Jairo Carioca - Cristologia e Antropologia - IBADERJ
Jairo Carioca - Cristologia e Antropologia - IBADERJ
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Nessas cruzes, os criminosos seriam amarrados ou pregados à barra transversal, que seria levantada
lentamente, asfixiando o condenado até a morte.
"Observemos o indício de seu amor. Recebemos tal penhor da
promessa de Deus; temos a morte de Cristo, temos o sangue de Cristo.
Quem morreu? O Filho Único. Por causa de quem ele morreu? Oxalá
fosse por causa dos bons, dos justos. Mas. Então? Diz o apóstolo:" Cristo
morreu pelos ímpios "(Rm 5.6). Quem doou sua morte em prol dos ímpios,
que há de reservar aos justos, a não ser sua vida? Erga-se, portanto, a
fragilidade humana; não desespere, não se choque, não se aparte, não
diga: Não serei eu. Foi Deus quem o prometeu; veio para prometer;
apareceu aos homens, veio assumir nossa morte, prometeu sua vida.
Veio até a região de nossa peregrinação, receber aqui o que existe aqui
fartamente: opróbrios, espinhos, suspensão no madeiro, cruz, morte. De
tais coisas há fartura em nossa região; veio para tal comércio. Que deu e
o que recebeu? Deu exortação, deu doutrina, deu remissão dos pecados;
recebeu injúrias, morte, cruz. Trouxe-nos bens de sua região e em nossa
região suportou os males. No entanto, prometeu-nos estarmos no futuro
ali de onde Ele veio; e disse:" Pai, aqueles que me deste quero que, onde
eu estou, também eles estejam comigo "(Jo 17.24). Houve previamente
tamanho amor! Esteve conosco onde nós estávamos, estaremos nós com
Ele lá onde Ele está."
(Agostinho, Bispo de Hipona)2
SUMÁRIO
Apresentação
CAPÍTULO I
A Natureza Humana de Cristo
CAPÍTULO II
A Natureza Divina de Cristo
CAPÍTULO III
A Expiação de Cristo
CAPÍTULO IV
A Ressurreição e Ascensão de Cristo
CAPÍTULO V
Os Ofícios de Cristo
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Agostinho, Comentário aos Salmos, 148.8, v.3, p. 1132-3. Col. Patrística. Editora Paulus
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APRESENTAÇÃO
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325 a.d. - Revisado em Constantinopla em 381 a.d.
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Credo de Atanásio. Séc. IV e V
5
João 1.14 - Nova Versão Internacional
3
CAPÍTULO I
A Natureza Humana de Cristo
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Peterson,Eugene H. A Maldição do Cristo Genérico - Mundo Cristão - p. 375
7
Novo Aurélio século XXI - verbete 'natureza humana'.
4
Ele nasceu de mulher.
"Mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher,
nascido sob a lei". (Gl 4.4)
"Ora, o nascimento de Jesus Cristo foi assim: Estando Maria, sua mãe,
desposada com José, antes de se ajuntarem, achou-se ter concebido do
Espírito Santo". (Mt. 1.18)
"E, entrando na casa, acharam o menino com Maria, sua mãe, e, prostrando-
se, o adoraram; e, abrindo os seus tesouros, lhe ofertaram dádivas: ouro,
incenso e mirra". (Mt. 2.11)
"E disse-lhe alguém: Eis que estão ali fora tua mãe e teus irmãos, que querem
falar-te".(Mt. 12.47)
"E, ao terceiro dia, fizeram-se umas bodas em Caná da Galiléia; e estava ali a
mãe de Jesus". (Jo 2.1)
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Vem do termo grego dokéo, (parecer). Uma seita surgida dentro do gnosticismo, que negava a realidade
humana do corpo de Cristo.
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Grifo meu
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I João 4.2,3 NVI
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A Natureza de Deus e seus atributos.
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Entre 318 e 323, o Bispo Alexandre entrou em conflito com o Bispo da Igreja
de Baucalis por nome Ário, a respeito da natureza de Cristo. Em fevereiro de
325, Ário foi condenado num sínodo em Antioquia e no dia 20 de maio de 325,
o Concílio ecumênico de Nicéia condenou Ário de forma definitiva com seus
ensinamentos. Estava presente neste concílio aquele que no decorrer dos anos
foi o maior defensor da fórmula de Nicéia, o Bispo de Alexandria Atanásio, que
na época do concílio fez parte da comitiva de Alexandre como diácono. Ário era
herdeiro da cristologia oriental do logos, sendo um extremado racionalista
grego que reduzia Cristo, em sua teologia, a um simples semideus. Ele
propunha em seu postulado que Cristo não era Deus, mas a primeira criatura
por Ele criado, através de quem todas as outras coisas são feitas. Pode ser
chamado de Deus apesar de não ser Deus na realidade plena, principiou a ser
a partir do não existente através de um ato momentâneo da vontade de Deus,
antes desse momento, "Ele não existia".
