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AMARAL, Aracy. Artes Plásticas Na Semana de 22. 4a Ed. São Paulo: Ed. Perspectiva, 1979. As Ideias No Contexto Da Semana, Pp. 197-216

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AS IDEIAS NO CONTEXTO DA SEMANA "... B sobretudo que se salba que somos rea ciondrios, porque ‘nos domina e exalta uma ‘anpirazdo de classcismo consirutor. :mos nial ao academismo porque ele € 0 sufocador de todas as aspirocées joviais « de ‘todas as iniciativas possantes. bara vencé-lo desiruimos. Dai o nosso gathardo salto de sar- ‘easmo, de violéncia e de forca. Somos “bo- : xeurs” na arena. Nao podemos refletir ainda latitudes de serenidade. Essa vird quando vier 4a vitdria ¢ 0 futuriemo de hoje aleancar 0 seu deal lssico”™. OswaLp DE ANDRADE (1), Onwald de Andrade “Semana de Arte Modern”, in Jornal do Comrie (Ea. 8. Pano), i for. 1922 197 A expressio “reacionérios”, usada por Oswald no texto que abre este capitulo, significa, evidentemente, que os modernistas representam uma reagio contra 0 academismo. E embora possa causar espécie em muitos que ele denomine de ‘‘lassicismo” o movimento revolu- cionério, isso nos dé contu Quando Oswald se refere a0 passadisme como “sufo- cador de todas as aspiracdes joviais ¢ de todas as ini- Giativas possantes”, esté bem claro que o rejeitado € sobretudo a auséncia de abertura, ¢ a estratificacdo de uma arte em fungdo de um tempo que ndo mais existe. Dai por que a declaracéo citada esta banhada em tom guerteiro: “nao podemos refletir ainda atitudes de se- renidade, Essa vird quando vier a vitéria”, ou seja, passado 0 perfodo de climax revoluciondrio, 0 movi mento, tornado situacdo, se transformaré em escola. Para vencer o academismo, entretanto, € preciso usar de todas as armas, esté-se em guerra: o sarcasmo que humitha, a violéncia demolidora como a forsa do ataque. E se através da imprensa os ataques jé se su- cediam ha dois anos, 0 confronto violento se daria na primeira grande luta, que foi a Semana de 22. Curioso que, de certa forma, a linguagem usada por Oswald, bem como a de Menotti, néo deixam de ter uma seme- Ihanga com os manifestos de Marinetti (embora rejei fem sempre a comparacio). Mas o espfrito de luta é 0 mesmo. Perplexos, os observadores neutros, como os da facgdo contréria, ainda ndo tinham bem idéia das novas posighes, que, apenas sabiam, eram contrérias a0 passa }. Assim € que, num palavrério complicado, o dr. Francisco Lagreca se refere, em jornal desse més, a “A nova arte”: “Oswald de Andrade defende galhardamente ia quase ignota orientagio artistica, tort critica insubmissa. Quem for justo e alevantar a fronte,, como hiomem de sua época, concordara que na exposi- ‘¢a0 de trabalhos artisticos que figuram no Municipal, hi irtadiagées maravilhosas de talento, aromas sonoros de desconhecidos jardins florescidos, sangue a ferver, ner~ 198 vos eletrizados, cartilagens crispadas, enfim, o sopro vital fremente, de uma ressurreigio de arte" © despreparo e a dificuldade de rompimento, ‘mesmo pelos modernistas (ou pelos que assim se inti- tulavam), desse movimento névo de rebeldia expresso em forma ret6rica caracterizam a Semana como acon- fecimento na literatura, poesia, miisiea e mas artes plésticas AS conferéncias sobre arte ¢ estética: Menott Negando sempre e mais uma vez o apadrinhamento de Marinetti (mas em quem sem diivida a manifestagio se inspirara), Menotti. cm sua palestra do dia 15 nao dei- xa de fazer um: é e - Por outro lado, para combater a Grécia, o conferencista se com- praz num enumerado