CASTILHO, Antonio Feliciano De. Tratado de Metrificação
CASTILHO, Antonio Feliciano De. Tratado de Metrificação
Î
Y ^ U Z tl N ^ '^ - , D li - uv.l.^
JO A O m U A L V E S L E IT E ,
^ ro alb ^^ c:
-;-J- -,
. ^ •V - •. r ' ■■
■ '■ S’’"- ’''^\'i
,. 1..• ^ .■ 'f*A'^.-
■"
V I‘ ■-iÍ.•V'lrf'’'-' •■ >
;/-'•■ • •
Vk-. <' >•=; / ■ -.
‘..' ■■ '*<". '-V- -. ■ ' ~'- ■ ’V
■'■• ■/ -,
A <- «‘ v..
-\ >i
i^<.v f- ,
-’ '-f '. ■■■ X Í' 'y
TRATADO
Dfi
PIÍLO
YISCONDE DE CASTILHO
4.“ EDIÇÃO
nUriíiTA E AEGMEKTADA
PORTO:
L i v - K A R i A i M o n i c —e d i t o r a
1874.
A SE U S F IL H O S
t a 0s um m u ip s
0 Ã iíc ío r ,
^ A ■ ^
-ry-
/
/
I- É y
'• /
X .»i<W
WVfiL ^ ^
I ( y y < ^ rr^ - J Â ^
Ik
Q-
H y u /
;//'
■ ?:;i
•!!i ■5'
EX TR AG TO
DO
P R O L O G O D A P R IM E IR A E D IÇ Ã O
BIRUOT c CA
" V I S .C O M D '- •'■■ ' .V .
NunTÃrõ“ 2 ^ 7
fl
8
ADVERTÊNCIA DO EDITOR
CAPITULO I
DAS SYLLABAS
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 1112 1314
A ci-gar-ra a can-tar pas-sa-ra o es-ti-o
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
A ci-gar-1'á can-tar pas-sá-res-ti-o
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16
E-IS QUE AS-SO-PRA 0 NOR-DES-TE E SE A-CHA BAL-DA
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 13 13 14 15
Eis que as-so-pra o nor-cles-te e se a-cha bal-da
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
Eis-qua-so-pro-nor-des-ti-sa-cha-bal-da
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
Sem mi-ga-lha de rnos-ca nem de ver-me
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
Sem mi-ga-lha de mos-ca nem de ver-me
1 2 3 4 5 6 7 8 9
VA-I GRI-TAN-DO LA-ZE-I-RA
1 2 3 4 5 6 7
Vai gri-tan-do la-zei-ra
1 2 3 4 5 6 7
Vai gri-tan-do la-zei-ra
1 2 9 4 5 6 7 8 9 10 11
A’ for-mi-ga pe-dir su-a vi-si-nha
i 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
A’-for-mi-ga-pe-dir-su-a-vi-si-nha
•2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 U 15
TÈ QUE A NO-VA ES-TA-ÇÃ-0 BEII-VIN-DA A-PON-TE
I 2 3 4 5 0 7 8 9 10 11 12 13 14
Té que a no-va es-ta-ção bem vin-da a-pon-te
1 2 3 4 5 G 7 8 9 10 11
Té-qua-no-ves-ta-ção-])etn-vin-dá-pon-te
l 2 3 4 5 G 7 8 9 10 11 12 13 14
Diz-lhe à fé de ci-gar-ra an-tes de a-gos-to
1 2 3 4 5 G 7 8 9 10 11
Diz-lhá-fé-cle-ci-gá-rran-tes-da-gos-to
1 2 3 4 5 6 1 8 9 10 11 12
PA-GA-RE-I TU-DO PlUX-GI-PAL E JU-ROS
1 2 3 4 5 6 I S O 10 11
Pa-ga-rei tii-do prin-ci-2)al e ju-ros
1 2 3 4 5 2 1 8 9 10 11
Pa-ga-rei-tu-do-priii-ci-pal e ju-ros
1 2 3 4 5 1 1 8 9 10
NÃ-0 SER FA-CIL NO EM-PRES-TI-MO
1 2 3 4 5 6 7 8 9
Nüo ser fa-cil no ein-pres-ti-mo
1 2 3 4 5 6 7 8
jNâo ser fa-cil nim-pres ti-mo
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13
e ’ NA FOR-MI-GA A MA-CU-LA MA-IS LE-VE
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
E ’ na for-mi-ga a ma-cu-la mais le-ve
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
E ’ na-for-mi-gà-ma-cu-la-mais-le-ve
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
Coni que diz à que vem pe-dir pres-ta-do
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
Com que diz á que vem pe-dir pres-ta-do
1 2 3 4 5 6 7 8 !) 10 11
Em qíie li-da-ims do ca-lor na qua-dra
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
l’ Ein que li-da-vas do ca-lor na qua-dra
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15
A-I FA-ÇA-ME FA-VOR E-U NO-I-TE E DT-A
1 2 3 4 5 C 7 8 9 10 11 12
Ai fa-ça-me fa-vor eu noi-te e di-a
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
Ai-fa-ça-me fa-vor-eu noi-ti-di-a
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16
CAN-TA-VA A QU-AN-TOS I-Ã-Ü-QU-AN-TOS VI-.NHÃ-U
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Can-ta-va-a quan-tos i-ão-quan-tos-vi-nhão
1 2 3 i 6 5 7 6 g ,6
Gan-tá-vá-quan-tos-i-ão-quan-tos-vi-nhão
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13
CAN-TA-VAS-MU-I-TO FOL-GO-DAX-ÇA-A-GO-RA
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 H 12
Can-ta-vas-mui-to-fol-go-dan-ça-a-go-ra
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 H
Caii-ta-vas-niui-to-fol-go-dan-çá-go-ra
V o g a c » maist o u mciiosí d i f r i c e i » d c
absorver
17 —
I
— 18 —
S y s s é r e s e e SysíalepHna
ADVERTEiNCIA HESTRICTIVA
CAPITULO II
1 -2 3
A Ticio em geiras nove o corpo estira-se-llie.
CAPITULO III
QUANTAS E SP E C IE S DE M ETROS HA EM
l ín g u a PORTUGUEZA
Aqui
a ílor
surri
amor.
A prim avera,
nos reconduz
lá de Cythèra
flores e luz.y;
28 —
l l e t r o s d e c i n c o sylSaba«»
metros de seis s y l l a b a s
l l e t r o s d e o i to s y l l a b a s
Metros de n o r e s y l l a b a s
SIctroM de o n ze eylBabíis
w»*•1! *
Ã
~ 30 —
hesâmetros c pcntâmetros, é líma quimera sem o minimo vis
lumbre de possibilidade. Carecendo de quantidades, condição
indispensável para os onze pés do distico, o portuguez nada
mais póde que arremedai o, como um João de las Vinhas, mechi-
do por arames imitaria os passos, gestos e acções de um actor
vivo e excellente; mas insistir em tão evidente materia, e que
de mais a mais ninguém hoje contraria, fôra malbaratar o tem
po que as sãs doutrinas estão pedindo.
l l c x a mc í r o s
O m e s m o peaasnmeBito e m
«listícos» o u pas-eBians c9e l i e x a m e t r o s
e p e ia ia m e t r o s
30 de julho de 1871 »
CAPITULO IV
D oa vci'NO« s^raveK c m g e r a l
C o n t r a d o« c « d r a x u l o «
CAPITULO V
C o m p o s i ç ã o fios v e r s o s d e c i n c o s y l l a b a s
1 2
Oin-ver
1 2 3
no quim -por. . . t;
1 2
sio-fo
1 2 3
goem -m eu-lar
1 2
fe-clia
1 2 3
d a es-ta -p o r.. .ta
1 2
nos-vem
1 2 3
a-le-grar
C o m p o siç ã o do m e tro d e s e is s y l l a b a s
1 2
Fe-li
1 2
zes-sem
1 2
ri-vaes
1 2 3
Be-llas-sem
£ 1 2 3
i a r -ti-íi.. .cios.
Que em dita me egualaes: dá um de duas e ou
tro de quatro:
1 2
Quiem-di
1 2 3 i
ta-mi-gua-laes.
Salm flotinhas simplices: póde dar um de qua
tro syllabas e outro de duas:
1 2 3 i
Sal-ve-ílo-ri
1 2
nhas-sim . .
C om pofiiição d o s m e t r o s d e s e t t e s y l l a b a s
1 2 3 4
Tris-te-do-m eu
1 2 3
co-ra-ção,
1 2
Can-sou
1 2
m ea-ssás:
1 2 3
vês-a-cam ...pa?
1 2 3
U-ma-to
1 2
cha-côr
1 2
da-noi...te.
D ’estas quatro com posições as m elhores são,
quatro e tres syllabas; tres, duas e duas syllabas;
tres e quatro syllabas. Os italianos só por m ilagre
deixam de pausar na syllaba terceira: entretanto
num poema de versos setisyllabos não só é commo-
do para o auctor, mas agradavel ao leitor, que os
haja de todas as contexturas.
C o m p o íiição d o s m e tr o s d e o ito s y l l a b a s
1 2 3 4
Fa-tal-do-en
1 2 3 4
ça-gol-pe-fe...ro,
1 2
Fa-tal
1 2
do-en
ça-gol
1 2
pe-fe...ro,
ou um de duas e outro de seis: Morrer! e sem ao
meu encanto.
1 2
Mo-rrer
1 2 3 4 5 6
e-sem -ao-m eu-en-can.. .to,
1 2 3
Ter-noa-mor
1 2 3
que-me-faz
1 2
Um-Deus
1 2 3
queha-so-fí'ri
1 2 3
doe-lri-um ...pha.
C o m p o siçã o do v e rs o d e n o v e s y l l a b a s
1 2 3
Tu-és-Ve
1 2 3
nus-e-Deu M
1 2 3
sa-da-Iy...ra.
C o m p o s i ç ã o d o v e r s o d e d e * « y lla t o a *
6 . 10 ,
As armas e os barues assignalados;
4 8 10 *
Nise formosa, como as graças pura.
4 2 3 4 5 C
As-ar-m as-eos-ba-rões
1 2 3 4
as-sig-na-la...dos,
ou de um de quatro, outro de quatro e outro de
duas, como:
D'Africa as terras, do Oriente os mares.
1 » a 3
D ’A-fri-cas-te
4 2 3 4
rras-doO-n-eu
46 —
1 2
teos-m a...res;
ou de cinco metros de duas syllabas cada um:
Prazeres socios meus e meus tyrannos.
1 2
Pra-ze
1 2
res-so
1 2
cios-m eus
1 2
e-meus
1 2
ty-ra...nnos;
ou de um de duas, um de quatro, um de duas, e
um de duas:
i 2
A-IU
1 2 3 4
ta-ca-pa-taz
1 a
de-fe
1 2
m eas-chô...chas.
ou de tres, tres e quatro:
1 2 3'
Quan-cloa-mor
1 2 3
por-meii-mal
1 2 3 4
m e-per-se-guia.
H a a in d a d u a s v a rie d a d e s d e v e rs o h e ro ic o , n ã o se m b o n s
e x e m p lo s e m a lg u n s p o e ta s ita lia n o s, e a lg u m a vez, a in d a q u e
r a r a , im ita d a p e lo s n o sso s; m a s q u e os o u v id o s m e lin d ro s o s
c o n d e m n a m co m o in a d m is s iv e l: a p r im e ir a c o n s ta d e u m m e
t r o d e d u a s s y lla b a s, u m d e c in c o , e u m d e tre s : A ferrea pre
cipitada bigorna.
i 2
A -fe
1 2 3 4 5
r r o a - p r e - c i - p i - ta
1 2 3
d a - b i - g o r ...n a ;
1 2 3 ,4
A - tr i- u m - p lia n
1 2 3
te - v e r- m e
1 2 3
lh a - b a n - d e i ...r a .
C o m p o s i ç ã o d o ^ e r s o d e oiiKe s y l l a l > a s
1 2 3 i 5
Da-se-rra-de-Cin
1 2 3 4 5 6
tra-por-De u s-en-vi-a... do.
1 2
Da-se
1 2 3
rra-de-Cin
1 2 3
tra-por-Deus
1 2 3
en-vi-a...do.
fi-
Os mais perfeitos são aquelles que tem , como se
ÎÏ
V. *
— 49 —
2 5 8 11
A ver-vos Rei alto cabeça guerreira.
5 8 n
Té que alfirn aos d’elles juntando os seus fados.
1 2 3 4 5 6
Po bre zaeu tea gra de
1 2 3 4 5 6
çoohon rra do ve llio diz.
