100%(2)100% acharam este documento útil (2 votos) 974 visualizações20 páginasAlfabetizar e Letrar Na Educação Infantil
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COLEGAO LINGUA PORTUGUESA NA ESCOLA
Ana Carolina Perrusi Brandao
Ester Calland de Sousa Rosa
(Organizadoras)
Ler e escrever na Educacao Infantil
Discutindo praticas pedagégicas
2* edigtio
4? reimpressiio.
auténtica2010 As organizadoras
Copyright ©
eyviant © 2010 Autentica Editora
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dos pela Auténtica Editora. Nenhuma parte desta publicacao
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REVISAO
Aiko Mine
Ana Carolina Lins
EDITORA RESPONSAVEL
Rejane Dias
EDTORA ASSISTENTE
Cecilia Martins capa.
CONSELHO EDITORIAL DA Alberto Bittencourt
COLEGAO LINGUA PORTUGUESA NA ESCOLA (Gobre imagem de SelensergeniiStockphoto)
‘Ana Teberosky (Universidad de Barcelona); OIAGRAMAGAO
‘Anne-Marie Chartier (INRP{Paris); Artur Tales Leon de Marco
Gomes de Morais (UFPE); Cancionila
Janzkovski Cardoso (UFMT); Ceris Salete Ribas
‘a Silva (UFMG); Edmir Perotti (ECA/USP);
Telma Ferraz Leal (UFPE)
Dados Internacionais de Catalogagao na Publicacao (CIP)
(Camara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Ler e escrever na Educacao Infantil: discutindo praticas pedagégicas
/ Ana Carolina Perrusi Brandao, Ester Calland de Sousa Rosa,
organizaca 2. ed.; 4. reimp. — Belo Horizonte : Auténtica,
2018 (Lingua Portuguesa na Escola ; 2).
Bibliografia.
ISBN 978-85-7526-503-1
1, Educacdo infantil 2. Escrita 3, Leitura 4. Professores - Formacao
profissional |. Brando, Ana Carolina Perrusi. II. Rosa, Ester Calland
de Sousa. Ill. Série.
noose73 870.71
Indices para catélogo sistematico:
1. Educagao infantil : Professores : Formacao :
Educacao 370.71
@cruro aurentica
Belo Horizonte
Tua Caron mts 420 Rio de Janeiro Sao Paulo
sllvelia, 1140 tbe Rua Debret, 23, sala 401 Av Paulista, 2.073,
BGs Giitecmie, bua Centro . 20030-080 Conjunto Nacional, Hore |
Si ir Rio de Janeiro . RJ 23° andar . Conj. 2311-23
) 3465-4500 Tel.: (55 21) 3179 1975 Cerqueira César .01311-940
Sao Paulo . SP
Tel: (55 11) 3034 4468
Www.grupoautentica.com.brCapitulo 1
Alfabetizar e letrar na Educacgao
Infantil: o que isso significa?
Ana Carolina Perrusi Brandao
Telma Ferraz Leal
Neste capitulo buscamos refletir sobre o papel da Educagéio In-
fantil na ampliag{o do contato das criangas com o mundo da escrita.
Como sera possivel notar, consideramos essencial planejar situagdes
em que elas vivenciem, nessa etapa da Educagio Basica, praticas de
leitura e escrita, sem que isso signifique desconsiderar suas necessi-
dades e interesses. Assim, defendemos o espaco da linguagem escrita,
ao lado das outras tantas linguagens (plastica, corporal, musical, de
faz de conta) em que os meninos e meninas podem se expressar ¢ se
desenvolver, conforme destaca 0 educador italiano Malaguzzi (1999).
Enfatizamos ainda que “ensino” no precisa ser uma palavra
proibida na Educagiio Infantil, como pretendem alguns (ver, por exem-
plo, Farra, 2005). Ao contrério, assim como Arce ¢ Martins (2007),
entendemos que hé muito o que ensinar para as criangas menores de
seis anos. Neste sentido, pretendemos apontar, no que se refere A es-
crita, algumas alternativas para um ensino pleno de significado para
as criangas e que, portanto, considere 0 que jé sabem, como aprendem
© o que lhes interessa aprender.
Para atingir objetivo proposto, discutimos como diferentes
concepgdes sobre a apropriacao da leitura e da escrita se articulam e se
13ializam no trabalho proposto em salas de Educagao Infantil, Em
ri . Aayi .
mate! explicitamos as diretrizes pedagogicas para tal ensino com yj is
ja, as, a
segue ra em seu fazer cotidiano relativo a esse objeto
i fessol
tas a orientar a pro! Bais
de conhecimento. Finalmente, apresentamos algumas Possibilidades
de atividades. agrupadas em cinco blocos, especificamente dirigidos
para a alfabetizagao ¢ letramento na Educagao Infantil.
