parte pela natureza e em parte
“retificada” pelo homem.
Esse monumento sem idade pode ser aproximado de outro, piemontês, descoberto
por Mário Salomone nas vizinhanças de Caprie (Vale de Susa). É chamado, em diale-
to, “a pedra que olha” (Fig. 56): e ela “olha” realmente para o vazio, sobre um desa-
prumo de vertigens.
Uma obra do acaso, uma esquisitice da natureza? Não, por certo: se não nos bastasse
dar-lhe uma olhada para convencer-nos, seria suficiente subir um pouco mais, até onde
abundam os sinais solares, que nos falam de ritos obscuros (Fig. 57).
Um “contraforte sacrificial”, portanto, de cujo topo as vítimas eram arremessadas
no abismo, em holocausto ao astro divinizado? Ou uma espécie de atrevido trampolim
58
ig. 57: Todubitiveis sinais sola
es se encontram ao lado “do
trampolim de Caprie”, a dizer-
nos que este não pode ser consi-
derado obra do acaso nem simbo-
lo fálico
OS FILHOS DA LUA
A descoberta dos tasadais, gente absolutamente primitiva que vivia, até ontem, à
dois passos do século XX sem o conhecer e sem ser conhecida dele (que não será, de
resto, a única, mas apenas à última em ordem cronológica), deveria induzir-nos à usar
de muita cautela no reconstituir a história do gênero humano, da sua evolução e dos
seus progressos.
Há quem considere o Procônsul (Fig. 65), que existiu há cerca de 20 milhões de
anos, e o Gigantopiteco (há 5.000.000 ou 10,000.000 de anos) “oriundos da mesma
origem genética da qual depois se originaram os homens e os símios antropomórfi-
cos”, e pode ser verdade. Mas o Plesiantropo do Transval, que viveu há 2.600.000
ou há 600.000 anos, aproximadamente, embora caminhasse em posição ereta e pos-
suísse dentes semelhantes aos dos humanos, não tem relação alguma conosco, exata-
64
Fig. 65. Um Procônsul (à esquerda) e um Plesiantropa (à direita), na reconstrução do Museu Britânico.
mente como nos são estranhos o (Fig. 66) Australopiteco (que viveu, mais ou menos,
há 600.000 anos) e o Pitecantropo de há 300.000 anos (Fig. 67).
Felizmente já se passou a época em que muitos estudiosos insistiam em impingir-nos
como antepassado o chamado Homem de Neandertal: tudo o que havíamos “anteci-
pado” em Antes dos Tempos Conhecidos (1964) já não é posto em dúvida, nem mesmo
pelos cientistas mais tradicionalistas; ao contrário, têm-se multiplicado as pesquisas
tendentes a encontrar os eventuais sobreviventes dos seres que, de 240.000 a cerca de
140.000 anos atrás, teriam dominado vastas regiões do globo.
No volume citado publicívamos duas fotografias de neandertalenses descobertos
alguns anos antes na África setentrional pelo Prof. Marcel Homet, o conhecido arqueó-
logo e antropólogo franco-alemão, De um deles não se sabe mais nada: o outro, aco-
lhido por uma comunidade localizada no Sul marroquino e batizado com o nome de
“Azzo”, morreu hã alguns anos, mas deixou descendentes, reencontrados em agosto
de 1970 por uma expedição do CALUGET de Turim formada pelo guia Emílio
Henry, pelo entomólogo Alexandre Rosserro, pelo explorador Willy Fassio, com a
preciosa contribuição do Dr. Alfredo Guillot, filho do embaixador da Itália em Rabat,
também estudioso apaixonado desses problemas
“Com base nos dados gentilmente fornecidos pelo Prof. Marcel Homet ao Dr.
Peter Kolosimo”, lemos na relação redigida por Fassio, “iniciamos a parte mais proble-
mática da nossa missão; a busca de indivíduos com características neanderralóides.
“A expedição se deslocava assim para o Sul, nos limites do Saara e precisamente na
região do oásis de Skura, nas vizinhanças do Rio Nei Dadés, com uma temperatura que
Fig. 66. O Australopiteco africano, que
viveu há 600.000 anos
em alguns dias beirava os 55 graus à sombra. Fora individualizada com êxito uma al-
deiazinha berbere chamada Iflan, onde pudemos aproximar-nos de alguns indivíduos
com características antropológicas muito estranhas e fotopgrafá-los (ape ar da proibi-
ção islâmica). Dentro do possível tentamos redigir uma breve história da proveniência
b6
+u
Fig. 68-69. Estas duas fotografias, como as das Figs. 7o « 71, foram tiradas pelo explorador turinense Willy
Fassio no násis marroquino de Skura. São as imagens dos descendentes de um dos últimos ncandertalenses
de que se fala cm Antes dos Tempos Conhecidos
67
Fig.7o Fig.71
68
Fig. 72. Entre gravações rupes-
tres da Valcamônica se distin
guem. nítidas, as que reproduzem
calçados,
69
Fig. 73. A chamada “parada do
diabo”, descoberta por Mário
Salomone nas proximidades de
Caprie (Vale de Susa)
n
tanto, serviam para a caça grossa « tinham uma força excepcional de penetração. Como
eram arremessados?
Não há resposta por ora, como não existe uma explicação aceitável para os “projé-
teis Clóvis”, encontrados a partir de 193 2 na fronteira entre 0 Texas e o Novo México,
e depois também a oeste de Naco, no Arizona. Estes têm um comprimento de 10-12cm,
remontam a 10-13.000 anos (mas os de Lewisville, no Texas, parecem ter, pelo me-
nos, 37-0001!). De que modo conseguiam penetrar 2-3 centimetros nos ossos cranianos
de um mamute? Ninguém, até agora, se viu em condições de explici-lo.
Os maias e os elefantes
Eilo, o caçador de mamutes: o seu esqueleto foi encontrado intacto, em Vladimir,
na União Soviética (Fig. 75). Viveu há 35.000 anos, era alto, ágil, de belo aspecto,
envergava calças « sapatos de peliça. Uma imagem muito diversa da que alguns textos
escolásticos nos apresentaram do homem primitivo. E pode dar-se que nos suceda en-
contrá-la ainda, em tempos mais remotos, quando — diz-nos à ciência tradicional —
os homens não “deviam” existir, quando ninguém deveria conhecer, por conseguinte,
animais que se extúnguiram antes do aparecimento de seres inteligentes sobre a Terra.
Entretanto, se voltarmos aos tambores de bronze vietnamitas, não poderemos deixar
de expressar algumas dúvidas a esse respeito. Neles notamos (Fig. 76), por exemplo,
um cervídeo, com as armas ramosas, que não se enquadra no tempo nem no lugar em
que “estaria” colocado, dois répteis (ou anfíbios) que, mais do que crocodilos, nos recor-
dam vertebrados de uma pré-história muitissimo distante; o da primeira fila corres-
ponde, de fato, à reconstrução da Kotlassia própria do Permiano (há mais de
225.000.000 de anos), ao passo que o da segunda, com o focinho alongado e a nada-
deira caudal, está muito próximo da forma da Archeria, que viveu no Carbonífero, há
mais de 280.000.000 de anos.
O “peixe” parece realmente um ictiossauro do Triássico (há mais de 195.000.000
de anos), o Omphalosaurus; a figura alada, no alto à esquerda, recorda o famoso Ar-
cheacopterix do último Jurássico (há cerca de 137.000.000 de anos); a do alto, à direi-
ta, o feroz Phororhachos, o pássaro carnívoro que viveu na América meridional (talvez
há 3.000.000 de anos), de uma altura aproximada de 3 m, com à cabeça grande
como a de um cavalo; e a figura embaixo é a do Ichtyornis do Cretáceo (há mais de
66.000.000 de anos).
As datações são impressionantes e é muito dificil aceitar a idéia de que tenha chegado
a épocas relativamente próximas de nós a sombra de animais que viveram quando o
aparecimento do primeiro hominídeo sobre a Terra não era sequer um presságio dis-
tante.
Pode ser que estejamos diante de deformações operadas por artistas desconhecidos,
de modo que nos sugiram, de forma totalmente casual, as aproximações que menciona-
mos. E se não se tratasse, pelo menos em parte, de deformações, como nos fazem sus-
peitar figuras muito semelhantes, encontradas em outras regiões asiáticas, na África e
na América meridional?
72
Fig. 75. O esqueleto de um caçador de
mamutes de 35.000 anos atrás foi encon
trado em Vladimir, na URSS: era um
homem alto, ágil, que vestia calças e sapa-
tos de peliça
DA>>>-
DAN 355 a]
73
Nesse caso (tendo-se em mente que as mencionadas datações, de qualquer mancira,
são muito imprecisas) só nos ficaria aberto o caminho para duas hipóteses.
A primeira se bascia na sobrevivência provada, além das épocas fixadas pela paleon-
tologia tradicional, de algumas criaturas pré-históricas. Recordemos, à propósito, o
estardalhaço suscitado pela captura do Coelacanthus, que se supunha extinto havia
$00.000.000 de anos, do Wampyroteuthis infernalis e do “molusco do Panamá”, que
se julgavam desaparecidos respectivamente há 170 « 300,000.000 de anos.
A segunda hipótese é a mais sensacional e nos descreve a existência de criaturas in-
teligentes, altamente evoluídas, em tempos remotissimos. À ciência oficial nega-a com
pertinácia, mas não podemos fechar os olhos diante das telhas e dos pavimentos encon-
trados no mesmo estrato geológico, próprio do cavalo americano de três dedos, que
existiu entre 30.000.000 e 6.000.000 de anos trás. da marca de pé humano de Cow
Canyon, em Nevada, que remonta aproximadamente a 30.000.000 de anos, das re-
presentações espetaculares de animais que viveram entre 18 5.000.000 € 130.000.000
de anos atrás, descobertas por Daniel Ruzo em Marcahuasi.
A esses dados, expostos com todos os pormenores disponíveis nos trabalhos prece-
dentes, podemos agora ajuntar outros, que julgamos igualmente interessantes.
Entre os enfeites que ornam o “calendário de pedra” de Tiahuanaco, o francês De-
nis Saurat, célebre pelas suas teorias sobre o pgigantismo, pensa haver reconhecido as
representações de cabeças de toxodontes, animais que se consideram desaparecidos na
América do Sul há pelo menos 3 ou 4.000.000 de anos; e é sintomático notar que
exatamente ali foram encontrados os restos desse grande herbívoro sobre ossos huma-
| nos?
Tomas, do seu lado, repós em discussão um achado sobre o qual a ciência oficial se
obstina em fechar os olhos desde 1924, ano em que a expedição arqueológica Doheny
descobriu no Canyon de Hava Supaii (Arizona setentrional) uma pintura mural de
origem desconhecida, que representa um tiranossauro. Os mumificadores do saber cui-
dam poder cortar a cabeça do touro proverbial afirmando que o maior carnívoro que
existiu sobre a Terra se extinguiu há 60.000.000 de anos, ou coisa que o valha. Mas é
um pouco difícil cortar o pescoço de um tiranossauro representado na sua forma ine-
quivocável?!
Outro desenho, em Big Sandy River, no Oregon, nos coloca diante de um estegos-
sauro, que viveu muito antes, há uns 130.000.000 de anos. Que dizer, afinal, do pte-
rodáctilo que nos saúda do outro lado de um abismo de 137-66.000.000 de anos, ou
dos ornamentos da louça cocle encontrada nos arredores do Panamá?
Tudo impossível, naturalmente. Como seria impossivel pensar, por exemplo, que um
artista da obscura Idade Média estivesse em condições de reproduzir monstros pré-
históricos, cujo aspecto só nos é conhecido graças às longas pesquisas e aos estudos
minuciosos dos entendidos modernos,
Não obstante, por um acaso estranhissimo, aqueles monstros nos contemplam do
alto das maiores catedrais, dos castelos antigos, dos museus, O soviético Agrest susten-
24, Denis Saurar, L'Aulamende et le Régre des Géame, Editions [ai Lu, Paris, 1969
24 Andrew Tumas, Les Sewrets de |" Adlamtide, Rober Laffont, Paris. 196
74
Fig. 77. À representação de uma !
estranha criatura semelhante a
um sáurio, exposta no museu de
Como.
26. AH. Verill, Old Ciiliqation of the Nes World, The New Home Library, Mew York, 194%
47. JL. Mitchell, The Conqueu of the Maya, Dutton, New York, 19sp
28. Nãoé Terrestre, já atado.
76
Ursos celestes
O Shasta, que se eleva a 4.320m na Sierra Nevada, no norte da Califórnia, é um
monte muito estranho. Ainda não completamente explorado mercê da sua natureza
hossil, é teatro de misteriosos fenômenos, que deram origem a rumores nem sempre
controláveis, mais do que fantásticos. Fulgores repentinos se acendem nas suas verten-
tes, brilham luzes fixas que alimentaram lendas sem número: falou-se em “discos voa-
dores”, numa cidade secreta habitada pelos herdeiros de antiga civilização, ou por
seres extraterrenos, E não são poucos os viajantes que afirmam haver encontrado em
suas fraldas curiosos individuos vestidos de branco, seres “não de todo humanos”,
criaturas semelhantes a yetr, ursos gipantescos quase invulneráveis.
“Tinha um comprimento de cerca de 3m ”, conta um caçador de Oakland, James
Barton, referindo-se precisamente a um plantigrado semelhante. “Para dizer a verdade,
não me ameaçava e, até pelo contrário, procurava enfiar-se na espessura de um bosque.
Mas diante de uma possível presa desse gênero, eu não podia deixar de disparar. Tenho
a certeza de haver atingido o animal, mas este deu apenas sinais de furor: ergueu-se
sobre as patas traseiras, escancarou as fauces, e estendeu as garras na minha direção,
como se quisesse ad vertir-me que não tentasse repetir o > golpe. Depois voltou-se e, com
a maior calma do mundo, desapareceu entre as árvores.”
O Sr. Bartoné também apaixonado de paleontologia e jura ter-se visto em presença
de um Ursus spelaeus (Fig. 79), antigo habitante de tantas cavernas. Mas não é só isso:
muitos outros caçadores, possuidores de algumas noções científicas a esse respeito, ma-
nifestam a mesma convicção ao falar das suas aventuras nas cadeias de montanhas que
se estendem das regiões norte-ocidentais estadunidenses às canadenses.
É verdade que na Peninsula do Alasca e em diversas ilhas que a flanqueiam vivem
gigantescos ursos pardos (Fig. 80), coma o Kodiak ou Spelaeus gygas, o Ursus arctos
middlendorffi, que podem atingir 3m de comprimento, com um peso de 700-800kg,
e também é verdade que alguns desses plantigrados desceram para o sul ao longo da
costa, mas disso não resulta que tenham alcançado os montes californianos. Por outro
lado, as narrativas de Barton e dos seus colegas parecem ser confirmadas por gigantes-
cas marcas frescas, obscrvadas perto do Shasta, nas imediações de Grants Rass (Ore-
gon), de Yreka, Redding c Red Bluff. Lembremos, à propósito, que não longe deste
último centro foi filmado o famoso “homem das neves” norte-americano?
À ciência situa o periodo da existência do urso das cavernas aproximadamente entre
go e 40.000 anos atris, bascando-se em achados, numerosíssimos na Europa. Nas
cavernas suíças de Wildkirchli, Wildenmannlisloch e Drachenloch ("Buraco do dra-
gão”) foram encontrados os restos de mais de 1.000 desses animais: 5.000 se desco-
briram a 200m da chamada Drachenhôhle ("Caverna do dragão”) perto de Mixnitz,
na Estiria e, no interior da própria Drachenhôhle, uns ç0.000, amontoados no correr
de milênios sem conta
Ao lado deles, cobertas de uma fina crosta estalagmítica, divisam-se amiúde na argila
muitas marcas de pés humanos. As da gruta ligurina de Toirano (Fig. 81) são atribuí-
das a neandertalienses ", mas não faltam, em outros lugares, rastos de Cro-Magnon,
2y O Planeta Desconbréido, já citado
so. E. Tongiorg- Ni Lamboglia, La Gravadi Tosramo, Instituto Naziunale di Studi Liguri, Bordighera. 1967
77
Fig. 79: O único esquelero de urso das cavernas encontrado inteiro: for descoberto na
Suíça, a 1.477m acima do nível do mar, e está exposto no muscu de Sankt Gallen
Fig. Bo. Em cima, csânio do urso pardo dos nossos dias: embaixo, o de um urso das ca
vernas, que viveu há 70.000 anos
com pegadas indefiníveis, como as austríacas, que poderiam fazer pensar em raças !
desconhecidas.
Ainda em Toirano, como, de resto, em numerosas outras cavernas, vêem-se, ao lado
das marcas, os vestígios (Fig. 82) dos grandes plantíprados. Sobre estas impressões
divergem os pareceres dos estudiosos: alguns as atribuem à “ginástica” dos animais
depois do período de letargo, outros pensam, ao contrário, nos movimentos desespe-
rados feitos para se libertarem dos laços armados pelos caçadores.
Ninguém talvez possa dizer jamais uma palavra certa a esse respeito. Seguro, porém,
é um fato: já os homens pré-históricos faziam do urso à meta do culto que, no seio de
vários povos, se manteve vivo até os nossos dias. Na Drachenhóhle, com efeito, reali-
zou-se uma descoberta espantosa: a de um sarcófago de pedra que, aberto, mostrou
sete crânios de Ursus spelaeus bem conservados, cuja idade se calcula em cerca de
70.000 anos!
Por que os ocupantes da caverna estiriana se dariam ao trabalho de sepultar as cabe-
ças dos animais com tanto cuidado? Provavelmente por motivos análogos aos que
induzem até hoje certos grupos de finlandeses, como os morduínos, os ostiacos, os si-
nenos e os votiacos russos, a tributar ao urso honras que nos seriam incompreensíveis
'se não tivéssemos a possibilidade de compará-las com outros costumes curiosos.
Nenhum tungu mata um urso sem finalidade. E não é a força do animal que assusta
a gente siberiana: para ela, o plantigrado, como o homem, também possui uma alma.
“E existe entre eles uma velha crença”, recorda Ivar Lissner, “segundo a qual o urso
teria relações com o Senhor da Montanha e o Senhor do Céu (...) O homem que fizer
amizade com o urso terá sorte (...) Importantissima é a cerimônia pela morte do urso,
colocado sobre uma árvore ou sobre uma alta plataforma”*!, Exatamente como os
corpos dos homens dispostos de modo que lhes facilite a ascensão!
Os ainos (antigos habitantes do Japão, que hoje só se encontram nas ilhas de Saca-
lina e do Hocaido), que ainda praticam a matança ritual dos plantígrados, considera-
vam-nos “intermediários entre os homens e os deuses”, os guiliaques (Sacalina c foz do
Amur) os definiam como "filhos da Lua” e os lapões viam neles os seus progenitores.
Estes elementos comuns são realmente tão numerosos que não podemos pensar em
simples coincidências. E ficaremos ainda mais surpresos se considerarmos que os indios
iroqueses (São Lourenço, Erie, Ontário) sepultavam os seus mortos envoltos em peles
de urso, encerrados em cascas de árvore, ao passo que os maidos californianos praticam
até agora uma festa fúnebre, durante a qual alguns fantoches, que representam os de-
funtos do ano, são vestidos com a pele dos plantígrados, colocados dentro de um re-
cinto circular e atirados às chamas “a fim de poderem voltar ao céu do qual vieram!”
É possível — como diz Lissner — que seres primitivos tenham visto no modo de
andar, no comportamento, em certas expressões do urso “qualquer coisa de humano”,
mas isso não basta para explicar as crenças, os mitos, as cerimônias de que falamos, que
parecem ter claras e impressionantes evocações cósmicas.
Não poderia, pois, existir um liame entre as lendas do setentrião curopeu, asiático,
americano, e as dos homens “de pele dupla” que floresceram em quase todas as partes
do globo? Em outras palavras, a pele do plantigrado não poderia recordar um maca-
80
Fig. 82. Os pés dos homens e as patas dos ur pantescos deixaram na gruta de Toirano sinais cuja auten
ticidade é garantida osta estalagmitica que os recobre
cão, destinado a proteger visitantes desconhecidos, de um passado distante, contra
condições atmosféricas e climáticas proibitivas para eles?
“Os historiógrafos”, escreve justamente 0 acadêmico soviético [. A, Efremov, “des
veriam dar provas de maior respeito pelas antigas tradições e pelo folclore. Os cientis-
tas ocidentais ostentam uma espécie de esnobismo em relação aos que não partilham
de suas opiniões, e os definem com desprezo como “pessoas comuns” ”
E o francês Louis Charpentier: “Julgamos hoje que só o intelectual é “civilizado”.
Já não conseguimos compreender os traços materiais que perduram em nós, tendemos.
a considerá-los fruto de uma certa barbárie e de um pensamento sumário. Em resumo,
somos incapazes de cscapar dos nossos esquemas atuais para procurar chegar a outros,
diferentes. Entretanto, sem as civilizações passadas, a nossa não existia, € ainda es-
taríamos ocupados em caçar animais selvagens e, talvez, a devorar-nos reciprocamente”,
82
IV
CAVALEIROS DAS ÁGUIAS
83
Fig. 84. Uma jove
estranha tribo
Uiubamba “com os séus do
sissimos pimpolhos
to: seja como for, eles se diziam oriundos da mítica Aztlán, a “desaparecida terra do
Oriente” com a qual alguns estudiosos identificam a Adântida *
“O Codex Vaticanus A-3 738", nos diz Tomas, “contém uma cronologia muito sig-
nificativa da história asteca, O seu primeiro ciclo teria terminado com um dilúvio de-
pois de uma duração de 4,008 anos; o segundo, de 4.010 anos, ter-se-ia concluído
com um tremendo furacão; o terceiro, de 4.807, com furiosos incêndios. Durante o
quarto período, calculado em 5.042 anos, a humanidade teria padecido pavorosas ca-
restias, ao passo que o último teria começado no ano 751 a.C. A duração total dos
quatro ciclos mencionados pelo código é de 17.861 anos: sendo assim, o seu início
estaria fixado na data, incrivelmente remota, do ano 18.612 antes de Cristo”!
Também em relação aos maias, parece que os conceitos tradicionais devem ser radi-
calmente revistos. “O seu calendário”, escreve ainda Tomas, “nos apresenta ciclos de
2.760 anos. O início de um deles está fixado no ano 3373 aC. Três periodos de
2.760 anos (ou seja 8.280 anos), a partir de 3373 a.C., nos levam, portanto, ao ano
11653 antes da nossa era”.
"É quase certo”, afirma Richard Hennig, “que as tradições maias recordam aconte-
cimentos siderais que remontam ao 9º milênio antes de Cristo"**. E Tomas continua:
“O Bispo Diego de Landa escrevia em 1566 que, no seu tempo, os maias fixavam o
início do seu calendário numa data correspondente ao ano 3113 a.C, No dizer deles,
outros $.12$ anos haviam transcorrido anteriormente: o que fixaria a origem dos pró-
87
Fig. 88. Uma
belíssima caveira
de cristal de pro-
vável ongem
mixteca: Os seus
traços recordam
os do “homem-
gato”
Fig. 94: (Em cima, à esquerda): Um ornamento chinês da idade de Han (206 a. C 25d C)nos traz
à mente os “deuses com duas cabeças, vindos do fogo"; Fig. 95. (Em cima, à direita): As inexplicáveis es-
culturas da “Porta do leão” de Boghazkôy não somente antecipam por vários séculos as obras análogas dos
assírios, mas também recordam os traços das estátuas pascoanas; Fig. 96. (Embaixo): Dois “gigantes de
pedra” da Ilha de Páscoa.
Na “Porta do leão” de Boghazkôy (Anatólia central), entre as curiosas esculturas !
