A.
Osório / Proelium
Proelium VII(2016)
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As Revoltas do Cassange
Artur Osório 1
RESUMO
O artigo desenvolve e contextualiza um dos episódios mais relevante da pre-
sença portuguesa em Angola e analisa concretamente as envolventes históricas
que conduziram às designadas “ Revoltas do Cassange”.
Palavras-chave: Sul de Angola; Revoltas do Cassange; Portugal.
ABSTRACT
The present article gives the context to a major event in the portuguese presence
in Angola, where special attention is devoted to the historical background for
the “Revoltas do Cassange”.
Palavras-chave: South of Angola; “Revoltas do Cassange”; Portugal.
“Angola representa ainda na evolução da nacionalidade portuguesa uma
das melhores criações do génio da raça” ... “É preciso que Angola continue
a ser portuguesa e para que o seja é preciso fazer o que for necessário.”
Cunha Leal - 4 de Janeiro de 1930, in História de Portugal, Damião Peres, Edição
Monumental – Portucalense Editora, Fascículo.20
Longe de constituírem a primeira e muito menos a única, ou exclusiva revolta
dos povos autóctones do Cassange, em Angola, os acontecimentos ocorridos a
partir dos primeiros dias de Janeiro de 1961, na região, foram, essencialmente,
mais uma rebelião dos agricultores algodoeiros indígenas contra o poder senho-
rial vigente, administrativo e económico, e, que de tal modo foi violentamente
reprimida, que passou à história como o “massacre da baixa do Cassange”.
1
Contacto: Email – [email protected]
Recebido em 05 de novembro de 2015 / Aceite em 3 de maio de 2016
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Recorte do Mapa V. A Angola portuguesa em 1845-1848 (in Pélissier, René – História
das Campanhas de Angola, vol. 2, Editorial Estampa, 3.ª edição, 2013)
Na África ocidental, no século XVI, a sul do Reino do Congo, ficava o reino
quimbundo do Ndongo, do rei N’Gola Mbandi, filho do rei N’Gola Kiluanji
(também designado por N’Gola Zinga ou Jinga) que morreu em Cabassa, no
interior da Matamba, e cujo nome originou a designação portuguesa de Angola.
O reino quimbundo do Ndongo confinava com reinos vizinhos, entre os quais
se situava, a leste, o reino de Cassange que, a partir do fim do séc. XVII se
estabeleceu no vale do Cuango.
Se com o reino do Congo, desde que Diogo Cão descobriu a foz do rio do
mesmo nome, em 1482, os portugueses mantiveram relações pacíficas, até mesmo
depois de 1575, já, em 1578, com o rei N’Gola Mbandi, deu-se início a um
período de lutas, por vezes de maus resultados para as forças portuguesas, mas
que acabaram sempre pela derrota dos indígenas, mal armados e inferiores nas
artes da guerra dos capitães portugueses. Assim sucedeu, no fim do séc. XVI,
no tempo de Paulo Dias de Novais. E apesar da resistência dos negros, com
as revoltas dos régulos e sobas, incluindo a da rainha Jinga, lentamente foi
feita a marcha para o interior, com a ocupação do litoral, seguindo os passos
dos negociantes de escravos (“pombeiros”) e em busca das supostas minas de
prata e de cobre, de Cambembe e do Songo, respectivamente.
A 11 de Fevereiro de 1575, aportou, à ilha de Luanda, na altura conhecida
como Ilha das Cabras, Paulo Dias de Novais (neto de Bartolomeu Dias), como
“governador e capitão-mor, conquistador e povoador do reino de Sebasta na
conquista da Etiópia e da Guiné inferior”, a quem o rei D. Sebastião (1568-
1578) concedera uma carta de doação, confiando-lhe a “donataria de Angola, do
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rio Dande para sul” (carta de donataria de 16 de Setembro de 1574). Sebasta
ou Sebaste compreendia os reinos do Congo, Angola e Benguela e, desta vez,
o objectivo de D. Sebastião, expresso na doação, era o da conquista violenta.
Paulo de Novais, já, em Setembro de 1559, havia integrado uma embaixada portu-
guesa ao reino de Angola, onde chegou em Maio de 1560, com religiosos jesuítas,
para contactar com o rei do Ndongo, N’Gola Kiluanji, que entretanto havia morrido.
Com a missão da expansão da fé, fazer amizade e abrir o comércio, foi recebido
pelo filho N’Gola Mbandi, nas Pedras Negras, mas o encontro foi demasiado e
propositadamente demorado e não correu bem. Só em 1576, a 29 de Junho, depois
de ter partido de Lisboa a 23 de Outubro de 1574 e avistado a barra do Cuanza em
Fevereiro de 1575, fundeado no porto de Luanda, entre a ilha e o continente, é que o
rei o autorizou a mudar-se para terra firme, para o morro de S. Paulo, onde fundou a
povoação de S. Paulo da Assumpção de Luanda. Porém, instigado pelo rei do Congo,
o rei de Angola ordenou a matança de todos os portugueses. Foi então necessário o
reforço das forças portuguesas, cujo socorro chegou em 1580, tendo Paulo Novais
prosseguido os combates, vencendo vários sobas. Mas durante os primeiros e largos
tempos, a presença portuguesa em Angola foi limitada ao litoral, com a instalação de
apenas alguns postos fortificados no interior, com o objectivo económico do comércio
de escravos, com destino às plantações de S. Tomé e depois do Brasil.
A meia-irmã de N’Gola Mbandi era Nzinga (Jinga) Mbandi N’Gola, nascida em
Cabassa, em 1581, e que, no séc. XVII, resistiu à ocupação portuguesa dos territórios
de Angola e ao consequente tráfico de escravos. N’Gola Mbandi havia sucedido a
seu pai N’Gola Kiluanji e procurou impedir o comércio entre os portugueses e os
guerreiros imbangalas do leste, pelo que enviou, a Luanda, Nzinga, para negociar
e onde acabou por se converter ao catolicismo, recebendo o nome de Dona Ana de
Sousa, por influência dos missionários capuchinhos italianos que se estabeleceram
em Angola, no governo de Salvador Correia de Sá (1648-1651), contribuindo para
a penetração pacífica de vastos territórios, incluindo o Cassanje.
Durante o governo do administrador colonial e capitão general, João Correia de
Sousa (1621-1623), Nzinga refugiou-se numa das ilhas do Cuanza e, envenenan-
do ou mandando envenenar o seu irmão, assumiu o poder, coroando-se rainha,
lutando permanentemente contra as forças portuguesas nos anos seguintes, dos
governos de Pedro de Sousa Coelho (1623), Simão de Mascarenhas (1623-1624)
e Fernão de Sousa (1624-1630). Entretanto, os portugueses não se revelaram
diligentes e fiéis cumpridores do acordo celebrado e estabeleceram o comércio
com o Jaga de Cassange, aproveitando a revolta de alguns sobas, provocando
uma situação de desordem geral. A rainha Nzinga actuou energicamente e, em
1640, aproveitando-se da ocupação temporária de Luanda pelos holandeses,
atacou o forte de Massangano.
