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Direito Constitucional Luso e Brasileiro No Âmbito Da Pacificaç

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Pedro Trovao do Rosario Luciene Dal Ri Denise Hammerschmidt Coordenadores Carlos Eduardo Figueiredo Fernando de Paula G. Ferreira Luiz Carlos Avila Junior Organizadores DIREITO CONSTITUCIONAL LUSO E BRASILEIRO NO AMBITO DA PACIFICACAO SOCIAL o eee Ce Le ee CE eat Denise Hammerschmidt ara ay Presto oar aay Luciene Da Ri Lucyléa Goncalves Franga Meer mins eros Nara Pinheiro Rei Ayres de Britto Pedro Trovdo do Rosario Pro OU Ser eat eter) ET; 1) Visite nossa pigina na web wwe editorialjurua.com _eomail: [email protected] Pedro Troyao do Rosario Luciene Dal Ri Denise Hammerschmidt Coordenadores AA presente obra foi aprovada pelo Conselbo Editorial Cientfico da Ju Edlors adotando-se 0 sistema blind view (avalagao 8s cegas). A avaliac2o inominadl garante a isengao e imparciaidade do corpo de_pareceristas e a autonomia Wo Conselho Editorial, consoante a5 exigéncas das agencies e instuigdes de avaliagha, aestando a exceléncia do material que ora publicamos e apresentamos & sociedad, Luiz Carlos Avila Junior ernando de Paula G. Ferreira Carlos Eduardo Figueiredo Organizadores IREITO CONSTITUCIONAL A revisao ortogréfica desta obra foi realizada pelos mérios dos préprios autores, JURUA EDITORIAL Europa - Rua General Tors, 1.220 Los 18 ¢ 18 Te: +351 228 710 600 ‘Cerro Comercial D Ouro - 4400-096 — Via Nova de GalaPorta - Portugal Brasil - Av. Munnoz da Rocha, 143 ~ Juvewé — Tek: +55 (1) 4008-3900 Fax: (41) 3252-1311 ~ CEP: 80.030.475 ~ Curtiba ~ Parana - Brasi ISBN: 978-989-712-670-3, Depésito Lega: 468212019 Eaditores: Luiz Augusto de Oliveira Junior Francine Marie Carvalho de Oliveira DIREITO CONSTITUCIONAL LUSO E BRASILEIRO NO AMBITO DA PACIFICAGAO SOCIAL ‘Alex Sander Xaver Pires ‘Nexandre José Mendes Anja Bote LUSO E BRASILEIRO NO AMBITO DA PACIFICAGAO SOCIAL Colaboradores: Jeison Giovani Heller ‘Jnatas EM. Machado Lciene Dal Ri Anusha Felskida Siva _Lucyléa Gongaves Franga Direito constitucional luso e brasileiro no ambito da pi Ccalos Eduardo Figuetedo Luiz Carlos Avia Juror social / coord. Pedro Trovao do Rosario, Luciene Dal R Claudio Cameo Mata Joo Guia Hammerschmiat; org. Luiz. Carlos Avila Junior, Femando de Paula Daniel de Nello Massimino Nara Pineiro Rois Ayes de Brito G., Ferreira, Carlos Eduardo Figueiredo Denise Hammerschmidt Pedro Trovo do Rosério ISBN eT 989 112-00 023 Femando de Paula G. Feeira Ruben Bahamonde 1 ROSARIO, Pedro Trovao do, 1968 GibertoGiacoia Sarah Maria Linhares de Arjo Paes de Souza H—DAL RI, Luciene, 1981- Ill - HAMMERSCHMIDT, Denise, 1963- IV — JUNIOR, Luiz Carlos Avila, 1972- Helena Schiessi Cardoso V—FERREIRA, Fernando de Paula G., 1978- VI- FIGUEIREDO, Carlos Eduardo, 1972- Porto cou 4 690494 Editorial Jurué 2020 Capitulo V DISCURSO DE ODIO NA DEMOCRACIA: INIMIGO iNTIMO DA CONSTITUICAO? HATE SPEECH IN DEMOCRAC INTIMATE ENEMY OF CONSTITUTION? Luiz Carlos Avila Junior’ ‘Suindrio: Inrodugdo; 1. Democracia; 2. Liberdade de express © Sandro: iretios 3. Amigo ta democracia, inimigo da Constiwigao: 4. ConsideragBes finais: 5. Referéncias. FResumo: O ensaio aimeja perquirir a liberdade de expresso, come Retin inelia nd democracia, sob a premissa de sua allicngtd Cow, condicao ns, Mente amc, gaka imporudncla 0 etudd 96 @ sexmitdo on tolerado o discurso de édio ou se esse & coibido pela cconstituigdo. cutarras-chave: Liberdade de expressdo, Discurso de dio. Const cionalismo. Limites. Inimigo. “iboraet, The essay aims 10 pursue freedom of expression, oo Abeta dion in democracy, on the premise of #8 use as 4 hale ch Innis environment is important to stuly whee’ tote speech sperryed or tolerated or iit is constrained by the constittion ta Freedom of expression. Hate speech, Consttutionalis Limits. Enemy: TAavogado, Doutorando em Ciéncts Juries pela Universidade Sonor de Lisboa, ne ean Dito Consttucona. Mesre em Cifncas Jules Universidae ee rea Taal nivale pela Universidad de Alicante spanks) [=m regime de doola tla), Pés-Graduado em Direito Penal Esondmicn 6 "orn pelo IDPEE dona ufo a Univeaiade de Coimbra, Bacharel em Dist Pip Cn En Sor egos Campos Gerais ~ CESCAGE. E-mail: jnion@avisiunos ad bt. Be Santas: tp ates enna br3415162026748966>. 0 Lie Carlos Avila Junior INTRODUCAO A proposta do presente ensaio é partindo da premissa de que 0 discurso de ddio, seja com este nome, ou com qualquer outro, remontam a antiguidade se constituem em um dos maiores obsticulos para cons- trugio e manutengdo de uma convivéncia harménica e pacifica entre os homens. A liberdade de expresso ganhou hi muito tempo relevancia, sendo um dos pilares da democracia, contudo 0 que aqui se desenvolve & ‘9 crucial conflito em o exercicio da liberdade de palavra, sentimentos € agbes frente ao reconhecimento da dignidade humana, esta tomada como um bem inegociavel. problema juridico que almeja ser respondido é: se a democra- cia singelamente tomada como a possibilidade de cada um promover sua manifestagao, legitima 0 discurso de édio, ponderando 0 risco dessa li- berdade converter-se em inimigo intimo da Constituigao. A hipétese consiste na construgao € manutengo do pluralismo de ideias e direitos de forma consensual, sustentavel, responsivel com 0 compromisso das geragdes futuras, tomando-se em conta a metaética