(Fig. 95), que, segundo os arqueólogos, se antecipam em vários séculos às obras análo-
gas dos edifícios assírios, podemos ainda hoje admirar cabeças de pedra. Estas, embora |
consumidas pelo tempo e pelos fenômenos meteorológicos, recordam mais ou menos
de perto os misteriosos monumentos da Ilha de Páscoa (Fig. 96).
Ao contrário, afigura-se-nos totalmente enigmática, a chamada “Deusa mãe” de
Mohenjo-Daro, centro da desconhecida civilização que floresceu onde é hoje uma ilho-
ta do Rio Indo, a sudoeste de Sukkur (Paquistão). Pelo que concerne aos traços mais —
notáveis dos seus restos, recordemos o que escrevi em Antes dos Tempos Conhecidos:
“A construção mais notável é uma piscina, outrora coberta, com 12m de compri-
mento e 7 de largura, junto da qual se erguem um banho de vapor e um sistema de
aquecimento por meio de ar quente. A rua principal corre de norte para o sul, com um
comprimento aproximado de 1 km (nos limites, naturalmente, da amplitude própria
das escavações efetuadas) e uma largura de tom. Todas as casas são construídas com
tijolos parecidos com os nossos, com um, dois, talvez três pavimentos, segundo uma
técnica aperfeiçoadíssima: cada habitação possuía a própria instalação de água corrente,
o próprio banheiro, os próprios serviços higiênicos, não só no andar térreo, mas tam-
bém nos pavimentos superiores (infelizmente destruídos), como o demonstram clara-
mente as tubulações. Tal é o sistema de canalizações da cidade, que basta a opinião dos
técnicos ingleses para defini-lo: "Nós, hoje, não poderíamos fazer melhor” ”
Com esta “modernidade” estã perfeitamente de acordo a estatueta à que aludimos,
de uma dama que traja uma audacíssima “mini-saia”, com um colar c um cinto que fa-
riam inveja a uma moça dos nossos tempos (Fig. 97). Duas coisas, porém, não se adap-
tam ao quadro que nos sentiríamos tentados a traçar depois desta descrição: o chapéu,
de estrutura inexplicável por vários motivos, c as feições da “parota” que não se podem
dizer atraentes.
Nem mesmo as figurinhas encontradas nas vizinhanças da Cidade do México (deve-
mos as fotografias ainda à cortesia de Roberto Calcagno) são muito atraentes do nosso
ponto de vista: trata-se de estranhissimos homenzinhos (Fig. 98), alguns com a cabeça
formada de um oval quase perfeito; outros com o crânio alongado no alto, que se var
afinando, como se eles usassem um fez (não existem traços, porém, de cobertura para a
cabeça); outros ainda com protuberâncias posteriores.
Tais características poderiam fazer pensar em deformações cranianas praticadas em
diversas partes do mundo, da África central às Novas Hébridas, da Indonésia e da
Polinésia à América ocidental, As figurinhas, contudo, nos vêm da cultura olmeca, à
qual eram estranhas as deformações desse gênero. E mais: trata-se da civilização que
nos deixou as conhecidíssimas e monumentais cabeças dos “homens-gatos”**!
Digno de consideração é o fato de as estatuetas serem diversamente coloridas,
(Fig. 99). entre elas vemos algumas verdes, outras vermelhas, outras ainda brancas e,
se excluirmos as próprias deformações, os traços dos rostos parecem refletir todas as
raças existentes, juntamente com algumas que não estamos em condições de clas car.
Outro particular que nos impressiona é a presença de obeliscos (Fig. 100) junto à
92
Fig. 97. A “deusa de minissaia” de
Mohenjo-Dara
Fig, 100. Um particular curioso é repr t ela presença de colunazinhas cilíndricas ao lado das esta-
tuctas de suposta origem olmeca. Tra É » ao cosmo? Ás tradições falam em “lanças
céu
ess
Fig. 101. Um totem neozelandês, extraordinariamente semelhante aos
americanos.
95
aos primitivos obeliscos que, com uma altura média de 2,$m, surgem (divididos em dois
grupos, um de 150, o segundo de uns 30) numa localidade chamada Toundinaro, a
16km de Niafounké, no Níger. Os indígenas atribuem sua construção aos bagaras,
lendários "homens vermelhos” que, no passado, teriam reinado naquela zona, como
se depreende dos achados de restos humanos, “juntamente com raças diferentes, que
viveram em época muito remota” ”,
“Encontram-se “vermelhos” ”, afirma por seu turno Charpentier, “tanto na América
quanto na bacia oriental mediterrânea. Vejamos os ghomaras (os vermelhos”) nos
arredores da cidade santa de Chaouen, no Rif. A palavra fenício significa vermelho, e os.
fenícios ocuparam, além das praias do Mar Vermelho, toda a costa da Ásia do Orien-
te-Próximo, com numerosas ilhas, como Mileto, Creta. Notemos que os egípcios cha-
mavam aos cretenses keftin e os representavam imberbes, com a pele vermelha, exata-
mente como os próprios fenícios” *.
Ainda à propósito de monumentos em forma de coluna, falemos algo sobre os to-
tens. Da Oceânia à América, neles encontramos a representação, através de rostos de
fisionomia familiar, de raças distantes, às vezes desconhecidas. E a multiplicidade das
expressões frequentemente nos deixa estupefatos, como diante de um totem dos haidas
(Fig. 102), ameríndios da Ilha da Rainha Carlota (Canadá ocidental), encimado por
uma estranha figura animal. Representaria o “deus vindo do céu”, o “grande mestre
de todos os homens”, isto é, daqueles esculpidos nos totens neozelandeses (Fig. 101),
de que os haidas se achavam separados por distâncias inimagináveis e de cuja existên-
cia, a rigor, não poderiam ter a menor idéia!
No princípio foram os símios. Não exatamente no princípio, mas quase. Antes deles
surgiram no globo seres que “vagavam de rojo e sem meta”, e foram aniquilados:
“O coração do Céu suscitou um dilúvio e cairam grandes águas... resina líquida preci-
pitou-se do céu, a face da Terra se obscureceu, e principiou uma chuva negra, de dia e
de noite...”.
Assim se exprime o Popol Vub, descrevendo-nas, depois, o desuno daquelas criatu-
ras: "Diz-se que os seus descendentes são os simios que hoje vivem nas florestas. Neles
se podem reconhecer aqueles cuja carne foi feita de madeira pelo Criador e pelo Forma-
dor. Por isso o macaco se parece com o homem, como lembrança de uma criação hu-
mana, de homens que outra coisa não eram senão fantoches de madeira".
A “bíblia maia” poderia resumir-nos assim, em forma de lenda, a história da evo-
lução e das catástrofes que perturbaram o nosso planeta. Uma síntese nos é oferecida
por uma ilustração do Código Vaticano Aó6, (Fig. 103) que nos mostra Quetzalcóatl
como divindade criadora, rodeado de seres informes, bugios, animais, árvores, voltado
para um casal indubitavelmente humano, que representa o remate da sua obra.
A lembrança dos "homens-macacos” não vive, por certo, apenas na América: encon-
tra-se em várias regiões africanas e os baules da Costa do Marfim conservam até
agora uma imagem muito sugestiva deles, a de Mbotumbo, (Fig. 104), o qual (c a cor
sã nos parece muito significativa) não é um deus propriamente dito, mas uma divin-
dade de categoria inferior, uma espécie de chefe dos quadrúmanos, se assim podemos
defini-lo.
“Na Trácia e na Grécia setentrional”, lemos depois num estudo interessante de
Gaster, “é costume celebrar certas ocorrências importantes com uma pantomima tosca,
e um elemento essencial do espetáculo é o aparecimento repentino, durante uma Festa
nupcial, de um berrador grosseirão com uma máscara negra, que tenta molestar a noiva
e chega às vias de fato com o noivo, Na Tessália, este personagem costuma aparecer na
figura de um “árabe” selvagem e peludo; e, para acentuar melhor o seu caráter bárba-
ro, traz, além da máscara preta de pele de ovelha ou de cabra, um manto de pele de
ovelha e às vezes também uma cauda “40
40, Theodor Hi Crasicr, Le Siarae piu Antichr del Mondo, Crulio Esmauda Edo, Furim, igõo
Pág. d esquerda,
Fig. 105. O “monstro
vindo do frio”, pescado
no Mar de Berin,
fotografia
uerda uma
Tarzan e a mulher-macaca
Nem mesmo os "fósseis vivos”, próximos da nossa espécie, portanto, estão mortos?
Parece que não; de quando em quando, ao contrário, aparecem seres que se diriam de-
sejosos de mostrar que as teorias tradicionais sobre a evolução — como já dissemos —
precisam ser radicalmente revistas e corrigidas. O "homem das neves' , se assim pode-
mos exprimir-nos, é de ontem. De hoje é uma criatura ainda mais próxima de nós pelo
aspecto mas, ao mesmo tempo, tão estranha que nos causa arrepios.
Quem não se lembra de O Planeta dos Macacos, o filme de ficção científica que, ba-
seado num romance igualmente conhecido, nos apresentou primatas extremamente
evoluídos, (Fig. 107), sábios, civis? Pois será possível imaginar uma mulher-macaca
transferida da tela para a realidade? Não chegaríamos a tanto, mas tivemos de render-
nos à evidência diante do ser descoberto no Estado brasileiro de Minas Gerais, numa
povoação perdida no meio da mata *!. ; = E
44 O descobrimento é da primavera de 1970
100
Fig. 107. A “mutante” que
nos foi apresentada pelo filme
“O Planeta dos Macacos"
É um ser que não possui, decerto, a inteligência dos avançados quadrúmanos cine-
matográficos e que, ao contrário, está muito mais perto, no aspecto, dos “primos do
homem”. Tem 1% anos, é do sexo feminino, possui olhos grandes, salientes, nariz cha-
to, boca larga, maxilar em tudo e por tudo igual ao de um chimpanzé (Fig. 108);
o seu corpo é coberto de pêlos negros, muito espessos nos ombros e nas costas, ao longo
da espinha (Fig. 109).
Os habitantes da região chamam à menina Maria de Jesus, talvez por piedade, mas
o certo é que o nome não faz senão sublinhar o aspecto arrepiante de toda a história.
Quem forum os pais da menina ninguém sabe, ninguém se deu ao trabalho de guardá-
lo na memória: o estado de miséria em que vive aquela gente é tal que a impede de
olhar para além do próximo passo.
Inesperadamente surgiu no local um etnólogo, viu a desventurada criatura, prome-
teu voltar; falando sobre o caso, despertou o interesse de outros estudiosos, que orga-
nizaram verdadeiras expedições, abrindo caminho pela mata até chegar ao povoado
sem nome onde, de vez em quando, só aparecem os missionários com roupas velhas,
alimentos e remédios que conseguem juntar.
101
Fig. 108. A verdadeira "mulher-
macaço”, descoberta em Minas
Gerais, no Brasil
Pág. à direita
Fig. 109. Outra imagem impres
sionante da “mulher-macaco”
uma espécie de crina densa lhe
desce ao longo da espinha
Página ros
Fig. 110. Chamam-no “Tarzan”
é o chefe branco da tribo dos
belicosos mekronotires amazôni-
cos.
Que é o que nos diz a ciência a propósito da pobre Maria de Jesus? Ouçamos o
professor de patologia João Henrique de Freitas Filho:
“Todos os seres humanos têm características animais. Não é impossível que a meni-
na tenha tido antepassados... digamos “esquisitos”, que viveram há muitos séculos.
“Hoje sabemos que as características animais cm apreço são muito mais evidentes na
fase embrionária da vida: no ventre materno, o novo indivíduo tem pélos como os ma-
cacos, escamas como os peixes. Mas, em regra geral, quase universal, tais peculiarida-
des desaparecem por volta do terceiro mês de gestação. O fenômeno é conhecido pelo
nome de filogênese ou “evolução da espécie”; ao mesmo tempo, porém, desenvolve-
se o fenômeno da ontogênese, ou de “formação do ser”, no decurso do qual o bebê
adquire, por exemplo, os olhos azuis do pai ou o nariz de forma semelhante ao da mãe.
“Ora, os dois processos são bem “sincronizados”: no estado atual dos nossos conhe-
cimentos, acredita-se que eles não podem ser dissociados. Graças a eles, uma pessoa
pode, às vezes, parecer-se, nem com o pai nem com a mãe, mas com um antepassado.
102
“Como se diz em linguagem corrente, é possivel “pular” uma ou duas gerações, ra-
ramente mais. O caso de Maria, portanto, é espantoso”.
Hã ainda um fato assombroso: assim que nasceu, a infeliz criatura tinha o aspecto
que têm todas as crianças; pouco a pouco, foi adquirindo os traços simiescos que a di-
ferenciam. "Deve-se, portanto, pensar numa divergência da formação genética, qual-
quer coisa que não tem precedentes”.
Maria de Jesus não fala, parece apalermada. E dócil, mansa como um animal do-
méstico, mas possui uma sensibilidade acentuadíssima; assustada, foge quando os me-
ninos da aldeia se põem a gritar, para ela, frases injuriosas. Frequentemente se aparta
dos outros e chora por muito tempo. Por quê? Ela não sabe dizê-lo, os outros não po-
dem adivinhá-lo.
Os estudiosos (que a confiaram, por enquanto, aos cuidados de uma família local)
pensam em transferi-la para o hospital de um grande centro a fim de poder examiná-la
direito.
À ciência poderá talvez realizar progressos e Maria será poupada da fome e do es-
cárnio. Mas quais serão as suas reações diante da civilização? E qual será o seu futuro,
depois de concluídas as pesquisas?
Seres totalmente primitivos, humanóides desconhecidos, mulheres-macacos, descen-
dentes de neandertalienses, yetis: as criaturas desse gênero que vivem ao nosso lado, ao
lado das mais fantásticas expressões da nossa civilização, são demasiado numerosas
para que nos sintamos autorizados a acreditar em “caprichos da natureza”. Aos referi-
dos até agora podemos acrescentar muitos outros exemplos: e todos nos induzem a pen-
sar que estamos diante de verdadeiros “fósseis vivos”, representantes de raças quase
inteiramente riscadas da face do globo por acontecimentos apocalípticos.
O Popol Vuh nos fala — com expressões facilmente interpretáveis — em dilúvios,
chuvas metcóricas, erupções vulcânicas, que transtornaram a Terra, deixando poucas
ilhas de vida, E descrições semelhantes se encontram em numerosas lendas de todas as
partes do mundo.
“Que acontece de repente às espécies extintas? perguntam a si mesmos alguns pes-
quisadores, procurando esboçar uma resposta em termos mais científicos; aliás nós
mesmos já o fizemos com os trabalhos surgidos nesta série.
“Pergunta-se, por exemplo”, lemos no semanário milanês “L” Europeo” *2, “por que
certos minúsculos organismos marinhos do plancto se extinguiram depois de muito di-
fundidos, num período que, em relação à escala de tempo geológico, se deve consi-
derar breve, Esse fenômeno verificou-se inúmeras vezes e interessou diferentes tipos de
plancto nos últimos quatro milhões de anos.
“Entretanto, há um indício importante, Algumas extinções parecem ter ocorrido no pre-
ciso instante em que o campo magnético terrestre estava mudando de tal maneira que o pólo
morte magnético se tornava o pólo sul, e vice-versa. Por um estudo do magnetismo, feito em
rochas, os geólogos sabem que o campo magnético se inverteu ao menos vinte vezes no curso dos
últimos quatro milhões de anos, e muitíssimas outras precedentemente.
“Uma teoria afirma que, no meio do caminho da mudança, o campo magnético ter-
restre deve ter diminuído até zero. À radiação cósmica, normalmente desviada da Terra
x 29 deabril
de 1971
105
pelas linhas de força, pôde então penetrar até a superficie terrestre, dando lugar a mutações à
que, afinal, redundaram na extinção de algumas espécies.
“Outro ponto de vista sobre as extinções, que o Prof. J. P. Kenner co Dr. N. D,
Watkins da Universidade de Rhode Island tentaram verificar nas pesquisas publicadas
recentemente, é que as extinções se deveram a paroxismos vulcânicos ocorridos contempora-
neamente às mudanças do campo magnético. Os dois cientistas valem-se dos argumentos
expostos em 1968 por James Heirtzler, do Observatório Geológico de Lamont, Nova
York, segundo o qual um período de violentos terremotos pode haver invertido a rotação
terrestre.
“Eles tentaram demonstrar que a explosão da atividade vulcânica ocorreu durante
a inversão do campo terrestre, examinando os sedimentos fósseis recolhidos no Pací-
fico, na Nova Zelândia sul-oriental, medindo a direção do magnetismo congelado nos
próprios sedimentos « procurando jazidas de poeira vulcânica. Em muitos casos se en-
contraram sinais de atividade vulcânica correspondentes a inversões do campo magné-
tico e OS cientistas sustentam que é dificil que se trate de coincidências casuais.”
Em conseguência de tais fenômenos, por certo não se extinguiram apenas vários ti-
pos de plancto, mas também — e bem mais facilmente — numerosas formas evolui
das de vida.
Tenhamos, contudo, a coragem de falar do gênero humano, de enfrentar a pergunta
que nos foi tantas vezes formulada: “Se, ao lado das espécies primitivas, das quais po-
deriam existir alguns sobreviventes, viviam na Terra seres altamente civilizados, como
foi que estes só legaram às antigas culturas pálidos traços das suas grandes conquistas?”
Respondamos com um exemplo elementar: se nos sucedesse salvar-nos de uma ca-
tástrofe aérea depois de termos sido precipitados no mais denso de um jângal e conse-
pguissemos recuperar dos escombros do aparelho tudo aquilo que, continuando intacto
ou quase, nos pudesse ser útil, viveríamos por algum tempo com uma aparência de civi-
lização. Mas por pouco tempo: as baterias das instalações elétricas e do rádio se esgo-
tariam, os metais se oxidariam, a nossa habitação improvisada cairia aos pedaços, as
roupas se reduziriam a farrapos. Poderíamos comunicar aos indígenas com os quais
entrássemos em contacto algumas noções fundamentais, mas teríamos de adaptar-nos,
finalmente, ao seu modo de vida. E não tardariamos a fazê-lo, como nos demonstra à
história de "Tarzã”, a mais recente em ordem cronológica.
Despontava a aurora na floresta amazônica quando as sentinelas do acampamento
ouviram O grito gutural proveniente do intricado de árvores, cipós, moitas, flores gi-
gantescas.
Os homens que estavam de guarda reagiram, prontos, e os componentes da expe-
dição guiada pelo Prof. Francisco Meirelles se ergueram, empunhando as armas. Mais
um par de minutos, e teria sido demasiado tarde: uma horda de índios nus, brandindo
facas e machados de pedra, caiu sobre o acampamento, Os brasileiros reagiram com
um tiroteio furioso, os agressores se retiraram, deixando alguns mortos e feridos na
clareira, sobre o qual choveram, de longe, montes de flechas envenenadas.
Estava voltando a calma ao acampamento, quando se ergueu uma voz colérica:
— Vocês sabem quem jogou os índios contra nós? Foi um de nós: Sílvio! Tirou to-
da a roupa do corpo, mas eu o reconheci perfeitamente: cra ele quem comandava os in-
dios!
106
Ameaçadores, os membros da expedição voltaram-se para Sílvio, colaborador de
Meirelles.
— Vocês ficaram loucos? — revoltou-se o susposto traidor. Por quem me tomam?
Por que haveria eu de fazer uma coisa dessas?
Os seus protestos serenaram os ânimos mais exaltados, mas não tiveram a mesma
sorte alguns dias depois, quando ocorreu novo ataque: muitos juraram havê-lo divisado
de novo entre os índios, e foi necessária a enérgica intervenção do professor para evi-
tar um linchamento.
E o caso não estava encerrado: um grupo de brancos e mestiços decidiu liquidá-lo
por sua conta e risco, e urdiu um atentado contra o companheiro suspeito. Este úlu-
mo, seriamente ferido, salvou-se por milagre e precisou voltar para casa a bordo de um
helicóptero.
A partir daquele dia os brasileiros foram deixados em paz: isso podia parecer uma
prova irrefutável da culpabilidade de Sílvio, mas o Prof. Meirelles não estava con-
vencido. Na viagem de regresso encontrou um grupo de caçadores brancos que, havia
anos, batiam aquelas paragens; narrou o que acontecera e ouviu em resposta, sem à
menor hesitação:
— Nós sabemos o que aconteceu. O camarada que comanda os índios é Tarzan,
o chefe branco dos mekronotires.
Inúmeras vezes o estudioso ouvira falar em lendários chefes brancos e inúmeras ve-
zes, ao procurá-los, dera apenas com indigenas de colorido mais claro, surpreendentes,
sim, pelos traços semelhantes aos nossos, mas não tanto que deixassem assombrado o
cientista. Tarzan, portanto...
— É apenas um apelido que lhe demos, — explicaram os caçadores. — Não sabe-
mos como se chama mas, se quiser um conselho, não vá perguntar isso a ele. Aquele é
um demónio sem misericórdia.
Tudo isso aconteceu há uns 13 anos. Meirelles, porém, não seguiu o conselho: com
uma nova expedição chegou até o Rio Chinché, encontrou a tribo dos mekronotires e
deparou com o sósia de Sílvio.
Era “Tarzan” (Fig. 110).
Não se parecia muito com Johnny Weissmúller, o campeão olímpico que represen-
tou na tela o papel do “rei das selvas”, nem com os seus inúmeros sucessores € imita-
dores. Era magrissimo, todo músculos e nervos, sardento, cabelos castanhos tendentes
ao vermelho. Tratava-se, indubitavelmente, de um branco, muito embora não enten-
desse uma única palavra de português c se chamasse Bemontire, “Besta selvagem” no
dialeto local.
Um guerreiro? Era mais do que um guerreiro: era o chefe dos mekronotires, uma das
raças mais primitivas c ferozes das matas brasileiras, que, tendo subido pelo Rio Xingu,
domina, há gerações, o território situado entre o Rio Iriri e o Rio Chinché.
— Venho em missão de paz, — disse Meirelles.
O outro observou-o, desconfiado, durante algum tempo ficou de pé atrás mas, afi-
nal, teve de convencer-se de que o branco, de faro, não tinha más intenções. Assim o
professor e o chefe da tribo se tornaram amigos. E este último contou ao estudioso a
sua história, tal como a ouvira dos anciãos:
— Em maio de 1930 os nossos guerreiros atacaram quinze seringueiros que, com as
107
Fig 111. Bemontúre e a sua família. Da esquerda para a direta: a mulher Opodikor, os filhos Karotka e
Bepre, “Tarzan” ea filha Kereri
108
Chegado à idade viril. o chefe da tribo lhe ofereceu por mulher a filha, Opodikoi:
era uma grande honra, e Bemontire mostrou-se digno dela, conduzindo com incrível
coragem os combatentes contra o inimigo, À companheira deu-lhe dois filhos (Karotka
e Bepre) e duas filhas Ireo « Kereri), e o nosso “Tarzan” viveu com os mekronotires
(Fig. 111), segundo as suas leis, tornando-se chefe deles após a morte do sogro.
Há pouco tempo, porém, as coisas não andaram muito bem para ele. Tendo caído
sobre uma fogueira em consegiência de um ataque de malária, foi retirado dali cheio
de queimaduras, que se transformaram em feridas infeccionadas.
Alguns estudiosos da UNESCO o encontraram quase morto: trataram dele, nos li-
mites do possível, com antibióricos, pensando em transportá-lo depois para o hospital
de Brasília. O “índio branco”, no entanto, recusou-se encrgicamente à segui-los; mas
um dos circunstantes o reconheceu, avisou Meirelles, c este, aparecendo no lugar, con-
venceu o chefe a deixar-se tratar.
