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Contratos em Especial

1) O documento descreve os principais aspectos jurídicos do contrato de compra e venda no direito civil português, incluindo sua definição, forma, efeitos e variantes como venda com reserva de propriedade e venda a prestações. 2) A doação é definida como um contrato gratuito no qual uma pessoa transfere uma coisa ou direito para outra pessoa. Sua forma depende do objeto, sendo necessária escritura pública para bens imóveis. 3) As formalidades aplicáveis a contratos como compra e v

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Contratos em Especial

1) O documento descreve os principais aspectos jurídicos do contrato de compra e venda no direito civil português, incluindo sua definição, forma, efeitos e variantes como venda com reserva de propriedade e venda a prestações. 2) A doação é definida como um contrato gratuito no qual uma pessoa transfere uma coisa ou direito para outra pessoa. Sua forma depende do objeto, sendo necessária escritura pública para bens imóveis. 3) As formalidades aplicáveis a contratos como compra e v

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Contratos em especial

Compra e venda
A compra e venda é um contrato nominado e típico, pois tem uma designação própria, fixada na lei e
além disso, a lei define-o no artigo 874º, como também estabelece o seu regime jurídico. A noção
legal de compra e venda consta do artigo 874º, “a compra e venda é o contrato pelo qual se
transmite a propriedade de uma coisa, ou outro direito, mediante um preço”.

A compra e venda pressupõe pagamento de um preço, dado que que a transmissão do direito se faz
como contrapartida de um preço, sendo um dos principais aspetos que distingue este contrato do
contrato de doação.

Da noção legal de contrato, como também dos efeitos essenciais (artigo 879º), retira-se que a
compra e venda é um contrato sinalagmático, pois as prestações das partes na relação contratual,
em particular as de entrega da coisa e de pagamento de preço, são reciprocas e interdependentes.

Forma:

Quanto à forma, no contrato de compra e venda, via regra, vigora o princípio de liberdade de forma,
prevista no artigo 219º. Contudo, este princípio encontra-se limitado no que respeita a certos
contratos de compra e venda, como a compra e venda sobre bens imóveis, o artigo 875º, exige-se
escritura pública ou documento particular autenticado.

O contrato de compra e venda de bens imóveis está ainda, sujeito a registo, dependendo deste a sua
eficácia em relação a terceiros. Do registo deve constar a cláusula de reserva de propriedade,
quando a alienação respeite a coisa imóvel ou móvel sujeita a registo (artigo 409º, nº2 ).

A falta de forma legalmente prescrita para o contrato de compra e venda, de acordo com o artigo
220º, acarreta a nulidade do negócio jurídico (cfr. artigo 286º ss.).

Efeitos:

Nos termos do artigo 879º, a compra e venda tem como efeitos essenciais a transmissão de
propriedade da coisa ou a titularidade do direito (al. a)), a obrigação de entregar a coisa (al. b)) e a
obrigação de pagar o preço (al. c)).

Venda ou cláusula com reserva de propriedade:

De acordo com o artigo 409º, nº1, o vendedor pode reservar para si a propriedade da coisa até ao
cumprimento total ou parcial das obrigações da outra parte ou até à verificação de qualquer outro
evento. No tocante à forma, a cláusula de reserva de propriedade está sujeita às mesmas
formalidades que o contrato no qual se acha inserida. Assim, se o contrato de compra e venda
respeitar a coisa imóvel ou móvel sujeita a registo, a cláusula de reserva de propriedade só será
oponível a terceiros se estiver registada.

Venda a retro:

Diz-se a retro a venda em que se reconhece ao vendedor a faculdade de resolver o contrato (artigo
927º), isto é, o vendedor reserva para si o direito de reaver a propriedade da coisa ou direito
vendido mediante a restituição do preço.