Com o fim do domínio filipino em Portugal (1640), o eixo da expansão portu-
guesa ultramarina passou do Índico para o Atlântico, onde as atenções se viraram
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para as feitorias esclavagistas de África, nomeadamente Angola, tornando-as
entrepostos de escravos para toda a América, muito em especial para o Brasil.
Os portugueses, depois da sua inicial actividade no antigo reino do Congo,
voltaram-se para o reino de Angola (região compreendida entre os rios Dande
e Cuanza que se estendia para o interior até onde a conquista chegasse e a
faixa costeira de 35 léguas a sul da Barra do Cuanza e terra a dentro) e, só
nos princípios do séc. XVII, para o reino de Benguela.
A cidade de Luanda que, como vimos, foi fundada em 1575, por Paulo Dias
de Novais, com o seu primitivo porto, tornou-se o centro do tráfico angolano
de escravos, controlado pelo Império Português, como centro administrativo do
governo, a partir de 1627. Um ano antes, era este o mapa elaborado da cidade
e respectivo porto, como entrada do reino de Angola.
Em 1656, Nzinga enviou, a Luanda, uma embaixada que ratificou um tratado com o
governador e capitão-general Luís Martins de Sousa Chichorro (outubro de 1654 a
18 de Abril de 1658), assinando as capitulações a 12 de outubro de 1656, limitando
as suas reivindicações territoriais (renunciou aos territórios de Ndongo, um dos três
reinos independentes, no norte-centro de Angola: Ndongo, Matamba e Cassange, em
contrapartida da libertação da sua irmã Cambu, aprisionada no forte de Massangano),
e retirando-se para Matamba, onde estabeleceu uma relativa paz, acabou por morrer
em 17 de dezembro de 1663, com 82 anos. Restou a sua reputação de temível, quer
como negociadora astuta, quer como guerreira feroz e impiedosa (Nzinga, ao encontrar
um dos sobas, seu tio, que se dirigia a Luanda para se submeter aos portugueses,
mandou decapitá-lo, e dando conta da hesitação de seu irmão mandou envenená-lo,
abrindo assim caminho ao poder e ao comando da resistência à ocupação das terras
de Ndongo e Matamba), fazendo jus ao cognome de “Mãe Negra” de Matamba.
De 1665 a 1681, a batalha de Ambuíla, ganha contra o rei do Congo, D. António
Manimuluza, em 24 de outubro de 1665, a tomada das Pedras Negras, do rei de
Angola, D. João Ari, a 18 de novembro de 1671, com a consequente extinção do
reino de Angola ou Dongo e a morte do rei da Matamba, D. Francisco Guterres,
a 4 de setembro de 1691, constituem e determinam o fim do período agudo das
lutas de ocupação e penetração, em Angola.
No início do segundo quartel do séc. XIX, a ocupação de Angola pelos
portugueses limitava-se a uma faixa no litoral que pouco se alargava para o
interior, sem limites bem definidos. Já os Mbangalas ou Imbangalas do reino
de Cassange constituíam, em meados do mesmo século, uma força de homens
não desprezível, sob a dependência do Jaga (rei do Cassange) e asseguravam
uma feira comercial, com o incremento de transacções com o além-Cuango, a
Lunda a leste, e a costa angolana, desde o início do séc. XVIII, sendo assim os
principais parceiros comerciais dos portugueses. Porém, os Songos povoavam
em número considerável o sul, envolvendo a Baixa do Cassange, controlando
as vias conducentes à Lunda, a leste, e ao Bié, a sul e os Bondos faziam o
mesmo em relação à região do Duque de Bragança, a noroeste.
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Recorte do Mapa IV. Mapa etnográfico de pormenor (Idem, ob. cit.)
Os Imbangalas, Mbangálas ou Bângallas (nenhuma relação têm com os N’Gálla ou
Gállas, nem com os Banglas de Stanley), os povos de Cassange em evidência no
período de 1849 a 1866, sempre se opuseram à penetração portuguesa até ao início
da segunda década do séc. XX e foi assim que a política de penetração militar
portuguesa, a partir do último quartel do séc. XVI, desencadeou várias guerras,
até 1921, embora os portugueses, em resposta às rebeliões dos africanos (a revolta
dos Dembos em 1872 e as sublevações, em meados do ano de 1874, dos povos
de Malange e Ambaca), tenham estendido a sua zona de controlo muito para além
do Duque de Bragança e procurado assegurar postos na fronteira do Cassange,
mesmo até ao Cunene, embora sem grande sucesso e com a rejeição sistemática
às autoridades portuguesas, as quais não tinham real domínio sobre o interior.
“Cassange é uma extensa planície cercada por uma cordilheira de montanhas que
começando nas margens do Quango na extrema do Quembo vem descrevendo uma
curva em volta da planície, servindo de fronteira ao Songo Bondo e passando o
Hiongo vem terminar outra vez no Quango”, escreveu o Major Francisco de Salles
Ferreira, na sua “Memória sobre o Sertão de Cassange”, em 20 de abril de 1853, e
acrescenta: “Começaram os Songos a transitar a caminho da Lunda para Cassange,
e daí vem a origem da Feira de Cassange, porque alguns Portugueses começaram
a ir ali comerciar pela abundância de marfim que os Cassanges traziam da Lunda:
os Jagas consentiram no estabelecimento da feira, mas conservando o caminho
oculto, e não consentindo que Português algum passasse além do Rio Zaire ou
Quango”. Porém, o autor do Prólogo da “Memória da Expedição a Cassange em
1850 – África Ocidental”, precisa, que o rio que banha Cassange é o “Quango,
mero afluente do Cassai, porque a Sunda e Suba são atravessadas e em cujas
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paragens já é três vezes mais caudaloso que o Quango, o qual mais próximo da
costa toma o nome de Zaire, talvez o 4.º rio do mundo, não obstante a contrária
opinião dos Geographos, pelo que é pouco conhecido”, corrigindo o artigo relativo
à guerra de Cassange, no n.º 2878, do Revolução de setembro, de 22 de outubro
de 1851. E acrescenta, relativamente à segunda expedição a Cassange, em 1850,
que o soba, do Songo, Marimba Angombe, foi sempre um rebelde gentílico, que
o Major Salles chegou à feira de Cassange a 6 de janeiro de 1851 e que Bumba
atacou o exército português no dia 28 de fevereiro desse mesmo ano.
A primeira “guerra do Cassange” ocorreu entre 1850 e 1851, com duas campa-
nhas levadas a cabo pelas forças portuguesas, comandadas pelo major Francisco
de Salles Ferreira, chefe do presídio do Pungo Andungo. Quando daqui partiu,
em junho de 1850, levou como missão a vingança da morte do capitão Simão
da Cruz, do Duque de Bragança, abatido na feira de Cafuxe, nos Bondos, por
instigação do soba Andalla Quissúa, e a submissão de vários sobas do Songo,
entre os quais, o principal era Marimba Angombe (que nunca havia prestado
obediência aos portugueses e se recusava a pagar o dízimo), o que conseguiu
em julho de 1850. Nesta altura, as questões fiscais eram consideradas determi-
nantes na ordem económica, ocasionando, durante largo período histórico, acções
militares, lutas mortíferas entre as tropas portuguesas e o Jaga de Cassange.