O temerário cacique chegou à Brasília como um coelho medroso. Já aterrorizado
pela viagem aérea, enfiado à força num automóvel, apertava o braço do estudioso com
uma das mãos e com a outra cobria os olhos. E para persuadi-lo a manter-se calmo no
hospital, Meirelles precisou suar a camisa: dia e noite se assentava à cabeceira do guer-
reiro um indio que lhe conhecia à língua « colaborava, havia algum tempo, com os
cientistas brancos, -
Em seguida, restabelecido, Bemontire aprendeu a vestir-se e a suportar os presentes
da cidade, Mas nem todos: não quer, de maneira alguma, permanecer sentado diante
da televisão, detesta os ambientes techados e cheios de gente, à comida dos “peles páli-
das” (menos os doces, que aprecia muito), e está sempre pedindo milho, bananas e
“água clara”. Indiferente aos presentes, sente apenas a necessidade de partir: mesmo
no curso de duas visitas a Brasília, realizadas após a cura, não faz outra coisa senão
insistir em que o levem de volta à sua terra o mais depressa possivel.
Sua? Sim, agora definitivamente.
É o mesmo raciocinio se aplicaria à nossa raça e ao planeta em que hoje vive se os
seus representantes sc houvessem salvado, há milênios, da derrocada da Atlântida ou
do fim desastroso de uma expedição vinda da Alfa do Centauro.
109
Eds RGE MR E a E
V
MISSÕES ESTELARES
A expedição de Rigel
Era uma espécie de concha grande, envolvida por um fogo alaranjado. Atravessou o
espaço como uma flecha, no céu noturno da Terra, a uma velocidade fantástica; parou
de repente e oscilou.
43: Ombro uulhe Stile, do mesmo autor. Sugar Edinnee. Milão Este livro fui rraduzido para 0 poruguês por Anacleto Valtorta, para às Edi-
ses Melhoramentos, sob o vigulo de "Sombra sobre as Estrelas”
1
ma
Fig. 112. (ao alto): sinais de rádio nos chegam hoje das Pléxades, uma constel 1 que ocorre com singular sui
frequência nos “mitos Estelares”. Neste fragmento de antigo calendário mesopotâm 1 vem la representada,
à esquerda, juntamente com um deus ou um herói encerrado num círculo e com o Touro; Fig. 173, (do alto,
à esquerda): O) mto de Murchison” (assim chamado em virtude lexcal do seu descobrimento, na
Austrália); nele n descobertos vários tipos de aminoácidos, numa prova ulterior de que vida nã
prerrogativa exclusiva d Terra: Fig. 114 (40 alto, à direita): A rtaruga cosmogônica da Terra de
Amhem, símbolo difundido em muitissimas pa s do globa
Depois sobreveio a catástrofe. Um bólide luminosíssimo caiu sobre 0 planeta, segui-
do de uma esteira de gas verde, amarelado, azul. O piloto do veículo espacial cerrou os
dentes, procurou controlar até o fim o rumo da astronave. Depois o Sol girou diante
dos seus olhos, o globo explodiu em mil labaredas, com todos Os seus vulcões, nuvens
12
Fig. 115. As estranhas gravações
foragratadas no Marrocos por
Willy Fassio: querem os estudio-
sos que se trate de sinais solares
ou de calendários, mas não deve
ser descurada a sua relação com
as lendárias “pedras redondas ca!
das do céu”
A grande concha foi sacudida, presa num turbilhão, parecendo quebrar-se no chão.
É ocorreu, no momento extremo, a última empinadela. O veículo tocou de leve numa
colina e foi cair sobre uma meseta rochosa.
— Fechem os compartimentos estanques! — gritou o piloto pelo rádio. — Nin-
guém saia enquanto à atmosfera externa não estiver respirável.
Desligou a combinação de vôo, atirou as luvas, com raiva, sobre o quadro de distri-
buição. Abriu-se a portinhola da cabina de comando e entrou uma mulher, a bióloga da
expedição.
— Como está a equipagem? — perguntou o homem.
— Alguns feridos, mas nada de grave, Você se saiu muito bem. E a astronave?
— Acabou-se, — disse o outro, lacônico. — Acabou-se completamente. Não temos
a menor possibilidade de abandonar este planeta.
— Recomeçaremos desde o princípio, — replicou a mulher.
E acrescentou qualquer coisa que, segundo os nossos conceitos, podemos traduzir,
pouco mais ou menos, por “Adão « Eva”,
O episódio, obviamente, é fruto da nossg fantasia. Tendo em mente, porém, tudo o
que expusemos no último capítulo, poderia refletir a hipótese (que encontra um núme-
To sempre crescente de adeptos) segundo a qual os primeiros homens não teriam nas-
cido na Terra, porém, caído casualmente aqui de outro mundo qualquer.
Não queremos sustentar, a todo custo, essa teoria, De qualquer maneira, reconhe-
çamos que os seus propugnadores nos dão matéria para soltar a imaginação, reevocan-
do os mitos da Criação segundo os quais a humanidade teria nascido de um ovo, de
uma casca não muito bem definida, de uma tartaruga.
Parece-nos supérfluo repetir aqui a história do “ovo cosmogônico”: ajuntemos ape-
nas as referências da Índia védica à casca que encerra o demiurgo, as possíveis apro-
i 113
ximações com as tradições assírio-babilônicas, etruscas, a nitida identificação do pró-
prio “ovo” com a couraça de uma lendária tartaruga, que encontramos entre muitissi-
mos povos da América setentrional, central e meridional,
Segundo os huronianos do norte, “o mundo sc origina de uma mulher, Ataentsic,
caída do céu sobre o dorso de uma tartaruga que flutuava nas águas. O rato almiscarado
mergulhou no fundo das águas c dali trouxe um pouco de lama « formou a terra sobre
a qual Ataentsic deu à luz dois gêmeos, loskha e Tawiscara ou, segundo outra versão,
Monobozho e Chokanipola” *.
Desloquemo-nos um pouco e ouviremos os atabascas canadenses narrar-nos a mes-
ma lenda da criação: só que a mãe dos gêmeos se precipita no interior de um ovo (o
ovo do "Grande Corvo”, isto é, de um ser voador) que dá origem a uma tartaruga,
Para os puelches da América austral, em seguida, o ovo se poe a boiar sobre as águas
primordiais graças a remadores aparecidos de improviso, e do seu corpo saem os dois
gêmeos, macho e fêmea, de que terá origem a humanidade!
Não nos parece estarmos diante da história de um naufrágio espacial traduzido em
fábulas?
Também os arapahos de Wyoming ec Oklahoma atribuíam a Criação a uma tarta-
ruga “ajudada por um pássaro”, Desse réptil nasce o clássico dragão chinês, e uma
grande tartaruga de pedra de provável significado cósmico é quanto resta de Cara-
córum, a capital mongol fundada por Ogotai, filho de Gengis Khan.
Em Madagáscar se reencarnam em tartarugas, segundo uma difundida crença mal-
gaxe, os personagens de sangue real, diretos descendentes dos deuses, e o mesmo deve-
ria suceder aos chefes dos boximanes, que habitam em cabanas hemisféricas e cujas mu-
lheres trazem como talismãs caixas feitas da carapaça do reptil, cheias de pó de madei-
ra perfumada.
Um símbolo cosmogônico é também a tartaruga que ainda hoje os indigenas da
Terra de Arnhem, (já citados pelas representações de serpentes) pintam na casca das
árvores (Fig. 114).
Com desenhos esquematizados do dorso de uma tartaruga se parecem as inscrições
(Fig. 115) fotografadas em Rabat (Marrocos), pelo explorador Willy Fassio: os ar-
queólogos consideram-nas sinais solares ou calendários rudimentares, mas temos para
nós que não se deve esquecer a sua relação com as lendas indigenas que se referem às
“pedras redondas caídas do céu”, tanto mais que encontramos inscrições muito seme-
lhantes do Museu Bicknell de Bordighera, provenientes do Vale das Maravilhas, na
fronteira italo-francesa (Fig 116).
Não é nova a hipótese segundo a qual a Terra teria tido, além da atual, outras luas,
que se precipitaram no espaço mercê de uma Jei astronômica, que, no entender de vá-
rios estudiosos, condenaria também, daqui a alguns bilhões de anos, o nosso atual
satélite
É provável que os eclipses do Sol e da Lua tenham reevocado, e ainda reevoquem,
entre diversos povos, a obscura e ancestral lembrança de catástrofes cósmicas, carac-
terizadas pelo desaparecimento de um corpo celeste que gira em torno do nosso e do
44: Nicola Turchi, Storia delle Religmo, vol. [, Sansoni. Florença, 1965
43: Amietulor Tempos Combecislo, já citados
14
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ad pi
e q ap os
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115
Admitindo-se que os astronautas, provenientes de “mundos de oxigênio”, tendo
chegado à Terra simultaneamente com as catástrofes a que aludimos, foram obrigados
a ficar aqui, deveriam ter sofrido processos de transformação, de adaptação, de que
não temos sequer a mais pálida idéia.
Recorrendo à fantasia, poderemos, quando muito, contemplar o que inúmeros po-
vos consideram representações dos seus remotissimos antepassados: os seres que, re-
produzidos em algumas cerâmicas de estilo nazca do Peru meridional (Fig. 117), pa-
recem destinados à vida anfíbia; a enigmática “cabeça de Tlatilco” plasmada num vaso
da idade pré-clássica mexicana (Fig. 118), a múscara dos xamãs kuskowogmint do
Alasca (Fig. 119): O circulo superior parece indicar um chapéu (um capacete?); as
penas e as saliências laterais exprimem, sem dúvida, o conceito do vôo, mas O rosto
tem uma expressão que só remotamente lembra a expressão humana.
16
Fig. 117. Estes seres, reproduzi
dos de uma cerâmica de esulo
nazéa (Peru meridional) parecem
destinados à vida anfíbia
9
122. Outro dólmen
a-se em Val Gravio.
também numero
embaixo: Fig. 123. Também
v Val Gravio encontramos sUpos
le uma construcao de upo
Cumpriu-se à profecia: assim nasceu Ullikummi, o titã de rocha contra o qual são
vas todas as defesas da divindade, até que Ea, o “senhor da sabedoria e da prudência”,
num lampejo de gênio, resolve a situação: sugere o recurso à faca mágica que serviu
outrora para “separar a Terra do Céu” e, com efeito, a arma destrói o tremendo Ulli-
kummi.
A revolta dos gigantes contra os deus é interpretada, com muita probabilidade,
como um insulto à ordem natural das coisas: tal significado devia assumir, aos olhos
da humanidade, o desaparecimento de seres monstruasos. E o fato de se empunhar
outra vez a faca capaz de “separar a Terra do Céu” parece referir-se tanto à Criação
quanto a uma nova intervenção divina, destinada a reconduzir o mundo à normalida-
de, isto é, desaparecem os titãs, desaparece o caos em que a Terra se encontrava de-
pois do cataclismo e o homem retoma o seu caminho.
A crença num ser que rege a Terra e o Céu está notoriamente difundida em quase
todo o globo. “O exemplo mais conhecido”, observa Saurat, “é por certo o de Atlas
na mitologia grega, que — segundo a narrativa de Homero — vivia no coração do
Oceano e sustentava não somente o Céu mas também a Terra. De maneira análoga,
também a tribo índia dos chichbas, na Colômbia, acredita que o mundo repousa nos
ombros de um gigante chamado Chichbachum, ao passo que os tlingits e várias tribos
atabascas acreditam que o mundo seja mantido em seu lugar por Hayicanako, a Velha-
mulher-que-está-embaixo-de-nós,
“Que podem ser concebidas criaturas de pedra”, acrescenta o escritor, “é um velho
tema da tradição popular recorrente na maior parte do mundo. Relatos populares ba-
seados nesse tema, por exemplo, encontram-se no Cáucaso do norte; « a tribo árabe
de Beni Sahr, na região de Moab, interpretando literalmente o próprio nome (Sabr
= rocha), se diz precisamente descendente de uma rocha. Também os parecis, índios de
Mato Grosso, sustentam que o primeiro homem, um certo Darukavaitere, era de pedra
e nascera de uma mãe também de pedra, chamada Maiso.
“Nas literaturas clássicas é bem conhecido o mito de Deucalião e Pirra, segundo o
qual, depois do dilúvio universal, o mundo foi repovoado pelas pedras que esses dois
únicos sobreviventes atiravam por cima dos próprios ombros: e a mesma história, com
pequenas diferenças, se encontra também entre os macusis da Guiana, Vê-se um traço
interessante dessa crença no famoso trecho da Odisséia (XIX, 163) em que Penélope
diz a Ulisses: “Mas dize-me, afinal. quem és, qual é a tua gente. Pois decerto nem o
fam
Fig. 127: Outros impressionan-
tes monumentos malteses foro
grafados pelo casal Schenone
conquanto desfigurados pelos
agentes utmosféric alguns
parecem conservar traços de
pássaros
fabuloso carvalho nem uma pedra te deram à luz”; outro eco do mesmo traço se encon-
tra nas palavras do profeta Jeremias (2,27): ”... assim se envergonham os da casa de
Israel, eles... que dizem ao pau: Tu és meu pai; e d pedra: Tu me geraste”.
De acordo com o francês Denis Saurat, seriam atribuídas primeiramente aos gigan-
tes e depois aos homens, impressionados pelo seu aspecto e pela sua força, as constru-
ções megalíticas, entre as quais os famosos dolmens. “Quando os titãs já tinham desa-
parecido”, escreve ele, "os homens tentaram evocar e reviver o tempo e as imagens dos
“deuses”. Encontramos em nossos dias, nas ilhas próximas da Nova Guiné, pobres sel-
123
Fig. 128. Dois aspecios da "Ro
de VOic”. à titânica representa
aro, que surge na
re, na França
Sem dúvida alguma foi colocada]
+ homem no lugar onde atual
Pá. à esquerda
Fig. 129. À chamada “Re
o” de Val Sangone
Piemonte, descoberta|
de lendas popula
ces que a dizem arrastada por uma
poderosa corda, cujo sinal seria
identificável na longa é regular
fenda horizontal inferior
48. D Saurar, L'Atlantide e il Regno dei Gigana, Le Nuove Edizioni dIalia, Milão. 1957: Lembremos que 05 menires são toscos monólicos.
plantados verticalmente no chão, ao passo que os dolmens são formados por uma grande laje colocada sobre rochas fiscadas direitas no salo e 05
cromlechs são constinuídos de menires dispestos eus circulo
49: Como é lógico e sabido (propomo-nos desenvolver o atgumento em seguida), a idéia do vôo humano é quase sempre expressa com 6 sim-
bolo da pássaro
so Julian, Hixotre de la Gaulle, Hacherte Ed, Pares.
Os cosmonautas de Gana
muito diverso — como já vimos — dos gênios dos seus parentes hititas e helênicos, a-
tingidos pelo tuo de Zeus por sua impiedade
Animados de um mesmo espírito belicoso deviam ser o utã Vukub-Cakix e a sua fa-
mília, que o Popol Vuh nos apresenta alinhados contra os deuses Hun-Ahpu e Xbalan-
que; e talvez soubesse também qualquer coisa a respeito o sofista e escritor grego
Cláudio Eliano (170-135 a.C., mais ou menos), o qual, na sua História Geral, redi-
gida em 14 livros, nos fala de um curioso relato: "Sileno disse a Mida que a Europa,
a Ásia « à Africa são ilhas rodeadas pelo oceano e que só existe um continente, infi-
nito em vasudão, além deste mundo, onde vivem criaturas civilizadas so lado de outras
muito altas, com uma estatura que é o dobro da nossa, e uma existência quase duas ve-
zes mais longa do que a nossa *
“Além do oceano” certamente não ca primeira vez que ouvimos alusões ao “No-
vo Mundo” provenientes de um tempo em que este último deveria ser totalmente des-
não eram mais conciliantes lo que os europeus com suas divindades. Sobre a indole e
as tendências dos sardos não temos muitas notícias; dispomos, porem, da sugestiv
E]
documentação recolhida F pelo Prof. Giovanni Lilliu as dos “tumulos dos Big
gigantes
de Bórore, Bonorva (Fig. 131), Quartuccia, Paulilátino (Fig. 132)
No Japão, as impressionantes criaturas talvez não se preocupassem demais em asse-
gurar para si moradas monumentais para a eternidade, mas não desprezavam certas
guloseimas, “Há um testemunho da consideração em que eram tidos os grandes montes
de cascas de crusticeos, encontradas com tanta frequência nas vizinhanças do que hoje
se reconhece como antigos centros habitados”, observa William Watson, do Museu
Britânico. "No Hitachi Fudo-ki estas cascas vêm justamente definidas como restos
alimentares e interpretados como vestígios de gigantes capazes de dar passos de dois
metros de comprimento” *
De costumes muito pouco conhecidos eram os lendários saos africanos, a que são
talvez atribuídos os maravilhosos objetos de bre mZe descobertos nas adjacências do
“viviam outrora na região do Tchade gigantes negros de cabelos lisos, cujos descen-
G Lalhu La Co des Surdo dal Noodinco all Era des Nuraghi, ERI Turim. 1967
Var. Le Ciniltá del Misters, Mondadori, Milão, s 964
Fig. 131. Interessantisssma documentação fotográfica do Prof. Giovanni Lilliu sobre alguns enigmáticos
edifícios sardos. No alto à esquerda: Bórore, “Imbértighe”, estela com à protinhola do númulo homónimo
de gigantes. No alto à direita e embaixo À esquerda: Bórore, Santu Bainzu”, vista geral « portinhola da
estela do túmulo homónimo de pigantes. Embaixo, à direita — Bonorva, "Su Barattedu”, cornija com den-
telos do nímulo hamônimo de gigantes
128
Fig. 132. Mais uma documenta
ção do Prof. Lilliu. A direita
Quartuccia, s Concas”, fachada
recurva de mímulo de gigantes
Embaixo: Paulilinno, “Perdu
Pes”, pedras com cavidades perto
de um túmulo de gigantes
129
Fig. 133. Duas estranhas cabeças
— QI de terracota dos misteriosos sãos
africanos, conservadas no “Mu-
séc de Homme” parisiense: uma
lembra os famosos “espaciais”
(até aqui falta a boca, a cabeça
parece encerrada no interior de
um capacete), à outra representa
um tipo humanóide inteiramente
desconhecido
uy
mesmos “pesos de
E/ |
ouro , suásticas ra
compostas,
a
recorrentes em
—
numerosissimas n— —
outras civilizações. Sue
a
— -
——-—
ps
a.
! 5
- HuIHH H Uhattitaro!
/ reto do
l
,
Fig. 137. Uma descoberta
realmente inesperada: a pirá-
mide de degraus representada
em Gana
Embaixo.
Pig. 138. A misior suraR
de rodas: um estranho ser,
que recorda muiro de pero
os “espaciais” etruscos, MR
dos australianos e os “mardiãe
nos” de Tassili. Todas as fo
tos dos “pesos de o o de
Gana nos foram gentilmente
fornecidas pelo Prof Paulo
Duro, conhecido pesquisas
dor nirmense
Pap, à direita
Fig. 139. A famosisima)
pintura rupestre de Tassib
reproduzimo-la, com a se
guinte, para permunr um com
fronto imediato,
DO ————
e, no interior, o esqueleto de um homem de estatura muito superior áquela que nós
julgamos normal.
Naquele período, os titãs já deviam ter iniciado a sua parábola descendente, conser-
vando, todavia, lembranças cósmicas transmitidas pelos seus herdeiros diretos ou indi-
retos até os nossos dias; lembranças fantásticas, das quais encontramos vestígios na
atual República de Gana, sem, todavia, conseguir remontar às suas origens
Interpelados acerca do significado das figuras que constituem os pesos usados por
eles para pesar o pó de ouro, os indígenas sacodem a cabeça e sorriem, sem saber o
em;
* que dizer.
Examinemos alguns desses “pesos de ouro”, cujas fotografias nos foram gentil-
mente fornecidas pelo Prof. Paulo Durio, da Universidade de Turim: ao lado do Sol
(Fig. 134) e das suásticas simples e compostas (Fig. 135) que o simbolizam, encontra-
mos a espiral galáctica (Fig. 136).
Eis, ainda, a pirâmide de degraus que se eleva sobre a civilização egípcia e, aínda
mais imponente, mais dominadora, sobre as da América pré-colombiana (Fig. 137).
Com isto as surpresas já são tais que nos tiram o fólego. Mas aqui está outra, bei-
rando o incrível: o contorno da cabeça de um ser inidentificável (Fig. 138), mas se-
melhante às dos “marcianos do Tassili”, dos “espaciais” australianos (Fig. 139), do
misterioso “astronauta etrusco” (Fig. 140) do museu de Assis!
No CERTEZA, ninguém afirmaria, que Perseu teria uma existência fácil até o dia
em que o avá Ac TÍSIO, res de Argos, atemorizado por uma profecia, o mandou encerrar,
juntamente com a mãe, numa caixa para ser atirada ao mar contava obviamente com o
sucesso de mais um de tantos crimes perfeitos, tão abundantes na mitologia. Mas tam-
bém está repleta de fiascos solenes: assim deveria malograr-se igualmente o projeto
do soberano, pois a caixa acabou encalhando na praia de Serifo, uma das Cíclades.
Polidectes, rei da ilhota, achou a menina-mãe tão atraente que se apaixonou por ela,
decidindo, por fim, desposá-la. Mas Perseu, já crescido, não estava pelos autos, sobre-
tudo porque, logo depois do afortunado desembarque, o monarca fizera dela sua es-
crava
A fim de prevenir possível golpe de Estado no futuro, Polidectes concebeu um pér-
fido plano, pedindo ao futuro filho adotúvo, como presente de casamento, a cabeça de
certa Medusa, uma das Górgonas (Fig. 141), muito mais terrível do que as suas irmã-
anhas, Esteno e Euriale
Levado pelo orgulho e pelo típico impulso juvenil ainda hoje esconjurado, o rapaz
aceitou sem pensar duas vezes no caso, sabendo talvez que ia aventurar-se em uma
empresa disparatada. De acordo com os sábios poctas que vicram depois, de fato (de
Simônides a Hesíodo e a Pindaro), as três Córgonas “têm asas, uma cabeleira que é
um emaranhado de viboras, funesta aos mortais” e “a vista delas tira do homem o há-
lito vital”
De que modo? Com um simples e desdenhoso olhar, que reduzia a pedra quem quer
que tivesse a ousadia de contemplá-las, dizem os mitos
“Pobre Perseu!” sentiamo-nos tentados a murmurar ontem, reportando-nos às lem-
branças escolásticas.
Mas hoje, pensando na exobiolo; forçosamente temperada com uma pitada de
fantasia, não seria o caso de dizermos Pobres Górgonas”2
A expedição de Sírio
O “cosmonauta agitou-se num turbilhão de lama, ergueu os olhos para o enorme
missil que parecia debater-se contra o céu escuro. E talvez oscilasse deveras.
Não deveria ter descido — pensou deveria ter deixado rolar, naquele inferno, o
recipiente cilíndrico que saltitava na extremidade do braço metálico retorcido. Entre-
tanto, nem ele nem os seus companheiros podiam correr o risco de outra aterragem.
Fig. 141. Duas cabeças etruscas
de Górgonas
Tudo parecia andar bem até a fase final da operação: o míssil, construído de pro-
pósito para enfrentar as mais adversas condições atmosféricas, colhera terra; da sua
parte inferior saíra o braço desligável com o recipiente estéril que deveria ter recolhi-
do, para as análises oportunas, certa quantidade da lama viscosa espalhada pelo pla-
neta.