sem-fim de citagdes helénicas, de Marte ¢ Zeus a Menelau e Troia, aos discbulos de Es- arta, mas © combate aos “truculentos deuses de Ho- mero”, como ele diz, n3o pode ter deixado de causar tum prazer substancioso a uma platéia que teria encon- trado as citagdes familiares. Menotti estabeleceu, poss velmente, com sua palestra, uma ligagio emocional efetiva entre os modernistas de fato e aqueles que, numa cenografica imagem, “ainda esperam ver erguer-se 0 sol atrés do Partenon em ruinas”™ Cada vez. que em discurso menciona o mundo mo- derno nao se contém em comparacio com a antiguidade: “Queremos luz, ar, ventiladores, aeroplanos, reivindi- cages obreiras, idealismos, motores, chaminés de fabri- cas, sangue, velocidade, sonho, na nossa Arte! E que o rufo de um automével, nos trilhos de dois versos, es- pante da poesia o iltimo deus homérico, que ficou, anacrénicamente, a dormir e sonhar, na era do jazz- -band e do cinema, com a flauta dos pastores da Arcé- dia © os seios divinos de Helena!” Menotti, este grande divulgador do modernismo, ¢ que oferecia aos modernistas uma tribuna preciosa no Q) In Jornal do Comacio (EA. $. Paulo), 18 fev. 1922. (BA ceaerteta Ge"Menos fo rantrt’ no Jor! 40, Comercio (ea'S. ehuleh ister To Corel. Ponitana Correio Paulistano, sem nunca ter de fato sido um deles apesar de sua exaltaco crescente, nao deixou de pre- dizer, nfo sem cert “ Opondo aos passadistas em lugar dos discSbulos de Esparta o futebolista paulista Friedenreich, bem como 0 campeio francés Carpentier, Menotti no. deixa de de- clarar que & mulher inspiradora das “jeremiadas liricas” (ou também, poderia ser, dos consagrados-nus artisticos académicos), & ‘‘mulher-fetiche, & mulher-cocaina, & mulher-monomania, leternelle Madame” agora se impoe uma nova imagem: “Queremos uma Eva ativa, bela, pritica, til no lar e na rua, dangando o tango e dati- lografando uma conta corrente”. Mas, colo em todo 0 seu discurso, em banindo a mulher, Menotti a exalta, como em rejeitando o Parnaso faz dele a obsessio de sua conferéncia modernista: “Morra a Hélade! Organi- zemos um zé-pereira canalha para dar uma vaia defini- tiva ¢ formidével nos deuses do Parnaso!” Numa sucessio alucinante de citagées de “Rolandos furibundos” a Edu Chaves e Santos Dumont, de Plutio € Netuno a “esse desalentado Wilde”, da Acr6pole a0 Lacio ¢ Wagner, Menotti define a arte que esta nas- precioso: queremos escrever com sangue — que € hu- - bandeirante”._ Dessa forma, praticamente enunciando os princi- pios bisicos de Marinetti, esclarece que “assim nascerd ‘uma arte genuinamente brasileira, filha do céu e da terra, do Homem ¢ do mistério”. Referindo-se a cidade ten- tacular, & concorréncia, as reivindicagdes operdtias, aos industriais, ¢, como sempre, & mulher que, apés a Grande Guerra, quebra “as algemas da sua escravidio secular”, termina: “Tudo isso — e 0 autom6vel, os fios clétricos, as usinas, os aeroplanos, a arte — tudo isso forma os nossos elementos da estética moderna, frag- ‘mentos de pedra em que construiremos, dia a dia, a Babel do nosso Sonho, no nosso desespero de exilados, 200 I i Na porta da “Gazeta” age ae 2 © sr, Oswald d’ Andrade, redactor theatral. Oswald de Andrade por Ferrignac, em 1918, de um céu que fulge 1d em cima, para o qual galgamos na Asia devoradora de tocar com as mios as estrelas!”