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Vida Pastoral - Nº 348

Sinodalidade e Conversão Pastoral

Enviado por

Sergio Souza
Direitos autorais
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Levamos muito a sério os direitos de conteúdo. Se você suspeita que este conteúdo é seu, reivindique-o aqui.
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novembro-dezembro de 2022 – ano 63 – número 348

18o CONGRESSO
EUCARÍSTICO NACIONAL
PÃO EM TODAS AS MESAS
SURPREENDA-SE COM A HiSTÓRiA E A
EVOLUÇÃO DO CULTO EUCARÍSTiCO

Missarum Sollemnia foi pensado para ajudar


a compreender como a Igreja desenvolveu, ao
longo dos séculos, a tarefa de dar forma concreta
ao Dom do mistério salvífico de Cristo, recebido,
acolhido e celebrado na liturgia da missa.

Eucharistia apresenta as sínteses propostas por


representantes das teologias católica, ortodoxa
e protestante, além de reflexões sobre alguns
temas fundamentais, como o sentido e a
dinâmica da celebração, inculturação pastoral
eucarística, artes, celebração e legislação.

Confira!

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Prezadas irmãs,
prezados irmãos, graça e paz!
No interior havia um homem que vendia conseguiriam saciar a todos.“Repartiam o pão
pão. Era conhecido simplesmente como o Zé com alegria e não havia necessitados entre
do Pão. Sua voz inconfundível ecoava todas as eles” (At 2,46). A celebração da Eucaristia
manhãs, quando o sol ainda nem tinha despon- nos ensina que a partilha é possível. Se os
tado, o povo trabalhador começava seus servi- bens fossem bem administrados e distribuí-
ços, o café espalhava seu aroma e a passarada dos, ninguém passaria fome no mundo. Essa
nas árvores, as galinhas no terreiro, o gado no é grande lição eucarística.
curral faziam a festa, pela alegria do novo dia. O Brasil, por exemplo, é considerado o
Zé do Pão, além do serviço que fazia, celeiro do mundo. A safra brasileira de grãos
era quase como um relógio. As conversas se encaminha para um novo recorde; estima-
das pessoas, referindo-se a algum ocorrido, -se uma produção de mais de 270 milhões de
geralmente diziam: “Foi na hora em que o toneladas. Em vista disso, não é contraditório
Zé do Pão passou”; “Foi antes do Zé do Pão que em nosso país haja tanta mesa vazia?
passar”; “Foi depois do Zé do Pão”. Certa vez, diante de uma multidão de fa-
Além disso, havia algo discreto e curioso mintos e com poucos recursos, os discípulos
escrito logo abaixo do balaio de pão: “O de Jesus inventaram desculpas para despedir
homem não vive só de pão, mas de toda a todos e deixar que cada um se virasse.
palavra que sai da boca de Deus” (Mt 4,4). Mas Jesus foi claro: “Dai-lhes vós mesmos
O Zé dependia totalmente da venda do pão de comer!” (Mc 6,37).
para o seu sustento e o de sua família, que não A Eucaristia aponta para uma realidade
era pequena. Contudo, embora tivesse a venda de sentido profundo: o alimento que não
do pão como única forma de sobrevivência, perece. Outrora, Deus saciou a fome do povo
o seu letreiro expressava a existência de uma no deserto com o maná do céu. Jesus agora
realidade maior, para além do pão. é o verdadeiro pão descido do céu, pão que
Há um sentido na vida que supera a luta sacia toda fome. Não só a fome do estômago,
cotidiana para tão somente saciar o estô- mas o vazio próprio da condição humana,
mago. Mas, infelizmente, enquanto você lê tão fragilizada nestes tempos de fome, pan-
este texto, uma multidão imensa de irmãos demia e guerra.
nossos, hoje, não têm o que comer e sua O exemplo do Zé do Pão nos ensina
preocupação não pode ser outra, senão saciar a olhar o mundo com um olhar de fé, de
esse flagelo que lhes corrói o estômago. “A simplicidade e de confiança em Deus, a fim
tontura da fome é pior do que a do álcool. de superarmos nosso egoísmo e cobiça e
A tontura do álcool nos impele a cantar. ouvirmos sempre a palavra que sai da boca
Mas a da fome nos faz tremer. Percebi que é de Deus: Jesus Cristo mesmo, presente no
horrível ter só ar dentro do estômago.” Essa meio de nós. A celebração do XVIII Con-
frase, da escritora e favelada Carolina Maria gresso Eucarístico Nacional renove em nós a
de Jesus, define bem o tormento da fome. esperança de um novo tempo, aqui, enquanto
O XVIII Congresso Eucarístico Nacional peregrinamos, e a certeza de que, um dia,
(entre os dias 11 e 15 de novembro de 2022 nos saciaremos no banquete eterno.
em Recife) suscita um clamor pela fartura e Boa leitura!
contra a fome. Cantar “Pão em todas as mesas” Pe. Antonio Iraildo Alves de Brito, ssp
é dizer que os bens da terra, se partilhados, Editor

vidapastoral.com.br • ano 63 • n o 348 1


Sumário
A PROFECIA DA EUCARISTIA EM UM MUNDO DE
DESIGUALDADES SOCIAIS................................................................ 4
Fernando Saburido, osb
Revista bimestral para sacerdotes
e agentes de pastoral
Ano 63 - No 348 CONGRESSO EUCARÍSTICO:
novembro-dezembro de 2022
HISTÓRIA DA FÉ NO MISTÉRIO DA EUCARISTIA............... 12
Moisés Ferreira de Lima

EUCARISTIA, CEIA MEMORIAL E FESTIVA:


© PAULUS – 2022
Pia Sociedade de São Paulo
DA RITUALIDADE AO MISTÉRIO................................................... 20
Rua Francisco Cruz, 199 Danilo César e Penha Carpanedo
04117-091 – São Paulo - SP
paulus.com.br
ISSN – 0507-7184 A EUCARISTIA, FONTE DA SINODALIDADE.......................... 30
Jornalista responsável Sergio Sezino Douets Vasconcelos
Pe. Valdir José de Castro, ssp

Direção editorial ROTEIROS HOMILÉTICOS.................................................................. 36


Frei Darlei Zanon, ssp Izabel Patuzzo
Editor
Pe. Antonio Iraildo Alves de Brito, ssp

Redação
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Conselho editorial
Pe. Antonio Iraildo Alves de Brito, ssp
Pe. Darci Luiz Marin, ssp
Pe. Paulo Sérgio Bazaglia, ssp
Frei Darlei Zanon, ssp
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Diagramação
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vidapastoral.com.br • ano 63 • n o 348 3


Fernando Saburido, osb*

*Dom Fernando Saburido, monge beneditino, é arcebispo metropolitano de Olinda e Recife. E-mail: [email protected]

A profecia da Eucaristia
em um mundo de
desigualdades sociais

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Meditar sobre a Eucaristia é assunto desafiador,
por isso a escolha do tema: “Pão em todas as
mesas”. Nossa meta é realizar um congresso
com dignidade e, ao mesmo tempo, motivar a
solidariedade, sobretudo por estarmos situados em
uma região de tantos desafios sociais.

INTRODUÇÃO cuidado e possamos, assim, contribuir para


que, conforme o tema do evento, haja “pão
A arquidiocese de Olinda e Recife sedia em todas as mesas”.
um congresso eucarístico pela segunda vez. Não estamos em tempos de cristandade,
O III Congresso Eucarístico Nacional foi e sim de uma Igreja em saída, com serviço
celebrado, em 1939, numa dolorosa época amoroso à humanidade. Por isso, não dese-
de guerra mundial. Como registram os anais jamos um congresso que se notabilize pela
daquele evento, vivia-se o Congresso Eu- grandiosidade ou apenas pelo esplendor de
carístico Nacional com um olhar sofrido e celebrações imponentes. O esforço maior
solidário sobre a Europa. O XVIII Congres- deve ser suscitar, em nossa Igreja e na socie-
so Eucarístico Nacional foi adiado de 2020 dade, o que, no LII Congresso Eucarístico
para 2022, em razão da tragédia mundial em Budapeste, Hungria, o papa Francisco
da pandemia da Covid-19, que ainda tem chamou de “cultura eucarística”, ao afirmar:
registros preocupantes de casos diários de
contaminações e mortes. Neste contexto, a A celebração da Eucaristia torna-se in-
humanidade está diante de outra atrocidade. cubadora das atitudes que geram uma
Em fevereiro deste ano, ocorreu a invasão cultura eucarística, porque impele a trans-
russa no território da Ucrânia, estendendo formar em gestos e comportamentos de
os horrores da guerra à população mundial, vida a graça de Cristo que se doou to-
uma vez que seus efeitos não se restringem talmente. [...] A Eucaristia é fonte que se
a limites territoriais específicos. traduz também em cultura eucarística,
Diante desse quadro, meditar sobre a Eu- capaz de inspirar os homens e as mulheres
caristia é tema desafiador, porque toca o mais de boa vontade nos âmbitos da caridade,
profundo da fé da Igreja e, além disso, mexe da solidariedade, da paz, da família e do
com sensibilidades diversas. A Igreja parti- cuidado com a criação (MELO, 2021).
cular de Olinda e Recife assumiu a missão
de sediar o XVIII Congresso Eucarístico Para que nosso Congresso possa colaborar
Nacional e o faz em novembro deste ano. na realização dessa proposta do papa Fran-
Talvez nosso desafio maior seja expressar cisco, é importante que nos disponhamos a
nosso amor à Eucaristia de modo que não uma conversão cada dia mais exigente. Sobre
se restrinja às grandes celebrações. Que esse a ceia do Senhor, o apóstolo Paulo pede que
Congresso e nosso modo de celebrar a ceia “cada um se reveja e só assim tome do cor-
do Senhor sejam profecia da partilha e do po e sangue do Cristo” (1Cor 11,28). Para

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aprofundarmos esse assunto, somos convi- parte do povo brasileiro. Um congresso
dados, à luz da fé e da palavra do Evangelho, eucarístico não pode parecer isso, como
a olhar para nossa realidade, a perscrutar o se estivéssemos indiferentes ao que se passa
que, em relação a nossas celebrações euca- ao redor de nós, com uma multidão lite-
rísticas e a nosso Congresso, o Espírito diz ralmente jogada nas ruas e praças e sem
à Igreja e, finalmente, o que podemos fazer nada para comer.
para obedecer à sua voz.
Não podemos celebrar o Congresso
1. “ESTA MULTIDÃO NÃO TEM como se ignorássemos essa realidade ou
O QUE COMER” (MC 8,2) ela não nos interpelasse. São desafios im-
Até hoje, ressoa para nós essa advertência portantes a serem enfrentados. O tema
de Jesus aos discípulos. Assim começou a e o lema escolhidos para esse Congresso
partilha que ele lhes propôs, dando-lhes a não nos deixam fugir ou adiar esse com-
tarefa de distribuir o alimento. Para contar promisso. E para cumpri-lo, não bastam
esse episódio, os Evangelhos usam uma lin- atitudes voluntaristas desordenadas. É
guagem que nos remete à Eucaristia. Assim, preciso nos colocar em sintonia e como
vemos que, nas primeiras comunidades cris- que organizados junto com a sociedade
tãs, a ceia do Senhor constituía proposta de civil que trilha a mesma busca e vive
partilha para solucionar a fome da multidão. a mesma inquietação social (TEXTO-­
No Brasil atual, cada dia, pela manhã, -BASE, 2019, p. 16).
em vários canais de televisão, há programas
que mostram maîtres e chefes de cozinha Conforme um dos mais recentes rela-
preparando iguarias e ensinando as donas tórios da Organização das Nações Unidas
de casa de classe média a variar o cardápio (ONU) sobre segurança alimentar, em 2021,
do almoço. Esses programas exibem pratos na América Latina, a fome alcançou um pa-
de carne e de iguarias deliciosas. Para quem tamar que não se via há décadas. De acordo
está bem nutrido, as imagens dão água na com a ONU, a América Latina foi a região
boca. No entanto, para muitos, parecem na qual mais cresceu o número de pessoas
exercitar a crueldade, uma vez que a fome em situação de insegurança alimentar. Em
e a miséria são uma realidade para grande 2018, vários anos após termos conseguido
superar essa tragédia, o Brasil voltou ao mapa
da fome. A fome chega a ameaçar mais de
20 milhões de brasileiros (BELIK, 2022).
Essa realidade não é consequência direta da
crise que se abateu sobre o mundo com a

“NAS PRIMEIRAS COMUNIDADES CRISTÃS,


A CEIA DO SENHOR CONSTITUÍA
PROPOSTA DE PARTILHA PARA
SOLUCIONAR A FOME DA MULTIDÃO.”

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pandemia. A pandemia a agravou, mas ela já
vinha de antes e tem mais a ver com as de-
cisões políticas que retiraram direitos sociais
Sobre o culto à
dos trabalhadores e fizeram mais que duplicar Santíssima Virgem
a desigualdade social em nosso país. Como na Igreja católica
seria bom se, a partir do nosso Congresso
São John Henry Newman
Eucarístico, irmãos no ministério e grupos
católicos que apoiaram medidas causadoras
de desigualdades sociais, cada vez mais cruéis,
pudessem acolher o que nos ensinava o Servo
de Deus dom Helder Camara:

Não podemos adorar o corpo do Cristo


na Eucaristia se somos indiferentes ou
coniventes com os mecanismos sociais
que jogam o mesmo corpo de Cristo,

Imagens meramente ilustrativas.


que são os pobres, nas sarjetas do mun-
do. Nas horas de maior glorificação do
Santíssimo Sacramento, peçamos a Cristo
184 págs.

a graça de nos unir a todas as pessoas de


boa vontade para lutar, de modo pacífico,
mas corajoso, pela libertação dos oprimi- CONFIRA
dos do mundo inteiro, ou melhor, pela VERSÃO
E-BOOK
libertação do Cristo, esmagado no íntimo
dos sem-vez e dos sem-voz (CAMARA,
1977, p. 770). A presente obra consiste, em
sua maior parte, em uma carta
A Eucaristia não é apenas o “sacramento do padre John Henry Newman,
da ceia”, mas da ceia aberta, na qual se re- escrita em 1865, ao doutor
parte o alimento e a vida. Já nos anos 1950, Pusey, um amigo anglicano,
também integrante do Movimento
o teólogo alemão Joachim Jeremias afirma-
de Oxford, bem como em outros
va: “Onde não há justiça, não há Eucaristia textos do santo, incluídos
[...]. Isolar a Eucaristia desse referencial faz nos Apêndices.
com que enchamos a celebração de ges-
tos exteriores de respeito e adoração, mas
a esvaziemos de seu significado de justiça, Aponte a câmera do
solidariedade e fraternidade” (JEREMIAS, seu celular e confira a
degustação do livro!
1981, p. 259, tradução nossa).

2. EUCARISTIA: ANTES DE TUDO,


CEIA DO SENHOR E CEIA PARTILHADA
Vendas: (11) 3789-4000
O Concílio Vaticano II nos convidou a 0800-0164011
retomar essa unidade entre o pão da Eu-
caristia e a comunidade fraterna. Ainda no paulus.com.br
século IV, Santo Agostinho insistia:

vidapastoral.com.br • ano 63 • n o 348 7


“A EUCARISTIA NÃO É APENAS O
“SACRAMENTO DA CEIA”, MAS DA
CEIA ABERTA, NA QUAL SE REPARTE O
ALIMENTO E A VIDA.”

Queres compreender o que é o corpo síntese vital com os valores propriamente


de Cristo? Escuta o apóstolo dizer aos religiosos (GS 43). Para isso, deve se esfor-
fiéis: “Vós sois o corpo de Cristo e seus çar pela palavra e pela ação apostólica, não
membros”. Se, portanto, sois o corpo do só sua, mas da comunidade eclesial, para
Cristo e seus membros, é o próprio sím- que todo trabalho social adquira seu pleno
bolo do que sois vós que repousa sobre sentido de liturgia espiritual, incorporan-
a mesa do Senhor. É o próprio símbolo do-o de maneira vital na celebração da
da vossa vida que recebeis. Respondeis Eucaristia (CELAM, 2004 – Med 11; 18).
“Amém” ao que vós mesmos sois. Escutas:
“Corpo de Cristo” e respondes:“Amém”. Documentos como esse afirmam que se
Então, sê um membro do corpo do Cris- deve promover a integração entre Eucaristia
to para que o teu amém seja verdadeiro e realidade social, mas o desafio é explicar
(Sermão 272). como fazê-lo. As conclusões de Medellín
sugerem que tal integração ocorra “pela pa-
Apesar de ninguém, na Igreja, contestar lavra e pela ação apostólica”, mas isso parece
essa verdade expressa por Santo Agostinho, significar não algo intrínseco à liturgia, e sim
sabemos que não é esse o aspecto que, até algo de fora, que com ela se relacione. Esse
nossos dias, predomina na cultura paroquial trabalho é necessário. No entanto, de acordo
ou cotidiana de nossas celebrações. Precisa- com os pais da Igreja e com a sacramenta-
mos ainda aprofundar mais a relação entre lidade do gesto eucarístico, a própria forma
o corpo eucarístico de Jesus, significado no de celebrar é que deveria significar essa pro-
pão, o corpo místico de Cristo, na comu- fecia de um mundo transformado e de uma
nidade eclesial, e o corpo social de Cristo, vida de partilha. Mesmo na obediência fiel
presente nos mais pobres e vulneráveis, tal ao rito romano e à tradição litúrgica, seria
como, na parábola do julgamento final, afir- importante que encontrássemos formas para
ma o próprio Jesus: “O que fazeis a um dos superar o que o papa Francisco denuncia
pobres e pequenos em meu nome é a mim como clericalismo e nossa própria maneira
que fazeis” (Mt 25,31ss). de celebrar se tornasse expressão coerente da
Na América Latina, em 1968, assim palavra que pregamos e do gesto de partilha
se expressa o documento de conclusões que desejamos fazer.
da II Conferência Geral do Episcopado Na Carta Apostólica Mane Nobiscum
Latino-americano: Do­mine (n. 27), o papa João Paulo II afirma:

Na tarefa da promoção humana e do de- A Eucaristia não é expressão de comu-


senvolvimento social, cabe ao sacerdote nhão apenas na vida da Igreja. É tam-
um papel específico e indispensável. Ele bém projeto de solidariedade, em prol
deve unir todo o esforço humano em uma da humanidade inteira. Na celebração

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eucarística, a Igreja renova continua-
mente sua consciência de ser “sinal e Espiritualidade
instrumento” não só da íntima união do ministro
com Deus, mas também da unidade de extraordinário da
todo o gênero humano. [...] O cristão, Sagrada Comunhão
que participa na Eucaristia, dela aprende Humberto Robson de Carvalho / Caio
a tornar-se promotor de comunhão, de Henrique Esponton
paz, de solidariedade, em todas as cir-
cunstâncias da vida. A imagem lacerada
do nosso mundo, que começou o novo
milênio com o espectro do terrorismo
e a tragédia da guerra, desafia ainda mais
fortemente os cristãos a viver a Eucaristia
como grande escola de paz, onde se for-
mem homens e mulheres que, nos vários
níveis de responsabilidade na vida social,
cultural, política, se fazem tecedores de

Imagens meramente ilustrativas.


diálogo e de comunhão.

O primeiro nome dado pela Igreja apos-


232 págs.

tólica à Eucaristia foi fração do pão, ou seja,


partilha (At 2,42-46). As primeiras comuni-
CONFIRA
dades cristãs davam a esses momentos euca- VERSÃO
rísticos o nome de “assembleia” (Igreja). No E-BOOK
capítulo 11 da primeira carta aos Coríntios,
Paulo afirma:“[...] quando vos reunis como Este livro trata da espiritualidade
Igreja, têm surgido dissensões entre vós” (v. do ministro extraordinário da
18). E conclui: “Assim, quando vos reunis, Sagrada Comunhão,
não é para comer a ceia do Senhor [...]” (v. perpassada pela dinâmica do
20). É no contexto dessa repreensão à comu- serviço, característica central da
nidade cristã de Corinto que o apóstolo nos vida espiritual cristã. O
dá de presente a primeira narração da ceia ministério do serviço da Eucaristia
de Jesus no Novo Testamento (1Cor 11,23- conferido a leigos data dos
26). Ele faz essa narração para deixar claro primeiros séculos da Igreja.
que não acolher, na ceia, o irmão pobre ou
excluído é não respeitar o corpo de Cristo Aponte a câmera do
seu celular e confira a
(v. 18). Paulo havia denunciado que, ao se degustação do livro!
reunirem para a ceia do Senhor, os irmãos
se dividiam: “Cada um se apressa a comer
sua própria ceia e, enquanto um passa fome,
outro se embriaga” (v. 21). Para o apóstolo,
Vendas: (11) 3789-4000
essa forma de proceder é insultar a Deus e 0800-0164011
comer indignamente o corpo e sangue do
Senhor (v. 27-29). Na tradição, algumas ve- paulus.com.br
zes, interpretou-se o comer do pão e beber

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do cálice do Senhor indignamente como se de programas na linha do Fome Zero. Po-
fosse uma questão de falhas morais no nível demos e devemos colaborar com tais inicia-
pessoal. Na exortação Amoris Laetitia, o papa tivas, que competem ao governo e a toda a
Francisco deixa claro que o apóstolo Paulo sociedade. No entanto, não basta transformar
não se refere a problemas morais pessoais nossas comunidades em agências sociais de
ou a situações irregulares das pessoas que se promoção humana. A dimensão social da
aproximam da Eucaristia. O papa comenta: Eucaristia como “projeto de solidariedade” se
concretiza, principalmente, no cuidado para
Em 1Cor 11,17-34, Paulo enfrenta uma que nossas celebrações sejam realmente sacra-
situação vergonhosa da comunidade. Ali mentos, isto é, sejam assembleias de partilha
algumas pessoas acomodadas tendiam a e de comunhão humana. O mundo inteiro
discriminar os pobres, que ficavam sem ter tem testemunhado como o papa Francisco
o que comer. [...] Trata-se, pois, de discer- nos tem dado o exemplo, ao despojar as ce-
nir o corpo do Senhor, isto é, reconhecê- rimônias litúrgicas do Vaticano de um estilo
lo com fé e caridade, tanto nos sinais barroco, que não ajudava a manifestar a Igreja
sacramentais como na comunidade. De pobre e servidora.
outro modo, come-se e bebe-se a própria Em um mundo excludente, no qual os
condenação (AL 185-186). pequenos não têm vez, nossas celebrações
têm de acentuar, cada vez mais, a acolhida
Diante disso, concordamos com dom dos excluídos, a participação de todos e todas
Orlando Brandes, que afirma: na comunidade, e sinalizar a comunhão não
apenas no altar, mas também na vida. Mui-
Para não celebrar indignamente, precisa- tas Igrejas estão voltando ao costume antigo
mos organizar o atendimento aos pobres, de transformar os momentos de celebração
desestabilizar as estruturas injustas e viver eucarística em eventos de partilha também
um estilo de vida no qual a simplicidade econômica.Assim, é escandaloso constatar que,
e a sobriedade sejam visíveis. Na comu- no Brasil, ainda haja ministros ordenados, reli-
nidade cristã, os pobres devem sentir-se giosos(as) e leigos(as) que estranhem a prática
como em sua casa. Sem essa forma de litúrgico-pastoral da CNBB, desde 1964, de
evangelização, o anúncio do Evangelho promover a Campanha da Fraternidade no
corre o risco de não ser compreendido. O período da Quaresma. Essa iniciativa, com
cristão deve debruçar-se sobre a fome, o seus temas sociais e o gesto concreto da coleta,
analfabetismo, as novas pobrezas, a solidão, dá veracidade e força à profecia da Eucaristia.
a marginalização, as drogas, a violência. É Conscientes da relação sacramental en-
preciso decifrar o apelo que Cristo lança tre Eucaristia e partilha, decidimos, na fase
à nossa fé a partir do mundo da pobreza. preparatória dos trabalhos, deixar um marco
A caridade hoje requer maior capacidade concreto do XVIII Congresso Eucarístico
inventiva (BRANDES, 2006, p. 58). Nacional, a CASA DO PÃO, para que seja
um gesto da caridade social da família ar-
3. A SINODALIDADE EUCARÍSTICA quidiocesana. Com essa iniciativa, atentos
PARA ALÉM DO CONGRESSO ao apelo por “pão em todas as mesas” (tema
Em um mundo complexo como o nosso do Congresso) e diante do testemunho da
e diante dos problemas econômicos e sociais comunidade na era apostólica – “Repartiam
que vivemos, não se trata de montar estruturas o pão com alegria e não havia necessitados
de assistência social ou a Igreja se encarregar entre eles” (At 2,46 – lema) –, queremos

