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Trabalho, Sociedade e Resistência Na História Brasileira

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TRABALHO, SOCIEDADE E

RESISTÊNCIA NA
HISTÓRIA BRASILEIRA

Autor: Gilberto Valdemiro Poncio

UNIASSELVI-PÓS
Programa de Pós-Graduação EAD
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (047) 3281-9000/3281-9090

Reitor: Prof. Ozinil Martins de Souza

Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol

Coordenador da Pós-Graduação EAD: Prof. Norberto Siegel

Equipe Multidisciplinar da
Pós-Graduação EAD: Profa. Hiandra B. Götzinger Montibeller
Profa. Izilene Conceição Amaro Ewald
Profa. Jociane Stolf

Revisão de Conteúdo: Profa. Bruna Scheifer

Revisão Gramatical: Prof. José Roberto Rodrigues



Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci

Copyright © UNIASSELVI 2012


Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri
UNIASSELVI – Indaial.

981.007
P795t Poncio, Gilberto Valdemiro
Trabalho, sociedade e resistência na história
brasileira / Gilberto Valdemiro Poncio.
Indaial: Uniasselvi, 2012.
109 p. : il

Inclui bibliografia.
ISBN 978-85-7830- 609-0

1. Brasil – História – Estudo e ensino.


I. Centro Universitário Leonardo da Vinci.
Reimpressão: Setembro, 2013.
Gilberto Valdemiro Poncio

Possui Graduação em História pela


Fundação Universidade Regional de Blumenau
(FURB) (2002), Pós-Graduação em nível
de Especialização em Educação Popular e
Movimentos Sociais certifi cada pelo instituto de
superior do Litoral do Paraná (INSULPAR) (2005) com
monografi a que investigou a visão dos professores da
EJA sobre a Relação da Educação Popular dentro dos
espaços escolares; Mestrado em Educação pela FURB
(2010) com pesquisa sobre a Relação Família-Escola
na EJA. Tem experiência como coordenador pedagógico
em uma unidade da EJA e, professor para o ensino
fundamental regular. Atua principalmente em consultoria
nos seguintes temas: EJA, Currículo, Relação Família-
Escola, Educação Profi ssional. Participou de
Seminários e Congressos em Educação em âmbito
Regionais e nacionais com publicações em Anais
de Eventos como o Congresso Internacional de
Educação Da Universidade Vale do Rio dos
Sinos (UNISINOS) (2009).
Sumário

APRESENTAÇÃO.......................................................................7

CAPÍTULO 1
Brasil, Mostra a tua Cara:
a Constituição Sociohistórica do Povo Brasileiro........... 9

CAPÍTULO 2
Do Tráfico Negreiro ao Quilombo de Palmares:
uma História de Lutas............................................................ 35

CAPÍTULO 3
Movimento Negro e Resistência:
das Senzalas às Ações Afirmativas..................................... 57

CAPÍTULO 4
Resistência na História Brasileira...................................... 85
APRESENTAÇÃO
“Mas para que a diferença exista é preciso que os discursos
menores criem mecanismos de sobrevivência, de conquistas
de espaços e de mais direitos. Menores no sentido de destoar
ao que pretende ser dominante.”
(J.I. Venera e J.R. Severino)

Prezado(a) Pós- Graduando(a),

Daremos início ao caderno de Estudos “Trabalho, Sociedade e Resistência


na História Brasileira”. Neste material, vamos convidar você a refletir sobre
essa tríade em sua relação direta com nossa história. Para isso, é importante
compreender a relevância que adquire conceitos como o trabalho, sociedade,
raça, cultura, etnocentrismo, para citar alguns. Cabe destacar que não vamos
propor uma simples apresentação de conceitos, mas propomos, sim, ao longo
deste caderno, reflexões que sirvam para ampliar nossa visão crítica sobre a
temática exposta.

Nosso objetivo é que os temas abordados neste material lhe sirvam, prezado
Pós-Graduando (a), de suporte para o desenvolvimento de habilidades, bem
como de competências que sirvam para nortear a construção do conhecimento
que seja fundamentado na experiência, que não seja apenas ilustrativo de um
passado longínquo e desligado do contexto hodierno dos sujeitos, e que permita a
formação de um aluno crítico e cidadão que (re)construa um olhar reflexivo sobre
sua própria história.

Com este pensamento norteando a construção de nosso material, vamos


dinamizando situações e contextos, além de mesclar a utilização de diversos
materiais e referências na apresentação dos conteúdos. Assim, iremos propor, ao
longo de todo o caderno, atividades que permitam a aplicação das reflexões aqui
propostas em debates e atividades com seus alunos no cotidiano escolar.

E para alcançarmos nossos propósitos, apresentamos este caderno


em quatro capítulos, que irão dar uma dimensão do que se vem estudando e
questionando sobre a participação afrodescendente no trabalho ao longo da
história no Brasil, bem como os reflexos desta atuação na sociedade, em sua
forma ampla e sem deixar de acrescentar, neste debate, as formas de resistência
à subjugação a que eram submetidos este povos.

Com este pensamento, o primeiro capítulo fará a abordagem de conceitos como


raça, etnia e como estes conceitos fundamentaram preconceitos que convergiram
7
para racismo e etnocentrismo. Também vamos analisar e refletir sobre a história da
educação brasileira e a participação do negro no sistema educativo.

Na sequência, o próximo capítulo lançará o olhar sobre o tráfico negreiro,


com foco nas dimensões histórica e política. Ainda neste capítulo, visualizaremos
um pouco sobre a resistência dos Africanos em quilombos, por exemplo, durante
a escravidão no Brasil e, como este contexto histórico deixou suas marcas na
escolarização das crianças negras. Nossa aproximação com esta discussão terá
como recorte temporal o Império brasileiro, sempre propondo a reflexão sobre os
impactos e as especificidades destes contextos para os dias atuais.

No capítulo três abordaremos o africano escravizado como sujeito do


processo de libertação, a convergência dos negros em organizações como o
movimento negro, movimento de mulheres negras, como também a elaboração
e aprovação de Políticas de ações afirmativas como estratégias de resistência
negra no Brasil.

No quarto capítulo, vamos propor um olhar para as Políticas de integração


do negro na sociedade brasileira. Vamos propor a você, caro (a) Pós-Graduando,
que reflita sobre a desconstrução das imagens negativas dos africanos herdados
da literatura colonial. Vamos abordar, também, o mito da democracia racial por
meio da análise crítica de algumas das experiências e projetos de combate ao
racismo e à discriminação na educação brasileira, sendo talvez a mais relevante
no contexto atual a Lei 10.639/2003.

E para finalizar esta apresentação, aproveitamos para desejar que você faça
a leitura com entusiasmo, concentração e que tenha êxito em mais esta etapa
rumo à especialização. Parabéns, caro (a) cursista, por chegar até esta etapa,
desejamos a todos uma BOA LEITURA e BONS ESTUDOS!!

O Autor.

8
C APÍTULO 1
Brasil, Mostra a tua Cara:
a Constituição Sociohistórica
do Povo Brasileiro

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

 Conceituar raça e etnia, bem como as relações fundamentadas em


características raciais como racismo e etnocentrismo.

 Conhecer a participação do povo afrodescendente na institucionalização e


universalização da educação brasileira.

 Debater criticamente sobre o hibridismo racial e cultural na formação do sistema


educativo brasileiro.
Capítulo 1 BRASIL, MOSTRA A TUA CARA: A CONSTITUIÇÃO
SOCIOHISTÓRICA DO POVO BRASILEIRO

ConteXtualização
O Brasil tem em sua constituição sociohistórica a contribuição de diversos
povos, como dos autóctones que aqui habitavam antes da chegada dos europeus,
dos navegadores ibéricos, que trouxeram para o país o povo africano. Do assírios,
exímios navegadores, aos portugueses, o Brasil, que ainda era chamado pelos
indígenas de Pindorama, era habitado por diversas tribos que fi cavam espalhadas
pelo território.

Com o passar do tempo e as mudanças no sistema econômico que passava


a ser mercantilista/capitalista (séc. XV ao XVIII), o povo da península ibérica,
mais especifi camente os portugueses, lançavam-se ao mar para realizar as
grandes navegações. Além de chegar em terras brasileiras com a pretensa ideia
de “descoberta”, os nossos “irmãos d’além mar” trouxeram consigo um crescente
contingente populacional.

Inicialmente com a extração de pau-brasil e mais tarde , por meio da economia


açucareira, o já reconhecido Brasil, se fazia movido por mão de obra escrava. E
essa forma de produção estava fundamentada no conceito de inferioridade racial
do povo africano, uma vez que viviam em organizações tribais, portanto sem
o referencial de governo adotado pelos portugueses, além do fator cor de pele
associado à crença de que os negros não possuíam alma, como veremos adiante.

Atividade de Estudos:

1) E como isto começou? Você imagina caro(a) Pós-Graduando,


como pode ter tido início essa falsa ideia de superioridade de
um povo sobre o outro? Escreva sua opinião nas linhas abaixo e
discuta com seus colegas de curso.
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Trabalho, Sociedade e Resistência na História Brasileira

Observe que, mesmo sem querer, somos europocentristas, ou seja,


Costumamos olhar costumamos olhar para a história do Brasil apenas após a chegada dos
para a história
portugueses, ignorando, assim, a história dos povos indígenas que aqui
do Brasil apenas
após a chegada já viviam. Em outras palavras, enfatizamos, em nosso recorte temporal,
dos portugueses, o espaço de tempo situado a partir da chegada dos europeus no Brasil,
ignorando, assim, a o que pode implicar em uma análise etnocentrista, que põe determinada
história dos povos cultura de um povo como centro, ou como único responsável pela evolução
indígenas que aqui historiográfi ca. Isto acontece por sermos habituados em nossa formação
já viviam. escolar a olhar por esse ângulo. No entanto, gostaríamos de convidar
você para ver uma parte da história por outro caminho. Vamos lá?!

O Surgimento dos (PrÉ) Conceitos


Desde sua gênese, o Brasil passou no século XV a ser o cenário de um
processo de colonização que se deu sob um regime patriarcal e dividido em dois
núcleos. O da Casa-Grande e o da Senzala. Gilberto Freyre torna-se uma das
leituras quase obrigatórias para compreender o período de formação do que
poderíamos chamar de identidade nacional do Brasileiro. Embora existam críticas
a uma das teses centrais de Freyre, no que se refere à miscigenação pacífi ca
entre senhores bondosos e escravos submissos.

Você já sabe, caro(a) cursista, que nenhuma obra pode ser


lida sem um olhar crítico. Freyre, em sua época, lançou sua tese
e, embora com pontos a serem (re)avaliados, é importante ter
conhecimento sobre suas ideias. Cabe lembrar que sua obra foi
A organização escrita na década de 1930 e, como toda obra, sofre infl uência do
social do Brasil pensamento da época em que foi escrito.
colonial era dividida
em senhores de
Engenho, donos
das fazendas,
homens livres, que Concomitante a esse quadro, o modo de produção havia deixado
prestavam serviços
nas fazendas, e os a extração do pau-Brasil e passava a priorizar o cultivo de produtos
escravos, a quem agrícolas, como por exemplo a cana de açúcar e até mesmo o café.
restava apenas A criação de gado já se mostrava incipiente. A força de trabalho era
a possibilidade escrava, inicialmente tendo como povo subjugado os indígenas e
de trabalhar nas
lavouras e nos posteriormente o povo africano.
engenhos como
forma de evitar Perceba que as questões principais desses contextos se
castigos físicos e encontram em uma sociedade dividida em classes e a introdução de um
garantir alimentos.
povo subjugado. Em outras palavras, podemos dizer que a organização

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Capítulo 1 BRASIL, MOSTRA A TUA CARA: A CONSTITUIÇÃO
SOCIOHISTÓRICA DO POVO BRASILEIRO

social do Brasil colonial era dividida em senhores de Engenho, donos das


fazendas, homens livres, que prestavam serviços nas fazendas, e os escravos, a
quem restava apenas a possibilidade de trabalhar nas lavouras e nos engenhos
como forma de evitar castigos físicos e garantir alimentos. Está montado o cenário
e os personagens estão defi nidos, nesse caso falta o enredo, o que será norteado
pelo conceito de raça, por exemplo.

Figura 1 – A sociedade açucareira

Fonte: Disponível em: <http://www.slideshare.net/mdaltmann/


sistema-colonial-presentation>. Acesso em: 01 out. 2012.

O conceito que irá naturalizar a ideia de que existem diversas raças de


humanos foi o de Carolus Linnaeus (1707-1778), botânico, zoólogo e médico.
Conforme Silva Junior ( 2005), é no século XVIII que:

Carolus Linnaeus (1758), inventor da taxinomia e criador da


classificação Homo Sapiens, reconheceu quatro variedades
do homem - Americano (Homo sapiens americanus:
vermelho, mau temperamento, subjugável), Europeu
(europaeus : branco, sério, forte), Asiático (Homo sapiens
asiaticus: amarelo, melancólico, ganancioso), e Africano
(Homo sapiens afer : preto, impassível, preguiçoso). Linnaeus
reconheceu também uma quinta raça não-geografi camente
defi nida, a Monstruosa (Homo sapiens monstrosus),
compreendida por uma diversidade de tipos reais (por
exemplo, Patagônios da América do Sul, Flatheads
canadenses) e outros imaginados que não caberiam em
nenhuma das quatro categorias “normais” (segundo a visão
racista de Linnaeus, que não apenas criou a classifi cação
como atribuiu a cada uma características físicas e morais,
o indivíduos mestiçados poderiam talvez ser então
classifi cados nesta última categoria) (SILVA JR, 2005, p[1]) .

13
Trabalho, Sociedade e Resistência na História Brasileira

Perceba, caro (a) pós-graduando (a), que, com este pensamento, vai surgindo
e se legitimando na sociedade europeia a ideia de superioridade de uma raça
sobre outras. E isso a partir da difusão dos estudos de Linaeuss no século XVIII
na sociedade. E você, caro (a) cursista, o que pensa sobre esta classifi cação?
Qual o contexto em que a Europa estava vivendo para que essas ideias fossem
aceitas? E nos dias atuais, existe alguma relação do preconceito existente hoje no
Brasil com as ideias de Carolus no séc. XVIII?

Após o advento da classifi cação dos seres humanos em grupos raciais,


e com a crescente valorização do pensamento científi co na Europa, em 1775,
Johann Friedrich Blumenbach (1752-1840) reforça o pensamento de Linaeuss.
Isso se deu quando o alemão determinou, conforme Oliveira (2004, p.57):

[...] a região geográfica originária de cada raça e a cor da


pele como elementos demarcatórios entre elas (branca ou
caucasiana; negra ou etiópica; amarela ou mongólica; parda
ou malaia e vermelha ou americana). No século XIX, foram
agregados outros quesitos fenotípicos, como o tamanho da
cabeça e a fi sionomia. Desde Blumenbach, no entanto, a cor da
pele aparece como um dado recorrente. Inferindo-se, daí, que,
dos dados do fenótipo, isto é, das características físicas, a “cor
da pele” é o que tem sido mais usado e considerado importante,
pois aparece em quase todas as classifi cações raciais.

Com a evolução desses conceitos, e concomitante à ascensão


da burguesia, outro sentimento que vai se fortalecendo no continente
Grupos raciais europeu é o de que esses grupos raciais que se formavam estavam
que se formavam
associados à sua origem geográfi ca. E, claro, vale ressaltar que esses
estavam
associados à sua grupos que passavam a ser introduzidos na Europa traziam consigo
origem geográfica. outras culturas, religiões e costumes, que eram igualmente vistos
como inferiores. Formou-se o cenário necessário para o surgimento do
etnocentrismo. E por etnocentrismo podemos entender:

Etnocentrismo é uma visão do mundo onde o nosso próprio


grupo é tomado como centro de tudo e todos os outros são
pensados e sentidos através dos nossos valores, nossos
modelos, nossas defi nições do que é a existência. No plano
intelectual, pode ser visto como a difi culdade de pensarmos a
diferença; no plano afetivo, como sentimentos de estranheza,
medo, hostilidade, etc (ROCHA, 1988, p.5).

Para acessar o livro “O que é Etnocentrismo?”, de Everardo P.


Guimarães Rocha, na íntegra, acesse: http://www.taddei.eco.ufrj.br/
AntCom/Rocha.pdf.

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Capítulo 1 BRASIL, MOSTRA A TUA CARA: A CONSTITUIÇÃO
SOCIOHISTÓRICA DO POVO BRASILEIRO

A partir desse conceito de Etnocentrismo, muito valorizado na


Conceito de
cultura Europeia, podemos encontrar razões que explicam o processo Etnocentrismo,
de dominação a que os europeus submetem os povos africanos. muito valorizado na
Veja, caro (a) cursista, os povos africanos não eram católicos, cultura Europeia.
viviam em tribos, não possuíam pele branca, tinham costumes e
organizações sociais diferentes. Motivados pelo desejo de dominação
e ao estranhamento causado pelo contato com uma cultura tão diferenciada, não
demorou para que os Europeus considerassem a si mesmos superiores. Com
um pensamento predominante na Europa da época marcado pelo positivismo, os
europeus tinham agora a ciência e a religião legitimando a escravidão do povos
pagãos do hemisfério sul.

Deste modo, conforme Oliveira (2004, p.58),

Vale mencionar ainda as polêmicas sobre o conceito de raça


e de etnia, que, grosso modo, raça deveria ser um conceito
biológico, enquanto etnia deveria ser um conceito cultural. Não
sendo raça uma categoria biológica, etnia também se revela
como um conceito que não é estritamente cultural, pois a
delimitação de grupos étnicos parte de uma suposta alocação
deles no conjunto dos grupos populacionais raciais sem
abstrair a unidade do local de origem e, para delimitar etnia,
considera-se a concomitância de características somáticas
(aparência física), linguísticas e culturais. Enfi m, o conceito
de raça é uma convenção arbitrária e pode ser enquadrada
como uma categoria descritiva da antropologia, uma vez que é
baseada nas características aparentes das pessoas. Portanto,
o uso dos termos raça ou etnia está circunscrito à destinação
política que se pretende dar a eles.
O conceito de negro
Quanto à etnia, é importante convencionarmos que neste estudo é produto de uma
entendemos que o conceito de Negro é igualmente constituído e construção teórica
constituidor do contexto nos quais as relações fundamentadas na raça que se liga às
irão se efetivar. Ou seja, o conceito de raça, etnia, e até mesmo a experiências sociais
vivenciadas entre
denominação do “negro” sofrem os refl exos dos contextos sociais nos
o final do século
quais se desenvolvem. Em outras palavras, conforme Fonseca (2007, XIX e o século
p 14), XX. Antes desse
período, o termo
O conceito de negro é produto de uma construção negro era raramente
teórica que se liga às experiências sociais empregado e o
vivenciadas entre o fi nal do século XIX e o século que encontramos é
XX. Antes desse período, o termo negro era uma pluralidade de
raramente empregado e o que encontramos é
denominações como
uma pluralidade de denominações como pretos,
pretos, pardos,
pardos, crioulos, cabras, mulatos, mestiços,
africanos etc. crioulos, cabras,
mulatos, mestiços,
africanos etc.
Portanto, você já pode refl etir sobre que signifi cados o termo

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Trabalho, Sociedade e Resistência na História Brasileira

negro carrega nos dias atuais. Refl ita e perceba que ao escolhermos determinados
termos para designar determinadas pessoas, já estamos transmitindo nossos
valores e ideais relacionados a cada uma de nossas escolhas.

Para entender o positivismo: essa corrente teórica infl uenciou


tanto a ciência, introduzindo seu método de pesquisa, como também
a organização da sociedade, principalmente no século XIX. O
positivismo aponta suas principais linhas de ação:

[...] como método e como doutrina. Como método,


embasado na certeza rigorosa dos fatos de experiência
como fundamento da construção teórica; como
doutrina, apresentando-se. Como revelação da própria
ciência, ou seja, não apenas regra por meio da qual a
ciência chega a descobrir e prever (isto é, saber para
prever e agir), mas conteúdo natural de ordem geral
que ela mostra junto com os fatos particulares, como
caráter universal da realidade [...](RIBEIRO JUNIOR,
s/d, p.6).

RIBEIRO JUNIOR, João. O que é POSITIVISMO. Editora


Brasiliense. Disponível na íntegra no link http://xa.yimg.com/kq/
groups/3351622/1477263435/name/o+que+%C3%A9+POSI
TIVISMO.pdf .

O Negro na História da Educação


Brasileira
A educação formal começa a acontecer no Brasil com a chegada de padres
jesuítas em 1549. Com o advento das primeiras escolas em Salvador, estado da
Bahia, que tinham um cunho explicitamente religioso, os primeiros indivíduos a
serem “ensinados” foram os indígenas adultos. Isso acontecia já que, para os
portugueses, os autóctones habitantes do Éden do novo mundo mereciam ser
salvos, pois eram vistos como os Bons Selvagens, ao contrário do povo negro,
considerado na época “sem alma”.

16
Capítulo 1 BRASIL, MOSTRA A TUA CARA: A CONSTITUIÇÃO
SOCIOHISTÓRICA DO POVO BRASILEIRO

Outro motivo pelo qual podemos dizer que a educação estava


O Estado não
na mãos dos jesuítas é o fato apontado por Chiavenato. Segundo dava educação e a
este autor: forma de transmitir
conhecimentos ao
O Estado não dava educação e a forma de povo ficava por
transmitir conhecimentos ao povo fi cava por conta conta dos padres.
dos padres. A comunicação era feita de forma A comunicação era
oral, ensinando dogmas e conceitos católicos feita de forma oral,
completamente alienados da realidade brasileira ensinando dogmas
(CHIAVENTATO, 1980, p.117). e conceitos católicos
completamente
Já aos negros era dedicado o trabalho forçado e escravo, alienados da
realidade brasileira
ao mesmo tempo em que lhes era imposto um forte processo de
(CHIAVENTATO,
aculturação, pois a eles era negada toda e qualquer forma de 1980, p.117).
manifestação cultural de suas origens que fosse identifi cada pelos
portugueses, isso implica dizer que aos negros não era permitido nenhuma forma
de expressão cultural como, por exemplo, suas músicas, suas danças e seus
cultos religiosos.

O COMÉRCIO DE ESCRAVOS NO SÉCULO XVI

“Simples mercadoria, os negros eram vendidos por metro e por


tonelada. Eram as ‘peças das Índias’, ‘peças da África’, as ‘toneladas
de negros’ [...]. A própria forma como se comercializavam os negros
africanos era refl exo da sua desumanização: não se vende um negro,
dois negros, cinquenta negros – vendiam-se ‘peças’; uma peça não
signifi cava um negro, como uma tonelada não signifi cava mil quilos
de negros.

Uma ‘peça das Índias’, no geral, era 1,75 metro de negros.


Dessa forma, cinco negros entre os 30 e 35 anos, que somados
tinham 8,34 metros, representavam não cinco escravos, mas 4,76
peças. Dois negros de 1,60 metro era apenas 1,8 peça de escravo.
O valor do negro era medido por metro, por quilo, na qualidade
dos músculos, na idade, nos dentes, no sexo, na saúde geral, no
aspecto etc. E também no lote de africanos, daí o padrão de ‘peças’,
que vigorou principalmente a partir de 1660 (CHIAVENATO, 1980,
p.123-124).

17
Trabalho, Sociedade e Resistência na História Brasileira

Acompanhe o trecho desta leitura do site vivabrazil.com e


entenda um pouco melhor como se deu a introdução da mão de obra
escrava no Brasil. Para acessar o texto na íntegra. acesse o link:
http://www.vivabrazil.com/abolicao_da_escravatura.htm .

No Brasil, o elemento negro começou a ser Introduzido com


os primeiros engenhos de açúcar de São Vicente. Para alguns
historiadores, os escravos africanos aqui chegaram com Martim
Afonso de Sousa, em sua expedição de 1532. Durante quase 50
anos este tráfi co foi regular, e em 1583 realizou-se o primeiro contrato
para a introdução da mão-de-obra africana no Brasil, assinado entre
Salvador Correia de Sá, governador da Cidade do Rio de Janeiro, e
São João Gutiérres Valéria. Um século mais tarde já havia nas lavouras
brasileiras 50 mil escravos negros, a maioria em Pernambuco. Em
1755, o Marquês de Pombal criou a Companhia Geral do Comércio
do Grão-Pará e Maranhão e em 1759 a de Pernambuco e Paraíba, as
quais, introduzindo grande número de negros africanos, fomentaram
o progresso material do Nordeste brasileiro.

