Accelerat ing t he world's research.

Terra Preta De Indio Na Região

Amazónica
Genilson Santana

Related papers Download a PDF Pack of t he best relat ed papers 

LIVRO T ERRA PRETA INDIO CD (1)

Fabíola Silva

T ERRA PRETA DE ÍNDIO: FAT OS E MIT OS DOS SOLOS ANT RÓPICOS DA AMAZÔNIA Amazonian Dark Ea…
Wenceslau Teixeira

CARACT ERIZAÇÃO DE SOLOS COM T ERRA PRETA: EST UDO DE CASO EM UM SÍT IO T UPI-GUARANI PR…
Dirse Clara Kern, Lorena Gomes Garcia
See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.net/publication/263654931

TERRA PRETA DE INDIO NA REGIÃO

AMAZÓNICA

Article · January 2012

CITATIONS READS

0 57

1 author:

Genilson Pereira Santana

Federal University of Amazonas
49 PUBLICATIONS 144 CITATIONS

SEE PROFILE

All content following this page was uploaded by Genilson Pereira Santana on 08 July 2014.

The user has requested enhancement of the downloaded file.

 Scientia Amazonia, v. 1, n.1, 1-8, 2012
Revista on-line http://www.scientia.ufam.edu.br
ISSN: 2238-1910

TERRA PRETA DE INDIO NA REGIÃO AMAZÓNICA

Erasmo Sérgio Ferreira Pessoa Junior 2, Wamber Broni de Souza2, Katiuscia dos Santos de
Souza2, Mauro Célio da Silveira Pio2 e Genilson Pereira Santana3

Recebido em 20/12/2011, revisado em 01/02/2012, aceito em 02/02/2012

Resumo

As Terras Pretas de Índio (TPI) são manchas de solo encontradas em toda a bacia Amazônica, em cuja
origem está relacionada à deposição de restos de materiais de populações pré-colombianas. Esses solos são
ricos em nutrientes, principalmente P, Ca e Mg, por causa disso, bastante utilizado por pequenos
agricultores. Neste trabalho é feita uma revisão sobre a origem da TPI, de suas propriedades físicas e
químicas descrevendo aspectos importantes que levam a teoria dos costumes culturais dos povos antigos da
Amazônia Central.

Palavras-Chave: Povos antigos da Amazônia, pedogênese, propriedades físico-química.

Abstract

The Indian black earth (IBE) is found in patches of soil throughout the Amazon basin, whose origin
is related to the deposition of waste materials from pre-Columbian populations. These soils are
riches in nutrients, especially P, Ca and Mg, because of this widely used by small farmers. In this
paper gives a review of the origin of the ICC, its physical and chemical properties describing
important aspects that lead to the theory of cultural customs of the ancient peoples of Central
Amazonia.

Key-words: Ancient peoples of the Amazon, pedogenesis, physico-chemical property.