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reescrever a edificante página dos Atos dos REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Apóstolos mediante a comunhão de senti-
mentos e a atitude dos primeiros cristãos. BELIK,Walter.Volta do Brasil ao Mapa da Fome
Localizada na rua do Imperador, no coração é retrocesso inédito no mundo. [Entrevista
da cidade do Recife, onde reside grande cedida a] Suzana Petropouleas. Folha de S.
quantidade de pessoas em situação de rua, Paulo, São Paulo, 23 jan. 2022. Disponível
a CASA DO PÃO terá a importante missão em: https://www1.folha.uol.com.br/mer-
de congregar, escutar, valorizar e assistir os cado/2022/01/volta-do-brasil-ao-mapa-da-
pobres na luta pela igualdade social e na -fome-e-retrocesso-inedito-no-mundo-diz-
defesa dos direitos humanos. Será uma nova -economista.shtml. Acesso em: 15 jun. 2022.
diaconia arquidiocesana, que contará com a
BRANDES, Orlando. Eucaristia e amor social:
liderança de diáconos permanentes e o apoio
os pobres e a fome. Encontros Teológicos, Flo-
das pastorais sociais, tendo como objetivos
rianópolis, fasc. 44, ano 21, n. 2, p. 55ss, 2006.
específicos evangelizar e promover.
Por muitas razões, é preciso voltar ao espí- CAMARA, Helder. O pão da vida e a sub-vida
rito da Igreja primitiva. Um documento do no mundo. Sedoc, Petrópolis, n. 9, p. 769-770,
século III, chamado Didascália dos apóstolos, 1977.
prescrevia como deveria ser a assembleia li- CELAM. Documentos do Celam. São Paulo:
túrgica da Eucaristia e, em situações concre- Paulus, 2004.
tas, como o bispo deveria agir:“Se entrar [na
igreja] um pobre, seja homem ou mulher, de FRANCISCO, Papa. Amoris Laetitia: Exortação
tal lugar ou de outra comunidade, sobretu- Apostólica Pós-sinodal sobre o amor na famí-
do se é idoso e não há lugar para ele, então lia. Disponível em: https://www.vatican.va/
tu, ó bispo, com todo o teu coração, deves content/francesco/pt/apost_exhortations/
providenciar para que se encontre um lugar documents/papa-francesco_esortazione-
para ele, mesmo que tenhas tu de te sentar no -ap_20160319_amoris-laetitia.html. Acesso
chão” (FUNK, 1905, p. 168, tradução nossa). em: 15 jun. 2022.
Como encontramos no Texto-base, somos FUNK, F. X. (ed.). Didascalia et Constitutiones
convidados a viver o Congresso Eucarístico Apostolorum. Paderbonae: Libraria Ferdinandi
com alegria eclesial, sabendo, porém, que Schoeningh, 1905. v. II, 58,6. p. 168.
a natureza profética da Eucaristia exige de
todos nós um modus vivendi compatível com JEREMIAS, J. Abba: el mensaje central del Nue-
o Evangelho, neste mundo de desigualdades vo Testamento. Salamanca: Sígueme, 1981.
sociais: “Que a Eucaristia apresse o dia por p. 259.
nós esperado, de irmãos libertados de toda JOÃO PAULO II. Mane Nobiscum Domine: Car-
injustiça, de todo pecado”. No Congresso ta Apostólica para o Ano da Eucaristia. São
de 1939, o povo cantou: “E o Recife se fez, Paulo: Paulinas, 2005.
lado a lado, catedral onde reza o Brasil”.
Em 2020, na “terra dos altos coqueiros”, MELO, Miguel Pedro. Por uma cultura euca-
nós cantaremos:“E seremos Igreja em saída, rística. Ponto SJ, Lisboa, 22 set. 2021. Dis-
pelo amor aos irmãos, na Eucaristia”. Com ponível em: https://pontosj.pt/especial/
as palavras do poeta, sonhamos: “Pão em por-uma-cultura-eucaristica/. Acesso em:
todas as mesas, da Páscoa nova a certeza, 15 jun. 2022.
a festa haverá e o povo a cantar, aleluia!” TEXTO-BASE do XVIII Congresso Eucarístico
(TEXTO-BASE, 2019, p. 147). Nacional. São Paulo: Paulus: Paulinas, 2019.

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Moisés Ferreira de Lima*

*Pe. Moisés Ferreira de Lima é presbítero da arquidiocese de Olinda e Recife, presidente da Comissão Arquidiocesana de Pastoral para a Liturgia
e membro da Comissão Executiva do XVIII Congresso Eucarístico Nacional. E-mail: [email protected]

CONGRESSO EUCARÍSTICO:
história da fé no mistério da Eucaristia

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Este artigo apresenta breve síntese das origens
e da história dos congressos eucarísticos, com o
objetivo de fazer memória de sua celebração como
testemunho da fé no mistério da Eucaristia e de
compromisso eclesial e social.

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Congressos Eucarísticos, com a bênção do
papa Leão XIII, em 27 de agosto de 1879.
Essa comissão é a responsável pela promoção
das celebrações periódicas dos congressos
eucarísticos. Do primeiro até os dias atuais,
a comissão já promoveu 52 congressos. Sob
o papa São João Paulo II, a comissão recebeu
o título de “pontifícia”, passando a chamar-
“Na celebração da Eucaristia, -se Pontifícia Comissão para os Congressos
em que se glorifica o Pai pelo Eucarísticos.
Filho no Espírito, temos a No pontificado do papa Pio X, além de
conservar o caráter da manifestação pública
manifestação da Igreja como da fé católica na Eucaristia, os congressos
corpo místico, como povo que crê serviram para favorecer a consciência da
e peregrina à luz da fé.” comunhão frequente e até cotidiana (cf.
decreto Sacra Tridentina Synodus, de 1905)
e a administração da primeira comunhão a
crianças, antecipada para a idade de 7 anos
Introdução pelo decreto Quam Singulari, de 1910.
A ideia de congresso eucarístico nasceu Com o pontificado de Pio XI, os con-
na segunda metade do século XIX, na Fran- gressos passam a ser celebrados rotativamen-
ça. Sua gênese vincula-se ao contexto do te em todos os continentes e adquirem uma
jansenismo (que ensinava que a humanidade dimensão missionária e de evangelização.
decaída não merecia receber a Eucaristia, No contexto do pós-guerra, só voltam a
sendo ela prêmio dos perfeitos) e do ateís- ser celebrados no ano de 1952, em Barce-
mo militante. A iniciativa do “congresso” lona. Esse período da história conta tam-
teve como objetivo principal a renovação bém com a efervescência do movimento
da piedade eucarística por meio do culto de eucarístico e do movimento litúrgico, que
adoração e da afirmação da presença real de ajudaram a exprimir o espírito da liturgia,
Cristo na Eucaristia. na qual a piedade eucarística é orientada
Inspirada no apostolado eucarístico de para a celebração.
São Pedro Julião Eymard, Émilie-Marie
Tamisier (1834-1910) promoveu pere- 1. Congresso Eucarístico, povo que
grinações de reparação aos santuários que peregrina à luz da fé na Eucaristia
recebiam os testemunhos dos milagres euca- Com os Congressos do Rio de Janeiro
rísticos. Com o apoio do papa Leão XIII e (1956) e, sobretudo, de Munique da Baviera
o empenho apostólico de Émilie-Marie, de (1960), é integrada, de modo sábio, a piedade
São Pedro Julião e de outras figuras impor- devocional típica do século XIX à renovação
tantes da época, as peregrinações eucarísti- litúrgica contemporânea, e assim os congres-
cas foram transformando-se nos congressos sos eucarísticos internacionais passam a ser
de obras eucarísticas, que depois ficaram conhecidos como statio orbis, tendo a cele-
conhecidos como congressos eucarísticos. bração eucarística como ápice e centro de
Para a realização do primeiro Congresso todo congresso. Trata-se de uma espécie de
Eucarístico no ano de 1881, em Lille, já festa oficial da Igreja, e a Eucaristia celebrada
havia sido constituída a Comissão para os pelo legado pontifício, para toda a Igreja,

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constitui um resgate da antiga statio urbis da as iniciativas, bem como as diversas formas
Igreja romana, em que o papa, para expressar de piedade (A SAGRADA..., 2000, n. 112,
a unidade da diocese, celebrava a Eucaristia p. 64).
em diversas igrejas (JUNGMANN, 1959, A partir do Concílio Vaticano II, com
p. 401-402). a constituição Sacrosanctum Concilium, de
Na celebração da Eucaristia, em que se 1963, a instrução Eucharisticum Mysterium,
glorifica o Pai pelo Filho no Espírito, temos de 1963, e o ritual A Sagrada Comunhão e
a manifestação da Igreja como corpo mís- o Culto do Mistério Eucarístico fora da Missa,
tico, como povo que crê e peregrina à luz de 1973, inicia-se uma abertura às temá-
da fé. Nesse sentido, o congresso eucarístico ticas tratadas nos Congressos Eucarísticos
expressa a peregrinação do povo em dire- relacionadas aos problemas da atualidade,
ção ao altar da Eucaristia. Retomando essa bem como ao ecumenismo e ao diálogo
ideia, o ritual romano A Sagrada Comunhão inter-religioso.
e o Culto do Mistério Eucarístico fora da Mis- Dessa forma, percebe-se que o congres-
sa assim descreve o que são os congressos so eucarístico consiste não em um evento
eucarísticos: de caráter privado, mas sim em uma dupla
dimensão da celebração eucarística como
Os congressos eucarísticos, introduzidos ponto culminante de todo o evento e no
em época mais recente como manifesta- aspecto social da Eucaristia como conse-
ção do culto eucarístico na vida da Igreja, quência da “fé que age pela caridade”.1
devem ser considerados como um lugar
(statio) para o qual uma comunidade con- 2. Congressos Eucarísticos no Brasil
vida toda a Igreja local, ou uma Igreja Depois do Congresso Eucarístico Inter-
local, as outras igrejas de uma região ou nacional de Lourdes (1914), surgiu a ideia
país, ou mesmo de todo o mundo para de que os congressos eucarísticos interna-
aprofundarem em conjunto algum as- cionais fossem precedidos por congressos
pecto do mistério da Eucaristia, prestan- nacionais, diocesanos e até paroquiais. Sob
do-lhe um culto público no vínculo da essas motivações, no contexto da iniciativa
caridade e da unidade (A SAGRADA..., dos bispos do Brasil de promover grandes
2000, n. 109, p. 63). eventos para arregimentar a massa católi-
ca (VIEIRA, 2016, p. 245), destacaram-se
Com base nessa compreensão dos con- os congressos eucarísticos nacionais. Foi
gressos eucarísticos, ressalta-se que o sacrifí- realizado, assim, o I Congresso Eucarístico
cio eucarístico é a fonte e ápice de todo culto Nacional em 1933, na cidade de Salvador,
da Igreja e de toda a vida cristã (SAGRADA com o tema:“Vinde, adoremos o Santíssimo
CONGREGAÇÃO DOS RITOS, 2003, n. Sacramento”.
3, p. 8), de modo que o culto eucarístico fora
da missa e toda manifestação de piedade para O Primeiro Congresso, em 1933,“sobre
com o Santíssimo Sacramento decorrem da os mares azuis da Bahia”, foi uma reca-
Eucaristia celebrada e devem mover os fiéis pitulação de nossa história cristã, desde
a participar do mistério pascal de Cristo. Por frei Henrique Soares de Coimbra até
isso, um critério fundamental na organização dom Augusto Álvaro da Silva; desde a
dos congressos eucarísticos é que a celebra-
ção da Eucaristia seja realmente o centro e 1
Expressão contida na oração de preparação para o XVIII Congresso
o ápice para onde devem orientar-se todas Eucarístico Nacional.

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primeira missa, nas praias virgens da Ca-
“O congresso eucarístico consiste não
brália, até o triunfal cortejo eucarístico,
da ermida histórica da Graça aos portais em um evento de caráter privado,
magníficos da Conceição da Praia, na mas sim em uma dupla dimensão da
veneranda metrópole do Salvador (CEN, celebração eucarística como ponto
3., 1940, p. 87).
culminante de todo o evento e no
Em 1936, o II Congresso, “sob o altar aspecto social da Eucaristia.”
das montanhas de Minas, foi como um gri-
to augusto, partido dos seios mais profun-
dos das minas onde dormem filões de ouro de Olinda e Recife, dom Miguel de Lima
e donde brotam caudais de fé”, clamando Valverde (1872-1951), com entusiasmo, assim
pelo advento do Reino de Deus mediante motivava o clero e os fiéis de sua arqui-
o apostolado “urgente e insubstituível da diocese: “Um congresso eucarístico, filhos
Ação Católica” (ibidem). Esse Congresso diletíssimos, é uma assembleia de fiéis que
Eucarístico Nacional, com o tema “Eu- se reúnem para tributar a nosso Senhor sa-
caristia, luz e vida”, esteve marcado pela cramentado as homenagens mais expres-
consolidação dos fiéis leigos na sociedade sivas de sua fé, de sua esperança e de seu
e por sua colaboração com a hierarquia amor” (CEN, 3., 1940, p. 16). Ele propunha a
da Igreja, especialmente por meio da Ação co­operação de todos pela prece, pela ação,
Católica, organização leiga aprovada pelo pela contribuição pecuniária, mas sobretudo
papa Pio X, em 1905, na encíclica Ubi pela preparação espiritual, realizada por meio
Arcano Dei Consilio. Recorde-se que, no do culto eucarístico.
ano anterior, teve início oficialmente a Ainda no contexto da Segunda Grande
Ação Católica no Brasil pelo mandamento Guerra, aconteceu o IV Congresso Euca-
dos bispos brasileiros (em 9 de julho de rístico Nacional, em 1942, em São Paulo,
1935), o qual apresentava, como seu fim com o tema “Vinde a mim todos”, sob a
último, “dilatar e consolidar o Reino de responsabilidade de dom José Gaspar de
Jesus Cristo” e, como seu fim próximo, Afonseca e Silva (1901-1943). Mais uma
“a formação e o apostolado dos católicos vez, o evento constituiu uma proclamação
leigos” (VIEIRA, 2016, p. 254). de unidade cívico-religiosa diante da relati-
O III Congresso Eucarístico Nacional, vização do papel da Igreja e do processo de
com o tema “A Eucaristia e a vida cris- laicização da sociedade brasileira (KUHN,
tã”, ocorreu na cidade do Recife em 1939, 2017, p. 13).
ano em que começou a Segunda Guerra Os demais Congressos Eucarísticos Na-
Mundial:“Aos clarins do congresso sagrado, cionais (CENs) apresentaram temas que
Pernambuco se ergueu varonil e o Reci- estabeleceram relações entre ação social e
fe se fez, lado a lado, catedral onde reza o evangelização e a fé na Eucaristia, sobre-
Brasil”. Em sua carta pastoral, o arcebispo tudo depois do Concílio Vaticano II, das

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Conferências do Episcopado Latino-ame- 3. Em Recife, mais um congresso
ricano e do magistério recente da Igreja: eucarístico nacional
O III Congresso Eucarístico Nacional
•V  CEN: Porto Alegre, de 28 a 31 de marcou profundamente a fé dos pernam-
agosto de 1948 – Eucaristia e ação bucanos. Mesmo as gerações mais novas, de
social; uma forma ou de outra, quer mediante os
• VI CEN: Belém, de 12 a 16 de agosto de relatos dos antepassados, quer mediante a
1953 – A Sagrada Eucaristia, sacramento leitura dos anais do evento, sabem da gran-
da unidade da comunidade; diosidade dessa manifestação de fé, ocorrida
• VII CEN: Curitiba, de 5 a 8 de maio em 1939. Em 2017, pôde a arquidiocese
de 1960 – Eucaristia, luz e vida do de Olinda e Recife receber a notícia de
mundo; que o XVIII Congresso Eucarístico seria
• VIII CEN: Brasília, de 27 a 31 de maio celebrado, pela segunda vez, na “Veneza
de 1970 – A mesa do Senhor; brasileira”.
• IX CEN: Manaus, de 16 a 21 de julho O anúncio da sede desse congresso não
de 1975 – Repartir o pão; foi feito logo após o término do XVII Con-
• X CEN: Fortaleza, de 9 a 13 de julho gresso Eucarístico Nacional, realizado na ar-
de 1980 – Para onde vais?; quidiocese de Belém entre os dias 15 e 21
• XI CEN: Aparecida, de 16 a 21 de de agosto de 2016. A LV Assembleia Geral
julho de 1985 – Pão para quem tem Ordinária da CNBB, realizada em Aparecida
fome; de 26 de abril a 5 de maio de 2017, foi a
• XII CEN: Natal, de 6 a 13 de outu- ocasião em que se tratou da cidade-sede do
bro de 1991 – Eucaristia e evangeliza- próximo congresso. Na ata n. 4 do dia 29 de
ção; abril, no número 17, lê-se:
•X  III CEN: Vitória, de 7 a 14 de julho
de 1996 – Eucaristia, vida para a Igre- Dom Fernando Saburido comentou o
ja; pedido feito pelo regional NE 2 de que
• XIV CEN: Campinas, de 19 a 22 de Recife aceitasse o convite para sediar o
julho de 2001 – Eucaristia, fonte da próximo Congresso Eucarístico Nacional.
missão e da vida solidária; E, apesar dos temores quanto ao custo
• XV CEN: Florianópolis, de 18 a 21 e a necessidade de recursos humanos, e
de maio de 2006 – Ele está no meio com o apoio e incentivo do regional, a
de nós!; arquidiocese aceita, com alegria, a possi-
• XVI CEN: Brasília, de 13 a 16 de maio bilidade de sediar o próximo Congresso
de 2010 – Eucaristia, pão da unidade Eucarístico (CNBB, n. 17, p. 79).
dos discípulos missionários;
• XVII CEN: Belém, de 15 a 21 de Dom Leonardo Steiner, então secretário-
agosto de 2016 – Eucaristia e partilha -geral da CNBB, pôs em votação a candi-
na Amazônia missionária. datura da arquidiocese de Olinda e Recife

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para sediar o próximo Congresso Eucarístico Considerações finais
Nacional, a qual foi aprovada, por unani- Com esse olhar sobre a história dos
midade, por todos os presentes (ibidem, n. congressos eucarísticos, podemos obter
19, p. 79). luzes para viver o XVIII Congresso Eu-
Desde que foi aprovada a sede do XVIII carístico Nacional como uma oportu-
Congresso Eucarístico Nacional, Olinda e nidade de renovação da fé no mistério
Recife vêm preparando-se para essa grande da Eucaristia e do compromisso social
celebração. Em 15 de novembro de 2019, e missionário da Igreja no Brasil, como
deu-se a abertura do Ano Eucarístico em bem expressa a oração oficial de prepa-
Recife, com celebração eucarística presidida ração para o Congresso, a qual condensa
pelo então presidente da CNBB, dom Ser- a teologia e a reflexão sobre a Eucaristia
gio da Rocha, e concelebrada pelos bispos e suas dimensões na vida eclesial e social:
do regional NE 2. Em razão da pandemia dirigida a Cristo presente na Eucaristia,
da Covid-19, o evento teve de ser adiado o qual é invocado como o Salvador do
duas vezes. Em 14 de novembro de 2021, mundo, titular da Sé de Olinda, faz me-
Dia Mundial dos Pobres, o arcebispo do mória bíblica do pão com o qual o povo
Rio de Janeiro, dom Orani João Tempesta, da Antiga e da Nova Aliança é saciado.
presidiu, no centro da cidade do Recife, a Reafirma a fé da Igreja na Eucaristia como
celebração da Eucaristia para relançamen- memorial da Páscoa do Senhor e pede
to do Congresso Eucarístico. Com base no que, com base na Eucaristia celebrada e
tema escolhido – “Pão em todas as mesas” –, na adoração da presença eucarística de
esse congresso, celebrado na região Nordeste Cristo, a fé aja pela caridade, ao fazermos
do Brasil, marcada por tantas desigualdades a opção evangélica pelos pobres, para que
sociais, que foram ainda mais acentuadas pela o testemunho dos primeiros cristãos seja
crise pandêmica, quer levar à conscientização seguido pela Igreja de hoje no anúncio
de que a Eucaristia nos compromete com alegre do Evangelho.
os mais pobres (CATECISMO..., 2000, n.
1397, p. 387). Referências bibliográficas

A SAGRADA Comunhão e o Culto Eucarístico


fora da Missa. São Paulo: Paulus, 2000.
CATECISMO da Igreja católica: edição típica
“O sacrifício eucarístico é a vaticana. São Paulo: Loyola, 2000.
fonte e ápice de todo culto da CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS
Igreja e de toda a vida cristã.” DO BRASIL (CNBB). Ata n. 4, 55ª Assem-
bleia Geral Ordinária. Comunicado Mensal,
Brasília, n. 687, p. 79, 2017.

