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03 Contexto Geral Do Diagnóstico Psicológico

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Flor Beloque
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Contexto geral do diagnéstico psicoldgico Maritia Ancona-Lopez 1.1, O termo “diagnéstico” 1.1.1. Sentido amplo e restrito A palavra diagnéstico origina-se do_grego diagndstikés e signi ica discernimento, faculdade de_conheser. de avés_de. Com preendido dessa forma, o diagnéstico € inevtdvel, pois, sempr> que explicitamos nossa compreensio sobre um fenGmeno, realizamos um de seus possivels diagndstcos, isto 6, discernimos nele aspects, arac- teristcas relagdes que compiem'um todo, o qual chamamos de conhecimento do fenémeno. Para chegermos a esse conhecinento, tullizamos processos de observagées, de avaliagSes ¢ de interpreta 6es que se baseiam em nossas percepgies, experiénias, informagées Aadguiridas e formas de pensamento. E nesse sentido amplo que a compreensio de um fendmeno confundese com o diagnéstco do mesmo. Em sentido mais restrito, utiizase o termo diagnéstice para referirse & possiblidade de conhecimento que vai além daquela que © senso comum pode dar, ou sea, & possbilidade de signif lidade que faz uso de conceitos, nogées e teorias cientificas. ‘Quando procuramos ler determinado feto a partir de conheck- mentos especificos, estamos realizando um diagnéstico no camo da ciéncia 20 qual esses conhesimenios se referem. Uma folha de papel pode ser compreendida através de um estudo do material que a compée, de seu custo, da sua utilidade social ou de seu surgimento 1 hist6rico, dependendo dos conhecimentos colocados a servigo da busca de compreensio. Evidentemente, nem todos os conhecimentos podem ser aplicados a todos os fatos. Conhecimentos de Algebra di Fieilmente nos serdo iiteis para a compreensio da Histéria do Brasi vice-versa, Se, porém, o objeto de estudo de diversas ciéncias for © mesmo, seré possivel aplicar a esse objeto os conhecimentos de todas essas ciéncias. Por exemplo, ao estudar um animal utilizando Conhecimentos da Zoologia, enriqueceremos esse estudo recorrendo Biologia. 1.1.2. 0 diagnéstico psicoldgico ‘A Paicologia se insere no conjunto das Ciéncias Humanas. Uti- izamos seus conhecimentos para a compreensio de qualquer fend- meno humano. Esse mesmo fendmeno podera também ser objeto de festudo de outras ciéndas, o que permitiré integrar conhecimentos, enriquecendo nossa compreensio. Porém, ainda que empreguemos dados de outras ciéncias, ao tratarmos das fungdes do psicélogo, esta remos sempre nos referindo ao conjunto de fendmenos possiveis de Serem estudados pela Psicologia e ao conjunto de conhecimentos psi- colégicos que se desenvolveram a partir do estudo desses fendmenos. De fato, 0 objeto de estudo, os conhecimentos ¢ métodos utilizados caracterizam nosso trabalho, delimitam nosso campo de competéncia permitem que se deienvolva nossa identidade profissional. (Os conhecimentos dentro do campo da Psicologia, como de qual- quer outra ciéncia, nfo se agrupam indiscriminedamente, Constituem @ estdo constituidos em teorias das quais decorrem cs proct eas técni Na hist6ria da Psicologia encontramos intimeras teorias que defi nem de forma diferene seu objeto de estudo e 0 método a utilizar. ‘Algumas tomaram métodos emprestados das ciéncies naturais, defi- rindo em funglo dos mesmos o fendmeno a estudar, ¢ algumas bus- aram criar métodos proprios. Mesmo a classificagio da Psicologia como ciéncia humana, ou como ciéncia natural, e © reconhecimento ‘existéncia de teorits psicol6gicas foram e sdo muitas vezes ques tionados pelos estudiosos do conhecimento. Porém, estas so as or- ganizagées do conhecimento que encontramos no atual estégio do ‘esenvolvimento da Psicologia. Sao as que