Pedro Trovao do Rosario
Luciene Dal Ri
Denise Hammerschmidt
Coordenadores
Carlos Eduardo Figueiredo
Fernando de Paula G. Ferreira
Luiz Carlos Avila Junior
Organizadores
DIREITO CONSTITUCIONAL
LUSO E BRASILEIRO
NO AMBITO DA PACIFICACAO SOCIAL
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Denise Hammerschmidt
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Luciene Da Ri
Lucyléa Goncalves Franga
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Nara Pinheiro Rei Ayres de Britto
Pedro Trovdo do Rosario
Pro
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Pedro Troyao do Rosario
Luciene Dal Ri
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adotando-se 0 sistema blind view (avalagao 8s cegas). A avaliac2o inominadl
garante a isengao e imparciaidade do corpo de_pareceristas e a autonomia Wo
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aestando a exceléncia do material que ora publicamos e apresentamos & sociedad,
Luiz Carlos Avila Junior
ernando de Paula G. Ferreira
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IREITO CONSTITUCIONAL
A revisao ortogréfica desta obra foi realizada pelos mérios dos préprios autores,
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Eaditores: Luiz Augusto de Oliveira Junior
Francine Marie Carvalho de Oliveira
DIREITO CONSTITUCIONAL LUSO E BRASILEIRO NO AMBITO
DA PACIFICAGAO SOCIAL
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‘Nexandre José Mendes
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LUSO E BRASILEIRO
NO AMBITO DA PACIFICAGAO SOCIAL
Colaboradores:
Jeison Giovani Heller
‘Jnatas EM. Machado
Lciene Dal Ri
Anusha Felskida Siva _Lucyléa Gongaves Franga
Direito constitucional luso e brasileiro no ambito da pi Ccalos Eduardo Figuetedo Luiz Carlos Avia Juror
social / coord. Pedro Trovao do Rosario, Luciene Dal R Claudio Cameo Mata Joo Guia
Hammerschmiat; org. Luiz. Carlos Avila Junior, Femando de Paula Daniel de Nello Massimino Nara Pineiro Rois Ayes de Brito
G., Ferreira, Carlos Eduardo Figueiredo Denise Hammerschmidt Pedro Trovo do Rosério
ISBN eT 989 112-00 023 Femando de Paula G. Feeira Ruben Bahamonde
1 ROSARIO, Pedro Trovao do, 1968 GibertoGiacoia Sarah Maria Linhares de Arjo Paes de Souza
H—DAL RI, Luciene, 1981-
Ill - HAMMERSCHMIDT, Denise, 1963-
IV — JUNIOR, Luiz Carlos Avila, 1972-
Helena Schiessi Cardoso
V—FERREIRA, Fernando de Paula G., 1978-
VI- FIGUEIREDO, Carlos Eduardo, 1972- Porto
cou 4 690494 Editorial Jurué
2020Capitulo V
DISCURSO DE ODIO NA DEMOCRACIA:
INIMIGO iNTIMO DA CONSTITUICAO?
HATE SPEECH IN DEMOCRAC
INTIMATE ENEMY OF CONSTITUTION?
Luiz Carlos Avila Junior’
‘Suindrio: Inrodugdo; 1. Democracia; 2. Liberdade de express ©
Sandro: iretios 3. Amigo ta democracia, inimigo da Constiwigao:
4. ConsideragBes finais: 5. Referéncias.
FResumo: O ensaio aimeja perquirir a liberdade de expresso, come
Retin inelia nd democracia, sob a premissa de sua allicngtd Cow,
condicao ns, Mente amc, gaka imporudncla 0 etudd 96 @
sexmitdo on tolerado o discurso de édio ou se esse & coibido pela
cconstituigdo.
cutarras-chave: Liberdade de expressdo, Discurso de dio. Const
cionalismo. Limites. Inimigo.
“iboraet, The essay aims 10 pursue freedom of expression, oo
Abeta dion in democracy, on the premise of #8 use as 4 hale
ch Innis environment is important to stuly whee’ tote speech
sperryed or tolerated or iit is constrained by the constittion
ta Freedom of expression. Hate speech, Consttutionalis
Limits. Enemy:
TAavogado, Doutorando em Ciéncts Juries pela Universidade Sonor de Lisboa,
ne ean Dito Consttucona. Mesre em Cifncas Jules Universidae
ee rea Taal nivale pela Universidad de Alicante spanks) [=m regime de
doola tla), Pés-Graduado em Direito Penal Esondmicn 6 "orn pelo IDPEE
dona ufo a Univeaiade de Coimbra, Bacharel em Dist Pip Cn En
Sor egos Campos Gerais ~ CESCAGE. E-mail: jnion@avisiunos ad bt.
Be Santas: tp ates enna br3415162026748966>.0 Lie Carlos Avila Junior
INTRODUCAO
A proposta do presente ensaio é partindo da premissa de que 0
discurso de ddio, seja com este nome, ou com qualquer outro, remontam
a antiguidade se constituem em um dos maiores obsticulos para cons-
trugio e manutengdo de uma convivéncia harménica e pacifica entre os
homens.
A liberdade de expresso ganhou hi muito tempo relevancia,
sendo um dos pilares da democracia, contudo 0 que aqui se desenvolve &
‘9 crucial conflito em o exercicio da liberdade de palavra, sentimentos €
agbes frente ao reconhecimento da dignidade humana, esta tomada como
um bem inegociavel.
problema juridico que almeja ser respondido é: se a democra-
cia singelamente tomada como a possibilidade de cada um promover sua
manifestagao, legitima 0 discurso de édio, ponderando 0 risco dessa li-
berdade converter-se em inimigo intimo da Constituigao.