Tencionando contar com o elemento natural para a colonização


dos continentes que ocupavam, os portugueses tentaram – nos
primeiros tempos de sua permanência no Brasil – subjugar os
silvícolas brasileiros. Assim, em 1533, Martim Afonso de Sousa
permitiu a Pero de Góis o transporte para a Europa de 17 indígenas
escravizados, e no foral dado a cada donatário contava o direito
de vender anualmente até 39 indígenas cativos. O índio brasileiro,
entretanto, além de não se adaptar ao regime de escravidão, não
servia para o trabalho na lavoura.

Estes fatos, aliados à vinda dos jesuítas, empenhados na defesa


do índio, fi zeram com que aumentasse o tráfi co negreiro, tendo os
próprios religiosos usado a mão-de-obra africana até 1870.

A introdução do escravo negro no Brasil representava uma


determinante socioeconômica importantíssima para a emancipação
colonial, e foi por muitos reconhecida. Entre estes, Nóbrega, em
carta ao rei de Portugal datada de 1559; o conceituado Bispo D. José
Joaquim da Cunha de Azeredo Coutinho, em sua obra “Justiça do
Comércio de Resgate de Escravos da Costa d’ África”; e o famoso
Padre Antonil, que em sua “Cultura e Opulência do Brasil, por Suas
Drogas e Minas”, escreveu: “Os escravos são as mãos e os pés do
18
Capítulo 1 BRASIL, MOSTRA A TUA CARA: A CONSTITUIÇÃO
SOCIOHISTÓRICA DO POVO BRASILEIRO

senhor de engenho, porque sem eles no Brasil não é possível fazer,


conservar e aumentar fazenda, nem ter engenho corrente”.

Os negros eram vendidos pelos seus sobas – chefes de


tribos africanas – aos portugueses, e trazidos para o Brasil vindos
da costa e da contracosta da África. Até meados do século XVll
eram eles adquiridos, em sua maioria, pelos senhores de engenho
de Pernambuco e Bahia. No início do séc. XVIII, seus maiores
compradores passaram a ser o Rio de Janeiro e Salvador. Ainda no
início do século XVllI, os escravos negros foram introduzidos nas
regiões cafeeiras, a princípio do Pará e do Maranhão, mais tarde do
Rio de Janeiro e São Paulo.

Os negros escravos que vieram para o Brasil saíram de vários


pontos do continente africano: da costa ocidental, entre o Cabo
Verde e o da Boa Esperança; da costa oriental, de Moçambique; e
mesmo de algumas regiões do interior. Por isto, possuíam os mais
diversos estágios de civilização. O grupo mais importante introduzido
no Brasil foi o sudanês, que, dos mercados de Salvador, se espalhou
por todo o Recôncavo. Desses negros, os mais notáveis foram os
iorubas ou nagôs e os geges, seguindo-se os minas. Em semelhante
estágio de cultura encontravam-se também dois grupos de origem
berbere-etiópica e de infl uência muçulmana, os fulas e os mandês.
[...] os dos grupos da cultura chamada cultura banto, os angolas, os
congos ou cabindas, os benguelas e os moçambiques. Os bantos
foram introduzidos em Pernambuco, de onde seguiram até Alagoas;
no Rio de Janeiro, de onde se espalharam por Minas e São Paulo; e
no Maranhão, atingindo daí o Grão-Pará. Ainda no Rio de Janeiro e
em Santa Catarina foram introduzidos os camundás, camundongos e
os quiçamãs.

Fonte: VIVABRASIL. A Abolição. Disponível em: <http://www.vivabrazil.


com/abolicao_da_escravatura.htm>. Acesso em: 10 out. 2012.

A situação começa a mudar a partir do momento em que a Inglaterra, movida


por interesses comerciais e econômicos, passou a atuar como protetora das ainda
tidas como “raças inferiores”. Tendo relação direta com o desenvolvimento das
fábricas e sua mecanização pelo advento das máquinas, os ingleses começaram
a perseguir os navios negreiros e a tentar impedir o comercio de povos africanos.
.
Conforme Gonçalves; Silva (2000, p.135),
19
Trabalho, Sociedade e Resistência na História Brasileira

Com o intuito de divulgar ao mundo, o quanto, no Brasil, se


davam “provas e amor ao progresso e à perseverança na trilha
da civilização”, José Ricardo Pires de Almeida publica, no ano
de 1889, em língua francesa, obra sobre história e legislação
da instrução pública no Brasil, entre os anos de 1500 e 1889.
Tendo destacado que, no Império brasileiro, se assimilara
o que havia “de mais completo nas nações avançadas da
Europa, adaptando a seu gênio nacional” e buscando salientar
papel de liderança do Brasil na América Latina, o autor aponta
que, em 1886, numa população de 14 milhões de habitantes,
248.396 eram alunos de estabelecimento de ensino. E sugere,
salvo melhor juízo, não ser esta cifra maior por estarem
incluídos no cômputo do total da população “os indígenas e os
trabalhadores rurais de raça” (ALMEIDA, 2000, p. 17-18).

Ao realizarmos uma pesquisa sobre a população negra no Brasil e o processo


de inserção no sistema educativo formal destes sujeitos, ao longo da história de
nosso país, vislumbramos uma escassa literatura sobre a temática. Essa mesma
lacuna a que nos referimos se estende aos documentos ofi ciais.

Para fomentar o debate sobre a evolução do protagonismo


negro na história do Brasil, assista aos vídeos abaixo:

Vídeo 1: http://youtu.be/q_Y_mCFvA-4

SINOPSE: Ederson Granetto entrevista a historiadora Marina


de Mello e Souza, do departamento de História da Universidade
de São Paulo, sobre a inclusão no currículo das escolas brasileiras
do ensino da cultura e da história Afro-brasileira. Em 2003, a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação foi alterada para determinar essa
inclusão, privilegiando a História da África e dos africanos, a vida dos
negros no Brasil, a Cultura Negra Brasileira e o negro na formação
da sociedade nacional.

Ederson Granetto entrevista a antropóloga Rachel Rua Bakke


sobre o ensino da cultura Afro-Brasileira nas escolas e sobre as
difi culdades enfrentadas pelos professores ao tratar do tema.

Fonte: Disponível em: <http://www.youtube.com/


watch?v=q_Y_mCFvA-4>. Acesso em: 10 set. 2012.

Vídeo 2: http://youtu.be/jRZRa4H8674

SINOPSE: A escravidão brasileira retratada em fotos inéditas


20
Capítulo 1 BRASIL, MOSTRA A TUA CARA: A CONSTITUIÇÃO
SOCIOHISTÓRICA DO POVO BRASILEIRO

de um período vergonhoso, violento e esquecido de nossa história.


FOTOS DO INSTITUTO MOREIRA SALLES.

Fonte: Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=jRZ


Ra4H8674&feature=related>. Acesso em: 10 out. 2012.

Atividade de Estudos:

1) Após assistir aos vídeos, anote suas refl exões em tópicos, que
deverão ser postados no ambiente virtual em forma de texto.
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Após realizar essa atividade, vamos dar continuidade a nossa retrospectiva


histórica, caro (a) Cursista. E para nos situarmos no tempo, estamos em meados
da década de 1820. Sobre a constituição de 1824, encontramos em Costa e
Oliveira (s/d, p.3):

[...] ao mesmo tempo em que assegurava aos ingênuos e


libertos o título de cidadão, formalizou-lhes a exclusão. Em seu
artigo 94, inciso II, impediu, formalmente, que todo o segmento
populacional negro tivesse acesso a direitos básicos como,
por exemplo, o de votar e de ser votado. Os legisladores
defi niram, constitucionalmente, três grupos de cidadãos que
estariam impedidos de exercer o direito de participar, mediante
os pleitos eleitorais das decisões do país dentre os quais
estavam incluídos os negros.

21
Trabalho, Sociedade e Resistência na História Brasileira

Foi somente em 1827, ou seja, três anos após a promulgação da


Foi somente em primeira constituição do país, que se publicou a primeira lei, na qual se
1827, ou seja,
assegurava educação primária e gratuita a todos os cidadãos.
três anos após
a promulgação
da primeira No livro de Primitivo Moacyr – que apenas descreve
documentos ofi ciais relativos à instrução pública –,
constituição
encontramos [...] a seguinte determinação em uma lei de
do país, que 1837: “são proibidos de frequentar as escolas públicas:
se publicou a 1º as pessoas que padecerem de moléstias contagiosas;
primeira lei, na 2º os escravos e pretos, ainda que sejam livres ou libertos”
qual se assegurava (MOACYR, 1940, p. 431 apud FONSECA, 2007, p.18).
educação primária
e gratuita a todos
Cabe destacar que no proposto para cidadão entendia-se a
os cidadãos.
exclusão dos negros, índios e mulheres. Tal exclusão persistiu até
meados do século XIX, como podemos constatar no decreto nº 1.331
de 1854. O documento

[...] estabelecia que nas escolas públicas do país não seriam


admitidos escravos, e a previsão de instrução para adultos
negros dependia da disponibilidade de professores. Mais
adiante, O Decreto nº 7.031-A, de 6 de setembro de 1878,
estabelecia que os negros só podiam estudar no período
noturno e diversas estratégias foram montadas no sentido de
impedir o acesso pleno dessa população aos bancos escolares
(BRASIL, 2004, p. 7).

Leia o texto de Fonseca (2007) na íntegra para conhecer um


pouco sobre como era tratada a educação das crianças negras nos
vários estados do Brasil analisados pelo autor:

FONSECA, Marcus Vinicius. A arte de construir o invisível: o


negro na historiografi a educacional brasileira. 2007. Disponível em
http://www.sbhe.org.br/novo/rbhe/RBHE13.pdf .

Sobre a Educação e sua relação com o movimento abolicionista, que


teve seu auge com a assinatura da Lei Áurea pela princesa Izabel, podemos
destacar que as preocupações dos senhores de engenho estavam voltadas
única e exclusivamente para a manutenção de sua posição social. A classe
dos fazendeiros temia que a abolição resultasse em outras mudanças sociais,
o que poderia resultar na derrubada da hierarquia existente até o momento na
sociedade brasileira. Desse modo, podemos entender, como aponta Santos
(2008, p.[1]):
22
Capítulo 1 BRASIL, MOSTRA A TUA CARA: A CONSTITUIÇÃO
SOCIOHISTÓRICA DO POVO BRASILEIRO

Nesse cenário de discussões e debates acerca da abolição da


escravidão, a educação voltada para a população negra era
aventada como uma estratégia desejável para uma transição
segura do sistema de trabalho. O importante era assegurar
que o fi m do regime escravista ocorresse de forma paulatina,
de modo a não atrapalhar o bom andamento da economia
brasileira. Ou seja, a exigência de organizar o trabalho livre
trouxe, simultaneamente, a necessidade de educar o homem
para o trabalho. Uma educação para o trabalho, para a
“liberdade”, para a construção da nação, em que o acesso à
escola por essa camada pode ser visto como emblemático das
mudanças que os discursos apresentavam como necessárias.

Para Entender a cronologia das leis que foram abrindo caminhos


para a abolição da escravatura no Brasil, leia o trecho abaixo:

“A partir de 1870, a região Sul do Brasil passou a empregar


assalariados brasileiros e imigrantes estrangeiros; no Norte, as usinas
substituíram os primitivos engenhos, fato que permitiu a utilização
de um número menor de escravos. Já nas principais cidades, era
grande o desejo do surgimento de indústrias. Visando não causar
prejuízo aos proprietários, o governo, pressionado pela Inglaterra, foi
alcançando seus objetivos aos poucos. O primeiro passo foi dado em
1850, com a extinção do tráfi co negreiro. Vinte anos mais tarde, foi
declarada a Lei do Ventre-Livre (de 28 de setembro de 1871). Essa
lei tornava livre os fi lhos de escravos que nascessem a partir de sua
promulgação. Em 1885 foi aprovada a lei Saraiva-Cotegipe ou dos
Sexagenários, que benefi ciava os negros de mais de 65 anos. Foi
em 13 de maio de 1888, através da Lei Áurea, que liberdade total
fi nalmente foi alcançada pelos negros no Brasil. Esta lei, assinada
pela Princesa Isabel, abolia de vez a escravidão no Brasil.

Fonte: Disponível em: <http://www.suapesquisa.com/


historiadobrasil/abolicao.htm>. Acesso em: 01 out. 2012.

É preciso lembrar que os debates sobre abolição que resultaram nas leis
que a antecederam teve início em meados do século XIX, embora foi a partir da
década de 1870 que se passou a discutir a libertação das crianças nascidas de
mães escravas, ou seja, a partir daí se passava a discutir uma espécie de forma
de libertação do ventre, aos dizeres da época (FONSECA, 2001).

É ainda Fonseca (2001, p.13) que nos aponta que:


23
Trabalho, Sociedade e Resistência na História Brasileira

[...] em meio às discussões que começavam a difundir a ideia


e a necessidade de estabelecer a libertação das crianças
nascidas de escravas, educação e emancipação eram
vinculadas como parte do processo geral de preparação
dessas crianças para o exercício da liberdade.

E a partir desse projeto social que se instalava como necessária a inserção


dos libertos nos sistemas educativos, pois passava a ser uma forma de inculcar
os ideais de padronização exigida pela sociedade “positivista” da época.

Em 1890, e como refl exo do advento do governo provisório no


Em 1890, e como Brasil, cria-se o Ministério da Instrução Pública, Correios e Telégrafos,
reflexo do advento
cujo ministro Benjamim Constant Botelho de Magalhães promoveu
do governo
provisório no Brasil, uma importante reforma curricular. Ou seja, passou a ser proposta uma
cria-se o Ministério escola laica, com liberdade para o ensino, mas que também passava a
da Instrução ter o caráter de gratuidade para o ensino fundamental.
Pública, Correios
e Telégrafos, cujo Com a expansão da escola pública ocorrida no país, ao longo da
ministro Benjamim
primeira república (também conhecida como república velha), também
Constant Botelho
de Magalhães passou a existir, por parte do governo, uma crescente preocupação com
promoveu uma o que seria ensinado nas escolas e por meio de qual material tal objetivo
importante reforma seria alcançado. Entendendo o livro didático como um poderoso canal
curricular. para difundir o ideal burguês de branqueamento da identidade nacional,
o governo introduziu nas escolas os então chamados “livros de leitura”.
Eles davam ênfase a duas temáticas principais, que eram: as belezas naturais e o
povo brasileiro “branco”, no qual:

Sobre a população, a questão racial foi enfaticamente


tratada. As imagens de negros e negras foram focalizadas
em perspectivas intensamente negativas, dando sustentação
às práticas sociais discriminatórias que na atualidade ainda
persistem na sociedade brasileira. Foi um intenso processo de
fabricação de uma sociedade que rejeita sua ancestralidade
negra em favor do desenvolvimento de um ideal branco
(COSTA e OLIVEIRA, s/d, p.12).

Estava se formando um contexto em que ocorria a inserção de crianças


escravas nos sistemas educativos, desde que autorizadas pelos seus senhores.
Estes por sua vez, tinham interesse em que seus escravos participassem dos
cursos noturnos de educação, pois ao se apropriarem dos conhecimentos básicos
de cálculo, por exemplo, passavam a poder lidar com as situações relacionadas
ao dinheiro ganho, podendo lidar melhor com a compra e venda de objetos e
serviços, aumentando assim os ganhos do senhor de engenho.

É neste contexto que, em 1903, conforme Lucindo (2010, p.64), havia


instituições nas quais:

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Capítulo 1 BRASIL, MOSTRA A TUA CARA: A CONSTITUIÇÃO
SOCIOHISTÓRICA DO POVO BRASILEIRO

‘[...] o ensino primário era ministrado conjuntamente para as


internas e educandas do asilo, tendo por objetivo dar-lhes
completa instrução e educação, ao lado de sólida formação
moral e religiosa’, porém ao receber meninas ‘brancas’
a instituição passa a destinar a instrução escolar a elas
enquanto que às meninas descendentes de ex-escravizados,
o ensino tinha a intenção de prepará-las ‘para executar
serviços domésticos em casa “de famílias honestas”’ e, assim,
tornando-se empregadas domésticas especializadas.

Em outras palavras, estava se formando o que mais tarde viria a ser a


característica do sistema educacional brasileiro até os dias atuais, a distinção
de ensino entre crianças da elite e as crianças afrodescendentes inicialmente, e
posteriormente as das camadas populares como um todo.

Abaixo indicamos algumas referências bibliográfi cas que podem


contribuir na sua compressão, caro (a) cursista, sobre a temática
proposta nesse capítulo. São bibliografi as de agradável leitura e
que trazem um olhar crítico sobre a introdução dos povos africanos
e seus descendentes em nosso país e a relação desta inserção
de forma contextualizada. Recomendamos, portanto, a leitura das
seguintes obras:

FONSECA, Marcus Vinicius da; SILVA, Petronilha Beatriz Gonçalves


e; PINTO, Regina P. (Regina Pahim). Negro e educação: presença
do negro no sistema educacional brasileiro. São Paulo : Ação
Educativa, ANPEd, 2001. 100 p.

MÜLLER, Maria Lúcia Rodrigues. Educadores & alunos negros


na Primeira República. Brasília, D.F : Ludens; Rio de Janeiro :
Fundação Biblioteca Nacional, 2008. 138 p.

OLIVEIRA, Iolanda de; SILVA, Petronilha Beatriz Gonçalves e.


Identidade negra: pesquisas sobre o negro e a educação no Brasil.
Rio de Janeiro : Anped : Ação Educativa, [200?]. 199 p, il. (Negro e
educação, 2).

LUCINDO, William Robson Soares. Educação no pós-abolição: um


estudo sobre as propostas educacionais de afrodescendentes (São
Paulo, 1918-1931).1. ed. Itajaí : NEAB : Casa Aberta, 2010. 181 p.

25
Trabalho, Sociedade e Resistência na História Brasileira

Leia o texto que segue para conhecer um pouco mais sobre o


contexto histórico no qual se constitui o período histórico intitulado de
primeira República.

A primeira República, também conhecida como República


Velha, foi o período que abrange a Proclamação da República até a
revolução de 1930. Em 15 de novembro de 1889, houve uma reunião
para decidir acerca da república no Brasil através do voto popular.
Até que um plebiscito fosse realizado, a República permaneceu
provisória. O governo provisório foi inicialmente comandado
por marechal Deodoro da Fonseca, que estabeleceu algumas
modifi cações como a reforma do Código Penal, a separação da Igreja
e do Estado, a naturalização dos estrangeiros residentes no país, a
destruição do Conselho, a anulação do senado vitalício entre outras.

Em 21 de dezembro, a junta militar reuniu-se na Assembleia


Constituinte para discutir acerca de uma nova Constituição que
marcaria o início da República. Após um ano de realização do
novo regime, o Congresso novamente se reuniu para que em 24
de fevereiro de 1891 fosse promulgada a primeira Constituição da
República do Brasil, o que ocorreu neste dia. Essa constituição foi
inspirada na Constituição dos Estados Unidos que se fundamenta na
descentralização do poder que era dividido entre os Estados. Dessa
forma, a Constituição do Brasil estabeleceu a federação dos Estados,
o sistema presidencial, o casamento civil, a separação do poder
criando os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, autonomia
dos estados e municípios.

Esse regime recebeu o nome de República da Espada. Tal


denominação se deu pela condição militar dos dois primeiros
presidentes do Brasil. Apesar de reconhecida, a República sofreu
grandes difi culdades, pois houve revoltas que a colocaram em
perigo. Em 23 de novembro de 1891, Deodoro da Fonseca renunciou
à presidência por ter tomado providências para fechar o Congresso,
fato que gerou a primeira revolta armada e por este principal motivo
Deodoro deixou o poder para evitar o desenrolar da revolta. Floriano
Peixoto, até então vice-presidente, assumiu o cargo máximo
executivo. Em oposição ao que dizia a Constituição, Floriano Peixoto
impediu que uma nova eleição fosse feita gerando grande oposição,
pois foi taxado como “ditador” ao governar de maneira centralizada,
além de demitir todos aqueles que apoiaram Deodoro da Fonseca

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Capítulo 1 BRASIL, MOSTRA A TUA CARA: A CONSTITUIÇÃO
SOCIOHISTÓRICA DO POVO BRASILEIRO

em seu mandato. Em 1893, inicia-se a Segunda Revolta Armada.


Diante do fato, Floriano domina a revolta bombardeando a capital
do país.

Após a saída de Floriano Peixoto, a aristocracia cafeeira que


já dominava a supremacia econômica passou a dominar também
a supremacia política. A República Oligárquica se fortaleceu com a
chegada de Prudente de Morais na presidência, pois ele apoiou as
oligarquias agrárias.

Por Gabriela Cabral


Equipe Brasil Escola.

Fonte: Disponível em: <http://www.brasilescola.com/historiab/


primeira-republica.htm>. Acesso em: 01 out. 2012.

Atividades de Estudos:

1) Chegou sua vez, caro (a) Pós-Graduando (a). Vamos lá! Faça
suas anotações e indique seus argumentos refl etindo sobre como
o negro era tratado pela legislação e seus impactos nas relações
sociais que você percebe no seu cotidiano. Ou seja, faça uma
relação de como o negro era descrito, na sua opinião, e como se
constroem as relações nos dias atuais. Você pode usar a escola
em que você trabalha para ser seu campo de investigação. Use o
espaço abaixo para apresentar seus principais argumentos.

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Trabalho, Sociedade e Resistência na História Brasileira

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2) Para fi nalizar nosso primeiro capítulo, convidamos você a criar


um plano de ensino sobre a Temática Cultura negra nos dias
atuais. Imagine que esse plano será aplicado em uma turma de
7º ano (ou 6ª série) do ensino fundamental. Construa o plano
contendo: tema; objetivos; metodologia e avaliação. Vamos lá,
com entusiasmo! A sugestão é que você pode trocar ideias com
seus colegas de curso utilizando o ambiente virtual ou mesmo
em um encontro presencial para debater a utilização de projeto
envolvendo as várias disciplinas.
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Para compreender um pouco mais sobre a utilização de projetos


interdisciplinares, apresentamos as seguintes informações, tendo como base
Poncio (2012).

Para que se tenha uma prática interdisciplinar, o professor deverá propor aos
alunos uma aprendizagem global sobre os assuntos abordados e, para isso, é
fundamental a abordagem dos diversos ângulos que a escola pode possibilitar.
Ou seja, as várias disciplinas atuando em conjunto e mostrando aos alunos os
diversos conhecimentos que podem ser extraídos do cotidiano e aprofundados
na escola, que constituirão um grupo de trabalho motivado e interessado em
pesquisar e descobrir sobre seu contexto social.
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Capítulo 1 BRASIL, MOSTRA A TUA CARA: A CONSTITUIÇÃO
SOCIOHISTÓRICA DO POVO BRASILEIRO

O trabalho com projetos caracteriza-se por um avanço que já consegue


se distanciar de um currículo engessado, mas como para o educando adulto é
essencial que o tema seja de seu interesse, para o educador é essencial que
passe por sua experienciação e/ou que saiba buscar subsídios em fontes que
contemplem o contexto do adulto.

Com este pensamento, algumas diretrizes podem contribuir para o


desenvolvimento de um trabalho interdisciplinar.

Um dos primeiros fatores que você deve propor é um trabalho coletivo


aos seus colegas, pois deste modo todas as áreas de conhecimento poderão
propor atividades comuns, ou até mesmo a investigação de temas pertinentes
a cada uma das disciplinas, porém a partir de um único assunto ou tema.
Tente, convide inicialmente alguns colegas e vá ampliando o grupo
posteriormente. Faça uso dos resultados positivos para cativar Outra possibilidade
adesões ao trabalho interdisciplinar. de ação pedagógica
do grupo para
Outra possibilidade de ação pedagógica do grupo para valorizar valorizar a
a interdisciplinaridade é propor aos alunos resoluções de situações- interdisciplinaridade
é propor aos alunos
problema nas quais eles precisem dos conhecimentos de várias
resoluções de
disciplinas para resolver os desafi os. situações-problema
nas quais eles
Outro ponto importante para guiar a prática interdisciplinar do precisem dos
corpo docente é que todos os professores procurem, na medida do conhecimentos de
possível, propor discussões de temas que sejam do interesse do grupo várias disciplinas
para resolver os
de alunos e que os temas sejam gradualmente aprofundados à medida
desafios.
que vai recebendo a participação de outras áreas de conhecimento.

Com a intenção de fazer um rápido resgate da cronologia da


educação brasileira, apresentamos o excerto do texto retirado do
site: http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/heb06.htm. Neste mesmo
endereço você ainda tem acesso a uma linha do tempo que relaciona
a história da Educação com a História do Brasil no período da
primeira república.

A República proclamada adota o modelo político americano


baseado no sistema presidencialista. Na organização escolar
percebe-se infl uência da fi losofi a positivista.

A Reforma de Benjamin Constant tinha como princípios


orientadores a liberdade e laicidade do ensino, como também a

29
Trabalho, Sociedade e Resistência na História Brasileira

gratuidade da escola primária. Estes princípios seguiam a orientação


do que estava estipulado na Constituição brasileira.