A lei determina a nulidade da cláusula que estipule o pagamento de dinheiro ou de qualquer outra
vantagem ao comprador como contrapartida da resolução.
Quanto ao prazo para o exercício do direito de resolução, a lei determina que será, no máximo, de
dois ou cinco anos a contar da venda, consoante se trate de bens móveis ou imóveis (artigo 929º).
Atingidos estes prazos sem que a resolução seja exercida, tal faculdade caduca e os efeitos do
contrato consolidam-se definitivamente.
Resolvido o contrato, o vendedor terá, no prazo de 15 dias de entregar ao comprador as
importâncias que tenha a pagar-lhe a título de devolução do preço e reembolso das despesas, sob
pena de a resolução ficar sem efeito (artigo 931º).
Relativamente à forma de exercício da resolução, a mesma será feita por notificação judicial ao
comprador e, respeitando a coisa imóveis, será reduzida a escritura pública ou a documento
particular autenticado nos 15 dias seguintes imediatos, sob pena de caducidade do direito (artigo
930º).
Sempre que tenha por objeto coisas sujeitas a registo, a cláusula a retro é oponível a terceiros desde
que tenha sido registada (artigo 932º).
Venda a prestações:
O princípio geral regulador das dívidas cuja liquidação pode ser fracionada consta do artigo 781º. Por
força deste preceito, se uma obrigação puder ser liquidada em duas ou mais prestações, a não
realização de uma delas importa o vencimento de todas. Existem porem regras especiais na compra
e venda previstas nos artigos 886º, 934º e 935º.

O artigo 886º, aplica-se de uma forma geral a todos os casos de não pagamento de preço pelo
comprador e estabelece que, transmitida a propriedade da coisa, e feita a sua entrega, o vendedor
não pode via de regra, resolver o contrato por falta de pagamento.

O artigo 934º, aplica-se especificamente aos casos de falta de pagamento de uma das prestações em
contratos de compra e venda a prestações.

Se não tiver havido reserva de propriedade, transmitida a propriedade da coisa, ou o direito sobre
ela, e feita a entrega, o vendedor não pode resolver o contrato por falta de pagamento do preço
(art. 886º CC). Contudo, havendo disposição em contrário, no caso de o comprador não efetuar o
pagamento de algumas prestações do preço, perderá a favor do vendedor as quantias entregues,
ficando este com o direito de reaver a coisa.

Se tiver havido reserva de propriedade, uma vez entregue a coisa vendida ao comprador, há lugar à
resolução do contrato, se não for feito o pagamento de qualquer prestação, desde que esta exceda
1/8 do preço total (artigo 934º). Se a coisa não for entregue ao comprador, aplicam-se as regras
gerais sobre a mora e não cumprimento das obrigações. Haverá também lugar à resolução do
contrato se houver falta de pagamento de duas ou mais prestações que, no seu conjunto, excedem
1/8 do preço total, embora cada de per si não exceda tal proporção.

Quer haja, quer não haja reserva de propriedade, o comprador, pela falta de pagamento de uma só
prestação que não exceda a oitava parte do preço total, não perde o benefício do prazo
relativamente às prestações seguintes, salvo convenção em contrário (artigo 934º).

Na falta de pagamento de duas ou mais prestações que no seu conjunto, excedam 1/8 do preço
importa a perda do referido benefício.

O artigo 935º, define o regime da cláusula penal no caso de o comprador não cumprir. A estipulação
de uma cláusula penal é admitida em diversos contratos, e de forma genérica, no artigo 810º, como
meio de fixação prévio de uma indemnização pelo não cumprimento de obrigações. Em princípio,
nos termos do artigo 935º, nº1, não pode a pena ultrapassar metade do preço. Contudo, pode
estimular-se a ressarcibilidade de todo o prejuízo sofrido, não funcionando, neste caso, qualquer
limite. Se a pena exceder aquele limite é automaticamente reduzida para metade (artigo 935º, nº2).

Venda de bens alheios:

O Código Civil comina com a nulidade, a venda de bens alheios (artigo 892º ss.).

A venda de coisa alheia só é nula se o vendedor carecer de legitimidade para a realizar. O vendedor
não pode opor a nulidade a comprador de boa fé, por outro lado, o comprador que se comportou
com dolo também a não pode opor ao vendedor de boa fé (artigo 892º).

