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Astronaves Na Pre Historia Peter Kolosimopdf Mais de 13 MB 1

O documento discute evidências de que astronaves visitaram a Terra na pré-história. Menciona exemplos de artefatos antigos que parecem ter características de naves espaciais e discute como civilizações antigas como os Maias podem ter tido contato com seres de outros planetas. O autor argumenta que a geometria e símbolos encontrados em antigas construções não podem ser explicados apenas por meios terrestres.

Enviado por

Celso Vieira
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Astronaves Na Pre Historia Peter Kolosimopdf Mais de 13 MB 1

O documento discute evidências de que astronaves visitaram a Terra na pré-história. Menciona exemplos de artefatos antigos que parecem ter características de naves espaciais e discute como civilizações antigas como os Maias podem ter tido contato com seres de outros planetas. O autor argumenta que a geometria e símbolos encontrados em antigas construções não podem ser explicados apenas por meios terrestres.

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Peter Kolosimo

ASTRONAVES
NA PRÉ-HISTÓRIA
PETER KOLOSIMO

ASTRONAVES
NA PRÉ-HISTÓRIA
Tradução de
OCTÁVIO MENDES CAJADO

ê
EDIÇÕES MELHORAMENTOS
Título do original em lingua italiana:
ASTRONAVI SULLA PREISTORIA
& by Sugar Editore. Milão, Itália

Todos os direitos reservados


Comp. Melhoramentos de São Paulo, Indústrias de Papel
Caixa Postal 8120, São Paulo

Nx
1- 1976

Do mesmo Autor, nas Edições Melhoramentos

NÃO É TERRESTRE
O PLANETA DESCONHECIDO

Colaboração fotográfica de
MÁRIO SALOMONE
Desenhos de
GIORGIO FERRERQ

Nos pedidos telegráficos basta citar o cód. 7-02-05-054

ANP DO PINHEIRO AO LIVIO UMA REALIZAÇÃO MELHORAMENTOS


Águia sideral, vinha de treva...
Serpente mineral, rosa de pedra.
Nave sepulta, nascente de pedra.
Cavalo da Lua, luzde pedra.
Esquadra equinocial, vapor de pedra.
Geometria final, livro de pedra.
Do Canto Geral de PaBLO NERUDA
ÍNDICE

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VII — OS RAIOS E À ATÔMICA ....... soda age marina 193
Um paraiso inquietante ...ciccisssieesoo 196
Em toda parte está o fogo 209

Esquelbos ad OanVOS Jecsas mine cos iassssãs quiri e dA VT 215

IX — CONSTRUTORES DE ETERNIDADE .........iciisisssesio 217


As lampadas Perédes: se. ie comes asi cosa rsA Siad DECT rr Re pa tdeme 217
Cndade de putro mundo css meennuc un aa RARE asia dd pipi 223
DORELABE MT ÊNIO! cuari creo ss batido Lai Penn UU O ca sro a Ride tata 235

LL GAMES à: msecaça bs tva S RISEIISIDE TE PERUCA VSEE SS ESA 239


Senhores do tempo .......ciciieoo 244
A Atlântida ainda vive 257
Sem resposta 263
I
A DESCIDA DOS DEUSES

Maio SaLoMoNE é homem muito curioso. Tão curioso que escolheu um hobby
que não tem nada de repousante: o das viagens no tempo. Sai do escritório ou de casa
e desaparece. Reaparece uma hora depois ou (se considerarmos à coisa de outro ponto
de vista) a muitos séculos de distância, em pleno período dos bárbaros, procura o que
lhe interessa e depois se transfere para a época romana. Ou para a pré-história.
Aonde foi ele agora? À Idade do Bronze?
Talvez. Alguns pedaços de terracota, descobertos aqui e ali, parecem querer-nos
indicar essa data, ainda que indistinta, no misterioso calendário do nosso passado. Mas
nada do que o cerca trai a época em que ele se encontra. À paisagem pré-alpina é fe-
chada pelos relevos duros, pela áspera vegetação de sempre, por um silêncio em que
apenas crepitam os ramos partidos, as folhas esmagadas.
O cone inquietante do Musiné, o monte sinistro, ameaça O panorama, quase como
se evocasse dimensões ignotas, a 13 km do local onde deverá surgir Turim, sobre o
qual não cresce nada de belo, nada medra, tudo é repelido por uma natureza inexpli-
cavelmente hostil.
O nosso amigo olha à sua volta, procura algum ponto de referência.
E, de repente, vê um “disco voador”.
Está ali, diante dele, não suspenso no ar, mas esculpido numa rocha.
Esculpido na pré-história. O que é sensacional — e sobretudo palpável — como os
discos avistados e sobre os quais continuam a chegar-nos notícias de todas as partes do
globo.

Ficção científica de pedra


Mário Salomone é um “viajante do tempo”, como já dissemos, mas solidamente
ancorado em nossos dias. As suas excursões através dos séculos « dos milênios cons-
tituem, na realidade, uma obra de pesquisa apaixonada, realizada ao longo dos enig-
máticos caminhos do passado, traçados nas vizinhanças de Turim (particularmente no
Vale de Susa) por civilizações conhecidas e desconhecidas.
Membro do grupo arqueológico “Ad Quintum”!, Salomone procura — evidente-
mente — não se deixar arrastar pela fantasia. Não fala em “disco voador”, senão na
"Rocha do Sol”, isto é, num sinal solar, mas não pode deixar de sublinhar alguns
pormenores, que deixariam perplexo qualquer um.

to Voltatemos amplamente. num próximo trabalho, à imponente auvidade desta associação, que inclu entre os seus fundadores v Dr Mário
Zambelh (autor de descobertas importantíssima) e o Prof. Dario Fogliato, um dos maiores estudiosos das provincias romanas
« O chamado “bloco
de S, Antônio de Susa,
no Piemonte. Pode ser com-
parado às gravações franco-
ibéricas: cireulozinhos grava-
dos e os raios, de faro, nã
correspondem a nenhuma re-
presentação solar conhecida.

“A uns soo metros, num bosque do lado oeste do 'Cume” de Santo Antônio de
Susa”, lemos no seu relatório, “sobre uma rocha de 2,60m de comprimento, que se
destaca do solo cerca de 1,20m, nota-se uma gravação em forma de elipse, cujos tra-
ços têm 1 cm de profundidade e dois de largura (fig. 1).
“Interessante é o fato de que a linha elíptica é encimada por outras, dispostas em
forma de raios: a princípio se apresentam curvas, depois retas c mais curtas; finalmente
duas incisões nítidas a atravessam na parte terminal, dando a idéia de uma cauda.
“Na parte interna da elipse, ro cm mais embaixo, nota-se uma série de copelas lisas,
quase circulares, que seguem a curvatura, colocadas a $ cm uma da outra.
"A gravação está voltada para leste, na direção do Monte Musiné...”
“Voltada para leste”: de fato, poderia tratar-se da representação do astro nascente.
Não nos esqueçamos, porém, que não conhecemos nenhum sinal solar com um círculo
de raios nessas condições, incompleto, falho na parteanterior da elipse, com os traços
obliquos paralelos, fugindo para a direita e dando, assim, uma impressão de movimen-
to. Nem, muito menos, se encontra em alguma parte do mundo uma disposição simé-
trica de tantas copelas que evoca, sem muito esforço da fantasia, uma série de óculos.
Além disso, as copelas não teriam sentido numa representação solar!
Estaremos, acaso, diante da reprodução pré-histórica de uma astronave?
Talvez ainda fosse possível sorrir de um pensamento desse gênero se à gravação de
Santo Antônio de Susa não se juntassem outras, às vezes menos precisas, mas que cons-
tituem sem dúvida uma documentação surpreendente sobre o assunto.
À esse respeito se refere o pesquisador André Michel, catalogando 17 grutas situa-
das na região que ele denomina franco-cantábrica e que se estende desde a zona atra-
vessada pelo Rio Vézere (Limousin, França) até a província espanhola de Santander,
onde se encontram, entre outras, as famosas pinturas murais de Altamira.

10
São pinturas que remontam a uma asvilização desconhecida, que floresceu, aproxi-
madamente, entre os anos 30000 e 10000 a.C.2, « que em sua quase totalidade repre-
sentam animais. Quem se incumbiu de classificá-las contou, em 72 grutas, 610 cavalos,
sto bisontes, 20$ mamutes, 176 cabritos-monteses, além de 500 outros quadrúpedes.
É caro que os representantes dessa cultura enigmática (ou melhor, artistas natos, se
considerarmos à natureza, a perfeição, a beleza das suas obras) atribuíam à caça enorme
importância. Outra coisa, porém, devia impressioná-los tanto que os induzia a incluir-
lhe as imagens entre as que reproduziam os motivos básicos da sua existência.
E são imagens consideradas incompreensíveis pelos estudiosos da pré-história; assim
as julgamos também até ontem, isto é, até que se começou a falar em “discos voadores”
ea reproduzir-lhes as formas.
Suponhamos que vivêssemos numa ilha solitária, sem conhecer o resto do mundo,
mas que pudéssemos redigir um diário: é óbvio que as suas páginas seriam ocupadas
pela descrição dos nossos problemas mais prementes (que diriam respeito, sem dúvida,
à nossa alimentação). Se vissemos uma embarcação passar no horizonte, provavelmente
lhe dedicaríamos algumas palavras, mas não muitas, Entretanto, se a coisa se repetisse,
se algum navio aproasse diretamente às nossas praias, descreveriamos de modo ade-
quado o acontecimento, que viria incidir brusca e profundamente na história dos nossos
dias,
Não poderia ter acontecido alguma coisa parecida aos habitantes das cavernas fran-
cesas e espanholas?
Esses artistas do Paleolítico, observa Michel, “reproduziram muito fielmente tudo o
que quiseram reproduzir. À sua fidedignidade é absoluta”. E continua, referindo-se
sinais que parecem representar vários upos do que hoje denominamos UFOs
(Unidentified Flying Objecis5 “objetos voadores não identificados”): "Se estas obras
não representam nada, é o caso de perguntarmos como fo; que artistas tão ligados ao
realismo em todos os outros campos expressaram as suas fantasias imaginando de modo
preciso, com surpreendente exatidão, formas cuja existência seria demonstrada 15 ou
20 mil anos mais tarde pelo Relatório Condon””
O estudioso francês nos oferece, catalogadas, as reproduções dos desenhos executa-
dos pelo Professor André Leroi-Gourhan (Fig. 2), a maior autoridade viva em matéria
de arte pré-histórica ocidental.
Examinemos essas representações. À nosso ver, algumas são tão vagas que não nos
permitem incluí-las entre as reproduções de objetos voadores não identificados. Ou-
tras, contudo, são impressionantes, como é impressionante o fato de que inúmeros sinais
idênticos, ou muito parecidos, tenham sido descobertos em cavernas separadas por dis-
tâncias consideráveis.
Observemos, por exemplo, os desenhos dos grupos G, O, P: veremos, perfeitamente
estilizadas, as formas mais recorrentes dos veículos espaciais de pressuposta origem ex-
traterrestre, tais como nos foram apresentados pelas fotografias e reconstituições feitas
em nossos dias.
Em algumas representações a idéia do movimento é expressa com uma técnica que
diremos "de histórias em quadrinhos”. Histórias em quadrinhos pré-históricas? Exami-

a “Palacolidhne UFO Shapes” “Fly Saucers Revue”, vol 160m 2. maio-qunho. 1970
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Fig. 2. Sinais encontrados em 17 grutas da região francCO-E
às pesquisas de Leroi-Courban.

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Asletras referem-se à classificação efetuada por Michel segundo os vários tipos de objetos reproduzi-
dos, os números dos lugares em que foram achados, catalogados às págs. 14 e 15. Entre parênteses,
a época aproximada a que remontam as representações
Pair-non-Pair, perto de Marcamps, departamento da Gironda, França (30000 à 20000 a.
Formas concêntricas (A-1)

Villars, departamento da Dordonha, França (cerca de 1 q000 a.C.) Símbolo com protuberância late
ral, talvez aproximável dos correspondentes ds letras C e D (B-2).

Pech Merle, perto de le Cabrerets, departamento de Lot, França (cerca de 17000 a.C.) Sémbol
protuberdncia superior, cabeça humanóide (C-3, ]-3).

Cougnac, perto de Payrignac, departamento de Lot, França (11000 a.C, mais ou menos) Cabeça:
de humanóides (repetidas seis vezes) e símbolos com protuberâncias superiores, coma em Pech Merle; além
disso, sinal com duas protuberâncias simétricas (C-4, D-4).

Las Chimencas, perto de Puente Viesgo, província de Santander, Espanha (cerca de 20000 a.C.)
Forma elíptica com seis copelas alinhadas verticalmente à esquerda (E-s).

Altamira, perto de Santillana, provincia de Santander, Espanha (12000 a 10000 a.C.) “Pratinhos”
que evocam as formas dos UFOs hoje mais recorrentes, um dos quair com uma figurinha ao lado (F-6,
[E
Les Combarclles, perto de Les Eyzies, departamento da Dordonha, França (12000-10500 a.C.)
Simais elípticos atravessados por linhas, algumas das quais parecem lembrar antenas; cabeça de humanóide
que lembra J-3 (Pech Merle) (E-7, H-7, 1-7, J-7).

Font de Gaume, perto de Les Eyzies, departamento da Dordonha, França (cerca de 12000 a.C.)
Símbolos "tetiformes"" (F-B)

Rouffignac, perto de Fleurac, departamento da Dordonha, França (12000-10700 a.C.) Símbolos


“retiformes"", faces bumanóides que lembram J-3 e J-7 (Pecb Merle e Les Combarelles), perfil bumano
de traços singulares, que evocam desenhos humorísticos (F-g, K-g, S-9).

Les Trois Frêres, perto de Montesquieu, Avantês-Aricge, França (12000-10090 a.C.) Símbolos
“tetiformes"”, um dos quais parece acompanhado de uma escadinha. “Formas UFO” (F-10, G-ro,
L-10).

Naux, departamento de Ariêge, França (cerca de 12000 4/C.) “Formas UFO”, algumas das quais
sugerem à údéia de movimento (F-1 , G-11,0-11, Qi 1)

La Cullalvera, perto de Ramales, província de Santander, Espanha (12000-to 700 a.C.) "Formas
UFO" (G-12).

La Pasicga, perto de Puente Viesgo, província de Santander, Espanha (13000-10500 a.C.)


“Formas UFO" (H-13).

14. Ussar, departamento de Ariége, França (cerca de 10500 aC). Simais discoidais, construção que
lembra a Aimé Michel o "módulo lunar” norte-americano. Uma reprodução é acompanhada, no centro,
embaixo,por uma figura humana (H-14, M-14, N-14).

El Castillo, perto de Puente Viesgo, província de Santander, Espanha (12000-10000 a.C.) Quadri-
láteros com sinais internos (Rex 5).

Lascaux, perto de Montignac, departamento da Dordonha, França (1 000-12000 a.C.) Quadri-


Láteros com sinais internos (R-16).

La Gabillou, perto de S depart da Dordonha, França (1 9000-12000 4.€.) Quadri-


Láteros com sinais internos (R-17).
memos as reproduções O-11 e Q-11, e nos sentiremos convencidos. À G-rr, então,
com aquela série de pontos na base, parece quase querer representar a luminescência
própria dos UFOs!
“O tipo de sinais G-6 (que reaparece na leira P) encontra-se, na maior parte dos
casos, nos tetos das cavernas, em todas as posições possíveis, às vezes em grupos de
dois, três, quatro”, escreve Michel. "Sintomático é o fato de que a parte dos tetos re-
servada à tais objetos é inteiramente dedicada a eles, ao passo que o espaço adjacente
está cheio de animais amontoados, às vezes até sobrepostos. Daí a impressão de que os
artistas tenham pretendido sublinhar a importância das formas desconhecidas e desta-
car-lhes o caráter, inteiramente diverso do ambiente em que viviam os habitantes da
Ee

Voltemos à P-6: ao lado do “disco” notamos uma estranhíssima figura humanóide,


á cujos apêndices laterais, semelhantes à quatro braços, são claramente de ficção cienti-
fica. Mais próximo do nosso gênero é o pequeno perfil encimado por uma curiosíssima
estrutura (N-14).
VÊ desconcertante o fato de que os homens primitivos do período magdaleano, ves-
idos de peles de animais e armados com machados de pedra, tenham podido conceber
objetos que tanto se assemelham a máquinas apoiadas em quatro pernas, munidas de
“antenas é escadas”, comenta o investigador. “E para aumentar o nosso estupor, eis à
humana, que nos dá uma idéia das dimensões do aparelho sobranceiro: são as
“dimensões do LEM, o 'módulo lunar" norte-americano!”
— Vamos procurar os “extraterrestres”? Eis o primeiro no imenso labirinto de Pech
el (]-3). Assim o descreve Aimé Michel: “Tem um crânio enorme, o queixo pon-
, carece de orelhas, e os olhos são representados por linhas oblíquas, alongadas em
P. Sobre este enigmático personagem paira um estranho objeto (c-3) em que o
ioso francês julga poder identificar uma máquina voadora: é o mesmo objeto que
repetido seis vezes na caverna de Cougnac (c-4), distante uns 40 km em linha
anterior.
estranhos senhores nos contemplam das paredes da gruta de Les Combarel-
panhados de gravações que ainda evocam os UFOs (F-7, H-7, 1-7), o ultimo
is parece provido de antenas, diz Michel.

ras? Ou nos encontramos diante de raças desconhecidas, ou ainda — seguin-


tada da ficção cientifica, que nos sugerem as supostas representações de objetos
es — de seres que ostentam capacetes espaciais?
ntenhamos, todavia, a imaginação, mas consideremos também que as criaturas
5 são representadas, nas gravações c pinturas murais da mesma zona, de ma-
mente diversa. À título de curiosidade, citemos o “homem de Rouffignac”
parece tirado de uma moderna vinheta humorisuca, mas que tem a respeitá-
«de, pelo menos, 13.000 anos!
Sarcófagos cósmicos
Um rasto de fogo sulcou a noite, como gigantesca estrela cadente, qualquer coisa
caiu sobre a tundra, num furacão de chamas. À terra tremeu, a vegetação ardeu em tor-
no, até a manhã. Depois, quando o pálido sol se ergueu no céu, uma figura irreal
atravessou a cortina de fumaça que ainda pairava sobre o local do incêndio, e enca-
minhou-se ao encontro dos homens que, aterrados, se haviam colocado a prudente
distância.
O chefe do clã levantou-se e, com incrivel coragem, brandindo a lança com que se
defendia dos ursos, investiu contra o estrangeiro. Por que precisamente a lança dos
ursos? Porque o hóspede não desejado tinha “uma pele estranha”, um rosto ferino, em
que se destacavam dois grandes olhos redondos, um andar que lembrava o dos planti-
grados. O temerário guerreiro arremessou à arma, que atingiu O outro, mas ricocheteou
na sua “pele” e não o molestou. Em resposta,o “ser vindo das trevas” levantou uma
pata (ou um braço?), e o agressor caiu por terra, duro, na posição assumida quando se
lançara ao ataque.
O feiticeiro da comunidade, certamente mais prudente que o impulsivo chefe, pro-
curou aplacar a ira da pavorosa criatura, oferecendo-lhe a mais formosa rapariga do cla.
Sobre as reações do “monstro saído do fogo” os pareceres são discordantes (a len-
da, com numerosas variantes, corre difundida por toda a Sibéria norte-oriental): há os
que o querem de costumes não muito severos e, portanto, propenso a aceitar o presente

sem muitas histórias, e há, ao contrário, os que o descrevem como portador de rigidos
princípios morais, incapaz de ceder a aliciamentos desse gênero.
Da última versão talvez tenha nascido a curiosa forma de superstição que vê no urso
um personagem venerável, temido e odiado ao mesmo tempo. Seja, porém, como for
que se apresente a história, notemos que ela contém elementos inconciliáveis com o
nível cultural primitivo dos paleossiberianos, Procurando interpretá-la, sentimo-nos
tentados a ver na “estranha pele” uma roupa (talvez um escafandro?), no “rosto de
olhos redondos”, que nos remete ao humanóide da gruta francesa de Les Combarelles,
uma máscara (ou um capacere?), no andar pesado, as atitudes de um ser embaraçado
pela indumentária, no gesto paralisante, a ação de uma arma.
Curioso, todavia, é o fato de que ainda hoje os iucaguiros siberianos (que em tempos
remotos habitaram um vastíssimo território compreendido entre os rios Lena e Coli-
ma, o Mar Glacial Ártico « a cadeia de montanhas de Verkhoiansk, e agora estão
reduzidos a leste do trato inferior do Indiguirsca, em vias de extinção) praticam à
“prostituição da hospitalidade”, oferecendo aos visitantes, em sinal de amizade, as
suas mulheres.
É talvez entre os iucaguiros que poderemos encontrar ainda a chave fantástica de
um enigma que nos foi formulado a milhares e milhares de quilômetros de distância,
nas grutas franco-cantábricas.
Falando nas representações propriamente ditas, aludimos às gravações "tetiformes”,
que têm, às vezes, um sinal superior oval, mas formam, com maior frequência, um
ângulo obtuso, Voltemos às tabelas de Aimé Michel, a F-g ea Q-r1: não representam
pontas de flechas, como alguns julgaram poder afirmar, e isso se torna mais do que

16
evidente no segundo desenho, que parece mostrar um objeto em vias de afastar-se pre-
cisamente daquele “tetiforme”.
Que poderia ser, portanto, este último? Outro objeto voador, um encastelamento
ou uma espécie de hangar?
xaminemos a reprodução de uma “carta de amor” que as jovens iucaguiras traçam
na casca das árvores (Fig. 3), seguindo uma tradição nascida em tempos imemoriais.
A lança esguia à esquerda representaria o homem, a lança mais larga, à direita, a mu-
lher. Os contornos figurariam a casa, as traves superiores transversais, a dor e a sau-
dade. O significado poderia exprimir-se com estas palavras: “Tu te vais, eu fico. Por
tichoro e me entristeço”*
Há quem pense, porém, que o sentido dos desenhos tenha sido, no princípio, bem
diverso, embora se reduzisse sempre a uma expressão de triste despedida: mas despe-
dida dos deuses, que deixam a casa terrestre para dirigir-se ao céu, do qual desceram.
Para muitissimos povos, de fato, a lança colocada verticalmente significa a subida
parao infinito, E há mais ainda: o meio de muitos grupos tungúsios (população de ra-
sa mongólica que, ocupando uma zona imensa entre o Rio Ienissei e o Pacífico, absor-
veu também, há muito tempo, os iucaguiros) encontramos o que poderia ser um ele-
mento de transição entre os desenhos pré-históricos franceses e a “mensagem” ilustra-
da acima: um triângulo isósceles com a base incompleta, em que está gravada verti-
calmente uma flecha. Mas aqui não se trata de uma carta de amor, e sim de um simbo-
lo mágico que indica as relações entre o céu e a Terra. O sinal "retiforme”, com efeito,
representa a típica habitação dos tungúsios, constituída pela tenda cônica ou pela ca-
bana hemisférica.
— Ea arma apontada para cima? Uma astronave, diriam os adeptos da hipótese se-
gundo a qual o nosso planeta teria sido visitado, mais de uma vez, num passado re-
moto, pelos representantes de avançadas civilizações estelares.
Já vimos que outra população siberiana, localizada em alguns vales ocupados ante-
mormente pelos tungúsios, a dos iacutos, coloca o ataúde dos seus mortos sobre galhos
de árvores, enquanto os aircunstantes entoam uma nênia fúnebre, que diz: “Dorme...
dorme enquanto os espíritos não descerem das estrelas nos seus carros resplendentes”*
Juntemos que o estranho costume, com algumas variantes, é próprio de todas as
primitivas da imensa região asiática: os iucaguiros erguem sobre paus os sar-
cófagos, (Fig. 4), ao passo que os tungúsios os depõem, obliquos, sobre encastelimen-
ERR qe, por mais que se queira ser realista, dirigem de maneira bem precisa a imagina-
ção, deixando transparecer o conceito de “alguma coisa” pronta para disparar na di-
reção
do céu, na direção da morada dos deuses. (Fip. 5).
Um míssil?
É uma idéia que, de boa ou de má vontade, não podemos deixar de tomar em con-
eração, uma idéia talvez expressa póf obras de vários gêneros, cujo sentido primi-
se perdeu ou deformou, embora conservasse, de forma frequentemente obscura, o
onginal. Este é o caso dos obeliscos, dos campanários, dos minaretes.
— Háainda os que, referindo-se a tais construções, sustentam tratar-se de uma incons-

Cyar Lioer, Aber Got nor da, Walver Verlag, Oem, 1960
fem E Terreiro, do mesmos auto, Sugar Esiusre, Milão, Estr liveo for eradizado para 1 porcuguês por Anacleto Valtorta. pará às Edisões
Bia deu de" Nãar é Terrestre”
Fig. 3. (ao alto) A “carta de amor juca
guira”, há quem suponha tratar-se da lem
brança de uma despedida de antigos vis
tantes espaciais

Fig. 4. (à direita) O ataúde de um menino


iucaguiro, erguido sobre estacas

ciente imitação de simbolos fálicos antigos, mas essa opinião é absolutamente inacei-
tável, e julgamos havê-lo já demonstrado ao falar das estelas maias!
De resto, para demolir essa hipótese, talvez bastasse um olhar dirigido ao obelisco de
Tutmés em Carnaque, um monólito de granito vermelho extraído das escavações de
Assuã, no Egito, que mede cerca de 23 m de altura (Fig. 6).
Que dizer, pois, de outra construção muito mais próxima de nós no tempo? Mos-
tramos a sua fotografia (fig. 7) a diversos amigos, perguntando-lhes à queima-roupa o
que representava,
“Um míssil”, responderam todos, sem hesitação. Trata-se, porém, do minarete da
“Nova mesquita” de Istambul, que, não obstante, dá realmente a idéia de uma astro-
nave na rampa de lançamento!

Os templos e as estrelas
Templos, astronaves: existe deveras um nexo entre esses conceitos aparentemente
tão discordantes? Viatcheslav Saitsev, o conhecido filólogo da Academia de Ciências
y Terra sets Tempo, do mesmo autor, Sugar Editore, Milão. Este livro fo traduzido para n português por Anacleto Valtorta, para as Edições
Melhoramentos, sob » título de “Antes dos Tempos Conhecidos

18
Fig 3. Outra sepultura estranha: este sarcófago tuagu
sig de madeira parece disposto de modo capaz de favo
tecera subida do defunto para o céu.

Fig. 6. O famoso obelisco


de Tutmés em Carnaque

bielo-russa, que mais de uma vez pôs em polvorosa o mundo científico com as suas
teorias relativas ao desembarque de “uranidas” em nosso planeta, afirma-o decisiva-
mente:

“As minhas deduções”, escreve na revista soviética Níiemen, "bascaram-se numa


idéia expressa há quarenta anos por Nicolau Rinin, amigo e aluno de Constantino
Siolkovski, o homem que delincou os princípios da construção de mísseis espaciais € de
viagens cósmicas no início do nosso século”.
Rinin pós em destaque as histórias constantes da mitologia de vários povos, que fa-
lam da visita à Terra de seres inteligentes provenientes do espaço, Em 1959, essa

19
Fig. 7. Um míssil nu-
ma rampa de lança-
mento? Não, trata-se
do minarere da “No-
va mesquita” de
Istambul

idéia assumiu a forma de uma hipótese científica séria, na obra de outro estudioso so-
viético, Modesto Agrest:
“Aos primitivos habitantes do nosso planeta, os visitantes cósmicos deveriam pare-
cer deuses dotados de poderes sobrenaturais. Presumimos que e: s deuses tenham saí-
do de uma máquina (uma astronave), o que nos induz a pensar que se construíram tem-
plos semelhantes a ela na forma; e os templos são próprios a todas as religiões e a
todos os cultos.”
Os chamados “livros apócrifos” (escritos hebraicos ou paleo-cristãos, aparentemente
inspirados, mas não reconhecidos pela Igreja como tais) dizem que Davi subiu ao céu,
onde os anjos lhe teriam mostrado a imagem de um edifício concebido como o futuro
templo de Jerusalém. Voltando ao nosso globo, o famoso rei de Isracl teria ordenado
imediatamente a edificação do mesmo templo, ocorrida no século X a.C.

20
À imagem da “igreja” teria sido, na realidade, a de uma nave espacial vista por
Davi?
E o que pergunta Saitsev e, lembrando que os antigos textos indianos são muito
mais precisos na descrição de "baixéis celestes” e armas terrificantes, cita tudo o que
o soviénco Nicolau Brunov escreveu, já em 1937, nos seus Ensaios sobre a História da
Arquitetura:
“OQ simbolismo dos templos da grande península asiática foi até agora estudado de
modo insuficiente. Os seus arquitetos são guardiões de uma saga esquecida, cujo estu-
do aprofundado levaria a uma nova e vasta interpretação simbólica”.
Não conhecemos, evidentemente, à estrutura dos cruzadores espaciais e, por conse-
guinte, não podemos estabelecer paralelos entre eles e a forma dos templos. À astro-
náutica, todavia, parece dizer-nos que os veículos extraterrestres devem ter sido com-
postos principalmente de duas partes: uma destinada a superar distâncias interestelares,
a outra destinada a funcionar como meio de transporte entre a astronave em órbita e O
corpo celeste escolhido como objetivo. Podemos encontrar um exemplo disso, em pe-
quena escala, na “nave mãe” do “Projeto Apolo” «o LEM, o “módulo lunar”, que se
destaca da primeira para desembarcar no satélite e voltar, depois, à astronave.
Enquanto os “módulos” poderiam ter sido representados com estrelas, campaná-
nos, minaretes, talvez não fosse absurdo ver figuradas as naves nos numerosissimos
isféricos da Antiguidade, cuja forma é identificada por vários estudiosos,
além dos soviéticos, com a dos “discos voadores”, E este perfil — observa Saitsev —
lembra também, cm diversos casos, o dos Vostoks, como nos evoca a arquitetura feni-
cia, cujos traços nos trazem diretamente ao espírito a Gemini estadunidense.

Encontramos os motivos da estela e da cúpula, unidos, nas stupa indianas, que con-
sagram os lugares sagrados ao budismo. “A forma comumente mais difundida”, nos re-
“corda Nicolau Turchi, "é a de base quadrada, constituída de oito degraus, sobre a qual
está assentado um corpo central em forma de panela emborcada, da qual se ergue uma
torrezinha subdividida em seções e terminada por um cume com os simbolos do Sol,
da Lua e do fogo" *,
O simbolismo budista nos faz ver, por exemplo, nos degraus os meios que condu-
em à iluminação, na “panela emborcada” a própria iluminação, nas seções da torrezi-
mha,à representação de vários conceitos religiosos ("o caminho óctuplo, os dez conhe-
“cimentos, os diversos poderes místicos”, etc.). Trata-se, contudo, da adaptação ao bu-
“dismo de elementos que, anteriormente, tinham um significado diverso. À luz dos
“atuais conhecimentos científicos não nos sentiriamos tentados à ver nas seções da tor-
rezinha os compartimentos de um “módulo”, na “panela emborcada” o meio de trans-
“pome espacial a que alude Saitsev, nos sinais do Sol e da Lua a destinação cósmica de
Juma astronave, no do fogo a sua força de propulsão?
Não foi, portanto, por um simples rasgo de fantasia que os terraços de certos templos
es, sobre os quais se apinham construções desse gênero, foram chamadas por
de “monumentos à astronáutica pré-histórica” (Fig. 8). E a mesma definição
se pudesse aplicar, como o sugerem ainda os estudiosos soviéticos, a muitos 4o-

E Nica Tucche, Sturio delle Raligioni, Sansoni, Florença. 196%

21
Fig. 8 (à esquerda)
A série de cupu-
las encimadas de
pináculos sobre o
terraço de um
templo de Baro
budur (Java)

Fig. 9. Embaixo, à esquerda: reconstrução é planta de um templo em forma de tolo da cultura


Halaf (Arpachiyah, Iraque setentrional). Embaixo, parte inferior; reconstrução c planta de um
antigo templo em forma de tolo em Mesara (Creta), que temonta aproximadamente ao ano 2000
a. C, Embaixo, à direita: fachada e planta de um banho a vapor indiano. Note-se a extraordinária
afinidade de rndas estas construções abobadadas
Fig. 10. O “Caracol”
observatório astronômico
de Chichen Itá (lucata)
A sua semelhança com à
catedral de Jerusalém
impressionante

Fig. 11. À mesquira de


Jerusalém [os erguida pe
los árabes no século VI
no lugar em que surgiram
os célebres templos de
Salomão e Herodes, o
Grande

los! que parec em querer exprimir, em sentido horizontal, o mesmo conceito das stupa,

unindo as cúpulas a estruturas alongadas, as “naves” aos “módulos”.


Singular é a presença de edifícios semelhantes em várias partes do globo, extrema-
mente distantes umas das outras: bastará, a propósito, dirigir um olhar (Fig. 9) ao tem-
plo da cultura Halaf iraquiana, erguido em Arpachiyah, ao seu correspondente de
Mesara (Creta), que remonta ao ano 2000 a.€., e a um dos tantos banhos a vapor in-
dianos, em que a idéia da purific s á sempre ligada à de ascensão, frequentemente
expressa com simbolos astrais, que evocam os das stupa.

Se observarmos a fotografia do célebre “Caracol”, o observatório da cidade maia de


Chichén Itá, (Fig. 10), estranhamente semelhante aos dos nossos dias, e a cotejarmos

7: Edificos de pedra, de forma circular, próprios de numerosas civilizações antigas


Fig. 12. Estes dois paiois
mexicanos abobadados
foram construídos segum
do modelos muito antigos
e refletem, por certo, edi
ficas bem mais racionais

com a da mesquita de Jerusalém (Fig. 11), construída pelos árabes no século VII, onde
primeiro Salomão « depois Herodes, o Grande, haviam edificado os seus célebres tem-
plos, seguindo com toda a probabilidade os modelos precedentes, não podemos deixar
de maravilhar-nos da semelhança das duas obras, separadas por distâncias impressio-
nantes no tempo e no espaço
E o mesmo se pode dizer a respeito dos paióis mexicanos (Fig. 12) construídos de
acordo com um modelo que se perde em épocas antiguíssimas, das aldeias de Harran
(Fig. 13) (a bíblica cidade da Mesopotâmia, “capital dos enigmáticos sabeus, onde o
culto do Deus Lua era associado ao simbolo da meia-lua e do disco, mais tarde reto-
mado pelos muçulmanos), dos túmulos dos marabutos de El Kasr, no oásis egípcio de
Dacla. (Fig, 14).
Da América ao Mediterrâneo: outra grande surpresa nos aguarda no quadro destas

24
Fig. 13. À grande extensão de ha
bitações abobadadas dos misterio-
sos sabeus (Harran). À analogia
Com os trulli (construções cônicas)
da Apúlia é inegável

Fig. 14. Outras construções que


nos levam de novo aos trulli
os túmulos dos marabutos de El
Kasr, no oásis de Dacla (Egito)

Fig 15. Este seria o fantástico


templo edificado em honra de he
Quetzalcóar] em Tenoculân: no.
se-se a cúpula erguida sobre a pla
taforma da grande pirâmide
extraordinárias semelhanças. Observemos a reconstrução do templo de Tenochtitlân
(a florescente capital asteca, perto da atual Cidade do México) dedicado a Quetzal-
cóatl, filho do deus do céu Mixcóutl ("Serpente das nuvens”) « da deusa da terra
Chipalman ("Escudo jacente”): é uma enorme pirâmide de degrauzinhos, sobre cujo
terraço superior se ergue uma grande construção cônica encimada por um curioso orna-
mento que a torna ainda mais semelhante à estrutura da Gemini, mais do que as obras
a que alude Sairsev (Fig. 15).
Pois bem, essa construção encontra Os seus exatos correspondentes, embora com me-
didas mais modestas, nos famosos trull? da Apúlia: vemos aqui (Fig 16) a mesma cú-
pula, pináculos muito semelhantes e até a idéia da pirâmide de degrauzinhos, expres-
sa pelas escadas que conduzem ao nível superior (Fig. 17).
A propósito das figuras sobrepostas aos frulli, devemos notar que muitos parecem
monumentos estilizados a fantásticos astronautas: o desfile de formas esféricas coloca-
das no cimo de formas curiosissimas “de taça emborcada” (Fig. 18) fez um escritor
utópico norte-americano dizer a Richard Harrison: “Parece-me ver aqui, traduzidos em
realidade, os imaginários panoramas de estátuas em homenagem aos exploradores es-
paciais que descrevi numa narrativa cuja ação se passa num planeta e cujas estruturas
arquitetônicas deveriam ser um monumento dedicado a cosmonautas ignorados”.
Se à aproximação entre a Apúlia e o México pode parecer-nos incrível, não esque-
camos que analogias impressionantes com as expressões arquitetônicas de civilizações
distantes já tinham sido constatadas por vários estudiosos. Eis o que escreve, entre
outras coisas, a propósito, Enzo Minchilliº:
“Os trulls... embora apresentem certa analogia com as 'pinnette” sardas, as casinhas”
istrianas, as cabanas de pedra das Ilhas Baleares, algumas construções da Dordonha,
da Navarra, da Catalunha, dos Alpes Ligures, da Irlanda, das Hébridas, do Curdistão,
regiões afins geologicamente ou por características da esfoliação das rochas, na Apúlia,
têm, ao contrário, caráter singular, chegando à tipicidade — mas considero mais exato
chamar-lhe pureza arquitetônica — numa zona cujo baricentro é Alberobello, a cidade
das construções de trullo, com os territórios das comunidades de Locorotondo, Mar-
tina Franca, Fasano, Cisternino, Castellana, Putignano.
“Qual a origem que se deve atribur a esse tipo de construções que tanto nos apai-
xona, e qual a analogia com as de outros países? À esta pergunta têm sido dadas res-
postas individuais pelos que estudaram o problema, respostas que a muitos pareceram
fruto da imaginação, mas julgamos opormno ilustrá-las para esclarecer as referências
e a diversidade das teorias avançadas.
“Bertaux, por exemplo, ao considerar o trullo anterior à civilização de Roma «
também à da primeira colonização grega que se estabeleceu no litoral jônico, o fazia
remontar aos tempos misteriosos dos muraghi” da Sardenha e dos talajots” das Ba-
leares. O trullo — precisava Bertaux — é o mais antigo tipo de construção que a hu-
manidade já conheceu, o que ocupou o lugar, nas regiões rochosas, da cabana cônica
de barro ou de arbustos. O edifício de cúpula, em forma de torre quebrada, é ainda

KR Galagy Nova York. 1919


9 Mimima Castellano. La Valle dei Trulli, Levoardo da Vinei, edimee, Bari, s964 (Tentos de Leonardo Sinisgalli, Giuseppe Coechiara,
Enzo Minchilhi)

26
ig. 16. Um sugesti-
vo escorça dos famo
sos trull: apulienses.

hoje a habitação primitiva de algumas populações no estado primordial; os esquimós


constroem cabanas maciças com blocos de gelo, semelhantes às casinhas apuhenses...
“Chierici faz referência, ao contrário, à arquitetura egípcia, às construções de planta
circular com funções defensivas da bacia do Mediterrâneo e assevera que a influência
do subsolo de rocha não pode ter importância absoluta É antes a tenaz vitalidade de
um sistema elementar, à distância de séculos...
“Drago afirma que o trullo repete formas características surgidas nos primitivos ci-
clos culturais, mas o sistema construtivo se revela como inovação de civilização adian-
tada e ambientes geográficos particulares, caracterizados pela abundância da pedra à
flor da terra, « recorda que desde o tempo dos normandos se tinha notícia dos trulli.
Entretanto, não exclui a hipótese de que sejam produto de civilizações anteriores...
“Os amplos estudos publicados sobre os Camarões, o Curdistão, a Espanha, a Si-
ria — terra ancestral dos hititas — poóem, de fato, em relevo, arquitetonicamente tam-
bém, uma estreita analogia com os aglomerados de tralls...
“As construções em forma de trullo — no meu entender — devem ter sido trazidas
pelos hititas numa das suas migrações mediterrâneas, nos milênios que precederam o
nascimento de Cristo, numa zona bem precisa — a de Alberobello — e sucessivamente
se desenvolveram como tipo edilício no território da Murgia, por motivos técnico-eco-
nômicos”

27
E -
A Mas

Fig. 17. Ainda estamos na região dos trull: confronte-se a parte superior dos edifícios
com a do templo de Tenoctitán (fig. 1 5). Até a idéia da pirâmide parece ser expressa
pelos degrauzinhos!

Digno de atenção, por conseguinte, é o que escreve no volume citado Giuseppe


Cocchiara:
“Ainda hoje, sobre o dorso do teto dos trullt, resplandecem à luz do sol símbolos,
sinais, emblemas, que constituem para o etnógrafo rica fonte de indagações... Alguns
símbolos representam o zodíaco e voltam a ligar-se à astrologia dos povos mais anti-
gos. Daí o seu caráter mágico-místico ou, de qualquer maneira, oculto. Em geral os
simbolos desse tipo são também dominados pelo círculo, o qual, no caso específico, re-
presenta o globo. É verdade que, às vezes, o círculo é encimado de uma cruz; cumpre,
contudo, observar que a cruz, antes até de ser um símbolo cristão, foi utilizada por
muitos povos como símbolo profilático”,
Não apenas profilático, acrescentemos, evocando os desenvolvimentos da cruz na
América central, que a viu mudar-se em flor de lótus, sinais solares, suástica, exatamente
como na Índia !º, E notamola nos trulli, traduzida, ao lado dos círculos solares,

em símbolos de origem conhecida c enigmática,

19. Não
é Terreure, já citado,

28
/
em suástica,

Sof El,
E

em sinais planetários,

S +
no misterioso “Tridente dos Andes”, que nos reconduz a Posêidon, à Atlânuda,

9
em referências solares e estelares ao lado da universal "árvore da vida”,

Ea
em referências solares e estelares ao lado da universal "árvore da vida”

se
S
[1
As civilizações antigas, que floresceram em todos os continentes, possuem incgáveis
traços comuns, traços que nos falam de maneira inequívoca numa única matriz, em ha-
mes remotissimos, vivos, ainda que ignorados dos portadores dessas culturas, herdei-
ros sem dúvida de outras ainda maiores.
Acreditamos haver fornecido, com os trabalhos precedentes, certo número de ele-
mentos capazes de sustentar a hipótese que nos conduz à formulação de teorias fasci-
nantes: a teoria relativa à existência de povos altamente evoluídos em tempos para nós
sem data e as teorias que procuram entre as estrelas o berço do progresso humano.
E agora nos propomos ampliar e aprofundar, servindo-nos sobretudo da imedia-
ção dos confrontos fotográficos, a nossa documentação

Fig. 18. A esulização de um espacial? Não, ao menos na concepção corrente aos nossos
dias: trata-se de uma enfiada de cúpulas de srulli com esferas sobrepostas.
H
SEDE DE ESPAÇO

A MULTIDÃO PARADA, silenciosa, em torno do homem magro que, vestindo pela


metade uma estranha pele escura, está em pé no centro da clareira.
“Amigos”, diz o homem, “estou para deixar-vos. Vou para onde vivem os meus
antepassados que caminham na noite, que voam de estrela a estrela. Poderosos são os
meus antepassados, que navegam no mar das trevas com asas de luz...”
O homem acaba de envolver-se na estranha pele escura, esconde o rosto com uma
máscara, envereda pelo corredor de uma estranha estrutura que se ergue atrás dele.
E quando desaparece, numa extremidade da mesma estrutura as chamas começam a
brilhar.
Que é a tal “pele escura”? Um cscafandro? A “máscara” será acaso um capacete
espacial, à curiosa estrutura uma astronave, de cujos respiradouros se desprende uma
tempestade de chamas?
Tudo o que descrevemos se prestária a uma interpretação semelhante, corroborada
pelas palavras de despedida do misterioso viajante. Mas estamos numa região da Mon-
gólia meridional, situada entre os Altai e o deserto de Gobi, e o protagonista do epi-
sódio é um aspirante a xamã empenhado numa cerimônia de iniciação. A “pele escura”
é a pele de um animal, à máscara recorda o pássaro mítico Garuda"" e a curiosa estru-
tura é formada de uma espécie de yurta, a tenda de feltro abobadada, dos nômades,
mas na qual se ingressa, no nosso caso, por um “corredor”; e a forma da cabana mon-
gol lembra muito de perto a do templo da cultura Halaf (Lraque setentrional) reprodu-
zida na fig. 9, no alto, à esquerda.
E o fogo? Trata-se de uma simples fogueira à que se atribui um significado de pu-
rificação, mas o sentido antiguíssimo, agora perdido, devia estar ligado às palavras
pronunciadas pelo aspirante a xamã, transmitidas há gerações sem conta. De um modo
geral, não nos terão escapado os pontos de contado com a lenda siberiana do capítulo
precedente e as tradições análogas próprias a todos os continentes, nas quais a “pele
dupla”, as máscaras, as trevas e as chamas sempre tiveram um papel fixo.
Estaremos, porventura, realmente diante de uma cerimônia que comemorava, em
outro tempo, uma empresa astrondurica? À evocação, sem dúvida, é sugestiva: recor-
demos, de um lado, que nos encontramos numa região riquíssima de elementos que di-
remos quase de "ficção científica” !?, e que muito frequentemente, em todas as partes
do globo, o conceito religioso ou mágico da navegação está estreitamente ligado a mo-
tivos cósmicos.

v1 Nós mas ocuparemos mais adiante desta estranha criatura e das referências espaciais à que se presta.
12 Ndo é Terresere, já curado.