18 vidapastoral.com.br • ano 63 • n o 348


CONGRESSI EUCARISTICI. In: CATHO-
PEDIA: l’enciclopedia cattolica. Disponível
em: https://it.cathopedia.org/wiki/Con-
gressi_Eucaristici. Acesso em: 22 fev. 2022. Eucaristia: a família
CONGRESSO EUCARÍSTICO NACIO-
de Deus em festa
NAL (CEN), 3., 1940, Recife. Anais... Reci- Padre Gregório Lutz, CSSp
fe: Oficinas Gráficas do Jornal do Comércio,
1940.
JUNGMANN, Joseph A. Corpus Mysticum.
Gedanken zum kommenden Eucharisti-
schen Weltkongress. Stimmen der Zeit, n.
164, p. 401-409, 1959.
KUHN, João Carlos Santos. São Paulo, me-
trópole católica: IV Congresso Eucarístico
Nacional em São Paulo. In: SIMPÓSIO

Imagens meramente ilustrativas.


NACIONAL DE HISTÓRIA, 29., 2017,
Brasília. Anais... Brasília: Anpuh, 2017. Dis-
ponível em: https://anpuh.org.br/index.
php/documentos/anais/category-items/
64 págs.

1-anais-simposios-anpuh/35-snh29. Acesso
em: 17 fev. 2022.
O livro ajuda o leitor a
PONTIFÍCIO CONSELHO PARA OS
compreender os mistérios da
CONGRESSOS EUCARÍSTICOS IN- santa missa e celebrá-la com
TERNACIONAIS. Os congressos eucarísticos profundidade. Além disso,
internacionais. Disponível em: https://www. conta com dois apêndices: no
vatican.va/roman_curia/pont_committees/ primeiro, o autor elucida as
eucharistcongr/documents/rc_committ_ partes da Santa Comunhão,
euchar_doc_20030409_intern-euch-con- sua sequência e seu sentido; no
gresses_po.html. Acesso em: 17 fev. 2022. segundo, mostra as
partes da celebração (Abertura,
SAGRADA CONGREGAÇÃO DOS RITOS. Liturgia da Palavra, Liturgia
Eucharisticum Mysterium: Instrução sobre o Eucarística e Ritos
mistério eucarístico. 4. ed. São Paulo: Pau- Finais) e os momentos de cada
linas, 2003. uma delas.

VIEIRA, Dilermando Ramos. História do


catolicismo no Brasil. Aparecida: Santuário,
2016. v. 2.

Vendas: (11) 3789-4000


0800-0164011

paulus.com.br

vidapastoral.com.br • ano 63 • n o 348 19


Danilo César* e Penha Carpanedo**

*Danilo César, presbítero da arquidiocese de Belo Horizonte, liturgista formado pelo Instituto Litúrgico Santo Anselmo (Roma) e doutorando
pela Faje/Capes (BH). Professor de Liturgia na PUC Minas, no Ista, na Unisal e na Facasc. Membro do Secretariado Arquidiocesano de Liturgia.
Membro da Rede Celebra de animação litúrgica. E-mail: [email protected]
**Maria da Penha Carpanedo, religiosa da Congregação Discípulas do Divino Mestre, mestra em Liturgia, membro da Rede Celebra de animação
litúrgica. E-mail: [email protected]

EUCARISTIA, CEIA
MEMORIAL E FESTIVA:
DA RITUALIDADE AO MISTÉRIO

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O texto, uma reflexão acerca da Eucaristia como sacramento
central da vida eclesial, discute certas distorções quanto
à vivência deste sacramento, o qual, historicamente, se
distanciou de sua compreensão litúrgica, com base em fortes
influxos dogmáticos e canônicos. Graças ao Concílio Vaticano
II, a teologia eucarística pôde voltar às fontes litúrgicas,
bíblicas e patrísticas, recuperando seu sentido comunitário,
celebrativo e escriturístico.

INTRODUÇÃO Graças ao Concílio Vaticano II, a teologia


A Eucaristia é o sacramento central da eucarística pôde voltar às fontes litúrgicas,
vida eclesial. Contudo, essa valorização bíblicas e patrísticas, recuperando seu sentido
decorre de intensa dogmatização de seu comunitário, celebrativo e escriturístico. A
significado, processo que acarretou alguns grande intuição da reforma litúrgica a res-
efeitos, como o devocionismo eucarístico, peito da Eucaristia foi voltar à simplicidade
o clericalismo e o cerimonialismo, que en- evangélica: aos gestos e palavras de Jesus na
quadram a Eucaristia num tipo de com- última ceia, que constituem o memorial.
preensão e a distanciam de seu fundamento: Urge recuperar o sentido celebrativo (fes-
ser ação memorial da Páscoa do Senhor, tivo) desse sacramento, devolvendo-lhe as
realizada em comunidade, na forma de uma feições originais.
ceia festiva. Historicamente, a Eucaristia se
distanciou de sua compreensão litúrgica, o 1. “ FAÇAM ISTO”: OS GESTOS
que se deu sob fortes influxos dogmáticos e DE UMA FESTA
canônicos (BOURGEOIS, 2005, p. 55-58). A reforma do rito da missa (Ordo Missae)
Nesse esquema, a hipervalorização da tríade dispôs mimeticamente o rito eucarístico
“matéria, forma e ministro” enfraqueceu o em unidades rituais que correspondem aos
valor da assembleia. Bastando o ministro, a gestos e palavras de Cristo na última ceia: o
assembleia perdeu o acesso ao sacramento, a rito de apresentação das oferendas evoca seu
ponto de já não comungar, ficando confinada gesto de tomar o pão e o cálice; a oração
às devoções e à adoração das espécies. O eucarística corresponde à sua ação de graças;
evento da morte e ressurreição do Senhor, a fração do pão e a comunhão, ao próprio
eixo da fé cristã, foi obscurecido pela teo- ato de partir e repartir entre os discípulos
logia da presença real, que obteve notável (Instrução Geral do Missal Romano – IGMR –,
desenvolvimento após o período medieval. n. 72). A Igreja cumpre, assim, o manda-
A teologia sacrifical, posterior ao Concílio mento: “Façam isto como meu memorial”
de Trento, recebeu enorme difusão, mas sem (Lc 22,19). Essas “unidades rituais” superam
as necessárias peias da noção memorial, já séculos de uma visão focada na narrativa da
firmada desde Trento. instituição – considerada exclusivamente

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“GRAÇAS AO CONCÍLIO
VATICANO II, A TEOLOGIA
EUCARÍSTICA PÔDE VOLTAR
ÀS FONTES LITÚRGICAS,
BÍBLICAS E PATRÍSTICAS,
RECUPERANDO SEU SENTIDO
COMUNITÁRIO, CELEBRATIVO
E ESCRITURÍSTICO.”

como consagração.1 Recupera-se a noção uma festa [hag (hebraico); heortèn (LXX)] para
de memorial, uma visão mais bíblica, pa- o Senhor; nas vossas gerações a festejareis; é
trística, litúrgica e orgânica da ceia, sem um decreto perpétuo”.
descartar o elemento dogmático da pre- A sucessão ritual dessa narrativa é o seder
sença real. (ordem) pascal, “o mais sugestivo, alegre e
Cinco são as hipóteses que tentam ex- inesquecível de todos os ritos familiares do
plicar qual teria sido o rito judaico no qual judaísmo. [...] E consiste na participação de
se deu a última ceia de Jesus (PENNA, uma refeição simbólica [...] na qual cada
2018, p. 23-27). A mais aceita é a de que elemento lembra um aspecto da noite, na
a última ceia tenha sido uma ceia pascal, qual Deus [...] tirou o povo do Egito e o
como aparece no relato de Lucas: “Desejei introduziu na Terra Prometida” (DI SANTE,
ardentemente comer esta Páscoa com vocês” 2004, p. 177). O cordeiro lembra que, no
(Lc 22,15).Trata-se da Páscoa hebraica, que Egito, o anjo exterminador passou adian-
tantas vezes Jesus já havia celebrado com sua te das casas dos israelitas – donde deriva o
família, com os discípulos, ou em Jerusalém. termo Páscoa –, livrando o povo hebreu da
A ceia remonta a Ex 12,1-14, que narra o morte dos primogênitos. Os pães ázimos
ritual pascal da saída do Egito, da terra da lembram que os pais, na pressa da saída, não
escravidão. Celebrado de forma solene em tiveram tempo de deixar a massa fermentar.
família, com traços de intimidade, fantasia As ervas amargas recordam que os egípcios
e evocações da história da salvação – di- amarguraram a vida dos pais, no Egito. O
versamente da sinagoga, onde era celebrado vinho lembra o dever de agradecer àquele
de modo austero e conciso (DI SANTE, que tirou o povo da escravidão do Egito e
2004, p. 218) –, o rito incluía o cordeiro, os o fez passar da submissão à liberdade, da dor
pães sem fermento e as ervas amargas, sinais à alegria (DI SANTE, 2004, p. 181-182).
antecipatórios do evento da libertação. A Às vésperas da sua paixão, Jesus realiza
ordem de iteração, ao final da perícope (v. com seus amigos uma ceia pascal, com toda
14), determina que os judeus das gerações carga de significado que ela tem, incluindo
futuras o celebrem sempre, para que possam seu caráter pascal festivo (Mc 14,26). Ele se
participar do evento salvífico. Mas traz um põe no lugar do servo que providencia que
elemento que faz compreender que a festa seus convidados se alegrem à mesa. Entre
é parte da estrutura memorial:“Este dia será os discípulos, a conversa gira em torno do
para vós um memorial, e o celebrareis como poder, mas Jesus ensina o serviço à mesa
como sinal do Reino (Lc 22,24-30). Ele a
1
O Catecismo da Igreja Católica considera como consagração a ressignifica, com suas palavras e seus gestos
epiclese sobre os dons e a narrativa institucional, aproximando a
teologia católica de uma compreensão mais ecumênica (CaIC 105-
serviçais, em vista do acontecimento imi-
107.1375, 1993, p. 272.329). nente da sua morte e ressurreição. No pão

22 vidapastoral.com.br • ano 63 • n o 348


e no vinho, entrega-se a si mesmo, anteci-
pando simbolicamente sua doação na cruz.
Nas palavras de Pikaza e Haya: A Eucaristia
Jesus Cristo se faz alimento para uma
refeição espiritual na Igreja
Jesus se prepara para morrer em um con-
texto de festa de ação de graças pela vida,
Luiz Antonio Miranda
simbolizada no vinho, evocado aqui com
uma fórmula solene (“o fruto da videi-
ra”). Com isso, ele coloca seu destino a
serviço da vinha de Deus, ou seja, da vida
do povo israelita, e da chegada do Rei-
no para todos os povos (cf. Mc 12,1-2).
Com vinho deste mundo velho, na festa
de sua entrega-despedida, ele promete
a seus amigos o vinho novo do Reino,
em palavras que evocam o “triunfo de
Deus”, sua vitória definitiva, acima de

Imagens meramente ilustrativas.


todos os possíveis fracassos (PIKAZA;
HAYA, 2018, p. 278, tradução nossa).
146 págs.

No primeiro relato da última ceia, Paulo


está centrado nas palavras e gestos de Jesus e
no modo equivocado como a comunidade
está celebrando a ceia do Senhor, evidenciando
completa glutoneria e indiferença em relação
Este trabalho teológico, bíblico
aos pobres (1Cor 11,23-25). Celebrar a Eu-
e sacramental é resultado de
caristia é fazer o que Jesus fez, comer e beber anos de estudo e
juntos, servindo uns aos outros e esperando uns meditação. O autor deseja
pelos outros (1Cor 11,33). São os gestos e pala- que este livro seja também
vras do Senhor na última ceia que estruturam a companheiro espiritual de
ceia eucarística das gerações sucessivas, as quais todos aqueles que têm como
haverão de participar, por ela, de sua morte meta refletir sobre o sacramento
e ressurreição. O alimento espiritual, tomado eucarístico e rezá-lo.
conjuntamente, fortalece a relação fraterna da
comunidade, no serviço e na unidade que o
pão partilhado evoca (1Cor 10,16-17). Aponte a câmera do
seu celular e confira a
degustação do livro!
2. EM MEMÓRIA DE MIM
A ceia de Jesus é memorial porque, ao
repeti-la, recorda-se o profundo significado
que Jesus conferiu ao gesto de partir o pão e
Vendas: (11) 3789-4000
de entregá-lo aos discípulos, juntamente com 0800-0164011
o cálice, às vésperas de sua paixão (LENAERS,
2014, p. 240). Não se trata de um exercício paulus.com.br
mental ou psicológico, mas de um rito que,

vidapastoral.com.br • ano 63 • n o 348 23


por sua virtude, conecta os participantes ao Trata-se aqui de um anúncio litúrgico-
fato comemorado. Ao celebrar a ceia, os con- -comunitário, não apenas verbal, mas unindo
vidados se tornam presentes, em mistério, ao gestos e palavras. Aclamar significa afirmar,
evento fundador, sendo transportados pelos sentenciosa e efusivamente, uma verdade. Os
sinais à passagem do mar Vermelho, como corpos, de pé, evocam a firmeza e a impor-
acontecimento histórico que já não pode tância da sentença – esse é um ato solene.
repetir-se. A ceia pascal judaica (Ex 12,14) Contudo, o rito foi enfraquecido pelo in-
ilumina a Eucaristia como a Páscoa cristã. fluxo dogmático e devocional: muitos ainda
Não há diferença entre comer o cordeiro, o permanecem de joelhos – respaldados por
ázimo e a erva amarga daquela última ceia normas confusas do Missal (IGMR 42-44).
no Egito e comer os mesmos elementos da Há que se perguntar, neste ponto: o que pres-
Páscoa atual. De acordo com Taborda (2015, crições como essas guardam de clericalismo?
p. 73), essa perspectiva da ceia judaica escla- Como resposta, poderíamos dizer: uma ceia
rece o sentido da Eucaristia como memorial íntima e festiva desnaturada em cerimônia
da Páscoa de Jesus. Nas palavras desse autor: formalista; gestos proféticos e domésticos de
serviço, que denunciam a sedução do poder,
Nos sinais do pão e do vinho deixados transformados em atos sacrificais hieráticos;
por Jesus, nós nos tornamos hoje contem- convidados ao banquete transformados em
porâneos do evento redentor da morte abstinentes adoradores; altares monumentais
e ressurreição do Senhor. Em mistério elevados e distanciados do povo; ministros
participamos do acontecimento histórico “sacerdotalizados” e destacados do corpo
único e irrepetível que trouxe a redenção eclesial... Que Igreja nasce daí?
para a humanidade. Por esse pão e esse O inciso “(eis o) mistério da fé”, que an-
vinho sobre os quais se pronunciou o me- tecede a aclamação, é tirado de 1Tm 3,9.16:
morial de ação de graças e para os quais “Guardem o mistério da fé”; “Grande é o
se suplicou a vinda do Espírito Santo,
somos realmente transportados na fé ao
evento fundador e nos tornamos partici- “ÀS VÉSPERAS DA SUA PAIXÃO,
pantes dele. Também nós podemos dizer: JESUS REALIZA COM SEUS
este pão que agora partimos é aquele que AMIGOS UMA CEIA PASCAL,
Jesus partiu significando profeticamente
seu corpo entregue por nós; este vinho
COM TODA CARGA DE
que está agora aqui no cálice é aquele SIGNIFICADO QUE ELA TEM,
vinho que Jesus bebeu na última ceia INCLUINDO SEU CARÁTER
anunciando profeticamente o seu sangue PASCAL FESTIVO.”
derramado (TABORDA, 2015, p. 74).

Eis por que, no coração da prece eucarís-


tica, foi introduzida pela reforma pós-con-
ciliar uma aclamação, situada logo depois
do relato institucional, a ser alegremente
cantada pela assembleia:“Todas as vezes que
comemos deste pão e bebemos deste cálice,
anunciamos, Senhor, a vossa morte, enquanto
esperamos a vossa vinda” (cf. 1Cor 11,26).

24 vidapastoral.com.br • ano 63 • n o 348


mistério da fé”. O mistério é o evento da
morte e ressurreição do Senhor, evento en- Orientações
globante que abarca toda a vida do Servo para ministros
neste mundo e sua glorificação, conforme
o demonstra o antiquíssimo hino onde está
extraordinários da
inserido esse inciso (BUYST, 2005, p. 25). comunhão
Valter Maurício Goedert
3. P
 ARA UM DIA FESTIVO,
UMA CEIA FESTIVA
O domingo apoia-se na mística do sábado
judaico, o Shabat. Para os judeus, a prescrição
sabática envolve o gozo, o deleite, a bele-
za e o prazer (HESCHEL, 2000, p. 32-35),
elementos próprios da festa (PEREZ, 2002,
p. 15-58). Depois da ressurreição, os discí-
pulos e discípulas reuniam-se para celebrar,
no primeiro dia da semana, em memória do
Crucificado-Ressuscitado. Três passagens do
Novo Testamento, citadas na Carta Apostó-
lica Dies Domini, n. 21 (JOÃO PAULO II,

Imagens meramente ilustrativas.


1998, p. 21), atestam esse fato.
Os três textos bíblicos citados evocam,
de maneira mais ou menos explícita, a liga-
224 págs.

ção do domingo com o serviço, a liturgia e o


testemunho, como obras da fé celebradas na
Eucaristia. A primeira carta aos Coríntios
(16,1-2) trata da coleta fraterna em favor
da comunidade de Jerusalém, evocando o
serviço. Os Atos dos Apóstolos narram uma O livro reúne a experiência
de quinze anos de cursos de
Eucaristia, celebrada no dia do Senhor, em
formação para ministros
Trôade (20,7-12). O Apocalipse fala de uma extraordinários da Sagrada
visão do apóstolo no dia do Senhor, à qual Comunhão. Faz um histórico
se segue a ordem de escrever às Igrejas da desse ministério, trata da
Ásia Menor (1,10-11). A liturgia é o lugar celebração da Eucaristia, de
originante do serviço e do testemunho: o celebrações feitas por leigos e
agir e a vida cristã decorrem da experiência da pastoral dos enfermos.
celebrativa do mistério pascal de Cristo.
A descrição extrabíblica mais antiga da
ceia dominical dos cristãos está na I Apologia
de Justino (†165). O domingo era celebrado
como festa pascal semanal, em memória da
Vendas: (11) 3789-4000
ressurreição de Cristo:“É no dia do sol que 0800-0164011
juntos nos reunimos, porque este dia foi o
primeiro, no qual Deus, transformando as paulus.com.br
trevas e a matéria, fez o mundo, este no qual

vidapastoral.com.br • ano 63 • n o 348 25


“A LITURGIA É O LUGAR
ORIGINANTE DO SERVIÇO
E DO TESTEMUNHO: O
AGIR E A VIDA CRISTÃ
DECORREM DA EXPERIÊNCIA
CELEBRATIVA DO MISTÉRIO
PASCAL DE CRISTO.”

Jesus Cristo, nosso Salvador, ressuscitou dos Nela, a verdade mais nuclear da vida huma-
mortos” (JUSTINO, 2006, p. 310-313, tradu- na vem à tona. Sua linguagem é a poesia, a
ção nossa). O apologista conecta a ressurrei- arte, o rito e o símbolo, capazes de descer às
ção com o primeiro dia da criação, estabe- profundezas do ser, ao contrário do discurso,
lecendo um nexo entre a criação, o evento da racionalidade e da especulação. Ela traz
salvífico cristão e a celebração da Eucaristia uma profecia incômoda e, ao mesmo tempo,
dominical. Celebrar o dia do Senhor remete esperançosa, que se resume nas palavras de
ao evento da criação, renovado pela Páscoa Paulo: “Se é para esta vida que colocamos
de Cristo. Contudo, o mesmo Justino, após a nossa esperança em Cristo, somos, dentre
a celebração que descreve (liturgia), evoca todas as pessoas, as mais dignas de compai-
a solidariedade da comunidade para com os xão” (1Cor 15,19). O rito, como linguagem
necessitados (serviço), bem como o enfren- própria da festa, antecipa um futuro de gozo
tamento de perseguições, teor principal de e plenitude, diante do desespero e do limite
suas apologias (testemunho). desta vida. Ele faz a ligação entre o passa-
O Vaticano II, já tendo ensinado o lugar do e o futuro, qualificando o presente. Na
central da liturgia na vida da Igreja (SC 10), mesma linha, a Sacrosanctum Concilium (SC)
recupera o domingo como Páscoa semanal, dá importante chave para a percepção da
dia de festa e de alegria, dia por excelência liturgia e para a compreensão do mistério
da Eucaristia, da Palavra e da memória pascal de Cristo, quando afirma:
pascal de Jesus Cristo (SC 106). Reforça
o caráter festivo desse dia, chamando-o de A Igreja se preocupa vivamente que os
“primordial dia de festa” (primordialis dies fiéis cristãos não assistam como estranhos
festus), a ser assim proposto à piedade dos ou espectadores mudos a este mistério
fiéis. O caráter festivo do domingo é ele- de fé, mas que, por meio dos ritos e das
mento irrenunciável para a vivência mais preces, alcancem uma boa compreensão
fundamental da Eucaristia: a celebração dele, participem da ação sagrada conscien-
dominical. te, piedosa e ativamente, sejam instruídos
na Palavra de Deus, se nutram à mesa
4. DO RITO AO MISTÉRIO do corpo do Senhor, rendam graças a
Celebrar equivale a festejar como ex- Deus oferecendo a vítima imaculada, não
pressão profunda da vida, distante da lógica somente pelas mãos do sacerdote, mas
utilitarista e sem submissão aos enquadra- juntamente com ele, aprendam a ofe-
mentos racionais e pragmáticos da sociedade. recer a si próprios e dia a dia, por meio
A festa é da ordem do gratuito, do inútil, do de Cristo mediador, se aperfeiçoem na
não tempo (TABORDA, 2019, p. 63-67). unidade com Deus e entre eles, de modo
Ela rompe a espinha dorsal da ideologia da que Deus seja finalmente tudo em todos
produção, da urgência e dos papéis sociais. (SC 48).

26 vidapastoral.com.br • ano 63 • n o 348


Não é a compreensão dos ritos que pro-
move a participação, mas é a mediação do
rito e das orações que viabiliza a participação Como saborear
ativa e consciente no mistério. Por trás disso a celebração
está subentendida a compreensão do axio- eucarística?
ma lex orandi – lex credendi, isto é, “a norma
João Batista Libanio
da oração (liturgia) determina a norma da
fé”. Por conseguinte, é preciso cuidar do
rito e das orações litúrgicas como unida-
des fundamentais da festa cristã e, ademais,
como elementos memoriais capazes de nos
aproximar da boa compreensão do mistério,
elemento que ultrapassa as barreiras tempo-
rais. Daí ser possível aventar a hipótese de
memória do futuro (TABORDA, 2015, p.
64-69): não só o evento da salvação não está
preso ao passado, mas, ao mesmo tempo,
também é da natureza da festa (e do rito)

Imagens meramente ilustrativas.


remeter ao futuro. A abordagem litúrgica
da Eucaristia, ao se voltar para o rito como
lugar teológico, ajuda a reconhecer que a
grandeza do mistério eucarístico não está nas
120 págs.

conclusões que tiramos dele, mas no próprio


ato celebrativo e na forma de realizá-lo.