A hipétese consiste na construgao € manutengo do pluralismo
de ideias e direitos de forma consensual, sustentavel, responsivel com 0
compromisso das geragdes futuras, tomando-se em conta a metaética
constitucional, de forma real e ndo abstrata para manutengao de processos
vidveis da liberdade de expressio, sentimentos e agdes com o reconheci-
mento da dignidade humana.
Nesse estudo limitou-se a utilizagaio do método indutivo. Os
problemas assentados ao longo da investiga¢ao conclamam perspectivas
historicas, culturais, filoséfi jcas € até morais, contudo 0 estu-
do limitou-se & dogmética e 4 interdisciplinaridade inerente 20 Direito
Constitucional, de sorte que eventuais andlises nessas perspectivas tém 0.
objetivo de situar a opinido do pesquisador dentro do contexto investiga-
tivo e conduzir a conclusdes substantivas inerentes ao discurso de édio na’
democracia e a inquietude quanto a ser inimigo da Constituigao.
(© método indutivo baseou-se no que expde Cesar Luiz, Pasold:
pesquisar e identificar as partes de um fendmeno e colecioné-las de modo
8 ter uma percepgdo ou conclusto geral”.
Utilizou-se ainda parcialmente do método comparativo’ sincrd=
nico, sob a consideragaio de que todos os juristas so chamados a interes:
Utilizou-se como metodotopia de pesquisa: LAREN7, Karl. Metodologia da Ciéncia
ido Direito, Tradagio de José Lamego, Lisbos: Fundagio Calouste Gulbenkian, 20125
PASOLD, Cesir Luiz, Metodologia da Pesquisa Juridica: Teoria e Pritiea. 12.04,
‘S30 Paulo: Conceito, 2011
5A metodologia empregada quanto ao direito comparado baseou-se em: ALMEIDA,
Carlos Ferreira de; CARVALHO, Jorge Morais. Introdugio ao Direito Comparado,
5. ed. — Coimbra: Almedina, 2013; DAVID, René. Os grandes sistemas do direita
‘contemporneo. 5. ed So Paulo: Martins Fontes, 2014.
Direito Consttucional Luso e Brasileiro no Ambito da Pi
icagdo Social 91
sar-se pelo direito comparado, quer para melhor compreenderem o seu
proprio direito, quer para tentarem aperfeigoar, ou, ainda, para estabele-
ver, de acordo com os juristas dos paises estrangeiras, regras de conflito
‘ou de fundo uniformes ou uma harmonizagaio dos diversos direitos",
( ensaio foi dividido em trés capitulos. O Capitulo 1 dedicado
440 marco da democracia. © Capitulo 2 traz apontamentos e fundamenta-
eo cientifiea quanto ao discurso de ddio. Apés o estabelecimento das
premissas mencionadas nos Capitulos | e 2, sempre com 0 objetivo de
situar 0 estado da arte, o Capitulo 3 debruga-se sobre a construgio se 0
dliscurso de ddio é ou nao inimigo da constituigao.
Desnecessirio mencionar, que 0 ensaio ndo tem a pretensio de
‘esgotar o assunto, destina-se modestamente a servir de ponto de partida
para maiores reflexdes em torno do discurso de édio na democracia e a
inquictude quanto a ser inimigo intimo da Constituigao.
1 DEMOCRACIA,
__Remonta a antiguidade o idedrio de um sistema politico em que
0 participantes considerem-se iguais, de forma a tomarem decisdes sobe-
ranas, Roberth A. Dahl explica que:
Durante a primeira metade do século V a.C., ocorrew uma transfor-
‘macdo nas ideias e insttuigdes politicas entre os gregos e romanos,
‘compariivel em importincia historica & invengdo da roda ou d desco-
berta do Novo Mundo, Essa mudanga refletia una nova compreensiio
do mundo e de suas possibilidades.
Descrito de maneira simples, 0 que ocorreu foi que diversas cidades-
Estado, que desde tempos inemoriais haviam sido dominadas por va-
ros governantes nao demoerdticos, fossem eles aristrocratas, oligar-
‘eas, monarcas ow tiranos, transformaram-se em sistemas nos quais
um mimero substancial de homens adultos ¢ livres adquiriram o diret-
10 como cidadaos, de participar diretamente do governo’
Carlos Blanco de Morais, registra em termos histéricos que:
Etimologicamente “democracia” & oriunda dos termos gregos “de-
mos” (povo) e “kratos” (governo), significando "governo do povo
‘ou governo derivado da vontade do povo, tendo sido uilizada com al-
DAVID, René. Os grandes sistemas do direito contemporiineo. p. 12
DAHL, Robert A. A democracia e seus eriticus. Sto Paulo: WMF Martins Fontes,
2012. p17.Luiz Carlos Avila Junior
gum sarcasmo ow desdém pelos seus adversiirios na Anti
Classica, como expressao do dominio das classes inferiores®.