_____________________
1. Parte da dissertação de Mestrado do primeiro autor junto à Universidade Federal do Amazonas.
2. Professora Adjunta do Departamento de Parasitologia Doutorando em Química da Universidade Federal do
Amazonas
3. Professor Associado do Departamento de Química da Universidade Federal do Amazonas – Depto Química, ICE,
Av. Gal. Rodrigo Octávio, 3.000, Coroado II, Manaus, Amazonas e-mail: [email protected].
 enterros em urnas, mas isso não responde a
1. Introdução larga variedade de cerâmicas e utensílios do
A região Amazônica é cotidiano dos índios nos perfis do solo
caracterizada pela enorme diversidade de (Smith, 1980).
vida, tanto vegetal como animal, bem como
sociedades humanas. A intensidade de
interferências humanas sobre alguns aspectos
ambientais é explícita na Amazônia desde os
tempos pré-históricos (SCHIFFER 1987).
Um exemplo claro desta manifestação
cultural sobre a constituição da paisagem é o
aparecimento de solos escuro com fragmentos
cerâmicos, conhecidos como Terras Pretas
Antropogênicas ou Arqueológicas (Figura 1),
ou regionalmente como Terras Pretas de Índio
- TPI (SOMBROEK, 1966; SMITH, 1980).
As TPI possuem uma forma menos
escurecida, denominada de Terra Mulata, que
ocorrem em áreas mais extensas e apresenta
pouco ou nenhum artefato cerâmico. E sua
origem pode estar ligada à agricultura
intensiva ou semi-intensiva (SOMBROEK,
1966; GLASER et al., 2001). Entretanto, os Figura 1: Perfil de TPI com fragmentos cerâmicos
processos de formação desses solos ainda não Fonte: Kern e Kampf (1989)
são bem esclarecidos muito embora tenham
sido sugeridas várias teorias de sua gênese.
A segunda teoria descreve a origem das
Teorias de formação da TPI TPI segundo sedimentação em lagos.
Até meados do século XX, muitos Segundo esta linha de pensamento, os solos
estudiosos entendiam que a origem das TPI foram formados, a partir de um grande lago
teria sido por eventos geológicos. A primeira terciário que se formou quando os Andes
teoria dessa linha de pensamento defende que emergiram. Como o lago escoou, lagoas
estes solos foram originados por erupções apareceram nas depressões que lentamente
vulcânicas dos Andes (Smith, 1980). Onde foram se enchendo com restos de plantas e
cinzas teriam precipitado nas áreas dos animais. A incorporação de ossos de animais
planaltos, amontoadas, formando o perfil responde a presença de altos conteúdos de P
antrópico de diferentes tamanhos e espessuras na TPI (FALESI, 1974). Porem, não é certo a
do perfil (Smith, 1980). formação desse lago quando os Andes
Porém, surgiram vários questionamentos: emergiram. Um dos problemas desta teoria foi
o primeiro foi referente aos ventos típicos da explicar os locais em áreas planas de TPI.
Amazônia que sopravam de leste a oeste, Outra versão dessa teoria defende que
tornando improvável o transporte aéreo de o sitio de Belterra – PA foi formado mais
cinzas a mil quilômetros do oeste. Até mesmo recentemente, em que pequenas depressões no
se os ventos, no passado, fossem invertidos, solo foram preenchidas com água no período
esperava-se uma distribuição razoável em chuvoso. Com isso, a vegetação teria tomado
grandes áreas, ao invés de pequenas manchas o lugar e restos de folhas, galhos, como
irregulares; o segundo questionamento foi a também matéria orgânica de plantas
tentativa de explicar a presença de artefatos aquáticas, preencheriam eventualmente as
arqueológicos indígenas ao longo do perfil lagoas. Passado esse processo, os indígenas
das TPI, que se fundamentou na prática de usariam as lagoas para amolecer tubérculo de
Scientia Amazonia, v. 1, n.1, 1-8, 2012 2
mandioca antes de fabricar a farinha, hectares (SMITH, 1980; ROOSEVELT,
descartando utensílios cerâmicos do seu 1991; DENEVAN, 2001).
cotidiano nesses lagos (CUNHA FRANCO,
1962). Com o período de seca, as lagoas
secavam e com e tempo os materiais
precipitados no fundo dos logos entravam em
decomposição, formando um sedimento rico
em nutrientes que com o tempo viria formar
uma terra rica, escura. Um dos principais
problemas com essa teoria foi explicar locais