V
— 50 —
(1) Nesta parte, andoa, a nosso ver, mal aconselhado o snr. Decou-
dret no seu livrinho de rithniica francoza. Alli se exige que todos os ver
sos de um poema tenham rigorosaraente as mesmas pausas. Juntai lá
mais essa difliculdade a tantas outras com que já se vê abarliado o poeta,
e dir-me-heis se fica sendo possivol, senáo por milagre, o fazer poemas
de valia, sobretudo longos. Esse presumido prazer, e prazer frivolo, dos
ouvidos, sahiria pago muito caro. Nas poesias do proprio author do alvi
tro temos nós a prova d’isso.— Todo o ponto está em que, das fôrmas
perraissiveis a cada metro se não tomem senão as melhores na conformi
dade com 0 que temos vindo indicando até aqui.
!
— 51 —
h e ro ic o p a r a d a r e n tr a d a ao p e re g r in o ; m as q iie m a l h a v e ria
e m 0 c u ltiv a rm o s em m a is a b im d a n c ia ? 0 so n e to , p o r e x e m
p lo , em a le x a n d rin o s , co m o o s fra n c e z c s, p o ré m rim a d o á n o ssa
m o d a , e to d o g ra v e , e fe ito co m o cá se sa b e faz e r, n ã o s e ria
p e lo m e n o s tã o b o m co m o o d e v e rs o s d e d ez sy lla b a s? e n ã o
p o d e r ia s e r a in d a m e lh o r com o a c c re sc im o d e v in te o ito s y l-
la b a s , e m q u e o ta le n to n e c e s s a ria m e n te se a la rg a ria ?
P a r a a m o s tra e is -a q u i u m rle a u c to r , q u e líie n ã o p a re c e
d o s m a is a feiço ad o s. N ã o é b o m , m a s é d o A b b a d e d e J a z e n -
d e , q u e ta m b é m p e la b ito la u s u a l o s n ã o fazia d o s m e lh o re s .
M as se v ó s p r e te n d e is com te m e rá r io in te n to
la n ç a r d o s a c ro m o n te a q u e lle s v e rso s fó ra ,
q u e fazem im m o rta l o lu so a tre v im e n to ;
q u e c o n d u z in d o o G am a ás re g iõ e s d ’A u ro ra ,
lh e são d a g lo ria s u a e te rn o m o n u m e n to ;
m u s a s , se tal q u e r e is .........fiq u e -se o P in d o e m b o ra .
E i s - a q u i o u tro so n e to e g u a lm e n te a le x a n d rin o :
Á IN S IG N E A R T IS T A
I CAPULETI E MONTECHI
N O R E A L T IT E A T R O D E S. C A R L O S D E L IS B O A
a 18 de Abril de 1853
D e R o m e u e J u lie ta ao m e m o ra n d o fado,
110 a m o r e n o in fo rtú n io e x e m p lo s s o b re -h u m a n o s .
— 52 —
d e v ia -s e u m c a n to r, g ig a n te e c o ro a d o :
foi S h a k s p e a r e , o r e i d o s trá g ic o s b rita n o s .
P a r a r o u b a r - lh e á ly ra o c â n tic o in s p ir a d o ,
se u fogo, s u a d o r, se u s in tim o s a rc a n o s ,
foi p re c is o u m H o m an i; o g e n io a v iv e n ta d o
d e to d o 0 im m e n so a r d o r d o s c eo s ita lia n o s.
M as e is p o r te n to n o v o , o h ! n a tu re z a ! o h ! a rte !
p a r a c ’ro a a B e llin i, e c ’ro a a o m o n u m e n to ,
r e u n e E r s ilia os d o n s q u e o céo p o r m il r e p a r te .
D e p o is q u e n ó s, p o r in te ir a m e n te c o n v ic to s d o p r é s tim o e
d a s e x c e lle n c ia s d o s a le x a n d rin o s n o s e n tre g á m o s d e s e n g a n a
d a e a b e rta m e n te ao se u g ra n g e io e s u c c e s s iv e a p e rf e iç o a
m e n to em p o r tu g u e z , m u ito s d o s n o sso s m a is b e m n a sc id o s
p o e ta s 0 to m a ra m ta m b é m a si e o tem j á n a v e rd a d e s u b id o
a g ra n d e a p u ro , s e n d o j á h o je facil p r e v e r q u e d e n tr o em p o u
co e ste m e tro , q u e ta n to se c o n c h e g a á e le g a n c ia d a fra z e e
d o e sty lo , h a -d e p le ite a r o u s a d a m e n te p r e f e re n c ia s ao n o sso
v e lh o h e ro ic o , a p e z a r d a p r e s c r ip ç ã o da s u a p o sse , a té o d e i
x a r afin ai, n ã o d ize m o s d e s tr u id o , n e m o d e se ja m o s, m a s q u a n
d o m e n o s s u p la n ta d o .
A s o b jec ç õ e s q u e se tem le v a n ta d o c o n tr a o a le x a n d rin o
n e s te s ú ltim o s a n n o s sã o m e n o s so lid a s q u e e sp e c io sa s.
A p r im e ir a , c u ja a u to r ia p e rte n c e ao A b b a d e d e Ja z e n d e
n o so n e to s u p ra c ita d o , fu n d a -s e n u m m al c a b id o e s p ir ito d e
n a c io n a lid a d e : o a le x a n d rin o — d iz e m — é m e d id a fra n c e z a .
Psão p e rc e b e m o s a fo rç a d o a rg u m e n to . S e o t e r sid o u m a
m e d id a u z a d a p r im e ir o n o u tra s te r r a s fosse im p e d im e n to p a r a
a su a n a tu ra lis a ç ã o em P o r tu g a l, te ria m o s p a r a logo d e n o s
d e s p e d ir d e to d o s os m e tro s em q u e a té a g o ra h a v e m o s e sc ri-
p to . S e é p o n d e ra ç ã o p a trió tic a , d e m o s as h o n ra s d e b o n s p a
tr io ta s ao s a ld e õ e s s e rra n o s e se m i s ilv e s tre s , q u e b la sfe m a m
c o n tr a o sy ste m a m e tric o -d e c im a l, e a tir a m ao s r io s os p a
d rõ e s d a s n o v a s m e d id a s; os v a p o re s p o r m a r, p e la s v ia s t e r
r e s tr e s e n a s fa b ric a s h ã o -d e -s e ta m b e in in je ita r co m o g a lic is
m o s; e se a ló g ica a p e r t a r m u ito h a -d e - n o s d e ix a r d e sca lço s e
— 53 —
n u s a v iv e r p o r c h o ç as e c o m e r ra iz e s. A té o n d e p ó d e c h e
g a r a e x a g e ra ç ã o d e s e n tim e n to s g e n e ro so s!
O u tro c o n tra , c o n s is te em q u e , se o v e rs o d e doze sy lla -
b a s n ã o é se n ã o d o is v e rs o s d e se is sy lla h a s, c a d a u m n ã o se
p o d e c o n s id e ra r co m o v e rs o so b re si, e m a is v a le e s c re v e l-o
d e c o m p o s to n o s s e u s d o is e le m e n to s.
E s t a s u b tile z a só p o d e rá s e d u z ir a q u e m o lh a r as c o isa s
p e la ra m a . O ra eüae commigo co m o d iz ia o n o sso P a d r e V ie i
r a q u a n d o se e m p e n h a v a em q u e p o r fa lta d e a tte n ç ã o lh e
n ã o d e s a c o m p a n h a s s e m o a i'g u m e n to .
E m p r im e ir o logai’ n e m s e m p re q u e h a d o is v e rs o s d e se is
s y lla h a s se te m n e lle s u m v e rs o d e doze sy lla b a s c e rto , p o is ,
c o m o j á d iss e m o s, se o p r im e ir o d o s d o is fô r g ra v o , e a s u a
s y lla b a u ltim a se n ã o e lid ir, os d o is s e rã o c e rto s , m a s o a le
x a n d r in o e rr a d o ; p o r o u tr a : n ã o e x is tir á ta l a le x a n d rin o , m a s
sim u m a le ijã o m é tric o sem n o m e .
E m s e g u n d o lo g ar, n in g u é m d e a p u ra d o g o sto d e ix a r á de
s e n tir q u e 1er d o is v e rs o s d is tin c to s e s e p a ra d o s n ã o p r o d u z
n e m ao o u v id o n e m ao e s p ir ito o m e sm o eíTeito, q u e 1er o s
m e sm issirn o s d o is v e rs o s in c o rp o ra d o s n u m , fo rm o so p e la s u a
u n id a d e , e c h e io d e n o v a a lm a , p e lo c o n c e rto d a q u e lla s d u a s
m u z ic a s n u m a só.
U m a c o m p a ra ç ã o triv ia l fa rá c o m p r e h e n d e r p e rf e ita m e n te
a n o ssa id é a : a p re s e n ta e a q u a lq u e r p e sso a q u e te n h a se d e
m e ia c a n a d a d e u m a h clla a g u a n u m g ra n d e co p o c ris ta lin o ,
e o u tr a m e ia r e p a r tid a em d o is co p o s d e q u a rtilh o . O c o p o
g ra n d e n ã o c o n té m re a lm e n te h e m m a is liq u id o n e m m e lh o r
q u e os d o is p e q u e n o s; m a s se rá o m esm o p a ra a se d e b e b e r
d u m folego a m e ia c a n a d a q u e os d o is q u a rtilh o s p o r d u a s v e
z es?
S e ria s u p e rflu id a d e in s i s ti r m a is em co isa tã o m an ifesta.
A M VE K TK TVCI.l.
H o je, a n d a d o s só q u a tr o a n n o s d e p o is d ’isto , q u e n a q u a rta
e d iç ã o d iziam o s á c e rc a do a le x a n d rin o , os v o to s q u e e n tã o fa-
ziam o s p a ra q u e e s te e x c e lle n te v e rs o se g é n é ra lisa sse , a c h a m -
se em fim re a lisa d o s. A c u sto se e n c o n tr a r á com p o e ta , q u e r
p o rtu g u e z q u e r b ra z ile iro , q u e lh e n ã o te n h a m o stra d o p r a t i
c a m e n te a su a p re d ile c ç ã o . M ais cab al r e s p o s ta ao s a d v e rs a -
r io s , n ã o c u id a m o s q u e a p o ssa h a v e r.
31 d e J u lh o d e 1871.
54
CAPITULO VI
P 0*imeiro e x e r c íc io m é tr ic o
C h e g a d o o d isc ip u lo a e ste p o n to d e th e o r ia , c o n v e m h a
b i tu a r 0 o u v id o á c a d e n c ia d a s m e tr o s , o u p e lo m e n o s á d o s
p r in c ip a e s ; a s a b e r: d o h e ro ic o , e d o s e u q u e b ra d o , q u e é o
íle se is sy lla b a s; d o d e s e tte , q u e é ta n to em P o rtu g a l, com o
e m H e s p a n h a o p o p u la ríss im o . U m m e th o d o q u e p a r a e s te
fim im a g in e i, r e u n e cá v a n ta g e m d e e x tr e m a m e n te sim p le s, a
d e fix a r n a m e m ó ria em m u ito p o u c o te m p o e p a r a s e m p re o
r ith m o , com o o p o sso a ffirm a r p e la e x p e rie n c ia , q u e te n h o
fe ito em v á rio s a lu m n o s .
Íleg;iiii(lo c x c r c i c i o m c t r i c o
A té a q u i te m o e stu d io so c o lh id o a s re g ra s d o m e trific a r;
r e s ta - lh e p ra tic a l-a s ; p a s s a r, p o r q u e a ssim o d ig am o s, do e x e r-
c ic io p a s siv o ao a c tiv o . P a ra fa c ilita r e to r n a r m a is ra p id a , e
p o r c o n s e q u ê n c ia m a is fru c fife ra , e sta p r a tic a , co n v em sim -
p lific a l-a q u a n to fo r p o ssiv e l, a h s tr a h ir do q u e é p o e s ia p r o
p r ia m e n te d ita , p a ra se a té r sim p le s m e n te á s fo rm u la s p r e s -
c r ip ta s d a su a e x p re s s ã o , ao q u e se p ó d e c h a m a r s u a p a r t e
m e c h a n ic a ou p la stic a . O p e n s a m e n to , o aífecto , o id ea l, m u ito
m a is v a sto , m u ito m ais in d e fin id o , e m u ito m e n o s s u je ito a
re g ra s , c o n s titu e u m e s tu d o á p a rte , c o n h e c id o sob o titu lo d e
P o é tic a . A s s u a s d iífic u ld a d e s, são in n u m e ra v e is , e a lg u m á s
d ’ellas im m e n sa s. O p r in c ip ia n te , q u e a m b ic io n a sse c o n c ilia r
o h ello do p e n s a m e n to com o hello d a v e rsificação , a s p ir a r ia
a u m a c h im e ra , e com a a n c ia d e c h e g a r logo ao" m ais, d e ix a
r ia d e c o n s e g u ir o m e n o s. A s s e n h o re a e -v o s do in s tr u m e n to :
q u a n d o elle v o s n ã o o p p o z e r j á re s is tê n c ia , q u a n d o o m a n e
j a r d e s sem falha, e com o q u e b rin c a n d o ; e n tã o , liv re j á d e
u m a d is tra c ç ã o , q u e v o s p re o c c u p a v a m e ta d e d a s v o ssa s fa
c u ld a d e s , p o d e re is p e n s a r em fa n ta sia s d e H a y d n ou d e M o
z a rt: e n tã o p o d e is d a r larg a s aos c a p ric h o s d a v o ssa im a g in a
ção c re a d o ra . S eg u i o e x e m p lo do p in to r : c re d e s v ó s, q u e o
s e u p r im e ir o tra b a lh o foi esse q u a d ro v iv o , q u e v o s e n le v a ,
q u e se a d m ira em to d a a p a r te , e d ia n te d o q u a l os p in to re s
d e to d a s as e d a d e s v irã o m e d ita r e in s tru ir-s e ? E n g a n a e s-v o s.