Mas o primeiro objectivo não foi conseguido e o soba dos Bondos refugiou-se
junto do Jaga de Cassange, Bumba A Quinguri, conhecido também por Dom
Paschoal Machado, o líder da resistência do Leste aos Portugueses, por razões
fundamentalmente comerciais, dada a existência de duas redes de comerciantes
paralelas, uma legal, outra clandestina, com as quais negociava de acordo com
as suas conveniências, para obtenção do maior lucro e poder.
Recorte alterado do Mapa VII. O avanço para nordeste (1848-1878) – (Idem, ob. cit.)
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Bumba (Dom Paschoal Machado) não cumpriu a sua palavra em relação aos sobas
bondo e songo e, pior, atacou a feira, pondo em causa os investimentos dos nego-
ciantes de Luanda. É neste contexto que o major Salles Ferreira invadiu o Cassange
(primeira campanha da primeira guerra do Cassange). O Jaga Bumba procurou resistir,
no seu acampamento que, no entanto, é tomado e incendiado a 24 de julho de 1850.
Bumba não é capturado (ter-se-á refugiado no Jongo ou Hiongo) e, as forças portu-
guesas, para solucionar o vazio, fazem eleger um novo Jaga, Calunga-ca-Quissanga,
baptizado como Dom Pedro Acácio Ferreira, que presta juramento de vassalagem
à Coroa. O Governador-geral Adriano Acácio da Silveira deu assim por terminada
a campanha, e, em Setembro de 1850, Salles Ferreira regressou a Pungo Andongo.
Recorte alterado do Mapa XII. A Lunda (1894-1926) – (Idem, ob. cit.)
Às cinco horas da manhã do dia 28 de novembro de 1850, partiu de Pungo Andongo,
uma nova expedição, após “uma breve, mas eloquente alocução do Senhor Comandante
Geral”, com o objectivo de castigar o bárbaro ex-Jaga Cassange, Pascoal Machado
que havia assassinado o Jaga eleito e dois europeus, “manchando assim a bandeira
portuguesa”. Depois de uma formidável chuva que atrasou a partida (estava-se no
auge da estação das chuvas), às sete e um quarto começou a marcha. E após vários
dias, com a travessia de rios e riachos, paragens e encontros amigáveis com sobas e
um ou outro comerciante português, o Major Salles chegou à feira de Cassange, no
dia 6 de janeiro de 1851, pelas onze horas da amanhã. Estava deserta, abandonada,
com o capim crescido, portas das casas arrombadas ou abertas, uma devastação, e
nela permaneceu mais de seis semanas, com mais de dois mil homens, sem a captura
de Bumba que se passou para a margem direita do rio que servia de fronteira ao
Cassange, apesar da sua anterior tentativa de acordo, pagando “o preço do sangue”,
que não foi aceite por Salles Ferreira. A expedição conseguiu apenas aprisionar o
soba bondo, Andalla Quissúa, no dia 13, por força do incumprimento da palavra do
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senhor Comandante-Geral quanto à sua vontade de apresentação, o que contrariou
a crença geral destas gentes de que “quem representa o Mueniputo ou Muene Puto
(Rei de Portugal) não pode faltar ao que promete”. Andalla Quissúa foi conduzido
a Luanda com a sua comitiva, carregados de ferros.
Avançando então para o Cuango em busca de Bumba, ocorreram algumas escaramuças
a 27 e 28 de fevereiro, mas apenas foram feitos prisioneiros alguns elementos da sua
família. A 27 de março, soube-se que as insígnias do Estado do Cassange tinham
sido lançadas fora por parte de Bumba e a sua recuperação fora feita pelos filhos
do Capenda-camulemba, Xinjes. Com os Portugueses na posse dos instrumentos da
sagração, abandonaram, a 1 de abril, as margens do Cuando e regressaram à feira
três dias depois. A 24 de abril, chegou o Reverendo Padre Bernardo José Pinheiro,
Vigário de Ambaca, para baptizar, dois dias depois, com muita pompa, um novo Jaga,
Cambolo Cangonga, que tomou o nome de Dom Fernando Accacio Ferreira, tendo
como padrinho o próprio Governador-Geral, representado pelo Comandante-Geral e,
como madrinha, a senhora D. Joana Elvira da Costa, por seu representante Manoel
Ignacio de Resende. De 27 de abril a 4 de maio, as forças portuguesas fizeram os
preparativos para a saída, tendo deixado a feira entregue a um novo director, António
Rodrigues Neves, e regressaram a Pungo Andongo, a 5 de maio, com centenas de
prisioneiros e outros instrumentos rituais dos Jagas.
Com o resultado da ruina de aldeias abandonadas e o aprisionamento de indígenas
e gado, a consequência comercial mais importante, reconhecida oficialmente,
foi a da abertura do caminho para a Lunda, sem a intervenção de Cassange,
com o consequente aumento do lucro no que era trazido à Feira. Seguidamente,
a 16 de agosto de 1851, o Governador-Geral criou o novo distrito de Talla
Mungongo, alargando o espaço do reino de Angola em pelo menos três centenas
de quilómetros para leste. Mas Bumba não se resignou ao desapossamento.
A 14 de março de 1852, Salles Ferreira chegou novamente à feira de Cassange,
na sua terceira expedição, agora na segunda “guerra ”, tendo partido de Luan-
da, de novo na época das chuvas. Bumba voltara a ameaçar, em Fevereiro, o
Jaga, mas o rebelde voltou a desaparecer, pelo que se realizaram batidas, em
abril e maio, para o capturar o que quase aconteceu a 28 de Abril. Tudo isto
se revelou prejudicial à actividade comercial da feira e, em face do fracasso
da captura, nos finais do primeiro semestre de 1852, a expedição retirou-se.
Em 1853, Bumba sobrevivia e o Jaga Dom Fernando cumpria as suas funções, com
a protecção e o apoio dos portugueses, mesmo militar, como em novembro de 1854,
e dos seus grandes partidários do Cassange, contendo Bumba, ao longo de 1854 e
1855, com a autoridade portuguesa assim estendida até à margem esquerda do Cuango,
enriquecendo com o comércio do marfim, da cera e dos escravos. Mas, entretanto,
Bumba, em 1856, reuniu um grande número de partidários, entre os quais os sobas
do Quembo, que, a 23 de junho desse ano, travaram um sério combate, perto do
Cuango, com perdas consideravelmente superiores às dos fiéis do Jaga Dom Fernando.
