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Amanda Castro Rocha

Este documento apresenta uma monografia jurídica sobre a proteção aos animais prevista na Lei no 9.605/1998, elaborada por Amanda de Castro Rocha para a disciplina Trabalho de Curso II da Pontifícia Universidade Católica de Goiás. A monografia é orientada pela professora Gabriela Pugliesi Furtado Calaça e aborda a evolução histórica da proteção animal no Brasil, os animais como sujeitos de direitos com foco no direito à vida e dignidade, avanços legislativos sobre o tema e
Direitos autorais
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Este documento apresenta uma monografia jurídica sobre a proteção aos animais prevista na Lei no 9.605/1998, elaborada por Amanda de Castro Rocha para a disciplina Trabalho de Curso II da Pontifícia Universidade Católica de Goiás. A monografia é orientada pela professora Gabriela Pugliesi Furtado Calaça e aborda a evolução histórica da proteção animal no Brasil, os animais como sujeitos de direitos com foco no direito à vida e dignidade, avanços legislativos sobre o tema e
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS

ESCOLA DE DIREITO E RELAÇÕES INTERNACIONAIS


NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA
COORDENAÇÃO ADJUNTA DE TRABALHO DE CURSO
MONOGRAFIA JURÍDICA

O DIREITO DOS ANIMAIS


PROTEÇÃO AOS ANIMAIS PREVISTA NA LEI nº 9.605/1998

ORIENTANDA: Amanda de Castro Rocha

ORIENTADORA: Prof. Ms Gabriela Pugliesi Furtado Calaça

GOIÂNIA-GO
2021
AMANDA DE CASTRO ROCHA

O DIREITO DOS ANIMAIS


PROTEÇÃO AOS ANIMAIS PREVISTA NA LEI nº 9.605/1998

Monografia Jurídica apresentada à disciplina


Trabalho de Curso II, da Escola de Direito e
Relações Internacionais, Curso de Direito, da
Pontifícia Universidade Católica de Goiás
(PUCGOIÁS).
ORIENTADORA: Prof. Ms. Gabriela Pugliesi
Furtado Calaça.

GOIÂNIA-GO
2021
AMANDA DE CASTRO ROCHA

O DIREITO DOS ANIMAIS


PROTEÇÃO AOS ANIMAIS PREVISTA NA LEI nº 9.605/1998

Data da Defesa: ____ de ___________________de _______

BANCA EXAMINADORA

______________________________________________________________
Orientadora Prof. Ms. Gabriela Pugliesi Furtado Calaça. Nota

______________________________________________________________
Examinador (a) Convidado (a): Prof. (a): Nota
AGRADECIMENTOS

Agradeço, primeiramente a Deus, por me dar coragem e por estar sempre


presente em minha vida.

Á minha Kelly e ao meu pai Adriano, pela capacidade de investirem e


acreditarem em mim, por todo amor e por sempre me apoiarem.

À minha orientadora, Gabriela, pela paciência na orientação e incentivo que


tornaram possível a conclusão desta monografia.

Aos meus amigos por todos esses anos de auxílio e companheirismo.

A todos que fizeram parte da minha formação, o meu muito obrigada.


LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

a.C Antes de Cristo


ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas
ADI Ação Direta de Inconstitucionalidade
ANDA Agência de Notícias de Direitos Animais
AMMA Agência Municipal do Meio Ambiente
COBEA Colégio Brasileiro de Experimentação Animal
CCJ Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania
CCPAD Centro de Controle Populacional de Animais Domésticos
CF/88 Constituição Federal de 1988
CMA Comissão de Meio Ambiente
CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente
DEPAVE-3 Divisão Técnica de Medicina Veterinária e Manejo da Fauna Silvestre
EC Emenda Constitucional
FBI Federal Bureau of Investigation
IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
LCP Lei de Contravenções Penais
MMA Ministério do Meio Ambiente
ONG Organização Não Governamental
ONU Organização das Nações Unidas
PEA Projeto Esperança Animal
PEC Projeto de Emenda Constitucional
PCL Projeto de Lei Complementar
PL Projeto de Lei
PLS Projeto de Lei do Senado
PNMA Política Nacional do Meio Ambiente
RE Recurso Extraordinário
SISNAMA Sistema Nacional do Meio Ambiente
STF Supremo Tribunal Federal
UNESCO Organização das Nações unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................... 9
I. A PROTEÇÃO DO ANIMAL NÃO HUMANO NA SOCIEDADE ............... 12
I.1 Evolução histórica da proteção animal .................................................... 13
I .2 Evolução histórica da proteção animal no Brasil ..................................... 16
I.3 Animais como sujeitos de direitos .............................................................. 24
I.4 Do direito à vida e a dignidade .................................................................... 29
II. AVANÇO NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO ...................... 34
II.1 Projeto da Lei Complementar da Câmara nº 27/2018 ............................ 34
II. 2 Projeto de Lei do Senado nº 470/2018 ................................................... 35
II. 3 Lei ordinária federal nº 14.064/2020....................................................... 37
III. A EXPLORAÇÃO ANIMAL NA SOCIEDADE ........................................... 40
III.1 O consumismo de animais ........................................................................ 40
III.2 Utilização dos animais em experiências didáticas e científicas ................. 43
III.3 Os animais em circos e em zoológicos .................................................... 45
IV. A CONCEPÇÃO JURÍDICA DE MAUS-TRATOS ..................................... 49
IV.1 Posicionamento dos tribunais do Brasil sobre maus tratos ....................... 52
IV.2 O psicopata e os animais .......................................................................... 54
CONCLUSÃO .................................................................................................. 59
REFERÊNCIAS ................................................................................................ 63
ANEXO - ENTREVISTA COM JURISTA ........................................................ 71
RESUMO

O presente trabalho de conclusão de curso tem como objetivo


demonstrar a necessidade atual de pensar em maneiras de proteção aos animais
não humanos, considerando o avanço dos números de maus tratos e abandonos
no Brasil. No decorrer dos estudos para a presente pesquisa, restou-se evidente
a importância do reconhecimento de igualdade entre animais humanos e os não
humanos, ponto central dessa pesquisa, e de delimitação de seus direitos
fundamentais, de dignidade não só dos humanos, mas de todos os seres vivos.
Isso porque, o direito à vida e a dignidade são garantidos pela Constituição
Federal de 1988, mas é preciso ir além para proteger as vidas animais, é preciso
saber quais são as previsões trazidas pelo atual ordenamento jurídico, se há
previsão legal sobre os direitos fundamentais dos animais, se há punibilidade
para quem deteriora a vida de um anima. Assim, tem-se como finalidade
constatar os avanços legislativos e jurisprudenciais sobre o Direito dos animais
no ordenamento jurídico brasileiro, bem como o atual entendimento do Supremo
Tribunal Federal, acompanhando o avanço em suas decisões históricas e em
algumas de suas decisões mais recentes, mas para isso, é preciso também,
entender a evolução histórica do tema no Direito Brasileiro.

Palavras-chaves: Animais não humanos. Maus tratos aos animais. Proteção aos
direitos fundamentais. Ordenamento jurídico brasileiro. Legislação ambiental.
Supremo Tribunal Federal.
ABSTRACT

This course conclusion work aims to demonstrate the current need to


think about ways to protect non-human animals, considering the increase in the
numbers of abuse and abandonment in Brazil. During the studies for this
research, the importance of recognizing equality between human and non-human
animals was evident, the central point of this research, and the delimitation of
their fundamental rights, of dignity not only for humans, but for all the living
beings. This is because the right to life and dignity are guaranteed by the Federal
Constitution of 1988, but it is necessary to go further to protect animal lives, it is
necessary to know what are the provisions brought by the current legal system,
if there is a legal provision on fundamental rights of animals, if there is punishment
for those who deteriorate the life of an anima. Thus, the purpose is to verify the
legislative and jurisprudential advances on animal law in the Brazilian legal
system, as well as the current understanding of the Federal Supreme Court,
following the progress in its historical decisions and in some of its most recent
decisions, but for this, it is also necessary to understand the historical evolution
of the subject in Brazilian Law.

Keywords: Non-human animals. Mistreatment of animals. Protection of


fundamental rights. Brazilian legal system. Environmental legislation. Federal
Court of Justice.
9

INTRODUÇÃO

O direito dos animais é uma ciência que estabelece o respeito, proteção


e ética dos animais na sociedade. O primeiro decreto que regulamentou esta
área no Brasil se iniciou no sob o governo de Getúlio Vargas, uma vez que elites
se manifestavam em relação ao surgimento de problemáticas ambientais, em
razão da aceleração de ramos produtores de bens e consumo, que se orientava
pela dinâmica da forte intervenção do Estado na economia. A elite era composta,
por cientistas, intelectuais e funcionários públicos, e lutavam pela implementação
de políticas nacionais para conservação do patrimônio natural do país, portanto,
entre as décadas de 1930 e 1940, os temas de debate da elite eram sobre
questões da preservação da natureza aparece relacionada com a
questão da identidade nacional. Então, em 1934, patrocinado pelo então
denominado Chefe do Governo Provisório, Getúlio Vargas, realizado um evento
no Rio de Janeiro para indicar a existência de necessidade de maior veiculação
da questão da proteção à natureza entre a opinião pública, que por meio da
atuação de uma série de entidades da sociedade civil, chegando-se a conclusão
do carecimento de uma política mais efetiva por parte do governo” .
Apesar de não possuírem a nossa racionalidade, os animais não-
humanos, segundo estudos científicos, possuem capacidade de sentir e certo
grau de cognição, o que os torna passíveis de sofrimento. Sendo assim, tais
seres vivos merecem ser tutelados pela legislação pátria, tendo seus direitos e
dignidade reconhecidos.
O continente Europeu e os Estados Unidos da América são a população
que conta com a maior Organização não Governamental - ONG
No capítulo inicial desta pesquisa foi feita a análise e levantamento da
evolução histórica da proteção aos animais pelo mundo, estudando sobre os
marcos históricos da passagem humana pela terra, nominados de período
Paleolítico, Neolítico e Mesolítico e o início da relação com os animais. No século
VI a.C, quando os filósofos da Grécia Antiga se tornaram mentores e
idealizadores de crenças e conceitos como o Antropocentrismo. Mais tarde,
filósofos e pensadores críticos dessa abordagem, adotaram doutrinas e
princípios, que formaram diretrizes de outro pensamento, agora contemporâneo,
o que melhor se adapta no momento em que estamos vivendo, porém, nasceu
10

no século XVIII e pendura até os dias atuais. Também foram feitas pesquisas no
sentido de conhecer quais foram as primeiras regras ou normas criadas no Brasil
como providências aos maus-tratos e uso desenfreado da fauna, o porquê tais
normas foram estabelecidas, descobrindo que, até o hoje, um dos mais
importantes decretos nesse sentido foi promulgado em 1924, na época em que
o país tinha um governo provisório. Observa-se também que a maior conferência
ambiental internacional ocorreu em 1972, reunindo 113 países e mais de 400
organizações preocupados com a situação ambiental do planeta. O Brasil foi um
dos líderes do encontro, e prometeu assumir metas capazes de frear as
consequências nocivas resultantes das atitudes humanas, todavia, sem recursos
e incentivos aquela não era sua prioridade, assim, somente 1981 o país
conseguiu editar a mais completa sobre o tema, muito tempo depois e de
maneira subdesenvolvida aos outros países da conferência. A Constituição
Federal de 1988 trouxe um título exclusivo ao meio ambiente, dando autonomia
aos órgãos públicos para fiscalização dos municípios no tratamento ao meio
ambiente local. É feita ainda a análise do ordenamento jurídico sob a ótica da
classificação dos animais para o direito brasileiro, considerando que país conta
com uma vasta cultura regionalizada, sendo que algumas dessas culturas
utilizam os animais em atividades como por exemplo, a vaquejada e, por isso, o
Supremo Tribunal Federal foi provocado a discutir sobre o tema. Passa-se a
abordar o questionamento de que os animais podem ser sujeitos de direitos,
afinal, esses são concedidos na legislação brasileira às pessoas, a partir de seu
nascimento até a sua morte, considerando também que o Brasil foi signatário da
Declaração Universal dos Direitos Humanos, proclamada em 1978.
No segundo capítulo foi feita uma busca legislativa no ordenamento
jurídico brasileiro acerca do tema, para que se estabelecesse uma linha do
tempo a saber quando e de que forma se deu a iniciativa quanto a abordagem
do tema de proteção aos animais, bem como a posição do legislador sobre
culturas enraizadas que utilizam animais como forma de entretenimento e como
é o entendimento atual adotado pela Constituição Federal de 1988.
Já no terceiro capítulo, se aborda o uso dos animais em experiências
didáticas e científicas, se realmente é necessário ou podem a vir ser substituídos
e qual o posicionamento da legislação acerca do tema. Ademais, traz-se o
questionamento do tipo de entretenimento fornecido ao público, que enjaula e
11

restringe a liberdade de animais selvagens como leão, tigre, elefantes, apenas


para gerar capital aos eventos que disponibilizam esse ‘’ espetáculo ‘’ . Aborda-
se também a descoberta dos cientistas e entidades federais estrangeiras de que
pessoas que maltratam animais com episódios violentos na infância e prática na
vida adulta, tendem a se tornar psicopatas de extrema periculosidade.

No quarto e último capítulo, aborda-se a conceituação jurídica acerca da


expressão ‘’maus-tratos’’, afinal, por ser ampla permite diversas formas de
interpretação, sendo importante delimitar o conceito legal. No entanto, não há
atualmente nenhuma legislação especial, voltada para a pauta de direito dos
animais, proporcionando a sensação de impunidade, já que alguns fragmentos
de artigos preveem penas alternativas a quem comete crime ambiental, de uma
maneira geral. Essa ausência de norma específica, num país como o Brasil, que
é ricamente habitado por várias espécies de animais, é uma enorme deixa, que
necessita de urgente atenção do legislador. Após a análise da definição jurídica
de maus-tratos, melhor dizendo, da vaga definição da expressão, mas que prevê
a pena e as formas de cumprimento, importante saber qual é o entendimento
dos tribunais brasileiros, pois são as instâncias que unificam o entendimento pelo
território nacional, possibilitando que julgamentos de pessoas que cometem
crimes ambientais tenham punições no mínimo uniformes, para que não haja a
sensação de impunidade ou que a punibilidade é branda.
12

I. A PROTEÇÃO DO ANIMAL NÃO HUMANO NA SOCIEDADE

De maneira geral, o relacionamento do homem com os animais é


conhecido desde os primórdios da existência do homem na Terra. Por isso, para
entender melhor a origem dessa relação e suas teorias, é importante a exposição
dos próximos temas.
O direito à vida, a dignidade e a um meio ambiente ecologicamente
equilibrado é direito de todos, conforme prevê a Constituição Federal de 1988.
No Brasil, a administração dos serviços prestados a sociedade, bem como a
organização e o dever de garantir esses direitos fundamentais é dado ao Poder
Público. Assim, cada ente federativo, dentre eles os Estados e Munícipios são
constitucionalmente organizados, com autonomia legislativa, executiva e
financeira para garantir a plenitude desses direitos. É importante ressaltar que o
artigo 24, inciso VI da CF/1988 prevê as regras de repartição de competências
dos entes federativos, sendo eles: a União, os Estados e o Distrito Federal,
dando amplos poderes para legislar, de modo concorrente, quanto às florestas,
caça, pesca, fauna, a conservação da natureza, a defesa do solo e dos recursos
naturais, a proteção do meio ambiente e o controle da poluição. Em geral, as
Constituições estaduais, por sua vez, autorizam também os municípios a
legislarem sobre tais temas, em assuntos de interesse local.
Entretanto, muito antes desse salto na organização constitucional e a
relação do Poder Público com a repartição de deveres, além da preocupação
com a fauna e flora, é preciso analisar qual a relação do homem e o meio
ambiente. Quando foi o ponto inicial da relação. Como se deu a evolução dessa
relação. Como o homem enxerga o animal. Observa-se se o homem traçou ao
longo de sua passagem na terra alguma preocupação com a preservação do
meio ambiente e das espécies de animais, afinal, se preocupou com seus direitos
fundamentais e como são distribuídos, e principalmente, como garantir que eles
sejam respeitados.
13

I.1 Evolução histórica da proteção animal

Nos tempos pré-históricos1, a proximidade entre homens e animais era


registradas nas pinturas de cavernas. No período Paleolítico, que começou há
três milhões de anos, o homem aprendeu aos poucos a reproduzir plantas,
domesticar animais e estocar alimentos. Esse aprendizado favoreceu o aumento
populacional em algumas regiões. Nessa época, os animais existentes foram
denominados de megafauna, pois possuíam grandes proporções corporais, ou
seja, mais de 44 quilos e desapareceram ao longo do tempo por questões
climáticas e simultaneamente ao desaparecimento do homem pré-histórico. Já
no período Neolítico, que se inicia aproximadamente do X milênio A.C. foi dada
continuidade na domesticação de animais, dessa vez os que se aproximam com
os conhecidos na fauna atual: cabra, boi, cão, dromedário, desaparecendo
animais de grande porte característicos daquele período. Por fim, no período
Mesolítico, existente há cerca de 12 mil anos, já era costume a domesticação de
animais como o cão, o carneiro e a cabra, então o homem passou a ser agricultor
e pastor criando um tipo de economia denominada de economia de produção,
na qual os homens aprenderam a produzir alimentos necessários à sua
existência em virtude da criação e reprodução de animais e grãos.
Após anos de constantes evoluções na humanidade, surgiu na Grécia
Antiga o período marcado por grandes filósofos do século VI a.C, quando a
Grécia e outras terras gregas faziam parte do Império Romano. A Filosofia era
utilizada como uma crença não religiosa que influenciava a vida dos humanos,
tratando de vasta diversidade de assuntos como astronomia, matemática,
política, lógica e raciocínio, sendo utilizada como estilo de vida. 2

1Há cerca de 7 milhões de anos no continente africano começava a primeira geração humana.
Nesse período de habitação na Terra, haviam três espécies de primatas superiores: os
chipanzés, os gorilas e os seres humanos. HIGA, Carlos Cézar. Pré História. Mundo Educação,
São Paulo.