constitucional, de forma real e ndo abstrata para manutengao de processos vidveis da liberdade de expressio, sentimentos e agdes com o reconheci- mento da dignidade humana. Nesse estudo limitou-se a utilizagaio do método indutivo. Os problemas assentados ao longo da investiga¢ao conclamam perspectivas historicas, culturais, filoséfi jcas € até morais, contudo 0 estu- do limitou-se & dogmética e 4 interdisciplinaridade inerente 20 Direito Constitucional, de sorte que eventuais andlises nessas perspectivas tém 0. objetivo de situar a opinido do pesquisador dentro do contexto investiga- tivo e conduzir a conclusdes substantivas inerentes ao discurso de édio na’ democracia e a inquietude quanto a ser inimigo da Constituigao. (© método indutivo baseou-se no que expde Cesar Luiz, Pasold: pesquisar e identificar as partes de um fendmeno e colecioné-las de modo 8 ter uma percepgdo ou conclusto geral”. Utilizou-se ainda parcialmente do método comparativo’ sincrd= nico, sob a consideragaio de que todos os juristas so chamados a interes: Utilizou-se como metodotopia de pesquisa: LAREN7, Karl. Metodologia da Ciéncia ido Direito, Tradagio de José Lamego, Lisbos: Fundagio Calouste Gulbenkian, 20125 PASOLD, Cesir Luiz, Metodologia da Pesquisa Juridica: Teoria e Pritiea. 12.04, ‘S30 Paulo: Conceito, 2011 5A metodologia empregada quanto ao direito comparado baseou-se em: ALMEIDA, Carlos Ferreira de; CARVALHO, Jorge Morais. Introdugio ao Direito Comparado, 5. ed. — Coimbra: Almedina, 2013; DAVID, René. Os grandes sistemas do direita ‘contemporneo. 5. ed So Paulo: Martins Fontes, 2014. Direito Consttucional Luso e Brasileiro no Ambito da Pi icagdo Social 91 sar-se pelo direito comparado, quer para melhor compreenderem o seu proprio direito, quer para tentarem aperfeigoar, ou, ainda, para estabele- ver, de acordo com os juristas dos paises estrangeiras, regras de conflito ‘ou de fundo uniformes ou uma harmonizagaio dos diversos direitos", ( ensaio foi dividido em trés capitulos. O Capitulo 1 dedicado 440 marco da democracia. © Capitulo 2 traz apontamentos e fundamenta- eo cientifiea quanto ao discurso de ddio. Apés o estabelecimento das premissas mencionadas nos Capitulos | e 2, sempre com 0 objetivo de situar 0 estado da arte, o Capitulo 3 debruga-se sobre a construgio se 0 dliscurso de ddio é ou nao inimigo da constituigao. Desnecessirio mencionar, que 0 ensaio ndo tem a pretensio de ‘esgotar o assunto, destina-se modestamente a servir de ponto de partida para maiores reflexdes em torno do discurso de édio na democracia e a inquictude quanto a ser inimigo intimo da Constituigao. 1 DEMOCRACIA, __Remonta a antiguidade o idedrio de um sistema politico em que 0 participantes considerem-se iguais, de forma a tomarem decisdes sobe- ranas, Roberth A. Dahl explica que: Durante a primeira metade do século V a.C., ocorrew uma transfor- ‘macdo nas ideias e insttuigdes politicas entre os gregos e romanos, ‘compariivel em importincia historica & invengdo da roda ou d desco- berta do Novo Mundo, Essa mudanga refletia una nova compreensiio do mundo e de suas possibilidades. Descrito de maneira simples, 0 que ocorreu foi que diversas cidades- Estado, que desde tempos inemoriais haviam sido dominadas por va- ros governantes nao demoerdticos, fossem eles aristrocratas, oligar- ‘eas, monarcas ow tiranos, transformaram-se em sistemas nos quais um mimero substancial de homens adultos ¢ livres adquiriram o diret- 10 como cidadaos, de participar diretamente do governo’ Carlos Blanco de Morais, registra em termos histéricos que: Etimologicamente “democracia” & oriunda dos termos gregos “de- mos” (povo) e “kratos” (governo), significando "governo do povo ‘ou governo derivado da vontade do povo, tendo sido uilizada com al- DAVID, René. Os grandes sistemas do direito contemporiineo. p. 12 DAHL, Robert A. A democracia e seus eriticus. Sto Paulo: WMF Martins Fontes, 2012. p17. Luiz Carlos Avila Junior gum sarcasmo ow desdém pelos seus adversiirios na Anti Classica, como expressao do dominio das classes inferiores®. ‘Sao intimeros os relatos de agdes democraticas tomadas na guidade, contudo como adverte Robert Dahl’, nao podemos simp aceitar que a democracia (existente a mais de 2.500 anos) foi se ex} do até os dias de hoje, o que muito embora possa ser construido sob narrativa romntica € alsa, Falsa porque mesmo na antiguidade e até tempos mais mé ‘nos essa participagdo popular (demos) no governo (kratos) eram de privilégios, ninguém desconhece que a participagio por muito te se limitou a classes patrimoniais, até 1965 0 voto feminino no Brasil cera equiparado a0 do homem, em Portugal somente apos 25 de abi 1974 as mulheres tiveram diteito de participagdo integral © sem soes®, 5 relatos de Fustel Coulanges", na obra “A cidade Anti evidenciam que 0 homem antigo nao possuia nenhuma independé com telago as leis da cidade, fosse seu corpo ou seus bens sempre e vam a disposigao da polis, as decisdes de conteado pessoal e intimo, ‘mo casamento, celibato e vestimentas submetiam-se a pdlis, a religiosa era ditada pela polis. Observa-se entdo que faltava, dentre ‘tos, um elemento para uma democracia ampla: A Liberdade, © MORAIS, Carlos tlanco. O sistema politico no contexto da erosio da democra rrepresentativa, Coimbra: Almedina, 2018. p. 67, DAHL, Robert A. Sobre a democracia. Brasilia: Universidade de Brasilia, 2016, 1735, Efetivamente