de TPI em áreas que a água é improvável
represar, como em platôs.
Dados apontam, na verdade, que as TPI Figura 2: Distribuição das TPI's ao longo da Bacia
são de origem antrópica; ou seja, seria Amazônica. Fonte: KERN, et al., 2003
resultado de antigos assentamentos indígenas.
As evidências da passagem do ser humano
por essas áreas são os próprios elementos que A grande maioria dos sítios (80%)
faziam parte do cotidiano dos povos indígenas apresenta de 2 a 5 ha, podendo apresentar
da Amazônia. A matéria orgânica que formou áreas superiores a 100 ha encontradas nas
a TPI segundo Kern (1996) é composta regiões de Santarém, Caxiuanã, Belterra,
principalmente por folhas que serviam para a Juruti e Oriximiná (PA), e no rio Preto da
cobertura de casas, além de sementes, cipós e Eva, Presidente Figueiredo (AM), bem como
restos de animais (ossos, carapaças, conchas, próximo a Manaus.
fezes, urina, etc.). Essa teoria explica a prática O horizonte antrópico pode variar de 10 a
cultural do povo que habitou determinada área 200 cm de espessura, porém a grande maioria
e colocavam materiais de origem orgânica em das TPI apresenta de 30 a 60 cm de
locais específicos. profundidade. A espessura assim como suas
características morfológicas, físicas e
químicas do solo pode apresentar variações
Características físicas e ocorrência da TPI dentro de uma mesma área de TPI, bem como
As TPI na Amazônia estão distribuídas entre sítios. Essas variações estão diretamente
em praticamente todas as regiões (Figura 2). relacionadas com o padrão de assentamento
A grande maioria dos sítios arqueológicos do homem pré-histórico. As TPI de grande
está localizada as margens de rios, como extensão e profundas pressupõem
Purus, Madeira, Juruá, Solimões e Amazonas assentamento pré-histórico ocupado por
(KERN et al., 2003). Dados indicam que longos períodos de tempo. Enquanto que
podem existir centenas de sítios de TPI sítios menores e menos profundos podem
espalhadas na região, podendo abranger cerca indicar períodos de ocupação mais curtos
de 10% ao longo da bacia. Entretanto, muitos (KERN, 1997).
desses sítios ainda não foram catalogados, Em termos de ocorrência, as TPI, em sua
tornando-se necessários mais estudos em maioria estão sobre Latossolos (Oxisols) e
áreas não catalogadas visando um Argissolos (Ultisols), que são profundos, bem
mapeamento mais completo. drenados, de textura variando de média a
As dimensões e espessura do horizonte muito argilosa e arenosa/média a
antrópico estão relacionadas aos limites da argilosa/muito argilosa, de baixa reserva de
área de atividade de ocupação humana pré- nutrientes essenciais às plantas e situados fora
histórica e a espessura ao refugo ocupacional do alcance das enchentes periódicas dos
do sítio arqueológico. O tamanho dos sítios de cursos de água, na denominada terra firme
TPI, localizados em terraços elevados (RODRIGUES et al., 2003). Entretanto,
paralelos aos rios, varia de menor que 1 a 500 ocorrem em menor proporção em outras
classes de solos, Neossolos Quartzarênicos e
3
Espodossolos Ferrocárbicos, que são TPI foi atribuída à decomposição de materiais
essencialmente arenosos; Nitossolos de origem orgânica sobre os solos mais
Vermelhos, que são bem drenados, profundos, comuns da Amazônia, espera-se que sua
de nível alto de fertilidade natural, de textura granulometria seja semelhante a dos solos
muito argilosa (SMITH, 1980; KÄMPF e adjacentes. Esse fato foi observado por Lima
KERN, 2005); Cambissolos, que apresentam (2001) em TPI de Iranduba–AM, cujos
textura média argilosa, são profundos e bem valores da fração areia, silte e argila no
drenados; Argissolos Plínticos e Plintossolos, horizonte A (0-30 cm de profundidade),
moderada e imperfeitamente drenados, de foram de ordem de 520, 130 e 350 g kg-1,
baixa reserva de nutrientes, de textura média atribuindo ao solo à classificação de franco
argilosa e argilosa; Neossolos Litólicos, bem argilo arenoso.
drenados, rasos, de textura média (FALESI, Teores superiores nas fracões areia (598 g
1970). kg-1) e silte (218 g kg-1) conferem a
classificação de franco arenoso no horizonte