estudamos, frente &s quais nos posicionamos e com as quais trabalhamos. ‘Neste livro trataremos do diagnéstico psicol6gico. O diagnéstico psicolégico busca uma forma-de_comprecrsio ito fa, Em nosso Pais, € uma das fungies exclusivas do psi logo garantidas por Iei (Lei n* 4119 de 27-8-1962, que dispoe sobre 2 2 formagio em Psicologia e reguamenta s profissio de psicélog Sutras fungbes exclusiva slo orenagio’ ¢ teleHo.profiasinal rientagdo Picopedapiyic, solo de. problemas de. sjstameno, Giregdo de servigos de Piclogia, enna e supervisdo proisinal, assessor © peices sobre atsuntos de Pscolog. ‘Guando nos dispomos = realizar um psicodiagnéatico, presi Jes possur conhecmentos teéricos, dominar_prosedimenios © 1c reas peiclipicas. Como sao mites at teorasexistentes,e nem Sem pre convergentes, a atuagao do psicdlogo em dagnéstico, asim como fas outras fungbes privativa profited, yarn consiieravelment. Em outtas palavas, € porque a atuagio profisional depende de uma forma de conhecimeno, metodo de estido € procedimentos utiliza doe = consderando que’ a Priclogia estes 80 mules vers incl pienies que se encnram muitas concepedes e esrutrapées die Fontes do dagnéstco picldgio. © proprio uro do termo varia, de feordo com estas coneepgses. Encontrast, mutes yetes, 20 invés de iagnosic psiolgica™ 2 wtlizagao dos temas “picodignéstico”, iagnésco ‘da personalidade”, “estudo ‘de cx#0" ou "avaiagio pricelogice", Cada um desses trmos € utlizado preferencalnente por grupos de profsionas poiconados de formas diferens= dante a Peicologe ‘Assim, antes de nos propormos 4 atusr profisionalment, seré interesante expictarmos sobre que fendmenor pretendemos sar, hse srt on rife ort, os mtdoe © poedinenos © 1.2. A Psicologia Clinica ¢ as abordagens psicodiagnésticas 0 texmo Psicologia Clinica foi uiizado, pla primeira ves 1896, relerindose a procedimeniee diagnostics uliaads junto 8 linia mien. com rang dfcients sic mentas. O inte tes por ese ingntico suru a pari do momento em gue as dcengao metas foram consideradas semeibantes te doengas fica. Passram, eno, 9 fazer parte do uriveso de estudo da ciel nfo mal'daveligio, come aneriorment, quando eram considera Castigo divines potest. Pareadas com as doengas fiat, foi necesito obserir as doengas ments, verifier su existnca como entidads capecticas, descreve los © clasifict-las, Den forma, 9 par da Psiguiata, a dade médica destinada s combate 4 doenga mental, desenvolveuse 2 Psicopatologia, ou ej, 0 ramo dain voltado 40 tudo do 3 comportamento anormal, definindo-o, compreendendo seus aspectos subjacentes, sua etiologia, classificacdo e aspectos sociais. Do mesmo modo, a par do desenvolvimento da Psicologia, isto ¢, do estudo sis- temético da vida psiquica em geral, desenvolveu-se a’ Psicologia Clt- nica, como atividade voltada & prevencéo e a0 alivio do sofrimento psiquico. 1.2.1. A busca de um conhecimento objetivo ‘A forma de atuasio inicial em psicodiagnéstico refletiu a pos- tura predominante, na época, entre os cientistas. Estes consideravam possivel chegarse ao conhecimento objetivo de um fendmeno, utili- zando uma metodologia baseada em observacéo imparcial © expet mentasio. Esta postura, na qual a confirmacio de hipéteses se ba- sseia em marcos referenciais externos, conhecida em sentido amplo ‘como postura positivsta, predominou principalmente no continente americano. Dentro dessa orientagio, desenvolveramse 0 modelo mé- ico de psicodiagnéstico, o modele psicométrico eo modelo beha- viorista. 