31
Marcianos no Vietnã
Agora estamos sobre o cume do teto,
estamos em cima, em cima do teto...
Sopra, ó vento, do mar!
Leva-nos sobre a Terra;
sopra, ó vento da costa,
leva-nos sobre a Terra,
Remai, pássaros de penas resplendentes:
servi-vos dos remos, ó xofrangos..
O arco-íris é o nosso meio de transporte...
Os balaústres da ponte são de ouro.
Este trecho (conservado por tradição oral e tirado, pela primeira vez no século pas-
sado, da fórmula mágica de uma sacerdotisa de Toraja, em Célebes) é referido pelo
Professor Anthony Christie, da Universidade de Londres ", que o interpreta apoian-
do-se “na crença muito difundida na Ásia sul-oriental de que se encontra o mundo do
além descendo o rio ou atravessando o mar”,
O estudioso conseguiu associar, numa apaixonada obra de pesquisa, a “fórmula mi-
gica” aos tambores de bronze da cultura de Dong-son (Vietnã setentrional), nos quais
se encontram representadas numerosas embarcações. Meios para o transporte das al-
mas, portanto? Ainda que assim fosse, o conceito poderia ter sido perfeitamente trans-
posto de um plano real para um plano mágico; mas o próprio Prof. Christie fornece
outra interpretação, ainda mais fascinante: “Parece quase certo”, escreve ele, “que a
barca era usada pelo espírito guia para comunicar-se com o reino dos vivos”.
Por conseguinte, uma espécie de veículo entre à Terra e o além-túmulo. Ou entre à
Terra e 0 espaço?
A hipótese, evidentemente, é arriscada, Mas se observarmos os particulares das re-
presentações, se Os aproximarmos de outros, próprios das culturas asiáticas, americanas,
européias e africanas do passado, encontraremos motivos para muita perplexidade.
Num dos tambores vemos uma profusão de figuras talvez emplumadas, talvez ador-
nadas de chapéus estranhos (Fig. 19), cujos topos são idênticos aos dos remos, das es-
truturas das embarcações, de algumas ninharias inidentificáveis que fazem parte do
meio, mas que não têm relação alguma com à navegação.
Referindo-se a outras obras análogas do Vietnã do Norte, o soviético Leonov su-
gerc a idéia de antenas erguidas para o céu, apoinado-a nos círculos que aparecem, nu-
merosos, e nas duplas espirais estilizadíssimas, muito provavelmente sinais solares ou
cósmicos,
Digno de nota é o fato de que os seres reproduzidos têm características apenas vaga-
mente humanas e de que o personagem central rege um instrumento enigmático, intei-
ramente semelhante aos empunhados pelos chamados “espaciais da Valcamónica”",
a cujo respeito escreve outro investigador russo, Kasantsev:
“Considere-se, por exemplo, o desenho rupestre descoberto num vale alpino pelo
arqueólogo francês Emanuel Anati: ali se vêem figuras antropomorfas com estranhos

14. L Alba della Civita, Mondador, Milão, 1965


14. Não é Terrestre, já citado

32
Fig. 19. Um dos tambores de bronze da anga civilização de Dong-son (Viena seten
vrional): com as espirais, eis sinais solares e outros simbolos de dificil interpretação se dis-
tingue, no centro, um instrumento enigmático que recorda os da Valcamônica

Fig, 20. Outro tambor de Dong-son* ns recipientes representados embaixo e os seus


suportes são totalmente estranhos às culturas da Ásia sul-orienta]

“chapéus” que partem dos ombros; poderiam ser imagens estilizadas dos capacetes
herméticos dos “estrangeiros”: até os apêndices externos dos tais “chapéus” são insó-
litos. As figuras empunham objetos que (...) têm a aparência de simbolos geométricos”.
Outras representações escaparam até agora a qualquer tentativa de interpretação.
Na parte superior de uma delas houve quem quisesse ver quatro remadores e, na parte
inferior, quatro recipientes (Fig. 20). Mas aqui os remos terminam sobre o convés, e os
recipientes desse gênero são estranhos 4os usados no mesmo período na Ásia sul-ori-
ental, como os seus engenhosissimos suportes.
Somos, antes, levados a pensar cm seres que empunham alavancas (nem a sua posi-
ção é a que assumiria uma esquadra de remeiros) associadas a reservatórios subjacentes.
Igualmente indecifrável é a representação de outros quatro personagens que agem
com estranhas pás reviradas sobre objetos de forma nunca vista (Fig. 21). Alguém for-
mulou a hipótese de que se trata de homens ocupados em pisar em dois almofarizes,
mas nada há que a torne aceitável: ao contrário, voltamos à encontrar aqui, embora
variados, os motivos das plumas e “antenas” da Fig. 19. Além disso, a indumentária
dos seres colocados à esquerda contrasta nitidamente com a dos outros: observando à
primeira, poderemos pensar, mais do que num diadema de plumas e num saiote, no
motivo simbólico das asas dobradas.

33
Fig. 2x. Estamos ainda em Dong-son: estranhos seres com plumas e asas dobradas nos
sugerem imagens “espaciais”

Destituída, para nós, de qualquer sentido é também a chamada "campana” detalha-


da nos tambores de bronze vietnamitas, uma espécie de construção em cujo centro está
outro ser inidentificável, que se diria encerrado numa cabina de paredes cheias de sinais
solares (Fig. 22): debaixo do “pavimento” destaca-se qualquer coisa que é talvez um
tridente, talvez uma "árvore da vida”, talvez um símbolo de ascensão, todos eles mo-
tivos que confirmam os enigmas mais apaixonantes das civilizações perdidas.
Segundo alguns estudiosos, a cultura de Dong-son remonta, aproximadamente, ao
ano 150 a.C. Muitas coisas, porém (como veremos em seguida, ocupando-nos das
enigmáticas representações de vários animais pré-históricos), tornam dúbia essa data-
ção. Entretanto, mesmo que fosse exata, teríamos de chegar à conclusão de que os
vietnamitas daquele tempo conservavam lembranças bem mais antigas é profundas,
que deixaram a sua marca.
Voltamos a encontrar, de fato, o núcleo das tradições expressas pelos tambores de
bronze da Birmânia, com remeiros emplumados, em Bornéu (em Sumatra os mortos
vivem “além do oceano da noite”), como no Egito e em todo o mundo mediterrâneo.


Fig. 22. À enigmática "campana tt 1 Mia AUi Yo
norte-viernamita com às sinais so- É sed a e

lares eo
nes“tridente”.a à ramoE ay Ea
n
' E Ma Sa

34
Fig. 23. Seção longitudinal da sepultura etrusca denominada "Montagnola”: parece querer representar com
impressionante realismo um veiculo e um “módulo”

Já é uma clara evocação do espaço a meja-luz mesopotâmica que simboliza uma fa-
bulosa embarcação, mas o que nos deixa atônitos são os “fusos” asiáticos e america-
nos, cuja síntese encontramos na Toscana.
Observemos a seção longitudinal da sepultura etrusca conhecida pelo nome de
“Montagnola” (Fig. 23), descoberta em 1959 por Quinto-Sexto Fiorentino, com
28m de comprimento, construida provavelmente no século VIT a.C.: o “veiculo” e o
“módulo” de Saitsev parecem aqui representados com impressionante realismo.
Uma “astronave para o além”, portanto? Sim, mas um “além” que, no início, não
devia ser realmente a morada dos defuntos. Acomodando-nos à “ciência oficial”,
violentando o bom senso, poderemos considerar um caso simples o fato de que em
muitíssimas regiões astáticas e occânicas (da Sibéria à Indochina, da Polinésia à Nova
Guiné, à Nova Zelândia), onde as línguas e dialetos são inteiramente diversos, as mes-
mas expressões designam “morte”e “partida”, “mar” e “céu”, “infinito”, “estrelas”
e “outra terra”, “outra praia”; mas como explicar a correspondência — fonética, fi-
gurada, mitológica — entre o conceito de “serpente” e os de “nave”, “astros”, “cos-
mo”, “obscuridade”, “vida”, “vôo”?
Nos modos, nos tempos, nos lugares mais diversos, tal correspondência é tão viva €
desconcertante que quase diriamos que a aspiração para uma estada ultraterrena das
“almas” beatas foi, em épocas imemoriais, ânsia de vôo, sede de espaço, nostalgia in-
delével, ainda que deformada pelos milênios, de mundos para os quais alguém, na his-
tória não escrita da humanidade, abrira uma janela.

A idade da serpente

“Entre todos os elementos decorativos dos maoris, um me impressionou de modo


particular: a (Fig. 24) espiral dupla” (isto é, vom movimento para a direita e para a esquer-
da), escreve o cineasta Gabriel Lingé, membro da Sociedade francesa dos exploradores
e viajantes, que se dedica ao estudo da arqueologia e do folclore de populações longin-
quas. “Multiplicada com uma frequência obsessiva em gravações, pinturas, esculturas
em madeira”, cla também constituía, no passado, o motivo dominante das tatuagens
faciais (Fig. 25).
a
Os
Fig. 24. O motivo da
espiral dupla, fotogra-
Fado num sugestivo es-
corço pelo aincasta
francês Lingé durante
uma expedição à Nova
Zelândia.

“E é a mesma figura geométrica que voltamos a encontrar nas fotografias de um


grande número de galáxias. Ora, a maioria dos estudiosos empenhados em resolver o
mistério da origem do Universo acredita que este se tenha formado em conseguência
da explosão de um primitivo e gigantesco núcleo atômico”, cujos fragmentos se es-
palharam pelo cosmo em forma de espiral dupla.
“Para muitas civilizações desaparecidas (entre as quais a céltica) a espiral dupla,
desenhada, esculpida ou gravada na pedra, era exatamente o símbolo da criação do
Universo. Ora, quando se interrogam os maoris a respeito, alguns se mostram surpre-
sos com uma pergunta que não formulam uns aos outros, outros respondem de maneira
evasiva, ou porque não conhecem a “chave” do enigma, ou porque os últimos iniciados
(admitindo-se que ainda existam) se recusam a revelá-la.
“Seja como for, não é perturbador o faro de que os representantes de cultura, que
desconheciam tanto os telescópios quanto as aparelhos fotográficos tenham repetido ao
infinito a representação do processo da Criação de uma forma só concebível depois
dos descobrimentos mais recentes?!”
Lingé tem toda a razão: eis o motivo que o impressionou na Nova Zelândia domi-
nando a civilização céltica do coração da Europa à Irlanda (Fig. 26), ei-lo sobressain-
do, repetido centenas de vezes, com arte única, nas vestes preciosas dos oroki da taiga
manchuriana, eilo adorando as taças rituais de Hazor, (Fig. 27), o centro cananeu da
Palestina setentrional já lembrado no século XIX a.C., eilo destacando-se nos escudos
e colares dinamarqueses de há 3.000 anos (Fig. 28).
“E a idade da serpente”, cantam os indigenas da Terra de Armehm (Nova Guiné),
“da serpente que existiu antes do homem, da serpente que foi homem, da serpente que
voa no céu”. Duas destas expressões poderiam parecer uma curiosa síntese da teoria da
evolução; a terceira continua sibilina. Mas tudo se refere ao mito da Criação e à his-
15 Pianeto Soomolciuta, do mesma autor, Sugar Ediore, Milão. Este livro foi sraduzido para 0 português por Maria Leonor de Castro Bas-
tos, para as Edições Melhoramentos, sob o título de “O Planeta Desconhecido”
16 G Lingé "Nouvelle Z&ande”, Pas, 1971

36
Fig. 23. A espiral dupla recorre
ainda, na Nova Zelândia, nas
representações em madeira dos
velhos chefes: eis aqui outra
fotografia tirada por Lingé em
Marae
Fig. 26. Espirais múltiplas decoram uma grande pedra colocada diante de um túmulo
céltico de Newgrange, na Irlanda

Fig. 27. Uma taça ritual de basalto do templo canancu de Hazor. com espirais múltiplas.

tória da humanidade, ainda que desta última os papuas não conservem recordação al-
guma.
Precisamente aqui encontramos a origem do simbolo de que nos estamos ocupando:
no princípio era 0 ovo (o ovo cosmogônico (Fig. 29) que encontramos nas religiões de
tantos povos), do qual nasceu a serpente: 0 ovo é o primitivo núcleo atômico, a serpen-
te enrolada numa espiral representa indubitavelmente a protopaláxia!
Esta concordância com as recentissimas conquistas científicas registra-se, como já
dissemos, nas mais longinquas civilizações, conhecidas e desconhecidas: não pode tra-
tar-se de um simples acaso!
A serpente colocada em “8” (o nosso simbolo do infinito!) da América pré-colom-
biana encontra, por exemplo, estranha correspondência nos longos pescoços entre-
laçados dos “leopardos-serpentes” egípcios (Fig. 30); e seja aquém, seja além oceano,
recurva-se numa sugestão de espiral nos chifres dos “monstros sagrados”, encerra-se
numa espiral completa nos símbolos de comando, nos diademas, nos ornatos.
Voltamos a encontrar os cetros em espiral empunhados pelo chamado “astronauta
do Vale do Cauca” (Colômbia ocidental) na magnífica estatueta (Fig. 31) que cvoca

38
Fig. 28. A “eterna espiral” destaca-se também nos escudos e colares dinamarqueses de
há 3,000 anos.

precisamente um homem num escafandro espacial, reproduzidos num alfinete de ouro


(Fig. 32) da idade do bronze encontrado em Trassen, no Saar.
E as mesmas espirais que, ainda na Colômbia, marcam os joelhos de outro “princi-
pe” do vale do Cauca (Fig. 33) com traços igualmente enigmáticos, e ornam a cabeça
(Fig. 34) de um bem identificado “cacique” de Muisca (perto de Bogotá) e do seu sé-
quito, emolduram o rosto de uma misteriosa divindade fenícia (Fig. 35) de Ras
Shamra (Síria atual), que remonta ao século XV antes da nossa era, e o peito de uma
Astarte, igualmente fenícia, dos séculos XIV-XII a.C. (Fig. 36).

39
Fig. 29. Na “cratera de Vagnonvile”, conservada no museu arqueológico de Florença,
podem-se admirar estes sátiros empenhados em despedaçar 0 “ovo cosmogônico” do
qual sairá Gaia

Fig. 30. Esta tabuleta epipcia remonta


ao ano 3200 4 Ce celebra, segundo a
interpreta » mais aceita, à vitória de
Narmer, identificado com Menes. O
Ieodário primeiro faraó, Note-se
“leopardos-serpentes”, as figuras comidas
no alto e, embaixo, 0 lótus estilizado e à
espiral do diadema

Fig. 31.4 direita. O chamado "astronau


ta do Vale do Cauca” (Colômbia ociden-
tal), empunha dois cetros em espiral

40
Fig. 32. O alfinete de ouro encontra
do em Trassen, no Saar, lembra muito
de perto 05 cetros em espiral colom-
bianos.

Fig. 33. Outras espirais (que desta


vez marcam os joelhos) na represen-
tação de um “príncipe” do Vale
do Cauca

É impossível datar as primeiras espirais que encontramos gravadas na rocha; acha-


mo-las nôs mounds norte-americanos, na mata amazônica, em várias zonas da Colôm-
bia e do Peru, sedes de culturas antiquíssimas, cujos traços principais nunca chegaremos
a reconstruir.
As culturas européias de há zo mil anos já foram realçadas, elaboradas, associadas a
sinais solares, como em Isturitz, na França sul-ocidental (fig. 37). A mesma apro-
ximação se manifestará mais tarde, cerca de 3800 a.C, na louça (fig. 38) descoberta
em Nagada e El-Ballas, ao norte de Tebas (Egito meridional), que nos oferece também
um mostruário de naves, escadas, formas discoidais, à sugerir-nos interpretações de-
masiado audazes, que só podemos formular voltando às gravações e desenhos da re-

42
Figc34. O “cacique de Muis-
ca”, no centro de um grupo
de figuras de oura descober
tas no altiplano de Bogotá
abundam as espirais. no peito
e nas têmporas.

gião franco-cantábrica. E o mesmo se pode dizer das cerâmicas de Micenas (fig. 39),
que remontam ao século XIV anterior à nossa era.
Rodas para os transportes terrestres, âncoras para a marinha, asas para a aviação. E
para a astronáutica? Como se sabe (tirando os distintivos — diversos entre eles —
adotados pelos soviéticos e pelos estadunidenses), ainda não se encontrou um símbolo
“universal” para os cavaleiros do espaço. Os mísseis condizem mais com a unidade
militar, as formas dos sputniks e explorers já foram superadas, as dos atuais veículos
cósmicos logo o serão também.
Na América do Norte propôs-se a espiral, mas esta foi posta de lado, depois de usa-
da e abusada nos pedidos de máquinas de lavar roupa e outros eletrodomésticos. Hou-
ve, então, quem sugerisse duas espirais juntas, um desenhozinho realmente um pouco
ambicioso, visto que ainda estamos longe das viagens intergalácticas; mas, de qual-
quer maneira, um bom presságio, interpretável até como idealizações do encontro de
mundos diversos,
Não sabemos se será ou não adotado: sabemos, porém, que não é exatamente novo.
Começamos a vê-lo no Saara, gravado nas rochas (Fig. 40) em tempos remotissimos
(Fig. 41), quando o deserto cra um imenso, viçoso, jardim. Tratava-se — dizem-nos —
de um sinal mágico: e é mágico também para nós, visto que nos sugere, mais uma vez,
interrogações apaixonantes: como poderiam os nossos distantes antepassados conhecer
a estrutura da maior parte das galáxias?

43
A esquerda: Fig. 34. Espirais que evocam as da América pré-colombiana ornam a cabeça desta divindade
fenícia de Ras Shamra; à direita: Fig. 36. Uma Astarte fenicia do 139149 século à, C. com os sinais
espiralados no peito.

Admitindo-se que a conhecessem (pois se nos inclinarmos para a hipótese contrária


não conseguiremos explicar por que se adota a espiral, em várias partes do globo,
para simbolizar o espaço, o Universo e, com isto, a Criação), de onde, de quem lhes
vem essa noção? De civilizações anteriores, que chegaram pelo menos ao nosso nível,
riscadas para sempre, com as suas conquistas, da face do planeta? Ou diretamente de
visitantes vindos do espaço que procuraram, com este € outros sinais, esclarecer as
idéias dos terrestres cm matéria de astronomia?

44
A esquerda: Fig. 37- Estas espirais, que se aproximam de sinais solares, encontradas em Isturicz, na França,
remontam à cerca de 20 mil anos; d direita: Fig. 38. Em Nagada c em El-Ballas (Egito meridional) foram
descobertos, entre outras coisas, estes vasos com as representações de naves, escadas, espirais e até formas
discoidais, que sugerem interpretações demasiado audazes para serem aceitáveis; embaixo: Fig. 39. Desenhos
sugestivos como os cgipeios na louça de Micenas, que remonta, aproximadamente, ao século XTV a. C
Fig. 40. Uma espiral dupla do
Tassili (Wadi Djerat)

Fig. 41. Outra espiral dupla en-


contrada nó Tassil.

Fig. 42. Uma espiral dupla irlan-


desa de Newgrange (1) e uma de
Hal Tarxien, em Malta (2)
Fig. 43. Espirais às vezes
acompanhadas de sinais
serpentiformes, às vezes
imitantes à estes últimos
ou que passam a ser “ocula-
res”, vemolas em Hal
Tarxien (Malta); segundo
a datação oficial, elas re-
montim a 2000-2400
anos à. €
Do Saara voltamos a New Grange (Fig. 42), na Irlanda céltica; encontraremos as
duas espirais unidas já estilizadas, dando-nos quase a idéia de dois olhos enigmáticos.
E a passagem à própria estilização é mais do que evidente em Hal Tarxicn, onde flo-
resceu a cultura de Malta, que representa ainda agora um quebra-cabeça para os inves-
tigadores do passado. Vemos aqui sinais espiralados “de boca de serpente” aproxima-
dos dos sinais “oculares” (Fig. 43).
E voltamos a encontrar estes últimos nas decorações jomor e aino da igualdade mis-
teriosa pré-história nipônica, na alucinante Ilha de Páscoa como representação de
Makemake, o deus da Criação, associado ao culto do Sol e aos inquietantes persona-
gens de traços felinos — os chamados "homens-gatos” — que deixaram a sua marca
em todas as civilizações da América pré-colombiana Iê
Transportemo-nos para a Nova Guiné c veremos numa sugestão de espiral nos
olhos das máscaras fabricadas para cobrir os crânios dos inimigos mortos (Fig. 44).
São máscaras que semelham, com a sua estrutura de cilindro arredondado, a parte su-
perior de certos capacetes espaciais, que as ilustrações de ficção cientifica nos tornaram
familiares.
Assim se exprimia pelo adversário morto um grande respeito: talvez o mesmo res-
peito que, nas lendas, circunda os “espíritos da noite” surgidos no jângal e trucidados

17. Antes dios Tempo Combecidos, Nãoé Terreiro, já catados.

48
Página au lado: Fig. 44. A esquerda: sinais
espiralados “oculares” nipônicos. À diref-
ta, no alto: a esulização do deus da Ilha
de Páscoa, Makemake. A direita, embaixo:
esta máscara, que se diria “especial”,
colocada no cri o dos inimigos mortos
na Nova Guiné

A direita: Fig. 45 Aschimiada podes


sagrada” de Borno, em Valcamônica
contornados por uma linha que parece
representar uma caveira, notam-se sinais
recorrentes em todo o mundo.

Embaixo: Fig. 46. Entre as asas de traços


felinos, as espirais convergem, no famoso
“vaso de Copán” (Honduras, para formar
o semblante de um deus desconhecido)

49
pelos papuas, que, todavia, ainda os honram, afirmando haver-lhes arrancado “o segre-
do do Sol” (o fogo, provavelmente) e a arte da caça.
Espirais, Sol, caça: em Valcamônica estes motivos também estão unidos, embora
de modo diverso, muito sugestivo: gravados na “Rocha de Borno” (Fig, 45), parecem
querer dar aparência humana a uma rocha esculpida pela natureza em forma de ca-
veira (sem dúvida objeto de culto da parte dos antigos habitantes daquela zona) que |
associa aos aspectos de uma cultura desconcertante fabulosas evocações estelares.
E não falta, para terminar, a ligação com a América: os olhos de “Makemake” pa-
recem espelhar-se, refletidos às dezenas, no famoso vaso maia (Fig. 46) de Copán
(Honduras), confluindo para o centro, entre as asas de traços felinos, para compor o
semblante de um deus desconhecido.

Dentes no Sol

Para os apaixonados da narrativa utópica, o tema da “volta à Terra” é sempre dos


mais sugestivos: trata-se, em geral, de um rapaz que, à bordo de uma astronave, aban-
dona mais ou menos voluntariamente o planeta natal (dirigido para outro), a fim de
regressar no que, para nós, seria um futuro distante. Tendo viajado à uma velocidade
próxima à da luz, por ocasião do seu regresso muitas coisas estão mudadas; e muitas
mudará ainda o nosso sobrevivente, confiando aos pósteros os tesouros científicos que
veio a assimilar durante a sua estada num mundo muito mais evoluído.
Entre as inúmeras variações, fascinante é aquela do protagonista raptado em tenra
idade e devolvido adulto ao seu globo de origem, que para ele, obviamente, é um lugar
de todo estranho. Por sua vez, os terrestres não podem deixar de considerá-lo uma es-
pécie de deus, portador de noções preciosissimas.
Mais uma vez, a propósito disso, devemos notar que a ficção cientifica não nasceu
ontem. Os seus pioneiros modernos provavelmente não gostarão do que vamos dizer,
mas, sem nada tirar dos seus méritos, somos obrigados a acentuar, no quadro do nosso
estudo, que os esboços de muitas fábulas espaciais se encontram em tempos antiguis-
simos.
Na Terra de Arnehm (Nova Guiné), a lenda da Criação, expressa com pinturas su-
gestivas em cortiça (Fig. 47), baseia-se no motivo de uma serpente que, depois de haver
engolido um menino, subiu ao céu, dali tornou a descer e deu origem à Terra, às plan-
tas, aos animais e aos homens.
Há, nesta fábula, uma discordância: sanifesta: como podia o menino existir antes
que o gênero humano tivesse sido criado? Trata-se, porém, de uma contradição apenas
aparente, nascida da simplificação. do mito. Escutemos outros relatos, difundidos pela
mesma zona, e ficaremos sabendo que, na realidade, alguma coisa preexistia: um amon-
toado caótico em que os futuros seres humanos “se confundiam com os animais e as
plantas”. Na prática, portanto, a serpente (que trouxe depois de volta à Terra, bem
viva, à sua “presa”) limitou-se a ordenar o mundo, ajudada nisso pelo próprio menino.
Dir-se-ia que este último tivesse sido raptado apenas a fim de ser educado para tornar-

50
ET ps o a TES
de Trkalla (Terra de Arnchm,
RE Ren
Fig. 48. Uma estela tolteca re-
presenta claramente uma divinda-
de (talvez Querzalcóat)) saindo
da boca de um animal de lingua
bifida

Página à direita: Fig. 49. Uma


cabeça ussoma à boca de uma
serpente: Estamos em Xochicalco,
mas 4 representação é semelhante
às de Tula « Chichén Itá.

se mestre e guia de uma humanidade que, anteriormente, se limitara a vegetar sobre o


globo.
Entre os peles-vermelhas cknook do Estado de Washington, Estados Unidos, o mi-
tico répuil transporta no espaço Aqgas-Xena-Kenas, “o menino que atingiu a Estrela da
Tarde (Vênus) e casou-se com a Lua”, para depois voltar c pôr em ordem as coisas do
nosso planeta, ao passo que entre os kiowa (Kansa, Oklahoma, Texas) é uma belíssima
virgem que se inicia na astronáutica: ela “sobe na noite, casa com uma estrela e torna à
descer à Terra com o filho celeste”, destinado a dar aos homens tesouros de conhe-
cimentos.

52
A esquerda: Fig. so, Quetzalcóar] imediata
mente antes do seu desaparecimento, segua-
do o “Código Florentino” (livro MI): no-
tem-se as chamas, o “capacete”, a estranha
indumentária, embaixo e página do lado, em
coma: Fig. q7- Xiuhcóail é oupra "serpente
de fogo” mexicana: vemo-la representada
com garras, simbolos solares e, talvez, cons-
relações; paga ao lado, embaixo: Fip. 52.
Esta curiosissima representação de répal,
com "secções" internas é apêndices que logo
fizeram pensar em suportes para a aterragem.
encontram-se nas zonas áridas do México
seventrional e são estranhamente semelhantes
às encontradas na Amazônia e na Libéria
Fig. 93: Artefatos pré-históricos
serpentiformes do Trentino: como
acontece com os chamados
“bastões de comando” a que alu-
diremos em seguida, o uso deles
é desconhecido

Fig. 44: O sugestivo “trampo-


lim” fotografado nas proximida-
des de Algaiola, na Córsega, pelo
Prof. Camerini.

Fig. 55. À caverna escavada de-


baixo do “trampolim de Alga-
tola”
Para os aborígines da Austrália norte-ocidental, ao contrário, não há decolagem: a
serpente chega ao céu trazendo seres que aquela gente considera seus antepassados,
representando-os, em figuras chamadas wondjina, com um rosto sem boca circundado
por uma espécie de auréola, o que induziu muitos estudiosos de vanguarda a associar
O conceito assim expresso ao de indivíduos que ostentam capacetes espaciais.
Como quer que seja, é no antigo México que o mito da serpente se apresenta com
as evocações cósmicas mais espantosas. Já o sublinhamos nos trabalhos anteriores, mas
parece aqui interessante aproximar as conclusões e à documentação de Roberto Cal-
cagno, jovem pesquisador turinensc.
“Quetzalcóatl, o deus que tirou à México da ignorância e da miséria primitivas”,
escreve ele, “é representado, na maioria quase absoluta das esculturas e pinturas, ao
sair das fauces de uma serpente; mas de uma serpente incomum, visto que tem o corpo
recoberto de plumas longas e coloridas. O homem, o pássaro, a serpente, em suma,
perdem a respectiva individualidade para fundir-se de tal maneira que já não podem ser
considerados singularmente.
“A esta altura é lícito indagarmos o que teria induzido as mentes humanas a colocar
Quetzalcóatl em posição tão estranha, à conferir a um reptil escamoso, rastejante, ca-
racterísticas antitéticas como as penas, a unir os atributos que assinalamos numa enig-
mática comunhão.
“Talvez se procure à resposta fora dos esquemas costumeiros e demasiado rígidos
da ciência oficial. É uma resposta desconcertante, mas carregada de tantos elementos
que não se pode descartá-la a priori: é provável que o mítico personagem tenha chegado
à Terra a bordo de uma astronave.
“Como poderia um povo primitivo ou, pelo menos, num estádio de desenvolvimento
muito baixo, representar uma astronave luzente e afuselada a não ser associando a ser-
pente c o pássaro? À primeira tem a forma, o segundo possui o dom do vôo. E há
mais: na lingua pré-colombiana, Querzal era o pássaro, Cóail a serpente (Fig. 48).
“Numa lápide de Yaxchilán está magistralmente esculpida a cena do “desembar-
que”: o deus assoma, como de costume, à boca do reptil; traz a sua cabeça recoberta
de um estranhíssimo “capacete” provido de numerosas e inidentificáveis “aparelha-
gens”, completamente diversas das dos sacerdotes, como também de qualquer outro
chapéu.
“Em algumas estelas encontradas em Xochicalco o tema não muda, ainda que mude
à forma: no rosto de Quetzalcóatl, compreendido num oval delimitado pela língua
bifida e pelos dentes do animal (Fig, 49), há uma expressão enigmática. O realismo é
muito grande: temos à impressão de estar sendo escrutados por alguém que nos com-
templa através de um úculo. Em Tula, Chichén Itzá, Uxmal, em toda parte se repete a
representação, com os mesmos elementos”
Notemos, nestas representações, as linguas de fogo, as espirais onipresentes, das
quais mal falamos. Que dizer, portanto, das chamas despedidas por alguns atributos
singulares de Quetzalcóatl, tal como está reproduzido (Fig, 50), antes do seu desapa-
recimento, no chamado Código Florentino (livro II)?
Kiuhcoatl é outra "serpente de chama”, derivação e desdobramento de Xiuhtecuhtli,
o deus do fogo que “ajuda o Sol no seu curso no céu”: conhecendo Quetzalcóatl, não
nos surpreende vê-lo representado com garras (Fig. 51), com simbolos evocativos do

57
Fig. 36. E muito provável que
esta “pedra que olha”, descaber-
ta por Mário Salomone nas cer-
cantas de Caprice, no Vale de Su-
sa, tenha constituído, há tempos,
um “trampolim sacrificial”

astro que nos dá vida e, talvez, de constelações, como não nos surpreende ver os dentes
ao lado de membros indubitavelmente humanos, esculpidos por outro artista desconhe-
cido.
Nas zonas áridas do México setentrional, portanto — nota ainda Calcagno — en-
contram-se curiosissimas estilizações do reptil (Fig. 52), mais próximas das que foram
encontradas na Amazônia e na Libéria; o animal não só apresenta “seções” internas,
mas também apêndices que fizeram pensar em suportes para à aterragem!
São gravações que remontam ao período arcaico da América pré-colombiana: a ser-
pente rígida, de qualquer maneira, é representada de vários modos em todas as partes
do mundo; reconhecemo-la em plena pré-história, nos chamados “bastões de comando”
da Europa setentrional (Fig. 53), em misteriosos artefatos do Trentino, cujo uso nos é
desconhecido
Em algumas regiões ela se transforma num mágico trampolim para o espaço: suges-
tiva como poucos é a fotografada por outro apaixonado turinense, O Prof. Lamberto
Camerini, nas proximidades de Algajola, na Córsega: carcomida, transformada numa
forma alucinante pelos agentes atmosféricos, surge sobre uma rocha (Fig. 54), à cava-
leiro de uma caverna (Fig. 55), sem dúvida escavada em parte pela natureza e em parte
“retificada” pelo homem.
Esse monumento sem idade pode ser aproximado de outro, piemontês, descoberto
por Mário Salomone nas vizinhanças de Caprie (Vale de Susa). É chamado, em diale-
to, “a pedra que olha” (Fig. 56): e ela “olha” realmente para o vazio, sobre um desa-
prumo de vertigens.
Uma obra do acaso, uma esquisitice da natureza? Não, por certo: se não nos bastasse
dar-lhe uma olhada para convencer-nos, seria suficiente subir um pouco mais, até onde
abundam os sinais solares, que nos falam de ritos obscuros (Fig. 57).
Um “contraforte sacrificial”, portanto, de cujo topo as vítimas eram arremessadas
no abismo, em holocausto ao astro divinizado? Ou uma espécie de atrevido trampolim

58
ig. 57: Todubitiveis sinais sola
es se encontram ao lado “do
trampolim de Caprie”, a dizer-
nos que este não pode ser consi-
derado obra do acaso nem simbo-
lo fálico

a 58. A serpente e as estrelas


seiva elaboração do “trampo-
im pré-histórico no “templo dos
guerreiros” de Chichén tzá
Note-se a figura do sacrificante
com a cabeça felina
estelar sobre o qual o sacerdote avançava para juntar as mãos ou erguer os braços para
o Infinito?
Uma coisa e outra, talvez: não se faz preciso um grande esforço de imaginação para
distinguir a forma evoluída do “trampolim” nas saliências de pedra das grandiosas
construções mexicanas. Observemos, por exemplo, as de Chichén Itzá, com a forma de
enormes cabeças de serpente a olhar para as estrelas (Fig. 58), Do terraço em que se

Fig. 59. A famosa serpente emplumada


asteca, entfeitada de milhares de rurquesas

Fig. 60. A lareir; domeésti-


ca da Casa dos Vemit em
Pompéia. No alto o simbo
lo solar, embaixo um répnil
estranhamente semelhante à
certas representações da
serpente emplumada ame
ricana
Fig. 61. À serpente, o escorpião, o leão e
a “árvore da vida” num “kiduru”, pedra
confinal mesopotâmica da época dos
cassitas

Fig. 62. Sobre uma taça de pedra do Vale


do Indo, que data aproximadamente do
ano 2500 4, €,, uma figura humana aperta
nas mãos duas serpentes, como se quisesse
apoderar-se da sua força
encaixam, uma figura de jaguar fixa o Universo: é o "homem-gato” dos mitos america-
nos, a criatura “vinda das estrelas”. E, na alvorada e nó ocaso, os dentes do monstruo-
so animal de pedra parecem fechar-se sobre o Sol
Encontramos a serpente como simbolo da imortalidade com Esculápio, o deus grego
da medicina fulminado por Zeus por temor de que tirasse dos homens o medo da mor-
te, com Mercúrio (o qual, entre outras coisas, acompanha as almas ao além), no Cadu-
ceu, a famosa vara alada.
Ei-la ainda no México, com uma cabeça nas duas extremidades, representando uma
voluta sem fim (Fig. 59). Na sua reprodução pompeiana da Casa dos Vetrii quase que
se poderia confundi-la com a asteca: é verdade que só tem uma cabeça mas, em com-
pensação, estende-se sob o sinal solar, que conduz ao mesmo significado (Fig. 60).
Ei-la na China, feita homem pela metade, na Mesopotâmia, ao lado da eterna,
universal “árvore da vida”, dos leões c escorpiões (Fig. 61), (simbolos, estes últimos,
da existência além da morte), no Vale do Indo, onde uma figura humana o aperta na
mão (e nem aqui faltam os felinos), como se quisesse apoderar-se da sua força, dos
seus poderes (Fig. 62).
À mesma ânsia de dominação parece operar diretamente uma metamorfose na des-
conhecida divindade dinamarquesa de há 3.000 anos: os membros extremos se trans-
formam em serpentes; e os olhos assumem um aspecto que é, de fato, bem pouco ter-
restre (Fig, 63).

Fig. 63. Um “deus serpente” dinamarquês de 4.000 anos de idade


HI

OS FILHOS DA LUA

O PÁSSARO DESCOMUNAL volteava o céu, lento. As asas batiam com um rumor


sinistro, O corpo liso, sem plumas, cintilava ao sol. O monsiro enorme descia, Aterro-
rizados, os homens o fitavam, escondidos atrás das árvores, na orla da clareira.
Devia ser um lugar maldito, aquele. De noite apareciam coisas estranhas, que se
moviam no céu, à brilhar com uma luz que não dava calor. Por isso a gente o evitava, e
com razão, visto que o passarolo parecia havê-lo escolhido exatamente para fazer o
seu ninho.
o monstro tocou a terra, estremeceu e permaneceu imóvel. Os homens continuaram

a olhar para ele, retendo a respiração.


Durante alguns minutos não aconteceu coisa alguma. Sobre a clareira descera o si-
lêncio, até as aves haviam parado de cantar. Depois, de repente, algumas figuras bran-
cas apareceram perto do passaro, como se tivessem saido do seu corpo, e encaminha-
ram-se para a floresta, Alguns espectadores se afastaram, outros tentaram fazer o mes-
mo mas não o conseguiram, paralisados pelo medo.
Afinal uma figura se destacou do grupo, avançou, agitando as mãos. E os homens
abandonaram o esconderijo « correram ao seu encontro, gritando de alívio e alegria.

Fig. 64. Estes indígenas das Fili


pinas, os tasadais de Mindanau
(cuja existência so foi descoberta
em 1971) vivem em plena idade
da pedra
Haviam reconhecido o ser que os saudava: ecra Momo Dakelhdivata Tasaday, o Gran-
de Pai Deus dos tasadais, que voltava para o meio deles cavalgando um pássaro má-
gico!
Não se trata da reconstrução de uma antiga lenda, mas de um episódio real, acon-
tecido em junho de 1971, do descobrimento, realizado pelo etnólogo de Manila,
Manuel Elizalde, de uma tribo que vive em plena pré-história, precisamente a dos ta-
sadais (Fig. 64).
São pouco mais de cem indivíduos que moram nas vizinhanças do Lago Sebu, na
província de Cotabato da Ilha de Mindanau. A cerca de cem quilômetros, a civiliza-
ção moderna se manifesta em todos os seus aspectos, mas enquanto os vizinhos acom-
panham pelo vídeo as empresas espaciais, os tasadais constroem os poucos instrumen-
tos de que se servem com pedras c bambu, acendem o fogo esfregando durante uma
hora dois pedaços de madeira. Não conhecem a agricultura nem a criação de animais
domésticos, não têm a menor idéia do que sejam os metais, não curam os doentes e não
sabem contar além de doze.
O encontro casual com um membro de outra tribo, que se aventura no territónio
deles, ocorrido em 1966, fez que eles aprendessem a construir lanças, facas de bambu,
armadilhas simples: antes disso, caçavam e pescavam com as mãos o que podiam, ali-
mentando-se principalmente do miolo das palmeiras.
Nada de estranho, portanto, que vissem no primeiro homem branco que encontraram
o seu único deus (Divata, o “pai dos antepassados”), no helicóptero um pássaro mons-
truoso, nas várias fases lunares as “estranhas coisas que se movem no céu”.
A espessíssima floresta é o seu universo, o mar uma palavra sem sentido para eles
(nunca o viram), o céu “uma coisa alta” que só existe “lá onde não existem árvores”.
Durante a primeira entrevista, um pouco exaustiva, conduzida com a ajuda dos com-
ponentes de uma tribo cuja lingua tem elementos em comum com a dos tasadais, um
jovem disse, em síntese: “Só vemos a Lua quando, à noite, nos acontece estar em algu-
ma clareira, mas não sabemos para que serve e temos medo dela. O Sol, porém, vemo-
ló com maior frequência, mas não conhecemos o seu dono”

O homem que não podia existir

A descoberta dos tasadais, gente absolutamente primitiva que vivia, até ontem, à
dois passos do século XX sem o conhecer e sem ser conhecida dele (que não será, de
resto, a única, mas apenas à última em ordem cronológica), deveria induzir-nos à usar
de muita cautela no reconstituir a história do gênero humano, da sua evolução e dos
seus progressos.
Há quem considere o Procônsul (Fig. 65), que existiu há cerca de 20 milhões de
anos, e o Gigantopiteco (há 5.000.000 ou 10,000.000 de anos) “oriundos da mesma
origem genética da qual depois se originaram os homens e os símios antropomórfi-
cos”, e pode ser verdade. Mas o Plesiantropo do Transval, que viveu há 2.600.000
ou há 600.000 anos, aproximadamente, embora caminhasse em posição ereta e pos-
suísse dentes semelhantes aos dos humanos, não tem relação alguma conosco, exata-

64
Fig. 65. Um Procônsul (à esquerda) e um Plesiantropa (à direita), na reconstrução do Museu Britânico.

mente como nos são estranhos o (Fig. 66) Australopiteco (que viveu, mais ou menos,
há 600.000 anos) e o Pitecantropo de há 300.000 anos (Fig. 67).
Felizmente já se passou a época em que muitos estudiosos insistiam em impingir-nos
como antepassado o chamado Homem de Neandertal: tudo o que havíamos “anteci-
pado” em Antes dos Tempos Conhecidos (1964) já não é posto em dúvida, nem mesmo
pelos cientistas mais tradicionalistas; ao contrário, têm-se multiplicado as pesquisas
tendentes a encontrar os eventuais sobreviventes dos seres que, de 240.000 a cerca de
140.000 anos atrás, teriam dominado vastas regiões do globo.
No volume citado publicívamos duas fotografias de neandertalenses descobertos
alguns anos antes na África setentrional pelo Prof. Marcel Homet, o conhecido arqueó-
logo e antropólogo franco-alemão, De um deles não se sabe mais nada: o outro, aco-
lhido por uma comunidade localizada no Sul marroquino e batizado com o nome de
“Azzo”, morreu hã alguns anos, mas deixou descendentes, reencontrados em agosto
de 1970 por uma expedição do CALUGET de Turim formada pelo guia Emílio
Henry, pelo entomólogo Alexandre Rosserro, pelo explorador Willy Fassio, com a
preciosa contribuição do Dr. Alfredo Guillot, filho do embaixador da Itália em Rabat,
também estudioso apaixonado desses problemas
“Com base nos dados gentilmente fornecidos pelo Prof. Marcel Homet ao Dr.
Peter Kolosimo”, lemos na relação redigida por Fassio, “iniciamos a parte mais proble-
mática da nossa missão; a busca de indivíduos com características neanderralóides.
“A expedição se deslocava assim para o Sul, nos limites do Saara e precisamente na
região do oásis de Skura, nas vizinhanças do Rio Nei Dadés, com uma temperatura que
Fig. 66. O Australopiteco africano, que
viveu há 600.000 anos

Fig. 67. O crânio do “Homem de Pe-


quim” nó molde conservado no "Musée
de "Homme" de Paris: viveu há 300 mil
anos, apteadendo. 2 acender o: fogo a
fabricar instrumentos rudimentares de
pedra

em alguns dias beirava os 55 graus à sombra. Fora individualizada com êxito uma al-
deiazinha berbere chamada Iflan, onde pudemos aproximar-nos de alguns indivíduos
com características antropológicas muito estranhas e fotopgrafá-los (ape ar da proibi-
ção islâmica). Dentro do possível tentamos redigir uma breve história da proveniência

b6
+u
Fig. 68-69. Estas duas fotografias, como as das Figs. 7o « 71, foram tiradas pelo explorador turinense Willy
Fassio no násis marroquino de Skura. São as imagens dos descendentes de um dos últimos ncandertalenses
de que se fala cm Antes dos Tempos Conhecidos

desse grupo étnico, aproveitando as informações dos habitantes do lugar. O material


foi enviado ao Prof, Homet para que cle realizasse estudos mais completos.”
Como vemos pela documentação fotográfica (Fig. 68, 69, 7o e 71), aqui reprodu-
zida em parte, os descendentes de “Azzo” também podem, ainda que apenas parcial-
mente, adaptar-se aos costumes próprios da comunidade que os hospeda: as suas carac-
terísticas físicas, todavia, permanecem tais, a despeito dos cruzamentos (possíveis em
alguns casos, mas nem sempre, por leis que exigiram investigações profundas), que
impedem a classificação nos grupos étnicos conhecidos.
As surpresas — como veremos — estão apenas no começo. De qualquer maneira,
vamos dar agora um salto para trás: encontraremos no canyon de Santa Maria (Montes

67
Fig.7o Fig.71

Bronco, Estados Unidos) vestígios de cavernicolas que, há 1.000.000 de anos, já


conheciam a criação de animais, o cultivo da terra e sepultavam os seus mortos, depois
de havê-los mumificado (provavelmente tirando partido de agentes naturais), em sar-
cófagos de juta.
Vestigios igualmente antigos, se não mais, foram descobertos no que se definiu coma
o “novíssimo continente”, “Segundo alguns arqueólogos”, escreve o pesquisador R.
May, “o povoamento da Austrália remonta a bem mais de 8.000 ou 9.000 anos. Para
eles, a Austrália já seria habitada no fim do Terciário, há cerca de 1.000.000 de anos.
Ossos humanos descobertos nas grutas de Wellington, em pleno terreno terciário,
parecem sustentar essa teoria. À ser assim, o homem teria aparecido ali muito antes do
aparecimento do Pitecantropo de Java e do Sinantropo de Pequim.