A leitura e a escrita na
Educacao Infantil: alguns percursos
No Brasil, até os anos 1960 do século XX, predominava o discurso
da “maturidade para a alfabetizagao”. Em outras palavras, a apren-
dizagem da leitura e da escrita resultaria de um “amadurecimento”
de certas habilidades, de modo que “o ensino” estaria condicionado
a esse “desabrochar natural” que, supostamente, deveria ocorrer em
torno dos seis ou sete anos. Acreditava-se, ainda, que a crianca nao
teria qualquer interesse em ler e escrever até essa idade e que tentativas
de alfabetiz4-la antes disso eram vistas até mesmo como prejudiciais
ao seu desenvolvimento, j4 que as criangas nao estariam prontas para
essa aprendizagem.
Em sintese, a prontidao para a alfabetizacao significaria, de acordo
com Poppovic e Moraes (1966, p. 5), “[...] ter um nivel suficiente, sob
determinados aspectos, para iniciar 0 processo da fungao simbdlica
que € a leitura e sua transposigao grafica, que € a escrita”. Com base
nesse conceito, as autoras propuseram na época um “Programa para
0 desenvolvimento de fungdes especificas” contendo exercicios que
visavam a0 trabalho com diferentes aptiddes e atitudes consideradas
rea prendizagem da escrita. Conforme enfatizavam as autoras,
iene eae entrar no campo da alfabetizagao, mas sim dar
de exircitacsty atin Sora para a elaboragfio de um programa graduado
eet ese process” 29) Ges es
©m trés etapas: (1) 0s it ne fan oot tadan a ei io e
© ato), (2) as fungBee cx idos (a Vista, 0 olfato, o paladar, anand? Sy
'Pecificas (i.e. nogdes quantitativas, orientag™
espacial ¢ tem
. poral e as
Salientavam ainda ques "* CO*POral) & (3) © grafismo, As Auer
14,O treinamento motor, que est incluido em todos os exerci-
cios, é feito em forma de recorte e colagem na 1* ¢ 2” etapas
€ com o uso do lapis na 3" etapa. O uso de formas graficas
como néimeros e letras nao significa uma entrada no campo da
escrita, 0 que seria totalmente prematuro, antes da aquisigéio da
leitura, mas apenas um treinamento motor da movimentagéo
direcional certa que a crianga necessitara mais tarde (PorPovic;
Moraes, 1966, p. 23).
Com base nesses principios, pode-se concluir que o trabalho na
Educagéio Infantil deveria evitar qualquer contato direto com a leitura e
aescrita e se concentrar no estimulo aos chamados “pré-requisitos” para
aprender a ler e escrever, tais como o desenvolvimento de habilidades
de coordenag&o viso-motora, meméria visual e auditiva, orientagao
espacial, articulagao adequada de palavras, certo grau de atengao e
concentracao, boa alimentagao, entre outros. Conforme salienta Fer-
reiro (1993), essas ideias justificaram a manutengao do “pré-escolar,
‘assepticamente’ isolado da lingua escrita [...], desenvolvendo habili-
dades prévias que, segundo parece, ‘maturam’ em contextos alheios a
lingua escrita” (p. 65, grifos da autora).
Observa-se que tal concepeaio sobre a aprendizagem da leitura e da
escrita teve um impacto na orientagiio de politicas piblicas para o atendi-
mento a criangas em pré-escolas nos anos 1970 € 1980 do século XX (ver
Kramer, 1992), bem como nas atividades realizadas em salas de Educagaio
Infantil por todo Pais. Porém, jé nos anos 1920 ¢ 1930, pesquisadores
questionavam essas nogées. Vygotsky (1984), por exemplo, salientava que
bem antes dos seis anos as criangas eram capazes de descobrir a fungao
simb6lica da escrita e até comegar a ler aos quatro anos e meio. Para ele,
© problema maior ndo era a idade em que a crianga seria alfabetizada,
mas sim o fato de a escrita ser “ensinada como uma habilidade motora, ¢
nao como uma atividade cultural complexa” (p. 133). Assim, criticava 0
trabalho da maioria das escolas de sua época, incluindo as propostas de
Montessori, por desconsiderarem que a escrita deveria ter significado para
as criangas. Ou seja, para Vygostsky, a escrita precisaria ser ensinada como
algo relevante para a vida, pois somente dessa forma ela se desenvolveria
no como “habito de mio e dedos, mas como uma forma nova e complexa
de linguagem” (p. 133).© discurso da prontidao também foi questionado por profissionaig
da area de educagaio que apontavam a paixg qualidade dos “exerciciog
preparatérios”: muito repetitivos ¢ vazios de significado Para as crian-
cas, além de obrigarem que elas ficassem presas durante Muito tempoa
atividades com papel e lapis. Porém, o mator golpe nesse discurso fo;
a fato de que o fracasso na alfabetizacaio continuava a ocorrer mesing
com 0 alto investimento publico na disseminagao de programas que
apostavam em numerosos exercicios preparatorios para garantir
maturagao almejada para a alfabetizacao.
Diante desses argumentos, observamos a abertura de pelo menos
trés novos caminhos para o trabalho com a linguagem escrita nas salas
de Educagao Infantil, conforme apresentaremos a seguir.