Uma das intenções desta Reforma era transformar o ensino


em formador de alunos para os cursos superiores e não apenas
preparador. Outra intenção era substituir a predominância literária
pela científi ca.

Esta Reforma foi bastante criticada: pelos positivistas, já que não


respeitava os princípios pedagógicos de Comte; pelos que defendiam
a predominância literária, já que o que ocorreu foi o acréscimo de
matérias científi cas às tradicionais, tornando o ensino enciclopédico.

É importante saber que o percentual de analfabetos no ano de


1900, segundo o Anuário Estatístico do Brasil, do Instituto Nacional
de Estatística, era de 75%.

O Código Epitácio Pessoa, de 1901, inclui a lógica entre as


matérias e retira a biologia, a sociologia e a moral, acentuando,
assim, a parte literária em detrimento da científi ca.

A Reforma Rivadávia Correa, de 1911, pretendeu que o curso


secundário se tornasse formador do cidadão e não como simples
promotor a um nível seguinte. Retomando a orientação positivista,
prega a liberdade de ensino, entendendo-se como a possibilidade de
oferta de ensino que não seja por escolas ofi ciais, e de frequência.
Além disso, prega ainda a abolição do diploma em troca de um
certifi cado de assistência e aproveitamento e transfere os exames
de admissão ao ensino superior para as faculdades. Os resultados
desta Reforma foram desastrosos para a educação brasileira.

A Reforma de Carlos Maximiliano, em 1915, surge em função


de se concluir que a Reforma de Rivadávia Correa não poderia
continuar. Esta reforma reofi cializa o ensino no Brasil.

Num período complexo da História do Brasil surge a Reforma


João Luiz Alves que introduz a cadeira de Moral e Cívica com a
intenção de tentar combater os protestos estudantis contra o governo
do presidente Arthur Bernardes.

A década de vinte foi marcada por diversos fatos relevantes no


processo de mudança das características políticas brasileiras. Foi
nesta década que ocorreu o Movimento dos 18 do Forte (1922), a

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Capítulo 1 BRASIL, MOSTRA A TUA CARA: A CONSTITUIÇÃO
SOCIOHISTÓRICA DO POVO BRASILEIRO

Semana de Arte Moderna (1922), a fundação do Partido Comunista


(1922), a Revolta Tenentista (1924) e a Coluna Prestes (1924 a 1927).

Além disso, no que se refere à educação, foram realizadas


diversas reformas de abrangência estadual, como a de Lourenço
Filho, no Ceará, em 1923, a de Anísio Teixeira, na Bahia, em 1925, a
de Francisco Campos e Mario Casassanta, em Minas, em 1927, a de
Fernando de Azevedo, no Distrito Federal (atual Rio de Janeiro), em
1928 e a de Carneiro Leão, em Pernambuco, em 1928.

O clima desta década propiciou a tomada do poder por Getúlio


Vargas, candidato derrotado nas eleições por Julio Prestes, em 1930.

A característica tipicamente agrária do país e as correlações de


forças políticas vão sofrer mudanças nos anos seguintes o que trará
repercussões na organização escolar brasileira. A ênfase literária e
clássica de nossa educação tem seus dias contados.

Fonte: Disponível em: <http://www.pedagogiaemfoco.


pro.br/heb06.htm>. Acesso em: 10 out. 2012.

Atividade de Estudos:

1) Participe de um debate no fórum virtual, discuta os trechos do


capítulo em que podemos identifi car avanços quanto à inserção
dos povos de origem africana no sistema educativo brasileiro.

Na sequência, construa uma linha do tempo apontando a


cronologia apontada neste capítulo sobre os fatos relevantes na
história dos povos negros no Brasil.
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Trabalho, Sociedade e Resistência na História Brasileira

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Algumas Considerações
Estamos chegando ao fi nal do primeiro capítulo e você prezado (a) cursista
pode ter acesso a diversos materiais que possibilitaram a refl exão e análise critica
da participação do negro e sua respectiva inserção nos sistemas educacionais ao
longo da História do Brasil.

Os negros foram introduzidos no Brasil na primeira metade do século XVI


com a utilização de mão de obra africana nos engenhos de açúcar. Os escravos
eram vendidos no Brasil, mas, com o passar do tempo e na esteira da História,
os povos afrodescendentes se tornaram gradualmente em protagonistas de sua
história. Com várias leis que aproximavam os negros de serem libertos, como a
lei do ventre livre e a lei do sexagenário, tivemos na história do Brasil, no ano de
1888, a assinatura da Lei Áurea que abolia a escravidão dos povos afrodescentes
no país a partir daquele 13 de Maio histórico.

Mas você, caro(a) cursista, já tem o olhar crítico e a percepção de que a


História não se constrói de forma linear e sem contradições, então, cabe lembrar
que este era apenas o começo de um modo de vida diferente, se antes eram
excluídos do direito de serem cidadãos, com esta condição de escravo liberto
os afrodescendentes estavam muitas vezes, sem amparo nenhum do Estado,
o que signifi cava ter que lutar por sua sobrevivência e posteriormente para ser
considerado cidadão.

É com este pensamento que convidamos você a seguir seus estudos


e a conhecer sobre os navios negreiros e o transporte dos povos africanos
escravizados, bem como alguns dos principais movimentos de resistência dos
escravos ao longo de sua história no Brasil.

Seguiremos com entusiasmo e aproveitamos para desejar a você, BONS


ESTUDOS!

32
Capítulo 1 BRASIL, MOSTRA A TUA CARA: A CONSTITUIÇÃO
SOCIOHISTÓRICA DO POVO BRASILEIRO

Referências
BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações
Étnico- Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e
Africana. Brasília: MEC/Sepir, 2004.

CHIAVENATTO, Julio Jose. O negro no Brasil: da senzala a Guerra do


Paraguai. 2. ed. Sao Paulo : Brasiliense, 1980. 259p.

COSTA, . OLIVEIRA. Fonte: Disponível em: <http://www.ie.ufmt.br/semiedu2009/


gts/gt15/ComunicacaoOral/CANDIDA%20SOARES%20DA%20COSTA.pdf>.
Acesso em: 19 mai. 2012.

FONSECA, Marcus Vinicius. A Arte de construir o invisível: O negro na


historiografi a educacional brasileira. 2007. Fonte: Disponível em: <http://www.
sbhe.org.br/novo/rbhe/RBHE13.pdf>. Acesso em: 19 mai. 2012.

_____. As primeiras práticas educacionais com Características Modernas


em Relação aos Negros no Brasil. In: FONSECA, Marcus Vinicius da; SILVA,
Petronilha Beatriz Gonçalves e; PINTO, Regina P. (Regina Pahim). Negro e
educação: presença do negro no sistema educacional brasileiro. São Paulo:
Ação Educativa, ANPEd, 2001. 100 p p. 11 – 36.

GONÇALVES, Luiz Alberto Oliveira; SILVA, Petronilha Beatriz Gonçalves. 2000.


Fonte: Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbedu/n15/n15a09.pdf>. Acesso
em: 25 abr. 2012.

LUCINDO, William Robson Soares. Educação no pós-abolição: um estudo


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Trabalho, Sociedade e Resistência na História Brasileira

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xix-e-o-inicio-do-sec-xx/8027/>. Acesso em: 20 mai. 2012.

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34
C APÍTULO 2
Do Tráfico Negreiro ao Quilombo
de Palmares: uma História de Lutas

A partir da concepção do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

 Conhecer e compreender as características do período colonial do século XVI


até o séc. XVIII.

 Conhecer e identifi car os movimentos de resistência negra à escravidão no


Brasil Colonial.
Capítulo 2 DO TRÁFICO NEGREIRO AO QUILOMBO
DE PALMARES: UMA HISTÓRIA DE LUTAS

ConteXtualização
Prezado(a) Pós-Graduando(a),

Estamos felizes em compartilhar esta caminhada com você. Você já estudou


sobre como se instalou na Europa, justifi cada pelo pensamento científi co, o
pensamento que legitimava a escravidão de determinados povos ou “raças” tidas
como inferiores. Tal pensamento justifi cou, ao longo da história, a subjugação do
povo africano pelos europeus, tidos como raça superior. No entanto, estamos
iniciando o segundo capítulo de nosso estudo. E como pretendemos aprofundar
as questões relacionadas ao início do volumoso tráfi co negreiro, partimos da
contextualização do Brasil colônia do século XVI, período em que se intensifi ca o
comércio de escravos em nosso país.

Um dos fatores relevantes nesse processo histórico é que, em meados do


século XVI, ocorreram várias epidemias em diversos pontos do litoral brasileiro.
Estes surtos acabaram por dizimar uma quantidade muito grande de indígenas,
que trabalhavam escravizados nas fazendas que produziam açúcar. Além disso,
havia, ainda, a proteção da igreja, mais especifi camente dos jesuítas, que
catequizavam os indígenas, bem como, os protegiam do trabalho escravo. Some-
se a isso a ideia, recorrente na época, de que os indígenas eram indolentes e
preguiçosos. Estava criado o contexto em que passava a ser preciso encontrar
algumas saídas para a falta de mão de obra para os engenhos coloniais.

Como já era uma tradição escravizar os povos africanos, devido aos lucros
que os navegadores conseguiam com suas vendas nos entrepostos comerciais,
os portugueses reascenderam esse velho hábito, o que traria consigo a
possibilidade de substituir a força de trabalho indígena pela africana, e com isso
manter os engenhos e as plantações em andamento, o que era uma preocupação
dos senhores de engenho em terras brasileiras.

Com esse contexto, o tráfi co negreiro passa a adquirir proporções antes


não imaginadas, uma vez que escravizar e transportar sem condições mínimas
de higiene se mostrava uma prática comum e aceita pelos europeus, mais
precisamente os portugueses, ao longo dos séculos XVI até o XVIII.

Assim, convidamos você, prezado (a) cursista, para conhecer e se aprofundar


um pouco mais sobre como se deu a inserção dos povos negros no Brasil,
começando pelo que fi cou conhecido como tráfi co negreiro e suas implicações.

Na sequência, passamos a conhecer um pouco sobre as principais revoltas


e movimentos de resistência existentes ao longo da história brasileira e como
37
Trabalho, Sociedade e Resistência na História Brasileira

ganharam força como, por exemplo, o quilombo de Palmares, que segundo


alguns pesquisadores chegou a ter sob seu comando até 30 mil cativos fugidos
das grandes fazendas e dos maus tratos dos capatazes nas lavouras de açúcar
da colônia.

Vamos começar então?! E, para isso, vamos abordar as dimensões histórica


e política que envolvia o tráfi co de negros para as colônias portuguesas, prática
que já se fazia presente desde o século XIV.

Tráfico Negreiro: Dimensão


Histórica e PolÍtica
Para falarmos do tráfi co negreiro, ou seja, a implantação do trabalho
É importante
escravo em terras brasileiras, é importante sabermos que, mesmo com
sabermos que,
mesmo com os os portugueses utilizando trabalho escravo antes da “descoberta” do
portugueses Brasil, foi somente no século XVI que essa força de trabalho foi inserida
utilizando trabalho nas colônias brasileiras. Inicialmente, os trabalhadores cumpriam suas
escravo antes da tarefas nos engenhos de açúcar, acontecendo, por vezes, de realizarem
“descoberta” do
alguma tarefa mais especializada. Foi a experiência no cultivo da terra
Brasil, foi somente
no século XVI pelos africanos que elevou consideravelmente o preço dos escravos
que essa força de africanos com relação aos indígenas, chegando um africano a custar
trabalho foi inserida até três vezes mais que um indígena.
nas colônias
brasileiras.
Assim, o tráfi co negreiro teve tal expansão:

[...] sobretudo após a conquista defi nitiva de Angola em fi ns do


século XVI. Os números do tráfi co bem o demonstram: entre
1576 e 1600, desembarcaram em portos brasileiros cerca de
40 mil africanos escravizados; no quarto de século seguinte
(1601-1625), esse volume mais que triplicou, passando para
cerca de 150 mil os africanos aportados como escravos
na América portuguesa, a maior parte deles destinada a
trabalhos em canaviais e engenhos de açúcar (MARQUESE,
2006, p.[1]).

Observe, caro (a) cursista, a tabela abaixo, que apresenta números ainda
mais expressivos da quantidade de escravos trazidos ao Brasil.

38
Capítulo 2 DO TRÁFICO NEGREIRO AO QUILOMBO
DE PALMARES: UMA HISTÓRIA DE LUTAS

Tabela 1 – Quantidade de escravos trazidos ao Brasil

Fonte: Disponível em <http://grupodegeo.blogspot.com.br/>. Acesso em: 18 set. 2012.

Esse fato, associado ao grande sucesso alcançado pelas capitanias


açucareiras, gerou a invasão de holandeses e ingleses no Brasil. Esse contexto
exigia uma rápida ação da coroa portuguesa. O então rei de Portugal D.
Sebastião, como forma de garantir o sucesso na transação comercial do ouro-
branco (açúcar), criou regras mais rígidas para a doação de terras, bem como
decretou, em 1571, que o comércio com o Brasil só poderia ser feito através de
navios portugueses.

É importante destacar que os holandeses foram parceiros


comerciais dos portugueses até o fi nal do século XVI, pois
controlavam a distribuição do açúcar produzido no Brasil.
Ressaltamos, porém, que a Holanda fi cava responsável pela parte
mais rentável do comércio açucareiro, composto pelo transporte,
refi namento e comercialização do produto na Europa.

Por sua vez, os invasores não demoraram a perceber a relação entre o êxito
na agricultura e comércio de açúcar com relação à participação da mão de obra
escrava e, portanto, logo desviaram seus olhares e interesses também para os
países africanos, dentre os quais podemos citar Angola, como forma de apropriar-
se de entrepostos comerciais portugueses e consequentemente da fonte de
escravos para as novas colônias.

Vislumbrando a possibilidade de altos lucros, os holandeses foram destaque

39
Trabalho, Sociedade e Resistência na História Brasileira

no processo de tentar tomar o poder dos portugueses e das colônias


Os holandeses portuguesas aqui no Brasil. Embora tenham permanecido em terras
foram responsáveis
brasileiras somente durante nove anos, tentaram também, dominar
pela transmissão
das técnicas Angola, mas foram expulsos pelos portugueses. Por esse motivo, os
de produção holandeses foram responsáveis pela transmissão das técnicas de
de açúcar aos produção de açúcar aos colonos ingleses de Barbado e franceses da
colonos ingleses Martinica, bem como passaram a abastecer esses novos pontos de
de Barbado e produção de açúcar com mão de obra escrava.
franceses da
Martinica, bem
Mas como conseguir escravos sem ter colônias no continente
como passaram a
abastecer esses africano? Uma das formas era recorrer aos contrabandistas portugueses
novos pontos de e, mais tarde, no século XVI, aos corsários ingleses, que começaram a
produção de açúcar participar do lucrativo comércio negreiro.
com mão de
obra escrava. E como esses escravos eram encontrados e trazidos para as
colônias? Você já pode imaginar que não era dedicado muito esforço em
proporcionar conforto aos escravos. Ou seja, preocupados em aumentar
os lucros, uma das opções era colocar cada vez mais e mais escravos dentro de um
navio negreiro, ou como era chamado na época, navio Tumbeiro ou tumba fl utuante.

Figura 2 – Navio Tumbeiro ou Tumba Flutuante

Fonte: Disponível em <http://pt.wikipedia.org/wiki/


Tr%C3%A1fi co_negreiro>. Acesso em: 18 set. 2012.

Os navios costumavam sair do continente africano com centenas


Os navios
de escravos, que eram trancados nos porões de espaços reduzidos,
costumavam sair do
continente africano com calor insuportável. Quando algum africano passava mal, não
com centenas de recebia tratamento nenhum. Também era comum, quando os escravos
escravos, que eram morriam, que fossem tirados somente no fi nal da viagem. Quando o
trancados nos capitão precisava por algum motivo diminuir o peso da embarcação,
porões de espaços era comum que o capitão jogasse escravos no mar, preferindo em
reduzidos, com
primeiro momento os mortos, seguidos pelos doentes e posteriormente
calor insuportável.
pelos mais fracos, ainda que vivos. Cabe destacar que uma das formas
40
Capítulo 2 DO TRÁFICO NEGREIRO AO QUILOMBO
DE PALMARES: UMA HISTÓRIA DE LUTAS

de manter a ordem no cativeiro era a aplicação de castigos físicos e a restrição


de água e comida, o que não tardava a proporcionar um ambiente de moléstias e
doenças a que só os mais fortes resistiam.

Outra situação comum que acontecia nos navios, e que demonstrava grande
resistência à subjugação a que eram submetidos os negros e negras, era a
quantidade de abortos realizados nos navios. Tal fato acontecia, pois as negras
escravizadas não aceitavam que seus fi lhos tivessem tal destino e preferiam,
assim, interromper o que seria uma vida de sofrimentos e maus tratos. Havia
também os casos em que os negros escravizados tiravam a própria vida como
forma de mostrar negação ao que estavam sendo submetidos.

A Vida nos Engenhos de AçÚcar


Brasileiros
A vida na colônia era inicialmente muito pacata e voltada
A vida na colônia era
principalmente para o cultivo de produtos agrícolas. Ou seja, a primeira inicialmente muito
preocupação era garantir a subsistência. Com o passar dos anos, veio pacata e voltada
a criação de gado, e com o aumento da produção de artigos como, por principalmente para
exemplo, tabaco, algodão e o mais importante deles, o açúcar, ocorreu o cultivo de produtos
a necessidade de vender o excedente. Esse último dava ao dono da agrícolas.
fazenda de médio e grande porte o título de Senhor de Engenho e, por
isso, ele passava a ser respeitado não somente em sua fazenda, mas em toda a
sua vila ou cidade.

Mas, para manter o bom funcionamento da fazenda, era preciso força de


trabalho, e é nesse momento que aparece a relação com os africanos, ou seja, a
introdução da mão de obra escrava.

Sobre o trabalho realizado pelos escravos, convidamos você, cursista, a


refl etir para conhecer e compreender um pouco melhor a constituição histórica
dessa relação.

O número de horas médias de trabalho de um escravo no século XVI variava


de entre 12 a 14, chegando em algumas fontes históricas a até 16 horas por dia.
Nesse período, realizavam uma variada carga de tarefas para manter o bom
funcionamento da fazenda como um todo. De serviços caseiros destinados às
escravas como domésticas e amas de leite a serviços externos, destinados aos
homens, mulheres e crianças, que incluíam cortar lenhas, plantar e cuidar dos
canaviais, arrumar estradas e pontes, enfi m, toda e qualquer tarefa braçal que
surgisse como necessária para o bom funcionamento da Fazenda e conforto dos
41
Trabalho, Sociedade e Resistência na História Brasileira

senhores. Em apenas alguns momentos os escravos podiam fazer


Apesar da
sua alimentação.
responsabilidade
sobre todas as
tarefas, cada cativo Apesar da responsabilidade sobre todas as tarefas, cada cativo
ficava sempre fi cava sempre como responsável por manter um pedaço específi co da
como responsável plantação e, no período de colheita, era atribuída a cada escravo uma
por manter um quantidade de cana a ser colhida e presa em fardos. Era também tarefa
pedaço específico dos escravos cuidarem do processamento e transformação da cana
da plantação e, no em açúcar. Isto implica cuidar da moagem, o sistema de purifi cação
período de colheita, (Purga), secagem e embalagem do produto para venda.
era atribuída a
cada escravo uma
quantidade de cana
a ser colhida e
Para compreender um pouco sobre a vida dos escravos na
presa em fardos.
colônia, assista aos vídeos recomendados.

VÍDEO 1: CANAL DE MEL, PREÇO DE FEL – Disponível no


link: http://www.youtube.com/watch?v=J9sSVZrswjU

SINOPSE: A monocultura da cana-de-açúcar se


estabeleceu em Pernambuco e o transporte, defi ciente,
dependia de animais. A importância do trabalho escravo
na produção da cana e a comercialização das especiarias.
Série de 8 programas em que bonecos animados contam uma versão
sobre alguns dos principais aspectos da história da colonização do
Brasil, como a adaptação dos colonos à terra, o ciclo da cana-de-
açúcar e a comercialização de escravos.

Série 500 ANOS: BRASIL COLÔNIA NA TV

Fonte: Disponível em: <http://tvescola.mec.gov.br>.


Acesso em: 10 ago. 2012.

VÍDEO 2: Disponível no link: http://youtu.be/TSPPcudT6dE

SINOPSE: Portugal, Brasil e diversas nações africanas foram


responsáveis pela maior emigração forçada da história da humanidade.
A “história inconveniente do Brasil” é uma história inconveniente de
Portugal até 1808 (invasões francesas e fuga da corte para o Brasil)
e do Brasil até 1888 (abolição ofi cial da escravatura) e dos diversos
reinos africanos (capturavam e vendiam escravos aos trafi cantes). Uma
história inconveniente para todos (à exceção dos próprios escravos).

Fonte: Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=TSP


PcudT6dE&feature=related>. Acesso em: 10 ago. 2012.

42
Capítulo 2 DO TRÁFICO NEGREIRO AO QUILOMBO
DE PALMARES: UMA HISTÓRIA DE LUTAS

Atividade de Estudos:

1) Chegou sua vez! Após assistir aos vídeos propostos, faça um


pequeno texto de aproximadamente duas laudas, no qual fará
uma resenha crítica do período histórico apresentado nos vídeos
do capítulo 2. Também é possível criar um tópico de discussão
no ambiente virtual referente a esta atividade. Utilize o espaço a
seguir para anotar os principais fatos que irão compor seu texto.
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Locais de ConvÍvio Casa Grande e


Senzala
A sociedade estava fundamentada em um sistema patriarcal, com sistema
econômico agrário, em que os interesses comerciais resultavam na venda de
produtos importados e, consequentemente, a preços altos para os colonos. A
justifi cativa era que todos os envolvidos, a coroa e os comerciantes
E era dessa maneira
portugueses, almejavam grandes lucros. que os fazendeiros
compravam as
E era dessa maneira que os fazendeiros compravam as mercadorias que
mercadorias que precisavam para estarem de acordo com os precisavam para
costumes europeus. estarem de acordo
com os costumes
europeus.
Comprar uma panela de ferro podia ser um grande luxo de que

43
Trabalho, Sociedade e Resistência na História Brasileira

somente os senhores de engenho podiam usufruir. Desse modo, a casa grande ia


se tornando cada vez mais uma réplica do que se imaginava existir na metrópole.

Essa vida de luxos era permitida aos donos de grandes fazendas que
plantavam a cana de açúcar. Ele e sua família moravam então na casa grande.

Veja um exemplo da fazenda Resgate, em Bananal, no estado


de São Paulo, uma das propriedades do senhor de engenho Manoel
de Aguiar Vallim:

O sobrado colonial, com paredes feitas de taipa, foi construído


na primeira metade do século XIX e reformado a partir de 1850,
recebendo, nos acréscimos, paredes de adobe (bloco de argila seca,
secado ao sol), uma nova fachada, escadaria, ampla sala de visitas,
tanques com peixes coloridos e um terreiro de café deslocado para
o lado esquerdo, murado e trancado por um portão de ferro. [...] O
andar térreo era usado para funções variadas e dormitório de alguns
escravos, provavelmente os do serviço doméstico: cinco caseiros,
13 cozinheiras, cinco pajens, sete costureiros, um alfaiate, duas
amas, oito mucamas, um copeiro, um sapateiro, um barbeiro, duas
lavadeiras, uma rendeira, um hortelão, totalizando 49 escravos só
para servir à casa do senhor. A parte da frente da casa, no segundo
andar, era reservada para os visitantes, com sala de entrada,
escritório, três alcovas (dormitórios) para viajantes ou comerciantes
e uma sala de visitas, utilizada também como salão de festas. Ainda
havia uma sala de jantar, os seis quartos da família e uma sala de
costura (FARIA, 2005, p. 62-63).

Para conhecer mais detalhes da casa grande descrita no trecho


acima, leia:

FARIA, Sheila de Castro. Os barões do Brasil. Revista de História


da Biblioteca Nacional. Ano 1, nº 2, Agosto 2005. Revista de História.

44
Capítulo 2 DO TRÁFICO NEGREIRO AO QUILOMBO
DE PALMARES: UMA HISTÓRIA DE LUTAS

CASA GRANDE: centralizava toda a parte administrativa do


engenho. Na mesma casa moravam o senhor de engenho, sua
esposa e fi lhos (as). Normalmente eram casarões ou um grande
sobrado. Essa casa também era habitada pelos capatazes que
faziam o serviço de segurança dos proprietários.

Figura 3 – Casa Grande

Fonte: Disponível em: <http://www.klepsidra.net/klepsidra6/


paternalismo.html>. Acesso em: 18 set. 2012.