‘Sao intimeros os relatos de agdes democraticas tomadas na
guidade, contudo como adverte Robert Dahl’, nao podemos simp
aceitar que a democracia (existente a mais de 2.500 anos) foi se ex}
do até os dias de hoje, o que muito embora possa ser construido sob
narrativa romntica € alsa,
Falsa porque mesmo na antiguidade e até tempos mais mé
‘nos essa participagdo popular (demos) no governo (kratos) eram
de privilégios, ninguém desconhece que a participagio por muito te
se limitou a classes patrimoniais, até 1965 0 voto feminino no Brasil
cera equiparado a0 do homem, em Portugal somente apos 25 de abi
1974 as mulheres tiveram diteito de participagdo integral © sem
soes®,
5 relatos de Fustel Coulanges", na obra “A cidade Anti
evidenciam que 0 homem antigo nao possuia nenhuma independé
com telago as leis da cidade, fosse seu corpo ou seus bens sempre e
vam a disposigao da polis, as decisdes de conteado pessoal e intimo,
‘mo casamento, celibato e vestimentas submetiam-se a pdlis, a
religiosa era ditada pela polis. Observa-se entdo que faltava, dentre
‘tos, um elemento para uma democracia ampla: A Liberdade,
© MORAIS, Carlos tlanco. O sistema politico no contexto da erosio da democra
rrepresentativa, Coimbra: Almedina, 2018. p. 67,
DAHL, Robert A. Sobre a democracia. Brasilia: Universidade de Brasilia, 2016,
1735,
Efetivamente as mulheres participaram de escolhas democriticas em periodos ant
+s, contudo diversamente dos homens, tinham condigBes especifieas eomo serem |
teiras ¢ deterem pattiminio, serem chefe de familia, serem de repotagao ilibada,
ainda ser facultative (e desincentivado) a partcipagio.
Criticamente aponta Juan-Ramon Capella: “Evia democracia ideal no ha exis
‘materialmente jams: ta delimitacién del pueblo. politica suele dejar fucra
consideracién a tena parte del pueblo real, Asi acurria entre los atenienses,
imventores de la palabra “democracia", que excluian del pueblo a los trabujalores
(esclavas), asi en tos Estados Unidos, donde a las aftoumericanos, tras salir de Ta
esclavitud, les costd decenios adguirir el derecho a votar y mas. todavia ef de
Inseribirse para votar; asi ha ocurrido en regimenes considerados.democréticod
‘eropens, cuando se excluia a las mujeres del pueblo politico: y asi oeurre ahora
euando se hace exactamente to mismo con trabajadores innigrantes.” CAPELLA,
Juan-Ramén. Un fin del mundo: Constitueidn y democracia en el cambio de
poea, Madrid: Trotta, 2019. p. 100,
" COULANGES, Fustel, A cidade
iga. Rio de Janeiro: Ediouro, 1990, p. 158-159.
Direito Consttucional Luso e Brasileiro no Ambito
ideia de Lil it direitos préprios
Esta ideia de Liberdade como limite a certos dire
vidontdads ‘homem, segundo Noberto Bobbio, foi estabelecida
in Locke:
ic do mais da sociedade, 0
Paloma Biglino Campos, esclarece que:
pont Hobe, eh eta mansec et en de dist
re nrc wear rac ta
lgmbres, em el estado de nauralese,gozan pacieaments du
libertad, igualdad y propriedade, pero necesitan pe!
ae ”mo um
tad ton iene pers ace oe mane
cciudadanos™.
No contexto discurso de édio e democracia, hd entretanto uma
sagem, que a historia relata merecendo ser trazida, segundo Gustavo
yprebelsky:
tava entre impor uma decisdo unilateral, que seria a berg te J .
eer fa a ea nes
sarees
Pitatos, porém, escolhew outra possibilidade. Ele apelow ao povo
‘abrindo assim um processo “democratico
camps 192.7. 8
DOR, Novo Are sion ing Ro de no Cn 27 88
IFO, Plo ina, Rats ta Mberda stad conte
een As yocracia. Sio Paulo: Saraiva,
PROREDELSKY, cist A crciearh © 8 dem
2012. p.3194 Luiz Carlos Avila Junior
___ Referida passagem' abre uma serie de aspectos a discussio:
um angulo o principio da igualdade que coloca tanto Jesus quanto Bat
‘bas como criminosos e sujeitos ao mesmo processo de julgamento, igual
dade ¢ liberdade ao povo para sua escolha; a verdade e a falsidade, 0
€ 0 mal no podem depender de fato, do niimero e das opinides"*: que
clamor popular no € bom conselheiro ou ainda o quanto as multid
podem ser tomadas por agdes sentimentais ou emotivas.
Gustavo Zagrebelsky, define seu posi
Se considerarmos a condenacio de Jesus por meio do conjunto de
fares que a determinaram aparece com evidencia que tatoo do
diuanto a skepss podem conviver com a cemocracia, mas condos
Zem da democracta um insrumonto, Tanto o dogmaco quanto o ct
¢o podem ser amigos da democracia, mas somente com flsos a
08 O dosmitico pote acetar a demoacraciasomente se ¢ até quant
ferve como forg, ima frca para inporaverdade
ec oro we areal om nad on
jell. Se fr realmente cco, ndo encontrard menkuama razdo
Jerr a demoeracia @ntocracia. Ou melhor. encontrar ta raza
ndo na fé em algum principio, mas em uma conveniéncia'®.
De fato isto € democritico pela propria realidade, mas nao é
tuma demoeracia amparada no constitucionalismo por um conjunto metaé
tico, e sim por oportunismo (interesse proprio) ou dogmatica, que resul-
tam em servirem-se da democracia para objetivos egoisticos.
Conclui Gustavo Zagrebelsky que:
4 sss das formas de pensamento~ opostas no fiamento, mat
contergntes na instrumentalzagao — unt tora da democracia eo
mmo fn'endo apenas como meto deve saber conrapor sea outro pet
Samenta que nto pretenda pssnr a verdade ea unica mas ane
Considerensesata ona busca. Este pensamento da passblidede cond
tem sempre a aberura para a pesquisa £0 Seu posaado ¢ a parva
lencia exrutra de toda stagto em que nos podemosencontar Sal
exizénca erica ndo€-a verde oo ustgacbsoltas, como para
espinodogmateo, mat entre todas ds posibiiddes, abuse ore
tad para'© melhor: ua exigénet ue somente 0 espirt radicae
mete cio poeta negar, en nome de ma tonegdo absolut red
Yirada Somente para o pensameno da possblidade, a democracy
Avot i lo prs poi se omar como argument ou fname
to quae aspect religion no aso mencionad” Moo menos sera ui de al
fato ou verdade. 7 —
© ZAGREBELSKY, Gustvo, A cruciieasto ea demorraci
33.