Caminho 1: “A obrigacao da alfabetizacao”
Se ndo ha sustentagdo teérica ou empirica para a ideia de
pré-requisitos para alfabetizagao, por que esperar até os seis ou
sete anos para alfabetizar as criancas? Os que adotam esse modo de
pensar defendem, portanto, que as criancas concluam a Educagiio
Infantil j4 dominando certas associagdes grafofénicas, copiando
letras, palavras e pequenos textos, bem como lendo e escrevendo
algumas palavras e frases.
Os exercicios preparatérios s&o, assim, substituidos pelo traba-
Iho exaustivo com letras, iniciando pelo reconhecimento e escrita de
vogais, seguindo-se o trabalho com as consoantes e familias sildbicas.
Subjacente a esse tipo de trabalho na Educacao Infantil est a
ideia de que a aquisicao da leitura e escrita corresponde a aquisi¢ao de
um cédigo de transcrigaio do escrito para o oral e vice-versa, bastando
4 crianga memorizar as associacées som-grafia para ser alfabetizada.
Semelhantemente 4 abordagem dos pré-requisitos, a énfase est4 no
desenvolvimento de habilidades perceptuais e motoras. A diferenga é
que letras e palavras sao utilizadas para o treino perceptual e motor,
em vez de outros tragados, formas ou figuras.
ctiai O trecho a seguir, extraido de uma observagiio em uma sala com
i nae i rm:
. eas na ultima etapa da Educacao Infantil, sintetiza de formé
astante ati fare
obri clara as praticas associadas ao que chamamos aqui d°°°
Zacdo da alfabetizacao”, Vejamos:
16Apés conversar informalmente com as criangas, a professora
iniciou um trabalho de revisao das vogais e das consoantes.
Ela escreveu no quadro algumas “familias silabicas” e pala-
vras formadas por silabas correspondentes a essas familias
ou a outras jé trabalhadas. Ao final, escreveu os encontros
vocilicos, conforme transcritos abaixo:
“Reviséo das familias” —aeiou
ba, be, bi, bo, bu bo-la
la, le, li, lo, lu da—do
da, de, di, do, du sa—po
5a, Se, Si, So, SU la—ta
ta, te, ti, to, tu pi-pa
ai, ei, iu, 03, ui ta—tu
“Tia juntou a letrinha a com i formando ai. Prestem atengao
agora! Tia juntou outra letrinha e com j formando ei, Assim
por diante”.
Aprofessora continuou: “Olhem, primeiro eu falo as familias
€ vocés escutam. Depois vocés vao repetindo cada familia.
Quando vocés nao souberem, eu ajudo a pronunciar”,
Ela comegou dizendo a primeira silaba (ba) para que os
alunos continuassem a sequéncia: (be, bi, bo, bu). Ao chegar
a familia do “t”, a professora disse: “Vocés nao estudaram
em casa, tém que estudar!”.
Durante a atividade, as criangas observavam o quadro e
repetiam as familias. Algumas erravam, outras ficavam
caladas, poucas sabiam as familias de modo completo.
Depois a professora passou uma tarefa para que os alunos
exercitassem as familias silébicas. A tarefa dizia: “Vamos
fazer as familias”. Em seguida, apresentou as familias silAbi-
cas do BA, MA, LA, DA ¢ pediu que as criangas copiassem
duas vezes as silabas de cada familia
17Caminho 2: “O letramento sem letras!”
Com relagao ao tipo de trabalho descrito anteriormente (que,
infelizmente, tem ganhado miuito espago na Educagao Infantil),
vemos 0 surgimento de outro modo de pensar. Este foi reconhecido
como “o letramento sem letras”,' caracterizando-se a énfase dada a
outros tipos de linguagem na Educagao Infantil, como a corporal, a
musical, a grafica, entre outras, banindo-se a linguagem escrita do
trabalho com criangas pequenas. Nesse tipo de abordagem, portanto,
aalfabetizagiio, de modo contrario ao que propée o caminho anterior,
nao é concebida como objeto do trabalho educativo, sendo, em ge-
ral, tomada como um “contetido escolar” e, portanto, proibido para
criangas da Educagao Infantil.
Tal concepgao é, sob nosso ponto de vista, equivocada por
varios motivos, a comegar pela perspectiva preconceituosa em
relag&o a escola, vista, necessariamente, como o espago “da disci-
plina rigida, da falta de criatividade, de espontaneidade, lugar que
forma alunos passivos por meio de praticas repetitivas, vazias de
significado, distantes das suas vidas e dos seus interesses” (BRAN-
DAO, 2009, p. 105). Em contraposigdo, a Educacao Infantil, é vista
como um ambiente “antiescolar”
[...] em que se respeitam as suas singularidades (das crian-
gas), em que ha espago para a brincadeira e 0 prazer, para
© movimento do seu corpo, para criar e dialogar, local em
que se pode experimentar, investigar, expressar sentimentos,
construir a identidade e aprender numa atmosfera acolhedora
¢ desafiante (p. 105).