Depois, alguns cabos se tinham rompido e uma barra saltara como o galho de uma
árvore arrancado pelo furacão. E o cosmonauta descera naquele fim de mundo para
tentar recuperar o recipiente.
Conseguiu, no meio da tempestade, chegar ao cilindro, desamarrá-lo do último cabo
que o segurava, um instante antes que o tendão de metal se arrebentasse. Foi içado a
bordo, e despiu-se, enquanto os biólogos se ocupavam do recipiente.
136
Fig t42. A celebérrima: Córgoná de
Siracusa: existe um exemplar quase idên
ico em Chavin de Huâmiar, sede de uma
igmárica cultura peruana desaparecida
par de seres que procuravam refugiar-se ali embaixo, nas grutas Coitados! Pode ser
que sobrevivam...
— No teu lugar, — comentou o chefe da seção de pesquisas, — eu teria pena de
mim mesmo. Você já imaginou o prazer que sentiremos em ficar nesta bola miserável,
registrando-lhe os sobressaltos?
— Virão buscar-nos!
— Não conte muito com isso, — respondeu o outro. — Um barulhão desses desa-
nimaria qualquer um de chegar até aqui.
— Podemos esperar.
— Até quando?
— Às criaturas deste planeta têm vida muito mais curta do que a nossa
— Sim, mas deixe que se recuperem do des Sire,
Cansado, sem vontade de continuar discutindo, o explorador fez um gesto de in-
diferença. Desatou o escafandro, aiu do segundo macacão de proteção, urando, rapi-
damente, os seus tentáculos. E as longas antenas que se lhe destacavam da testa tiveram
um estremecimento de prazer.
Sussurrou, referindo-se aos seres que se haviam refugiado nas grutas, qualquer coi-
sa que, na nossa língua, seria parecida com a palavra “monstros”
Temos bonitos discursos sobre a fraternidade galáctica, em oposição a um “racismo
em escala cósmica” ; mas por mais bem dispostos que possamos estar, sentiríamos sem-
pre alguma repulsa diante de um ser que, por mais inteligente que fosse, tivesse um as-
pecto totalmente diverso do nosso; e o mesmo sucederia ao visitante espacial: seriam
necessários muito tempo ec muita boa vontade para não mais nos considerarmos “ mons-
Não nos é, portanto, difícil imaginar como seria duro o destino de astronautas nas
condições descritas na nossa historieta: isolados na Terra, teriam sido obrigados a de-
fender-se, e a força numérica dos adversários teria levado a melhor sobre as suas armas,
por mais mortiferas e poderosas que fossem
Muitissimas lendas parecem querer dizer exatamente isto, quando não pretendem
assustar-nos com lutas furibundas entre seres diversíss imos, que se teriam desenrolado
em nosso globo.
Citamos o parecer do aentista soviético Efremov: pois bem, não nos esqueçamos de
que, apoiado em uma opinião análoga, Evêmero, escritor grego que viveu entre os
anos 340 e 260 a,C., fundou a própria escola. Segundo ele, “os heróis e personagens
míticos outra coisa não são além de homens divinizados pela admiração dos povos”
“toda a mitologia é uma transposição de acontecimentos históricos e os nomes dos
deuses representam povos, com as suas disputas e as suas fusões”,
Às Górgonas se referem muitíssimas tradições, que não pertencem apenas ao mundo
grego e latino. Gilgamés, o herói sumeriano, combate contra o monstro Humbaba,
que possuía apenas um olho, capaz de mudar em pedra quem quer que olhasse para ele.
Humbaba, além disso, observa Gaster, “enverga 7 peças de vestes superpostas; per
tence, portanto, ao mesmo grupo da líbica górgona Katoblepas, do irlandês Balor, do
galês Ispaddaden Pennkawr e do sérvio Vy, todos os quais são arcos monstruosos que
rechaçam os inimigos com o olhar fatal”
Recordemos também Antes dos Tempos Conhecidos: “A Górgona, a mítica figura
139
Pág, à esquerda.
Fig. 147. Estreitamente aparen
tado com o precedente parece
este polvo de Palaikastro (Creta)
foi pintado num vaso que, com à
seu aspecto estranhissimo, lembra
uma das tantas musteriosas “está
tuas espaciais
grega que traz um emaranhado de serpentes cm lugar dos cabelos, (...) não é apenas
helênica: podemos afirmar que todo o mundo antigo a conhecia, dos etruscos aos sícu-
los, dos chineses aos japoneses, dos siameses aos javaneses, aos habitantes de Bornéu,
da Nova Zelândia e do Havai”.
Voltamos a encontrá-la também em Chavín de Huántar, sede de uma enigmática
cultura peruana desaparecida, onde tem os traços do jaguar; mas, escreve Honoré,
“na representação da boca, dos cabelos e do nariz lembra a Górgona de Siracusa (boca,
cabelos e nariz são uma cópia quase idêntica), tanto que é muito difícil não perceber
a conexão entre as duas obras”?
Os traços do jaguar nos reconduzem a outra misteriosa “civilização estelar”: mas
também a famosíssima Górgona de Siracusa (Fig. 142) é colmilhada, os seus cabelos
serpentiformes são estilizados numa espiral (ainda a onipresente espiral!), como tam-
bém as volutas das asas: há, portanto, uma alusão ao cosmo, ao vôo; vemo-la até no
sinal solar e na águia que encimam outra conhecida cabeça de Medusa, a etrusca do
Ipogeo dei Volumni, nos arredores de Perúsia (Fig. 143).
Com vários outros estudiosos, Honoré alude também à representação das Górgonas
como polvos. É uma hipótese que nada tem de ilógico: os cefalópodes, de fato, pres-
tam-se muitíssimo bem para representar seres semelhantes às míticas medusas; e as len-
das que sempre os rodearam podiam oferecer aos povos antigos elementos ulteriores
de identificação.
44. Pierre Hoooré, Ich find dem serten Got, Verlag Heinrich Scheffler, Francfoet - sobre o Mena, 1961
142
Observemos a figura que adorna um famoso rhyton grego (Fig. 144) (os rhyton são
recipientes destinados às libações, em forma de chifre de boi, de cone alongado ou de cabeça
de animal): ela nos remete diretamente ao polvo de outro famoso achado, o chamado
“arro de Falysos” (Fig. 145), cretense, de sugestiva pintura vermelho-castanha
Do fragmento de um prato de Pesto” « conservado no museu nacional de Gela, nos
contempla um polvo (Fig 146), que podemos julgar estreitamente aparentado com O
pintado no “frasco de Palaikastro” (Creta), que remonta ao que parece — aproxi-
madamente ao ano 1 500 aC
O faro curioso é que este objeto (Fig. 147) tem uma forma tal que recorda, na parte
superior, uma das muitas e impressionantes representações de “espaciais” que os leito-
res já terão tido ocasião de observar em diversas páginas deste volume
Deveras alucinante co mounvo dos cefalópodes tal como vem desenvolvido em duas
fivelas de ouro (Fig. 148) de Vetulônia (uma das doze cidades da confederação etrus-
ca). Onde encontramos os “antepassados” desses monstros? Em toda parte, até no co-
ração da Ami azÔnia, Br AV ados ninguém sabe por quem, nem quando Nenhum indígena
— diz-nos Willy Fassio, que fotografou a inscrição aqui reproduzida (Fig. 149) —
pensaria em realizar um trabalho semelhante, nem estaria em condições de realizá-lo.
E no interior do imenso território onde foi observado o desenho, o polvo sempre foi
completamente desconhecido!
Eis aínda o polvo acompanhado de espirais e da eterna “árvore da vida” num sar
cótago de Pachy: AMDIMOS (F 1g I so), que remonta ao periodo da civilização minóica
cretense (mais ou menos 3000-1 500 a.C.); e eis aqui os cefalópodes igualmente pró-
ximos da mítica planta, de construções de cúpula e de passaros, no calendário esquimoó:
o que foi desenhado pc r um artusta, do qual apresentamos algumas ilustrações (Fig
As antenas do Minotauro
Outra deformação das Górgonas poderia ser representada pela aranha, quer na
África, quer na América. Na Alta Guiné, por exemplo, a aranha tem uma grandíssima
importância nas crenças dos bantos, que lhe atribuem um papel de primeiro plano nas
lendas sobre o “repovoamento da Terra” (realmente estranha essa aproximação!) e
nos ritos propiciatórios c divinatórios
Os pimas ameríndios de língua uto-asteca, instalados no Arizona e no México, atri-
buem a “estabilização do mundo” (não se sabe exatamente a que se refere a expressão:
sentimo-nos quase tentados a distinguir nela a alusão à volta à normalidade depois de
um desastre cósmico) a um “Irmão Ancião” que não se identifica melhor e que teria
sido ajudado pelas aranhas na sua árdua empresa, a ao passo que, para os dacotas do
Jorte, 0 demiurgo é Iktomi, representado com uma aranha, mas também com uma
serpente eum pássaro
y Primeir ja sibarita, depois lucana, finalmente romana, na parte orentalde G Salerno, estranhamente chamada pelos gregos
Posadúmia
| | Fig. 152. Esboços de alguns dos gigantescos desenhos da
1
| deserto de Nazca: pássaros (5, 12, 14, 15), peixes (9, to),
lhama (3), macaco (7), aranha (16), réptil (18). A escala
reproduzida embaixo, com uma linha dupla em cada casi
Lda nha corresponde a ço metros,
São estes os elementos que dominam a história da arqueologia, que parece sugestio-
nar-nos com um sem-número de evocações cósmicas. Ficando com a aranha, reenvia-
mos o leitor aos colares costarriquenhos, em que ela é reproduzida também com a espi-
ral, e aos misteriosos, enormes desenhos do deserto de Nazca, no Peru (Fig. 152),
cuja execução só parece ter sido possível com o emprego de meios aércos '*. Aqui um
aracnídeo é estilizado de modo estupendo ao lado de um estranho réptil (Fig. 153) de
r8om de comprimento (infelizmente estragado para sempre pela construção da auto-
estrada pan-americana) e de um belissimo pássaro (Fig. 1 54) cujo bico mede toom.
Polvos, aranhas: os nossos remotíssimos antepassados teriam realmente se encon-
trado diante de séres mais ou menos semelhantes a tais invertebrados? Ou os tentácu-
los destes últimos, com os anéis enviperados dos cabelos das Górgonas, eram, na rea-
lidade, órgãos de uma espécie inteiramente diferente, partes do aparelhamento, ante-
nas?
144
Fig. 153. Nazca: a representação
de um estranho réptil de 180m
de comprimento foi, infelizmente,
estragada para sempre pela cons-
trução da auto-estrada pan-ame
nicana
tem um comprimento
Como todas as outras fi
de Nazca, só é visível de
» dessas antiquis
simas figuras reria sido, acaso,
dirigida do alto?
Os estudiosos menos tradicionalistas, dispostos a considerar as "hipóteses espaciais”
sem um cepticismo apriorístico, pensam poder considerar válidas tanto uma quanto 2
outra teoria; naturalmente até uma prova em contrário.
Porventura os kappas (os misteriosos “homens dos canaviais nipônicos) não pare-
cem seres providos de uma probóscide, pelas descrições que deles nos foram apresen-
tadas? Eis aqui ainda, a propósito, outra notícia; “O Prof, Ci Pen-lao, da Universi-
dade de Pequim, descobriu alguns desenhos entre as montanhas de Honan e numa ilha
do Lago Tung-uing. Executados cerca de 45.000 anos antes de Cristo, esses desenhos
representam seres que parecem munidos de grandes probóscides e uma espécie de apa-
relhos aéreos de forma cilíndrica. É por certo difícil admitir a existência de astronautas
e capacetes espaciais em época tão distante” 7,
Difícil parecia também sustentar a existência dos kappas, todavia, a ciência hoje não
esti em condições de formular uma explicação diversa da que foi proposta pelo Prof.
Kitamura *, E, embora constrangido em relação a certos ambientes, deve admitir que
os 4 “cornos” delicados, colocados na cabeça protegida das singulares criaturas, se pa-
recem muitíssimo com antenas (Fig. 155). Igualmente não podem ser definidas como
excrescências ósseas os esquisitos “ornamentos” de outras estatuetas japonesas do pe-
ríodo jomon. Estas estatuetas — como aquelas mais conhecidas, chamadas dogu, que
serviram de modelo para macacões astronduticos'” — parecem igualmente representar
seres procedentes do espaço.
Ao que tudo indica, o símbolo dos chifres tem, em toda a parte, um significado as-
vral, do Saara pré-histórico a Simbabwe, da Pérsia à Índia, da América à Europa se-
tentrional e central, ao mundo mediterrâneo.
Na Mesopotâmia, os cornos tanto representam a Lua quanto Vênus, “Os babiló-
nios conheciam os “cornos de Vênus”, escreve Bowen; “descreveram o “crescimento”
desse planeta, as suas fases, semelhantes às fases lunares. Mas os “cornos de Vênus”
são invisíveis a olho nu. Como poderiam, portanto, os sacerdotes da antiga Babilônia
observá-los sem dispor de telescópios “
Há um guerreiro com o elmo comudo na estela mesopotâmica de Tello-Lagash
(Fig. 156) chamada “dos abutres”; dominam-lhe a figura dois astros que cintilam
sobre uma curiosa formação cônica; não falta, porém, mais embaixo, a “árvore da
vida”.
O Rei Hor, da 12? dinastia egípcia, é representado com um estranho par de chifres,
(Fig. 159), cujas extremidades semelham duas mãos erguidas: a opinião de quem vê
nestas últimas a simbolização de antenas (isto É, instrumentos capazes de “receber”,
“perceber”, exatamente como as mãos) pode ser arriscada; mas é difícil excluí-la, ainda
que se propenda para a estilização dos órgãos animais do tato e do olfato, dos quais as
próprias antenas tomaram os nomes.
Voltemos a ver em Creta os cornos que, em relevo, ornam as paredes da “Gruta do
|
elefante” (Fig. 158) sarda, Nada de excepcional, poder-se-ia pensar, visto que se trata
da pátria do fabuloso Minotauro; mas na ilha encontramos evocações ainda mais su-
gestivas dos fascinantes mistérios do passado.
47: Andrew Tomas, Les Secrets de ' Ailantide, Rober Lalfom, Pares, 1969.
48. Ames dor Tempos Conhecidos, já citado.
39 Não é Terrestre, já citado
Go. RNC. Bowen. Thr Exploration nf Time, George Newnes, Londres, 1gçM
Fig. 195. Teês estatuetas dos sinos, À pr-
meira é do periodo jomon médio (note-se
o rosto felino, que, com us garras, nos
reconduz sos misteriosos kappas); as ou
tras pertencem ao periodo jomon tardio e
poderam ser vistas como outros versos
dos famosos "doga espaciais” mpônicos
150
upos
pré-his
Da esquer-
da para a direita, o
e Peschiera del
arda, o de La Ténc
Peipsi
(Estônia, URSS)
Fig. 16
deus da temp
hitita, empunha
caio trifido
Héracles e o disco voador
Como se sabe, cabe a Teseu o mérito de haver liquidado o monstro cretense. Mas o
nosso herói foi protagonista de muitas outras empresas ainda: venceu gigantes e ani-
mais aterradores. Realizou, em companhia de Héracles, uma expedição contra as ama-
zonas e ajudou o amigo Pirítoo, príncipe dos lápitas, na guerra contra os centauros.
Mas de que raça eram esses indivíduos? Criaturas com o busto humano e o corpo
eguino (Fig. 164), como estamos acostumados a imaginá-las? Não, essa representação
era ainda desconhecida no tempo de Homero, que os menciona como seres violentos
“de cabeleiras desgrenhadas”.
Às antigas lendas helênicas encontram curiosa correspondência nas tradições gua-
temaltecas: os centauros da Tessália se diziam “filhos de uma nuvem” como os selva-
gens americanos exploradores do céu, que se diziam “nascidos das nuvens e do Sol”; e
também estes últimos — como os seus colegas pregos — parecem haver cultivado o
feio costume de raptar as mulheres dos outros. Para fazer-nos refletir ainda mais sobre
o assunto existem, contudo, mais dois particulares: a representação guatemalteca dos
“seres solares” (Fig. 165) que lembra a das Górgonas, e a batalha travada contra estas
últimas por um herói cujo nome varia de povo para povo (9 que não é para admirar,
visto que a lembrança se associa a representações não interpretáveis da era arcaica, mas
cujas façanhas se aproximam, em certos particulares, das de Perseu, filho de Dánae e
de Zeus, que teria fecundado a jovem sob a forma de uma chuva de ouro.
Examinemos mais de perto as aventuras de Perseu, empenhado, como já dissemos,
em apoderar-se da cabeça de Medusa, Missão sem dúvida arriscada, que seria suicida
se o protagonista não tivesse podido contar com a ajuda de Hermes e Atena. O primei-
ro o aconselha a munir-se de meios adequados entre as ninfas do Norte (cujo local de
residência só era conhecido das Gréias, passarões de cabeça humana), dá-lhe de pre-
sente uma espada, que vai fazer companhia ao escudo presenteado por Atena, e 0 con-
duz voando à região das Górgonas, situada “no extremo ocidente... lá onde viviam
as Hespérides e Atlas”.
A lenda helênica é uma verdadeira narrativa de ficção científica, e assim se revela
desde a alusão ao olhar petrificante das três irmãzinhas. Poderia tratar-se de uma arma
desconhecida? Diremos precisamente que sim, visto que, antes de casar com Andró-
meda, Perseu precisou lutar com um pretendente à mão da moça, Fineu, cujo exército
dizimou, projetando contra os inimigos os raios nascidos da cabeça cortada de Me-
dusa.
A “vara que provoca o sono” e os “calçados alados” de Hermes poderiam ser vistos
respectivamente como uma temível pistola de gás e um velocissimo aparelho aéreo.
Perseu recebe uma cópia deles na terra dos hiperbóreos (talvez não diferente da terra
das Gréias*”), juntamente com um alforje que tinha a propriedade de assumir a forma
de tudo o que continha e um chapéu que tornava invisível o seu portador.
6%. Era filho de Egeu e Eua À propósito, parece interessante referir o que escreve Felice Ramonino na sua Mitologia classica (Hoepli, Milão,
1967): “. mas coma Etra fosse amada por Poseidon, também se dizia que Tescu era filho de Postidon, Se se considerar que Egeu « Poscidon
se identificam, compreender-se-á facilmente que Teseu, filho do Mar e de Etra, ou seja, a alva serena, é ainda uma personificação do Sol”
64. É sintomática também, como veremos em seguida, a alusão à chuva,
65. A sua localização é procurada no cxtremo Norte: “Habitavam uma região em que tudo era escuro e envolto em eterno crepúsculo(...)
mas o Sol a alumiava”, são concordes em admilu Simônides, Hesodo e Pindarm,
152
Fig. 164. O “centauro dos vulsínios”, es
cultura etrusca que remonta aproximada
mente ao ano 600 40
153
Fig. 165. O Sal semelhante a uma Górgona se
harmoniza nesta estela de Cozumalhuapa (Guate
mala) com outros simbolos cósmicos e um estranho
é é rante”
Pág. à direita.
Fig. 170. Outra estela da Lunigiana, con
crvada, como a precedente, no museu
arqueológico de Espézia: aqui também
estamos diante dos enigmáticos “seres sem
boca” que, em todas as partes do globo,
conduziram à formulação de teorias
fantásticas
No primeiro trabalho, Héracles sufoca entre os braços o leão de Neméia (um vale
da Argólida), que arma nenhuma podia ferir. Tratar-se-á de um parente dos felinos
amcaçadores que admiramos com as fauces escancaradas na representação de bronze
(Fig. 173) descoberta no chamado “túmulo de Midas” em Gordium (Anatólia sul-
ocidental), nas necrópoles etruscas (Fig. 174), nos incensórios (Fig. 175) do enigmá-
tico Grupo X (Balana, Egito). cuja cabeça é tão parecida com a do dragão chinês?
Voltamos a encontrá-los de guarda nos templos cristãos: ainda que nos recordem
representações bem mais antigas, eles perderam, todavia, o significado original. Não
obstante, evocações fascinantes nos arrastam através do espaço e do tempo. Não vimos,
porventura, no Extremo-Oriente o felino rivalizando com o dragão (Fig. 176), não o
admiramos ao lado da serpente na América pré-colombiana, exatamente como na cate-
dral de S. Vigílio (Fig. 177), em Trento?
Soltemos a fantasia, e sob a sua égide projetaremos a luta de Héracles contra o so-
berbo “homem-gato” vindo do espaço, como o veremos, respectivamente no segundo,
no terceiro e no nono trabalhos, opor-se à estranhíssimos animais: a hidra de Lerna, a
serpente de 9 cabeças que infestava a Argólida (e há outra serpente na história do nosso
personagem, a que (Fig. 178) personifica o Rio Aquelôo), o javali solto de Erimanto,
as éguas de Diomedes, devoradoras de homens, refletidas talvez nos belíssimos ginetes
alados etruscos (Fig. 179).
Não sabemos o que pode representar a corça do Monte Cerineu, com as armas de
ouro e os cascos de cobre, capturada pelo herói no seu quarto trabalho. A sombra do
Minotauro projeta-se sobre o sexto, o oitavo e o décimo trabalhos, que obrigam Héra-
158
Fig. 176. Como nas representações orientais, embora com um significado totalmente di
verso, modificado através dos milênios, o leà 1 opõe-se 40 dragão na simbologia cristã
Eis aqui uma escultura da porta norte-onental da catedral de S. Virgílio em Trento (mea
dos do séc, XII)
Fig. 177. Um leãoc uma serpente de guarda na janela central da catedral de S. Virgílio,
em Trento
Fig. 178. Héracles em Juca contra
o Ria Aquelõo, tepresentado por
uma serpente antropomorfizada,
numa ânfora ática
Pág. à direita
Fig. 181. Dois felinos, estranha-
mente semelhantes aos da Améri-
ca pré-colombiana, seguros por
um ser de cabeça aquilina, num
grupo hirira de Kargamish, em
basalto
cles a limpar as estrebarias de Áugias (e ele o faz desviando “simplesmente” o curso de
dois rios), a domar o tremendo touro de Creta e a capturar os bois de Gerião, monstro
de três corpos que vivia numa “ilha ocidental” chamada Eritéia.
Nessa ocasião o herói criou o Estreito de Gibraltar, separando duas montanhas que
passaram a ser conhecidas pelo nome de “Colunas de Hércules”. Tudo faz supor que
aqui (como no caso do desvio dos rios e do décimo segundo trabalho, a captura de
Cérbero, durante a qual se disse que a Terra inteira tremcu) estamos diante de alusões,
deformadas, a cataclismos que mudaram o aspecto de vastas zonas,
Mas eis que, com os bois de Gerião, voltamos à ficção científica, “Conta-se que
Héracles, molestado pelos raios ardentes do Sol que se punha, apontou contra ele as
suas setas”, escreve Ramorino, “e Hélio, admirado de tanto atrevimento, permitiu-lhe
usar 0 sem batel de ouro em forma de taça; com a ajuda dessa embarcação, o herói pôde
atravessar o oceano e chegar a Eritéia”.
A pré-estréia de um “disco voador”. Isso não nos espanta, visto que nas aventuras
do incansável Super-Homem da Antiguidade não faltam nem as astronaves: há uma
evocação direta da “águia da noite” (Fig. 180) pré-asteca (o belíssimo pássaro de pés-
simos hábitos) na sua luta contra as aves terríveis do Estinfalo, aninhadas na Arcádia,
“munidas de garras, asas e bico de bronze, e penas também de bronze, que elas arre-
messavam como flechas”.