5. R
 ECUPERAR O CARÁTER
CELEBRATIVO O que precisamos para
Impressiona o caráter estático ainda predo- celebrar melhor a Eucaristia?
Por que muitos fiéis acham
minante nas assembleias, fruto de uma com-
cansativas as celebrações
preensão assaz dogmática do sacramento, a atualmente? Conheça uma
qual, por certo, não propicia a celebração, mas série de elementos litúrgicos
enrijece e “cerimonializa” a ação litúrgica. Os que podem transformar o modo
movimentos dos fiéis, reduzidos à procissão de como você vê a Eucaristia.
comunhão, ao levantar-se, ao ajoelhar-se e ao
assentar-se, conotam a concepção eucarística
pré-conciliar: um espetáculo a ser assistido.
Certamente, bastante se deve à configuração
dos espaços (programa iconográfico), que mui-
to pouco correspondem aos espaços litúrgicos
do período clássico do rito romano.
Por isso, a reforma da liturgia e do Ordo
Vendas: (11) 3789-4000
Missae requer mais passos para se efetivar. 0800-0164011
Por exemplo: voltar o altar para o povo,
embora tenha sido um passo importante, paulus.com.br
não foi suficiente. O rito supõe que os fiéis

vidapastoral.com.br • ano 63 • n o 348 27


de adoração. O encontro com Jesus se
restringe, neste caso, a um recordar me-
ditativo, enquanto as palavras imperativas
de Jesus convocam justamente para comer
e beber (LENAERS, 2014, p. 242).

Também de acordo com o autor:“Eis por


que é tão importante que tudo seja verdadei-
“EM MISTÉRIO PARTICIPAMOS ro, pois só o que é verdadeiro pode ser sim-
DO ACONTECIMENTO bólico” (LENAERS, 2014, p. 242).Assim, em
HISTÓRICO ÚNICO E grandes assembleias com comunhão sob duas
espécies, cuide-se de guardar o simbolismo
IRREPETÍVEL QUE TROUXE do único cálice, usando, para a distribuição,
A REDENÇÃO PARA A cálices em tamanhos bem menores, para não
HUMANIDADE.” se igualarem ao cálice principal. E ainda:

É muito recomendável que os fiéis, como


também o próprio presidente deve fazer,
circundem o altar para oferecer o sacrifício recebam o corpo do Senhor em hóstias
de louvor ao Pai, juntamente com aquele que consagradas na mesma missa e participem
preside (cf. Orações Eucarísticas I e IV). A do cálice nos casos previstos, para que,
expressão omnium circumstantium (literalmen- também através dos sinais, a comunhão se
te, “todos [os fiéis] que, de pé, circundam” manifeste mais claramente como partici-
o altar) não se refere a uma metáfora, mas à pação no sacrifício celebrado atualmente
condição sacerdotal do povo, a qual se apoia (IGMR 85).
nesse testemunho antigo da tradição romana
(séculos IV-VII), reafirmado pela SC 48 e Os dois breves exemplos não são apresen-
pela Lumen Gentium, n. 11: o povo oferece tados como soluções para a questão proposta.
a oblação juntamente com o presidente e Pretendem, sim, contribuir para a verificação
concorre com ele na ação sagrada. do caminho ritual como possibilidade de
Outro dado que sinaliza o baixo índice aproximação das fontes da liturgia, da Tra-
de recepção da reforma conciliar diz respeito dição e das Escrituras. Permanece a tarefa de
à “verdade dos sinais” (IGMR 321): que o recepcionar, promover e aprofundar a refor-
pão se pareça alimento verdadeiro e se possa ma da liturgia da Igreja, partindo sempre do
realizar a fração do pão para manifestar mais rito, de modo que a ação sacramental não
claramente a importância do sinal da unidade seja condicionada por uma ideia que fazemos
de todos num só pão e da caridade fraterna. do sacramento, mas, ao contrário, seguindo a
As partículas podem ser adotadas tão somente intuição conciliar (SC 48), que a ação ritual
quando o número de participantes e outras e orante da Igreja promova um bom conhe-
razões pastorais o exigirem. Segundo Lenaers: cimento e participação do mistério.

O pão partido e distribuído, revelação REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


do modo pelo qual Jesus está presente
no mundo, perde muito do seu sentido BOURGEOIS, Henri. O testemunho da Igre-
quando transformado em puro objeto ja antiga: uma economia sacramental. In:

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significado para ao homem moderno. São

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sobre a santificação do domingo. 3. ed. São
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LENAERS, Roger. Viver em Deus, sem Deus? O livro tem como objetivo
São Paulo: Paulus, 2014. ajudar as pessoas na adoração
PENNA, Romano. A ceia do Senhor: dimensão da Eucaristia. Traz
momentos de reflexão sobre a
histórica e ideal. São Paulo: Loyola, 2018.
Eucaristia, explicitando o que é
PEREZ, Léa Freitas. Antropologia das eferves- adoração, intercessão,
cências coletivas. In: PASSOS, Mauro (org.). A reparação, ação de graças e
festa na vida: significado e imagens. Petrópolis: louvor.
Vozes, 2002. p. 15-58.
PIKAZA, Xabier; HAYA, Vicente. Palabras ori-
ginarias para entender a Jesús: comentarios
evangélicos desde el griego, el hebreo y el
arameo a las principales festividades del año.
Madrid: San Pablo, 2018.
TABORDA, Francisco. O memorial da Páscoa
do Senhor: ensaios litúrgico-teológicos sobre Vendas: (11) 3789-4000
a Eucaristia 2. ed. São Paulo: Loyola, 2015. 0800-0164011

TABORDA, Francisco. Sacramentos, práxis e festa. paulus.com.br


5. ed. São Paulo: Paulus, 2019.

vidapastoral.com.br • ano 63 • n o 348 29


Sergio Sezino Douets Vasconcelos*

*Diác. Sergio Sezino Douets Vasconcelos é professor. E-mail: [email protected]

A EUCARISTIA,
fonte da sinodalidade

O texto apresenta alguns


aspectos da relação entre
Eucaristia e sinodalidade,
enfatizando a finalidade
da Eucaristia, que nos
torna corpo místico
de Cristo a partir
da comunhão e da
participação (koinonia)
nesse corpo. Com
base em tal realidade,
busca problematizar,
em uma perspectiva
pneumatológica, a
sinodalidade como
o modo de ser
da Igreja.

30 vidapastoral.com.br • ano 63 • n o 348


vidapastoral.com.br • ano 63 • n o 348 31
“A sinodalidade é o modo
de ser da Igreja, que brota
da Eucaristia.”

1. O
 desafio da sinodalidade e pastoral, como nos lembra a Conferência
na contemporaneidade de Aparecida, e a sempre necessária “volta às
O tema da sinodalidade, embora não seja fontes”, na busca de redescobrir a jovialidade
algo novo na vida da Igreja, tem tido gran- dos fundamentos da experiência sinodal.
de repercussão nos últimos tempos. Como
afirmou o papa Francisco: “O caminho da 2. A experiência eucarística,
sinodalidade é precisamente o caminho que fonte da comunhão eclesial
Deus espera da Igreja do terceiro milênio” A Eucaristia e o batismo são os sacra-
(FRANCISCO, 2015). Porém, o papa mesmo mentos estruturantes da Igreja como koi-
reconhece que “é um conceito fácil de expri- nonia (comunhão e participação) no corpo
mir em palavras, mas não é assim fácil pô-lo em e sangue de Cristo. E a koinonia tem seus
prática” (ibidem). Os pecados existentes entre sinais visíveis na comunhão na fé, nos sacra-
nós, juntamente com posturas eclesiológicas mentos, no credo e na pessoa do bispo, sinal
assumidas ao longo da história, contribuíram, visível dessa realidade. A encíclica Ecclesia
não poucas vezes, para certo ofuscamento dessa de Eucharistia (n. 23), ao refletir sobre 1Cor
experiência estruturante na Igreja. 10,16-17, recorda-nos o seguinte:
Não se trata, simplesmente, de uma estra-
tégia metodológica a ser adotada. A sinoda- Pela comunhão eucarística, a Igreja é
lidade é o modo de ser da Igreja, que brota consolidada igualmente na sua unidade
da Eucaristia. Como nos recorda o papa: de corpo de Cristo. A esse efeito unifica-
dor que tem a participação no banquete
Se compreendermos que, como diz São eucarístico alude S. Paulo, quando diz
João Crisóstomo, “Igreja e Sínodo são aos coríntios: “O pão que partimos não
sinônimos” – pois a Igreja nada mais é do é a comunhão do corpo de Cristo? Uma
que este “caminhar juntos” do rebanho de vez que há um só pão, nós, embora sendo
Deus pelas sendas da história ao encontro muitos, formamos um só corpo, porque
de Cristo Senhor –, entenderemos tam- todos participamos do mesmo pão” (1Cor
bém que dentro dela ninguém pode ser 10,16-17).
“elevado” acima dos outros. Pelo contrá-
rio, na Igreja, é necessário que alguém “se Partindo dessa constatação, podemos afir-
abaixe”, pondo-se a serviço dos irmãos ao mar que a celebração eucarística tem como
longo do caminho (FRANCISCO, 2015). finalidade nos transformar no corpo eclesial
de Cristo, mediante a comunhão no corpo
No entanto, para amadurecermos no sacramental (CNBB, 2005, p. 80).
caminho da sinodalidade, duas atitudes são Como nos lembra o papa emérito Bento
fundamentais: a abertura à conversão pessoal XVI:

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[...] a Igreja é o Corpo de Cristo e reno-
va-se continuamente graças à Eucaristia.
Na Eucaristia comemos todos o mesmo Como participar da
pão, por natureza numericamente um – Eucaristia?
Cristo, que não se deixa transformar em Catequese sobre a missa
nossa substância corpórea, mas, ao con-
Padre Busch
trário, é ele que nos assimila no seu cor-
po e, por conseguinte, faz todos nós um
único Cristo. [...] As consequências que
daí resultam são deveras importantes. Para
Paulo, a Igreja não é simplesmente corpo
místico, mas corpo verdadeiramente de
Cristo, ou, em outros termos, para Paulo,
a expressão: “Corpo de Cristo” (isto é,
os cristãos), não é apenas uma compara-
ção ou uma metáfora, mas uma realidade
que exprime a própria essência da Igreja
(RATZINGER, 2016, p. 109-110).

Imagens meramente ilustrativas.


Não poucas vezes, principalmente a partir
do segundo milênio, a ênfase, na catequese
eucarística, é dada ao “encontro pessoal” com
48 págs.

Cristo, compreendido em uma perspectiva


intimista, que corre o perigo de empobrecer
e ofuscar a vitalidade e os desdobramentos
eclesiais da experiência eucarística, reduzindo
o mistério eucarístico a um “culto à hóstia”,
em alguns casos com forte apelo emocional
e com influência de elementos estranhos à Este livro auxilia os cristãos
tradição litúrgica e sacramental da Igreja. a compreender a riqueza da
O ápice da experiência eucarística é a liturgia da missa, atitude
plena comunhão com o corpo eclesial de fundamental para serem
Cristo, a Igreja (TEXTO-BASE, 2019). Na missionários nos ambientes
Eucaristia, é o próprio Cristo que nos atrai familiar e profissional.
para seu corpo. Infinitamente mais importan-
te que uma experiência meramente subjetiva
e intimista, na Eucaristia, Cristo nos arran-
ca da mesmice da nossa existência, marcada
pela fragmentação, para permanecermos em
outra dimensão com ele, a qual só pode
ser vivida de forma processual e na medida
Vendas: (11) 3789-4000
em que, com a ajuda da graça de Deus, nos 0800-0164011
deixamos atrair rumo ao seu corpo místico.
É na experiência eucarística que vamos nos paulus.com.br
conformando a ele, na escola mistagógica do

vidapastoral.com.br • ano 63 • n o 348 33


sacramento da Eucaristia. Quando, verda- vocês não sabem que seu corpo é templo
deiramente, se vive o mistério eucarístico, o do Espírito Santo, que está em vocês e lhes
que brota dessa experiência é uma Igreja que foi dado por Deus? Vocês já não pertencem
encontra e celebra sua identidade como cor- a si mesmos” (1Cor 6,19). Por isso, é impor-
po, unido pela “comunhão e participação”, tante aprofundar um caminho de conversão
vivendo na permanente busca escatológica pastoral que supere “monólogos eclesiais”.
de comunhão em meio à sua diversidade. Como nos recorda o papa Francisco:

3. O
 desdobramento estrutural da Igreja, Uma Igreja sinodal é uma Igreja da escu-
a partir da Eucaristia, é a escuta ta, ciente de que escutar “é mais do que
recíproca, de forma sinodal ouvir”. É uma escuta recíproca, onde cada
A comunhão dos batizados, que caracteri- um tem algo a aprender. Povo fiel, colé-
za a Igreja, é ponto de partida da sinodalidade gio episcopal, bispo de Roma: cada um
(LG 32). Por seu turno, a dimensão pneuma- à escuta dos outros; e todos à escuta do
tológica é constitutiva da experiência sinodal. Espírito Santo, o “Espírito da verdade” (Jo
Todos os batizados e batizadas, em torno 14,17), para conhecer aquilo que ele “diz
da Eucaristia, são testemunhas do Espírito às Igrejas” (Ap 2,7) (FRANCISCO, 2015).
Santo. Todos, em algum nível, são docentes
e discentes na comunidade eclesial. Todos Desde suas origens, a Igreja vive de forma
têm algo a dizer e todos têm sempre o que sinodal. Um dos testemunhos mais antigos
escutar, em torno da Palavra de Deus. Isso é acerca disso se encontra no texto dos Atos
assim porque todos e todas possuem o Espí- dos Apóstolos que apresenta a controvérsia
rito Santo, como nos alerta São Paulo: “Ou sobre a necessidade de circuncisão para os
cristãos (cf. At 15,1-22). São ricas as fontes
sobre experiências sinodais na Igreja, como,
por exemplo, as do século II. Em situações
que ultrapassavam as condições das Igrejas
locais para resolver desafios, surgiram os sí-
nodos regionais de bispos. Eles se reuniam e
discutiam, juntos, problemas de ordem disci-
plinar, doutrinal, pastoral etc., e as resoluções
eram assumidas pelo conjunto dos bispos
das Igrejas locais envolvidas. Na ausência
de um bispo da região envolvida no pro-
blema, era prática comum enviar-lhe uma
carta do conjunto dos bispos reunidos no
“A sínodo, partilhando com ele o que havia
celebração sido resolvido de forma colegial, e o bispo
eucarística tem em questão assumia aquelas decisões na sua
Igreja local. Infelizmente, em alguns mo-
como finalidade nos mentos da história da Igreja, embora nunca
transformar no corpo eclesial tenha desaparecido totalmente a tradição dos
de Cristo, mediante a comunhão sínodos, a experiência de “caminhar jun-
no corpo sacramental.” tos”, exercitando a escuta mútua, foi per-
dendo relevância diante de certos modelos

34 vidapastoral.com.br • ano 63 • n o 348


eclesiológicos que, principalmente a partir Que o XVIII Congresso Eucarístico Na-
do segundo milênio, foram surgindo e fra- cional nos ensine a encontrar, na Euca-
gilizando as mediações de escuta. ristia, o modelo e o alimento da vida
Por isso, é sempre oportuno lembrar que cristã de cada dia. Que o celebremos de
o “caminhar juntos” (sínodo), com base na tal forma, que nos ajude a redescobrir a
escuta mútua, não é mera metodologia ou fascinação secreta e irresistível que a ceia
estratégia eclesial, mas sim realidade cons- de Jesus pode exercer sobre as pessoas,
titutiva da Igreja, que brota da experiência principalmente, sobre aquelas que o sis-
eucarística. Diante dos desafios da cultura tema deste mundo seduziu para o egoís-
contemporânea,“a Igreja é chamada a ativar, mo e o consumo leviano e depredador
em energia sinodal, os ministérios e os caris- da vida e da natureza (TEXTO-BASE,
mas presentes na sua vida para discernir os 2019, p. 141-142).
caminhos da evangelização na escuta da voz
do Espírito” (COMISSÃO TEOLÓGICA Os desafios eclesiais na contempora-
INTERNACIONAL, 2018, n. 53). neidade, vistos com os olhos da missiona-
riedade, à luz da experiência eucarística,
Conclusão: XVIII Congresso Eucarístico são também apelos do Espírito à Igreja,
Nacional, convite a beber nas fontes para que, alimentada pela Eucaristia, se
que fortalecem a sinodalidade na Igreja torne, cada vez mais, “comunidade da es-
A celebração do XVIII Congresso Euca- cuta”, capaz de escutar, ad intra e ad ex-
rístico Nacional é oportunidade de reflexão tra, as múltiplas vozes que a constituem.
e de amadurecimento desses temas na vida Comprometida com a caminhada comum,
da Igreja, aprofundando uma catequese eu- torne-se uma Igreja sempre mais em saída
carística que nos (re)lembre as fontes mais e misericordiosa com os que sofrem, na
cristalinas e profundas da Eucaristia, a qual busca da prática eucarística que se dilata
nos torna uma Igreja sinodal. sobre o mundo.

Referências bibliográficas

COMISSÃO TEOLÓGICA INTERNACIONAL. A sinodalidade na vida e na missão da Igreja.


Brasília, DF: CNBB, 2018. (Documentos da Igreja, n. 48).
CONCÍLIO VATICANO II. Lumen Gentium: Constituição Dogmática sobre a Igreja. In: CON-
CÍLIO VATICANO II. Compêndio do Concílio Vaticano II: constituições, decretos, declarações.
29. ed. Petrópolis:Vozes, 2000.
CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL (CNBB). A Eucaristia na vida da
Igreja: subsídios para o Ano da Eucaristia. Brasília, DF: CNBB, 2005. (Estudos da CNBB, n. 89).
FRANCISCO, Papa. Discurso do papa Francisco por ocasião da comemoração do cinquentenário da instituição
do Sínodo dos Bispos, 17 out. 2015. Disponível em: https://www.vatican.va/content/francesco/
pt/speeches/2015/october/documents/papa-francesco_20151017_50-anniversario-sinodo.
html. Acesso em: 5 jan. 2022.
JOÃO PAULO II, Papa. Ecclesia de Eucharistia: Carta Encíclica sobre a Eucaristia e a sua relação
com a Igreja. São Paulo: Loyola, 2003.
RATZINGER, Joseph. O novo povo de Deus. São Paulo: Molokai, 2016.
TEXTO-BASE do XVIII Congresso Eucarístico Nacional. São Paulo: Paulus: Paulinas, 2019.

vidapastoral.com.br • ano 63 • n o 348 35


ROTEIROS HOMILÉTICOS
Izabel Patuzzo*
Acesse também o programa
Palavra Viva pelo QR code
ao lado.

Cada um dos roteiros está acompanhado de códigos QR     que remetem para as plataformas digitais
de músicas     e       e trazem sugestões de cantos para a respectiva celebração. Esses cantos
também podem ser escutados – mediante a busca pelo nome dos respectivos CDs – no próprio site da Paulus
(paulus.com.br), o qual disponibiliza as partituras.

TODOS OS FIÉIS DEFUNTOS O sentido de urgência que esse tempo


2 de novembro limitado desperta pode nos tornar conscientes,
a cada dia, da importância de qualificar nossas
relações familiares e de amizade, na busca de
um trabalho digno e construtivo para nós e
para os outros. E assim, atentos às necessidades
dos que nos rodeiam, alcançar a plenitude
de nossa vida espiritual. Que nossa passagem
Habitar para sempre por este mundo seja um testemunho, uma
na tenda do Senhor contribuição à humanidade. Como cristãos,
somos movidos pela fé na ressurreição, e nossa
I. INTRODUÇÃO GERAL mortalidade futura deve nos inspirar a viver na
Entre as certezas que carregamos em expectativa de estar eternamente com Deus.
nossa vida de filhos e filhas de Deus está a
finitude de nossa existência. Todos passamos II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS
pela experiência da partida definitiva de 1. I leitura (Sb 3,1-9)
amigos e familiares para a eternidade.Tanto O texto do livro da Sabedoria nos enche
o nascimento como a morte fazem parte do de confiança e nos ensina que Deus cuida
ciclo da vida, da ordem natural. Segundo o de todas as pessoas que vivem segundo sua
ensinamento da Igreja, a morte é o fim de justiça. Ele não é indiferente ao sofrimento de
nossa missão na terra e a passagem para o quem cumpre seus ensinamentos. Sua graça
ciclo final da existência, quando entramos e misericórdia se estendem a todos os que
na comunhão definitiva com Deus. Nossa depositam nele sua confiança. A leitura nos
caminhada terrena é medida pelo tempo, apresenta uma vida futura feliz, na qual iremos
no decorrer do qual buscamos crescer e experimentar a convivência com Deus; por
amadurecer na relação de amor com Deus isso, exorta-nos a viver na justiça. A pessoa
e com aqueles com os quais convivemos. sábia tem uma conduta virtuosa e confia em
Nessa caminhada, envelhecemos, como Deus; essas qualidades tornam possível a união
acontece com todos os seres vivos da na- com ele. Quem escolhe os caminhos do Se-
tureza, e a certeza da morte nos faz lembrar nhor não está livre de sofrimentos e prova-
que nosso tempo aqui é limitado. ções, mas quem espera nele compreenderá
*Ir. Izabel Patuzzo pertence à Congregação Missionárias da Imaculada – PIME. Mestre em Aconselhamento Social pela South Australian University e em
Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. É licenciada em Filosofia e Teologia pela Faculdade Nossa Senhora da Assunção, em
São Paulo. Mestre em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Católica. E-mail: [email protected]

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a verdade e o amor, pois somos chamados Jesus dirige à multidão é uma atualização
para a imortalidade. Por conseguinte, o autor da Torá. De acordo com as Escrituras, pôr
sagrado afirma que a vida do justo está nas em prática os ensinamentos da Torá é ca-
mãos de Deus. Os seres humanos são desti- minho de santidade e sabedoria. Ela con-
nados à imortalidade, dom divino. tém todas as instruções éticas e legais para
uma vida vivida em conformidade com a
2. II leitura (Ap 21,1-5a.6b-7) justiça divina. Tais ensinamentos apontam
O tema central da segunda leitura é a para o amor a Deus com todo o coração.
descrição do mundo novo que Deus está É a regra de ouro para toda pessoa que
para criar. A visão de João do novo céu e da teme o Senhor.
nova terra remete à realidade de um mundo Jesus atualiza a Torá para seu tempo, de-
em que a violência, a maldade e a injustiça já clarando que aqueles que vivem os preceitos
não têm lugar. Desse modo, Deus pode esta- divinos são bem-aventurados. As bem-aven-
belecer sua tenda no meio do povo, enxugar turanças proclamadas por ele são uma excla-
toda lágrima e eliminar todo sofrimento que mação de felicidade que acompanha a todos
aflige a humanidade. O primeiro céu e a os que se põem sob os cuidados divinos,
primeira terra, que já passaram, simbolizam mesmo que sejam pobres, aflitos e persegui-
o mundo corrompido pelo pecado. Somente dos. Os pobres são felizes porque recebem o
Deus é capaz de recriar o novo paraíso. cuidado especial de Deus. O Senhor cuida
Sua voz, vinda do trono, fala diretamente daqueles que a sociedade ignora.A expressão
com os fiéis ouvintes, afirmando que ele remo- “pobres em espírito”, em Mateus, expressa
ve toda origem da tristeza e declarando que irá o afastamento das riquezas por opção pelo
renovar o mundo. Esse texto encoraja os fiéis a Reino de Deus.
considerar o poder e a confiabilidade de Deus. Os mansos incluem todos os que são aco-
Aqueles que permanecerem fiéis a Jesus Cris- lhedores, gentis e caridosos com os outros.
to experimentarão a nova criação. O próprio Os aflitos referem-se a todas as categorias de
Senhor declara que tudo está consumado; ele pessoas que sofrem por verem que, muitas
tem o poder de renovar todas as coisas, todas vezes, o mal reina sobre a terra. Os misericor-
as pessoas e o coração de cada um, pois está diosos são aqueles que deixam transparecer
no princípio e no fim de tudo que existe.Tem o rosto misericordioso de Deus, vivendo
controle sobre a história e garante sua bênção uma vida de caridade e perdão. Os pacífi-
aos vencedores, ou seja, a todas as pessoas que cos representam os que excluem todo tipo
vivem segundo sua justiça. Estas não experi- de vingança e escolhem o caminho da não
mentarão a segunda morte, que, na linguagem violência que Jesus ensinou.
do Apocalipse, significa a morte espiritual. Ser
vencedor no caminho do discipulado é um III. PISTAS PARA REFLEXÃO
desafio, pois exige uma vida inteira de fideli- A fé na vida eterna nos ajuda a adotar um
dade a Jesus Cristo e a capacidade de resistir a estilo de vida em conformidade com o projeto
todas as propostas daqueles que se opõem aos de salvação que o Senhor nos oferece. Esse
ensinamentos das Escrituras. projeto de salvação consiste em continuamente
nos esforçarmos para crescer na justiça, na con-
3. Evangelho (Mt 5,1-12a) cretização do amor ao próximo, na construção
O texto do Evangelho da liturgia deste de um mundo segundo os ensinamentos de
dia faz parte do chamado sermão da mon- Jesus, buscando não a sabedoria deste mundo,
tanha, segundo São Mateus. O discurso que mas a sabedoria divina.