Porém, ao olhar ao nosso redor, discordamos tanto da ideia d°
que a Educago Infantil represente sempre esse ideal descrito quan’
da ideia de que toda escola resulte, necessariamente, na formaaer
ctiangas apaticas e de praticas que desrespeitem a infancia (BRAY ”
‘ abalho
2009). Especificamente, também nao consideramos que um tab
"Tal posig&o € também rec
revista Educacao, em w
1, Sao Paulo: Ed. Segm
ida par?
‘ edida P™
onhecida por Magda Soares em entrevista COne™ ag, n
belize
ma publicagao especial, intitulada Guia da Alfa!
lento, 2010.
18em diregiio a alfabetizagao feito na Educago Infantil ou na escola
ridade obrigatéria tenha que incluir exercicios exaustivos de memo-
rizagdio e cépia de letras e familias sildbicas. Nesse sentido, estamos
de acordo com Stemmer (2007, p. 136) quando a autora salienta que:
Como comumente a aprendizagem da leitura e da escrita
nao tem sido sequer considerada na educagao infantil, 0 que
existe 6 um total desconhecimento do assunto. O resultado
mais imediato é que os professores diante do evidente inte-
resse demonstrado pelas criangas em querer aprender a ler
© escrever ficam sem saber o que fazer, e em muitos casos,
acabam por reproduzir praticas de ensino a que eles préprios
estiveram submetidos em suas experiéncias escolares, sem,
no entanto, terem o conhecimento necessdério para compre-
ender as razées do que fazem ¢ sem subsidio teérico algum
para alicergar suas praticas.
Para nao cair nesse erro, defendemos, portanto, a necessidade de
falar, sim, na Educagao Infantil, sobre ensino, leitura, escrita, alfabe-
tizagao, buscando, porém, especificar cada um desses itens. E isso que
pretendemos fazer nos préximos itens deste capitulo.
Caminho 3: “Ler e escrever com significado na
Educagao Infantil”
Pode-se dizer que este modo de pensar nega os outros dois citados
anteriormente, pois, neste caso, nao se quer obrigar a crianga a concluir
a Educagao Infantil alfabetizada ou “lendo palavras simples”, por meio
de exercicios repetitivos de cépia, ditado e leitura de letras, silabas e
palavras; por outro lado, também nfo se pretende que cla mergulhe
em um mundo que exclui textos, palavras ou letras e que, portanto,
nao existe na maioria dos quadrantes de nosso pais.
Este terceiro caminho 6, assim, inspirado, por um lado, nas
ideias de Ferreiro e Teberosky sobre o processo de alfabetizagao, que
comegaram a ser divulgadas no Brasil, ao final da década de 1970,
trazendo um grande impacto para as formas de pensar a alfabetizagio,
bem como para a reflexio sobre o proprio papel da Educagio Infantil
&, por outro lado, na perspectiva sociointeracionista que alerta para
19a importancia do papel da escola na insercao das criangas ng
escrita desde cedo. Assim, nessa perspectiva, a alfabetiz wae q
ser entendida como um longo processo que comega bem a Passa q
escolar em que se espera que a crianga seja alfabetizada ¢ ton do ang
e escrever pequenos textos. Nas palavras de Ferreiro (1993 te :
isto significa que
ultura
néio € obrigatério dar aulas de alfabetizacao na pré
porém é possivel dar miltiplas oportunidades patavera ran”
sora ler e escrever; para explorar semelhangas difremmen,
textos escritos; para explorar 0 espa¢o grafico e distinguir cate
desenho e escrita; para perguntar e ser respondido; pra enue
copiar ou construir uma escrita; para manifestar sua curiosidade
em compreender essas marcas estranhas que os adultos pdem
nos mais diversos objetos.
Ao investigar 0 que as criangas sabem/pensam sobre a escrita antes
de serem alfabetizadas, Ferreiro e colaboradores mostraram que elas
formulam hipéteses acerca das fungdes € funcionamento da escrita,
queiram ou nao os seus professores. Porém, Ferreiro (1993) adverte
que as oportunidades de interagir de modo significative coma escrita
nao sao iguais para todas as criangas. Assim salienta que:
Hi criangas que chegam a escola sabendo que a eseritaserve part
Ligentes, divertidas ou importantes. Bssassio
escola, mas comegaram 2
possibilidade de entrarem
escrever coisas inte
as que ferminam de alfabetizar-se na
alfabetizar-se muito antes, através da
contato, de interagir com a lingua escrita. (P. 23)
fantil muito pode se
s criangas que teria
escrita,
Conclui-se, portanto, que na Educagao In!
feito na dire¢ao apontada, especialmente, para as
menos oportunidades de participar de situagdes mediadas pela
seja por meio da leitura ou da produgao de textos. ‘Assim, concord
inteiramente com Solé (2003), quando ela afirma que:
de substituir @ tare
st rar nada, nem i is
Nao se trata de acelerar scsi teitura)s
outras etapas com relagaio a esse com apreniznee™ é
i ino &
simplesmente de tornar natural © one interess® & elas, a
algo que coexiste com as criangas, a
20est presente em sua vida e na nossa e que nao tem sentido
algum ignorar. (p. 75)
Em sintese, neste terceiro caminho aponta-se a possibilidade de
ensinar a escrita na Educagao Infantil de forma sistematica, incluindo
aspectos relativos a apropriacao do sistema alfabético de escrita, sem
desconsiderar os objetivos e as atividades no eixo do letramento, bem
como outras necessidades relativas ao desenvolvimento e vivéncias
da infancia. No item Seguinte trataremos desses dois conceitos.