Se o vendedor é um representante do proprietário ou titular do direito, o ato pode ser válido, no


caso de o título ou a lei lhe conferirem poderes para o celebrar e é, geralmente anulável, se o não
puder legalmente realizar.

A venda de bens alheios, sendo nula torna-se válida logo que o vendedor adquira a propriedade do
bem vendido (artigo 895º). Resulta do artigo 896º, a enumeração de factos impeditivos da
convalidação do contrato.

A lei impõe ao vendedor a obrigação de convalidar o contrato em atenção à boa fé do comprador


(artigo 897º, nº1).

Venda de coisas defeituosas:

O artigo 913º, enumera quatro categorias especiais de vícios: os vícios que desvalorize a coisa, os
vícios que impeça a realização do fim a que ela é destinada, a falta das qualidades asseguradas pelo
vendedor e por fim, a falta das qualidades necessárias para a realização do fim a coisa se destina.

Doação
A doação é um contrato nominado, dado que a lei o reconhece como categoria jurídica e defini-lo no
artigo 940º e tipificado por lhe estabelecer um regime previsto nos artigos 940º a 979º.

Nos termos do artigo 940º, “a doação é o contrato pelo qual uma pessoa, por espírito de liberdade e
à custa do seu património, dispõe gratuitamente de uma coisa ou de um direito, ou assume uma
obrigação, em benefício do outro contraente”.

A doação é um contrato não sinalagmático, pelo que só implica o surgimento de obrigações para
uma das partes contraentes.

Gratuitidade:

Tal como resulta da noção legal prevista no artigo 940º, a doação é um contrato gratuito, mesmo
que se trate de uma doação com encargos (artigo 963º).

Forma:

Atendendo ao disposto no artigo 947º, a doação é um contrato primordialmente formal (cfr. artigo
220º), pelo que não vigora o princípio da liberdade de forma consagrado no artigo 219º. A doação de
coisas imóveis só é válida se for celebrado por escritura pública ou por documento particular
autenticado (artigo 947º, nº1). Contudo, a doação acompanhada pela tradição da coisa não depende
de formalidade externa, tratando-se assim de um caso excecional.

Efeitos da doação:
A doação pressupõe a transmissão de uma coisa ou direito para o donatário (artigo 954º, al.a)) e em
paralelo, impõe ao doador a obrigação de entrega dessa mesma coisa (artigo 954º, al.b)).

De acordo com artigo 954º, al.b), a doação estabelece a obrigação de entregar a coisa. Por seu
turno, esta obrigação por parte do doador, não é constitutiva do contrato, isto é, o doador pode
entregá-la depois, admitindo, portanto, a lei que o contrato de doação entre em vigor mesmo antes
dessa entrega. A única exceção a este regime é a doação verbal de coisas móveis (artigo 947º, nº2),
na qual a entrega da coisa é requisito de validade do contrato (contrato real quoad
constitutionem).
A doação trata-se de um contrato obrigacional, nos casos em que há apenas a assunção de uma
obrigação por parte do donatário (artigo 954º, al.c)).

Objeto da doação:

A doação, de acordo com o preceituado no artigo 942º, nº1, não pode abranger bens futuros, uma
vez que a doação de acordo com o seu conceito do artigo 940º, implica uma diminuição do
património do doador, o que não se verifica se este prescindir de um bem que ainda não adquiriu.

As doações de bens alheios consideram-se nulas (artigo 956º).

A doação pode incidir sobre uma unidade de facto que continue no uso e fruição do doador,
consideram-se doadas, salvo estipulação em contrário, as coisas singulares que venham de futuro a
integrar a universalidade (artigo 942º, nº2).

Quando a doação tiver por objeto prestações periódicas, extingue-se por morte do doador, de
acordo com o prescrito no artigo 943º.

No diz que diz respeito às doações conjuntas o artigo 944º determina que se considera feita por
partes iguais. Caso algum dos donatários não quiser ou não puder aceitar a doação que lhe é feita, a
parte que lhe cabia mantém-se na titularidade do devedor, não havendo direito de acrescer entre os
donatários, salvo se o doador declare o contrário.