68
Fig. 72. Entre gravações rupes-
tres da Valcamônica se distin
guem. nítidas, as que reproduzem
calçados,

“Hoje os aborigines australianos vivem como na idade da pedra... Não possuem


nada, não constroem cabanas... não têm embarcações nem utensílios... ignoram a es-
crita « transmitem, de geração em geração, com as suas lendas, as mensagens de um
passado remoto. No continente existem, porém, inscrições e pinturas rupestres” !8,
E são estranhissimas inscrições, estranhíssimas pinturas, cuja associação com as ex-
pressões artísticas (se assim se podem definir) dos atuais aborígines parece absurda,
“Absurdas” nos pareceriam também certas marcas de calçados que remontam a
tempos em que o homem — de acordo com a ciência oficial — não deveria de maneira
alguma conhecer o modo de proteger as extremidades inferiores contra as pedras e as
sarças. Entre as gravações rupestres da Valcamônica vemos sandálias muito bem de-
lincadas (Fig. 72), e os sinais de alguma coisa que se assemelha muitissimo a um sapato
estão impressos nos arredores de Caprie, no Vale de Susa (Piemonte) (Fig. 73): obser-
vados por Mário Salomone, são ainda chamados pelos habitantes do lugar “paradas do
diabo”: para a superstição popular, com efeito, só o Grande Maligno teria podido es-
tampar as suas pegadas na rocha.
Vestígios ainda mais surpreendentes nos esperam na Ásia e na América. “Em
1959", escreve uma revista moscovita *º, “sobre uma pedra coberta de saibro no deser-
to de Gobi se encontrou a marca de um calçado antigo, de milhões de anos, que re-
monta a uma época em que o homem ainda não existia. Os membros da expedição
paleontológica sino-soviética (dirigida pelo Dr. Chow Ming-chen) que realizaram a
descoberta, não puderam fornecer qualquer explicação”.
E, referindo a notícia, um estudioso acrescenta: “Uma marca descoberta em Sisher
Canyon (Condado de Pershing, Nevada) sobre uma pedra calcária do Triássico repro-
duz a sola de um sapato com vestígios de costura (Fig. 74). Como parece que não havia

18. Roger May, Paneport


pour Imvolitr, La Palatine, Genebra, Parts, 1969
19: "Smena”, NB, 1961

69
Fig. 73. A chamada “parada do
diabo”, descoberta por Mário
Salomone nas proximidades de
Caprie (Vale de Susa)

Fig. 74. Esta marca de uma sola


foi encontrada num estrato calcá-
rio de Nevada. Remonta, indubi.
tavelmente, a uma época anterior
à fixada pela ciência tradicional
para o aparecimento do homem
sobre a Terra
calçados na época dos dinossauros, devemos perguntar-nos quem estaria em condições
de fabricá-los. Só podemos chegar a duas conclusões: ou o homem apareceu na Terra
milhões de anos antes da época que lhe foi fixada pela ciência, ou visitantes provenien-
tes do cosmo desembarcaram em nosso planeta. E são duas conclusões igualmente
fantásticas" 2º,
Como o são, aliás, as sugeridas por outros documentos citados por Tomas.
“No século XVI”, recorda-nos ele, “os espanhóis encontraram um prego de ferro de
18 centímetros de comprimento no interior de uma rocha, numa mina peruana, cuja
idade orçava por várias dezenas de milhares de anos. Num país em que o ferro parecia
desconhecido, a descoberta, com toda a razão, foi julgada sensacional: Francisco de
Toledo, vice-rei do Peru, conservou aquele prego no lugar de honra no seu escritório”.
E ainda: “Ornamentos de platina foram descobertos na costa do Equador. Esta
noticiazinha suscita um grande problema científico: como puderam os habitantes da
América pré-colombiana obter temperaturas da ordem de 1.770” Celsius, aproxima-
damente, quando os europeus só as conseguiram há dois séculos”?!2
Ninguém, depois, foi capaz de esclarecer a composição de um recipiente em forma
de campana, com incrustações floreais de prata, de idade absolutamente indefinível,
surgido casualmente em consequência de uma explosão perto de Dorchester, em Mas-
sachusetts: trata-se de um metal inteiramente desconhecido. ??
Já fizemos alusão, em Não é Terrestre, ao crânio de um bisonte pré-histórico que
apresenta um orifício que parece o de um projetil. Falou a respeito o Prof. K. Flerov,
diretor do museu paleontológico da Academia de Ciências da U.R.S.S.; agora são
ainda os soviéticos que meditam sobre alguns documentos que vieram ajuntar-se aos
que suscitaram há vários anos, outras perguntas sem resposta.
“Ossos de avestruzes, camelos e ienas pré-históricas”, escreve a revista já citada”,
“foram descobertos em 1960 nas grutas de Odessa por T. S. Gritsai e 1, J. Yatsko. À
idade deles, mais ou menos, é de 1.000.000 de anos, e polarizou a atenção dos estu-
diosos o fato de se representarem cortados de modo habilíssimo. Os orifícios são per-
feitamente circulares, as cancluras, regularíssimas. Segundo o parecer dos entendidos,
os ossos devem ter sido seccionados com instrumentos metálicos e, em seguida, poli-
dos. Ora, de acordo com as opiniões correntes, não existiam, há 1.000.000 de anos,
indivíduos capazes de efetuar semelhantes operações! Mas, então, quem foi que cortou
os ossos?”
Reabriu-se a discussão após o exame dos crânios de alguns mamutes. E ela poderia
estender-se à América, embora associada a documentos muito mais recentes. Os “pro-
jéteis Folsom”, por exemplo (assim chamados por causa dos restos ao lado dos quais
foram encontrados, precisamente os do "Homem de Folsom”, que viveu no Novo Mé-
xico, 11-12.000 anos antes de Cristo) deixavam uma profunda ferida em forma de
fenda perfeita. São de pedra, medindo apenas $ centímetros de comprimento, seme-
lhantes a uma folha lanceolada; não eram pontas de flechas nem de dardos e, no en-

20 Andrew Tomas, Les Secrets de 1º Atlamtide, Rober Laflons, Panis, 196g


20. The Ancime Cioilrçation of Prru, Penguin, 1937
22 “Seenhfic American”,n 7-2 h9, junhode 1991
é “Smena”, no, 1961

n
tanto, serviam para a caça grossa « tinham uma força excepcional de penetração. Como
eram arremessados?
Não há resposta por ora, como não existe uma explicação aceitável para os “projé-
teis Clóvis”, encontrados a partir de 193 2 na fronteira entre 0 Texas e o Novo México,
e depois também a oeste de Naco, no Arizona. Estes têm um comprimento de 10-12cm,
remontam a 10-13.000 anos (mas os de Lewisville, no Texas, parecem ter, pelo me-
nos, 37-0001!). De que modo conseguiam penetrar 2-3 centimetros nos ossos cranianos
de um mamute? Ninguém, até agora, se viu em condições de explici-lo.

Os maias e os elefantes
Eilo, o caçador de mamutes: o seu esqueleto foi encontrado intacto, em Vladimir,
na União Soviética (Fig. 75). Viveu há 35.000 anos, era alto, ágil, de belo aspecto,
envergava calças « sapatos de peliça. Uma imagem muito diversa da que alguns textos
escolásticos nos apresentaram do homem primitivo. E pode dar-se que nos suceda en-
contrá-la ainda, em tempos mais remotos, quando — diz-nos à ciência tradicional —
os homens não “deviam” existir, quando ninguém deveria conhecer, por conseguinte,
animais que se extúnguiram antes do aparecimento de seres inteligentes sobre a Terra.
Entretanto, se voltarmos aos tambores de bronze vietnamitas, não poderemos deixar
de expressar algumas dúvidas a esse respeito. Neles notamos (Fig. 76), por exemplo,
um cervídeo, com as armas ramosas, que não se enquadra no tempo nem no lugar em
que “estaria” colocado, dois répteis (ou anfíbios) que, mais do que crocodilos, nos recor-
dam vertebrados de uma pré-história muitissimo distante; o da primeira fila corres-
ponde, de fato, à reconstrução da Kotlassia própria do Permiano (há mais de
225.000.000 de anos), ao passo que o da segunda, com o focinho alongado e a nada-
deira caudal, está muito próximo da forma da Archeria, que viveu no Carbonífero, há
mais de 280.000.000 de anos.
O “peixe” parece realmente um ictiossauro do Triássico (há mais de 195.000.000
de anos), o Omphalosaurus; a figura alada, no alto à esquerda, recorda o famoso Ar-
cheacopterix do último Jurássico (há cerca de 137.000.000 de anos); a do alto, à direi-
ta, o feroz Phororhachos, o pássaro carnívoro que viveu na América meridional (talvez
há 3.000.000 de anos), de uma altura aproximada de 3 m, com à cabeça grande
como a de um cavalo; e a figura embaixo é a do Ichtyornis do Cretáceo (há mais de
66.000.000 de anos).
As datações são impressionantes e é muito dificil aceitar a idéia de que tenha chegado
a épocas relativamente próximas de nós a sombra de animais que viveram quando o
aparecimento do primeiro hominídeo sobre a Terra não era sequer um presságio dis-
tante.
Pode ser que estejamos diante de deformações operadas por artistas desconhecidos,
de modo que nos sugiram, de forma totalmente casual, as aproximações que menciona-
mos. E se não se tratasse, pelo menos em parte, de deformações, como nos fazem sus-
peitar figuras muito semelhantes, encontradas em outras regiões asiáticas, na África e
na América meridional?

72
Fig. 75. O esqueleto de um caçador de
mamutes de 35.000 anos atrás foi encon
trado em Vladimir, na URSS: era um
homem alto, ágil, que vestia calças e sapa-
tos de peliça

Fig. 76. Desenhos da cultura vietnamita


de Dong-son parecem reproduzir, em
grande parre, animais que se acredita
extintos antes do aparecimento do ho-

DA>>>-
DAN 355 a]
73
Nesse caso (tendo-se em mente que as mencionadas datações, de qualquer mancira,
são muito imprecisas) só nos ficaria aberto o caminho para duas hipóteses.
A primeira se bascia na sobrevivência provada, além das épocas fixadas pela paleon-
tologia tradicional, de algumas criaturas pré-históricas. Recordemos, à propósito, o
estardalhaço suscitado pela captura do Coelacanthus, que se supunha extinto havia
$00.000.000 de anos, do Wampyroteuthis infernalis e do “molusco do Panamá”, que
se julgavam desaparecidos respectivamente há 170 « 300,000.000 de anos.
A segunda hipótese é a mais sensacional e nos descreve a existência de criaturas in-
teligentes, altamente evoluídas, em tempos remotissimos. À ciência oficial nega-a com
pertinácia, mas não podemos fechar os olhos diante das telhas e dos pavimentos encon-
trados no mesmo estrato geológico, próprio do cavalo americano de três dedos, que
existiu entre 30.000.000 e 6.000.000 de anos trás. da marca de pé humano de Cow
Canyon, em Nevada, que remonta aproximadamente a 30.000.000 de anos, das re-
presentações espetaculares de animais que viveram entre 18 5.000.000 € 130.000.000
de anos atrás, descobertas por Daniel Ruzo em Marcahuasi.
A esses dados, expostos com todos os pormenores disponíveis nos trabalhos prece-
dentes, podemos agora ajuntar outros, que julgamos igualmente interessantes.
Entre os enfeites que ornam o “calendário de pedra” de Tiahuanaco, o francês De-
nis Saurat, célebre pelas suas teorias sobre o pgigantismo, pensa haver reconhecido as
representações de cabeças de toxodontes, animais que se consideram desaparecidos na
América do Sul há pelo menos 3 ou 4.000.000 de anos; e é sintomático notar que
exatamente ali foram encontrados os restos desse grande herbívoro sobre ossos huma-
| nos?
Tomas, do seu lado, repós em discussão um achado sobre o qual a ciência oficial se
obstina em fechar os olhos desde 1924, ano em que a expedição arqueológica Doheny
descobriu no Canyon de Hava Supaii (Arizona setentrional) uma pintura mural de
origem desconhecida, que representa um tiranossauro. Os mumificadores do saber cui-
dam poder cortar a cabeça do touro proverbial afirmando que o maior carnívoro que
existiu sobre a Terra se extinguiu há 60.000.000 de anos, ou coisa que o valha. Mas é
um pouco difícil cortar o pescoço de um tiranossauro representado na sua forma ine-
quivocável?!
Outro desenho, em Big Sandy River, no Oregon, nos coloca diante de um estegos-
sauro, que viveu muito antes, há uns 130.000.000 de anos. Que dizer, afinal, do pte-
rodáctilo que nos saúda do outro lado de um abismo de 137-66.000.000 de anos, ou
dos ornamentos da louça cocle encontrada nos arredores do Panamá?
Tudo impossível, naturalmente. Como seria impossivel pensar, por exemplo, que um
artista da obscura Idade Média estivesse em condições de reproduzir monstros pré-
históricos, cujo aspecto só nos é conhecido graças às longas pesquisas e aos estudos
minuciosos dos entendidos modernos,
Não obstante, por um acaso estranhissimo, aqueles monstros nos contemplam do
alto das maiores catedrais, dos castelos antigos, dos museus, O soviético Agrest susten-

24, Denis Saurar, L'Aulamende et le Régre des Géame, Editions [ai Lu, Paris, 1969
24 Andrew Tumas, Les Sewrets de |" Adlamtide, Rober Laffont, Paris. 196

74
Fig. 77. À representação de uma !
estranha criatura semelhante a
um sáurio, exposta no museu de
Como.

ta poder identificar, nestas representações, centenas de animais que realmente existiram


há milhões e milhões de anos. E pergunta a si mesmo, perplexo, diante de um ser de
pedra semelhante ao exposto no museu de Como, se se trata da imagem de um tira-
nossauro ou da imagem de um Sansisuchus, um dos primeiros arcossauros, encontrado
na China nos depósitos do primeiro Triássico, o período que vai de 225 a
195.000.000 de anos antes da nossa era (Fig. 77).
Também no que concerne à existência e à distribuição dos mamíferos no passado,
muitas noções estão sendo reexaminadas. O elefante, por exemplo, não “podia” exis-
tir — segundo a ciência oficial — ao lado dos monstros da Era Secundária, nem “de-
via” encontrar-se na América pelo menos de 7.000 anos a esta parte.
Fig. 78. Dois clefantes encostados dorsalmente, montados por condutores, são visíveis na “estela Bº de
Copán, em Honduras. Deve-se a observação ao estudioso britânico Alfred P. Maudslay

Entretanto, como lembra Verril*, no Panamá, entre os vestígios da civilização


cocle (a mesma que nos transmitiu a imagem do pterodáctilo) encontramos a figura de
um elefante, com uma grande tromba, orelhas semelhantes a grandes folhas franjadas
e uma albarda sobre o dorso.
Na chamada “estela B” de Copún, em Honduras, em seguida, vemos dois paquider-
mes encostados dorsalmente, montados por condutores. São elefantes: ninguém, obser-
vando-os, poderia pô-lo em dúvida (Fig. 78). No entanto, os pontífices do saber, par-
tindo do dogma segundo o qual, os grandes proboscídeos estariam extintos há milê-
nios no “Novo Mundo”, mergulham diretamente no ridiculo, sustentando que se trata
de papagaios estilizados!
Papagaios com trombas, presas recurvas, cavalgados por três guerreiros maias? Não
é à toa que o estudioso James Leslie Mitchell manifesta a suspeita de que alguns ar-
queólogos tradicionalistas mutilaram a figura da direita para suprimir as provas que
contrariam as suas teorias, sem, todavia, conseguir levar a termo a obra de vandalis-
mo?,
Mas há mais: em Marcahuasi, a enigmática plataforma deserta a 3.800 metros de
altitude no Peru, a oeste da Cordilheira dos Andes, Daniel Ruzo descobriu, ao lado
das esculturas que figuravam espécies extintas, que viveram há 185 a 130,000,000 de
anos ?, representações de elefantes, bovinos e cavalos, animais que não existam na
América na época do desembarque de Colombo!

26. AH. Verill, Old Ciiliqation of the Nes World, The New Home Library, Mew York, 194%
47. JL. Mitchell, The Conqueu of the Maya, Dutton, New York, 19sp
28. Nãoé Terrestre, já atado.

76
Ursos celestes
O Shasta, que se eleva a 4.320m na Sierra Nevada, no norte da Califórnia, é um
monte muito estranho. Ainda não completamente explorado mercê da sua natureza
hossil, é teatro de misteriosos fenômenos, que deram origem a rumores nem sempre
controláveis, mais do que fantásticos. Fulgores repentinos se acendem nas suas verten-
tes, brilham luzes fixas que alimentaram lendas sem número: falou-se em “discos voa-
dores”, numa cidade secreta habitada pelos herdeiros de antiga civilização, ou por
seres extraterrenos, E não são poucos os viajantes que afirmam haver encontrado em
suas fraldas curiosos individuos vestidos de branco, seres “não de todo humanos”,
criaturas semelhantes a yetr, ursos gipantescos quase invulneráveis.
“Tinha um comprimento de cerca de 3m ”, conta um caçador de Oakland, James
Barton, referindo-se precisamente a um plantigrado semelhante. “Para dizer a verdade,
não me ameaçava e, até pelo contrário, procurava enfiar-se na espessura de um bosque.
Mas diante de uma possível presa desse gênero, eu não podia deixar de disparar. Tenho
a certeza de haver atingido o animal, mas este deu apenas sinais de furor: ergueu-se
sobre as patas traseiras, escancarou as fauces, e estendeu as garras na minha direção,
como se quisesse ad vertir-me que não tentasse repetir o > golpe. Depois voltou-se e, com
a maior calma do mundo, desapareceu entre as árvores.”
O Sr. Bartoné também apaixonado de paleontologia e jura ter-se visto em presença
de um Ursus spelaeus (Fig. 79), antigo habitante de tantas cavernas. Mas não é só isso:
muitos outros caçadores, possuidores de algumas noções científicas a esse respeito, ma-
nifestam a mesma convicção ao falar das suas aventuras nas cadeias de montanhas que
se estendem das regiões norte-ocidentais estadunidenses às canadenses.
É verdade que na Peninsula do Alasca e em diversas ilhas que a flanqueiam vivem
gigantescos ursos pardos (Fig. 80), coma o Kodiak ou Spelaeus gygas, o Ursus arctos
middlendorffi, que podem atingir 3m de comprimento, com um peso de 700-800kg,
e também é verdade que alguns desses plantigrados desceram para o sul ao longo da
costa, mas disso não resulta que tenham alcançado os montes californianos. Por outro
lado, as narrativas de Barton e dos seus colegas parecem ser confirmadas por gigantes-
cas marcas frescas, obscrvadas perto do Shasta, nas imediações de Grants Rass (Ore-
gon), de Yreka, Redding c Red Bluff. Lembremos, à propósito, que não longe deste
último centro foi filmado o famoso “homem das neves” norte-americano?
À ciência situa o periodo da existência do urso das cavernas aproximadamente entre
go e 40.000 anos atris, bascando-se em achados, numerosíssimos na Europa. Nas
cavernas suíças de Wildkirchli, Wildenmannlisloch e Drachenloch ("Buraco do dra-
gão”) foram encontrados os restos de mais de 1.000 desses animais: 5.000 se desco-
briram a 200m da chamada Drachenhôhle ("Caverna do dragão”) perto de Mixnitz,
na Estiria e, no interior da própria Drachenhôhle, uns ç0.000, amontoados no correr
de milênios sem conta
Ao lado deles, cobertas de uma fina crosta estalagmítica, divisam-se amiúde na argila
muitas marcas de pés humanos. As da gruta ligurina de Toirano (Fig. 81) são atribuí-
das a neandertalienses ", mas não faltam, em outros lugares, rastos de Cro-Magnon,
2y O Planeta Desconbréido, já citado
so. E. Tongiorg- Ni Lamboglia, La Gravadi Tosramo, Instituto Naziunale di Studi Liguri, Bordighera. 1967

77
Fig. 79: O único esquelero de urso das cavernas encontrado inteiro: for descoberto na
Suíça, a 1.477m acima do nível do mar, e está exposto no muscu de Sankt Gallen

Fig. Bo. Em cima, csânio do urso pardo dos nossos dias: embaixo, o de um urso das ca
vernas, que viveu há 70.000 anos
com pegadas indefiníveis, como as austríacas, que poderiam fazer pensar em raças !
desconhecidas.
Ainda em Toirano, como, de resto, em numerosas outras cavernas, vêem-se, ao lado
das marcas, os vestígios (Fig. 82) dos grandes plantíprados. Sobre estas impressões
divergem os pareceres dos estudiosos: alguns as atribuem à “ginástica” dos animais
depois do período de letargo, outros pensam, ao contrário, nos movimentos desespe-
rados feitos para se libertarem dos laços armados pelos caçadores.
Ninguém talvez possa dizer jamais uma palavra certa a esse respeito. Seguro, porém,
é um fato: já os homens pré-históricos faziam do urso à meta do culto que, no seio de
vários povos, se manteve vivo até os nossos dias. Na Drachenhóhle, com efeito, reali-
zou-se uma descoberta espantosa: a de um sarcófago de pedra que, aberto, mostrou
sete crânios de Ursus spelaeus bem conservados, cuja idade se calcula em cerca de
70.000 anos!
Por que os ocupantes da caverna estiriana se dariam ao trabalho de sepultar as cabe-
ças dos animais com tanto cuidado? Provavelmente por motivos análogos aos que
induzem até hoje certos grupos de finlandeses, como os morduínos, os ostiacos, os si-
nenos e os votiacos russos, a tributar ao urso honras que nos seriam incompreensíveis
'se não tivéssemos a possibilidade de compará-las com outros costumes curiosos.
Nenhum tungu mata um urso sem finalidade. E não é a força do animal que assusta
a gente siberiana: para ela, o plantigrado, como o homem, também possui uma alma.
“E existe entre eles uma velha crença”, recorda Ivar Lissner, “segundo a qual o urso
teria relações com o Senhor da Montanha e o Senhor do Céu (...) O homem que fizer
amizade com o urso terá sorte (...) Importantissima é a cerimônia pela morte do urso,
colocado sobre uma árvore ou sobre uma alta plataforma”*!, Exatamente como os
corpos dos homens dispostos de modo que lhes facilite a ascensão!
Os ainos (antigos habitantes do Japão, que hoje só se encontram nas ilhas de Saca-
lina e do Hocaido), que ainda praticam a matança ritual dos plantígrados, considera-
vam-nos “intermediários entre os homens e os deuses”, os guiliaques (Sacalina c foz do
Amur) os definiam como "filhos da Lua” e os lapões viam neles os seus progenitores.
Estes elementos comuns são realmente tão numerosos que não podemos pensar em
simples coincidências. E ficaremos ainda mais surpresos se considerarmos que os indios
iroqueses (São Lourenço, Erie, Ontário) sepultavam os seus mortos envoltos em peles
de urso, encerrados em cascas de árvore, ao passo que os maidos californianos praticam
até agora uma festa fúnebre, durante a qual alguns fantoches, que representam os de-
funtos do ano, são vestidos com a pele dos plantígrados, colocados dentro de um re-
cinto circular e atirados às chamas “a fim de poderem voltar ao céu do qual vieram!”
É possível — como diz Lissner — que seres primitivos tenham visto no modo de
andar, no comportamento, em certas expressões do urso “qualquer coisa de humano”,
mas isso não basta para explicar as crenças, os mitos, as cerimônias de que falamos, que
parecem ter claras e impressionantes evocações cósmicas.
Não poderia, pois, existir um liame entre as lendas do setentrião curopeu, asiático,
americano, e as dos homens “de pele dupla” que floresceram em quase todas as partes
do globo? Em outras palavras, a pele do plantigrado não poderia recordar um maca-

44 Ivar Lissner. Abr Gott nar da, Walter-Verlag, Olten, 1qão.

80
Fig. 82. Os pés dos homens e as patas dos ur pantescos deixaram na gruta de Toirano sinais cuja auten
ticidade é garantida osta estalagmitica que os recobre
cão, destinado a proteger visitantes desconhecidos, de um passado distante, contra
condições atmosféricas e climáticas proibitivas para eles?
“Os historiógrafos”, escreve justamente 0 acadêmico soviético [. A, Efremov, “des
veriam dar provas de maior respeito pelas antigas tradições e pelo folclore. Os cientis-
tas ocidentais ostentam uma espécie de esnobismo em relação aos que não partilham
de suas opiniões, e os definem com desprezo como “pessoas comuns” ”
E o francês Louis Charpentier: “Julgamos hoje que só o intelectual é “civilizado”.
Já não conseguimos compreender os traços materiais que perduram em nós, tendemos.
a considerá-los fruto de uma certa barbárie e de um pensamento sumário. Em resumo,
somos incapazes de cscapar dos nossos esquemas atuais para procurar chegar a outros,
diferentes. Entretanto, sem as civilizações passadas, a nossa não existia, € ainda es-
taríamos ocupados em caçar animais selvagens e, talvez, a devorar-nos reciprocamente”,

82
IV
CAVALEIROS DAS ÁGUIAS

Não EXISTEM TRAÇOS de pitecantropos nem de neandertalienses na América. Exis-


tem, em compensação, testemunhos inquietantes que contrastam com as idéias da
ciência oficial acerca dos antigos habitantes do “Novo Mundo”, Ela nos fala, como é
sabido, em migrações asiáticas ocorridas através da "passagem de Bering: não duvi-
damos que isso tenha acontecido mas, com toda a probabilidade, verificou-se pouco
antes do ano 2000 a.C.
De onde apareceram, então, os “índios” brancos de cabelos claros e olhos azuis
encontrados no início de 1969 no Urubamba, aos pés dos Andes peruanos (Fig. 83),
pelo explorador hamburguês Dietmar Carsten? Há quem os diga descendentes dos
viquingues desembarcados na América antes de Colombo: é verdade que o grande
navegador (como mais tarde os conquistadores espanhóis) encontrou indivíduos seme-
lhantes, tanto no centro quanto no sul do continente. Considerando que as primeiras
expedições escandinavas foram efetuadas por volta da metade do século XIV”? e que,
a partir dessa data, os poucos sobreviventes deveriam ter-se fundido com os indígenas,
perdendo rapidamente os seus caracteres originais, só podemos ficar perplexos
(ig 84).
E ficamos ainda mais em dúvida quando somos obrigados a constatar que os “bran-
cos da América” olham para nós de épocas bem mais remotas. O caçador de mamutes
descoberto por Helmut de Terra no Vale do México pereceu, sem dúvida, no decurso
da sua malograda expedição, e é quase certo que pertencia à nossa raça. Nem podem ser
classificados de outra maneira o celebérrimo Quetzalcóatl barbudo, cuja imagem se
destaca sobre um vaso (Fig. 85) de Teotihuacán, e o "homem de Palenque” represen-
tado — igualmente com barba — no lugar onde uma lousa tumular parece querer re-
trodatar, quem sabe quantos séculos, a história da astronáutica. E há mais uma coisa
que nos deixa desconcertados: ao lado dessa representação se destaca a figura de um
rosto enigmático que parece fechado num capacete espacial (Fig. 86)!
Não nos esqueçamos do soberbo "Cavaleiro da Águia” asteca (Fig. 87), de traços
que nos falam de uma raça que de “indigena” (em nossa acepção) tem muito pouco; €
tenhamos em mente a simbologia cósmica daquele povo para o qual as ordens militares
dos Cavaleiros da Águia e do Jaguar refletiam “a guerra entre o dia e a noite”: preci-
samente “da noite eterna”, da escuridão do espaço, haviam descido, segundo a tradi-
ção, os “homens-jaguares” ou “homens-gatos”, dos quais, embora já nos tenhamos
ocupado deles, tornaremos a falar.
Os astecas surgiram no altiplano central do México no alvorecer do século X a,C.:
apesar de todas as hipóteses que se formularam, o seu lugar de origem permanece incer-

32 Antes des Tempoi Conhecidos, já citado

83
Fig. 84. Uma jove
estranha tribo
Uiubamba “com os séus do
sissimos pimpolhos

Fig. 85. O barbudo Quetraleóal


no fragmento de um vaso teo
uhuacano
Fig, 86. À figura de um homem barbudo ao lado da que poderia parecer uma “máscara espacial” no “templo
XVII de Palenque

to: seja como for, eles se diziam oriundos da mítica Aztlán, a “desaparecida terra do
Oriente” com a qual alguns estudiosos identificam a Adântida *
“O Codex Vaticanus A-3 738", nos diz Tomas, “contém uma cronologia muito sig-
nificativa da história asteca, O seu primeiro ciclo teria terminado com um dilúvio de-
pois de uma duração de 4,008 anos; o segundo, de 4.010 anos, ter-se-ia concluído
com um tremendo furacão; o terceiro, de 4.807, com furiosos incêndios. Durante o
quarto período, calculado em 5.042 anos, a humanidade teria padecido pavorosas ca-
restias, ao passo que o último teria começado no ano 751 a.C. A duração total dos
quatro ciclos mencionados pelo código é de 17.861 anos: sendo assim, o seu início
estaria fixado na data, incrivelmente remota, do ano 18.612 antes de Cristo”!

4 Nãoé Terrettre, já citado


34. Andrew Tomas, Les Secrem de Aulantide, Robers Laliont. Paris. 199
Fig. 87. À famo-
sa cabeça do
“Cavaleiro da
Águia” asteca

Também em relação aos maias, parece que os conceitos tradicionais devem ser radi-
calmente revistos. “O seu calendário”, escreve ainda Tomas, “nos apresenta ciclos de
2.760 anos. O início de um deles está fixado no ano 3373 aC. Três periodos de
2.760 anos (ou seja 8.280 anos), a partir de 3373 a.C., nos levam, portanto, ao ano
11653 antes da nossa era”.
"É quase certo”, afirma Richard Hennig, “que as tradições maias recordam aconte-
cimentos siderais que remontam ao 9º milênio antes de Cristo"**. E Tomas continua:
“O Bispo Diego de Landa escrevia em 1566 que, no seu tempo, os maias fixavam o
início do seu calendário numa data correspondente ao ano 3113 a.C, No dizer deles,
outros $.12$ anos haviam transcorrido anteriormente: o que fixaria a origem dos pró-

33: Richard Heonig Les Grandes Énigues


de "Univers, Robert Laffont, Paris. 19y7
prios maias no ano 8238 a.C., data bem próxima da do cataclismo que destruiu à
Atlântida”.
É interessante notar, ao lado destas considerações, que os egípcios, com os seus
cálculos sobre ciclos solares de 1.460 anos, nos permitem estabelecer o início do seu
calendário (partindo da última “época astronômica”, isto é, de 139 d.C.) no ano
11542 a.C. Por sua vez, os assírios, bascando-se num calendário lunar, dividiam o
tempo em periodos de 1.805 anos. O último desses periodos terminou em 712 a.C.;e,
calculando 6 ciclos lunares, remonta-se ao ano 11542 a.C. O calendário egípcio e o
assírio coincidem, portanto, com pasmosa exatidão, no que concerne às suas origens!

Uma deusa de minissaia

Certas raças antiquissimas se impuseram e se extinguiram, deixando-nos vestígios


demasiadamente escassos e vagos para que se possam traçar ao menos algumas fases da
sua história.
Quem eram os “homens-gatos” que imprimiram a sua marca enigmática em tantas
reproduções e tantas lendas da América central e meridional? Talvez fossem os que
nos são recordados pelas belíssimas caveiras esculpidas em blocos de cristal (Fig. 88),
em tamanho natural, pelos mixtecas c astecas. "E deveras assombroso”, acentua um
estudioso, “que aqueles artesãos tenham conseguido reproduzir obras tão requintadas
(Fig. 89) com instrumentos de pedra”. Mas quem nos diz que os instrumentos utiliza-
dos eram realmente de pedra?
Outras raças nos contemplam de um passado para nós fechado com os proverbiais
sete selos. As raças — diversíssimas entre si — representadas em alguns misteriosos
colares (Fig. 90) do “Novo Mundo”: um maia barbudo, o indivíduo de cabeça alon-
pada de Pomona (Honduras britânica), o rosto de um ser centro-americano inclassifi-
cável.
Igualmente indefinível é o chamado "Xipe Totec”: deveria ser uma divindade aste-
ca (Fig. 91), mas os seus traços são tais que já houve quem aludisse à representação
de um cruzamento entre os índios é o famoso "homem-gato”,
Encontramos este último também na sinistra Ilha de Páscoa (Fig. 92) ao lado de um
ser barbudo de orelhas compridas, de uma estranha “mulher” que carrega um peixe
sobre os ombros e de uma figura em que se viu uma baleia com uma cabana de juncos
sobre o dorso: se assim fosse, as duas esculturas marinhas poderiam referir-se à lem-
brança do dilúvio em duas das suas versões conhecidas.
Não é só: em 1971, graças ainda à obra apaixonada de Mário Salomone, desco-
briu-se no Piemonte (Villarfocchiardo, Vale de Susa) um mascarão (Fig. 93) esculpido
na rocha, que lembra muito de perto certas representações sul-americanas primitivas
das “criaturas de cabeça chata”. Se não for arbitrária, qualquer aproximação será por
certo audaz. Seja como for, devemos notar que a descoberta pelo arqueólogo turinense
éa única reprodução européia que evoca a de além-mar.
Pura coincidência? Talvez. Mas a arqueologia está tão cheia dessas “coincidências”
que não podemos deixar de ficar sugestionados. À curiosa cabeça humanóide (Fig. 94)
da idade de Han (de 206 4.C. a 25 d.C.), por exemplo, nos conduz a muitas escultu-

87
Fig. 88. Uma
belíssima caveira
de cristal de pro-
vável ongem
mixteca: Os seus
traços recordam
os do “homem-
gato”

Fig. 89. À cavei


ta humana escul-
pida pelos aste-
cas, em tamanho
natural, num
úmco bloco de
cristal
+ ras polinésias em madeira, que refletiriam as feições dos “deuses com duas cabeças,
vindos do fogo”, Não sabemos o que se quer dizer aqui com “fogo”, se bem que al-
guns estudiosos aludam a possíveis mutações ocorridas em época remotissima depois de
cataclismas que teriam acarretado, entre outras coisas, tremendas erupções vulcânicas;
curioso, todavia, é o fato de que a figura chinesa mostra na testa duas protuberâncias.

Fig. go (acima), d esquerda: um pingente


maia que representa um rosto barbudo. Ao
emtro: um brinco de Pamona (Honduras
Britânicas) À direita: uma máscara cen
tro-americana de tipo inclassificável

Fig. 91. Uma figura asteca em relevo, feir-


ta de pedra, do deus Xipe Toted. Racial
mente parece indefinível.
Fig. 92. Algumas es
tranhas esculturas do
tardio periodo pascoa
no: um ser barbudo de
orelhas compridas
uma “baleia com uma
cabana de juncos no
dorso”, em coma; uma
curiosa caveira c uma
“mulher com um peixe
sobre os ombros”,
embaixo.

Fig. 93: O estranho


mascarão — descoberto
por Mário Salomone
perto de Villarfoc
chiardo, no Vale de
Susa (Piemonte) recor
da, um acaso singular,
a raça americana extim.
ca de crâmo achatado
sy;
WI! Al) Vig
pai

Fig. 94: (Em cima, à esquerda): Um ornamento chinês da idade de Han (206 a. C 25d C)nos traz
à mente os “deuses com duas cabeças, vindos do fogo"; Fig. 95. (Em cima, à direita): As inexplicáveis es-
culturas da “Porta do leão” de Boghazkôy não somente antecipam por vários séculos as obras análogas dos
assírios, mas também recordam os traços das estátuas pascoanas; Fig. 96. (Embaixo): Dois “gigantes de
pedra” da Ilha de Páscoa.
Na “Porta do leão” de Boghazkôy (Anatólia central), entre as curiosas esculturas !
(Fig. 95), que, segundo os arqueólogos, se antecipam em vários séculos às obras análo-
gas dos edifícios assírios, podemos ainda hoje admirar cabeças de pedra. Estas, embora |
consumidas pelo tempo e pelos fenômenos meteorológicos, recordam mais ou menos
de perto os misteriosos monumentos da Ilha de Páscoa (Fig. 96).
Ao contrário, afigura-se-nos totalmente enigmática, a chamada “Deusa mãe” de
Mohenjo-Daro, centro da desconhecida civilização que floresceu onde é hoje uma ilho-
ta do Rio Indo, a sudoeste de Sukkur (Paquistão). Pelo que concerne aos traços mais —
notáveis dos seus restos, recordemos o que escrevi em Antes dos Tempos Conhecidos:
“A construção mais notável é uma piscina, outrora coberta, com 12m de compri-
mento e 7 de largura, junto da qual se erguem um banho de vapor e um sistema de
aquecimento por meio de ar quente. A rua principal corre de norte para o sul, com um
comprimento aproximado de 1 km (nos limites, naturalmente, da amplitude própria
das escavações efetuadas) e uma largura de tom. Todas as casas são construídas com
tijolos parecidos com os nossos, com um, dois, talvez três pavimentos, segundo uma
técnica aperfeiçoadíssima: cada habitação possuía a própria instalação de água corrente,
o próprio banheiro, os próprios serviços higiênicos, não só no andar térreo, mas tam-
bém nos pavimentos superiores (infelizmente destruídos), como o demonstram clara-
mente as tubulações. Tal é o sistema de canalizações da cidade, que basta a opinião dos
técnicos ingleses para defini-lo: "Nós, hoje, não poderíamos fazer melhor” ”
Com esta “modernidade” estã perfeitamente de acordo a estatueta à que aludimos,
de uma dama que traja uma audacíssima “mini-saia”, com um colar c um cinto que fa-
riam inveja a uma moça dos nossos tempos (Fig. 97). Duas coisas, porém, não se adap-
tam ao quadro que nos sentiríamos tentados a traçar depois desta descrição: o chapéu,
de estrutura inexplicável por vários motivos, c as feições da “parota” que não se podem
dizer atraentes.
Nem mesmo as figurinhas encontradas nas vizinhanças da Cidade do México (deve-
mos as fotografias ainda à cortesia de Roberto Calcagno) são muito atraentes do nosso
ponto de vista: trata-se de estranhissimos homenzinhos (Fig. 98), alguns com a cabeça
formada de um oval quase perfeito; outros com o crânio alongado no alto, que se var
afinando, como se eles usassem um fez (não existem traços, porém, de cobertura para a
cabeça); outros ainda com protuberâncias posteriores.
Tais características poderiam fazer pensar em deformações cranianas praticadas em
diversas partes do mundo, da África central às Novas Hébridas, da Indonésia e da
Polinésia à América ocidental, As figurinhas, contudo, nos vêm da cultura olmeca, à
qual eram estranhas as deformações desse gênero. E mais: trata-se da civilização que
nos deixou as conhecidíssimas e monumentais cabeças dos “homens-gatos”**!
Digno de consideração é o fato de as estatuetas serem diversamente coloridas,
(Fig. 99). entre elas vemos algumas verdes, outras vermelhas, outras ainda brancas e,
se excluirmos as próprias deformações, os traços dos rostos parecem refletir todas as
raças existentes, juntamente com algumas que não estamos em condições de clas car.
Outro particular que nos impressiona é a presença de obeliscos (Fig. 100) junto à

36. Antes dos Tempos Conhecidos, já citado

92
Fig. 97. A “deusa de minissaia” de
Mohenjo-Dara

Fig 98. Asestranhas e álucinantes figuras


descobertas nas proximidades da Cidade
do México
Fig. 99. As estatuctas mexicanas, amibuidas à cultura olmeca, são diversamente coloridas: verdes, vermelhas
e brancas. Parecem refletir, também nos traç s as raças existentes, co as absolutamente ini-
denuficáveis

Fig, 100. Um particular curioso é repr t ela presença de colunazinhas cilíndricas ao lado das esta-
tuctas de suposta origem olmeca. Tra É » ao cosmo? Ás tradições falam em “lanças
céu
ess
Fig. 101. Um totem neozelandês, extraordinariamente semelhante aos
americanos.

Fig. 102. Misteriosos rostos “não indigenas” representados num totem


dos indios haidas, da costa norte-ocidental americana

essas representações. Não esqueçamos que os olmecas co-


nheciam a estela e lhe atribuiam (pelo que nos é dado saber
das suas tradiç es, recolhidas por outros povos) significa-
dos estranhamente associados ao cosmo: as civilizações
que se desenvolveram sob o influxo olmeca nos falam
desses monólitos como de “lanças” (ou pontas”) desti-
nadas a “transpassar o céu”.
Será que os antigos habitantes do Golfo do México,
reunidos não sabemos como, vindos ninguém sabe de
onde, adoradores da Lua, dirigidos outrora por “um po-
derosíssimo mago”, guardiães de “ciências esquecidas”,
conservavam imprevisíveis lembranças cósmicas? Ou
haviam recebido certas noções assombrosas que possuíam
diretamente de astronautas da pré-história? Há quem não
vacile em sustentá-lo.
Habituados como estamos a definir como “de raça ver-
melha” os americanos pré-colombianos (o que só é exato
em parte). poderia parecer-nos sugestiva uma referência

95
aos primitivos obeliscos que, com uma altura média de 2,$m, surgem (divididos em dois
grupos, um de 150, o segundo de uns 30) numa localidade chamada Toundinaro, a
16km de Niafounké, no Níger. Os indígenas atribuem sua construção aos bagaras,
lendários "homens vermelhos” que, no passado, teriam reinado naquela zona, como
se depreende dos achados de restos humanos, “juntamente com raças diferentes, que
viveram em época muito remota” ”,
“Encontram-se “vermelhos” ”, afirma por seu turno Charpentier, “tanto na América
quanto na bacia oriental mediterrânea. Vejamos os ghomaras (os vermelhos”) nos
arredores da cidade santa de Chaouen, no Rif. A palavra fenício significa vermelho, e os.
fenícios ocuparam, além das praias do Mar Vermelho, toda a costa da Ásia do Orien-
te-Próximo, com numerosas ilhas, como Mileto, Creta. Notemos que os egípcios cha-
mavam aos cretenses keftin e os representavam imberbes, com a pele vermelha, exata-
mente como os próprios fenícios” *.
Ainda à propósito de monumentos em forma de coluna, falemos algo sobre os to-
tens. Da Oceânia à América, neles encontramos a representação, através de rostos de
fisionomia familiar, de raças distantes, às vezes desconhecidas. E a multiplicidade das
expressões frequentemente nos deixa estupefatos, como diante de um totem dos haidas
(Fig. 102), ameríndios da Ilha da Rainha Carlota (Canadá ocidental), encimado por
uma estranha figura animal. Representaria o “deus vindo do céu”, o “grande mestre
de todos os homens”, isto é, daqueles esculpidos nos totens neozelandeses (Fig. 101),
de que os haidas se achavam separados por distâncias inimagináveis e de cuja existên-
cia, a rigor, não poderiam ter a menor idéia!

O monstro vindo do frio

No princípio foram os símios. Não exatamente no princípio, mas quase. Antes deles
surgiram no globo seres que “vagavam de rojo e sem meta”, e foram aniquilados:
“O coração do Céu suscitou um dilúvio e cairam grandes águas... resina líquida preci-
pitou-se do céu, a face da Terra se obscureceu, e principiou uma chuva negra, de dia e
de noite...”.
Assim se exprime o Popol Vub, descrevendo-nas, depois, o desuno daquelas criatu-
ras: "Diz-se que os seus descendentes são os simios que hoje vivem nas florestas. Neles
se podem reconhecer aqueles cuja carne foi feita de madeira pelo Criador e pelo Forma-
dor. Por isso o macaco se parece com o homem, como lembrança de uma criação hu-
mana, de homens que outra coisa não eram senão fantoches de madeira".
A “bíblia maia” poderia resumir-nos assim, em forma de lenda, a história da evo-
lução e das catástrofes que perturbaram o nosso planeta. Uma síntese nos é oferecida
por uma ilustração do Código Vaticano Aó6, (Fig. 103) que nos mostra Quetzalcóatl

7: Roger May, p.900 Siêcles de Mystóres, La Palanne, ParisGenebra, 1954


48. Lowis Charpentier, Les Géantr et le Myutére des Origines, Robert Laflont, Paris, 1969
39: Day Buck des Rates, Popol Vub, Eugen Diederichs Verlag. Diússeldork-Colómia, 1967. De Noé Terreure.
Fig. 103. (d esquerda): O “Código Vaticano À 6º nos apresenta Quetealcóat) como divindade criadora
cercada de seres informes, simios, vários animais, porém voltado para um casal indubitavelmente humano;
Fig. 104. (á direita); Mbotumbo, o “deus-macaco” dos baules da Costa do Marfim.

como divindade criadora, rodeado de seres informes, bugios, animais, árvores, voltado
para um casal indubitavelmente humano, que representa o remate da sua obra.
A lembrança dos "homens-macacos” não vive, por certo, apenas na América: encon-
tra-se em várias regiões africanas e os baules da Costa do Marfim conservam até
agora uma imagem muito sugestiva deles, a de Mbotumbo, (Fig. 104), o qual (c a cor
sã nos parece muito significativa) não é um deus propriamente dito, mas uma divin-
dade de categoria inferior, uma espécie de chefe dos quadrúmanos, se assim podemos
defini-lo.
“Na Trácia e na Grécia setentrional”, lemos depois num estudo interessante de
Gaster, “é costume celebrar certas ocorrências importantes com uma pantomima tosca,
e um elemento essencial do espetáculo é o aparecimento repentino, durante uma Festa
nupcial, de um berrador grosseirão com uma máscara negra, que tenta molestar a noiva
e chega às vias de fato com o noivo, Na Tessália, este personagem costuma aparecer na
figura de um “árabe” selvagem e peludo; e, para acentuar melhor o seu caráter bárba-
ro, traz, além da máscara preta de pele de ovelha ou de cabra, um manto de pele de
ovelha e às vezes também uma cauda “40

40, Theodor Hi Crasicr, Le Siarae piu Antichr del Mondo, Crulio Esmauda Edo, Furim, igõo
Pág. d esquerda,
Fig. 105. O “monstro
vindo do frio”, pescado
no Mar de Berin,

fotografia
uerda uma

Fig. 106. O perfil do


"Homo pongoides”, de
acordo com o desenhe Je
uma revista cer
Muitíssimos elementos nos fazem pensar na existência de seres simiescos mais próxi-
mos do homem do que os que conhecemos, mas não tais que possam representar o fa-
moso “elo” há tanto tempo procurado.
Mais ou menos em fins de 1969, um estudioso tradicionalista cuidou havê-lo en-
contrado e já se dispunha à tocar o céu com um dedo: o dedo apontava para uma es-
tranhíssima criatura pescada pelos norte-americanos no Mar de Bering, encerrada num
esquife de gelo. (Fig. 105).
A história desse ser está envolta em mistério: há quem o diga proveniente de uma
embarcação nipônica que naufragou, e há quem, 4o contrário, nos forneça outra versão:
“Bozo” (assim foi batizado o “monstro que veio do frio”) teria sido casualmente en-
contrado pela equipagem de um navio soviético destinado à caça das focas. Tendo sur-
gido num porto chinês, o curioso achado teria sido depois expedido a Hong Kong € al
cedido aos representantes de um instituto científico norte-americano,
Qual seja esse instituto, não nos é dado saber; toda a história está rodeada de um se-
gredo absoluto. De qualquer maneira, está provado que “Bozo” não é fruto da imagi-
nação; o jornalista estadunidense Ivan T. Sanderson fotografou-o, o zoólogo Heu-
velmanns, membro da Academia de Ciências de Bruxelas, pôde estudá-lo de perto,
depois de haver-se comprometido, como muitos outros colegas seus, a não revelar o
lugar em que ele se encontra.
“Bozo”, o chamado Homo pongoides, é um ser que mede, aproximadamente, 1,80m
de altura, musculoso, quase sem pescoço, com braços compridos e mãos em forma de
espátula. Tem pés de 25 cm de comprimento e, tirando o rosto, as palmas das extre-
midades superiores e inferiores, é recoberto de pêlos que medem até 10 cm. Deve ter
morrido em consequência de um ferimento na cabeça. Mas quando poderia ter vivido?
“Até há cinco anos”, declara Heuvelmanns, acrescentando que a semelhança com os
fabulosos yetis — tais como têm sido descritos por testemunhas oculares — mais do
que notável, é impressionante (Fig. 106).