2 FILOSOFIA da Grécia Antiga. Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre. Disponível em:


https://pt.wikipedia.org/wiki/Filosofia_da_Gr%C3%A9cia_Antiga#Pitagorismo. Acesso em: 14
out. 2021.
14

Uma das vertentes da Filosofia grega era o Antropocentrismo, termo


utilizado para denominar a crença de que o homem era o centro do Universo,
pois possui poder de fala, sentidos, e capaz de sentir, sendo assim, o único
capaz de governar qualquer espécie existente. Segundo essa crença, a natureza
foi criada para servir o homem, por isso, a espécie humana era ponto de
referência para todas as outras coisas.
Para Platão (2020), filósofo o criador do conceito de República, os
animais e as plantas possuíam alma primitiva, pois foram as primeiras criações
do mundo e por isso, a alma racional foi destinada exclusivamente a espécie
humana, exceto as mulheres, crianças e escravos, que para Platão eram seres
inferiores. Nesse sentido, para o filósofo, causar mal à vida de um ser humano
resultaria numa fura em Deus, todavia, se o fizesse com algum animal, só
enfureceria seu dono. Assim, a cultura filosófica de Patão preponderadamente
direcionou o homem, à crença de que se encontrava no centro do universo.
Da mesma forma era o pensamento de Aristóteles, discípulo de Platão,
que, apesar de acreditar que os animais eram capazes de sentir prazer e dor,
não era característica suficiente para posicionar os animais de maneira terem
algum valor, sendo que o homem deveria predominar sobre animais e escravos.
Em contrapartida, Pitágoras (2020) tentando conciliar crenças e razões
religiosas, fez surgir a doutrina Metempsicose, que consiste na possibilidade de
a alma humana encarnar em animais ou vegetais, promovendo entre seus
discípulos o tratamento digno e amplo respeito aos animais.
Quando a Igreja Católica detinha o poder, lançou-se a crença de
servidão dos animais, uma vez que, conforme ensinamentos de Santo Agostinho
‘’ o homem foi feito à imagem e semelhança de Deus, possuindo poder de
dominância sobre os demais seres vivos. ‘’
Já no Século XVII3, consagraram-se novos filósofos, que pregavam
pensamentos que iam de encontro com o que a Igreja Católica também
ensinava. Esses filósofos eram conhecidos como Iluministas, e marcaram seus

3 Século conhecido pelo surgimento de filósofos iluministas, idealizadores do movimento que


pregava clarear, iluminar o pensamento da sociedade europeia, pois para os filósofos os
pensamentos da sociedade se encontravam nas trevas, amarrados a crenças religiosas.
BORGES, Géssica. Os principais filósofos iluministas e suas ideias mais polêmicas. Ebiografia,
São Paulo: 2021.
15

nomes na história: Immanuel kant, John Locke, René Descartes e Thomas


Hobbes. As ideias dos filósofos iluminas eram seguidas pela comunidade
Europeia, especialmente a França, Alemanha, Inglaterra e Portugal, criando uma
espécie de tradição e cultura entre seus seguidores. Immanuel Kant (1724-1804)
ensinava que ‘’ O Iluminismo é a saída dos homens do estado de minoridade
devido a eles mesmos. Minoridade é a incapacidade de utilizar o próprio intelecto
sem a orientação de outro ‘’ e essa forma de pensar, influenciou outros filósofos,
dessa vez contemporâneos como o inglês John Gray (2005) que declarou:
Os seres humanos diferem dos animais principalmente pela
capacidade de acumular conhecimento. Mas não são capazes de
controlar seu destino nem de utilizar a sabedoria acumulada para viver
melhor. Nesses aspectos somos como os demais seres. Através dos
séculos, o ser humano não foi capaz de evoluir em termos de ética ou
de uma lógica política. Não conseguiu eliminar seu instinto destruidor,
predatório.

Na atualidade a teoria mais aceita e seguida é o Ecocentrismo, que de


maneira contrária ao pensamento imposto pelo Antropocentrismo, sugere que o
humano é parte dos ecossistemas, pois o próprio corpo humano possui uma
quantidade de organismos invisíveis, microscópicos e bactérias. Assim, em
meados do século XVII, quando pensadores oposicionistas criticavam a ideia de
que o homem era o centro do universo e superior aos demais seres vivos que
habitavam a terra.
A diretriz filosófica ecocêntrica foi criada por Aldo Leopold (1989)4, um
americano acadêmico do curso de filosofia ambiental, conhecido por seu extenso
trabalho para a conservação da vida selvagem e fundador da ciência da
conservação nos Estados Unidos da América. Aldo reconhecia que todas as
espécies, inclusive a humana são produtos de um longo processo revolucionário
e são interligados em seus processos de vida. Daí parte a ideia que o corpo
humano é formado por microrganismos vivos, sendo em si um ecossistema
próprio.

4 Aldo Leopold nasceu em Burlington, Iowa, Estados Unidos. Formou-se em Engenharia


Florestal, pela Universidade de Yale, terminou seu mestrado em 1909 e foi trabalhar no Serviço
Florestal dos Estados Unidos e tornou-se ativista. LEOPOLD, Aldo. A Sand County Almanac,
and sketches here and there. New York: Oxford, 1989.
16

Em linhas gerais, trata-se de um seguimento político e filosófico, que


manifesta um conjunto de valores, partindo de princípios nos quais a natureza é
o centro do universo e o homem faz parte da natureza e sendo assim deve
respeito e homogeneidade com a mesma. São seis princípios chaves: o primeiro
é de que a Ecosfera é o centro de Valor da Humanidade; o Segundo de que a
criatividade e a produtividade dos ecossistemas da terra dependem de sua
integridade; depois, a perspectiva na Terra é apoiada na história natural; a ética
está firmada no nosso lugar na natureza; quinto e sexto: uma perspectiva global
valoriza a diversidade de ecossistemas e culturas e a ética apoia a justiça.
Os simpatizantes com essa política, devem adotar também princípios de
ação, são eles: defender e preservar o potencial criativo da Terra; reduzir o
tamanho da população humana; reduzir o consumo da Terra por seres humanos;
Promover um governo ecocêncrico e propagar a mensagem.
Percebe-se que desde o surgimento da humanidade, há relatos de
convivência com os animais, entretanto, o relacionamento foi moldado ao longo
dos tempos. Atualmente, o Ecocentrismo não é mais visto como surreal, utópico
ou incabível. Ao entender que o Ecocentrismo protege um bem comum, a
humanidade sentiu necessidade de criar regras e disposições para que todos
colaborem para sua proteção. Dessa forma, como nunca houve, hoje há normas
que tutelam o meio ambiente, é o que se passa a analisar.

I .2 Evolução histórica da proteção animal no Brasil

Desde o período colonial e imperial há registros de danos causados pela


humanidade na fauna brasileira, provocando desde então a extinção de diversas
espécies nativas. Nas primeiras habitações da Amazônia, por exemplo, a
produção comercial se respaldava na exploração de vegetais, animais e na
pesca de forma desgovernada. Também era comum a extração de óleo dos ovos
de tartaruga, produzido da gema do ovo, que era usado para algumas funções
domésticas, como cozinhar e iluminar a casa. Há registros que em dois anos, a
caça e a pesca predatória foram capazes de extinguir 8.500 espécimes de
tartarugas e peixes-boi na área do Lago Grande de Vila Franca, localizado no
Pará. Nesse contexto de exploração, antes dos governantes e líderes se
17

atentarem para com a proteção dos animais, as normas que existiam envolvendo
o meio ambiente tinham um cunho utilitarista, ou seja, tratavam dos animais em
raras menções e sempre como coisas. Alguns decretos apenas regulamentavam
determinadas práticas, tais como a caça para a elite econômica.
Até o momento, a legislação mais protecionista aos animais no Brasil
teve início com o Decreto nº 16.590/1924, que regulamentou as Casas de
Diversões Públicas, proibindo atos de crueldade, tais como corridas de touros,
garraios e novilhos, bem como brigas de galos e decanários. Mas a primeira vez
em que houve, de fato, a proibição de crueldade contra os animais no Brasil, foi
com o Código de Posturas de 1886 do Município de São Paulo, prevendo em
seu artigo 220 a vedação aos cocheiros, condutores de carroça, pipa d’água,
ferradores, de maltratar os animais com “castigos bárbaros e imoderados”,
impondo multa correspondente a “cada vez que se der a infração. ‘’ (PURVIN,
2017).
Após exatos dez anos, alguns decretos destacaram-se relevantes com
a finalidade de proteger os animais no Brasil. O Decreto nº 23.793/1934, que
instituiu o Código Florestal, previu regras acerca da exploração das florestas
nacionais, dividindo-as em algumas categorias conforme suas características
específicas como por exemplo, protetoras, remanescentes, modelo e de
rendimento. Esse Código trazia penas simples, no âmbito das contravenções
penais.
Em 1934 também foi editado o primeiro decreto que estabelecia artigos
precisos sobre o tema. O Decreto nº 24.645, dispunha de medidas de proteção
aos animais e na época foi promulgado pelo Chefe do Governo Provisório da
República dos Estados Unidos do Brasil, Getúlio Vargas e trazia em seu bojo
previsões como ‘’ artigo primeiro: todos os animais existentes no País são
tutelados do Estado. ‘’ e outras providências como multa e prisão de dois a
quinze dias para quem cometer maus tratos contra animais em lugar público ou
privado, a assistência do Ministério Público em juízo pelos animais, além
delimitar o que era considerado maus tratos. Considerado revolucionário para a
época, o Decreto nº 24.645/1934 reconhecia pela primeira vez os animais como
titulares de direitos, todavia, sem deixar no alento a impressão utilitarista dos
animais, como demonstrava em seu artigo 14 (1934):
18

Artigo 14. A autoridade que tomar conhecimento de qualquer infração


desta lei, poderá ordenar o confisco do animal ou animais, nos casos
de reincidência.
§ 1º O animal, apreendido, se próprio para consumo, será entregue a
instituições de beneficência, e, em caso contrário, será promovida a
sua venda em benefício de instituições de assistência social;

Além disso, considerando que esta promulgação ocorreu quando época


de um governo provisório, onde o chefe do Poder Executivo Federal possuía a
discricionariedade de legislar, esse Decreto era tido com força de lei, se tornando
a primeira norma legal que definiu a crueldade e os maus-tratos contra os
animais no Brasil, prevendo em seu artigo 3º as seguintes trinta e uma formas e
práticas que caracterizam maus-tratos:
I - Praticar ato de abuso ou crueldade em qualquer animal;
II - Manter animais em lugares anti-higiênicos ou que lhes impeçam a
respiração, o movimento ou o descanso, ou os privem de ar ou luz;
III - obrigar animais a trabalhos excessivos ou superiores às suas
forças e a todo ato que resulte em sofrimento para deles obter esforços
que, razoavelmente, não se lhes possam exigir senão com castigo;
IV - Golpear, ferir ou mutilar, voluntariamente, qualquer órgão ou tecido
de economia, exceto a castração, só para animais domésticos, ou
operações outras praticadas em benefício exclusivo do animal e as
exigidas para defesa do homem, ou no interesse da ciência;
V - Abandonar animal doente, ferido, extenuado ou mutilado, bem
como deixar de ministrar-lhe tudo o que humanitariamente se lhe possa
prover inclusive assistência veterinária;
VI - Não dar morte rápida, livre de sofrimentos prolongados, a todo
animal cujo extermínio seja necessário, para consumo ou não;
VII - Abater para o consumo ou fazer trabalhar os animais em período
adiantado de gestação;

Como se ver dos comportamentos expostos, passados 87 anos ainda


são os mesmos anseios dos movimentos de proteção aos animais, ao tempo
que outros dispositivos se mostram utilitaristas, determinando as consequências
das condutas tomadas.
VIII - Atrelar, no mesmo veículo, instrumento agrícola ou industrial,
bovinos com equinos, com muares ou com asininos, sendo somente
permitido o trabalho conjunto a animais da mesma espécie;
IX - Atrelar animais a veículos sem os apetrechos indispensáveis, como
sejam balancins, ganchos e lanças ou com arreios incompletos
incômodos ou em mau estado, ou com acréscimo de acessórios que
os molestem ou lhes perturbem o funcionamento do organismo;

Os demais incisos do mesmo artigo traziam essencialmente


determinações e recomendações que pretendiam minimizar os sofrimentos a
que eram submetidos os animais, entretanto, era possível ainda perceber a visão
antropocêntrica, ou seja, ainda com a imagem do homem sendo figura superior
em relação aos animais:
19

X - Utilizar, em serviço, animal cego, ferido, enfermo, fraco, extenuado


ou desferrado, sendo que este último caso somente se aplica a
localidade com ruas calçadas;
XI - Açoitar, golpear ou castigar por qualquer forma um animal caído
sob o veículo ou com ele, devendo o condutor desprendê-lo para
levantar-se;
XII - Descer ladeiras com veículos de tração animal sem utilização das
respectivas travas, cujo uso é obrigatório;
XIII - Deixar de revestir com couro ou material com idêntica qualidade
de proteção as correntes atreladas aos animais de arreio;
XIV - Conduzir veículo de tração animal, dirigido por condutor sentado,
sem que o mesmo tenha boleia fixa e arreios apropriados, com
tesouras, pontas de guia e retranca;
XV - Prender animais atrás dos veículos ou atados às caudas de
outros;
XVI - Fazer viajar um animal a pé, mais de dez quilômetros, sem lhe
dar descanso, ou trabalhar mais de seis horas contínuas sem lhe dar
água e alimento;
XVII - Conservar animais embarcados por mais de doze horas, sem
água e alimento, devendo as empresas de transporte providenciar,
sobre as necessárias modificações no seu material, dentro de doze
meses a partir desta lei;
XVIII - Conduzir animais por qualquer meio de locomoção, colocados
de cabeça para baixo, de mãos ou pés atados, ou de qualquer outro
modo que lhes produza sofrimento;
XIX - Transportar animais em cestos, gaiolas ou veículos sem as
proporções necessárias ao seu tamanho e número de cabeças, e sem
que o meio de condução em que estão encerrados esteja protegido por
uma rede metálica ou idêntica que impeça a saída de qualquer membro
do animal;
XX - Encerrar em curral ou outros lugares animais em número tal que
não lhes seja possível moverem-se livremente, ou deixá-los sem água
e alimento mais de dez e horas;
XXI - Deixar sem ordenhar as vacas por mais de vinte e quatro horas,
quando utilizadas na exploração do leite;
XXII - Ter animais encerrados juntamente com outros que os
aterrorizem ou molestem;
XXIII - Ter animais destinados à venda em locais que não reúnam as
condições de higiene e comodidade relativas;
XXIV - Expor, nos mercados e outros locais de venda, por mais de doze
horas, aves em gaiolas, sem que se faça nestas a devida limpeza e
renovação de água e alimento;
XXV - Engordar aves mecanicamente;
XXVI - Despelar ou depenar animais vivos ou entregá-los vivos à
alimentação de outros;
XXVII. - Ministrar ensino a animais com maus-tratos físicos;
XXVIII - Exercitar tiro ao alvo sobre patos ou qualquer animal selvagem
exceto sobre os pombos, nas sociedades, clubes de caça, inscritos no
Serviço de Caça e Pesca;
XXIX - Realizar ou promover lutas entre animais da mesma espécie ou
de espécie diferente, touradas e simulacros de touradas, ainda mesmo
em lugar privado;
XXX - Arrojar aves e outros animais nas casas de espetáculo e exibi-
los, para tirar sortes ou realizar acrobacias;
XXXI - Transportar, negociar ou caçar em qualquer época do ano, aves
insetívoras, pássaros canoros, beija-flores e outras aves de pequeno
porte, exceção feita dasautorizações para fins científicos, consignadas
em lei anterior.
20