Tratar-se-ja de veículos aéreos? Não podemos fazer outra idéia desses voadores me-
tálicos que lançavam mísseis. E todos os elementos da antiquíssima lenda nos parecem
condensados no grupo hitita de Kargamish, que vê o homem-águia manter atrelados
dois felinos (Fig. 187) estranhamente semelhantes aos da América pré-colombiana,
dominados, porém, por uma enorme figura humana, que parece em condições de deci-
dir como melhor lhe aprouver o destino de todos.
No sétimo trabalho, Héracles se avém com as amazonas, como tantos machos pre-
potentes da Antiguidade, e consegue roubar o cinto da rainha delas, Hipólita, matan-
do-a. Seria aquele cinturão alguma coisa semelhante a um cinto de histórias em qua-
drinhos, capaz de neutralizar a ação da gravidade?
Dados os elementos que passamos em revista, a hipótese não é de se jogar fora, E
ainda menos improvável se torna quando se procura penetrar o significado do undé-
cimo trabalho. Literalmente, de fato, este não pode contentar-nos: seria uma coisa bem
fútil e pueril para um herói ir roubar mel, ainda que fosse de ouro. Não obstante, o
nosso amigo voa até o jardim das Hespérides e aproveita a ocasião para abater 0 gi-
gante Ânteu.
“Os latinos consideravam esse combate um fato histórico”, nos diz Charpentier,
“e Plínio estabeleceu com certeza o lugar em que devia achar-se o múmulo de Anteu:
em Lixo, diante do mítico jardim das Hespérides. Ele precisou que o sepulcro do gi-
gante unha 60 cóvados, ou seja, uns 17m de comprimento. Os romanos acreditavam
tão firmemente nisso que, no tempo em que ocuparam à Tingitânia, um general mandou
fazer escavações na parte mais alta do Charf (uma colina isolada nas proximidades de
Tânger) para procurar a famosa sepultura. E diz-se que os legionários descobriram ali
uma quantidade de ossos" *”,
67 Louis Charpentier, Les Giant et les Myideresates Originei, Raberr Laffomt, Paris, 1969
162
VII
PASSAROS DE FOGO
Dos DA MORTE de Hiperião, narram os mitos, o seu reino foi dividido entre
os filhos de Urano; entre eles os mais famosos eram Atlas e Crono. Atlas recebeu como
sua parte as regiões da costa do oceano, e não somente deu o nome de atlântidas à sua
gente, mas também chamou Atlas à montanha mais alta da região.”
Assim escreve o grego Diodoro de Sicília (que viveu no tempo de Júlio César) na
Sua monumental Biblioteca Histórica. Não dev ta Ser, por certo, um npo que acreditava
“Um belo desastre, sem dúvida alguma”, disse o astronauta mais alto, relanceando
os olhos em torno, “Esta catástrofe sujeitará o homem à pré-história por centenas de
milhares de anos.”
163
Página ao lado: Fig. 182. No a o jaguar humanóide de La Venta (Tabasco) com as
franjas solares”, que representam o vôo; embaixo, a “fera de Teouhuacán”, também
mexicana
83. Da esquerda para «a direita: os “espaciais” das Ciclades (3000 a. C.), de Tell
Ashmar, na Mesopotâmia (2300-1900 a, C., mais ou nos), de Tróia (2 5100-2300
a. €. aproximadamente), e mais uma vez de Tell Ashmar (3000 à. €.)
Fig. 184. Três ídolos de âmbar de Tcherniakovsk (Prússia Oriental, URSS), que remon-
tam ao ano 2000 4.0
165
A esquerda,
Fig. 185. Uma cerâmica
“espacial” nazca (Peru)
em que parecem conden-
sados todos os elementos
mais emgmáticos que ca-
racterizam as antigas cul
turas americanas.
duza a sínteses americanas, asiáticas c africanas; mas nos deixa atônitos é perplexos o
de Kostok (também na Iugoslávia), que (Fig. 188) de sinais solares e espirais aproxima
desenhos — as flechas peitorais, por exemplo — cujos correspondentes só encontramos
entre as expressões das civilizações pré-colombianas de além-mar.
São — como à que distingue um estranho vaso (Fig. 189) da Anatólia — figuras
que nos levam aos “homens de cabeça chata” americanos. Estes últimos conhecem,
obviamente, representações bem mais precisas em certas regiões: um humanóide e um
escafandro parecem refletir-se na feitura de um recipiente (Fig. 190) — único no mun-
do — do Vale do Cauca, na Colômbia; e ninguém saberia dizer, com efeito, o que o
ser feito de pedra, com o curioso “capacete”, numa estela tolteca (Fig. 191), está
apertando entre as mãos; a embocadura de um escafandro? Uma arma desconhecida?
Mais próximas das nossas faculdades de compreensão estão as estatuetas da “Cultu-
ra Vicús”, a propósito da qual Frederico Patellani escreve, entre outras coisas, na revis-
ta" Atlante”
“Na obscuridade das sepulturas peruanas recentemente escavadas no setentrião,
P erto das vertentes do Monte Vicus (região
B de Morropón),
P se escondiam os teste-
munhos de uma população antiquissima, ainda desconhecida? (...) Quais são as verda-
deiras relações entre à civilização de Vicús e a de Salinar c Galinazo, que apresentam
características semelhantes? Como explicar a descoberta de um lote de cerâmicas tão
parecidas com as de Vicús na Peninsula de Paracas, a 1.100 km de distância de Piura?
Como explicar os vínculos figurauvos entre Vicus e as regiões mais ao norte do conti-
nente americano com referência à estrutura da cerâmica e as representações na ourive-
saria? E um caso de convergência ou de difusão? E se se trata de difusão, qual é a di-
reção seguida pelas influências? Não é até lógico pensar que na civilização de Vicús e
nas influências por ela provocadas se pode ver um caso de fluxo e refluxo?
“São indagações apaixonantes mas, por ora, ninguém está em condições de dar
respostas cabais « definitivas a essas perguntas. O tardio descobrimento da civilização
de Viais desorganizou todas as catalogações e datas da cerâmica pré-colombiana do
Peru e das culturas vizinhas.”
Os defensores das “teorias astronduticas”, diante das fisionomias (Fig. 192) dos
“Vicús”, não puderam furtar-se à tentação de vê-las como frutos do conúbio dos "ho-
mens-gat 35” com os representantes de uma raça que já existia na ocasião da sua suposta
169
Fig. 190. Humanóide « “escafandro” representados num achado único no mundo, um
recipiente de ouro e cobre do Vale do Cauca, nã Colômbia,
Página ao lado: Fig. 191. Esta estranha representação de uma estela tolteca está seguran
do entre as mãos um objeto desconhecido, interpretado por alguns como a boca de um es-
cafandro, por outros como uma arma
170
Fig. 192. Estaruetas que representam a antiguissima população peruana chamada (por
influência do lugar onde foram feitos às descobrimentos) do Vicús A sua semelhança com
ais famosos "homens-gatos” é inegável
Não podemos nem de longe imaginar para que serviam, mas talvez os vejamos imita-
dos pelos “varas de comando” dos xamãs, P pelos “cetros” P pré-colombianos (veja) a
fig. 33).
E não é só isso: bastôezinhos cilíndricos análogos, de uns 20cm de comprimento,
cujo emprego continua sendo igualmente um mistério, foram descobertos nas grutas
francesas e espanholas de Arudy, Lourdes, Istruritz, Hornos de la Peãa, na Hungria,
na Alemanha ocidental e meridional &, bem como no Japão e na Austrália
172
Fig. 193. Um pássaro de asas desdobra
das e um vaso que lembra os “espaciais
sem boca”, ambos da misteriosa cultura
de Vicus
É um rosto que nos fala de desespero e de dor, como outros que já conhecemos é
que têm os traços inconfundíveis do “homem-gato”
“Em Monte Albin”, escreve Roberto Calcagno, na sua relação, “os zapotecas crigi-
ram aos pés de imponente edificio uma série de lápides com as figuras conhecidas dos
dançarinos,
“O conjunto, de fato, é chamado Galeria dos Dançarinos. Na parte ocidental vê-se
um homem no ato de agachar-se (Fig. 196); 0 rosto tem traços inusitados, que parecem
retorcidos pelo sofrimento. A cabeça, em vez de ostentar os costumeiros ornamentos
vIStOSOS, é recoberta por um capacete que adere estreitamente a ela, e nem mesmo o
173
"
Fig. 194. À equerda, uma “sepultura de
bota” vicús: embaixo, um vímulo idêntico
escavado debaixo de uma pirâmide de
Chichén Itzá, no México.
corpo tem qualquer coisa que recorde o fausto das vestes pré-colombianas, envolvido
por uma espécie de macacão, com pequenas aberturas circulares que lembram as bocas
dos escafandros astronáuticos.
“Prosseguindo na direção do oriente, encontra-se outro “dançarino” numa atitude
que não esconde uma grande dor, com o rosto contraído numa careta e os braços cru-
zados (Fig. 197) sobre o ventre: e aqui também temos o “capacete” e o “macacão”.
“As mesmas características se evidenciam em outras figuras, sobretudo na (Fig.
198) do setor ocidental, onde as pernas de alguns sujeitos estão muito abertas e os bus-
tos atirados para trás. E a indumentária não muda.
“Qual é o verdadeiro significado desta obra? Insistir na tese dos “dançarinos” pa-
rece-nos de todo inoportuno: é verdadeiramente estranha, ao contrário, a presença de
174
feições tão singulares, dos esgares de sofrimento, dos trajos. Suponhamos, porém, que
um incidente tenha obrigado um grupo de cosmonautas provenientes de outro planeta
à permanência forçada na Terra: uma trágica ironia teria feito depois parecer uma
dança as suas manifestações de dor”.
É uma hipótese sem dúvida arrojada, mas que se adapta também às obsessivas ex-
pressões frequentemente usadas nos Cantos Astecas"º.
Por acaso vive-se realmente na Terra?
Não para sempre, somente por pouco!
Viemos só para dormir,
só para sonhar.
Não é verdade, não é verdade
que viemos para víver na Terra!
Mas 0 que é que pode fazer o meu coração, se em vão
viemos para viver na Terra,
em vão para florir?
Onde é, ó meu coração, o lugar da vida?
Onde é a minha verdadeira casa?
Onde é a minha verdadeira morada?
Eu sofro, aqui na Terra!
As alusões à uma região de proveniência que por certo não está situada em nosso
planeta se fazem, em certos trechos, evidentissimas; nítida, por exemplo, é a distinção
entre o lugar em que nasceram os antepassados e aquele em que viveram (“na Terra”);
curiosa a alusão ao “cofre” e à “arca”; e a citação relativa à descida no centro do Céu,
contraposta à descida “no coração da Terra”, para exprimir de um lado a esperança
de um regresso à pátria estelar, de outro o temor da morte no globo hospedeiro.
Aqui nasce a morte florida.
Aqueles que tomaram forma em Tlapalla,
os nossos maiores, chegam à Terra...
Que cantaremos, amigos meus?
Com que nos alegraremos?
Somente lá vive o nosso canto,
Onde nasceram os nossos maiores.
Na Terra, onde eles viviam,
eu sofro na Terra (...)
Aquele que dá a vida esconde
os homens num cofre e numa arca (...)
Mas eu os verei? Verão os meus olhos
os rostos de meu paí e de minha mãe?
Poderão oferecer-me o seu canto,
a sua palavra que procuro?
Ninguém está aqui,
Órfãos nos deixaram na Terra.
qo Todas as cxtações poéticas uradas de volume Cams Angecha, ns gados por Ugo Liberatore e Jorge Hernândes-Campos (Guanda
Edime. Parma. 1966) Alguns cantos. ludos por Alberm Lupe enão imch mes disem nónimo da “C ollana Letseraria Documento” (CI
opa)
175
Ai de mim, aonde irei?
A dúvida difícil me avassala.
Talvez à casa do Deus
aonde se de no centro do Céu,
Duas pinturas (Fig. 199) feitas em paredes do chamado “Templo de las Caritas”
de Cempoala foram interpretadas como simbolos do Sol e da Lua: mas ninguém pr
cisa entregar-se deveras às asas da ficção científica 1 ver na primeira (como alguns
estudiosos orientais é ocidentais) o quadrante de um instrumento de bordo e na segunda
qualquer coisa que faz pensar num veículo espacial, E nos Cantos Astecas por certo não
faltam as referências a esses meios:
176
Fig. 196. O sofrimento assinala [o a y
Husrzglopochilt, o guerreiro,
aquele que age eno alto
Pensemos numa raça caída das estrelas, mais ou menos semelhante à humana, bem
disposta para com esta última, e o significado de outros versos nos parecerá clarissimo:
178
Fig. 198. Outra sugestiva repre
sentação dos chamados “dançari
nos espaciais mexicanos
-s
E o conceito dessa estranha amizade é reforçado por outros, que parecem referir-se
claramente à estada no nosso globo de seres vindos do espaço. A maneira pela qual os
cantos são hoje interpretados, a maneira pela qual podem ter sido interpretados pelos
próprios astecas, não é determinante para os fins de uma análise científica, vista que
muitos têm as suas raizes num passado mais remoto, O tormentoso desejo de abando-
is
181
N
()
O(c
Fig. 204. Outros “espaciais” da Ilha de Páscoa; as deformações simbólicas são numero-
síssimase impressionantes.
nar 0 planeta não se refere, com toda a probabilidade, à aspiração a uma vida ultra-
terrena.
nica, Canadá), representantes de uma civilização que conta ao menos 5 mil anos, sobre
os quais se ergue ainda (Fig. 200) o pássaro das asas flamejantes, cuja mascara e cujo
capacete adornam a cabeça dos dignitários (Fig. 201).
Na Ilha de Páscoa, ao contrário, sobreviveu apenas um rito tão sugesuvo quanto
ingênuo, realizado sem nenhuma lembrança de um passado remotíssimo, que também
deixou sinais impressionantes. Dos monólitos nos contemplam (Fig. 202) os mons-
truosos “homens-pássaros”, recordando-nos o texto enigmático da “tabuinha X”
“Chegam os homens voadores... os homens de chapéu voam...”
Ao alto, d direita.
Fig. 207. Um relevo mesopotá
mico do século 1X a.C.: um pênio
alado com cabeça de águia asper
Bea "árvore da vida”
Que chapéu? Talvez aquela espec 1 de capacete que parece cobrir o rosto de Make-
187
Fig. 211. “Bastões de comando” em forma de bico, do
mapdalcano, descobertas na Alemanha
188
Pois bem, armas semelhantes sc encontram gravadas no Vale das Maravilhas. As
fotografias (que nos foram gentilmente oferecidas por um apaixonado do Instituto Na
cional de Estudos Ligurinos, Enzo Bernardini, a cuja obra importante prometemos vol-
tar) não deixam dúvidas a respeito (Fig. 210). E nelas se reproduzem, muito prova-
velmente, os “cetros” encontrados na Europa (Fig 2Y1), € que remontam ao magda-.
leano. Ninguém sabe para que serviam: os cientistas, contudo, são unânimes em consi
derá-l » “bastões de comando” simbolos mági os de poder
Como não suspeitar aqui de uma relação com o mítico “pássaro de fogo”? E como
não ver essa relação evidente, na “coruja” céltica descoberta em Bra, na Jutlândia ori-
ental (Fig. 212) tão próxima das sinistras esculturas americanas?
Seria arriscado estabelecer relações análogas com as belíssimas fivelas visigóticas de
ouro € pedras preciosas (Fig. 213), mas a alusão ao antigo Egito e ao antigo México
é tão forte que favorece divagações fantásticas, alimentadas pelos sinais solares e es-
telares colocados no peito destes maravilhosos pássaros convertidos em homens.
E eis Vixnu (Fig. 214) que monta o seu pássaro sagrado Garuda, exatamente como
os seus divinos colegas assumam à direç ão de meios aéreos mortiferos, os Vimana
Em Sombras sobre as Estrelas aludimos ao mandarim que, por volta de 1500, tentou
com escasso sucesso usar foguetes para fazer subir ao céu um caixão ideado por ele.
Podemos agora acrescentar que o mandarim teve predecessores cujas empresas foram
coroadas de maior êxito o impe dor chinês Chun, que reinou há 4.200 anos, foi um
dos primeiros pilotos citados pelas crônicas existentes... c até o primeiro pára-quedista,
pois parece ter inventado um apar elho semelhante aos pára quedas atuais
quatro dragões”, Yuan subiu no aparelho «e voou a grande altura através da China, na
direção da cadeia de montanhas de Kun Lun. No decurso da viagem, pôde observar
a Terra sem ser r perturbado pelos ventos nem pe lo pó que
q subia do de serto de Gobi
Aterrou sem incidentes e teve, mais tade, nova oc ao de sobrevoar o Kun Lun” 7,
“Estas máguinas voadoras da antiga China”, comenta Andrew Tomas, “deviam ser
produto de experiências científicas ou exemplares de invenções devidas a uma raça
antidiluviana. E como, naquela época, os chineses ainda não dispunham de conheci-
mentos tec nológicos, parec e que devemos propender para a segunda hypótese
189
Fig. 213. Duas estupendas fivelas visipóticas que representam pássaros com sinais astrais
no perto.
Página ao lado: Fig. 214. Vixnu cavalga o pissaro sagrado Garuda: é uma escultura em
madeira de Bali, que encontra correspondência em numerosas obras-primas da arte sacra
hindu
Segundo os anais, ele teria subido num ássaro celeste sendo conduzido por
ele “ao centro de um imenso horizonte”, um lugar do qual já não lhe cra po ivel
observar o movimento do Sol”, Os nossos astronautas estão igualmente impossibilita-
dos de observar o nascer e o tramontar do astro!”
Outro mensário de Pequim nos recorda que “o grande pensador chnês Tchuang
Tzu escreveu no século II] antes da nossa era uma obra intitulada Viagem para o In-
finito, em que narra como subiu ao espaço a 53.000 km da Terra no dorso de um "fa-
buloso pássaro de enormes dimensões” "2,
No curso das suas vagabundagens da Mongólia ao Tibete, o Prof. Roerich ouviu
falar em “serpentes de ferro” que, na Antiguidade, teriam “devorado o espaço com o
fogo e o fumo”, chegando até a “estrelas longínguas”. E, como ele afirma, encontrou
confirmação disso em muitos livros budistas ”.
Para rematar, vamos dar uma notícia relativa aos estranhos discos de pedra encon-
trados no distrito de Baian-Kara-Ula e no Tibete, parecidos com os discos de gramo-
fone dos nossos dias. O Prof. Tsum Um-nui, da Academia de Pré-História de Pequim,
73: “China Recomstrucis”, Pequim, agosto de 1961
73. Nicholas Roench, Prata r Bosdouschie, Uguns, Riga, 1936
190
acredita haver decifrado numerosas inscrições feitas nesses discos; e elas parecem tão
sensacionais que o próprio instituto (depois de compreensíveis hesitações) deu à estam-
pa um estudo cujo título soa com meridiana clareza: “Discos com hieróglifos revelam a
existência de naves espaciais que remontam há 12 mil anos”.
“Nada sc perde nesta terra”, escreve Ivar Lissner. “Nenhuma luz se apaga para
sempre. E a imortalidade é a única realidade que emerge ainda e sempre do pó, das
ruínas, das destruições. Por isso ninguem vive em vão, Por isso não é inútil aquele que
pensa. Por isso, nem uma hora se desperdiça. Por isso, tudo se junta, em algum lugar.
E torna a agir”.
192
VI
OS RAIOS E A ATÔMICA
| CLARK veste as únicas roupas de que dispõe, prende a correia com a pisto-
la, toma a metralhadora, a sacola que contém os objetos que lhe são mais úteis, e ende-
reça-se à clareira. Já sabe o que o espera: a longa entrevista de todas as manhãs, um co-
lóguio que certamente lhe será útil porque o leva, dia após dia, a aprofundar o conhe-
cimento da língua dos indígenas, da sua mentalidade, dos seus costumes, mas que co-
meça a pesar-lhe pelo seu caráter, que é agora o de um rito.
Instala-se entre os guerreiros acocorados em círculo, o ancião da tribo o saúda.
— Seja-te concedida uma boa caça hoje também, deus branco.
— E seja concedida uma boa caça também a vocês, irmãos.
Do monte de comida que lhe é trazido, John Clark rejeita a carne mal passada, es-
colhe algumas frutas. Pensa numa boa xícara de café ou de chá, sonha com um cigarro
e prepara-se para enfrentar O interrogatório matutino com as costumeiras perguntas e
as costumeiras respostas, que espera poder dar cada vez um pouco mais claras à mente
dos seus hospedeiros. Afastara-se, a bordo de um jato, de uma guerra bestial, decidido
a encontrar um asilo qualquer onde pudesse esquecer aquele inferno, e fora cair ali,
onde o jângal se fecha para sempre sobre muitos homens audazes, incautos ou infelizes
demais "*.
— Deus branco, onde estão as tuas asas?
— Não tenho asas, eu já disse, Sou um ser como vocês.
— Não és como nós. Chegaste voando.
— Está bem, alguma coisa me fez voar, mas...
— Então, és um pássaro.
— Não sou um pássaro. O meu aparelho, a minha máquina...
John Clark se detém, dá-se conta de que, para aqueles guerreiros primitivos, as pa-
lavras “aparelho”, “máquina”, não têm sentido algum.
— É como um animal, — procura explicar, — um animal de ..., de ferro.
— “Ferro”, — repete o ancião da tribo, num gesto grave de assentimento. — Uma
serpente de ferro com asas.
— Não! Outro animal, Pense numa espécie de animal qualquer que pode voar.
— Vive na Terra, mas pode voar. — O outro anuiu, circunspecto, — É como Wa-
ba, o monstro de pedra que está na montanha e faz nascer o trovão, o raio c à chuva.
— Não, não é assim! Eu...
— Chegaste com o trovão e o raio. És o dono do trovão e do raio.
Nesse ponto, o branco já não sabe o que responder. Compreende que, para os in-
74. Trata-se do interior da Nava Guiné. Pade servir-nos de exemplo o fato de que dos sete mil aviões abatidos sabre as suas florestas no correr
da [1 Guerra Mundial, apenas uma centena foi reencontrada (Veja O Planeta Desconhecido)
193
Fig. 215. O
“guerreiro de
Teotibuacán”, com
o seu estranho
capacete provido
de óculos, uma
espécie de macacão
ecalçados insóhros
Empunha armas
sobre cuja natureza
os estudiosos ainda
não chegaram a
um acordo.
Fig. 216. Um
suposto sacerdote
de Teotihuacân: à
sua indumentária
está cheia de
simbolos cósmicos.
digenas, o estrondo e as chamas do jato, o fogo das suas armas automáticas, represen-
tam argumentos irrefutáveis
— Em suma, entendam como quiserem, resmunga na sua lingua, resignado.
-O indígena interpreta talvez essas palavras como uma fórmula mágica e volta a
anuir, satisfeito. :
— Waba tem pés potentes como os teus, — constata, indicando os calçados do
aviador, — e batendo neles provoca o travão. Tem grandes olhos de raios e plumas
brilhantes como as tuas asas
194
[970/0,0 0,0, 05
Fig. 217. No centro da “cruz umversal” mexicana, rica de impressionante simbologia, está o deus do fogo,
com armas desconhecidas é raos arremessados em todas as direções
— Por que não descem até nós os teus irmãos, aquele que brilha de dia e aquela que
brilha de noite e tem chifres?
Trata-se, obviamente, do Sol e da Lua nas suas várias fases. O branco não tarda em
compreender, e responde:
— Eles estão no céu
— Mas tu também estavas no céu, — retruca o outro. — Desceste do céu. Por que
não descem eles?
