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1) A apelante recorreu de sentença que a condenou a pagar danos materiais e morais decorrentes do cancelamento de voo da apelada; 2) O cancelamento ocorreu devido à necessidade de manutenção da aeronave, configurando fortuito interno e não excludente de responsabilidade da empresa aérea; 3) Ficou comprovado o atraso de quase 22 horas no horário de chegada da apelada ao destino final e no curso que iria lecionar, gerando abalo moral inden

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1) A apelante recorreu de sentença que a condenou a pagar danos materiais e morais decorrentes do cancelamento de voo da apelada; 2) O cancelamento ocorreu devido à necessidade de manutenção da aeronave, configurando fortuito interno e não excludente de responsabilidade da empresa aérea; 3) Ficou comprovado o atraso de quase 22 horas no horário de chegada da apelada ao destino final e no curso que iria lecionar, gerando abalo moral inden

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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ

8ª CÂMARA CÍVEL

Autos nº. 0001697-69.2022.8.16.0194

Apelação Cível n° 0001697-69.2022.8.16.0194 Ap


22ª Vara Cível de Curitiba
Apelante(s): GOL LINHAS AEREAS INTELIGENTES S.A.
Apelado(s): BRUNA JUSSARA CONSTANTINO LOCKS
Relator: Desembargador Gilberto Ferreira

RECURSO DE APELAÇÃO CÍVEL – RESPONSABILIDADE CIVIL – AÇÃO DE


REPARAÇÃO DE DANOS MATERIAIS E MORAIS – CANCELAMENTO DE
VOO – MANUTENÇÃO NA AERONAVE – FORTUITO INTERNO INCAPAZ DE
AFASTAR A RESPONSABILIDADE DA EMPRESA AÉREA – RISCO DA
ATIVIDADE – REALOCAÇÃO EM VOO COM DESTINO FINAL DIVERSO DO
CONTRATADO – VIAGEM CONCLUÍDA POR MEIO TERRESTRE – ATRASO
NO CURSO EM QUE A AUTORA IRIA LECIONAR – DANO MORAL –
QUANTUM FIXADO EM PRIMEIRO GRAU DE ACORDO COM AS
PECULIARIDADES DO CASO CONCRETO E LEVANDO EM CONSIDERAÇÃO
PARÂMETROS INDENIZATÓRIOS DESTE TRIBUNAL DE JUSTIÇA – JUROS
DE MORA – DATA DA CITAÇÃO – ART. 405 DO CC – DANO MATERIAL
COMPROVADO – DEVER DE INDENIZAR.

RECURSO DE APELAÇÃO NÃO PROVIDO.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de apelação cível nº 0001697-69.2022.8.16.0194, originários


dos autos de ação de reparação de danos materiais e morais por cancelamento do voo, em que figura
como apelante GOL LINHAS AÉREAS INTELIGENTES S.A. e apelada BRUNA JUSSARA
CONSTANTINO LOCKS.

I – RELATÓRIO:

Trata-se de recurso de apelação cível interposto em face da sentença de mov. 65.1, que julgou procedentes
os pedidos iniciais para condenar a ré ao pagamento: a) de R$ 129,80 a título de danos materiais, corrigido
monetariamente pela média entre os índices INPC/IGP-DI, desde a data do desembolso, e acrescido de
juros de mora de 1% ao mês, a partir da citação; b) de R$ 20.000,00 a título de indenização por danos
morais, corrigido monetariamente pela média entre os índices INPC/IGP-DI, desde a data da sentença, e
acrescido de juros de mora de 1% (um por cento) ao mês, a partir da citação; e c) das custas processuais e
honorários advocatícios, arbitrados em 10% (dez por cento) sobre o valor da condenação.

Publicada a sentença, a ré interpôs recurso de apelação no mov. 71.1, no qual sustenta, em síntese, que: a)
o cancelamento do voo ocorreu por motivos alheios a sua vontade, tendo em vista a necessidade de
realização de manutenção da aeronave, o que configura fortuito externo e quebra o nexo de causalidade,
não havendo que se falar em falha na prestação do serviço; b) o juízo de primeiro grau não analisou todas
as provas; c) forneceu reacomodação no próximo voo com vaga disponível, sendo que o aeroporto de Porto
Velho foi a opção escolhida pela própria autora; d) não há que se falar em indenização por danos materiais e
morais; e) a autora não comprovou o abalo moral, tampouco qualquer prejuízo; e f) os danos materiais não
foram demonstrados. Subsidiariamente, requer a minoração do quantum arbitrado a título de indenização
por danos morais e que os juros de mora passem a incidir a partir da data da sentença, conforme
entendimento do STJ.

A autora apresentou contrarrazões no mov. 78.1.

É o relatório.