P r im e ir o a p re n d e u a d a r com um p o b re la p is alg u m as re c ta s
e c u rv a s sem significação; b o sq u e jo u p a rte p o r p a rte , m as des-
c o n n e x a s e m o rta s as feições h u m a n a s, d e p o is com poz a c a
b e ç a ; n e lla v eio j á a lv o re c e n d o a v id a ; ju n to u o c o rp o e a at
titude, co m p o z os g ru p o s , m a n d o u -lh e s s e n tir, e fallar; ás
p la n ta s , q u e v e g e ta ssem ; ao céo , q u e re sp la n d e c e sse ; á s c o r
r e n te s , q u e fu g issem ; á n a tu re z a in te ir a , q u e sa h isse d o n a d a i
A lg u m d ia fa re is o q u a d ro : ag o ra o s r u d im e n to s , a g o ra o t r a
c e ja r, e n a d a m ais.
O p r e s e n te c a p itu lo c u s to u d ia s d e lo n g a, m in u c io sa , e
c a n sa d is siin a a p p lic a ç ã o ; rnas os c o ro lla rio s, a q u e p o r ella
c h e g u e i, d e ix a ra rn -m e b e m p ag o d o m e u tra b a lh o . S e e u h o u
v e s s e tid o ta n to te m p o co m o b o a v o n ta d e , e sta e s ta tis tic a d e
n o v a e sp e c ie , s e ria m u ito m ais a m p la . M e d iria d ez o u v in te
v e z e s m a io r e x te n s ã o d e p ro sa , p o sto q u e n a q u e m ed i m e
p a re c e h a v e r j á u m ra so a v e l te rm o m ed io ; os tre c h o s d a p r o
sa q u e e u m e d isse n ão s e ria m so m m a d o s to d o s ju n to s in d is-
tin c tá m e n te , m as a g ru p a d o s com m ais d e u m a classificação ;
p o r e x e m p lo ; m e d iria á p a r te o p o rtu g u e z a n tig o , o m o d e rn o ,
e 0 m o d e rn iss im o ; é á p a rte , so b re tu d o , m e d iria os d iv e rso s
g e n e rö s o u esty lo s. O c a m in h o fica risc a d o e a b e rto ; q u e m
q u iz e r p o d e rá seg u il-o .
E is -a q u i co m o e u p ro c e d i n e s ta in v e stig a ç ã o . T o m a d o
sem e sco lh a u m tre c h o em pi-osador p o rtu g u e z leg itim o , p r o
c u re i q u e v e rs o s d e doze sy lla b a s se c o n tin h a m n e lle . A fim
d e q u e n e n h u m m e e sc a p a sse , p ro c u re i se c o m e ç a n d o p e la
p r im e ir a p a la v ra , e c o n tin u a n d o p e la s p ró x im a s se g u in te s,
d e s c o b ria um ; p a ssa v a a faz e r eg u al d ilig e n c ia d e sd e a s e
g u n d a p a la v r a á v a n te ; d e p o is d e sd e a te rc e ira ; e a ssim p o r
d ia n te , a té ao fim do tre c h o , to m a n d o a p o n ta m e n to d o n u
m e ro d o s v e rs o s q u e d e sc o b ria ; id e n tic a m e n te a r e s p e ito d o
m e tr o d e o n ze sy lla b a s, e assim a té ao d e d u a s. N ão d e ix e i d e
c o n s id e ra r p a la v ra s , p a ra c o m e ç a r p o r ellas c a d a m ed ição , os
m o n o sy lla b o s, a rtig o s, o u c o n ju n c ç õ e s, a in d a q u e se. e lid is
sem . Do p e n s a m e n to n e n h u m caso fiz, m as só d a fó rm a m a
te r ia l em re la ç ã o ao ry th m o ; n ã o c h a m e i só v e rso s aos e x c e l
le n te s p o r su a c a d ê n c ia ; a d m itti-o s fro u x o s e d u ro s , com sy -
— 58 —
D e V ie ira to m ei d o to m o l.° d o s S e rm õ e s , e d iç ã o d e
1 6 7 9 , a c o lu m n a 1 0 3 9 , e tc ., 1.® § d o S e rm ã o d e C in z a s, a s a
b e r : i 2 o lin h a s a s q u a e s c o m p re h e n d e m 5 0 8 p a la v ra s . D e
ra m - m e esta s:
S o m m a , v e rs o s . . . 2 :0 1 0
T o m e i d e F e rn ã o M en d es P in to , d o to m o 13.° d a L iv r a
r ia C lassica (1.® e d iç ã o ) a p a g in a s 5 e 6 , os p rim e iro s d o is §§,
a s a b e r: 2 4 lin h a s , a s q u a e s c o m p re h e n d e m 149 p a la v ra s . D e
ra m - m e e sta s:
V e rs o s d e doze sy lla b a s 19
J» » onze 46
» » d ez 56
» » nove 39
» » o ito 90
» i> s e tte 62
» » seis 56
D » cin co 81
)) » q u a tro 74
» » trè s 64
)) I) d u a s 58
S o m m a , v e rs o s .
- 59 —
T o m e i d e J a c in th o F r e ir e d e A n d r a d e , d a V id a d e D .
J o ã o d e C a s tro , e d iç ã o d e L isb o a , d e 1 7 0 3 , a té a o fim d o 1.®
§ d o L iv ro p a g in a s 1 e 2 , 2 7 lin h a s , a s q u a e s c o m p re h e n -
d e m 173 p a la v ra s . D e ra m -m e e s ta s :
V e rs o s d e d o ze sy lla b a s 19
)) » o n ze » 2o
» )» d ez )) 78
)) )) nove )) 21
)) Jt o ito » 83
» » s e tte » 93
» » seis 97
» Ï cin co » 102
J) » q u a tr o » 84
» » tre s 72
» )) duas » 84
S o m m a v e rs o s . • • 7S 8
V e rs o s d e d o ze sy llab as
» « onze »
» » d ez »
« *nove »
» » o ito »
» » s e tte »
» » s e is »
» » cin co »
» » q u a tr o »
» I) trè s »
» »d u a s »
S o m m a , v e rs o s . 347
TV
— 60 —
T o m ei d o P a d r e M anoel B e r n a rd e s , to m o l .° d a L iv ra r ia
C lassica (1.® ed ição ) a p a g in a s 18, d o a rtig o — C o n so la ç ã o — as
p r im e ir a s 13 lin h a s , a s q u a e s c o m p re h e n d e m 70 p a la v ra s . D e
r a m - m e e sta s:
V e rs o s d e doze sy lla b a s 12
» « o n ze » 15
» » d ez » 33
» » nove » 21
)) » o ito » 39
)) » s e tte » 43
y> > seis n 43
» c in c o » 33
» » q u a tro » 33
i> M trè s 0 39
» duas )) 30
S o m m a , v e rs o s . 341
T o m ei d e G a rc ia d e R e z e n d e , to m o 1 0 .°, d a L iv r a r ia
C lassica (1.® e d iç ã o ) a p a g in a s 5 , 12 lin h a s , a s q u a e s c o m p r e
h e n d e m 9 5 p a la v ra s . D e ra m -m e e sta s:
S o m m a , v e rs o s . 500
T o m ei d e R o d rig u e s L o h o , d a — P r im a v e r a — e d iç ã o d e
1 7 0 4 , a p a g in a s 3 , 13 lin h a s , a s q u a e s c o m p re h e n d e m *98 p a
la v ra s . D e ra m -m e e sta s:
19 -
V e rs o s d e d o z e sy lla b a s 15
» > o n ze 15
a » d ez » 40
» » nove )) 14
» » o ito » 57
» » s e tte » 54
» seis 56
» » c in c o > 48
» q u a tro )) 52
» » tr è s » 48
9 » duas » 45 ' 'Í
S o m m a , v e rs o s . 444
T o m e i d e F r . L u iz d e S o u s a — V id a d o A rc e b is p o — e d i
ção d e P a r is d e 1 7 6 0 , to m o i ." , p a g in a 1, as p r im e ir a s 10 li-
n b a s , a s q u a e s c o m p re h e n d e m 79 p a la v ra s . D e ra m -m e e sta s:
V e rs o s d e d o ze sy lla b a s . . 17
» » o n ze W . • 18
i* ^ ■
» » d ez )> 36 '
» nove )> • • 16
)í » o ito » • • 45
» » s e tte » 47
» » seis » 43 ■• i
• k^Ïy
» » cin co » • • 43
JD » q u a tro )) • • 37
)) » tr e s ’ • * 31
)) » duas )> . • 38 ' |Í
• 371 ■- ‘
S o m m a, v e r s o s .
1. * C o n s e q u ê n c ia .— A p ro s a te m b a rm o n ia o u n u m e ro .
2. * C o n se q u ê n c ia .—-A harnK )nia o u n u m e ro d a p ro s a é
v a ria v e l.
3. * C o n se q u ê n c ia .— C ada a u c to r te m , sem se s e n tir, m a io r
q u e d a p a ra c e rto s m e tro s, q u e p a r a o u tro s. E m ca d a u m dos
o ito a n a ly s a d o s , e is -a q u i a p ro p o rç ã o em q u e se a c h a e sta
te n d e n c ia :
63
o n ze d iffe re n te s m e d iç õ e s, d is trib iiid o s e ste s p o r c a d a u n i d o s
m e tro s , a c h a -s e q u e a p r o p o rç ã o em q u e os m e tr o s e stã o u n s
p a r a co m os o u tro s , em lin g u a p o rtu g u e z a , é a s e g u in te ;
< 0 0 ( X > C O í O O » O t ^ t : ^ C 3 iO
CiCiOO tM CO O-^CiiO C^íM
O » O iO iO O O O C O i—
oá
&Q OOi —I C ^ C O C O C ^ ï O C O C O O O t ^
O C O C OC O ' í Í ^ ' ^ - < í } H' ^ í —I C O i- H t-H
&Q
o
lO G O O lC O O 'd^ t^ -^ O iO iO
—q
f=i O C O C 3 CMfMC5 i O i O C N O C O
cC
CO
03
f—< O C 3 COCOCOCOCirHCOiOC<l
U O C OC OCOCO- r i H- r f I COCNCOT —( t—1
CS 03
PQ
O
H
O
P pq O o o < : C ' i —i c o O O t ^ O C ^ O
COG<lCOCO'^'^-^i—
a
03 .1
'rtHOq'^C^Ît^COCOrHGOliOCS
(—
1 C O C ^ O O O O C Í G O < M » ' < M i —1
1^
-*í
C3
CO-^-rflrHOG^lOOCOCOGi
l O C O C ^ O O t O C ^ O S C O O - r l I ,—1
l O t —I C O C O C O l > » i —l - r í i G < l C O O
03 C O C O C M C O C O O f M i O t M i —l O
<M( NG<i ( MG<»G' 1 CM T-lrHT-H
CO
c»
C£ (J^CO-^^itOt-COOSOT—
1—1 T—1 I—1
Pi
i‘ ^■
5.® C o n s e q u ê n c ia .— D o m a p p a s u p ra se d e d u z q u e : o m e
tro m a is n a tu ra i em lin g u a p o rtu g u e z a p a re c e s e r o d e o ito sy l-
la b a s; d e p o is o d e seis; d e p o is o d e c in c o ; d e p o is o d e s e tte ;
d e p o is 0 d e trè s ; d e p o is o d e d u a s ; d e p o is o d e q u a tro ; d e p o is
0 d e d ez; d e p o is o d e o n ze; d e p o is o d e doze; d e p o is o d e
n o v e.