Considerado os mais completo para a época, o nº 24.645/1934


estabelecia pena de multa ou multas e prisão além da apreensão do animal e
instrumentos utilizados para maus-tratos, que eram encaminhados para
instituições benéficas ou promovidos a venda, sendo seu valor em benefício de
instituição assistencial. Estabeleceu medidas protetivas aos animais, ordenando
que todos os animais que viviam no Brasil fossem tutelados pelo Estado,
sancionando multa e pena de prisão para quem, em lugar público ou privado,
aplicasse ou fizesse aplicar maus-tratos aos animais, independentemente de ser
ou não proprietário do animal. Não houve a distribuição em classes como
animais silvestres, nativos, exóticos ou domésticos, optando por colocar sob a
responsabilidade do Estado todos os animais no país. Mas, ainda assim, os
animais eram tratados como objetos.
No ano de 1938 no Brasil, foi promulgado o Decreto-Lei nº 794/1938,
responsável pela Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável da
Aquicultura e da Pesca e em seu artigo 6º, §1º, alíneas “a” a “d”, dispõe da
proibição de exercer a atividade pesqueira com uso de explosivos ou outros
elementos que produzam efeito semelhante, substâncias tóxicas ou químicas
que alterem as condições da água e petrechos, técnicas e métodos não
permitidos ou predatórios.
Um ano depois, Decreto-Lei nº 1.210/1939 trazia regulamentações sobre
a caça e poucas delimitações sobre maus-tratos contra animais, com
possibilidade de provocar sofrimento duradouro. Algumas dessas delimitações,
regulavam o uso de atiradeiras, veneno, incêndio e armadilha, além de proibir a
caça em zonas urbanas, suburbanas e povoados, todavia, com a finalidade de
proteger as populações humanas que viviam nas regiões marítimas.
Em 1941 foi editada a Lei de Contravenções Penais, que ainda vigente,
prevê seu artigo 64 a penalidade para a prática de crueldade contra os animais,
classificada no rol dos crimes como contravenção penal, com pena de menor
potencial ofensivo, sendo processada e julgada no âmbito do Juizado Especial
Criminal.
Dois anos depois foi aprovado o Código de Caça, pelo Decreto-lei nº
5894/1943, que manteve as delimitações do decreto anterior (Decreto-Lei nº
21

794/1938) bem como, trouxe vetos como caça de animais úteis à agricultura, de
espécies raras, de pássaros, aves ornamentais ou de pequeno porte.
A Lei 5.197 de 1967 (Lei de Proteção da Fauna) tratou com
particularidade da tutela dos Estados sobre dos animas silvestres, definidos
como aqueles que possuem ciclos de vida em território nacional ou em águas
jurisdicionais do país, seja parcial ou totalmente. Assim, o Estado possuía
legitimidade para proibir utilização, perseguição, destruição, caça ou apanha de
animais silvestres. Entretanto, não foram incluídos na referida Lei os animais
exóticos, domésticos ou domesticados.
Em 1972, houve a Conferência das Nações Unidas para o Ambiente
Humano, conhecida mundialmente como um marco na história do meio ambiente
como ‘’ Conferência de Estocolmo ‘’, porque aconteceu na Suécia, Estocolmo.
Presidida pelo canadense Maurice Strong, empresário e líder ambientalista
pioneiro no movimento pelo desenvolvimento sustentável, foi a primeira grande
reunião que uniu grandes chefes de Estado, organizada pela Organização das
Nações Unidas – ONU, como o tema “Os limites ao Crescimento”, a preocupação
era em torno do esgotamento de recursos naturais causados pela ação
desmedida da humanidade, como secamento de lagos e rios, inversão térmica,
ilhas de calor e contaminação do ar. Após o levantamento dos prejuízos até
então contabilizados, os representantes dos países discutiram medidas e metas
capazes de reduzir as consequências lesivas ao meio ambiente. As discussões
sobre o tema e estabelecimento de metas contaram com a presença de chefes
de 113 países, e de mais de 400 instituições governamentais e não
governamentais, por essa razão é considerada a maior reunião da história para
abordagem do tema.
Durante a assembleia, houve evidência no destoamento entre os grupos
de países desenvolvidos e em desenvolvimento, pois, enquanto o primeiro grupo
defendia a redução imediata do ritmo de industrialização dos países o segundo
recusava-se a assumir compromissos que limitariam sua capacidade de
enriquecer e garantir níveis adequados de qualidade de vida às suas
populações, contestando então as propostas dos países mais ricos, resultando ,
na disputa entre o “desenvolvimento zero”, defendido pelos países
desenvolvidos, e o “desenvolvimento a qualquer custo”, defendido pelas nações
em desenvolvimento. Apesar dos conflitos e a impossibilidade de acordo mútuo
22

entre os países participantes, a Conferência de Estocolmo confeccionou um


importante documento, denominado de Declaração da Conferência das Nações
Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, primeiro instrumento internacional a
reconhecer o direito humano a um meio ambiente de qualidade.
O governo brasileiro, na Conferência de 1972, liderou o bloco de países
em desenvolvimento que tinham posição de resistência ao reconhecimento da
importância do conflito ambiental, na época sob o governo militar, o Brasil
assumiu a posição de “Desenvolver primeiro e pagar os custos da poluição mais
tarde”, como declarou o Ministro Costa Cavalcanti, na ocasião. Daí resultou a Lei
nº 6.938/1981 denominada de Lei da Política Nacional do Meio Ambiente –
PNMA, que é considerada marco do nascimento do Direito Ambiental Brasileiro
considerando que foi a primeira lei brasileira a legislar de maneira contínua
acerca do meio ambiente, não só sobre floresta, proteção animal, água, uso do
solo, entre outros elementos naturais. A Lei 6.938/81 inovou também ao trazer
conceitos, como o de meio ambiente, poluição, degradação da qualidade
ambiental e de recursos ambientais. Dessa forma, os conceitos trazidos pela Lei
não permitiam mais interpretações limitadas a laudos técnicos ou pareceres
subjetivos de autoridades. Além disso, a PNMA instituiu o Sistema Nacional do
Meio Ambiente - SISNAMA com o objetivo de organizar a sistemática de
atribuições relacionadas à política ambiental governamental.
A PNMA estabeleceu que o Sistema Nacional do Meio Ambiente é
deveria ser constituído por órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito
Federal, dos Municípios e pelas Fundações instituídas pelo Poder Público, com
a responsabilidade de proteger e melhorar a qualidade ambiental, organizando-
se da seguinte forma: o Conselho de Governo como órgão superior; o Conselho
Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) como órgão consultivo e deliberativo; o
Ministério do Meio Ambiente (MMA) como órgão central; o Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) como órgão
executor; órgãos seccionais estaduais responsáveis por executar programas,
projetos, controlar e fiscalizar as atividades capazes de provocar degradação
ambiental e, por fim, há os órgãos locais municipais, com a responsabilidade de
controlar e fiscalizar essas atividades em suas respectivas jurisdições.
Dezessete anos depois, a Lei 9.605/1998, a Lei de Crimes Ambientais
previu que no âmbito da prática de infração ambiental administrativa que consiste
23

em toda ação ou omissão que viole as regras jurídicas de uso, gozo, promoção,
proteção e recuperação do meio ambiente. Dessa forma, de acordo com a
Coordenadoria de Fiscalização e Biodiversidade, é cabível as penas podem ser
da advertência, multa simples, multa diária, apreensão de animais, produtos e
subprodutos da fauna e flora, e demais produtos e subprodutos objeto da
infração, instrumentos, petrechos, equipamentos ou veículos de qualquer
natureza utilizados na infração; destruição ou inutilização do produto; suspensão
da venda e fabricação do produto; embargo de obra ou atividade e suas
respectivas áreas; demolição de obra; além das restritiva de direitos.
Os crimes contra fauna se encontram entre os artigos 29 a 37 da referida
lei, tipificando a caça sem licença, o tráfico de peles e couros, o ingresso não
autorizado de espécime animal no Brasil, maus-tratos e o envenenamento de
animais, além de dispor nos artigos 34 e 35 sobre crimes relativos à pesca. Além
disso, essa mesma lei traz no artigo 37, incisos I, II e IV as excludentes de
criminalidade, ou seja, quando um infrator no crime de maus tratos pode vir a ser
absolvido, quando abater um animal, a saber: em estado de necessidade;
quando destinado à proteção das lavouras, pomares e rebanhos, caso seja legal
e expressamente autorizado pelo Poder Público; e o abate de animal nocivo,
quando assim for caracterizado pelo órgão competente.
Por sua vez, a Constituição Federal de 1988, acompanhou a PNMA,
inovando no ordenamento jurídico brasileiro, especialmente no que se refere à
proteção do meio ambiente, se tornando a primeira Constituição do país a trazer
um capítulo dedicado ao meio ambiente. Iniciando a temática no artigo 225,
dispõe:
Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem
de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida,
impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e
preservá-lo para as presentes e futuras gerações. §1º – Para assegurar
a efetividade desse direito, incumbe ao poder público: […]
VII – proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas
que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção
de espécies ou submetam os animais à crueldade.

A Constituição Federal de 1988 também inovou ao garantir a autonomia


ao Ministério Público, determinando sua competência para defender a
fiscalização das leis e dos interesses da sociedade. Assim, as autoridades
podem ser fiscalizadas a fim de manter a qualidade nos cuidados com o meio
24

ambiente. Outrossim, a Carta Magna também inovou o ordenamento brasileiro


relacionando princípios constitucionais com políticas públicas ambientais. Dessa
maneira, houve a estruturação de sistemas e políticas de Estado, não mais
restritas a governos temporários, estabelecendo instrumentos de gestão
relacionados a elementos naturais como é o caso a PNMA e da SISNAMA, já
mencionados anteriormente.
Alguns projetos de lei – PL voltados ao tema da proteção animal também
tramitam no Senado Federal. O Projeto de Lei nº 631/2015, por exemplo, que
tem o objetivo de iniciar o estatuto de proteção dos animais e estabelecer o
direito à proteção à vida e ao bem-estar, vedação de práticas e atividades que
sejam cruéis ou danosas da integridade física e mental, também tipifica os
maus–tratos e dispõe sobre infrações e penalidades e o Projeto de Lei - PL nº
351/2015, que visa alterar o art. 82 do Código Civil, acrescentando o parágrafo
para determinarem que os animais não sejam mais considerados utilitários, no
mesmo propósito da Lei do PL nº 8/2018, o Estatuto Jurídico dos Animais de
Portugal.
Portanto, dessa breve exposição foi possível observar a evolução
legislativa no Brasil quanto aos direitos dos animais. Todavia, ainda há muito o
que se abordar, assinalando a importância de instituições de políticas públicas e
educação para que a sociedade tenha como dever preservar o meio ambiente.

I.3 Animais como sujeitos de direitos

O Código Civil de 2002, que rege, dentre outros, o regime jurídico de


bens e coisas adota a teoria de que a natureza jurídica dos animais no
ordenamento jurídico é de coisa, de bem semovente. Por isso, os animais como
objetos de direitos são passíveis de apropriação:

Artigo 82 - São móveis os bens suscetíveis de movimento próprio, ou


de remoção por força alheia, sem alteração da substância ou da
destinação econômico-social.

Posto isso, refreia-se que o conceito de natureza jurídica dos animais na


legislação brasileira constitui é um largo óbice para a tomada de senso contrário
daquele que está enraizado no entendimento do indivíduo. Essa teoria é também
25

adotada pelos Tribunais Superiores do país. Um dos primeiros casos envolvendo


a temática do Direito dos Animais foi analisado no Supremo Tribunal Federal em
1972 com o Recurso em Habeas Corpus de nº 50.343-GB, Relator Ministro Djaci
Falcão, no qual objetivava-se a concessão do pleito em favor de todos os
pássaros que se encontrassem, ou se achassem na iminência de encontrar-se
aprisionados em gaiolas em virtude de comercialização, utilização, perseguição,
caça ou apanha ilegal. Ademais, a impetração tinha como autoridade coatora
toda e qualquer pessoa física ou jurídica que viesse privando, ou tentando privar,
os pássaros de sua liberdade de voo. O Supremo Tribunal Federal, acolhendo o
entendimento das instâncias ordinárias, ressaltou que o remédio constitucional
de Habeas Corpus não alcança os animais, mas tão somente indivíduos que
sofrem ou se acham ameaçadas de sofrer constrangimento ilegal na sua
liberdade de ir vir e, por essa razão, não reconheceu os pássaros como
merecedores de uma relação jurídica na qualidade de sujeito de direitos e sim
como objetos. Trazer lembrar essa decisão é de muita importância, pois
possibilita discutir o avanço do tema ao longo dos anos.
No entendimento de NUNES JÚNIOR (2019) o entendimento do
Supremo Tribunal Federal vem de encontro às doutrinas constitucionais
brasileiras, considerando o animal como “objeto”, sendo, portanto, objeto de
direito e não sujeito de direito. Destarte, apesar de o Supremo Tribunal Federal
ter admitido a teoria de que os animais são coisas, também reconheceu que “os
animais de companhia são seres que, inevitavelmente, possuem natureza
especial, como seres sencientes, dotados de sensibilidade, sentindo as mesmas
dores e necessidades biopsicológicas dos animais racionais”, dessa forma,
também devem ter o seu bem-estar considerado.
A Emenda Constitucional da Vaquejada, EC nº 96/2017 ajuizada no
Supremo Tribunal Federal pelo Fórum de Proteção e Defesa Animal uma Ação
Direta de Inconstitucionalidade (ADI nº 5728), foi ajuizada para alterar o § 7º ao
artigo 225 da Constituição Federal de 1988, para determinar que práticas
desportivas que utilizem animais sejam consideradas cruéis”. Isso porque, para
o Supremo, a vaquejada era permitida por ausência de previsão legal que
dispunha ao contrário e mesmo que há lei que regulamente a prática, a
vaquejada era inconstitucional por violar o artigo 225, § 1º, VII, da Constituição
de 1988, que diz ser competência do Poder Público para vedar as práticas que
26

coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou


submetam os animais a crueldade.
A vaquejada consiste numa prática cultural do nordeste brasileiro, de
origem mexicana e considerada por alguns como esporte. Na dinâmica, dois
vaqueiros montados num cavalo têm de derrubar um boi, puxando-o pelo rabo
entre duas faixas demarcadas no parque da vaquejada. As associações ativistas
de proteção dos animais criticavam a prática, alegando que os animais
envolvidos sofrem maus tratos e frequentemente ficam com sequelas
decorrentes das agressões e do estresse que passam na dinâmica. Por outro
lado, os apoiadores da prática defendiam que, além de ser considerada como
atividade esportiva que atravessa gerações, a atração vende milhares de
ingressos, gerando emprego e renda para a região do país e já se firmou como
um patrimônio da população nordestina. Pesando assim, o Ceará editou a Lei nº
15.299/2013, que regulamentava a prática da vaquejada no Estado. A norma
estabelecia critérios para a competição bem como a determinação de que os
organizadores adotassem medidas de segurança para os vaqueiros, público e
animais.
Rodrigo Janot (2013), Procurador Geral da República na época,
provocou a Corte contra a lei do estado do Ceará, aduzindo que, com a
profissionalização da vaquejada, práticas passariam a ser adotadas, como o
enclausuramento de animais antes de serem lançados à pista, momento em que
seriam açoitados e instigados para que entrem no parque agitados, quando da
abertura do portão. Tais práticas acarretam danos e constituem crueldade contra
os animais, o que é vedado pelo artigo 225 da Constituição Federal de 1988.
Janot anexou na Ação laudos técnicos que confirmam as sequelas provocadas
pelas vaquejadas em animais, tais como fraturas nas patas, ruptura dos
ligamentos e dos vasos sanguíneos, traumatismos e deslocamento da
articulação do rabo e até seu arrancamento, que resultam comprometimento da
medula espinhal e dos nervos espinhais, dores físicas e sofrimento mental.
Já a advogada geral da União, Grace Mendonça enviou parecer
favorável à prática ao Supremo Tribunal Federal, afirmando:
De toda sorte, a emenda constitucional impugnada na presente ação
direta prevê, de modo expresso, que determinada prática desportiva
que utilize animais somente não será considerada cruel caso se
caracterize como manifestação cultural, devendo ser registrada como
bem de natureza imaterial integrante do patrimônio cultural brasileiro e
27

regulamentada por lei específica que assegure o bem-estar dos


animais envolvidos.