II – FUNDAMENTAÇÃO E VOTO:

Presentes os pressupostos de admissibilidade intrínsecos e extrínsecos que lhe são exigidos, conheço do
recurso de apelação, nos termos do art. 1.009 e seguintes do CPC.

Cinge-se a controvérsia quanto à ocorrência de falha na prestação de serviço diante do cancelamento do


voo e da comprovação da ocorrência de danos materiais e morais decorrentes.

Como bem constou da sentença, o caso em comento envolve relação de consumo, uma vez que as partes
se enquadram nos conceitos de consumidor e fornecedor constantes dos artigos 2º e 3º do CDC e, portanto,
a responsabilidade da apelante é objetiva, nos termos do art. 14 do CDC, não sendo necessária a
comprovação da culpa para o reconhecimento do dever de indenizar, bastando a existência de conduta,
dano e nexo causal.

Visto isso, e não obstante as razões da apelante, é assente o entendimento deste Tribunal de Justiça no
sentido de que o cancelamento de voo por necessidade de manutenção da aeronave não caracteriza caso
fortuito ou força maior e não isenta o transportador de responder pelas consequências do inadimplemento do
contrato de transporte, na medida em que o fato se trata de fortuito interno, ou seja, faz parte do risco da
atuação das empresas aéreas e inerentes à sua atividade lucrativa. Veja-se:

APELAÇÕES CÍVEIS – AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E


MORAIS – (...). CANCELAMENTO DE VOO – NECESSIDADE DE MANUTENÇÃO
EXTRAORDINÁRIA DA AERONAVE – FATO QUE CONFIGURA FORTUITO
INTERNO – AUSÊNCIA DE EXCLUDENTE DE RESPONSABILIDADE – RISCO DA
ATIVIDADE – RESPONSABILIDADE CONFIGURADA. (...) RECURSO DE
APELAÇÃO 1 NÃO PROVIDO. (...). RECURSO DE APELAÇÃO 2 NÃO PROVIDO.
(TJPR - 9ª Câmara Cível - 0001852-88.2018.8.16.0040 - Altônia - Rel.:
DESEMBARGADOR GIL FRANCISCO DE PAULA XAVIER FERNANDES GUERRA -
J. 20.04.2023) – grifei.

“APELAÇÃO CÍVEL – “AÇÃO INDENIZATÓRIA” - CANCELAMENTO DE VOO


DOMÉSTICO - PERDA DE EMBARQUE INTERNACIONAL - NECESSSIDADE DE
MANUTENÇÃO DE AERONAVE - FORTUITO INTERNO - RISCO DO NEGÓCIO –
FALHA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO CONSTATADA – RESPONSABILIDADE DA
COMPANHIA AÉREA CARACTERIZADA – (...). RECURSOS DESPROVIDOS”.
(TJPR - 10ª Câmara Cível - 0025518-07.2019.8.16.0001 - Curitiba - Rel.: SUBSTITUTA
ELIZABETH DE FATIMA NOGUEIRA CALMON DE PASSOS - J. 27.04.2023) – grifei.
“APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. FALHA NA
PRESTAÇÃO DE SERVIÇO. CANCELAMENTO DE VOO (...). MANUTENÇÃO
EXTRAORDINÁRIA DE AERONAVE. EXCLUDENTE DE RESPONSABILIDADE.
DESCABIMENTO. FORTUITO INTERNO. RISCO DO NEGÓCIO. (...). SENTENÇA
MANTIDA. FIXAÇÃO DE HONORÁRIOS RECURSAIS. RECURSO DESPROVIDO”.
(TJPR - 8ª Câmara Cível - 0019928-49.2019.8.16.0001 - Curitiba - Rel.:
DESEMBARGADOR SERGIO ROBERTO NOBREGA ROLANSKI - J. 27.06.2022) –
grifei.

Logo, evidente a falha na prestação de serviço, o que impõe a reparação dos danos eventualmente
suportados pela apelada.

No tocante aos danos morais, argumenta a apelante não ser cabível indenização, visto que realocou a
apelada em outro voo a sua escolha e que não houve comprovação do dano sofrido, tratando-se de mero
aborrecimento.

Em julgamento do REsp nº 1.796.716/MG, o STJ entendeu que o dano moral decorrente de atraso de voo
não pode ser presumido em decorrência de demora e eventual desconforto, aflição e transtornos suportados
pelo passageiro, devendo ser considerados outros fatores a fim de ensejar a condenação à indenização.

Nessa perspectiva, o STJ enumerou algumas circunstâncias que podem servir de baliza para possível
comprovação e a consequente constatação da ocorrência do dano moral, a saber: 1) averiguação do tempo
que se levou para a solução do problema; 2) se a companhia aérea ofereceu alternativas para melhor
atender aos passageiros; 3) se foram prestadas informações claras e precisas a fim de amenizar os
desconfortos inerentes à ocasião; 4) se foi oferecido suporte material, como alimentação e hospedagem,
quando o atraso for considerável; 5) se o passageiro, devido ao atraso da aeronave, acabou por perder
compromisso inadiável no destino ([1]).