7 .“ C o n se q u ê n c ia .— O q u e d e ix o e x p re s s o n a c o n s e q u ê n
c ia 5.% p o is é fu n d a d o em a u c to re s to d o s b e m v e rn á c u lo s ,
p ó d e s e r v ir d e c ra v e ira , p o r o n d e se g ra d u e , q u a n to ao n u
m e ro e h a rm o n ia , a v c rn a c u lid a d e d e q u a lq u e r e s c rip to p o r -
tu g u ez.
O p ro c e sso é s im p le s e claro .
D e c o m p o n d e u m a su ffic ie n te p o rç ã o d ’esse e s c rip to n o s
d iv e rso s m e tro s q u e ella p o ssa d a r d e si, n u m e r a e os v e rs o s
d e c a d a e sp e c ie , e a c a re a e essa n u m e r a ç ã o com e sta .
A c o n c o rd â n c ia o u d is c re p â n c ia g o v e rn a rã o o v o sso ju iz o
á c e rc a do n u m e r o e h a rm o n ia d o e s c rip to r, p o is é essq u m
d o te em q u e g e ia lm e n te se c o stu m a v o ta r á tô a , e so b re q u e
to d o s os d ia s se d is p u ta tã o sem ra z ã o co m o so b re o s g o sto s.
65
CAPITULO VIÍl
Do« v e r s o s d u ro «
V erso s fro u xo s
1 2 3 4 5 6 789 10
— Se au lhe votoamor a alla foge.—
1. 2 3 4 5 G 7 8 9 10
— V icto n a sem par queob teve Annibal.—
•f
68 —
VersoM m o u o p lio n o !»
V e r s o » c a c o p lio n ic o s
A lg u n s o u tro s le v e s d e fe ito s p ó d e a in d a h a v e r n a v e rs i
ficação , os q u a e s p o r m in u c io so s se o m itte m . mi
CAPITULO IX
Da le tt r a — A-
^Is a r m a s e os V a rõ e s a s s ig n a la d o s
q u e d a o c c id e n ta l p r a i a L u s ita n a ,
p o r m a re s n u n c a d ’a n te s n a v e g a d o s
p a s s a r a m in d a a lé m d a T a p r o b a n a ;
q u e em p e rig o s , e g u e r r a s e sfo rç a d o s,
m a is d o q u e p e r m ittia a fo rç a h u m a n a ,
e n tr e g e n te re m o ta e d ific a ra m
n o v o R e in o (jue ta n to s u b lim a r a m ;
E ta m b é m a s m e m ó ria s g lo rio s a s
d a q u e lle s R e is q u e fo ra m d ila ta n d o
a F é , 0 im p é rio , e a s t e r r a s v ic io sa s
d ’v lfric a , e d ’A sia a n d a r a m d e v a s ta n d o :
e a q u e lle s q u e p o r o b r a s v a lo ro s a s
;'f ■ se v a m d a le y d a M o rte lib e r ta n d o ,
c a n ta n d o e s p a lh a r e i p o r to d a a p a r t e
se a ta n to m e a ju d a r o e n g e n h o , e a rte . etc.
71
I n n u m e r a v e is e x e m p lo s a n a lo g o s se p o d e ria m c ita r. D e -
lille c o m m e iita n d o a q u e lle v e rs o d e V irg ilio :
— O m n ia s u b m a g n a l a b e n t i a f lu m in a t e r r a , —
n o ta co m o a q u e lla s d e s in e n c ia s to d a s em A c o m b in a m com a
v a s tid ã o e f re s c u ra d a id é a : Os rios todos que vão manando
por baixo da espaçosa terra.
E a in d a C am õ es:
— B ra m in d o o n e g ro m a r d e lo n g e b r a d a
co m o se d é sse cm v ã o n a lg in n r o c b e d o .—
— At B e g in a g r a v i ja m d u d u m s a u c ia c u r a
Y u ln u s a í i t v e n is , e t cæ co c a r p i t u r ig n i.—
te rm in a ç ã o d a p a r te fe m in in a n o s a d je c tiv o s trifo r -
m e s d o s L a tin o s , e a q u e em P o r tu g u e z lh e c o rre s p o n d e , n ã o
te ria m a s u a o rig e m n u m a e sp e c ie d e c o n sc iê n c ia in s tin c tiv a
d a fe m in id a d e d o A?
^,Não é e n tr e n ó s o A a su a v e m a rc a d o n o m e d a m u lh e r ,
d e q u a n to s o b je c to s lh e p e rte n c e m , d e q u a n ta s q u a lid a d e s se
lh e i-eferem ?
M a ria fo rm o sa , b o a , m o d e s ta , c a s ta , sin g e la .
S e n ã o é p o s s iv e l p r o v a r q u e o A se a p p lic o u ao fe m i
n in o , p o r e lfe ito d e u m c o n h e c im e n to p ré v io e p h ilo so p h ic o
d o se u v a lo r, é p e lo m en o s in n c g a v e l q u e o u so d e o o u v i r
m o s d e s d e o b e rç o fig u ra r s e m p re a ssim n a s m ais a m a n te s r e
la ç õ e s , lh e im p r im iu , se elle o n ã o tin h a j á p e r si, o q u e q u e r
q u e s e ja d e m a is n a m o ra d o e v o lu p tu o s o q u e ás o u tra s le ttra s .
Da le tíra —E
q u e a lin g u a fra n c e za ta n to c e d e em m e re c im e n to p h o n ic o á
n o ssa, á c a ste lh a n a e á ita lia n a .
A ssim co m o d o A fo rte se d e sc a e com a voz a té ao A
fra q u iss im o , assim d o A fra q u iss im o se cae, p o r u m a t r a n s i
ç ã o facil, p a r a o E fo rte , e d ’e ste p a r a o m e n o s fo rte , e d o
m e n o s fo rte p a ra o fra q u iss im o , q u e j á n o o u v id o se c o n fu n d e
com I; p elo q u e m e p a re c e q u e o A, o E e o / c o n s titu e m
iirn a escala n a tu ra l, co m o o O e o U c o n s titu e m o u tra .
n a le ltr a —I—
Q u a n to á id é a d e p e q u e n e z to d o s sem c u s to o r e c o n h e
c e rã o ; os d im in u tiv o s , e ssa g ra n d e riq u e z a d a n o ssa lingua,.
q u a n d o o se u u so c o rr e p o r b o as m ão s, m as riq u e z a , q u e c e r
to s e s p irito s secco s e sem g o sto d e s e n te n d e m , e m o te ja m ; os
d im in u tiv o s , digo, q u a s i to d o s s e fo rm a m em p o rtu g u e z p e la
a d d iç ã o e sse n c ial d e u m I; ílo r, flo rú ih a , ílo rzta, ílo rfc a ; p o r
ta , p o r lín h a , p o r ti ta , p o rtfc a . H a a in d a n o u so fa m ilia rissim o
d im in u tiv o s d e d im in u tiv o s , q u e se fo rm a m p e la a d d iç ã o d e
u m n o v o / ao / j á p o sto ; d im in u tiv o d e p e q u e n o , p e q u e n m o ;
d im in u tiv o d e d im in u tiv o p e q u e n in o , p e q u e m iu n h o , o u p e -
q u e m c l)m h o , o u p e q iu m c h n ib o , o u p e q u e r r u c b ú ih o ; e ca so s
h a em q u e a in d a se c h eg a a u m a te r c e ir a d istilla ç ã o d e p e -
— 73
q u e n e z , co m o p e q u e n /c h íc h ín h o , p o r o n d e p a r e c e e v id e n te
q u e p a r a o n o sso e s p ir ito o I sô a n a tu r a lm e n te co m o signal do
e x ig u id a d e . N e s te p a r tic u la r h a v e m o s q u e a n o ssa lin g u a e a
c a s te lh a n a le v a m v a n ta g e m ás d u a s o u tra s d e o rig e m la tin a ,
e á la tin a m e s m a , p o is o s fra n c e z e s fo rm a m c o m m u m m e n te os
s e u s d im in u tiv o s p e la a d d iç ã o d o a d je c tiv o petit ao p o s itiv o ,
e se a lg u m a s r a r a s v ezes m o d ificam o s u b s ta n tiv o , o u a d je c
tiv o p o s itiv o , é d a n d o -lh e s te rm in a ç õ e s co m a s q u a e s o / n a d a
te m q u e v é r; herbe, herhetíe, bergere, bergeréte, Jeanne, Jean
nette; Louise, Louison; oiseau, oison; vieux, vieillot. O s ita lia
n o s fazern o u tro ta n to a se u m o d o . O s la tin o s ta m h e m n â o
a p ro v e ita r a m o I co m o d e s ig n a tiv o d a d im in u iç ã o : os, osm
ium; liber, lihcllus-, puer, puellus; e d e p o is puellulus; labium,
labellus; e d e labellus, labellulus. A le ttr a L p a re c ia s u p p r ir -
lh e s n is to o n o sso I.
O u v i a s m ã e s e as a m a s e x tre m o s a s , q u a n d o p a lra m com
o s s e u s p e q u e n in o s d e m am a ; d ir- s e - ia q u e tôem p a r a elles
u m a lin g u a g e m to d a m iu d in h a , e to d a d e II; p e lo c o n tr a rio os
a u g m e n ta tiv o s n ã o só e v ita m o I, se n ã o q u e te n d e m p o r s u a
n a tu re z a p a r a o A , o q u e a in d a c o n firm a a n o ssa th e o ria : sá
bio, sabichão; bebadn, beberrão; velha, velhaça; casa, casarão;
ladrão, ladravaz; linguareiro, linguaraz; bruto, brutaz; e
a n a lo g ic a m e n te , voraz, roaz, pugnaz, e tc .; ás v ezes v ã o ta m
b ém p a r a o O (e v e r - s e - h a o p o rq u ó q u a n d o tra ta r m o s d ’es-
sa vogal) cavallo, cnvallorio\ simples, simplorio; e tc .; m as, p r o -
se g u in d o n a p r o p rie d a d e a tte n n a tiv a d o I, p a ra a p r o v a r c ita
m u ito a p o n to B lu te a u a V irg ilio ; fa lla n d o d a s e m b a rc a ç õ e s,
p o r c u ja s g re ta s com s u a d e lg a d e z a p e n e tr a a a g u a , diz V ir
g ilio com m u ito I:
............. la x is la te ru in c o m p a g ib u s o m n e s
— A c c ip u m t ú iím íc u m û n b r e in , rû m ’s q u e f a tis c u n t.—
G arcia d e U ez e n d e , in v e c tiv a n d o a s p e q u e n e z a s d o se u
te m p o , e s c re v e :
A g o ra v e m o s c a p in h a s ,
m u ito c u rto s p e llo tin h o s,
g o lp in h o s, e s a p a tin h o s ,
fu n d a s p e q u e n a s , m u lin h a s ,
g ib õ ez in h o s, h a rr e tin h o s ,
e s tre ita s c a b e ç a d in h a s ,
p e q u e n a s n o m in a s in h a s .
e s tr e itin h a s g u a rn iç õ e s ,
e m u ito m á s in v e n ç õ e s,
p o is q u e tu d o são c o isin h a s.
— E r u e r m t D a n a i; q u se q u e ip s e m is é rr im a v id í^
e t q u o ru m p a r s m a g n a f u i .............
O m e sm o V n g ilio n a E g lo g a 1.®, e n tr e os q u e ix u m e s d e M e-
lib e u , p õ e e ste v e rso :
— S p e m g re g is, ah ! s ilic e in n u d a c o n n ix a r e l i q u i t .—
e e ste s:
— N o n e q u id e m in v id e o : m ir o r m a g is, im d iq u e t o ti s —
U s q u e a d e o tu r b a t u r a g r i s .............
^N ão p o d e rá s e r q u e a te rm in a ç ã o d a p r im e ir a p e s so a
d o s in g u la r d o s p r e té rito s re c e b e s se o I, q u e ta n to n o la tim ,
co m o n o p o rtu g u e z a c a ra c té ris a , p o r s e r e s ta le ttr a m a is c o n
fo rm e á m ag o a e s e n tim e n to q u e n a tu r a lm e n te a c o m p a n h a a
id é a d o q u e j á lá v a i? — amava, amei— vidi, vi— vixi, v ivi=
audivi, ouvi.
C am õ es, d e p lo ra n d o a m o rte d e u m a p e sso a m u ito q u e
r id a , r o m p e o se u so n e to p o r u m v e rs o p a u s a d o to d o em / :
A lm a m in h a g e n til, q u e te p a rtis te .