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A 17 de novembro de 1856, era já Governador-Geral, José Rodrigues Coelho do
Amaral (1854-1860, 1.º mandato), Bumba, perante mais um medir de forças, talvez
cansado de vários anos de fugas e vida no mato, decidiu pedir a paz e o Governador
aconselhou clemência, a fim de evitar os constantes inconvenientes das querelas nas
trocas com a Lunda, prejudiciais aos comerciantes portugueses instalados a leste do
Cuango. As ligações entre Ambaca e Cassange passaram a ser escoltadas por tropas
e, durante dois meses, no fim do terceiro trimestre de 1857, uma expedição portugue-
sa perseguiu ladrões do Songo, intimidando o respectivo soba, Marimba Angombe.
“Milagrosamente”, Bumba até se ofereceu para proteger as caravanas que passavam
no seu território, mesmo sendo apenas um ex-Jaga, confirmando a reconciliação e
jurando fidelidade à Coroa. Do mesmo modo “providencial”, Dom Fernando morreu
e Bumba foi reeleito, com a concordância das autoridades e a satisfação dos comer-
ciantes. Seguiram-se, então, os anos calmos de 1858, 1859 e 1860, no Cassange.
Por pouco tempo, Coelho do Amaral é substituído pelo Governador-Geral,
Carlos Augusto Franco (1860-1861) que, por sua vez dá lugar ao Governador-
-Geral, Sebastião Lopes de Calheiros e Meneses (1861-1862), no mandato do
qual ocorreu uma das mais graves ameaças vindas do leste, no séc. XIX.
Por causa da morte do chefe do distrito Talla Mugongo, a sua substituição por um
militar, as dificuldades comerciais, a imposição do dízimo, desordens, etc., a linha de
Cassange, de Pungo Andongo ao Cuango, foi cortada pelos povos do Songo (gentes
do Marimba Angombe), a feira esteve em risco de ser atacada e a margem direita
do Cuango sublevou-se contra os feirantes, em auxílio dos quais foi dirigida uma
coluna vinda de Pungo Andongo. De Malange, já elevada à categoria de presídio,
foi organizada, pelo próprio Governador-Geral, uma segunda coluna, em Setembro.
E são ambas as colunas que, a 11 de novembro de 1861, atacam o quilombo de
Bumba que se pôs em fuga, tendo sido perseguido sem êxito, até ao final do ano.
A 29 de dezembro de 1861, o então tenente-coronel João Francisco do Casal
que comandava a coluna saída de Pungo Andongo foi morto no Quembo, es-
conderijo habitual de Bumba, e com ele vários oficiais e mais de uma centena
de soldados, para além dos desaparecidos e feridos. Tratou-se de uma derrota
séria que ficou conhecida como o “desastre de Cassange”, tendo a segunda
coluna retirado para a feira, a sete centenas de quilómetros de Luanda, para
cuja alfândega tais factos constituíam um rude golpe.
A coluna de socorro enviada por Calheiros e Meneses não foi além de Malange e
os militares e comerciantes, na feira, foram atacados e passaram fome. Com febres
e desmoralizados com a falta de reforços, os sobreviventes, comandados pelo tenente
Augusto da Serra, abandonaram a feira a 23 de março de 1862, restando Malange
como o ponto mais avançado a leste, reduzindo, assim, a possessão portuguesa em
cerca de duzentos quilómetros. A baixa de Cassange transformou-se num cemitério de
empacaceiros e nem os vizinhos do reino de Benguela, os Ovimbundos do Bailundo,
convocados para o efeito, se apresentaram para lutar.
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O Governador-Geral seguinte, João Baptista de Andrade (1862-1865), oficial da
marinha, enterrou o avanço para leste, orientando a sua política para os portos,
a fim de obter os direitos alfandegários compensatórios dos dízimos perdidos no
interior. Mas para restabelecer a situação no Cassange, Lisboa enviou reforços, no
início de 1863. O coronel Theotónio Maria Coelho Borges avançou, para Sanza,
com uma força de tal modo imponente que levou Bumba a pedir de novo a paz,
a 29 de agosto de 1863, mesmo antes de qualquer recontro. Doenças epidémicas e
paralisia comercial fizeram Luanda esquecer qualquer desejo de vingança e aceitá-la,
com alívio. Uma embaixada do Jaga de Cassange acabou mesmo por ser recebida
no palácio do Governador, um mês depois, reconhecendo a soberania portuguesa, a
que Bumba aceitava obedecer, permitindo a reinstalação das autoridades portuguesas
na feira, entregando prisioneiros e escravos, pagando indemnizações ao Estado e
a particulares, as despesas de guerra, apenas não referindo os tributos ou dízimos.
O tratado foi, a 29 de novembro de 1863, explicado a Bumba, pelo capitão João
José Libório, e a coluna não passou os limites do Songo.
Conhecidos os factos, quais terão sido os motivos justificativos destas revoltas?
Uma regra na selva era conhecida: “que os principais e quase únicos causadores das
desgraças que tem havido na província, têm sido os negociantes e outras pessoas,
que, com as suas crueldades e outras malfeitorias, têm suscitado uma quase justa
vingança da parte da população indígena”. Para a Metrópole, eram os aventureiros.
Em Luanda, co-responsabilizavam-se os administradores no mato. Mas as questões
fiscais preponderantes na ordem económica, terão igualmente determinado acções
militares, durante este período histórico, não só no Cassange, nomeadamente durante
a “terceira guerra”, como também nos Dembos e no Humbe, a fim de submeter os
povos indígenas à cobrança do dízimo.
Após Baptista de Andrade, os Governadores-gerais sucederam-se, por mandatos
de um a dois anos, e o Cassange deixou de interessar a Luanda. As grandes
casas de negócios esqueceram a feira. Militarmente não se avançou. Contra esta
retracção económica, são então os Mbangalas que, a partir de 1870, começam eles
próprios a transportar a cera, o marfim e a borracha para Malange e até Luanda.
Bumba morreu em 1873, depois de, como bom vassalo, ter gerido “aquela parte do
território português”. O Cassange diluiu-se então numa profusão de linhagens.
É neste contexto que, entre 1884 e 1888, Henrique Augusto Dias de Carvalho,
vindo de Lisboa, parte de Luanda, com uma expedição à Lunda, com objectivos
científicos e outros interesses mais determinados pelos poderes governamentais em
Lisboa. Terminada, ou pelo menos reduzida, a interposição do Cassange, a viagem
ao Muatiânvua, “o Senhor dos Senhores”, destinava-se a estabelecer “relações de
amizade e comerciais com aquele grande potentado e seus súbditos”, na África Centro-
-Ocidental, ao qual já, em 1843, havia sido enviado, ao serviço do governo colonial,
o negociante sertanejo, Rodrigues Graça, que foi recebido na Mussumba (sítio Grande
do Murope), em setembro de 1847, com honras de primeiro embaixador do Muene
Puto (Rei de Portugal) e onde abordou, principalmente, os factores económicos da
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oferta e da procura, a substituição do comércio de escravos pela produção agrícola
e a caça ao elefante (havia manadas deles que nem rebanhos de carneiros) e cujas
informações merecem destaque, por parte de Henrique de Carvalho.