"Idem. a
‘além de um meio, pode ser wm fim e por isso, além de servir, deve ser
servida, A democracia que assume como prépria essa atitude do espi-
rio di-se o nome de democracia critica’
Embora a passagem citada seja exemplo de democracia direta, €
tus democracias modemas predominantemente siio democracias representa-
tivas, hd uma certa tendéncia diante da erosio da representatividade de
cada vez mais se dar voz a democracia direta, De outra banda, como trata-
remos nesse ensaio de liberdade de manifestagio ou mais propriamente do
discurso de édio é certo que a participacao direta tem pontual aplicagio.
Note-se que a democracia ¢ constitucionalismo so pilares do
pensamento politico contemporineo, especialmente sob a premissa do
liberalismo, do qual o mundo ocidental ¢ predominantemente filho'*,
sendo objetivo primordial do constitucionalismo a limitagaio do Estado
‘em face do cidadio, a democracia busca conferir aos cidadios efetiva
participagdo nas tomadas de decisdes politica.
Segundo Miguel Gualano de Godoy:
Buscando a eonciliagdo dos vatores tiberais e da soberania popular,
‘a democracia deliberativa parte da ideia de que procedimenros ade-
‘quados de deliberacdo tornariam possivel a obtengdo de um acordo
‘que pudesse satisfazer, ao mesmo tempo. os ideais de racionalidade e
legitimidade exigidos para um aprofndamemo da democracia®.
F conhecida a formulagao de Lincoln quanto a “esséncia” da
demoeracia: “governo do povo, pelo povo e para 0 povo”. Ainda hoje se
considera esta formulagio como a sintese lapidar dos momentos funda-
mentais do principio democratico™.
Do ensinamento de J.J. Gomes Canotilho, tem-se que a Consti-
tuigiio ao evocar 0 principio democritico nao o faz por uma teoria em
abstrato, mas sim amparada em uma realidade historica, na medida ¢
forma que Ihe empresta a Constituigao,
Filipa Raimundo, referindo-se a questiio meméria e democracia
explica que: “Ha dois aspectos que definem a forma como se constréi a
meméria historica de um povo: em primeiro lugar, frequéncia com que
" ZAGREBELSKY, Gustavo, A erueificago ea demoeracia. p. 34
HERRERA, Alejandro, Estudio introductoro, Ja: ELSTER, Jon; SLAGSTAD, Rune,
Constitucionalismo y demoeracia. México: FCF, 2017, p. 8
GODOY, Miguel Gualano, Constitucionalismo e democracia: uma letura a partir de
Carlos Santiago Nino ¢ Roberto Gargarella. Sdo Paulo: 2012, p. 69.
© CANOTILHDO, J.J, Gomes. Direito constitucional ¢ teoria da constituigdo, 7 Ed. 19
Reimp, ~ Coimbra: Almedina, 2018, p. 287.Luiz Carlos Avila Junior
certos temas entram no debate piiblico
‘mo sao activados politicamente”!*
que ndo ajustam constas com 0
muidade e de reconeiliagdo; as
seu passado tendem a diminuir
€ em segundo lugar, a fo
bem por isso é que: “As democ
rassaco promovem discursos de
democracias que ajustam contas
4 legitimidade de narrativas alte
Norberto Bobbio, indaga:
O tinico modo de se chegar a um acordo quando se fala de der
cia, entendida como contraposta a todas as formas de governo
critico, 6 0 de consideracla caracterizada por um conjanto de
(primarias ou fundamentais) que estabelecem quem estd autor
‘tomar as decisoes coletivas e com quais procedimentox,
entre 0 poder politico ou poder do Estado
poder social-direto que equivale o exercicio das liberdades" esse al
{ar traduz-se em conflito ¢ a solugao ou ao menos seu controle & essen
@ sobrevivéncia do constitucionalismo,
Nio se pode passar sem registro que sendo a democracia
Gos Pilares do constitucionalismo, e portanto, é essencial a compreen
dle que a norma fundamental deve manter-se integra mesmo tana
ventuais escolhas majoritirias, ou seja, 0 constitucionalismo linia
proprio pilar que € a democracia,
Robert A. Dahl,
democritico na atualidade, a necessidade
oportunidades: Participagao efetiva; Igual
eselarecido; controle do programa de pla
tos”, fazendo-se necessri
estabelece como critérios para um proce:
de proporcionar as seguin
Idade de voto; Entendime
iigjamento; Inclusdo dos adul
instituigdes que proporcionem e proteja
Por isso temos claro que o fortalecimento da
nge na deliberagio que ndo se limita a partici-
Pago mas sim, a construgio de espagos deliberatives com o fortalecis
‘mento da cultura constitucional.
RAIMUNDO. Flipa, Ditadura e democraci
dos Santos, 2018, p09.
Ibidem, p. 21
BOBBIO, Norberto, O futuro da demoeracia: wna defesa d
Rio de Janciro‘Sao Paulo: Paz e Tetra, 2017, p38.
ROSARIO, Pedro Trovdo do. A democracia semidirecta em Portugal, Madrid
Universitas, 2013. p. 15.