O s se g u in te s se is v e rs o s do m esm o C am õ es a p re s e n ta m
o rd e n a d o s com so ífriv e l c o iib e c im e n to os os aa.
d e m s e r c o n firm a ç ã o d o q u e d e ix a m o s c o n sid e ra d o .
lla Icttra -
D o som d o O se p a ssa tã o n a tu r a lm e n te p a r a o d o U,
q u e em to d a s as p a la v r a s te rm in a d a s p o r O b r e v e , e ste a s s u
m e 0 v a lo r d e ,[7 ; co m o : Santo-Antonio, q u e se lê com o se se
e s c re v e ss e Santu Antoniu. O a rtig o m a sc u lin o èom o U se p r o
fe re , a ssim n o s in g u la r, co m o n o p lu ra l; e n o m eio d o s v o c á
b u lo s tã o id ê n tic o ao v a lo r do U é m u ita s v e z e s o d o O, q u e
faz d u v id a r n a o rth o g ra p b ia . F ic a logo c la ro q u e fallan d o n ó s
a q u i d o v a lo r, e n ã o d a íig u ra d a s le ttr a s , tu d o q u e do U
d is s e rm o s , ao O q u e tiv e r v a lo r d e U se d e v e rá ig u a lm e n te
a p p lic a r.
A in d a a m e d o d e in c o r r e r n a c e n s u r a d e m in u c io so , e
d e o b s e rv a d o r d e p u e rilid a d e s , n o ta r e i, q u e to d o s os d ia s as
a m a s e p e s so a s in d is c re ta s , q u a n d o p r o c u r a m in tim id a r a o s
m e n in o s , fa z e n d o -lh e s v ê r côcos, e p h a n ta s m a s n a e s c u rid a d e ,
o u a p ro fu n d e z a d e u m p o ço , n e n h u m o u tro so m e m p re g a m
s e n ã o o do U, q u a si a s p ira d o e p ro lo n g a d issim o . E aos q u e
ta x a s s e m d e fú te is os r e p a ro s d ’essa e sp e c ie , re s p o n d e ria m o s .
— 76 —
I
q u e , p a r a a s in v e stig a ç õ e s q u e e sta m o s faz e n d o , as q u a e s ta l
v e z n ã o são d e to d o in ú te is , n e n h u m g u ia se p ô d e p r o c u r a r
m a is se g u ro , q u e a p r o p r i a n a tu r e z a , e q u e os o rá c u lo s d ’ella,
m a is d e p re s s a e m a is g e n u in o s se h ã o d e e n c o n tr a r n o s e n te s
r u d e s , e so h re tu d o n a p u e r ic ia , e n a in fa n c ia , d o q u e n o s e s
p ír ito s em q u e m a in s tru c ç ã o , e a s c o n v e n ç õ e s j á te m d e s -
tr u id o , em g ra n d e p a r te , o p r im itiv o s e r.
Hlii,''
CAPITULO X
SO NETO
Ao c re b r o som d e lu g u b re w ístrum ew to
com ta rd o p é c a m in h a o àdinquenio,
Um Deus c o n so lad o r, um Deus clemente,
lh e m s p ir a , lh e v ig o ra o soffriw icnto.
D u ro n ó p e la mão d o algoz c ru e n to
e s ír e ita r - s e n o collo o réo j á sen te.
M u ltip lic a d a a m o rte , anceia a m en te!
b a te h o r r o r s o b re h o r r o r n o pensa?nento.
O lh o s e ais d irig in d o á d im n d a d e ,
so b e, e n v o lto n a s n u v e n s d a tris te z a ,
ao te rm o e x p ia d o r d a in iq u id a d e .
D as leis se cw m pre a s a lu ta r d u re z a .
Sai a a lm a d ’e n tre os veos d a h u m a n id a d e ;
folga a J u s tiç a , e gem e a N a tu re z a .
C o n tê e m -se n o s q u a to rz e v e rs o s n a d a m e n o s d e 10 d i-
p h to n g o s , e 2 2 v o g a e s n a z a la d a s; so m m a 3 2 so n s fo rte m e n te
m u zic ae s. (1)
— 78 —
(a r t i g o novo na p r e s e n t e edição)
O s e le m e n to s d a falia
d a n o ssa e d a s m ais n a ç õ es
d iv id e m -s e em d u a s classes
q u e são v o z e s e i n f l e x õ e s .
S ão v o zes puras: à â
é ê i 0 0 u:
n a z a l a d a s : an en in
on un (v a e ro l n u e c ru ).
LiNGuo-PALÀTAES te r c c iia ;
a q u a r ta l in g u o - d e n t a e s ;
DENTO-LABiAES a q ui i i t a ;
a s e x ta em íim la b ia e s .
S ão GUTURAES guc e q;
são Ç Z j X LÍNGUAES;
são rr r l Ui n nh
a s LIXGUO-PALATINAES.
S ã o LINGUO-DENTAES (1 t;
f V DE.NTO-LABIAES;
SÓ & p e m n o s re sta m
q u e se c h a m a m la b ia e s .
CAPITULO XI
O e x a m e d e c a d a u m a e os e x e m p lo s n o s fa rã o m e llio r
c o m p re lie iid e r. A d v ir to q u e h a v e n d o e n tr e as c o n so a n te s a l
g u m a s com id ê n tic o v a lo r, e fallan d o n ó s só d ’e ste , e n ã o d a
fig u ra d a s le ttra s , n o s n ã o d e te re m o s a d iz e r d o C b ra n d o o
q u e a liá s vai im p lic ite n o S b ra n d o ; n e m do S á s p e ro o q u e
é co tn m u rn com ò Z; n e m d o C á s p e ro , e d o K, o q u e v a i n o
Q; 0 Ph e 0 F s e rã o r e p u ta d o s com o a m esm a co isa; b e m c o
m o o G b ra n d o e o / ; o C/í e o A". D o H in ic ia l, e sem v a lo r,
n e n h u m ca so farem o s.
l>a» l e i t r a s — B , e P-
D a » l e t t r a » — C* e S-
D a» l o t i r a s — B>, e T —
------p r e fra c ta q u e q u a d ru p e d a n tu m
p e c to ra p e c to r ib u s r u m p u n t . . . .
C a b e ç as p e lo c a m p o v ão sa lta n d o ,
b ra ç o s , p e rn a s , sem d o n o , sem s e n tid o ,
e d ’o u tro s as e n tr a n h a s p a lp ita n d o ,
p a llid a a c ô r, e o g esto a tn o rte c id o ;
j á p e rd e o c a m p o o e x e rc ito n efatid o ;
c o rre m rio s d o sa n g u e d e sp a rz id o .
D a s l e t t r a s — F , PU , e V —
D a s l e t t r a s — Ci» (c o m ^ a lo r d e Ciue)
do C ásp ero » d o K» e d o —
c o n tin u a ç ã o d o s so n s d e X , r e s u lta n te , s o b re tu d o , d o s S S n o s
p lu ra e s , ih e fazia ao o u v id o o eíTeito d e u m a c a sc a ta p e r e n n e .
A p a la v ra fresco, p o sto se n ã o o rth o g r a p h e com u m o u
co m o u tro sig n al d ’e ste s, j á n o s p o d é ra s e r v ir d e e x e m p lo ,
p o r t e r n o se u S o v a lo r d e X e o u tro ta n to p o d e ra m o s d i
z e r d e cascata; m a s c o n sid e ra e a e u fo n ia d e , chuvA, jorro,
c/iocalhar, cfeafariz. c /ía fu rd a r, e n x a m e , c /ia m u sc a r, c/teia, j a -
c u la ç ã o , rep u c/ío ,. c/iam a.
D a « l e t t r a « — li e l i l i —
Q u em h e m r e p a r a r em c e r ta a n a lo g ia fô n ica, q u e se d á
e n tr e Lh e a a rtic u la ç ã o Ch, d e q u e falíárn o s, p o d e r á ta lv e z
d e s c o b r ir n a in d o le p e c u lia r d o H p o r o n d e e x p liq u e e s ta s e -
— 87 —
m i-c o in c id e n c ia , e s ta p r o p r ie d a d e q u e e lle p a re c e t e r n u m e
n o u tr o caso p a r a se tra n s fo r m a r em so id o d e liq u id es^ e d e
o u tr o s c o rp o s m iú d o s , e fa c ilm e n te d iv is ív e is .
D a l e t t r a — 51—
D a s l e l t r a s — IV e IVIi—
— 88 —
D a l e lt r a — B-
R u em p o r te r r a as e m p e rra d a s p o rta s ,
d a s E ó lia s h o rris o n a s m a sm o rra s,
q u e d ’um fero e n c o n trã o ru g in d o a rro m b a
a c a te rv a dos E u ro s .
Q u à d a ta p o r ta , r u u n t , e t te r r a s tu rb in e p e ríla n t.
In c u b u e r e m a ri, to tu m q u e à se d ib u s im is
u n ã E u r u s q u e N o tu s q u e r u u n t, c re b e r q u e p ro c e llis
A fric u s; e t v a sto s v o lv u n t a d litto ra flu c tu s.
I n s e q u i tu r c la rn o rq u e v irú m , s tr id o rq u e r u d e n tú m .
Dast l e t t r a s — Z e S, v a l e n d o Z —
CAPITULO XÍI
DIGRESSÃO
P a re c e -m e q u e , p a ra b em se a v a lia r u m a lin g u a q u a n to á
e u fo n ia , s e ria n ã o só u til, m as n e c e ssá rio , a v e rig u a r em q u e
p ro p o rç ã o e n tra m n e lla os so n s e as a rtic u la ç õ e s ; assine com o
s u s p e ito , q u e , p a r a a c o m p a ra ç ã o d as lin g u a s u m a s co m a s
o u tr a s , s o b re m o d o se ria c o n d u c e n te u m s im ilh a n te in q u é r ito
fe ito em c a d a u m a d ’ellas; m as o tra b a lh o é dos m ais fa s tid io
s o s , e n ã o sem e s p in h o s e d u v id a s . E r n p re h e n d i- o , e fd -o
q u a n to á n o ssa , co m o j á se v a e v e r. A d v irto , p o r é m , q u e n ão
to i 0 m e u fim c o n ta r as v o g aes e c o n so a n te s q u e e n tra m , p o r
e x e m p lo , em u m a fo lh a d e co m p o siç ão p o rtu g u e z a ; q u a lq u e r
f u n d id o r d e ty p o s , o u c o m p o s ito r d e im p r e n s a , p o d e ria d iz e r
iss o ; tra te i u n ic a m e n te do q u e e ra m v a lo re s re a e s ; a ssim , t o
d a s a s c o n s o a n te s , q u e so am co m o sin g elas, co m o sin g e la s as
c o n te i; to d as as q u e n a p ro n u n c ia se o m itte m , o m itti-a s ; t o
d a s as q u e n a c o m p o siç ão to m a m d iv e rs o v a lo r, to m e i-a s n ’e s-
s e s caso s p a r a o ro l a* q u e e sse v a lo r m ’as a d s c re v ia ; a ssim ,
d o S e n tr e d u a s vo g aes n a m esm a p a la v ra , o u em p assag em
d e p a la v ra p a ra p a la v i a , fiz Z; do S o u 2^ fin al, X ; p e la m e s
m a raz ã o , o E v a le n d o p o r J, a rr u m e i-o p a r a o I; e o O v a
le n d o U, p a r a o U; e o U d e p o is d e Q on G, d e s p re z e i-o ,
e tc ., e tc . O s tre c h o s , em q u e se o p e ro u , fo ram c o lh id o s em
d iv e r s o s a u c to re s ; o re s u lta u o foi o se g u in te ;
• 444 D ...............................
A m , A n, A . . 37 481 X , Ch, e S e Z (finaes)
G e S . . . .
E . . . . . 338 C (á sp e ro ) K e Q .
Em , En . . . 36 374 M ...............................
N ...............................
U . . . . . 272 L ...............................
Um, Un . 9 281 P ...............................
V . . . . «
I e Y . . . . 204 Z e S (e n tre vogaes)
Im , I n . . . 12 2 1 6 G (á s p e ro ). . .
FePh. . . .
0 .. . . . 131 B ...............................
Om, On . 9 160 G e J .
N h ...............................
R . . . . . . 220 L h ...............................
T . . . . . . 136
AMPLIAÇÃO DA THEORIA DOS VALORES DAS
VOGAES E CONSOANTES
C o m o s e d e ^ e u s a r d a t h e o r ia p r e c e d e n t e
L ín g ;iia p i* im it i« a
Só a n n o s d e p o is d e e s c rip to o q u e se a c a b a d e 1er, e
q u a n d o j á se a c h a v a ty p o g ra p h ic a m e n te c o m p o sto e im p re s s o
e ste le v e esb o ço so b re as o n o m a to p e a s, é q u e tiv e o c e a siã o
d e p e r c o r r e r a a d m ira v e l e e ru d itis s im a o b ra de M r. Coivrt
de òébelin. Monde primitif, analysé et compare avec le monde
moderne, considéré dans rhistoire naturelle de la parole, ou
origine du langage et de l’écriture.