as mulheres participaram de escolhas democriticas em periodos ant +s, contudo diversamente dos homens, tinham condigBes especifieas eomo serem | teiras ¢ deterem pattiminio, serem chefe de familia, serem de repotagao ilibada, ainda ser facultative (e desincentivado) a partcipagio. Criticamente aponta Juan-Ramon Capella: “Evia democracia ideal no ha exis ‘materialmente jams: ta delimitacién del pueblo. politica suele dejar fucra consideracién a tena parte del pueblo real, Asi acurria entre los atenienses, imventores de la palabra “democracia", que excluian del pueblo a los trabujalores (esclavas), asi en tos Estados Unidos, donde a las aftoumericanos, tras salir de Ta esclavitud, les costd decenios adguirir el derecho a votar y mas. todavia ef de Inseribirse para votar; asi ha ocurrido en regimenes considerados.democréticod ‘eropens, cuando se excluia a las mujeres del pueblo politico: y asi oeurre ahora euando se hace exactamente to mismo con trabajadores innigrantes.” CAPELLA, Juan-Ramén. Un fin del mundo: Constitueidn y democracia en el cambio de poea, Madrid: Trotta, 2019. p. 100, " COULANGES, Fustel, A cidade iga. Rio de Janeiro: Ediouro, 1990, p. 158-159. Direito Consttucional Luso e Brasileiro no Ambito ideia de Lil it direitos préprios Esta ideia de Liberdade como limite a certos dire vidontdads ‘homem, segundo Noberto Bobbio, foi estabelecida in Locke: ic do mais da sociedade, 0 Paloma Biglino Campos, esclarece que: pont Hobe, eh eta mansec et en de dist re nrc wear rac ta lgmbres, em el estado de nauralese,gozan pacieaments du libertad, igualdad y propriedade, pero necesitan pe! ae ”mo um tad ton iene pers ace oe mane cciudadanos™. No contexto discurso de édio e democracia, hd entretanto uma sagem, que a historia relata merecendo ser trazida, segundo Gustavo yprebelsky: tava entre impor uma decisdo unilateral, que seria a berg te J . eer fa a ea nes sarees Pitatos, porém, escolhew outra possibilidade. Ele apelow ao povo ‘abrindo assim um processo “democratico camps 192.7. 8 DOR, Novo Are sion ing Ro de no Cn 27 88 IFO, Plo ina, Rats ta Mberda stad conte een As yocracia. Sio Paulo: Saraiva, PROREDELSKY, cist A crciearh © 8 dem 2012. p.31 94 Luiz Carlos Avila Junior ___ Referida passagem' abre uma serie de aspectos a discussio: um angulo o principio da igualdade que coloca tanto Jesus quanto Bat ‘bas como criminosos e sujeitos ao mesmo processo de julgamento, igual dade ¢ liberdade ao povo para sua escolha; a verdade e a falsidade, 0 € 0 mal no podem depender de fato, do niimero e das opinides"*: que clamor popular no € bom conselheiro ou ainda o quanto as multid podem ser tomadas por agdes sentimentais ou emotivas. Gustavo Zagrebelsky, define seu posi Se considerarmos a condenacio de Jesus por meio do conjunto de fares que a determinaram aparece com evidencia que tatoo do diuanto a skepss podem conviver com a cemocracia, mas condos Zem da democracta um insrumonto, Tanto o dogmaco quanto o ct ¢o podem ser amigos da democracia, mas somente com flsos a 08 O dosmitico pote acetar a demoacraciasomente se ¢ até quant ferve como forg, ima frca para inporaverdade ec oro we areal om nad on jell. Se fr realmente cco, ndo encontrard menkuama razdo Jerr a demoeracia @ntocracia. Ou melhor. encontrar ta raza ndo na fé em algum principio, mas em uma conveniéncia'®. De fato isto € democritico pela propria realidade, mas nao é tuma demoeracia amparada no constitucionalismo por um conjunto metaé tico, e sim por oportunismo (interesse proprio) ou dogmatica, que resul- tam em servirem-se da democracia para objetivos egoisticos. Conclui Gustavo Zagrebelsky que: 4 sss das formas de pensamento~ opostas no fiamento, mat contergntes na instrumentalzagao — unt tora da democracia eo mmo fn'endo apenas como meto deve saber conrapor sea outro pet Samenta que nto pretenda pssnr a verdade ea unica mas ane Considerensesata ona busca. Este pensamento da passblidede cond tem sempre a aberura para a pesquisa £0 Seu posaado ¢ a parva lencia exrutra de toda stagto em que nos podemosencontar Sal exizénca erica ndo€-a verde oo ustgacbsoltas, como para espinodogmateo, mat entre todas ds posibiiddes, abuse ore tad para'© melhor: ua exigénet ue somente 0 espirt radicae mete cio poeta negar, en nome de ma tonegdo absolut red Yirada Somente para o pensameno da possblidade, a democracy Avot i lo prs poi se omar como argument ou fname to quae aspect religion no aso mencionad” Moo menos sera ui de al fato ou verdade. 7 — © ZAGREBELSKY, Gustvo, A cruciieasto ea demorraci 33. "Idem. a ‘além de um meio, pode ser wm fim e por isso, além de servir, deve ser servida, A democracia que assume como prépria essa atitude do espi- rio di-se o nome de democracia critica’ Embora a passagem citada seja exemplo de democracia direta, € tus democracias modemas predominantemente siio democracias representa- tivas, hd uma certa tendéncia diante da erosio da representatividade de cada vez mais se dar voz a democracia direta, De outra banda, como trata- remos nesse ensaio de liberdade de manifestagio ou mais propriamente do discurso de édio é certo que a participacao direta tem pontual aplicagio. Note-se que a democracia ¢ constitucionalismo so pilares do pensamento politico contemporineo, especialmente sob a premissa do liberalismo, do qual o mundo ocidental ¢ predominantemente filho'*, sendo objetivo primordial do constitucionalismo a