Tarzan e a mulher-macaca
Nem mesmo os "fósseis vivos”, próximos da nossa espécie, portanto, estão mortos?
Parece que não; de quando em quando, ao contrário, aparecem seres que se diriam de-
sejosos de mostrar que as teorias tradicionais sobre a evolução — como já dissemos —
precisam ser radicalmente revistas e corrigidas. O "homem das neves' , se assim pode-
mos exprimir-nos, é de ontem. De hoje é uma criatura ainda mais próxima de nós pelo
aspecto mas, ao mesmo tempo, tão estranha que nos causa arrepios.
Quem não se lembra de O Planeta dos Macacos, o filme de ficção científica que, ba-
seado num romance igualmente conhecido, nos apresentou primatas extremamente
evoluídos, (Fig. 107), sábios, civis? Pois será possível imaginar uma mulher-macaca
transferida da tela para a realidade? Não chegaríamos a tanto, mas tivemos de render-
nos à evidência diante do ser descoberto no Estado brasileiro de Minas Gerais, numa
povoação perdida no meio da mata *!. ; = E
44 O descobrimento é da primavera de 1970

100
Fig. 107. A “mutante” que
nos foi apresentada pelo filme
“O Planeta dos Macacos"

É um ser que não possui, decerto, a inteligência dos avançados quadrúmanos cine-
matográficos e que, ao contrário, está muito mais perto, no aspecto, dos “primos do
homem”. Tem 1% anos, é do sexo feminino, possui olhos grandes, salientes, nariz cha-
to, boca larga, maxilar em tudo e por tudo igual ao de um chimpanzé (Fig. 108);
o seu corpo é coberto de pêlos negros, muito espessos nos ombros e nas costas, ao longo
da espinha (Fig. 109).
Os habitantes da região chamam à menina Maria de Jesus, talvez por piedade, mas
o certo é que o nome não faz senão sublinhar o aspecto arrepiante de toda a história.
Quem forum os pais da menina ninguém sabe, ninguém se deu ao trabalho de guardá-
lo na memória: o estado de miséria em que vive aquela gente é tal que a impede de
olhar para além do próximo passo.
Inesperadamente surgiu no local um etnólogo, viu a desventurada criatura, prome-
teu voltar; falando sobre o caso, despertou o interesse de outros estudiosos, que orga-
nizaram verdadeiras expedições, abrindo caminho pela mata até chegar ao povoado
sem nome onde, de vez em quando, só aparecem os missionários com roupas velhas,
alimentos e remédios que conseguem juntar.

101
Fig. 108. A verdadeira "mulher-
macaço”, descoberta em Minas
Gerais, no Brasil

Pág. à direita
Fig. 109. Outra imagem impres
sionante da “mulher-macaco”
uma espécie de crina densa lhe
desce ao longo da espinha

Página ros
Fig. 110. Chamam-no “Tarzan”
é o chefe branco da tribo dos
belicosos mekronotires amazôni-
cos.

Que é o que nos diz a ciência a propósito da pobre Maria de Jesus? Ouçamos o
professor de patologia João Henrique de Freitas Filho:
“Todos os seres humanos têm características animais. Não é impossível que a meni-
na tenha tido antepassados... digamos “esquisitos”, que viveram há muitos séculos.
“Hoje sabemos que as características animais cm apreço são muito mais evidentes na
fase embrionária da vida: no ventre materno, o novo indivíduo tem pélos como os ma-
cacos, escamas como os peixes. Mas, em regra geral, quase universal, tais peculiarida-
des desaparecem por volta do terceiro mês de gestação. O fenômeno é conhecido pelo
nome de filogênese ou “evolução da espécie”; ao mesmo tempo, porém, desenvolve-
se o fenômeno da ontogênese, ou de “formação do ser”, no decurso do qual o bebê
adquire, por exemplo, os olhos azuis do pai ou o nariz de forma semelhante ao da mãe.
“Ora, os dois processos são bem “sincronizados”: no estado atual dos nossos conhe-
cimentos, acredita-se que eles não podem ser dissociados. Graças a eles, uma pessoa
pode, às vezes, parecer-se, nem com o pai nem com a mãe, mas com um antepassado.

102
“Como se diz em linguagem corrente, é possivel “pular” uma ou duas gerações, ra-
ramente mais. O caso de Maria, portanto, é espantoso”.
Hã ainda um fato assombroso: assim que nasceu, a infeliz criatura tinha o aspecto
que têm todas as crianças; pouco a pouco, foi adquirindo os traços simiescos que a di-
ferenciam. "Deve-se, portanto, pensar numa divergência da formação genética, qual-
quer coisa que não tem precedentes”.
Maria de Jesus não fala, parece apalermada. E dócil, mansa como um animal do-
méstico, mas possui uma sensibilidade acentuadíssima; assustada, foge quando os me-
ninos da aldeia se põem a gritar, para ela, frases injuriosas. Frequentemente se aparta
dos outros e chora por muito tempo. Por quê? Ela não sabe dizê-lo, os outros não po-
dem adivinhá-lo.
Os estudiosos (que a confiaram, por enquanto, aos cuidados de uma família local)
pensam em transferi-la para o hospital de um grande centro a fim de poder examiná-la
direito.
À ciência poderá talvez realizar progressos e Maria será poupada da fome e do es-
cárnio. Mas quais serão as suas reações diante da civilização? E qual será o seu futuro,
depois de concluídas as pesquisas?
Seres totalmente primitivos, humanóides desconhecidos, mulheres-macacos, descen-
dentes de neandertalienses, yetis: as criaturas desse gênero que vivem ao nosso lado, ao
lado das mais fantásticas expressões da nossa civilização, são demasiado numerosas
para que nos sintamos autorizados a acreditar em “caprichos da natureza”. Aos referi-
dos até agora podemos acrescentar muitos outros exemplos: e todos nos induzem a pen-
sar que estamos diante de verdadeiros “fósseis vivos”, representantes de raças quase
inteiramente riscadas da face do globo por acontecimentos apocalípticos.
O Popol Vuh nos fala — com expressões facilmente interpretáveis — em dilúvios,
chuvas metcóricas, erupções vulcânicas, que transtornaram a Terra, deixando poucas
ilhas de vida, E descrições semelhantes se encontram em numerosas lendas de todas as
partes do mundo.
“Que acontece de repente às espécies extintas? perguntam a si mesmos alguns pes-
quisadores, procurando esboçar uma resposta em termos mais científicos; aliás nós
mesmos já o fizemos com os trabalhos surgidos nesta série.
“Pergunta-se, por exemplo”, lemos no semanário milanês “L” Europeo” *2, “por que
certos minúsculos organismos marinhos do plancto se extinguiram depois de muito di-
fundidos, num período que, em relação à escala de tempo geológico, se deve consi-
derar breve, Esse fenômeno verificou-se inúmeras vezes e interessou diferentes tipos de
plancto nos últimos quatro milhões de anos.
“Entretanto, há um indício importante, Algumas extinções parecem ter ocorrido no pre-
ciso instante em que o campo magnético terrestre estava mudando de tal maneira que o pólo
morte magnético se tornava o pólo sul, e vice-versa. Por um estudo do magnetismo, feito em
rochas, os geólogos sabem que o campo magnético se inverteu ao menos vinte vezes no curso dos
últimos quatro milhões de anos, e muitíssimas outras precedentemente.
“Uma teoria afirma que, no meio do caminho da mudança, o campo magnético ter-
restre deve ter diminuído até zero. À radiação cósmica, normalmente desviada da Terra

x 29 deabril
de 1971

105
pelas linhas de força, pôde então penetrar até a superficie terrestre, dando lugar a mutações à
que, afinal, redundaram na extinção de algumas espécies.
“Outro ponto de vista sobre as extinções, que o Prof. J. P. Kenner co Dr. N. D,
Watkins da Universidade de Rhode Island tentaram verificar nas pesquisas publicadas
recentemente, é que as extinções se deveram a paroxismos vulcânicos ocorridos contempora-
neamente às mudanças do campo magnético. Os dois cientistas valem-se dos argumentos
expostos em 1968 por James Heirtzler, do Observatório Geológico de Lamont, Nova
York, segundo o qual um período de violentos terremotos pode haver invertido a rotação
terrestre.
“Eles tentaram demonstrar que a explosão da atividade vulcânica ocorreu durante
a inversão do campo terrestre, examinando os sedimentos fósseis recolhidos no Pací-
fico, na Nova Zelândia sul-oriental, medindo a direção do magnetismo congelado nos
próprios sedimentos « procurando jazidas de poeira vulcânica. Em muitos casos se en-
contraram sinais de atividade vulcânica correspondentes a inversões do campo magné-
tico e OS cientistas sustentam que é dificil que se trate de coincidências casuais.”
Em conseguência de tais fenômenos, por certo não se extinguiram apenas vários ti-
pos de plancto, mas também — e bem mais facilmente — numerosas formas evolui
das de vida.
Tenhamos, contudo, a coragem de falar do gênero humano, de enfrentar a pergunta
que nos foi tantas vezes formulada: “Se, ao lado das espécies primitivas, das quais po-
deriam existir alguns sobreviventes, viviam na Terra seres altamente civilizados, como
foi que estes só legaram às antigas culturas pálidos traços das suas grandes conquistas?”
Respondamos com um exemplo elementar: se nos sucedesse salvar-nos de uma ca-
tástrofe aérea depois de termos sido precipitados no mais denso de um jângal e conse-
pguissemos recuperar dos escombros do aparelho tudo aquilo que, continuando intacto
ou quase, nos pudesse ser útil, viveríamos por algum tempo com uma aparência de civi-
lização. Mas por pouco tempo: as baterias das instalações elétricas e do rádio se esgo-
tariam, os metais se oxidariam, a nossa habitação improvisada cairia aos pedaços, as
roupas se reduziriam a farrapos. Poderíamos comunicar aos indígenas com os quais
entrássemos em contacto algumas noções fundamentais, mas teríamos de adaptar-nos,
finalmente, ao seu modo de vida. E não tardariamos a fazê-lo, como nos demonstra à
história de "Tarzã”, a mais recente em ordem cronológica.
Despontava a aurora na floresta amazônica quando as sentinelas do acampamento
ouviram O grito gutural proveniente do intricado de árvores, cipós, moitas, flores gi-
gantescas.
Os homens que estavam de guarda reagiram, prontos, e os componentes da expe-
dição guiada pelo Prof. Francisco Meirelles se ergueram, empunhando as armas. Mais
um par de minutos, e teria sido demasiado tarde: uma horda de índios nus, brandindo
facas e machados de pedra, caiu sobre o acampamento, Os brasileiros reagiram com
um tiroteio furioso, os agressores se retiraram, deixando alguns mortos e feridos na
clareira, sobre o qual choveram, de longe, montes de flechas envenenadas.
Estava voltando a calma ao acampamento, quando se ergueu uma voz colérica:
— Vocês sabem quem jogou os índios contra nós? Foi um de nós: Sílvio! Tirou to-
da a roupa do corpo, mas eu o reconheci perfeitamente: cra ele quem comandava os in-
dios!

106
Ameaçadores, os membros da expedição voltaram-se para Sílvio, colaborador de
Meirelles.
— Vocês ficaram loucos? — revoltou-se o susposto traidor. Por quem me tomam?
Por que haveria eu de fazer uma coisa dessas?
Os seus protestos serenaram os ânimos mais exaltados, mas não tiveram a mesma
sorte alguns dias depois, quando ocorreu novo ataque: muitos juraram havê-lo divisado
de novo entre os índios, e foi necessária a enérgica intervenção do professor para evi-
tar um linchamento.
E o caso não estava encerrado: um grupo de brancos e mestiços decidiu liquidá-lo
por sua conta e risco, e urdiu um atentado contra o companheiro suspeito. Este úlu-
mo, seriamente ferido, salvou-se por milagre e precisou voltar para casa a bordo de um
helicóptero.
A partir daquele dia os brasileiros foram deixados em paz: isso podia parecer uma
prova irrefutável da culpabilidade de Sílvio, mas o Prof. Meirelles não estava con-
vencido. Na viagem de regresso encontrou um grupo de caçadores brancos que, havia
anos, batiam aquelas paragens; narrou o que acontecera e ouviu em resposta, sem à

menor hesitação:
— Nós sabemos o que aconteceu. O camarada que comanda os índios é Tarzan,
o chefe branco dos mekronotires.
Inúmeras vezes o estudioso ouvira falar em lendários chefes brancos e inúmeras ve-
zes, ao procurá-los, dera apenas com indigenas de colorido mais claro, surpreendentes,
sim, pelos traços semelhantes aos nossos, mas não tanto que deixassem assombrado o
cientista. Tarzan, portanto...
— É apenas um apelido que lhe demos, — explicaram os caçadores. — Não sabe-
mos como se chama mas, se quiser um conselho, não vá perguntar isso a ele. Aquele é
um demónio sem misericórdia.
Tudo isso aconteceu há uns 13 anos. Meirelles, porém, não seguiu o conselho: com
uma nova expedição chegou até o Rio Chinché, encontrou a tribo dos mekronotires e
deparou com o sósia de Sílvio.
Era “Tarzan” (Fig. 110).
Não se parecia muito com Johnny Weissmúller, o campeão olímpico que represen-
tou na tela o papel do “rei das selvas”, nem com os seus inúmeros sucessores € imita-
dores. Era magrissimo, todo músculos e nervos, sardento, cabelos castanhos tendentes
ao vermelho. Tratava-se, indubitavelmente, de um branco, muito embora não enten-
desse uma única palavra de português c se chamasse Bemontire, “Besta selvagem” no
dialeto local.
Um guerreiro? Era mais do que um guerreiro: era o chefe dos mekronotires, uma das
raças mais primitivas c ferozes das matas brasileiras, que, tendo subido pelo Rio Xingu,
domina, há gerações, o território situado entre o Rio Iriri e o Rio Chinché.
— Venho em missão de paz, — disse Meirelles.
O outro observou-o, desconfiado, durante algum tempo ficou de pé atrás mas, afi-
nal, teve de convencer-se de que o branco, de faro, não tinha más intenções. Assim o
professor e o chefe da tribo se tornaram amigos. E este último contou ao estudioso a
sua história, tal como a ouvira dos anciãos:
— Em maio de 1930 os nossos guerreiros atacaram quinze seringueiros que, com as

107
Fig 111. Bemontúre e a sua família. Da esquerda para a direta: a mulher Opodikor, os filhos Karotka e
Bepre, “Tarzan” ea filha Kereri

suas famílias, se haviam instalado em nosso território, atrapalhando-nos a caça ea pes-


ca e recusando-se à sair. Os brancos foram todos mortos, com exceção de um menino
de dois anos, mais ou menos, encontrado por um guerreiro, que o adotou e criou como
são criados todos os indiozinhos. Esse menino era eu...
Naturalmente não traduzimos a história ao pé da letra: apresentamos apenas um re-
sumo da narrativa feita por Bemontire a Meirelles, num dos muitos dialetos que o pro-
Fessor conhece, De qualquer maneira, o adjetivo “nosso” recorre sempre na versão ori-
ginal: o chefe se considera um indio em tudo e por tudo, conquanto saiba ser branco de
nascimento (holandês, como sc verificará mais tarde). Desde a época a que chegam as
suas lembranças, odeia os “peles pálidas”, Agora está convencido, também por certas
experiências, de que já não deve matá-los, embora continue trucidando os representan-
tes de outras raças indígenas que insidiam a sua
É cheia de lutas a h ria de Bemontire. O pas adotivo lhe furou as orelhas, segun-
do o costume, para introduzir nelas as bengalinhas ntuais, cravou-lhe no lábio inferior
o disco de madeira que devcria servir para dar aos guerreiros um aspecto terrificante,
adestrou-o no uso do machado « da faca de pedra, do arco, e o rapaz adquiriu em bre-
ve tamanha habilidade que foi reconhecido como lider indiscutível dos coetâneos.

108
Chegado à idade viril. o chefe da tribo lhe ofereceu por mulher a filha, Opodikoi:
era uma grande honra, e Bemontire mostrou-se digno dela, conduzindo com incrível
coragem os combatentes contra o inimigo, À companheira deu-lhe dois filhos (Karotka
e Bepre) e duas filhas Ireo « Kereri), e o nosso “Tarzan” viveu com os mekronotires
(Fig. 111), segundo as suas leis, tornando-se chefe deles após a morte do sogro.
Há pouco tempo, porém, as coisas não andaram muito bem para ele. Tendo caído
sobre uma fogueira em consegiência de um ataque de malária, foi retirado dali cheio
de queimaduras, que se transformaram em feridas infeccionadas.
Alguns estudiosos da UNESCO o encontraram quase morto: trataram dele, nos li-
mites do possível, com antibióricos, pensando em transportá-lo depois para o hospital
de Brasília. O “índio branco”, no entanto, recusou-se encrgicamente à segui-los; mas
um dos circunstantes o reconheceu, avisou Meirelles, c este, aparecendo no lugar, con-
venceu o chefe a deixar-se tratar.
O temerário cacique chegou à Brasília como um coelho medroso. Já aterrorizado
pela viagem aérea, enfiado à força num automóvel, apertava o braço do estudioso com
uma das mãos e com a outra cobria os olhos. E para persuadi-lo a manter-se calmo no
hospital, Meirelles precisou suar a camisa: dia e noite se assentava à cabeceira do guer-
reiro um indio que lhe conhecia à língua « colaborava, havia algum tempo, com os
cientistas brancos, -
Em seguida, restabelecido, Bemontire aprendeu a vestir-se e a suportar os presentes
da cidade, Mas nem todos: não quer, de maneira alguma, permanecer sentado diante
da televisão, detesta os ambientes techados e cheios de gente, à comida dos “peles páli-
das” (menos os doces, que aprecia muito), e está sempre pedindo milho, bananas e
“água clara”. Indiferente aos presentes, sente apenas a necessidade de partir: mesmo
no curso de duas visitas a Brasília, realizadas após a cura, não faz outra coisa senão
insistir em que o levem de volta à sua terra o mais depressa possivel.
Sua? Sim, agora definitivamente.
É o mesmo raciocinio se aplicaria à nossa raça e ao planeta em que hoje vive se os
seus representantes sc houvessem salvado, há milênios, da derrocada da Atlântida ou
do fim desastroso de uma expedição vinda da Alfa do Centauro.

109
Eds RGE MR E a E
V
MISSÕES ESTELARES

À S PROVAS DA existência de formas de vida em outros planetas chovem continua-


mente sobre a Terra, e não em sentido figurado: estranhas mensagens de rádio, re-
gulares, conquanto indecifráveis, são captadas com frequência sempre maior (a mais re-
cente, enquanto estamos escrevendo, provém da enigmática região das Plêiades, a que
se referem tantas lendas, tantas representações (Fig. 112) de um passado remotíssimo):;
sobre o nosso globo caem meteoritos que contêm, sem dúvida, substâncias orgânicas.
Não faz muito tempo, outro “projetil do Universo” nos forneceu a prova irrefutável
— admitindo-se que ainda tivéssemos necessidade de provas — que a vida não é um
fenômeno concedido com exclusividade ao nosso planeta: trata-se do meteorito que
se precipitou, no dia 28 de setembro de 1969, perto de Murchison, na Austrália (Fig.
113), em cujo interior se encontraram, em fins de 1970, por obra do Dr. Cyril Pon-
namperuma (chefe da repartição de análises do centro de pesquisas espaciais da NASA
em Mountain View, na Califórnia), vinte tipos de aminoácidos presentes nas células
vivas do nosso planeta, ao lado de outros onze, cuja estrutura nos é desconhecida.
Mas como podemos figurar os nossos “irmãos do Infinito”? Mais ou menos pare-
cidos conosco, afirmam a zoólogo alemão Bernhardt Rensch e o antropólogo norte-
americano William Howells, que sustentam a teoria da “evolução paralela”, asseguran-
do que a vida só pode ter origem onde o carbono tem condições de formar hidrocar-
bonetos. Mas, como numerosos cientistas soviéticos, Eiseley, outro antropólogo esta-
dunidense, insiste em que a vida não deve ser necessariamente ligada às estruturas que
conhecemos, nem ao “mundo do oxigênio”, como o demonstra, de modo eloquente, à
própria Terra *.
Logicamente, uma teoria não exclui a outra. Quem nos garante que, se o nosso pla-
neta recebeu visitas do espaço no passado, não acolheu hóspedes diversíssimos entre
eles? E quem nos assegura que tudo isso não se reflete nas fantasias projetadas pela
ficção científica, atrevidas quanto se queira, mas (não o esqueçamos: não poderia ser
de outra maneira) relativas à vida sobre a Terra em suas formas múltiplas, às vezes in-
compreensíveis?

A expedição de Rigel

Era uma espécie de concha grande, envolvida por um fogo alaranjado. Atravessou o
espaço como uma flecha, no céu noturno da Terra, a uma velocidade fantástica; parou
de repente e oscilou.

43: Ombro uulhe Stile, do mesmo autor. Sugar Edinnee. Milão Este livro fui rraduzido para 0 poruguês por Anacleto Valtorta, para às Edi-
ses Melhoramentos, sob o vigulo de "Sombra sobre as Estrelas”

1
ma

Fig. 112. (ao alto): sinais de rádio nos chegam hoje das Pléxades, uma constel 1 que ocorre com singular sui
frequência nos “mitos Estelares”. Neste fragmento de antigo calendário mesopotâm 1 vem la representada,
à esquerda, juntamente com um deus ou um herói encerrado num círculo e com o Touro; Fig. 173, (do alto,
à esquerda): O) mto de Murchison” (assim chamado em virtude lexcal do seu descobrimento, na
Austrália); nele n descobertos vários tipos de aminoácidos, numa prova ulterior de que vida nã
prerrogativa exclusiva d Terra: Fig. 114 (40 alto, à direita): A rtaruga cosmogônica da Terra de
Amhem, símbolo difundido em muitissimas pa s do globa
Depois sobreveio a catástrofe. Um bólide luminosíssimo caiu sobre 0 planeta, segui-
do de uma esteira de gas verde, amarelado, azul. O piloto do veículo espacial cerrou os
dentes, procurou controlar até o fim o rumo da astronave. Depois o Sol girou diante
dos seus olhos, o globo explodiu em mil labaredas, com todos Os seus vulcões, nuvens

imensas crgueram-se para o céu.


— Do piloto para a equipagem, do piloto para a equipagem! anunciou ao mi-
crofone a voz do cosmonauta. — Chegamos tarde demais, o satélite natural do tercei-
ro planeta deste sistema precipitou-se há pouco. Todos em seus postos. Façam funcio-
nar as medidas de segurança. Vou tentar uma aterragem

12
Fig. 115. As estranhas gravações
foragratadas no Marrocos por
Willy Fassio: querem os estudio-
sos que se trate de sinais solares
ou de calendários, mas não deve
ser descurada a sua relação com
as lendárias “pedras redondas ca!
das do céu”

A grande concha foi sacudida, presa num turbilhão, parecendo quebrar-se no chão.
É ocorreu, no momento extremo, a última empinadela. O veículo tocou de leve numa
colina e foi cair sobre uma meseta rochosa.
— Fechem os compartimentos estanques! — gritou o piloto pelo rádio. — Nin-
guém saia enquanto à atmosfera externa não estiver respirável.
Desligou a combinação de vôo, atirou as luvas, com raiva, sobre o quadro de distri-
buição. Abriu-se a portinhola da cabina de comando e entrou uma mulher, a bióloga da
expedição.
— Como está a equipagem? — perguntou o homem.
— Alguns feridos, mas nada de grave, Você se saiu muito bem. E a astronave?
— Acabou-se, — disse o outro, lacônico. — Acabou-se completamente. Não temos
a menor possibilidade de abandonar este planeta.
— Recomeçaremos desde o princípio, — replicou a mulher.
E acrescentou qualquer coisa que, segundo os nossos conceitos, podemos traduzir,
pouco mais ou menos, por “Adão « Eva”,
O episódio, obviamente, é fruto da nossg fantasia. Tendo em mente, porém, tudo o
que expusemos no último capítulo, poderia refletir a hipótese (que encontra um núme-
To sempre crescente de adeptos) segundo a qual os primeiros homens não teriam nas-
cido na Terra, porém, caído casualmente aqui de outro mundo qualquer.
Não queremos sustentar, a todo custo, essa teoria, De qualquer maneira, reconhe-
çamos que os seus propugnadores nos dão matéria para soltar a imaginação, reevocan-
do os mitos da Criação segundo os quais a humanidade teria nascido de um ovo, de
uma casca não muito bem definida, de uma tartaruga.
Parece-nos supérfluo repetir aqui a história do “ovo cosmogônico”: ajuntemos ape-
nas as referências da Índia védica à casca que encerra o demiurgo, as possíveis apro-

i 113
ximações com as tradições assírio-babilônicas, etruscas, a nitida identificação do pró-
prio “ovo” com a couraça de uma lendária tartaruga, que encontramos entre muitissi-
mos povos da América setentrional, central e meridional,
Segundo os huronianos do norte, “o mundo sc origina de uma mulher, Ataentsic,
caída do céu sobre o dorso de uma tartaruga que flutuava nas águas. O rato almiscarado
mergulhou no fundo das águas c dali trouxe um pouco de lama « formou a terra sobre
a qual Ataentsic deu à luz dois gêmeos, loskha e Tawiscara ou, segundo outra versão,
Monobozho e Chokanipola” *.
Desloquemo-nos um pouco e ouviremos os atabascas canadenses narrar-nos a mes-
ma lenda da criação: só que a mãe dos gêmeos se precipita no interior de um ovo (o
ovo do "Grande Corvo”, isto é, de um ser voador) que dá origem a uma tartaruga,
Para os puelches da América austral, em seguida, o ovo se poe a boiar sobre as águas
primordiais graças a remadores aparecidos de improviso, e do seu corpo saem os dois
gêmeos, macho e fêmea, de que terá origem a humanidade!
Não nos parece estarmos diante da história de um naufrágio espacial traduzido em
fábulas?
Também os arapahos de Wyoming ec Oklahoma atribuíam a Criação a uma tarta-
ruga “ajudada por um pássaro”, Desse réptil nasce o clássico dragão chinês, e uma
grande tartaruga de pedra de provável significado cósmico é quanto resta de Cara-
córum, a capital mongol fundada por Ogotai, filho de Gengis Khan.
Em Madagáscar se reencarnam em tartarugas, segundo uma difundida crença mal-
gaxe, os personagens de sangue real, diretos descendentes dos deuses, e o mesmo deve-
ria suceder aos chefes dos boximanes, que habitam em cabanas hemisféricas e cujas mu-
lheres trazem como talismãs caixas feitas da carapaça do reptil, cheias de pó de madei-
ra perfumada.
Um símbolo cosmogônico é também a tartaruga que ainda hoje os indigenas da
Terra de Arnhem, (já citados pelas representações de serpentes) pintam na casca das
árvores (Fig. 114).
Com desenhos esquematizados do dorso de uma tartaruga se parecem as inscrições
(Fig. 115) fotografadas em Rabat (Marrocos), pelo explorador Willy Fassio: os ar-
queólogos consideram-nas sinais solares ou calendários rudimentares, mas temos para
nós que não se deve esquecer a sua relação com as lendas indigenas que se referem às
“pedras redondas caídas do céu”, tanto mais que encontramos inscrições muito seme-
lhantes do Museu Bicknell de Bordighera, provenientes do Vale das Maravilhas, na
fronteira italo-francesa (Fig 116).
Não é nova a hipótese segundo a qual a Terra teria tido, além da atual, outras luas,
que se precipitaram no espaço mercê de uma Jei astronômica, que, no entender de vá-
rios estudiosos, condenaria também, daqui a alguns bilhões de anos, o nosso atual
satélite
É provável que os eclipses do Sol e da Lua tenham reevocado, e ainda reevoquem,
entre diversos povos, a obscura e ancestral lembrança de catástrofes cósmicas, carac-
terizadas pelo desaparecimento de um corpo celeste que gira em torno do nosso e do
44: Nicola Turchi, Storia delle Religmo, vol. [, Sansoni. Florença, 1965
43: Amietulor Tempos Combecislo, já citados

14
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Fig; 116. Inscrições muito semelhantes às inscrições marroquinas podem ser


admiradas no Muscu Bicknell de Bordighera, encontradas no Vale das Mara-
vilhas.

desaparecimento — temporário, em consequência do cataclismo — do astro que nos


dá vida,
A lenda de Baal, o deus dos cananeus, reflete “a antiga crença de que os eclipses
do Sol e da Lua se deviam às devastações de um dragão celeste, que os perseguia e de-
vorava. Assim, na crença indiana, o dragão Rahu ou Svarbahnu periodicamente os en-
gole. E num texto confuciano, o Tsun Tsiu ("Primaveras e outonos”), a palavra
“comer” é usada para descrever o celipse de 20 de abril de 610 a.C. Do mesmo modo,
em diversas lendas escandinavas, o Sol é constantemente ameaçado por um lobo cha-
mado Skoll, ao passo que em lendas tártaras o Sol e a Lua são insidiados por um de-
mônio ou pelo rei do inferno, e em lendas hebraicas por um peixe *º.
Considerando os eclipses como a morte do Sol ou da Lua, os pcles-vermelhas
ojibwais, ao verificar-se o Fenômeno, arrojam flechas acesas contra o céu para reacen-
der os astros; com a mesma finalidade, os Kamciadalis levam o fogo para fora das suas
cabanas, ao passo que os índios chilcotins envergam os seus trajos de viagem e partem
para uma espécie de marcha propiciatória em que talvez se reflitam as extenuantes mi-
grações empreendidas pelos seu antepassados em decorrência de terríveis cataclismos.
“Os chamados "fogos de São João”, que se acendem em forma de coroa ou de bra-
seiros no solstício de verão”, observa Nicolau Turchi, “têm por finalidade reforçar a
energia do Sol, que, a partir de 21 de junho, começa a diminuir; a oferta do coração
de jovens propositadamente imolados, que os astecas do antigo México faziam ao Sol,
levava a intenção de renovar-lhe as energias de calor « movimento. Deve ser interpreta-
do no mesmo sentido o sacrifício da quadriga que os habitantes de Rodes faziam ao
Sol, submergindo-a no mar, c a oferta dos cavalos que os espartanos faziam ao Sol so-
bre o Taígeto, atrás do qual o astro se põe. É supérfluo multiplicar os exemplos com a
Lugo,
46 Theodor H Gaster, Le Pin Amticho Leggende del Mando, Giulio Einaudi, Ed. Turim, 1960
47 No Tureho, Sturia dello Religiam, vol. 1, Sanson, Elorença, 1964

115
Admitindo-se que os astronautas, provenientes de “mundos de oxigênio”, tendo
chegado à Terra simultaneamente com as catástrofes a que aludimos, foram obrigados
a ficar aqui, deveriam ter sofrido processos de transformação, de adaptação, de que
não temos sequer a mais pálida idéia.
Recorrendo à fantasia, poderemos, quando muito, contemplar o que inúmeros po-
vos consideram representações dos seus remotissimos antepassados: os seres que, re-
produzidos em algumas cerâmicas de estilo nazca do Peru meridional (Fig. 117), pa-
recem destinados à vida anfíbia; a enigmática “cabeça de Tlatilco” plasmada num vaso
da idade pré-clássica mexicana (Fig. 118), a múscara dos xamãs kuskowogmint do
Alasca (Fig. 119): O circulo superior parece indicar um chapéu (um capacete?); as
penas e as saliências laterais exprimem, sem dúvida, o conceito do vôo, mas O rosto
tem uma expressão que só remotamente lembra a expressão humana.

O mesmo pode dizer-se de certas representações do período “marciano” do Tassili,


assim chamado porque as cabeças de algumas figuras parecem cobertas de clmos espa-
ciais (Fig. 120).
Mas que podemos discernir nos desenhos da “divindade” que, com a sua enorme es-
tatura, paira sobre os circunstantes, surpreendidos em atos de manifesta adoração?
Seres agigantados em sinal de veneração ou titãs propriamente ditos?
Volta à propor-se aqui o problema da existência em nosso globo, num passado dis-
tante, de criaturas gigantescas, que assim se tornaram precisamente pelos fenômenos de-
correntes da queda dos satélites anteriores. O argumento já foi ventilado em Antes dos
Tempos Conhecidos e Não é Terrestre, mas não nos parece fora de propósito oferecer
aqui uma documentação ulterior sobre a matéria,

A revolta dos gigantes


“Entre todas as estrelas do firmamento”, escreve Theodor Gaster na sua obra já
citada neste capítulo, “poucas são mais brilhantes c mais impressionam à imaginação
do que as que hoje formam a constelação de Órion. Era portanto natural que os nossos
antepassados quisessem ver nela um retrato particularmente conhecido ou querido
(...) Essa constelação representava o Gigante caçador, o mais alto, o mais forte e o
mais belo entre todos os homens, que ousara ultrajar a deusa da caça e, por isso, fora
morto por ela...”
Às lendas dos titãs rebelados contra a divindade são comuns a quase todos os povos
do mundo. É o próprio Gaster quem relembra a lenda hiuta, segundo a qual um minis-
tro dos seres celestes, Kumarbi, expulso do trono que ele usurpara, recorreu ao “senhor
do mar”, o qual concordou em ajudá-lo.
— Vai à montanha, — disse-lhe, — estende-te sobre ela e pede-lhe que parteje um
filho. Dentro de poucos meses a montanha parirá uma criatura feita de pedra. Assi um
que essa criatura tiver visto a luz, leva-a para os abismos sob as profundezas do mar e
coloca-a sobre o ombro de Upelluri, o gigante que ali mora e sustenta o peso da Terra e
do Céu. Dia a dia a criatura de pedra crescerá em altura, até que a sua cabeça bata no
pavimento do céu: então todos os deuses serão lançados dos seus tronos e fugirão, ater-
rorizados”.

16
Fig. 117. Estes seres, reproduzi
dos de uma cerâmica de esulo
nazéa (Peru meridional) parecem
destinados à vida anfíbia

Fig. 118. A cmgmatica “cabeça


de Tlaulco” pla la mu vaso
da idade pré-clássua mexicana
De acordo com a maneira como
olhamos para cla, tanto pode pa
recer-nos um peixe quanto um ros
to humanóide
Fig. +21. Monumentos nirânicos constelam,
desde tempos imemoriais, O mundo inteiro: eis
aqui um dólmen do tipo chamado "Mesa dos
gigantes”, descoberto por Mário Salomone
em Villarfocchiardo, no Piemonte

Fig. 119. (pág. anterior, 4o alto): devemos


inchur entre os nossos remotissimos antepas-
sados também seres deste gênero, cujas feições
são reproduzidas nas máscaras dos xamãs do
Alasca?

Fig. 120. Capacetes e escafandros espaciais


na pré-história? Propõe-se ainda uma vez a
pergunta apaixonante com as figuras do cha-
mado “período marciano” do Tassili.

9
122. Outro dólmen
a-se em Val Gravio.
também numero
embaixo: Fig. 123. Também
v Val Gravio encontramos sUpos
le uma construcao de upo
Cumpriu-se à profecia: assim nasceu Ullikummi, o titã de rocha contra o qual são
vas todas as defesas da divindade, até que Ea, o “senhor da sabedoria e da prudência”,
num lampejo de gênio, resolve a situação: sugere o recurso à faca mágica que serviu
outrora para “separar a Terra do Céu” e, com efeito, a arma destrói o tremendo Ulli-
kummi.
A revolta dos gigantes contra os deus é interpretada, com muita probabilidade,
como um insulto à ordem natural das coisas: tal significado devia assumir, aos olhos
da humanidade, o desaparecimento de seres monstruasos. E o fato de se empunhar
outra vez a faca capaz de “separar a Terra do Céu” parece referir-se tanto à Criação
quanto a uma nova intervenção divina, destinada a reconduzir o mundo à normalida-
de, isto é, desaparecem os titãs, desaparece o caos em que a Terra se encontrava de-
pois do cataclismo e o homem retoma o seu caminho.
A crença num ser que rege a Terra e o Céu está notoriamente difundida em quase
todo o globo. “O exemplo mais conhecido”, observa Saurat, “é por certo o de Atlas
na mitologia grega, que — segundo a narrativa de Homero — vivia no coração do
Oceano e sustentava não somente o Céu mas também a Terra. De maneira análoga,
também a tribo índia dos chichbas, na Colômbia, acredita que o mundo repousa nos
ombros de um gigante chamado Chichbachum, ao passo que os tlingits e várias tribos
atabascas acreditam que o mundo seja mantido em seu lugar por Hayicanako, a Velha-
mulher-que-está-embaixo-de-nós,
“Que podem ser concebidas criaturas de pedra”, acrescenta o escritor, “é um velho
tema da tradição popular recorrente na maior parte do mundo. Relatos populares ba-
seados nesse tema, por exemplo, encontram-se no Cáucaso do norte; « a tribo árabe
de Beni Sahr, na região de Moab, interpretando literalmente o próprio nome (Sabr
= rocha), se diz precisamente descendente de uma rocha. Também os parecis, índios de

Fig. 124. Dois dolmens colossais de Saint-Benolt-du Sault (Indre, França)


Fig. 126. O chamado “Cristo sem rosto”,
de Malta

Fig. 129. Uma das famosas estátuas de Malta,


que nos trazem à mente os lendários gigantes.
grafia, tirada por Schenone, mostra
anda os sinais dos braços.

Mato Grosso, sustentam que o primeiro homem, um certo Darukavaitere, era de pedra
e nascera de uma mãe também de pedra, chamada Maiso.
“Nas literaturas clássicas é bem conhecido o mito de Deucalião e Pirra, segundo o
qual, depois do dilúvio universal, o mundo foi repovoado pelas pedras que esses dois
únicos sobreviventes atiravam por cima dos próprios ombros: e a mesma história, com
pequenas diferenças, se encontra também entre os macusis da Guiana, Vê-se um traço
interessante dessa crença no famoso trecho da Odisséia (XIX, 163) em que Penélope
diz a Ulisses: “Mas dize-me, afinal. quem és, qual é a tua gente. Pois decerto nem o
fam
Fig. 127: Outros impressionan-
tes monumentos malteses foro
grafados pelo casal Schenone
conquanto desfigurados pelos
agentes utmosféric alguns
parecem conservar traços de
pássaros

fabuloso carvalho nem uma pedra te deram à luz”; outro eco do mesmo traço se encon-
tra nas palavras do profeta Jeremias (2,27): ”... assim se envergonham os da casa de
Israel, eles... que dizem ao pau: Tu és meu pai; e d pedra: Tu me geraste”.
De acordo com o francês Denis Saurat, seriam atribuídas primeiramente aos gigan-
tes e depois aos homens, impressionados pelo seu aspecto e pela sua força, as constru-
ções megalíticas, entre as quais os famosos dolmens. “Quando os titãs já tinham desa-
parecido”, escreve ele, "os homens tentaram evocar e reviver o tempo e as imagens dos
“deuses”. Encontramos em nossos dias, nas ilhas próximas da Nova Guiné, pobres sel-

123
Fig. 128. Dois aspecios da "Ro
de VOic”. à titânica representa
aro, que surge na
re, na França
Sem dúvida alguma foi colocada]
+ homem no lugar onde atual

Pá. à esquerda
Fig. 129. À chamada “Re
o” de Val Sangone
Piemonte, descoberta|
de lendas popula
ces que a dizem arrastada por uma
poderosa corda, cujo sinal seria
identificável na longa é regular
fenda horizontal inferior

Fig. 130. Estas ttânicas rocha


esquadriadas, fotografadas por
Lambervo Camermi ao norte de
Algaiola (Córsega nort
tal) faziam parte, seguramente, di
const es megalitica
vagens que erguem ainda dolmens e menires sem saber por que, exatamente como 05
nossos avós faziam outrora na Bretanha, na Inglaterra e alhures...
“Como explicar as surpreendentes semelhanças entre os cromlechs de Morbihan e os
de Malekula, os gigantes da Ilha de Páscoa, as lendas gregas e us mexicanas? **”
Entre os não citados e que geograficamente se encontram mais perto de nós, recor-
daremos os utânicos lajões (Fig. 121) de Villarfocchmardo (Vale de Susa) achados por
Mário Salomone não longe do curioso mascarão que já mencionamos, do Val Gravio
(Fig. 122), sempre no Piemonte (conhecido ainda pelas inscrições e pelos supostos res-
tos nurágicos (Fig. 123) ilustrados em Não é terrestre), além dos franceses de Saint-
Benott-du-Sault, no departamento do Indre, que figuram entre os mais sugestivos da
Europa (Fig. 124).
Em Malta alguns monóhtos (entre os quais os que reproduzimos, fotografados por
dois turinenses apaixonados pela arqueologia misteriosa, o casal Schenome) parecem
haver reproduzido, em outros tempos, os semblantes dos titãs: um deles mostra ainda
nítidos os sinais dos braços (Fig. 125); 0 outro se ergue sobre rochas poderosas, esbel-
to, tão fascinante que foi batizado por um estudioso com o nome de “o Cristo sem ros-
to” (Fig. 126).
Ao lado de um menir desse gênero se encontram rochas que, embora desfiguradas
pelos agentes atmosféricos, (Fig. 127), parecem conservar traços próprios das cabeças
dos pássaros “2. E o mesmo podemos dizer da famosa Roc de |"Ose ("Rocha da Pata”)
que, pesando centenas de toneladas, domina a planície do Sidobre, perto de Albi
(França meridional), sem dúvida erguida pelo homem. (Fig. 128).
“Os maiores menires e dolmens”, recorda Jullian, “revelam prodígios de mecânica.
Se na maior parte os blocos foram encontrados in loco, foi necessário talhá-los, arrastá-
los, erguê-los, fixá-los. Alguns pesam 250.000 kg, outros mais; e alguns há que foram
transportados por distâncias notáveis: 2 50 km, por exemplo, viajaram vários megálitos
de Stonehenge” *º,
Não podemos realmente imaginar como se processava O transporte: se devêssemos
acreditar nas fábulas que correm em Val Sangonetto (Piemonte), seríamos induzidos a
pensar em cordas. Pareceria apropriado reconhecer-lhes os sinais na estranhíssima fenda
horizontal, levemente oblíqua, da chamada “Rocha de Sansão” (Fig. 129). Mas, como
observa Mário Salomone, que ainda agora a está estudando, se se tratasse de cordas,
estas — para servir a uma empresa semelhante e deixar vestígios dessa natureza — de-
viam ser de aço!
Infelizmente nada sabemos nem mesmo sobre as ruinas das “casas dos gigantes” de
Algaiola (Córsega norte-ocidental), fotografadas por Lamberto Camerini, que nos pos-
sa esclarecer acerca dos sistemas adotados para o trabalho e à construção: os grandes
blocos nos revelam apenas que foram talhados (Fig. 130) de modo excepcionalmente
regular, o que presume — é óbvio — a existência de instrumentos adequados.

48. D Saurar, L'Atlantide e il Regno dei Gigana, Le Nuove Edizioni dIalia, Milão. 1957: Lembremos que 05 menires são toscos monólicos.
plantados verticalmente no chão, ao passo que os dolmens são formados por uma grande laje colocada sobre rochas fiscadas direitas no salo e 05
cromlechs são constinuídos de menires dispestos eus circulo
49: Como é lógico e sabido (propomo-nos desenvolver o atgumento em seguida), a idéia do vôo humano é quase sempre expressa com 6 sim-
bolo da pássaro
so Julian, Hixotre de la Gaulle, Hacherte Ed, Pares.
Os cosmonautas de Gana

São seres de grande estatura, inimigos irreconciháveis dos deuses... nascidos do


caos, amam o caos e odeiam o cosmo, isto é, à ordem e à harmonia estabelecidas pela
natureza : assim Nicolau Turchi nos descreve o mau gênio dos gigantes fenícios, não

muito diverso — como já vimos — dos gênios dos seus parentes hititas e helênicos, a-
tingidos pelo tuo de Zeus por sua impiedade

Animados de um mesmo espírito belicoso deviam ser o utã Vukub-Cakix e a sua fa-
mília, que o Popol Vuh nos apresenta alinhados contra os deuses Hun-Ahpu e Xbalan-
que; e talvez soubesse também qualquer coisa a respeito o sofista e escritor grego
Cláudio Eliano (170-135 a.C., mais ou menos), o qual, na sua História Geral, redi-
gida em 14 livros, nos fala de um curioso relato: "Sileno disse a Mida que a Europa,
a Ásia « à Africa são ilhas rodeadas pelo oceano e que só existe um continente, infi-
nito em vasudão, além deste mundo, onde vivem criaturas civilizadas so lado de outras

muito altas, com uma estatura que é o dobro da nossa, e uma existência quase duas ve-
zes mais longa do que a nossa *

“Além do oceano” certamente não ca primeira vez que ouvimos alusões ao “No-

vo Mundo” provenientes de um tempo em que este último deveria ser totalmente des-

conhecido na área mediterrânea,


Como quer que seja, aqui nos interessam os tita parece que aqueles americanos

não eram mais conciliantes lo que os europeus com suas divindades. Sobre a indole e
as tendências dos sardos não temos muitas notícias; dispomos, porem, da sugestiv
E]
documentação recolhida F pelo Prof. Giovanni Lilliu as dos “tumulos dos Big
gigantes
de Bórore, Bonorva (Fig. 131), Quartuccia, Paulilátino (Fig. 132)
No Japão, as impressionantes criaturas talvez não se preocupassem demais em asse-
gurar para si moradas monumentais para a eternidade, mas não desprezavam certas
guloseimas, “Há um testemunho da consideração em que eram tidos os grandes montes
de cascas de crusticeos, encontradas com tanta frequência nas vizinhanças do que hoje
se reconhece como antigos centros habitados”, observa William Watson, do Museu
Britânico. "No Hitachi Fudo-ki estas cascas vêm justamente definidas como restos
alimentares e interpretados como vestígios de gigantes capazes de dar passos de dois
metros de comprimento” *
De costumes muito pouco conhecidos eram os lendários saos africanos, a que são
talvez atribuídos os maravilhosos objetos de bre mZe descobertos nas adjacências do

Lago Tchade. Duas estupefacientes terracotas de sua cultura sc conservam no Musée


de "Homme, em Paris (Fig. 133): uma tem traços “espaciais”, próprios de tantas
obras de civilizações antigas, distantes, a outra representa um indivíduo com a cabeça
pontuda, orelhas e boca salientes, e os entendidos concordam em considerá-la diferente
de todos os outros achados
“De acordo com : lendas dos amidis cotocos”, escreve a propósito Roger May,

“viviam outrora na região do Tchade gigantes negros de cabelos lisos, cujos descen-

G Lalhu La Co des Surdo dal Noodinco all Era des Nuraghi, ERI Turim. 1967
Var. Le Ciniltá del Misters, Mondadori, Milão, s 964
Fig. 131. Interessantisssma documentação fotográfica do Prof. Giovanni Lilliu sobre alguns enigmáticos
edifícios sardos. No alto à esquerda: Bórore, “Imbértighe”, estela com à protinhola do númulo homónimo
de gigantes. No alto à direita e embaixo À esquerda: Bórore, Santu Bainzu”, vista geral « portinhola da
estela do túmulo homónimo de pigantes. Embaixo, à direita — Bonorva, "Su Barattedu”, cornija com den-
telos do nímulo hamônimo de gigantes

dentes os próprios cotos pretendem ser; segundo as tradições árabes, ao contrário, os


titãs teriam sido brancos.
“De qualquer maneira, tais afirmações são corroboradas pelo fato de que ao norte
de N'Guigmi foi encontrado um esqueleto de mais de 2,40m. E diante de Goulfei se

128
Fig. 132. Mais uma documenta
ção do Prof. Lilliu. A direita
Quartuccia, s Concas”, fachada
recurva de mímulo de gigantes
Embaixo: Paulilinno, “Perdu
Pes”, pedras com cavidades perto
de um túmulo de gigantes

encontram enormes blocos de pedra sobrepostos: afiançam os cotocos que foram os


saos que os transportaram até lá c, referindo-se a essa gente, falam de "homens tão
altos que eram capazes de ver por cima das árvores”. O arqueólogo De Pedrals pensa
haver-se tratado da invasão de uma raça branca instalada nas margens do Lago Tcha-
de, do Nilo e do Níger, que se fundiram progressivamente com os povos negros” 53
De sua parte, outro estudioso francês, Bonnel de Mézitreses, ocupando-se do fabu-
loso império de Gana que, no tempo dos faraós, se teria estendido da África centro-
ocidental à África central, descobriu nas proximidades do mesmo Tchade (como refere
ainda May) os restos de uma cidade fortificada com cinco poderosos círculos de muros
13 R May, puo0o Sibdes de Myuéres,
La Palatine, Paris-Genebra, 1999

129
Fig. 133. Duas estranhas cabeças
— QI de terracota dos misteriosos sãos
africanos, conservadas no “Mu-
séc de Homme” parisiense: uma
lembra os famosos “espaciais”
(até aqui falta a boca, a cabeça
parece encerrada no interior de
um capacete), à outra representa
um tipo humanóide inteiramente
desconhecido

Fig, 134. Os famosos “pesos de


ouro” de Gana, usados desde
tempos ime riais. Eis aí uma
belissima estilização do Sol
".