Fundamentando Propostas de
trabalho coma linguagem escrita
no cotidiano da Educac4o Infantil
Como vimos discutindo até 0 momento, defendemos que, na
Educagao Infantil, é importante garantir que as criancas vivenciem
situagGes diversificadas de contato com a escri
ita. Tal defesa, no en-
tanto, articula-
Se @ proposi¢ao de que nesta faixa etdria a brincadeira
Constitui-se atividade central do cotidiano infantil. E brincando que as
criangas participam do mundo adulto e apreendem suas caracteristi-
cas. Brincando, elas podem, também, ingressar na cultura escrita, Em
Suma, propomos que, na Educaciio Infantil, sejam garantidas situagdes
de convivio com a escrita, sem, no entanto, to
mar tais vivéncias um
fardo para as criangas,
E comum, nas salas de Educagao Infantil, observarmos ativida-
des de conversa, hora da novidade, contacdo de historias, entre outras
situagdes que buscam estimular © desenvolvimento da linguagem
oral. Nesses momentos, as criangas ampliam suas habilidades de uso
da linguagem. Aprendem a estruturar textos oralmente, a variar og
modos de falar, a interagir de modo cada vez mais auténomo por meio
da fala, aprendem a ouvir com atengdo e a responder de modo ativo as
perguntas que lhes sao feitas.
De igual modo, as criangas podem aprender a interagir por meio
da escrita e podem parti ipar de situagdes variadas em que adultos ou
criangas mais experientes possibilitem o Contato com os textos que
21circulam socialmente. Tal contato pode ser propiciado Por meio de
ages de leitura, produgao de textos e reflexao sobre a lingua,
No primeiro caso, atividades de leitura de textos pela Professora
sdo as mais recorrentes. Via de regra, Ppromovem a ampliagao do reper.
torio textual das criangas e ampliam suas experiéncias de letramento,
Ou seja, estimulam sua participagao em diferentes praticas de uso
social da escrita, bem como a interag&o com “diferentes Portadores de
leitura e de escrita, com as diferentes fungdes que a leitura e a escrita
desempenham na nossa vida” (Soares, 2000, p. 44). Por meio dessas
experiéncias, as criangas familiarizam-se, assim, com os diversos
géneros textuais, que stio, como Proposto por Bakhtin (2000, p. 279),
“tipos relativamente estaveis de enunciados, elaborados em cada esfera
de utilizagao da lingua”.
Muito frequentemente, também, sao propostas atividades de
conversa sobre os textos antes ¢ depois da leitura. Tais experiéncias,
com certeza, além de motivarem as criangas a leitura, criando ex-
pectativas e inserindo-as nas Praticas sociais de escrita, estimulam o
desenvolvimento das estratégias cognitivas de leitura. Como afirma
Solé (1998), utilizando diferentes estratégias, tais como antecipacao
de sentidos, formulagao e checagem de hipéteses sobre o que estaria
escrito no texto, construgao de inferéncias, entre outras, os leitores
criam sentidos em interagao com os textos.
Em suma, vivenciando praticas de leitura em grupo, mediadas
Pelas professoras, as criangas ampliam suas experiéncias de letramento
© Seus repertorios textuais, desenvolyem estratégias variadas de com-
Preensao textual, inserindo-se no mundo da escrita e iniciando-se comousuarias da escrita nas situagdes em que escrevem usando suas préprias
estratégias de registro do texto,
Por fim,
0 ultimo tipo de agai pedagégica citado —a reflextio sobre
a lingua
~— também pode ser exercido de modo intenso pelas criangas.
No Capitulo 4 desta obra, Morais e Silva evidenciam que desde cedo
as criangas brincam com a sonoridade das palavras, aprendendo a
manipular unidades linguisticas. Mostram também que, por meio
dessas brincadeiras, elas podem comegar a reconhecer regularidades
nas relagdes entre unidades sonoras e unidades grdficas. Os autores
defendem, entio, tal como o fazemos aqui, que é possivel promover
situagGes desafiadoras e nao necessariamente repetitivas e tediosas em
que as criangas comecem a descobrir a légica de funcionamento da es-
crita. Assim, elas podem, na Educagdo Infantil, iniciar a aprendizagem
do sistema alfabético, ou seja, aprender sobre alguns principios que
regem as relagGes entre a pauta sonora eo registro grafico, assim como
algumas correspondéncias grafofénicas do nosso sistema de escrita.
No préximo tépico, serao descritas diferentes estratégias para
inser¢ao das criangas no mundo letrado, na perspectiva apontada
anteriormente.