limitagaio do Estado ‘em face do cidadio, a democracia busca conferir aos cidadios efetiva participagdo nas tomadas de decisdes politica. Segundo Miguel Gualano de Godoy: Buscando a eonciliagdo dos vatores tiberais e da soberania popular, ‘a democracia deliberativa parte da ideia de que procedimenros ade- ‘quados de deliberacdo tornariam possivel a obtengdo de um acordo ‘que pudesse satisfazer, ao mesmo tempo. os ideais de racionalidade e legitimidade exigidos para um aprofndamemo da democracia®. F conhecida a formulagao de Lincoln quanto a “esséncia” da demoeracia: “governo do povo, pelo povo e para 0 povo”. Ainda hoje se considera esta formulagio como a sintese lapidar dos momentos funda- mentais do principio democratico™. Do ensinamento de J.J. Gomes Canotilho, tem-se que a Consti- tuigiio ao evocar 0 principio democritico nao o faz por uma teoria em abstrato, mas sim amparada em uma realidade historica, na medida ¢ forma que Ihe empresta a Constituigao, Filipa Raimundo, referindo-se a questiio meméria e democracia explica que: “Ha dois aspectos que definem a forma como se constréi a meméria historica de um povo: em primeiro lugar, frequéncia com que " ZAGREBELSKY, Gustavo, A erueificago ea demoeracia. p. 34 HERRERA, Alejandro, Estudio introductoro, Ja: ELSTER, Jon; SLAGSTAD, Rune, Constitucionalismo y demoeracia. México: FCF, 2017, p. 8 GODOY, Miguel Gualano, Constitucionalismo e democracia: uma letura a partir de Carlos Santiago Nino ¢ Roberto Gargarella. Sdo Paulo: 2012, p. 69. © CANOTILHDO, J.J, Gomes. Direito constitucional ¢ teoria da constituigdo, 7 Ed. 19 Reimp, ~ Coimbra: Almedina, 2018, p. 287. Luiz Carlos Avila Junior certos temas entram no debate piiblico ‘mo sao activados politicamente”!* que ndo ajustam constas com 0 muidade e de reconeiliagdo; as seu passado tendem a diminuir € em segundo lugar, a fo bem por isso é que: “As democ rassaco promovem discursos de democracias que ajustam contas 4 legitimidade de narrativas alte Norberto Bobbio, indaga: O tinico modo de se chegar a um acordo quando se fala de der cia, entendida como contraposta a todas as formas de governo critico, 6 0 de consideracla caracterizada por um conjanto de (primarias ou fundamentais) que estabelecem quem estd autor ‘tomar as decisoes coletivas e com quais procedimentox, entre 0 poder politico ou poder do Estado poder social-direto que equivale o exercicio das liberdades" esse al {ar traduz-se em conflito ¢ a solugao ou ao menos seu controle & essen @ sobrevivéncia do constitucionalismo, Nio se pode passar sem registro que sendo a democracia Gos Pilares do constitucionalismo, e portanto, é essencial a compreen dle que a norma fundamental deve manter-se integra mesmo tana ventuais escolhas majoritirias, ou seja, 0 constitucionalismo linia proprio pilar que € a democracia, Robert A. Dahl, democritico na atualidade, a necessidade oportunidades: Participagao efetiva; Igual eselarecido; controle do programa de pla tos”, fazendo-se necessri estabelece como critérios para um proce: de proporcionar as seguin Idade de voto; Entendime iigjamento; Inclusdo dos adul instituigdes que proporcionem e proteja Por isso temos claro que o fortalecimento da nge na deliberagio que ndo se limita a partici- Pago mas sim, a construgio de espagos deliberatives com o fortalecis ‘mento da cultura constitucional. RAIMUNDO. Flipa, Ditadura e democraci dos Santos, 2018, p09. Ibidem, p. 21 BOBBIO, Norberto, O futuro da demoeracia: wna defesa d Rio de Janciro‘Sao Paulo: Paz e Tetra, 2017, p38. ROSARIO, Pedro Trovdo do. A democracia semidirecta em Portugal, Madrid Universitas, 2013. p. 15. DAHL, Robert A. Sobre a demoeraci Thidem, p. 63, fas repras do jogo, 14. ed. p50, iberdade, que tem como fundamento central que a liberdade encontra reito Const 0 i ito da Paciticagio Social __ 97 Brasileiro no Ambito da P Direito jonal Lu LIBERDADE DE EXPRESSAO F DISCURSO DE ODIO ra nsito a democracia € a Leja ae Bn sor scomitan o debaic sobre ares publia © Consequentemen age provenham em beneficio de toda sociedade. ne rein) pensamento liberal de grande influ quanto a iberade expressto encontra-se em John Stuart Mill, na obra E F iferenga entre indivi- ros”, reconhecendo ampla di ism cegota’ 9qu eandaz a medidas leis para poet os mo ¢ egoismo egimas ros e medidas ilegitimas para nos proteger de nds mes > do Estado de ben-estar ortante, tle, que 0 surgimento de hes arial neu parente prvi, o Estado regan toran mais cil Pecan GL EL lividam essas questées que “sd dizem re: tty nde de apt secede may pre nts mpi de on de ean ot mr a cielo. Por um apc so ea lara lao Tice Mil a uma intron parraista: un maar ge Ser numira rac ata de morte eine cra de mo Itogo dino de scorn evr erm par ce, to ino one problema dele. Por outro lado, se, como & mauled so rian chee tom arco 4 ratanen madeo "ee poatectiia indo seria obrigado a minimizar 0 risco os gas {or dno como seu rauamerto? Onset at de otra mae sntrt com sua propria mprudencia casa dams “Soir qe nt geo fi ee en ap irda de srs mas a bed do, e aquilo a que se tem chamado 0 ina ibd de ormatn aa ee rou Ai Tash Caron ibe de expres Dez ips Ind inetd nbs ease Debts ~ Cielo etre, 2017.97 Peo que tm seve econhecemos a transformagiio soci Ferri casio nos orm si as croiesae ‘natureza constitucional como apto: = Peeper peeping JUNIOR, Luiz Carlos. Constituigs Se Cn pls cosums de rtrer contin ROSARIO, Pee Pesto ine avg nn ea foe Hrs Contemporaneae ort 218,5. 