DAHL, Robert A. Sobre a demoeraci
Thidem, p. 63,
fas repras do jogo, 14. ed.
p50,
iberdade, que tem como fundamento central que a liberdade encontra
reito Const 0 i ito da Paciticagio Social __ 97
Brasileiro no Ambito da P
Direito jonal Lu
LIBERDADE DE EXPRESSAO F DISCURSO DE ODIO
ra
nsito a democracia € a Leja ae
Bn sor scomitan o debaic sobre ares publia © Consequentemen
age provenham em beneficio de toda sociedade. ne
rein) pensamento liberal de grande influ quanto a iberade
expressto encontra-se em John Stuart Mill, na obra E
F iferenga entre indivi-
ros”, reconhecendo ampla di
ism cegota’ 9qu eandaz a medidas leis para poet os
mo ¢ egoismo egimas
ros e medidas ilegitimas para nos proteger de nds mes
> do Estado de ben-estar
ortante, tle, que 0 surgimento de hes
arial neu parente prvi, o Estado regan toran mais cil
Pecan GL EL lividam essas questées que “sd dizem re:
tty nde de apt secede may pre
nts mpi de on de ean ot mr
a cielo. Por um apc so ea lara lao
Tice Mil a uma intron parraista: un maar ge
Ser numira rac ata de morte eine cra de mo
Itogo dino de scorn evr erm par ce, to
ino one problema dele. Por outro lado, se, como & mauled
so rian chee tom arco 4 ratanen madeo "ee
poatectiia indo seria obrigado a minimizar 0 risco os gas
{or dno como seu rauamerto? Onset at de otra mae
sntrt com sua propria mprudencia casa dams
“Soir qe nt geo fi ee en ap irda de
srs mas a bed do, e aquilo a que se tem chamado 0
ina ibd de ormatn aa ee
rou Ai Tash Caron ibe de expres Dez ips
Ind inetd nbs ease Debts ~ Cielo etre, 2017.97
Peo que tm seve econhecemos a transformagiio soci
Ferri casio nos orm si
as croiesae ‘natureza constitucional como apto: =
Peeper peeping JUNIOR, Luiz Carlos. Constituigs
Se Cn pls cosums de rtrer contin ROSARIO, Pee
Pesto ine avg nn ea
foe Hrs Contemporaneae ort 218,5. 108-92.
EVAN a nin, iJ Sut, Sobre era suo
trutbere So Pir enguin Clases Compan se,
Tid p38
Ibidem, p. 56.Luiz Carlos Avila Junior
Na seara internacional, a liberdade de expressio é protegida
pecialmente pelo art. 19 da Declarago Universal dos Dircitos Humi
pelo art. 19 do Pacto Intemacional dos Direitos Civis e Politicos, pelo.
10 da Convengaio Européia de Direitos Humanos, pelo art. 13 da De
40 Americana de Direitos Humanos.
Brasil nao cogitava essas liberdades no periodo coloni
constituigo de 1824 consagrou a liberdade de expresso e impressa,
tudo sem muita efetividade pritica, a de 1891 manteve as liberdades
dando 0 anonimato, instituindo de forma ampla 0 uso de censura,
Na Constituigdo de 1934 foi mantida a garantia ¢ proibigao
anonimato, ampliando a censura e proibindo de forma expressa a “pi
ganda de guerra ou de processos violentos para subverter a ordem
némica e social”. A de 1937 manteve simbolicamente a liberdade de
pressio mas instituiu a censura prévia
‘Com a redemocratizagiio em 1946 a liberdade de expressao
resgatada, afastada a censura prévia, vedado o anonimato e proibiu
pressamente a “propaganda de guerra, de processos violentos para
verter a ordem politica e social, ou de preconceitos de raga ou de cla
Entretanto com o golpe militar de 1964, ¢ através do Ato Instituci
rnfimero 2 houve uma reduedo da liberdade de expressai.
A Constituigdio de 1967 também manteve de forma simbélica
liberdade de expressio, e ainda foi editado o Ato Institucional nimero
que conferiu amplos poderes ao Presidente da Republica para cassar
restringir direitos, inclusive quanto a liberdade de expresso e manites
G0 politica, e ainda retirou tais atos da esfera de apreciagio do P
Judiciario.
A emenda Constitucional néimero 1 de 1969, deu redagao int
ramente nova Constituigao de 1967, mantendo mais uma vez.
camente a liberdade de expresso, acrescentando a proibigao de “}
des e extetiorizagdes contririas & moral e aos bons costumes”
‘mentou ainda por meio de legislagdes especificas a censura prévia.
Como se sabe, a historia da tiberdade de expressio e de inform
no Brasil, é uma histéria acidentada. Convive com golpes cont
golpes, sucessivas quebras de legalidade e pelo menos duas ditadu
de longa duragdo: a do Estado Novo, entre 1937 ¢ 1945, e o Regi
Militar, de 1964 a 1985. Desde o Império, a repressdo & manifestag
do pensamemio elegeu alvos diversos, da religido as artes. As razdes
invocadas eram sempre de Estado: seguranca nacional, ordem pili
cca, bons costumes. Os motivas reais, como reera, apenas espalhavam
Direito Consttucional Luso ¢ Brasileiro no Ambito da Pacificagdo Social
ie ee ai aan
es reins Bee a ee oe a
a ee ce arse
ee eee
afl pl he a
ee tae te a ey Bees
ras ees i ee
Somente com a Constituigo de 1988 que a liberdade de expres-
lo foi resgatada e protegida como um objetivo de maxima importancia, a
Constituigio Federal de 1988, reconhece e protege o direito a liberdade
le expresso, expresso no Art. 5° JV ~ ¢ livre a manifestacdo do pensa-
‘mento, sendo vedado o anonimato; IX — é livre a expresso da atividade
Ielectual, artistica, ciemifica e de comunicagdo, independentemente de
ensura ow licenga; € no Art. 220 A manifestagdo do pensamento, a cria-
{do, a expressio ea informagao, sob qualquer forma, processo ou veiculo
io sofrerdo qualquer restricdo, observado o disposto nesta Constitui¢do.