Após apertada votação, o STF entendeu que é indiscutível que os


animais envolvidos no evento sofrem tratamento cruel, viola de fronte o artigo
225, § 1º, inciso VII da Constituição Federal e consequentemente considerou a
lei do estado do Ceará que regulamentava a vaquejada inconstitucional. A
propósito, a Corte reconheceu que a crueldade estimulada pela vaquejada faz
com que, mesmo sendo esta uma atividade cultural, não possa ser permitida,
afirmando expressão crueldade, conceituada no artigo 225 da CF/88 se
materializa na tortura e maus-tratos sofridos pelos bovinos e equinos durante a
dinâmica, de modo a tornar intolerável, desse modo, ainda que reconhecesse a
importância da vaquejada como manifestação cultural regional, esse fator não
torna a atividade imune aos valores constitucionais, conquanto à proteção ao
meio ambiente. Entretanto, apesar de extremamente importante passo para a
admissão dos direitos dos animais, a decisão é válida apenas no âmbito do
estado do Ceará. Qualquer outra contrariedade que venha sobre o tema, para
serem declaradas inconstitucionais, devem ser formalmente questionadas no
STF. Assim, se a vaquejada acontece em outro Estado da Federação, não se
pode propor uma reclamação alegando que essa decisão do STF está sendo
ferida.
Três anos depois da decisão do Supremo, o Congresso Nacional
sancionou a Lei nº 13.364 de 29 de novembro de 2016, oriunda do Projeto de
Lei Complementar nº 24/2016, de autoria do deputado José Augusto Rosa,
também conhecido como Capitão Augusto. A referida lei reconhece o rodeio, a
vaquejada e o laço, bem como as respectivas expressões artísticas e esportivas,
como manifestações culturais nacionais. Classifica essas atividades como bens
de natureza imaterial, integrantes do patrimônio cultural brasileiro e dispõe sobre
as modalidades esportivas equestres tradicionais e sob a alegação proteção ao
bem-estar animal. É uma resposta do Poder Legislativo à decisão do STF.
Porém, a norma não teria força normativa para superar a decisão do STF. Isso
porque, segundo o Supremo, a prática da vaquejada não era proibida por
ausência de lei. Ao contrário, a Corte entendeu que, mesmo havendo lei
regulamentando a atividade, a vaquejada era inconstitucional por violar o artigo
225, § 1º, VII, da CF/88. Por isso, o Congresso Nacional alterou a Constituição,
28

inserindo a previsão expressa de que são permitidas práticas desportivas que


utilizem animais, desde que sejam manifestações culturais. A seguir a integra do
§ 7º, que foi inserido pela EC 96/2017 no art. 225 da CF/88:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente


equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade
de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de
defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações.
(...)
§7º . Para fins do disposto na parte final do inciso VII do § 1º deste
artigo, não se consideram cruéis as práticas desportivas que utilizem
animais, desde que sejam manifestações culturais, conforme o § 1º do
art. 215 desta Constituição Federal, registradas como bem de natureza
imaterial integrante do patrimônio cultural brasileiro, devendo ser
regulamentadas por lei específica que assegure o bem-estar dos
animais envolvidos. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 96, de
2017)

Dessa feita, tornou-se constitucional a prática da vaquejada no território


nacional, uma vez que, quando o Congresso Nacional edita uma Emenda
Constitucional buscando alterar a interpretação dada pelo STF para determinado
tema, essa Emenda somente poderá ser declarada inconstitucional caso uma
cláusula pétrea ou sofra processo legislativo para sua revogação. Todavia,
conforme o disposto no artigo 60, § 4º, da CF/88, não é permitida a edição de
Emenda Constitucional que acabe ou enfraqueça:
I - A forma federativa de Estado;
II - O voto direto, secreto, universal e periódico;
III - A separação dos Poderes;
IV - Os direitos e garantias individuais.
Como os animais ainda são considerados coisas, não têm direitos e
garantias individuais, findando-se portanto, o breve progresso na busca de
reconhecimento ao direito ao bem-estar e integridade física e mental dos
animais.
De qualquer modo, no caso de a atual Constituição ser voltada para a
cidadania ambiental, se propõe ao conceito de que os animais são sujeitos de
direitos. Em suma, busca-se corroborar a ideia que as normas que ditam sobre
proteção aos animais devem retratar princípios em que o objeto jurídico tutelado
seja a segurança do bem-estar físico e psíquico do animal, uma vez que ele é
aquele que que sofre as consequências de uma conduta lesiva.
Nesse sentido, Lourenço Silva Sanhez (2008) arrazoa, que a melhor
interpretação do artigo 225, inciso VII, parágrafo primeiro da CF/88 é de que é
determinada a concessão de direitos aos animais e não sobre eles:
29

Entretanto, o preceito constitucional pode ser compreendido numa


outra perspectiva. Neste olhar, a proibição de se produzir crueldades
contra os animais está a garantir um mínimo de tutelas cujo centro é a
integridade física dos animais. Este núcleo está para além de qualquer
valor moral. (…). As garantias jurídicas destinadas à preservação da
função ecológica da flora e os direitos dos animais não são apenas
uma manifestação de piedade ou uma afirmação do refinamento
espiritual humano. As garantias têm como pressuposto que a
integridade física do animal é condição do equilíbrio ambiental e um
valor em si.

Pensar de outro modo, é enxergar que o aplicador do direito não vê a


possibilidade de extrair normas do ordenamento que reconheçam o animal como
um ser dotado de valoração própria, tendo em vista que ele não pode ser
passível de sofrimento, inferindo-se a existência da ausência de dignidade
animal a ser tutelada pelo direito brasileiro.
Por sorte, parte dos doutrinados brasileiros entendem que é sujeito de
direitos. Isso porque entendem que assim como as pessoas físicas ou jurídicas
são detentoras de direitos e princípios da personalidade agraciados desde o
momento em que registram seus atos constitutivos, são aptos a comparecer em
Juízo, caso queiram pleitear seus direitos, desse modo, os animais tornam-se
sujeitos de direitos subjetivos por força de dispositivos legais que os protegem.
Embora não sejam dotados de capacidade para compreendê-los e socorrer-se
em Juízo para pleiteá-los, o Poder Público e a coletividade devem a sua
proteção. O Ministério Público, a exemplo, recebeu a competência legal para
curadoria dos animais em Juízo, há notícia de violação aos dispositivos legais
que tutelam os animais. Daí, tira-se a cognição de que os animais são sujeitos
de direitos, apesar de precisarem ser representados, da mesma forma que
ocorre com os seres relativamente incapazes ou os incapazes, que, entretanto,
são reconhecidos como pessoas.

I.4 Do direito à vida e a dignidade

Se relacionarmos os direitos de uma pessoa humana com os direitos


do animal como indivíduo ou espécie, percebemos que um e outro têm direito à
defesa de seus direitos fundamentais, como o direito à vida, ao livre
desenvolvimento de sua espécie e à dignidade.
30

Na perspectiva científica, o animal é detentor de personalidade.


Segundo Peter Singer (2002), compreender o princípio da igualdade entre
indivíduos animais e humanos é tão simples que não requer mais que a
compreensão do princípio da igualdade de interesses. Se quisermos comparar
o valor de uma vida com outra, teremos que começar por discutir o valor da vida,
no sentido geral.
Contudo, se pensarmos nos denominados direitos de personalidade,
constaremos que nada mais são que direitos oriundos da pessoa como indivíduo.
Assim compreendidos, pois, emanados da natureza da pessoa como um ente
vivo, desde o seu nascimento. Um recém-nascido, por exemplo, antes de ser
registrado, já é uma pessoa, ao menos sob o ponto de vista científico e humano.
Em termos de medicina psiquiátrica, um indivíduo se torna pessoa quando
adquire noção de sua individualidade. Valorando a pessoa como um ser vivo. Há
de se reconhecer que a vida não é dádiva apenas do ser humano, e sim um bem
universal, o que define um organismo de seu nascimento até sua morte. E, por
isso, uma pessoa tem direitos conectados à sua condição de indivíduo, e não
apenas pessoa física com qualificação civil. Não há portanto, pensar de outra
forma senão a de que os animais, embora não sejam seres humanos portadores
de identidade civil, são indivíduos, vivos, assim possuem direitos inatos e
conferidos pela legislação pátria, sendo que os primeiros encontram-se acima
de qualquer condição legislativa, vejamos o que diz a CF/88:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer


natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes
no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes.

NUNES JÚNIOR (2019), em seu livro Curso de direito Constitucional,


ensina que “Admitir que os animais são titulares de direitos fundamentais será
um grande avanço na visão contemporânea do Direito, na qual o homem é um
ser inserido no ambiente que o cerca, suas condutas não tem fim em si mesmo,
mas devem ser sopesadas a luz de direitos dos outros seres vivos e da própria
natureza.[...] Por fim, defendemos que os animais são titulares de direitos, mas
não consideramos ‘humanizar os animais’.[...] Entendemos que o mais correto
é, em vez de humanizar os animais, considerando-os seres humanos dotados
de todos os direitos fundamentais, devemos considera-los como seres vivos que,
31

por conta de sua sensibilidade ou senciência, são titulares de alguns direitos


fundamentais, como principalmente a vida digna.”
Como visto, no Código Civil vigente, os animais continuam sendo
considerados semoventes, portanto, propriedade dos homens. Isto porque,
mantêm redações que ensejam esse conceito nos seguintes termos: “são
móveis os bens suscetíveis de movimento próprio, ou de remoção por força
alheia, sem alteração da substância ou da destinação econômico-social.” Sendo
assim, os animais, especialmente os domésticos são considerados pelo
ordenamento jurídico como “bens móveis suscetíveis de movimento próprio ou
de remoção por força alheia”; também cognominados, de “semoventes”, sendo
sujeito à posse do homem. Dessa feita, os animais não reconhecidos como
sujeitos de direitos na legislação brasileira atual. Porém, há regramentos éticos
que visam proteger os animais por meio da legislação, a exemplo da Lei de
Crimes Ambientais, em seu artigo 32, parágrafo 1º, que prevê: “Incorre nas
mesmas penas quem realiza experiência dolorosa ou cruel em animal vivo, ainda
que para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos alternativos”. A
redação deste artigo demonstra como o legislador teve a intensão de estabelecer
certa ética na prática de experimentação com animais, buscando poupá-los, o
quanto puder, qualquer forma de sofrimento. Importante salientar que antes da
Lei dos crimes ambientais, já existia disposição ética nesse sentido, é a
introdução ao ordenamento da Lei Federal nº 6.638/1979, regulamentando Lei,
tendo como uma de seus princípios a vedação a que o animal sofra vivissecção
sem anestesia. Assim, os experimentos com animais passaram a ser orientados
por um tipo de Código de Conduta ou Código de Ética. Desse modo, atualmente,
os animais que são abatidos para se tornarem alimento devem ser submetidos
a um tratamento minimamente ético, com condições humanitárias nos momentos
prévios ao abate.
Cientistas que estudam as reações dos animais reconhecem que eles
possuem consciência e memória e são capazes de sofrer, sentir dor, ter medo e
lutar tenazmente pela vida. O Colégio Brasileiro de Experimentação Animal
(COBEA), em 1991, ao buscar orientar a conduta dos profissionais envolvidos
com a utilização de animais em pesquisa, apresentou doze artigos intitulados
Princípios Éticos na Experimentação Animal. O documento foi divulgado na
intensão de preencher a falta de disposição legal que protegesse os profissionais
32

envolvidos com esta prática e regulamentasse o uso de animais em


experimentos. Mais uma vez, o centro da preocupação era o homem.
No quesito internacional há reconhecimento dos animais como sujeitos
de direitos, previstos na Declaração Universal dos Direitos dos Animais,
aprovada em Bruxelas e proclamada na Assembleia da Organização das Nações
Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura –UNESCO, em 27 de janeiro de
1978. Já em seu preâmbulo, estabelece qual é o objetivo do documento: “todo o
animal possui direitos”; “o desconhecimento e o desprezo destes direitos têm
levado e continuam a levar o homem a cometer crimes contra os animais e contra
a natureza”; “a educação deve ensinar desde a infância a observar, a
compreender, a respeitar e a amar os animais. ” Nos seus primeiros artigos
dispõe:
Art. 1º – Todos os animais nascem iguais perante a vida e têm os
mesmos direitos à existência.
Art. 2º 1. Todo o animal tem o direito a ser respeitado. 2. O homem,
como espécie animal, não pode exterminar os outros animais ou
explorá-los violando esse direito; tem o dever de pôr os seus
conhecimentos ao serviço dos animais. 3. Todo o animal tem o direito
à atenção, aos cuidados e à proteção do homem.
Art. 3º 1. Nenhum animal será submetido nem a maus-tratos nem a
atos cruéis. 2. Se for necessário matar um animal, ele deve de ser
morto instantaneamente, sem dor e de modo a não lhe provocar
angústia.

Objetivando construir uma Declaração com maior consistência e


respaldo científico, a tornando adequável à ciência moderna, ao contrário de uma
mera enunciadora de grandes princípios, associações ligadas à causa animal e
pessoas ligadas à ciência propuseram alterações em sua forma e conteúdo.
Assim, o texto, com as modificações foi apresentado em 1977, mas somente
proclamado em 1978.
A Declaração possui ao todo 14 artigos e foi assinada pelo Brasil e
ratificada em seu artigo 10º, que passou a ser disposto na seguinte forma:
‘’nenhum animal deve ser usado para divertimento do homem. A exibição dos
animais e os espetáculos que utilizem animais são incompatíveis com a
dignidade do animal.’’ Nos períodos seguintes ao advento da Declaração,
sobrevieram alguns dispositivos legais brasileiros tratando de questões
referentes à tutela da fauna, aqui já estudados.
De um modo geral, verifica-se que o Brasil decretou alguns diplomas
legais de acordo com os preceitos da Declaração Universal dos Direitos dos
33

Animais, demonstrando uma performance regular – aquém da desejável – na


tutela jurídica da fauna. No entanto, a CF/88 e o ordenamento jurídico brasileiro
desde sempre consideram os animais como bens ambientais, apenas objetos,
não sendo reconhecidos como titulares de seus direitos ao passo que a
Declaração, apensar de passados 43 anos, caminha um passo à frente,
reconhecendo, por diversas vezes, os animais como sujeitos de seus próprios
direitos.
34

II. AVANÇO NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

Após décadas de lutas pela consideração dos animais não humanos


como sujeito de direitos, o Plenário do Senado aprovou o Projeto Lei nº 27/2018,
onde confere aos animais não humanos a natureza jurídica “sui generis”, e será
analisado a seguir.