Refletindo sobre estratégias de trabalho
com a escrita na Educacao Infantil
Considerando que na Educacao Infantil precisamos aproximar as
criangas da leitura e da escrita em um contexto funcional e significa-
tivo para elas, vamos agora apresentar e discutir algumas alternativas
concretas nesta direcao. Em outras palavras, apresentaremos atividades
em dois eixos de trabalho:
+ Apropriagiio do sistema alfabético de escrita ~ atividades que pro-
movam a compreensdo do funcionamento do sistema de escrita
alfabético e o desenvolvimento da consciéncia fonolégica;
+ Letramento — atividades que promovam aprendizagens sobre dife-
rentes géneros discursivos orais ¢ escritos que circulam socialmente
e suas caracteristicas (finalidades, contetdos, estilo e composi¢&o
préprios, suportes, destinatarios e esferas de circulagiio).
23dade de que esses dois eixos andem junt 08
portanto, de defender o letramento ng
ea alfabetizagao na pré-escola (56 a
stamos entendendo a alfabetiza-
Frisamos ainda a necessit
na Educagao Infantil. Nao se trata,
creche (com criangas até trés anos)
partir dos quatro anos). Da forma como e:
go (ou seja, algo distinto da aprendizagem de um cédigo), defendemos
que desde muito cedo é possivel envolver as criancas em situagdes em
que elas comecem a aprender alguns principios do sistema de escrita
alfabética, dando inicio ao seu processo de alfabetiza¢4o, inserindo-as,
em paralelo, nas praticas sociais em que a escrita esta presente. Assim,
na Educagéio Infantil nao basta estimular a crianga a refietir sobre o
funcionamento do sistema de escrita, nem apenas inseri-la em praticas
sociais de leitura e escrita ou nos limitarmos a responder a sua curiosi-
dade natural sobre esse tema. Defendemos, ao contrério, que é papel da
professora, ao longo desta etapa, planejar atividades que contribuam para
a alfabetizacaio na perspectiva do letramento. Consideramos que, para
isso, no minimo cinco blocos de atividades so especialmente relevantes,
conforme apresentaremos a seguir.
a) Atividades que promovem praticas de leitura e escrita
significativas e semelhantes As vivenciadas no contexto extraescolar
Este bloco congrega as diversas situag6es que surgem no trabalho
cotidiano com as criangas em que a professora 1é em voz alta para elas
e escreve textos com a sua participagao. Se a turma esta desenvolvendo
um projeto sobre a vida das baleias, por exemplo, ser4 necessario ler
sobre o assunto em reportagens que tratem do tema, em revistas como
Ciéncia hoje para criangas ou mesmo em enciclopédias. Se a proposta
€a producio de um livro com poemas escolhidos de Manuel Bandeira,
sera interessante ler um pouco sobre a biografia do autor, assim como,
obviamente, poemas escritos por ele.
ifs oportunidades de escrita com diferentes finalidades e para
destinatarios reais também devem ser garantidas. Assim, é possivel
escrever para a diretora da escola solicitando melhorias no parque ou
nos banheiros, bem como para os pais, convidando-os para uma festa
na Barala, ou creche. Neste caso, a professora deve funcionar como
escriba, escrevendo sempre na frente das criangas e com a sua efetiva
24participagao, no que diz respeito a definigao do
© para quem vao escrever (a esse respeito ver o
¢ Brandao, nesta obra).
qué, como, para que
Capitulo 6, de Girdo
Ao participar dessas praticas, as criangas terfio.a oportunidade de
conhecer diferentes fungdes sociais da leitura e da escrita, e com isso
se apropriarem das caracteristicas linguisticas e sociodiscursivas de
distintos géneros textuais.
b) Atividades que promovem a escrita ¢ a leitura pelas pré-
prias criancas
Esto inseridas neste grupo as atividades que buscam estimular
a leitura e a escrita pelas proprias criangas em situa
Ses em que elas
“fazem de conta”
que leem e escrevem. Isso é Possivel desde muito
cedo, como mostra 0 cartaio de aniversario escrito por Julia, assim que
completou trés anos de idade, para a madrinha Luisa, Como vemos,
Jilia “escreve” uma mensagem pertinente a situag4o, faz um desenho
Para seu cartio ficar bonito, coloca a data e assina fazendo uma marca
no papel para cada nome.
Um beijo, um abrago.
Tilia Perrusi Alves Brando Um beijfo, ex vou pra seu
Luisa Paulo
25O exemplo do texto de Julia mostra que é possivel estimular
as criangas a escrever textos utilizando os conhecimentos de que ja
dispdem sobre o género em questao e sobre a grafia das palavras,
Também é importante aproveitar-se das diversas situagdes em que se
faz necessario escrever o préprio nome, por exemplo, para identificar
um desenho produzido.
Além disso, na brincadeira de faz de conta pode-se fazer uma
lista de compras ou de convidados para uma festa, deixar recados
escritos, anotar nomes de remédios para um filhinho doente, entre
outras oportunidades em que a escrita se faz presente com diferentes
finalidades e destinatarios.