FREYRE, Gilberto. Casa-grande & senzala: introdução à história da


sociedade patriarcal no Brasil-1. 41. ed. Rio De Janeiro: Record, 2000.

SINOPSE DE CASA GRANDE E SENZALA

O escritor recifense aponta a participação signifi cativa da


estrutura até mesmo arquitetônica da Casa Grande na constituição
da sociedade brasileira e de suas determinações culturais. E
destaca a importância da senzala como polo complementar desta
instituição colonial. Tudo gira em torno do patriarcalismo, modelo no

45
Trabalho, Sociedade e Resistência na História Brasileira

qual uma autoridade masculina exercita seu poder sobre todos que
se encontram sob seu domínio. O patriarca detém o controle sobre
escravos, familiares, os fi lhos e seus descendentes, sua cônjuge,
entre outros elementos que se abrigam em sua propriedade agrária.
A casa-grande atua como um símbolo que agrega a todos, pois
manifesta o potencial de acolher os membros que compõem esta
comunidade. Gilberto rejeita a concepção de que o brasileiro, por sua
prática constante da mestiçagem, seja inferior a outros povos. Ele
reforça a ideia de que a miscigenação concretizada entre ibéricos,
indígenas e africanos contribuiu para a constituição cultural positiva
do povo que se desenvolveu em terras brasileiras.

O sociólogo desenvolve neste livro sua tese, expondo o


nascimento da sociedade brasileira do ponto de vista da rotina na
casa do grande senhor. Esta edifi cação é um instrumento do autor
para representar o próprio país no período colonial, fundado sobre
a monocultura do açúcar. Nesta terra recém-descoberta a natureza
inclemente é vista como uma barreira a ser vencida, antes de se
lograr o desenvolvimento da civilização.

Fonte: Disponível em: <http://www.infoescola.com/livros/


casa-grande-senzala/>. Acesso em: 15 out. 2012.

Por outro lado, na mesma fazenda havia o espaço reservado aos escravos.
Como nos mostra Faria (2005, p.62):

A localização do terreiro de café demarcou a separação entre


a casa principal e os demais edifícios de trabalho, inclusive
as senzalas dos escravos. A família proprietária pretendia
fi car cada vez mais distante dos olhares de escravos e
trabalhadores da fazenda, de acordo com as noções de
individualidade e privacidade burguesas que se disseminavam
no momento.

E se você pensa que o fato de ter um lugar específi co para os


povos escravizados poderia signifi car algum tipo de regalia ou privilégio,
Aos escravos eram sinto muito, mas está enganado.
reservados espaços
conhecidos como Aos escravos eram reservados espaços conhecidos como senzala,
senzala, ou
ou “sanzala”, na língua de Moçambique, e que signifi cava “habitação
“sanzala”, na língua
coletiva”. Nessas casas sem ventilação, sem janelas, é que os escravos
de Moçambique,
e que significava dormiam, comiam e passavam as horas em que não estavam nas
“habitação coletiva”. lavouras, normalmente acorrentados para evitar fugas. Veja no texto a
seguir mais informações sobre a vida nas senzalas.
46
Capítulo 2 DO TRÁFICO NEGREIRO AO QUILOMBO
DE PALMARES: UMA HISTÓRIA DE LUTAS

Figura 4 - Senzala do estado de Pernambuco

Fonte: Disponível em: <http://www.suapesquisa.com/colonia/


senzala.htm>. Acesso em: 20 set. 2012.

Leia o pequeno texto para compreender sobre o modo de vida


nas senzalas a que os escravos eram submetidos ao chegar à
colônia portuguesa em terras brasileiras.

A senzala era uma espécie de habitação ou alojamento dos


escravos brasileiros. Elas existiram durante toda a fase de escravidão
(entre o século XVI e XIX) e eram construídas dentro da unidade de
produção (engenho, mina de ouro e fazenda de café).

As senzalas eram galpões de porte médio ou grande em que


os escravos passavam a noite. Muitas vezes, os escravos
eram acorrentados dentro das senzalas para evitar as fugas.

Costumam ser rústicas, abafadas (possuíam poucas janelas) e


desconfortáveis. Eram construções muito simples feitas geralmente
de madeira e barro e não possuíam divisórias.

Os escravos dormiam no chão duro de terra batida ou sobre


palha. Costuma haver na frente das senzalas um pelourinho (tronco
usado para amarrar o escravo para a aplicação de castigos físicos).

Algumas fazendas do interior do Brasil preservaram essas


senzalas, que hoje são visitadas como pontos turísticos. Mostram um

47
Trabalho, Sociedade e Resistência na História Brasileira

aspecto importante da história de nosso país: a falta de humanidade


com que os africanos foram tratados durante séculos no Brasil.

Fonte: Disponível em: <http://www.suapesquisa.com/


colonia/senzala.htm>. Acesso em: 15 out. 2012.

Para aprofundar seus conhecimentos sobre a Senzala e o


tratamento dispensado aos escravos africanos, leia as seguintes obras:

COSTA, Emília Viotti da. Da Senzala à Colônia. Unesp.

SANTOS, Ynae Lopes dos. Além da Senzala. Hucitec.

Atividade de Estudos:

1) Chegou sua vez: Relacione o modo de vida destinado aos


escravos nas senzalas do período colonial com a moradia de
grande parte da população afrodescendente no Brasil hodierno.
Faça uma pequena síntese de suas refl exões no espaço abaixo
e, depois, refl ita com seus colegas de curso.
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Capítulo 2 DO TRÁFICO NEGREIRO AO QUILOMBO
DE PALMARES: UMA HISTÓRIA DE LUTAS

A Resistência dos Africanos Durante


e APós a Escravidão no Brasil
Você está percebendo que aos escravos era dispensado um tratamento
que ignorava toda e qualquer possibilidade de respeito aos indivíduos. No
entanto, devemos ter em mente que nem sempre os africanos escravizados, e
posteriormente seus descendentes, aceitavam tal situação sem oferecer algum
tipo de resistência.

Uma situação comum era a presença de reis e rainhas africanos


Uma situação
entre os povos escravizados. Então, fi ca fácil perceber que os
comum era a
colonizadores não estavam preocupados com qualquer tipo de presença de reis e
organização social existente entre esses povos. rainhas africanos
entre os povos
Sem querer atribuir à realeza os movimentos de resistência escravizados.
conhecidos na história, pretendemos, sim, expor que nos grupos Então, fica fácil
perceber que os
escravizados haviam líderes de tribos e pessoas comuns, mas que
colonizadores
possuíam uma diversidade de desejos, sonhos, experiências de vida, não estavam
o que consequentemente refl etia também na resignação ou resistência preocupados com
de forma e intensidade diferenciada na sociedade escravagista qualquer tipo de
brasileira nos séculos que se passaram. organização social
existente entre
esses povos.
É nesse contexto que vai se formando o cenário ideal para a
eclosão de revoltas, ideias e ideais abolicionistas, misturados à criação
e expansão de quilombos, só para citar alguns do movimentos de resistência em
nossa história.

Outro destaque que precisamos fazer, caro(a) cursista, é que não


pretendemos esgotar as discussões neste caderno sobre os movimentos
de resistência dos escravos em nossa história. Pelo contrário, pretendemos
proporcionar um debate, fomentar as discussões com você e seus colegas, para
que possam ampliar sua visão quanto aos movimentos de resistência e seus
impactos na formação da sociedade brasileira, e porque não dizer do sentimento
de “ser” brasileiro.

Desse modo, convidamos você a refl etir sobre o maior movimento de


resistência, que foi a formação de Quilombos que chegaram em alguns casos a
ter mais de sessenta anos de duração, como foi o exemplo do mais famoso de
todos, o Quilombo de Palmares, no estado de Alagoas.

Prezado (a) Pós Graduando (a): estamos entrando agora no universo da


resistência dos povos escravizados que teve maior duração na história do Brasil.
49
Trabalho, Sociedade e Resistência na História Brasileira

Você deve saber que as primeiras demonstrações de revoltas dos africanos que
os europeus enfrentavam aconteciam ainda em terras africanas, pois os povos
escravizados não aceitavam passivamente a condição que lhes estava sendo
imposta pelos europeus. Outra situação recorrente em revoltas acontecia nos
navios negreiros, dos quais uma delas foi imortalizada pelo cinema americano na
versão chamada de Amistad.

Veja o fi lme Amistad disponível no link: http://www.youtube.com/


watch?v=gGICiVOxEh8

SINOPSE: Costa de Cuba, 1839. Dezenas de escravos


negros se libertam das correntes e assumem o comando do navio
negreiro La Amistad. Eles sonham retornar para a África, mas
desconhecem navegação e se veem obrigados a confi ar em dois
tripulantes sobreviventes, que os enganam e fazem com que, após
dois meses, sejam capturados por um navio americano, quando
desordenadamente navegaram até a costa de Connecticut. Os
africanos são inicialmente julgados pelo assassinato da tripulação,
mas o caso toma vulto e o presidente americano Martin Van Buren
(Nigel Hawthorn), que sonha ser reeleito, tenta a condenação dos
escravos, pois agradaria aos estados do sul e também fortaleceria os
laços com a Espanha, pois a jovem Rainha Isabella II (Anna Paquin)
alega que tanto os escravos quanto o navio são seus e devem ser
devolvidos. Mas os abolicionistas vencem, e no entanto o governo
apela e a causa chega à Suprema Corte Americana. Este quadro
faz o ex-presidente John Quincy Adams (Anthony Hopkins), um
abolicionista não assumido, sair da sua aposentadoria voluntária
para defender os africanos.

Fonte: Disponível em: <http://www.youtube.com/


watch?v=gGICiVOxEh8>. Acesso em : 10 out. 2012.

Uma forma
encontrada era
Entre mortes de capatazes e fazendeiros, suicídios, a fuga quando
a união dos
escravos fugidos possível era a melhor das alternativas. Mas, ao sair da fazenda, era
e a fundação de preciso encontrar uma forma de sobreviver, bem como evitar ser
lugarejos que recapturado pelos capitães do mato.
passavam a abrigar
em alguns casos Uma forma encontrada era a união dos escravos fugidos e a
centenas
fundação de lugarejos que passavam a abrigar em alguns casos
de escravos.
centenas de escravos. Muito recorrente no Pará, os quilombos não eram
50
Capítulo 2 DO TRÁFICO NEGREIRO AO QUILOMBO
DE PALMARES: UMA HISTÓRIA DE LUTAS

exclusividade desse estado, uma vez que foram encontrados sinais de quilombos
no Rio de Janeiro, Minas Gerais, além do Rio Grande do Norte e Pernambuco.

Conforme Leite (s/d.p.336),

A expressão quilombo vem sendo sistematicamente usada


desde o período colonial. Ney Lopes afi rma que “quilombo
é um conceito próprio dos africanos bantos que vem sendo
modifi cado através dos séculos (...) Quer dizer acampamento
guerreiro na fl oresta, sendo entendido ainda em Angola como
divisão administrativa” (LOPES, SIQUEIRA E NASCIMENTO,
1987, p. 27-28). O Conselho Ultramarino Português de 1740
defi niu quilombo como “toda habitação de negros fugidos que
passem de cinco, em parte desprovida, ainda que não tenham
ranchos levantados nem se achem pilões neles”. Indica,
também, uma reação guerreira a uma situação opressiva.
David Birmigham (1974) sugere que o quilombo se origina
na tradição mbunda, através de organizações clânicas, e que
suas linhagens chegam até o Brasil através dos portugueses.

Assim como a diversidade no conceito de Quilombo, também


A existência de
diversas foram as formas e locais em que esse movimento de um quilombo
resistência se fez presente. A existência de um quilombo era era comumente
comumente associada a uma grande ameaça. Ou seja, uma forma de associada a uma
mostrar resistência ao sistema escravagista a que eram submetidos grande ameaça.
os povos africanos: ao se instalar em uma região, o quilombo passava
a despertar o desejo de fuga de outros escravos, causando assim, prejuízo ao
senhor de engenho. Por isso a aproximação entre senhores de escravos com o
Estado para tentar dizimar toda e qualquer iniciativa de quilombo, assim que fosse
identifi cada e localizada. Mas nem sempre todos os escravos eram recapturados,
então os que conseguiam escapar, assim que possível, se juntavam a outros
escravos e fundavam novos quilombos.

Dos quilombos existentes no Brasil, o mais conhecido na história brasileira é


o Quilombo de Palmares no Estado das Alagoas.

O quilombo de Palmares teve duração de 67 anos, embora as recorrentes


investidas do governo e seus exércitos obrigassem os quilombolas de Palmares a
se rearticularem muitas vezes, mudando sua sede de localização. Não se conhece
a data exata de sua fundação, mas, conforme Benjamim (2006, p.98):

É possível que o assentamento (= estabelecimento de


populações) do quilombo de Palmares fosse anterior a 1630,
mas foi a partir desse ano, que também registra a invasão
holandesa a Pernambuco, que se expandiu o número de
pessoas nele refugiadas. A invasão holandesa causou a
desarticulação da colonização portuguesa baseada na cana-de-
açúcar e facilitou a fuga de escravos para a região de Palmares.

51
Trabalho, Sociedade e Resistência na História Brasileira

No entanto, em 1678, e após várias tentativas de portugueses e holandeses


de exterminar o quilombo, propuseram um acordo de paz. Isto atribuíram a um
pequeno número de indivíduos no quilombo, para que não parecesse aos olhos
do governo de Pernambuco uma grave ameaça.

O acordo foi aceito pelo então líder do Quilombo, Ganga Zumba, que enviou
para a cidade uma expedição de homens armados, com arco-fl echas e tochas
para aceitar um acordo que previa o reconhecimento da existência de Palmares
e aceitava-o com seus habitantes. Porém, somente os nascidos no quilombo
poderiam permanecer, pois aos escravos fugidos era exigido que retornassem
às fazendas.

No entanto, o acordo trazia alguns problemas como o


reconhecimento e legitimação de um reino dentro do território de
O governo de
Pernambuco e, Portugal, bem como, o fato de os escravos não mais se sujeitarem à
após algumas escravidão. Com esse contexto, um ano após o acordo fi rmado entre
investidas sem Ganga Zumba e o governo de Pernambuco, o líder do quilombo foi
sucesso, organizou assassinado em Cocáu, no interior do estado. Desse modo, a liderança
uma expedição de Palmares passou a Zumbi, o que ocasionou um refortalecimento
de 6 mil homens
que arrasaram do quilombo.
o quilombo,
obrigando os Foi nesse período que Domingos Jorge Velho, um conhecido
quilombolas a fugir bandeirante, foi chamado com seus soldados para ajudar o governo
ou a se tornarem de Pernambuco e, após algumas investidas sem sucesso, organizou
novamente
escravos nas uma expedição de 6 mil homens que arrasaram o quilombo,
fazendas. obrigando os quilombolas a fugir ou a se tornarem novamente
escravos nas fazendas.

Segundo o discurso ofi cial, o líder do quilombo foi decapitado e sua cabeça
exposta em praça pública. No entanto, conforme Benjamim (2006, p. 99): “[...]
segundo a tradição oral, Zumbi, que havia se refugiado no alto de uma montanha,
jogou-se no precipício, preferindo a morte ao cativeiro”.

Observe que ocorre a preocupação da versão ofi cial em tratar Zumbi como
um líder que foi derrotado, disseminando, assim, a ideia de que o governo havia
saído vencedor dessa grande disputa. Essa imagem contribuiria assim, para que
novas iniciativas de quilombos não fossem almejadas pelos escravos fugidos. No
entanto, nossa história precisa ser revista com um olhar crítico. A pergunta que
fazemos a você, cursista: por que a tradição oral conta outra versão? É importante
termos em mente que o discurso dos vencidos transforma seu líder Zumbi em
protagonista de sua história, resistindo ser subjugado até a hora de sua morte. E
você, o que pensa a respeito?

52
Capítulo 2 DO TRÁFICO NEGREIRO AO QUILOMBO
DE PALMARES: UMA HISTÓRIA DE LUTAS

O lugar em que se encontrava o Quilombo dos Palmares é hoje


O lugar em que
considerado patrimônio histórico nacional. E a data comemorativa se encontrava
da consciência negra é especialmente o dia 20 de Novembro, dia da o Quilombo dos
morte de Zumbi dos Palmares. Palmares é hoje
considerado
patrimônio histórico
nacional.
Atividade de Estudos:

1) Leia o texto de Ilka Boaventura Leite intitulado “Os Quilombos


no Brasil: questões conceituais e normativas”. Observe o que diz
o resumo:

RESUMO: Procura-se enfocar o quilombo como conceito


socioantropológico para discutir suas atuais implicações teóricas
e políticas, principalmente no que diz respeito ao quadro atual de
exclusão social no Brasil. Busca-se igualmente estabelecer um
contraponto entre os atuais impasses ao entendimento do artigo
68 da Constituição Brasileira, que se refere às comunidades
remanescentes de quilombos, e o processo de regulamentação em
curso – difi cultado por várias artimanhas e estratégias – entre as
quais se destaca a folclorização da cultura e identidade negras.
O texto aponta para a necessidade de novos referenciais que
possam superar certo reducionismo teórico no que concerne às
implicações antropológicas dos direitos específi cos ou “difusos”
das “novas etnias”, principalmente diante de armadilhas tais como
o turismo étnico.

Agora, Pós-graduando(a), leia o texto na íntegra que está


disponível no link: http://ceas.iscte.pt/etnografi ca/docs/vol_04/N2/
Vol_iv_N2_333-354.pdf .

Após a leitura do texto na íntegra, vamos debater no ambiente


virtual. Seu tutor criará um tópico no ambiente e todos deverão
discutir apenas no espaço criado. A ideia é que todos tenham
acesso ao que seus colegas pensam sobre o texto. Vamos lá! Com
entusiasmo faremos uma boa discussão, passando a refl etir sobre os
diversos conceitos e as implicações de adotar um ou outro.

Anote suas refl exões no espaço abaixo:


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Trabalho, Sociedade e Resistência na História Brasileira

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Alguns outros quilombos no Brasil, segundo Benjamim ( 2006):


Catucá, Indaiá e da Marcela, em Minas Gerais; Quilombo do Cumbe,
na Paraíba; Quilombo de Piolho, Pidaituba e Mutuca, no Mato
Grosso; Lagoa Amarela e Limoeiro, no Maranhão; Itapoã, Cabula e
Rio Vermelho, entre outros, na Bahia.

Para aumentar seus conhecimentos, assista ao fi lme “Quilombo”,


de cacá Diegues.
54
Capítulo 2 DO TRÁFICO NEGREIRO AO QUILOMBO
DE PALMARES: UMA HISTÓRIA DE LUTAS

SINOPSE:

Filmado em 1984, Quilombo retrata como era a vida no


Quilombo de Palmares numa época cercada de difi culdades devido
ao enfrentamento da opressão portuguesa. Sempre que a luta dos
quilombos era pela dignidade da liberdade e igualdade contra o
sistema europeu que impunha a escravidão para milhares de africanos
sequestrados para trabalharem nas plantações de cana-de-açúcar.
Os palmarinos souberam tirar proveito da luta dos portugueses e
holandeses, entre 1621 e 1654, pelo controle de terras brasileiras
e aumentaram em muito sua organização, criando uma sociedade à
parte. Após a expulsão e hegemonia dos portugueses das terras do
extremo norte colonial, partiu-se para a destruição do maior perigo
à empresa açucareira, os quilombos. O fi lme tem a preocupação de
mostrar os três últimos “governos” de Palmares: Acotirene, Ganga
Zumba e Zumbi. O elenco atua de forma magnífi ca, pois consegue
passar muita seriedade ao expor esse lado da história do Brasil.

Passados mais de vinte anos, esta é uma obra essencial para a


fi lmoteca dos militantes e entidades. Divirtam-se, debatam, refl itam,
atualizem-se, debatam de novo e vamos pra luta pela mudança.

Algumas Considerações
Prezado (a) Pós-Graduando(a)!

Estamos chegando ao fi m do segundo capítulo e agora você já pode


relacionar as características do contexto social em que se deu a introdução dos
escravos africanos no Brasil. Passamos a entender que a escravidão não foi um
processo aceito passivamente pelos povos escravizados e, por vezes, essa luta
resultava em morte (de brancos e/ou de negros), ou, na melhor das hipóteses,
em fuga. Essas fugas, por sua vez, levavam os negros a duas possibilidades: ser
recapturado e sofrer castigos físicos severos, para que não almejassem uma nova
fuga, ou ter êxito e chegar até um dos quilombos espalhados pelo Brasil.

E você pode perceber que cada vez mais os africanos vão se integrando à
formação do povo brasileiro, não apenas no aspecto físico, mas igualmente na
herança cultural que cada vez mais vai sendo uma característica de nossa gente.

55
Trabalho, Sociedade e Resistência na História Brasileira

Referências
BENJAMIM, Roberto. A África está em nós. História e cultura Afro-Brasileira.
Livro 3. João Pessoa, Grafset. 2006.

FARIA, Sheila de Castro. Os barões do Brasil. Revista de História da Biblioteca


Nacional. Ano 1 nº 2 Agosto 2005. Revista de História.

LEITE, Ilka Boaventura. Os quilombos no Brasil: questões conceituais e


normativas. Fonte: Disponível em: <http://ceas.iscte.pt/etnografi ca/docs/vol_04/
N2/Vol_iv_N2_333-354.pdf>. Acesso em: 30 mai. 2012.

MARQUESE, Rafael de Bivar. A dinâmica da escravidão no Brasil: resistência,


tráfi co negreiro e alforrias, séculos XVII a XIX. Novos estud. - CEBRAP [online].
2006, n.74, pp. 107-123. Fonte: Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.
php?pid=S0101-33002006000100007&script=sci_arttext>. Acesso em: 27 mai.
2012.

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C APÍTULO 3
Movimento Negro e Resistência:
das Senzalas às Ações Afirmativas

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

 Identifi car o protagonismo dos povos africanos no processo de libertação


da escravidão, bem como relacionar esta libertação aos fatores econômicos
em contextos mundiais.

 Compreender os movimentos das ações afi rmativas governamentais e


culturais da sociedade civil.

 Analisar com criticidade os fundamentos dos movimentos em prol de ações


afi rmativas.
Capítulo 3 MOVIMENTO NEGRO E RESISTÊNCIA:
DAS SENZALAS ÀS AÇÕES AFIRMATIVAS

ConteXtualização
Olá, pós-graduando!

Vamos dar início ao terceiro capítulo de seu caderno de estudos. Você terá
contato, neste capítulo, com as algumas das diferentes formas de resistências
exercidas pelos negros no Brasil ao longo dos séculos XIX e XX.

Partiremos de um breve resgate de algumas informações sobre a resistência


dos escravos ainda no período da escravidão. Abordaremos também os principais
acontecimentos do século XX, como a Revolta da Chibata, que teve repercussões
internacionais, comandada pelo “Almirante Negro” João Candido Barbosa. Essa
revolta objetivava, entre outras reivindicações, o fi m do castigo da chibata, que
era exercido principalmente contra a tripulação negra na marinha brasileira.

Na sequência, você será convidado a fazer algumas refl exões com relação
à Frente Negra Brasileira e o Teatro Experimental dos Negros, duas das mais
signifi cativas representações do movimento negro organizado em nosso país.

Terá acesso também a algumas informações sobre as políticas afi rmativas


no Brasil, para que você refl ita sobre sua importância na trajetória de minimizar os
efeitos de séculos de discriminação e preconceito contra o povo negro brasileiro.

Vamos nessa?? Com entusiasmo e dedicação desejamos a você BONS


ESTUDOS !!

O Africano Escravizado como


SuJeito do Processo de Libertação
Prezado pós-graduando (a), agora que você já refl etiu sobre o processo de
formação dos quilombos, vamos conhecer um pouco mais a fundo sobre como
esses movimentos de resistência infl uenciaram outras formas dos povos negros a
legitimar-se enquanto grupo na sociedade brasileira.

A grande arma dos negros de Palmares para enfrentar as tropas


brancas foi a guerrilha. Uma guerrilha aliada a
cuidados especiais de defesa, com a fortifi cação
em redor dos mocambos, construída por um A grande arma dos
emaranhado de paus, cipós e ferro. Enfrentando negros de Palmares
os ataques, os negros, conhecedores do terreno para enfrentar as
da luta, abandonavam os mocambos, antes tropas brancas foi
forçando as tropas assaltantes a desgastarem-se a guerrilha.
nas fortifi cações (CHIAVENATO, 1980, p. 160).

59
Trabalho, Sociedade e Resistência na História Brasileira

Mas a resistência dos negros não se limitava aos movimentos de guerrilhas.