Fig. 139. Ao lado


da clássica cruz
gamada estão
representadas, nos

uy
mesmos “pesos de

E/ |
ouro , suásticas ra
compostas,
a
recorrentes em

numerosissimas n— —
outras civilizações. Sue
a
— -
——-—
ps
a.

! 5
- HuIHH H Uhattitaro!
/ reto do
l

Fig 136. Oumo


“peso de guro” com
a crerna espiral

,
Fig. 137. Uma descoberta
realmente inesperada: a pirá-
mide de degraus representada
em Gana
Embaixo.
Pig. 138. A misior suraR
de rodas: um estranho ser,
que recorda muiro de pero
os “espaciais” etruscos, MR
dos australianos e os “mardiãe
nos” de Tassili. Todas as fo
tos dos “pesos de o o de
Gana nos foram gentilmente
fornecidas pelo Prof Paulo
Duro, conhecido pesquisas
dor nirmense
Pap, à direita
Fig. 139. A famosisima)
pintura rupestre de Tassib
reproduzimo-la, com a se
guinte, para permunr um com

fronto imediato,

DO ————
e, no interior, o esqueleto de um homem de estatura muito superior áquela que nós
julgamos normal.
Naquele período, os titãs já deviam ter iniciado a sua parábola descendente, conser-
vando, todavia, lembranças cósmicas transmitidas pelos seus herdeiros diretos ou indi-
retos até os nossos dias; lembranças fantásticas, das quais encontramos vestígios na
atual República de Gana, sem, todavia, conseguir remontar às suas origens
Interpelados acerca do significado das figuras que constituem os pesos usados por
eles para pesar o pó de ouro, os indígenas sacodem a cabeça e sorriem, sem saber o
em;

* que dizer.
Examinemos alguns desses “pesos de ouro”, cujas fotografias nos foram gentil-
mente fornecidas pelo Prof. Paulo Durio, da Universidade de Turim: ao lado do Sol
(Fig. 134) e das suásticas simples e compostas (Fig. 135) que o simbolizam, encontra-
mos a espiral galáctica (Fig. 136).
Eis, ainda, a pirâmide de degraus que se eleva sobre a civilização egípcia e, aínda
mais imponente, mais dominadora, sobre as da América pré-colombiana (Fig. 137).
Com isto as surpresas já são tais que nos tiram o fólego. Mas aqui está outra, bei-
rando o incrível: o contorno da cabeça de um ser inidentificável (Fig. 138), mas se-
melhante às dos “marcianos do Tassili”, dos “espaciais” australianos (Fig. 139), do
misterioso “astronauta etrusco” (Fig. 140) do museu de Assis!

Fig. 140. O “astronauta etrusco” exposto no museu de Ássis.


VI
A ARMA DE MEDUSA

No CERTEZA, ninguém afirmaria, que Perseu teria uma existência fácil até o dia
em que o avá Ac TÍSIO, res de Argos, atemorizado por uma profecia, o mandou encerrar,

juntamente com a mãe, numa caixa para ser atirada ao mar contava obviamente com o
sucesso de mais um de tantos crimes perfeitos, tão abundantes na mitologia. Mas tam-
bém está repleta de fiascos solenes: assim deveria malograr-se igualmente o projeto
do soberano, pois a caixa acabou encalhando na praia de Serifo, uma das Cíclades.
Polidectes, rei da ilhota, achou a menina-mãe tão atraente que se apaixonou por ela,
decidindo, por fim, desposá-la. Mas Perseu, já crescido, não estava pelos autos, sobre-
tudo porque, logo depois do afortunado desembarque, o monarca fizera dela sua es-
crava
A fim de prevenir possível golpe de Estado no futuro, Polidectes concebeu um pér-
fido plano, pedindo ao futuro filho adotúvo, como presente de casamento, a cabeça de
certa Medusa, uma das Górgonas (Fig. 141), muito mais terrível do que as suas irmã-
anhas, Esteno e Euriale
Levado pelo orgulho e pelo típico impulso juvenil ainda hoje esconjurado, o rapaz
aceitou sem pensar duas vezes no caso, sabendo talvez que ia aventurar-se em uma
empresa disparatada. De acordo com os sábios poctas que vicram depois, de fato (de
Simônides a Hesíodo e a Pindaro), as três Córgonas “têm asas, uma cabeleira que é
um emaranhado de viboras, funesta aos mortais” e “a vista delas tira do homem o há-
lito vital”
De que modo? Com um simples e desdenhoso olhar, que reduzia a pedra quem quer
que tivesse a ousadia de contemplá-las, dizem os mitos
“Pobre Perseu!” sentiamo-nos tentados a murmurar ontem, reportando-nos às lem-
branças escolásticas.
Mas hoje, pensando na exobiolo; forçosamente temperada com uma pitada de
fantasia, não seria o caso de dizermos Pobres Górgonas”2

A expedição de Sírio
O “cosmonauta agitou-se num turbilhão de lama, ergueu os olhos para o enorme
missil que parecia debater-se contra o céu escuro. E talvez oscilasse deveras.
Não deveria ter descido — pensou deveria ter deixado rolar, naquele inferno, o
recipiente cilíndrico que saltitava na extremidade do braço metálico retorcido. Entre-
tanto, nem ele nem os seus companheiros podiam correr o risco de outra aterragem.
Fig. 141. Duas cabeças etruscas
de Górgonas

Tudo parecia andar bem até a fase final da operação: o míssil, construído de pro-
pósito para enfrentar as mais adversas condições atmosféricas, colhera terra; da sua
parte inferior saíra o braço desligável com o recipiente estéril que deveria ter recolhi-
do, para as análises oportunas, certa quantidade da lama viscosa espalhada pelo pla-
neta.
Depois, alguns cabos se tinham rompido e uma barra saltara como o galho de uma
árvore arrancado pelo furacão. E o cosmonauta descera naquele fim de mundo para
tentar recuperar o recipiente.
Conseguiu, no meio da tempestade, chegar ao cilindro, desamarrá-lo do último cabo
que o segurava, um instante antes que o tendão de metal se arrebentasse. Foi içado a
bordo, e despiu-se, enquanto os biólogos se ocupavam do recipiente.

136
Fig t42. A celebérrima: Córgoná de
Siracusa: existe um exemplar quase idên
ico em Chavin de Huâmiar, sede de uma
igmárica cultura peruana desaparecida

Fig. 143: O sinal solar e 0 simbolo do vôo


acompanham também esta ca de Me
dusa do “Ipogeo
pos dei Volumm” (Perúsia)
— Um planeta solto, — disse. — Outro cataclismo... deve ter sido terrível. Vi um

par de seres que procuravam refugiar-se ali embaixo, nas grutas Coitados! Pode ser
que sobrevivam...
— No teu lugar, — comentou o chefe da seção de pesquisas, — eu teria pena de
mim mesmo. Você já imaginou o prazer que sentiremos em ficar nesta bola miserável,
registrando-lhe os sobressaltos?
— Virão buscar-nos!
— Não conte muito com isso, — respondeu o outro. — Um barulhão desses desa-
nimaria qualquer um de chegar até aqui.
— Podemos esperar.
— Até quando?
— Às criaturas deste planeta têm vida muito mais curta do que a nossa
— Sim, mas deixe que se recuperem do des Sire,
Cansado, sem vontade de continuar discutindo, o explorador fez um gesto de in-
diferença. Desatou o escafandro, aiu do segundo macacão de proteção, urando, rapi-
damente, os seus tentáculos. E as longas antenas que se lhe destacavam da testa tiveram
um estremecimento de prazer.
Sussurrou, referindo-se aos seres que se haviam refugiado nas grutas, qualquer coi-
sa que, na nossa língua, seria parecida com a palavra “monstros”
Temos bonitos discursos sobre a fraternidade galáctica, em oposição a um “racismo
em escala cósmica” ; mas por mais bem dispostos que possamos estar, sentiríamos sem-
pre alguma repulsa diante de um ser que, por mais inteligente que fosse, tivesse um as-
pecto totalmente diverso do nosso; e o mesmo sucederia ao visitante espacial: seriam
necessários muito tempo ec muita boa vontade para não mais nos considerarmos “ mons-

tros” uns aos outros.

Fig. 144. Com muita probabili


dade à Medusa foi frequente
mente estilizada em forma de
polvo: aqui a vemos talvez
refletir-se num “rhyton” grego.

Fig. 145. Um famoso jarro cretense (Falysos) com um polvo pintado


de vermelho e castanho.
Fig. 146.0 polvo representado juntamen
e com um animal marinho no fragment
de um prato de Peste

Não nos é, portanto, difícil imaginar como seria duro o destino de astronautas nas
condições descritas na nossa historieta: isolados na Terra, teriam sido obrigados a de-
fender-se, e a força numérica dos adversários teria levado a melhor sobre as suas armas,
por mais mortiferas e poderosas que fossem
Muitissimas lendas parecem querer dizer exatamente isto, quando não pretendem
assustar-nos com lutas furibundas entre seres diversíss imos, que se teriam desenrolado
em nosso globo.
Citamos o parecer do aentista soviético Efremov: pois bem, não nos esqueçamos de
que, apoiado em uma opinião análoga, Evêmero, escritor grego que viveu entre os
anos 340 e 260 a,C., fundou a própria escola. Segundo ele, “os heróis e personagens
míticos outra coisa não são além de homens divinizados pela admiração dos povos”
“toda a mitologia é uma transposição de acontecimentos históricos e os nomes dos
deuses representam povos, com as suas disputas e as suas fusões”,
Às Górgonas se referem muitíssimas tradições, que não pertencem apenas ao mundo
grego e latino. Gilgamés, o herói sumeriano, combate contra o monstro Humbaba,
que possuía apenas um olho, capaz de mudar em pedra quem quer que olhasse para ele.
Humbaba, além disso, observa Gaster, “enverga 7 peças de vestes superpostas; per
tence, portanto, ao mesmo grupo da líbica górgona Katoblepas, do irlandês Balor, do
galês Ispaddaden Pennkawr e do sérvio Vy, todos os quais são arcos monstruosos que
rechaçam os inimigos com o olhar fatal”
Recordemos também Antes dos Tempos Conhecidos: “A Górgona, a mítica figura

139
Pág, à esquerda.
Fig. 147. Estreitamente aparen
tado com o precedente parece
este polvo de Palaikastro (Creta)
foi pintado num vaso que, com à
seu aspecto estranhissimo, lembra
uma das tantas musteriosas “está
tuas espaciais

Fig. 148. O motivo dos cefuló


podes talves desenvolvido nos
alucinantes pormenores de 2 five
as de ouro de Vetulóônia

Fig. 149. No coração das matas


amazônicas o explorador wrnen
se fotografou um polvo gravado
na rocha, Naquelas regsões 0 ant
mal é completamente desconhe
cido

Fig. 140. O polvo com os tentá


culos em espiral está ao lado da
“árvore da vida”, neste sarcófago
de Pachyammons (Creta) perten
cente 40 período minóico (cerca
de 30004 1y004.C.)
Fig. 151. Polvos, “árvores da vida”, e
pássaros do calendário esquimó. Desenha-
dos por um arnista do nosso tempo, repro-
duzem simbolos antuguissimos.

grega que traz um emaranhado de serpentes cm lugar dos cabelos, (...) não é apenas
helênica: podemos afirmar que todo o mundo antigo a conhecia, dos etruscos aos sícu-
los, dos chineses aos japoneses, dos siameses aos javaneses, aos habitantes de Bornéu,
da Nova Zelândia e do Havai”.
Voltamos a encontrá-la também em Chavín de Huántar, sede de uma enigmática
cultura peruana desaparecida, onde tem os traços do jaguar; mas, escreve Honoré,
“na representação da boca, dos cabelos e do nariz lembra a Górgona de Siracusa (boca,
cabelos e nariz são uma cópia quase idêntica), tanto que é muito difícil não perceber
a conexão entre as duas obras”?
Os traços do jaguar nos reconduzem a outra misteriosa “civilização estelar”: mas
também a famosíssima Górgona de Siracusa (Fig. 142) é colmilhada, os seus cabelos
serpentiformes são estilizados numa espiral (ainda a onipresente espiral!), como tam-
bém as volutas das asas: há, portanto, uma alusão ao cosmo, ao vôo; vemo-la até no
sinal solar e na águia que encimam outra conhecida cabeça de Medusa, a etrusca do
Ipogeo dei Volumni, nos arredores de Perúsia (Fig. 143).
Com vários outros estudiosos, Honoré alude também à representação das Górgonas
como polvos. É uma hipótese que nada tem de ilógico: os cefalópodes, de fato, pres-
tam-se muitíssimo bem para representar seres semelhantes às míticas medusas; e as len-
das que sempre os rodearam podiam oferecer aos povos antigos elementos ulteriores
de identificação.

44. Pierre Hoooré, Ich find dem serten Got, Verlag Heinrich Scheffler, Francfoet - sobre o Mena, 1961

142
Observemos a figura que adorna um famoso rhyton grego (Fig. 144) (os rhyton são
recipientes destinados às libações, em forma de chifre de boi, de cone alongado ou de cabeça
de animal): ela nos remete diretamente ao polvo de outro famoso achado, o chamado
“arro de Falysos” (Fig. 145), cretense, de sugestiva pintura vermelho-castanha
Do fragmento de um prato de Pesto” « conservado no museu nacional de Gela, nos
contempla um polvo (Fig 146), que podemos julgar estreitamente aparentado com O
pintado no “frasco de Palaikastro” (Creta), que remonta ao que parece — aproxi-
madamente ao ano 1 500 aC
O faro curioso é que este objeto (Fig. 147) tem uma forma tal que recorda, na parte
superior, uma das muitas e impressionantes representações de “espaciais” que os leito-
res já terão tido ocasião de observar em diversas páginas deste volume
Deveras alucinante co mounvo dos cefalópodes tal como vem desenvolvido em duas

fivelas de ouro (Fig. 148) de Vetulônia (uma das doze cidades da confederação etrus-
ca). Onde encontramos os “antepassados” desses monstros? Em toda parte, até no co-
ração da Ami azÔnia, Br AV ados ninguém sabe por quem, nem quando Nenhum indígena

— diz-nos Willy Fassio, que fotografou a inscrição aqui reproduzida (Fig. 149) —
pensaria em realizar um trabalho semelhante, nem estaria em condições de realizá-lo.
E no interior do imenso território onde foi observado o desenho, o polvo sempre foi
completamente desconhecido!
Eis aínda o polvo acompanhado de espirais e da eterna “árvore da vida” num sar
cótago de Pachy: AMDIMOS (F 1g I so), que remonta ao periodo da civilização minóica

cretense (mais ou menos 3000-1 500 a.C.); e eis aqui os cefalópodes igualmente pró-
ximos da mítica planta, de construções de cúpula e de passaros, no calendário esquimoó:
o que foi desenhado pc r um artusta, do qual apresentamos algumas ilustrações (Fig

151), imita motivos conhecidos no Ártico desde tempos imemoriais

As antenas do Minotauro

Outra deformação das Górgonas poderia ser representada pela aranha, quer na
África, quer na América. Na Alta Guiné, por exemplo, a aranha tem uma grandíssima
importância nas crenças dos bantos, que lhe atribuem um papel de primeiro plano nas
lendas sobre o “repovoamento da Terra” (realmente estranha essa aproximação!) e
nos ritos propiciatórios c divinatórios
Os pimas ameríndios de língua uto-asteca, instalados no Arizona e no México, atri-
buem a “estabilização do mundo” (não se sabe exatamente a que se refere a expressão:
sentimo-nos quase tentados a distinguir nela a alusão à volta à normalidade depois de
um desastre cósmico) a um “Irmão Ancião” que não se identifica melhor e que teria
sido ajudado pelas aranhas na sua árdua empresa, a ao passo que, para os dacotas do
Jorte, 0 demiurgo é Iktomi, representado com uma aranha, mas também com uma
serpente eum pássaro

y Primeir ja sibarita, depois lucana, finalmente romana, na parte orentalde G Salerno, estranhamente chamada pelos gregos
Posadúmia
| | Fig. 152. Esboços de alguns dos gigantescos desenhos da

1
| deserto de Nazca: pássaros (5, 12, 14, 15), peixes (9, to),
lhama (3), macaco (7), aranha (16), réptil (18). A escala
reproduzida embaixo, com uma linha dupla em cada casi
Lda nha corresponde a ço metros,

São estes os elementos que dominam a história da arqueologia, que parece sugestio-
nar-nos com um sem-número de evocações cósmicas. Ficando com a aranha, reenvia-
mos o leitor aos colares costarriquenhos, em que ela é reproduzida também com a espi-
ral, e aos misteriosos, enormes desenhos do deserto de Nazca, no Peru (Fig. 152),
cuja execução só parece ter sido possível com o emprego de meios aércos '*. Aqui um
aracnídeo é estilizado de modo estupendo ao lado de um estranho réptil (Fig. 153) de
r8om de comprimento (infelizmente estragado para sempre pela construção da auto-
estrada pan-americana) e de um belissimo pássaro (Fig. 1 54) cujo bico mede toom.
Polvos, aranhas: os nossos remotíssimos antepassados teriam realmente se encon-
trado diante de séres mais ou menos semelhantes a tais invertebrados? Ou os tentácu-
los destes últimos, com os anéis enviperados dos cabelos das Górgonas, eram, na rea-
lidade, órgãos de uma espécie inteiramente diferente, partes do aparelhamento, ante-
nas?

46. As respectivas fotografias vêm reproduzidas em Antes dos Tempos Conhecidos

144
Fig. 153. Nazca: a representação
de um estranho réptil de 180m
de comprimento foi, infelizmente,
estragada para sempre pela cons-
trução da auto-estrada pan-ame
nicana

tem um comprimento
Como todas as outras fi
de Nazca, só é visível de
» dessas antiquis
simas figuras reria sido, acaso,
dirigida do alto?
Os estudiosos menos tradicionalistas, dispostos a considerar as "hipóteses espaciais”
sem um cepticismo apriorístico, pensam poder considerar válidas tanto uma quanto 2
outra teoria; naturalmente até uma prova em contrário.
Porventura os kappas (os misteriosos “homens dos canaviais nipônicos) não pare-
cem seres providos de uma probóscide, pelas descrições que deles nos foram apresen-
tadas? Eis aqui ainda, a propósito, outra notícia; “O Prof, Ci Pen-lao, da Universi-
dade de Pequim, descobriu alguns desenhos entre as montanhas de Honan e numa ilha
do Lago Tung-uing. Executados cerca de 45.000 anos antes de Cristo, esses desenhos
representam seres que parecem munidos de grandes probóscides e uma espécie de apa-
relhos aéreos de forma cilíndrica. É por certo difícil admitir a existência de astronautas
e capacetes espaciais em época tão distante” 7,
Difícil parecia também sustentar a existência dos kappas, todavia, a ciência hoje não
esti em condições de formular uma explicação diversa da que foi proposta pelo Prof.
Kitamura *, E, embora constrangido em relação a certos ambientes, deve admitir que
os 4 “cornos” delicados, colocados na cabeça protegida das singulares criaturas, se pa-
recem muitíssimo com antenas (Fig. 155). Igualmente não podem ser definidas como
excrescências ósseas os esquisitos “ornamentos” de outras estatuetas japonesas do pe-
ríodo jomon. Estas estatuetas — como aquelas mais conhecidas, chamadas dogu, que
serviram de modelo para macacões astronduticos'” — parecem igualmente representar
seres procedentes do espaço.
Ao que tudo indica, o símbolo dos chifres tem, em toda a parte, um significado as-
vral, do Saara pré-histórico a Simbabwe, da Pérsia à Índia, da América à Europa se-
tentrional e central, ao mundo mediterrâneo.
Na Mesopotâmia, os cornos tanto representam a Lua quanto Vênus, “Os babiló-
nios conheciam os “cornos de Vênus”, escreve Bowen; “descreveram o “crescimento”
desse planeta, as suas fases, semelhantes às fases lunares. Mas os “cornos de Vênus”
são invisíveis a olho nu. Como poderiam, portanto, os sacerdotes da antiga Babilônia
observá-los sem dispor de telescópios “
Há um guerreiro com o elmo comudo na estela mesopotâmica de Tello-Lagash
(Fig. 156) chamada “dos abutres”; dominam-lhe a figura dois astros que cintilam
sobre uma curiosa formação cônica; não falta, porém, mais embaixo, a “árvore da
vida”.
O Rei Hor, da 12? dinastia egípcia, é representado com um estranho par de chifres,
(Fig. 159), cujas extremidades semelham duas mãos erguidas: a opinião de quem vê
nestas últimas a simbolização de antenas (isto É, instrumentos capazes de “receber”,
“perceber”, exatamente como as mãos) pode ser arriscada; mas é difícil excluí-la, ainda
que se propenda para a estilização dos órgãos animais do tato e do olfato, dos quais as
próprias antenas tomaram os nomes.
Voltemos a ver em Creta os cornos que, em relevo, ornam as paredes da “Gruta do

|
elefante” (Fig. 158) sarda, Nada de excepcional, poder-se-ia pensar, visto que se trata
da pátria do fabuloso Minotauro; mas na ilha encontramos evocações ainda mais su-
gestivas dos fascinantes mistérios do passado.

47: Andrew Tomas, Les Secrets de ' Ailantide, Rober Lalfom, Pares, 1969.
48. Ames dor Tempos Conhecidos, já citado.
39 Não é Terrestre, já citado
Go. RNC. Bowen. Thr Exploration nf Time, George Newnes, Londres, 1gçM
Fig. 195. Teês estatuetas dos sinos, À pr-
meira é do periodo jomon médio (note-se
o rosto felino, que, com us garras, nos
reconduz sos misteriosos kappas); as ou
tras pertencem ao periodo jomon tardio e
poderam ser vistas como outros versos
dos famosos "doga espaciais” mpônicos

Fi. 156. À “estela dos abutres” mesopo


tâmica: parece singular, repitamo-lo, a
aproximação entre os cornos, as “árvores
da vida” e os sinais astrais
Pág, d esquerda.
Fig. 157. “Os cormos
que terminam com duas
“mãos” desta estátua do
soberano egípcio Hor são
vistos por alguns estu
diosos como simboliza
ções de antenas

Fig. 158. O imeror da


“Gruta do elefante” sar
da, com chifres esculpi
dos em relevo nas pare
des

Fig. 159. Muitas hipóte


ses fantásticas sugerem
estas chápinhas micenen
ses de ouro, com as proc
uinências superiores, «
pássaros e as curiosas
representações centrais

Fig. 160. Os idolos de


argila de Heráchon: a
cabeça «e os braços for
mam um tridente
Fig. 161. A pouca distância de Heráclion,
perto da porto de Gnossos (residência do
lendário Minos, res de Creta), foi desco-
berta esta estranhíssima máscara tricorne

Chapinhas de ouro (Fig. 159) parecem delincar-nos rostos “espaciais” esquadriados,


com quatro proeminências na parte superior e dois pássaros dos lados. Muitas hipóteses
se formularam a propósito: falou-se na reprodução de templos dedicados a divindades
marinhas, e as três âncoras que ornam a parte inferior poderiam induzir-nos a acreditar
nisso, como poderiam evocar-nos embarcações (os pássaros levaram alguns a falar até
numa das tantas “arcas de Noé” que todo o mundo conhece), mas nenhuma das exph-
cações tentadas isfaz completamente.
Uma coisa é clara: a chamada “coroa cornuda” das chapinhas tem o seu correspon-
dente em alguns ídolos de argila descobertos em Gazi, perto de Heráclon (Fig. 160),
nas vizinhanças de Cnossos, onde se erguia o palácio do lendário Minos, pai infeliz do
Minotauro.
Os idolos em apreço, com a cabeça e os braços erguidos em ângulo reto, formam um
tridente *!; c este se harmoniza, nitidamente, com os três “cornos” de uma máscara
(Fig. 161) descoberta perto do porto da mesma Cnossos!
Continua enigmático o fato de que o tridente conheceu nos tempos antigos uma di-
fusão quase mundial: encontramo-lo tanto na Itália e na França quanto na Rússia enro-
péia e asiática (Fig. 162), tanto na África quanto na América, e não apenas como ins-
trumento ou arma. E, reduzido a um raio trífido, vemo-lo empunhado por divindades
asiáticas (Fig. 163) ou mediterrâneas
Voltando aos ídolos de argila cretenses, ocorre-nos espontancamente aproximá-los
da figura do “deus barbudo” de Tiahuanaco, ao qual alguns estudiosos identificam
Poseidon, referindo-se a um mítico rei da Atlântida *?. E não nos esqueçamos de que
Minos pediu a Poscidon — segundo a lenda — o envio de um touro para confirmar o
próprio direito ao trono: daí se originaram os acontecimentos que redundaram no
nascimento do Minotauro.
64. Antes des Tempos Conbecidas, pá estado
6a. Op ci.

150
upos

pré-his
Da esquer-
da para a direita, o
e Peschiera del
arda, o de La Ténc
Peipsi
(Estônia, URSS)

Fig. 16
deus da temp
hitita, empunha
caio trifido
Héracles e o disco voador

Como se sabe, cabe a Teseu o mérito de haver liquidado o monstro cretense. Mas o
nosso herói foi protagonista de muitas outras empresas ainda: venceu gigantes e ani-
mais aterradores. Realizou, em companhia de Héracles, uma expedição contra as ama-
zonas e ajudou o amigo Pirítoo, príncipe dos lápitas, na guerra contra os centauros.
Mas de que raça eram esses indivíduos? Criaturas com o busto humano e o corpo
eguino (Fig. 164), como estamos acostumados a imaginá-las? Não, essa representação
era ainda desconhecida no tempo de Homero, que os menciona como seres violentos
“de cabeleiras desgrenhadas”.
Às antigas lendas helênicas encontram curiosa correspondência nas tradições gua-
temaltecas: os centauros da Tessália se diziam “filhos de uma nuvem” como os selva-
gens americanos exploradores do céu, que se diziam “nascidos das nuvens e do Sol”; e
também estes últimos — como os seus colegas pregos — parecem haver cultivado o
feio costume de raptar as mulheres dos outros. Para fazer-nos refletir ainda mais sobre
o assunto existem, contudo, mais dois particulares: a representação guatemalteca dos
“seres solares” (Fig. 165) que lembra a das Górgonas, e a batalha travada contra estas
últimas por um herói cujo nome varia de povo para povo (9 que não é para admirar,
visto que a lembrança se associa a representações não interpretáveis da era arcaica, mas
cujas façanhas se aproximam, em certos particulares, das de Perseu, filho de Dánae e
de Zeus, que teria fecundado a jovem sob a forma de uma chuva de ouro.
Examinemos mais de perto as aventuras de Perseu, empenhado, como já dissemos,
em apoderar-se da cabeça de Medusa, Missão sem dúvida arriscada, que seria suicida
se o protagonista não tivesse podido contar com a ajuda de Hermes e Atena. O primei-
ro o aconselha a munir-se de meios adequados entre as ninfas do Norte (cujo local de
residência só era conhecido das Gréias, passarões de cabeça humana), dá-lhe de pre-
sente uma espada, que vai fazer companhia ao escudo presenteado por Atena, e 0 con-
duz voando à região das Górgonas, situada “no extremo ocidente... lá onde viviam
as Hespérides e Atlas”.
A lenda helênica é uma verdadeira narrativa de ficção científica, e assim se revela
desde a alusão ao olhar petrificante das três irmãzinhas. Poderia tratar-se de uma arma
desconhecida? Diremos precisamente que sim, visto que, antes de casar com Andró-
meda, Perseu precisou lutar com um pretendente à mão da moça, Fineu, cujo exército
dizimou, projetando contra os inimigos os raios nascidos da cabeça cortada de Me-
dusa.
A “vara que provoca o sono” e os “calçados alados” de Hermes poderiam ser vistos
respectivamente como uma temível pistola de gás e um velocissimo aparelho aéreo.
Perseu recebe uma cópia deles na terra dos hiperbóreos (talvez não diferente da terra
das Gréias*”), juntamente com um alforje que tinha a propriedade de assumir a forma
de tudo o que continha e um chapéu que tornava invisível o seu portador.

6%. Era filho de Egeu e Eua À propósito, parece interessante referir o que escreve Felice Ramonino na sua Mitologia classica (Hoepli, Milão,
1967): “. mas coma Etra fosse amada por Poseidon, também se dizia que Tescu era filho de Postidon, Se se considerar que Egeu « Poscidon
se identificam, compreender-se-á facilmente que Teseu, filho do Mar e de Etra, ou seja, a alva serena, é ainda uma personificação do Sol”
64. É sintomática também, como veremos em seguida, a alusão à chuva,
65. A sua localização é procurada no cxtremo Norte: “Habitavam uma região em que tudo era escuro e envolto em eterno crepúsculo(...)
mas o Sol a alumiava”, são concordes em admilu Simônides, Hesodo e Pindarm,

152
Fig. 164. O “centauro dos vulsínios”, es
cultura etrusca que remonta aproximada
mente ao ano 600 40

Os “pés alados” Ocorrem em muitas lendas da América central e meridional, onde

os vemos frequentemente representados em recipientes usados com finalidades rituais


(Fig. 166); e as armas menos convencionais aparecem igualmente, com frequência,
nas representações pré-colombianas
— Puxa vida, parece uma metralhadora! exclamou um nosso amigo arqueólogo,
aludindo à um dos instrumentos empunhados por -Quetzalcóatl numa reprodução do
Código Bórgia (Fig. 167), que o vê, entre outras coisas, munido de aparelhamentos
bastante estranhos, diante de personagens equipados com engenhocas que não prome-
tem nada de bom (observe-se a figurinha central).
Mas continuemos a brincar: neste tom poderemos comparar a Panerfâuste ou a
bazucas os instrumentos com que se apresenta (Fig. 168) o deus Xipe Totec, vencrado,
muito antes dos astecas, pelos mixtecas, zapotecas e pipilos. O seu nome significa o
“esfolado” c refere-se às sangrentas cerimônias nas quais os sacerdotes do antigo Mé-
xico se cobriam com a pele dos inimigos mortos. Mas não poderiam estes ritos (como o
costume xamã de envergar peles de urso) referir-se âquela “dupla pele” de que falamos
várias vezes e que, com um minúsculo esforço de imaginação, poderia ser identificada
com um escafandro, um macacão ou, de qualquer modo com um revestimento protetor?
Quanto ao chapéu recorramos sempre brincando, bem entendido — a um elmo
zinho espacial, e veremos como nos é possível tornar-nos irreconhecíveis. Porventura
a palavra “invisível” não pretenderia traduzir, cm termos de fábula, este conceito?
Acreditamos que seja um tanto difícil reconhecer a fisionomia de um ser humano atrás
das armaduras próprias das “estelas da Lunigiana”, algumas das quais (Fig. 169 e

153
Fig. 165. O Sal semelhante a uma Górgona se
harmoniza nesta estela de Cozumalhuapa (Guate
mala) com outros simbolos cósmicos e um estranho
é é rante”

170), muito sugestivas, se conservam


no museu arqueolópico de Espézia; aí
se pode admirar também um “homem
sem boca” (Fig. 171) que, embora de
modo diverso, exprime igualmente o
mito da “invisibilidade”
Quanto à espada e ao escudo de
Perseu, “capazes de colocá-lo em condi-
ções de enfrentar seres de corpo encou-
raçado, invulnerável a qualquer arma
de corte”, parece-nos razoável manifes-
tar algum cepticismo: uma espada e um
escudo desse gênero não poderiam exis-
ur naquela época. E não é só isso: os
metais nem sequer “deviam” ser conhe-
cidos, pois a lenda de Perseu, como a
de Héracles, anterior à idade do bronze,
situa-se no Paleolítico!
“Héracles (Hércules na mitologia
latina) não é grego (Fig. 172), porque
quando se difundiu o seu mito a Grécia
ainda não era nascida. Um insigne
autor descobriu que béraklês não era
nome de pessoa, mas um vocábulo que

designava, na Creta arcaica, um fun-


cionário cujo cargo era análogo ao dos
sufetes cartagineses"*$, escreve Charpen-
ter.
Ele também, por conseguinte, vê as
lendas como deformações de aconteci-
mentos reais,

66. Magotrados com encargos semelhantes aus dus times


romanos |N' doÀ |
E EA
Hg. 166. Os “pés alados” aparecem, não só na mitologia mediterrânea, mas também em
muitas representações americanas: ei-los aqui representados numa tripode policroma da
província de Limén (Costa Rica),

Fig. 167. Quetzalcóai, munido de singulares aparelhamentos, enfrenta seres equipados


com instrumentos que não prometem nada de bom. (do Código Borgia, 19)
E ai q =
Fig. 168. Os cetros deste antigo deus me
xicano semelham, na verdade, armas es
tranhas. O seu nome é Xipe Totec, que
sigufica “o esfolado”: na “dupla pele”
porém, como em outros revesumentos de
sentido mágico, alguns estudiosos vêem
uma espécie de escafandro

Pág. à direita.
Fig. 170. Outra estela da Lunigiana, con
crvada, como a precedente, no museu
arqueológico de Espézia: aqui também
estamos diante dos enigmáticos “seres sem
boca” que, em todas as partes do globo,
conduziram à formulação de teorias
fantásticas

Fig. 169. Um “espacial da Lunigiana”


visto de frente e de perfil
Fig. 171. Também no museu arqueológico d Es
pézia se encontra à representação deste estranhis
sumo “homem sem Poste DE

Fig. 172. Héracles, usando também a “dupla pele”


(pormenor de Vulsínios, perto de Tarquínia)

F “473. À impressionante cabeça leonina des


coberta no “túmulo de Midas” em Gordium, na
Anatólia sulocidental
Fig. 174. O “leão de Vulsínos”

Fig. 175. Um incensório em forma de leão do enigmánico


“Grupo X” (Balana, Egito). Recorda as representações
próprias do Extremo-Oriente, do passo que as das figuras
173 € 174 estão mais próximas dos míticos jaguares da
América central e meridional

No primeiro trabalho, Héracles sufoca entre os braços o leão de Neméia (um vale
da Argólida), que arma nenhuma podia ferir. Tratar-se-á de um parente dos felinos
amcaçadores que admiramos com as fauces escancaradas na representação de bronze
(Fig. 173) descoberta no chamado “túmulo de Midas” em Gordium (Anatólia sul-
ocidental), nas necrópoles etruscas (Fig. 174), nos incensórios (Fig. 175) do enigmá-
tico Grupo X (Balana, Egito). cuja cabeça é tão parecida com a do dragão chinês?
Voltamos a encontrá-los de guarda nos templos cristãos: ainda que nos recordem
representações bem mais antigas, eles perderam, todavia, o significado original. Não
obstante, evocações fascinantes nos arrastam através do espaço e do tempo. Não vimos,
porventura, no Extremo-Oriente o felino rivalizando com o dragão (Fig. 176), não o
admiramos ao lado da serpente na América pré-colombiana, exatamente como na cate-
dral de S. Vigílio (Fig. 177), em Trento?
Soltemos a fantasia, e sob a sua égide projetaremos a luta de Héracles contra o so-
berbo “homem-gato” vindo do espaço, como o veremos, respectivamente no segundo,
no terceiro e no nono trabalhos, opor-se à estranhíssimos animais: a hidra de Lerna, a
serpente de 9 cabeças que infestava a Argólida (e há outra serpente na história do nosso
personagem, a que (Fig. 178) personifica o Rio Aquelôo), o javali solto de Erimanto,
as éguas de Diomedes, devoradoras de homens, refletidas talvez nos belíssimos ginetes
alados etruscos (Fig. 179).
Não sabemos o que pode representar a corça do Monte Cerineu, com as armas de
ouro e os cascos de cobre, capturada pelo herói no seu quarto trabalho. A sombra do
Minotauro projeta-se sobre o sexto, o oitavo e o décimo trabalhos, que obrigam Héra-

158
Fig. 176. Como nas representações orientais, embora com um significado totalmente di
verso, modificado através dos milênios, o leà 1 opõe-se 40 dragão na simbologia cristã
Eis aqui uma escultura da porta norte-onental da catedral de S. Virgílio em Trento (mea
dos do séc, XII)

Fig. 177. Um leãoc uma serpente de guarda na janela central da catedral de S. Virgílio,
em Trento
Fig. 178. Héracles em Juca contra
o Ria Aquelõo, tepresentado por
uma serpente antropomorfizada,
numa ânfora ática

Fig: 186. Um esplêndido colar


mexicano constituido de uma ca
beça de águia ornada com espr
rais: talvez aluda ao “pássaro ce
leste” pré-asteca que, como: 05
piitarós. vencidos! por Hgradies,
lançava as próprias penas a modo
de projétis

Fig. 179. Nos magníficos corcéis


etruscos “a serviço dos deuses
(aqui um pormenor de um tempo
de Tarquínia) se reflete talvez a
lembrança das éguas de Diomedes
domadas por Héracles

Pág. à direita
Fig. 181. Dois felinos, estranha-
mente semelhantes aos da Améri-
ca pré-colombiana, seguros por
um ser de cabeça aquilina, num
grupo hirira de Kargamish, em
basalto
cles a limpar as estrebarias de Áugias (e ele o faz desviando “simplesmente” o curso de
dois rios), a domar o tremendo touro de Creta e a capturar os bois de Gerião, monstro
de três corpos que vivia numa “ilha ocidental” chamada Eritéia.
Nessa ocasião o herói criou o Estreito de Gibraltar, separando duas montanhas que
passaram a ser conhecidas pelo nome de “Colunas de Hércules”. Tudo faz supor que
aqui (como no caso do desvio dos rios e do décimo segundo trabalho, a captura de
Cérbero, durante a qual se disse que a Terra inteira tremcu) estamos diante de alusões,
deformadas, a cataclismos que mudaram o aspecto de vastas zonas,
Mas eis que, com os bois de Gerião, voltamos à ficção científica, “Conta-se que
Héracles, molestado pelos raios ardentes do Sol que se punha, apontou contra ele as
suas setas”, escreve Ramorino, “e Hélio, admirado de tanto atrevimento, permitiu-lhe
usar 0 sem batel de ouro em forma de taça; com a ajuda dessa embarcação, o herói pôde
atravessar o oceano e chegar a Eritéia”.
A pré-estréia de um “disco voador”. Isso não nos espanta, visto que nas aventuras
do incansável Super-Homem da Antiguidade não faltam nem as astronaves: há uma
evocação direta da “águia da noite” (Fig. 180) pré-asteca (o belíssimo pássaro de pés-
simos hábitos) na sua luta contra as aves terríveis do Estinfalo, aninhadas na Arcádia,
“munidas de garras, asas e bico de bronze, e penas também de bronze, que elas arre-
messavam como flechas”.
Tratar-se-ja de veículos aéreos? Não podemos fazer outra idéia desses voadores me-
tálicos que lançavam mísseis. E todos os elementos da antiquíssima lenda nos parecem
condensados no grupo hitita de Kargamish, que vê o homem-águia manter atrelados
dois felinos (Fig. 187) estranhamente semelhantes aos da América pré-colombiana,
dominados, porém, por uma enorme figura humana, que parece em condições de deci-
dir como melhor lhe aprouver o destino de todos.
No sétimo trabalho, Héracles se avém com as amazonas, como tantos machos pre-
potentes da Antiguidade, e consegue roubar o cinto da rainha delas, Hipólita, matan-
do-a. Seria aquele cinturão alguma coisa semelhante a um cinto de histórias em qua-
drinhos, capaz de neutralizar a ação da gravidade?
Dados os elementos que passamos em revista, a hipótese não é de se jogar fora, E
ainda menos improvável se torna quando se procura penetrar o significado do undé-
cimo trabalho. Literalmente, de fato, este não pode contentar-nos: seria uma coisa bem
fútil e pueril para um herói ir roubar mel, ainda que fosse de ouro. Não obstante, o
nosso amigo voa até o jardim das Hespérides e aproveita a ocasião para abater 0 gi-
gante Ânteu.
“Os latinos consideravam esse combate um fato histórico”, nos diz Charpentier,
“e Plínio estabeleceu com certeza o lugar em que devia achar-se o múmulo de Anteu:
em Lixo, diante do mítico jardim das Hespérides. Ele precisou que o sepulcro do gi-
gante unha 60 cóvados, ou seja, uns 17m de comprimento. Os romanos acreditavam
tão firmemente nisso que, no tempo em que ocuparam à Tingitânia, um general mandou
fazer escavações na parte mais alta do Charf (uma colina isolada nas proximidades de
Tânger) para procurar a famosa sepultura. E diz-se que os legionários descobriram ali
uma quantidade de ossos" *”,

67 Louis Charpentier, Les Giant et les Myideresates Originei, Raberr Laffomt, Paris, 1969

162
VII

PASSAROS DE FOGO

Dos DA MORTE de Hiperião, narram os mitos, o seu reino foi dividido entre
os filhos de Urano; entre eles os mais famosos eram Atlas e Crono. Atlas recebeu como
sua parte as regiões da costa do oceano, e não somente deu o nome de atlântidas à sua
gente, mas também chamou Atlas à montanha mais alta da região.”
Assim escreve o grego Diodoro de Sicília (que viveu no tempo de Júlio César) na
Sua monumental Biblioteca Histórica. Não dev ta Ser, por certo, um npo que acreditava

cegamente na religião da sua época, pois acrescenta uma explicação racionalissima de


uma história conhecida
“Diz-se também que Atlas aperfeiçoou a ciência da astronomia e que foi o primeiro
a tornar conhecidas as suas doutrinas ao gênero humano: por este motivo se conserva a
idéia de que todo o céu estava apoiado sobre os seus ombros.”
Notemos, a propósito, que Hiperião, um dos titãs, filho de Urano e de Géia, era
considerado "pai do Sol, da Lua e da Aurora”, e seremos igualmente induzidos a con-
siderar simbólicos tais conceitos, como as crenças a que alude em seguida Diodoro de
Sicília
“Atlas, narra ainda o mito, tinha sete filhas chamadas, em grupo, atlântidas; os seus
nomes pessoais, porém, eram Maia, Electra, Taigeta, Estérope, Merope, Alcione,
Celeno. Elas se uniram aos deuses e heróis mais famosos e os seus descendentes foram
os primeiros antepassados da maior parte do gênero humano (...) Depois da sua morte,
as filhas de Atlas foram entronizadas no céu e designadas com o nome de Pléi; des...”
Quem leu Não é Terrestre e se lembra das referências de tantos povos às Plêiades
achará estas coincidências pelo menos curiosas. Nem sempre se trata de formosas jo-
vens caídas sobre a Terra: aquela constelação se referem as histórias de muitos perso-
nagens reunidos pelo céu para dar uma mão aos homens, para ajudá-los a realizar con-
sideráveis expressões de civilização
Das Pléiades, portanto mm segundo alguns estudiosos que pensam haver justamente

interpretado antiquissimas tradições asiáticas e americanas — teriam chegado os


“Grandes Irmãos”, que elevaram a níveis altíssimos regiões agora tragadas pelas areias
ou engolidas pelo mar, entre as quais as celebérrimas Mu e Audânuda

A expedição das Plêiades

“Um belo desastre, sem dúvida alguma”, disse o astronauta mais alto, relanceando
os olhos em torno, “Esta catástrofe sujeitará o homem à pré-história por centenas de
milhares de anos.”

163
Página ao lado: Fig. 182. No a o jaguar humanóide de La Venta (Tabasco) com as
franjas solares”, que representam o vôo; embaixo, a “fera de Teouhuacán”, também
mexicana

83. Da esquerda para «a direita: os “espaciais” das Ciclades (3000 a. C.), de Tell
Ashmar, na Mesopotâmia (2300-1900 a, C., mais ou nos), de Tróia (2 5100-2300
a. €. aproximadamente), e mais uma vez de Tell Ashmar (3000 à. €.)