O Muatiânvua, um grande planalto atravessado pelos rios Cuando e Cassai, afluen-
tes do Zaire, há muito que era objecto de relações comerciais dos indígenas com
diversos exploradores portugueses, mesmo antes de 1846, quando Rodrigues Graça
conseguiu alcançá-lo. Depois, foram exploradores estrangeiros que o fizeram: Po-
gge, em 1876; Buchner, em 1878 e Wissman, em 1884, no ano em que Henrique
de Carvalho levou a bom termo a sua expedição, com a abertura de novos mer-
cados em Angola e, muito mais tarde, por convenção de 24 de março de 1894,
delimitando o Muatiânvua à soberania portuguesa. A este propósito, é mesmo
Henrique de Carvalho que escreve: “se houvéssemos aproveitado o caminho que
eles nos franquearam e conselhos que nos legaram, certamente nos pertenceriam
as vantagens que aqueles (os responsáveis pelos êxitos das explorações alemãs e
belga) vão adquirindo pela sua persistência em estabelecer relações de amizade e
comerciais com aquele grande potentado e seus súbditos”.
O comércio e territórios lundas eram, então, objecto da concorrência europeia,
nomeadamente alemã e belga, disputa esta que ficou conhecida como “a ques-
tão da lunda”. Após a realização da Conferência de Berlim (1884-1885) e o
Ultimato inglês (1890), a demarcação da Lunda foi aprovada em 26 de junho
de 1893 e ratificada, em Bruxelas, na data e pela convenção atrás referida.
Durante a segunda metade do séc. XIX, com a emigração dos Ovibundos do
centro para o norte de Angola, a anexação do reino pelos portugueses e a
abolição oficial da escravatura (1869), Cassange começou o seu declínio. O
capitão africano Francisco Van-Dúmen foi ainda nomeado chefe e director da
feira do Cassange, durante o governo de Ferreira do Amaral (1882-1885) e
reconstituiu-se o conselho de Talla Mungongo.
Terminada a longa fase da lucrativa exploração do tráfico esclavagista (a abolição do
tráfico data de 1836 e a da escravatura de 1876, sendo que, de 1815 a 1823, o valor
do primeiro ascendeu a 1023 contos, 93,7% das exportações de Luanda, enquanto
que a da cera se resumiu a 5,6% e a do marfim a 0,6%), seguiu-se, naturalmente,
o incremento da exportação de mercadorias de modo a minorar as perdas dos co-
merciantes. Longe da revolução industrial cuja instalação foi, aliás, expressamente
proibida, no fim do séc. XIX e início do séc. XX, em Angola, a economia virou-se
para os investimentos, essencialmente, em explorações agrícolas, cinegéticas e mineiras,
como o caso dos diamantes, nas lundas, e outras de reduzida importância, como a do
cobre e manganês, com apenas uma pequena manufactura de tabaco e uma fábrica
de têxteis (anterior à proibição do Decreto n.º 33 924, de 5 de Setembro, de 1944).
Alterado o direito fundiário tribal, relativo ao colectivismo das terras, foram
as grandes companhias e os colonos a beneficiar com esta forma legal de
expropriação dos africanos e das suas tribos. Dificilmente, qualquer indígena
assalariado, forçado ao trabalho, não sendo “assimilado”, ou plantador priva-
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do, poderia tornar-se legalmente proprietário. Na verdade, as grandes planta-
ções exigiam muita mão-de-obra que foi assegurada por um recrutamento de
trabalho forçado, consagrado no Código de Trabalho Indígena de 1878 e, de
certo modo, ainda consagrado em 1961, por força do disposto no artigo 136.º,
da Constituição de 1933: “O Estado pode forçar os indígenas a trabalhar em
serviços públicos de interesse geral para a colectividade”. E, por força de tal
regime, muitos trabalhadores se viram enviados para regiões bem distantes das
de origem, com contratos de prestação de trabalho, por conta de outrem, de
duração, em geral, de seis meses. Não se tratou de imigração livre, tal como
a da venda do seu trabalho. Analfabetos e mal remunerados, nem a política de
assimilação os deixou de manter alheios da vida económica e política.
À margem ou bem longe da visão unilateral de anticolonialismo radical que exclui
a existência histórica das qualidades dos portugueses no relacionamento com os afri-
canos, mas sem apagar a exploração dos trabalhadores nativos, a sua ridicularização
de acorrentados e prisioneiros de braço dado com a pobreza e com a arrogância
dos colonos, não parece seguro assacar a totalidade da culpa pelos acontecimentos
ocorridos na baixa do Cassange, à Cotonang, Companhia de Algodões de Angola
SARL, empresa luso-belga, fundada em 1926, ainda que esta praticasse a fraude nos
preços e qualidade do algodão entregue pelos produtores indígenas e que, por parte
dos seus capatazes, tivesse comportamentos condenáveis, só entendíveis pela sua
qualidade de monopolista, num contexto de autêntica “cotonocracia”.
“Vida das pessoas é assim mesmo. Pessoa às vezes faz uma coisa sem poder
pensar que essa coisa vai dar muita revolta, vai esticar tanto até dar uma
maka grande que vira a vida da gente”… “Porque a raiva que deu essas
makas todas tinha saído na ordem da Cotonang. Cotonang é que dava todas
ordens ali na terra, a pessoa até não podia mais saber se é ele Cotonang
que estava muene-puto”.
Jofre Rocha, Estória do Musseque, in Brunna Bozzi Feijó, Independência ou Revo-
lução? Porto Alegre, 2011
O povo trabalhava obrigado no algodão para arranjar dinheiro para pagar
o imposto (Imposto Geral Mínimo que havia passado de 250 para 350
escudos), comprar roupa, mandar os filhos à escola. Mas o algodão não
servia para a alimentação. Havia que trabalhar as lavras de mandioca, do
milho e feijão, o que, de facto e em geral, não acontecia. Só um conluio
corruptivo da administração com a empresa podia caucionar e assegurar
a sua prática comportamental que, para os indígenas, tal como transpa-
rece acima, se confundiam. É o próprio Major Rebocho Vaz que, no seu
relatório, indica, na sua opinião, os que “roubavam descaradamente” o
nativo: os feiticeiros, as capatazes negros, os agentes do mato da Coto-
nang, os comerciantes, os cabos cipaios e os capitas da administração,
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acabando por acusar as autoridades administrativas de serem coniventes.
E quanto a estas acusa-as de forçarem os sobas a darem-lhes presentes
e, principalmente, de receberem, da Cotonang, envelopes com quantias
avultadas, embora carecidas de confirmação o que, como bem se sabe, se
revela sempre de difícil prova.