195
— Porque têm muito que fazer lá em cima. Precisam dar calor e luz, — remata 01
aviador, erguendo-se; e acrescenta, sem que os outros o compreendam: — E agora va-
mos trabalhar também, rapazes. Aqui precisamos trabalhar, se quisermos viver decen-
temente.
Um paraíso inquietante
196
e
d 4 Li 13e! —
= arim
Fig. 218.0 “paraiso de Taloc”: homens parecem librar-se no espaço com linguas de fogo que poderiam
fazer pensar em jatos de propulsores
tos”, “taças”, objetos não identificáveis. Abundam as alusões às espirais; há até o sim-
bolo do infinito!
Embaixo, em seguida, é tudo um pulular de simbolismos no centro dos quais se des-
197
Fig. 219. Nesta estela de Ur a escala representa a subida xo céu, onde o” res presta
homenagem aos astros
198
Fig. 220. À sacerdotisa alada de Nemrod, com os
“comos” lunares e o disco solar
s ar
aiigiaio
NS
raços estendidos (Fig. 222), desprende as asas numa atitude sugestiva, claramente
'totêmica”,
Deus-homem-pássaro: o conceito é anuguíssimo, a aproximação tão lógica que é
rópria de todo o globo, de todos os tempos. Como poderia ser representada de outra
naneira uma criatura descida do céu?
199
Fig. 221. O guerreiro sul-americano desenhado pelo filho de Fawcert: são evidentes
os símbolos do Sol « da serpente; a cabeça está encerrada numa estrutura circular
Fantasias comuns a todos os povos? Pode ser. Comuns, porém, devem ser os moti-
vos que as inspiraram. É demasiado fácil e muito pouco convincente aferrar-se alguém
à idéia da “matriz mágica espontânea e universal”,
Podemos alinhar aqui inúmeros exemplos. Poucas aproximações, além das que já
fizemos, nos parecem, contudo, suficientes para confirmar teorias estonteantes. Con-
templemos, por exemplo, os gênios alados etruscos (Fig. 223) do sepulcro dos Volumni
em Perúsia e a belíssima Vitória de Velleja (Piacenza): aqui (Fig. 224) as asas são fei-
tas de pedra; mas são as mesmas feitas de penas na representação (Fig. 225) do “guer-
200
Fig. 223. Os gênios alados do
sepulcro do Volumni (Perúsia)
.
Fig. 224, A “Vitoria” de Velleja (Piacenza)
Página ao lado: Fig. 226. Este personagem imortalizado numa pintura do palácio de
Mari, à margem do Eufrates, ostenta um elmo emplumado muto semelhante ao dos an
Higos mexicanos.
203
Fig. 228. O esplêndido
falcão Horus de Biblo
Fig. 229. Um alguidar etrusco descoberto na província de Novara tem no centro uma figura alada circun-
dada de pássaros, gnfos, serpentes.
reiro” mexicano de Tlaxcala; a sua curiosa indumentária nos faz pensar num macacão;
as correias cruzadas sobre o peito servem evidentemente de suporte para o grande dia-
dema emplumado dorsal. E a “mochila” colocada entre a espinha e as asas? Seja 0 que
for (as interpretações são diversas), não é, pois, inexplicável que alguém a veja como a
ingênua reprodução de um reservatório ou de um propulsor.
Também o capacete do nosso “guerreiro” está revestido de plumas, exatamente
como o que ostenta um personagem imortalizado na pintura mural (Fig. 226) do palá-
cio de Mari ': este último se poderia confundir, até no entender dos estudiosos tradi-
cionalistas, com um chapéu dos antigos mexicanos.
Transforma-se em diadema de penas entre os peles-vermelhas e muitos povos asiá-
ticos, africanos e oceânicos. E torna-se uma coroa alada para os etruscos (Fig. 227),
com outros sinais solares, volutas em forma de serpentes e espirais.
76, Mani era uma antiga cidade às margens do Eufrates, cujas ruinas se encontram sas proximidades de Abu) Remal, nos limites entre à Sina
eu Iraque Segundo a lista dos reis sumenianos, foi “a décima cidade a exercer ox poderes reais depois der dilóvio”
204
Asas para o infinito: esplendem sóis nos olhos, dos lados, entre as garras (e nos fa-
zem pensar num sinal de conquista, de posse) do falcão sagrado Horo (Fig. 228),
assim como se reflete no colar de ouro de Biblo, do II milênio antes de Cristo, quando
os reis deste centro, que floresceu ao norte de Tiro e Sídon, eram vassalos dos egípeios.
Confrontemo-lo com as figuras do alguidar etrusco (Fig. 229) encontrado em Cas-
telleto Ticino (Novara) ”, ornado de pássaros, grifos, serpentes, e teremos assunto pa-
ra muita reflexão.
A figura central é a de um ser alado com o rosto humano. Deus-homem-pássaro:
em todo q passado do terceiro planeta solar domina esta imagem, ainda junto de
simbolos solares, espirais e representações animais na Mesopotâmia (Lagash, “Laje do
sacerdote Dudu”, mais ou menos no ano 3000 a.C.), traduzida (Fig. 230) em dentes,
garras, plumas, apêndices que são, ao mesmo tempo, caudas, répteis, chamas, nos es-
cudos (Fig. 231) do antigo México.
Neste mitológico “Coiote” Taylor-Hansen vê a transposição dos “pássaros divi-
nos” asiáticos: de Garuda, talvez, o pássaro sagrado de Vixnu (veja a fig. 214), cuja
máscara é usada até pelos xamãs mongóis.
Mas tratava-se realmente, de um pássaro? “O Panchatantra hindu”, escreve Andrew
Tomas, “contém a narrativa de 6 jovens que construíram um dirigível chamado Ga-
ruda, capaz de decolar, aterrar, viajar em qualquer direção. Esse dirigível dispunha de
um sistema aperfeiçoado de controle, que permitia manobras precisas e vôos trangui-
los”,
“Um animal que vive na Terra mas pode voar”: como traduzir em imagens um con-
ceito semelhante? Com figuras que o resumam, dando a idéia da velocidade, da força,
da capacidade de elevar-se do solo. Pássaros e leões, touros e cavalos, fundem, portanto,
os seus proverbiais atributos de milênios para compor os selos de um passado ainda
mais remoto.
Num broche de ouro (Fig. 232 do século V a.C., proveniente do Mar Negro, os
citas opõem um cavalinho marinho (símbolo, porventura, do diluvio, das forças de-
sencadeadas da água?) a uma forma eguina rostrada, alada: em Tirinto, monstros ala-
dos. sob o simbolo solar, entre “árvores da vida”, rendem homenagem a uma deusa
que tem nos ombros um falcão protetor (Fig. 233).
Os etruscos põem a cabeça de um “pássaro caprino” no dorso de um leão (Fig.
234) de cauda serpentiforme na “Quimera” encontrada em Arezzo no ano de 1553,€
testaurada por Benvenuto Cellini; no Ipogeo dei Volumni, guerreiros lutam com grifos
(Fig. 235) debaixo de sinais solares e espiralados.
Uma chapa de ouro (Fig. 236), proveniente de Ziwiye, ao norte da Mesopotâmia,
nos oferece, afinal, um compêndio pasmoso: asas, asas e asas sobre corpos amimais com
cabeças rostradas humanas, equinas, de faunos, de cervos, com caudas de serpente ou
de plumas, cercadas também de sóis, espirais e “árvores da vida”.
Qual é a matriz desse surpreendente desdobramento de imagens simbólicas? Talvez
a “esfinge de Monte Alban”, (Fig. 237) a alucinante figura feita rocha, agarrada à
rocha, quase que numa desesperada tentativa de ascensão, como Waba, o “monstro de
pedra” da Nova Guiné, “que está na montanha e faz nascer o trovão, o raio e a chu-
va ?
27. O alguidar é um recipiente usada para aqueter ou manter quente à água, principalmente para as abluções rituais
205
NoE ag
MREE) tm 7
ES a Ri! ==
Pág d esquerda, em cima. Fig. 232. Um broche de ouro cita
Fig. 230. Uma laje mesopotâmica opõe um cavalinho marinho (sim-
ano 3000 a.C., mais ou menos, bolo do dilúvio?) a uma figura
com asas, espirais, simbolos sola- equina rostrada c alada.
res, leões; reproduz, em estilo
diferente, antiquissimas represen-
tações americanas
e
e
Fig. 233. Tirinto: monstros ala-
dos, debaixo do simbolo solar.
rendem homenagem a uma deusa
que tem nos ombros um falcão
protetor
Pág, à direita.
Fig. 237. A “esfinge de Monte Albin”, alucinante figura feita em rocha
Em toda parte está o fogo
“Ea, senhor da sabedoria e da prudência, decidiu uma vez, por brincadeira, criar
uma criatura que tivesse o aspecto de um homem e a sabedoria dos deuses”, escreve
Gaster, reevocando uma lenda babilônica 2. “Desceu, portanto, à Terra e, na cidade
sagrada de Eridu, deu forma a um ser ao qual chamou Adapa. Tão sábio cra este ser,
que nada — nem no céu, nem na terra — fugia à sua compreensão. Quando abria a
78. Thendor H. Gaster. Le Piu Antiche Store del Mondo, Giulio Einauds Ed.. Tunm. t96o
209
boca era como se falassem os próprios deuses e ninguém podia contradizer-lhe as
lavras. Não havia artes nem ofícios em que não fosse mestre; sabia amassar o pão como
o padeiro, pescar como o pescador e caçar como o caçador. E era tão bom quanto
sábio.
“Um dia, saindo à procura de peixes para Ea, topou com o espírito do furacão, que
Ibe apareceu sob a forma de pássaro, virando-lhe o barco. Ele lançou uma invectiva con-
tra o pássaro, cuja asa se partiu em pedaços.
“Assim cessou sobre a Terra o vento que o pássaro suscitava. Deus ordenou que
Adapa fosse conduzido à sua presença. Seguindo os conselhos de Ea, Adapa compor- !
tou-se humildemente, Deus lhe perdoou e lhe disse: “Adapa, embora devas regressar
à Terra, terás, não obstante, à minha recompensa...”,
“E revelou-lhe todos os mistérios do céu e toda a sua glória e esplendor”, conceden-.
do-lhe grandes privilégios, como a imunidade contra as doenças e a angústia.
Realmente não é difícil traduzir em termos de ficção científica a história babilóni-.
ca. O governante do globo Alfa, pertencente à federação interplanetária Delta, decide.
mandar à Terra, chefiando uma missão colonizadora, o comandante Adapa. À opera-.
ção é bem sucedida, o enviado de Alfa consegue comunicar aos indígenas as noções in-.
dispensáveis à ascensão deles. Mas eis que outro veículo cósmico viola o céu do tercei-.
ro planeta solar. Adapa "despedaça-lhe a asa”, isto é, abate-o, sem saber que se trata
de uma astronave da federação. O encontro provoca uma paralisação na evolução dos
homens, o que, de fato, não agrada ao chefe da coalizão estelar. Este manda chamar o
responsável e, percebendo tanto a sua boa-fé quanto à sua impulsividade, não o conde-
na, mas confia-lhe outro encargo: ele não mais chefiará expedições espaciais: ocupar-se-
á exclusivamente em favorecer o progresso dos terrestres.
Uma interpretação muito livre? Sem dúvida. Ela poderia ser, entretanto, apoiada
por um sem-número de tradições análogas à babilônica. Na Índia encontramos Indra,
o deus da tempestade, que destrói a serpente Vitra “por meio do raio, entre os trovões
que representam o rugido do deus, ao clarão dos relâmpagos que abalam as monta-
nhas”; na Birmânia encontramos Puluga, o ser supremo que “tem o trovão por voz e o
vento por hálito” e desce à Terra para trazer a prosperidade; na Nigéria, M'scimba-
M'sciamba “acende e acorda o mundo”, para induzir depois os homens a fertilizar o
solo; entre os astecas, a deusa do milho (e portanto do alimento, da vida) é chamada
“Sete serpentes” e, debaixo dos clássicos sinais solares (Fig. 238), empunha o raio;
para os antigos lituanos a divindade suprema é Perkunas, "verdadeiro ser celeste, con-
cebido sob o aspecto meteórico, isto é, como provocador do trovão e do raio. À ele
são conferidos os epítetos próprios do Ser Supremo: pai (téras), antepassado (duojotas),
O fogo é o elemento que o representa de modo especial... Simbolizado por um homem
maduro com chamas sobre a cabeça... º.
Também o mexicano Quetzalcóatl, na reprodução do Código Florentino (veja a fig.
50) tem “chamas sobre a cabeça”; assim também é às vezes representado o deus do
fogo hindu Agni, cujas manifestações se vêem tanto no céu (com o Sol e o raio), quan-
to na Terra. “Ele”, escreve ainda Turchi, “está em toda parte, no coração da pedra,
nas vísceras do globo, no interior do nosso corpo... é o amigo dos homens, porque põe
79: Nicola Turechi, Sínria delle Religiani. Saneoni. Florerica, 1964
210
Fig. 239. Chalchiuhricue, divindade do antigo
México que reúne ao estranho chapéu as “franjas
solares”
21
Fig. 240. Ao lado do famoso “espacial da Valcamônica”, eis aqui outra estranhissima
figura que goteja chuva sobre a “úrvore da vida”
Fig. 241. A “Dama branca de Tassil”, com uma quantidade de gotas em torno da
cabeça chiftuda
em fuga os espíritos malignos que se aminham nas trevas e Os consome no seu ardor,
distribui entre os homens todos os favores da lareira doméstica, mercê de um pacto
antiguissimo celebrado com os antepassados...”
Os leitores se lembrarão, por certo, do “astronauta de Palenque”, o surpreendente
pesronagem representado numa pedra tumular mexicana. “Ostenta um capacete”, es-
creveram, a esse propósito, G. Ta ade e A. Millou, “e olha na direção da proa da na-
ve; as suas mãos, ocupadas, parecem manobrar alavancas; a cabeça se apóia num su-
porte e um inalador penetra no nariz. O pássaro na proa é um papagaio, que para os
maias simboliza à deus Sol. Sempre na proa encontramos três “receptores” que acumu-
lam energia; outros se distinguem, cm séries de três, em torno do veículo. O motor é
subdividido em quatro partes; o sistema de propulsão encontra-s atrás do piloto... na
goi
parte posterior vê-se nitidamente o jato de chama
Podemos ser cépticos quanto quisermos, mas é impossivel encontrar para esse relevo
uma interpretação que não seja a “espacial”, Na época do seu descobrimento um estu-
dioso afirmou, peremptório, que se tratava da reprodução do deus da chuva, À afirma-
ção é perfeitamente gratuita, visto que à ciência oficial não está em condições, até hoje,
de identificar aquela figura; de qualquer maneira, ela se baseia numa consideração sim-
plissima: as divindades às quais se atribuiu o poder de despedir trovões e raios devem,
por conseguinte, controlar também as precipitações meteorológicas,
Isso acontece na Birmânia, onde o deus do trovão, para os andamaneses, é também o
deus da chuva, como acontece entre os dencas da África central, entre os núbios que
habitam o oeste do Nilo Branco e entre os hotentotes.
E acontecia na Índia com Parjanya, deus da tempestade e da chuva, em Ugarit,
com Baal, cujo nome especifico é Hadad, “o senhor do trovão, do raio, das águas ce-
lestes, o que cavalga as nuvens”
213
PPT e
a Mogtgessos
COcoms00001
—
Esqueletos radioativos
Com a direita, o “cosmonauta australiano” parece empunhar um instrumento cuja for-
ma, infelizmente, não nos é dado reconstituir nem mesmo por aproximação. Uma ar-
ma? Sentimo-nos tentados a reconstruir o mito cananeu de que nos fala Theodor
Gaster: :
“No princípio dos tempos, quando a cada um dos deuses foi atribuída a parte de
domínio que lhe cabia, à Terra ainda não tinha dono. Dois deuses disputavam entre
sia honra de possui-la: um era Baal, Senhor do ar e da chuva, o outro era Yam, o dra-
gão que reinava sobre as águas. O reino é confiado a Yam, mas Baal o desafia. Astar-
te o ajuda, fazendo-o construir dois “paus mágicos”, com os quais Baal vence e mata o
dragão”, Comentando a lenda, Gaster precisa: “Este episódio ocorre num mito cgípeio
que descreve a luta entre Horo e Set; conta-se, de fato, que Horo se muniu de uma
arma especial, feita por Ptah, o artífice dos deuses. Da mesma forma, no mito védico,
quando Indra ataca o dragão Vrita, fá-lo com um “dardo sibilante” expressamente
preparado para ele pelo artífice Tvashtri. De um modo geral, os estudiosos de mito-
logia concordam em admitir que estas armas representam o raio. Além disso (...) no
texto original se lê que os paus “saltam” das mãos de Baal...”
Recordemos que os amigos primitivos de John Clark associavam o estardalhaço e as
chamas do jato ao fogo da metralhadora e da pistola, c as palavras de Gaster assumi-
rão novo significado.
De resto, tudo o que ele conta acerca de Baal encontra eco no mundo inteiro. No
Tibete os dorje (raios) representam uma arma usada simbolicamente pelos sacerdotes
contra os demônios.
Sobre os supostos veículos celestes antediluvianos existe uma rica documentação do
estudioso soviético A. Goborvski?!. Ocupando-se precisamente do Tibete, ele nos diz
que um texto daquele pais contém a descrição de “um enorme carro voador, fabricado
com um metal negro, à base de ferro, não puxado por elefantes nem por cavalos, mas
por máquinas grandes como esses animais”,
Às tradições célticas são ricas de “animais voadores recobertos de uma couraça de
ferro, que não tinham ossos nem esqueleto e não reclamavam comida”, ao passo que
na Índia antiga assim se descreve um veiculo aéreo: "No interior do aparelho encon-
tra-se um dispositivo onde se aquece o mercúrio numa caldeira. O aquecimento é
obtido graças a um fogo especial direto (um laser?). Os quatro recipientes de mercúrio
permitem a produção de um turbilhão de força. O carro sobe ao céu, com o fragor do
trovão. Os que lhe seguem o curso no céu têm a impressão de observar uma pérola gi-
tesca”.
É ainda Goborvski quem fala. E no seu livro Enigmas da Antiguidade nota que “um
esqueleto humano descoberto na Índia revelou uma radioatividade muitas vezes supe-
nor à normal” (não é o único, segundo se sabe). Por sua vez, aludindo às ruínas carbo-
nizadas de Borsippa, amiúde identificadas com as da torre de Babel, E. Zehren pergun-
ta, na sua obra Die biblischen Hugel, que energia teria podido fundir os tijolos do zigu-
rate « responde: “Nenhuma, a não ser a luz monstruosa de uma bomba atômica”.
As lâmpadas perenes
217
de Diancecht e, como tal, é carpinteiro, mecânico, atleta, harpista, guerreiro, pocta,
mago, médico, copeiro, bronzista, jogador de xadrez. Será o pai espiritual de Cuchu-
lain *º (...) Na Escandinávia é Loki, uma espécie de demônio entre os deuses (...)
torna-se “o Astuto”, "o Engenhoso”, o que engana as outras divindades” AR
Por melhor que sc ajuste à versão utópica, não a queremos, por certo, tomar por
evangelho. Ela quer fazer-nos simplesmente refletir sobre alguns fatos inexplicáveisà
luz dos nossos conhecimentos atuais.
“Encontram-se na Sactaya Grantham, que faz parte dos Vedas hindus, instruções pa-
ra a vacinação, assim como descrições das suas consequências”, escreve Andrew To-
mas. “De que maneira os brâmanes chegaram a essa descoberta 2.500 anos antes de
Jenner **2”
E ajunta algo muito mais sensacional; “Os antigos chineses conheciam os raios X?
A pergunta pode parecer absurda, mas conta-se que o Imperador Tsin Shi (2 59-210
a.C.) possuía “um espelho que iluminava os ossos do corpo”. Esse “espelho” se encon-
trava no palácio de Hien-Yang, em Shensi, no ano 206 a.C.; assim o descreviam os
escritos daquele tempo:
“Era um espelho retangular, de 1,22 m de largura por 1,76 m de altura, brilhante
tanto na parte anterior quanto na parte posterior. Quando uma pessoa se punha em pé
diante dele para ver-se refletida, a imagem parecia virada de cabeça para baixo, Quan-
do alguém levava as mãos ao coração, todos os seus órgãos internos, como O intesti-
no, sc tornavam visíveis. Quando uma pessoa tinha uma doença escondida, podia re-
conhecer-lhe a sede olhando nesse espelho e levando as mãos ao coração” *º,
Parece também que 250 anos antes do reinado de Tsin Shi, um sábio hindu chama-
do Jivaka possuía "uma jóia maravilhosa”, que permitia “olhar para o interior do cor-
po”, exatamente como os raios X. O objeto, de acordo com um documento histórico,
“iluminava o corpo como uma lâmpada aclara todos os objetos de uma casa, revelando
a natureza das doenças”.
Invenções muito mais modestas, mas para nós surpreendentes, nos são apresentadas
nas páginas “menores” da arqueologia. No “nímulo de Balana”, às margens do Nilo
nubiano, foi descoberta, por exemplo, uma mesa dobrável (Fig. 243) racionalíssima,
que encontramos também em Pompéia. Queremos levar, numa excursão ao passado,
uma cadeirinha igualmente dobrável? Teremos de andar um pouco, mas à encontra-
remos (Fig. 244) na Dinamarca, onde foi construída há coisa de três mil anos.
Uma curiosíssima caixa com compartimentos, semelhante à um estojo para talheres,
(fig. 245), foi descoberta numa sepultura do antigo Egito, e remonta aproximada-
mente ao ano 3000 a.C. E agora sabemos, finalmente, como se obteve o corte perfeito
do bigodinho do Príncipe Rabotep (mais ou menos no ano 2500 a.C.): “Durante uma
campanha de escavações realizadas na região de Sakkara”, lemos num cotidiano, “o
egiptólogo inglês Walter Emery e o arqueólogo egípcio Ali e el Kholi encontraram
onze lâminas de barbear enferrujadas, velhas de 2.500 anos. Emery e El Kholi pre-
tendem agora tirar a ferrugem para ler os hieróglifos existentes sobre as lâminas” *º.
82. Veja Não é Terrestre, já citado
83. Louis Charpentier, Les Géants ei le Mystire des Origines, Robert Laflont. Paris. 1969.
84 A Tomas, Les Secres de |" Arlanside, Robert Laffont. Paris, 1969
85 B Laufer, Prebistory of Aviation, Field Museum of Natural History, Chicago, 1928
86. “Comiere del Giomo”, 13 de fevereiro de 1979
218
Fig. 243 A mesa dobrável de bronze de Balana (Nilo nubiano). Quan
do aberta, (d direita),J os suportes sustentavam um plano de madeira
Ainda não chegamos aos barbeadores elétricos, mas não devemos desesperar, sobre-
tudo se refletirmos no descobrimento, feito pelo engenheiro alemão Wilhelm Kônig,
das famosas “pilhas de Bagdá” *”.
De qualquer maneira, a eletricidade não devia ser prerrogativa do mundo mediter-
219
Fig- 244: Ourro móvel dobrável: trata-se
de um banquinho dinamarquês, que já tem
3000 anos de idade
da, com serragem de madeira úmida. Coloca-se depois sobre a serragem um prato de
zinco amalgamado com mercúrio, a fim de evitar a polarização. O contato produz uma
energia líquida, conhecida pelo duplo nome de Mitra-Varuna. A água é separada desta
corrente em pranavayu e udanavayu. Afirma-se que a união de uma centena desses reci-
pientes produz um efeito muito forte” *",
Comentando esse trecho, Tomas nos oferece interessante visão panorâmica dos su-
postos conhecimentos sobre a eletricidade num passado longínquo.