Fig. 184. Três ídolos de âmbar de Tcherniakovsk (Prússia Oriental, URSS), que remon-
tam ao ano 2000 4.0

O astronauta mais baixo ajustou ao rosto o respirador, de que o colega, proveniente


de outro planeta, não tinha necessidade
“E assinalará o fim de todas estas estranhas criaturas,” observou, indicando as es-
quisitas figuras apinhadas à beira do caminho traçado pela astronave até as cavernas.
“Já estavam condenadas à extinção,” replicou o companheiro.
Haviam tocado a Terra depois de um dos grandes cataclismos-que, de tempos em
tempos, transtornavam o planeta, detendo-se no altiplano circundado pelas águas dilu-
viais onde haviam encontrado refúgio os representantes das últimas raças sobreviventes
à ascensão do ser superior e aos trabalhos do globo.
Um neandertaliense estendeu o braço comprido para as botas dos cosmonautas,

grunhindo qualquer coisa ininteligível. Mais adiante, um gigante peludo arreganhou os

165
A esquerda,
Fig. 185. Uma cerâmica
“espacial” nazca (Peru)
em que parecem conden-
sados todos os elementos
mais emgmáticos que ca-
racterizam as antigas cul
turas americanas.

Fig. 186. A figurinha


sem rosto de Paracas (Pe
ru central) nos dá a idéia
de indumentos isolantes
em relação à parte supe-
nor do busto, o baixo
ventre e os membros io
feriores.

Fig. 187. Confrontem-se


com a figura precedente
estes dois ídolos de pedra
o da esquerda foi encon
trado em Avis, na Espa-
nha, o outro em Idanha-
a-Nova, em Portugal
dentes, agitou um galho grosso, que brandia como uma clava. Alguns hominídeos,
pequenos e ágeis como quadrúmanos, guincharam, hostis, entre as árvores mutiladas
Uma luz de comiseração brilhou no olhar de um dos exploradores espaciais, o de
cabeça chata, órbitas fundas c o rosto esquadrado. Nos grandes olhos do seu compa-
nheiro não teria sido possivel distinguir coisa alguma.
Eram idênticos aos de um felino. E como os de um felino se fecharam até formar
uma simples fisga, ao passo que a boca se lhe abria sobre os dentes acuminados numa
impressionante careta.
Mas não era uma careta, era um sorriso, « à criatura ao encontro da qual os dois se
dirigiam já o sabia. Ergueu-se defronte da entrada da caverna, abandonando a azagaia
em que estava trabalhando, e sormu por seu turno,

O ser de rosto felino indicou a criatura vestida de peles.


— Eis o senhor deste planeta, — disse. E ajuntou qualquer coisa que, dita agora,
soaria como Homo sapiens.
Seriam eles astronautas de rosto felino desembarcados na Terra, deificados pelos
primitivos habitantes do globo, empenhados em ajudá-los — como colonos ou náufra-
gos espaciais — na sua ascensão?
A hipótese esboçada em nosso terceiro relatozinho utópico também poderia ser vá-
lida, substituída pela lembrança confusa e pelas impressionantes imagens dos "homens-
gatos” que encontramos em toda a América central e meridional.
Estranhissimas estilizações (além das ilustradas nos volumes anteriores) vieram à luz
no “Novo Mundo”. Eis o jaguar humanóide (Fig. 182) da “Cultura de La Venta”
(Tabasco) com as típicas “franjas solares”, que representam o vôo, sobre algo parecido
com um chapéu; e cis as mesmas “franjas” nas patas estendidas da “fera de Teotihua-
cán”, também mexicana
Figuras felinas (veja-se a terceira da esquerda) também nos contemplam do antigo
mundo mediterrâneo (Fig. 183), junto de outras, não idenuficáveis, da Europa do
Norte: dos três ídolos de âmbar (Fig, 184) de Tchernyahovsk (Prússia oriental,
URS.S.), o ídolo central que reproduzimos nos recorda as estatuetas do período ar-
caico do Equador, ao passo que o da direita parece envergar um pesado escafandro,
semelhante às vestimentas ideadas para os nossos exploradores no início da “era astro-
náutica”.
A misteriosa civilização peruana de Nazca nos mostra, entre outras coisas, uma cerá-
mica (Fig. 185) em que estão sintetizados todos os clementos que caracterizam as an-
tigas culturas americanas, dos traços do jaguar aos da serpente, com um chapéu que
reproduz dois olhos « uma boca; uma máscara destinada a cair sobre o rosto ou — co-
mo querem os fautores da "teoria cósmica” — a ingênua representação de um capacete
espacial?
A hipótese parecerá sugestiva se, para reforçá-la, se apresentarem outras estatuetas:
sobretudo a de Paracas (Peru central), uma figurinha de terracota (Fig. 186), sem ros-
to, mas com sinais de tal natureza que nos dão a idéia de indumentos isolantes em re-
lação à parte superior do busto, o abdome e os membros inferiores.
Pouco se afastam delas, no conceito que presumivelmente inspirou os seus autores,
os ídolos de pedra (Fig. 187) descobertos em Avis, na Espanha, e em Idanha-a-Nova,
Fig. 188. Vagas c sugestivas alusões a
seres humanos e a “divindades”, ao mes
mo tempo se distinguem numa figura fe
minina de argila (4 esquerda) de Klicevac,
perro de Kostok, e no ídolo, igualmente
de argila, de Werschetz (Sérvia)

Fig. 189. Traços úpicamente americanos


em um vaso encontrado na Anatólia
em Portugal. Podem parecer vagas as alusões a uma criatura humana € a um pássaro,
ao mesmo tempo, que notamos num ide lo de argila de Werschetz, se bem que nos con-

duza a sínteses americanas, asiáticas c africanas; mas nos deixa atônitos é perplexos o
de Kostok (também na Iugoslávia), que (Fig. 188) de sinais solares e espirais aproxima
desenhos — as flechas peitorais, por exemplo — cujos correspondentes só encontramos
entre as expressões das civilizações pré-colombianas de além-mar.
São — como à que distingue um estranho vaso (Fig. 189) da Anatólia — figuras
que nos levam aos “homens de cabeça chata” americanos. Estes últimos conhecem,
obviamente, representações bem mais precisas em certas regiões: um humanóide e um
escafandro parecem refletir-se na feitura de um recipiente (Fig. 190) — único no mun-
do — do Vale do Cauca, na Colômbia; e ninguém saberia dizer, com efeito, o que o
ser feito de pedra, com o curioso “capacete”, numa estela tolteca (Fig. 191), está
apertando entre as mãos; a embocadura de um escafandro? Uma arma desconhecida?
Mais próximas das nossas faculdades de compreensão estão as estatuetas da “Cultu-
ra Vicús”, a propósito da qual Frederico Patellani escreve, entre outras coisas, na revis-
ta" Atlante”
“Na obscuridade das sepulturas peruanas recentemente escavadas no setentrião,
P erto das vertentes do Monte Vicus (região
B de Morropón),
P se escondiam os teste-
munhos de uma população antiquissima, ainda desconhecida? (...) Quais são as verda-
deiras relações entre à civilização de Vicús e a de Salinar c Galinazo, que apresentam
características semelhantes? Como explicar a descoberta de um lote de cerâmicas tão
parecidas com as de Vicús na Peninsula de Paracas, a 1.100 km de distância de Piura?
Como explicar os vínculos figurauvos entre Vicus e as regiões mais ao norte do conti-
nente americano com referência à estrutura da cerâmica e as representações na ourive-
saria? E um caso de convergência ou de difusão? E se se trata de difusão, qual é a di-
reção seguida pelas influências? Não é até lógico pensar que na civilização de Vicús e
nas influências por ela provocadas se pode ver um caso de fluxo e refluxo?

“São indagações apaixonantes mas, por ora, ninguém está em condições de dar
respostas cabais « definitivas a essas perguntas. O tardio descobrimento da civilização
de Viais desorganizou todas as catalogações e datas da cerâmica pré-colombiana do
Peru e das culturas vizinhas.”
Os defensores das “teorias astronduticas”, diante das fisionomias (Fig. 192) dos
“Vicús”, não puderam furtar-se à tentação de vê-las como frutos do conúbio dos "ho-
mens-gat 35” com os representantes de uma raça que já existia na ocasião da sua suposta

chegada, aproximando-se assim, embora sem o querer, de Diodoro de Sicília.


Ainda não ficou esclarecido se esta “chegada” é simbolizada ou não por um pássaro
estranho e por um vaso (Fig. 193) que recorda o famoso motivo dos “espaciais sem

boca”. Hoje só podemos esboçar hipóteses apaixonantes, estribadas sobretudo na ex-


traordinária semelhança entre os “scpulcros de botas” mexicanos (celebérrimo é o
chamado “Ossuário”, escavado debaixo de uma pirâmide de Chichén Itzá) e o túmulo
descoberto nas encostas do Vicus (Fig. 194): aqui achamos, enterrados em grandes
profundidades, artefatos metálicos de forma tubular, cuja função ninguém soube expli-
car: há motivos para se supor que sc trate de objetos muito anteriores à cultura em
apreço, por ela conservados como simbolo de imortalidade!

169
Fig. 190. Humanóide « “escafandro” representados num achado único no mundo, um
recipiente de ouro e cobre do Vale do Cauca, nã Colômbia,

Página ao lado: Fig. 191. Esta estranha representação de uma estela tolteca está seguran
do entre as mãos um objeto desconhecido, interpretado por alguns como a boca de um es-
cafandro, por outros como uma arma

170
Fig. 192. Estaruetas que representam a antiguissima população peruana chamada (por
influência do lugar onde foram feitos às descobrimentos) do Vicús A sua semelhança com
ais famosos "homens-gatos” é inegável

E interessante notar q que objetos


J de alumínio (um metal isolado puro em 1827, cuja
produção industrial só teve início em 1886), de idade remotissima, porém, não datável,
foram encontrados em 1956, no deserto de Gob, por uma expedição russo-chinesa

Não podemos nem de longe imaginar para que serviam, mas talvez os vejamos imita-
dos pelos “varas de comando” dos xamãs, P pelos “cetros” P pré-colombianos (veja) a
fig. 33).
E não é só isso: bastôezinhos cilíndricos análogos, de uns 20cm de comprimento,
cujo emprego continua sendo igualmente um mistério, foram descobertos nas grutas
francesas e espanholas de Arudy, Lourdes, Istruritz, Hornos de la Peãa, na Hungria,
na Alemanha ocidental e meridional &, bem como no Japão e na Austrália

“Somente para conhecer-nos”"


Alucinante, uma figura asteca com as órbitas vazias (Fig. 195) nos fixa de Teteoi-
nán, no México. Dos lados da cabeça destacam-se sinais solares, sugestões de espirais.
É conhecida simplesmente como “divindade feminina”, mas a definição manifesta-
mente, é apenas de conveniência
68. Tvar Lissoer, Aber Gott var da, Waltee-Vedag, Olten, t96o
69. Oswald O, Tobisch, Kult, Symbol, Sbrift, Verlag Fair angewandie Wissenschafien, Baden-Baden. 1965

172
Fig. 193. Um pássaro de asas desdobra
das e um vaso que lembra os “espaciais
sem boca”, ambos da misteriosa cultura
de Vicus

É um rosto que nos fala de desespero e de dor, como outros que já conhecemos é
que têm os traços inconfundíveis do “homem-gato”
“Em Monte Albin”, escreve Roberto Calcagno, na sua relação, “os zapotecas crigi-
ram aos pés de imponente edificio uma série de lápides com as figuras conhecidas dos
dançarinos,
“O conjunto, de fato, é chamado Galeria dos Dançarinos. Na parte ocidental vê-se
um homem no ato de agachar-se (Fig. 196); 0 rosto tem traços inusitados, que parecem
retorcidos pelo sofrimento. A cabeça, em vez de ostentar os costumeiros ornamentos
vIStOSOS, é recoberta por um capacete que adere estreitamente a ela, e nem mesmo o

173
"
Fig. 194. À equerda, uma “sepultura de
bota” vicús: embaixo, um vímulo idêntico
escavado debaixo de uma pirâmide de
Chichén Itzá, no México.

corpo tem qualquer coisa que recorde o fausto das vestes pré-colombianas, envolvido
por uma espécie de macacão, com pequenas aberturas circulares que lembram as bocas
dos escafandros astronáuticos.
“Prosseguindo na direção do oriente, encontra-se outro “dançarino” numa atitude
que não esconde uma grande dor, com o rosto contraído numa careta e os braços cru-
zados (Fig. 197) sobre o ventre: e aqui também temos o “capacete” e o “macacão”.
“As mesmas características se evidenciam em outras figuras, sobretudo na (Fig.
198) do setor ocidental, onde as pernas de alguns sujeitos estão muito abertas e os bus-
tos atirados para trás. E a indumentária não muda.
“Qual é o verdadeiro significado desta obra? Insistir na tese dos “dançarinos” pa-
rece-nos de todo inoportuno: é verdadeiramente estranha, ao contrário, a presença de

174
feições tão singulares, dos esgares de sofrimento, dos trajos. Suponhamos, porém, que
um incidente tenha obrigado um grupo de cosmonautas provenientes de outro planeta
à permanência forçada na Terra: uma trágica ironia teria feito depois parecer uma
dança as suas manifestações de dor”.
É uma hipótese sem dúvida arrojada, mas que se adapta também às obsessivas ex-
pressões frequentemente usadas nos Cantos Astecas"º.
Por acaso vive-se realmente na Terra?
Não para sempre, somente por pouco!
Viemos só para dormir,
só para sonhar.
Não é verdade, não é verdade
que viemos para víver na Terra!
Mas 0 que é que pode fazer o meu coração, se em vão
viemos para viver na Terra,
em vão para florir?
Onde é, ó meu coração, o lugar da vida?
Onde é a minha verdadeira casa?
Onde é a minha verdadeira morada?
Eu sofro, aqui na Terra!
As alusões à uma região de proveniência que por certo não está situada em nosso
planeta se fazem, em certos trechos, evidentissimas; nítida, por exemplo, é a distinção
entre o lugar em que nasceram os antepassados e aquele em que viveram (“na Terra”);
curiosa a alusão ao “cofre” e à “arca”; e a citação relativa à descida no centro do Céu,
contraposta à descida “no coração da Terra”, para exprimir de um lado a esperança
de um regresso à pátria estelar, de outro o temor da morte no globo hospedeiro.
Aqui nasce a morte florida.
Aqueles que tomaram forma em Tlapalla,
os nossos maiores, chegam à Terra...
Que cantaremos, amigos meus?
Com que nos alegraremos?
Somente lá vive o nosso canto,
Onde nasceram os nossos maiores.
Na Terra, onde eles viviam,
eu sofro na Terra (...)
Aquele que dá a vida esconde
os homens num cofre e numa arca (...)
Mas eu os verei? Verão os meus olhos
os rostos de meu paí e de minha mãe?
Poderão oferecer-me o seu canto,
a sua palavra que procuro?
Ninguém está aqui,
Órfãos nos deixaram na Terra.
qo Todas as cxtações poéticas uradas de volume Cams Angecha, ns gados por Ugo Liberatore e Jorge Hernândes-Campos (Guanda
Edime. Parma. 1966) Alguns cantos. ludos por Alberm Lupe enão imch mes disem nónimo da “C ollana Letseraria Documento” (CI
opa)

175
Ai de mim, aonde irei?
A dúvida difícil me avassala.
Talvez à casa do Deus
aonde se de no centro do Céu,

ou aqui, aonde se desce, no coração da |

Duas pinturas (Fig. 199) feitas em paredes do chamado “Templo de las Caritas”
de Cempoala foram interpretadas como simbolos do Sol e da Lua: mas ninguém pr
cisa entregar-se deveras às asas da ficção científica 1 ver na primeira (como alguns
estudiosos orientais é ocidentais) o quadrante de um instrumento de bordo e na segunda
qualquer coisa que faz pensar num veículo espacial, E nos Cantos Astecas por certo não
faltam as referências a esses meios:

176
Fig. 196. O sofrimento assinala [o a y

“dançarino” de Monte Alban

Verde serpente do raio...


Eso pássaro quechol, cor do fogo,
que voa no meio da planície,
no reino da morte.

Husrzglopochilt, o guerreiro,
aquele que age eno alto

segue a sua estrada (...)


O prodigioso habitante das nuvens (...)
O habitante da região das asas geladas (...)
Ele fa, desmoronar os muros incendidos
onde se colocam as penas
Assim ele conduza guerra
e submete as gentes (...)
Fig. 197. Mais uma expressão
de dor nos “dançarinos” com ca-
pacetes e macacões aderentes, re-
presentados em Monte Albin

Faminto de guerra desce o Flamejante,


assanha-se onde o pó turbilhonante se eleva.
Os de Amantia são os nossos inimigos.
Ajudem-me!
Faz-se a guerra, incendeia-se.
Os de Pipitlán são nossos inimigos.

Pensemos numa raça caída das estrelas, mais ou menos semelhante à humana, bem
disposta para com esta última, e o significado de outros versos nos parecerá clarissimo:

178
Fig. 198. Outra sugestiva repre
sentação dos chamados “dançari
nos espaciais mexicanos

Fig. 199. Estas figuras do “Tem


plo de las Caritas” de Cempoala,
no Mexico, foram respectivamen
te interpretadas pelos estudiosos
tradicionalistas como simbolos do
Sol e da Lua. Na figura à esquer
da, porém, não seria difícil adivi
nhar um instrumento de navega
ção e, na figura da direira, um veí
culo espacial
“Amigos, uma missão nos arremessou ao mundo...
É verdade que nos tornamos amigos,
é verdade que vivemos na Terra,
mas virá também o momento em que
te cansará da amizade...

Fig. 200. O fabuloso “pússa


ro de fogo” que encima um
totem dos índios nootkas.
Fig. 201, Um clmo nootkas re
produz, de maneira estupenda, a
cabeça do mítico passaro

-s

E o conceito dessa estranha amizade é reforçado por outros, que parecem referir-se
claramente à estada no nosso globo de seres vindos do espaço. A maneira pela qual os
cantos são hoje interpretados, a maneira pela qual podem ter sido interpretados pelos
próprios astecas, não é determinante para os fins de uma análise científica, vista que
muitos têm as suas raizes num passado mais remoto, O tormentoso desejo de abando-
is
181
N

Fig. 202. Os misteriosos “homens- pássaros”


representados nos monólitos da Tha de
Páscoa

Fig. 203. (embaixo): O deus da Ilha de Pás


coa, Makemake, com sua “máscara espacial”
O rosto se diria encerrado num capacete

()
O(c
Fig. 204. Outros “espaciais” da Ilha de Páscoa; as deformações simbólicas são numero-
síssimase impressionantes.

nar 0 planeta não se refere, com toda a probabilidade, à aspiração a uma vida ultra-
terrena.

Olho com ódio para a morte e sofro...

diz, com efeito, o cantor; € prossegue

Não importa que, como pedras preciosas,


o mesmo fio nos una,
ndo importa que estejamos unidos

como gemas do mesmo colar (...)


Amigo meu, verdadeiramente amigo,
por vontade de Deus nos amamos.
Como tu, eu também o set: só se vive uma vez,

Um dia iremos embora.


So viemos aqui para conhecer-nos,

só por empréstimo tivemos a Terra (o)


Mas entretanto se vive com a alma prostrada,
aqui, onde somos esprados e vigiados...

Como não seriam “espiados e vigiados” os estrangeiros chegados do desconhecido


com as “serpentes de chama”, os “pá saros de fogo”? Admirados e temidos ao mesmo
tempo, a sua lembrança continuará bem viva, não só na América, mas em todo o globo,
através dos milênios.
Isso se exprime com os totens, as máscaras, as inscrições, os desenhos, as decora-
ções, os colares, até em lugares e épocas em que o sigmficado dos simbolos se perdeu
ou deformou
O mesmo porém, não aconteceu entre os indios da ha de Nootka (Colúmbia brirá

nica, Canadá), representantes de uma civilização que conta ao menos 5 mil anos, sobre
os quais se ergue ainda (Fig. 200) o pássaro das asas flamejantes, cuja mascara e cujo
capacete adornam a cabeça dos dignitários (Fig. 201).
Na Ilha de Páscoa, ao contrário, sobreviveu apenas um rito tão sugesuvo quanto
ingênuo, realizado sem nenhuma lembrança de um passado remotíssimo, que também
deixou sinais impressionantes. Dos monólitos nos contemplam (Fig. 202) os mons-
truosos “homens-pássaros”, recordando-nos o texto enigmático da “tabuinha X”
“Chegam os homens voadores... os homens de chapéu voam...”

Fig. zog.Í Pússaros sagrados


B
símbolos solares da Nova Guiné
Fig. 206. Hórus, o “deus-fal
cio” egípcio, numa representação
de Jeracômpoli (antigo império)

Ao alto, d direita.
Fig. 207. Um relevo mesopotá
mico do século 1X a.C.: um pênio
alado com cabeça de águia asper
Bea "árvore da vida”

Fig, 208. Zeus Lykains com a


água e OS sinais astrais
Fig: 209: Inscrições que sepresti
tam machados em forma de cabe
ça de passaros a 2.6gom de alu
tude na cadeia do Alto Atlas
(Marrocos do Sul) pelo explora-
dor Willy Fassio
Fig. 210. Inscrições que rey uam “machados de bico”, extraordinariamente semelhantes às inscriçõe
marroquinas, encontradas no Vale das Maravilhas (Alpes Marítimos)

Que chapéu? Talvez aquela espec 1 de capacete que parece cobrir o rosto de Make-

make (Fig. 203), o deus representado também como pássaro?


Em certas estatuetas (Fig. 204) daquela terra de pesadelo, portanto, as deformações
simbólicas são variadissimas ; vão dos bicos cnormes as cabeças “espaciais”, acompa-

nhadas às vezes de detalhes que parecem querer sugerir pormenores de escafandros,


muito embora a ciência tradicional seja, evidentemente, de outra opinião
A forma dos bicos de alguns pássaros da Ilha de Páscoa se aproxima a do “calau
sagrado” da Nova Guiné (Fig. 205), sempre acompanhado do sinal solar
Logicamente mais elaboradas são as representações das grandes civilizações medi-
terrâneas. Mas até aqui o Sol esta frequentemente presente: nos olhos ou sobre a ca-
beça de Horo, o deus-falcão (Fig. 206) egípcio, estilizado nas flores da “árvore da
vida” (que uma divindade alada com cabeça de ave de rapina (Fig. 207) asperge com
água lustral num relevo mesopotâmico), representado, juntamente com a Lua, entre
Zeus Lykaios e a sua águia (Fig. 208)
A 2,65om de altitude sobre à cadeia do Alto Atlas, na zona de Oukaimeden (Mar
rocos do Sul), Willy Fassio fotografou numerosas gravações de uma distante pré-his-
tória, que representam machados com cabeça de pássaro (Fig. 209)

187
Fig. 211. “Bastões de comando” em forma de bico, do
mapdalcano, descobertas na Alemanha

Fig. 212. Esta “coruja” céltica, encontrada em Bra, na


Judlândia oriental, lembra muito de perto certos simis
tros monumentos da América pré-colombiana

188
Pois bem, armas semelhantes sc encontram gravadas no Vale das Maravilhas. As
fotografias (que nos foram gentilmente oferecidas por um apaixonado do Instituto Na
cional de Estudos Ligurinos, Enzo Bernardini, a cuja obra importante prometemos vol-
tar) não deixam dúvidas a respeito (Fig. 210). E nelas se reproduzem, muito prova-
velmente, os “cetros” encontrados na Europa (Fig 2Y1), € que remontam ao magda-.
leano. Ninguém sabe para que serviam: os cientistas, contudo, são unânimes em consi
derá-l » “bastões de comando” simbolos mági os de poder

Como não suspeitar aqui de uma relação com o mítico “pássaro de fogo”? E como
não ver essa relação evidente, na “coruja” céltica descoberta em Bra, na Jutlândia ori-
ental (Fig. 212) tão próxima das sinistras esculturas americanas?
Seria arriscado estabelecer relações análogas com as belíssimas fivelas visigóticas de
ouro € pedras preciosas (Fig. 213), mas a alusão ao antigo Egito e ao antigo México
é tão forte que favorece divagações fantásticas, alimentadas pelos sinais solares e es-
telares colocados no peito destes maravilhosos pássaros convertidos em homens.
E eis Vixnu (Fig. 214) que monta o seu pássaro sagrado Garuda, exatamente como
os seus divinos colegas assumam à direç ão de meios aéreos mortiferos, os Vimana

Ninguém vive em vão

Em Sombras sobre as Estrelas aludimos ao mandarim que, por volta de 1500, tentou
com escasso sucesso usar foguetes para fazer subir ao céu um caixão ideado por ele.
Podemos agora acrescentar que o mandarim teve predecessores cujas empresas foram
coroadas de maior êxito o impe dor chinês Chun, que reinou há 4.200 anos, foi um
dos primeiros pilotos citados pelas crônicas existentes... c até o primeiro pára-quedista,
pois parece ter inventado um apar elho semelhante aos pára quedas atuais

Seria, pois, realmente conhecido o vôo na Antiguidade?


“Num poema intitulado Li Sao”, escreve uma revista chinesa, “Tchu Yuan (340-
278 a.C.) nos fala de uma viagem aérea sobre a Ásia. Ele afirma que estava ajoelhado
diante do túmulo do Imperador Chun quando apareceu “um carro de jade puxado por

quatro dragões”, Yuan subiu no aparelho «e voou a grande altura através da China, na
direção da cadeia de montanhas de Kun Lun. No decurso da viagem, pôde observar
a Terra sem ser r perturbado pelos ventos nem pe lo pó que
q subia do de serto de Gobi

Aterrou sem incidentes e teve, mais tade, nova oc ao de sobrevoar o Kun Lun” 7,
“Estas máguinas voadoras da antiga China”, comenta Andrew Tomas, “deviam ser
produto de experiências científicas ou exemplares de invenções devidas a uma raça
antidiluviana. E como, naquela época, os chineses ainda não dispunham de conheci-
mentos tec nológicos, parec e que devemos propender para a segunda hypótese

“Não será inoportuno recordar que, no segundo ano do reinado do Imperador


Yao (2346 a.C), surgiu um estranho homem. Chamavs se Tchih Tsu-yu e era um
arqueiro tão hábil que q soberano lhe conferiu q título de “arqueiro divino” eono-

meou “mecânico chefe

China Picrorial”, Pequin, N. 8, 198

189
Fig. 213. Duas estupendas fivelas visipóticas que representam pássaros com sinais astrais
no perto.

Página ao lado: Fig. 214. Vixnu cavalga o pissaro sagrado Garuda: é uma escultura em
madeira de Bali, que encontra correspondência em numerosas obras-primas da arte sacra
hindu

Segundo os anais, ele teria subido num ássaro celeste sendo conduzido por
ele “ao centro de um imenso horizonte”, um lugar do qual já não lhe cra po ivel
observar o movimento do Sol”, Os nossos astronautas estão igualmente impossibilita-
dos de observar o nascer e o tramontar do astro!”
Outro mensário de Pequim nos recorda que “o grande pensador chnês Tchuang
Tzu escreveu no século II] antes da nossa era uma obra intitulada Viagem para o In-
finito, em que narra como subiu ao espaço a 53.000 km da Terra no dorso de um "fa-
buloso pássaro de enormes dimensões” "2,
No curso das suas vagabundagens da Mongólia ao Tibete, o Prof. Roerich ouviu
falar em “serpentes de ferro” que, na Antiguidade, teriam “devorado o espaço com o
fogo e o fumo”, chegando até a “estrelas longínguas”. E, como ele afirma, encontrou
confirmação disso em muitos livros budistas ”.
Para rematar, vamos dar uma notícia relativa aos estranhos discos de pedra encon-
trados no distrito de Baian-Kara-Ula e no Tibete, parecidos com os discos de gramo-
fone dos nossos dias. O Prof. Tsum Um-nui, da Academia de Pré-História de Pequim,
73: “China Recomstrucis”, Pequim, agosto de 1961
73. Nicholas Roench, Prata r Bosdouschie, Uguns, Riga, 1936

190
acredita haver decifrado numerosas inscrições feitas nesses discos; e elas parecem tão
sensacionais que o próprio instituto (depois de compreensíveis hesitações) deu à estam-
pa um estudo cujo título soa com meridiana clareza: “Discos com hieróglifos revelam a
existência de naves espaciais que remontam há 12 mil anos”.
“Nada sc perde nesta terra”, escreve Ivar Lissner. “Nenhuma luz se apaga para
sempre. E a imortalidade é a única realidade que emerge ainda e sempre do pó, das
ruínas, das destruições. Por isso ninguem vive em vão, Por isso não é inútil aquele que
pensa. Por isso, nem uma hora se desperdiça. Por isso, tudo se junta, em algum lugar.
E torna a agir”.

192
VI
OS RAIOS E A ATÔMICA

| CLARK veste as únicas roupas de que dispõe, prende a correia com a pisto-
la, toma a metralhadora, a sacola que contém os objetos que lhe são mais úteis, e ende-
reça-se à clareira. Já sabe o que o espera: a longa entrevista de todas as manhãs, um co-
lóguio que certamente lhe será útil porque o leva, dia após dia, a aprofundar o conhe-
cimento da língua dos indígenas, da sua mentalidade, dos seus costumes, mas que co-
meça a pesar-lhe pelo seu caráter, que é agora o de um rito.
Instala-se entre os guerreiros acocorados em círculo, o ancião da tribo o saúda.
— Seja-te concedida uma boa caça hoje também, deus branco.
— E seja concedida uma boa caça também a vocês, irmãos.
Do monte de comida que lhe é trazido, John Clark rejeita a carne mal passada, es-
colhe algumas frutas. Pensa numa boa xícara de café ou de chá, sonha com um cigarro
e prepara-se para enfrentar O interrogatório matutino com as costumeiras perguntas e
as costumeiras respostas, que espera poder dar cada vez um pouco mais claras à mente
dos seus hospedeiros. Afastara-se, a bordo de um jato, de uma guerra bestial, decidido
a encontrar um asilo qualquer onde pudesse esquecer aquele inferno, e fora cair ali,
onde o jângal se fecha para sempre sobre muitos homens audazes, incautos ou infelizes
demais "*.
— Deus branco, onde estão as tuas asas?
— Não tenho asas, eu já disse, Sou um ser como vocês.
— Não és como nós. Chegaste voando.
— Está bem, alguma coisa me fez voar, mas...
— Então, és um pássaro.
— Não sou um pássaro. O meu aparelho, a minha máquina...
John Clark se detém, dá-se conta de que, para aqueles guerreiros primitivos, as pa-
lavras “aparelho”, “máquina”, não têm sentido algum.
— É como um animal, — procura explicar, — um animal de ..., de ferro.
— “Ferro”, — repete o ancião da tribo, num gesto grave de assentimento. — Uma
serpente de ferro com asas.
— Não! Outro animal, Pense numa espécie de animal qualquer que pode voar.
— Vive na Terra, mas pode voar. — O outro anuiu, circunspecto, — É como Wa-
ba, o monstro de pedra que está na montanha e faz nascer o trovão, o raio c à chuva.
— Não, não é assim! Eu...
— Chegaste com o trovão e o raio. És o dono do trovão e do raio.
Nesse ponto, o branco já não sabe o que responder. Compreende que, para os in-
74. Trata-se do interior da Nava Guiné. Pade servir-nos de exemplo o fato de que dos sete mil aviões abatidos sabre as suas florestas no correr
da [1 Guerra Mundial, apenas uma centena foi reencontrada (Veja O Planeta Desconhecido)

193
Fig. 215. O
“guerreiro de
Teotibuacán”, com
o seu estranho
capacete provido
de óculos, uma
espécie de macacão
ecalçados insóhros
Empunha armas
sobre cuja natureza
os estudiosos ainda
não chegaram a
um acordo.

Fig. 216. Um
suposto sacerdote
de Teotihuacân: à
sua indumentária
está cheia de
simbolos cósmicos.

digenas, o estrondo e as chamas do jato, o fogo das suas armas automáticas, represen-
tam argumentos irrefutáveis
— Em suma, entendam como quiserem, resmunga na sua lingua, resignado.
-O indígena interpreta talvez essas palavras como uma fórmula mágica e volta a
anuir, satisfeito. :
— Waba tem pés potentes como os teus, — constata, indicando os calçados do
aviador, — e batendo neles provoca o travão. Tem grandes olhos de raios e plumas
brilhantes como as tuas asas

194
[970/0,0 0,0, 05

Fig. 217. No centro da “cruz umversal” mexicana, rica de impressionante simbologia, está o deus do fogo,
com armas desconhecidas é raos arremessados em todas as direções

Os "grandes olhos” identficam-se com os óculos do capacete de Clark, as “plumas


brilhantes” com o seu trajo de vôo. O ancião apalpa-o com interesse e reverência e,
depois de ha ver refletido bem na pergunta, indaga:

— Por que não descem até nós os teus irmãos, aquele que brilha de dia e aquela que
brilha de noite e tem chifres?
Trata-se, obviamente, do Sol e da Lua nas suas várias fases. O branco não tarda em
compreender, e responde:
— Eles estão no céu
— Mas tu também estavas no céu, — retruca o outro. — Desceste do céu. Por que
não descem eles?

195
— Porque têm muito que fazer lá em cima. Precisam dar calor e luz, — remata 01
aviador, erguendo-se; e acrescenta, sem que os outros o compreendam: — E agora va-
mos trabalhar também, rapazes. Aqui precisamos trabalhar, se quisermos viver decen-
temente.

Um paraíso inquietante

De inventado, nesta história, só existe o nome, o do piloto norte-americano que, por


motivos óbvios, foi trocado por nós. Imaginemos entrar em contacto, como ele entrou,
com selvagens cujo idioma dificilmente compreendemos, aos quais certos objetos são
absolutamente estranhos. Como poderemos explicar-lhes conceitos como “máquina”,
“aparelho”, “capacete”, para não falarmos em reatores e armas automáticas?
Transmitindo-se a lembrança do “deus branco”, progredindo, eles procurarão re-
presentá-lo. Representarão mais ou menos claramente certos atributos, mas outros se-
rão falseados, confundidos, adaptados às suas idéias primitivas.
Se uvesse vivido em outra época e em outro continente, o nosso John Clark teria si-
do talvez imortalizado como o “guerreiro de Teotihuacán” (Fig. 215), com o estra-
nho capacete que parece provido de óculos: com o escudo acompanhado de estranhas
engenhocas em que se procurou, de modo discutível, enxergar flechas e cetros (por que
não pode tratar-se, ao contrário, de armas desconhecidas? perguntam os estudiosos
menos tradicionalistas), com pesados calçados complicadíssimos, com um macacão
que lembra — sem muito esforço de imaginação — um cscafandro espacial, com linhas
semelhantes a violentos jatos de fogo.
O paludamento de outro personagem de Teotihuacán, um suposto sacerdote (Fig.
216), é mais solene, mas inúmeros motivos recordam os do “guerreiro”, e abundam os
simbolos estelares.
Transbordante de alusões “astronduticas” parece ser, em seguida, a belissima “cruz
universal” (Fig. 217) dos antigos mexicanos. No centro das representações das “zo
nas celestes” está o deus do fogo, também com uma espécie de capacete, armas des-
conhecidas, raios disparados para os quatro pontos cardeais.
Em torno dele os simbolismos impressionam: “árvores da vida” encimadas pelo
“papagaio solar”, diversas em cada braço da cruz, nascidas de uma rosa-dos-ventos,
secas, floridas, mudadas em fustes flamejantes, em serpentes de fogo, em serpentes
pássaros, em répteis em fuga através de chispas e volutas que são, de fato, labaredas;
perseguidas por águias (uma das quais diretamente diferenciada do “fuso cósmico”!),
criaturas humanas, outras monstruosas, outras ainda irreconhecíveis em virtude de re-
presentações que somos induzidos a definir, por obra dos pesquisadores mcis audazes,
como “máscaras espaciais”.
À ilustração presta-se a interpretações espantosas em todos os pormenores, a ponto
de justificar quem lhe chamou “um compêndio de ficção cientifica pré-colombiana”.
Não seria despropositado aplicar a mesma definição ao “Paraiso de Tlaloo”, pintura
mural mexicana (Fig. 218) em que os homens parecem librar-se ao espaço soltando
línguas de fogo, que poderiam sugerir jatos de propulsores, entre “borboletas”, “pra-

196
e
d 4 Li 13e! —

= arim
Fig. 218.0 “paraiso de Taloc”: homens parecem librar-se no espaço com linguas de fogo que poderiam
fazer pensar em jatos de propulsores
tos”, “taças”, objetos não identificáveis. Abundam as alusões às espirais; há até o sim-
bolo do infinito!
Embaixo, em seguida, é tudo um pulular de simbolismos no centro dos quais se des-

taca, estendida para o céu, uma estupenda “ávore da vida”.


Traduzida em Imagens diferentes, eis aqui uma cena análoga numa estela (Fig. 21 9)

da civilização mesopotâmica de Ur (Ur Nammu), de uma altura aproximada de 3 m


e uma largura de 1,s gm, que remonta, aproximadamente, ao ano 2100 a.C. O concei-
to da ascensão é expresso por uma escada de estacas, que conduz a misteriosos persona-
ope

gens, alguns dos quais concentrados em torno da onipresente “árvore da vida”. E na


parte mais alta, o “soberano” rende homenagem ao Sol e à Lua: a lua crescente, repre-
senta em Nemrod, capital dos assírios, com os cornos (que compreendem o disco
solar) colocados sobre a cabeça de uma “sacerdotisa” alada (Fig.220).
Voltemos aos totens norte-americanos encimados por uma figura com as asas des-
pregadas: o filho do célebre explorador Fawcett perdido na Amazônia nos apresenta
— para ilustrar um capítulo do seu livro " — um guerreiro vencedor alado (Fig.
221) com os símbolos do Sol e da serpente, a cabeça encerrada numa estrutura circu-
lar; e é uma figura extraordinariamente semelhante às das antigas civilizações mediter-
râneas reproduzidas em Não é Terrestre (diante da p. 193 da tradução em português,
Edições Melhoramentos). No túmulo egípcio de Seti I, da XIV dinastia, Isis, com os

713 PH Fawcer, Esploraziome Faucert, Bompiani. Milão. 1958

197
Fig. 219. Nesta estela de Ur a escala representa a subida xo céu, onde o” res presta
homenagem aos astros
198
Fig. 220. À sacerdotisa alada de Nemrod, com os
“comos” lunares e o disco solar

s ar
aiigiaio
NS

raços estendidos (Fig. 222), desprende as asas numa atitude sugestiva, claramente
'totêmica”,
Deus-homem-pássaro: o conceito é anuguíssimo, a aproximação tão lógica que é
rópria de todo o globo, de todos os tempos. Como poderia ser representada de outra
naneira uma criatura descida do céu?

199
Fig. 221. O guerreiro sul-americano desenhado pelo filho de Fawcert: são evidentes
os símbolos do Sol « da serpente; a cabeça está encerrada numa estrutura circular

Fig. 222. A belíssima Ísis alada do túmulo de Seti 1

Fantasias comuns a todos os povos? Pode ser. Comuns, porém, devem ser os moti-
vos que as inspiraram. É demasiado fácil e muito pouco convincente aferrar-se alguém
à idéia da “matriz mágica espontânea e universal”,
Podemos alinhar aqui inúmeros exemplos. Poucas aproximações, além das que já
fizemos, nos parecem, contudo, suficientes para confirmar teorias estonteantes. Con-
templemos, por exemplo, os gênios alados etruscos (Fig. 223) do sepulcro dos Volumni
em Perúsia e a belíssima Vitória de Velleja (Piacenza): aqui (Fig. 224) as asas são fei-
tas de pedra; mas são as mesmas feitas de penas na representação (Fig. 225) do “guer-

200
Fig. 223. Os gênios alados do
sepulcro do Volumni (Perúsia)
.
Fig. 224, A “Vitoria” de Velleja (Piacenza)

Fig. 225. O “Guerreiro de Tlaxcala”: a indumen


tária nos faz pensar num mac , às asas evocam
símbolos espaciais difundidos em todo o mundo
Fig. 227. As “coroas aladas” etruscas, acompanhadas de espirais, volutas em forma de
serpentes, sinais solares

Página ao lado: Fig. 226. Este personagem imortalizado numa pintura do palácio de
Mari, à margem do Eufrates, ostenta um elmo emplumado muto semelhante ao dos an
Higos mexicanos.

203
Fig. 228. O esplêndido
falcão Horus de Biblo

Fig. 229. Um alguidar etrusco descoberto na província de Novara tem no centro uma figura alada circun-
dada de pássaros, gnfos, serpentes.

reiro” mexicano de Tlaxcala; a sua curiosa indumentária nos faz pensar num macacão;
as correias cruzadas sobre o peito servem evidentemente de suporte para o grande dia-
dema emplumado dorsal. E a “mochila” colocada entre a espinha e as asas? Seja 0 que
for (as interpretações são diversas), não é, pois, inexplicável que alguém a veja como a
ingênua reprodução de um reservatório ou de um propulsor.
Também o capacete do nosso “guerreiro” está revestido de plumas, exatamente
como o que ostenta um personagem imortalizado na pintura mural (Fig. 226) do palá-
cio de Mari ': este último se poderia confundir, até no entender dos estudiosos tradi-
cionalistas, com um chapéu dos antigos mexicanos.
Transforma-se em diadema de penas entre os peles-vermelhas e muitos povos asiá-
ticos, africanos e oceânicos. E torna-se uma coroa alada para os etruscos (Fig. 227),
com outros sinais solares, volutas em forma de serpentes e espirais.

76, Mani era uma antiga cidade às margens do Eufrates, cujas ruinas se encontram sas proximidades de Abu) Remal, nos limites entre à Sina
eu Iraque Segundo a lista dos reis sumenianos, foi “a décima cidade a exercer ox poderes reais depois der dilóvio”

204
Asas para o infinito: esplendem sóis nos olhos, dos lados, entre as garras (e nos fa-
zem pensar num sinal de conquista, de posse) do falcão sagrado Horo (Fig. 228),
assim como se reflete no colar de ouro de Biblo, do II milênio antes de Cristo, quando
os reis deste centro, que floresceu ao norte de Tiro e Sídon, eram vassalos dos egípeios.
Confrontemo-lo com as figuras do alguidar etrusco (Fig. 229) encontrado em Cas-
telleto Ticino (Novara) ”, ornado de pássaros, grifos, serpentes, e teremos assunto pa-
ra muita reflexão.
A figura central é a de um ser alado com o rosto humano. Deus-homem-pássaro:
em todo q passado do terceiro planeta solar domina esta imagem, ainda junto de
simbolos solares, espirais e representações animais na Mesopotâmia (Lagash, “Laje do
sacerdote Dudu”, mais ou menos no ano 3000 a.C.), traduzida (Fig. 230) em dentes,
garras, plumas, apêndices que são, ao mesmo tempo, caudas, répteis, chamas, nos es-
cudos (Fig. 231) do antigo México.
Neste mitológico “Coiote” Taylor-Hansen vê a transposição dos “pássaros divi-
nos” asiáticos: de Garuda, talvez, o pássaro sagrado de Vixnu (veja a fig. 214), cuja
máscara é usada até pelos xamãs mongóis.
Mas tratava-se realmente, de um pássaro? “O Panchatantra hindu”, escreve Andrew
Tomas, “contém a narrativa de 6 jovens que construíram um dirigível chamado Ga-
ruda, capaz de decolar, aterrar, viajar em qualquer direção. Esse dirigível dispunha de
um sistema aperfeiçoado de controle, que permitia manobras precisas e vôos trangui-
los”,
“Um animal que vive na Terra mas pode voar”: como traduzir em imagens um con-
ceito semelhante? Com figuras que o resumam, dando a idéia da velocidade, da força,
da capacidade de elevar-se do solo. Pássaros e leões, touros e cavalos, fundem, portanto,
os seus proverbiais atributos de milênios para compor os selos de um passado ainda
mais remoto.
Num broche de ouro (Fig. 232 do século V a.C., proveniente do Mar Negro, os
citas opõem um cavalinho marinho (símbolo, porventura, do diluvio, das forças de-
sencadeadas da água?) a uma forma eguina rostrada, alada: em Tirinto, monstros ala-
dos. sob o simbolo solar, entre “árvores da vida”, rendem homenagem a uma deusa
que tem nos ombros um falcão protetor (Fig. 233).
Os etruscos põem a cabeça de um “pássaro caprino” no dorso de um leão (Fig.
234) de cauda serpentiforme na “Quimera” encontrada em Arezzo no ano de 1553,€
testaurada por Benvenuto Cellini; no Ipogeo dei Volumni, guerreiros lutam com grifos
(Fig. 235) debaixo de sinais solares e espiralados.
Uma chapa de ouro (Fig. 236), proveniente de Ziwiye, ao norte da Mesopotâmia,
nos oferece, afinal, um compêndio pasmoso: asas, asas e asas sobre corpos amimais com
cabeças rostradas humanas, equinas, de faunos, de cervos, com caudas de serpente ou
de plumas, cercadas também de sóis, espirais e “árvores da vida”.
Qual é a matriz desse surpreendente desdobramento de imagens simbólicas? Talvez
a “esfinge de Monte Alban”, (Fig. 237) a alucinante figura feita rocha, agarrada à
rocha, quase que numa desesperada tentativa de ascensão, como Waba, o “monstro de
pedra” da Nova Guiné, “que está na montanha e faz nascer o trovão, o raio e a chu-
va ?