*. notti 201 ‘ima soberba esa de orate, como a podem ao eee tipicamente parnasiana, Seu repert6rio é passadista, apesar das incrustagdes modernistas. Os que combateram o movimento, por reaciona- rismo ou por principio, nao deixaram, como Monteiro Lobato, de fazer referéncia ao problema de importacéo de tendéncia (se bem que muitos, como jé mencionamos, também se detendo nessa tecla muito no sentido do pasado pelo passado). Paim Vieira refuta igualmente 0 desejo de estar d la page do intelectual e artista dos anos 20, também no campo politico: “Mas aqui na época no havia ambiente, nés nem critica podiamos fazer do ‘capitalismo pois néo tinhamos capital. Nossa realidade era a tealidade do fazendeiro rico na cidade, com os ppretos sambando nos morros. As manifestagdes artis- ticas desejosas de estar a par do que se fazia na Europa ram mantidas artificialmente”*. ‘Amadeu Amaral ditia algo semelhante em 1924, com outras palavras, no O Mundo Literdrio, ao denut ciar a auséncia de “uma £6” no movimento modernista: “como das alheias tendéncias s6 se pode importar a expresso, ¢ no as proprias tendéncias, em sua intrin- seca vitalidade, as preocupagdes dos novos so estrita- mente, literalmente... literdrias™. Mas a mudanca viria, nas posigées modernistas, ¢ precisamente, apés 1924, depois da revolugao de Isidoro. ‘Nao foi somente nossa, contudo, a dificuldade de assimilago da atte dita moderna, ou seja, a partir do impressionismo, mas de todos os artistas fora do eixo de Paris, Mesmo os artistas norte-americanos, forma- dos em sua maior parte na Europa, revelariam na pi meira gera¢io 0 problema da importagio brut: “,. Conseqiientemente, eles produziram quadros que, cembora corajosos ou provocantes, mostraram apenas um, conhecimento superficial do vocabulério, néo da gra- mitica da arte moderna”, escreveu a critica Barbara Rose a propésito dos artistas americanos presentes no Armory Show, equivalente, em 1913, & nossa Semana de Arte Moderna de 22 como manifestagio, embora (2) Depoim. de A. Pains Via wore, a 5 for. 1970, (8), Letaard “Aetoyo,"homaacm Liters ee ote porate Reina te" Areuvo, Mancina “& Cure ‘Treas ech ret. Mencia oe 8 Fal, Ano Ok Rote, obve eit, p. R2 Trad. da AL aquela fosse uma grande mostra internacional de arte ‘moderna com os nomes da escola francesa. ‘Um registro nio pode faltar, em comentétio sobre ‘a Semana, sobre a unido da classe artistica de S. Paulo, caracteristica do modernismo, na Europa como nos Es tados Unidos, ¢ fato nunca antes registrado em tani- festacdo intelectual em nosso pais (e que tampouco se repetiria). Mesmo sem a perspectiva historica a coesio destrutiva ndo deixava de chamar a atengio: “Nunca, 0S nossos artistas se congregaram em hostes” — escre- vetia 0 Correio Paulistano — “ligando num mesmo elo a pintura, a escultura, a miisica e a poesia. Essas for- mas das expresses emotivas andaram sempre, se no divorciadas, pelo menos isoladas ¢ quase interindepen- dentes. Sob esse ponto de vista, & Semana de Arte Moderna € digna de nota” *. © Correio Paulistano do dia 14 faz. um retrospecto geral do primeiro festival mas sem analisar as obras, ‘expostas, sem mesmo mencionar os nomes dos. arts- tas, limitando-se a registrar que “no saguéo do tea tro foi aberta uma exposi¢do de pintura e escultura mo- dernas, sobre a qual oportunamente falaremos”. Parece nio ter havido oportunidade pois néo encontramos nes- se nem em qualquer outro didrio comentérios sobre os trabalhos expostos. Ronald de Carvalho A palestra de Ronald de Carvalho, amplamente anunciada pelos jornais e intitulada “A pintura e a es- cultura moderna do Brasil”; realizada na primeira noite, nao foi publicada na integra por nenhum dos jornais, de Sio Paulo. O Jornal do Comércio (Ed. de Sio Paulo) do dia seguinte registra, apenas, que “a con- ferencista discorreu sobre as diversas manifestagdes da pintura ¢ escultura moderna no Brasil, passando em re- vista 0s diversos trabalhos atualmente expostos no sa- ‘gudo do Municipal, fazendo ver que nenhum deles obe- decia a nenhuma escola, procurando cada artista set pessoal, tendo a tinica preocupacdo dar-nos seus tra- balhos, dando vazio ao seu temperamento artistico, sem peias académicas, nem preconceitos estéticos. routtdys Reine de Arie — Semana de Aste Moder “Na peroragio elevou um hino ao Brasil novo € forte concitando os paulistas a procurarem os seus ar- tistas que to bem sabiam interpretar quer no mérmore, como na tela ou na poesia, a violenta ¢ forte vida ame- ricana. As iltimas palavras do orador foram ditas de- baixo de vibrantes aplausos” * Mas a nebulosidade das idéias © das afirmacoes de Ronald de Carvalho nio passaria despercebida. No dia seguinte, O Estado de S. Paulo, com sutil ironia, refere-se & sua “dissertacdo sobre as moglernas corren: tes estéticas na pintura e na escultura do Brasil”. Numa alusio clara a aparente falta de conviceig do conferen- cista, diz o jornal: “Esse interessante trabalho em que ‘© autor, com grande modéstia, atribuiu a alguns jovens artistas ‘as suas prOprias idéias sobre arte, afirmando o cardter eclético da moderna pintura brasileira, mas acentuadamente nacional nos seus carasteristicos. fun- damentais ¢ na sua concepsao, se bem compreendemos as suas palavras, pareceu a alguns um pouco contradi t6rio com as afirmacdes de certos corifeus desse movi ‘mento por muitos denominado futurismo. Mas, evi- dentemente, 0 engano deve ser nosso”, conclui 0 co- menté Mério de Andrade: “A escrava que nao é Isaura” Uma palestra sobre estética pronunciada no Mu- nicipal naqueles dias tumultuados foi. a de Mario de Andrade, a tarde do dia 15, 4*feira, intitulada “A es- crava que no é Isaura”. Anunciada por Menotti de for- (2) Semana Arte Modena” — A fa de ote no Matic rt’ n tore de Comte {2a Pah. I de ‘No volume Eimdor Braslever, de nora de Ronald de Carvao, ¢ em 1924 no Rode Jaco, hiv um vaso caput sole "ane a taj dy ance nendta ed te nse oe he yogis & ma cfr. a tan Sfp’ dame ni Bee Oh eee oe a, eee enn, Rovaid de: Caryaibo la tpe- : Besa Stes a Seeman ar eee eae ea tee Se eee 0) eS Paulo Ie foe 82 204 Mario de Andrade por Tanita, leo s/ tla, 1922, col. de ma provocante, como: “. . .Mério de Andrade, 0 diabé. lio, diré coisas infernais sobre as alucinantes criagdes dos pintores futuristas, justificando as telas que tanto escndalo e tanta grita tém causade no hall do Munici pal. $6 isso valeria a noitada. Renato de Almeida, Vil- la-Lobos, 0 genial Villa-Lobos, garantirio 0 éxito do resto da noitada” "*, havia uma tempestade no ar desde antes da conferéncia, diante do piblico exaltado, Con- ta Anita: “Mério ndo tinha voz para empolgar as mas- sas, Sua voz desaparecia no barulho das vaias e gritaria. Resolvew, pois, ler sua conferéncia: “A escrava que ni era Isaura”, da escadaria do saguio. Pegou, pois, 0 pessoal de surpresa © leu, nervoso mas resolvido, sua (11) Helos, “CrOnies Soci” Im Correo Palitane, 15 fev. 1922 205 célebre conferéncia. O saguiéo ¢ a escadaria ficaram repletos ¢ quando o pessoal da vaia deu com o que es- fava se passando, recomegou mas logo cessou, pois 0 Mitio tinha terminado”. E acrescenta & pintora pau- lista: ‘Foi com esta conferéncia que apareceram as pri- ‘meiras idéias modernas na literatura paulista” Na verdade, foram as primeiras idéias divulgadas, posto que em forma de reflexdes jé 0 tinham sido, pelo préprio