Portugal tem a liberdade de expressio prevista no art, 37 da
Constituigao:
1 Todos tm o diet de exrini dvugar lnremente ose pens
‘mento pela palavra, pela imagem ou por qualquer ouiro meio, bem
Como direto de hformar, de se informar e de ser informados, sem
Jmpedimentos nem diseriminacdes.
2. O exercicio destes direitos nio pode ser impedido ou limitado por
{qualquer tipo ou forma de censura:
3. As infiagoes cometidas no exercicio destes direitos ficam submeti-
‘das aos principios gerais de direito criminal ou do ilicito de mera or-
dienacao social, sendo a sua apreciagao respetivamente da competén-
© BARROSO, Luis Roberto, Colisio entre Liberdade de expresso e dreito da Persona~
lidade. Critzros de Ponderagio, Interpretagdo Constitucional Adequada do Cédigo
Civile da Lei de Imprensa - os prineipios da constituiglo de 1988. Revista de Diteito
[Administrative FGV n. 235, p. 1-36, 2004. Disponivel em:
. Acesso em: 03 ago. 2019.Luiz Carlos Avila Junior LO
eta dos tribunais judiciais ou de entidade administrativa indepe
46, nos termos da tet
4. A todas as pessoas, singulares ou coletivas, é assegurado, em
digdes de igualdade e eficécia, o direito de resposta e de retific
bem como o direito a indemnizacéo pelos danos sofridos.
i resultam inci-
welho da Europa aqueles baseados na intoleriincia, que resul
piblica a violencia, ao ddio, discriminagao, insultos, difamagao
$s.
Segundo Alex Potiguar:
E certo que Portugal e Brasil tem identidade com regimes
Titarios e posteriormente com a redemocratizagao, sendo que ss restr
8 liberdade de expresso recaiam quase sempre sobre manifestagdes
© Governo considerava uma ameaca ou afronta aos seus interesses,
Nesse contexto podemos dizer que as limitagdes, nos re
Autoritarios, eram graves eros. A atualidade revela a liberdade de ext
Sto, salvo raros casos, é amplamente respeitada, tendo o Judiciario 4
do necessério conferindo efetividade e afastando restrigdes indevidas
Justamente nessa arena de liberdade de expresso & que
Surgindo questdes complexas, que envolvem a imposigao de limites a
direito fundamental. Uma dessas complexidades é 0 chamado discurso,
édio.
i 0 ow intole-
Ele & 0 diseurso que exprime wma ideia de ddio, desprezo ou int
rréncia conira determinados. grupos, menasprecando-os, desqualifi-
. Acesso em: 01 jul 2019,7 so-d-s107
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TORU BAW SORE NT a10 Luiz Carlos Avila Junior
Direito Constitucional Luso ¢ Brasileiro no Ambito da Pacificagdo Social __105
© segundo problema € que se considerarmos que mer El problema de los discursos de odio se ha agravado con el
uma instituigdo © que conduz a uma espécie de laissez-faire result fortaleciniento y 1a masificacién de los medios de comunicncii” ¥-
favorecimento daqueles que tém mais recursos, maior acesso aos ‘con la era digital, ha legado apaiie. De ecaeniana ie at
de comunicagao e até maior poder de persuasio. para poder decir que los discursos de odio represent
‘males principales que afligen a este nuestro siglo
Partindo do reconhecimento que 0 mundo ¢ capitalista e
cialmente desigual temos que muito certamente 0 discurso dos “ Também a globalizagiio traz impactos relevantes que toma 0 sé-
sos” tende a prevalecer silenciando os exeluidos", 0 que permite posi lo XX1 aberto a novas fraturas, seja pela sangrante desigualdade, por
narmos no sentido de que a adogao da doutrina do mercado de ideias correndo uma grande escala de fluxos migratorios, pelo ressurgi-
apresenta eficacia, Wo de pensamentos lastreados no autoritarismo e nacionalismo, ou
Para Joao Trindade Cavalcante Filho, © mercado de idcias por critérios étnicos e religiosos tudo isso faz pertinente a preocu-
apresenta a adequada justificagao: Who com o discurso de édio.
A ideia de livre mercado de ideias é quase wm lugar comum na
trina e na jurisprudéncia americanas. A ideia de que abusos da lil AMIGO DA DEMOCRACIA, INIMIGO DA
dlade de expressio se combatem com mais liberdade de expres CONSTITUICAO
também nao & exatamente wna novidade. Contudo, a maneir ey
"anea com que esses argumentos brotam no voto da maioria causa A doutrina eldssica, e até mesmo as construgdes de solugdes pe-
pécie. Ndo sdo citados autores que defendam essas teses, nem se i
is a im dos maiores
E os tribunais, deixam evidente a pouea preocupagao com um $
‘am precedentes em que tenham sido especifecmenteadotades: HMeitos ¢ objetives do diseurso de Odio que & neutralizar'¢ silenciar”
ipsa pant rer er temas iiquele grupo ou pessoa, Owen Piss explica que:
isicamente, la Tradicién de la libertad de expresién pude entenderse
A construgio de “solugdes” quanto ao discurso de édio v Basicamente, la Trad mn
fimo ana proteccion del orador de la esquina de una calle. Un
sendo tarefa dos Tribunais, que adotam predominantemente cinco li anes protec el apie HEI Mi a ee
‘ria: [1] quando ha incitagao a violencia; [2] quando o disc Ciudad, comienca a criticar las medidas politicas del gobierno y es
deter capacidade para afetar a mentalidade social, conduzindo a predi deni enonces por quebrantar op Em ese cove, ig
sigdo a violéncia; [3] se o discurso ofende a dignidade da pessoa hum Primera Enmienda se contbe como una coraa, como 0 matt de
U8} seo discurso tem capaidade de gra diseiminago e [5] sedis proteer a orador dtu deta postbiidad de ser seniad po
so afeta a capacidade de convivéncia harmonica e pacifica" eae?