108-92. EVAN a nin, iJ Sut, Sobre era suo trutbere So Pir enguin Clases Compan se, Tid p38 Ibidem, p. 56. Luiz Carlos Avila Junior Na seara internacional, a liberdade de expressio é protegida pecialmente pelo art. 19 da Declarago Universal dos Dircitos Humi pelo art. 19 do Pacto Intemacional dos Direitos Civis e Politicos, pelo. 10 da Convengaio Européia de Direitos Humanos, pelo art. 13 da De 40 Americana de Direitos Humanos. Brasil nao cogitava essas liberdades no periodo coloni constituigo de 1824 consagrou a liberdade de expresso e impressa, tudo sem muita efetividade pritica, a de 1891 manteve as liberdades dando 0 anonimato, instituindo de forma ampla 0 uso de censura, Na Constituigdo de 1934 foi mantida a garantia ¢ proibigao anonimato, ampliando a censura e proibindo de forma expressa a “pi ganda de guerra ou de processos violentos para subverter a ordem némica e social”. A de 1937 manteve simbolicamente a liberdade de pressio mas instituiu a censura prévia ‘Com a redemocratizagiio em 1946 a liberdade de expressao resgatada, afastada a censura prévia, vedado o anonimato e proibiu pressamente a “propaganda de guerra, de processos violentos para verter a ordem politica e social, ou de preconceitos de raga ou de cla Entretanto com o golpe militar de 1964, ¢ através do Ato Instituci rnfimero 2 houve uma reduedo da liberdade de expressai. A Constituigdio de 1967 também manteve de forma simbélica liberdade de expressio, e ainda foi editado o Ato Institucional nimero que conferiu amplos poderes ao Presidente da Republica para cassar restringir direitos, inclusive quanto a liberdade de expresso e manites G0 politica, e ainda retirou tais atos da esfera de apreciagio do P Judiciario. A emenda Constitucional néimero 1 de 1969, deu redagao int ramente nova Constituigao de 1967, mantendo mais uma vez. camente a liberdade de expresso, acrescentando a proibigao de “} des e extetiorizagdes contririas & moral e aos bons costumes” ‘mentou ainda por meio de legislagdes especificas a censura prévia. Como se sabe, a historia da tiberdade de expressio e de inform no Brasil, é uma histéria acidentada. Convive com golpes cont golpes, sucessivas quebras de legalidade e pelo menos duas ditadu de longa duragdo: a do Estado Novo, entre 1937 ¢ 1945, e o Regi Militar, de 1964 a 1985. Desde o Império, a repressdo & manifestag do pensamemio elegeu alvos diversos, da religido as artes. As razdes invocadas eram sempre de Estado: seguranca nacional, ordem pili cca, bons costumes. Os motivas reais, como reera, apenas espalhavam Direito Consttucional Luso ¢ Brasileiro no Ambito da Pacificagdo Social ie ee ai aan es reins Bee a ee oe a a ee ce arse ee eee afl pl he a ee tae te a ey Bees ras ees i ee Somente com a Constituigo de 1988 que a liberdade de expres- lo foi resgatada e protegida como um objetivo de maxima importancia, a Constituigio Federal de 1988, reconhece e protege o direito a liberdade le expresso, expresso no Art. 5° JV ~ ¢ livre a manifestacdo do pensa- ‘mento, sendo vedado o anonimato; IX — é livre a expresso da atividade Ielectual, artistica, ciemifica e de comunicagdo, independentemente de ensura ow licenga; € no Art. 220 A manifestagdo do pensamento, a cria- {do, a expressio ea informagao, sob qualquer forma, processo ou veiculo io sofrerdo qualquer restricdo, observado o disposto nesta Constitui¢do. Portugal tem a liberdade de expressio prevista no art, 37 da Constituigao: 1 Todos tm o diet de exrini dvugar lnremente ose pens ‘mento pela palavra, pela imagem ou por qualquer ouiro meio, bem Como direto de hformar, de se informar e de ser informados, sem Jmpedimentos nem diseriminacdes. 2. O exercicio destes direitos nio pode ser impedido ou limitado por {qualquer tipo ou forma de censura: 3. As infiagoes cometidas no exercicio destes direitos ficam submeti- ‘das aos principios gerais de direito criminal ou do ilicito de mera or- dienacao social, sendo a sua apreciagao respetivamente da competén- © BARROSO, Luis Roberto, Colisio entre Liberdade de expresso e dreito da Persona~ lidade. Critzros de Ponderagio, Interpretagdo Constitucional Adequada do Cédigo Civile da Lei de Imprensa - os prineipios da constituiglo de 1988. Revista de Diteito [Administrative FGV n. 235, p. 1-36, 2004. Disponivel em: . Acesso em: 03 ago. 2019. Luiz Carlos Avila Junior LO eta dos tribunais judiciais ou de entidade administrativa indepe 46, nos termos da tet 4. A todas as pessoas, singulares ou coletivas, é assegurado, em digdes de igualdade e eficécia, o direito de resposta e de retific bem como o direito a indemnizacéo pelos danos sofridos. i resultam inci- welho da Europa aqueles baseados na intoleriincia, que resul piblica a violencia, ao ddio, discriminagao, insultos, difamagao $s. Segundo Alex Potiguar: E certo que Portugal e Brasil tem identidade com regimes Titarios e posteriormente com a redemocratizagao, sendo que ss restr 8 liberdade de expresso recaiam quase sempre sobre manifestagdes © Governo considerava uma ameaca ou afronta aos seus interesses, Nesse contexto podemos dizer que as limitagdes, nos re Autoritarios, eram graves eros. A atualidade revela a liberdade de ext Sto, salvo raros casos, é amplamente respeitada, tendo o Judiciario 4 do necessério conferindo efetividade e afastando restrigdes indevidas Justamente nessa arena de liberdade