A longa luta contra o arianismo ainda não terminou de todo já que renasceu
na era moderna entre os unitaristas, dentre os quais o mais conhecido são as
Testemunhas de Jeová que vem em Ário uma espécie de precursor de Charles
T. Russel.
No século IV surge outra heresia que começou numa tricotomia platônica. O
homem era visto como corpo, alma sensível e alma racional. Apolinário, notável
Bispo de Laudicéia, dizia que se alguém ensinava que Cristo era um homem
completo, por implicação tinha que afirmar que Jesus também possuía uma
alma racional humana onde residia o livre-arbítrio; e sempre que havia livre-
arbítrio, havia pecado. Portanto, o Logos tomou o lugar da alma racional na
humanidade de Jesus, de forma mais clara; em Cristo, o eterno filho, ou Logos,
tomava o lugar da inteligência humana. Essa heresia foi condenada pelo
Concílio de Constatinopla, em 381 e encontrou sua definição máxima no
Concílio de Calcedônia; "Ele mesmo é perfeito tanto na divindade quanto na
humanidade. Ele mesmo também é realmente Deus e realmente homem, com
alma racional e com corpo".
Outro movimento surgido na primeira metade do V século e que negou com
veemência a encarnação do Cristo, foi chamado de Eutiquianismo.
Eutíquio, devotado discípulo de Cirilo de Alexandria, era chefe de alguns
mosteiros na Igreja Oriental. Entre 448 e 451 D.C., ele defendeu o conceito de
que, por ocasião da encarnação, a natureza humana de Cristo foi absorvida
pela natureza divina, ou seja; o corpo humano de Cristo tornou-se divino. Essa
posição negava tanto a dupla natureza de Cristo como a sua própria
humanidade e por isso foi consideradas herética no Concílio de Calcedônia em
451 D.C., e Eutíquico foi desligado de suas funções.
Justamente por causa de sua natureza humana, é que Ele pôde nos salvar
ao derrotar a morte na cruz e anular o poderio que satanás possuía nos
homens por causa do pecado, pois "nele não havia pecado algum" (I Jo 3.5).
Como bem falou Irineu: - "Tomando nossa carne e fazendo-se homem,
recapitulou em si a longa jornada da estirpe humana, obtendo para nós
salvação de modo tão sumário, para que em Jesus Cristo recuperássemos
aquilo que tínhamos perdido em Adão, ou seja, o sermos a imagem e
semelhança de Deus." 12
12
Bettenson, H., Documentos da Igreja Cristã p.69 , Aste.
6
Teve todas as características essenciais da natureza humana.
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1. Ficou cansado. (Jo 4.6)
2. Teve fome.(Mt 4.2; 21.18)
3. Teve sede. (Jo 19.28)
4. Dormiu. (Mt 8.24)
5. Limitado em seu conhecimento (Mc 1.35; Jo 6.15; Hb 5.7)
6. Foi tentado. (HB 2.18; 4.15; Tg 1.13)
"E, à hora nona, Jesus exclamou com grande voz, dizendo: Eloí, Eloí, lemá
sabactâni? Isso, traduzido, é: Deus meu, Deus meu,13 por que me
desamparaste?" ( Mc 15.34)
"Disse-lhe Jesus: Não me detenhas, porque ainda não subi para meu Pai, mas
vai para meus irmãos e dize-lhes que eu subo para meu Pai e vosso Pai, meu
Deus e vosso Deus." (Jo 20.17)14
13
Grifo meu.
14
Idem
15
Idem
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Versão King James
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Tradução livre
8
Aplicou o termo a si mesmo (Jo 8.40), João Batista (Jo 1.30), Pedro (At
2.22) e Paulo (At 13.38; I Co 15.21 e Fp 2.8) o chamaram de homem. Era
reconhecido como judeu (Jo 4.9), acharam que Ele era mais velho do que
realmente o era (Jo 8.57) e foi acusado de blasfêmia por dizer ser algo maior
que homem (Jo 10.33). Após a sua ressurreição continuou com sua aparência
de homem (Jo 20.15; 21.4,5). Existe hoje como homem na glória (I Tm 2.5) e
em sua vinda julgará o mundo com justiça como homem, "Pois ele marcou o
dia em que vai julgar o mundo com justiça, por meio de um homem que
escolheu. E deu prova disso a todos quando ressuscitou esse homem." 18(At
17.31).