Mério de Andrade, no, “Preféicio In- teressantissimo”, da Paulicéia Desvairada, escrito, se- gundo a dedicatoria, a 14 de dezembro de 1921, embora © livro s6 saisse no decorrer de 1922. * Nesse “preficio” Mério abordaria, em forma de pensamentos anotados, uma série de problemas a serem Tetomados na “Escrava”. Refere-se ao “belo horrivel”, a0 “belo da natureza” e ao “belo da arte. Na tentativa de abrasileiramento da nossa lingua escrita jé aqui surgem os seus “‘milhores”, paralelamente a mengao ‘a Marinetti, além de Walt Whitman, Rodin, Epstein © ‘outros. Quase como uma resposta ao discurso de Me- notti na Semana, Mario diria também que “Escrever arte moderna nao significa jamais para mim represen- tar a vida atual no que tem de exterior: automéveis, cinema, asfalto. Se estas palavras freqiientam-me o li- vyro no & porque pense com elas eserever moderno, mas porque sendo meu livro moderno, elas tém nele sua ra- ‘io de ser” ®. Assim, no movimento em que é uma dentincia clamar que Si0 Paulo é um Galicismo a berrar nos desertos da Américal contra o europeismo vigente, Mério é também um dos rimeiros, ou 0 primeiro a registrar a contradi¢ao que ermanece: Sou um tupi tangendo um alaide! jd antevendo o nativismo, o movimento de voltar-se pa- 1a 0 pais para descobrir-lhe as grandezas ocultas, que seria a caracteristica do modernismo pés-Semana. (2 Ate Mate, canted ae. 3) rane Dewairaga”CPoexet Comphist") 0. Com eas te Mato de Andrade, Li. Martin Ea 8 Pal, 7.3 206 Mas, 0 ensaio de Mario de Andrade, “A Escrava que no ¢ Isaura” — publicado em janeiro de 1925 — deve, provavelmente, ser um desenvolvimento dessa pa- lestra da Semana, constituindo uma das primeiras tenta- tivas de formulagao de idéias estéticas modernas em nos- so pais, jé nele incluidos os mais jovens poetas, de Ma- fuel Bandeira, Luiz Aranha a Sérgio Milliet, dos nossos, entre outros. “Analisando o Belo na natureza ¢ numa obra de arte, Mario aponta neste ensaio a diferenci so: “Quem procurar 0 Belo da Natureza numa obra, de Picasso nio 0 acharé. Quem nele procurar o Belo artistico, origindrio de euritmias, de equilibrios, da sen- sagdo de linhas ¢ de cores, da exata compreensio dos meios pict6ricos, encontrar 0 que procura” , A selecdo para a transposico da natureza através da obra de arte pelo artista € também abordada por Mirio nesse trabalho: “A natureza existe fatalmente, sem vontade prépria. O poeta cria por inteligéncia, or vontade prépria. “Querer que ele reproduza a natureza € mecani- ziclo, rebaixé-lo, “Desconhecer os direitos da inteligéncia é uma ignominia, “A incompreenséo com que os modernistas de todas as artes so recebidos provém em parte disso” Em nota de rodapé, Mario aduz: “As outras partes sao: & preguica de mudar, a falta de amor, a ma vontade, a inveja e a burrice” » Numa referéncia bem clara & reagdo do piiblico diante da exposigéo de Anita de 1917 como diante das obras expostas no Municipal na Semana de 22 diz, logo adiante: “O espectador procura na obra de arte a na tureza e como néo a encontra, conclui (ou mistificago! O autor € idiota”. E cita a seguir a frase de Epstein: “Il y a toujours alternative: Crest idiot” et “Se suis idiot», 0 lt tat ct ot ta SESE feel oer a ate & e,abeetenagto a Klazon, onde também enuncin cs Pitepios 66 Siam 9 nee 207 A palavra de Graca Aranha Futurices “De um eritico que passa © parecer 0 meu ouvido apanke: A exposigio de Artistas Futurstas Néo tendo eraga arranha! ‘ Fee A esperada palavra do académico que apoiara ‘© movimento, prestigiando os mogos rebeldes, além de ter, como disse