ANGOLA: LINGUAS NACIONAIS E IDENTIDADE CULTURAL
Por Amélia Arlete Mingas
14-16 d¢ Setembro, Universidade Estatal de Sao Petersburgo
200sLinguas macionais e identidade cultural
Por Amélia Arlete Mingas
Universidade Agostino Neto/ISCED-Luanda
Imtrodugio
Qualquer cogitapdo sobre o binémio linguas/identidade reverte-se de uma complexidade
extrema, na medida em que implica, de igual modo, reflectir sobre histéria, tradi¢ao,
cultura,
No que respeita a Angola, pais caracterizado por uma pluralidade linguistica ¢ cultural,
qualquer mengo is linguas nacionais, viabiliza a referéneia & assungo identinéria, &
diversidade cultural ¢ linguistics, & unidade na diversidade. & falar de tutas, de
concesstes/cumplicidades, de oposigles, de construgo enfim,
$e tivermos presente o papel que qualquer lingua joga na estrumragéo de uma
sociedade, porquento € através dela que os diversos elementos qué a constituem
comunicam, criam e trocam experiéncias, fail se toma aceitar que, falar de niio importa
que lingua, implica fazer alusfo a todos os valores sociais, culturais, linguisticos,
comuns aos membros integrantes dessa sociedade ¢, por conseguinte, a sua identidade
como grupo humano; implica também, analisar © modo como © povo que a tem como
‘materna visualiza o seu pais, o seu modo de pensar ¢ de estar no mundo.
‘Nesta perspectiva e no que toca 20 nosso pais, impéc-se-nos que tenhamos presente 0
complexo e diversificado sistema comunicacional, assim como 0 conjunto de valores
culturais que identificam 0 seu povo e que o aproximam ou distanciam de outros
conjuntos de sistemas afins com que entram em contacto.A historia
[A historia de nosso pais apresenta-o como uma Nagio pluriétnica, plurilingue e
pluricultural, induzida pelas poténcias colonizadoras, em fungdo das suas conveniéncias
econdmicas ¢ politicas, Por conseguinte, a vontade expressa das distintas comunidades
que « compéem, no foi tida nem achada quer na constituigo dessa nago, quer na
construgio de uma consciéncia nacional ou ainda, na eriagdo de elementos
identificadores comuns.
A resistencia do povo angolano & presenga portuguesa manteve-se até aos anos 20
(vinte) do século passado. Para nds, toma-se evidente que a essa luta/resisténcia, no foi
esiranha a percepgéo da necessidade de defesa das linguas ¢ culluras locais,
relativamente 4 lingua e cultura invasoras, estrangeiras, as portugueses. E nossa
-convicgo que isso nfo seria possivel se os Angolanos nio estivessem conscientes da
‘importincia efectiva ¢ real dos seus valores culturais, sociais, da sua identidade ¢, por
-conseguinte, da necessidade premente de a defender e proteger
Por outre lado, a semethanga do que aconteceu com outros paises africanos, uma lingua
iio originiria do continente dominou c influenciou a siluagao © evolucéo linguistica
local, na medida em que foi imposta como Gnica lingua de utilizagio obrigatéria em
todo 0 pais, O seu uso exclusive facilitou, por um lado, a sua transformago em
dominadora e dominante, apropriando-se de todas as fungdes ¢ dominios de utilizacio,
a0 longo de varios séculos, o que limitou 0 uso ea adaptagdo 4 modemidade das linguas
locais, ou seja das nacionais ¢, por outro, bloqueou 0 nevessirio desenvolvimento,
expansio e promogio das mesmas.
© no reconhecimento de quaisquer tipos de responsabilidades © fimcionalidades as
Tinguas locais, bem como a proibig#o da sua wtilizagdo na educagao formal dos
Angolanos, visbilizou uma interacg%o muito grande entre a lingua portuguesa © as
Ultimas. Como consequéncia, condigdes foram criadas/viabilizadas, por um lado, para a
|} propensiic go deseparecimento, verificada em algumas das linguas locais, tenda em
conta o grau de interferéncia da lingua poriuguesa; por outro, para © surgimente de
iesentimentos de perda de auto estima complexos de assumir, como suas, as linguas
locais, por parte de um mimero significante de locutores de uma ou outra lingua local,
A concessiio/cumplicidade
‘A repressio organizada & utilizaco, pelos Angolanos, das linguas locais durante 0-
periodo colonial, gerou uma reacco, velada de aceitag3o da politica linguistics
portuguesa, © consequente diminuigio do nimero de Angolanos que usavam a3 suas
Jinguas matemas para. comunicar com os seus descendentes. Como resultado, foram
criadas, a lingua portuguese, condigSes ideais para usufruir do estatuto, de facto, de
‘ingua de prestigio, em detrimento das nacionais e de melhor ganihar 0 espago deixado.
‘vazio pelas mesmas. Assim, um mimero sada vez mais crescente de Angolanos passou a
‘té-la come matemna. *
Importa contudo referenciar que, paralelamente a essa conivéncia, varios trabalhos
foram feitos tendo como objecto de estudo as linguas locais, ¢-0s seus autores integram
dois grupos distintos nomeadamente, um formado por estrangeiros e 0 outro por
nacionais.
Os primeiros, na sua maioria missionérios, tinbam, como principal preocupaglo crlar
condigdes para comunicar com as populagées locais, na medida em que nao dominanda,
cabalmente, as linguas por elas faladas, ser-Ihes-ia dificil doutrind-tas, Por isso, esforgos
foram feitos para viabilizar a aprendizagem das linguas locais ¢ tradugo da Biblia nas
respectivas linguas.
Quanta ao segundo grupo, o de nacionais angolanos, os trabalhos realizados implicavam
uma conoiagao politica, porquante eles testemunhavam, através deles, 2 assuneao de sua
identidade angolana ¢ africana
* De salicrtar que, mesmo apés a indspendéncia, a lingua portuguesa continuow a ser a aniea wtllzada
‘como veiatlo © muatécia de casing, na céucario formal dos Angolanos, nos media. em todos 0s actos
PliblicosTendo em conta as obras de carécter mais abrangente, com dados sobre as linguas,
publicadas ainda em pleno século 19, importa salientar as ligadas & lingua kimbundu da
autoria de investigadores como Antonio de Ascis Iinior, Joaquim Cordeiro da Matta.
No que toca os estrangeiros, temos trabalhos ligados & lingua kimbundu da autoria de
Heli Chatelain ¢, em inicios do século passado, trabalhos sobre as linguas do grupo
Kongo, dos autores Karl Laman, Bentley; de Carlos Estermann (para as linguas do-
Sudoeste angolano), Francisco A. Barbosa (para as linguas cokwe) ¢ José Valente, para