II.1 Projeto da Lei Complementar da Câmara nº 27/2018

O Plenário do Senado aprovou em 7 de agosto de 2019 o Projeto de Lei


Complementar que visa o estabelecimento de novo regime jurídico especial para
os animais. De autoria do deputado federal Ricardo Izar, o PLC nº 70/2018 tem
objetivo alterar a Lei nº 9.605/98, a Lei dos crimes ambientais, para acrescentar
dispositivos que concedam aos animais a natureza jurídica sui generis, como
sujeitos de direitos despersonificados, assim serão reconhecidos como seres
sencientes, ou seja, dotados de natureza biológica e emocional dotados da
capacidade de sentir.
No texto, o autor deixa claro a necessidade de alterar também o artigo
82 do Código Civil para determinar que os animais não sejam mais reconhecidos
com bens móveis, semoventes, ganhando assim mais uma norma de proteção
contra os maus tratos, uma vez que não mais serão considerados coisas, mas
seres passíveis de sentir dor ou sofrimento emocional. A redação prevê como
ementa: acrescentar dispositivos à Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, para
dispor sobre a natureza jurídica dos animais não humanos. E como justificativa:
determinar que os animais não humanos possuem natureza jurídica sui generis
e são sujeitos de direitos despersonificados, dos quais devem gozar e obter
tutela jurisdicional em caso de violação, vedado o seu tratamento como coisas.
Na justificativa, o deputado Ricardo Izar especifica que constituem como
objetivo do projeto:
I. Afirmação dos direitos dos animais e sua respectiva proteção;
II. Construção de uma sociedade mais consciente e solidária;
III. Reconhecimento de que os animais possuem personalidade própria
oriunda de sua natureza biológica e emocional, sendo seres sensíveis
e capazes de sofrimento
35

O autor argumenta ainda que o PLC tem por fim afastar o juízo de
coisificação dos animais e reconhecimento de natureza significativa de seus
direitos pois as normas vigentes que dispõem sobre os direitos dos animais
incidem sob a ótica de genuína proteção ambiental, desconsiderando interesses
próprios desses seres, de modo que o bem jurídico tutelado fica restrito à função
ecológica. Dessa forma, justifica o deputado, embora não tenha personalidade
jurídica, o animal passa a ter personalidade própria, de acordo com sua espécie,
natureza biológica e sensibilidade. A natureza sui generis possibilita a tutela e o
reconhecimento dos direitos dos animais, que poderão ser postulados por
agentes específicos que agem em legitimidade substitutiva.
Outros parlamentares emitiram opiniões importantes sobre o tema, e que
refletem o posicionamento da sociedade. O senador Randolfe Rodrigues disse
que o novo PLC não afetará hábitos de alimentação ou práticas culturais, mas
contribuirá para elevar a compreensão da legislação brasileira sobre o
tratamento de outros seres, portanto não há possibilidade “de pensarmos na
construção humana se a humanidade não tiver a capacidade de ter uma
convivência pacífica com as outras espécies. ‘’
Em contrapartida, o senador Telmário Mota alegou haver perigos ocultos
nas entrelinhas do referido projeto que poderão interferir na cadeia produtiva
agrícola e pode, até mesmo, chegar a proibir o abate de animais para
alimentação, além do aumento do custo de produção.
Agora, o Projeto de Lei Complementar nº 27/2018 segue para aprovação
ou reprovação da Câmara dos Deputados.

II. 2 Projeto de Lei do Senado nº 470/2018

Em 11 de dezembro de 2018 também foi aprovado pelo plenário do


Senado Federal o Projeto de Lei nº 470/2018, de autoria dos senadores Randolfe
Rodrigues e Eunício Oliveira, com o objetivo de alterar a Lei dos crimes
ambientais, elevando a pena para os atos de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar
animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos, mesmo
que por negligência, e determinar punição financeira para estabelecimentos
comerciais que concorrerem para estas práticas. Os senadores justificaram a
36

iniciativa do PL por um acontecimento cruel, a execução cruel


a que fura submetido um cachorro, que fui espancado com um cabo de vassoura
e, em seguida, envenenado por um segurança do supermercado Carrefour de
Osasco, na Região Metropolitana de São Paulo, no dia 28 de novembro de 2018.
Disseram que o ato provocou forte comoção nacional vista pelas manifestações
em redes sociais.
Alegaram que até então o abandono e maus tratos a animais são
considerados pela lei como crimes de menor potencial ofensivo, com pena de
mínima de três meses a um ano de detenção e multa, e que a penalidade que
pode ser revertida em trabalhos sociais, por exemplo, e que o crime de dano,
tipificado como "destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia", previsto no artigo
163 do Código Penal, possui penalidade 6 vezes maior que o crime de mutilar
um animal, o que é inadmissível, segundo os Senadores.
Aduziram também que existia, até a data de divulgação do PL, 53
milhões de cães, 38 milhões de aves, 22 milhões de gatos, 18 milhões de peixes
ornamentais e 2,7 milhões de pequenos répteis e mamíferos no País, conforme
dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, o que coloca o
País possui na posição quarta maior população de animais de estimação no do
mundo. Por essa razão, seria de extrema necessidade aprimorar a proteção ao
meio ambiente e aos animais contra as práticas abusivas que infligem dor e
sofrimento absolutamente desnecessários a vidas de seres indefesos, como
classificam os animais.
Os parlamentares também defendem que é importante a punição
financeira aos estabelecimentos que concorrem para a prática ‘’medievalesca’’
de maus-tratos a animais, atacando aquilo que é mais caro as empresas: o seu
patrimônio. Para tanto, sugeriram como parâmetro de punição financeira
proporcional a capacidade financeira do infrator e reprovabilidade social,
partindo de um e chegando até mil salários mínimos vigentes.
Destarte, o artigo 32 da Lei dos crimes ambientais passaria a ter a
seguinte redação, acrescentada pelos parágrafos terceiro e quarto:
Art. 32. Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais
silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos, ainda que
por negligência: Pena – detenção, de um a três anos, e multa.
§ 1º Incorre nas mesmas penas quem realiza experiência dolorosa ou
cruel em animal vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos,
quando existirem recursos alternativos.
37

§ 2º A pena é aumentada de um sexto a um terço, se ocorre morte do


animal.
§ 3° Os estabelecimentos comerciais que concorrerem para a prática
de maus-tratos, direta ou indiretamente, ainda que por omissão ou
negligência, serão penalizados com multa no valor de um a mil
salários-mínimos, a serem aplicados em entidades de recuperação,
reabilitação e assistência de animais, observados os seguintes
critérios:
I – A gravidade e extensão da prática de maus-tratos;
II – A adequação e proporcionalidade entre a prática de maus-tratos e
a sanção financeira;
III – A capacidade econômica da corporação sancionada. §4° A sanção
prevista no parágrafo anterior será dobrada a cada hipótese de
reincidência.

O PL tramitou em caráter de urgência, e recebeu favorável em plenário


pelas Comissões de Meio Ambiente e de Constituição, Justiça e Cidadania, no
entanto, assim como o PLC nº 27/2018 levantou opiniões. O senador Otto
Alencar não foi contra o projeto, mas questionou a redação no que tange a multa
dos estabelecimentos, apontando que a punição financeira deveria ser
direcionada somente à pessoa física infratora e não ao local em que o fato
ocorrer. Sugeriu excluir a palavra “indiretamente” do artigo que fixa a
responsabilidade dos estabelecimentos comerciais, de modo que a
responsabilização se restrinja ao caso de ação direta. Já uma sugestão de
excluir do alcance do projeto os “esportes equestres e a vaquejada” foi rejeitada
pela relatoria. Novamente, senador Telmário Mota, apresentou voto em aparado,
se posicionando contra alguns pontos do texto. Argumentou que a medida
comprometeria a vaquejada e considerou a pena exagerada. O senador
Cristovam Buarque apoiou o projeto, e o considerou como “marco civilizatório”,
pedindo, mas, que se estendesse a reflexão do tema à questão dos
trabalhadores que utilizam carroças de tração animal e a caça para alimentação.

II. 3 Lei ordinária federal nº 14.064/2020

Há pouco mais de 1 ano, foi sancionado o Projeto de Lei nº 1.095/2019


de autoria do deputado federal em exercício Frederico Borges, que teve como
objetivo, assim como os outros Projetos já mencionados, alterar dispositivo da
Lei nº 9.065/1998, a Lei dos crimes ambientais. O autor propôs estabelecer pena
de reclusão, substituindo a previsão de detenção a quem praticar ato de abuso,
maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados,
38

nativos ou exóticos e instituir penas para estabelecimentos comerciais ou rurais


que concorrerem para a prática do crime.
O deputado Frederico Borges, do mesmo modo, diz ter sido motivado
para a iniciativa do projeto ao que se referiu como a forma brutal com que um
cachorro foi morto dentro do supermercado Carrefour de Osasco – São Paulo.
E, após grande comoção nacional viu a necessidade de punição mais severa a
quem comete maus-tratos, sugerindo a alteração previsão de penalidade, até
então de três meses a um ano a ser cumprida em regime inicial aberto, para o
mínimo de um e o máximo de quatros anos, em regime de reclusão, que é mais
rigoroso. Ressaltou que na sua perspectiva, considerando que os animais não
possuem meios de se defender e que não são capazes de buscar por seus
direitos, a única maneira para que tais crimes sejam evitados é o empenho da
sociedade, que não deve aceitar tamanha barbaridade, e defendeu também a
possibilidade de estabelecimentos comerciais e rurais que permitam a
ocorrência de tais atos sejam devidamente apenados. No PL foi sugerida
seguinte redação:

Art. 32. Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais


silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos:
Pena – reclusão, de um a quatro anos, e multa.
(...)
§ 3° Os estabelecimentos comerciais ou rurais que concorrerem para
a prática de crimes previstos neste artigo poderão incorrer nas
seguintes sanções:
I– multa no valor de 1 a 40 salários mínimos;
II– interdição parcial ou total do estabelecimento;
IV– suspensão ou cancelamento da licença ambiental do
estabelecimento;
V – perda ou restrição de incentivos e benefícios fiscais concedidos
pela União.

O plenário do Senado aprovou o PL, após pareceres favoráveis da


Comissão de Constituição e Justiça, Comissão de Agricultura, Pecuária,
Abastecimento e Desenvolvimento Rural, além da Comissão de Meio Ambiente
e Desenvolvimento Sustentável, pela constitucionalidade, juridicidade e técnica
legislativa. Porém, com alterações, que passou a ter a seguinte redação final:
O Projeto de Lei nº 1.095/2019 altera a Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro
de 1998, para aumentar as penas cominadas ao crime de maus-tratos
aos animais quando se tratar de cão ou gato.
Art. 1º. Esta Lei altera a Lei nº 9.605, de 12 de
fevereiro de 1998, para aumentar as penas cominadas ao crime de
maus-tratos aos animais quando se tratar de cão ou gato.
39

Art. 2º O art. 32 da Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro


de 1998, passa a vigorar acrescido do seguinte
§ 1º-A: Quando se tratar de cão ou gato, a
pena para as condutas descritas no caput deste artigo
será de reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, multa
e proibição da guarda.

Assim, foi encaminhado para o Presidente da República, que o


sancionou, nos termos do artigo 66 da CF/88, se tornando a Lei nº 14.064,
publicada em 29 de setembro de 2020.
Como de costume, provocou opiniões favoráveis e desfavoráveis. O
Presidente Jair Bolsonaro (2020) disse que agora pena será compatível com a
agressão ao animal, e que quem não demonstra amor por um animal, como um
cão, por exemplo, não pode demonstrar amor, no seu entender, por quase nada
nessa vida. Ao contrário, Aguiar (2020), Presidente do Fórum Permanente de
Pós-Humanismo e Defesa dos Animais da Escola da Magistratura do Estado do
Rio de Janeiro, aponta que o Projeto de Lei inicial alcançava também os animais
silvestres, nativos ou exóticos e previa pena de reclusão de um a quatro anos e
multa, quando aprovado, o Senado aumentou a previsão de sanção penal para
dois a cinco anos, mas a restringiu para quem comete o ato apenas contra cães
e gatos.
Cumpre ressaltar que a promulgação da Lei nº 14.064/2020 foi
mundialmente divulgada, uma vez que de modo simbólico, o Presidente colocou
uma caneta na pata do cão que carregava no colo, um dos adotados por sua
família, que e assim ‘’ assinou ‘’ a réplica do decreto de sansão do Presidente.
40

III. A EXPLORAÇÃO ANIMAL NA SOCIEDADE

A Constituição Federal de 1988 ampara o direito dos animais, no qual


proíbe práticas cruéis contra esses seres. Entretanto no cotidiano, ocorre o
contrário. A medida que o capitalismo avança os animais são tratados como
mercadorias.

III.1 O consumismo de animais

Os animais vêm sendo tratados como objetos de consumo, em uma ideia


de satisfazer as necessidades dos seres humanos. Todavia, tal prática vem
ocorrendo de uma maneira desordenada, com o propósito de ser obter proveitos
financeiros.
Rotineiramente, os animais são utilizados para consumo. Não um
consumo acautelado, com o elo de exterminar a miséria, pois, quem movimenta
esse mercado é a população de classe média alta. Alguns animais, incluindo os
ameaçados de extinção, são levados ao abatimento. As carnes de jacarés são
um belíssimo exemplo de consumo desnecessário desse tipo, porém essas
carnes chamam a atenção por serem consideradas exóticas.
Animais silvestres provenientes de outros países, como aranhas, cobras,
vem sendo vendidos em pet shops.
Práticas corriqueiras dos seres humanos, vem objetificando os animais,
os animais que mais vem sendo explorados são os domésticos, que se tornou
uma indústria, ferindo dessa maneira, o disposto no art.225, VII da Constituição
Federal.
A indústria dos animais, assim como dos seres humanos, há padrões
para serem seguidos, padrões estéticos por exemplo rigorosos, pois caso o não
tenha, esse animal não será vendido.
A maneira que o público deseja esses animais esteticamente, os expõe
a situações de crueldade. Nesta absurda indústria, também deve se referir à
questão da mutação genética das espécies, verdadeira fabricação de novas
raças, que muitas vezes provoca o nascimento de animais com diversos
41

problemas. Importante destacar que é comum o mesmo laboratório responsável


pela criação da nova raça, possuir o remédio para o problema apresentado pela
mesma (PEREIRA, 2014). Isto posto, provavelmente, os problemas
apresentados pelo animal, também não passam de um meio para trazer mais
proveito aos laboratórios.
O ser humano, com objetivo de satisfazer às necessidades impostas
pelo sistema, procura somente os animais que se encaixam nos padrões
exigidos pela sociedade, ou seja, aqueles que estão na moda. É interessante
perceber, que os seres humanos, levam para o mundo animal as mesmas
práticas preconceituosas de segregação por características físicas por exemplo.
Ademais, este não é o único problema provocado pela indústria de
animais domésticos. Estes seres são colocados em diversas condições de maus
tratos para satisfazer desejos dos seres humanos.

Para aumentarem seus lucros, criadores de cães submetem matrizes


a maus-tratos e comprometem a saúde dos filhotes, vendidos pela
internet e em pet shops.
[...]
Pouco depois, no entanto, os fiscais ouviram um ganido. Guiados pelo
som, subiram uma escada e depararam com mais de vinte cachorros
amontoados em um quartinho. Filhotes de shihtzu e chow-chow
encontravam-se confinados em gaiolas sem água e cobertos de ração
misturada a fezes. Os animais adultos, soltos pelo cômodo, estavam
com aspecto ainda pior – muitos apresentavam dermatite, inflamação
da pele provocada pela falta de higiene. Uma cadela da raça chow-
chow tinha a epiderme repleta de fungos (COURA, 2015).

Tal prática não é incomum. A baixa fiscalização por parte do poder


público, colabora para que essas situações se perpetuem e os responsáveis
continuem com tais práticas tão cruéis em relação a esses animais.
A Resolução nº 1069 de 27 de outubro de 2014, criada pelo Conselho
Federal de Medicina Veterinária, Determina de forma precisa a responsabilidade
técnica em estabelecimentos comerciais de exposição, manutenção, higiene
estética e venda ou doação de animais. Assim sendo, é importante salientar
alguns artigos desta resolução:
Art. 3º Entende-se por bem-estar o estado do animal em relação às
suas tentativas de se adaptar ao meio ambiente, considerando
liberdade para expressar seu comportamento natural e ausência de
fome, sede, desnutrição, doenças, ferimentos, dor ou desconforto,
medo e estresse. Art. 5º O responsável técnico deve assegurar que as
instalações e locais de manutenção dos animais: I - proporcionem um
ambiente livre de excesso de barulho, com luminosidade adequada,
livre de poluição e protegido contra intempéries ou situações que
causem estresse aos animais; II - garantam conforto, segurança
42

higiene e ambiente saudável; III - possuam proteção contra corrente de


ar excessiva e mantenham temperatura e umidade adequadas; IV -
sejam seguras, minimizando o risco de acidentes e incidentes e de
fuga;
V - possuam plano de evacuação rápida do ambiente em caso de
emergência, seguindo normas específicas; VI - permitam fácil acesso
à água e alimentos e sejam de fácil higienização; VII - permitam a
alocação dos animais por idade, sexo, espécie, temperamento e
necessidades; VIII - possuam espaço suficiente para os animais se
movimentarem, de acordo com as suas necessidades; IX - sejam
providas de enriquecimento ambiental efetivo de acordo com a espécie
alojada (CRMV, 2014).