René Thiollier, produzido “no énimo da assisténcia a impressio de uma desconveniéncia, grave", no causou impacto maior, e, segundo Plinio Salgado, foi somente o discurso de Menotti, no dia 15, que “pode ser considerado, com certas restrigées, um traco luminoso entre 0 Passado ¢ 0 Presente, projetan- do-se no Futuro”, Nesse seu artigo “A questo artis- ica", publicado na A Gazeta, acrescenta o futuro lider ireitista que “A nebulosidade metafisica do sr. Graca ‘Aranha, que repisou conceitos velhos de empoada filo- sofia, nao esclareceu suficientemente a tumultuosa es- tética” Em verbosidade digna de um académico, Graca Aranha iniciara sua conferéncia na noite de abertura a Semana, ou seja, na 2#-feira dia 13, referindo-se & exposicdo de arte presente no saguao do Teatro: “Para muitos de vés a curiosa ¢ sugestiva exposicao que glo- riosamente inauguramos hoje, é uma aglomeragio de MME grees Gio apie ee Dr cea anon mene nae elas: pins oo aise aici zombeteiros, so seguramente desvairadas interpreta- do, Comrie cite 88 7) Sob @ tse, “Futuies, “Reset Ja Jom ga.) fs esi Aer‘ es “Rea i) René Thole, ob cit. want?) Pio Sedo, “A “questo anc’, A Gesre, 29 tev. i EAE pe es ~ Tae aes ‘raga Aranha”, desenho de Tursila do Amaral, “hors texte” in Rfnon, nt 89, dean. 1922-23. spice i aaa Jes da natureza ¢ da vida". O autor de Estétic Vida menciona a seguir que “outros” “horrores” vos esperam. Daqui a pouco, juntando-se a esta colecto de disparates, uma poesia liberta, uma mtisica extrava- vante mas transcendente viréo revoltar aqueles que rea ‘gem movidos pelas forcas do Passado”, O grande pro- (aly “Aries ¢ asta — Semana de Arie Moderna in O Briedo ste J Peadoy 18 fv 19 209 "0 Eviado de S. Paulo” reproduzindo na integra de Graga Avant, pugnador de “nossa integragdo no cosmos pelas emogdes, detivadas dos nossos sentidos, vagos, indefiniveis sen- timentos que nos vem das formas, dos sons, das cores, dos tatos, dos sabores nos levam 4 unidade suprema com 0 Todo Universal”, ao mesmo tempo afirma: “Ig- ‘oro como justificar a fungao social da Acedemia” e jd € @ sua conferéncia um cAntico a0 papel hist6rico da Semana: “A remodelacao estética do Brasil iniciada na mésica de Villa-Lobos, na escultura de Brecheret, na pintura de Di Cavalcanti, Anita Malfatti, Vicente do Rego Monteiro, Zina Aita, ¢ na jovem ¢ ousada poesia serd a libertagio da arte dos perigos que a ameagam, de inoportuno arcadismo academismo e do provincia- nismo”. Rejeitando 0 academismo j4 em 1922 (ou seja, dois anos antes de sua famosa retirada da Academia Brasileira de Letras) Graca denuncia-o dizendo que “por ele tudo 0 que a nossa vida oferece de enorme, de espléndido, de imortal, se torna mediocre e triste”. que surge: “Sio estas pinturas extravagantes, estas es- culturas absurdas, esta miisica alucinada, esta poesia aérea e desarticulada, Maravilhosa aurora!” Em depoimento sobre a Semana diria Candido Motta Filho, anos depois, ter retido um didlogo entre Mario e Oswald: “Eu no acredito no modernismo de Graga Aranha”. Oswald: “ re sna!_Nem por isso é ‘menos respeitivel a estatura de um Graca Aranha que demonstra uma idealismo ao dizer, em pleno climax dos acontecimentos que “O que hoje fixamos no é a renas- ‘eenga de uma arte que nao existe. E 0 proprio como- vente nascimento da arte no Brasil”, e com otimismo que somente a ocasido poderia té-lo levado a expressar, acrescentou: “e como nao temos felizmente a pérfida (22) “Novos depoimente_stire a, Semana de Arte Moderna” in 0 Bite eS pat Sea Ne, 1d ae 9 2u |& cemana ful i Hind i FE i fh WW ATALIANG SANGUINARIO | i “A Semana Futurist” in A Gazeta, com a polémica “Pro”, de Mario de Andrade, e “Contra", de Candido Motta Fitho digdo de 4 fev. 1922. 