de expresso & que Surgindo questdes complexas, que envolvem a imposigao de limites a direito fundamental. Uma dessas complexidades é 0 chamado discurso, édio. i 0 ow intole- Ele & 0 diseurso que exprime wma ideia de ddio, desprezo ou int rréncia conira determinados. grupos, menasprecando-os, desqualifi- . Acesso em: 01 jul 2019, 7 so-d-s107 souogow < eno eyuau: ‘€9°4 L107 ‘sue {wou ured euo|29a0G “TNX ofS J> WHS PET SOUY januRyy :uojoaue4 “ope J eaIWo:)“mJOx2> ANON 5-4 -s10c Baty >F S09 ADU OP OBS? 200 s9z0f 28 ap ojuaunsuad op sapod 0 9 apopiad p Dtod 1008 oFBU OU 2 yey “osu oMaIOD wn we zmposd ae se Po Jas 220.0 odnu opeutuaep ap gnbsod o sea\jdxo vied Woais wreuaysns anb «sores no soa1Fojo9p! wiefEs» soanowy so ‘eo4|dx9 anb yds onxanuoa win asdwos way, epou op azine oBu oIpo ‘ozoudsap 0 oyox9 “vossad v oya.ip ouauunuas 1anbyenb sejuasade opu uno} ap “eunoy eys9 anb odnuz o wod Hs seul ‘o}219U09 WHO Seossad se }9 wdnaoaud 9s oBU OIp9 ap OSINaSIP 0 agjoud wwonb ‘onb 1G OHI On Ourouawe-syou zing op oqauEUOIDIsod o a1qaj90 9 OpHUDS assou 2ouaa selop! svoq audios anb opuas ‘apepioa vp vasng v witd aB10AU09 opssaidxo ap apepioqy| wrisauit 9 ejdure vjod oprxowiosd aregap 0 ani) euaUnsse OIp9 ap ossno% 9]0) anb Saquausod sep vill -sreuoronistiog suapio 2 sasted sou senULIsIp Seo} M08 osinasip op ogdenioae Y xd 9 vroUEY wIOUDAIAUOD ysqo SazoreUr Sop wn WHE suoo 9 apepriut we 0t1 OBS “o1po ap sosinastp so anb epianp WAS drut opeumuuarap Wil -oide ojuouteyuaszua nos oy ‘opvouds 70 9 O108 ou dopuoudiua> nungap expo fap ‘anb apuajap zaumeyy oy opuewia “ods ued wasozey sod ayuouisajduis. seu lunge oprsjos 19) od soustt ounut ‘svossad sossa 40d joadsa opu 28 anb oysioae ap ooyroadsa od, wn ‘0 moeye ap omuoumnse 0 gos ‘seossad LJ nOUISsESSE “1 107 + pug FuLysE siapuy 9 ossip aquasoud ojduoxo wip, Sip op sone op ovstisaiduiod y 9]UaLURAssN}Ox9 95-1 ‘esso Suu “upeorjsnf 9 [euOU apuaTuD JoIne o ‘epept SS For esos SebeaTSeg Bp OHGHEY Ow OND] ORT HUDIANATSUOS On=HIC TORU BAW SORE NT a 10 Luiz Carlos Avila Junior Direito Constitucional Luso ¢ Brasileiro no Ambito da Pacificagdo Social __105 © segundo problema € que se considerarmos que mer El problema de los discursos de odio se ha agravado con el uma instituigdo © que conduz a uma espécie de laissez-faire result fortaleciniento y 1a masificacién de los medios de comunicncii” ¥- favorecimento daqueles que tém mais recursos, maior acesso aos ‘con la era digital, ha legado apaiie. De ecaeniana ie at de comunicagao e até maior poder de persuasio. para poder decir que los discursos de odio represent ‘males principales que afligen a este nuestro siglo Partindo do reconhecimento que 0 mundo ¢ capitalista e cialmente desigual temos que muito certamente 0 discurso dos “ Também a globalizagiio traz impactos relevantes que toma 0 sé- sos” tende a prevalecer silenciando os exeluidos", 0 que permite posi lo XX1 aberto a novas fraturas, seja pela sangrante desigualdade, por narmos no sentido de que a adogao da doutrina do mercado de ideias correndo uma grande escala de fluxos migratorios, pelo ressurgi- apresenta eficacia, Wo de pensamentos lastreados no autoritarismo e nacionalismo, ou Para Joao Trindade Cavalcante Filho, © mercado de idcias por critérios étnicos e religiosos tudo isso faz pertinente a preocu- apresenta a adequada justificagao: Who com o discurso de édio. A ideia de livre mercado de ideias é quase wm lugar comum na trina e na jurisprudéncia americanas. A ideia de que abusos da lil AMIGO DA DEMOCRACIA, INIMIGO DA dlade de expressio se combatem com mais liberdade de expres CONSTITUICAO também nao & exatamente wna novidade. Contudo, a maneir ey "anea com que esses argumentos brotam no voto da maioria causa A doutrina eldssica, e até mesmo as construgdes de solugdes pe- pécie. Ndo sdo citados autores que defendam essas teses, nem se i is a im dos maiores E os tribunais, deixam evidente a pouea preocupagao com um $ ‘am precedentes em que tenham sido especifecmenteadotades: HMeitos ¢ objetives do diseurso de Odio que & neutralizar'¢ silenciar” ipsa pant rer er temas iiquele grupo ou pessoa, Owen Piss explica que: isicamente, la Tradicién de la libertad de expresién pude entenderse A construgio de “solugdes” quanto ao discurso de édio v Basicamente, la Trad mn fimo ana proteccion del orador de la esquina de una calle. Un sendo tarefa dos Tribunais, que adotam predominantemente cinco li anes protec el apie HEI Mi a ee ‘ria: [1] quando ha incitagao a violencia; [2] quando o disc Ciudad, comienca a criticar las medidas politicas del gobierno y es deter capacidade para afetar a mentalidade social, conduzindo a predi deni enonces por quebrantar op Em ese cove, ig sigdo a violéncia; [3] se o discurso ofende a dignidade da pessoa hum Primera Enmienda se contbe como una coraa, como 0 matt de U8} seo discurso tem capaidade de gra diseiminago e [5] sedis proteer a orador dtu deta postbiidad de ser seniad po so afeta a capacidade de convivéncia harmonica e pacifica" eae? Nao € objeto do presente estudo diseutir propriamente a forma que 0s Tribunais tem decidido, entretanto as cinco formas apresentadas revelam ao menos quais efeitos o discurso de édio pode causar ‘Nilo se olvide que a atualidade apresenta um agravamento: SQUIRE Sa Pl tn ae cay ‘destinatirios para que adotem determinada mancira de pensar ou que fomentem nee ee Silenciar implicar em atacar 