antrópico (0-37 cm de profundidade) para TPI
Característica mineralógica das TPI da Região do Trairão-PA (OLIVEIRA Jr et
A ocorrência das TPI em diferentes al., 2002). Enquanto nos horizontes de
unidades geomorfológicas e recobrindo, transição e B os teores de areia diminuem à
principalmente, solos cauliníticos, constitui medida que as camadas se aprofundam.
uma feição muito interessante da paisagem
Amazônica (COSTA, 2003). Algumas de suas Característica química das TPI
características permanecem ainda pouco As TPI se caracterizam por possuírem
conhecidas, especialmente aspectos da teores elevados de Ca, Mg, P, Zn, Mn, Cu e C
composição mineralógica. orgânico, bem como valores mais altos de pH.
Estudos mineralógicos feitos no sitio de Este fato é atribuído à grande quantidade de
Caxiaunã-PA tiveram como principais resíduos orgânicos depositados durante o
minerais quartzo e caulinita e como minerais processo de formação dos solos
acessórios goethita, hematita e anatásio. antropogênicos. Segundo Falesi (1970), Smith
(COSTA, 2003). Entretanto, outras (1980), Eden et al. (1984), Kern e Kämpf
observações têm revelado a presença de (1989), Kern (1996), essa característica é
maghemita nas TPI (COSTA et al., 2004; atribuí a alta fertilidade as TPI.
SÉRGIO et al., 2006). A ocorrência de As TPI contêm elevado teor de carbono
maghemita em TPI ratifica a hipótese do uso pirogênico ou carvão, em comparação a
constante do fogo nas atividades humanas média geral de solos não antrópicos
nessas áreas, em concordância com a natureza (GLASER et al., 2000). A quantidade de
semi-carbonizada das substâncias húmicas carbono orgânico é variável nas TPI, por
encontradas nesses solos (BENITES et al., exemplo, no sítio Trairão foi encontrado
2005). aproximadamente 243 g kg-1, Belterra, na
Sabe-se que uma das principais vias para a ordem de 210 g kg-1 (OLIVEIRA Jr et al.,
formação da maghemita em solos é a 2002), Manduquinha 40,9 g kg-1 e Ilha de
transformação de óxidos de Fe pedogenéticos Terra 42,8 g kg-1 (COSTA, 2003).
(goethita, lepidocrocita e ferridrita) por
aquecimento, via queimadas (elevação da
temperatura entre 300 e 425 oC) na presença Acidez do solo
de compostos orgânicos (SCHWERTMANN, Nas TPI os valores de pH em água variam
1984). entre 4,32 e 6,61 e KCl de 3,77 e 6,01
(FALCÃO et al., 2003). O Al trocável
Composição textural das TPI apresenta valores de 1,6 a 0,01 cmolckg-1.
A granulometria das TPI revela Apesar da variação, as TPI, não apresentam
predomínio da fração areia nos horizontes problemas com toxidez de Al (FALCÃO et
superficiais e transição. Como a formação das al., 2003).
Scientia Amazonia, v. 1, n.1, 1-8, 2012 4
 capacidade de troca de cátions, e saturação de
Micro nutrientes bases.
Na TPI da Ilha de Terra, Caxiuanã -PA, a Diversos trabalhos de caracterização
variação nos níveis dos micronutrientes Cu, química das TPI tem mostrado que o K
Mn e Zn, foram elevadas na ordem de 0,09 a apresenta valores inferiores em relação aos
12,61; 4,99 a 415,02; e 0,70 a 48,05 mg kg-1 níveis de P. Desta forma, Vieira (1988)
respectivamente (COSTA, 2003). Esses encontrou um teor médio de K trocável, na
conteúdos foram semelhante aos níveis Fe, profundidade de 0-63 cm, 0,046 mg kg-1.
Mn, Zn e Cu, encontrados por Costa e Kern Uma análise descritiva do teor de K trocável,
(1999), de 1,45 a 0,98; 119 a 89; 5,43 a 10; e em 100 amostras de TPI, coletadas na camada
5 a 14 mg kg-1, respectivamente. Muito de 0-20, revelou um teor de médio de 0,17;
embora para Falcão (2001) os valores de Zn sendo o máximo de 0,40 e mínimo de 0,05 mg
(200 mg kg-1) e Mn (450 mg kg-1) foram mais kg-1 de K. (FALCÃO et al., 2003).
elevados. Avaliando o efeito da fertilidade de TPI,
Como visto ouve variação nas quantidades Falcão e Borges (2006), encontraram o menor
de nutrientes nos solos de TPI, com valores valor de K trocável em TPI não adubada com
elevados e baixos de macro e micro 0,09 mg kg-1 e o maior na TM não adubada,
nutrientes. Este fato pode ser atribuído a com 0,19 mg kg-1. Com esse resultado os