“Na cúpula do templo por ele construído, Numa Pompílio, (segundo Ovídio) fazia
arder um fogo perpétuo. Pausânias viu, no templo de Minerva, no ano 170 da nossa
era, uma lâmpada de ouro que emitia luz durante um ano sem ser preciso enchê-la.
220
Fig. 246. O bigode perfeito do prin
cipe egipdio Rahóteg encónica final
mente uma explicação no recente des
cobrimento de lâminas de barbear no
Nilo
“Nos túmulos próximos da antiga Mênfis, no Egito, encontraram-se em quartos se-
lados lâmpadas que ardiam perpetuamente; exposta ao ar, a chama se extinguia; é
sabido que lâmpadas do mesmo tipo existiam nos templos brâmanes da India.
“A estátua de Mêmnon no Egito “falava” quando os raios do sol levante lhe toca
vam a boca, O som provinha da parte inferior do rosto. “Mêmnon”, disse, à propó-
sito, Juvenal, “faz ressoar as suas cordas mágicas”. Os incas, do seu lado, tinham um
ídolo falante no Vale de Rimac: teria sido impossível construir monumentos seme-
lhantes sem o conhecimento da física.
“Somos levados a acreditar que as chamas despedidas pelos olhos de divindades
egípcias (sobretudo pelos de Ísis) eram produzidas pela eletricidade. Porventura não
se encontraram no Egito aparelhos capazes de sustentar essa hipótese?
“O grego Luciano (120-180 d.C.) nos deixou a descrição das maravilhas que admi-
rou no transcurso de uma viagem a Hierápolis, na- Síria setentrional. Foi-lhe mostrada
uma jóia engastada numa cabeça de ouro de Hera, que “projetava uma grande luz”,
de modo que “o templo resplandecia como se fosse iluminado por uma miríade de cí-
rios”, Outro prodígio: os olhos da divindade o seguiam aonde quer que ele fosse.
Luciano não forneceu a explicação do fenômeno: os sacerdotes recusaram-se a reve-
lar-lhe o segredo”.
Passando a outras manifestações curiosas, o estudioso prossegue:
“Os afrescos, ricamente coloridos, que cobrem as paredes e os tetos dos múmulos
egípcios, parecem ter sido pintados em plena luz. Mas a luz do dia nunca penetrou na-
queles aposentos. Não se encontram traços deixados por tochas ou lâmpadas de óleo.
Ter-se-ão os pintores servido, acaso, de luzes elétricas *?2
“Os mistérios do templo de Hadad ou de Júpiter em Baalbek estão associados a
pedra luminosas. A existência de tais “pedras” que forneciam, na Antiguidade, as lu-
zes nas horas noturnas não pode ser posta em dúvida, pois foi descrita por numerosos
autores clássicos.
“Plutarco dizia, no século | da nossa era, ter visto uma “lâmpada perpétua” no tem-
plo de Júpiter-Âmon. Os sacerdotes lhe haviam assegurado que ela ardia assim, inin-
terruptamente, havia muitos anos: nem o vento, nem a água puderam apagá-la,
“Em 1401 se descobriu a pedra tumular de Palas, filho de Evandro; na cabeça do
defunto fora colocada uma lâmpada de fogo perpétuo. (...) Santo Agostinho descreve
uma lâmpada análoga, vista por ele num templo de Vênus, e o historiador bizantino
Cedrino afirma haver admirado outra, que ardia em Edessa fazia cinco séculos.
“O Padre Régis Evariste Huc (1813-1860) assevera ter examinado no Tibete uma
lâmpada inextinguível, é relatos desse gênero também nos chegam da América. Em
1601, descrevendo a cidade de Gran Moxo, em Mato Grosso, Barco Centernera fala
nestes termos de uma ilha misteriosa: “A sua beleza superava a razão humana. À Casa
do Senhor era construida com pedras brancas até o teto. À entrada havia duas torres
muito grandes, separadas por uma escadaria. À direita, dois jaguares vivos estavam
presos a uma coluna com anéis de ouro. No topo dessa coluna, que tinha uma altura de
7:75m, uma grande lua iluminava todo o lago, afugentando a escuridão e as sombras de
dia e de noite”.
Hg. Antes das Tempos Conhecidos, já citado.
222
“O Coronel Fawcett ouviu os indígenas de Mato Grosso dizer que frias luzes mis-
teriosas tinham sido observadas na cidade perdida na mata; escrevendo ao autor bri-
tânico Lewis Spence, observa o famoso explorador: "Essa gente tem uma espécie de
iluminação que nos parece estranha e provavelmente faz parte de uma civilização de-
saparecida”,
“Os mandans, os índios brancos da América setentrional, recordam uma época em
que os seus antepassados viviam além do oceano, em “casas de luzes inextinguíveis ', Seria,
acaso, a Atlântida? Os antigos teriam herdado dos adântidas tais lâmpadas curiosas?
“Até há alguns anos, os habitantes das ilhas do Estreito de Torres se diziam possuí-
dores de buia, isto é, de pedras redondas que projetavam uma luz penetrante (...) da
qual emanava uma luminosidade azul-esverdeada, que nunca deixava de maravilhar
os brancos ”,
“Comerciantes da Nova Guiné descobriram, não faz muito tempo, um vale no jân-
gal, perto do Monte Wilhelmina, povoado de amazonas. Com grande assombro vi-
ram grandes pedras redondas com um diâmetro de 3,5 m colocadas sobre colunas €
que irradiavam uma luz semelhante à do néon. C. S. Downey, delegado à conferên-
cia sobre a iluminação e o tráfico, realizada em Pretória no ano de 1963, ficou tão
impressionado que declarou: “Estas mulhers, isoladas do resto da humanidade, de-
senvolveram provavelmente um novo sistema de iluminação que iguala, c até supera,
os do século XX”.
"E pouco provável que as habitantes do jângal tenham descoberto um sistema des-
se género; pode dar-se que tenham herdado as esferas incandescentes de uma civili-
zação desconhecida da história”.
Estranho é o fato de que uma ilha povoada de mulheres guerreiras da Antiguidade
fosse chamada pelos romanos por um vocábulo céltico correspondente ao nosso vocá-
bulo “brasil”, que designava inicialmente a cor avermelhada do carbono em combustão.
rasco?
Roberto Calcagno fornece exaustiva documentação sobre eles: nas suas fotogra-
não brincam com minúsculos automóveis porque vêem os adultos servindo-se de carros
grandes?”
Podemos responder com Gordon F. Ekholm: “O fato de não ser a roda adotada na
América talvez estivesse associado também ao escasso uso que dela se fazia na Ásia.
Os páleo-hindus, porém, únham outro meio de transporte, O travois, que consistia em
Fig. 248. Cartos rodas mus pinturas o]
ranas Esta é 4 chamada “biga de lo
Abwu Teka”
duas varas seguras aos flancos dos animais, cujas extremidades se arrastavam na terra,
meio que foi mais tarde utilizado por peles-vemelhas “ colonos americanos” a
A roda, em suma, teria sido não apenas superflua, mas também inadaptada às zonas
que unham de ser percorridas, Não terá sido por isso que desapareceu do Saara, por
causa da aridez cada vez maior do solo? No entanto, as antiquissimas pinturas (Fig.
248) da região, atualmente tomada pelo deserto desolado, a apresentam adaptada a
velozes carros tirados por parelhas.
Surpreendentemente próxima das representações africanas é a inscrição (Fig. 249)
de uma câmara sepulcral de Kivik, na Suécia meridional, que podemos ver traduzida
em estatueta (Fig. 2 50) por volta de 1400-1200 4.C. em Trundholm, na Dinamarca.
E as representações de carros, que nos impressionam tanto numa rocha (Fig. 251) de
Los Bruites, Penalsordo (Badajoz, Espanha), quanto num pedaço de terracota (Fig.
252) proveniente de Sopron (Hungria), nos conduzem ao mesmo tempo ao Saara,
à África e à Ásia central.
Não queremos ver trilhos de “ônibus pré-históricos” nas misteriosas “rodeiras”
de Malta, de algumas antigas cidades americanas, dos arredores de Mohenjo-Daro:
devemos, todavia, observar que este último centro nos mostra, com as suas ruínas,
taracteres que nos deixam pasmados, desde as ca s de dois e três andares, providas de
ms Tyar Lisener, Aber Gott usar da, Walter Verlag. Olven, rghe
Fig. zs0. O “carro do Sol” dinamarquês de Trundholm (mais ou menos de 1400 a 1200
aC),
G
Fig. 257. Figuras rupestres calcoliticas que representam veiculos cont rodas de Los Bru
tes, Penalsordo (Badajoz)
226
E
instalações de água corrente « eficientissimos serviços higiênicos, até o sistema de cana-
lização (Fig. 253), que arrancou dos entendidos britânicos esta exclamação:
— Hoje não poderiamos fazer melhor **!
Nem poderemos — acrescentamos nós — edificar com tamanha facilidade comple-
xos monumentais semelhantes aos que caracterizavam tantas regiões do mundo antigo,
como as imensas escadarias (Fig, 254) de “Picdras Negras”, na Guatemala, os palá-
aos maias (Fig. 255) de Sayil (Campeche), que parecem refletir, às vezes no todo, às
vezes nos pormenores, as obras-primas da arte mediterrânea, de construção,
As ruinas permitem uma reconstrução (Fig. 256) mexicana de Tollan que nos deixa
assombrados pelo seu caráter, o qual parece sugerir-nos, efetivamente, sonhos extrater-
restres.
Esplêndidos edificios e paralelepipedos perfeitos justapostos, sobrepostos, surgiam
em torno de uma área vastissma. Um dos seus lados era inteiramente ocupado por
uma esplanada coberta, com dimensões que nos deixam atônitos. E sobre tudo domina-
vam os vestígios imponentes da pirâmide com degraus.
São vestígios que encontramos em toda parte ”, da que deve ter sido a igualmente
impressionante Sakkara (Fig. 297), dos templos caldeus, como de muitos outros ainda,
cuja enumeração nos parece supérflua.
Tornaremos a citar, pelas suas enigmáticas referências, somente algumas dessas
construções, à começar pelo chamado “Castelo” de Chichén Itzá (Iucatã). Uma tra-
dição antquissima conta que ele teria sido erguido sobre uma “máquina” de forma
igual, capaz de “viajar por grandes distâncias e por muitíssimo tempo”. Outra lenda
nos diz que debaixo da Pirâmide da Lua (Fig. 260), da bela e sinistra Teotihuacán,
dorme, num esquife de cristal, uma princesa loira, vinda do nosso satélite natural.
Anda em Teouhuacán se ergue, com a lunar, a pirâmide dedicada ao Sol (Fig. 261),
cujas caracteristicas não podem deixar de alimentar a idéia de estreitas relações entre
j as civilizações americanas c a egípcia. À base do monumento mexicano tem as mesmas
“medidas da pirâmide de Quéops (225 x 220 m) e a sua altura (73 m) corresponde à
| metade desta última (Fig. 262).
Por maior que tenha sido o acervo de tolices que nos legou a chamada “piramido-
so logia”, é inegável o fato de que tais construções encerram segredos que estamos muito
longe de poder compreender,
Consideremos ainda aquela que tem o nome de Quéops (Fig. 263): a “câmara do
rei” coincide com o círculo em que se inscrevem os vértices do triângulo, e a altura da
k própria pirâmide corresponde ao raio de um circulo cuja circunferência seria igual ao
perimetro da base.
* “Lobatchevski, o grande matemático russo”, recorda Tomas, “demonstrou a uni-
versaldade da geometria do espaço. Essa ciência já havia sido importada no Egito
— antigo. Mas de onde e de quem? Muitos mistérios poderiam ser esclarecidos se admi-
— tissemos que os “filhos do Sol” eram portadores de uma civilização vinda do cosmo. À
O niversalidade científica da ggeometria nos demonstra que a vida apareceu em outros
k P 8
lanetas antes de aparecer no nosso, mas seguiu à mesma evolução no terreno do conhe-
cimento”.
228
ron* wa
no Peru, o peso de certas pedras foi avaliado em mais de cem toneladas. Sem embargo
da sua massa enorme, os blocos tinham sido colocados com tamanha exatidão que mal
se podiam distinguir as Has à olho nu. Se excluirmos o Egito, tais monumentos
mente se pode enfiar entre eles uma folha de papel; pois bem, tamanha precisão “não
dev eria” ter sido ale ançada por nenhum povo antes do adv ento da tecnologia moder-
na
Um “cozimento” que amolece as pedras? Exatamente: a RAI deu notícia dele nos
dias 20 e 25 de junho de 1968, acrescentando que os componentes vegetais do prodi-
gioso solvente foram descobertos por um missionário italiano no Peru, que teria feito
experiências com inteiro êxito
Mais que uma descoberta, Isto Seria uma redescoberta: assim à define o próprio re-
233
Fig. 262. Uma comparação surpreendente: a da Pirâmide do Sol mexicana com a Pirã-
mide de Quéops egípcia (triângulo externo).
do mundo antigo: a ereção das pirâmides, de fato (quer sejam do Peru, do México ou
do Egito) constitui um quebra cabeças que, a despeito de diversas hipóteses, continua
sem solução.
Como se sabe, as massas com as quais foram edificados muitos desses monumentos
precisaram ser transportadas de lugares distantes, frequentemente atraves de regiões
impranicáveis: esquadriar blocos tão pesados e dar a uma das suas faces uma forma le-
vemente côncava ou convexa, de modo que se encaixassem com perfeição, com as
máximas garantias de solidez, representa outro grande problema. E a colocação dos
próprios blocos submeteria, mesmo agora, 4 uma dura prova os técnicos: ela exigiria,
entre outras coisas, o emprego de plataformas de cimento armado capazes de suportar
» 1
o peso de vagões ferroviários de 40 rodas!
F alou se e fala se ainda em planos inclinados, rolos feitos de troncos de arvores as
tudo Isso são suposições pouco consistentes: tais meios não tenam podido excluir 0
trabalho humano Ora, admitamos que mal mãos sejam suficientes para mover ou
acompanhar uma roc ha mu) maos pertencem 4 quinhentas pessoas, que não encontra-
Embora cépticos em relação às revelações de Vernill, nós nos sentiriamos antes pro-
pensos a pensar em maquinas de socrguimento usadas pelos egípcios « pelos antigos
americanos e desmanteladas quando se extinguiu a tendência para construções ciclópi-
cas Isto, naturalmente explic daria apenas parte do problema; d “redescoberta” do muIs-
sionário, ao contrário, nos delincaria uma solução completa « irrepreensível Mas antes
de nos entusiasmarmos em demasia, é razoável esperar saber um pouco mais sobre o
assunto
“Não se entende por que a maior parte dos egiprólogos atuais, ao contrário de mui
tos dos seus predecessores do século XIX, se recusam com tanta obstinação a fazer
remontar a história do antigo Egito ao TI e TV milênios antes da nossa era, À civili-
zação babilônica, a do curso superior do Indo (sem falar na dos maias) floresceram —
como já ficou demonstrado — exatamente há 4-5 mil anos antes de Cristo.
“E quase certo que ds tradições maias recordam acontecimentos celestes do 9º mi
lênio a.C. Por que os sacerdotes egipaios não teriam podido dispor de tradições igual-
mente antigas para nutrir o seu esc yterismo ? ( ) inglês Perry o admite e, num texto recen-
235
Fig. 264. Esta “casa” de forma lenticular da Tha de Páscoa Jembra tanto as construções
cuneiformes da Sardenha quanto à estranha construção piemontesca de Val Gravio
escreve, “que o Sol se ergueu duas vezes no ponto em que atualmente se põe, c se pôs
duas vezes no ponto em que hoje se levanta”,
“É claro: trata-se do fenômeno chamado “precessão dos equinócios”. Com efeito,
o nosso planeta percorre com o eixo inclinado a sua órbita, é o próprio eixo, dirigido,
a espaços, para diversos pontos sucessivos, volta à “posição de partida” a cada 25.827
anos.
“Se se aceitar Heródoto ao pé da letra, isso provaria que a astronomia egipeia tem
50.000 anos! Mesmo que a observação do céu feita pelos sacerdotes da civilização
do Nilo não tenha tido início num periodo tão remoto, estende-se necessariamente
por diversos milênios, pois de outro modo a precessão não teria podido ser calculada.
Os gregos a descobriram no ano 150 a.C. os babilônios, porém, já à conheciam mui-
to antes, como conheciam fenômenos astronômicos que só poderiam ter ocorrido nó
período chamado por convenção a “era dos Gêmeos”, isto é, de G500 à 4300 aC,
quando a constelação dos Gêmeos coincidia com o “ponto primaveril” do ano solar.
Fig. 265. (à esquerda): Com o seu minarete espiralado, a mesquita de Al-Mutawakkal nos traz à mente 06
ziguratos mesopotâmicos; Fig, 266. (4 direita) A Escada do Sol dos huicóis, indios da América
“Nada nos impede pensar que os cgipoios tenham chegado a tais conhecimentos
graças a uma longa observação da esfera astral, tanto mais que o zodíaco do templo
de Denderah, poucos séculos antes de Cristo, indica precisamente os Gêmeos como si-
nal da primavera. À única conclusão possivel é que a ciência astronômica egípcia re-
monta, pelo menos, à “era dos Gêmeos”. E a idéia de situar a construção da Grande
Pirâmide no 34º século antes de Cristo não tem assim mais nada de inverossímil
Quanto à datação da cultura maia, Egerton Sykesé de opinião que os seus represen-
tantes chegaram 4o continente americano (vindos da desaparecida Atlânuda?) com
enorme bagagem científica, e acrescenta: “A hipótese, geralmente aceita, segundo a
qual el ”s teriam colecionado em menos de um séc ulo todas as noções conquistadas pelo
mundo ocidental em 2.000 anos, não tem nenhum precedente histórico e fere o bom
senso PB
O raciocínio é válido para muitissimas outras pessoas: os astecas, por exemplo, sa-
biam muito bem que os corpos celestes têm forma esférica e lhes imitavam o novimento
nos seus jogos; 05 dogons africanos falam no “companheiro escuro de Strio”, só desco-
berro por meio de telescópio; antigas populações mediterrâncas conheciam algumas das
Plêiades, invisíveis a olho nu (veja a fig. 112).
Os babilônios, recorda Gore, “sabiam também da existência das quatro grandes luas
de Júpiter, Io, Europa, Ganimedes e Calixto. No entanto, até a invenção da luneta de
Galileu, a humanidade ignorava tudo a respeito desses satélites” aa
“Só existem duas hipóteses possíveis. Aquela segundo a qual os babilônios teriam
possuído telescópios parece demasiado arriscada: não obstante, no British Museum se
conserva um notável cristal de forma oval, plano-convexa, encontrado por Sir Henry
Layard no decurso das escavações do palício de Sargão, em Nínive. Sir Davis Brews-
ter sustenta que esse discóide era uma lente, ainda que à maioria dos estudiosos se mos-
tre reservada a respeito” 100
Por sua vez, Andrew Tomas, voltando às descobertas hindus e chinesas, escreve:
“Os brâmanes conservaram ciumentamente, no correr dos séculos, d tábua astronó-
mica da Surya Siddhanta. Nesse texto da India antiga, o diâmetro da Terra cra calcu-
lado em 12.617km, a distância da Terra à Lua em 407.198km, À cifra aceita pela
astronomia moderna para o diâmetro equatorial do nosso planeta é de 12.756,5km,
e a distância máxima que nos separa da Lua se estabelece, aproximadamente, em
406.731 km
“Isso nos mostra a notável precisão a que haviam chegado os astrônomos hindus; e
isso numa época em que os europeus ainda estavam longe de desfazer-se do “complexo
da Terra achatada”. A data da última redação da Surya Siddbanta gira em torno do
ano 1000 d.C.; mas, segundo alguns, já existam edições dela 3.000 anos antes da
nossa ecra. :
“Os textos Hual Tzy (mais ou menos do ano 120 4.€.) e Lun Heng, de Wan Chung
(82 d.C), nos delinciam uma cosmogonia centrípeta, segundo a qual “turbilhões” soli-
97 Richard Henmg, Les grandes dnigmes de ['Uncieri, Robere Lalfome. Paris, 1997
98. “Auanns”, julho-agosto de 1966, Londres
99 JE Guce, Astronomial Esays, Chart& Windos, Londres. 1907
tao. W. B Charpenter, The Mucroscope ámel its Revelatíoms, [8 A Churchill, Londres, 4 Hgt
237
dificam os mundos nascidos da matéria primordial. Esses escritos da antiga China pre:
cedem as idéias modernas sobre a formação das galáxias!
“Encontramo-nos, portanto, diante de uma alternauva: ou admitir à existência de
instrumentos astronômicos aperfeiçoados numa remota Antiguidade, ou presumir que
os sábios babilônios, egipaos, hindus é chineses foram os conservadores de noções
científicas de uma longinqua pré-história”.
Fig. 267. A idéia das pirâmides de degraus e das “esculturas espaciais” de todo o mundo
parece resumida nestes monumentos etruscos de Chiuai
X
GILGAMÉS
Y IVIA EM EREC 101 um ser que possuia dois terços divinos e um terço humano.
Era Gilgamés, um sujeito de mau gênio pouco recomendável, às vezes frio, às vezes
impulsivo, que conseguia quase sempre impor a própria vontade, mesmo porque parecia
O Senhor do Céu transmitiu a tarefa à deusa Aruru, a que criara o homem da argila.
Aruru, servindo-se do mesmo material, plasmou uma criatura a que deu o nome de
Enkidu. Alguns a definem “metade humana e metade animal”, outros à descrevem
simplesmente como um selvagem fortíssimo, todo músculos e pélos. Fosse como fosse,
Enkidu enfrentou Gilgamés eo dernbou. Admirou-se da coragem do adversário, mas
Observemos as curiosas imagens (Fig. 268) de Gilgamés que nos foram transmitidas
por povos montanheses instalados ao norte da Mesopotâmia: asas, cabeças de pássa-
ros, sinais solares, espirais, juntam-se num simbolismo complexo c altamente significa-
tivo.
rot Ea nome híblico da cidade semenana de Uruk, a 223 km a sudeste de Bagdá, Ali se encontram
os restos de uma torre colassal com
degráu
tor Esisens muitas versões da epopéia de Gilgameés. A mais completa for descoberta na biblioteca de Assurbanspal; remonta à mexade do
TI milênio aC. mas. em relação às tmais antigas, parece muito remanejada
239
Fig. 268. Assim as populações montanhesas estabelecidas ao norte da Mesopotâmia re
presentavam Gilgamés.
240
Fig. 269. As empunhaduras de espadas sardas de Monti sa Idda, Decimopurzu
Fig. 270. Machados em forma de pássaros da primeira idade anatólica do bronze, encon
trados perto de Mahmutlar,
Daquele país nos vêm também os cutelos rituais (Figs. 273 e 274) com as mesmas
asas, os mesmos sinais solares, as mesmas espirais mediterrâneas. Observem-se bem as
fotografias e os desenhos reproduzidos, e não escapará o estranho fio que os liga,
embora distantes no tempo e no espaço.
241
Fig. 273. Um cutelo incaico de bronze descoberto em Cuzco, no Peru
Trata-se de outro ser procedente do espaço? À aventura dos dois heróis poderia
induzir-nos a crêlo. Estes se encontram, de fato, diante de uma “floresta” fechada por
uma porta. Conseguem transpor a soleira mas, como que por encanto, a porta torna à.
fechar-se, esmagando uma das mãos do Enkidu.
A idéia de um maquinismo automático, não parece distante. E as técnicas do gênero,
são perfeitamente conhecidas: portas que se abrem « fecham sem ser tocadas, portas
metálicas que se abaixam, simulacros de deuses que se levantam como que por magia,
abundam na antiga literatura mediterrânea, e Theodor Gaster, na sua obra As Mais
Antigas Histórias do Mundo, nos conta que narrativas desse gêncro andam espalha
no Harz, em Assia, na Islândia.