Recorte alterado do Mapa 3 – Área dos acontecimentos da Baixa de
Cassange Mateus, Dalila Cabrita e Mateus, Álvaro – Angola 61, Guerra
Colonial: Causas e consequências. O 4 de Fevereiro e o 15 de Março, p. 44
Mais tais causas não se constituíram como únicas, muito embora já, em
1959, tenham sido objecto de relatório, por parte do comandante da 2.ª
Região Aérea, no fim de uma “missão a África”, no que respeita a Angola,
e depois pelo referido Major Rebocho Vaz, comandante do batalhão que
pôs termo à revolta e pelos relatórios elaborados pela 3.ª CCE que partiu
de Lisboa em junho de 1960 e teve como destino Malange, patrulhando o
itinerário Malange – Quela – Longo – Camaxilo, apercebendo-se do mal-
-estar das populações da área da baixa do Cassange (Quela, Xamuteba, Mi-
lando, Longo) pela violência das condições de vida impostas pela empresa
algodoeira Cotonang. O que ocorreu na baixa do Cassange não foi apenas
uma simples reivindicação dos agricultores indígenas. A revolta que surgiu,
a 4 de Janeiro de 1961 e que, aliás, se pode considerar como iniciada, em
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Outubro de 1960, quando os camponeses se recusaram a receber as sementes
de algodão para semear em Janeiro, começando um movimento grevista,
assume-se como germe da luta contra o colonialismo, num contexto mun-
dial favorável à causa do nacionalismo africano. Poder-se-á mesmo dizer
que, ultrapassando as meras reivindicações laborais, se tratou do primeiro
levantamento “armado” da segunda metade do séc. XX, contra a soberania
portuguesa, em África.
O Congo ex-belga tinha obtido a independência em Junho de 1960 e era presidido
por Kasavubu, nome que foi invocado pelos representantes dos trabalhadores
sublevados, como ordenando a recusa ao trabalho. Por outro lado, homens
vindos do Congo, instalaram-se na região, dizendo-se enviados de “Maria”,
nome que se relaciona com António Mariano (alegadamente próximo da UPA
– União das Populações de Angola), e exploraram as tradicionais crenças no
Além dos africanos, instigando a denominada “Guerra da Maria”. Embora Maria
se relacione, por vezes, igualmente a Maria, mãe de Jesus, a Virgem Maria de
Fátima e, noutros casos, a Maria de N’Guriakame, a “Rainha dos Mussucos”,
influente no povo do Norte de Angola, a instigação da revolta dos cultivadores
do algodão na Baixa do Cassange, garantem outros, ficou a dever-se ao Partido
Solidário Africano (PSA), de Antoine Gizenga, primeiro ministro do Congo.
São vários os relatórios oficiais existentes sobre os acontecimentos na Baixa do Cas-
sange, desde administrativos a militares e até da PIDE, da autoria do Subdirector, São
José Lopes, e ainda de outras fontes, incluindo a de sobreviventes do “massacre”,
para além das interpretações posteriores, de cunho político-patriótico de historiadores,
políticos ou escritores angolanos. Com base nos relatos de empregados da Cotonang,
naturalmente tendenciosos, os apontamentos do funcionário administrativo que os remeteu
superiormente, não deixam de referir que se tratou da “primeira acção subversiva em
larga escala processada no Ultramar nos últimos 40 anos”, admitindo que resultou
do muito pouco que se tem feito pelo bem-estar das populações, transformando uma
simples reacção contra o cultivo do algodão num real levantamento contra o regime
colonial português, embora admita que, tal facto, se deveu, igualmente, à infiltração
de agentes subversivos, vindos do exterior. Significativo é o teor da carta de São
José Lopes ao director-geral da PIDE, no dia 13 de janeiro de 1961, ao informar
que “os indígenas se encontram calmos, negando-se porém a trabalhar”, presumindo
que se trate de problemas relacionados com o algodão, em virtude das “injustiças
que o Governo não ignora”. Acrescenta que o regime do algodão era “propício a
especulações” e que na tarde desse mesmo dia aviões militares sobrevoariam o local
dos acontecimentos. Os relatórios militares tratam essencialmente das operações, dos
meios envolvidos, das deslocações, confrontos e baixas.
O historiador angolano, Pedro Kapumba, docente de história de Angola no Instituto
Superior de Educação (ISCED), da Universidade Agostinho Neto, defende que
a independência do vizinho Congo foi, segundo o professor, “um dos motores”
e que “terá sido também por essa influência do Congo e de alguns movimen-
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tos nacionais já constituídos que se deu a revolta dos camponeses da Baixa de
Cassanje, em 4 de janeiro de 1961, que culminou com a morte de milhares de
angolanos, bombardeados pela força aérea portuguesa”. Também Aida Freuden-
thal, investigadora do Centro de Estudos Africanos e Asiáticos do IICT, refere,
no entanto, que os primeiros sinais de resistência dos camponeses da Cotonang
datam de dezembro de 1960, com a ausência de trabalhadores nos campos de
algodão e a “recusa de pagamento de imposto”. Neste processo, surgiu o culto
sincrético denominado “Culto de Maria”, introduzido em Angola a partir do
vizinho Congo. Segundo a investigadora, com o alastramento dos “preceitos de
Maria”, através de “ritos iniciáticos”, as populações passaram a “desafiar aberta-
mente as autoridades e os agentes da Cotonang, convictos de que eram imunes às
balas”. O indício de que se trataria de uma acção organizada com fins políticos
está ainda, segundo a investigadora, no surgimento no local de insígnias do PSA
(Parti Solidaire African, em francês), organização política com grande influência
no vizinho Congo, saído há pouco da malha colonial belga.
Lourenço Contreiras Neto, vice-ministro dos Antigos Combatentes e Veteranos de
Guerra, corrobora a opinião, afirmando que se tratou de “um levantamento que
se enquadrou na luta clandestina que então eclodia em Angola”. E acrescenta:
“Entre aqueles trabalhadores haviam (sic) elementos activos que estiveram na base
das manifestações. Embora tivesse um desfecho infeliz, com a morte de centenas
de nacionalistas, este momento marcou decisivamente a luta dos angolanos pela
independência”. Para Jorge Valentim, deputado da UNITA, a revolta da Baixa do
Cassange deu a “indicação clara de que era possível lutar contra o colonialismo,
não apenas os intelectuais, mas alargando a luta ao nível das largas massas popu-
lares” considerando-a como uma “contribuição à causa do nacionalismo angolano”.
É ainda Artur Pestana (Pepetela) que, depois de passados 47 anos, entende que
a revolta da Baixa do Cassange necessita de ser clarificada para que se conheça
a sua verdadeira dimensão histórica, em face de duas versões diferentes, sobre
os factos. “O que se conhecia sobre o que ocorreu na Baixa de Cassanje era
uma simples reivindicação de agricultores de algodão que pretendiam obter
preços mais elevados do seu produto, mas a companhia compradora rejeitou,
desembocando no levantamento que culminou na morte de centenas de pes-
soas”, recordou Pepetela. Durante muitos anos da Angola independente a data
foi subvalorizada, ressurgindo agora como um dos momentos altos da luta
nacionalista que viria a redundar na independência do país a 11 de novembro
de 1975, a par de outras como o 4 de fevereiro ou o 15 de março.