Embora os negros fugidos tivessem a intenção de negar a organização social
que se criava no Brasil, ou seja, colonial, agrário e escravocrata, eles criavam,
após fugir, uma organização de Estado, mas com características que remetiam
ao sistema de organização tribal e primitiva. Muitas vezes essas comunidades
fundadas fi cavam totalmente isoladas. Mas esse contexto não permite reduzir
o valor histórico das iniciativas de resistência dos escravos que fugiam para os
quilombos, pois:

A sua fundamental importância tem que ser analisada pelo que representaram
os quilombos como meio de libertação dos escravos, escapando à condição
infra-humana em que se encontravam. Além disso, as repercussões políticas
e econômicas sobre a sociedade escravocrata foram bastante sensíveis. Os
escravos fugidos, levantando os quilombos, desorganizaram a força de trabalho.
Deixavam os canaviais sem produzir, diminuíam a fabricação de açúcar e,
evidentemente, causavam danos econômicos às vezes irreparáveis às classes
dominantes (CHIAVENATO, 1980, p.163).

Cabe destacar, prezado (a) pós-graduando (a), que, embora a organização


social dos negros no quilombo não almejasse uma revolução social, sua iniciativa
de resistência se faz importante para compreender o processo de “libertação” que
propunha como modo de vida. Suas organizações, que por vezes foram de curta
duração (com exceção do Quilombo de Palmares), pregavam, por exemplo, a
supressão de classes sociais dentro dos novos agrupamentos que se formavam.

Você acabou de conhecer sobre a vida nos quilombos, ou seja, o modo como
se organizavam os escravos fugidos, e de que maneira essas iniciativas dos
escravos eram vistas na fazenda e nas cidades, que já estavam se desenvolvendo
no Brasil.

Mas essa não era a única forma de resistência às duras condições de


trabalho que eram impostas aos escravos. Uma ação comum entre as escravas
era a prática de abortos, evitando assim que seus fi lhos nascessem e
fossem submetidos igualmente à escravidão.
Também era
possível para os Outra ação comum era os escravos realizarem serviços de forma
negros a condição
errada ou incompleta, como forma de desvalorizar seu trabalho e assim
de “negro forro”
por possuir uma terem a possibilidade de trocar de fazenda, o que sempre poderia
carta de Alforria, ocasionar uma possibilidade de fuga. Havia ainda alguns levantes em que
que funcionava os negros, ameaçavam a fi lha do fazendeiro, ou até mesmo em alguns
como uma espécie casos chegavam a cometer homicídios em troca de sua fuga.
de atestado de
liberdade.
Também era possível para os negros a condição de “negro forro”

60
Capítulo 3 MOVIMENTO NEGRO E RESISTÊNCIA:
DAS SENZALAS ÀS AÇÕES AFIRMATIVAS

por possuir uma carta de Alforria, que funcionava como uma espécie de atestado
de liberdade.

Conseguir essa carta não era tarefa fácil ou incentivada pelo senhor de engenho,
pelo contrário, os donos das fazendas, e consequentemente dos escravos, tinham
algumas artimanhas com os quais os escravos deveriam lidar.

A ARISTOCRACIA BRASILEIRA NA GIGOLOTAGEM: OS


“NEGROS DE GANHO” E AS “NEGRAS GANHADEIRAS”

Os abusos estendem-se em todas as direções. Os senhores


inventaram o “negro de ganho” e as “negras ganhadeiras”. Negros
de ganho havia de toda a espécie. Existiam os que comandavam
negócios montados pelos seus proprietários, a quem entregavam o
“ganho” ao fi m do dia. Geralmente eram ofi cinas de reparos, pequeno
comércio ou artesanato. Alguns desses negros têm que trazer aos
proprietários uma quantia fi xa: se não a trazem, são duramente
castigados, especialmente porque muitos senhores os compram
e os mantêm como “investimento”, do qual é preciso receber os
juros. Os negros de ganho também serviam para alugar: muitos
pequenos senhores viviam da renda dos seus escravos alugados.
Outro abuso que geralmente se cometia contra os negros de ganho
era obrigá-los a trabalharem como besta de carga: no transporte de
mercadorias ou, especifi camente, carregando gente em palanquins
- eles substituíram durante longos anos o transporte animal nas
grandes cidades. Os negros de ganho tornaram-se um investimento
popular (porque qualquer negro “boçal” de baixo preço servia para
este serviço simples) que praticamente todo o transporte pessoal
no Rio de Janeiro fi cou por conta deles. Estes negros saíam pela
manhã com a obrigação de regressar com uma quantia fi xada pelo
senhor: tinham que se alimentar por conta própria. Um trabalho
tão desumano – que servia inclusive para poupar cavalos e mulas
– causava uma série de deformações físicas nos negros, reduzindo
sua vida útil; com a vida útil reduzida, eles eram jogados à própria
sorte, no geral alforriados para livrarem os proprietários de qualquer
responsabilidade do seu sustento: viraram esmoladores, morrendo
aos poucos de fome.

As negras ganhadeiras tinham talvez pior destino. De crianças,


aos 15 e 16 anos, eram dedicadas à prostituição. Não raro eram
as sinhazinhas respeitáveis que enviavam essas meninas às ruas

61
Trabalho, Sociedade e Resistência na História Brasileira

para prostituírem-se, cobrindo-as de joias para melhor impressionar


a clientela. O descaramento desse proxenetismo obrigou a Coroa
a proibir o uso de joias pelas escravas, em duas cartas régias de
1696 e 1703. La Barbináis, profusamente citado por vários autores,
descreve entre extasiado e assustado os lupanares do Rio, cheios
de negras luxuosamente preparadas pelas senhoras para renderem o
máximo na prostituição. Jacob Gorender, em O Escravismo Colonial,
também vai buscar às crônicas da época, citando Charles Expilly,
que escreveu em 1862, dizendo das famílias modestas que viviam da
exploração de duas ou três escravas que obrigavam a se prostituírem.

A prostituição das escravas, rendendo em favor dos proprietários,


foi garantida pela própria Constituição de 1824, através do seu artigo
179. Joaquim Nabuco conta com o esforço de um ofi cial de polícia que
pretendeu (em 1871) libertar as escravas prostituídas e que foi tolhido
pela justiça, lembrando que, mesmo caracterizado o proxenetismo do
senhor, a escrava não fi caria livre, “porque o artigo 179 da Constituição
do Império garantia a propriedade em sua plenitude”.

As negras ganhadeiras, quando não se empregavam na


prostituição, eram enviadas às ruas para vender doces, comidas etc.
A origem das “baianas” vendendo acarajé e outras iguarias está nas
negras ganhadeiras, que chegaram a ser importante fonte de renda
suplementar da aristocracia urbana do século XX.

Fonte: CHIAVENATTO, Julio José. O negro no Brasil : da senzala à


Guerra do Paraguai. 2. ed. São Paulo : Brasiliense, 1980. p. 138-139.

Atividade de Estudos:

Você acabou de ler o texto sobre os negros de ganho, negras


ganhadeiras e as profi ssões que esses grupos exerciam, para
levar ao fi nal do dia a quantia de dinheiro determinada pelo senhor.
Nesta atividade proposta, sugerimos que você realize a leitura do
trecho abaixo.

O texto foi retirado do estudo de Orson Camargo e está


disponível na íntegra no link: http://www.brasilescola.com/
sociologia/escravidao-nos-dias-de-hoje.htm:
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Capítulo 3 MOVIMENTO NEGRO E RESISTÊNCIA:
DAS SENZALAS ÀS AÇÕES AFIRMATIVAS

“ A expressão escravidão moderna possui sentido metafórico,


pois não se trata mais de compra ou venda de pessoas. No entanto,
os meios de comunicação em geral utilizam a expressão para
designar aquelas relações de trabalho nas quais as pessoas são
forçadas a exercer uma atividade contra sua vontade, sob ameaça,
violência física e psicológica ou outras formas de intimidações. Muitas
dessas formas de trabalho são acobertadas pela expressão trabalhos
forçados, embora quase sempre impliquem o uso de violência.

Atualmente, há diversos acordos e tratados internacionais


que abordam a questão do trabalho escravo, como as convenções
internacionais de 1926 e a de 1956, que proíbem a servidão por
dívida. No Brasil, foi somente em 1966 que essas convenções
entraram em vigor e foram incorporadas à legislação nacional. A
Organização Internacional do Trabalho (OIT) trata do tema nas
convenções número 29, de 1930, e 105, de 1957. Há também a
declaração de Princípios e Direitos Fundamentais do Trabalho e seu
Seguimento, de 1998.

De acordo com o relatório da OIT de 2001, o trabalho forçado


no mundo tem duas características em comum: o uso da coação
e a negação da liberdade. No Brasil, o trabalho escravo resulta da
soma do trabalho degradante com a privação de liberdade. Além de o
trabalhador fi car atrelado a uma dívida, tem seus documentos retidos
e, nas áreas rurais, normalmente fi ca em local geografi camente
isolado. Nota-se que o conceito de trabalho escravo é universal e
todo mundo sabe o que é escravidão.

Vale lembrar que o trabalho escravo não existe somente no meio


rural, ocorre também nas áreas urbanas, nas cidades, porém em
menor intensidade. O trabalho escravo urbano é de outra natureza.
No Brasil, os principais casos de escravidão urbana ocorrem na
região metropolitana de São Paulo, onde os imigrantes ilegais são
predominantemente latino-americanos, sobretudo os bolivianos, e
mais recentemente os asiáticos, que trabalham dezenas de horas
diárias, sem folga e com baixíssimos salários, geralmente em ofi cinas
de costura. A solução para essa situação é a regularização desses
imigrantes e do seu trabalho (CAMARGO, s.d., p.[1].).

1) Crie um texto sintetizando quais os aspectos da escravidão


“moderna” proposta por Camargo se assemelham e diferem do
tratamento imposto aos escravos no Brasil colonial. Use as linhas
abaixo para anotar suas principais considerações.

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Trabalho, Sociedade e Resistência na História Brasileira

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Para refl etir sobre a participação das mulheres negras


na organização dos movimentos sociais no Brasil, leia o texto
de Sueli Carneiro, intitulado de “Mulheres em Movimento”, na
íntegra, no link: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-
40142003000300008&script=sci_arttext

RESUMO: Esse artigo busca demarcar a trajetória de luta das


mulheres negras brasileiras no interior do movimento feminista
nacional. Trata-se de colocar em questão a perspectiva feminista
clássica fundada numa concepção universalista de mulher, que tem
o seu paradigma na mulher branca ocidental, o que obscurece a
percepção das múltiplas contradições intragênero e entre gêneros
que a racialidade aporta. Dessas contradições, impõem-se para as
mulheres negras a sua afi rmação como um novo sujeito político,
portador de uma nova agenda, esta resultante de uma identidade
específi ca na qual se articulam as variáveis de gênero, raça e classe,
colocando novos e mais complexos desafi os para realização da
equidade de gênero e raça em nossa sociedade.

Fonte: Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-


40142003000300008&script=sci_arttext>. Acesso em: 12 set. 2012.

64
Capítulo 3 MOVIMENTO NEGRO E RESISTÊNCIA:
DAS SENZALAS ÀS AÇÕES AFIRMATIVAS

Ainda sobre a Alforria e as artimanhas dos senhores, cabe destacar que,


muitas vezes, era por meio do trabalho como escravo de ganho ou de negras
ganhadeiras que os africanos e seus descendentes conseguiam juntar economias,
muitas vezes escondidos do senhor e, assim, pagavam por sua libertação. Outra
maneira de se conseguir dinheiro era pedindo emprestado para outros negros ou
simpatizantes das causas abolicionistas.

No entanto, os senhores de engenho embora fi zesse acordos Os senhores de


que resultassem na alforria dos escravos, o fazia levando grandes engenho embora
fizesse acordos
vantagens, como, por exemplo, aceitar a compra da liberdade de que resultassem
um escravo, mas adicionar ao contrato uma cláusula de servidão na alforria dos
(CHIAVENATTO, 1980). escravos, o fazia
levando grandes
Esta cláusula, por sua vez, fazia com que o senhor utilizasse o vantagens, como,
por exemplo,
que ainda restava de tempo útil de trabalho do escravo, que em geral aceitar a compra
era de aproximadamente 7 anos, e o obrigava a trabalhos forçados da liberdade de
durante este tempo restante. um escravo, mas
adicionar ao contrato
uma cláusula
A carta de alforria ainda era costumeiramente entregue aos
de servidão
escravos idosos, pois assim, ao libertar o cativo, o senhor ainda se
livrava da obrigação de alimentar e abrigar aquele que não podia mais
trabalhar e gerar riqueza para os senhores de engenho. Estes escravos, por sua
vez, acabam por vezes morando na rua e mendigando para sua subsistência, até
que morriam.

Mas como nos mostra Chiavenato (1980, p.144):

Mais que a carta de alforria, o que qualifi cava o escravo era


a cor: sendo preto, forro ou não, era escravo. Pelo menos
legalmente. Assim entendia a lei que proibia a frequência
nas escolas dos pretos; aos negros proibia-se o acesso à
educação, e não simplesmente aos escravos. A carta de
alforria, aliás, era quase um diploma de expulsão do Brasil em
certas épocas. Para evitar levantes que se temia dos libertos,
procurava-se bani-los de volta para a África.

Já aos que fi cassem no Brasil, restava a tentativa de se inserir cada vez


mais em uma sociedade escravocrata, que os desprezava, a qual geralmente
perseguia os negros, acusando-os de delitos que não haviam cometido.

65
Trabalho, Sociedade e Resistência na História Brasileira

Para saber mais sobre a carta da alforria e como ela infl uenciou
no processo de libertação dos escravos no Brasil, leia, na íntegra, o
artigo de:

PIRES, Maria de Fátima Novaes. Cartas de alforria: “para


não ter o desgosto de fi car em cativeiro”. Rev. Bras. Hist. [online].
2006, vol.26, n.52, pp. 141-174. Disponível em: <http://www.scielo.
br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-01882006000200007>.
Acesso em: 09 jun. 2012.

FLORENTINO, Manolo. Alforrias e etnicidade no Rio de


Janeiro oitocentista: notas de pesquisa. Topoi. Rio de Janeiro,
dezembro 2002, p. 9 - 40. Disponível em: <http://www.ifcs.ufrj.
br/~ppghis/pdf/topoi5a1.pdf>. Acesso em: 09 jun. 2012.

Você pode perceber, caro(a) cursista, que toda a história da escravidão, dos
navios tumbeiros aos quilombos, nas lutas contra a prisão ainda na África ou nas
fugas dos fortes castigos físicos que os negros recebiam nas fazendas, o contexto
foi de luta e de resistência. Por vezes de forma mais velada, introduzindo aspectos
da cultura africana, ou do sincretismo religioso no cotidiano do branco Brasil que
se pretendia. Ou mais explícita, como nos casos das rebeliões e levantes que os
africanos realizaram ao longo de nossa história.

No Brasil, a história é feita de desigualdade racial, trabalho escravo


No Brasil, a e muitas batalhas e revoltas que almejavam a condição de liberdade
história é feita
para os escravos negros em terras brasileiras.
de desigualdade
racial, trabalho
escravo e muitas Embora o Brasil tenha, em sua formação, vivenciado um processo
batalhas e revoltas de miscigenação, o preconceito racial infelizmente ainda afeta milhares
que almejavam de pessoas em nosso país nos dias atuais.
a condição de
liberdade para os
Mas, como já vimos acima, caro (a) cursista, nossa história é
escravos negros em
terras brasileiras. feita de lutas, como, por exemplo, “[...] as rebeliões religiosas da
Bahia e a capacidade de organização dos negros, formando governos
secretos que mantinham um controle absoluto sobre a massa escrava
muçulmana” (CHIAVENATO, 1980, p.151). Acredita-se que essa insurreição, que
teve início em 1808, motivada pelo fato de que os padres ainda não tinham o hábito
de separar os negros por segmentos religiosos. Unidos pela fé, muçulmanos e
católicos reconheceram sua luta como em prol de único motivo: a liberdade.

66
Capítulo 3 MOVIMENTO NEGRO E RESISTÊNCIA:
DAS SENZALAS ÀS AÇÕES AFIRMATIVAS

Assim, uniram-se resultando em uma grande massa de fugitivos que sumiram em


direção à mata no recôncavo Baiano. Essa rebelião de escravos hauçás e nagôs
foi liderada por uma sociedade secreta de governos negros chamada Obgoni
(CHIAVENATO, 1980).

Não é por acaso que a ligação das revoltas dos povos negros com o fator
religião aparece neste momento. Cabe destacar que os negros muçulmanos,
por vezes, não aceitavam nenhum tipo de sincretismo religioso com os católicos,
mas insistiam e resistiam quando o assunto era a liberdade para cultuar sua fé.
Chamamos a atenção para o fato de que nos referimos aos negros de origem
muçulmana, pois além do culto a fé, aproveitavam e planejavam revoltas e
insurreições. Benjamin (2008, p.119) afi rma que esses movimentos de resistência
eram “[...] fruto de conspirações organizadas a partir de sociedades secretas de
africanos e seus descendentes, que praticavam o islamismo [...] onde se ensinava
os preceitos do culto islâmico e a escrita e leitura em árabe”.

É claro que não devemos entender esse contexto como uma forma de
dizer que a fé estava acima da liberdade enquanto indivíduo. Ou seja, devido
ao sistema de escravidão que lhes impingia toda sorte de castigos físicos, a
religião acaba, transformando-se em um dos amparos a que podiam recorrer. E
isto os diferenciava dos quilombolas, pois não pretendiam apenas fugir e livrar-se
dos trabalhos forçados e castigos físicos, mas propunham a reconhecimento e
legitimação de sua crença religiosa.

É neste sentido que podemos afi rmar que as grandes mudanças


É neste sentido
no sistema social que partiram de movimentos organizados de que podemos
negros estiveram em sua história associadas à tradição religiosa dos afirmar que as
povos africanos. grandes mudanças
no sistema social
Em 1607, chegaram ao Brasil os primeiros grupos de negros que que partiram
de movimentos
sabiam ler e escrever, os conhecidos como hauçás. Estes se organizavam
organizados de
em uma estrutura que não se ancorava apenas na organização religiosa, negros estiveram
mas eram organizados de tal forma que os indivíduos desse povo em em sua história
geral já sabiam ler e escrever, situação que era um diferencial em suas associadas à
organizações de resistência em terras brasileiras. tradição religiosa
dos povos africanos.
São os hauçás que participaram, ainda em terras africanas,
das chamadas Jihads, ou “guerras santas”. Como preparo para essas batalhas
que faziam parte de sua cultura, os povos haviam adquirido o hábito de deixar
manuscritos com suas memórias e, mais tarde, infl uenciou no hábito de ensinar
aos seus fi lhos escravos o ensinamento da leitura, que não tardou a tornar o
povo hauçá um nível cultural mais alto entre os grupos de escravos. Entre estes
ensinamentos estava a ligação com a religiosidade islâmica.

67
Trabalho, Sociedade e Resistência na História Brasileira

E com estes ensinamentos é que os hauçás conseguiram montar uma


organização secreta e até mesmo estudar o alcorão (CHIAVENATO, 1980), isto
para se preparar para as rebeliões que almejavam na busca por sua libertação.

Os documentos apreendidos na malograda rebelião de 1835


demonstram o alto grau de alfabetização dos hauçás: todos os
planos das revoltas estavam escritos em árabe, detalhadamente.
Além disso, junto a estes documentos comprometedores, a
polícia baiana apreendeu muitos livros, naturalmente em árabe,
além de inúmeros cadernos manuscritos: literatura hauçá feita
na Bahia, que a ignorância policial jogou fora (CHIAVENATO,
1980, p.154).

A REVOLTA DOS MALÊS

Por tudo isso, a rebelião de 1835 já não era tão simples e


anárquica como as primeiras – reuniram-se agora nagôs e hauçás, os
malês, para fundarem um Estado teocrático na Bahia. Desde 1805,
a fundação desse estado teocrático estava sendo orientada desde
a África. Os alufás trabalharam arduamente na Bahia: ensinaram
a ler o Alcorão, a escrever em árabe ou em hauçá e iorubano com
caracteres arábicos e doutrinaram os negros. A Jihad africana estava
sendo transplantada para a Bahia. O grande erro dessa guerra
santa era justamente ser “santa”: a Jihad era dirigida contra todos os
infi éis, não havendo distinção entre brancos e negros. Por isso, sem
a solidariedade dos negros das demais nações, ocorreram muitas
delações. A Jihad dos malês dividia os negros. Em 1835, os escravos
de outras religiões – católicos ou dos vários sincretismos baianos –
temeram que a vitória dos malês implicasse um banho de sangue dos
demais negros e delataram, assustados, a rebelião. Mesmo assim,
a guerra durou mais de uma semana, mesmo sendo precedida de
uma repressão violenta, com o enforcamento sumário de alguns
líderes, para atemorizar a massa fanatizada. Foram mortos mais de
cem negros só em Salvador, para evitar a rebelião. Embora de fundo
nitidamente religioso, muitos negros sobreviventes atribuíram os
motivos da guerra à resistência dos senhores brancos em aceitarem
o pagamento para a alforria dos escravos, o que deve ter contribuído
para a luta dos malês.

De qualquer forma, foi notável o fervor religioso dos negros


malês. Na Bahia, existiam casas de oração muçulmanas onde era
ostensivo o combate ao cristianismo, com sacerdotes negros pregando
68
Capítulo 3 MOVIMENTO NEGRO E RESISTÊNCIA:
DAS SENZALAS ÀS AÇÕES AFIRMATIVAS

para escravos que acompanhavam suas prédicas lendo o alcorão.


Debochavam dos ritos católicos, afi rmando superiormente que os padres
eram “adoradores de pau”, numa alusão desrespeitosa à multidão de
santos esculpidos em madeira que enfeitavam as igrejas baianas.

Fonte: CHIAVENATTO, Julio José. O negro no Brasil : da senzala à


Guerra do Paraguai. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 1980. p.155-156.

E é com este contexto que chegamos a meados do século XIX em um clima


de tensão com a Inglaterra, que aprovava o fi m da legalidade do transporte
de negros africanos para as colônias europeias. Deste modo, com a Lei de
Bil Aberdeen, de 1845, todos os navios que fossem identifi cados como navios
tumbeiros seriam confi scados pela coroa Inglesa. Esse novo contexto que se
cria, aliado ao avanço da produção de café, tem como refl exo o início de um
período em que, gradativamente, como já vimos no capítulo 1, vai culminar com a
assinatura da Lei Áurea, em 13 de Maio de 1888.

Também temos que destacar que, desde a Constituição de 1834, o Brasil via
com maus olhos a existência de qualquer associação de classe, como
também tentava, enquanto podia, agir de forma a continuar o tráfi co
negreiro e a escravidão. Deste modo: Todas as
associações, pela
Todas as associações, pela própria peculiaridade própria peculiaridade
da época, tinham que fracassar quando não eram da época, tinham
orientadas pelos brancos. Apenas as irmandades que fracassar
prosperaram – exatamente porque foram criações quando
dos senhores, através da alta hierarquia da Igreja não eram orientadas
e funcionavam contra os negros, mantendo-os em pelos brancos.
cômoda letargia (CHIAVENATO, 1980, p. 157).

Deste modo, as associações que maior êxito obtiveram foram as criadas


e mantidas pelos brancos, e que permitiram certo protagonismo de algumas
lideranças negras, como, por exemplo, a “Sociedade Brasileira Contra a
Escravidão”, fundada por Joaquim Nabuco em 1880.

Em 7 de setembro de 1880, Nabuco fundou com outros


companheiros, em sua própria residência no Rio de Janeiro
(Rua Bela da Princesa, hoje Correia Dutra), a Sociedade
Brasileira Contra a Escravidão. Ele próprio, Nabuco, foi eleito
presidente, fi cando com André Rebouças o cargo de tesoureiro
(BETHELL; CARVALHO, 2009, p.213).

No mesmo ano, Nabuco viajou para a Europa como estratégia para divulgar
a causa abolicionista. Nessa viagem, fortaleceu laços com a Society for the
69
Trabalho, Sociedade e Resistência na História Brasileira

Mitigation and Gradual Abolition of Slavery throughout the British Dominions,


“[...] (também conhecida como Anti-Slavery Society) que tinha por objetivo
melhorar a condição dos escravos e promover uma abolição gradual” (BETHELL;
CARVALHO, 2009, p.216).

Nabuco também tratou de divulgar o manifesto da Sociedade Brasileira


Contra a Escravidão, que foi traduzido para o inglês e o francês e enviado para
algumas instituições internacionais que trabalhavam pela causa abolicionista,
como, por exemplo, a Anti- Slavery Society. “A escolha da Anti-Slavery Society
como principal interlocutora era lógica. Ela era a mais conhecida sociedade
abolicionista do mundo, localizava-se no centro do grande império britânico e na
cidade amada por Nabuco [...]” (BETHELL; CARVALHO, 2009, p.224).