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Os sofrimentos da existência presente não perseguição, houve muitos que sofreram
são um drama sem sentido e sem finalidade. o martírio no mesmo dia e, naturalmente,
A liturgia deste dia nos recorda que somos a Igreja passou a fazer memória de seu
chamados a viver na esperança e na confiança; testemunho numa única data. Desse modo,
mesmo em meio a dores, cabe-nos caminhar em sua origem, a solenidade de Todos os
em direção à vida plena que Deus nos oferece, Santos e Santas recorda todos aqueles que
em comunhão com ele e com todos aqueles se santificaram dando a vida pela fé, às vezes
que nos precederam nesse caminho. no silêncio e no anonimato.
A esperança da eternidade nos leva a viver Cada um a seu modo, os santos nos inspi-
comprometidos com a justiça e a verdade, pois ram a sermos discípulos de Jesus, assumindo
nossa existência neste mundo deve consistir nosso batismo com fidelidade radical. Nesta
na busca do bem comum como caminho solenidade, refletimos sobre o chamado à
para a felicidade sem fim. Isso implica não santidade que cada um de nós recebe e
nos conformarmos com os projetos terrenos agradecemos a Deus a missão que ele nos
que ameaçam a vida humana e a da natureza. confia. Professamos a comunhão dos santos
Abraçar a fé cristã significa viver na confian- e a vida eterna enquanto caminhamos neste
ça em Deus, que nos oferece uma vida plena. mundo.Todos nós somos chamados a viver
Por isso, nossa tarefa é nos comprometermos a comunhão com os irmãos e irmãs como
com a luta pela paz e pela justiça, na certeza de preparação à comunhão eterna.
que as forças do mal não podem pôr em risco
a vida que nos anima. Na medida em que nos II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS
comprometermos com o mundo novo, ado- 1. I leitura (Ap 7,2-4.9-14)
tando atitudes que protegem a vida, estaremos O autor do Apocalipse faz uso de uma
aptos para habitar o novo céu e a nova terra literatura simbólica muito comum em sua
que o Senhor preparou para nós. época, chamada de literatura apocalíptica
ou enóquica. O texto relata uma das visões
TODOS OS SANTOS E SANTAS proféticas que descrevem os anjos como os
6 de novembro mediadores entre Deus e a comunidade
dos fiéis. Os anjos, pela sua proximidade
com Deus, são revestidos de autoridade
para carregarem os selos de Deus, os quais,
segundo a simbologia apocalíptica, reme-
tem à identidade dos que foram marcados
pelo batismo e também pelo martírio. O
Todos somos chamados selo, na verdade, é o sinal externo de que
à santidade somos servos de Deus e lhe pertencemos.
O cristão é assinalado na testa com o sinal
I. INTRODUÇÃO GERAL de sua pertença a Deus, o qual, no livro
A solenidade de Todos os Santos e San- do Apocalipse, contrasta com o sinal da
tas remonta aos primeiros séculos da era besta, portado por aqueles que praticam a
cristã. Essa festa litúrgica foi instituída para idolatria. A marca que o cristão carrega é
homenagear todos os santos conhecidos e sinal de fidelidade, de perseverança na fé.
desconhecidos, particularmente os homens A primeira leitura também fala da grande
e mulheres que deram a vida pela fé em multidão no céu que adora o Cordeiro imo-
Jesus Cristo. Durante o longo período de lado e ressuscitado. Os santos selados na terra

38 vidapastoral.com.br • ano 63 • n o 348


são vistos, em seguida, no céu, vestidos com
roupas brancas de triunfo e segurando ramos de
palmeiras nas mãos. Eles celebram a vitória do Ministério da
Cristo ressuscitado e estão em plena comunhão presidência
com ele. São aqueles que saíram vitoriosos da A arte de presidir a Eucaristia
grande tribulação, isto é, das perseguições que
sofreram. Agora compartilham da vitória de Pe. José Freitas Campos
Jesus Cristo porque resistiram e perseveraram
na fé até a morte. Sua recompensa consiste em
servir a Deus e celebrar a alegria eterna, visto
que nunca mais sofrerão privações.

2. II leitura (1Jo 3,1-3)


Na segunda leitura, João faz referência à
nossa filiação divina. Ser filhos e filhas de
Deus tem, como consequência, dar teste-
munho de nossa filiação divina. Em primei-
ro lugar, o cristão não pertence ao mundo
mergulhado no pecado, que recusou receber
Jesus Cristo. Todo cristão é chamado a levar

Imagens meramente ilustrativas.


uma vida de santidade como Cristo. Os ba-
tizados confiam que partilharão a vida plena
em Cristo no futuro. Na tradição joanina, a
104 págs.

pessoa que conhece a Deus é chamada a ser


semelhante a ele, pois o discípulo compar-
tilha do mesmo destino do Mestre e parti-
cipará também de sua glória.
Pelo batismo, o discípulo passa a perten- Este livro procura conscientizar
cer à comunidade de fé que Jesus instituiu. sobre o mistério eucarístico e
Portanto, pertencer a Deus significa renun- ajudar a vivenciá-lo, a
ciar a toda forma de pecado. A comunidade fim de que permaneça o que
de fé não deve confundir-se com o mundo, eleva ao eterno e mude o que
dele nos afasta.
pois não pratica a iniquidade. O texto sugere
que toda pessoa que mergulha no mundo
do pecado não é, de fato, cristã. Essa leitura
indica que a eleição e a habitação divina
estão em contraposição às pessoas que pra-
ticam o mal. João espera que os membros
da comunidade vivam de modo coerente
com a dignidade de filhos e filhas de Deus.
Vendas: (11) 3789-4000
3. Evangelho (Mt 5,1-12) 0800-0164011
O texto de Mt 5-7 foi considerado por
Santo Agostinho a “carta magna” da vida paulus.com.br
cristã. Expressa a verdade ética capaz de

vidapastoral.com.br • ano 63 • n o 348 39


iluminar o agir (o comportamento) cristão. Reino dos céus, pois quem experimenta a
Entende-se por verdade ética: 1) o saber a misericórdia divina é capaz de ter o mesmo
respeito da felicidade; 2) o saber obrar o sentimento em relação aos outros.
bem. Diante das multidões, Jesus age por A pureza do coração equivale a uma
compaixão. integridade interior, que se manifesta em
Como novo Moisés, Jesus ensina a mul- comportamentos. Portanto, Jesus orienta
tidão do alto da montanha. Até o momento, seus discípulos para uma piedade e pureza
Mateus ainda não havia mencionado esse interior que emanam de uma fé sincera em
lugar. Depois dirá que, uma vez concluído Deus. Aqueles que promovem a paz são os
seu ensinamento, Jesus desceu da montanha. que experimentaram a paz de Deus e por
Esta tem forte valor simbólico, porque liga isso se engajam em ações que buscam elimi-
o ensinamento do Mestre com a revelação nar as hostilidades neste mundo, em vista da
de Deus a Moisés no Sinai. Como Moisés, construção do bem comum. Neste mundo
Jesus sobe a montanha, mas, diferentemente tão marcado por conflitos e guerras, os que
daquele, não escuta os mandamentos de promovem a paz serão reconhecidos como
Deus: antes, ele os pronuncia, atualizando-os verdadeiros filhos de Deus, autênticos mem-
em forma de bem-aventuranças. Isso por- bros da grande família humana que tem Deus
que, para Mateus, Jesus é o Filho de Deus por Pai. Em Mateus, a linguagem da justi-
enviado ao mundo e, portanto, superior a ça também diz respeito ao comportamento
Moisés. correto diante de Deus. Jesus, ao dizer que
A expressão “sentou-se” indica a posição “deles é o Reino dos céus”, fecha o ciclo das
de ensino por excelência, de magistério. Há bem-aventuranças, no sentido de que essas
outro movimento por parte daqueles que bênçãos são as principais marcas dos que têm
ouvem o discurso de Jesus: os discípulos Deus como o único soberano deste mundo.
“se aproximaram”. Essa ação, realizada pe-
los ouvintes, tem um sentido cultual que III. PISTAS PARA REFLEXÃO
remete ao Antigo Testamento, quando Deus Em seu conjunto, as bem-aventuranças pro-
era cultuado na montanha. Ao aplicá-la no clamadas por Jesus constituem uma mensagem
contexto de Jesus, Mateus ressalta essas co- de esperança para aqueles que, aos olhos do
notações cultuais: os discípulos se aproximam mundo, vivem em condições de sofrimento e
do Messias, que os ensina. Esta é a primeira pobreza. Os destinatários das bênçãos divinas
vez que os discípulos são mencionados no não são os mesmos que o mundo proclama feli-
Evangelho segundo Mateus; trata-se daqueles zes pelo fato de terem poder, dinheiro, prestígio,
que tinham sido chamados anteriormente. aplausos etc. A lógica do Reino opera uma
A repetição do adjetivo “felizes” ou inversão: os que sofrem todo tipo de privações
“bem-aventurados” indica a plenitude da e perseguições em virtude de terem escolhido
alegria, com referência também ao presente, o Reino de Deus são felizes porque não são
não apenas ao futuro. As três primeiras bem- esquecidos por Deus; antes, são os destinatários
-aventuranças apresentam um estilo de vida das bênçãos divinas.
em consonância com o Decálogo: pureza de A solenidade deste domingo nos ajuda a
coração, mansidão como proposta de não celebrar a esperança na ressurreição, pois os
violência e aflição como consequência da santos e santas de Deus foram aqueles que
fidelidade às Leis divinas. As demais bem-­ viveram o batismo de forma radical, no espírito
aventuranças seguem a mesma estrutura, fa- das bem-aventuranças. Apesar de terem limi-
lam das promessas àqueles que herdarão o tes e defeitos, esforçaram-se para se aproximar

40 vidapastoral.com.br • ano 63 • n o 348


da luz divina e se deixaram transformar pelos
valores evangélicos. Encontramos em cada um
deles um perfil diferente, mas todos buscaram Formação
a fidelidade ao chamado e às inspirações que para ministros
receberam de Deus. extraordinários da
Sagrada Comunhão
33º DOMINGO DO TEMPO COMUM
13 de novembro Pe. Luiz Miguel Duarte

Não tenhais medo!


I. INTRODUÇÃO GERAL
Ao nos aproximarmos do fim do ano li-

Imagens meramente ilustrativas.


túrgico, cujo último domingo é a solenidade
de Cristo Rei do Universo, a ser celebrada na
próxima semana, a liturgia deste 33º domingo
do Tempo Comum nos relata os momentos
104 págs.

CONFIRA
derradeiros do ministério público de Jesus. VERSÃO
Em linguagem simbólica, as leituras refletem E-BOOK
sobre o sentido da história da salvação, apon-
tando para a meta final, e Deus nos conduz
para habitar no novo céu e na nova terra, isto Este livro apresenta os diversos
aspectos da celebração
é, no mundo novo que lutamos para construir
eucarística, a começar pelo
com base nos valores evangélicos.A descrição seu sentido profundo e por suas
de eventos como destruição, guerras, revolu- múltiplas implicações. Traz uma
ções, lutas, terremotos, pragas, fomes e visões lista de objetos e palavras
pode dificultar nossa compreensão da Palavra utilizados na celebração.
de Deus, na qual Jesus nos convida a não ter
medo, porque o término desses sofrimentos
está próximo.
A primeira leitura afirma que o dia do Aponte a câmera do
seu celular e confira a
julgamento está chegando; o profeta Ma- degustação do livro!
laquias usa a imagem do fogo ardente na
fornalha. Nesse dia, todos os arrogantes e
malfeitores se tornarão como palha. Aqueles,
porém, que caminham na justiça resplan-
Vendas: (11) 3789-4000
decerão como raios luminosos. O fogo é a 0800-0164011
imagem da purificação necessária do reino
do mal, que é feito de escolhas individuais paulus.com.br
e coletivas. Nossa experiência de Deus deve

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ser como o fogo, eliminando o mal por dinâmica da conversão, prestando verdadeiro
meio de escolhas que nos conduzam ao culto ao Senhor. Ele exorta a comunidade
bem comum e à justiça. dos fiéis a participar das assembleias litúrgicas
A segunda leitura é forte convite a espe- no templo como sinal de pertença a Deus. A
rar a vinda definitiva de Deus não com uma menção ao dia do julgamento significa que
atitude de comodismo, mas participando Deus conduz a história e irá intervir. O dia
ativamente da construção do seu Reino. do Senhor não é o fim dos tempos nem o fim
E o Evangelho complementa a mensagem do mundo, mas o tempo em que Deus será,
deste domingo, apresentando o caminho de fato, o único soberano de Israel, quando o
que nossas comunidades devem percorrer. A povo escolhido depositará toda sua confiança
missão que Jesus entrega aos seus discípulos nele, não desistindo de lutar pelo bem mesmo
consiste em transformar o mundo, para que diante dos desvios dos soberanos deste mundo.
as forças do mal não prevaleçam.
2. II leitura (2Ts 3,7-12)
II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS Na segunda carta aos Tessalonicenses, o
1. I leitura (Ml 3,19-20a) apóstolo Paulo retoma o tema do dia do Se-
O profeta Malaquias provavelmente nhor.Aqueles que esperam, com entusiasmo,
exerceu seu ministério quando o segundo o tempo da parusia devem adotar um estilo
templo já havia sido reconstruído. O povo de vida condizente com a vinda triunfal de
escolhido estava sob o domínio do Império Jesus ressuscitado, permanecendo sóbrios e
Persa. O fato de estarem subjugados a um dedicados à oração.
poder estrangeiro não impede que o profeta A comunidade de Tessalônica está en-
exorte o povo a permanecer entusiasmado frentando sério problema pastoral. Devido à
pelas expectativas de reconstrução na ter- ausência e ao distanciamento de Paulo, a co-
ra. Depois do tempo devastador que foi o munidade se deixou levar pela catequese da
exílio da Babilônia, com a destruição de sinagoga judaica, que proclama que o dia do
Jerusalém, Deus vai dar nova chance para Senhor está próximo. Portanto, já não seria
o povo escolhido se reconstruir. preciso se dedicar ao duro trabalho do dia a
O significado do nome de Malaquias dia. Essa concepção errônea da parusia faz que
é “mensageiro de Deus”, por isso, em sua a comunidade se dedique apenas a futilidades,
mensagem, o profeta encoraja o povo de- deixando de assumir as fadigas do dia a dia.
sanimado a prestar atenção e perceber os Dessa forma, muitos estavam vivendo à custa
sinais que apontam para a realização das dos outros. Paulo não pode aceitar essa atitude
promessas de Deus, que já estão em curso. de acomodação, pois ele mesmo sempre se
Diante da falta de esperança e da apatia do manteve com o próprio trabalho. A comu-
povo escolhido, em um contexto de domi- nidade dos discípulos de Jesus é convidada a
nação estrangeira, marcado por injustiças e trabalhar com dignidade para manter seu sus-
arbitrariedades, Malaquias convida o povo a tento, e não ficar alienada, olhando para o céu;
se levantar e reagir. Este não pode duvidar ao contrário, seus membros devem se envolver
do amor de Deus, da sua justiça e do seu ativamente na construção do Reino de Deus.
cuidado por Israel. A reconstrução depende
do empenho e envolvimento de cada fiel. 3. Evangelho (Lc 21,5-19)
O profeta dirige um convite a cada um No texto do Evangelho, Jesus ensina sobre
para assumir o compromisso com Deus, pôr o futuro do templo de Jerusalém. A tradição
em prática o amor ao próximo e entrar na evangélica conservou esses seus derradeiros

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ensinamentos, antes de sua condenação. A enquanto esperamos a plenitude dos tempos,
leitura faz parte dos últimos acontecimentos segundo os desígnios de Deus. É a esperança
em Jerusalém, nos quais Jesus pronuncia seu de que Deus conduz a história que deve
discurso escatológico. A escatologia inclui acompanhar nosso caminhar, e não o medo
toda doutrina acerca do fim dos tempos. do fim do mundo.
O discurso de Jesus, introduzido como O caminho do discipulado é, sem dúvida,
decorrência de comentários sobre a beleza e permeado por provações, adversidades e luta
o esplendor do templo de Jerusalém, anun- contra todas as formas de mal. Jesus se en-
cia a destruição do templo. A seguir, vem a contra em Jerusalém para enfrentar a morte
pergunta dos discípulos sobre quando tal e não esconde que seus seguidores passarão
evento acontecerá. O ponto central do en- pelos mesmos confrontos. Essas, porém, são
sinamento de Jesus não é datar a destruição as condições para construir o novo que irá
do templo, mas convidar seus seguidores à surgir. O templo foi destruído, mas a Igreja,
vigilância e à fidelidade, como preparação alicerçada na fé dos apóstolos, resistiu a todas
para os acontecimentos futuros. Nessa leitura, as adversidades e atravessou o tempo.
Jesus prediz a destruição do segundo templo, Assistimos a muitas especulações acerca
a qual, historicamente, ocorreu. Ele insiste do fim do mundo, mas será que consegui-
que tal dia chegará de forma surpreendente mos identificar, em nosso tempo, sinais que
e lamenta a atitude das autoridades religiosas apontam para o risco de destruição da hu-
de Jerusalém por conduzirem um culto vazio, manidade? Povos se levantando uns contra
que justifica a destruição. os outros, descaso com a natureza, fome,
O evangelista Lucas chama a atenção de diversas formas de intolerância, divisão e
seus ouvintes-leitores para o fato de que, fake news, falta de vida e de liberdade são
após a destruição do templo, surgirão falsos acontecimentos que nos levam a ter medo
messias e visionários que anunciarão o fim ou, antes, a dirigir nosso clamor a Deus,
dos tempos, mas sua comunidade não os para que a fé na ressurreição fortaleça nosso
deve seguir. Jesus também fala dos sinais que compromisso de construir um mundo sem
irão preceder a destruição. O novo que irá medo, permeado de esperança?
surgir exige resistência e perseverança da
parte dos discípulos.A questão fundamental é NOSSO SENHOR JESUS CRISTO,
permanecer fiel no tempo intermédio entre REI DO UNIVERSO
a queda de Jerusalém e a segunda vinda de 20 de novembro
Jesus. É justamente nesse período que Lucas
escreve sua obra, para ajudar sua comunida-
de a entender as adversidades enfrentadas e
perseverar. Ele tem plena consciência de que
a Igreja está lutando para dar testemunho
da fé em Jesus Cristo e de que o martírio
e a perseguição são uma realidade muito A realeza de Jesus: doar a vida
presente nas comunidades às quais se dirige. pela humanidade
III. PISTAS PARA REFLEXÃO I. INTRODUÇÃO GERAL
As leituras deste domingo não estão preo- Nesta solenidade, a Igreja celebra a rea-
cupadas com o fim do mundo. A questão leza de Jesus como o ungido do Pai que
fundamental é o percurso que devemos fazer ofereceu sua vida no altar da cruz para

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redimir todos os povos. Para o cristão, ele Davi, sobretudo do período de prosperi-
é o único Rei do universo, porque aceitou dade, quando ainda era próximo do povo.
a missão que o Pai lhe confiou de construir Davi é descrito mais como um pastor de
um Reino de paz, justiça e amor. seu povo do que como rei. Ele é ungido
A primeira leitura recorda a história da para apascentar Israel. Desse modo, sua rea-
monarquia em Israel. Samuel teve a difícil leza é apresentada como querida por Deus.
missão de ungir Saul, o primeiro rei de Assim, Davi deve ser um representante do
Israel, e foi o último juiz a liderar o povo próprio Deus no meio do povo. Ele passa
escolhido. A transição do sistema tribal a ser lembrado como um mediador en-
para o monárquico não foi pacífica, pois, tre Deus e o povo, exercendo a função de
para muitos fiéis, representou a recusa da apascentar, isto é, de cuidar do povo que
soberania do Senhor Deus como o único Deus lhe confia.
que devia governar seu povo. A leitura faz Embora o reinado de Davi tenha sido
pensar em Davi ainda quando era pastor e marcado por desvios da Aliança, por con-
defendia seu povo e retrata a primeira etapa flitos, guerras, conquistas e submissão de
da liderança do novo rei. outros povos, além de crimes e injustiças,
Na segunda leitura, Paulo apóstolo, na ele foi o rei mais lembrado pelo povo, par-
carta aos Colossenses, descreve Jesus Cristo ticularmente por buscar a unidade entre as
como a imagem do Deus invisível, cuja doze tribos. Resolveu conflitos com alguns
divindade toda a obra da criação reconhe- povos que atacavam as tribos de Israel e,
ce. Ele é a única autoridade admitida pela desse modo, garantiu certa estabilidade
comunidade de fé, pois, com seu sangue, política. Ficou marcado como aquele que
redimiu a humanidade. trouxe a paz para o povo. O Novo Testa-
No Evangelho, Lucas relata o último mento estabelece sua relação com Jesus
diálogo de Jesus na cruz, quando um dos na perspectiva da descendência. Jesus é o
malfeitores que foi crucificado com ele re- verdadeiro Messias, rei de Israel da linha-
conhece sua inocência diante das acusações gem de Davi.
que lhe foram feitas. Esse malfeitor confessa
que Jesus não cometeu nenhum pecado 2. II leitura (Cl 1,12-20)
e pede que seja acolhido por ele no seu No tempo de Paulo, Colossas era uma
Reino eterno. pequena cidade na Ásia Menor, situada
numa região chamada Frígia, no vale do
II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS rio Lico, próximo de Laodiceia e Hierá-
1. I leitura (2Sm 5,1-3) polis. Toda essa área, que hoje faz parte
O texto mostra Davi em Hebron, capital da moderna Turquia, foi evangelizada por
das tribos do Sul de Israel, onde recebe re- Paulo e pelo ancião João. A maioria dos
presentantes das tribos do Norte, que tam- habitantes dessas cidades, bem como de
bém desejam aclamá-lo rei de todo o povo. toda a região, eram gentios, embora histo-
Diante da proposta dos anciãos das tribos, riadores digam que Antíoco III, o Grande
Davi aceita ser rei.Trata-se do primeiro rei (223-187 a.C.), decidiu transportar 2 mil
de Israel a unir todas as tribos, que estavam famílias judias da Babilônia para Lídia e
divididas pelas disputas entre Saul e Davi. Frígia. Atos 2,10 menciona que morado-
Os relatores do segundo livro de Sa- res da Frígia estavam entre os judeus que
muel pertencem a um grupo de israelitas ouviram o discurso de Pedro em Jerusalém
preocupados em manter a memória do rei no dia de Pentecostes.