Doações proibidas:

A capacidade ativa e passiva em matéria de doações vem estabelecida no artigo 948º e ss.

Contudo, há casos em que as doações são proibidas (cf. artigos 953º que remete expressamente
para o 2192º a 2198º): doações a favor de tutor, curador ou administrador legal de bens (artigo
2192º); doações a favor de médicos, enfermeiros ou sacerdotes (artigo 2194º); doações a favor do
notário, intérprete ou testemunhas que tenham intervenção no ato( artigo 2197º); doação a favor
do cúmplice do doador adúltero (artigo 2196º, nº1); doações entre cônjuges sujeitos ao regime
imperativo de separação de bens; doações a favor de partidos políticos e de estruturas de
representação de trabalhadores e empregadores.

Troca ou permuta
O contrato de troca ou permuta não é regulado no nosso Código Civil, dada às grandes similitudes
que apresenta com a compra e venda.

O contrato de troca é aquele que tem por objeto a transferência recíproca da propriedade de coisas
ou outros direitos entre os contraentes.
A troca é um contrato nominado, apesar de não estar concretamente tipificado; tendencialmente
não formal, vigorando o princípio da liberdade de forma consagrado no artigo 219º, salvo se
estivermos perante permute de bens imóveis (artigo 875º); consensual, pelo que não exige portanto
a tradição de coisa ou direito para a sua perfeição; sinalagmático, uma vez que as obrigações das
partes têm a sua causa uma na outra; e de execução tendencialmente instantânea.

Comodato
O contrato de comodato vem previsto nos artigos 1129º e ss. O comodato é o contrato gratuito pelo
qual uma das partes entrega à outra certa coisa móvel ou imóvel, para que se sirva dela, com a
obrigação de a restituir (artigo 1129º).
Características:
O contrato de comodato distingue-se por quatro grandes características: é um contrato real quoad
constitutionem, isto é, pressupõe a entrega da coisa (note-se porém que é possível celebrar um
contrato-promessa de comodato, mas que esta não está sujeita à execução específica prevista no
art. 830º CC, uma vez que tal não é aplicável em matéria de contratos reais quoad constitutionem); é
um contrato não formal; é um contrato gratuito (caso contrário, tratar-se-ia de uma locação) e é um
contrato não sinalagmático, pois as obrigações que surgem para as partes contratantes não estão
vinculadas por um nexo de correspetividade.
Objeto:
Nos termos do artigo 119º, o comodato pode ter como objeto quer coisas movéis quer coisas
imóveis.
Obrigações do comodante:
No que diz respeito às obrigações do comodante, destacam-se duas, a obrigação de não perturbar o
uso da coisa pelo comodatário e a obrigação de reembolso de benfeitorias (sendo que nesta sede o
comodatário é equiparado ao possuidor de má-fé, nos termos do artigo 1138º).
Responsabilidade do comodante:
O comodante só responde pelos vícios de direito ou da coisa expressamente se tiver
responsabilizado ou tiver procedido com dolo.

A responsabilidade prevista no artigo 1134º compreende os danos causados pelo uso da coisa ao
comodatário, os danos provenientes da impossibilidade de o comodatário a usar, e ainda os danos
causados a terceiros que o comodatário tenha de indemnizar.

Direitos do comodatário:
No que diz respeito aos direitos do comodatário destaca-se, o direito de uso da coisa, isto é, direito
pessoal de gozo sobre os bens objeto do comodato, no entanto esse direito é limitado não só ao uso
da coisa (cf. artigo 1133º) e, via regra, esse uso é determinado pelo fim do contrato (em caso de
indeterminação vigora o disposto no artigo 1131º); e, direito de retenção, nos termos do artigo
755º, nº1, al.e).