P o s to q u e n e sse e s c rip to d e m ila g ro sa fe lic id a d e , o a u -
c to r, p o r urn e stu d o p ro fu n d a m e n te re fle x iv o d o in s tr u m e n to
vo cal h u m a n o , e p o r u m a c o n fro n ta ç ã o m in u c io sa d e u m se m
n u m e ro de lin g u a s, n o s h a ja com o q u e re v e la d o a lin g u a p r i
m e v a d o g e n e ro h u m a n o , lin g u a n e c e ssá ria e e sse n c ia lm e n te
q n o m a to p ic a , e c u jo s v e stig io s se d e sc o b re m em to d a s as a n
tig a s e m o d e rn a s u n iv e rs a lm e n te , q u a n d o se a p re n d e u a b e m
o b s e rv a r; p a re c e -m e , salv o o a ta c a m e n to d e v id o a tão g ra n d e
h o m e m , q u e p a ra o o b jec to q u e e u a q u i tra ta v a , isto é , p a r a
a in te llig e n c ia e p r a tic a d a s o n o m a to p e a s, a m in h a ta b e lla z i-
n h a de v a lo re s, p o r m a is c irc u n s c rip ta q u e o se u , p ro fu so , e ,
p o r isso m esm o , á s v ezes m u i vag o tra ta d o , p o d e rá s e r p r e
fe rid a . A s u a a n a ly se d a s vogaes é e n g e n h o sa , e ta lv e z em
— 9o —
g ra n d e p a r te v e rd a d e ir a ; m as p e la s c o n v e rsõ e s n u m e ro s a s a
q u e to d a s ellas são su je ita s , e q u e o a u c to r m esm o re c o n h e c e
e s u b m e tte a re g ra s ig n o ra d a s p e lo c o m m u m , d e ix a m d e t e r
p a r a o c o m m u m d o s o u v id o s e e n te n d im e n to s e ssa o rig in a ria
e ra d ic a l sig n ificação ; ao m esm o te m p o q u e em o n o sso o p ú s
c u lo , em q u e se c o n s u lto u m e n o s a a rc h e o lo g ia q u e o sen so
g e ra l, a in te n ç ã o sig n ific a tiv a q u e ás vogaes se a ttr ib u e , é o b v ia ,
m u ito c la ra , e m u ito m a is sim p le s. A s a rtic u la ç õ e s o u in to -
n a ç õ es, isto é, a s c o n so a n te s, p o u c o d ifte re m no se u tra ta d o
e n o m e u o p u s c u lo ; n a m a io r p a rte d ’ellas tiv e o gosto d e v e r
a s m in h a s fa n ta s ia s c o n firm a d a s p e lo se u s a b e r . N os p o n to s,
p o ré m , em q u e d isc re p a m o s, p o sto q u e o s e r p a r te litig a n te
rn e v e d e o s e r j u iz , p a re c e -m e q u e se v a i m ais se g u ro d e ef-
fe ito p e la m in h a th e o ria ; e q u a n d o n ã o , c o m p a re -s e p o r
e x e m p lo o q u e elle e s ta tu e co m o d o u trin a so b re to d a s as la -
b ia e s , e o q u e e u em d iv e rs o , e talv e z em c o n tra rio s e n tid o ,
p r o p o n h o e c o m p ro v o , c u id o e u , so b re a lg u m a s d ’ellas.
CAPITULO XIV
S e 0 e sp aç o , q u e a raz ã o d e m a rc a a e ste c o m p e n d io , n ã o
fosse tã o e s tre ito , q u e de d o c u m e n to s d a re a lid a d e e v a n ta
g e n s d a s o n o m a ío p e a s n ã o p o d e ria m o s d e p o s ita r a q u i? M as
p o r n ã o p o d e rm o s o m ais, n ã o d e ix a re m o s d e faz e r o m en o s,
Mil c o n s id e ra ç õ e s e sta v a m p e d in d o q u e to d o s o s e x e m
p lo s, q u e h o u v e s s e d e p r e s e n ta r , fossem a lh e io s e d e a u c to -
r e s c e le b re s. A p re s s a m e p r o h ib iu p ro c u ra l-o s . L im ite i-m e
ao q u e a m e m ó ria m e s u g g e riu . S e a lg u n s v ã o de m in h a
p r o p r i a la v ra , p e ç o v e n ia : to m e i os q u e m e v ie ra m . 0 m e
n o s b o m é a in d a m e lh o r q u e o n a d a .
96
F ilin to , C a n to l . ° d o O b e ro n .
HUÓL TRANSVIADO NA MATTA DO MONTE LIBANO:
L e v a a p é , p e la s re d e a s o cav allo ,
q u a n to o p e rm itte a b re n lia ; n a s raiz es,
>V.' n a s frag as, c a d a p a sso , é u m tro p ê ç o .
E n c a p o ta -s e o céo com n e g ra s n u v e n s ;
iiiv ia , ig n o ta é. a b r e n h a . L e õ e s iio rrid o s
ru g e m , s tru g e m -lb e in so lito s o u v id o s:
iI•),l.-< '!'i
• (• re p e te m - lb e o ru g id o a lp e s tre s ro c h a s ,
ifa:V? q u e CO’a in u d e z d ’ap o z calam m o r s u s to ,
>._i( ■, I .
!V e 0 p e ito m ais v a le n te a b a la ria m .
O n o sso h e ro e , a q u e m n e n h u m g u e rre iro ,
d e u p a v o r, s e n te os n e rv o s r e la x a r e m - s e -lh e ;
D á c ’u m a lap a , q u e ro m p e u n a tu r a
n a p ro fu n d e z do m o n te , a c u ja u m b re ira
a rd ia e c re p ita v a a c c e sa ram a .
A r e s p le n d e n te c im a d o ro c h e d o ,
d e se lv á tic a s ç a rç a s a sso m b ra d a ,
(com o p o r a r te m agica) d e sp e g a -se
d a n e g ra n o ite ; e as ç a rç a s q u e se a lp e n d ra m
d a s fen d a s dos p e n h a sc o s a ffig u ram
o s re fle x o s d u m fogo, q u e v e rd e ja .
II
J á se e rg u e m p a la d in s ; j á n o a r fu zilam ,
d e sp e d e m s u sto s la m in a s m in a c e s;
— 97 —
fe ro s u iv o s n a s b ó b e d a s re s tru g e n i.
T re m e o c h ã o , a s v id ra ç a s , v e lh a s rin g e m :
III
i:
MORTE DE AMA.URI NO DUELLO COM HUOL:
V o m ita o n d a s de sa n g u e o m o n s tr o e m o rr e .
IV
N o v o d e lirio a c c e n d e os d a n sa rin o s!
A iT erv en ta-se a v a lsa , e th e o r le v a
d e tu rb o re d o p io .— A lto s os p u lo s,
cegas a s ro d a s, em s u o r d e rre te m -n o s ,
com o a s n e v e s, em d ia d e desgêlo.
B a te -lh e o p e ito a p u lsa ç õ e s re d o b re s ,
a r q u e j a m ..............................................................
F ilin to só á s u a p a r te d a ria p a r a v o lu m e s d e e g u a es e x -
c e r p to s . T o d o s e ste s são c o lh id o s d e p o u c a s p a g in a s, m a s
n ’essas m esm a s d e ix a m o s a m in a q u a si in ta c ta .
VI
T ra d u c ç ã o d a s M e ta m o rp h o se s d e O v id io .
RIO EM QUE DIANA APPETECE BANHAR-SE:
E n tr o u a D e u sa em g é lid a e s p e s s u ra ,
o n d e ia com fre s q u issim o m u rm u rio
p o r so b re fina a rê a m o v ed iça
e sc o rre g a n d o u ra r io p re g u iç o s o .
VII
N e g re ja a n n o sa m a tta , o n d e o m ac h a d o
ja m a is e n tro u ; lá se a b re u m a c a v e rn a
— 99 —
d e v im e s e d e a rb u s to s e n ric a d a .
F o r m a m -lh e o a rc o hum ilde" u n s se ix o s toscos
e em c o p io sa s a g u a s s e m p re a b u n d a . ^
INella m o ra D ra g ã o , sa g ra d o a M arte:
a u r e a e c ris ta d a a fro n te , os o lh o s lu m e ,
tu m id o 0 c o rp o d e le th a l v e n e n o ,
tríp lic e a lin g u a , os d e n te s em trè s o rd e n s.
JNeste a rv o re d o os ty rio s e m issá rio s
e n tr a m com p é s in is tro : m al q u e a u r n a
d e s c e n d o ás a g u a s re tu m h o u p e lo a n tro ,
e is d o fu n d o d o longo e sc o n d e rijo
e rg u e o d ra g ã o c e rú le o a fro n te e n o rm e ,
e h o rre n d o s silv o s so lta; ao v e l-o , e o iiv il-o ,
lo g e 0 sa n g u e ; d a s m ão s as u r n a s ca em ;
s u h itã n e a tr e m u r a os a c c o rn m e tte .
V e l-o em v o lú v e is v o lta s d e s c o n c e n tra
o s escam o.sos c irc u lo s; e a p u lo s
co lle an d o a v a n ç a ; m ais d e m eio e rg u id o
d o m in a to d a a selva; ein c o rp u lê n c ia ,
n e m ce d e, ao q u e s e p a ra a s U rsa s am b as.
HiOiquanto, ou p a r a a b rig a os ty rio s se a rm a m ,
m i se d isp õ e á fuga, ou fu g a e b rig a
lh e s im p e d e o p a v o r, c o a t u r b a in v e ste !
u n s , n o s d e n te s os lev a; o u tro s , n a s ro sc a s
e n ta la d o s a r r a s tr a , e ste s, d e rr ib a
CO 0 bafo immujido; aquelles, co a peçonha.
c o n tra o d a rd o c o m tu d o a n ã o d e fe n d e ,
p e lo m eio d a e s p in h a d o b ra d iç a
v a ro u , lá ja z n a e n tr a n h a o fe rro in te iro .
F u rio s o c o ’a d ô r r e to rc e o m o n stro
a fro n te so b re o d o rso ; o lh a a ferid a ;
n a h a s te a , em si c ra v a d a , e n te r r a os d e n te s ;
p a r a a q u i, p a r a a tli, re v o lv e , a la rg a ,
a té q u e a a rra n c a em fim ; m a s fica o fe rro .
C o ’a fe rid a re c e n te a f u ria in n a ta ,
c re sc e , r e q u in ta a g o ra: in c h a m -lh e o collo
tu m id a s v é a s; d e e sp u m o sa b a b a
a lv e ja a la rg a , a p e s tile n te boca;
d a s e scam as ro ça d o o c h ã o resô a ;
o b afo e sc u ro d a s ta r ta r c a s fau ces
in fe c ta as a u ra s , c o n ta m in a as p la n ta s ;
o r a e sp ira l se a p e rta em o rb e im m e n so ,
o r a a rv o ra d o m a s tro im ita a p r u m o ,
o ra n o s v a sto s im p e to s sim e lh a
r io feroz c o ’as c h e ia s e n g ro ssa d o ;
ro m p e , a lv o ro ta as a rv o re s p a ssa n d o .
R e tro c e d e a lg u n s p a sso s o A g en o reo ;
c o ’o leo n in o e sp o lio n a s in is tr a ,
lh e a p a ra a fu ria , o p p õ e -lh e a la n ç a em ris te .
B ra v e ja o D rag o affoito; n o im p a ssiv e l
fe rro os d e n te s a m o la , e m o rd e o g u m e.
J á d o p a d a r p u n g id o e stá c o rre n d o
s a n g u e e m p e sta d o , q u e ro c ia as h e rv a s ;
m a s é le v e a fe rid a , p o rq u e o m o n s tro
s e n te o p ic o , e r e tr a n e - s e ; o d a m n o e n c e ta ,
s u rg e a tra z , nem d á te m p o a q u e e n tr e o golpe.
O A g e n o rid e e n tã o d o b ra n d o esforço, í1
j á m ersiu lh ad o n a g u e la o fe rro ,
se g u e -o , le v a -o d e e n c o n tro , a té q u e o b sta n d o
n o c a m in h o u m c a rv a lh o , collo e tro n c o
d o m esm o lan ç o alli d e ix o u p re g a d o s;
d o b ra -s e a a rv o re ao p e so , e gem e ao s g o lp es,
c o m q u e a c a u d a in d ig n a d a a ç o ita o tro n c o .