Nao € objeto do presente estudo diseutir propriamente a forma
que 0s Tribunais tem decidido, entretanto as cinco formas apresentadas
revelam ao menos quais efeitos o discurso de édio pode causar
‘Nilo se olvide que a atualidade apresenta um agravamento:
SQUIRE Sa Pl tn ae
cay ‘destinatirios para que adotem determinada mancira de pensar ou que fomentem nee
ee Silenciar implicar em atacar 0 que Francis Fukuyama chama de reconhecimento,
Ver: FISS, Owen, Libertad de Expresién y Estructura Social. Mexico: Fontamata,
aereapel raters barani: GASTANO Ali Ati Clon Sendo certo que o ser pessoa ¢ formado também pela resisténcia-confFontagao externa
te La ierad de sxe ws lms de demuch ace “
ato o HgonGet inert de ExprestinyHstructrs Social Mei Feta, 200,
P.
i present dangerLui Carlos Avila Junior :
Avia Direito Constitucional Luso ¢ Brasileiro no Ambito da Pacificagiio Social 107,
Com base no exemplo acima, temos que consignar a preoct
so com a presenga de um novo discurso de édio, que refoge do conceit
classico, consistente em discursos voltados contra ideias politicas.
Nessa quadra de raciocinio, quem silencia 0 orador € aquele qu
urso de dio, sendo ainda mais grave quando esse diset
imado pelo Estado ou por instituigdes
do poder politico, para constituigao de um regime
‘Ue liberdade implica em si mesmo limites, para que todos possam partici-
ir mantendo a pluralidade de ideias. Esse ¢ o paradoxo: se todos devem
inicipar, todos os discursos so permitidos. Em regra, essa é a esséncia
a democracia, e, portanto, a liberdade de expressao [que inclui 0 discur-
sos de odio] é amiga da democracia.
Sendo a liberdade de expresstio amiga da democracia ¢ preciso
ir um pouco além, isto porque, ndo ha democracia sem Constituigdo. Nao
fe olvide que a democracia” é contida pela norma fundamental que pro-
Jota como pacto social, seja esse no viés de proporcionar uma sociedade
elhor, de conferir mais seguranca ou da soma dessas duas hipdteses,
ilo apenas formalmente mas materialmente até onde as leis podem ser
feitas, por quem e como devem ser feitas, contendo a maioria e conferin-
do valores humanisticos.
Nao € crivel considerar que o Estado € 0 tinico responsivel pelo
Wireito, A sociedade, seja pelas transformagdes sociais ou pelos costumes
We natureza constitucional, & cada vez mais responsavel pelo direito,
{iso aponta para a natureza inevitavelmente plural.
r Por consequéneia ha trés questdes a serem resolvidas: a prime’
{0 sendo plural as ideias e direitos como podemos classificar as preten-
hes de redugio ao singular, segunda porque compatibilizar essas dife-
engas,e terceira como compatibilizar.
A primeira questo, deve tomar em conta que a arena democri-
{ica & formada pelos cidadios que fazem escolhas, sendo que todos so
Wonsiderados iguais em direito e dignidade, isso pressupde um modelo
plural e equilibrado, Quando a liberdade de expresso vertida sob a forma
We discurso de ddio com a pretensio de reduzir o plural ao nico © abre
aminho ao caos da incivilidade, a liberdade de expresstio passa de adver-
Mirio, que compete ou rivaliza, para inimigo que pretende com hostilidade
‘ou aversio destruir a pluralidade.
Por essa esséncia a Constituigdo & sempre limite. Limite a0 po-
lor seja do Estado, da propria sociedade, da liberdade ou do progresso,
ue devem estar harménicos entre si, sem qualquer hipétese de emanci-
gto, quando qualquer um deles (que compée a esséncia da consttui-
h) ‘escapa do limite torna-se inimigo, € por serem insitos a constituigao
lmigo intimo.
A constituigdo exige que 0 consenso [escolha democritica] seja
formado de forma dialética e sempre aberto a revisio, numa perspectiva
profere 0
Ele
fe por conterem vicio de inconstitucionalidade™.
A complexidade na modemidade € somada pela caracterizagao
lum “tempo liquido”, expressio utilizada por Zygmunt Bauman, que
conta do transito de uma modemidade sélida estavel a uma liquida voli
de forma que as estruturas © mensagens ndo perduram no tempo para
solidificar, rapidamente desaparecem dos marcos de referéncia. A fluidez,
tamanha que se manifesta imediatamente com nwitter de 140 caracteres.
Essa imediatez, e liquidez das mensagens e relagdes, podem
a falsa impressdo de serem inofensivas ou de resultado pouco expressi
a0 revés, sio absolutamente s6lidos os seus efeitos, com repercussdes qu
perduram infinitamente mais, com o agravante da répida velocidade
Propagagao.
__ A doutrina sinaliza que as ideias inadequadas podem ser
batidas com outras ideias, o que pressupde que possam ser expressadas
‘mesma arena com capacidade de impacto similar.