2) © modelo médico © trabalho em disgnéstico psicoldgico junto aos médicos marcou © inicio da atuasao profissional. Houve uma transposi¢éo do modelo médico para o modelo psicol6gico. Este adquiriu algumas caracte- risticas: enfatizou os aspectos patol6gicos do individuo, usando como 4uadros referenciais as nosologias psicopatoldgicas e enfatizou o uso de instrumentos de medidas de determinadas caracteristicas do in dividuo, 'No campo da Psicopatologia, multiplicaram-se as tentativas de catabclecer dferengas ene devordens orghnias, endogenas,e desor- dens funcionais, exégenas, procurando-se estabelecer relagées entre 1s mesmas e os distérbios de comportamento. Estabeleceramse, tam- bém, relagées de causalidade entre os distirbios orginicos e 0s dis- trbios psicol6gicos, principalmente nas reas da Neurologia e da Bioguimica. Na procura do estabelecimento de quadros. classiica- térios das doengas mentais, precisos ¢ mutuamente exclusivos, bus- cou-se organizar sindromes sintométicas que caracterizassem esses quadros e pudessem ser observadas. ‘Os comportamentos considerados patol6gicos passaram a ser des- critos detalhadamente. Elaboraram-e testes para determinar e detec- tar os processos psiquicos subjacentes, inclusive detectar tendéncias ppatol6gicas. O objetivo desses testes, na prética, era fornecer infor- 1magées 0s médicos que as utilizavam, como subsidios para deter- 4 rinar os diagnésticos psicopatolégicos. Procuravam-se também, nos testes, sinais de distirbios organicos que, pareados aos dados sinto- ustficassem pesquisas médicas mais aprofundadas. {As dificuldades encontradas nessa abordagem ligavam-se £0 fato de que os quadros sintométicos nem sempre se adequam 20 quadro apresentado pelo sujeito. Além disto, os mesmos sintomas fodiam ter muitas vezes causas diversas e, vice-versa, as mesmas causas podiam provocar diferentes sintomas. Do ponto de vista do psicslogo, a grande énfase nos aspectos, psicopatoldgicos deixava em segundo plano c s do comportamento das pessoas, ‘Apesar dessas dificuldades, utiliaam-se até hoje classifcagSes psicopatolépicas, principelmente no que se refere aos grandes grupos rnosolégicos. Convém lembrar que, dentro da Psicopetologia, hi dife- rentes classificagdes, ¢ estas obedecem a diferentes critéios. A uti lizagdo de critérios classificatrios jusifica-se, porém, pela busca de uma linguagem comum. 1b) © modelo psicométrico © desenvolvimento dos testes foi, aos poucos, estabelecendo um campo de atuagio exclusivo para o psicélogo ¢ gerantindo sua iden- tidade profissional, embora precéria, jé que condicionada a autori- dade do médico & quem cabia solictar esses testes € receber os resultados dos mesmos. Na atuagzo, foi com o uso de testes, principalmente junto a criangas, que 0s psicSlogos. -autonomia; Neste te balho, esforeavam-se por determiner, através dos testes, a capacidade intelectual das criancas, suas aptiddes ¢ dificuldades, assim como sua capacidade escolar. Esses resultados, com o tempo, deixaram de ser obrigatoriamente entregues outros profissionais. Utiizados pelos préprios psicélogos, serviam agora para orientar pais, profes- Sores Ou os proprios médicos. Na utilizagio dos resultados ‘dos tes- tes, tomou-se menos importante detectar distirbios ¢ classificdlos psicopetologicamente, mas sim estabelecer diferencas individusis orientages especif ‘A visio de homem subjacente ao modelo psicométrico implicava « existéncia de caracteristicas genéricas do comportamento humano, $Essus carateriaeas, de ordem genética constucional eran con- 3s relativamente imutdveis. Os testes visavam a identifcé-les, Glasificdas e medilas. Entre as teoras da Psicologia que. pocir ram explicitar essa visfo, encontram-se a Tipologia, a Psicologia das 5 Faculdades © a Psicologia do Trago, cada uma delas definindo um coneeito de homem e indicando uma forma de diagnosticé-o. vimenio da Psicologia nessas diregSes foi bastante iado por acontecimentos histéricos, principalmente nos Es- tados Unidos. Neste fais, durante a Segunda Guerra Mundial str ‘buiu-se & Psicologia a funcio de selecionar individuos, aptos ou no