CASTIGO INFLIGIDO POR BACCO AS FILHAS DE MINEO^
POR ESTAS LHE PROFANAREM COM O TRABALHO
DO THEAR E ROCA O SEU DIA DE FESTA:
C om o e n c o n tra d a d e u m tu fã o re tr e m e ,
d o fu n d a m e n to ao te c to a e sta n c ia toda!
R e sin o so s a rc h o te s v o a m , z u n e m !
R e tin g e as c asas c ré p ita n te in cê n d io !
C o rre m p h a n ta s m a s d e u lu la n te s feras!
P e lo s a lto s d e sv ão s cegos de fu m o
v ã o -s e as im p ia s irm ã s , d is p e rs a s , loucas^
c o n tra o fogo e c la rã o b u sc a n d o a sy lo .
102 —
S u rg e u m p e n h a sc o á s a g u a s so b ra n c e iro .
D as o n d a s o v a iv e rn p o r b a ix o o m in a ,
v a s to p ég o co"a a b o b a d a p ro te g e ;
ita n to a fro n te e sc a b ro sa in v e s te os m ares!
In o , p o is Ibe ala fo rças o d e lirio ,
lá v in g a ; e, sem te m o r, c o ’a lin d a c a rg a
s a lta ao p ro fu n d o ja b y s m a -s e l c o ’o b a q u e
a s a g u a s a lv e ja n d o e sp a d a n a ra m .
XI
................................................. eis d o p ro fu n d o
re m u g e u m ro u c o e s tro n d o , eis s u rd e , ao larg o ,
m o n stro , q u e v a sto m a r c o ’o p e ito a b a rc a ,
c o ’a fro n te e rg u id a s o b re le v a ás o n d a s,
e c o n tra a c o sta re m e ssa d o in v e ste .
N ’isto , q u a l vo g a com so n o ra p r ô a
le n h o im p e llid o d e su a d o s re m o s ,
ta l 0 m o n stro c o ’o p e ito as v ag as ra sg a
d ire ito á s ro c h a s , d e q u e d ista a p e n a s,
q u a n to a fu n d a b a le a r c o ’o tir o a lc a n ç a .
ISa te r r a os p é s com fo rç a re p e llin d o *
foge 0 m a n c e b o , e se re m o n ta á s n u v e n s .
A ’ s o m b ra , q u e d e lá n o p ég o e sta m p a ,
a fera , e s b ra v e ja n d o , se a rre m e ç a .
M as, com o a g u ia re a l, q u e em ra so a v is ta
liv id a e scam ea s e rp e ao sol ja z e n d o ,
d e tra z a in v e s te , e, p o r v e d a r, q u e os d e n te s
lh e r e v ir e , á c e rv iz lh e a fe rra a s g a rra s;
'1
— 103 —
b a ix a d o s c eo s o v o a d o r, d e c h o fre ,
c o n tra o d o rso fe rin o , in te ir o o c u rv o
f e r r o lh e e n s o p a n a d ir e ita e sp a d u a .
R u g e , e tro v e ja o m o n s tro c o ’a fe rid a ;
o r a se a t i r a ao s a re s , o r a ao fu n d o
m e rg u lh a , o ra se v o lv e e se re v o lv e ,
q u a l b r u to ja v a li n u m c e rc o e s tre ito
d e la d ra d o re s c ã es d e sa tin a d o .
O a rg iv o h e ro e ^ v o a n d o s e m p re , illu d e
a b o c a e n o rm e , q u e o p e rs e g u e s e m p re ,
e , v o a n d o , r e ta lh a á s c u tila d a s ,
q u a n to á flo r d ’a g u a a sso m a , a g o ra o d o rso
d e c o n c h a s e n c ru s ta d o , a g o ra os la d o s ,
a g o ra , o n d e a c a u d a se a d e lg a ç a ,
e a c a b a em p e ix e .— A fe ra j á v o m ita
a u m te m p o o n d a s d e m a r, e o n d a s d e sa n g u e.
P e r s e u , q u e d ’e ste s s o rd id o s b o rrifo s
h u m e d e c id o s os ta la re s se n te ,
te m e a r r is c a r - s e m ais; n o ta u m p e n h a sc o ,
q u e ao s m a re s s o b re s a h e , q u a n d o q u ie to s;
q u a n d o a g ita d o s, c o b re -s e ; táz d ’elle
c o n tr a p é ; n o p e n e d o m a is v isin h o
a fe rra a e s q u e r d a , e c o ’a d ire ita a rm a d a ,
d e b ru ç a n d o -s e , e is, trè s , eis, q u a tr o v ezes
a s e n tr a n h a s lh e p a s sa , e lh e re p a s s a .
Com p a lm a s , e c la m o re s r e p e n tin o s ,
r e tu m b a a p r a ia , os a lto s ceo s se e stru g e m .
XII
E is , ru id o so a lv o io to a tr ô a os á trio s!
N ão é d e p o v o c o n ju g a l d e sc a n te ,
s e n ã o feroz r e b a te . O festim led o ,
d e g e n e ra d o em tre p id o tu m u lto ,
le m b ra o m a r, q u e os tu fõ e s c o lh e ra m liso ,
e , d o s tu fõ es e n tra d o , e s to ira , e sp u m a .
if
104
XIII
XIV
C a p re a p a lu d e , se c h a m o u d e a n tig o s
0 lu g a r o n d e R o ín u lo p o r u so ,
ju s tiç a , e le is ao s s ú b d ito s d ic ta v a .
L á e ra : foge o so l, n e g re ja in n u v e n s ,
0 céo se o b u rn b ra , h o rris o n o c h u v e ir o
se d e sa ta , p r e c ip ite , re b ra rn a
tro v ã o te tro , re lâ m p a g o s tre m u la m ,
ro x o s c o risc o s p e la s s o m b ra s g ira m !
F o g e -se ; n e s te h o r r o r , rn av o rc io c o c h e
v ô a a o s céos! lá v ai R o m u lo s e r N u m e .
CÂPITÜLO XV
NOVO e x e r c íc io d e v e r s i f i c a ç ã o
i I
! 0 prim eiro exercicio rpie propuz aos principian
tes, fimdando-me na experiencia, foi o de com passar
com certa cantilena e palmas, versos alheios, e com
grande continuação; o segundo fazer versos chama
dos nonsenses. Agora é preciso adiantar já um pas
: so, e entrar um pouco por dentro na poesia. l£!
Os versos devem já ter intenção e pensamento.
Seguindo o nosso costume, iremos também aqui do
'm ais facil para o mais difficil, e propor-nos-hemos
antes de mais nada o sim ples descriptive.
ItitI
iSão é 0 d e s c rip tiv o u m g e n e ro e sp ec ial d e p o e s ia ; é u m
e le m e n to , q u e em m a io r o u m e n o r a b u n d a n c ia e n tr a n a c o m
p o s iç ã o d e to d o s os g e n e rö s . D e sc re v e r p o r d e sc re v m ’ foi j á
s y s te m a e se ita . D elille q u a s i n ã o fez o u tr a coisa. O s s e u s
p o e m a s o rig in a e s , so b re tu d o o d a Imaginação, são g a le ria s d e
p e q u e n a s p in tu r a s ; c a d a u m a fo rm o sa, a lg u m a s p e rte ita s , m as
d e s c o im e x a s , fria s, e q u e , a p e s a r d o se u b rilh o p a rc ia l, n o s
n ã o sa b em in te re s s a r, e a p o u c o s p a sso s n o s fatig am . Os p o e
ta s p a s to ris d o sécu lo a tra z , e os a lle m ã e s e su isso s em p r i
m e ir a lin h a , tam b é m c o n c o rre ra m m u ito pelo a b u so p a ra o
d e s a p re ç o e m ofa em q u e o d e s c rip tiv o se v iu c a ir. E ’ p o r
q u e 0 d e s c r ip tiv o é s im p le s m e n te m a te ria , c o rp o e fó rm a . A
, 1-u
a lm a , a v id a , é a id e a lid a d e ; faltan d o o p e n s a m e n to fo rte e
c re a d o r, q u e se c o llo q u e com o c e n tro n o m eio d o s d ilfe re n te s
v u lto s do u n iv e rs o , so b re o q u a l elles a c tu e m , e q u e re a ja s o
b r e e lle s, e q u e d 'e lle s e d e si c o m b in a d o s e x tr a ia u m u n i
v e rs o n o v o , u m a n o v a re v e la ç ã o o u a s p ira ç ã o do b ello ; a a u
r o r a m a is b e m d e s c rip ta , o sol, a lu a , o u o rio , m ais b e m d a -
106
g u e rre o ty p a d o s , ficarão e te rn a m e n te m u d o s e sem sig n ific a
ção .
R e ta lh a e u m q u a d ro d e R a p h a ë l n a s in n u m e ra v e is p a rte s
d e q u e o se u g e n io o co m p o z; te re is n a v e rd a d e lin d a s m ão s,
fo rm o so s o lh o s e b o cas, a d m irá v e is p a n e ja m e n to s , v iço so s r a
m o s, tu d o ; e esse tu d o se rá n a d a ; p o r q u e fa lta rá a h i o c o n
c e rto , 0 e n th u s ia sm o q u e p o z e ra tã o d iv e rs a s co isas em r e la
ção m a ra v ilh o s a , n ã o j á com os o lh o s, se n ã o com o e s p ir ito
d e ca d a e sp e c ta d o r.
E n tr e ta n to , a ssim co m o sem e ssa s p a r te s n ã o h a q u a d ro ,
ta m b é m sem d e s c rip ç ã o n ã o h a p o e m a ; p e lo m e n o s a in d a o
n ã o v im o s, n e m lh e im a g in á m o s a p o s s ib ilid a d e . A c o stu m e -
se p o is, 0 e stu d io so a tra n s la d a r d o n a tu r a l p a r a a su a p h r a s e
m é tric a d is tin c te s o b je c te s d a n a tu re z a o u d a a r te , co m o o
p i n to r n o v e l se a d e s tr a a n te s d e se a b a la n ç a r ás g ra n d e s c o m
p o siç õ e s, em c o p ia r os p o rm e n o re s co m e x a c ç ã o e g ra ç a .
O u tra v a n ta g e m d e n ã o le v e m o n ta lh e p r o v ir á d ’e sta e x e r-
c ita ç ã o : a c o s tu m a r -s e - h a d e s d e logo a v a ria r p o r jn u ito s m o
d o s a lin g u a g e m , p a ra o c e o rre r á s su c c e ssiv a s e x ig ê n c ia s d o s
v á rio s m e tro s; e x tr a o rd in á rio r e c u r s o q u e d e p o is se a p p la u -
d irá d e p o s s u ir .
A lg u ém a c o n se lh a ria p a r a a q u i o s c h a m a d o s d ic c io n a rio s
p o é tic o s ,— esses a ç o iig u es em q u e os ta le n to s d e p r im e ir a o r
d e m se a c h a m c o rta d o s ao s p e d a ç o s, e s c o rre n d o sa n g u e , e im -
p o ssiv e is d e re c o n h e c e r: os Gradus ad parnasum, e regia
parnasi, os thesaurus phrazium poeticarum, a Prosodia d e
B e n to P e r e ir a , e o Biedonario d e C â n d id o L u s ita n o ; n ó s p e lo
c o n tra rio re c o m m e n d a ria m o s q u e d e liv ro s ta e s a té a m e m o
r ia se p e rd e s s e ; e re a lm e n te , se q u e re is d e s c r e v e r a m a d r u -
— 10 7 —
g a d a , c a re c e is d e q u e o u tre m a v iss e a n te s d e v ó s? n ã o é m a is
s e g u ro p a ra effeito d e n a tu ra lid a d e , le v a n ta r-v o s u m d ia ced o ,
e ir - lh e to m a r a s in sp ira ç õ e s em p r im e ir a m ão ? q u e m se le m
b r o u já m a is d e p i n ta r u m o b je c to v iv o e p r e s e n te , p o r o u tro
r e t r a t o j á feito , p o r m a is bello, p o r m a is fiel q u e elle p o d e sse
t e r sa íd o ? Im ita e , m a s im ita e a n a tu re z a , e n ã o os s e u s im i
ta d o re s .
T o d a s as lu a s d e s c rip ta s h a d o is m il a n n o s n ã o v a le m
ta n to co m o u rn a d o n o sa lu a c h e ia , q u e p e la c a la d a d e u m a
n o ite d e e stio v o s co m ece a a lv o re c e r lá ao lo n g e p o r d e tra z
d o s c a b eç o s; q u e v o s vem d e s p o n ta n d o , p o r e n tr e a e s c u ra
c o n fu sã o d a m a tta , com o u m p e n s a m e n to s u a v e p o r e n tr e p e
n a s sa u d o sa s ; e q u e d a o rla d o h o ris o n te , s u b iu ris o n h a e s e
g u r a p e la a m p lid ã o in fin ita e d ia fa n a d o s a re s , o ííu sc o u a s e s
tre ita s , p r a te o u a s a g u as, e sc la re c e u o vosso v a lle , e s c in tilla
lá ao longe n a v id ra ç a d a v o ssa q u e rid a , e a c o rd o u ao m esm o
te m p o a v ira ç ã o fre sc a d a n o ite , o c a n to d o ro u x in o l, e u n s
so n s d e fla u ta , q u e vos ch eg am n ã o sa b e is d ’o n d e , e v o s e n
feitiç a m .