quantidade de matérias de origem orgânicas, autores sugerem que existe uma dicotomia
como por exemplo, as palmeiras utilizadas na nutricional muito grande, provocado pelos
cobertura de habitações e ossos de peixe, que altos teores de P, Ca e Mg, e baixo teor de K,
foram depositadas em lugares específicos inferindo, provavelmente, na disponibilidade
sofrendo o processo de decomposição seguida de Zn e Mn.
de mineralização (KERN et al., 1999).
Fosforo na TPI
Dentre os elementos diagnósticos das TPI,
Macronutrientes o P total e o disponível se destacam como
Na maioria das TPI os teores de Ca são mais importantes. Deste modo, um valor
mais elevados que Mg, K e Na, pela sua elevado de P total (P2O5) na ordem de 7.455
maior disponibilidade advinda dos materiais mg kg-1 no horizonte A, foi observado em
introduzidos nas áreas de descarte e por sua Itaituba-PA (OLIVEIRA Jr et al., 2002).
maior afinidade com as superfícies de troca Quantidades inferiores foram obtidas em TPI
do solo. de Caxiuanã, nos Sítios Mina II, Caridade e
Valor máximo de Ca, na ordem de 39,6 Flechal, que revelaram, no horizonte
cmolc kg-1, foi registrado em TPI de Monte superficial, teores de 2.800, 2.900 e 2.680 mg
Alegre (FALESI, 1970) e o mínimo no valor kg-1, respectivamente (RODRIGUES et al.,
de 0,52 cmolc kg-1 em TPI da Colômbia 2003; KERN et al., 2005).
(EDEN, 1984). Os teores mais elevados de Somente parte do P total das TPI está
Mg foram detectados em solos da Região de disponível na solução do solo, mesmo assim,
Cachoeira-Porteira e Belterra, na ordem de com teores elevados em relação aos solos
7,0 cmolc kg-1 (KERN e KÄMPF, 1989). típicos da Amazônia. Uma contribuição dada
Esses mesmos autores obtiveram valores por Smith (1980), em estudos realizados nas
iguais para o Ca e Mg na ordem de 9,4 TPI de Itapiranga e Paraná de Silves revelou
cmolckg-1 (KÄMPF e KERN, 2005). E para um conteúdo de P disponível em torno de 610
Costa (2003) os valores de Ca e Mg foram a 670 mg kg-1. Variações maiores com valores
menores, na faixa de 0,05 a 4,40, 0,1 a 2,65 elevados foram encontrados por Lima (2001)
cmolc kg-1 respectivamente. Como visto, os na TPI do município de Iranduba, com teores
valores desses cátions, obtidos a partir de de 173 a 1.991 mg kg-1 de P.
decomposição da matéria orgânica (Kern, No sítio arqueológico Ilha de Terra,
1996) resultam em elevado pH do solo, alta Caxiuanã - PA, as variações do P disponível
foram de 0,5 a 687 mg kg-1. (COSTA, 2003).
5
Resultados inferiores foram obtidos por, CUNHA FRANCO, E. As terras pretas do
Falcão e Borges (2006) em TPI com cultivo planalto de Santarém. Revista da Sociedade
de mamão, na ordem de 519,22 mg kg-1. dos Agronômos e Veterinarios do Pará, v. 8,
Entretanto, valores mais baixos foram p. 17, 1962.
encontrados na terra mulata, na ordem de
176,61 mg kg-1 (FALCÃO et al., 2003 e DENEVAN, W. Cultivated landscapes of
LEHMANN et al., 2003). native Amazonia and the Andes. Oxford:
Segundo Kämpf et al. (2003) e Kämpf e Oxford University Press, 2001.
Kern (2005), os valores elevados de nutrientes
estão associados à ocupação humana pré- EDEN, M. J.; BRAY, W.; HERRERA, L. MC
histórica, haja vista, que P pode ser EVAN, C. Terra Preta soils and their
encontrados em restos de vegetais (mandioca, archaeological context in the Caquetá basin
açaí, bacaba etc), animais (ossos e of south-east Colombia. American Antiquity,
excrementos) e resíduos de alimentos. v. 49, n. 1, p. 125-140, 1984.
Mesmo se tratando de um solo com altos
teores de P total e disponível, as TPI podem
ser passíveis a depleção desse nutriente das FALCÃO, N. P. S.; CARVALHO, E. J. M.;
camadas superiores devido à mobilidade de COMERFORD, N. Avaliação da fertilidade
suas formas para camadas inferiores de solos antropogênicos da Amazônia
(SANCHES e LOGAN, 1992). Tal fato foi Central. In: Congresso da Sociedade de
observado por, Kern (1996) e Costa (2002), Arqueologia Brasileira, XI. Grupo de
nos horizonte A e B, evidenciando a trabalho: Terras Pretas Arqueológicas na
transferência de P das camadas superiores Amazônia: Estado da Arte. 2001, Rio de
para as inferiores do solo. Janeiro. p. 2.