Vencido Humbaba com a ajuda do deus do Sol, Gilgamés tem um encontro que, à
primeira vista, poderia parecer agradável: o encontro com a belissima deusa Ushiar,
que lhe promete, em troca de algumas ternuras, uma "carruagem de ouro” que o levaria
“a morada das divindades”, O nosso herói, porém, deve conhecer bem a tentadora,
tanto que a acusa de nunca ter sido sincera, de nunca haver demonstrado um mínimo
de lealdade para com os seus admiradores.
— Amaste um leão, — diz-lhe, — e por sete vezes lhe cavaste à fossa. Amaste um,
garanhão, e o subjugaste com o chigote e as esporas.
Acreditamos que a perversão sexual conhecida como “zoofilia” não tenha relação
alguma com estes episódios. Talvez fosse mais aceitável a versão que lhe daria à ficção
científica: chegada por sua vez do cosmo, Ishtar procura a ajuda de outros “náufragos.
espaciais”, para abandoná-los depois de haver desfrutado a capacidade deles.
A terrível vamp estelar, por certo, não sofre passivamente a afronta: solta contra
Gilgamés “um terrível touro descido do céu”, que é, porém, morto por Enkidu.
Estamos em pleno conflito interplanetário. Os “deuses” amigos de Ishtar não tar-
dam a vingar-se da recusa de Gilgamés a uma aliança que lhe tornaria possível o re-
gresso, se não ao seu globo, pelo menos a mundos mais avançados do que aquele em
que se encontra. Não o podendo ferir diretamente, atram-se contra O terrestre, muito
mais vulnerável. Segundo reza a lenda, Enkidu tem um sonho,
“Parecia, — escreve Gaster — “que um grande clamor se erguia no céu e na Terra,
e uma estranha, horrível criatura com cara de leão e asas e garras de águia descia não
se sabe de onde e o raptava. De repente, também dos seus braços começaram a nascer
penas, e ele assumia 0 mesmo aspecto da criatura que 0 seguestrara”,
Encontramo-nos, porventura, diante de um rapto cósmico? Não é fácil decifrar q
trecho, deformado, além de tudo, nas diversas versões. De qualquer maneira, Enkidu
vai embora, e Gilgamés, depois de haver chorado o amigo, pensa na própria existên-
244
Fig. 273. O monstro Humbaba, vencido por Gilgamés, numa terracota de Abu Habbah
(séculos VILVT a.C.)
cia, dingindo-se para uma ilha “situada nos extremos confins da Terra”, onde vive
“o único mortal que fugiu da morte”, o velhíssimo Utnapishtim. Vê-se diante de mon-
tanhas cujo desfiladeiro, defendido por criaturas monstruosas, vai dar em um túnel
intransitável, O herói dinge-se então a uma estalajadeira e fica sabendo que, para che-
gar aonde está Utnapishtim, precisa atravessar um oceano, “o oceano da morte, que o
homem jamais sulcou”.
O protagonista da nossa epopéia não se assusta, chega à sua meta, encontra “o gran-
de velho”, o qual, numa versão muito próxima da bíblia, lhe conta a história do dilúvio.
E é um dilúvio realmente universal, ao contrário do que afirmavam até há pouco tempo
alguns estudiosos inclinados a ver nos trechos conhecidos do Antigo Testamento uma
inundação local, relativamente modesta !*, “Teria sido muito melhor que uma grande
carestia houvesse atingido o mundo em vez dessa catástrofe”, comenta Utnapishtim,
o “Noé sumeriano
Fig. 277: 0
“Mekara” indiano,
monstro marinho
com a espiral €
o simbolo solar
Trata-se quiçá de
uma — representação
diluvial
Gig. 278. Um
belíssimo sirênida
etrusco: notável é q
sua cauda em espiral
com a “árvore da
vida”, à sua frente
E, em algumas versões, vemo-lo sobreviver, adaptando-se as novas condições deter-
inteira e continua conservação: agora me ensina o que deverei fazer quando chegar o
tempo. Daqui à pouco, à bendito, rudo o que de estável e nobre pertence à natureza
terrestre sofrerá uma transformação geral, uma dissolução completa, ó benditissimo” ”
E a predição do dilúvio, a constatação de que o homem não poderá escapar ao de-
sastre senão “mudando-se em peixe”, isto é, enfrentando de modo novo uma nova si-
tuação. Numerosos cientistas entendem que precisamente de tal conceito nasceram di-
versas figuras mitológicas, talvez ja expressas pelos anzóis da Nha de Páscoa (Fig
Gravadas na rocha (Fig. 280), vemos as mesmas árvores entre as inúmeras inscri-
ções do Vale das Maravilhas (Alpes Marítimos): alguns arqueólogos crêem distinguir
nelas “figuras humanas em técnica linear”, mas é muito provável que se trate precisa-
mente da famosa “planta mágica”, uma vez que a vemos reproduzida da mesma manei-
ra em diversas partes do mundo
significado original se tenha perdido. Como nas obras apreciáveis expostas no Museu
de Como (Fig. 284), onde, ao lado de uma clara « belíssima estilização, vemos os seus
ramos entrelaçar-se para compor (Fig 285) esboços de espirais e sinais solares
Aqui, as árvores e as flores se unem sempre (Fig. 286), ao passo que num queimador
de perfumes fenício (Fig. 287), em forma de templozinho, se fecha, acima da planta,
a flor de lótus
247
Pág. à esquerda,
Fig. 279. Um vaso de
prata cita descoberto
em Chertomlyk. Com a
“árvore da vida”, tem
todos os elementos
comuns da “arqueolo-
gia misteriosa”
Será esta a flor simbólica de Gilgamés? Diremos que sim: na Antiguidade a deno-
minação é dada a diversos vegetais muito diferentes entre si: 0 “lótus” egípcio, na rea-
lidade, ecra uma ninféia; o hindu, um nelúmbio, para citarmos apenas dois entre inúme-
ros exemplos. E transforma-se em “roda da lei” sob a marca (Fig. 289) dos pés de
249
—Ta E
Fig, 282. Hipogeu de Tutmés TI (Tebas)
o soberano é amamentado por uma “irvo
te sagrada
A
Fig. 284. Uma “árvore da vida” de época relativamente próxima da
nossa, com motivos
serpentiformes entrançados (Museu de Como)
Buda; em sinal solar e estelar nos achados do Museu de Como, (Fig. 289)
nos estra-
nhos fragmentos engastados na fachada do palácio municipal (Fig. 290)
de Osimo
(Ancona). Os etruscos a elaboram (Fig. 291) nos motivos mais diversos,
e ela se con-
serva até os nossos dias, no Ocidente, transformada em rosácea nas igrejas cristãs
(Fig. 292)
Voltemos a Gilgamés: o herói consegue apoderar-se da planta mágica mas, enquan-
to se banha nas águas de uma torrente, uma serpente lha surrupia.
“Frequentemente”, observa Gaster, “se tem dado ao episódio final da nossa história
uma interpretação errada. É opinião comum, de fato, que Utnapishtim tenta tornar
menos amarga a decepção de Gilgamesh, indicando-lhe a maneira de obter uma
planta
portadora da imortalidade. Na verdade, porém, isso não corresponde ao texto
original,
e tal interpretação destrói o verdadeiro significado do episódio
Fig. 285, Outros motivos
serpentiformes do Museu
de Como, enredados para
compor sinais solares
E ainda:
104. Publicada na Itália por Mondadori na coleção “ Urania” com à título Siguóri del Tempo, em (9y4
256
A Atlântida ainda vive
As suas lendas nos fornecem duas versões da catástrofe: uma nos fala de um frio
intolerável, da queda incessante de neve, de vastas extensões marinhas geladas; a ou-
tra, de furiosas inundações. É evidente que a primeira não exclw a segunda, e a ligação
entre elas pode encontrar-se onde se fala no Sol que “depois de uma noite muito longa
voltou a brilhar”, não conseguindo dissolver todos os gelos, mas trazendo uma espe-
rança de vida, ainda que depois de outras “tremendas destruições” Ms.
Lissner observa que, muito provavelmente, as lembranças dos yaghans se referem à
catástrofe realmente ocorrida há cerca de 10 mil anos, é as associa à descrição do dilú-
vio feita pelos katos californianos: “Chove. Chove todos os dias, todas as tardes, to-
das as noites. Chove. “Chove demais”, diziam os homens. Eles não tinham fogo. As
torrentes transbordaram, a água encheu os vales, à água circundou os homens. Os
homens foram dormir e caiu o céu, Não houve mais terra. Às águas cobriam a Terra
inteira. Os ursos pardos morreram, os cervos se afogaram, todos os animais se afoga-
ram”,
“Excluindo-se 05 árabes, os cafres e os negros (mas não os masais), em toda parte se
encontram tradições antiguíssimas relativas a uma imensa inundação”, recorda Hen-
nig. "Em 1891, Andree enumerou 85 lendas desse tipo. A partir de então foram
encontradas muitas outras, de modo que hoje se conhecem mais de 100. Se se puserem
de lado as que poderiam ter sido inspiradas por missionários, ainda sobram 68 autóc-
tones. À Asia nos oferece 13 relatos diferentes do dilúvio, a Europa 4, a África 652
Austrália e a Oceânia 9, o “Novo Mundo” 37: 16 na América do Norte, 7 na Amé-
rica central e 14 na América do Sul” ja,
Vamos resumir algumas dessas tradições, além das já citadas. as, em termos quase
telegráficos
Os esquimós (como os chineses) têm até agora uma lenda em que se conta que a
Terra foi “violentamente sacudida” por um “dilúvio imenso, no curso do qual mui-
tissimas pessoas se afogaram”
Lemos num cúdigo maia; “O céu aproximou-se da Terra e tudo foi destruído num
voy: Para uma complera documentação veja «Ames day Tmepai Conhecidos
106. HM Mare", osamto Geogrifico de Agostini, Novara, 1971
197 Richant Hennig, Les Grandes Enigmes
de "Univers, Robers Lafont, Paris 1957
dia. Até as montanhas sc extinguiram debaixo da água”. No antigo México celebrava
se regularmente um acontecimento do passado depois do qual “as constelações assu-
miram um novo aspecto”.
Os índios guatemaltecos conservavam a lembrança de “uma chuva negra, que caiu.
do céu no mesmo momento em que um terremoto destruía casas e cavernas”; na Ama-
zônia se narra que, depois de uma tremenda explosão, “o mundo mergulhou nas tre
vas”; e os indígenas peruanos acrescentam à mesma história que “a água atingiu a al-.
tura das montanhas”,
A tribo venezuelana dos índios brancos parias, cuja “capital” é uma aldeia com q
nome significativo de Atlan, conserva a lembrança de um “grande desastre”, que teria.
aniquilado a pátria original, "uma vasta ilha do mar do ocidente”.
Andrew Tomas cita um papiro da XII dinastia egípcia, de 3.000 anos atrás, con-
servado no Ermitage de Leningrado, em que se descreve a “Ilha da Serpente”, ligada.
ao seguinte trecho: "Deixareis a minha ilha e não tornareis a encontrá-la, pois este
lugar desaparecerá debaixo das águas”. E, referindo-se a outro testemunho dos filhos
do Nilo, acrescenta: "Uma estrela caiu do céu e as chamas consumiram todas as coisas.
Todos foram queimados « só a minha vida se salvou, Mas quando vi a montanha de
corpos empilhados, eu também quase morri de dor”,
O filósofo e escritor hebreu Filon de Alexandria (mais ou menos de 30 a.C. a so
d.C.) escreve na sua obra A Incorrigibilidade do Mundo: “Considerai quantas regiões
(não só próximas da costa, mas também internas) foram engolidas pelas águas, e con-
siderai as vastas extensões de terra que se converteram em mares c hoje são sulcados
por um sem-número de naves. Quem desconhece o famoso istmo que nos tempos ant
gos unia a Itália à Sicília? Quando os mares das duas partes, agitados por violentas
tempestades, se encontraram, a terra colocada entre eles foi submergida e arrastada
para longe (...) e em consequência disso, a Sicília, que antes fazia parte da terra firme,
ficou reduzida a ilha.
“ca ha da Atlântida, que era à maior da África e da Ásia, como diz Platão no
Têmeu, foi submergida num dia e numa noite pelo mar, depois de furiosos terremotos
c inundações...”
Voltemos a tempos subsequentes e ouçamos John Swain declarar no seu Speculum
Mundi (1664): “Penso que a América fez parte, outrora, do grande pais que Platão
chama Atlântida e que o rei daquela ilha teve relações com os habitantes da Europa e
da Africa...”
No século XVIII essa teoria é aceita pelo naturalista e escritor francês Buffon; no
século XIX, pelo geógrafo e viajante alemão Von Humboldt.
O erudito Ignatius Donnelly (1831-1901), primeiro vice-governador de Minne-
sota e depois, por oito anos, membro do Congresso estadunidense, sustenta, nos seus
livros The Antediluvium World, Ragnarok, The Age of Fire and Ice, que a civilização
maia c outras culturas americanas tinham por matriz a civilização atântida e, em
1882, compendiou a sua teoria em treze pontos:
1. Existiu outrora no Atlântico uma grande ilha chamada Atlântida pelos antigos,
resíduo de uma região bem mais vasta.
2. A descrição de Platão não é fábula, mas história.
3. A Atlântida foi o berço da civilização: lá o homem saiu da barbárie.
258
Fig. 293. No Estado norte-americano do Tennessee foi descoberta esta pedra com uma
inscrição claramente semítica
259
grego, “escavara-se um fosso que circundava toda a planície. Sobre a profundidade, a
amplidão e a extensão desse fosso, tudo o que se disser é difícil de acreditar, como o é
o fato de que uma obra feita pelas mãos do homem tenha podido ter essas dimensões.
“É, portanto, necessário, precisar que o fosso tinha 30,826m de profundidade,
148,8m de largura em todos os pontos e 1.850km de comprimento !ºº, Recebia os
cursos d'água que desciam dos montes, dava a volta da planície, regressava de um lado
e do outro para a cidade, é ia desembocar no mar. Da parte alta do fosso, canais reti-
líneos, com uma largura aproximada de 30,80 m, cavados na planície, juntavam-se ao”
mesmo fosso perto do mar. Cada um deles distava dos outros 18,5 km. Tinham sida
criados ramais para transportar à cidade, em canoas, não só a madeira proveniente das
montanhas como também os produtos da estação.
Às antigas descrições permitiram a reconstrução da pressuposta capital dos atlânti-
das (Fig. 294).
Para se ter dela uma idéia “ao vivo”, que, acima de tudo, nos induza a aceitar as
hipóteses de Donnelly, basta-nos ir a Barbury Castle, na Inglaterra, e no seu cinturão
neolítico (Fig. 295) veremos refletida a planta da lendária metrópole!
“A Atlântida realmente existiu”, declara o físico e matemático moscovita N. Ledney,
depois de vinte anos de pesquisas. “Era uma ilha imensa, que se estendia por centenas
de quilômetros, situada a oeste de Gibraltar” !'º,
“A existência da Adântida não é impossível nem inaceitável do ponto de vista geo-
lógico”, afirma o Prof. V.A. Obrucek, da Academia de Ciências da U.R.S.S, "Sonda-
gens efetuadas na parte setentrional do Oceano Atlântico poderão revelar ruínas de
edifícios e outros restos de uma civilização antiquíssima” !",
Catherine Hagemeister, também soviética, escrevia em 1955: “A Atlântida devia
ser o obstáculo que impedia a Corrente do Golfo de atingir à Europa. O seu desapa-
recimento, ocorrido há to ou 11.000 anos, explica o fim do último período glacial”,
Outra confirmação da hipótese formulada em trabalhos precedentes !2 nos vem do
Prof. N.S. Vetcinkin: “A queda de um gigantesco meteorito causou a destruição da
Atlântida. Traços de meteoritos enormes são claramente visíveis na superfície da Lua.
Os bólides produziram em nosso satélite crateras com diâmetros de 200km. Precipi-
tando-se no mar, esses espantosos projéteis devem ter provocado a submersão de vastas
planícies, colinas e montanhas” !".
Foi provavelmente em conseguência desse cataclismo que se transtornou a rotação
do globo terrestre. Citemos ainda alguns testemunhos de Andrew Tomas:
“Martinus Martini, missionário jesuíta, que operou no Extremo Oriente no século
XVII, fala, na sua História da China, em crônicas antiquíssimas que evocam um tempo
em que o céu, de repente, começou a declinar para o Norte... e o Sole a Lua mudaram
o seu curso em decorrência da revolução da Terra.
“O papiro Harris nos revela que o nosso planeta “girou sobre si mesmo” em virtude
de uma catástrofe cósmica. Referências semelhantes encontram-se também nos papiros
do Ermitage de Leningrado e nos de Ipuwer.
260
Fig. 294: Planta da capital da Atlân A
uda segundo os anngos textos. Ar pla
ie irrigada. B: canal de irrigação
C: - área urbana. D E; porto É8
F: acrópole G: canal navegável. H:
muro
261
Fig. 296. No alto, a representa-
ção de um instrumento musical
céluco conservado em Capodi-
monte (Nápoles); embaixo, uma
gravação de High Moor (York-
shire, Inglaterra). Parecem repre
sentar as duas direções opostas
do aparente movimento solar.
262
Sem resposta
única e grande onda as águas do mar se atiraram sobre a Terra (...) e o céu precipitou-
se e a terra firme afundou (...) e a Grande Mãe Seyda ficou entre as lembranças da
destruição do mundo",
vita. Veja Mu”, na enciclopédia “U Mare”, do Insúuo Geográfico de Agostini, Novara, 1971
te4 Ateadução devesse ao filólogo brasileiro OM. Bobo (1930)
Fig. z98. À esquerda, o “sinal de MU"
descoberto por Churchward; embaixo, q
alfabeto maia, segundo De Landa. Como
se vê, as letras UM” eU" Tembram muito
de perto as símbolos asiáticos
Rato ams
vos
ato
Aquela a que aludiam na descrição resumida por Brasseur era outra, c o missionário
se deu conta disso traduzindo o nome da região desaparecida por obra do “senhor da
terra soerguida”: segundo o alfabeto de De Landa, soava Mu.
E as letras maias (Fig. 298) têm o seu correspondente no simbolo que, encontrado
na Ásia por James Churchward, designa o lendário continente que afundou no Pacifi-
co!
264
Figura curiosa, a de Churchward, e nós o dizemos sem nenhuma intenção sarcástica.
O conhecido coronel britânico tem, de fato, o mérito indubitável de haver recolhido
uma quantidade de precioso material, apenas em minima parte tomado em considera-
ção (e sem entusiasmo) pela ciência oficial; esta última, porém, tem uma atenuante,
representada pelo fato de que ele, depois di o, se voltou para as doutrinas esotéricas,
dificultando profundamente, portanto, a distinção entre os elementos reais e os ele-
mentos fantásticos dos seus trabalhos.
Diga-se, porém, que as tabuletas estudadas por Churchward na Índia e no Tibete
apresentam analogias pasmosas com os “Irmãos do raio” australianos (Fig. 299), os
achados maias, as inscrições dos calendários da América pré-colombiana, os sinais gra-
vados nos monólitos de Tizec e nas “mesas de pedra” de Azcopotzalco. Servem para
sustentar, com algum vipor, a hipótese da existência de uma vasta extensão de terras
no Pacífico sujeita a vários transtornos, o último dos quais (que se verificou talvez com
o cataclismo que destruiu a Atlântida?) teria determinado o seu total desaparecimento
da face do globo.
“Quando a estrela Baal caiu onde hoje só existe o mar, as sete cidades tremeram com
as suas portas de ouro e ps seus templos, nasceu uma grande labareda e as ruas se en-
cheram de densa fumaça. Os homens tremeram de medo e uma grande multidão se
apinhou nos templos « no palácio do rei. O rei disse: “Eu não vos tinha predito tudo
isto?” E os homens e as mulheres, vestidos com as suas roupas preciosas, enfeitados
com os seus maravilhosos colares, lhe rogaram e imploraram: “Salva-nos, Ra-Mu!”
Fig. 299. A extraordinária gravação australiana que representa os “Irmãos do raio”, seres que parecem ves
udos com capacetes, macacões e calçados de astronautas
=
“Mas o rei profetizou que todos deveriam morrer com os seus escravos e os seus filhos
e que das suas cinzas nasceria uma nova raça,”
Assim, de acordo com Churchward, as tabuletas de Lhasa recordariam a catástrofe
final, determinada pela queda de um corpo celeste, identificado por alguns como um
asteróide. Pura fantasia? Diremos que não, considerando os enigmáticos documentos
arqueológicos que constelam a Ásia e as ilhas do Pacífico !!6,
Sustenta o coronel que pôde estabelecer, através das suas pesquisas, que o império
de Mu surgiu há mais de 150.000 anos e atingiu o seu máximo esplendor há uns
75.000 anos, mais ou menos, quando das suas sete cidades principais partiram os colo-
nizadores, armados, na direção da Atlântida, ou rumo ao interior da Ásia. Aqui teriam
lançado as bases do que seria, mais tarde (no ano 20,000 a.C., aproximadamente,
de acordo com Churchward), o grande império de Uighur.
Talvez se trate apenas de uma coincidência estranha, mas devemos notar que outro
império Uighur surgiu no século X d.C€., evocando tradições remotissimas. Estabeleci-
dos primeiros na Mongólia, depois no Turquestão chinês, os seus criadores — precisa-
mente os uiguros — deram origem a uma cultura que desapareceu com a conquista
mongol do século XII.
Quanto à suposta expansão de Mu na direção do continente americano, podemos
ver-lhe os últimos traços nas crônicas dos navegadores que, sulcando o Pacífico, topa-
ram com estranhas ilhas, nunca mais encontradas depois disso. O espanhol Juan Fer-
nández (desobridor das ilhas a oeste do Chile a que deu o seu nome, e das Desventura-
das, de S. Félix e S. Ambrósio) afirmou, por exemplo, haver chegado em 1576, às
costas de um “continente” situado nas proximidades de Páscoa, atravessado por “rios
larguíssimos”, ficando encantado ao contacto com “gente tão branca e tão bem ves-
tida”.
Invenções, alucinações, enganos?
Não, nessas relações há sempre alguma verdade, mesmo que a pessoa que as redigiu
fosse induzida, por motivos óbvios, a pintar com tonalidades róseas, os lugares e 05
homens mais próximos, segundo as características, que lhe eram conhecidas, encontra-
das depois de viagens intermináveis.
Pode ser que faixas de terra submersas tenham existido até uma época relativamente
recente, para depois desaparecerem também debaixo das águas.
- Voltando à grande Mu e seguindo ainda o oficial britânico, vemo-la caracterizada
por extensíssimas pradarias e florestas, com um clima subtropical, devastada por mas-
todontes, habitada por 64.000.000 de indivíduos pertencentes a dez raças diversas:
os herdeiros da mais evoluída seremos nós, e os nossos antepassados do continente
perdido nos teriam legado uma tez vagamente brônzea, bastos cabelos negros e olhos
azuis.
Até que ponto é crível a história? Não podemos dizê-lo. Impressionou-nos, contudo,
a notícia segundo a qual o Dr. F. Bruce Russell, psicanalista de Los Angeles, teria en-
contrado perto de St. George, no Utah, múmias que ele afirma procedentes de Mu.
> Gilgamés, se ainda vivesse, poderia dizer-nos mais alguma coisa.
Mas talvez não tivesse olhos nem boca para uma humanidade que se recusaria à
crê-lo (Fig. 300).
116 Antes dos Tempos Conbecidos
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