18
Nova Tradução na Linguagem de Hoje
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CAPÍTULO II
"...porquanto divindade e A Natureza Divina de Cristo
humanidade são duas naturezas,
como a alma e o corpo, mas não há
dois filhos nem dois O cristianismo só é de fato uma
deuses...Ambas as naturezas, por realidade se aceitarmos de forma
meio da união, são uma, seja convicta que o 'Jesus de Nazaré', não
divindade feita homem, seja era apenas um Galileu que andou
humanidade feita Deus, ou seja entre nós, ou como prefere o método
qual for a expressão correta..." histórico crítico, o 'Jesus histórico',
(Gregório Nazianzeno, arcebispo de não! A mensagem cristã só pode ser
Constantinopla)19 sustentada mediante a asserção de
que Jesus é o Cristo.
Vemos na Bíblia que a primeira
"Tão profundo é o abismo - pessoa a aceitar o Jesus de Nazaré
agora fica claro quão profundo ele como Cristo foi o Apóstolo Simão
é - que nos separa dEle, que para Pedro (Mt 16.16), e por causa disso
transpô-lo nada menos que o Jesus lhe confiou a Igreja para ser
próprio Deus será suficiente. Mas o apascentada pelo mesmo. Deve ficar
próprio Deus faz isto, e ao fazê-lo, bem claro que Jesus de Nazaré não
mostra que Ele pode fazê-lo, pois era um Cristo (Xristós - grego) que de
Ele é o Deus triuno, o Pai do Filho, acordo com a tradição mitológica diz
o Filho do Pai, ambos estes não respeito a um personagem especial
apenas em sua revelação, não que desenvolve uma função especial;
apenas em seu reconciliamento mas o Messias (Ungido) que recebeu
nosso para Consigo Próprio, mas uma unção única de Deus para
ambos estes em verdade e poder estabelecer em Israel e no mundo o
na Sua revelação e reconciliação, reinado de Deus. 'Jesus Cristo'
pois de eternidade a eternidade Ele significa literal, original, essencial e
não é nenhum outro senão permanentemente - 'Jesus que é o
exatamente este Deus". Cristo'. Vejamos, portanto, as várias
(Karl Barth)20 provas de sua divindade:
19
Bettenson, H., Documentos da Igreja Cristã p.92 , Aste
20
Barth, Karl; Credo, Comentários ao Credo Apostólico, pg 76, Fonte Editorial
21
Tillich, Paul; Teologia Sistemática, pg 388, 5ª Edição Revista, Sinodal-Est
10
Certa vez um pregador afirmou que o Evangelho não começava em Mateus,
mas em Gênesis, e é fato que todo aquele que reconheça Jesus como Messias
precisa o identificar na promessa proferida pelo próprio Deus em Gênesis 3.15
"E porei inimizade entre ti e a mulher e entre a tua semente e a sua semente;
esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar." Esta promessa continua
por todo o Antigo Testamento, pois em várias ocasiões Deus prometeu enviar o
seu Filho ao mundo (Is 7.14; 9.6; Mq 5.12 etc.). Ele é prefigurado nos
sacrifícios apresentados e é ensinado nos Salmos e nos Profetas.22
Existe pluralidade de pessoas na linguagem empregada no registro de
criação do homem, "Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa
semelhança" (Gn 1.26), onde a única explicação satisfatória cabível é aquela
fornecida pela doutrina da Trindade. As Teofanias também sugerem a
presença do divino sob forma humana que já prerrogava a possibilidade da
encarnação de Cristo. O Anjo do Senhor que descortina em todo o Antigo
Testamento, onde se imputam títulos, atributos e as obras de Deus não é outro
senão o próprio Cristo, que possui autoridade divina, exerce prerrogativa divina
e recebe homenagem divina (Gn 16.10; 28.11-22; Os 12.4-5 etc).
Outro exemplo no Antigo Testamento da presença de Jesus, é o termo
Mashiah (Messiah em sua forma transliterada, traduzida em grego como
Christos) cujo significado é 'o ungido'. Esse nome tão facilmente confundido
com um sobrenome, é na verdade um título que só pode ser compreendido em
sua totalidade à luz do Antigo Testamento em relação à vinda do Messias de
Deus.
Resumindo, o Cristo seria aquele que reuniria em sua pessoa as três
grandes funções mediadoras do Antigo Testamento: profeta, sacerdote e rei.
Calvino denominou como o 'múnus triplex Chisti'23, como profeta Ele é aquele
que testemunha e apregoa a graça de Deus; como rei Ele inaugura um reinado
celestial e espiritual, um reino que não é físico e como sacerdote pôde se
oferecer através de sua morte em expiação por nossos pecados; portanto
somente Jesus de Nazaré - o Cristo - cumpre os ministérios de mediação
previstas na Antiga Aliança testemunhada em todo o Antigo Testamento.
22
Para uma melhor compreensão do Messianismo no Antigo Testamento, indico a leitura do livro de
Gerard van Groningen, "Revelação Messiânica no Antigo Testamento", Editora Cultura Cristã.
23
Três ministérios ou funções de Cristo.
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