0 que Francis Fukuyama chama de reconhecimento, Ver: FISS, Owen, Libertad de Expresién y Estructura Social. Mexico: Fontamata, aereapel raters barani: GASTANO Ali Ati Clon Sendo certo que o ser pessoa ¢ formado também pela resisténcia-confFontagao externa te La ierad de sxe ws lms de demuch ace “ ato o HgonGet inert de ExprestinyHstructrs Social Mei Feta, 200, P. i present danger Lui Carlos Avila Junior : Avia Direito Constitucional Luso ¢ Brasileiro no Ambito da Pacificagiio Social 107, Com base no exemplo acima, temos que consignar a preoct so com a presenga de um novo discurso de édio, que refoge do conceit classico, consistente em discursos voltados contra ideias politicas. Nessa quadra de raciocinio, quem silencia 0 orador € aquele qu urso de dio, sendo ainda mais grave quando esse diset imado pelo Estado ou por instituigdes do poder politico, para constituigao de um regime ‘Ue liberdade implica em si mesmo limites, para que todos possam partici- ir mantendo a pluralidade de ideias. Esse ¢ o paradoxo: se todos devem inicipar, todos os discursos so permitidos. Em regra, essa é a esséncia a democracia, e, portanto, a liberdade de expressao [que inclui 0 discur- sos de odio] é amiga da democracia. Sendo a liberdade de expresstio amiga da democracia ¢ preciso ir um pouco além, isto porque, ndo ha democracia sem Constituigdo. Nao fe olvide que a democracia” é contida pela norma fundamental que pro- Jota como pacto social, seja esse no viés de proporcionar uma sociedade elhor, de conferir mais seguranca ou da soma dessas duas hipdteses, ilo apenas formalmente mas materialmente até onde as leis podem ser feitas, por quem e como devem ser feitas, contendo a maioria e conferin- do valores humanisticos. Nao € crivel considerar que o Estado € 0 tinico responsivel pelo Wireito, A sociedade, seja pelas transformagdes sociais ou pelos costumes We natureza constitucional, & cada vez mais responsavel pelo direito, {iso aponta para a natureza inevitavelmente plural. r Por consequéneia ha trés questdes a serem resolvidas: a prime’ {0 sendo plural as ideias e direitos como podemos classificar as preten- hes de redugio ao singular, segunda porque compatibilizar essas dife- engas,e terceira como compatibilizar. A primeira questo, deve tomar em conta que a arena democri- {ica & formada pelos cidadios que fazem escolhas, sendo que todos so Wonsiderados iguais em direito e dignidade, isso pressupde um modelo plural e equilibrado, Quando a liberdade de expresso vertida sob a forma We discurso de ddio com a pretensio de reduzir o plural ao nico © abre aminho ao caos da incivilidade, a liberdade de expresstio passa de adver- Mirio, que compete ou rivaliza, para inimigo que pretende com hostilidade ‘ou aversio destruir a pluralidade. Por essa esséncia a Constituigdo & sempre limite. Limite a0 po- lor seja do Estado, da propria sociedade, da liberdade ou do progresso, ue devem estar harménicos entre si, sem qualquer hipétese de emanci- gto, quando qualquer um deles (que compée a esséncia da consttui- h) ‘escapa do limite torna-se inimigo, € por serem insitos a constituigao lmigo intimo. A constituigdo exige que 0 consenso [escolha democritica] seja formado de forma dialética e sempre aberto a revisio, numa perspectiva profere 0 Ele fe por conterem vicio de inconstitucionalidade™. A complexidade na modemidade € somada pela caracterizagao lum “tempo liquido”, expressio utilizada por Zygmunt Bauman, que conta do transito de uma modemidade sélida estavel a uma liquida voli de forma que as estruturas © mensagens ndo perduram no tempo para solidificar, rapidamente desaparecem dos marcos de referéncia. A fluidez, tamanha que se manifesta imediatamente com nwitter de 140 caracteres. Essa imediatez, e liquidez das mensagens e relagdes, podem a falsa impressdo de serem inofensivas ou de resultado pouco expressi a0 revés, sio absolutamente s6lidos os seus efeitos, com repercussdes qu perduram infinitamente mais, com o agravante da répida velocidade Propagagao. __ A doutrina sinaliza que as ideias inadequadas podem ser batidas com outras ideias, o que pressupde que possam ser expressadas ‘mesma arena com capacidade de impacto similar. Ocorre que essa capacidade similar resta ameagada pelos di cursos de édio proferido que neutraliza ou silencia o destinatario, inclusi ve sob a forma de desqualificagdo ou de estigmatizagao daquele, ¢ atenta contra toda a sociedade causando uma fratura na coesio soci tornando a cidadania debilitada, _ De tal forma que a preocupagio, com o efeito de silenciar neutralizar, seja por um discurso de ddio voltado a questdes raciais, _género, etnias, orientagdo sexual... ou por opinides politicas, reduz a pl ralidade de ideias de uma forma que entendemos que a discussio nao sobre igualdade ¢ liberdade, mas sim sobre liberdade ¢ liberdade. % Supremo Tribunal Federal. ADPF 548, Tribunal Pleno, jem 31.102 al ribunal Pleno, j. em 31.10.2018. Disponi em: , Acesso 31 ago. 2019, % Como escolhas dos cidados. Luiz Carlos Avila Junior relacional e nfo inerte, fetiva e jamais abstracta, propriamente ciclica que o direito transforma a sociedade e a sociedade transforma o direito, que portanto se afasta de uma construglo baseada apenas na represent 40 politica ou na soberania estatal e exige a construgao de um es deliberativo, que sempre estara limitado pela constituigdo material De forma enfitica a