Referências FALCÃO, N. P. S; COMERFORD, N. B.;

LEHMANN, J. Determining Nutrient
COSTA, M. L.; KERN, D. C. Geochemical Bioavailability of Amaznian Dark Earth Soil -
signatures of tropical soils with Methodological Challenges. In: LEHMANN,
archaeological black earth in the Amazon. Johannes; KERN, Dirse Clara; GLASER,
Journal of Geochemical Exploration, v. 66, p. Bruno; WOODS, Willian. (Org.). Amazon
369, 1999. Dark Earth, origin, properties and
management. Holanda, v. 1, p. 255-270, 2003.
COSTA, J. A. Caracterização e classificação
dos solos e dos ambientes da Estação FALCÃO, N. P. S.; BORGES, L. F. Efeito da
Científica Ferreira Penna, Caxiuanã, Pará. fertilidade de terra preta de índio da
2002. 63p. Dissertação de Mestrado. - Amazônia Central no estado nutricional e na
Faculdade de Ciências Agrárias do Pará. produtividade do mamão hawaí (Carica
Departamento de Ciência do solo. Belém. papaya L.). Acta Amazônica, v. 36, p. 401-
406, 2006.
COSTA, J. A. Caracterização dos sítios FALCÃO, N. P. S; SILVA, J. R. A.
arqueológicos com terra preta de Caxiuanã. Características de Adsorção de Fósforo em
MCT/MPEG. Belém, Pará, p.15. 2003. Alguns Solos da Amazônia Central. Acta
Amazônica. v. 34, p. 337-342, 2004.
COSTA, F. S.; BAYER, C.;
ALBUQUERQUE, J. A.; FONTOURA, S. M. FALESI, I. Solos de Monte Alegre. Belém:
V. Calagem e as propriedades eletroquímicas IPEAN, 1970.
e físicas de um latossolo em plantio direto.
Ciência Rural, v. 34, n. 1, p. 281-284, 2004. FALESI, I. C. O estado atual dos
conhecimentos sobre os solos da Amazônia
Brasileira. p.17-67. 1972
Scientia Amazonia, v. 1, n.1, 1-8, 2012 6
 L. Geoquímica de sítio arqueológico com
FALESI, I. Soils of Brazilian Amazon. In: Terra Preta no centro da cidade de Quatipuru
WAGLEY, C. (Ed.). Man in the Amazon. - PA. In: VI Simpósio de Geologia da
Gainesville: University Presses of Florida, p. Amazônia, Manaus. SBG. p. 408, 1999.
201, 1974.
KERN, D. C.; COSTA, M. L. Composição
GLASER, B.; BALASHOV, E.; química de solos antropogênicos
HAUMAIER, L.; GUGGENBERGER, G.; desenvolvidos em Latossolo Amarelo
ZECH, W. Black carbon in density fractions derivados de lateritos. Geociências, v. 16, n.
of anthropogenic soils of the Brazilian 1, p. 141-156, 1997.
Amazon region. Organic Geochemistry, v. 31,
p. 669-678, 2000. KERN, D. C.; RODRIGUES; SOMBROEK,
W. Distribution of Amazonian Dark Earths in
GLASER, B.; HAUMAIER, L.; the Brazilian Amazon. In: J. Lehmann, D.C.;
GUGGENBERGER; G., ZECH; W. The Kern, B. Glaser. Amazonian Dark Earths:
Terra Preta phenomenon: a model for origin, properties, Management. The
sustainable agriculture in the humid tropics. Netherlands: Kluwer Academic Publishers. p.
Naturwissenschaften, v. 88, n. 1, p. 37-41, 51-75, 2003.
2001.
LEHMANN, J.; KERN, D. C.; GERMAN, L.
KÄMPF, N., WOODS, W. I., SOMBROEK, A.; McCANN, J.; MARTINS, G. C.;
W. G., KERN, D. C., CUNHA, T .J. F. MOREIRA, A. Soil Fertility and Production
Classification of Amazonian dark earths and Potential. In: LEHMANN, Johannes; KERN,
other ancient anthropic soils. In Lehmann, J., Dirse Clara; GLASER, Bruno; WOODS,
Kern, D. C., Glaser, B., Woods, W. I. (eds) Willian. (Org.). Amazon Dark Earth, origin,
Amazonian dark earths. Origin, properties, properties and management. Holanda, v. 1, p.
management. Kluwer:Dordrecht. p. 77-102, 105-124, 2003.