Ocorre que essa capacidade similar resta ameagada pelos di
cursos de édio proferido que neutraliza ou silencia o destinatario, inclusi
ve sob a forma de desqualificagdo ou de estigmatizagao daquele, ¢
atenta contra toda a sociedade causando uma fratura na coesio soci
tornando a cidadania debilitada,
_ De tal forma que a preocupagio, com o efeito de silenciar
neutralizar, seja por um discurso de ddio voltado a questdes raciais,
_género, etnias, orientagdo sexual... ou por opinides politicas, reduz a pl
ralidade de ideias de uma forma que entendemos que a discussio nao
sobre igualdade ¢ liberdade, mas sim sobre liberdade ¢ liberdade.
% Supremo Tribunal Federal. ADPF 548, Tribunal Pleno, jem 31.102
al ribunal Pleno, j. em 31.10.2018. Disponi
em: , Acesso
31 ago. 2019,
% Como escolhas dos cidados.Luiz Carlos Avila Junior
relacional e nfo inerte, fetiva e jamais abstracta, propriamente ciclica
que o direito transforma a sociedade e a sociedade transforma o direito,
que portanto se afasta de uma construglo baseada apenas na represent
40 politica ou na soberania estatal e exige a construgao de um es
deliberativo, que sempre estara limitado pela constituigdo material
De forma enfitica a concepgiio ou pretensio de reduzir a ph
lidade é absolutamente individualista e conduz a formagao impropria
sociedades parciais rompendo com o pacto social ¢ tendendo a violar
valores humanisticos da constituigao, de forma que o discurso de dio:
inimigo intimo da constituigao.
A segunda questio, i.e. porque devemos compatibilizar o ph
lismo, exige uma breve considerago de que o pluralismo tem ao men
tr8s geragdes, a primeira geragio que é antropolégica, e visa dar voz
‘ordens juridicas menos integradas a ordem juridica oficial, a exemplo
indios. A segunda geragao tende a dar voz ao pluralismo no sentido. poli
tico nacional. Ja a terceira geragao corresponde ao reconhecimento
pluralismo como decorréncia dos valores universalizados pelo constit
cionalismo como os direitos humanos, 0 equilibrio ecolégico, na cult
da paz ou seja no complexo rool axiolégico do constitucionalismo
temporiineo.
A terceira geragio, sob a qual nos pautamos, infere a comp
siio de que 0 constitucionalismo contemporineo é inspirado em val
racionais, humanistas e que almejam coibir as tragédias do passado,
isso estabelece um intrinseco dialogo em ser o jurista 0 guardiao da pt
messas humanistas ¢ civilizatérias com o imperativo de tutela das
des futuras,
A relagdo Constituigao e tempo ¢ frequente nas discussdes
tudos € revela o carater vivo da Constituigao, como um instrumento
tutela voltado a perenidade, que atento ao movimento das transforma
sociais do presente, projeta-se ao futuro com a memoria do pasado, mi
tendo firme o carter material da Constituigao.
Esta preocupagdo com as geragées futuras & pressuposto da m
nutengao da paz, do equilibrie ecolégico, da protecio inabalivel da dif
nidade da pessoa humana, do cariter humanista, ¢ da propria relativi
so de diteitos sociais amparado em discurso de dio ou minimamente
clamor social. E 0 passado, presente projetado para o futuro que permit
‘o que se chama de pacto entre geragoes
-agdo Social__109
Direito Constitucional Luso ¢ Brasileiro no Ambito da Paci
A ética da responsabilidade que bem desenvolveu Hans Jonas*,
sim como a ética da poupanca justa que John Rawls” sustenta, permite
wna ampliagao para além da protegdo a natureza, e do capital para uma
[protegio ao futuro de contetidos humanistas que permitam a harmonia &
‘oesio social. A dignidade da pessoa humana é pedra angular do const
{ucionalismo contemporiineo, sendo o cere da necessidade de compatbi
Jizacao e principalmente de Timitagao ou restrigao da liberdade de expres-
‘lo notadamente quando passa a ser discurso de édio.
Ao terceiro ponto, «como compatibilizar ou limitar» a liberdade
de expresso deve-se compreender que a questio é que nestes conflitos
inlo se pode adotar 0 critério de “tudo ou nada”, é preciso encontrar um
‘aminho que no leve & derrotabilidade da liberdade de expressio, ¢ man-
Aenha inabalivel os demais valores constitucionais, sendo mister com-
preender que no se interpreta a Constituigdo em tiras, aos pedagos™, as
hhormas constitucionais devem ser vistas nao como normas isoladas, mas
‘como preceitos integrados.
Por isso, ¢ retomando o conceito da Constituigao como limite, &
legitima a restrigiio ou compatibilizagao através da proporcionalidade’
‘ da ponderacdo™. Nao hi qualquer possibitidade de se atribuir primazia
absolut a qualquer garantia individual.
A imposigao restrtiva de limites a liberdade de expresso torna-
se evidente quando se esta diante de caso que essa liberdade afronta ou
fumeaga outras garantias, inclusive e especialmente da construgdo de uma
sociedade harménica e coesa.
E necessério ainda na restriga0 ou compatibilizagao da tolerin-
cia com a inclusio em uma perspectiva que respeitando o.pluralismo
esteja atenta para o multiculturalismo, fomentando a educagao em direi-
tos humanos e nas responsabilidades que implicam no exercicio dos
mesmos.
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CONSIDERACOES FINAIS
O tema discurso de édio confronta 0 catilogo de democracia
constitucionalismo. A liberdade de expressio & parte essencial da
eracia. Uma democracia forte e efetiva ¢ freada pelo carter material
Constituigao que legitima a restrigao a liberdade de expressio coil
discurso de édio com especial proposito da manutengao e construgao
uma sociedade em que a dignidade da pessoa humana ¢ os direitos
damentais mantenham-se respeitados, de forma construir uma soci
livre, justa e solidaria, promovendo 0 bem de todos sem preconceitos
discriminagao.
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