Obrigações de comodatário:
As obrigações do comodatário estão elencadas no artigo 1135º.
A primeira obrigação do comodatário é de guardar e conservar a coisa emprestada.
A obrigação de facultar ao comodante o exame da coisa (artigo 1135º, al.b)), o direito de examinar a
coisa é conferida ao comodante.
O artigo 1135º, al.e) obriga o comodatário a tolerar quaisquer benfeitorias que o comodante queira
realizar na coisa, sejam estas necessárias, úteis ou meramente voluptuárias.
O artigo 1135º, al.f) não proporciona a terceiro o uso da coisa, salso se o comodante autorizar. Esta
pode ser dada no momento da celebração do contrato ou posteriormente.
O artigo 1135º, al.g) obriga o avisar imediatamente o comodante, sempre que tenha conhecimento
de vícios na coisa ou saiba que a ameaça algum perigo ou que terceiro se arroga direitos em relação
a ela, desde que o facto seja ignorado do comodante.
O artigo 1135º, al.h) obriga o comodatário a restituir a coisa findo o contrato.

Mútuo
O mútuo é um contrato nominado e típico, pois tem uma designação própria, fixada na lei e além
disso, a lei define-o no artigo 1142º, como também estabelece o seu regime jurídico, regulado nos
artigos 1142º ao 1151º do Código Civil.
Preceitua o artigo 1142º que o mútuo é o contrato pelo qual uma das partes empresta à outra coisa
fungível, ficando a segunda obrigada a restituir outro tanto do mesmo género e qualidade.

Quanto aos intervenientes do contrato qualificam-se de mutuante (quem empresta certa coisa a
outrem) e mutuário (quem recebe a coisa emprestada).

De acordo com o preceito legal 1144.º, através do mútuo, a coisa mutuada é transferida do
património do mutuante para o património do mutuário, tornando-se as coisas mutuadas
propriedade do mutuário pelo facto da entrega, que determina a transferência da propriedade.

Objeto:

Em relação ao contrato de mútuo, conforme resulta do artigo 1142º, o mútuo tem por objeto
dinheiro ou outra coisa fungível, para que seja totalmente possível a restituição da mesma, em
género, qualidade e quantidade com a coisa que foi anteriormente entregue.

Forma:

O contrato de mútuo pode ser consensual ou solene, consoante o seu valor.

Atendendo à forma do mútuo, o artigo 1143º, dispõe, sem prejuízo do disposto em lei especial, que
“o contrato de mútuo de valor superior a 25.000 euros só é válido se for celebrado por escritura
pública ou por documento particular autenticado e o de valor superior a 2500 euros, se o for por
documento assinado pelo mutuário”.

Abaixo destes valores, o mútuo não necessita de forma especial, pelo que existe liberdade de forma
(cfr. artigo 219º), podendo as partes convencionar o modo de celebração do contrato.

A inobservância de forma tem como consequência a nulidade do contrato (artigo 220º), devendo
consequentemente ser restituído, pelo mutuário, tudo o que tenha sido prestado, de acordo com o
regime geral da nulidade, estipulado no nº1, do artigo 289º.
Contrato gratuito ou oneroso:

O Código Civil nos termos do artigo 1145º admite que contrato de mútuo tanto pode assumir
carácter gratuito como oneroso.

O contrato de mútuo diz-se gratuito quando o mutuante tem apenas um sacrifício patrimonial, o de
emprestar dinheiro ou outra coisa fungível, sem receber em contraprestação qualquer compensação
para além do que emprestou.

Considera-se oneroso, o contrato de mútuo cuja atribuição patrimonial efetuada pelo mutuante tem
uma compensação acrescida para além da restituição da coisa, de género, qualidade e quantidade
igual. O que carateriza o contrato de mútuo oneroso é o pagamento de juros como retribuição por
parte do mutuário. Neste sentido, vem assim estipulado no nº 1 do artigo 1145º que as partes
podem convencionar o pagamento de juros como retribuição do mútuo. Este em caso de dúvida
presume-se oneroso.

Prazo:
O contrato de mútuo é celebrado pelo prazo acordado pelas partes.