E possivel ainda estimular as criangas a fazer “leituras” diversas,
tentando antecipar o que esta escrito em noticias, anincios, embalagens,
convites, legendas e outros textos ou propor as criangas a “leitura” de
livros de literatura j4 conhecidos e de textos memorizados como parlen-
das, poemas e cangées. Temos visto que, embora esses textos rimados
estejam ha muito tempo presentes nas salas de Educagao Infantil, nem
sempre as professoras permitem que as criancas visualizem suas formas
escritas, sendo incentivadas a imitar a leitura feita pela professora.
©) Atividades e jogos que estimulam a andlise fonolégica de
palavras com e sem correspondéncias com a escrita
Os jogos e as atividades de andlise fonolégica chamam a atengao
da crianga sobre silabas, rimas, fonemas, ou seja, sobre segmentos so-
noros que estao no interior das palavras. Tais propostas sao importantes
na etapa da Educagao Infantil, pois levam a crianga a pensar sobre um
dos principios do sistema de escrita alfabética, qual seja: no nosso
sistema, os sinais graficos (letras) tém relagio com a pauta sonora, &
nao com os significados ou as propriedades fisicas dos objetos. Vale
ressaltar que atividades e jogos desse tipo sao, em nossa opiniao, mais
adequados para criangas na faixa etaria de quatro a cinco anos.
Para as criangas menores, as cangdes rimadas, a brincadeira com
parlendas ¢ a leitura de poemas que brincam com os sons das palavras
também cumprem a funglio de despertar os meninos e as meninas para
os sons das palavras. Com as criangas maiores, porém, os jogos € as
26atividades de andlise fonolégica permitem, de modo mais especifico,
uma reflex&o sobre a dimensiio sonora das palavras e a possibilidade
de encontrar semelhangas e diferengas entre elas, em relacao aos sons
¢ ndo apenas em relacdo aos seus significados. Dessa forma, podem
questionar, por exemplo, a ideia de que a palavra “formiga” é peque-
na e deveria ser escrita com menos letras do que a palavra “boi”, ou
que a escrita da palavra “macaco” nao teria nada a ver com a escrita
da palavra “mala”, mas teria semelhangas com a escrita da palavra
“banana”. Como a superagao dessas hipdteses denominadas “realismo
nominal” (CaRRAHER; Reco, 1981) depende de oportunidades de refletir
sobre as palavras, as criancas que vivem tais praticas de reflexao podem
concluir a etapa da Educagaio Infantil sabendo que o que se grafa no
papel tem relagdo com a sequéncia de sons das palavras, dando, assim,
um passo fundamental no seu processo de alfabetizagiio.
Um exemplo de um jogo interessante de andlise fonolégica é
um bingo de figuras, em que a crianga deve encontrar numa cartela
com varias figuras uma cujo nome comece com o mesmo pedacinho
(silaba) de uma palavra enunciada por sua professora. As criangas, ao
realizarem tal atividade, concentram-se nas semelhangas sonoras. A
professora pode, paralelamente a tal reflexdo, desafiar as criangas a
dizer quantos pedacinhos (silabas) compéem as palavras.
Vale ressaltar que tais tipos de atividade nao propdem um treino
fonémico. Conforme salienta Morais (2006), nao se trata de fazer com
que criangas na Educagao Infantil reproduzam fonemas isolados e
aprendam a juntar fonemas. Por outro lado, assim como aquele autor,
entendemos que atividades e jogos que desenvolvem a consciéncia fo-
nolégica — ou seja, que levem as criangas a refletir sobre rimas, a contar
silabas de palavras, a identificar palavras que comegam com a mesma
s{laba inicial — devem ter seu espago garantido na Educagao Infantil.
Salientamos ainda que, no ultimo ano desta etapa, muitas ativida-
des de consciéncia fonolégica podem ser realizadas de modo que haja
reflexiio concomitante sobre as palavras escritas. Por exemplo, apds
0 jogo de bingo citado, em que as criangas encontram figuras cujos
nomes comegam com um mesmo pedacinho (silaba), a professora
pode entregar uma ficha com pares de palavras que comecam com a
27mesma silaba, acompanhadas de suas imagens, € pedir que as criancas
pintem as letras ou silabas iniciais que pertencem a ambas as Palavras,
ou pedir que digam outras palavras que come¢am de mmaneita Parecida
aanotarem seus nomes. Dessa forma, as criangas podem
econvida-las
perceber, por exemplo, que as semelhangas sonoras entre as palavras,
na maior parte das vezes, equivalem a semelhangas na escrita.
d) Atividades e jogos que estimulam a identificacao e escrita
de letras e o reconhecimento global de certas palavras
Na Educagao Infantil sao iniimeras as oportunidades significati-
vas em que as criangas podem reconhecer letras, aprender os nomes
de cada uma e tentar grafé-las. Tal conhecimento é importante, em
primeiro lugar, porque desse modo a crianga foca a atengao no prin-
cipio de que utilizamos as letras na escrita de palavras. Em segundo
lugar, porque, para “conversar” sobre a escrita, para dialogar sobre
como escrever uma palavra, a crianga passa a poder langar m4o dessa
metalinguagem. Ou seja, ao escrever seus nomes ou outras palavras
de seu interesse, pode interagir com os colegas e professora sobre
que letra usar. Por fim, as atividades com as letras familiarizam a
crianga com o seu tragado, Permitindo que possa escrever ao seu
modo usando os simbolos convencionais.