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Paulo não foi o fundador da comunidade
cristã de Colossas. Epafras, um colossense
que havia sido convertido pelo apóstolo em Missa: uma ação
Éfeso, foi quem trouxe a fé para Colossas
e, provavelmente, também para Laodiceia
emocional
Missa passo a passo
e Hierápolis. Enquanto estava preso em
Roma, Paulo foi visitado por Epafras, que
Pe. Welington Cardoso Brandão
o informou sobre as perigosas tendências
doutrinárias de alguns mestres locais. Tais
ensinamentos eram produtos de influências
judaicas e pagãs que propagavam particular
crença acerca de seres angélicos. Segundo
essa doutrina, os anjos tinham controle sobre
os assuntos humanos e até mesmo sobre toda
a criação. Tal crença pôs em risco a divindade
de Jesus Cristo, que passou a ser conside-
rado como um dos anjos, o mais poderoso
entre os muitos mediadores entre Deus e o
universo. Paulo teve de enfrentar esses erros

Imagens meramente ilustrativas.


com vigor e apontar claramente o lugar por
excelência de Cristo como aquele que está
acima de qualquer anjo ou potestade.
88 págs.

O judaísmo tentou reapresentar essas


doutrinas, inserindo-as em suas referências
à observação do descanso sabático, às celebra-
ções litúrgicas e à prática da circuncisão para
acomodar os prosélitos que as compartilha- Com método atraente e
vam. Em alguns círculos do judaísmo, havia claro, a obra nos introduz na
forte crença na mediação dos poderes dos participação da missa “passo a
anjos. Paulo, com muita convicção, pregou passo”. É um livro de grande
a primazia de Jesus Cristo como o Senhor valor que proporciona
de todo o universo. O apóstolo desenvolveu verdadeira catequese litúrgica,
sua catequese sobre a plenitude da divindade útil às equipes de liturgia e a
toda a comunidade.
de Cristo, esclarecendo que de nenhuma
forma sua natureza divina poderia ser com-
partilhada por qualquer outra criatura. Em Aponte a câmera do
Jesus Cristo, Deus revelou toda a plenitude seu celular e confira a
degustação do livro!
de seu poder. Por sua morte na cruz, Jesus
obteve a vitória sobre todas as forças que
poderiam controlar o universo.
Vendas: (11) 3789-4000
3. Evangelho (Lc 23,35-43) 0800-0164011
O relato da paixão de Jesus segundo Lucas
faz parte do destino final do Messias, já pro- paulus.com.br
fetizado nos cânticos do servo sofredor pelo

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profeta Isaías. No lugar chamado Caveira, um poder dominador. Ele não se impõe aos
ou Crânio, ele é crucificado entre dois mal- seres humanos por sua onipotência, mas é um
feitores, insultado pelas autoridades e pelos Deus que põe toda sua autoridade a serviço da
soldados romanos e oficialmente identificado vida, que tem imensa ternura e doa sua vida
como “o rei dos judeus”. numa morte humilhante na cruz para elevar
O evangelista faz uma distinção entre a a criatura humana.
multidão silenciosa, que assiste de longe, e Sua lógica de realeza se opõe totalmente
aqueles que dirigem insultos a Jesus, como à lógica dos poderes deste mundo. Diante de
os chefes dos judeus e os soldados. Na cena um rei despojado de tudo, que faz da cruz seu
seguinte, um dos malfeitores que foi cru- trono de entrega e amor, somos convidados a
cificado com Jesus também o insulta. Esse repensar que modelo de autoridade buscamos.
triplo insulto constitui o núcleo da extensão O discipulado instituído por Jesus não precisa
lucana da cena da crucificação, que outros de um território geográfico, não precisa de
evangelistas não relatam. Em todos esses in- um poder terreno instituído, como os Estados
sultos, aparece o verbo “salvar”. Os insultos políticos que conhecemos.A Igreja que nasce
dirigidos a Jesus pelas autoridades judaicas aos pés da cruz é chamada a ser comunidade
e pelos soldados também são relatados no servidora, seguindo o exemplo de Jesus, Rei
Evangelho segundo Marcos, mas o último do universo. É nesse sentido que a liturgia
foi adicionado por Lucas. Esse completa a deste domingo nos convida a repensar nossos
tríade de insultos que sublinham a divindade valores e toda a nossa existência. Diante de
de Jesus, humilhado até a morte de cruz um rei pregado na cruz, insultado, sem ne-
para salvar a humanidade. Ele foi crucifi- nhuma honraria, nenhum aplauso, nenhum
cado precisamente como salvador-rei, que exército para defendê-lo, como podemos pôr
deu a vida para a construção de um Reino nossa vida a serviço dos outros com o mesmo
de amor, paz e justiça. A inscrição na cruz despojamento?
traz o título – irônico aos olhos do mundo
– que resume quem, de fato, Jesus é: o Rei 1º DOMINGO DO ADVENTO (ANO A)
eterno de todo o universo. A cruz foi seu 27 de novembro
trono, expressão máxima de uma vida feita
de entrega e amor. É nesse sentido que o
relato de Lucas nos convida a entender a
realeza de Jesus.
O pedido de um daqueles que foram
crucificados com ele – “Jesus, lembra-te de
mim quando entrares no teu Reino” – é Preparai-vos, pois o Senhor
seguido pela resposta: “Hoje mesmo estarás está para chegar!
comigo no paraíso”. Trata-se do lugar da vida
em plenitude e definitiva que Jesus, Rei do I. INTRODUÇÃO GERAL
universo, concede àqueles que acolhem sua O 1º domingo do Advento marca o iní-
proposta de salvação. cio do novo ano litúrgico para a Igreja. O
Advento é, para nós, um tempo de graça
III. PISTAS PARA REFLEXÃO que nos ajuda a bem preparar o Natal. A
Celebrar a solenidade de Jesus, Rei do Uni- celebração da vinda do Senhor deve ser
verso, não é convite para fazer memória de um preparada, em primeiro lugar, em nosso
Deus forte, que submete a todos por meio de coração. Dois elementos centrais de nossa

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fé caracterizam este tempo de espera: o
nascimento do Salvador, que se encarna na
realidade humana, e sua vinda final glorio-
sa, no fim dos tempos. Os temas-chave da Missa: entenda e
época do Advento são a espera vigilante, participe
a preparação dos caminhos do Senhor e a
conversão, como busca da justiça e do amor. Pe. Luiz Miguel Duarte
Na primeira leitura, o profeta Isaías con-
vida toda a comunidade dos fiéis, todas as
raças e nações, a se dirigirem para a mon-
tanha, o lugar do encontro com o Senhor.
E desse encontro com Ele e com sua Pa-
lavra nasce um novo mundo de concórdia,
harmonia e paz. O Senhor faz de todas as
nações um só povo, reunido ao seu redor.
Pode ser desafiador ficar acordado a noi-
te toda, seja cuidando de um parente doente,
seja esperando um ente querido voltar de
viagem. A segunda leitura e o Evangelho

Imagens meramente ilustrativas.


mencionam o tema do ficar acordado,
aguardando o Senhor Jesus voltar em sua
glória. No Evangelho de Mateus, Jesus diz
84 págs.

a seus ouvintes que fiquem despertos, pois


não sabem o dia em que o Senhor virá. Ele
recorda que, nos dias de Noé, as pessoas
cuidavam de seus negócios até que veio A obra oferece auxílio para
o dilúvio e não perceberam os sinais da maior entendimento da missa.
catástrofe. Portanto, adverte seus discípulos São apresentados os
de que eles devem estar preparados para a fundamentos bíblicos e
vinda do Filho do Homem. teológicos da Eucaristia e
alguns pontos referentes à sua
II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS dimensão litúrgica: espaço
1. I leitura (Is 2,1-5) celebrativo, valorização do
canto, funções da equipe de
O texto de Isaías é um oráculo que se
celebração, noções sobre o
encontra também no livro do profeta Mi- ano litúrgico, símbolos e gestos
queias, o que indica que era uma fórmula simbólicos e o modo de
conhecida nos círculos proféticos. O profeta preparar a celebração.
anuncia que nova ordem está para surgir. A
escolha de Sião como morada do Senhor
Deus, como lugar de proteção especial, tem
como objetivo ressaltar que a peregrinação
Vendas: (11) 3789-4000
das nações não é para confrontos e destrui- 0800-0164011
ção, como muitas vezes acontecia. O motivo
da grande assembleia é destruir as armas de paulus.com.br
violência e construir a paz.

vidapastoral.com.br • ano 63 • n o 348 47


A mensagem central do texto é a busca a fé em Jesus Cristo são chamados a expres-
da instrução na Lei do Senhor. O verdadei- sar, por meio de suas ações, sua identidade
ro significado da Torá é traduzir em ações cristã e adotar uma conduta de discípulos
concretas a retidão e a justiça; trata-se de do Senhor. Portanto, esse é o tempo para
um comportamento ético-moral de quem que os cristãos vivam a própria fé, agindo
busca trilhar os caminhos do Senhor. O por meio da caridade. É hora de acordar,
anúncio profético se projeta para uma rea- porque a salvação está próxima.Ao dizer que
lidade futura. A diferença entre o presente e a noite avançou, Paulo está sugerindo que
o futuro ideal aqui descrito é que, no pre- não há muito tempo a separar os cristãos de
sente, a Torá está sendo rejeitada até mesmo seu destino final, que é a comunhão com
pelo povo escolhido, enquanto, no futuro, Cristo. A leitura proposta para este domingo
todos irão pautar sua vida na acolhida dos exorta os cristãos da comunidade de Roma
ensinamentos do Senhor. A paz aqui des- a expressar o amor mútuo e permanecerem
crita exige renunciar a todas as guerras, vigilantes até a vinda do Senhor, quando
ao pensamento de conquista, à subjugação ele concluirá a história da salvação, no fim
de um povo por outro, e acolher, em sua dos tempos.
inteireza, as normas prescritas pelo Senhor. Paulo, assim como seus contemporâneos,
A visão do profeta é sobre o monte onde certamente acreditava que a segunda vinda
está o templo do Senhor. Lá é sua morada, e de Jesus Cristo seria em um futuro não tão
o desejo do Senhor é fazer todos os povos distante. Ele viria para concluir a história da
convergirem para ele. Ele proporcionará salvação. Havia grupos religiosos que faziam
esse encontro de paz entre todos os povos especulações em torno dessas expectativas,
e raças. Assim, já não haverá divisões nem mas o apóstolo não estava interessado em
inimizades. Na medida em que todos se quando isso iria acontecer, e sim no modo
reúnem ao redor do Senhor, escutam sua como os cristãos deveriam aguardar a segun-
Palavra e aprendem seus caminhos, as intri- da vinda do Senhor; quais eram as conse-
gas, divisões, guerras, hostilidades e conflitos quências e o testemunho que deveriam dar
vão se desfazendo. Desse encontro harmo- no tempo dessa espera.
nioso com Deus e entre as nações resulta o
progresso, o entendimento entre os povos, 3. Evangelho (Mt 24,37-44)
a cooperação, a abundância e a paz. O Evangelho deste domingo é uma par-
te dos últimos discursos de Jesus antes da
2. II leitura (Rm 13,11-14) sua paixão e morte, em Jerusalém. O tema
O apóstolo Paulo provavelmente compôs central dessa seção é a vinda do Filho do
a carta aos Romanos durante sua terceira Homem, um dos títulos atribuídos ao Mes-
viagem missionária, quando estava em Co- sias enviado por Deus. Sua chegada deve
rinto. Ele estava se preparando para partir ser precedida por uma série de atitudes que
para Jerusalém a fim de levar a coleta que indicam a vigilância daqueles que aguardam
havia feito nas comunidades da Ásia Menor o Senhor.
em benefício da comunidade mãe, que pas- Mateus contempla a realidade de sua
sava por privações. comunidade, que provavelmente já havia
A mensagem do texto é uma exortação presenciado a destruição do templo de
escatológica dirigida aos cristãos de Roma; Jerusalém. Preocupado com os sinais de
eles devem perceber que já estão vivendo abandono, de acomodação e de esfriamen-
um tempo de graça. Aqueles que abraçaram to no testemunho, ele sente a necessidade

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de renovar o compromisso de fé. É preciso Ou, então, naqueles que desistem de lutar por
reconstruir a esperança dos membros de sua uma vida mais digna, que vivem sem perspec-
comunidade, fazendo uma retrospectiva da tiva de um futuro melhor. As leituras falam
história da salvação. O discurso de Jesus toma do adormecer, do acomodar-se, sem prestar
como exemplo o que aconteceu no tempo atenção nas realidades mais essenciais. São uma
de Noé. Muitas pessoas tiraram conclusões advertência para toda gente que ignora os so-
erradas e ignoraram os sinais que precederam frimentos dos irmãos e irmãs, sob a justificativa
a inundação, porque estavam preocupadas de que as mazelas sociais são um problema das
somente com as coisas passageiras e foram políticas públicas e que não somos responsáveis
completamente descuidadas com as coisas pelo sofrimento alheio.
que dizem respeito a Deus. Neste tempo de preparação para a cele-
O evangelista explicita que essa ignorân- bração do nascimento do Senhor, a Igreja
cia estúpida e culposa levou à destruição total nos convida a recentrar nossa vida, focando
de todos aqueles que não foram atentos aos no essencial, naquilo que é mais importante,
sinais dos tempos. Tomando fatos conhecidos reordenando nossas escolhas e prestando aten-
da história, o evangelista exorta a comuni- ção nas oportunidades que o Senhor, no dia a
dade a permanecer vigilante e a reconhecer dia, nos oferece como a melhor forma de nos
os sinais que precedem a chegada de Deus. preparar para sua vinda.
Essa exortação se fundamenta na profunda
convicção de que a vinda de Jesus Cristo 2º DOMINGO DO ADVENTO
é certa, ainda que não aconteça em breve. 4 de dezembro
Porém, enquanto tal momento não chega, é
preciso estarmos preparados para esse grande
evento, vivendo de acordo com os ensina-
mentos do Mestre e Senhor, pois ninguém
sabe nem o dia nem a hora em que tudo
isso sucederá. O verdadeiro discípulo está
sempre atento e vigilante, preparado para O Reino de Deus está perto!
acolher o Senhor.
I. INTRODUÇÃO GERAL
III. PISTAS PARA REFLEXÃO A liturgia deste domingo apresenta a
O tempo do Advento é um convite para figura de João Batista, como o precursor de
estarmos vigilantes, preparados para acolher Jesus; sua pregação prepara o caminho para
todas as oportunidades de salvação que Deus a chegada do Messias. Todas as leituras nos
nos oferece continuamente. Sua vinda ao nosso convidam a nos despojarmos dos valores
encontro nos desafia a compartilhar algo com egoístas e fugazes que às vezes orientam
os irmãos e irmãs empobrecidos, renunciando nossa vida, levando-nos ao distanciamento
à avareza e ao egoísmo. dos caminhos de Deus.
As leituras nos apresentam algumas atitu- Na primeira leitura, o profeta Isaías
des que impedem o ser humano de acolher fala do amor paternal do Senhor Deus
o Senhor que vem. Fazem pensar naqueles e da resposta ingrata de Israel. Diante da
que orientam toda a sua vida para a busca indiferença do povo escolhido, o Senhor
de satisfação pessoal e prazeres efêmeros, que o corrige e educa com amor e misericór-
vivem obcecados pelo trabalho desenfreado e dia. Por isso, enviará um descendente de
fundamentam sua felicidade nos bens materiais. Davi, sobre quem repousa o Espírito do

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Senhor, e a missão desse personagem será tem suas raízes em Jessé, da casa de Davi, pois
reconstruir um reino de paz e justiça que Deus é fiel às suas promessas feitas à dinastia
não terá fim. davídica.Tal enviado tem como missão recons-
A segunda leitura dá continuidade à carta truir Israel e trazer a paz, porque nele repousa
de Paulo endereçada aos romanos, recordan- o Espírito do Senhor. O mesmo Espírito que
do-lhes que cada cristão deve se esforçar para esteve presente na criação, na ordem do uni-
ser um rosto de Cristo visível no mundo. verso, que animou todos os que estiveram à
Quem segue a Jesus deve dar testemunho frente do povo escolhido e inspirou os profetas
de união, de solidariedade e de caridade conduzirá também o novo enviado de Deus. O
para com os necessitados, vivendo uma vida Espírito de Deus confere ao enviado todas as
de harmonia com os outros, acolhendo e virtudes de seus antepassados que lideraram Is-
ajudando os irmãos e irmãs mais vulneráveis, rael: espírito de sabedoria e inteligência, como
conforme o ensinamento de Jesus. Moisés e Aarão, conselho e fortaleza, como
O Evangelho nos apresenta a pregação Samuel, espírito de conhecimento e temor
de João sobre a vinda do Senhor, tema-cha- de Deus, como os patriarcas e as matriarcas,
ve do Advento. Assim como a mensagem de profetas, juízes e juízas.
João preparou o caminho para Jesus no seu A segunda parte do poema apresenta as
tempo, somos chamados a nos prepararmos. características do Messias que virá. A alian-
Respondemos à mensagem de João com ça com Deus foi quebrada, mas o enviado
nosso arrependimento e com a reforma de vai trazer a paz de uma forma harmoniosa e
nossa vida.Também somos chamados a ser surpreendente que envolverá toda a natureza,
profetas de Cristo, que anunciam pela pró- não apenas a criatura humana. Os animais
pria vida, como fez João, a vinda do Senhor. domésticos irão conviver com os selvagens em
completa harmonia e, como no paraíso, todos
II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS eles serão submetidos ao ser humano, repre-
1. I leitura (Is 11,1-10) sentado pela criança, isto é, pelo ser humano
A primeira leitura retrata o período do na sua fragilidade e pequenez. Até mesmo a
rei Ezequias (714 a.C.), que, preocupado serpente, que provocou a desarmonia inicial
com o fortalecimento do Império Assírio, no paraíso, se submeterá ao ser humano com-
fez aliança com o Egito.Tal decisão política prometido a reconstruir a harmonia. Todos
depositava toda a esperança de segurança no os seres da natureza se empenharão para a
exército estrangeiro, à custa de submissão superação total do desequilíbrio, das rivali-
e pesados tributos, além de pôr em risco a dades, das divisões e de todo pecado. E, nessa
segurança futura de seu próprio povo. O pro- parceria solidária, toda natureza se insere na
feta Isaías era totalmente contra essa decisão dinâmica da construção de um mundo de paz.
política, pois tal iniciativa foi considerada
uma afronta pelo poder assírio, que invadiu 2. II leitura (Rm 15,4-9)
Judá, cercou Jerusalém e obrigou o rei Eze- Esta leitura proposta pela liturgia perten-
quias a se entregar à Assíria. Portanto, a rea- ce à segunda parte da carta aos Romanos.
lidade é desoladora e o povo está desiludido. Paulo apresenta o exemplo de Cristo, com
É nesse contexto que o profeta dirige a o qual somos chamados a nos identificar. Na
mensagem da primeira leitura, um oráculo visão do apóstolo, a comunidade dos fiéis é
em forma de poesia. Primeiramente, Isaías formada de pessoas fortes, mas também de
apresenta a chegada de uma pessoa que vem fracos. Por isso, os fortes são chamados a car-
como mensageiro da paz. Essa personagem regar as fragilidades dos fracos. Para edificar

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a comunidade, muitas vezes temos de nos
dispor a carregar os fardos uns dos outros;
exercitar a paciência para com a atitude ima-
tura dos membros vulneráveis. A leitura nos A missa explicada
apresenta a metáfora da edificação em sentido parte por parte
coletivo. O motivo para esse comportamento
é que nosso Senhor Jesus Cristo carregou
Pe. José Bortolini
nos ombros o peso de nossos pecados. Ele é
o único modelo que nos cabe imitar na vida.
Em sua mensagem, Paulo também exorta
os cristãos a não fazer discriminações, mas
acolher a todos a exemplo de Jesus, que incluiu
no seu discipulado tantas categorias de pessoas
desprezadas pela sociedade de seu tempo e
consideradas desprezíveis. O comportamento
sugerido pelo apóstolo sempre se fundamenta
na pessoa de Jesus Cristo e nas Escrituras. Ele
recorda que mesmo o Antigo Testamento já
aponta para essa realidade, que Jesus levou à

Imagens meramente ilustrativas.


plenitude. Por fim, pede que o Deus da es-
perança cumule os fiéis de alegria, paz e fé.
40 págs.