Quanto ao contrato de mútuo oneroso, o artigo 1147º dispõe que “o prazo presume-se estipulado a
favor de ambas as partes” podendo o mutuário antecipar o pagamento “desde que satisfaça os juros
por inteiro”. No mútuo oneroso, quer o mutuante quer o mutuário, podem na falta de fixação de
prazo, com antecedência mínima de trinta dias, denunciar o contrato, nos termos do n.º 2 do art.
1148.º

Caso não seja estipulado prazo, não é necessário o recurso ao tribunal para a fixação do prazo para a
restituição, dado que a lei dispõe, no artigo 1148º, que no caso de se tratar de mútuo gratuito, o
contrato apenas se considera vencido trinta dias após a exigência do seu cumprimento (cfr. n.º1 do
mesmo preceito legal).

No que respeita ao mútuo, gratuito ou oneroso, de cereais ou de outros produtos rurais concedido
ao lavrador, o mutuante deve esperar pela colheita dos produtos mutuados para o devedor cumprir
(artigo 1148º, nºs 3 e 4).

Lugar de cumprimento:
Quanto ao lugar do cumprimento da obrigação do mutuário, deve ocorrer no que for convencionado
pelo mutuante e pelo mutuário no contrato. Caso as partes não tenham estipulado o lugar e o
objeto contratual se tratar de dinheiro, a obrigação pecuniária deverá ser cumprida no lugar de
domicílio que o credor tiver ao tempo do cumprimento (artigo 774º). No caso do objeto se tratar de
coisas fungíveis distintas do dinheiro, aplicar-se-á o artigo 772º, isto é o critério geral do domicílio do
devedor.

Mandato
O mandato é um contrato nominado e típico, pois tem uma designação própria, fixada na lei e além
disso, estabelece o seu regime jurídico.

A noção legal de mandato consta do artigo 1157º, “o mandato é o contrato pelo qual uma das partes
se obriga a praticar um ou mais atos jurídicos por conta da outra.”. Este contrato tem dois
elementos essenciais, a obrigação de praticar um ou mais atos jurídicos, que podem ser materiais ou
intelectuais (o que o distingue da prestação de serviços, prevista no artigo 1154º e ss.) e a atuação
do mandatário por conta do mandante, ou seja, os atos jurídicos acima referidos tem de ser
realizados por conta do mandante.

Forma do contrato:

O Código Civil não estabelece quaisquer exigências em matéria de forma do contrato de doação.
Assim sendo, vigorara o princípio da liberdade de forma, consagrado no artigo 219º.

Gratuitidade e onerosidade:

O mandato tanto pode ser oneroso como gratuito, conforme o disposto no artigo 1158º.

Via de regra, o mandato presume-se gratuito, salvo se tiver por objeto actos que o mandatário
pratique por profissão, neste caso, presume-se oneroso (artigo 1158º, nº1).

Se o mandato for oneroso, a medida da retribuição, não havendo ajuste entre as partes, é
determinada pelas tarifas profissionais; na falta destas, pelos usos; e, na falta de umas e outros, por
juízos de equidade (artigo 1158º, nº2).

Obrigações do mandante:

As obrigações do mandante constam do artigo 1167º.


Direitos e obrigações do mandatário:
O mandatário, tem dois grandes direitos, por um lado, os que derivam das obrigações do mandante
e por outro, o direito de retenção (cf. artigo 55º, nº 1, al.c)).
Incumbem-lhe ainda, as obrigações previstas no artigo 1161º.

Extensão do mandato:
O artigo 1159º, diferencia o mandato geral do mandato especial: o mandato geral é aquele que
“formulado em termos absolutamente genéricos confere os poderes para a prática de uma
quantidade indiferenciada de actos jurídicos de administração ordinária, relativamente a uma
situação jurídica de que é sujeito o mandante” (artigo 1159º, nº1).

O artigo 1159º, nº2efere que, o mandato especial abrange, além dos actos nele referidos, todos os
demais necessários à sua execução.

Depósito
O depósito vem definido no artigo 1185º. O depósito é o contrato pelo qual o depositante entrega
ao depositário uma coisa, móvel ou imóvel, para que a guarde, e a restitua quando esta lhe for
exigida.

O depósito implica necessariamente para a produção de efeitos a entrega da coisa.


Essa obrigação de guarda pode surgir acessoriamente noutros contratos [mandato, empreitada,
comodato…], mas no depósito ela surge a título principal, constituindo o elemento essencial e
distintivo deste contrato.