2003.
LIMA, H. N. Gênese, química, mineralogia e
KÄMPF, N.; KERN, D. C. O solo como micromorfologia de solos da Amazônia
registro da ocupação humana pré – histórica Ocidental. 2001. 176 f. Tese de Doutorado.
na Amazônia. In: VIDAL – TORRADO, P; Univerfidade Federal de Viçosa, Viçosa,
ALLEONI, L. R. F.; COOPER, M.; SILVA, Minas Gerais, 2001.
A. P.; CARDOSO, E. J. (Org.). Tópico em
ciência do solo. Viçosa, v. 6, p. 277 – 320, LIMA, H. N.; SCHAEFER, C. E. R.;
2005. MELLO, J. W. V.; GILKS, R. J.; KER, J. C.
Pedogenesis and pre-Colombian land use of
KERN, D. C.; KÄMPF, N. O efeito de “Terra Preta Anthrosols” (“Indian Black
antigos assentamentos indígenas na formação Earth”) of Western Amazonia. Geoderma,
de solos com terra preta arqueológica na Amsterdam, v. 110, p. 1 – 17, 2002.
Região de Oriximiná-PA. Revista Braileira de
Ciências do Solo, v. 13, p. 219-25, 1989. OLIVEIRA JÚNIOR, R. C; CORREA, J. R.
V.;RODRIGUES, T. E. Caracterização dos
KERN, D. C. Geoquímica e pedogeoquímica solos da Folha Itapacurá-Mirim, município
de sítios arqueológicos com terra preta na de Trairão, Estado do Pará. Belém: Embrapa
floresta nacional de Caxiuanã (Portel-PA). Amazônia Oriental, 2002.
1996. 124p . Tese de Doutorado. Centro de
Geociências, Universidade Federal do Pará
Belém. RODRIGUES, T. E. Solos da Amazônia. In:
ALVAREZ, V. H. et al (Ed.). O solo nos
KERN, D. C.; COSTA, M. L.; FRAZÃO, F. J. grandes domínios morfoclimáticos do Brasil e
7
o desenvolvimento sustentado. Viçosa:
Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, SCHWERTMANN, U. The influence of
Cap.60. p. 19, 1996. aluminum on iron oxides. XLAluminum-
substituted maghemite in soils and its
RODRIGUES, T. E.; SILVA, R. C.; SILVA, formation. Soil Sci. Soc. Am. J., v. 48, p.
J. M. L.; OLIVEIRA JÚNIOR, R. C.;GAMA, 1462-1463, 1984.
J. R. N. F.; VALENTE, M. A. Caracterização
e classificação dos solos do município de SERGIO, C. S.; SANTANA, G. P.; COSTA,
Paragominas, Estado do Pará. Belém: G. M. DA; HORBE, A. M. C. Identification
Embrapa Amazônia Oriental, p. 51, 2003. and characterization of maghemite in ceramic
artifacts and archaeological black earth of
ROOSEVELT, A. C. Determinismo ecológico Amazon region. Soil Science, v. 171, n. 1, p.
na interpretação do desenvolvimento social 59-64, 2006.
indígena da Amazônia. In: NEVES, W. (Ed.).
Origem, adaptações e diversidade biológica SMITH N. J. H. Anthrosols and human
do homem nativo da Amazônia: Museu carrying capacity in Amazonian. Annals of
Paraense Emílio Goeldi, Cap.159. p. 103, the Association of American Geographers. v.
1991. 70, p. 553-566, 1980.
SOMBROEK, W. Amazon soils: A
SANCHES, P. A.; LOGAN, T. J. Myths and Reconnaissance of the Soils of the Brazilian
science about the chemistry and fertility of Amazon Region. Wageningen, Center for
soils in the tropics. In: LAL, R. ; SANCHES, Agricultural Publications and Documentation.
P. A. (Eds.) Myths and science of soils of the p. 292, 1966.
tropics. SSSA, Madison, p. 35-46, 1992.

SCHIFFER, M.B. “Formation processes of VIEIRA, L. S. Manual da ciência do solo -

the archaeological record”. Albuquerque: Com ênfase aos solos tropicais. 2. ed. São
University of New Mexico Press, 1987. Paulo: Editora Agronômica Ceres, 1988.

Scientia Amazonia, v. 1, n.1, 1-8, 2012 8