27. O alguidar é um recipiente usada para aqueter ou manter quente à água, principalmente para as abluções rituais

205
NoE ag
MREE) tm 7
ES a Ri! ==
Pág d esquerda, em cima. Fig. 232. Um broche de ouro cita
Fig. 230. Uma laje mesopotâmica opõe um cavalinho marinho (sim-
ano 3000 a.C., mais ou menos, bolo do dilúvio?) a uma figura
com asas, espirais, simbolos sola- equina rostrada c alada.
res, leões; reproduz, em estilo
diferente, antiquissimas represen-
tações americanas

Pág. à esquerda, embaixo,


Fig. 231. O “pássaro-coiore”
americano. Tratar-se-á, porventu-
:a, da transposição de figuras
mitológicas asiáticas análogas?

e
e
Fig. 233. Tirinto: monstros ala-
dos, debaixo do simbolo solar.
rendem homenagem a uma deusa
que tem nos ombros um falcão
protetor

Fig, 234. Na "quimera etrusca”,


restaurada por Benvenuto Gallini,
um “pássaro caprino” é colocado
no dorso de um leão de calda ser-
pentiforme.
Fig. 235. Guerreiros em luta com grifos no Ipogeo dei Volummi

Fig. 236. As cnigmáticas figuras aladas de Ziwiye, ao norte da Mesopotâmia

Pág, à direita.
Fig. 237. A “esfinge de Monte Albin”, alucinante figura feita em rocha
Em toda parte está o fogo
“Ea, senhor da sabedoria e da prudência, decidiu uma vez, por brincadeira, criar
uma criatura que tivesse o aspecto de um homem e a sabedoria dos deuses”, escreve
Gaster, reevocando uma lenda babilônica 2. “Desceu, portanto, à Terra e, na cidade
sagrada de Eridu, deu forma a um ser ao qual chamou Adapa. Tão sábio cra este ser,
que nada — nem no céu, nem na terra — fugia à sua compreensão. Quando abria a
78. Thendor H. Gaster. Le Piu Antiche Store del Mondo, Giulio Einauds Ed.. Tunm. t96o

209
boca era como se falassem os próprios deuses e ninguém podia contradizer-lhe as
lavras. Não havia artes nem ofícios em que não fosse mestre; sabia amassar o pão como
o padeiro, pescar como o pescador e caçar como o caçador. E era tão bom quanto
sábio.
“Um dia, saindo à procura de peixes para Ea, topou com o espírito do furacão, que
Ibe apareceu sob a forma de pássaro, virando-lhe o barco. Ele lançou uma invectiva con-
tra o pássaro, cuja asa se partiu em pedaços.
“Assim cessou sobre a Terra o vento que o pássaro suscitava. Deus ordenou que
Adapa fosse conduzido à sua presença. Seguindo os conselhos de Ea, Adapa compor- !
tou-se humildemente, Deus lhe perdoou e lhe disse: “Adapa, embora devas regressar
à Terra, terás, não obstante, à minha recompensa...”,
“E revelou-lhe todos os mistérios do céu e toda a sua glória e esplendor”, conceden-.
do-lhe grandes privilégios, como a imunidade contra as doenças e a angústia.
Realmente não é difícil traduzir em termos de ficção científica a história babilóni-.
ca. O governante do globo Alfa, pertencente à federação interplanetária Delta, decide.
mandar à Terra, chefiando uma missão colonizadora, o comandante Adapa. À opera-.
ção é bem sucedida, o enviado de Alfa consegue comunicar aos indígenas as noções in-.
dispensáveis à ascensão deles. Mas eis que outro veículo cósmico viola o céu do tercei-.
ro planeta solar. Adapa "despedaça-lhe a asa”, isto é, abate-o, sem saber que se trata
de uma astronave da federação. O encontro provoca uma paralisação na evolução dos
homens, o que, de fato, não agrada ao chefe da coalizão estelar. Este manda chamar o
responsável e, percebendo tanto a sua boa-fé quanto à sua impulsividade, não o conde-
na, mas confia-lhe outro encargo: ele não mais chefiará expedições espaciais: ocupar-se-
á exclusivamente em favorecer o progresso dos terrestres.
Uma interpretação muito livre? Sem dúvida. Ela poderia ser, entretanto, apoiada
por um sem-número de tradições análogas à babilônica. Na Índia encontramos Indra,
o deus da tempestade, que destrói a serpente Vitra “por meio do raio, entre os trovões
que representam o rugido do deus, ao clarão dos relâmpagos que abalam as monta-
nhas”; na Birmânia encontramos Puluga, o ser supremo que “tem o trovão por voz e o
vento por hálito” e desce à Terra para trazer a prosperidade; na Nigéria, M'scimba-
M'sciamba “acende e acorda o mundo”, para induzir depois os homens a fertilizar o
solo; entre os astecas, a deusa do milho (e portanto do alimento, da vida) é chamada
“Sete serpentes” e, debaixo dos clássicos sinais solares (Fig. 238), empunha o raio;
para os antigos lituanos a divindade suprema é Perkunas, "verdadeiro ser celeste, con-
cebido sob o aspecto meteórico, isto é, como provocador do trovão e do raio. À ele
são conferidos os epítetos próprios do Ser Supremo: pai (téras), antepassado (duojotas),
O fogo é o elemento que o representa de modo especial... Simbolizado por um homem
maduro com chamas sobre a cabeça... º.
Também o mexicano Quetzalcóatl, na reprodução do Código Florentino (veja a fig.
50) tem “chamas sobre a cabeça”; assim também é às vezes representado o deus do
fogo hindu Agni, cujas manifestações se vêem tanto no céu (com o Sol e o raio), quan-
to na Terra. “Ele”, escreve ainda Turchi, “está em toda parte, no coração da pedra,
nas vísceras do globo, no interior do nosso corpo... é o amigo dos homens, porque põe
79: Nicola Turechi, Sínria delle Religiani. Saneoni. Florerica, 1964

210
Fig. 239. Chalchiuhricue, divindade do antigo
México que reúne ao estranho chapéu as “franjas
solares”

Fig. 238. O raio é a arma da deusa asteca do mi


lho (e, portanto, do alimento, da vida) coroada
de símbolos astrais.

21
Fig. 240. Ao lado do famoso “espacial da Valcamônica”, eis aqui outra estranhissima
figura que goteja chuva sobre a “úrvore da vida”

Fig. 241. A “Dama branca de Tassil”, com uma quantidade de gotas em torno da
cabeça chiftuda
em fuga os espíritos malignos que se aminham nas trevas e Os consome no seu ardor,
distribui entre os homens todos os favores da lareira doméstica, mercê de um pacto
antiguissimo celebrado com os antepassados...”
Os leitores se lembrarão, por certo, do “astronauta de Palenque”, o surpreendente
pesronagem representado numa pedra tumular mexicana. “Ostenta um capacete”, es-
creveram, a esse propósito, G. Ta ade e A. Millou, “e olha na direção da proa da na-
ve; as suas mãos, ocupadas, parecem manobrar alavancas; a cabeça se apóia num su-
porte e um inalador penetra no nariz. O pássaro na proa é um papagaio, que para os
maias simboliza à deus Sol. Sempre na proa encontramos três “receptores” que acumu-
lam energia; outros se distinguem, cm séries de três, em torno do veículo. O motor é
subdividido em quatro partes; o sistema de propulsão encontra-s atrás do piloto... na
goi
parte posterior vê-se nitidamente o jato de chama
Podemos ser cépticos quanto quisermos, mas é impossivel encontrar para esse relevo
uma interpretação que não seja a “espacial”, Na época do seu descobrimento um estu-
dioso afirmou, peremptório, que se tratava da reprodução do deus da chuva, À afirma-
ção é perfeitamente gratuita, visto que à ciência oficial não está em condições, até hoje,
de identificar aquela figura; de qualquer maneira, ela se baseia numa consideração sim-
plissima: as divindades às quais se atribuiu o poder de despedir trovões e raios devem,
por conseguinte, controlar também as precipitações meteorológicas,
Isso acontece na Birmânia, onde o deus do trovão, para os andamaneses, é também o
deus da chuva, como acontece entre os dencas da África central, entre os núbios que
habitam o oeste do Nilo Branco e entre os hotentotes.
E acontecia na Índia com Parjanya, deus da tempestade e da chuva, em Ugarit,
com Baal, cujo nome especifico é Hadad, “o senhor do trovão, do raio, das águas ce-
lestes, o que cavalga as nuvens”

Se quisermos procurar nestas e em outras divindades com os mesmos atributos ca-


racteristicas “espaciais” encontrá-las-emos em profusão: o asteca Chalchiuhticue reúne
ao curioso capacete as “franjas solares” (Fig. 239) e as excrescências laterais de muitas
máscaras próprias do xamanismo (veja Fig. 119); ao lado do célebre “dançarino” com
O suposto capacete astrontunico (e também aqui notamos pontas formando uma auréo-
la) vemos, em Valcamônica, outra estranhissima figura que goteja chuva (Fig. 240) so-
bre a “árvore da vida”. Gotas circundam, em profusão, a cabeça cornuda da chamada
“dama branca de Aquanrher” (Fig. 241), vizinha dos “marcianos do Tassili”; outras
“gotas” parecem compor a “figura mítica de caráter pluvial” proveniente da Austrália
norte-ocidental « conservada no Stadiisches Volkermuseum de Francfort-sobre-o-Meno.
Se alguém, servindo-se de meios primitivos, nvesse querido reproduzir o perfil de um
astronauta (Fig. 242), não teria podido realizar obra mais sugestiva, desde as “faixas”
(pexoral e abdominal) até o elmo transparente, até algo que parece uma antena, simbo-
lizada talvez com uma pena

do Não é Terrestre, já cuudo

213
PPT e
a Mogtgessos
COcoms00001

Esqueletos radioativos
Com a direita, o “cosmonauta australiano” parece empunhar um instrumento cuja for-
ma, infelizmente, não nos é dado reconstituir nem mesmo por aproximação. Uma ar-
ma? Sentimo-nos tentados a reconstruir o mito cananeu de que nos fala Theodor
Gaster: :
“No princípio dos tempos, quando a cada um dos deuses foi atribuída a parte de
domínio que lhe cabia, à Terra ainda não tinha dono. Dois deuses disputavam entre
sia honra de possui-la: um era Baal, Senhor do ar e da chuva, o outro era Yam, o dra-
gão que reinava sobre as águas. O reino é confiado a Yam, mas Baal o desafia. Astar-
te o ajuda, fazendo-o construir dois “paus mágicos”, com os quais Baal vence e mata o
dragão”, Comentando a lenda, Gaster precisa: “Este episódio ocorre num mito cgípeio
que descreve a luta entre Horo e Set; conta-se, de fato, que Horo se muniu de uma
arma especial, feita por Ptah, o artífice dos deuses. Da mesma forma, no mito védico,
quando Indra ataca o dragão Vrita, fá-lo com um “dardo sibilante” expressamente
preparado para ele pelo artífice Tvashtri. De um modo geral, os estudiosos de mito-
logia concordam em admitir que estas armas representam o raio. Além disso (...) no
texto original se lê que os paus “saltam” das mãos de Baal...”
Recordemos que os amigos primitivos de John Clark associavam o estardalhaço e as
chamas do jato ao fogo da metralhadora e da pistola, c as palavras de Gaster assumi-
rão novo significado.
De resto, tudo o que ele conta acerca de Baal encontra eco no mundo inteiro. No
Tibete os dorje (raios) representam uma arma usada simbolicamente pelos sacerdotes
contra os demônios.
Sobre os supostos veículos celestes antediluvianos existe uma rica documentação do
estudioso soviético A. Goborvski?!. Ocupando-se precisamente do Tibete, ele nos diz
que um texto daquele pais contém a descrição de “um enorme carro voador, fabricado
com um metal negro, à base de ferro, não puxado por elefantes nem por cavalos, mas
por máquinas grandes como esses animais”,
Às tradições célticas são ricas de “animais voadores recobertos de uma couraça de
ferro, que não tinham ossos nem esqueleto e não reclamavam comida”, ao passo que
na Índia antiga assim se descreve um veiculo aéreo: "No interior do aparelho encon-
tra-se um dispositivo onde se aquece o mercúrio numa caldeira. O aquecimento é
obtido graças a um fogo especial direto (um laser?). Os quatro recipientes de mercúrio
permitem a produção de um turbilhão de força. O carro sobe ao céu, com o fragor do
trovão. Os que lhe seguem o curso no céu têm a impressão de observar uma pérola gi-
tesca”.
É ainda Goborvski quem fala. E no seu livro Enigmas da Antiguidade nota que “um
esqueleto humano descoberto na Índia revelou uma radioatividade muitas vezes supe-
nor à normal” (não é o único, segundo se sabe). Por sua vez, aludindo às ruínas carbo-
nizadas de Borsippa, amiúde identificadas com as da torre de Babel, E. Zehren pergun-
ta, na sua obra Die biblischen Hugel, que energia teria podido fundir os tijolos do zigu-
rate « responde: “Nenhuma, a não ser a luz monstruosa de uma bomba atômica”.

He. Vie Novas, 29 de junho de 1962


Es
ro
Sir Frederic Soddy, que recebeu o Prêmio Nobel em 1921 pelos seus estudos im-
portantíssimos sobre os isótopos, já escrevia em 1909: “Não há nada que nos possa
impedir de acreditar que algumas raças hoje desaparecidas tenham atingido não só os
nossos conhecimentos atuais, mas também conquistado poderes que ainda não pos-
suímos (...) As tradições científicas da Antiguidade poderiam ser o eco de épocas
pré-históricas, de uma idade em que os homens já palmilhavam a nossa mesma estra-
da”.
IX
CONSTRUTORES DE ETERNIDADE

L UG, O ASTRONAUTA, de volta da Terra, convocado com urgência pelo Conselho


Interplanetário, ouvia com paciência as acusações que lhe eram dirigidas,
— O senhor abusou da nossa ciência, acelerando assim, de maneira desnatural, a
evolução dos habitantes do globo que explorou.
— Eu não podia proceder de outro modo. Tínhamos necessidade de metal, preci-
sei ensinar os indígenas a extraí-lo e plasmá-lo para as nossas necessidades. Tínhamos
necessidade de madeira, precisei fornecer-lhes os instrumentos para cortá-la e trabalhá-
la. Tinhamos necessidade...
— O senhor, — atalhou o inquisidor, — deixou aos indígenas os nossos conheci-
mentos.
— E que mais poderia eu ter feito? Riscá-los da memória deles? E isso depois de
havê-los feito trabalhar para nós? Mas eles, sem dúvida, não poderão utilizá-los para
desencadear uma guerra.
— OQ senhor, — prosseguiu o outro, — é considerado uma espécie de mago por
aqueles indígenas.
— Se o senhor fosse um primitivo, tivesse febre e eu a fizesse desaparecer com uma
pílula, o senhor também me consideraria um mago.
— Em resumo, e seja como for, o senhor se dá conta de que transgrediu as ordens
do Conselho?
— Sim, senhor. — Lug, o astronauta, começa a perder a paciência, — Eu o fiz por
necessidade, por julgá-lo justo e oportuno, e não tenho nenhuma intenção de descul-
par-me. Na próxima vez, vá o senhor à Terra « veja se consegue sair-se bem, equili-
brando-se sobre os seus sofismas.
— Comandante! — grita o inquisidor. Logo, porém, se modera, reflete, e resmun-
ga: — Diabo! Com esse sujeito é sempre assim, nunca conseguimos chegar a um
acordo. — Em seguida, erguendo à voz, mau grado seu, anuncia: — Está encerrada a
sessão, arquive-se o processo.

As lâmpadas perenes

Eis aí outra narrativazinha de ficção científica, que poderia transpor, em termos


espaciais, uma lenda, ou melhor, um conjunto de lendas.
Porque nas sagas irlandesas “Lug é o engenheiro, o construtor, o mago... é médi-
co e alquimista, é o operário universal e, nesse sentido, tem personalidades diversas. É
demiurgo. É filho de Cian ou Gian, “O Flamejante”. É filho de Lir ou Leir... é filho

217
de Diancecht e, como tal, é carpinteiro, mecânico, atleta, harpista, guerreiro, pocta,
mago, médico, copeiro, bronzista, jogador de xadrez. Será o pai espiritual de Cuchu-
lain *º (...) Na Escandinávia é Loki, uma espécie de demônio entre os deuses (...)
torna-se “o Astuto”, "o Engenhoso”, o que engana as outras divindades” AR
Por melhor que sc ajuste à versão utópica, não a queremos, por certo, tomar por
evangelho. Ela quer fazer-nos simplesmente refletir sobre alguns fatos inexplicáveisà
luz dos nossos conhecimentos atuais.
“Encontram-se na Sactaya Grantham, que faz parte dos Vedas hindus, instruções pa-
ra a vacinação, assim como descrições das suas consequências”, escreve Andrew To-
mas. “De que maneira os brâmanes chegaram a essa descoberta 2.500 anos antes de
Jenner **2”
E ajunta algo muito mais sensacional; “Os antigos chineses conheciam os raios X?
A pergunta pode parecer absurda, mas conta-se que o Imperador Tsin Shi (2 59-210
a.C.) possuía “um espelho que iluminava os ossos do corpo”. Esse “espelho” se encon-
trava no palácio de Hien-Yang, em Shensi, no ano 206 a.C.; assim o descreviam os
escritos daquele tempo:
“Era um espelho retangular, de 1,22 m de largura por 1,76 m de altura, brilhante
tanto na parte anterior quanto na parte posterior. Quando uma pessoa se punha em pé
diante dele para ver-se refletida, a imagem parecia virada de cabeça para baixo, Quan-
do alguém levava as mãos ao coração, todos os seus órgãos internos, como O intesti-
no, sc tornavam visíveis. Quando uma pessoa tinha uma doença escondida, podia re-
conhecer-lhe a sede olhando nesse espelho e levando as mãos ao coração” *º,
Parece também que 250 anos antes do reinado de Tsin Shi, um sábio hindu chama-
do Jivaka possuía "uma jóia maravilhosa”, que permitia “olhar para o interior do cor-
po”, exatamente como os raios X. O objeto, de acordo com um documento histórico,
“iluminava o corpo como uma lâmpada aclara todos os objetos de uma casa, revelando
a natureza das doenças”.
Invenções muito mais modestas, mas para nós surpreendentes, nos são apresentadas
nas páginas “menores” da arqueologia. No “nímulo de Balana”, às margens do Nilo
nubiano, foi descoberta, por exemplo, uma mesa dobrável (Fig. 243) racionalíssima,
que encontramos também em Pompéia. Queremos levar, numa excursão ao passado,
uma cadeirinha igualmente dobrável? Teremos de andar um pouco, mas à encontra-
remos (Fig. 244) na Dinamarca, onde foi construída há coisa de três mil anos.
Uma curiosíssima caixa com compartimentos, semelhante à um estojo para talheres,
(fig. 245), foi descoberta numa sepultura do antigo Egito, e remonta aproximada-
mente ao ano 3000 a.C. E agora sabemos, finalmente, como se obteve o corte perfeito
do bigodinho do Príncipe Rabotep (mais ou menos no ano 2500 a.C.): “Durante uma
campanha de escavações realizadas na região de Sakkara”, lemos num cotidiano, “o
egiptólogo inglês Walter Emery e o arqueólogo egípcio Ali e el Kholi encontraram
onze lâminas de barbear enferrujadas, velhas de 2.500 anos. Emery e El Kholi pre-
tendem agora tirar a ferrugem para ler os hieróglifos existentes sobre as lâminas” *º.
82. Veja Não é Terrestre, já citado
83. Louis Charpentier, Les Géants ei le Mystire des Origines, Robert Laflont. Paris. 1969.
84 A Tomas, Les Secres de |" Arlanside, Robert Laffont. Paris, 1969
85 B Laufer, Prebistory of Aviation, Field Museum of Natural History, Chicago, 1928
86. “Comiere del Giomo”, 13 de fevereiro de 1979

218
Fig. 243 A mesa dobrável de bronze de Balana (Nilo nubiano). Quan
do aberta, (d direita),J os suportes sustentavam um plano de madeira

Ainda não chegamos aos barbeadores elétricos, mas não devemos desesperar, sobre-
tudo se refletirmos no descobrimento, feito pelo engenheiro alemão Wilhelm Kônig,
das famosas “pilhas de Bagdá” *”.
De qualquer maneira, a eletricidade não devia ser prerrogativa do mundo mediter-

rânco. Um antigo manuscrito hindu, o Agastya Sambita (conservado na "Biblioteca


dos Príncipes” de Ujjain) parece conter instruções particularizadas para a construção
de uma bateria de elementos secos: “Um prato de cobre bem polido deverá ser coloca-
do num recipiente de terracota. Recobre-se primeiro com sulfato de cobre e, em segui-

7 Ames dos Tempos Combecoel

219
Fig- 244: Ourro móvel dobrável: trata-se
de um banquinho dinamarquês, que já tem
3000 anos de idade

Ng. 245. Esta camxa de compartimentos,


extremamente semelhante às caixas dos
nossos dias, foi encontrada numa sepul-
tura do antigo Egito e remonta a mais
de 3.000 anos antes de Cristo.

da, com serragem de madeira úmida. Coloca-se depois sobre a serragem um prato de
zinco amalgamado com mercúrio, a fim de evitar a polarização. O contato produz uma
energia líquida, conhecida pelo duplo nome de Mitra-Varuna. A água é separada desta
corrente em pranavayu e udanavayu. Afirma-se que a união de uma centena desses reci-
pientes produz um efeito muito forte” *",
Comentando esse trecho, Tomas nos oferece interessante visão panorâmica dos su-
postos conhecimentos sobre a eletricidade num passado longínquo.
“Na cúpula do templo por ele construído, Numa Pompílio, (segundo Ovídio) fazia
arder um fogo perpétuo. Pausânias viu, no templo de Minerva, no ano 170 da nossa
era, uma lâmpada de ouro que emitia luz durante um ano sem ser preciso enchê-la.

88 CN. Melia, The Flight


of Hanumam to Lanka, Narayan Niketan, Bombára, (940

220
Fig. 246. O bigode perfeito do prin
cipe egipdio Rahóteg encónica final
mente uma explicação no recente des
cobrimento de lâminas de barbear no
Nilo
“Nos túmulos próximos da antiga Mênfis, no Egito, encontraram-se em quartos se-
lados lâmpadas que ardiam perpetuamente; exposta ao ar, a chama se extinguia; é
sabido que lâmpadas do mesmo tipo existiam nos templos brâmanes da India.
“A estátua de Mêmnon no Egito “falava” quando os raios do sol levante lhe toca
vam a boca, O som provinha da parte inferior do rosto. “Mêmnon”, disse, à propó-
sito, Juvenal, “faz ressoar as suas cordas mágicas”. Os incas, do seu lado, tinham um
ídolo falante no Vale de Rimac: teria sido impossível construir monumentos seme-
lhantes sem o conhecimento da física.
“Somos levados a acreditar que as chamas despedidas pelos olhos de divindades
egípcias (sobretudo pelos de Ísis) eram produzidas pela eletricidade. Porventura não
se encontraram no Egito aparelhos capazes de sustentar essa hipótese?
“O grego Luciano (120-180 d.C.) nos deixou a descrição das maravilhas que admi-
rou no transcurso de uma viagem a Hierápolis, na- Síria setentrional. Foi-lhe mostrada
uma jóia engastada numa cabeça de ouro de Hera, que “projetava uma grande luz”,
de modo que “o templo resplandecia como se fosse iluminado por uma miríade de cí-
rios”, Outro prodígio: os olhos da divindade o seguiam aonde quer que ele fosse.
Luciano não forneceu a explicação do fenômeno: os sacerdotes recusaram-se a reve-
lar-lhe o segredo”.
Passando a outras manifestações curiosas, o estudioso prossegue:
“Os afrescos, ricamente coloridos, que cobrem as paredes e os tetos dos múmulos
egípcios, parecem ter sido pintados em plena luz. Mas a luz do dia nunca penetrou na-
queles aposentos. Não se encontram traços deixados por tochas ou lâmpadas de óleo.
Ter-se-ão os pintores servido, acaso, de luzes elétricas *?2
“Os mistérios do templo de Hadad ou de Júpiter em Baalbek estão associados a
pedra luminosas. A existência de tais “pedras” que forneciam, na Antiguidade, as lu-
zes nas horas noturnas não pode ser posta em dúvida, pois foi descrita por numerosos
autores clássicos.
“Plutarco dizia, no século | da nossa era, ter visto uma “lâmpada perpétua” no tem-
plo de Júpiter-Âmon. Os sacerdotes lhe haviam assegurado que ela ardia assim, inin-
terruptamente, havia muitos anos: nem o vento, nem a água puderam apagá-la,
“Em 1401 se descobriu a pedra tumular de Palas, filho de Evandro; na cabeça do
defunto fora colocada uma lâmpada de fogo perpétuo. (...) Santo Agostinho descreve
uma lâmpada análoga, vista por ele num templo de Vênus, e o historiador bizantino
Cedrino afirma haver admirado outra, que ardia em Edessa fazia cinco séculos.
“O Padre Régis Evariste Huc (1813-1860) assevera ter examinado no Tibete uma
lâmpada inextinguível, é relatos desse gênero também nos chegam da América. Em
1601, descrevendo a cidade de Gran Moxo, em Mato Grosso, Barco Centernera fala
nestes termos de uma ilha misteriosa: “A sua beleza superava a razão humana. À Casa
do Senhor era construida com pedras brancas até o teto. À entrada havia duas torres
muito grandes, separadas por uma escadaria. À direita, dois jaguares vivos estavam
presos a uma coluna com anéis de ouro. No topo dessa coluna, que tinha uma altura de
7:75m, uma grande lua iluminava todo o lago, afugentando a escuridão e as sombras de
dia e de noite”.
Hg. Antes das Tempos Conhecidos, já citado.

222
“O Coronel Fawcett ouviu os indígenas de Mato Grosso dizer que frias luzes mis-
teriosas tinham sido observadas na cidade perdida na mata; escrevendo ao autor bri-
tânico Lewis Spence, observa o famoso explorador: "Essa gente tem uma espécie de
iluminação que nos parece estranha e provavelmente faz parte de uma civilização de-
saparecida”,
“Os mandans, os índios brancos da América setentrional, recordam uma época em
que os seus antepassados viviam além do oceano, em “casas de luzes inextinguíveis ', Seria,
acaso, a Atlântida? Os antigos teriam herdado dos adântidas tais lâmpadas curiosas?
“Até há alguns anos, os habitantes das ilhas do Estreito de Torres se diziam possuí-
dores de buia, isto é, de pedras redondas que projetavam uma luz penetrante (...) da
qual emanava uma luminosidade azul-esverdeada, que nunca deixava de maravilhar
os brancos ”,
“Comerciantes da Nova Guiné descobriram, não faz muito tempo, um vale no jân-
gal, perto do Monte Wilhelmina, povoado de amazonas. Com grande assombro vi-
ram grandes pedras redondas com um diâmetro de 3,5 m colocadas sobre colunas €
que irradiavam uma luz semelhante à do néon. C. S. Downey, delegado à conferên-
cia sobre a iluminação e o tráfico, realizada em Pretória no ano de 1963, ficou tão
impressionado que declarou: “Estas mulhers, isoladas do resto da humanidade, de-
senvolveram provavelmente um novo sistema de iluminação que iguala, c até supera,
os do século XX”.
"E pouco provável que as habitantes do jângal tenham descoberto um sistema des-
se género; pode dar-se que tenham herdado as esferas incandescentes de uma civili-
zação desconhecida da história”.
Estranho é o fato de que uma ilha povoada de mulheres guerreiras da Antiguidade
fosse chamada pelos romanos por um vocábulo céltico correspondente ao nosso vocá-
bulo “brasil”, que designava inicialmente a cor avermelhada do carbono em combustão.

Cidade de outro mundo

Algumas alusões estranhas poderiam fazer-nos pensar que os astecas conheceram à


eletricidade *!. Os elementos em nosso poder não são suficientes para enfrentar em ter-
mos científicos o problema, Parece-nos, todavia, interessante refletir uma notícia da
Cidade do México, que talvez tenha escapado a muitos: “O engenheiro David Espar-
za Midalgo inventou uma máquina de calcular bascada em sistemas astecas e maias.
Revela-o o jornal “Novedades”. O aparelho estaria em condições de executar todas as
operações aritméticas, inclusive as extrações de raizes cúbicas, mais rapidamente do que
as máquinas modernas” *2,
Povos que chegaram a tais realizações não deveriam, por certo, ter ignorado a roda.
Não obstante, é convicção difundida, aceita pela ciência oficial, de que cla cra total-
mente desconhecida no “Novo Mundo”. Como vámos conciliá-la, então, com os brin-
qo E ldries, Drums of Mer, Angio& Robensan, Sydney, rgóz
94 “Smena”, Moscou. cul 1950-70
9a "L'Uniti”, 7 de mão de 1971
Fig. 247. Os anúgos mexicanos, segundo a ciên
cia tradicional, não teriam conhecido a roda, Mas
as esculturas de Veracruz, do Campeche e da
Tarasco nos deixaram estes brinquedos, com ca-
racterísticas nada têm de primitivas

quedos mexicanos de rodinhas, pertencentes as culturas de Veracruz, Campeche, Ta-

rasco?
Roberto Calcagno fornece exaustiva documentação sobre eles: nas suas fotogra-

fias (Fig. 247) vemos jaguares, cães, animais só aproximativamente identificáveis,


que nos recordam, com as suas expressões às vezes cômicas, os engraçados brinquedos
modernos. “O teste do carbono”, observa Tomas, “atribui a esses objetos uma idade de
1.200-2.000 anos. À questão permanece aberta: por que os maias não se serviram de
veiculos, se os seus filhos tinham brinquedos com rodas? Os nossos garotos porventura

não brincam com minúsculos automóveis porque vêem os adultos servindo-se de carros
grandes?”
Podemos responder com Gordon F. Ekholm: “O fato de não ser a roda adotada na
América talvez estivesse associado também ao escasso uso que dela se fazia na Ásia.
Os páleo-hindus, porém, únham outro meio de transporte, O travois, que consistia em
Fig. 248. Cartos rodas mus pinturas o]
ranas Esta é 4 chamada “biga de lo
Abwu Teka”

Fig. 249. Muito semelhante 4 inscrição


afticana é a que se descobriu na laje de
uma câmara sepulcral de Kivik, na Suécia
mendional

duas varas seguras aos flancos dos animais, cujas extremidades se arrastavam na terra,
meio que foi mais tarde utilizado por peles-vemelhas “ colonos americanos” a

A roda, em suma, teria sido não apenas superflua, mas também inadaptada às zonas
que unham de ser percorridas, Não terá sido por isso que desapareceu do Saara, por
causa da aridez cada vez maior do solo? No entanto, as antiquissimas pinturas (Fig.
248) da região, atualmente tomada pelo deserto desolado, a apresentam adaptada a
velozes carros tirados por parelhas.
Surpreendentemente próxima das representações africanas é a inscrição (Fig. 249)
de uma câmara sepulcral de Kivik, na Suécia meridional, que podemos ver traduzida
em estatueta (Fig. 2 50) por volta de 1400-1200 4.C. em Trundholm, na Dinamarca.
E as representações de carros, que nos impressionam tanto numa rocha (Fig. 251) de
Los Bruites, Penalsordo (Badajoz, Espanha), quanto num pedaço de terracota (Fig.
252) proveniente de Sopron (Hungria), nos conduzem ao mesmo tempo ao Saara,
à África e à Ásia central.
Não queremos ver trilhos de “ônibus pré-históricos” nas misteriosas “rodeiras”
de Malta, de algumas antigas cidades americanas, dos arredores de Mohenjo-Daro:
devemos, todavia, observar que este último centro nos mostra, com as suas ruínas,

taracteres que nos deixam pasmados, desde as ca s de dois e três andares, providas de

ms Tyar Lisener, Aber Gott usar da, Walter Verlag. Olven, rghe
Fig. zs0. O “carro do Sol” dinamarquês de Trundholm (mais ou menos de 1400 a 1200
aC),

Fig. 291. Um “carro de procissão” representado num pedaço de terracota em Sapron


na Himgria

G
Fig. 257. Figuras rupestres calcoliticas que representam veiculos cont rodas de Los Bru
tes, Penalsordo (Badajoz)

226
E
instalações de água corrente « eficientissimos serviços higiênicos, até o sistema de cana-
lização (Fig. 253), que arrancou dos entendidos britânicos esta exclamação:
— Hoje não poderiamos fazer melhor **!
Nem poderemos — acrescentamos nós — edificar com tamanha facilidade comple-
xos monumentais semelhantes aos que caracterizavam tantas regiões do mundo antigo,
como as imensas escadarias (Fig, 254) de “Picdras Negras”, na Guatemala, os palá-
aos maias (Fig. 255) de Sayil (Campeche), que parecem refletir, às vezes no todo, às
vezes nos pormenores, as obras-primas da arte mediterrânea, de construção,
As ruinas permitem uma reconstrução (Fig. 256) mexicana de Tollan que nos deixa
assombrados pelo seu caráter, o qual parece sugerir-nos, efetivamente, sonhos extrater-
restres.
Esplêndidos edificios e paralelepipedos perfeitos justapostos, sobrepostos, surgiam
em torno de uma área vastissma. Um dos seus lados era inteiramente ocupado por
uma esplanada coberta, com dimensões que nos deixam atônitos. E sobre tudo domina-
vam os vestígios imponentes da pirâmide com degraus.
São vestígios que encontramos em toda parte ”, da que deve ter sido a igualmente
impressionante Sakkara (Fig. 297), dos templos caldeus, como de muitos outros ainda,
cuja enumeração nos parece supérflua.
Tornaremos a citar, pelas suas enigmáticas referências, somente algumas dessas
construções, à começar pelo chamado “Castelo” de Chichén Itzá (Iucatã). Uma tra-
dição antquissima conta que ele teria sido erguido sobre uma “máquina” de forma
igual, capaz de “viajar por grandes distâncias e por muitíssimo tempo”. Outra lenda
nos diz que debaixo da Pirâmide da Lua (Fig. 260), da bela e sinistra Teotihuacán,
dorme, num esquife de cristal, uma princesa loira, vinda do nosso satélite natural.
Anda em Teouhuacán se ergue, com a lunar, a pirâmide dedicada ao Sol (Fig. 261),
cujas caracteristicas não podem deixar de alimentar a idéia de estreitas relações entre
j as civilizações americanas c a egípcia. À base do monumento mexicano tem as mesmas
“medidas da pirâmide de Quéops (225 x 220 m) e a sua altura (73 m) corresponde à
| metade desta última (Fig. 262).
Por maior que tenha sido o acervo de tolices que nos legou a chamada “piramido-
so logia”, é inegável o fato de que tais construções encerram segredos que estamos muito
longe de poder compreender,
Consideremos ainda aquela que tem o nome de Quéops (Fig. 263): a “câmara do
rei” coincide com o círculo em que se inscrevem os vértices do triângulo, e a altura da
k própria pirâmide corresponde ao raio de um circulo cuja circunferência seria igual ao
perimetro da base.
* “Lobatchevski, o grande matemático russo”, recorda Tomas, “demonstrou a uni-
versaldade da geometria do espaço. Essa ciência já havia sido importada no Egito
— antigo. Mas de onde e de quem? Muitos mistérios poderiam ser esclarecidos se admi-
— tissemos que os “filhos do Sol” eram portadores de uma civilização vinda do cosmo. À
O niversalidade científica da ggeometria nos demonstra que a vida apareceu em outros
k P 8
lanetas antes de aparecer no nosso, mas seguiu à mesma evolução no terreno do conhe-

cimento”.

qu Antes alas Vompor Combecilos. já cirado


| 93. Ante dor Tempos Combeçidas, já citado
+2
Hs
=
Fig. 253. Restos da obra perfeita)
de canalização de Mohenjo
Daro.

Talvez pareça arbitrário discernir o conceito fundamental da pirâmide em cons


trução que, sem dúvida, só o recordam de maneira va Inúmeros cientistas, po-
rém, entre os quais se destacam os soviéticos, que não desprezam determinadas afins
dades, vêem em certos esboços primitivos de edifícios da Ilha de Páscoa (Fig. 264)
bases grosseiras de pirâmides (e aqui estamos diante de construções cuneiformes da
ilha, de forma lenticular, que lembram estranhamente alguns descobrimentos franceses
e piemonteses, como aquele de Val Gravio reproduzido na fig. 123); em minaretes
espiralados (Fig. 265), a lembrança dos zigurates mesopotâmicos, estreitamente “apa-
rentados” com os monumentos de degraus egípcios e americanos.
Ainda hoje os índios huicóis do “novo continente” fabricam piramidezinhas de ma-
deira (Fig. 266) com degraus que chamam "escadas do Sol”. E algumas delas têm uma
96
extraordinária semelhança com os primitivos “canopos” ?º etruscos, culminando com
a esfera que simboliza uma cabeça (Fig. 267).

96. Vasos funerários

228
ron* wa

Fig. 254. A reconstruçãode ”Piedras Negras”, na Guatemala


Fig. 259. O chamado “Palácio”
da cidade maia de Sayil (Campeche)
Fig. 256. À mexicana Tollán no seu apogeu: à reconstrução tem algo de “modernissimo
e extraterrestre, ao mesmo temp

Pág. À direita, embaixo.


Fig 258. A reconstsução (segundo Charles Chipicr) de um templo caldeu com uma for
ma que recorda à das pirâmides com degraus
Fig. 2 Assim devia apresentar-se o complexo
P cgipeio
BM de Sakkara, com a célebre F pirã
mide de degraus
Fig. 259. Chichén Itá (lucatã):
conforme a tradição, este mon
mento teria sido erigido sobre
uma “máquina” capaz de viajar
no espaço e no tempo,
ee"

Fig. 260. A Pirâmide da Lua


de Teotihuacin: debaixo dessa
construção dormiria, num esquifé
de cristal, uma lendária princesa
loira

261. Estamos sempre em


Teouhuacin: cota É a famosa
“Pirâmide do Sol”
Retornando as pirâmides propriamente ditas, ouçamos ainda Andrew Tomas
ÚQuando a arte pre incaica foi descoberta em Ollantay Tambo cem Sacsahuaman,

no Peru, o peso de certas pedras foi avaliado em mais de cem toneladas. Sem embargo
da sua massa enorme, os blocos tinham sido colocados com tamanha exatidão que mal
se podiam distinguir as Has à olho nu. Se excluirmos o Egito, tais monumentos

não têm confronto em nenhum outro pais


“A grande pirâmide de Quéops é uma das construções mais precisas do mundo intei-
ro. Aqueles que a erigiram deviam possuir, em matéria de geometria e arquitetura, co-
nhecimentos superiores, de tal modo que se disse: “O tempo zomba de tudo, mas as
pirâmides zombam do tempo”
“Os blocos polidos, que pesam 15 toneladas, postos na base desse monumento
estão adaptados um do outro com a precisão de um centésimo de polegada dificil-

mente se pode enfiar entre eles uma folha de papel; pois bem, tamanha precisão “não
dev eria” ter sido ale ançada por nenhum povo antes do adv ento da tecnologia moder-

na

“Se aceitarmos a data estabelecida pelos cgiptólogos para a construção da Grande


Pirâmid», este edifício, considerado até uma época próxima da nossa como o mais alto
do mundo, foi erguido quando ainda não existam o guindaste nem a roda. Apenas cem
anos antes os egipeios ainda se serviam de argila e de palha; deveremos, acaso, admitir
que no espaço de um século eles realizaram progressos tão extraordinários que precisa-
ram apenas de vinte anos para edificar uma mole desse gênero? (. )
“Os blocos de Baalbek, no Libano, são jo 4 100 vezes mais pesados que os da
Grande Pirâmide; nem mesmo os nossos maiores guindastes conseguiriam erguê-los
do sopé da colina à altura em que se encontra a plataforma. (...) François Lenormant,
no seu livro Magia Caldeia, cita uma lenda relativa aos padres de On, que conseguiam
deslocar, com a ajuda do som, massas que nem mesmo um milhar de homens seria ca-
paz de mover. Trata-se de um mito ou da recordação popular das conquistas de uma
ciência desaparecid:

Em 1964 escreviamos: “Do outro lado do Atlântico, outro arqueólogo, Hyatt


Vernill, aventou uma hipótese ainda mais audaz, dizendo-se convencido de que as mas-
sas das pirâmides pré-colombianas não foram esquadriadas a golpes de escopro, mas
com uma pasta radioativa capaz de cortar o granito, e afirmou ter visto pessoalmente
os restos de tal substância, conservados por um feiticeiro índio”.
Pois bem, vocês querem transportar uma rocha que, mesmo com o auxílio de muitos
voluntários, não se desloca um milimetro sequer? Hoje talvez possamos sugerir-lhes o
sistema adotado: reduzam a rocha a pedaços, banhem os fragmentos com uma espécie
de cozimento, e os verão transformados em blocos de argila maleável. Em seguida,
nada mais facil do que despedaçar os blocos até torná-los transportáveis, confiá-los aos

colaboradores e, chegados ao destino, empastar tudo: depois de algum tempo, voltarão


a scr pedra, com a for ma que VOC és quiserem dar-lhes

Um “cozimento” que amolece as pedras? Exatamente: a RAI deu notícia dele nos
dias 20 e 25 de junho de 1968, acrescentando que os componentes vegetais do prodi-
gioso solvente foram descobertos por um missionário italiano no Peru, que teria feito
experiências com inteiro êxito
Mais que uma descoberta, Isto Seria uma redescoberta: assim à define o próprio re-

233
Fig. 262. Uma comparação surpreendente: a da Pirâmide do Sol mexicana com a Pirã-
mide de Quéops egípcia (triângulo externo).

Fig. 263. A extraordinária geomevia da Pirâmide de Queóps na csquematização de


acuradas pesquisas oentificas.
ligioso, afirmando que os incas se teriam servido desse liquido para construir as suas
pirâmides O que nos faz pensar que O solvente era conhecido e usado em grande parte

do mundo antigo: a ereção das pirâmides, de fato (quer sejam do Peru, do México ou
do Egito) constitui um quebra cabeças que, a despeito de diversas hipóteses, continua

sem solução.
Como se sabe, as massas com as quais foram edificados muitos desses monumentos
precisaram ser transportadas de lugares distantes, frequentemente atraves de regiões
impranicáveis: esquadriar blocos tão pesados e dar a uma das suas faces uma forma le-
vemente côncava ou convexa, de modo que se encaixassem com perfeição, com as
máximas garantias de solidez, representa outro grande problema. E a colocação dos
próprios blocos submeteria, mesmo agora, 4 uma dura prova os técnicos: ela exigiria,
entre outras coisas, o emprego de plataformas de cimento armado capazes de suportar
» 1
o peso de vagões ferroviários de 40 rodas!
F alou se e fala se ainda em planos inclinados, rolos feitos de troncos de arvores as

tudo Isso são suposições pouco consistentes: tais meios não tenam podido excluir 0

trabalho humano Ora, admitamos que mal mãos sejam suficientes para mover ou

acompanhar uma roc ha mu) maos pertencem 4 quinhentas pessoas, que não encontra-

nam lugar em torno da pedra

Embora cépticos em relação às revelações de Vernill, nós nos sentiriamos antes pro-
pensos a pensar em maquinas de socrguimento usadas pelos egípcios « pelos antigos
americanos e desmanteladas quando se extinguiu a tendência para construções ciclópi-
cas Isto, naturalmente explic daria apenas parte do problema; d “redescoberta” do muIs-

sionário, ao contrário, nos delincaria uma solução completa « irrepreensível Mas antes
de nos entusiasmarmos em demasia, é razoável esperar saber um pouco mais sobre o

assunto

À era dos Gêmeos

Segundo a ciência tradicionalista, a Grande Pirâmide teria sido mandada construir


pelo Faraó Quéops, da 4? dinastia, que viveu aproximadamente do ano 2620 à 2597
aC. Há, porém, quem pense de maneira diferente, Richard Hennig, entre outros, es-
creve:

“Não se entende por que a maior parte dos egiprólogos atuais, ao contrário de mui
tos dos seus predecessores do século XIX, se recusam com tanta obstinação a fazer
remontar a história do antigo Egito ao TI e TV milênios antes da nossa era, À civili-
zação babilônica, a do curso superior do Indo (sem falar na dos maias) floresceram —
como já ficou demonstrado — exatamente há 4-5 mil anos antes de Cristo.
“E quase certo que ds tradições maias recordam acontecimentos celestes do 9º mi

lênio a.C. Por que os sacerdotes egipaios não teriam podido dispor de tradições igual-
mente antigas para nutrir o seu esc yterismo ? ( ) inglês Perry o admite e, num texto recen-

te, faz remontar o advento do primeiro faraó, Manes, ao ano 4326 aC


“Existe, pois, uma observação de Heródoto (que ele, decerto, não teria podido in
ventar) sobre a idade dos conhecimentos dos sacerdotes egípcios. “Eles afirmam”,

235
Fig. 264. Esta “casa” de forma lenticular da Tha de Páscoa Jembra tanto as construções
cuneiformes da Sardenha quanto à estranha construção piemontesca de Val Gravio

escreve, “que o Sol se ergueu duas vezes no ponto em que atualmente se põe, c se pôs
duas vezes no ponto em que hoje se levanta”,
“É claro: trata-se do fenômeno chamado “precessão dos equinócios”. Com efeito,
o nosso planeta percorre com o eixo inclinado a sua órbita, é o próprio eixo, dirigido,
a espaços, para diversos pontos sucessivos, volta à “posição de partida” a cada 25.827
anos.
“Se se aceitar Heródoto ao pé da letra, isso provaria que a astronomia egipeia tem
50.000 anos! Mesmo que a observação do céu feita pelos sacerdotes da civilização
do Nilo não tenha tido início num periodo tão remoto, estende-se necessariamente
por diversos milênios, pois de outro modo a precessão não teria podido ser calculada.
Os gregos a descobriram no ano 150 a.C. os babilônios, porém, já à conheciam mui-
to antes, como conheciam fenômenos astronômicos que só poderiam ter ocorrido nó
período chamado por convenção a “era dos Gêmeos”, isto é, de G500 à 4300 aC,
quando a constelação dos Gêmeos coincidia com o “ponto primaveril” do ano solar.