212 sombra do passado para matar a imaginagéo, tudo promete uma admirével “florada” artistica” =, Na Estética da Vida Graca Aranha abordara, com feito, alguns conceitos, como 0 do Belo, dissociando-o da Arte, assim como também libertando-a “da idéia do Stil” *, "Pela projeco do autor nos meios artisticos ¢ inteleciuais, pode calcular-se a repercussio dessas no- vvas idéias ¢ dai o explicar-se 0 interesse dos modernis- tas pelo grande maranhense. ‘Ao mesmo tempo, refletindo sobre o problema re- presentacional da arte refere-se a Wagner, que “notou ‘com exatidéo” onde as outras artes dizem: isto significa ‘a misica diz: isto 6” *. Dai adviria a concentracdo na |. Z- estruturacio plistica da obra pictérica pelos modernos, com nenhuma ou menor preocupacéo pela temética, ¢, | ‘embora atribuisse 3 “emogio estética” o valor das no- vas obras, Graga Aranha nao deixa, de certa forma, de Iutar pela nova forma de expresso. Nao ha razio, diz, le, “‘para se repelir 0 esforco dos artistas” que pro- curam comunicar através de formas “por mais originais € inovadoras que parecam. As dissondncias musicais, © cubismo e outras transformacdes de valores artisticos obedecem a ess= movimento intimo, que aspira a real- gar a expresso essencial de cada arte ¢ transmitir a emogio estética pelos seus meios absolutos, emancipa- dos de toda a relatividade” *. Ainda fiel a0 prinefpio académico da pintura em fungo da arquitetura", ou seja, rejeitando de certa forma 0 nfo utilitarismo citado anteriormente, Graga Aranha chega a contradi¢ées. Transparece, a0 mesmo tempo, sua nio-adeso ao cubismo, Se bem que men. cione nao ter ele sido “inteiramente nocivo”, trazendo a pintura “maior largueza ¢ maior preciso de desenho pela representacio total dos volumes” no compreende © cerebralismo do movimento da escola de Paris diante das alteragdes por que passava o mundo: “Parece que 2 te gm — Semana de Ase Modena” in 0 Estado (OA) Graga Arash in A Entice da Vide, 9p. 363. %. (2) Na pitura © que we expraia € a decoapfo, | E nese fants 4. cSlonde, tebuense advert series, "oma are fil © saperfical strode forma’ © de cr" Loum, 213 © artista hesita diante do abismo ¢ disfarga, brincando com a forma, a cor ¢ 0 som”, ‘A dimenséo de um Graca Aranha, na Semana, s6 € compardvel & de Paulo Prado que, com seu apoio precioso, possibilitou a realizacio da manifestacio hi 6rica, E mesmo encerrada a Semana, Paulo Prado tentaria ainda obter a atengio de René Thiollier, resis tente ante as idéias novas falando-lhe da “Arte Mo- derna, arte pura, sem escolas, sem programas, sem pre- conceitos, — Arte, com maidiscula, abertd a todos, des- de que tenham talento, livre, © até mesmo andrquica, ‘mas viva ¢ fecunda, com todos os encantos de mocidade alegre ¢ revoltada”®. Paulo Prado consegue, assim, resumir em poucas linhas a posigio ideolégica da Se- mana, destrutiva ¢ vital, em sua liberdade sem peias em relagdo a academismos consagrados’ Pois, como escreveu Menotti, “uma arte sem movimento”, hoje, “atulhada de arcaismos e cadaveres decompostos, atra- vanca 0 caminho da nossa evolugio social” *. ‘A posico e prestigio de Graga Aranha fizeram com que, durante muitos anos, ele fosse considerado como um mestre dos modernistas. Nada menos pre- ciso, embora 0 seu prestigio tivesse impulsionado a projecio do movimento: “A repercussio extraordiné- ria alcangada por esse discurso” — escreveu anos de- pois Manuel