Para que ocorra a venda ou doações animais é necessário que sejam


preenchidos todos os requisitos elencados acima. Apesar de não faltar
legislação para os animais, o que é necessário para que ela se efetive é uma
fiscalização por parte do poder público de forma mais eficaz, uma vez que os
animais têm sofrido crueldade de todas as formas.
É importante se referir ao sofrimento das comumente denominadas
Matrizes, animais do sexo feminino, criadas apenas com a finalidade única de
reprodução, sem quaisquer cuidados relacionados à saúde e bem-estar do
animal. Quando velhas e inapropriadas são descartadas como se meros objetos
fossem (PROTEÇÃO ANIMAL, 2015).
Ademais outro problema importante a ser mencionado, é que quando os
animais ficam mais velhos, seus donos o abandonam. Eles demandam muita
atenção, adoecem e como consequência geram mais gastos, e como já citado
acima eles são modificados geneticamente para adoecerem e darem lucro aos
laboratórios. Nesse sentido, eles precisaram de medicamentos, tratamentos
especiais, gerando um enorme lucro financeiro para essa indústria.
Posto isso, embora os animais vendidos sejam bonitos, não há como
discordar que esses seres são resultados de uma indústria brutal, violadora de
direitos que reforça o viés de crueldade e maus tratos aos vulneráveis.
Portanto, deve ser dado fim a estas atividades, que além de ferirem o
disposto no art. 225 da Constituição Federal, em nada contribui com a tutela
ambiental, tão estimada nos últimos tempos. A falsa necessidade de ter um
animal de raça, imposta ao ser humano pela sociedade de consumo exagerado,
apresentada pelo mundo capitalista, faz com que esta indústria inadmissível aja
de forma muito comum na sociedade atual. Entretanto, esse massacre de
43

direitos não pode subsistir em pleno Século XXI, onde se busca a tutela de
direitos de diversos seres.

III.2 Utilização dos animais em experiências didáticas e científicas

A utilização de animais para fins científicos é uma prática histórica na


civilização humana, mas gera controvérsias em sociedades preocupadas com
proteção dos animais.
Testes em animais é uma prática de realizar experimentos em animais
vivos ou extenuados com o objetivo de auxiliar o conhecimento científico. Apesar
de concebido desde a antiguidade, o procedimento é capaz de comover a
sensibilidade humana e, mais atualmente, ocasiona debate entre a comunidade
acadêmica e a sociedade protetora dos animais. Esse conflito, inclusive, vai além
do argumento ético e questiona a real eficiência desse método de ensino e
pesquisa diante do presente avanço tecnológico-científico.
Assim, indivíduos envolvidos com a proteção dos animais acreditam que
a prática é dispensável, alegando a viabilidade de utilizar métodos de pesquisa
substitutivos, bem como a possibilidade de erro metodológico quando se
pretende transferir interpretações obtidas a partir de testes em determinada
espécie animal para outra diversa, como no caso da espécie humana.
Embora o uso de animais em pesquisas médicas tenha ocasionado
sucesso em muitas intervenções terapêuticas, efeitos prejudiciais podem ser
observados. A droga talidomida, por exemplo, prescrita como sedativo e
hipnótico para humanos, inclusive para grávidas, resultou em muitos casos de
malformação congênita em crianças. Isso ocorreu, em parte, devido a
interpretações equivocadas do verdadeiro efeito da talidomida, pois em roedores
o metabolismo da droga ocorre de forma diferente quando comparado ao ser
humano, e, portanto, foram observados diversos relatos de “bebês da
talidomida”.
Nesse cenário, vale salientar que em seres humanos, por exemplo,
algumas isomorfas de proteína são responsáveis pelo metabolismo da maioria
das drogas anticonvulsivantes disponíveis comercialmente, destacando-se as
subfamílias 3A4, 2D6, 2C9, 2C19, 2E1 e 1A2.
44

Mesmo perante essa polêmica, muitos centros de pesquisas científicas


em universidades recorrem à experimentação com animais com a finalidade de
descobrir curas para doenças graves e fatais ou de entender o mecanismo do
surgimento de diversas enfermidades que acometem não somente seres
humanos, mas também outros seres vivos.
Principalmente quanto aos testes de novos fármacos para determinadas
doenças, de certa forma os efeitos colaterais observados em estudos clínicos
podem ser atenuados e prevenidos a partir de observações prévias de estudos in
vivo. Esse contexto evidenciou a necessidade de regulamentar o uso de animais
em pesquisas científicas no Brasil, impondo limites a essa prática para eliminar
atos de crueldade e de maus-tratos em animais utilizados em experimentações
e promover o aprimoramento de aspectos metodológicos e éticos de estudos
científicos.
Em 2008 aprovou-se, no Brasil, a Lei 11.794, também conhecida como
Lei Arouca, que normatiza os procedimentos para uso científico de animais.
Com a publicação da lei, foram criadas comissões de ética para uso de
animais (Ceua) em cada instituição de pesquisa, assim como o Conselho
Nacional de Controle de Experimentação Animal (Concea), que passou a ser
responsável por todas as discussões referentes à criação e ao uso de animais
em laboratórios científicos.
Ainda que a Lei Arouca tenha passado treze longos anos em tramitação,
pode-se afirmar que nenhuma outra lei brasileira tratou com tal exclusividade o
tema da experimentação animal.
Lei Arouca surgiu em meio a uma conjuntura em que se intensificava a
utilização de animais para pesquisa científica, ao mesmo tempo em que inexistia
regulamentação voltada especificamente a práticas no qual o animal é dissecado
vivo, finalidade didática ou científica.
Mesmo iniciando tardiamente, em comparação a outros países mais
desenvolvidos, essa lei é fruto da concentração de debates a respeito do uso de
animais em pesquisas científicas a partir da década de 1990 no Brasil.
A promulgação da Lei Arouca foi a causa de confronto entre a
comunidade científica e a sociedade protetora dos animais, em virtude de não
corresponder à expectativa de abolição do uso de animais em práticas
científicas.
45

Todavia, é indispensável refletir que o Brasil vem crescendo como país


que realiza pesquisas científicas. Até 2008 o país não havia lei que
regulamentasse especificamente a pesquisa com animais. A Lei Arouca, dessa
maneira, levou o país a outro patamar, aquele de nações que buscam proteger
animais utilizados em pesquisa.
Os experimentos em animais, especialmente os voltados a pesquisas
científicas, não deve ser necessariamente banido, uma vez que o avanço obtido
no conhecimento de fisiologia, farmacologia e patologia não teria sido possível
sem estudos in vivo.
Nesse cenário, a promulgação da Lei Arouca torna-se proveitosa à
pesquisa científica brasileira, aliada à proteção dos animais, uma vez que
possibilita estudar, com a criação de órgãos como Ceua e Concea, a utilização
de animais em estudos científicos excepcionalmente quando trouxer impacto
positivo para a população mundial e for realizada de forma consciente e com
metodologia isenta de maus-tratos, não sendo, assim, ponto negativo em relação
à proteção dos animais.
A legislação brasileira tem progredido, ainda que devagar, quanto ao
zelo de regulamentar a utilização de animais em práticas didáticas ou científicas,
e certamente a Lei Arouca pode ser considerada parte desse avanço.
A vigência da atual legislação para criação e utilização de animais
voltadas a ensino e pesquisa impõe limites à prática, levando em consideração,
o máximo possível, a proteção dos animais, visto que recomenda o planejamento
do experimento a fim de se utilizar o menor número possível de animais e evitar
estresse, dor ou sofrimentos desnecessários.

III.3 Os animais em circos e em zoológicos

Muitos animais utilizados em circos são exóticos, ou seja, animais


provenientes de outro país.
A origem do animal é indiferente para a definição de crueldade prevista
no art. 225, §1º, inc. VII da Constituição Federal de 1988.
46

De forma corriqueira, vemos o uso de animais, como uma forma de


diversão. Formas essas por vezes cruéis e exploratórias, com o objetivo de ter
lucro. Infelizmente essa exploração cruel deixa suas sequelas, sequelas essas
como morte desses animais.
O circo, é um dos locais mais impróprios para os animais, que são
capturados ainda filhotes e separados de seus pais, enjaulados e acorrentados
a vida toda, sofrem castigos cruéis e são submetidos ao “adestramento”.
O Direito do lazer, ainda que assegurado constitucionalmente, não deve
redundar no sacrifício ou na afronta de valores humanos reconhecidos e
garantidos pelo ordenamento jurídico, e muito menos nos conduzir a uma
situação abominável.
Ademais, os animais representam um risco aos frequentadores, posto
que submetidos a situação de estresse constante, não habituados com seres
humanos, podem adotar comportamentos ofensivos.
Em ação de conscientização da população contra o uso de animais em
circos, a Sociedade mundial de Proteção Animal aponta, que além dos maus
tratos que são vítimas, o animal em circos expõe as pessoas a muitos riscos
“não é possível prever como um animal estressado irá agir em determinada
situação (...) e, além disso, muitas vezes permanecem em instalações
inadequadas e frágeis, expondo os funcionários do circo e população em geral.
A Constituição Federal veda a crueldade em animais sem, porém, defini-
la com clareza, sem definir quais são as práticas que englobariam esse conceito.
Na seara do Direito Internacional, temos a Declaração Universal dos
Direitos dos Animais, promulgada pela Unesco em 1978, a contestar o
aprisionamento de animais cuja liberdade é viver em liberdade assim como o uso
de animais em circos.
Embora essa declaração internacional não tenha força de lei nem
mesmo os países signatários, a verdade é que ela tem a capacidade de
influenciá-los na criação de novas leis, na adoção de políticas públicas e até nas
decisões judiciais que abordarem o assunto.
Não há no âmbito federal nenhuma Lei que proíba o uso de animais em
circos. Existem algumas Leis que são usadas de forma genérica, comumente é
utilizada a Lei de crimes ambientais e por analogia o artigo 32. Todavia, existe
um Projeto de Lei PL, de autoria do deputado federal Antônio Goulart, que visa
47

a proibição da exposição de animais silvestres em todo território nacional, em


ambientes como zoológicos, aquários e parques públicos. O projeto prevê
também que os animais silvestres que atualmente se encontrem na situação de
cárcere devem imediatamente serem transferidos para santuários que tem
condições de recebê-los, reintrodução ao meio ambiente, se for considerada
viável a sua adaptação, adoção por organização de proteção aos animais ou
transferência para centro de preservação da fauna silvestre. Denominado de
Projeto Lei nº 6.432/2016 da Câmara dos Deputados, o projeto foi indeferido e
arquivado, pois, segundo a Mesa Diretora da Câmara dos Deputados, a matéria
versada no Projeto de Lei nº 6.432/2016 não se enquadrava no campo temático
da Comissão Turismo, delimitado no inciso XIX do artigo 32 do Regimento
Interno da Câmara dos Deputados.
A Lei 6.113/2018, foi sancionada pelo governo de Brasília, proibindo a
apresentação de animais domésticos e da fauna silvestre nativos em circos ou
similares no Distrito Federal.
Os animais são seres que vivenciam sentimentos como tristeza, dor,
solidão, angústia, raiva, alegria.
A Lei nº 7.173/1983 é a Lei que estabelece regras sobre o
estabelecimento e funcionamento de jardins zoológicos.
A referida Lei trata dos procedimentos a serem adotados para o
funcionamento de estabelecimentos que mantenham animais vivos em
cativeiro, ou semiliberdade, para a visitação pública, conforme definidos no
artigo 1º. Do ponto de vista dos direitos dos animais merece destaque
principalmente o artigo 7º:
Art. 7º - As dimensões dos jardins zoológicos e as respectivas
instalações deverão atender aos requisitos mínimos de
habitabilidade, sanidade e segurança de cada espécie, atendendo às
necessidades ecológicas, ao mesmo tempo garantindo a
continuidade do manejo e do tratamento indispensáveis à proteção e
conforto do público visitante.

A legislação exige determinadas condições de “habitabilidade,


sanidade e segurança” para cada espécie mantida, todavia, com um duplo
caráter. De um lado “atendendo as necessidades ecológicas” e, portanto, tendo
os animais como foco determinante das condições, e, de outro, a garantia de
continuidade “do manejo e do tratamento indispensáveis à proteção e conforto
48

do público visitante”, ou seja, o objeto último a ser protegido e mantido


confortavelmente é o ser humano (SANTOS FILHO, 2008).
Zoológicos são centros de confinamento, dor e sofrimento, onde os
animais são condenados a viver longe da natureza à qual pertencem
e de onde foram forçosamente retirados – vítimas dos interesses dos
humanos. Lugar de animal é livre na natureza (AGÊNCIA DE
NOTÍCIAS DE DIREITOS ANIMAIS, 2012).

Portanto em relação aos circos é plenamente possível que haja


espetáculos sem os animais. Há inúmeros atrativos mais cativantes dentro de
um circo como palhaço, malabaristas, trapézios, etc.
O cirque de Solei, considerado um dos melhores do mundo, não
utilizam animais em seus espetáculos e não perdem sua qualidade e sedução
para com o seu público.
Conclui-se que em relação ao zoológico, isso é coisa do passado. Não
é educativo, não cabe mais na nossa sociedade. Há várias formas de diversão,
não é mais tolerável que animais sofram maus tratos, sejam tirados de seus
hábitats, apenas para satisfazerem os caprichos humanos.
49

IV. A CONCEPÇÃO JURÍDICA DE MAUS-TRATOS

Apesar de prever expressamente a proibição de submissão dos animais


à crueldade, o artigo 225, inciso VII da CF/1988 não define o termo crueldade:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente


equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade
de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de
defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações.
§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder
Público:
[...]
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas
que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção
de espécies ou submetam os animais a crueldade.

Assim, nota-se que o conceito de crueldade previsto no texto


constitucional é amplo e indefinido. Por essa razão, passa-se à análise
doutrinária sobre o tema. Helita Barreira Custódio define crueldade como:
[...] toda ação ou omissão dolosa ou culposa (ato ilícito), em locais
públicos ou privados, mediante matança cruel pela caça abusiva, por
desmatamentos ou incêndios criminosos, por poluição ambiental,
mediante dolorosas experiências diversas (didáticas, científicas,
laboratoriais, genéticas, mecânicas, tecnológicas, dentre outras),
amargurantes práticas diversas (econômicas, sociais, populares,
esportivas como tiro ao vôo, tiro ao alvo, de trabalhos excessivos ou
forçados além dos limites normais, de prisões, cativeiros ou transportes
em condições desumanas, de abandono em condições enfermas,
mutiladas, sedentas, famintas, cegas ou extenuantes, de espetáculos
violentos como lutas entre animais até a exaustão ou morte, touradas,
farra do boi ou similares), abates atrozes, castigos violentos e tiranos,
adestramentos por meios e instrumentos torturantes para fins
domésticos, agrícolas ou para exposições, ou quaisquer outras
condutas impiedosas resultantes em maus-tratos contra animais vivos,
submetidos a injustificáveis e inadmissíveis angústias, dores, torturas,
dentre outros atrozes sofrimentos causadores de danosas lesões
corporais, de invalidez, de excessiva fadiga ou de exaustão até a morte
desumana da indefesa vítima animal (apud PUTÊNCIO, Suzana
Rezende, 2021).