Fig. 265. (à esquerda): Com o seu minarete espiralado, a mesquita de Al-Mutawakkal nos traz à mente 06
ziguratos mesopotâmicos; Fig, 266. (4 direita) A Escada do Sol dos huicóis, indios da América
“Nada nos impede pensar que os cgipoios tenham chegado a tais conhecimentos
graças a uma longa observação da esfera astral, tanto mais que o zodíaco do templo
de Denderah, poucos séculos antes de Cristo, indica precisamente os Gêmeos como si-
nal da primavera. À única conclusão possivel é que a ciência astronômica egípcia re-
monta, pelo menos, à “era dos Gêmeos”. E a idéia de situar a construção da Grande
Pirâmide no 34º século antes de Cristo não tem assim mais nada de inverossímil
Quanto à datação da cultura maia, Egerton Sykesé de opinião que os seus represen-
tantes chegaram 4o continente americano (vindos da desaparecida Atlânuda?) com
enorme bagagem científica, e acrescenta: “A hipótese, geralmente aceita, segundo a
qual el ”s teriam colecionado em menos de um séc ulo todas as noções conquistadas pelo

mundo ocidental em 2.000 anos, não tem nenhum precedente histórico e fere o bom
senso PB

O raciocínio é válido para muitissimas outras pessoas: os astecas, por exemplo, sa-
biam muito bem que os corpos celestes têm forma esférica e lhes imitavam o novimento
nos seus jogos; 05 dogons africanos falam no “companheiro escuro de Strio”, só desco-
berro por meio de telescópio; antigas populações mediterrâncas conheciam algumas das
Plêiades, invisíveis a olho nu (veja a fig. 112).
Os babilônios, recorda Gore, “sabiam também da existência das quatro grandes luas
de Júpiter, Io, Europa, Ganimedes e Calixto. No entanto, até a invenção da luneta de
Galileu, a humanidade ignorava tudo a respeito desses satélites” aa
“Só existem duas hipóteses possíveis. Aquela segundo a qual os babilônios teriam
possuído telescópios parece demasiado arriscada: não obstante, no British Museum se
conserva um notável cristal de forma oval, plano-convexa, encontrado por Sir Henry
Layard no decurso das escavações do palício de Sargão, em Nínive. Sir Davis Brews-
ter sustenta que esse discóide era uma lente, ainda que à maioria dos estudiosos se mos-
tre reservada a respeito” 100

Por sua vez, Andrew Tomas, voltando às descobertas hindus e chinesas, escreve:
“Os brâmanes conservaram ciumentamente, no correr dos séculos, d tábua astronó-

mica da Surya Siddhanta. Nesse texto da India antiga, o diâmetro da Terra cra calcu-
lado em 12.617km, a distância da Terra à Lua em 407.198km, À cifra aceita pela
astronomia moderna para o diâmetro equatorial do nosso planeta é de 12.756,5km,
e a distância máxima que nos separa da Lua se estabelece, aproximadamente, em
406.731 km
“Isso nos mostra a notável precisão a que haviam chegado os astrônomos hindus; e
isso numa época em que os europeus ainda estavam longe de desfazer-se do “complexo
da Terra achatada”. A data da última redação da Surya Siddbanta gira em torno do
ano 1000 d.C.; mas, segundo alguns, já existam edições dela 3.000 anos antes da
nossa ecra. :

“Os textos Hual Tzy (mais ou menos do ano 120 4.€.) e Lun Heng, de Wan Chung
(82 d.C), nos delinciam uma cosmogonia centrípeta, segundo a qual “turbilhões” soli-

97 Richard Henmg, Les grandes dnigmes de ['Uncieri, Robere Lalfome. Paris, 1997
98. “Auanns”, julho-agosto de 1966, Londres
99 JE Guce, Astronomial Esays, Chart& Windos, Londres. 1907
tao. W. B Charpenter, The Mucroscope ámel its Revelatíoms, [8 A Churchill, Londres, 4 Hgt

237
dificam os mundos nascidos da matéria primordial. Esses escritos da antiga China pre:
cedem as idéias modernas sobre a formação das galáxias!
“Encontramo-nos, portanto, diante de uma alternauva: ou admitir à existência de
instrumentos astronômicos aperfeiçoados numa remota Antiguidade, ou presumir que
os sábios babilônios, egipaos, hindus é chineses foram os conservadores de noções
científicas de uma longinqua pré-história”.

Fig. 267. A idéia das pirâmides de degraus e das “esculturas espaciais” de todo o mundo
parece resumida nestes monumentos etruscos de Chiuai
X
GILGAMÉS

Y IVIA EM EREC 101 um ser que possuia dois terços divinos e um terço humano.

Era Gilgamés, um sujeito de mau gênio pouco recomendável, às vezes frio, às vezes
impulsivo, que conseguia quase sempre impor a própria vontade, mesmo porque parecia

impossivel pader alguém vencê-lo em combate. Os seus concidadãos o suportaram


durante algum tempo, mas afinal, cansados dos seus abusos, rogaram ao Senhor do
Céu que os livrasse daquele prepotente individuo.

O Senhor do Céu transmitiu a tarefa à deusa Aruru, a que criara o homem da argila.
Aruru, servindo-se do mesmo material, plasmou uma criatura a que deu o nome de
Enkidu. Alguns a definem “metade humana e metade animal”, outros à descrevem
simplesmente como um selvagem fortíssimo, todo músculos e pélos. Fosse como fosse,
Enkidu enfrentou Gilgamés eo dernbou. Admirou-se da coragem do adversário, mas

teve de reconhecer os limites da sua força física


Os dois assim se tornaram amigos. Gilgamés assumiu o papel de “cérebro” e de-
cidiu ratificar a aliança, eliminando o monstro Humbaba, que infestava os arredores.
Desde o início, a história apresenta elementos só aparentemente mitológicos: a cria-
ção do homem da argila (ou do “barro”), comum a tantos povos, separados por gran-
des distâncias de espaço e de tempo, não pode ser uma simples fábula. E reflete um da-
do realmente científico, o da formação da vida a partir da matéria inerte.
Na história de que estamos falando vemos duas criaturas de origem diversa:
Gilgamés, nascido em outro planeta ("dois terços divino”, isto é, junto do céu) e adap-
tando-se à vida neste globo (“um terço humano”); Enkidu, filho da Terra, ainda muito
primitivo ("metade humano e metade animal”). Gilgamés, inteligente e inquieto, pro-
vido de dotes e armas que lhe permitem impor a própria vontade, é talvez apanhado de
surpresa pelo outro e dominado pela sua força bruta, E eis o herói chegado das estrelas
transformado em herói civilizador, conquistando a amizade e a colaboração de Enkidu,
isto e, dos terrestres, movendo-se, no interesse comum, contra outras criaturas.

Observemos as curiosas imagens (Fig. 268) de Gilgamés que nos foram transmitidas
por povos montanheses instalados ao norte da Mesopotâmia: asas, cabeças de pássa-
ros, sinais solares, espirais, juntam-se num simbolismo complexo c altamente significa-

tivo.

Cotejos interessantissimos fora m fetos com achados provenientes de todas as partes

do globo; elementos comuns se observaram numa quantidade enorme de objetos, mais


ou menos simplificados, elaborados, estilizados, segundo o nível cultural e artístico dos
v ar 105 povos

rot Ea nome híblico da cidade semenana de Uruk, a 223 km a sudeste de Bagdá, Ali se encontram
os restos de uma torre colassal com
degráu
tor Esisens muitas versões da epopéia de Gilgameés. A mais completa for descoberta na biblioteca de Assurbanspal; remonta à mexade do
TI milênio aC. mas. em relação às tmais antigas, parece muito remanejada

239
Fig. 268. Assim as populações montanhesas estabelecidas ao norte da Mesopotâmia re
presentavam Gilgamés.

A uma Sardenha sem idade remontam as empunhaduras de espadas, vindas à luz no


repositório nurágico de Monti sa Idda (Decimoputzu), com estranhíssimas representa-
ções, que recordam pássaros e sinais solares (Fig. 269). Da primeira idade anatólica
do bronze nos chegam (Fig. 270) os machados em forma de pússaro de Mahmutlar,
ao passo que a cabeça do Gilgamés mesopotâmico (veja a figura 268, à esquerda)
aparece reproduzida numa fivela franca (Fig. 271), que se pode aproximar por outros
modos de dois ídolos de Tell Vidra, perto de Bucarest.
Estes últimos, por sua vez, nos reconduzem aos estranhos “espaciais” de Tell Asmor,
ainda na Mesopotâmia e, do outro lado do oceano, ao “diadema de Pachacamac”
peruano (Fig. 272).

240
Fig. 269. As empunhaduras de espadas sardas de Monti sa Idda, Decimopurzu

Fig. 270. Machados em forma de pássaros da primeira idade anatólica do bronze, encon
trados perto de Mahmutlar,

Daquele país nos vêm também os cutelos rituais (Figs. 273 e 274) com as mesmas
asas, os mesmos sinais solares, as mesmas espirais mediterrâneas. Observem-se bem as
fotografias e os desenhos reproduzidos, e não escapará o estranho fio que os liga,
embora distantes no tempo e no espaço.

241
Fig. 273. Um cutelo incaico de bronze descoberto em Cuzco, no Peru

Pagina ao lado, em coma: Fig. 271. exquerda, dois idolos de


Tell Vidra, perto de Bucarest;d direita, uma fivela franca

Página ao lado, embaixo: Fig. 272. Estranhas “divindades” hi


utas de cabeça cônico-tnangular de Tell Ashmor, na Mesopo
tâmia. Confrontem-se com o curioso diadema encontrado em
Pachamanac, perto de Lima (à direta)

Fig 274: Outro “cutelo ritual”, copresenta um personagem


mitológico chimu; notem-se a semelhança com o de Cuzco, 08
sinais solares, as espirais
Senhores do tempo
Mas quem cra Humbaba? Se um ilustrador de relatos utópicos se propusesse
uma monstruosidade tal que fugisse dos esquemas costumeiros, não poderia ter fei
coisa melhor do que os desconhecidos criadores da terracota de Abu Habbah (Fi
275), que remonta ao século VII a.C. Eles nos apresentam uma criatura que seria
ficíilimo imaginar, uma máscara que torna discutível toda e qualquer tentativa de
terpretação.

Trata-se de outro ser procedente do espaço? À aventura dos dois heróis poderia
induzir-nos a crêlo. Estes se encontram, de fato, diante de uma “floresta” fechada por
uma porta. Conseguem transpor a soleira mas, como que por encanto, a porta torna à.
fechar-se, esmagando uma das mãos do Enkidu.
A idéia de um maquinismo automático, não parece distante. E as técnicas do gênero,
são perfeitamente conhecidas: portas que se abrem « fecham sem ser tocadas, portas
metálicas que se abaixam, simulacros de deuses que se levantam como que por magia,
abundam na antiga literatura mediterrânea, e Theodor Gaster, na sua obra As Mais
Antigas Histórias do Mundo, nos conta que narrativas desse gêncro andam espalha
no Harz, em Assia, na Islândia.
Vencido Humbaba com a ajuda do deus do Sol, Gilgamés tem um encontro que, à
primeira vista, poderia parecer agradável: o encontro com a belissima deusa Ushiar,
que lhe promete, em troca de algumas ternuras, uma "carruagem de ouro” que o levaria
“a morada das divindades”, O nosso herói, porém, deve conhecer bem a tentadora,
tanto que a acusa de nunca ter sido sincera, de nunca haver demonstrado um mínimo
de lealdade para com os seus admiradores.
— Amaste um leão, — diz-lhe, — e por sete vezes lhe cavaste à fossa. Amaste um,
garanhão, e o subjugaste com o chigote e as esporas.
Acreditamos que a perversão sexual conhecida como “zoofilia” não tenha relação
alguma com estes episódios. Talvez fosse mais aceitável a versão que lhe daria à ficção
científica: chegada por sua vez do cosmo, Ishtar procura a ajuda de outros “náufragos.
espaciais”, para abandoná-los depois de haver desfrutado a capacidade deles.
A terrível vamp estelar, por certo, não sofre passivamente a afronta: solta contra
Gilgamés “um terrível touro descido do céu”, que é, porém, morto por Enkidu.
Estamos em pleno conflito interplanetário. Os “deuses” amigos de Ishtar não tar-
dam a vingar-se da recusa de Gilgamés a uma aliança que lhe tornaria possível o re-
gresso, se não ao seu globo, pelo menos a mundos mais avançados do que aquele em
que se encontra. Não o podendo ferir diretamente, atram-se contra O terrestre, muito
mais vulnerável. Segundo reza a lenda, Enkidu tem um sonho,
“Parecia, — escreve Gaster — “que um grande clamor se erguia no céu e na Terra,
e uma estranha, horrível criatura com cara de leão e asas e garras de águia descia não
se sabe de onde e o raptava. De repente, também dos seus braços começaram a nascer
penas, e ele assumia 0 mesmo aspecto da criatura que 0 seguestrara”,
Encontramo-nos, porventura, diante de um rapto cósmico? Não é fácil decifrar q
trecho, deformado, além de tudo, nas diversas versões. De qualquer maneira, Enkidu
vai embora, e Gilgamés, depois de haver chorado o amigo, pensa na própria existên-

244
Fig. 273. O monstro Humbaba, vencido por Gilgamés, numa terracota de Abu Habbah
(séculos VILVT a.C.)

cia, dingindo-se para uma ilha “situada nos extremos confins da Terra”, onde vive
“o único mortal que fugiu da morte”, o velhíssimo Utnapishtim. Vê-se diante de mon-
tanhas cujo desfiladeiro, defendido por criaturas monstruosas, vai dar em um túnel
intransitável, O herói dinge-se então a uma estalajadeira e fica sabendo que, para che-
gar aonde está Utnapishtim, precisa atravessar um oceano, “o oceano da morte, que o
homem jamais sulcou”.
O protagonista da nossa epopéia não se assusta, chega à sua meta, encontra “o gran-
de velho”, o qual, numa versão muito próxima da bíblia, lhe conta a história do dilúvio.
E é um dilúvio realmente universal, ao contrário do que afirmavam até há pouco tempo
alguns estudiosos inclinados a ver nos trechos conhecidos do Antigo Testamento uma
inundação local, relativamente modesta !*, “Teria sido muito melhor que uma grande
carestia houvesse atingido o mundo em vez dessa catástrofe”, comenta Utnapishtim,
o “Noé sumeriano

03. Antes dos Tempos Conhecidos. O Plana Desconhecido, Não é Terresre


Fig. 276. Anzóis da
Ilha de Páscoa em
forma de tritões

Fig. 277: 0
“Mekara” indiano,
monstro marinho
com a espiral €
o simbolo solar
Trata-se quiçá de
uma — representação
diluvial

Gig. 278. Um
belíssimo sirênida
etrusco: notável é q
sua cauda em espiral
com a “árvore da
vida”, à sua frente
E, em algumas versões, vemo-lo sobreviver, adaptando-se as novas condições deter-

minadas pelo cataclismo. Parece-nos captar aqui o eco do Mababharata, a celebérrima


epopéia da Índia antiga, a maior do mundo: “Quando o peixe foi atirado ao oceano
por Manu, ele lhe dirigiu estas palavras “O benditissimo, tu me proporcionaste uma

inteira e continua conservação: agora me ensina o que deverei fazer quando chegar o
tempo. Daqui à pouco, à bendito, rudo o que de estável e nobre pertence à natureza
terrestre sofrerá uma transformação geral, uma dissolução completa, ó benditissimo” ”
E a predição do dilúvio, a constatação de que o homem não poderá escapar ao de-
sastre senão “mudando-se em peixe”, isto é, enfrentando de modo novo uma nova si-
tuação. Numerosos cientistas entendem que precisamente de tal conceito nasceram di-
versas figuras mitológicas, talvez ja expressas pelos anzóis da Nha de Páscoa (Fig

276), em forma de tritões. Do século 1 a.C. é o “Makara”, índio de Barhut, monstro


marinho (Fig. 277) com a cauda em espiral e o sinal solar; e parece exprimir o mesmo
conceito do sirênida etrusco (Fig. 278) com as barbatanas que aparecem ali, diante de
uma “árvore da vida”
Gilgamés procura exatamente essa árvore, cuja existência lhe é revelada por Utna-
pishtim “Sobre a Terra não há nada eterno”, diz ele. Mas ajunta “Nas profundidades
marinhas existe uma planta que tem o aspecto de um espinheiro-alvar. Se um homem
conseguir apoderar-se dela, poderá, provando-a, reconquistar a juventude”.
Será, porventura, a famosa “árvore da vida”, que simboliza em toda parte a aspira-
ção a uma indefinida longevidade e, contemporaneamente, o vôo, O espaço, as estre-
las? Somos induzidos a afirmá-lo sem hesitação diante dos motivos que a acompanham
num vaso cita (Fig. 279) do século IV a.C, descoberto em Chertomlyk, na Ucrânia:
um astro alado, pássaros, espirais, flores, cabeças leoninas.

Gravadas na rocha (Fig. 280), vemos as mesmas árvores entre as inúmeras inscri-
ções do Vale das Maravilhas (Alpes Marítimos): alguns arqueólogos crêem distinguir
nelas “figuras humanas em técnica linear”, mas é muito provável que se trate precisa-
mente da famosa “planta mágica”, uma vez que a vemos reproduzida da mesma manei-
ra em diversas partes do mundo

Em um cilindro assino (Fig. 281) do inicio do primeiro milênio a.C. é exatamente


Ishtar quem aponta um dedo para a “árvore da vida”, diante da qual está um persona-
gem com uma estrela sobre a cabeça; e no hipogeu de Tutmés II, em Tebas, o rei é
amamentado (Fig. 282) por uma "árvore sagrada”: entre os hieróglifos que se divisam
a esquerda destacam-se o sinal solar co escaravelho, simbe do da imc yrtalidade.

Acompanhada de outros motivos recorrentes em todo o globo, a planta encantada


domina também a sala do modelo do bucentauro (Fig. 283) de Isola Bella (Lago Mag-
giore), onde outras figuras recordam os dragões orientais e os pássaros das antigas civi-
lizações americanas.
Encontramo-la também em tempos muito mais próximos do nosso, se bem que o

significado original se tenha perdido. Como nas obras apreciáveis expostas no Museu
de Como (Fig. 284), onde, ao lado de uma clara « belíssima estilização, vemos os seus
ramos entrelaçar-se para compor (Fig 285) esboços de espirais e sinais solares

Aqui, as árvores e as flores se unem sempre (Fig. 286), ao passo que num queimador
de perfumes fenício (Fig. 287), em forma de templozinho, se fecha, acima da planta,
a flor de lótus

247
Pág. à esquerda,
Fig. 279. Um vaso de
prata cita descoberto
em Chertomlyk. Com a
“árvore da vida”, tem
todos os elementos
comuns da “arqueolo-
gia misteriosa”

Fig. 280. As “árvores


da vida” do Vale das
Maravilhas (Alpes
Marítimos)

Fig. 281. Ishtar diante


da “árvore da vida”
num ailindro assírio do
1º milênio a.C

Será esta a flor simbólica de Gilgamés? Diremos que sim: na Antiguidade a deno-
minação é dada a diversos vegetais muito diferentes entre si: 0 “lótus” egípcio, na rea-
lidade, ecra uma ninféia; o hindu, um nelúmbio, para citarmos apenas dois entre inúme-
ros exemplos. E transforma-se em “roda da lei” sob a marca (Fig. 289) dos pés de

249
—Ta E
Fig, 282. Hipogeu de Tutmés TI (Tebas)
o soberano é amamentado por uma “irvo
te sagrada

Fig. 283. Acompanhada de outros mon


vos recorrentes em todo o globo, a famosa
árvore se encontra também na “sala do
bucentauro Isola Bella (Lago Maggjo
re). Outras figuras recordam sem dúvida
os dragões chineses c os pássaros míticos
da América pré-colombiana

A
Fig. 284. Uma “árvore da vida” de época relativamente próxima da
nossa, com motivos
serpentiformes entrançados (Museu de Como)

Buda; em sinal solar e estelar nos achados do Museu de Como, (Fig. 289)
nos estra-
nhos fragmentos engastados na fachada do palácio municipal (Fig. 290)
de Osimo
(Ancona). Os etruscos a elaboram (Fig. 291) nos motivos mais diversos,
e ela se con-
serva até os nossos dias, no Ocidente, transformada em rosácea nas igrejas cristãs
(Fig. 292)
Voltemos a Gilgamés: o herói consegue apoderar-se da planta mágica mas, enquan-
to se banha nas águas de uma torrente, uma serpente lha surrupia.
“Frequentemente”, observa Gaster, “se tem dado ao episódio final da nossa história
uma interpretação errada. É opinião comum, de fato, que Utnapishtim tenta tornar
menos amarga a decepção de Gilgamesh, indicando-lhe a maneira de obter uma
planta
portadora da imortalidade. Na verdade, porém, isso não corresponde ao texto
original,
e tal interpretação destrói o verdadeiro significado do episódio
Fig. 285, Outros motivos
serpentiformes do Museu
de Como, enredados para
compor sinais solares

Fig. 286. Ainda no Museu


de Como se observam estes
“florões” ao lado de
“árvores da vida”
Fig. 287. Um queimador de
perfumes em forma de
templozinho” com a “árvore
da vida” encimada pelos “lótus
solar”

Fig. 288. Marcas dos pés do


Buda com a “roda da lei”
“A planta em questão não é portadora da imortalidade, mas apenas o que mais se
aproxima dela: uma planta que restitui a juventude ao velho c ao decrépito e que, por
essa qualidade, torna mais tolerável a mortalidade”
E aqui nos parece ouvir ressoar algumas estrofes dos cantos astecas:

Vive-se acaso realmente na Terra?


Não para sempre, somente por pouco!
Como tu, eu também o sei: só se vive uma vez,
Um dia iremos embora.
Página ao lado, em cima: Fig. 289. “Rosá-
cea . tranças serpentiformes, rodas e sim-
bolos solares expostos. no:Múgeu de Cais:
embaixo: Fig. 290. Até encastoadas na fa
chada do palácio mumaipal de Osimo (An
coma) se distinguem estranhas tranças em
forma de serpentes, simbolos solares e sinais
recorrentes em vários lugares. desde um
passado remotissimo

Fig. 291. "Rosáceas”, fores de lómis estihi


sadas, esficaiê e" truzes- tim 4, Necessários
achados etruscos

E ainda:

Ob, se vivêssemos para sempre!


Ob, se não devêssemos morrer!
Dhes po
Ao pu, md

Fig. 292. À chamada “roda da fortuna” da catedral de S. Virgílio em Trento.

“A crença numa planta assim”, continua Gaster, “é comum à tradição popular de


muitas partes do mundo, O haoma da antiga mitologia iraniana é às vezes representado
como uma planta que cresce numa ilha do Lago Vurakasha, O humor que ela segrega
possui a qualidade de afastar a decrepitude e renovar todas as coisas. E como na nossa
história a planta é comida pela serpente, no mito iraniano, Abriman, potência do mal,
cria uma lagartixa para que se nutra da própria planta. Também o soma da crença hindu
é uma espécie de elixir de vida, contido no humor de uma planta paradisíaca”.
E se não se tratasse de uma planta, mas de uma substância indispensável a um náu-
frago espacial, cuja vida, embora destinada a ter um fim, tivesse uma duração maior
que a dos terrestres?
E se na serpente se visse, ainda uma vez, um veículo cósmico ocupado por seres que
não tinham a menor intenção de prolongar a existência de Gilgamés?
E se Wilson Tucker, com o seu romance The Time Master !º*, se tivesse servido da
ficção científica para traduzir em realidade acontecimentos convertidos em lenda na
lembrança dos antigos?

104. Publicada na Itália por Mondadori na coleção “ Urania” com à título Siguóri del Tempo, em (9y4

256
A Atlântida ainda vive

Utnapishtim não é um personagem inventado, como não o é Noé, que encontramos


em todo o globo, às vezes com o seu nome, desde o havaiano Nu-u ao chinês Nu Wah,
ao Noa amazônico
!?. No Paraguai e no Brasil é também Tamandaré; no México,
Tapi ou Nalá (com a esposa Neua); e torna-se Pokawo para os delawares estaduniden-
ses, Manibosho para os peles-vermelhas canadenses, Zeu-Kha entre os patagões, Yima
na Pérsia, Dwifah nas lendas célticas
O conceito dos homens maus punidos com o dilúvio aparece em inúmeras tradições,
desde as dos wiyot-wishosk, dos pomos, dos mattoles californianos (todos extintos),
até os pawnces de Nebras 1, que adoravam Tirawa, o “Espírito Pai”, a quem atri-
buiam o extermínio de uma pérfida raça que “não queria reconhecê-lo”.
A ingratidão humana teria também provocado a ira do criador dos yaghans, um po-
vo estabelecido na Terra do Fogo e agora próximo da extinçã

As suas lendas nos fornecem duas versões da catástrofe: uma nos fala de um frio
intolerável, da queda incessante de neve, de vastas extensões marinhas geladas; a ou-
tra, de furiosas inundações. É evidente que a primeira não exclw a segunda, e a ligação
entre elas pode encontrar-se onde se fala no Sol que “depois de uma noite muito longa
voltou a brilhar”, não conseguindo dissolver todos os gelos, mas trazendo uma espe-
rança de vida, ainda que depois de outras “tremendas destruições” Ms.
Lissner observa que, muito provavelmente, as lembranças dos yaghans se referem à
catástrofe realmente ocorrida há cerca de 10 mil anos, é as associa à descrição do dilú-
vio feita pelos katos californianos: “Chove. Chove todos os dias, todas as tardes, to-
das as noites. Chove. “Chove demais”, diziam os homens. Eles não tinham fogo. As
torrentes transbordaram, a água encheu os vales, à água circundou os homens. Os
homens foram dormir e caiu o céu, Não houve mais terra. Às águas cobriam a Terra
inteira. Os ursos pardos morreram, os cervos se afogaram, todos os animais se afoga-
ram”,
“Excluindo-se 05 árabes, os cafres e os negros (mas não os masais), em toda parte se
encontram tradições antiguíssimas relativas a uma imensa inundação”, recorda Hen-
nig. "Em 1891, Andree enumerou 85 lendas desse tipo. A partir de então foram
encontradas muitas outras, de modo que hoje se conhecem mais de 100. Se se puserem
de lado as que poderiam ter sido inspiradas por missionários, ainda sobram 68 autóc-
tones. À Asia nos oferece 13 relatos diferentes do dilúvio, a Europa 4, a África 652
Austrália e a Oceânia 9, o “Novo Mundo” 37: 16 na América do Norte, 7 na Amé-
rica central e 14 na América do Sul” ja,

Vamos resumir algumas dessas tradições, além das já citadas. as, em termos quase
telegráficos
Os esquimós (como os chineses) têm até agora uma lenda em que se conta que a
Terra foi “violentamente sacudida” por um “dilúvio imenso, no curso do qual mui-
tissimas pessoas se afogaram”

Lemos num cúdigo maia; “O céu aproximou-se da Terra e tudo foi destruído num
voy: Para uma complera documentação veja «Ames day Tmepai Conhecidos
106. HM Mare", osamto Geogrifico de Agostini, Novara, 1971
197 Richant Hennig, Les Grandes Enigmes
de "Univers, Robers Lafont, Paris 1957
dia. Até as montanhas sc extinguiram debaixo da água”. No antigo México celebrava
se regularmente um acontecimento do passado depois do qual “as constelações assu-
miram um novo aspecto”.
Os índios guatemaltecos conservavam a lembrança de “uma chuva negra, que caiu.
do céu no mesmo momento em que um terremoto destruía casas e cavernas”; na Ama-
zônia se narra que, depois de uma tremenda explosão, “o mundo mergulhou nas tre
vas”; e os indígenas peruanos acrescentam à mesma história que “a água atingiu a al-.
tura das montanhas”,
A tribo venezuelana dos índios brancos parias, cuja “capital” é uma aldeia com q
nome significativo de Atlan, conserva a lembrança de um “grande desastre”, que teria.
aniquilado a pátria original, "uma vasta ilha do mar do ocidente”.
Andrew Tomas cita um papiro da XII dinastia egípcia, de 3.000 anos atrás, con-
servado no Ermitage de Leningrado, em que se descreve a “Ilha da Serpente”, ligada.
ao seguinte trecho: "Deixareis a minha ilha e não tornareis a encontrá-la, pois este
lugar desaparecerá debaixo das águas”. E, referindo-se a outro testemunho dos filhos
do Nilo, acrescenta: "Uma estrela caiu do céu e as chamas consumiram todas as coisas.
Todos foram queimados « só a minha vida se salvou, Mas quando vi a montanha de
corpos empilhados, eu também quase morri de dor”,
O filósofo e escritor hebreu Filon de Alexandria (mais ou menos de 30 a.C. a so
d.C.) escreve na sua obra A Incorrigibilidade do Mundo: “Considerai quantas regiões
(não só próximas da costa, mas também internas) foram engolidas pelas águas, e con-
siderai as vastas extensões de terra que se converteram em mares c hoje são sulcados
por um sem-número de naves. Quem desconhece o famoso istmo que nos tempos ant
gos unia a Itália à Sicília? Quando os mares das duas partes, agitados por violentas
tempestades, se encontraram, a terra colocada entre eles foi submergida e arrastada
para longe (...) e em consequência disso, a Sicília, que antes fazia parte da terra firme,
ficou reduzida a ilha.
“ca ha da Atlântida, que era à maior da África e da Ásia, como diz Platão no
Têmeu, foi submergida num dia e numa noite pelo mar, depois de furiosos terremotos
c inundações...”
Voltemos a tempos subsequentes e ouçamos John Swain declarar no seu Speculum
Mundi (1664): “Penso que a América fez parte, outrora, do grande pais que Platão
chama Atlântida e que o rei daquela ilha teve relações com os habitantes da Europa e
da Africa...”
No século XVIII essa teoria é aceita pelo naturalista e escritor francês Buffon; no
século XIX, pelo geógrafo e viajante alemão Von Humboldt.
O erudito Ignatius Donnelly (1831-1901), primeiro vice-governador de Minne-
sota e depois, por oito anos, membro do Congresso estadunidense, sustenta, nos seus
livros The Antediluvium World, Ragnarok, The Age of Fire and Ice, que a civilização
maia c outras culturas americanas tinham por matriz a civilização atântida e, em
1882, compendiou a sua teoria em treze pontos:
1. Existiu outrora no Atlântico uma grande ilha chamada Atlântida pelos antigos,
resíduo de uma região bem mais vasta.
2. A descrição de Platão não é fábula, mas história.
3. A Atlântida foi o berço da civilização: lá o homem saiu da barbárie.

258
Fig. 293. No Estado norte-americano do Tennessee foi descoberta esta pedra com uma
inscrição claramente semítica

4: Da Atlântida, superpovoada, muita gente se teria dirigido para o Golfo do Mé-


xico, e chegado ao Mississipi, à Amazônia, à costa sul-americ na do Pacífico, ao Medi-
terrâneo, às costas ocidentais da Europa, da Africa, ao Báltico, ao Mar Negro e ao
Cáspio

5. O mundo antediluviano era o Éden, 0 jardim das Hespérides, o jardim de Al-


cinoo, o Mesônfalo, o Olimpo, o Asgart todos esses lugares fabulosos não foram
mais que a recordação de um mundo em que se vivia em paz e felicidade.
6. Os deuses e as deusas da antiga Grécia, dos fenícios, dos hindus, dos escandina-
vos, eram simplesmente os reis, rainhas « heróis da Atlântida. Tudo o que lhes foi
atribuído na mitologia não passa de uma confusa coleção de acontecimentos históricos.
7- A mitologia egípcia e a peruana refletem a religião original dos atlântidas
8. A mais antiga colônia atlântida foi provavelmente o Egito, em cuja cultura se
reflete a da mãe-pátria
9. Os utensílios da idade curopéia do bronze derivam dos utensílios dos atlântidas,
que foram os primeiros a trabalhar o ferro
ro. O alfabeto fenício, matriz de todos os alfabetos curopeus, provém do alfabeto
atlântida, transmitido também aos maias
11, À Audântida foi a sede originária das populações arianas ou indo-curopéias,
como também das semitas e, talvez, da raça turânica (Fig. 293).
12. À Atlântida foi destruída por um terrível cataclismo; a ilha afundou-se no ocea-
no com quase todos Os scus habitantes.

13. Poucas pessoas conseguiram salvar-se em navios e jangadas, aproando às costas


onientais e ocidentais e levando-lhes a lenda do dilúvio
Quase como se previsse a autude céptica dos futuros leitores, Platão sublinha que a
sua narração, “embora pareça estranha, é perfeitamente verdadeira”. Como dissemos
antes, a descrição geográfica da que seria a ilha principal da Atlântida é muto precisa.
Devia tratar-se de um quadrilátero de uns 370 km de comprimento por uns 185 km
de largura !º*, rodeado de altas montanhas
“Fosse pela ação da natureza, fosse por obra dos diversos reis”, escreve o filósofo

108. As medidas s foram convertidas ao sistema métrico

259
grego, “escavara-se um fosso que circundava toda a planície. Sobre a profundidade, a
amplidão e a extensão desse fosso, tudo o que se disser é difícil de acreditar, como o é
o fato de que uma obra feita pelas mãos do homem tenha podido ter essas dimensões.
“É, portanto, necessário, precisar que o fosso tinha 30,826m de profundidade,
148,8m de largura em todos os pontos e 1.850km de comprimento !ºº, Recebia os
cursos d'água que desciam dos montes, dava a volta da planície, regressava de um lado
e do outro para a cidade, é ia desembocar no mar. Da parte alta do fosso, canais reti-
líneos, com uma largura aproximada de 30,80 m, cavados na planície, juntavam-se ao”
mesmo fosso perto do mar. Cada um deles distava dos outros 18,5 km. Tinham sida
criados ramais para transportar à cidade, em canoas, não só a madeira proveniente das
montanhas como também os produtos da estação.
Às antigas descrições permitiram a reconstrução da pressuposta capital dos atlânti-
das (Fig. 294).
Para se ter dela uma idéia “ao vivo”, que, acima de tudo, nos induza a aceitar as
hipóteses de Donnelly, basta-nos ir a Barbury Castle, na Inglaterra, e no seu cinturão
neolítico (Fig. 295) veremos refletida a planta da lendária metrópole!
“A Atlântida realmente existiu”, declara o físico e matemático moscovita N. Ledney,
depois de vinte anos de pesquisas. “Era uma ilha imensa, que se estendia por centenas
de quilômetros, situada a oeste de Gibraltar” !'º,
“A existência da Adântida não é impossível nem inaceitável do ponto de vista geo-
lógico”, afirma o Prof. V.A. Obrucek, da Academia de Ciências da U.R.S.S, "Sonda-
gens efetuadas na parte setentrional do Oceano Atlântico poderão revelar ruínas de
edifícios e outros restos de uma civilização antiquíssima” !",
Catherine Hagemeister, também soviética, escrevia em 1955: “A Atlântida devia
ser o obstáculo que impedia a Corrente do Golfo de atingir à Europa. O seu desapa-
recimento, ocorrido há to ou 11.000 anos, explica o fim do último período glacial”,
Outra confirmação da hipótese formulada em trabalhos precedentes !2 nos vem do
Prof. N.S. Vetcinkin: “A queda de um gigantesco meteorito causou a destruição da
Atlântida. Traços de meteoritos enormes são claramente visíveis na superfície da Lua.
Os bólides produziram em nosso satélite crateras com diâmetros de 200km. Precipi-
tando-se no mar, esses espantosos projéteis devem ter provocado a submersão de vastas
planícies, colinas e montanhas” !".
Foi provavelmente em conseguência desse cataclismo que se transtornou a rotação
do globo terrestre. Citemos ainda alguns testemunhos de Andrew Tomas:
“Martinus Martini, missionário jesuíta, que operou no Extremo Oriente no século
XVII, fala, na sua História da China, em crônicas antiquíssimas que evocam um tempo
em que o céu, de repente, começou a declinar para o Norte... e o Sole a Lua mudaram
o seu curso em decorrência da revolução da Terra.
“O papiro Harris nos revela que o nosso planeta “girou sobre si mesmo” em virtude
de uma catástrofe cósmica. Referências semelhantes encontram-se também nos papiros
do Ermitage de Leningrado e nos de Ipuwer.

rog. A cifra obviamente inexata: deve tratar-se de um erro de transcrição.


tio. "S. Francisco Examiner”, 14 de julho de 1958.
111 E Andicicva, ”V Poiskakh Poteriannogo Mica”, Detgis, Leningrado. 1961
112 Ames dos Tempos Conhecidos, O Planeta Desconhecido, Não é Terrenre
113. “Teknika Molodeji”, Moscou, N. 9-12, 1956

260
Fig. 294: Planta da capital da Atlân A
uda segundo os anngos textos. Ar pla
ie irrigada. B: canal de irrigação
C: - área urbana. D E; porto É8
F: acrópole G: canal navegável. H:
muro

Fig. 295. O cinturão neolíico de Bar No /


bury Castle, na Inglaterra, recorda es
A H
tranhamente a planta da capital atlán-
nda a a s ==

“Os índios estabelecidos no curso inferior do Rio Mackenzie, no Canadá setentrio-


nal, afirmam que uma onda de calor insuportável invadiu-lhes o pais durante o dilúvio,
seguida de um frio intensissimo: essas mudanças de clima poderiam perfeitamente de-
ver-se à uma deslocação do eixo terrestre”

Uma deslocação que acarretou à inver ão do movimento aparente do Sol. Já o disse-


mos, e poderemos agora acrescentar outras documentações: limitemo-nos às “rodas

261
Fig. 296. No alto, a representa-
ção de um instrumento musical
céluco conservado em Capodi-
monte (Nápoles); embaixo, uma
gravação de High Moor (York-
shire, Inglaterra). Parecem repre
sentar as duas direções opostas
do aparente movimento solar.

Fig. 297. Rodas solares destror-


sas e sinistrorsas lado a lado (Mu-
seu de Como)

solares”, cujos movimentos, destrorsos e sinistrorsos, estão representados não só nas


suásticas reproduzidas e citadas em Não é Terrestre, mas também em instrumentos mu-
sicais célticos (Fig. 296), cujos desenhos têm correspondentes em gravações inglesas e
até em relevos italianos (Fig. 297), cujos autores, por certo, não conservavam sequer
a mais pálida lembrança do remoto cataclismo.

262
Sem resposta

1562: Diego de Landa, bispo do Iucatã, atira às chamas todos os manuscritos


maias que lhe caem nas mãos. Naquele tempo, considera-os “textos diabólicos”, mas o
transcorrer dos anos lhe traz alguma sabedoria. E ei-lo procurando salvar o salvável,
-emediar, nos limites do possível, o insensato auto-de-fé, Eilo sentado, noite após
noite, esquecido do sono e da fome, ao lado do seu velho e acérrimo inimigo, o cultis-
simo res Cocon, ambos agora apenas preocupados em extrair da sombra fragmentos do

passado. Com a ajuda do soberano, de um alto sacerdote pagão e de outros sábios,


De Landa consegue reconstruir o antigo calendário, tracejar o alfabeto maia, embora
de modo imperfeito, visto que o conhecimento dos idiomas em que os ex-adversários
se comunicam está cheio de lacunas !!º,
Mas por mais de dois séculos e meio, no entanto, nada mais se sabe dele nem dos
seus descobrimentos.
1850: um douto missionário destacado para a Guatemala, Exenne Brasseur de
Bourburg, em Madri, toma emprestado de uma biblioteca um volume que lhe interessa.
Um volume que, provavelmente, interessou a pouquíssima gente antes dele, porque o
eclesiástico, consultando-o, vê deslizar por entre as páginas algumas folhas soltas. São
as folhas do manuscrito perdido de Dicgo de Landa!
A descoberta já seria, por si mesma, muito importante, mas o futuro reserva ao fe-
lizardo reverendo outra gratissima surpresa: numa banca do mercado da Cidade do
México, onde os livros se vendem por quilo, ele adquire por 4 pesos o exemplar —
único no mundo — do maior vocabulário maia-espanhol já compilado.
Isso lhe permite redigir um guia para o estudo da escrita maia, que pouquíssimos
notam, mas que possibilita ao próprio Brasseur a tradução do chamado “código Troa-
no
As palavras que, no decorrer do trabalho, o missionário vai alinhando, a despeito
dos erros e termos incompreensíveis, devidos aos textos em que se baseia, deixam-no
estupefato. Elas descrevem uma catástrofe enorme: ”... é o senhor da terra soerguida,
o senhor da abóbora de frasco, a terra soerguida pelo monstro vermelho (...) é o senhor
da terra soerguida, da terra inchada além de todas as medidas, o senhor (...) das águas”.
As alusões a fenômenos telúricos (a “terra soerguida”, a “abóbora de frasco”, uma
imagem que dá, de maneira sugestiva, a idéia da deformação); a erupções vulcânicas
(o “monstro vermelho”); a inundações (o “senhor das águas”), a derrocadas e a brus-
cas elevações do solo são tão evidentes que Brasseur pensa incontinenti numa extraor-
dinária analogia com o Gríton e o Timeu de Platão.
Os maias se referiam, porventura, à Atlântida?
Não. Eles conheciam o cataclismo que causou a submersão das terras de que fala o
filósofo grego, mas recordam-no em outro trecho: “No undécimo dia Ahau Katun
Ocorreu a desgraça (. J desabou uma chuva violentissima e cairam cinzas do céu e numa

única e grande onda as águas do mar se atiraram sobre a Terra (...) e o céu precipitou-
se e a terra firme afundou (...) e a Grande Mãe Seyda ficou entre as lembranças da
destruição do mundo",

vita. Veja Mu”, na enciclopédia “U Mare”, do Insúuo Geográfico de Agostini, Novara, 1971
te4 Ateadução devesse ao filólogo brasileiro OM. Bobo (1930)
Fig. z98. À esquerda, o “sinal de MU"
descoberto por Churchward; embaixo, q
alfabeto maia, segundo De Landa. Como
se vê, as letras UM” eU" Tembram muito
de perto as símbolos asiáticos

Rato ams
vos
ato
Aquela a que aludiam na descrição resumida por Brasseur era outra, c o missionário
se deu conta disso traduzindo o nome da região desaparecida por obra do “senhor da
terra soerguida”: segundo o alfabeto de De Landa, soava Mu.
E as letras maias (Fig. 298) têm o seu correspondente no simbolo que, encontrado
na Ásia por James Churchward, designa o lendário continente que afundou no Pacifi-
co!

264
Figura curiosa, a de Churchward, e nós o dizemos sem nenhuma intenção sarcástica.
O conhecido coronel britânico tem, de fato, o mérito indubitável de haver recolhido
uma quantidade de precioso material, apenas em minima parte tomado em considera-
ção (e sem entusiasmo) pela ciência oficial; esta última, porém, tem uma atenuante,
representada pelo fato de que ele, depois di o, se voltou para as doutrinas esotéricas,
dificultando profundamente, portanto, a distinção entre os elementos reais e os ele-
mentos fantásticos dos seus trabalhos.
Diga-se, porém, que as tabuletas estudadas por Churchward na Índia e no Tibete
apresentam analogias pasmosas com os “Irmãos do raio” australianos (Fig. 299), os
achados maias, as inscrições dos calendários da América pré-colombiana, os sinais gra-
vados nos monólitos de Tizec e nas “mesas de pedra” de Azcopotzalco. Servem para
sustentar, com algum vipor, a hipótese da existência de uma vasta extensão de terras
no Pacífico sujeita a vários transtornos, o último dos quais (que se verificou talvez com
o cataclismo que destruiu a Atlântida?) teria determinado o seu total desaparecimento
da face do globo.
“Quando a estrela Baal caiu onde hoje só existe o mar, as sete cidades tremeram com
as suas portas de ouro e ps seus templos, nasceu uma grande labareda e as ruas se en-
cheram de densa fumaça. Os homens tremeram de medo e uma grande multidão se
apinhou nos templos « no palácio do rei. O rei disse: “Eu não vos tinha predito tudo
isto?” E os homens e as mulheres, vestidos com as suas roupas preciosas, enfeitados
com os seus maravilhosos colares, lhe rogaram e imploraram: “Salva-nos, Ra-Mu!”

Fig. 299. A extraordinária gravação australiana que representa os “Irmãos do raio”, seres que parecem ves
udos com capacetes, macacões e calçados de astronautas
=
“Mas o rei profetizou que todos deveriam morrer com os seus escravos e os seus filhos
e que das suas cinzas nasceria uma nova raça,”
Assim, de acordo com Churchward, as tabuletas de Lhasa recordariam a catástrofe
final, determinada pela queda de um corpo celeste, identificado por alguns como um
asteróide. Pura fantasia? Diremos que não, considerando os enigmáticos documentos
arqueológicos que constelam a Ásia e as ilhas do Pacífico !!6,
Sustenta o coronel que pôde estabelecer, através das suas pesquisas, que o império
de Mu surgiu há mais de 150.000 anos e atingiu o seu máximo esplendor há uns
75.000 anos, mais ou menos, quando das suas sete cidades principais partiram os colo-
nizadores, armados, na direção da Atlântida, ou rumo ao interior da Ásia. Aqui teriam
lançado as bases do que seria, mais tarde (no ano 20,000 a.C., aproximadamente,
de acordo com Churchward), o grande império de Uighur.
Talvez se trate apenas de uma coincidência estranha, mas devemos notar que outro
império Uighur surgiu no século X d.C€., evocando tradições remotissimas. Estabeleci-
dos primeiros na Mongólia, depois no Turquestão chinês, os seus criadores — precisa-
mente os uiguros — deram origem a uma cultura que desapareceu com a conquista
mongol do século XII.
Quanto à suposta expansão de Mu na direção do continente americano, podemos
ver-lhe os últimos traços nas crônicas dos navegadores que, sulcando o Pacífico, topa-
ram com estranhas ilhas, nunca mais encontradas depois disso. O espanhol Juan Fer-
nández (desobridor das ilhas a oeste do Chile a que deu o seu nome, e das Desventura-
das, de S. Félix e S. Ambrósio) afirmou, por exemplo, haver chegado em 1576, às
costas de um “continente” situado nas proximidades de Páscoa, atravessado por “rios
larguíssimos”, ficando encantado ao contacto com “gente tão branca e tão bem ves-
tida”.
Invenções, alucinações, enganos?
Não, nessas relações há sempre alguma verdade, mesmo que a pessoa que as redigiu
fosse induzida, por motivos óbvios, a pintar com tonalidades róseas, os lugares e 05
homens mais próximos, segundo as características, que lhe eram conhecidas, encontra-
das depois de viagens intermináveis.
Pode ser que faixas de terra submersas tenham existido até uma época relativamente
recente, para depois desaparecerem também debaixo das águas.
- Voltando à grande Mu e seguindo ainda o oficial britânico, vemo-la caracterizada
por extensíssimas pradarias e florestas, com um clima subtropical, devastada por mas-
todontes, habitada por 64.000.000 de indivíduos pertencentes a dez raças diversas:
os herdeiros da mais evoluída seremos nós, e os nossos antepassados do continente
perdido nos teriam legado uma tez vagamente brônzea, bastos cabelos negros e olhos
azuis.
Até que ponto é crível a história? Não podemos dizê-lo. Impressionou-nos, contudo,
a notícia segundo a qual o Dr. F. Bruce Russell, psicanalista de Los Angeles, teria en-
contrado perto de St. George, no Utah, múmias que ele afirma procedentes de Mu.
> Gilgamés, se ainda vivesse, poderia dizer-nos mais alguma coisa.
Mas talvez não tivesse olhos nem boca para uma humanidade que se recusaria à
crê-lo (Fig. 300).
116 Antes dos Tempos Conbecidos

266

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