Com uma parceria que obteve êxito na divulgação internacional da causa


abolicionista, Nabuco e a sociedade Inglesa Antiescravidão pressionaram não
somente o governo brasileiro, mas igualmente os senhores que ainda possuíam
escravos no Brasil. A partir disto, o movimento ganhou forças, o que culminou,
como já visto no capítulo anterior, na assinatura da Lei Áurea em 1888.

Chegou ao fi m o século XIX, período em que muitos escravos


Chegou ao fim o fi caram subitamente sem casa e sem forma de garantir sua
século XIX, período subsistência. Eram expulsos das fazendas, pois, como haviam deixado
em que muitos
de ser escravos, deixava também o senhor de ser responsável pela sua
escravos ficaram
subitamente sem sobrevivência.
casa e sem forma
de garantir sua Alguns até preferiam continuar nos trabalhos em troca de comida
subsistência. e abrigo, garantindo, assim, que não fossem abandonados nas ruas,
Eram expulsos jogados a toda sorte de infortúnios.
das fazendas,
pois, como
haviam deixado O mais comum, no entanto, era que os negros se juntassem em
de ser escravos, áreas normalmente afastadas das cidades em que é característica a
deixava também falta de recursos e a baixa presença do Estado na forma de direitos
o senhor de ser básicos garantidos, como saúde, educação e saneamento básico
responsável pela efi cazes. Muitos estudiosos, dos quais citamos Marigoni (2007, p.[1]),
sua sobrevivência.
afi rma que:

Após a Lei Áurea, os negros libertos foram buscar moradia


em regiões precárias e afastadas dos bairros centrais das
cidades. Uma grande reforma urbana no Rio de Janeiro, em
1904, expulsou as populações pobres para os morros.

Desse modo, relacionam o surgimento de grandes favelas no Brasil como


resultado dos núcleos de negros libertos com a lei áurea e que se viram sem
trabalho e consequentemente sem remuneração que garantisse seu sustento
70
Capítulo 3 MOVIMENTO NEGRO E RESISTÊNCIA:
DAS SENZALAS ÀS AÇÕES AFIRMATIVAS

e de sua família. Ou seja, livre, porém sem as condições mínimas de serem


considerados cidadãos.

A partir do exposto, convidamos você a direcionar seu olhar para as novas


confi gurações que se criam no século XX e como caminham as relações de poder
entre brancos e negros, agora sem a escravidão ofi cialmente reconhecida.

Mas, antes, aproveitamos para recomendar a leitura do texto: “O


Apogeu do Império e o Rei Café (1850 – 1870)” Veja um trecho:

O Apogeu do Império e o Rei Café (1850 – 1870)

Café, base econômica do Segundo Reinado: superação da crise


regencial, a reorientação centralista e conservadora e a consequente
estabilidade do Império a partir de 1850 encontram-se intimamente
relacionadas à economia cafeeira.

Como vimos, a estrutura econômica e social do Brasil não


havia sido alterada com a emancipação política e continuava, em
essência, tão colonial e escravista quanto fora durante o período
colonial. Estruturada para a monocultura, a economia colonial e
escravista no Brasil prosperou quando produziu uma mercadoria
de grande aceitação no mercado europeu e, também, quando não
era ameaçada pela concorrência. Assim aconteceu com o açúcar no
passado e agora com o café, em meados do século XIX.

Desenvolvendo-se principalmente no sudeste (Rio, Minas e São


Paulo), a cafeicultura forneceu uma sólida base econômica para o
domínio dos grandes proprietários daquela região e favoreceu, enfi m,
a defi nitiva consolidação do Estado nacional.

Fonte: Disponível em: <http://www.culturabrasil.org/


reicafe.htm>. Acesso em: 12 set. 2012.

Atividade de Estudos:

1) Seu desafi o será criar uma linha do tempo sobre o contexto

71
Trabalho, Sociedade e Resistência na História Brasileira

histórico apresentado no texto “O Apogeu do império e o Rei


Café”. Lembre: assim como utilizado em uma famosa rede social,
você deve traçar uma linha temporal que será acompanhada
por acontecimentos associados às datas. Em outras palavras:
associar a cada data apresentada no texto um acontecimento
relevante sobre o ciclo do café e as implicações quanto à
escravidão. Esta atividade vai contribuir para você visualizar
em forma de esquema como se deu o fortalecimento da cultura
cafeeira no Brasil e seus impactos com relação à demanda por
mão de obra negra escrava.
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Movimento Negro no SÉculo XX


Vamos começar agora, caro(a) Cursista, a enfocar os movimentos de
resistência dos povos afrodescendentes e como estes atuaram como protagonistas
em eventos históricos no século XX.

Neste momento, precisamos destacar que os movimentos de resistência


estão presentes desde o inicio da escravidão, uma vez que as primeiras situações
de resistência aconteciam ainda em terras africanas. Também nunca é demais
ressaltar que não pretendemos esgotar toda a temática, mas pretendemos, sim,
72
Capítulo 3 MOVIMENTO NEGRO E RESISTÊNCIA:
DAS SENZALAS ÀS AÇÕES AFIRMATIVAS

chamar atenção para alguns dos eventos marcantes que são importantes, de
forma que tenhamos conhecimento e possamos entender um pouco mais sobre a
história dos movimentos de resistência à escravidão em nossa história.

E para citar uma das primeiras revoltas acontecidas no início do século,


vamos a 1910, a então capital do Brasil, o Rio de Janeiro.

Em uma manhã do dia 22 de Novembro de 1910, a população do Rio de


Janeiro acorda sacudida por tiros de canhões. Não sabia ainda a população de
que se tratava de uma revolta de marinheiros contra os castigos físicos utilizados
como forma dos comandantes disciplinarem os marinheiros desobedientes, mais
especifi camente o uso da chibata. Cabe destacar que esta forma de disciplinar os
desobedientes nas forças armadas era igualmente usada em alguns países da
Europa, como, por exemplo, a Inglaterra.

Mas os marinheiros estavam insatisfeitos com os castigos físicos e com um


agravante, a aplicação das penas era visivelmente mais rígida ao se tratarem de
marujos negros. Com esse tratamento, os marinheiros organizaram –se sob a
liderança de seu principal líder:

[...] o almirante negro João Cândido Felisberto. Cândido se


transformou em um herói nacional, estátua em praça pública,
símbolo do movimento negro, foi chamado de mestre-sala dos
mares por Aldir Blanc e João Bosco, em música cantada por
Elis Regina, e já virou enredo de escola de samba (PELLI,
2010, p.[1].)

Sobre o uso de castigos físicos, conforme Nascimento (2010, p.18):

os ofi ciais comandantes tinham de garantir a ordem


hierárquica. Na visão deles, fi ncar seu poder mesmo que
através de castigos severos era uma conduta corriqueira e
necessária. Havia pouca menção a formas diferenciadas de
mudar o comportamento de marinheiros indisciplinados e que
não se acertavam com a vida militar. Somente no início do
século XX começaram a implantar mudanças, procurando dar
incentivos ao bom comportamento, como cursos, promoção e
aumento de salário. Antes disso, o castigo físico era o recurso
mais utilizado. Porém, havia grande resistência dos ofi ciais
comandantes em largar as antigas práticas de punição. Era
como se fosse o recurso mais confi ável e efi caz para dominar
marinheiros indisciplinados. O problema é que marinheiros
de bom comportamento poderiam ser envolvidos num
confl ito qualquer e castigados sumariamente juntos àqueles
conhecidos indisciplinados.

É neste momento que entra a liderança de João Candido Felisberto, que


liderou o movimento em prol do fi m dos castigos físicos. Como os marinheiros,

73
Trabalho, Sociedade e Resistência na História Brasileira

mostraram habilidade no manejo dos navios que haviam tomado dos


Aos gritos de “viva ofi ciais, acabaram por gerar um maior impacto em seus comandantes
a liberdade” e
e no então recém empossado presidente do país, Hermes da Fonseca.
“abaixo a chibata”,
os amotinados
foram matando Convém lembrar que esse mesmo impacto possibilitou o aceite do
e expulsando então presidente para negociar a anistia com os revoltosos. E como os
oficiais, sargentos marinheiros fi zeram para alcançar tal objetivo?
e marinheiros
contrários ao Aos gritos de “viva a liberdade” e “abaixo a chibata”, os
movimento. Logo amotinados foram matando e expulsando ofi ciais, sargentos e
após, apontaram marinheiros contrários ao movimento. Logo após, apontaram os
os enormes enormes canhões contra a cidade e atiraram, vitimando pessoas
canhões contra a e duas residências (NASCIMENTO, 2006, p.19).
cidade e atiraram,
vitimando pessoas Desse modo, podemos relacionar a revolta da Chibata como
e duas residências
um importante movimento de resistência liderado por um líder negro
(NASCIMENTO,
2006, p.19). que causou a proibição da aplicação de castigos físicos na marinha
brasileira. Embora seu feito tenha signifi cativa importância na nossa
história, o Marinheiro “Mestre-sala dos Mares” acabou vitimado por um
câncer e internado em uma instituição psiquiátrica após ser expulso da marinha.

PARA SABER MAIS, leia o texto de Gonçalves (1998) e


acompanhe os três principais momentos, segundo o autor, dos
movimentos negros no Brasil.

No primeiro momento, libertando-se do passado escravista,


os militantes negros, como qualquer outro grupo étnico no início
do século, buscam formas organizativas capazes de habilitá-los,
enquanto atores políticos, para exigir mudanças nas cláusulas do
contrato social. Agem no sentido de construir um Brasil moderno.
Sem se afastarem dos princípios constitucionais, lutam por direitos
como liberdade de organização e de pensamento (idem, p. 249-
290). Alguns setores, tendo seus direitos religiosos violados, vão
criar mecanismos, com apoio de eminentes intelectuais, para incluir
no item “liberdade de culto” os referentes à tradição africana. Como
quaisquer brasileiros, vinculam-se a partidos políticos, aderem a
movimentos regionais, simpatizam com esta ou aquela ideologia.
No caso paulista, essas adesões são muito singulares (idem).
Em um contexto onde o confronto entre socialistas (de diferentes
vertentes) e fascistas assume contornos dramáticos, encontramos,
nos documentos das organizações negras, um mosaico de situações
muito instigantes. Contatos fortuitos com anarquistas, defesas de

74
Capítulo 3 MOVIMENTO NEGRO E RESISTÊNCIA:
DAS SENZALAS ÀS AÇÕES AFIRMATIVAS

teses socialistas e a constituição de uma Grande Frente Negra de


inspiração fascista (idem, p. 310-339); aliás, esta antecede, em termos
concretos, a instauração da Ação Integralista (idem, p.340-371).

No segundo momento, desapontados com o autoritarismo do


Estado Novo, os movimentos negros retomam suas atividades (na
clandestinidade)

com um manifesto no qual se defende, de forma intransigente,


a democracia (idem, p. 372-373). Da Revista Brasileira de Educação
Os movimentos negros no Brasil, deslocando-se o foco da agitação
para a capital federal, militantes negros de diferentes partes do país
se reúnem, em fóruns populares, para tentar interferir na elaboração
da carta constitucional de 1946. Do ponto de vista político, é preciso
assinalar que, pela primeira vez, o movimento negro rompe com
o regionalismo e o localismo do período anterior, para constituir
verdadeiros lobbies. Percebendo que o individualismo, enquanto
ideal de um dado modelo de desenvolvimento, poderia conduzi-los
a uma situação de completa solidão, os militantes, sem abandonar
as reivindicações visando ao acesso ao mundo moderno, iniciam
um movimento de retorno consciente à tradição. Esta reaparece sob
uma forma psicodramática — o Teatro Experimental do Negro. O
alvo primeiro: o texto de teatro. Reivindicam uma produção literária
nacional engajada na construção da personagem negra. Trata-se,
portanto, de um movimento estético em busca de afi rmação étnica.
A Negritude nasce no Brasil por meio da dramaturgia, criando uma
escola de atores e autores nacionais. Reverte-se, assim, a lógica
do projeto cultural nacionalista do Estado Novo. Esse processo
gerador de “subjetividade” condicionou todo o desenvolvimento
das lutas antirracistas até o presente. Inicia-se, aqui, a separação
entre tradição e racionalidade instrumental. No terceiro momento,
a ruptura entre a dimensão étnica e outras dimensões sociais se
efetua completamente. Nesta fase, o projeto do movimento negro
é ambicioso. Associando cidadania e identidade negra, política
e cultura, igualdade e direito à diferença, os militantes protestam
contra a exclusão socioeconômica da população negra (idem, p.467-
475). Entretanto, o mundo da tradição não era mais o mesmo. As
religiões afro-brasileiras haviam sofrido uma transformação muito
signifi cativa, a partir do encontro entre religiosos e intelectuais,
com vistas a construir uma cosmovisão dos rituais africanos, uma
teologia negra. Certos espaços antes considerados exclusivamente
“culturais” (ou de lazer) são utilizados enquanto meios de protesto
político. Novos temas passam a compor a agenda dos militantes,

75
Trabalho, Sociedade e Resistência na História Brasileira

além dos “velhos” problemas referentes ao mercado de trabalho e


acesso à educação; questões tais como violência racial, mulheres
negras, cultura juvenil, diversidade cultural e outros serão
discutidas nos fóruns de suas organizações (idem). Cada vez mais
a prática dos militantes estará marcada por alianças políticas,
as mais diferentes possíveis. As divergências internas assumem
dimensões gigantescas. O grande desafi o a ser enfrentado não é
apenas defi nir uma “linguagem específi ca” para se comunicar com
outros setores sociais, mas criar canais de comunicação entre
os próprios segmentos do movimento negro (idem). As grandes
utopias que sempre sustentaram seus programas de ação, tais
como elaborar um “projeto de sociedade”, foram abaladas como
qualquer outra metanarrativa neste fi nal de século. A fragmentação
da vida coletiva e a incerteza quanto aos rumos a serem seguidos
impõem-se, também, aos movimentos negros como realidades que
precisam ser consideradas no atual estágio da luta antirracista
(CONÇALVES, 1998, p.46-47).

O acontecido de 1910 no Rio De Janeiro abria um caminho com


possibilidades sem precedente, pois na década seguinte houve a criação de
associações que passavam a ter, entre outras preocupações, a educação. Essas
associações eram organizadas por lideranças negras que viam na possibilidade
de reunir os integrantes negros uma forma de manter a cultura, os costumes e
tradições de origem afrodescendente, bem como conscientizar seus integrantes
da importância da valorização de sua origem e de sua história. Em geral, as
associações existentes tinham como maior objetivo ofertar bailes em alguns dos
dias da semana. No entanto, estes novos clubes que surgiam:

[...] diferenciavam de outros espaços por suas propostas de


combate ao preconceito de cor e discriminação racial e a
defesa da “classe dos homens de cor”. Essas associações
foram exemplifi cadas em jornais, como O Clarim, e
associações cívicas, como o Centro Cívico Palmares e Centro
Humanitário José do Patrocínio [...] (LUCINDO, 2010, p.100).

Ou seja, se podia contar a partir dos anos 20 com associações que tinham
como missão integrar os negros e com isso aproximar a população negra dos
hábitos que eram valorizados pela elite branca.

Neste momento a imprensa tomou para si a missão de defesa dos direitos


das populações negras, como aconteceu em São Paulo com o jornal “O Clarim”,
que após sua primeira edição se tornou “O Clarim d’Alvorada”. Criado por Jayme
76
Capítulo 3 MOVIMENTO NEGRO E RESISTÊNCIA:
DAS SENZALAS ÀS AÇÕES AFIRMATIVAS

de Aguiar e José Correa Leite, o jornal, liderado por uma espécie de congregação
de jovens negros, entendia que a editoração do jornal era um importante meio
de criar visibilidade para o povo negro e sua cultura. Esse jornal ainda discutia
assuntos como educação – entendida como uma via para uma possível ascensão
social também para os negros – cultura, artes e esportes. Cabe destacar que
este jornal ainda foi o primeiro meio de comunicação a exercer uma militância
ideológica verdadeira. “O Clarim d’ Alvorada”:

[...] foi considerado como o primeiro de caráter combativo e


de defesa, da cidade. Os outros jornais, que não tinham os
mesmos assuntos que ele, foram denominados como literários,
por se preocuparem com questões culturais, artísticas e de
divulgação de alguma sociedade recreativa (LUCINDO, 2010,
p.101).

O jornal então se inseriu em um contexto de fomento à


O jornal então
participação com efetiva direção destas associações em prol da se inseriu em um
conquista dos direitos humanos para os afrodescendentes. Tal contexto de fomento
fomento alcançou tamanho envolvimento com as lideranças locais que à participação com
acabou por ser criado um movimento denominado de “Frente Negra efetiva direção
destas associações
Brasileira”. Conforme Oliveira (2008, p.9), “A Frente Negra Brasileira
em prol da conquista
é reconhecida, tanto por pesquisadores como por militantes, como o dos direitos
primeiro movimento negro brasileiro”. humanos para os
afrodescendentes.
Você, cursista, deve estar atento ao fato de que a união das
lideranças negras reunidas no movimento não resultou de ação
repentina ou fato isolado, mas sim era resultado de movimentos anteriores já em
associações de cunho artístico cultural.

Sobre as associações anteriores à “Frente Negra Brasileira”, é ainda Oliveira


(2008, p.9) que nos mostra que:

A historiografi a classifi ca as diversas associações fundadas


em São Paulo, antes da década de 1930, como possuidoras
de um caráter majoritariamente recreativo e benefi cente,
buscando atender as demandas mais urgentes da população
negra. De acordo com essas pesquisas, esses grupos agiam
incentivando laços de solidariedade e união, assim como
elaborando meios alternativos de convivência.

Com o êxito alcançado nas iniciativas de integração da população negra


como cidadãos brasileiros, e o fortalecimento da Frente Negra Brasileira, se deu
com seu apoio a criação do teatro Experimental do negro, que teve seu apogeu
nos anos 40 e 50 em uma proximidade com outro movimento da época, a UHC –
União dos Homens de Cor.
77
Trabalho, Sociedade e Resistência na História Brasileira

No fi nal da primeira metade do século, podemos dizer, conforme Oliveira


(2008), que foi vivenciado o “segundo momento” da história das organizações
do movimento negro no Brasil. É neste período que obtém destaque “O Teatro
Experimental do Negro (TEN)”, tendo com um de seus líderes Guerreiro Ramos.
Com explícito papel de crítico da sociedade que chegava à população através
dos encontros nos eventos oferecidos pelo TEN e, também, através do Jornal
“O Quilombo”. Na realização do I Congresso do Negro Brasileiro, a organização
do evento conseguiu reunir muitos dos principais intelectuais e demais militantes
do período.

Refl ita também, caro(a) Cursista, que essa criação mostra, além do fato
de que eles se organizavam, a exclusão igualmente vivenciada pelo negro na
sociedade. Também chamamos a atenção para o fato de que, para poder participar
de atividades culturais, ofertadas por agremiações e associações, precisavam
criar seus próprios clubes, teatros... E essa criação se dava pela cor. Muito mais
que um movimento de autonomia, isso pode ser entendido como uma forma de
exclusão ainda presente. Pense Nisso!!

Para saber mais sobre os movimentos negros nas décadas de


40 e 50, leia, na íntegra, o texto de Silva (2003), disponível no link:
http://www.scielo.br/pdf/%0D/eaa/v25n2/a02v25n2.pdf.

O Movimento Negro na Segunda


O Brasil vivenciava
a ditadura militar, Metade do SÉculo XX
que reprimia o
livre pensamento, Já na segunda metade do século, nas décadas de 60 e 70 o Brasil
fechava o estava fazendo parte de um contexto mundial que era de grandes e
congresso Nacional signifi cativas mudanças sociais, políticas, que refl etiam em mudanças
e fechou todos os
culturais, como, por exemplo, na Europa os movimentos de estudantes
partidos políticos,
repreendendo e das feministas; nos Estados Unidos, envolto com a guerra do Vietnã,
duramente aqueles acontecia a luta por direitos civis para o povo negro, muitos países
que tentassem africanos lutavam por sua independência.
constituir qualquer
organização que O Brasil vivenciava a ditadura militar, que reprimia o livre
fosse contra
pensamento, fechava o congresso Nacional e fechou todos os partidos
o governo.
políticos, repreendendo duramente aqueles que tentassem constituir

78
Capítulo 3 MOVIMENTO NEGRO E RESISTÊNCIA:
DAS SENZALAS ÀS AÇÕES AFIRMATIVAS

qualquer organização que fosse contra o governo. Não tardou para que a
repressão se voltasse também à população negra e suas organizações, já que
havia o projeto de criação de uma união do povo em torno de um sentimento de
pertencimento a uma nação e uma divisão social por cor poderia comprometer
esse ideário. Conforme Oliveira (2008, p. 11), “Somente em 1937, ano na qual se
encerram as atividades da Frente Negra, em decorrência do Estado Novo, Regina
Pahim Pinto computa cerca de 123 associações negras apenas na cidade de São
Paulo [...]”.

É neste mesmo período, ou seja, meados do século XX, que os


afrodescendentes brasileiros reuniam signifi cativa massa de negros que se valiam
de uma estratégia de resistência já utilizada na história brasileira. Com a criação
de diversas associações de cultura e lazer, passando uma falsa ideia de aceitação
do sistema vigente, quando na verdade estavam, criando possibilidades veladas
de reunir o povo negro e manter suas tradições, sejam elas, culturais sociais, de
aceitação ou resistência ao modelo hegemônico que se apresentava no Brasil no
período ditatorial.

Novamente voltava a ser bandeira do governo ditatorial a igualdade racial.


É neste período que as pessoas que fossem contra as ideias e ideais do
governo limitar eram tachadas de traidoras da pátria e novamente a resistência
e movimentação cultural dos povos afrodescendentes fi ca fora de evidência, mas
não desarticulada totalmente.

Tendo duração de mais de 20 anos (1964-1985), o regime militar passou


pela liderança de cinco presidentes. No entanto, o cenário em que o Brasil se
encontrava era de altos índices infl acionários e muitas obras paradas, que
praticamente paralisavam o país.

Com o crescente movimento social como, por exemplo, os sindicatos e novos


partidos políticos sendo criados (PDT, PT), em 1978, Ernesto Geisel dá início ao
que resultaria anos mais tarde, em 1985, no que fi cou conhecido como processo
de redemocratização nacional.

Vem então a abertura da política nacional e com ela voltam à cena os


movimentos negros, porém tendo um relativo apoio das políticas públicas, que
passam a valorizar a diversidade e a miscigenação do povo brasileiro.

É com este contexto que tem início no Brasil um momento pautado por
iniciativas governamentais e várias ONG’s (organização não-governamental), que
se articulam e dão início a um movimento que irá resultar em políticas de ações
afi rmativas, como você verá na sequência.

79
Trabalho, Sociedade e Resistência na História Brasileira

LEITURA COMPLEMENTAR: leia o texto de Ricardo Oriá


disponível no link: http://seer.bce.unb.br/index.php/textos/article/
view/5790/4798 .

O NEGRO NA HISTORIOGRAFIA DIDÁTICA:


IMAGENS, IDENTIDADES E REPRESENTAÇÕES

Resumo: A celebração de efemérides nacionais é uma


excelente oportunidade para procedermos algumas refl exões
sobre a construção da memória nacional em torno das chamadas
datas cívico-comemorativas. Só muito recentemente, a partir
do fi nal dos anos 80, em virtude da emergência do movimento
negro organizado, é que a data de 20 de novembro passou a
ser incorporada no calendário nacional como “Dia Nacional da
Consciência Negra”, em alusão à morte de um dos maiores
líderes afro-brasileiros da história nacional, Zumbi dos Palmares.
Este texto objetiva, pois, trazer algumas contribuições à refl exão
sobre essa efeméride nacional, a partir de uma análise crítica acerca
da imagem do negro, sua história e sua cultura, na produção editorial
do País.

Fonte: Disponível em: <http://seer.bce.unb.br/index.php/textos/


article/view/5790/4798>. Acesso em: 12 set. 2012.

Para falarmos sobre políticas afi rmativas, em primeiro lugar devemos


lembrar de que estamos falando de um país democrático, que conhece suas
origens no que se refere à importância das contribuições dos diversos povos
que contribuíram para a formação do povo brasileiro, mas que ainda sofre com
situações de desrespeito aos indivíduos e seus direitos, como também de racismo
e discriminação.

São recorrentes na mídia notícias cujo principal assunto é o desrespeito a


determinadas parcelas da população. E infelizmente não é menor o número de
manchetes que denunciam a intolerância contra pessoas devido simplesmente ao
fato de serem negros e negras.

Com este contexto é que trazemos a discussão: o que são as


políticas de ações afirmativas?