para 0 exércto, © avaliar os efeitos da guerra sobre os que dela retornavam. Foi destinada maior verba as pesquises psicolégicas proliferaram os testes. Estes foram amplamente difundidos no Brasi ©) O modelo behaviorista Enfatizando a postura positivista, desenvolveram-se as teorias behavioristas. Estas, partindo do principio de que o homem pode ser cestudado como qualquer outro fendmeno da natureza, incluiram 2 Pricologia entre as citncias naturais © transportaram seus métodos ppare 0 estudo do homem. A fim de poder aplicar 0 método das cién- ias_naturai jc jensuravel, € declararam 0 comportamento observivel como 0 tinico objeto possivel de ser estudado pela Psicologia. Consideraram que © comportamento humano no decorre de ccaracteristicas inatas e imutdveis, mas é aprendido, podendo ser mo- dificado. Passaram a estudé-lo, preocupando-se em alcangar as leis que o regem e as variiveis que nele influem, a fim de se poder agir sobre ele, mantendo-o, substituindo-o, modelando-o ou modificando-o. Os behavioristas criaram formas préprias de avaliacio do com- portamento a ser estudado. Ndo utilizaram o termo “psicodiagnds- tico”, valendo-se dos termos “levantamentos de repert6rio” ou “ané- lises ‘de comportamenta’ 1.2.2. A importdncia da subjetividade Paralelamente a essas tendéncias, desenvolveu-se uma nova for- 1a de conhecimento que repercutiu consideravelmente na Psicologia Desde 0 inicio do século, alguns filésofos insurgiram-se contra a vislo de ciéncia que considerava possivel uma total separasio entre © sujeito € 0 objeto de estudo. Para esses filésofos, todo 0 conhe- cimento € estabelecide pelo homem, nio se podendo negara par cipasio de sua subjeividade. Dessa forma, néo € possivel admitir como valida uma psicologia positivist, objtiva e experimental. © hhomem no pode ser estudado como um mero objeto, fazendo parte 4do mundo, pois o préprio mundo néo passa de um objeto intencional para o sujeto que 0 pensa. Desse modo, os métodos das ciéncias naturais no poderiam ser transpostos para as ciéncias humanas, jé que estas possuem caractersticas especificas. Esta forma de pensar foi marcante para a Psicopatologia e para ' Psicologia. No campo desta ditima, deu origem & Psicologia Feno- rmenoldgico-existencial e a Psicologia Humanista. Todas essas corren- tes afirmam que consciéncia, a vide intencional, determina © é determinada pelo mundo, sendo fonte de significacdo ¢ valor. Se Tientam o cardter holistico do homem sua capacidade de escolha € ‘utodeterminacio. Partindo dessa posiglo frente ao homem ¢ = ciéncia, inimeras cescolas surgiram e encararam de formas diversas a questio do psi- codiagnéstico. a) © Humanismo ‘As correntes humanistas, evitando posigées reducionistas a0 lidar com 0 homem, procuraram manter uma visio global do mesmo compreender seu mundo e seu significado, sem as referéncias ted- ricas anteriores. Insurgiramse contra 0 diagndstico psicolégico, cri- ticando seu aspecto classificatério ¢ 0 uso do individuo através dos testes. Procuraram restifuir ao ser humano sua liberdade e condigdes de desenvolvimento, repudiando 0 psicodiagnéstico e considerandoo ‘um verdadeiro leito de Procusto.* Para os humanistas, os procedi ‘mentos diagn6sticos so artificiais. Constituem-se em racionalizagGes, acompanhadas de julgamentos baseados em constructos tedricos que descaracterizam o ser humano. Esses psicélogos no se ultilizam de diagndsticos e de testes, considerando que, através do relacionamento estabelecido com o cliente, durante a psicoterapia ou aconselha- ‘mento, alcangam uma compreensiio do mesmo. b) A Paicologia Fenomenolégico-xistencial Algumas correntes da Psicologia Fenomenolégico-xistencial re- formularam a visio do psicodiagnéstico. Para estes psicdlogos, os

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