Na hipótese, a apelada demonstrou ter adquirido um voo para o dia 17/11/2021, saindo de Curitiba às
06h05min, com destino final em Rio Branco/AC às 10h15min do mesmo dia, uma vez que iria lecionar em
um curso de harmonização orofacial que iniciaria no dia seguinte (18/11/2021) às 08:00h.

Contudo, em razão da referida manutenção, a apelante oportunizou a realocação do voo para o dia
seguinte, o que não seria possível, haja vista o supramencionado curso, de modo que a apelada foi obrigada
a optar pela mudança do itinerário com o novo destino final de Porto Velha/RO somente às 23:00h.

Posteriormente, teve que adquirir por conta própria uma passagem de ônibus até Rio Branco/AC, chegando
apenas às 08:00h do dia 18/11/2021, o que gerou o atraso no curso.

Logo, entendo que, apesar da realocação em voo diverso, evidente que houve o atraso de quase 22 horas
do horário inicialmente previsto para chegada ao destino final, o que implicou também no atraso do curso em
que iria lecionar.

Ainda, há que se levar em conta que a apelada ficou sozinha na rodoviária, tarde da noite, aguardando o
ônibus para Rio Branco e, ainda, estava em sua posse material de alto valor que iria utilizar para a ministrar
o curso (vide notas de movs. 1.9/1.16), trazendo risco tanto para a qualidade do referido material como a
possibilidade de ser extraviado/roubado, situação que certamente lhe causou angústia, medo e nervosismo,
ultrapassando os meros dissabores do cotidiano, de modo que a manutenção da indenização a título de
danos morais é medida que se impõe.
Em relação ao quantum, diante da notória dificuldade em arbitrar o valor para indenizações a esse título,
bem como da ausência de critérios legais objetivos, a doutrina define certos parâmetros, tais como as
circunstâncias do caso concreto, o alcance da ofensa e a capacidade econômica do ofensor e do ofendido.

Ainda, é certo que a indenização deve atender aos princípios da proporcionalidade e razoabilidade,
mostrando-se suficiente para compensar a vítima pelo dano sofrido e, ao mesmo tempo, para sancionar o
causador do prejuízo e servir de desestímulo à repetição do ato ilícito, sem, contudo, acarretar
locupletamento indevido pelo ofendido.

Diante disso, considerando as circunstâncias do caso concreto, bem como levando-se em conta os
princípios da razoabilidade e proporcionalidade e vedação ao enriquecimento ilícito, assim como diante da
capacidade econômica das partes, tenho que o valor fixado pelo juízo de primeiro grau foi bastante o
suficiente para reparar o prejuízo suportado, devendo, portanto, ser mantido.

Destaco que os juros de mora devem incidir a partir da data da citação, nos termos do art. 405 do CC, haja
vista se tratar de relação contratual, como bem constou da sentença.

Com relação aos danos materiais, a apelada demonstrou no mov. 1.6 ter adquirido passagem de ônibus de
Rio Branco/AC a Porto Velho/RO, no valor de R$ 129,80 e, diante da falha na prestação do serviço, evidente
ser de responsabilidade da apelante o custeio integral do transporte da apelada até o destino final
previamente contratado, independentemente de ter sido por ela optado que o voo fosse realocado para outro
destino, uma vez que, conforme acima explanado, não foi dada a ela alternativa viável de chegar em tempo
de lecionar em seu curso.

Por fim, considerando a ínfima reforma da sentença, deixo de aplicar ao caso o art. 85, § 11, do CPC.

Em face do exposto, voto no sentido de que esta Corte NEGUE PROVIMENTO AO RECURSO DE
APELAÇÃO, elevando os honorários advocatícios para 15% sobre o valor da condenação, diante do
insucesso do presente recurso e em obediência ao disposto no art. 85, § 11 do CPC.

III – DISPOSITIVO:

Ante o exposto, acordam os Desembargadores da 8ª Câmara Cível do


TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO PARANÁ, por unanimidade de votos, em julgar CONHECIDO O RECURSO DE
PARTE E NÃO-PROVIDO o recurso de GOL LINHAS AEREAS INTELIGENTES S.A..

O julgamento foi presidido pelo Desembargador Luciano Carrasco


Falavinha Souza, com voto, e dele participaram Desembargador Gilberto Ferreira (relator) e
Desembargadora Themis De Almeida Furquim.

Curitiba, 28 de julho de 2023

Desembargador Gilberto Ferreira

Relator

[1] REsp 1584465/MG, Rel. Ministra Nancy Andrighi, j. 13/11/2018.

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