O realce do movimento da revolta na Baixa do Cassange foi feito muito recentemente
pelo analista político Elias Tchinguli, quando dissertava sobre o “Dia dos Mártires
da Repressão Colonial”, no dia 3 de janeiro de 2014, tendo afirmado que “a insur-
reição da Baixa de Cassanje (região localizada entre Malanje e Lunda Norte), foi
organizada cautelosamente por nacionalistas angolanos, que decidiram enfrentar os
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colonialistas devido à forma desumana como eram tratados” e que “pela primeira vez
na história do colonialismo, houve uma sublevação em grande escala, num território
com diversidades étnicas como mussucos, bangalas, ambundos, lundas e cocwes”.
António Gonga, um dos sobreviventes da repressão levada a cabo pelos militares,
quando, às primeiras horas do dia 4 de janeiro (?) saíram de Quela, sede do município,
onde haviam chegado às 17 horas do dia anterior, disse que a população pensou que se
tratava de balas de pólvora seca e “na discussão havida entre os militares portugueses
e os sublevados, estes ainda disseram que das armas dos agressores sairiam água e
não balas”. Bernardo Famorosa é igualmente um dos sobreviventes dessa manhã e
acrescenta que na preparação para a revolta do povo houve um homem chamado
Vuvu a acirrar os angolanos a desobedecerem aos portugueses, alardeando a liberdade
já obtida pelo Congo. Este primeiro contacto das tropas portuguesas com os nativos
revoltosos só pode ter sido efectuado por elementos da 3.ª CCE que, sediada em
Malange, partiu para Quela, no dia 3 de Janeiro de 1961, e, a 11 de Janeiro, para
Milando, onde surgiu o alerta de uma rebelião dos trabalhadores indígenas.
Desde Setembro de 1959, era, em Angola, Comandante da Região Militar, o General
Monteiro Libório que, em 1 de junho de 1961, foi substituído pelo General Silva
Freire, pelo período de cinco meses, dado que morreu, em 1 de Novembro do mesmo
ano, devido à queda do avião em que seguia, no Chitado. Sediado em Malange, foi
constituído, no início do ano de 1961, um batalhão eventual (BE), sob o comando do
Major Rebocho Vaz, composto, para além do pessoal de comando e serviços, pelas
3.ª, 4.ª e 5.ª CCE (companhias de caçadores especiais), comandadas, respectivamen-
te, pelos capitães Teles Grilo, Teixeira de Morais e Vasques de Mendonça, com um
plano para restaurar a ordem pública. Na mesma ocasião, comandava a Base Aérea
Negage, o Tenente Coronel Soares de Moura que embarcara para Angola, a 23 de
Setembro de 1960, podendo, com verdade, afirmar que “quando começou a guerra,
estava lá mesmo no sítio onde ela rebentou”.
Dos vários relatórios e declarações dos comandos militares, podemos concluir
que é a 3.ª CCE, sediada em Malange, a primeira a iniciar a missão de conter
a revolta no Cassange, face às notícias, do dia 11 de janeiro, de recusa do tra-
balho e ameaça aos cipaios por parte da população indígena e, nesse sentido,
parte para Milando, onde chega, no dia seguinte, e se depara com o alarme
da população. Mas o cerne da revolta encontrava-se nos nativos de sanzalas a
poucos quilómetros de distância e, por isso, foi para lá que a 3.ª CCE seguiu,
encontrando duas centenas deles, armados com as armas rudimentares próprias,
que justificaram a sua atitude, invocando os argumentos já conhecidos, para a
greve e revolta. Aparentemente serenados os ânimos, o assassinato de um ca-
pataz, o abandono das sanzalas pelo povo e o alastramento da revolta a outros
lugares da baixa do Cassange, provocam o abandono dos colonos da região e
requerem a permanências dos militares na zona que procedem a inúmeros e
longos patrulhamentos. E a situação da rebelião piorou diariamente.
No início de fevereiro, um milhar de nativos concentrou-se cerca de Cunda-
-Ria-Baza e os europeus fugiram para Malange. O Comando Militar de Angola,
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no seu Relatório Especial de Informações, do dia 2, revela o alargamento do
abandono ao trabalho por parte dos trabalhadores das prospecções mineiras, no
Cuando, temendo o seu alastramento à área da Diamang, na Lunda. Foi, então,
perante este cenário que, na madrugada de 4 de Fevereiro (data do ataque à
Casa de Reclusão Militar, ao Quartel da Companhia Móvel da PSP e à Cadeia
Civil, em Luanda), marchou para Malange a 4.ª CCE.
A 3.ª CCE não foi suficiente para conter a revolta que alastrou a toda a baixa
do Cassange, pelo que, no dia 5 de fevereiro, a 4.ª CCE, chegada de Luanda,
comandada por Teixeira de Morais, partiu para Tembo Aluma, surpreendendo
os rebeldes nativos em Cumba Ria Baza, onde combateu, provocando várias
centenas de mortos e feridos, conforme relatório de 7 de fevereiro, do referido
capitão comandante da companhia. A seu pedido, a Força Aérea intervém, ini-
cialmente com a missão de ligação das tropas a Malange, dadas as dificuldades
ou mesmo inexistência de comunicações rádio, e, posteriormente, bombardeando,
Recorte da imagem “Baixa do Cassange”, em “Os Anos da Guerra
Colonial 1961-1974”, Aniceto Afonso e Carlos de Matos Gomes (2010)
com aviões T-6 e PV-2, as populações amotinadas, provocando um alto número
de vítimas, nunca realmente contabilizado. Teixeira de Morais afirma que não
foi utilizado napalm, mas apenas bombas explosivas e metralhadoras. O Tenente
Coronel Soares de Moura corrobora, sem garantia. O oficial piloto aviador que
actuou no terreno, José Ervedosa (que acabou por desertar), diz, porém, terem
sido utilizadas bombas de napalm e confidenciou ao Alferes Miliciano Médico,
Mário de Pádua, ter visto, a baixa altitude, várias aldeias destruídas e milhares
de homens e mulheres queimadas, dizimadas pelo napalm.
A 4.ª CCE chegou a Tumba Aluma após 12 dias de progressão, depois de ter feito
muitos mortos, sendo estes os únicos que constam dos relatórios. “Excessos de vio-
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lência”, segundo Rebocho Vaz. Depois de se ter visto na necessidade de abrir fogo
em Quela, a companhia dirigiu-se para Cunda-Ria-Baza e procedeu ao patrulhamento
de várias sanzalas. Segundo o capitão Morais, a 4.ª CCE viu-se ameaçada por uma
gigantesca concentração de nativos, 10 000 indígenas, com os homens armados,
sob o comando do soba e a total influência do feiticeiro. Depois da tentativa inútil
de parlamentar com aquele, o intérprete abateu o feiticeiro que sistematicamente
se interpunha à frente da massa sublevada. Com tiro directo de metralhadora sobre
o grupo, deu-se a fuga para norte e leste. Depois da prisão de sobas e sobetas,
o transporte dos feridos em padiolas pelos prisioneiros e ordem de entrega das
armas, ao fim da tarde do dia 8, em Cunda, molhos de armas gentílicas foram
apresentadas e, após alguns outros episódios de luta com os nativos, a companhia
pôs-se a caminho de Marimba, com disparos de metralhadora e morteiro de 60
milímetros. No dia 17, a 4.ª CCE atingiu Tembo Aluma, cumprindo a sua missão.