CONFIRA
3. Evangelho (Mt 3,1-12) VERSÃO
O evangelista Mateus, depois de apresen- E-BOOK
tar os relatos da infância de Jesus, descreve a
obra da pregação de João Batista. Este apare-
ce, na tradição dos grandes profetas de Israel,
pregando o arrependimento e a mudança de
vida. De fato, a descrição de João encontrada
Um livro para os que desejam
nesta leitura lembra a descrição do profeta
entender o núcleo de nossa fé.
Elias em 2Rs 1,8. No texto da liturgia deste Quanto mais compreendermos
domingo, João dirige aos fariseus e saduceus os fundamentos da fé, mais
– partidos dentro da comunidade judaica aptos estaremos para vivenciar,
de seu tempo – um apelo particularmente celebrar e testemunhar aquilo
contundente ao arrependimento. que cremos.
O profeta faz forte apelo à conversão a
todos os que o procuram, oferecendo-lhes o
batismo de arrependimento. Provavelmen-
te, aqueles que o procuravam faziam parte
de um grande movimento de grupos que,
na época, praticavam lavagens rituais para
Vendas: (11) 3789-4000
fins semelhantes. Ademais, o batismo de 0800-0164011
João pode estar relacionado com as práticas
dos essênios, uma seita judaica do século I. paulus.com.br
Esse batismo pode ser entendido como uma

vidapastoral.com.br • ano 63 • n o 348 51


antecipação do batismo cristão. Nessa passa- Nossas comunidades devem ser, para o
gem, o próprio João alude à diferença entre mundo, o rosto visível de um Deus amoroso,
seu batismo e o que ainda está por vir:“Eu os misericordioso, que propõe um estilo de vida
batizo com água, para arrependimento. [...] Ele pautado no acolhimento, no respeito a todas
os batizará com o Espírito Santo e com fogo”. as pessoas e a todos os seres da natureza, mas,
João deixa bem claro que sua relação com muitas vezes, presenciamos grandes divisões
o Messias ainda por vir (Jesus) é de serviço e internas entre nós, faltando com o testemu-
subserviência: “[...] aquele que vem depois nho de unidade e harmonia; muitas vezes nos
de mim é mais poderoso do que eu. Não fechamos em círculos restritos a quem partilha
sou digno de levar suas sandálias” (v. 11). No nossas convicções, colaborando apenas com
contexto do Evangelho de Mateus, a passa- aqueles que concordam com nossa visão de
gem deste domingo é seguida pelo batismo mundo, estilo de vida, trabalho pastoral etc. O
de Jesus por João, evento que é atestado em que podemos fazer para mudar essa realidade?
todos os quatro Evangelhos e parece ter mar- A pregação de João Batista, narrada por Ma-
cado o início do ministério público de Jesus. teus, é forte apelo à mudança radical de vida
A figura de João Batista, por si só, questio- por causa do Reino dos céus. Essa mudança de
na-nos e interpela-nos. Ele atua no deserto, lu- mentalidade e de modo de agir é um retorno
gar de escassez, de despojamento, de provações, à proposta de fidelidade à Aliança que perpassa
mas também de proximidade com Deus. Nas toda a Sagrada Escritura. Muitos ouvintes daque-
Escrituras, é o lugar do encontro com Deus; le tempo se converteram mediante o anúncio
de escutá-lo, de deixar-se conduzir por ele. profético. Nós somos seus destinatários de hoje,
João se veste de forma simples, contrastando pois fomos batizados em nome do Pai e do Filho
com a suntuosidade das vestes dos sacerdotes e do Espírito Santo.Como filhos e filhas de Deus,
do templo de Jerusalém. Seu modo de vida esforçamo-nos para viver a comunhão com Deus
ressalta que ele não usufrui de nada da comu- e com os irmãos e irmãs? Vivemos a partilha
nidade. Não é um homem só de palavras, mas com as pessoas que caminham ao nosso lado?
também de atitudes bem concretas, que todos
podem ver. Isso lhe dá autoridade para o cha- Os roteiros homiléticos da festa
mado à conversão, porque ele é coerente com da Imaculada Conceição podem
a mensagem que prega à multidão dos fiéis. ser acessados no site da revista.

III. PISTAS PARA REFLEXÃO 3º DOMINGO DO ADVENTO


Para nós, cristãos, Jesus é o Messias que nos 11 de dezembro
aponta o caminho da salvação. Ele iniciou uma
nova comunidade de discípulos que se dispu-
seram a acolher sua proposta de fraternidade
universal, fundamentada na prática da justiça,
da harmonia e da paz. Jesus foi conduzido pelo
Espírito Santo em tudo que fez e ensinou. Du-
rante todo seu ministério público, convidou Alegrai-vos!
pessoas para viverem o amor, a solidariedade, a
partilha, o compromisso com o bem comum, I. INTRODUÇÃO GERAL
segundo a proposta divina. Nós, seus discípulos e O 3º domingo do Advento é tradicio-
discípulas de hoje, como estamos contribuindo nalmente chamado de domingo da ale-
para a continuidade de seu projeto? gria, porque as leituras fazem um convite

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a permanecermos alegres em vista da che-
gada próxima do Senhor, que vem para
nos libertar. A missa
A primeira leitura nos fala da promessa Subsídio para coroinhas, acólitos,
de salvação, a qual o profeta Isaías descreve cerimoniários e demais fiéis
como uma floração no deserto. A chegada celebrantes
de Deus é marcada por esse cenário de
Edson Adolfo Deretti
alegria. O Senhor vem para dar nova vida
a seu povo, para libertá-lo do jugo a que
estava submetido e conduzi-lo para a fes-
ta da liberdade, como fez outrora, quando
Israel foi escravo no Egito.
A segunda leitura é retirada da carta de
Tiago, dirigida aos cristãos que estavam
vivendo na pobreza, em um contexto de
muita exploração econômica por conta de
toda uma política de colonização. O irmão
Tiago convida os cristãos a não se deixa-

Imagens meramente ilustrativas.


rem levar pelo desespero, mas esperar com
paciência e confiança no Senhor.
No Evangelho, João envia uma mensa-
gem a Jesus da prisão, perguntando se ele é
96 págs.

o Messias por quem estava esperando. Jesus


responde, apontando para os milagres que
realizou e convidando João e os outros ou- Este livro, composto de dois
vintes a chegar à sua própria conclusão. Mais grandes capítulos – Liturgia da
adiante, Jesus elogia João por seu papel na Palavra e Liturgia Eucarística –,
traz orientações sobre quatro
preparação do caminho para o início de seu
aspectos de cada parte da
ministério. Por fim, diz que todos aqueles missa. Aspectos históricos,
que trabalham para o Reino de Deus serão aspectos litúrgico-teológicos,
tão grandes quanto João e ainda maiores. posição corporal da ação
ritual e aspectos práticos
II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS para coroinhas, acólitos e
1. I leitura (Is 35,1-6a.10) cerimoniários.
A primeira leitura deste domingo perten-
ce ao gênero profético-apocalíptico. O pro- Aponte a câmera do
seu celular e confira a
feta Isaías recorre a essa linguagem simbólica, degustação do livro!
descrevendo os últimos combates do Senhor
Deus, particularmente com Edom, e a vitória
definitiva do povo de Deus. O texto pode
ser chamado de hino da alegria, destinado a
Vendas: (11) 3789-4000
reavivar a esperança e o ânimo daqueles que 0800-0164011
experimentaram o exílio. O motivo dessa
grande alegria é que Deus fará justiça àqueles paulus.com.br
que foram conduzidos ao cativeiro.

vidapastoral.com.br • ano 63 • n o 348 53


O profeta aponta para os sinais da própria da vida na Palestina para falar da espera pa-
natureza; eles indicam que algo muito bom ciente que os discípulos de sua comunidade
está para acontecer. Assim como, com a che- devem ter diante dos sofrimentos pelos quais
gada de nova estação, a natureza se enfeita estão passando e também da espera pelo agir
com a florada, assim deve ser com Israel, do Senhor, que muda os acontecimentos.
que se prepara para a ação libertadora de O convite a fortalecer os corações refere-
Deus. Na chegada da primavera, o deserto -se à esperança na parusia; isso é motivo de
e o descampado são chamados a se revestir esperança em meio às tribulações presentes,
de flores e de vida abundante. As flores das pois o cristão se alimenta da fé em que o
mais variadas cores e espécies manifestam a Cristo ressuscitado está presente na comu-
intervenção favorável do Senhor. Esse ce- nidade dos fiéis. Por isso, a exortação passa
nário alegre é símbolo do que acontecerá também pelas relações mútuas, tomando o
com o povo. Deus vem para mudar a sorte exemplo daqueles que são bem-aventura-
de seu povo sofrido.Toda essa descrição da dos porque perseveram pacientemente. Isso
magnificência das plantas é a imagem da implica que aqueles que temem a Deus co-
beleza, da glória de Deus, que em breve se nhecem, nas Escrituras, outros exemplos de
manifestará, pois somente ele é capaz de pessoas que enfrentaram o sofrimento, como
fazer brotar vida onde há desolação e morte. Jó e outras figuras do Antigo Testamento. Os
O profeta dirige palavras de ânimo e sofrimentos não são a realidade final de nossa
encorajamento à comunidade dos fiéis. O vida, pois Deus tem seu tempo, sua hora
povo não deve baixar a cabeça diante da de revelar sua misericórdia. A perseverança
situação desoladora, mas se unir, seguindo cristã se baseia na convicção da misericórdia
o exemplo da natureza. E o resultado da divina e na esperança da vinda do Senhor.
ação transformadora do Senhor será que
os cegos irão recuperar a vista, os surdos 3. Evangelho (Mt 11,2-11)
ouvirão e o coxo não apenas andará, mas A leitura do Evangelho deste domingo
correrá, saltará como um cervo; o mudo está em continuidade com o texto do do-
não só falará, mas irá cantar de júbilo. Esses mingo anterior, que nos apresenta a missão
são alguns dos sinais de que Deus transfor- profética de João Batista. Na passagem de
mará totalmente a sorte de seu povo, pois hoje, João deixa bem clara sua relação com o
ele oferece vida em abundância para todos. Messias (Jesus) ainda por vir, bem como seu
papel de precursor para preparar os caminhos
2. II leitura (Tg 5,7-10) de sua chegada:“[...] aquele que vem depois
Na segunda leitura,Tiago exorta seus lei- de mim é mais poderoso do que eu. Não sou
tores-discípulos à espera paciente pela vinda digno de levar suas sandálias” (Mt 3,11). No
do Senhor. As palavras iniciais: “sede, pois, contexto do Evangelho de Mateus, a passa-
pacientes” resumem toda a mensagem desse gem deste dia é seguida pelo batismo de Jesus
texto. Elas se aplicam não apenas a situações por João, evento que é atestado em todos os
de injustiças e ultrajes, mas também a to- quatro Evangelhos e parece ter marcado o
das as provações do cotidiano. As menções início do ministério público de Jesus.
às chuvas temporã e tardia são expressões A narrativa informa que João Batista se
veterotestamentárias que descrevem carac- encontra na prisão, por ordem de Herodes
terísticas típicas do clima da Palestina, às Antipas, e envia seus discípulos a Jesus com
quais o agricultor estava habituado. Em sua uma pergunta, reveladora de sua dúvida: Je-
mensagem,Tiago utiliza desse conhecimento sus é mesmo o Messias que o povo espera,

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ou ainda deve vir outro? Jesus responde aos está atento e disposto a acolhê-lo. Ele só pode
emissários de João, apontando para as ações intervir na vida daqueles que o recebem. É
concretas que ele está realizando no meio tempo de nos interrogarmos até que ponto
do povo: os pecadores que se convertem são estamos preparados e dispostos para sua chegada
acolhidos no grupo de seus discípulos, os transformadora em nossa vida. Sua proposta de
doentes recuperam a saúde, os marginalizados libertação encontra espaço em nosso coração?
se tornam protagonistas do Reino, os leprosos Todo batizado é chamado a testemunhar o
são purificados e os surdos ouvem (agora a projeto do amor misericordioso de Deus. Sua
Palavra de Deus pode ser ouvida por todos). salvação chega mediante um testemunho verda-
A mensagem de Jesus a João sobre os deiro, quando lutamos objetivamente para tornar
sinais do Reino sendo realizados lembra realidade a superação de todas as formas de discri-
a salvação descrita pelo profeta Isaías. Essa minação,divisão,injustiça,violência e intolerância,
passagem é um lembrete de que o início da de modo que a luz da esperança divina não se
salvação já está misteriosamente presente, apague no coração das pessoas. Estamos dispostos
mas também ainda está para se cumprir. A a esse nível de comprometimento de fé?
salvação já está em nosso meio, manifesta- As leituras deste domingo nos interpelam
da nos atos milagrosos de Jesus e na Igreja. sobre a figura de João. Ele não foi um pregador
Contudo, ela também deve ser cumprida no midiático que buscava visibilidade. Suas dúvi-
vindouro Reino de Deus. Mesmo quando das acerca do Messias eram uma interrogação
observamos nosso mundo atual, podemos presente no coração de muitas pessoas de seu
encontrar vislumbres da obra de Deus entre tempo. Ele se dirige a Jesus com honestidade
nós.Ademais, ajudamos a preparar o caminho sincera. Sua atitude nos ensina que não de-
para o Reino de Deus por meio de nossas vemos ter medo de nossas dúvidas, pois não
palavras e ações. Essa mensagem é realmente caminhamos com certezas absolutas, mas nos
motivo de regozijo. cabe sempre procurar honestamente pela ver-
A leitura está dividida em duas partes: dade que nos vem de Jesus Cristo.
na primeira, o evangelista Mateus destaca a
figura de João Batista, cuja missão é apontar 4º DOMINGO DO ADVENTO
o Messias enviado; na segunda, o próprio 18 de dezembro
Jesus faz uma apreciação da missão profética
de João. A resposta de Jesus aos discípulos de
João é uma declaração de que ele, de fato,
é o Messias que cumpre todas as promessas
anunciadas a seu respeito pelo profeta Isaías.
O evangelista indica que é preciso distinguir
qual é a missão do Messias e qual é a missão Deus vem ao nosso encontro!
de quem prepara o caminho (João Batista)
para sua chegada. Em outras palavras, o dis- I. INTRODUÇÃO GERAL
cípulo nunca será igual ao Mestre; seu papel Finalmente, neste 4º domingo do Ad-
é apontar para Ele. vento, as leituras proclamadas nos permi-
tem iniciar a contemplação do mistério da
III. PISTAS PARA REFLEXÃO encarnação que celebramos no Natal: Jesus
O Advento se caracteriza pela espera da é o Deus-conosco que veio ao encontro
intervenção salvífica de Deus em favor de seu da humanidade para oferecer um proposta
povo. No entanto, só percebe sua chegada quem de salvação e vida nova.

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A primeira leitura traz o relato do en- porque Deus manterá sua promessa de en-
contro do profeta Isaías com o rei Acaz, viar alguém que cuide do povo. A men-
propondo-lhe que peça um sinal ao Se- sagem central do texto é a afirmação de
nhor Deus. O rei recusa dirigir-se a Deus que Deus não abandona sua Aliança. Isaías
pedindo um sinal de sua intervenção, mas chama a atenção para as falsas seguranças do
o profeta insiste que, apesar da obstinação rei Acaz, que podem levar o povo à ruína.
de Acaz, Deus lhe dará um grande sinal: Ele confia excessivamente na força militar,
enviará o Emanuel, que será concebido por e tal postura resultará em fracasso, culmi-
uma virgem. nando em uma guerra que devastará Judá.
A segunda leitura, retirada da carta de
Paulo aos Romanos, sugere que nosso en- 2. II leitura (Rm 1,1-7)
contro com Jesus deve resultar em um teste- A carta de Paulo aos Romanos foi escrita
munho de busca de santidade. Quem recebe por volta do ano 57 ou 58 d.C., provavel-
a Boa-nova da salvação não a pode guardar mente quando o apóstolo se encontrava em
somente para si, mas deve estar disposto a Corinto e se preparava para deixar sua missão
partilhá-la com aqueles que caminham ao no Mediterrâneo oriental e partir para nova
seu lado. missão no Ocidente. O texto proposto na
segunda leitura é a introdução da carta. Essa
II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS comunidade não foi fundada por Paulo, por
1. I leitura (Is 7,10-14) isso ele tem muito cuidado ao se dirigir aos
O rei Acaz governou o Reino de Judá irmãos e irmãs que estão em Roma.
por volta do ano 734 a.C., em um período O apóstolo tem a intenção de partir em
de estabilidade política e desenvolvimento direção à Espanha e a Roma, porém antes
econômico. A prosperidade trouxe às tribos deve visitar a comunidade mãe, Jerusalém,
de Judá certa tranquilidade. No entanto, a fim de entregar a coleta das comunidades
no cenário da Mesopotâmia estava des- da Ásia Menor. Um dos objetivos da carta
pontando grande ameaça, vinda da Assíria. era se apresentar aos cristãos de Roma, ter
O profeta Isaías, atento à realidade de seu um primeiro contato e anunciar sua futura
tempo, prevê que essa tranquilidade será visita. Paulo define a si mesmo como servo
temporária. Israel tem de tomar cuidado de Jesus Cristo, apóstolo por chamado divino
com seu futuro. Enquanto o rei Acaz de- e eleito para anunciar o Evangelho às nações.
posita toda a sua segurança na prosperidade, Entender-se como servo de Jesus Cristo,
o profeta deposita toda a sua confiança no para ele, significava pôr incondicionalmente
Deus da Aliança. É nesse contexto que o toda sua vida a serviço da Igreja. Ser servo,
profeta se dirige ao rei, para alertá-lo e lhe para Paulo, não implica ser escravo, e sim uma
recomendar que peça um sinal a Deus, em escolha livre de quem está convencido de
vista de decidir o que é melhor para seu que deve se dedicar inteiramente à causa do
povo. Acaz recusa-se a pedir a ajuda de Evangelho. Ao apresentar-se como apóstolo
Deus. Isaías, porém, insiste em buscar no por meio de um chamado divino, ele quer
Senhor as razões para seu discernimento. dizer que seu testemunho é verdadeiro, pois
O sinal de que Deus atua na história pregar o Evangelho não é algo que partiu
será este: uma virgem conceberá e dará à de sua iniciativa. Foi Deus quem o chamou
luz um filho; seu nome será Emanuel, que e o designou para a missão evangelizadora,
significa Deus-conosco. Ele será a garantia e seu passado confirma sua vocação mis-
da continuidade da descendência de Davi, sionária. O ministério apostólico indica a

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exclusividade do serviço à proclamação da
Palavra. Na Igreja primitiva, já havia a distin-
ção entre apóstolos, diáconos ou diaconisas A missa de Paulo VI
e presbíteros. Retorno ao coração da Tradição
O ministério de Paulo no Ocidente exige
uma dedicação total à causa do Evangelho.
Philippe Béguerie / Jean-Noël Bezançon
Ele suplica aos cristãos romanos que orem
pela sua ida a Jerusalém, pois ainda nem todos
os irmãos judeus da comunidade mãe o co-
nheciam. A coleta em favor da comunidade
mãe destinava-se aos pobres. Era um gesto
de solidariedade dos gentios convertidos,
como sinal de profunda gratidão por terem
recebido a fé cristã mediante o testemunho
da comunidade mãe.

3. Evangelho (Mt 1,18-24)


A narrativa do nascimento de Jesus, no
relato de Mateus, compõe a seção dos textos

Imagens meramente ilustrativas.


sobre a infância de Jesus. O texto é verdadeira
catequese sobre a origem de Jesus. O evan-
gelista ensina que a concepção virginal de
104 págs.

Jesus foi obra divina. José nos é apresentado


como um homem justo, o que, na concepção
veterotestamentária, significa obediente à Lei Há mais de cinquenta anos,
mosaica. Como fiel observante das Escrituras, a reforma litúrgica é o fruto
José tem compaixão por Maria, no sentido mais visível do Vaticano II. O
livro busca salientar a origem,
de que não permite a execução do apedre-
os objetivos, o conteúdo e os
jamento, pena prescrita à mulher que conce- desafios da última reforma
besse antes da consumação do matrimônio. litúrgica registrada referente à
José, como os sábios do Antigo Testamento, missa: aquela que foi elaborada
soube interpretar corretamente seus sonhos. sob a direção e a autoridade
Tal sabedoria era um dom concedido por de Paulo VI a pedido deste
Deus aos que eram fiéis aos ensinamentos da concílio.
Torá e justos em suas relações com os demais.
O anjo do Senhor explica a José que Ma- Aponte a câmera do
ria não é adúltera, algo que os leitores de seu celular e confira a
degustação do livro!
Mateus sabiam muito bem, porque conhe-
ciam as leis da tradição contida nas Escritu-
ras. O anúncio do anjo a José segue o estilo
dos relatos veterotestamentários, quando se
Vendas: (11) 3789-4000
anunciava o nascimento de uma personagem 0800-0164011
muito importante para o povo escolhido. Esse
anúncio é cercado de sinais divinos que pro- paulus.com.br
vocam perplexidade e medo. O mensageiro

vidapastoral.com.br • ano 63 • n o 348 57


de Deus comunica o nome da criança que Segundo a catequese primitiva da comu-
irá nascer. A etimologia do nome indica nidade de Mateus, Jesus é o Deus que vem ao
sua missão de salvador. O Emanuel, Deus- encontro da criatura humana na fragilidade de
-conosco, recorda toda a história de Israel, de uma criança, acolhida por José e Maria. Ele foi
um Deus que sempre está no meio de seu enviado por Deus como o grande dom para a
povo. Portanto, o nascimento dessa criança faz vida e a salvação da humanidade. A celebração
parte do projeto divino para a humanidade. do Natal que se aproxima é o momento de
As figuras de José e Maria desempenham cada pessoa experimentar esse encontro pessoal
um papel muito importante como colabo- com o menino Jesus. Esse encontro, porém, só
radores do plano salvífico de Deus. Os dois é possível se estivermos com o coração aberto
enfrentam desafios e impasses diferentes na para acolhê-lo.
obra da salvação. José recebe dupla missão: As figuras de José e Maria nos interpe-
acolher Maria e dar o nome à criança, o que lam. Eles foram pessoas capazes de escutar e
significa tomá-la por filho. Maria, implicita- discernir os apelos de Deus na própria vida.
mente, é aquela na qual se cumpre a profecia Mudaram seus planos e projetos para poderem
de que uma virgem conceberia.A encarnação acolher a missão que Deus lhes confiou. Até
de Jesus se torna possível mediante a obe- que ponto somos capazes de mudar nossos
diência de Maria e José aos planos de Deus. esquemas mentais e desorganizar nossos pro-
jetos, quando precisamos estar disponíveis para
III. PISTAS PARA REFLEXÃO o que Deus nos pede?
As leituras nos recordam que, na história
da salvação, há pessoas como o rei Acaz, que NATAL (MISSA DA NOITE)
depositam sua confiança em falsas seguranças. 24 de dezembro
Muitos depositam sua esperança nos poderosos
deste mundo. O profeta Isaías pertence à cate-
goria de pessoas que depositam sua esperança
somente em Deus. Os poderes deste mundo
são falíveis, ao passo que Deus é o único que
permanece fiel do início ao fim da história.
Neste tempo em que nos preparamos para A Luz resplandeceu
celebrar a vinda do Senhor, somos convidados em plena escuridão!
a tomar consciência da fidelidade amorosa de
Deus, questionando-nos onde depositamos I. INTRODUÇÃO GERAL
nossa confiança e esperança. Nesta noite de festa, meditaremos so-
Nós, cristãos, que acreditamos no Emanuel, bre os detalhes do nascimento de Cristo,
Deus-conosco, somos chamados a testemunhar, conforme a narrativa do Evangelho segun-
no mundo, sua proposta de vida e liberdade. O do Lucas. Aqui aprendemos sobre o censo
exemplo de Paulo apóstolo nos serve de inspi- que traz Maria e José de Nazaré a Belém,
ração, para que também nós venhamos a pôr onde Jesus nasceu.Também ouvimos sobre
nossa vida totalmente a serviço do Reino que o anúncio dessa Boa Notícia aos pastores
Jesus veio construir.A vida de cada um de nós por parte do anjo. Nesses detalhes, encon-
é uma missão, como nos falou recentemente o tramos duas das preocupações particulares
papa Francisco.A missão que Deus me confia de Lucas: localizar a vinda de Cristo no
é única, exclusiva e necessária para o bem das quadro mais amplo da história da salvação,
pessoas que convivem comigo. como a grande Boa-nova a todas as pessoas;