80
Capítulo 3 MOVIMENTO NEGRO E RESISTÊNCIA:
DAS SENZALAS ÀS AÇÕES AFIRMATIVAS

As políticas de ações afirmativas são defi nidas de modo geral


como políticas que benefi ciam grupos desfavorecidos na alocação
de recursos escassos, como empregos, vagas na universidade e
contratos públicos. O documento internacional mais importante sobre
a discriminação racial, a Convenção Internacional sobre a Eliminação
de Todas as Formas de Discriminação Racial (ICERD), defi ne
políticas de ações afi rmativas como medidas especiais planejadas
para promover o avanço de determinados grupos raciais e étnicos
(SILVA, 2006, p.134).

Estas, por sua vez, chegam ao Brasil e são discutidas sem que essencialmente
se entre em um consenso sobre suas amplitudes. Assim, as políticas a que ora
nos referimos também são conhecidas como políticas de cotas das universidades.

Atividades de Estudos:

1) E você é a favor ou contra a política de cotas? Faça um debate


com seus colegas de curso e responda no espaço abaixo:
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Trabalho, Sociedade e Resistência na História Brasileira

2) Leia o texto de Sabrina Moehlecke, disponível no link http://www.


scielo.br/pdf/cp/n117/15559 , e dê a sua opinião sobre as políticas
de ações afi rmativas. Construa um texto de 800 caracteres com
espaço e poste no ambiente virtual de aprendizagem.
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IndicaçÔes Bibliográficas
BACELAR, Jeff erson e Caruso, Carlos (org). Brasil: um país de negros? Rio de
Janeiro, Pallas; Salvador: CEAO, 1999.

HASENBALG, Carlos e Silva, Nelson do Valle. Estrutura social, mobilidade e


raça. São Paulo: Vértice, 1988.

MOURA, Clóvis. Brasil: as raízes do protesto negro. São Paulo: Global, 1983.

SANTOS, Hélio. A busca de um caminho para o Brasil. São Paulo: SENAC,


2001.

Algumas Considerações
Prezado (a) Pós-Graduando(a)!

Você está completando o terceiro capítulo de nosso caderno de estudos,


parabéns!!

Agora você já conhece um pouco sobre como se deu a construção dos

82
Capítulo 3 MOVIMENTO NEGRO E RESISTÊNCIA:
DAS SENZALAS ÀS AÇÕES AFIRMATIVAS

movimentos de resistência dos negros no Brasil. Conheceu sobre a carta de


Alforria e pôde refl etir sobre como, nos anos fi nais da escravidão no Brasil, ela
foi instrumento para abandonar uma grande população de idosos negros que
morriam na mendicância e nas ruas, abandonados.

Pôde refl etir sobre o papel da religião ao ser elemento unifi cador dos povos
africanos para o fortalecimento do movimento que fi cou conhecido como revolta
dos malês. Pôde acompanhar a revolta de João Candido e seus marinheiros na
Revolta da Chibata, que levou o Rio de Janeiro do início do século XX a momentos
de angústia e terror dos tiros de canhões dos navios amotinados.

Também pudemos, durante este capítulo, resgatar a história do século XX


no Brasil, conhecendo o papel importante da imprensa negra e, mais tarde,
das associações que dela surgiram. Caminhamos pela história e chegamos às
políticas de ações afi rmativas, que introduziram no Brasil a política de cotas.
Então, caro (a) Cursista, podemos continuar? Desejamos que você continue com
entusiasmo e dedicação. BONS ESTUDOS E BOA LEITURA!!

Referências
BETHELL, Leslie. CARVALHO, José Murilo de. Joaquim Nabuco e os
abolicionistas britânicos. Correspondência 1880 – 1905. Disponível em: <http://
www.scielo.br/pdf/ea/v23n65/a15v2365.pdf>. Acesso em: 25 out. 2012.

CHIAVENATTO, Julio José. O negro no Brasil : da senzala à Guerra do


Paraguai. 2. ed. São Paulo : Brasiliense, 1980.

GONÇALVES, Luiz Alberto de Oliveira. Os movimentos negros no Brasil:


construindo atores sociopolíticos. Set/Out/Nov/Dez 1998 N º 9. Disponível em:
<http://www.anped.org.br/rbe/rbedigital/RBDE09/RBDE09_05_LUIZ_ALBERTO_
DE_OLIVEIRA_GONCALVES.pdf>. Acesso em: 09 jun. 2012.

LUCINDO, William Robson Soares. Educação no pós-abolição: um estudo


sobre as propostas educacionais de afrodescendentes (São Paulo, 1918-1931).1.
ed. Itajaí : NEAB : Casa Aberta, 2010. 181 p.

MARINGONI, Gilberto. O destino dos negros após a Abolição. Disponível em:


<http://www.ipea.gov.br/desafi os/index.php?option=com_content&view=article&id
=2673:catid=28&Itemid=23>. Acesso em: 25 out. 2012.

NASCIMENTO, Álvaro Pereira do. Contra a Chibata, Canhões. In Revista de

83
Trabalho, Sociedade e Resistência na História Brasileira

História da Biblioteca Nacional. Ano 1, Nº 9 Abril 2006. Dossiê Rio de Janeiro.


p.19-21.

_____ A Revolta da Chibata e seu centenário. Disponível em: <http://www2.fpa.


org.br/sites/default/fi les/revoltachibataperseu5.pdf>. Acesso em: 10 jun. 2012.

PELLI, Ronaldo. Revolta da Chibata: 100 anos. Disponível em: <http://www.


revistadehistoria.com.br/secao/reportagem/revolta-da-chibata-100-anos>. Acesso
em: 25 out. 2012.

OLIVEIRA, Laiana Lannes de. Entre a miscigenação e a multirracialização:


brasileiros negros ou negros brasileiros? Disponível em: <http://www.historia.uff .
br/stricto/teses/Tese-2008_OLIVEIRA_Laiana_Lannes_de-S>. Acesso em: 26
out. 2012.

SILVA, Graziella Moraes Dias da. Ações Afi rmativas no Brasil e na África do Sul.
Tempo Social, Revista de sociologia da USP, v. 18, n. 2 Disponível em: <http://
www.scielo.br/pdf/ts/v18.n2/a07v18n2.pdf>. Acesso em: 10 jun. 2012.

84
C APÍTULO 4
Resistência na História Brasileira

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

 Conhecer e analisar políticas de integração no sistema legislativo brasileiro.

 Desenvolver a compreensão do desajustamento social e a importância das


políticas de integração.

 Conhecer projetos de combate ao racismo.


Capítulo 4 RESISTÊNCIA NA HISTÓRIA BRASILEIRA

ConteXtualização
Prezado (a) Pós-Graduando (a).

Você dará início, agora, ao quarto e último capítulo de seu caderno de


Estudos de Trabalho, Sociedade e Resistência na História Brasileira. Contamos
com sua seriedade e entusiasmo nas leituras e refl exões propostas. Por
isso convidamos você a refl etir sobre as políticas de integração no sistema
legislativo brasileiro.

Você verá como vai se constituindo o cenário em que será pensada e


desenvolvida a desconstrução das imagens dos negros na cultura de um modo
geral. Movimento este que se fez através da valorização da música, da poesia
enfi m, da arte negra de um modo geral. Verá, também, sobre as políticas de
afi rmação, mais especifi camente a política de cotas, e o impacto para a população
afrodescendente que passa a ter oportunidades que antes estavam acessíveis a
restritos grupos da população brasileira.

Com esse pensamento, passamos a apresentar, também neste capítulo,


várias personalidades negras que, em épocas distintas, se destacaram na
sociedade nas mais diversas áreas em que atuaram. Quer por meio da religião,
da poesia, ou até mesmo nos movimentos sociais.

Então, caro(a) cursista, vamos começar?!

Boa leitura!

A Desconstrução das Imagens


Negativas dos Africanos Herdados
da Literatura Colonial

Você acompanhou, ao longo deste caderno de estudos, algumas refl exões


sobre como se construiu a história dos negros no Brasil. História esta que está
diretamente relacionada ao movimento de escravidão iniciado pelos portugueses,
que inicialmente levavam os escravos africanos para Portugal. Lá, os negros já
trabalhavam enquanto permitiam aos portugueses lançarem-se ao mar em busca
de um comércio que cresceu e, posteriormente, passaram a enviar para a colônia
brasileira milhares de africanos e africanas escravizados (as).
87
Trabalho, Sociedade e Resistência na História Brasileira

Esses eram vendidos por peças e seu valor variava de acordo com altura,
qualidade dos dentes, força muscular, enfi m, por critérios físicos que precisavam
mostrar condições para trabalhar para os senhores de engenho, ou até mesmo
para outros escravos, mas que acabavam por denotar sempre uma imagem de
subordinação e aptidão para o trabalho. Aliás, trabalhar para outros escravos era
comum, pois, muitos escravos de ganho juntavam dinheiro e adquiriam também
suas peças, que além de prestígio social, ainda lhes rendia alguma forma de renda.

No cultivo da cana, nos serviços no engenho ou na casa grande, os


escravos (as) vivenciavam, além da submissão a castigos físicos, a obrigação
de realizar os caprichos dos “sinhozinhos e sinhazinhas”. Estes iam desde a
prostituição das escravas às brincadeiras infantis, como galopar em um cavalo
montado em um escravo.

Figura 5 – Escravo brincando com “sinhazinha”

Fonte: Disponível em: <http://fabiopestanaramos.blogspot.com.


br/2011_01_01_archive.html>. Acesso em: 15. set 2012.

Perceba que o sadismo não tinha idade para mostrar-se como característica
dos brancos no tratamento dispensado aos escravos. Mas o que nos interessa
é mostrar como os negros viraram o jogo e, de povo subjugado, passa ao longo
da história brasileira, a adquirir legitimação enquanto cidadão brasileiro. Cabe
destacar que não pretendemos, com esse pensamento, levar você a acreditar
que não existe racismo e preconceito no Brasil, mas sim mostrar que, além das
revoltas, levantes e movimentos de resistência, houve sim uma miscigenação dos
costumes, um sincretismo religioso e um hibridismo cultural e racial entre negros
e brancos ao longo de nossa história.

Sobre o sincretismo religioso presente em diversas expressões no Brasil


hodierno, você acompanhou no caderno de estudos de Cultura e religiosidade
afro-brasileira e pode identifi car ao longo da história vários momentos de
aproximação entre as temáticas abordadas nestes dois cadernos. Portanto,

88
Capítulo 4 RESISTÊNCIA NA HISTÓRIA BRASILEIRA

vamos nos ater neste momento em refl etir sobre algumas maneiras das quais os
negros infl uenciam diretamente a cultura brasileira, seja na utilização de palavras
de origem africana, seja na música através de ritmos diretamente associados aos
povos negros como samba, pagode, hip-hop, enfi m, nas diversas expressões
musicais, como também na literatura, por meio de autores consagrados na
literatura nacional como, por exemplo, o poeta Cruz e Souza. Ou, ainda, nas
atuais celebridades, artistas e demais pessoas que infl uenciam de alguma
maneira a opinião pública no Brasil e com isso arrastam multidões a aceitarem
novos padrões.

INEFÁVEL

Nada há que me domine e que me vença


Quando a minha alma mudamente acorda...
Ela rebenta em fl or, ela transborda
Nos alvoroços da emoção imensa.
Sou como um Réu de celestial sentença,
Condenado do Amor, que se recorda
Do Amor e sempre no Silêncio borda
De estrelas todo o céu em que erra e pensa.

Claros, meus olhos tornam-se mais claros


E tudo vejo dos encantos raros
E de outras mais serenas madrugadas!

Todas as vozes que procuro e chamo


Ouço-as dentro de mim porque eu as amo
Na minha alma volteando arrebatadas.

CRUZ E SOUSA

Fonte: Disponível em: <http://www.jornaldepoesia.jor.


br/csousa.html>. Acesso em: 15 set. 2012.

CRUZ E SOUSA - BIOGRAFIA (1861 - 1898)

João da Cruz e Sousa nasceu em Desterro, atual Florianópolis.

89
Trabalho, Sociedade e Resistência na História Brasileira

Filho de escravos alforriados pelo Marechal Guilherme Xavier de


Sousa, seria acolhido pelo Marechal e sua esposa como o fi lho que
não tinham. Foi educado na melhor escola secundária da região, mas
com a morte dos protetores foi obrigado a largar os estudos e trabalhar.

Sofre uma série de perseguições raciais, culminando com a


proibição de assumir o cargo de promotor público em Laguna, por
ser negro. Em 1890 vai para o Rio de Janeiro, onde entra em contato
com a poesia simbolista francesa e seus admiradores cariocas.
Colabora em alguns jornais e, mesmo já bastante conhecido após
a publicação de Missal e Broquéis (1893), só consegue arrumar um
emprego miserável na Estrada de Ferro Central.

Casa-se com Gavita, também negra, com quem tem quatro


fi lhos, dois dos quais vêm a falecer. Sua mulher enlouquece
e passa vários períodos em hospitais psiquiátricos. O poeta
contrai tuberculose e vai para a cidade mineira de Sítio se tratar.
Morre aos 36 anos de idade, vítima da tuberculose, da pobreza e,
principalmente, do racismo e da incompreensão.

Fonte: Disponível em: <http://www.jornaldepoesia.jor.


br/csousa.html>. Acesso em: 15 set. 2012.

Sugestão de atividade para ser desenvolvida com seus


alunos(as) na escola: peça a eles para formarem duplas e dê a
sugestão para que façam uma paródia da poesia de Cruz e Sousa,
com a temática Cultura Negra no Brasil Atual. Como forma de
incentivar os (as) alunos (as), você pode fazer um mural com as
paródias, ou também fazer um varal literário. É uma boa oportunidade
de expor os trabalhos e quem sabe ampliar as discussões sobre a
temática para outras séries da escola onde você trabalha e envolver
outros professores (as).

Outra forma de difusão do conhecimento na escola é o livro didático, e ele,


por vezes, pode trazer imagens negativas de determinadas parcelas da população
brasileira como, por exemplo, negros, indígenas, mulheres, ciganos entre outros...
É Scoz (2012, p.16) que chama a atenção para o fato de que:
90
Capítulo 4 RESISTÊNCIA NA HISTÓRIA BRASILEIRA

Assim, tal como argumenta Carvalho (2006), o livro didático


pode infl uenciar substancialmente a abordagem do conteúdo
estabelecido no currículo. Determinados livros apresentam
uma imagem estereotipada sobre determinados grupos
sociais, como os descritos acima, e, assim, podem contribuir
para rotular, desqualifi car e estimular preconceitos em relação
a esses grupos.

Figura 6 – Família de escravos

Fonte: Disponível em: <http://fabiopestanaramos.blogspot.com.


br/2011_01_01_archive.html>. Acesso em: 15 set. 2012.

Figura 7 - Escravos

Fonte: Disponível em: <http://www.klepsidra.net/klepsidra4/


africa.html>. Acesso em: 15 set. 2012.

91
Trabalho, Sociedade e Resistência na História Brasileira

Por isso, o cuidado na escolha do livro didático e demais materiais a serem


utilizados como referência para os alunos. Pois, deste modo, estaremos atentos
ao que se refere a perpetuarmos determinados preconceitos ou, o que seria o
ideal: trabalharmos em prol da legitimação da ideia de que todos os sujeitos são
dignos de respeito e merecem tratamento como cidadãos.

No que se refere às pesquisas e trabalhos acadêmicos desenvolvidos


sobre a presença dos povos negros no Brasil e como esse povo se estabeleceu
em um universo de “trabalhadores assalariados”, Lara (1998, p. 33), em seu
artigo, comenta:

De modo geral, a oposição entre escravidão e trabalho livre, e


os paradigmas da “transição” e da substituição, encarregam-
se de afastar os ex-escravos da cena histórica. Diante dos
números impressionantes do contingente imigrante e da
ausência de dados censitários sobre os negros, o silêncio
parecia explicar-se por si mesmo – corroborado pelos
paradigmas que governavam a explicação histórica na
bibliografi a sobre a escravidão e sobre os “trabalhadores”.

Cabe destacar que, com o passar do tempo e devido ao reconhecimento


do importante papel desempenhado pelos povos afrodescendentes ao longo de
sua trajetória no Brasil, e da legitimação do reconhecimento da igualdade racial
existente em nosso país, muito já se modifi cou e tais mudanças refl etem também
na historiografi a brasileira com relação à formação do povo brasileiro.

O Negro e a Cultura Negra e


Brasileira
Embora ao longo da história brasileira o negro tenha sido subjugado, este
mesmo povo esteve sempre buscando maneiras de se integrar à sociedade sem
perder totalmente aspectos de sua cultura e que hoje, são por vezes incorporados
e difundidos aos costumes das classes hegemônicas.

Exemplo disto são algumas palavras que passaram a fazer parte do


vocabulário da população, não importando a classe social ou cor de pele. Veja
algumas palavras que têm origem africana: atabaque, axé, banzo, beleza,
candomblé, congado, orixá, quilombo, quizomba, umbanda, vatapá, vodu
(AGOSTINHO, ROCHA, 2001).

Ou como mostra Benjamin (2008, p.41):


92
Capítulo 4 RESISTÊNCIA NA HISTÓRIA BRASILEIRA

Nas diversas regiões do país, repetem-se nomes como Cafundó,


Catende, Caxangá, Massangana, moçamba, mossamedes,
quandu, quissamã e, especialmente, Mucambo e Quilombo, que
lembram os territórios ocupados por escravos fugidos. Também
vieram da África alguns dos nossos gestos – como o muxoxo, o
cafuné, a umbigada, a posição-de-socó e o tocar-a-terra.

Como devemos lembrar, são diversas as regiões que desenvolveram núcleos


de africanos e seus descendentes, assim, são igualmente diversas as infl uências
na língua brasileira, tanto no modo, quanto na intensidade, de acordo com cada
região ou localidade.

Desse modo, também é importante lembrar que, assim como o português no


Brasil sofreu infl uência das línguas africanas introduzidas no país, igualmente na
África os idiomas receberam infl uência de seus colonizadores e dos povos que se
relacionam com eles neste mundo globalizado. Isto é importante de ser lembrado,
pois deste modo, não devemos dizer que os idiomas e dialetos ainda hoje usados
pelos povos africanos sejam os mesmos em terras brasileiras.

PERSONALIDADE NEGRA:
João Cândido Felisberto

Militar brasileiro, João Cândido


Felisberto, o Almirante Negro,
nasceu em 24 de junho de 1880 em
Encruzilhada, Rio Grande do Sul,
numa família de ex-escravos. Entrou
para a Marinha do Brasil aos 14
anos, onde presenciou penalidades a
chibatadas sobre seus companheiros,
apesar de este tipo de castigo ter sido
abolido em 1890.

No ano de 1910, liderada


por João Cândido, a tripulação da
embarcação Minas Gerais se revoltou
contra seu comandante, que castigara um dos homens da tripulação
com 25 chibatadas. O marinheiro passou a reivindicar o fi m dos
maus-tratos psicológicos e das punições corporais, liderando assim
a Revolta da Chibata.

Outras reivindicações do movimento foram o aumento de salário,


93
Trabalho, Sociedade e Resistência na História Brasileira

a redução da jornada de trabalho e a anistia dos revoltosos. A principal


conquista da rebelião foi o compromisso do governo da época de acabar
com a chibata na Marinha. João Cândido foi expulso da corporação
ainda em 1910, sob acusação de ter favorecido os rebeldes. Faleceu
no Rio de Janeiro aos 89 anos.

Fonte: Disponível em: <http://www.palmares.gov.br/


personalidades-negras-6/>. Acesso em: 10 set. 2012.

CONFIRA PARTE DA REPORTAGEM DA ISTO


É DA DÉCADA DE 1990:

“A politização dos manos

O hip-hop – movimento que engloba o rap, o break (dança) e o


grafi te – tem hoje uma presença forte na periferia e vem mostrando
preocupação com a área social. Organizado nos quatro cantos
de São Paulo, o movimento se espalha para outros estados. Os
Racionais MC´s seriam apenas um dos dez mil grupos de rap que
atuam hoje na periferia paulistana, não só na música, mas também
em movimentos sociais e até em articulações políticas. Os rappers
se reúnem nas chamadas posses (que teriam o mesmo sentido
de gangues ou turmas, só que com um caráter pacífi co). Nesses
locais, são realizados shows, campanhas de arrecadação de roupas
e alimentos para famílias carentes, mobilizações para reivindicar
parques e bibliotecas e até debates sobre marxismo. (...)”

Fonte: Nascimento, Gilberto. Heróis da quebrada.


In: Isto É, n. 1534, 24 fev. 1999.

PolÍticas de Integração do Negro na


Sociedade Brasileira
Ao falarmos de ações afi rmativas, despertamos posicionamentos a favor e
alguns contrários, estes, talvez, até por falta de conhecimento sobre a história do
povo africano no Brasil e seus descendentes. Ou, quem sabe, tenham o privilégio
94
Capítulo 4 RESISTÊNCIA NA HISTÓRIA BRASILEIRA

de conviver em grupos sociais que não possuem preconceitos e racismo. Enfi m, o


universo de possibilidades e argumentos não é pequeno. Desse modo, partimos
da exposição dos dados do Instituto Brasileiro de Geografi a e Estatística (IBGE),
apresentados no trabalho de Vogt (2004):

Segundo esses dados, na Universidade Federal do Rio de


Janeiro (UFRJ), o número de alunos brancos é de 76,8%, o
de negros 20,3% para uma população negra no estado de 44,
63%; na Universidade Federal do Paraná (UFPR) os brancos
são 86,6%, os negros, 8,6%, para uma população negra de
20,27%; na Universidade Federal do Maranhão (UFMA),
brancos são 47%, negros, 42,8% e a população negra no
estado, 73,36%; na Universidade Federal da Bahia (UFBA),
50,8% são brancos, 42,6% negros e 74,95% a população
negra do estado; na Universidade de Brasília (UnB), são
brancos 63,74%, são negros 32,3%, tendo o Distrito Federal
uma população negra de 47,98%; na Universidade de São
Paulo (USP), os alunos brancos somam 78,2%, os negros,
8,3% e o percentual da população negra no estado é de 27,4%
(VOGT, 2004, p.[1]).

É importante que você perceba como ainda é desproporcional a quantidade


de negros universitários com relação à população negra nos estados estudados.

Atividades de Estudos:

1) O que você pensa sobre o fato desta desproporcionalidade ser


justifi cada pela pequena parte da população que se identifi ca
como afrodescendente?
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Trabalho, Sociedade e Resistência na História Brasileira

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2) Qual a sua opinião sobre as políticas de ações afi rmativas para


acesso a universidade? Como você vê o acesso e a permanência
de afrodescendentes nas universidades e centros universitários
espalhados pelo Brasil? Faça um debate com a sua turma e poste
as suas refl exões no Ambiente Virtual de Ensino e Aprendizagem,
assim todos terão acesso à diversidade de opiniões que tem seu
grupo de estudos.
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Assista ao vídeo: “Políticas de Ações Afi rmativas no Brasil”, no


link: http://youtu.be/XWcCJdKQA8g .

SINOPSE: O passado colonial do Brasil continua presente. Mais


de 120 anos depois da abolição da escravatura, é fácil perceber
quais heranças carregam os netos e bisnetos dos cerca de 3 milhões

96
Capítulo 4 RESISTÊNCIA NA HISTÓRIA BRASILEIRA

negros africanos escravizados aqui. “Políticas de Ações Afi rmativas


no Brasil” é tema do Sala de Convidados Entrevista.

Fonte: Disponível em: <http://www.youtube.com/


watch?v=XWcCJdKQA8g>. Acesso em: 10 set. 2012.

Com o fortalecimento do movimento negro, ocorre gradativamente a sua


legitimação como movimento social, com suas reivindicações sendo absorvidas
em diversas intensidades pela sociedade brasileira. Já apresentamos algumas
situações em que fi ca reconhecidamente aceita a infl uência da cultura africana no
Brasil, gerando assim uma cultura afrodescendente.

Por isso, nesse momento abordaremos a lei 10.693 de 2003, que institui
a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Afro-Brasileira no currículo
escolar. Também abordaremos as ações afi rmativas que se traduzem em cotas
para alunos afrodescendentes nas universidades brasileiras.

Outro ponto que apontamos como importante para refl etirmos é o fato de
que as ações afi rmativas podem ser observadas sob a ótica da abrangência que
elas e seus efeitos passam a ter na sociedade. Tais políticas passam a ter uma
fi nalidade de combater o racismo, nas mais variadas formas de expressão, seja
ele em forma de preconceito ou de qualquer outra forma de injustiça social.