concepgiio ou pretensio de reduzir a ph lidade é absolutamente individualista e conduz a formagao impropria sociedades parciais rompendo com o pacto social ¢ tendendo a violar valores humanisticos da constituigao, de forma que o discurso de dio: inimigo intimo da constituigao. A segunda questio, i.e. porque devemos compatibilizar o ph lismo, exige uma breve considerago de que o pluralismo tem ao men tr8s geragdes, a primeira geragio que é antropolégica, e visa dar voz ‘ordens juridicas menos integradas a ordem juridica oficial, a exemplo indios. A segunda geragao tende a dar voz ao pluralismo no sentido. poli tico nacional. Ja a terceira geragao corresponde ao reconhecimento pluralismo como decorréncia dos valores universalizados pelo constit cionalismo como os direitos humanos, 0 equilibrio ecolégico, na cult da paz ou seja no complexo rool axiolégico do constitucionalismo temporiineo. A terceira geragio, sob a qual nos pautamos, infere a comp siio de que 0 constitucionalismo contemporineo é inspirado em val racionais, humanistas e que almejam coibir as tragédias do passado, isso estabelece um intrinseco dialogo em ser o jurista 0 guardiao da pt messas humanistas ¢ civilizatérias com o imperativo de tutela das des futuras, A relagdo Constituigao e tempo ¢ frequente nas discussdes tudos € revela o carater vivo da Constituigao, como um instrumento tutela voltado a perenidade, que atento ao movimento das transforma sociais do presente, projeta-se ao futuro com a memoria do pasado, mi tendo firme o carter material da Constituigao. Esta preocupagdo com as geragées futuras & pressuposto da m nutengao da paz, do equilibrie ecolégico, da protecio inabalivel da dif nidade da pessoa humana, do cariter humanista, ¢ da propria relativi so de diteitos sociais amparado em discurso de dio ou minimamente clamor social. E 0 passado, presente projetado para o futuro que permit ‘o que se chama de pacto entre geragoes -agdo Social__109 Direito Constitucional Luso ¢ Brasileiro no Ambito da Paci A ética da responsabilidade que bem desenvolveu Hans Jonas*, sim como a ética da poupanca justa que John Rawls” sustenta, permite wna ampliagao para além da protegdo a natureza, e do capital para uma [protegio ao futuro de contetidos humanistas que permitam a harmonia & ‘oesio social. A dignidade da pessoa humana é pedra angular do const {ucionalismo contemporiineo, sendo o cere da necessidade de compatbi Jizacao e principalmente de Timitagao ou restrigao da liberdade de expres- ‘lo notadamente quando passa a ser discurso de édio. Ao terceiro ponto, «como compatibilizar ou limitar» a liberdade de expresso deve-se compreender que a questio é que nestes conflitos inlo se pode adotar 0 critério de “tudo ou nada”, é preciso encontrar um ‘aminho que no leve & derrotabilidade da liberdade de expressio, ¢ man- Aenha inabalivel os demais valores constitucionais, sendo mister com- preender que no se interpreta a Constituigdo em tiras, aos pedagos™, as hhormas constitucionais devem ser vistas nao como normas isoladas, mas ‘como preceitos integrados. Por isso, ¢ retomando o conceito da Constituigao como limite, & legitima a restrigiio ou compatibilizagao através da proporcionalidade’ ‘ da ponderacdo™. Nao hi qualquer possibitidade de se atribuir primazia absolut a qualquer garantia individual. A imposigao restrtiva de limites a liberdade de expresso torna- se evidente quando se esta diante de caso que essa liberdade afronta ou fumeaga outras garantias, inclusive e especialmente da construgdo de uma sociedade harménica e coesa. E necessério ainda na restriga0 ou compatibilizagao da tolerin- cia com a inclusio em uma perspectiva que respeitando o.pluralismo esteja atenta para o multiculturalismo, fomentando a educagao em direi- tos humanos e nas responsabilidades que implicam no exercicio dos mesmos. % JONAS, Hans. O prineipio da responsabilidade: ensaio de uma étca para eiviliza- ‘Glo tecnolgica. Rio de Janeiro: Contraponto, 2006. © RAWLS, John. Uma teoria da justiga. Sio Paulo: Martins Fontes, 2016. % GRAU, Bros Roberto. A ordem econdmica na constituigio de 1988 (interpretagio ). 16 ed. So Paulo: Malhires, 2014, p. 161 © Ver: BARAK, Aharon. Proporcionalidad: los derechos fundamentales y sus resric« cones. Lima: Palestra, 2017, Ver: BARCELLOS, Ana Paula. 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Uma democracia forte e efetiva ¢ freada pelo carter material Constituigao que legitima a restrigao a liberdade de expressio coil discurso de édio com especial proposito da manutengao e construgao uma sociedade em que a dignidade da pessoa humana ¢ os direitos damentais mantenham-se respeitados, de forma construir uma soci livre, justa e solidaria, promovendo 0 bem de todos sem preconceitos discriminagao. 5 REFERENCIAS DAS FONTES CITADAS ASH, Tiny Garon Lberdade de express: Dez principe para um mundo interigado, soa: € Osbtes~ Creu deLetres 2097 ae re BARROSO, Luis Robo. Colo ene Libera de exressdoe dei da Personaldade. Crtéros Fenda, ieretio Cotton Adeunta do Cogn ie das de meron’ os sone arsuio de 1983, Revista de Dirto Administrative FOV n. 235 ~ p13, Jom. Seenee hos ibotecadgtal gx sindex phptalrtavew S512. BOBBIO, Norbert. Aera dos dts, Taree Ri de ance: Canpus, 1992 (0 futuro da democracia: uma dtesa das regas do jogo. 4 eR deans Paul: Page 'BRUGGER, Wintod. 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