Mas o soba de Tembo Aluma, Bumba, tal como o seu homónimo, o Jaga do
Cassange, Dom Paschoal Machado, na década de 50, do séc. XIX, aquando
das “guerras do Cassange”, não foi capturado. Deixou apenas, no campo de
batalha, o seu registo e a respectiva caderneta.
“ (…) O elevado moral da 4.ª CCE, o espírito de decisão do comandante e das
tropas e ainda o bom senso e equilíbrio revelados na resolução de incidentes
graves, limitaram o número de baixas sofridas pelos indígenas. Houve sempre o
propósito de causar o mínimo de mortos ou feridos e, sempre que houve neces-
sidade imperiosa de abrir fogo, procurou-se fazer pontaria baixa. (…) Também
nessas ocasiões se procurou sempre abater, em primeiro lugar, os indivíduos que,
nitidamente, se destacavam como cabecilhas. (…) Actualmente julga-se que ainda
é necessário manter, por um período razoável, uma ocupação na zona pacificada
com a finalidade de mostrar aos indígenas que as Forças Armadas estão atentas
e dar aos europeus a confiança necessária para retomarem as suas actividades
comerciais. Também servirá para mostrar aos povos gingas que o Estado está
pronto a protegê-los (…) ”.
Extracto da apreciação elaborada pelo Major Rebocho Vaz, a 17 de Fevereiro,
enviada ao Comando Militar de Angola, sobre o Plano de Operações n.º 3 –
Operação Cassange
No plano de Operações n.º 2, da mesma data, afirma-se que várias regiões a sul
e a oeste se encontram já pacificadas, nomeadamente Marimba, Tembo Aluma
e Cunda Ria Baza, entre outras, e que alguns povos gingas estavam mesmo
a apresentar cumprimentos ao comandante militar e a entregar-lhe agitadores.
Faltava assim actuar a norte da linha Cassange-Longo-Cuango, a cargo da 3.ª
CCE, dado que a 5.ª CCE ainda não havia chegado a Malange, pelo que aquela
companhia começou a sua deslocação no itinerário Malange-Quela-Longo.
Em 19 de Fevereiro, o comandante da 4.ª CCE, no seu relatório sobre o Plano
de Operações, escreveu:
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A 3.ª CCE, no seu deslocamento para o Cuango, teve o seu primeiro encontro
com nativos amotinados e viu-se obrigada a disparar, ocasionando alguns mortos
indígenas. Esta companhia, no âmbito da sua missão, realizou em seguida as
operações “Truta”, na região de Monte Papo, a “Raia”, na Muamba e a “Li-
mão”, na zona do Cuango, das quais resultaram dezenas de mortos e feridos e
a captura e entrega de armas, catanas, espingardas, azagaias e facas. A evolu-
ção dos acontecimentos mostrou-se, então, favorável à pacificação e, por isso,
da acção militar operacional, passou-se paulatinamente à acção psicológica e
sanitária das populações.
Em meados de março de 61, a pacificação aparecia para as autoridades militares
portuguesas como total e, de acordo com a informação n.º 52/61, da 3.ª Rep/QG,
de 9 de março, apenas ficaram destacados alguns pelotões em certas regiões, como
Marimba, com secções em Forte República e Tembo Aluma e, ainda, Longo, com
secções em Milando e Xamuteba, pertencentes à 3.ª CCE, sediada em Malange e
reforçada com quatro secções de atiradores de Regimento de Infantaria de Luanda.
A referida informação acrescenta:
“ (…) A 4.ª CCE recolheu a Malange e quando a 5.ª CCE chegou a esta
cidade, foi extinto o Batalhão de Caçadores Eventual”.
Guerra Colonial – A História na Primeira Pessoa, QUIDNOVI, 2011
Na visão oficial portuguesa, dado que” foi na Baixa do Cassange que o Exér-
cito Português disparou pela primeira vez, em situação real, desde a I Guerra
Mundial”, admite-se poder ter havido excessos, pela novidade e nervosismo da
situação, ocasionando entre duas a três centenas de mortos e uma centena de
feridos entre os revoltosos, tendo mesmo em consideração a acção da Força
Aérea. Mas a visão do lado angolano é bem diferente. De acordo com o artigo
citado de Eugénio Mateus, no município de Quela, e conforme os relatos dos
“mais velhos” sobreviventes atrás referidos, terão sido sepultados no local do
massacre perto de cinco mil pessoas, de acordo com as informações prestadas
pelos responsáveis actuais da administração local. Só em Teka dya Kinda,
no concelho de Quela, terão morrido 68 pessoas. Em 20 de agosto de 1979,
Agostinho Neto, então Presidente de Angola, visitou o local onde foi erigido
um monumento, e descerrou uma placa com a seguinte mensagem: “Honremos
os heróis da Baixa do Cassange”.
Não se apresentam ainda bem claras as razões da sublevação no Cassange,
no início do ano de 1961. Causas meramente laborais não justificam de modo
algum os acontecimentos. Teremos certamente de chamar à colação outras de
ordem social e políticas, quer internas, quer internacionais e avaliar friamente
eventuais aproveitamentos manifestamente manipulados ou distorcidos da rea-
lidade histórica. Ultrapassado que vai meio século sobre os factos, algumas
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dúvidas persistem ainda. E, enquanto os historiadores não se debruçarem mais
sobre o assunto, fiquemos com o saber de um dos melhores autores da história
de Angola, o americano Douglas Wheeler.
“Apesar da debilidade do colonialismo português, apesar do terrível balanço
de perda de vidas humanas dos trágicos acontecimentos de 1961, a gover-
nação portuguesa foi melhorando a situação do povo de Angola. E, apesar
de todas as críticas que se possam fazer, a verdade é que, entre todos os
grupos europeus em África, foram os portugueses quem manteve relações
mais amistosas e racionalmente descomplexadas com os negros africanos.”
Douglas Wheeler - História de Angola - p.349
AGRADECIMENTOS
Os meus agradecimentos à Direcção do Núcleo do Porto, da Liga dos Comba-
tentes, muito especialmente ao Sr. Tenente-Coronel Modesto Fernandes, pelo
total apoio e disponibilidade da Biblioteca do Núcleo, cuja consulta se revelou
de muita utilidade para a elaboração deste trabalho.
Obrigado igualmente ao Coronel David Martelo pelo grande exemplo de histo-
riador destas matérias, o que constituiu um incentivo precioso para esta minha
aventura de “velha caravela”, por mares e terras que atravessei há cerca de
meio século, e pela sua sempre disponibilidade generosa para me aturar.
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