Martins (2004, p.22) nos lembra da importância de trazer ao debate uma


“discussão prévia” que, segundo ele, se faz importante:

[...] sobre a desigualdade no acesso a bens e serviços por


parte de etnias ou grupos sociais diferenciados no contexto
de uma sociedade que ao tempo que os envolve formalmente
como atores sociais, em grande medida também os exclui do
que as desigualdades sociais e o poder político limitado são
evidências. Enquanto o senso comum tende a naturalizar
as desigualdades no acesso e usufruto dos bens materiais
e simbólicos, torna-se relevante contextualizar tal realidade
como um aspecto da dominação política que submete parcela
majoritária da população à exploração por parte de uma elite,
vista aqui como um conjunto de pessoas que ‘dispõem de
maior acesso aos valores e ao seu controle’ (NINA, 1986:
1036 apud SILVA, B. 1986).

a) A Lei 10.639/2003 e o combate ao racismo

A lei de número 10.639 foi criada a partir de 9 de Janeiro de 2003. Você

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Trabalho, Sociedade e Resistência na História Brasileira

já sabe, caro (a) Cursista, que uma lei não nasce de um dia para outro, pura
e simplesmente. Ou seja, o que resultou na criação da lei foi a atuação do
movimento negro organizado que fez com que suas lutas fossem reconhecidas
e, assim, passasse a ser legitimada a necessidade de se ter na escola, local
de formação da população, a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura
Afro-Brasileira.

Em análise sobre o que estabelece a referida lei, Scoz (2012, p.34) diz:

De acordo com a lei, essas temáticas devem abarcar a luta


dos negros no nosso país e sua contribuição na formação
da sociedade brasileira, a serem ministradas, especialmente,
nas disciplinas de Educação Artística, de literatura e História
Brasileiras, mas devendo ser contempladas em todo o âmbito
do currículo escolar. O texto da lei ainda determina, em seu
artigo 79-B, ofi cialmente, a inclusão do dia 20 de novembro
como o ‘Dia Nacional da Consciência Negra’.

Cabe destacar que a criação da lei é importante como mais uma forma
de tentar cobrir uma lacuna existente no que se refere ao ensino de história da
África, dos africanos e de seus descendentes aqui no Brasil. Também caberá a
você, caro(a) Pós-Graduando (a), fazer sua parte, e veja, você terá uma ótima
oportunidade de aplicar na prática os conhecimentos adquiridos ao longo de todo
este curso e, é claro, deste nosso caderno de estudos também, não é mesmo?

Para acessar a Lei 10.693, de 9 de janeiro de 2003, NA íntegra,


veja o link: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/L10.639.htm

PERSONALIDADE NEGRA: LUIZA MAHIN

Todos os que leem sobre a vida de Luis Gama são informados


sobre a existência de Luiza Mahin – sua mãe, mas sua descrição é
escassa, despertando assim a curiosidade dessa africana de etnia
mina-jeje que participou de uma das maiores rebeliões negras e
mulçumanas – a Revolta dos Malês, em 1835.

Sobre o ano de nascimento de Luiza Mahin, não dá para

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Capítulo 4 RESISTÊNCIA NA HISTÓRIA BRASILEIRA

defi nir. Ela teria vindo para o Brasil embarcada no Forte de El-
Mina ou São Jorge da Mina, localizado no antigo reino de Daomé.
Os escravizados enviados por lá são em geral prisioneiros de
guerra ou capturados na região de “Biad-Es-Sudan” – em grande
maioria praticantes do Islamismo. Outro dado interessante é
que Mahin, do sobrenome dela, na verdade é referencial a sua
descendência da etnia mahi – povo ioruba, também de Daomé.
E outra informação não confi rmada é que ela pudesse ser
uma princesa, por isso o grau de formação política que tinha.
A discrição física de Luiza Mahin é comum em qualquer fonte
de informação: negra, baixa, magra e bonita; de personalidade
forte, solidária, mas um tanto sofrida. Profi ssionalmente,
era vendedora de quitutes e teria obtido a liberdade
em 1812. Essa data é colocada com referência de seu
nascimento, mas sem documentos ofi ciais para confi rmação.
Religiosamente, Luiza era mulçumana, se negando a ser submetida
aos ritos católicos sistematicamente. Era letrada em árabe e lia o
Alcorão, sendo inclusive responsável pela disseminação das palavras
do profeta Maomé aos negros não convertidos.

Unida com um grupo de mais de 600 pessoas, participou


da organização da frustrada Revolta dos Malês, de 1835. Na
madrugada no dia 25 de janeiro, após meses de arregimentação
e planejamento, pretendiam instalar em Salvador um governo
teocrático inspirado no Islã. O evento tem motivação nas
Jihads – guerras santas – que ocorreram simultaneamente
na África, visando a destituição de governantes coniventes
com a Escravidão e, no ponto de vista islâmico, infi éis.
A estratégia ruim como um castelo de cartas, ao ser delatado ou
relatado por Guilhermina. Outro personagem polêmico: há quem diga
que ela fez isso sob tortura, outros que ela teria procurado o marido
que, sendo um dos participantes da organização, se ausentava
sempre à noite – despertando seu ciúme; e outros ainda dizem que ela
teria procurado o juiz de paz de Salvador, pois devia favores a ele e de
posse da informação, foi retribuir. E uma nova versão responsabiliza
um marceneiro afro-brasileiro de ter denunciado o grupo.
Enfi m: [...] os historiadores são unânimes em dizer que a Revolta dos
Malês seria fatalmente derrotada, pois não contava com apoio de
toda população negra, pois os organizadores buscaram apenas os
convertidos ao Islã e determinadas etnias africanas. Os excluídos,
temerosos de um governo negro, mas islâmico, imaginaram que
seriam inclusive perseguidos pelos vitoriosos pela adesão ao
catolicismo ou as religiões de matriz africana.

99
Trabalho, Sociedade e Resistência na História Brasileira

O certo é que Luiza Mahin foi surpreendida com seu grupo pela
força policial e, obrigados a se lançarem em combate sem o elemento
surpresa, foram derrotados. Ela e outras lideranças conseguiram
escapar da perseguição, partiu para o Rio de Janeiro, deixando Luis
Gama, com apenas 5 anos, aos cuidados de seu pai verdadeiro.

O destino de Luiza Mahin é apenas sugerido. Há rumores de


que tenha participado de outros movimentos de insurreição na capital
do Império e que dessa vez foi capturada, foi detida e deportada para
África. O próprio Luis Gama tentou por toda vida ter informações do
destino de sua mãe, mas sem sucesso.

Fonte: Disponível em: <http://marconegro.blogspot.com.br/2005/07/luiza-


mahin-lider-da-revolta-dos-mals.html>. Acesso em: 10 set. 2012.

b) A Política de Cotas

A discussão sobre esta temática costuma despertar, em ambos os lados,


discursos infl amados e posicionamentos que beiram por vezes o radicalismo.
Nosso propósito, neste momento, será expor alguns dos posicionamentos de
cada um desses lados, assim você poderá refl etir e analisar para se posicionar
perante esta temática.

Um dos argumentos que pesa contrário à lei de cotas é a parca


argumentação de que no Brasil não se poderia definir com exatidão quem é
negro, pardo, branco, enfi m, sobrepõe a dúvida e alega com este pensamento,
a falta de legitimidade de tais reivindicações dos movimentos negros e demais
instituições que os apoiam.

Em contraposição, podemos refl etir que este argumento é utilizado pura e


simplesmente quando o assunto é cotas, pois nas demais situações, no cotidiano,
por exemplo, são evidenciadas as situações de racismo e preconceito com a
população Afrodescendente em todas as regiões do país.

A (in)existência do racismo seria outro ponto no qual se apegam os contrários


às cotas, pois alegam a cordialidade existente no Brasil entre todas as etnias,
e em uma demonstração de, no mínimo, ingenuidade, e como já o havia feito
Gilberto Freyre em “Casa Grande e Senzala”, prega o ideário de uma relação
pacífi ca e de aceitação da miscigenação como algo perene. Este pensamento deu
origem ao mito da miscigenação racial pacífi ca.

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Capítulo 4 RESISTÊNCIA NA HISTÓRIA BRASILEIRA

Sobre o racismo no Brasil, veja o que dizem alguns estudiosos conforme


trabalho de Martins (2004, p.32):

Fundamental na luta pela admissão das políticas de ação


afi rmativa para os negros no Brasil é o reconhecimento de
que há racismo e discriminação e de que tais problemas
dizem respeito ao conjunto da sociedade e ao Estado. Como
desenvolve M.de L. Teodore (1996): ‘é por ser um problema
global da sociedade brasileira que o racismo é tão incômodo
e precisa ser combatido. Combater o racismo no Brasil implica
uma mudança radical da sociedade e do Estado (id.: 95). E
ainda: é por ser radicalmente causa e consequência de vários
outros problemas nacionais, que o racismo requer políticas
públicas e ação vigorosa de toda a sociedade (id.: 97).

Ou seja, se faz cada vez mais urgente a necessidade de ampliação dos


debates, bem como da ampla conscientização do povo brasileiro. Não falamos
aqui de determinados segmentos ou classes específi cas, mas sim dos envolvidos
com educação, saúde, política, mídias, enfi m, é preciso um trabalho conjunto para
que possamos almejar uma sociedade com equidade entre os indivíduos.

Surgida na década de 1990, as políticas afi rmativas tinham em sua gênese


a discussão sobre sua duração. Em outras palavras, entendia-se inicialmente que
as cotas de acesso deveriam ser uma política transitória, mas que passasse a
suprir a “histórica” defasagem do número de negros que chegam à universidade.

Sobre este ponto, é importante refl etir que, mesmo as pessoas favoráveis
à implementação desta lei, advertem para que se preste atenção ao fato de
que as diferenças na formação que preparam para a universidade incluem as
desigualdades sociais e, a partir disto, esta problemática deixa de ser apenas
uma questão racial. Ou seja, deve-se perceber todo o contexto que implica no
baixo índice de alunos oriundos das escolas de ensino fundamental públicas que
chegam à universidade no país.

Ainda é preciso lembrar que a discussão precisa ter o foco também na


permanência e sucesso na trajetória pela universidade, fato este que torna ainda
mais complexa a discussão sobre cotas, pois, neste caso, os fatores sociais
que infl uenciam a caminhada dos alunos negros ou de escolas públicas nas
universidades permanecem presentes nas vida dos alunos no ensino superior.

E você, caro (a) Cursista, o que pensa a respeito das cotas?

Para saber mais sobre a política de Cotas no Brasil leia na


integra os seguintes textos:

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Trabalho, Sociedade e Resistência na História Brasileira

TEXTO 1 => Políticas de ação afi rmativa em benefício da


População negra no Brasil: um ponto de vista em defesa de cotas.
Texto de Kabengele Munanga, disponível em:

MUNANGA, K. “Políticas de ação afi rmativa em benefício da


população negra no Brasil – um ponto de vista em defesa de cotas”.
Revista Espaço Acadêmico, mar. 2003. Disponível em: <http://www.
espacoacademico.com.br/022/22cmunanga.htm>. Acesso em: 10
set. 2012.

RESUMO: Neste artigo, o autor argumenta favoravelmente


à adoção das políticas de ação afi rmativa no Brasil, haja vista os
resultados positivos alcançados em outros países. Além disso, rebate
os cinco argumentos mais comuns levantados contra a adoção das
ações afi rmativas no Brasil, a saber: a) não se sabe quem são os
negros no Brasil; b) as políticas de ação afi rmativa estão sendo
abandonadas nos Estados Unidos; c) as cotas não são destinadas
aos índios; 4) as cotas poderiam prejudicar a imagem profi ssional
dos negros que foram benefi ciados; 5) as cotas levariam a uma
degradação da qualidade de ensino.

TEXTO 2 => Cotas na universidade pública – direito ou privilégio?


Texto de Geisa Magela Veloso. Disponível em: <http://www.ruc.
unimontes.br/index.php/unicientifi ca/article/viewArticle/183>. Acesso
em: 10 set. 2012.

RESUMO: A pesquisa discute concepções docentes acerca da


reserva de vagas para afrodescendentes, no âmbito da Unimontes.
A discussão teve por interlocutores professores das Ciências
Humanas que, por meio de questionários, revelaram um mosaico de
representações, divididas entre a oposição, aberta ou dissimulada,
e a aquiescência; entre a resistência à reserva de vagas e a defesa
irrestrita do projeto. É possível afi rmar que a resistência em relação
às cotas está articulada à crença de que o processo, em si, é
promotor da discriminação racial. Contudo, há os que acreditam que
as cotas não provocam, apenas fazem vir à tona a discriminação
que já existe na sociedade, sendo que a possível ocorrência de
preconceitos e constrangimentos, no interior da universidade, não
se apresenta como fenômeno produzido pela reserva de vagas, mas
está ligada às representações já constituídas pelos sujeitos em sua
trajetória de vida.

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Capítulo 4 RESISTÊNCIA NA HISTÓRIA BRASILEIRA

SUGESTÃO DE ATIVIDADE PARA TRABALHAR


COM SEUS ALUNOS (AS):

Para conhecer sobre PICHAÇÃO e GRAFITE

A Revista de História traz um artigo interessante sobre Pichação


e Grafi te. O artigo é escrito por Nataraj Trinta, em parceria com Julia
Moreira, e aborda o ponto de vista de acadêmicos e artistas,
refl etindo criticamente sobre estas formas de expressão. Basta clicar
no link para ter acesso ao texto na íntegra.

http://www.revistadehistoria.com.br/secao/artigos/grafite-x-
pichacao-dois-lados-da-mesma-moeda

O texto pode ser trabalhado tanto nas disciplinas de Arte e


História, quanto na de Língua Portuguesa. De qualquer forma, fi ca a
sugestão de um trabalho integrado [...].

Também sugerimos uma visita ao site da revista e a leitura de


alguns dos diversos textos que o site disponibiliza.

Fonte: Disponível em: <http://bejab.blogspot.com.br/2011/06/para-


conhecer-sobre-pichacao-e-grafi te.html>. Acesso em: 10 set. 2012.

ComPartilhando uma EXPeriência


Caro(a) Cursista!

Agora vamos apresentar a você duas atividades que foram realizadas


em nossa prática profi ssional como professor. São duas oportunidades de se
apresentar e discutir elementos da cultura popular do grupo com o qual você
trabalha. Em uma das experiências a Quizomba, fomos instigados por um convite
da direção da escola para produzir caldo de cana com os alunos durante uma
aula sobre a escravidão. Essa experiência aconteceu no ensino fundamental e
envolveu toda a escola.

Na segunda experiência, em uma aula sobre cultura negra nos dias atuais
103
Trabalho, Sociedade e Resistência na História Brasileira

e em um trabalho compartilhado com a disciplina de Artes, propomos a criação


de objetos de adorno: colares e pulseiras africanas. Participaram dessa ofi cina
professores e alunos. Confi ra então as atividades, mas não esqueça: de que
toda atividade deve atender às necessidades dos grupos com os quais estamos
trabalhando. Portanto, você poderá adequar as atividades aos seus grupos de
trabalho. Fique atento !!

ATIVIDADE 1 => QUIZOMBA, QUE EM LÍNGUA


NATIVA AFRICANA SIGNIFICA “FESTA DA RAÇA”

Nas aulas de História o professor recebeu o convite para mostrar


aos alunos como se faz caldo de cana (Garapa), pois o diretor
traria canas de açúcar e a máquina para fazer a extração do suco.
Mediante tal convite algumas ideias foram sendo articuladas. Surgiu
o questionamento de porque não fazer um dia na Colônia e, explorar
com os alunos da 6ª Série o modo de vida, a culinária, algumas
apresentações culturais relacionadas ao período colonial brasileiro.

Após algumas trocas de ideias e com a proximidade do dia da


consciência negra, o professor convidou toda a escola a participar
do projeto que teria como tema central a cultura negra na cidade
de Blumenau (uma cidade conhecida internacionalmente como
“cidade alemã”).

Realizadas as discussões com as turmas de 5ª a 8ª séries e


a exposição das ideias, cada turma foi convidada a participar com
alguma atividade relacionada.

A 6ª série, turma em que a ideia se originou, fi cou responsável


por fazer os cartazes do evento, enquanto estudava o período
colonial brasileiro.

Nesta e nas demais turmas foi passado um vídeo sobre a cultura


negra em Blumenau. Foi realizado um trabalho de pesquisa com os
alunos sobre a diferença entre pichação e grafi tagem. Abordamos
crenças religiosas e o candomblé em debates de sala de aula. Os
alunos ainda produziram cartazes com palavras de origem africanas
e que foram incorporadas à língua portuguesa.

Na disciplina de Matemática, a mesma turma pôde construir


maquetes das grandes fazendas, reproduzindo a relação casa grande

104
Capítulo 4 RESISTÊNCIA NA HISTÓRIA BRASILEIRA

e senzala estudada em História. A professora de Geografi a trabalhou


as diferenças de cor e raça apresentadas pelo IBGE por regiões e
construiu mapas, e também fez pesquisa sobre as regiões em que
os quilombos se desenvolveram no Brasil. Na Língua Portuguesa, o
trabalho foi com a obra “Navio Negreiro”, em que os alunos puderam
conhecer um pouco do transporte dos escravos para o Brasil. Na
disciplina de Artes a professora desenvolveu máscaras africanas
na técnica de gesso. Nas salas de Alfabetização foram realizadas
contações de histórias cujos protagonistas eram personagens negros.
Foi exibido outro vídeo sobre os negros que se tornaram personagens
históricos importantes na história de nosso país e atividades de
exposição de cartazes com biografi as destes personagens.

Todas essas atividades foram fi nalizadas com a realização


da primeira Quizomba, que aconteceu no dia da feijoada anual da
escola. Nesse dia, todos os alunos foram convidados a virem para a
escola e participarem de ofi cinas em circuito.

Como funciona esta técnica? Os alunos são separados em


grupos e são destinados às ofi cinas existentes, após o tempo
determinado, geralmente trinta minutos, um sinal avisa que é hora de
trocar de ofi cina. Os palestrantes e ofi cineiros são todos preparados
previamente sobre o tempo que terão à sua disposição. Na referida
data foram realizadas as seguintes ofi cinas:

Roda de Samba com grupo local, palestra sobre cultura negra


com convidado, exposição de maquetes, a sétima série preparou
uma senzala “de verdade”, que foi planejada e executada com muito
empenho, buscando o realismo, houve exposições de trabalhos de
pesquisas em apresentação de Power Point; ofi cinas de capoeira,
grafi te, street dance, contação de histórias, além de sessão de
cinema com fi lmes curta-metragem e ofi cina de Saxofone.

Na hora do lanche, uma senhora vestida a caráter vendia


acarajés e demais delícias da cozinha baiana. As oitavas séries
participaram com uma exposição de fotografi as com as quais
mostravam seus olhares sobre a cultura negra na cidade.

Observe, caro (a) cursista, que a ideia inicial foi reconstruída


e repensada de acordo com o contexto que foi se formando e de
acordo com as adesões que os outros profi ssionais foram fazendo ao
projeto em andamento.

Como resultado, foi possível perceber nos alunos um


envolvimento com a temática, além de um entrosamento e integração
105
Trabalho, Sociedade e Resistência na História Brasileira

de forma poucas vezes vista. Nessa experiência específi ca foi


possível constatar que determinadas ofi cinas com maior dinamismo,
como capoeira, street dance e a senzala (que era um caminho a ser
percorrido, com sons, cheiros que tentavam reproduzir o ambiente de
verdade) atraíram mais a atenção e consequentemente houve uma
maior procura pelas referidas ofi cinas. Também cabe destacar, sobre
esta atividade que, se trata de um exemplo de “projeto” que envolveu
toda a escola.

Fonte: PONCIO (2012, p. 109-111).

ATIVIDADE 2 => CONFECÇÃO DE ADORNOS

Braçadeiras (em Geral de palha e búzios) – Pulseiras –


Tornozeleiras – Anéis – colares

Os colares são discriminados segundo a matéria-prima e as


formas que lhes são dadas: colares de produtos industrializados
(miçanga, acrílico, plástico, metais, martelados, polidos, recortados
e gravados); de matéria-prima animal, trabalhados na forma de
discos ou plaquetas de vários formatos (dentes de mamíferos em
substituição ao marfi m, carapaças de caramujo, pequenos búzios
perfurados, conchas de madrepérola); de matéria-prima vegetal
(cocos de palmeiras inteiros, partidos ao meio, canutilhos de taboca
e pedaços de outros vegetais fragmentados em contas e esculpidos
em fi gurinhas).

Materiais: conchas, búzios, miçangas, contas de plásticos,


contas de acrílico, sementes (lágrimas de nossa senhora, mulungu),
coquinhos (babaçu, inajá, ouricuri, tucum), linhas.

Instrumentos de trabalho: agulha, tesoura, furador ou furadeira


(ou pua), martelo e lixa.

Cortar materiais nos tamanhos adequados e em quantidade


sufi ciente. Furar. Lixar. Enfi ar em linha e arrematar com nós. Lembrar
que os colares masculinos têm a dimensão pouco maior do que a
medida do pescoço, enquanto os colares femininos são grandes
o sufi ciente para deitarem sobre o busto. Há grandes colares
masculinos que são usados transversalmente do ombro direito para
o lado esquerdo da cintura, correndo pelas costas em direção ao
mesmo ombro direito.

Fonte: BENJAMIN, 2008, p.46.

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Capítulo 4 RESISTÊNCIA NA HISTÓRIA BRASILEIRA

Figura 8 - Colar em macramê inspirado em arte africana, com olho de


boi e búzio ao centro, contas de madeira e sementes na lateral

Fonte: Disponível em: <http://www.elo7.com.br/colar-


africano/dp/6AB6F>. Acesso em: 15 set. 2012.

Figura 9 - Colar Africano - Dread Lã

Fonte: Disponível em: <http://www.fotolog.com.br/kaya_


praia/43228913/>. Acesso em: 10 set. 2012.

107
Trabalho, Sociedade e Resistência na História Brasileira

Algumas Considerações
Prezado(a) Pós-Graduando(a),

Você está fi nalizando seu caderno de estudos sobre Trabalho, Sociedade e


Resistência na História Brasileira. Nesse momento, esperamos que você possa
refl etir sobre a construção social do papel do negro no Brasil. Do início em uma
relação subserviente ao protagonismo alcançado depois de tantas revoltas e
movimentos, que aliás se transformaram em momentos históricos que foram os
grandes responsáveis pelas mudanças alcançadas em nossa sociedade. Também
não pode fi car de fora a lembrança de líderes e anônimos que em muitos casos
deram a vida pela libertação de seu povo, Dandara, Ganga Zumba, Zumbi, João
Cândido, enfi m, estes nomes representam apenas alguns dos muitos nomes que
seria necessário escrever.

E agora, prezado (a) Pós-Graduando(a), você é convidado a ser mais um


multiplicador do que aprendeu com essa disciplina e com o seu curso de pós-
graduação. A partir do momento em que passamos a conhecer a história dos
negros em nosso país, podemos refl etir sobre sua importância na construção da
identidade nacional e da cultura brasileira. Observe a importância do que estamos
propondo, pois assim sua missão não termina quando receber sua titulação de
especialista, mas continua, segue em sua jornada pessoal e profi ssional diária.

Desse modo, esperamos ter contribuído com sua formação acadêmica, e que
esses temas propostos possam melhorar ainda mais seu cotidiano profi ssional.

Um grande abraço a você e terminamos desejando: SEJA FELIZ.

Referências
AGOSTINHO, Cristina. ROCHA, Rosa Margarida de Carvalho. A valorização do
povo negro no cotidiano da vida escolar. Belo Horizonte: MAZZA, 2001.

BENJAMIM, Roberto. A África está em nós. História e cultura Afro-Brasileira.


Livro 3. João Pessoa: Grafset. 2006.

LARA, Silvia Hunold. Escravidão, cidadania e história do trabalho no


Brasil. Projeto História, São Paulo, Nº 16, Fev 1998. Fonte: Disponível em:
<http://revistas.pucsp.br/index.php/revph/article/view/11185/8196>. Acesso em:
09 out. 2012.

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Capítulo 4 RESISTÊNCIA NA HISTÓRIA BRASILEIRA

MARTINS, André Ricardo Nunes. A polêmica construída: racismo e discurso


da imprensa sobre a política de cotas para negros. 2004. 210 f. Tese (Doutorado
em Linguística)-Universidade de Brasília, Brasília, 2004. Fonte: Disponível em:
<http://repositorio.bce.unb.br/bitstream/10482/1576/6/Tese_Andre_Ricardo_
Nunes_Martins.pdf>. Acesso em: 17 jun. 2012.

PONCIO, Gilberto Valdemiro. Práticas Pedagógicas Para EJA. Indaial.


UNIASSELVI. 2012.

SCOZ, Tatiane Melissa. Atualização da Lei de Diretrizes e Bases da Educação


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Disponível em: <http://noticias.universia.com.br/ciencia-tecnologia/
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