Santana (2020), discorre:


[...] pode ser definida como toda ação ou omissão dolosa ou culposa,
desumana, despiedosa, nociva, prejudicial, que produz padecimento
inútil, mais grave do que o necessário, contrário à justiça e à razão, à
virtude e ao dever, de quem se compraz em ver ou causar sofrimento,
afligir ou torturar. Assim, é a matança pela caça nociva, por
desmatamento ou incêndios criminosos, por poluição ambiental ou
mediante dolorosas experiências diversas que venham a causar aflição
ou dor, os abates atrozes, os castigos violentos e tiranos, os
adestramentos por meio de instrumentos torturantes e perversos, ou
quaisquer outras condutas impiedosas, resultantes em maus-tratos
contra animais vivos submetidos a injustificáveis e inadmissíveis
50

angústias, dores, torturas, dentre outros atrozes sofrimentos


causadores de danosas lesões corporais de invalidez, de excessiva
fadiga ou exaustão que venham a agravar as dores, os efeitos ou as
lesões, até a morte desumana da vítima animal. (apud PATARO,
Mariana Figueiredo, 2019).

Dessa forma, mesmo que não tenha sido expressamente determinado,


entende-se tratar de maus-tratos algo que é nocivo, desproporcional cometido
contra o animal. Delabary (2012), entende por maus tratos ‘’ o ato de submeter
alguém a tratamento cruel, trabalhos forçados e/ou privação de alimentos ou
cuidados. ‘’. Contudo, todos esses conceitos tratam-se do que é considerado
crueldade em face de um humano, que desde os primórdios da humanidade é
reportado compativelmente mais importante do que um animal não humano.
A inércia da jurisdição brasileira nesse aspecto é nítida, já que, como
apresentado anteriormente, um decreto do ano de 1934 foi o único que definiu o
termo maus-tratos, isso expressamente previsto em 31 capítulos que definiam
quais atitudes humanas eram proibidas.
Atualmente a norma que define condutas apontadas como lesivas aos
animais é a Lei de Crimes Ambientais nº 9.605 de 1998. Em seu artigo 32, que
prevê detenção de três meses a um ano, sem prejuízo da pena de multa ao
infrator. A redação do artigo, novamente ampla diz: ‘’ praticar ato de abuso,
maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados,
nativos ou exótico ‘’. Além disso, em um rol taxativo, dispõe sobre quais condutas
humanas configuram a infração: abuso, maus-tratos, ferir, mutilar, utilizar
animais em experiências dolorosas ou cruéis, mesmo que para fins didáticos ou
científicos. Traz por fim uma causa de aumento da pena de um sexto a um terço
se a prática cruel resultar na morte do animal. É um crime de sujeito ativo comum,
ou seja, pode ser cometido por qualquer pessoa, física ou jurídica e o sujeito
passivo é a comunidade, quem sofre as consequências do crime, esse conceito
está previsto no artigo 225, §3º da CF/1988, demonstrando a especial atenção
do legislador aos potenciais danificadores do meio ambiente, reconhecendo o
grande crescimento das indústrias poluentes. Além disso, o elemento subjetivo
deste crime é o dolo, dessa forma, o agente que pratica o ato tem a intenção ou
assume ou é indiferente perante o resultado. Ademais, o crime se consuma
quando ocorre a prática efetiva da ação ou omissão de abusar, ferir, mutilar ou
praticar maus-tratos contra animais.
51

Tem-se ainda que o objeto material do artigo 32 da Lei nº 9.605/1998


dispõe sobre animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou
exóticos. Os animais silvestres estão definidos no artigo 1º da Lei nº 5.197/1967,
como de qualquer espécie, em qualquer fase do seu desenvolvimento e desde
que vivam naturalmente fora de cativeiro. Já de acordo com o artigo 29, §3º da
Lei nº 9.605/1998, são animais silvestres todos os que pertencem às espécies
nativas, migratórias e quaisquer outras, aquáticas ou terrestres, que possuam
todo ou parte de seu ciclo de vida dentro do território brasileiro ou em águas
jurisdicionais brasileiras. Os animais domésticos, são aqueles que possuem
características apropriadas para a convivência com os seres humanos, cujo ciclo
de vida ocorra no território nacional, através de processos tradicionais de manejo
tornando-se domésticos, com características biológicas e de comportamento
dependentes do homem, sendo até mesmo capazes de se diferenciar na
aparência em relação às espécies silvestres que os originaram. Os
domesticados, por sua vez, são os que vivem em estado selvagem, porém
passam a se adaptar à convivência com o homem, a exemplo de algumas
espécies de aves. Animais nativos consistem nos provindos do meio ambiente
nacional e, por fim, os exóticos são os provenientes de território externo ao
brasileiro. Espécies ou subespécies desenvolvidas pelo homem, são
consideradas exóticas, assim como as que tenham sido introduzidas fora das
fronteiras nacionais e de suas águas jurisdicionais e as que tenham ingressado
de forma espontânea no território nacional.
Entretanto, o crime de maus-tratos é considerado de menor potencial
ofensivo, de competência de juizados criminais, e dessa forma, mediante a
aceitação de condições impostas pelo Ministério Público e homologadas pelo
Juiz, o agente infrator de maus tratos, acaba quase sempre cumprindo penas
restritivas de direito, que na maioria das vezes não são ligadas ao meio
ambiente, ou até mesmo o benefício da suspensão condicional do processo. O
Ministério Público possui o dever legal de oferecer a transação penal ou mesmo
um acordo de reparação pecuniária, uma vez que são alternativas previstas na
Lei e que não podem deixar de serem oferecidas, sob pena de nulidade
processual. Essa situação de penas brandas revela que o crime é considerado
de menor importância em nosso ordenamento, além de permitir uma cultura de
impunidade.
52

Em suma, para configurar o crime é preciso saber a diferença entre


algumas práticas, qualificadas como maus-tratos, sabendo que extinto Decreto
Federal nº 24.645/1934 trazia em seu artigo 3º trinta e uma práticas que eram
consideradas maus-tratos em um rol exemplificativo. Dessas, destacam-se: 1 –
o ato de abuso, que consiste em obrigar o animal a desempenhar atividade que
não faz parte de seu repertório natural de comportamentos ou submeter o animal
a situação que o impede de manifestar seus comportamentos naturais; 2 –
crueldade, que se caracteriza pela conduta intencional e proposital do agressor
em provocar o sofrimento animal e 3 – negligência, que se revela no descuido,
indiferença, inércia diante das necessidades básicas dos animais, não lhes
provendo condições mínimas e necessárias para seu devido atendimento. Mas
não significa que as outras 28 definições não sejam de extrema importância.

IV.1 Posicionamento dos tribunais do Brasil sobre maus tratos

No Brasil, os tribunais são instâncias superiores a partir do segundo


grau de jurisdição, ou seja, têm a competência de julgar, numa segunda
oportunidade, um caso concreto aplicando o entendimento, na maioria das vezes
já pacífico sobre o tema. Quer dizer que, o tribunal decide de forma que emite
um entendimento, e esse entendimento é a maneira de se unificar as decisões
sobre determinado tema numa região ou até mesmo dentro do território nacional,
para se evitar que haja decisões controvérsias e incoerentes sobre o mesmo
tema. Desse modo, finalizado o julgamento de um processo em primeira
instância, perante um juiz, as partes envolvidas, incluído o Ministério Público,
caso insatisfeitos com a sentença ou decisão, podem recorrer aos órgãos
colegiados nas instâncias superiores, os tribunais, que analisarão novamente e
emitirão sua decisão. A decisão do colegiado é chamada acórdão.
Vale destacar que as análises dos processos sobre maus-tratos e
consequentemente as decisões e acórdãos promulgados após a vigência do
Código de Processo Civil de 2015, devem se basear no artigo 489, inciso VI do
código processual, prevendo na sentença, o juiz deve observar a jurisprudência
ou os precedentes suscitados pelas partes, sob o risco de ter sua decisão
considerada como desprovida de fundamentação, o que pode ser anulado. Com
53

efeito, tem objetivo de alcançar segurança jurídica na aplicação de normas


legais, ou seja, uniformidade dentre suas decisões.
As decisões do Supremo Tribunal Federal são dotadas de efeitos erga omnes e
eficácia vinculante para o Tribunal de Justiça, se julgada procedente, por meio
de instrumentos como súmulas vinculantes e sentenças, essa é a solução
adotada, de longa data, pelo Supremo Tribunal Federal, que indica, como
fundamentos a esse entendimento, a primazia da Constituição da República (e,
consequentemente, a primazia de sua guarda) e a prejudicialidade Assim, os
direcionamentos da Suprema Corte buscam solucionar casos complexos, que
geram controvérsia nas instâncias inferiores e, por isso, são importantes trazer
alguns entendimentos sobre o tema dessa pesquisa.
Nesse sentido, o Habeas Corpus nº 50.343 foi o princípio das decisões
do STF sobre causas animais, perpetrado no ano de 1972, no que antes era
conhecido como município da Guanabara e hoje é a cidade do Rio de Janeiro.
Como melhor detalhado anteriormente, a finalidade do Habeas Corpus era
resguardar a liberdade dos pássaros engaiolados para serem comercializados e
caçados ilegalmente. Os réus eram todos que privassem a liberdade dos
animais. No entanto, em primeira instância, a juíza da 4ª Vara Federal da
Guanabara entendeu que era incabível Habeas Corpus, uma vez que esta ação
apenas se aplicaria à garantia da liberdade de ir e vir de seres humanos e os
coatores deveriam ser determinados e restritos a autoridades públicas. Dessa
forma, restou claro o entendimento de que os animais não poderiam ter direitos
pleiteados, até porque não se reconhecia direitos dos animais. O teor dessa
decisão ilustra o viés fortemente antropocêntrico que guiava aquele contexto
histórico do nosso ordenamento.
Já no ano de 1997, o STF julgou o Recurso Extraordinário (RE) nº
153.531-8 do estado de Santa Catarina, que discutia sobre a Farra do Boi,
iniciando-se por uma Ação Civil Pública impetrada por organizações protetivas
de animais em face daquele Estado, com o objetivo de proibir o evento. A farra
do Boi é considerada como manifestação cultural, nativa da região catarinense,
remontando ao período colonial do país. A manifestação possui variadas
denominações e transições conforme a região, que se relaciona com as origens
dessas atividades, nas quais os homens do campo amansavam animais bravios
usados em carros de boi, tração circular de engenho e no comércio. A finalidade
dos participantes do evento é se divertir com a fúria do boi, permanecendo
durante todo o período perseguindo o animal, ocorrendo, por vezes, de o animal
54

se perder. Se o boi se cansar e ninguém conseguir encontrá-lo, é substituído por


outro. Isso ocorre mais intensamente na Semana Santa até que no Domingo de
Páscoa, o animal é sacrificado, tendo sua carne repartida entre os sócios do
evento, quando a “festa” então acaba. Por essa razão, o RE nº 153.531-8 de
Santa Catarina, as associações protetivas dos animais recorreram de um
acórdão que negara o mérito da Ação Civil Pública, com o entendimento de que
a Farra do Boi não se tratava de crueldade, mas sim de prática tradicional, sendo
que a crueldade existiria em circunstâncias abusivas, supostamente proibidas
por aquele Estado. Todavia, ainda assim, o Tribunal de Justiça de Santa Catarina
reconheceu que os animais deveriam ser protegidos, inclusive em circunstâncias
de práticas tradicionais, se estivessem sofrendo crueldade. Assim, pela primeira
vez em decisão tratando sobre interesses dos animais, o STF apresentou a
compreensão de que os animais estão tutelados pela Constituição Federal, de
forma que o fato de a prática considerada cultural e tradicional ser cruel contra
estes seres já a torna, por si só, inconstitucional.
A partir daí o STF vem se posicionando no sentido de reconhecer que
práticas cruéis com os animais, antes consideradas pelos antigos julgadores
como culturais e formas de entretenimento, são inconstitucionais. Passa-se a
sugerir julgamentos favoráveis a proteção dos animais, baseando-se no
reconhecimento de que os animais são capazes de entender e sentir o
sofrimento.

IV.2 O psicopata e os animais

A crueldade contra animais traz às claras interações que causam


espanto e estranhamento.
O FBI (Federal Bureau of Investigation) é uma agência do Departamento
de Justiça dos Estados Unidos da América e atua na investigação de crimes de
âmbito federal. Por ter competência, criou um departamento chamado de Divisão
de Perfil Psicológico, no final dos anos de 1970 com a finalidade de analisar
crimes de maus-tratos a animais como indicadores de indivíduos violentos e
potencialmente perigosos. O FBI anunciou que estes crimes seriam investigados
com o mesmo rigor que os crimes praticados contra os seres humanos. Em
parceria com o instituto Animal Welfar, a iniciativa para as investigações foi
55

tomado após estudos divulgarem que maus-tratos contra animais são fortes e
intrínsecos indicadores de violência criminosa.
Conforme divulgado pelo FBI, cerca de 80% dos psicopatas começam a
desenvolver problemas de comportamento ainda na fase infantil, introduzindo a
pratica de crueldade contra outras crianças e animais. Por essa razão, em países
como Estados Unidos e a Inglaterra, os assassinos de animais são tratados e
julgados de forma diversa do que ocorre no Brasil, de modo que a gravidade
para esses crimes vai além da crueldade sofrida pelos animais, o que no Brasil
é considerado crime de menor potencial ofensivo. Dessa forma, esses países
adotam o posicionamento do dever de deter esses indivíduos ou no mínimo
monitorá-los, quando há históricos de maus-tratos e até morte de animais na
infância desses indivíduos.
Mansur (apud CAGNATTO 2016), diz que:
Maus tratos contra os animais pode ser um prenúncio de uma
psicopatia, ou sinalização de abuso ou violência doméstica, implica em
alguns casos em sérios riscos de saúde pública e raramente fica
restrito à espécie canina.

Para Sgarioni (apud CAGNATTO 2016):


Uma pesquisa da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), cerca de
3,4% das crianças apresentam problemas de conduta como mentir,
brigar, furtar e desrespeitar. A crueldade com animais é outra das
características em crianças e adolescentes a que os médicos mais
chamam a atenção para diagnosticar o transtorno de conduta. Se for
recorrente e estiver aliado a mentiras frequentes, furtos e agressões,
por exemplo, esse comportamento pode ser bem preocupante.

Confirmando que os psicopatas iniciam comportamentos anormais


torturando, matando animais, desenvolvendo assim, gosto por matar, Chuecco
(apud CAGNATTO 2016), cita em seu artigo três famosos psicopatas, em inicio
de ‘’ carreira’’ :
Um dos mais famosos psicopatas do Brasil cumpriu pena de 34 anos,
mas continuou matando até mesmo quando estava preso. Numa
entrevista às TVs brasileiras em 2011, quando foi preso novamente em
Camboriú (SC), Pedrinho Matador disse que só mata gente ruim e por
vingança. Jamais mata mulheres e tem desejo de “acabar” com o
Maníaco do Parque. A tatuagem “Mato por Prazer” diz que já tirou do
braço.

Ele cresceu numa chácara em Minas Gerais onde matava pacas e


macacos: “Acostumei a matar… depois passei a gostar. Gosto mais de
matar com faca, estilete, mas também uso as mãos porque depende
de cada traidor”, disse numa coletiva à imprensa em 2011. A “carreira
assassina” de Pedrinho teve início aos 14 anos de idade quando matou
um primo. Muitos anos depois matou o pai que estava no mesmo
56

presídio que ele: “Mas só arranquei o coração dele, não comi não como
dizem que fiz”.

Decapitou o próprio gato e a mãe


Não foi apenas Pedrinho Matador que treinou seus instintos violentos
em bichos antes de matar pessoas. Edmund Kemper tinha o hábito de
decapitar gatos e atirar em pássaros por volta de seus 13 anos de
idade.

Nem o gato da família foi poupado tendo sua cabeça pendurada numa
estaca. Kemper foi tão perverso em toda sua vida que é difícil acreditar
que alguém como ele possa de fato existir. Matou avós, mãe, amiga da
mãe, adolescentes e fez sexo com diversos cadáveres que decapitava.

Foi condenado à prisão perpétua em 1973, na Califórnia (EUA), pelo


assassinato de oito mulheres, entre elas sua avó (quando ele tinha
apenas 16 anos). Numa mesma tarde matou e decapitou a mãe e uma
amiga dela que, inesperadamente, apareceu para uma visita. O júri
considerou que Kemper gozava de saúde mental perfeita e o enviou
para uma prisão comum. O dado curioso é que o próprio Kemper se
entregou à polícia e durante seu julgamento disse que estava disposto
a ser torturado até à morte.