Para que as criangas se familiarizem com as letras e aprendam
Seus nomes, nao € necessdrio recorrer as famosas fichas em que se
pede A crianga para escrever uma mesma letra de cima abaixo da
folha, comegando pelas vogais ou fazendo a leitura do alfabeto em
coro infinitas vezes, Ao contrario, é possive] aprender sobre as letras
28O mural da chamada é mais uma alternativa em que, por meio
da comparagiio da escrita do nome das criangas, podem ser criadas
varias oportunidades de aprender o nome das letras. Assim, é possivel
perguntar quais nomes comegam com a mesma letra, qual é aquele que
tem mais ou menos letras, qual o nome que difere do outro apenas por
uma letra, entre outras possibilidades. A atividade didria com o mural
de chamada também permite que as criangas reconhegam globalmente
© seu nome € o nome dos colegas, fazendo com que tais palavras se
tornem “estdveis”. Ou seja, mesmo sem estar alfabetizada, a crianga
pode ir construindo um repertério de palavras que sabe escrever de
cor. Tal conhecimento, sem dtivida, também pode ajud4-la nas suas
tentativas de escrita e leitura de novas palavras.
©) Atividades e jogos que estimulam a discriminagio perceptual
e coordenagao visomotora
Finalmente, abrimos um bloco para um grupo de atividades que
focam a atengiio da crianga em detalhes perceptuais e que estimulam a
sua coordenagao motora fina. Afinal para aprender os nomes das letras
enfio confundir os seus nomes, por exemplo, € preciso notar pequenas
diferengas entre elas, e para escrever também & preciso controlar a
pressao do traco no papel ou o tamanho desse tragado.
Porém, ainda que reconhegamos que tais habilidades sejam impor-
tantes para o desenvolvimento da escrita, na concepgao de alfabetizagao
defendida aqui, estas assumem um papel secundério, representando
apenas uma pequena parte entre as tantas aprendizagens relativas A
apropriagao da escrita que a crianca vai precisar dar conta.
Ainda é essencial frisar a possibilidade de trabalhar com as
habilidades perceptuais e motoras em contextos lidicos, como em
jogos de 7 erros ou de labirintos. As revistas de passatempos para
criangas oferecem muitas oportunidades de atividades deste tipo, que
estimulam a atencao e a destreza motora, e que podem ser realizadas
em sala com as criangas. Além disso, é sempre bom lembrar que a
coordenagio motora fina nao é desenvolvida apenas quando se fazem
exaustivas e repetitivas atividades com lapis e papel, cobrindo ou de-
senhando letras. Ao construir brinquedos com sucata, nas produgdes
29de desenho e pintura, na brincadeira de balde ¢ garrafas com agua na
areia ou nas atividades de modelagem, também estamos estimulando
os movimentos finos das maos!
Alfabetizar e letrar na Educacao
Infantil “sem medo de ser feliz...”
Esperamos que, ao longo deste capitulo, tenham ficado claras as
diversas aprendizagens sobre a escrita que fazem parte do processo
de alfabetizagado e de letramento e que, sob nosso ponto de vista,
podem e devem comegar na Educagao Infantil.?
Também foi nosso objetivo, aqui, enfatizar que o trabalho coma
linguagem escrita nesta etapa nao deve ser “menos sistematico”, como
se costuma dizer, por se tratar de criancas pequenas. Ser sistematico
ndo significa, portanto, ser enfadonho, repetitivo ou mec4nico. A sis-
tematicidade tem a ver com planejamento, com organizagao do tempo
pedagégico, com intencionalidade. Nesse sentido, consideramos que,
desde cedo, é necessario ter intengdes pedagégicas e planejamento
de atividades, para atingir as metas colocadas.
E preciso, finalmente, considerar que a leitura e a escrita nado
devem fazer parte do curriculo da Educagao Infantil como uma
disciplina isolada, mas sim integrar projetos de trabalho em que as
criangas estao envolvidas, bem como entrar nas atividades de sua
rotina no ambiente educativo, de modo a nao quebrar o significado
assumido por essas ferramentas na nossa cultura.
Em sintese, entendemos que na Educago Infantil € possivel
estimular a crianga a perceber que ha muitas maneiras de captar e
expressar sentimentos, conhecimentos e ages: a leitura e a escrita
de textos é apenas uma dessas maneiras.
ee
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Para uma discussio mais especifica sobre o trabalho de linguagem escrita de zero a
ie anos ver 0 capitulo: BRANDAO, Ana Carolina P.; ROSA, Ester C. S. O ensino
da inguagem eserita na creche: algumas reflexes sobre a mediagaio docente. In:
, Alessandra. (Org.). O trabatho pedagégi. é tre
Silo Paulo: Alinea 2014p, Sagano Pedagésico com criancas de até trés anos.
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