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gentios e judeus são agraciados pela vinda
do Senhor a este mundo, na pobreza e hu-
mildade do menino Jesus na manjedoura.
Na primeira leitura, o profeta Isaías nos Milagres na Bíblia
fala da chegada de um menino da descen- Luiz Alexandre Solano Rossi / Valmor da
dência de Davi como dom de Deus para Silva (orgs.)
seu povo escolhido. Ele será o príncipe da
paz, enviado ao mundo para eliminar todo
ódio, as guerras e toda sorte de sofrimentos;
vem em missão de paz para inaugurar novo
tempo de consolidação da justiça e da alegria.
A segunda leitura nos recorda as razões
de nossa fé cristã. Pelo batismo, somos
chamados a nos comprometermos verda-
deiramente com Deus, sabendo que nossa
morada neste mundo não é definitiva.
No Evangelho segundo Lucas, Jesus nas-
ce como um dos pobres. Deitado em uma

Imagens meramente ilustrativas.


manjedoura em um estábulo – porque não
havia lugar nas pousadas de Belém para
acolher Maria e José –, ele vem ao mundo
152 págs.

por meios obscuros e surpreendentes. No


entanto, enquanto o anjo proclama essa Boa CONFIRA
VERSÃO
Notícia aos pastores, a criança é anunciada E-BOOK
como o Messias e Senhor que vem trazer
paz a toda a terra. No canto dos anjos, todos
Este livro é um conjunto de seis
são convidados a dar glória a Deus por esse artigos que refletem sobre os
nascimento milagroso, no qual Deus vem milagres, tal como aparecem na
compartilhar nossa humanidade. Bíblia e em outros textos sagrados.
O objetivo é mostrar como o
II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS assunto é tratado nesses textos,
1. I leitura (Is 9,1-6) o que esses textos procuravam
A primeira parte do livro do profeta revelar e quais os possíveis
Isaías foi escrita por volta do século VIII significados de cada milagre.
a.C., durante o reinado de Ezequias. Uma
das grandes preocupações do profeta era a Aponte a câmera do
infidelidade a Deus, visível nas atitudes de seu celular e confira a
degustação do livro!
idolatria e injustiça praticadas pelo rei, as
quais eram contrárias aos ensinamentos da
Torá e desviavam muitas pessoas do cami-
nho indicado por Deus. O texto da liturgia
Vendas: (11) 3789-4000
desta noite pertence à seção dos oráculos 0800-0164011
messiânicos do profeta. Eles anunciam que,
num futuro próximo, Deus irá oferecer ao paulus.com.br
seu povo um mundo de justiça e paz.

vidapastoral.com.br • ano 63 • n o 348 59


Isaías descreve a situação que seu povo Embora esta carta seja atribuída a Paulo, há
estava vivendo, marcada por opressão, desâ- dúvidas de que ele seja o autor, pois os proble-
nimo, frustração e falta de perspectivas, como mas nela retratados parecem ter surgido bem
se ele estivesse mergulhado num caminho depois da atividade missionária do apóstolo.
de trevas. A realidade era como habitar nas A grande preocupação já não era a segunda
sombras da morte. A comunidade dos fiéis vinda de Jesus Cristo, que seria iminente, mas
estava mergulhada numa atmosfera sombria, sim estabelecer a conduta dos cristãos den-
sem direção, pois as lideranças estavam rou- tro da sociedade de seu tempo. Isso porque
bando a paz e a segurança do povo. os cristãos estavam perdendo o entusiasmo,
No entanto, em meio a essa realidade tinham se acomodado, e as comunidades es-
caótica, surge uma grande luz. Essa luz faz tavam perdendo a vivacidade e o fervor.
o povo explodir de alegria, cujos motivos o Por isso, o autor da carta procura reen-
profeta vai descrevendo. O primeiro deles cantar os cristãos, buscando razões válidas
é a chegada de uma colheita com muita para que vivam sua fé de forma autêntica e
fartura. A resposta vem da natureza, pois comprometida. Ele os exorta a viver o tempo
a terra produz muitos frutos. O tempo da presente com temperança, justiça e piedade.A
escassez passou, e agora o povo tem alimen- manifestação gloriosa de Cristo fundamenta
to abundante. O povo, porém, ainda tem a esperança. Só tem sentido esperar pela se-
outros motivos para se alegrar. O jugo da gunda vinda do Senhor vivendo a caridade,
guerra e da opressão que pesava sobre ele não se apegando aos tesouros deste mundo,
foi quebrado. As roupas manchadas com o sabendo que a terra não é a pátria definitiva.
sangue da guerra foram destruídas. Nasceu O discípulo deve ter seu olhar fixo em Jesus,
o menino que foi dado ao povo como filho que se entregou por nós até a morte para
para conduzi-lo para a luz. nos libertar do pecado e do egoísmo. Ele
Aqueles que Deus envia para condu- é a medida de nosso amor e compromisso.
zir seu povo jamais cometerão algum mal.
Aqueles que assumem posição de liderança 3. Evangelho (Lc 2,1-14)
porque amam o povo apontam saídas que No relato lucano do nascimento de Jesus,
dão esperança e vida aos desesperançados. o menino nasce como um dos pobres. Dei-
O menino foi enviado para restaurar a paz tado em uma manjedoura em um estábulo,
porque governa o povo com o direito e a porque não havia lugar na pousada, vem ao
justiça. Agora, os direitos dos pobres e opri- mundo por meios obscuros e surpreendentes.
midos são respeitados, por isso esse menino No entanto, enquanto o anjo proclama a Boa
é chamado de príncipe da paz. Ele é dom Notícia aos pastores, essa criança é anunciada
de Deus ao seu povo, e Deus permanecerá como o Messias e Senhor. No canto dos
com ele para que essa paz não tenha fim. anjos, todos são convidados a dar glória a
Deus por esse nascimento milagroso, no qual
2. II leitura (Tt 2,11-14) Deus vem compartilhar nossa humanidade.
O destinatário desta epístola é Tito. Ele Lucas faz uso das tradições segundo as quais
se tornou cristão a partir de seu contato Maria e José vieram de Nazaré e Jesus nas-
com Paulo. Acompanhou Paulo em diversas ceu em Belém da Judeia quando as figuras de
missões; participou do Concílio de Jerusalém Herodes, o Grande, César Augusto e Quirino
com ele, esteve em Éfeso, Corinto. Foi de eram autoridades políticas conhecidas.Todavia,
grande ajuda para resolver alguns conflitos o nascimento de Jesus vai ofuscar todas essas
nessas comunidades a pedido do apóstolo. autoridades, porque Ele é o motivo da grande

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alegria. O evangelista o apresenta como o Mes- de Jesus, que celebramos nesta noite, significa
sias davídico que traz o dom escatológico da que Ele é, para nós, a esperança da nova ordem
paz. Em sua pequenez, em contraposição com que as profecias apontam. E acolhê-lo implica
os poderosos deste mundo, o recém-nascido entrar na dinâmica de seu projeto de paz. Sua
é o Salvador e o portador da paz para todos. chegada nos interpela: é realmente nele que
Em sua revelação aos pastores, os anjos can- depositamos toda a nossa confiança e esperança?
tam que a vinda de Jesus traz paz. No entanto, O presépio nos ajuda a contemplar que a
há pouca coisa, nos detalhes do Evangelho, lógica de Deus é muito diferente da lógica do
que dão evidência de paz. Jesus nasce como mundo em que vivemos. Deus se manifesta na
peregrino longe de casa, em um estábulo, pequenez de uma criança, que nasce cercada
numa cidade lotada e sob a ocupação de es- de pessoas simples e de seres da natureza, e não
trangeiros. A aparição do anjo aos pastores os em um ambiente de riqueza e esplendor. É
assusta. Portanto, quando os anjos proclamam na manjedoura, na fragilidade, na simplicidade
o nascimento de Jesus como o prenúncio da que a luz do mundo brilha. Sua chegada é
“paz na terra”, Lucas tem a intenção de de- Boa Notícia, é ternura que enche de felicidade
senvolver aos poucos os fatos que evidenciam aqueles que estão à margem.
ser Jesus o príncipe da paz. É no decorrer de Nossa cultura globalizada institucionalizou
todo o terceiro Evangelho que essa Boa-nova e sacralizou muitos valores efêmeros, como di-
é esclarecida. Os pastores são convidados a nheiro, status, bens de consumo, sucesso, poder
reivindicar uma fé que os capacitará a ver esta e visibilidade midiática, e montou um sistema
criança como um sinal da promessa de Deus publicitário que nos induz à busca da felicida-
de um Messias. É por meio dessa fé que se de falsa ou aparente. No entanto, esses valores
encontra a paz que os anjos cantam. frequentemente levam as pessoas a uma vida
Os pastores são as primeiras testemunhas vazia e sem sentido. A celebração do Natal
desse grande acontecimento. Eram consi- nos confronta, fazendo-nos pensar nos valores
derados pessoas rudes, simples e pobres. É que norteiam nossa vida. É Jesus Cristo nossa
precisamente essa categoria de marginaliza- referência? É ele que conduz nossa vida, ou
dos que se alegra com a chegada de Jesus. A preferimos seguir as propostas das autoridades
Boa Notícia é, em primeiro lugar, para eles. deste mundo, que não passam de ídolos?
O título de salvador era atribuído apenas
ao imperador romano. Lucas inverte toda NATAL (MISSA DO DIA)
a hierarquia da sociedade da época, apli- 25 de dezembro
cando a Jesus todos os títulos reservados às
autoridades políticas. Ele é aquele que vem
restaurar a paz, o Salvador, o príncipe da
paz; todas as autoridades políticas e religiosas
fracassaram em sua missão de proporcionar a
paz verdadeira, por isso o evangelista afirma
que somente Jesus é o Senhor. A Palavra armou
sua tenda entre nós!
III. PISTAS PARA REFLEXÃO
O menino Jesus, que nasce pobre em Belém, I. INTRODUÇÃO GERAL
é que dá sentido às profecias anunciadas por A solenidade da natividade de nosso
Isaías. Ele é aquele que vem arrancar o povo da Senhor nos convida a contemplar o amor
escuridão e das sombras da morte. O nascimento de Deus pela humanidade. Sua encarnação

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expressa a profunda comunhão de Deus Parte de Israel foi deportada quando a Ba-
com a criatura humana. Ele em pessoa entra bilônia ocupou Jerusalém (no período de
em diálogo conosco. O evangelista João o 586-539 a.C.). A perda da terra, dom de
descreve como a Palavra que veio habitar Deus para seu povo escolhido, trouxe um
no meio de nós, a fim de oferecer sua vida sentimento de derrota, frustração, desânimo,
em plenitude, elevando-nos à dignidade de dispersão e abandono por parte de Deus
filhos e filhas de Deus. diante dos pecados cometidos outrora.
A primeira leitura pertence ao chama- Esta leitura retrata a fase final do exílio na
do livro da consolação do profeta Isaías. Babilônia. É em tal contexto que o profeta
O texto nos apresenta a chegada do Deus vem exortar o povo, anunciando que Deus
libertador, que vem trazer a paz e a salvação irá intervir nessa situação desoladora. Sua
a toda a terra. Sua vinda muda a sorte do mensagem é de consolação: o profeta fala
povo. O profeta anuncia a transformação de novo êxodo para a Terra Prometida; é o
da realidade de tristeza para um tempo de convite para sair dessa situação de tristeza,
júbilo, porque o mensageiro da paz, envia- pois é tempo de fazer a passagem da deso-
do por Deus, vai inaugurar nova etapa na lação para a consolação. Deus irá reconstruir
história de Israel, fazendo que novamente e restaurar Jerusalém; ele não esquece nem
reine a paz. abandona seu povo em situação de ruína.
A segunda leitura, retirada da carta aos Para reavivar a esperança do povo, o
Hebreus, recorda aos cristãos que, na his- profeta o convida a contemplar a realidade
tória da salvação, Deus nos falou de muitos concreta da cidade de Jerusalém devastada.
modos: por meio dos patriarcas, matriarcas Somente Deus é capaz de reconstruí-la, mas
e grandes líderes, como Moisés, juízes, pro- o povo tem de retomar sua escolha de ser
fetas e sábios do povo. Por fim, ele mesmo fiel ao Senhor. Por isso, de forma poética,
entrou em diálogo com a humanidade, por Isaías põe as sentinelas da cidade em alerta. O
meio de seu Filho. O autor da carta nos mensageiro da paz vem; seu grito de alegria
apresenta o plano salvífico de Deus, que soará em todos os cantos da cidade. Não é
chega ao seu ponto mais alto com a vinda um grito de terror, mas de júbilo. A alegria
de Jesus ao mundo. Jesus é a Palavra viva da salvação que Deus oferece será plena e
que nos cumpre acolher e escutar. total. Essa alegria contagiará a todos. Até as
O prólogo do Evangelho segundo João pedras irão se contagiar com esse contenta-
nos diz que a Palavra de Deus é uma pessoa: mento. Em vista disso, Israel deve abrir seu
Jesus, o Filho de Deus enviado ao mundo. Essa coração e festejar a chegada do mensageiro
Palavra, que estava presente na ação criadora de Deus. Para perceber o novo tempo que
de Deus, veio completar a obra da criação, re- se aproxima, é necessário fazer uma leitura
dimindo a humanidade. Ele é a luz do mundo atenta dos sinais de sua presença e uma re-
que veio para eliminar toda sorte de pecado, novação de vida. O Senhor Deus é o único
isto é, tudo aquilo que se opõe à vida. rei de Israel; somente ele dirige e governa
seu povo. Portanto, suas leis e preceitos são
II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS o caminho para a reconstrução da paz.
1. I leitura (Is 52,7-10)
O texto da primeira leitura pertence à 2. II leitura (Hb 1,1-6)
segunda parte do livro do profeta Isaías, cha- O autor da segunda leitura é um cristão
mado de Dêutero-Isaías. Esses capítulos re- anônimo que se dirige aos hebreus, grupo
tratam a situação do cativeiro na Babilônia. que provavelmente era a grande maioria nas

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comunidades cristãs provindas do judaísmo.
Porém, o título ou palavra “hebreus” é muito
raro no Novo Testamento. Em todo caso, tra- Terra de Deus,
ta-se de cristãos em situação difícil, expostos terra de irmãos?
à perseguição, vivendo num ambiente hostil Entendendo o livro de Josué
à fé cristã. São fiéis que enfrentam uma situa-
Centro Bíblico Verbo
ção de desalento, o que justifica o desânimo
e a perda do fervor. É nesse contexto que o
autor exorta a comunidade a testemunhar
sua fé em Jesus Cristo, procurando retomar
a radicalidade inicial de seu compromisso
cristão e tendo, diante de si, o único sacer-
dote: Jesus Cristo, o Filho de Deus.
O texto alude ao projeto salvífico de
Deus, que, de muitos modos, falou ao povo
por meio dos patriarcas, matriarcas, profetas
e, por último, por meio de seu Filho. As-
sim, recorda, de forma breve, toda a história

Imagens meramente ilustrativas.


da salvação. A última etapa dessa história é
inaugurada por Jesus Cristo, Palavra plena,
definitiva, perfeita, mediante a qual Deus
144 págs.

vem ao nosso encontro para nos apontar o


caminho da salvação e da vida em plenitude.
O autor da carta apresenta Jesus como o Apresenta quatro roteiros
Filho de Deus, imagem perfeita do Pai amo- de encontros sobre o
roso e misericordioso. Jesus tornou visível, em livro de Josué, que narra
plenitude, o rosto do Pai, pois procede dele. os acontecimentos da
Como Jesus mesmo disse, quem o vê, vê o Pai. conquista da terra de
O Filho está na origem do universo, por isso o Canaã entre os anos de
cristão é chamado a reconhecer seu senhorio. 1300 e 1000 a.C., a
organização do povo em
Essa soberania se expressa, de forma plena,
tribos e como a redação do
na encarnação e na redenção por sua morte livro foi feita após o exílio
na cruz. Ele completou a obra começada no na Babilônia.
início da criação; por conseguinte, aqueles
que o seguem devem acolhê-lo como o único
salvador, como caminho de vida eterna. Aponte a câmera do
seu celular e confira a
degustação do livro!
3. Evangelho (Jo 1,1-5.9-14)
O texto evangélico da missa do dia de
Natal é retirado do prólogo do Evangelho
segundo João, que começa com a expressão
Vendas: (11) 3789-4000
“no princípio”, com a qual o evangelista es- 0800-0164011
tabelece uma relação de continuidade entre o
relato da criação e o da obra redentora con- paulus.com.br
cluída por Jesus, interpretando toda a história

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da salvação. Desse modo, tudo aquilo que o sua orientação e guia, é o que lhe mostra a meta
evangelista vai narrar sobre Jesus está em re- e para ela atrai. Na tradição rabínica, a luz era
lação com a obra criadora de Deus.A missão a Lei de Moisés. Para o evangelista, a luz que
de Jesus consiste em levar à plenitude a obra dá vida aos seres humanos é Jesus. Quem o
da criação iniciada por Deus “no princípio”. conhece tem a vida em plenitude e caminha
Na visão do quarto Evangelho, a Palavra sob a luz da nova lei do amor.
de Deus outrora dirigida à humanidade, com
a qual Deus falou por meio da Lei e dos III. PISTAS PARA REFLEXÃO
Profetas, não passava de expressão parcial da A alegria das sentinelas atentas das monta-
plenitude. Pela encarnação da Palavra, Jesus nhas ao redor de Jerusalém, a ponto de até as
Cristo, chega-se a conhecer a verdadeira ima- pedras bradarem de contentamento, é expressão
gem de Deus e, diante dela, todas as demais de uma linguagem simbólico-profética usada
se tornam fragmentadas e imperfeitas, pois para descrever os sinais precursores da chegada
a Palavra já não é apenas algo dito ou escri- de Deus. Na verdade, o profeta nos convida a
to, mas sim uma pessoa: Jesus. A expressão estarmos atentos e preparados para ler os sinais
“verbo” (logos), usada pelo evangelista, é a da chegada do Senhor. Ele vem para transfor-
mesma que se usa em muitas passagens do mar realidades e atitudes que não promovem
Antigo Testamento, quando se menciona a a vida. É essa alegria que nos anima, que reina
palavra ou mensagem de Deus dirigida aos em nossa cidade, neste dia em que celebramos
profetas. Nos textos proféticos, porém,“ver- a chegada libertadora de Jesus?
bo” é usado como palavra dirigida a alguém Celebrar o nascimento de Jesus é momento
escolhido por Deus. Agora, a Palavra não é privilegiado de contemplar o amor misericor-
dirigida, mas se faz carne e habita entre nós. dioso de Deus, que não abandona a criatura
Essa Palavra vem ao encontro da huma- humana nem dela se distancia. Pelo contrário,
nidade. A tenda é símbolo muito conhecido ele rompe todas as barreiras e distâncias para
dos ouvintes de João, indica a presença de proporcionar nosso encontro com ele. O me-
Deus no meio do povo. O termo recorda o nino Jesus, que contemplamos no presépio, é a
lugar de encontro de Deus com seu povo Palavra definitiva, revelada a toda a humanidade;
no deserto. Agora, a tenda de Deus, o lugar é o verdadeiro caminho que conduz à salva-
em que ele habita no meio do povo, é Jesus. ção. Escutar e acolher essa Palavra é o critério
É o encontro com sua pessoa que traz luz e fundamental que deve orientar nossas escolhas
vida para a humanidade. Encontrar-se com e atitudes. Jesus, Palavra viva do Pai enviada a
Jesus significa romper com todas as situações este mundo, é, de fato, minha referência?
de trevas, de pecado e de escravidão. Aco- Em nossos dias, como no tempo em que
lher essa Palavra em nós, para João, significa João compôs seu Evangelho, Jesus, a Palavra
ter vida em plenitude. É caminhar na luz encarnada do Pai, continua a confrontar os
e abandonar todas as formas de egoísmo, sistemas que destroem a vida das pessoas e de
mentira e injustiça que ameaçam a vida.Toda toda a obra criada por Deus, para eliminar, na
a obra de Jesus consiste em capacitar o ser sua origem, as forças avassaladoras da morte.
humano para uma vida nova, como a que Acolher essa Palavra, que veio armar sua tenda
Deus ofereceu desde o princípio da criação. no meio de nós, exige compromisso diante das
A missão de Jesus, Palavra encarnada, é co- forças do mal que ameaçam a vida em nosso
municar vida; e João a compara com a luz. Por- planeta. Jesus é a luz que brilha em meio às
tanto, luz e vida são duas realidades profunda- trevas e hoje nos convida a manter viva a chama
mente relacionadas. A luz é, para a humanidade, do amor que ele veio acender.

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A obra dirige-se a todas
as pessoas que buscam, de
alguma forma, transformar a
realidade em que vivem.

O intuito do autor não foi elaborar uma biografia, listando datas e fatos, mas
adotar um enfoque ético e pedagógico para apresentar o aspecto educativo do
legado de dom Romero, bem como lições éticas que se depreendem desse legado
e algumas pedagogias que podem ajudar a pô-las em prática.
Leia a obra completa!

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A REFLEXÃO AGOSTiNiANA
VAi iNSTRUiR OS FiÉiS
E AJUDÁ-LOS A LER
OS TEXTOS JOANiNOS

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Comentários a São João – Volumes I e II


Nos dois tomos desta obra, Santo Agostinho dedica seu esforço
intelectual aos textos bíblicos do Evangelho de João. Tais escritos
nascem da pregação litúrgica e são compostos de uma série de
124 homilias, construídas ao longo de 15 anos.
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