Gratuitidade ou onerosidade:
Conforme a remissão expressa do artigo 1186º para o artigo 1158º, o depósito pode ser gratuito ou
oneroso.

Via regra, o depósito presume-se gratuito, salvo se tiver por objeto actos que o depositário pratique
por profissão, neste caso, presume-se oneroso (artigo 1186º e 1156º).

Caso o depósito seja oneroso, a medida da retribuição, não havendo ajuste entre as partes, é
determinada pelas tarifas profissionais; na falta destas, pelos usos; e, na falta de umas e outros, por
juízos de equidade (artigo 1186º e 1158º, nº2).

Objeto:

Tem de ter por objeto uma coisa corpórea, a qual pode ser móvel ou imóvel. Contudo, é admissível o
depósito de coisas fungíveis, como o dinheiro (depósito irregular). “Diz-se irregular o depósito que
tem por objeto coisas fungíveis”, devendo a restituição ser feita em género, qualidade e quantidade
(art. 207º CC) o depósito diz-se irregular. (artigo 1205º e cfr. artigo 207º).

Características:

O contrato de depósito reúne cinco grandes características: é um contrato nominado e típico; não
formal; gratuito ou oneroso (cf. artigo 1186º); real quoad constitutionem, pois é necessária a entrega
da coisa dada pelo depositante ao depositário; e, de execução continuada.

Obrigações do depositante:
As obrigações do depositante constam do artigo 1199º. Em primeiro lugar, consta a obrigação de
pagar a retribuição nos casos de depósito oneroso (artigo 1999, al.a) e artigo 1200º); obrigação do
reembolso de despesas (artigo 1199º, b)) e obrigação de indeminização (artigo 1199º, al.c)).

Obrigações do depositário:
As obrigações do depositário são: obrigação de guardar a coisa depositada (artigo1187º, al.a));
obrigação de se abster de usar a coisa e de a dar em depósito a outrem se para isso não tiver
autorização do depositante (artigo1189º); obrigação de avisar imediatamente o depositante quando
tenha conhecimento de algum perigo que ameace a coisa ou que terceiro se arroga direitos em
relação a ela desde que o facto seja desconhecido do depositante (artigo 1187º, al.b)) e por fim,
obrigação de restituir a coisa com seus frutos (artigos 1187º, al.c), 1192º a 1196º).

Direitos do depositário:
O depositário tem direito à manutenção e recuperação da coisa e direito de retenção (artigo 755º,
nº 1, al.e)) para efeitos de garantia de créditos, reembolso de despesas e indemnização ou se estiver
em causa a sua retribuição (artigo 1199º, al.a)).

Empreitada
A empreitada é um contrato nominado e típico, pois tem uma designação própria, fixada na lei e
além disso, estabelece o seu regime jurídico. A noção legal de empreitada consta do artigo 1027º, “a
empreitada é o contrato pelo qual uma das partes se obriga em relação à outra a realizar certa obra,
mediante um preço”.

Características:

O contrato de empreitada reúne oito grandes características: é nominado e típico; é, por regra, um
contrato não formal, dado que a lei não estabelece forma especial; é consensual; é obrigacional,
sendo que em certos casos também pode ser real quoad effectum (no caso de empreitada de coisas
móveis realizada com materiais pertencentes ao empreiteiro); é oneroso, na medida em que gera
sacrifícios para ambas as partes (o preço, para o dono da obra; o trabalho e, eventualmente,
materiais fornecidos, para o empreiteiro); é sinalagmático, por fazer surgir obrigações para ambas as
partes; é comutativo por quer a atribuição patrimonial do dono da obra quer a do empreiteiro serem
certas quanto à existência e conteúdo; é de execução instantânea, ainda que prolongada.

Forma:

A empreitada não é um contrato formal, não exige forma escrita para a sua validade, mas
normalmente exige um documento base, por exemplo o caderno de encargos nas obras civis.

Oneroso:

A empreitada é um contrato oneroso e aplica-se para a determinação do preço as regras da compra


e venda (artigo 1211º e 883º). O preço deve ser pago com a aceitação da obra, salvo estipulação em
contrário.