Cegava pássaros com agulhas quando criança. Tudo aconteceu tão


cedo na vida do militar americano Edward Leonski que quando ele
estava com 24 anos, em 1942, já tinha sido condenado à forca pelo
estrangulamento de três mulheres. Na confissão ele disse ter matado
para “conseguir suas vozes.” Disse que uma delas cantou para ele
enquanto à conduzia para casa: “Ela tinha uma bela voz e eu fiquei
maluco por ela”. Na investigação de sua vida pregressa, colegas de
infância disseram que Edward tinha o mórbido hobby de cegar
passarinhos com agulhas. Uma aberração que também pode ter
alguma relação com o canto dos pássaros.

Partindo da análise dos três casos acima, se nota que os homens


começaram sua carreira assassina cometendo seus crimes com animais
indefesos, vindo assim, a serem cada vez mais agressivos e cometendo crimes
maiores e mais perversos, exatamente como divulgara o FBI.
No Brasil, psicopatas são considerados inimputáveis, o que significa
que, não podem ser acusados e responsabilizados pois, embora tenham
consciência dos seus atos, não possuem nenhum controle sobre eles. Dessa
forma, por não terem discernimento sobre seus não podem ser punidos da
maneira que outro indivíduo seria.
Se forem punidos como criminosos comuns cumprirão o máximo de
pena prevista no país que é de 40 anos e também serão liberados. Foi isso que
aconteceu com o psicopata brasileiro, conhecido como Pedrinho Matador – autor
de mais de cem assassinatos, que dizia ‘’ matava pacas e macacos, acostumei’’.
O transtorno de personalidade antissocial é um distúrbio que se
caracteriza pela irritabilidade e agressividade do portador, bem como aausência
57

de remorso pelos atos praticados, seja contra seres humanos, seja contra
animais.
Rosário e Neto (apud CAGNATTO 2016) retrata:
A violência externalizante - caracterizada por condutas desafiadoras
excessivas e transtornos de conduta, como agressividade contra
pessoas e animais - e o comportamento transgressor dirigido ao
ambiente onde o indivíduo se insere, são categorizados no DSM IV
como disruptivos. Tal termo engloba o transtorno de conduta, o
transtorno desafiador opositivo e o transtorno de atenção. Em relação
à violência, nos interessam os dois primeiros. O transtorno de conduta
engloba atos agressivos a pessoas e animais, além de destruição de
propriedades, defraudação ou furtos e sérias violações às regras
sociais. O transtorno desafiador opositivo, por sua vez, é uma
síndrome, que, ao se apresentar na infância, torna-se importante
preditor do comportamento transgressor em jovens. Caracteriza-se,
segundo o DSM IV, pelo comportamento negativista, desafiador e hostil
perante figuras de autoridade. Os critérios diagnósticos para o
Transtorno da Personalidade Antissocial também mencionam a
irritablidade e a agressividade, indicadas por repetidas lutas corporais
ou agressões físicas, e a ausência de remorso por indiferença ou
racionalização ao ferir, maltratar ou roubar alguém.

Pessoas que sofrem dessa síndrome tendem a maltratar animais sem


piedade, sem remorso, pois agem com indiferença, podendo, um dia, acatar e,
até mesmo, matar um ser humano.
Em 2012 a Agência de Notícias de Direitos Animais - ANDA divulgou
uma série de reportagens, denominada ‘’Matadores de Animais’’. De autoria da
jornalista Fátima ChuEcco, as matérias traziam casos dos psicopatas mais
famosos do Brasil e no exterior que iniciaram seus crimes maltratando animais.
A série também trazia opiniões de psiquiatras e outros especialistas, como
psiquiatra forense, perito e consultor Dr. Guido Palomba. Em uma das
entrevistas da série, o especialista diz:
[...] Diante deste tipo de relato de maus-tratos, de perversidade com
animais, se isso de fato for confirmado é algo, sem dúvida nenhuma,
indicativo de um indivíduo altamente deformado do ponto de vista ético,
moral, social e caracteriza que se chama psicopata e que eu gosto de
chamar de condutopata. Por que condutopata? Porque a patologia está
na conduta dele. Porque é a extrema sensibilidade sem nenhum tipo
de ressonância afetiva com o semelhante. Mas o cachorro e o gato são
nossos semelhantes? Sim, são, porque estão vivos. São animais que
normalmente demonstram afeto. Normalmente não, sempre. E, se não
bem tratados, eles também retribuem tratando seus tutores, seus
convivas, muito bem. É realmente uma coisa preocupante.

Afirma ainda que, para uma psiquiatra, existe uma forte conexão entre a
psicopatia e a crueldade contra animais.
Por que pessoas normais não maltratam animais? Por que elas
reconhecem que os animais têm sentimentos, que os animais sofrem.
58

Que os animais têm do mundo deles a sua sensibilidade, os seus


gostos, as suas dores, os seus desejos. Então, você ignorar tudo isso
é ser extremamente insensível. É uma pessoa sem valor ético ou
moral, sem valor superior de altruísmo ou de nada. Ele está fazendo o
mal e está insensível ao mal que está causando. É uma pessoa que
tem uma deformidade de caráter e mostra isso, mas também é uma
deformidade do querer, da vontade. Maltratar um animal? Por quê?

O especialista ainda explica que uma pessoa que maltrata animais,


muito provavelmente também fará vítimas humanas, porque é insensível a tudo,
insensível ao sofrimento do ser humano, e ao dos animais. A sua insensibilidade
é uma deformidade do caráter.
Os psicopatas no sistema jurídico brasileiro, como já dito, são
considerados inimputáveis. Se expostos a um lugar onde outros presos
convivem e há animais abandonados, podem, com extrema facilidade, manipular
os presos comuns e corromper agentes carcerários e se tornar grandes líderes
dentro da prisão. Por isso, “a taxa de reincidência é três vezes maior para
psicopatas do que para criminosos comuns. Em relação a crimes violentos, essa
taxa é quatro vezes maior em psicopatas quando comparados a não-psicopatas”
(MORANA,2009).
Então o Estado providencia, quando se tratam de crimes cometidos por
psicopatas, além das penas privativas de liberdade, na maioria das vezes, a
imposição de medidas de segurança, e a interdição. Uma vez que,
comprovadamente o cárcere pode se tornar uma escola para o psicopata.
Todavia, essas medidas têm surtido pouco ou nenhum efeito sobre apenado. O
que leva a um efeito muito pior sobre o psicopata, considerando o objetivo do
cárcere, de ressocialização para o retorno à convivência com a sociedade, o
psicopata não corresponde às medidas aplicadas pelo Estado, continuando
inertes em seu comportamento desde a inserção no sistema prisional até o
cumprimento da pena.
59

CONCLUSÃO

À medida do desenvolvimento desta pesquisa foi possível perceber que


o ordenamento jurídico vigente no Brasil, que tutela o meio ambiente é
contraditório e vaga, posto que parte de diversos paradigmas éticos. Em um
mesmo artigo se verifica duas ou mais previsões, como no artigo 225 da
Constituição Federal de 1988.
A propósito, o antropocentrismo é um paradigma –um modelo ou padrão
aceito, no seu uso estabelecido- (KUHN, 2007) é a filosofia de vida que preconiza
que seres humanos atribuem maior peso aos interesses dos membros de sua
própria espécie quando há um choque entre eles e os de outras espécies. Esse
pensamento surgiu com o filósofo Platão, no século VI a.C. Platão entendia que,
como os animais e as florestas foram as primeiras criações dos deuses no
mundo, não foram desenvolvidos o suficiente para possuírem capacidade de
sentir. Já o homem, como fora desenvolvido muito depois, era um ser superior,
dada sua capacidade de sentir e saber diferenciar os sofrimentos como dor e
medo. Por isso, segundo Platão, os animais existiam somente para satisfazer os
desejos e servir ao homem, não tendo nenhum direito.
Logo, Pitágoras, outro filósofo da Grécia antiga fez surgir a doutrina
Metempsicose, que consistia na indução de a alma humana poderia encarnar
em animais ou vegetais, promovendo entre seus discípulos o tratamento digno
e amplo respeito aos animais. A partir daí começa uma nova para os animais.
Não há justificativa moral ou ética defensável para ignorar que os
animais não humanos, enquanto seres capazes de sentir, estão igualmente
sujeitos às experiências de dor e prazer, possuindo ao menos um interesse
mínimo: o de não sofrer. Com o passar dos anos e com a evolução da sociedade
e a proximidade com os animais, a CF/88, trouxe em seu artigo 225, § 1º, inciso
VII, o reconhecimento da existência de valor intrínseco aos animais não
humanos, mas de forma sucinta, trazendo a proibição expressa constitucional ao
tratamento cruel. Todavia, ainda há status jurídico de coisas a estes seres, dado
que apenas sujeitos de direitos possuem a aptidão genérica de contrair direitos
e deveres na ordem jurídica brasileira.
60

Há em tramitação atualmente Projetos de Lei que visam alterar o Código


Civil, que rege os direitos das pessoas, bem como tem disposições sobre coisas
e bens, dentre outros. O Projeto de Lei visa alterar dispositivos do Código Civil
de 2002, mas não altera, de maneira clara e em termos práticos, o tratamento
dispensado aos animais não humanos, posto que não soluciona a problemática
levantada pela comunidade jurídica, especialmente no que se refere à condição
jurídica destes seres como sujeitos de direitos.
Conclui-se que atualmente a Constituição Federal tutela os animais da
seguinte maneira: os animais silvestres, mesmo deixaram de ser propriedade do
Estado, sendo protegidos com recurso ambiental de interesse humano, mas não
como valor autônomo; O fundamento da proteção dos animais domésticos no
sistema jurídico brasileiro é a vedação constitucional à crueldade. Os animais
domésticos, porém, mais úteis ao sistema produtivo, são considerados bens
privados. Assim sendo, fica comprometida a aplicação do mandamento
constitucional. Além disso, a crueldade é um conceito indeterminado e o
antropocentrismo influi na hermenêutica jurídica, já que ainda há o pensamento
de que os animais são coisas, objetos passíveis da vontade do homem; O
Código Civil, quando se refere aos animais domésticos ocupam-se,
exclusivamente, de regulamentar sua utilização de modo a não prejudicar o seu
bem-estar, o chamado ” bem-estarismo” legal. Dessa maneira, presas ao
paradigma antropocêntrico, contemplam os interesses humanos.
Restam, portanto, apenas duas opções quanto ao status conferido aos
animais não humanos: manter a proteção apenas em função de sua utilidade
aos interesses humanos ou reconhecer, de forma clara e inequívoca, que são
seres dotados de sensibilidade, dignidade e valor intrínseco, sendo sujeitos de
direitos e não coisas ou bens.
Observa-se que punição no âmbito penal imposta em caso de crimes
contra animais ainda não alcançou os efeitos esperados, principalmente diante
das diversas lacunas e possibilidades jurídicas de alternativas à punição. As
penalidades aplicadas continuam sendo absurdamente brandas, considerando
a gravidade dos crimes cometidos, que é desconsiderada pela Lei ao desdenhar
a vida, integridade e saúde desses seres.
A aplicação das leis são de extrema relevância para saber como a
discussão pública afeta os aparatos normativos que regem a sociedade,
61

como as punições e ações são recebidas pela população, e em certa


medida, também nos mostram como os avanços e retrocessos acontecem
também nesse âmbito, como o caso da aprovação da lei que coloca rodeios
e vaquejas como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil, vista como um
enorme retrocesso para os defensores da causa animal.
Nota-se também que a legislação brasileira tem progredido no sentido
de diminuir o uso de animais em experiências didáticas e científicas, quanto a
necessidade de regularizar essa utilização de animais em práticas didáticas ou
científicas, com certeza a Lei Arouca pode ser considerada um marco para esse
avanço. Inclusive, a atual legislação para criação e utilização de animais voltadas
a ensino e pesquisa traz restrições à prática, levando em consideração a
proteção dos animais, posto que preconiza o planejamento do experimento a fim
de se utilizar o menor número possível de animais e minimizar as manifestações
de estresse, dor ou sofrimento desnecessários. Cumpre destacar ainda que,
apesar de ultrapassado e em alguns países até inadmissível, os animais ainda
são usados como forma de entretenimento, em circos e zoológicos. São animais
selvagens como leões, tigres, elefantes e ursos, capturados em suas terras
nativas mas criados em cativeiros para servir aos interesses do homem. Dessa
forma, é absolutamente impossível que o bem-estar e a saúde do animal seja
preservada. Não menos importante, através dessa pesquisa, observa-se que
80% dos psicopatas iniciam suas empreitadas violentas através de matanças e
desprezo aos animais, desde a infância, em sua maioria, não entendo que aquilo
é anormal e não nutrindo qualquer sentimento de tristeza ou remorso. Percebe-
se a necessidade de intervenções complementares de um profissional
especialista em saúde mental, junto com as famílias, a fim de um tratamento
eficaz, capaz de garantir, quando observado este tipo de comportamento ainda
quando criança, um desenvolvimento sadio e suficiente para a vida em
sociedade.
Este trabalho se destina, portanto, a incentivo de novas análises, tendo
como principal finalidade a contribuição do estabelecimento dos
níveis de sensibilidade em relação a animais não humanos, pode vir a ser
ferramenta utilizada por pesquisadores vindouros que se interessem pelo
tema, e também pela sociedade em geral para entender seu lugar no trato para
com os animais.
62
63

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71

ANEXO - ENTREVISTA COM JURISTA

PROF. DR: Gaspar Alexandre Machado de Sousa


Aluna: Amanda de Castro Rocha

1-Há algum tipo de tratamento dado pelo poder público judiciário aos
animais de Goiânia?

A Prefeitura de Goiânia possui o Centro de Saúde e Bem-Estar Animal,


vinculado à Agência Municipal do Meio Ambiente (Amma). Esta unidade atende
animais domésticos encaminhados por pessoas de baixa renda e por
Organizações Não Governamentais (ONGs) devidamente cadastradas na
Amma. O Centro é o único no Centro-Oeste a oferecer serviços veterinários
gratuitamente, tendo capacidade para atender 30 animais por dia. Está
localizado na Avenida José Martins Guerra, Jardim Balneário Meia Ponte.

2-Há alguma penalidade quanto a responsabilidade do cidadão frente as


situações do abandono de animais domésticos?

A Lei 9.605/1998 (Lei dos Crimes Ambientais) tipifica, em seu art.32,


caput, o crime de maus-tratos contra animais.

Mais recentemente, a Lei nº 14.064/2020 acrescentou o §1º-A ao


referido art.32, criando uma forma qualificada do crime de maus-tratos contra
animais, quando se tratar de cães ou gatos, trazendo uma pena de reclusão, de
2 (dois) a 5 (cinco) anos, multa e proibição da guarda.

3- Existe alguma lei municipal que garante a proteção e o direito dos


animais?

A Lei Municipal nº 8.566, de 17 de outubro de 2007, disciplina a criação,


propriedade, posse, guarda, uso e transporte de cães e gatos no Município de
Goiânia-GO.
72

4-Existe algum tipo de campanha educativa de proteção aos animais em


Goiânia?

A Lei Municipal nº 8.566/2007, de Goiânia - Go, trata sobre a educação


para a posse responsável em seu art. 30 a 33. O art.30 disciplina que o órgão
principal responsável deverá promover programa de educação continuada de
conscientização da população a respeito da propriedade responsável de animais
domésticos, podendo, para tanto, contar com parcerias e entidades de proteção
animal e outras organizações não governamentais e governamentais,
universidades, empresas públicas e/ou privadas (nacionais ou internacionais) e
entidades da classe ligadas aos médicos veterinários. Já o art.31 dispõe que o
órgão municipal responsável devera prover de material educativo, também, as
escolas públicas e privadas, e, sobretudo, os postos de vacinação e os
estabelecimentos conveniados para registro de animais. Por sua vez, o art.32
determina que o material do programa de educação continuada devera conter,
entre outras informações, considerações pertinentes pelo órgão municipal
responsável: a) a importância da vacinação e da vermifugação de cães e gatos;
b) zoonoses; c) cuidados e manejo dos animais; d) problemas gerados pelo
excesso populacional de animais domésticos; e) a importância do controle da
natalidade; f) castração; g) legislação. Por fim, o art.33 dispõe que o órgão
municipal responsável devera incentivar os estabelecimentos veterinários,
conveniados para registro de animais ou não, as entidades de classe ligada aos
médicos veterinários e as entidades protetoras de animais, a atuarem como
polos irradiadores de informações sobre a propriedade responsável de animais
domésticos.

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