Bandeira, sobre o discurso de Graca na Semana, esclarecendo com deciséo os fatos — assim I ae arn eas ect mene recs ela seta poe di ania eho hia stares Se Em's inde ito Regis, Vale Chul, 9 romance com on ovirot, “38m meen radur.plnamente fesbiléade de hoke"e amunca i, grande il pando “pela wngemte” fscilura—"'Graca"Arana'posera ‘pasta “por prvidente uate Soe dentin an ate rege et are, StS “tio "aeredtamos, pelo coment de sci peasamento, cone Si sun il G9) “René Tholier, obra cit, p. 52 pM del Pin, “Cat aba now. Over Guamabuting tindn nent carta Met: “aay en, 1908 seo nos Ineunon inet Spa ietremas de sue ‘isi mio ahimo ‘sealing € 214 ‘como “o desconhecimento das verdadeiras origens do ‘modernismo levaram a um erro de fato, que ainda hoje persiste, de apresentar os iniciadores do movimento co- mo disefpulos do autor da Estética da Vida. A verdade € que néo houve influéncia de Graga Aranha sobre os mogos, mas, a0 contrério, estes é que influenciaram o confrade mais velho, como esté patente no romance CAE idee We ne Ca Ab Tost as2 9 antevé, de certa forma, na oragao de abertura de Graga Aranha na Semana, a substincia de seu discurso hist6~ tico de 1924, a0 romper com a Academia Brasileira de Letras. Mas 20 piiblico chocado diante da nova misica. tocada na Semana (Poulenc, Villa-Lobos), como dian- te dos quadros expostos ¢ dos poemas sem rima, A Gazeta afirma que “sons sucessivos sem nexo esto fora da arte musical: so ruidos, so estrondos; pala- vras sem nexo légico esto fora do discurso: so dispa- ales como tantos e tio cabeludos que nesta semana conseguiram desopilar os nervos do piiblico paulista, que raramente ria bandeiras despregadas” *. A esse artigo, assinado por “A. F.” segue-se outro, que con- dena 0 excesso de liberdade na arte, afirmando que, passado “o periodo de mania, isto é, de movimentos desordenados, viré a fase de prostragio e indiferenca, até a imobilidade absoluta, a mumificacio”. Assim, a “Suma Liberdade” “viveré cansada, enfarada”, recor- dando “o tempo em que, relativamente tolhida” “bai lava dentro de um citculo luminoso e restrito” "> A esse terror diante do desconhecido e que para manter 0 status quo na arte se apega ao passado se aplicam bem. as palavras por nés jé citadas de Paulo Prado sobre o “sopro vivificador” que se sentia nas “tentativas modes- tas de renovacao e liberdade” dos modernistas. Por- ‘que no fundo de todos os que se consideravam insulta- ‘dos pelos modernistas estava o medo da mudanga. Foi ‘© que fez Paulo Prado escrever a René Thiollier comen- tando 0 sentido do movimento jovem: “Eo desenvol- (1) Manuet Bandeirs, obra ct. p13 (G2), "Nous Ge ane" -A. Semana fyursta”, ig Garta, 16 Seve 9, atin atu A sees oon 4,8. ‘vimento da tese que eu, se fosse escritor ¢ jornalista, escreveria, & moda de Barrés, com este titulo — A Arte A SEMANA COMO “PREPARADORA” denatra qie a ston do. Moderato fon indefinve Pols exe ¢ a milion. Sfondeser do Modernimo! le no cra wna ete nem na Europa nem atu rea ‘ita’ epino.revoliado”« revluciondra Giese 4 nbs nos aluallaon, stematzando tno consdnia a Tncigenclanaconal o arto ‘niacademico da pesguns etic preporow oi aaa roi eee ee f0ts oct opts, tombe fet to mesa | forex do mundo, prfetizando cia guerra Ue Que uma ieage nova nrcer Mino oe ANA ean, “0. Morin Monga “Are (00, Rene Thistber, otra ais p, $253 i Sent st Tia comer de Mi dare tie 216 217 aracy amaral ARTES PLASTICAS NA SEMANA DE 22 Subsidios para uma histéria da renovagdo das urtes ne Brasil Awe Sy EDITORA PERSPECTIVA

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