Direitos do dono da obra:


O dono da obra tem como direitos a aquisição e receção da obra, devendo ser cumprido o
estabelecido no contrato (artigo 1208º) e fiscalização da obra, desde que não perturbe o andamento
desta (artigo 1209º).

A fiscalização por parte do dono da obra tem como fim principal impedir que o empreiteiro oculte
vícios. O direito de fiscalização não pode ser afastado por vontade das partes, dado que a norma do
artigo 1209º é imperativa. Através do exercício do direito de fiscalização, o dono da obra pode
determinar a necessidade de efetuar alterações ao plano convencionado (artigo 1216º). Sendo a
fiscalização feita no interesse imediato do dono da obra e por sua iniciativa, é este que deve custear
as despesas dela.

Deveres do dono da obra:


O dono da obra tem como deveres o pagamento do preço (o preço deve ser pago no ato de
aceitação da obra, salvo não havendo cláusula em contrário) e a verificação, comunicação e
aceitação da obra (artigo 1218º).

Direitos do empreiteiro:
O empreiteiro tem como direitos a receção do preço e direito de retenção

Deveres do empreiteiro:
O empreiteiro tem como deveres a realização da obra, tendo em atenção o determinado no artigo
1208º; o fornecimento de materiais e utensílios (artigo 1210º); a guarda e conservação da coisa
(artigo 1212º); e por fim, a entrega da coisa (após a conclusão da obra, e se o dono da obra dela não
tiver desistido).

Alterações do plano convencionado:


As alterações ao plano convencionado, podem ser de quatro tipos: alterações da iniciativa do
empreiteiro (artigo 1214º); alterações necessárias (artigo 1215º); alterações exigidas pelo dono da
obra (artigo 1216º); alterações posteriores à entrega e obras novas (artigo 1217º).

Alterações da iniciativa do empreiteiro

O artigo 1214º, nº1, estabelece que o empreiteiro não pode fazer alterações ao plano
convencionado, sem autorização do dono da obra (cfr. artigo 406º, nº1).

As disposições do artigo 1214º, referem-se apenas às alterações ao plano convencionado, feitas por
iniciativa do empreiteiro.

As regras previstas no artigo 1214º, quanto às alterações são as seguintes:  não podem ser feitas
pelo empreiteiro sem autorização do dono da obra (artigo 1214º/1), não se reconhecendo àquele a
faculdade de alterar unilateralmente a convenção estabelecida; caso o empreiteiro as fizer sem
autorização, a obra considera-se defeituosa; e o dono da obra não está, porém, impedido de a
aceitá-la com as alterações feitas pelo empreiteiro, não ficando obrigado a qualquer suplemento de
preço ou a indemnização por enriquecimento sem causa (artigo 1214º/2).

Alterações necessárias

É possível que, no decurso da execução haja necessidade de proceder a alterações ao plano


convencionado (artigo 1215º/1). A necessidade de alteração pode ficar a dever-se a uma
imperfeição ou uma insuficiência do plano não imputável a nenhuma das partes.

Verificando-se a necessidade da alteração, podem as partes chegar a acordo quanto às


modificações. Nesse caso estar-se-á perante uma modificação do contrato por mútuo
consentimento (artigo 406º/1), que seguem os termos gerais (artigos 219º e 222º/2).

Alterações exigidas pelo dono da obra

O artigo 1216º admite a possibilidade de alterações do contrato pelo dono da obra. Este preceito
legal estabelece dois limites às alterações impostas pelo dono da obra: o valor delas não deve
exceder a quinta parte do preço estipulado, e não deve haver modificações da natureza da obra.

O empreiteiro não fica adstrito de receber o preço relativos às alterações, isto é, o empreiteiro tem
direito a um aumento do preço estipulado em virtude do acréscimo de despesas e trabalho (artigo
1216º/2).
Sempre que as alterações exigidas pelo dono da obra violarem o disposto no artigo 1216º/1, o
empreiteiro pode recusar-se a realizar essas obras.

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