N ã o d iss im u la m o s q u e , p a r a o in te ir a m e n te b iso n h o n o
p o e ta r , p o d e rã o s e r c o n v e n ie n te s, e a té n e c e ssá rio s, a lg u n s
m o d ello s q u e o e n c a m in h e m ; m as esses m o d ello s n ão são, n e m
d e v e m , n e m p o d e m s e r, p o e ta s m o rto s e m u tila d o s; — esses
m o d ello s são as o b ra s in te ir a s e c o m p le ta s ;— é le r com a tte n -
ção os a u c to re s re c o m m e n d a d o s, m e d ita l-o s p a rte p o r p a rte ,
c o s tu m a n d o -s e a d is c e r n ir o o p tim o d o b o m , e o bo m d o m e
n o s b o m , p r o c u r a n d o o q u ê, e o p o r q u ê d e ca d a p h ra s e ; o
co m o a e x p re s s ã o u su a l e fa m ilia r se n o b ilito u , c o n v e rte n d o -
s e n a fo rm u la p o é tic a ; o q u e n e ssa fo rm u la se e n c o n tra lo u
v á v e l, se g u n d o o te m p o em q u e foi e s c rip to , m as j á re p u g n a -
d o o u d e s d e n h a d o p e lo gosto m o d ern o . E s te s sim , q u e são
e s tu d o s n ã o se rv isI e ste s sim , q u e fe c u n d a m o ta le n to , e p o
d e m fazer d o im ita d o r u m c re a d o r, p re fe rív e l ao se u m o-
d ello !
O atro e x e r c íc io
Hail« u m e x e r c í c i o
CAPITULO XVI
LEXICOLOGIA
S e ao o ra d o r com ta n ta raz ã o a c o n se lh a v a m C ic e ro e Q u in -
tilia n o q u e fizesse p o r a d q u ir ir a m a io r c o p ia d e v o c á b u lo s
em to d a s as m a té ria s, a íim d e t e r n u m a p r e s s a com q u e v a -
— 109 —
r i a r a s u a p h r a s e , q u a n to m a is se n ã o d e v e p re g a r ao s q u e se
d e s tin a m á p o e s ia , q u e e s tu d e m com d d ig e n c ia a lín g u a p a -
t r i a c o lh e n d o , a n a ly sa n d o , re g is ta n d o e c o o rd e n a n d o do m e
lh o r m o d o a s d i v e r t s p a la v ra s e p h r a s e s co m q u e cad a id e a
n o d e se r e x p re s s a ! Q u a n to m a io r fo r e ste p e c ú lio , ta n to m ais
facíl f d e le ito s a se to r n a r á a fab rica ç ã o d o s v e rso s so n o ro s
v a ria d o s , e x p re s s iv o s e o n o m a to p ic o s; assim com o A em os q u e
ta n to m ais p e rfe ita e r a p id a v a e s u rg in d o u m a ^
m ã o s d o a lv e n e u , q u a n to m a is d iv e rs a s sao em ta m a n h o e fi
g u r a as a c h eg a s d e p e d ra s , casc a lh o e tijo lo s q u e te m ao se u
^ '^ ^ O ^ triste q u e p a r a u m a id ó a n ã o p o s s u e m a is q u e u m a só
p a la v r a , m u ita s v ezes p a r a r á c o n s te rn a d o a c o m p a ra l-a coni o
v ã o q u e n o se u m e tro te m d e e n c h e r, a c h a n d o o ra q u e so b ra ,
o ra a u e m in a ú a . A in d a se, com o os v e rs ilic a d o re s ita lia n o s,
tiv é s s e m o s u m a g ra n d e lib e rd a d e d e a c c re s c e n ta r os v o c á b u
lo s com p r o tlie s e ^ e p e n th e s e s e p a rá g o g e s, e d e os d im in u ir
com a p h é rè s e s , s y n c o p e s e a p ó c o p e s ! ... m as os \o c a b u lo s p o i-
tu e u e z e s são rn u ito m e n o s e lástico s, e ta e s fig u ra s, com o ja o
n o u l s A t o s e m p re p a ra ,.6 s d e fe ito s m a,s o u u .eu o s g ra-
m o d o d e g ra n g e a r g ra n d e so m m a d e p a la v ra s , e
n lic id a d e d e e x p re s s õ e s, p a r a c a d a id é a , é 1er n ao só p o e ta s,
m à s os p ro s a d o re s, com re fle x ã o , e com a p e n n a s e m p r e j n
p u n h o , p a ra e x tr a c ta r, com o p o r toda a s u a laig a M da o p i a
tic o u 0 n o sso d o u tíssim o 1). F r. F ra n c is c o d e b . L uiz. Um
d o s fru e to s d ’esses se u s o p tim o s tra b a lh o s foi o e n saio s o b ie
os sv n o n v m o s em lin g u a p o rtu g u e z a ; o b ra q u e n a o p o d e m o s
d e ix a r de“ re c o m m e n d a r p a ra o p re s e n te e stu d o com o
e n tr e as p rim e ira s ; p o is ao m esm o te m p o q u e
u m a g ra n d e so m m a d e te rm o s n o s e n s in a a
ç a l-o s ! e n o s h a b itu a a essa a n a ly se c o in p a ra tiv a , sem a q u a l
n u n c a iám a is h a v e rá e s c rip to r d e v e rd a d e iro m e n to .
O s d ic c io n a rio s, e n o m e a d a m e n te o f®. ‘
tcau - 0 q u e so b re esse e s c re v e u e p u b lic o u , em p e q u e n o e
po.“ : , t í . ï ù u u e , Jo sé d a F o n se c a; e os o u tro s v o c a b u to
p a rc ia e s com q u e o g ra n d e do m esm o e ru d ito B ^
ro o u , são tu d o e x c e lle n te s a u x ilia re s p a r a o e stu d o q u e l e
c o m m e n d àm o s.
— 110 —
D O S V E R S O S S O L T O S E D O S R IM A D O S E M G E R A L
Os v e rs o s sem r im a o u so lto s, a q u e ta m b é m c h a m a m
b ra n c o s , têem p o r si: l.<> m a io r fa c ilid a d e d e se fazerem - 2.»
n a o p o re m o p e n s a m e n to d o p o e ta n u m co m o le ito d e P r o -
c u ste s, q u e ao s p e q u e n o s os e s tira e deslo ca, ao s g ra n d e s os
e n n o v e lla e esm ag a, p a ra se a ju s ta re m á m e d id a ; 3 .“ a p o ssi-
b ilid a d e d e e s te n d e r o u e n c u r ta r cad a p e rio d o ; 4.° m a is v a
rie d a d e ; ô.o m a io r n a tu ra lid a d e .
E m q a c o b r a s sã o p r e fe r ív e is
o s v e r s o s s o lto s
E m q a e obras» s ã o p r e f e r í v e is
o s v e r s o s r im a d o s
N ã o q u e ro d iz e r, q u e a ssim e s ta re g ra g e ra l, co m o a p r e l-i';
c e d e n te , n ã o a d rn itta e x c ep ç õ e s; os d o ta d o s d e bo m g o sto , e
q u e p e lo e s tu d o o h o u v e re m a p e rfe iç o a d o . Lá e x a m in a rã o em
su a c o n sc iê n c ia e á v is ta d o se u o b jec to , q u a l m ais lh e c o n
v e m d ’e s ta s d u a s fô rm a s; a th e o ria , se q u ize sse d e s c e r a tae s
p o rm e n o re s , a c h a r-se -h ia p e r d id a n u m la b y rin th o e sp in h o -
sissim o .
Q u a l é o m e tr o portag^nez q u e m e lb o r
. k Í.Í
p ód e d is p e n s a r a r i m a
D os to a n te s n in g u e rn h o je se s e rv e n a E u r o p a se n ã o o s
c a s te lh a n o s ; fo ram elles os q u e em P o rtu g a l os g e n e ra lis a ra m
com o u s o (la s u a lin g u a p e lo s te m p o s d o s F ilip p e s , e a m o
d a , p o s to q u e n ã o d a s m a is g u a p a s, so b re v iv e u a in d a á s u a
d o m in a ç ã o : p e lo re in a d o d e D. Jo ã o a in d a os discretos se
p re s a v a rn d e e s c re v e r em to a n te s longos ro m a n c e s, sé rio s, j o
co so s e jo c o -s e rio s , q u e p o r v ia d e re g ra só faziam r i r q u a n d o
m e n o s o d e seja v am .
C om os conceitos, gongorismos, e trocadilhos d e p a la v ra s ,
p a s s a r a m os to a n te s.
D a A rc a d ia p a r a cá p o u c o s v e stig io s d ’elles se e n c o n tra -
— H6 —
rã o , a n ã o se r p e lo s se rõ e s d ’a h lé a , a lg u m a tro v a im p ro v is a d a
em d e s c a n te s d o s rú stic o s ; p o r isso é q u e n e s ta m a te ria só
d ire i q u a n to b a s te , p a r a q u e o e s tu d io s o d e v e rsific a ç â o n ã o
íiq u e to ta lm e n te d e s c o n h e c e n d o e sta p a rtic u la fossil d a s u a
a r te .
U m illu s tre c o n te m p o râ n e o b ra z ile iro , o S n r. C o n se lh e iro
M iguel d a S ilva L isb o a , a c tu a lm e n te m in is tr o do Bi-azil n ’e sta
c ô rte , p u b lic o u , h a p o u c o s a n n o s , u m e stim a d o v o lu m e d e
c h a c a ra s em q u a d ra s s e ttis y lla b a s em to a n te s ; m as o e x e m
p lo , a in d a q u e d e tã o d is tin c to e s c r ip to r , n ã o e n c o n tro u s e
g u id o re s n e m lá, q u e n ó s sa ib a m o s, n e m p o r cá.
A rim a to a n te só se e m p re g a v a em p e rio d o s re g u la re s d e
q u a tr o v e rso s, q u e r d e d ez sy lla b a s — ou b e ro ic o s , q u e r d e
s e tte s y lla b a s — o u re d o n d ilb o s; esta se g u n d a e ra a m ais u su a l;
o p r im e ir o e te r c e ir o v e rs o e ra m so lto s; os to a n te s e sta v a m
n o se g u n d o e q u a rto . O c a n to c o m eçad o p o r u m a e sp e c ie d e
to a n te tin h a o b rig a ç ã o d e c o n tin u a r p o r ella, a té ao fim , o
q u e , b em la n ç a d a s as c o n ta s , v in h a a n e u tr a lis a r o q u e aliás
se q u e ria f o r r a r d e tra b a lh o em fu g ir d e rim a p e rfe ita : a ssim ,
se os v e rso s p a r e s d a p r im e ir a q u a d ra tin h a m n a p e n ú ltim a
s y lla b a um J , e n a u ltim a u m 0 , to d o s os v e rso s p a re s a té á
q u a d r a d e r r a d e ir a ficavam c a p tiv o s ao m esm o I e ao m esm o
0. S e 0 p o e m a tin h a m a is d e u m c a n to , os to a n te s p o d ia m
s e r d iv e rs o s em c a d a um d ’elles.
D ois c o n so a n te s o u rim a s p e rf e ita s n u m a só q u a d ra , era m
p a ra elle s tã o d efeso s, com o o s e ria p a r a n ó s u m a rim a im
p e rfe ita .
C o o ib S n a cã o d os to a n io s c o m os
co n so an tes p a ra c lia c a r a
A c h a c a ra , o ro m a n c e p o p u la r , p o p u la riss im o , d a s H e sp a -
n h a s , esse fo rm o so e in v e ja d o q u a si e x c lu siv o d a s n o ssa s g e n
tes, tin h a p o r fo rm u la q u a si c o n s a g ra d a e in d is p e n s á v e l o
v e rs o s e ttis y lla b o em q u a d ra s , com rim a to a n te , a in d a q u e a l
g u m a s v ezes se en fia v a to d a a n a rr a ç ã o , só u m o u o u tr o l a
p s o , em rim a s p e rfe ita s, q u e c o rn m u m m e n te n ão p a s sa v a m d o
ia. R e n a s c e u a c h á c a ra em n o sso s d ia s, p o ré m tão d e s fig u ra
d a q u e faz p e n a . N ão se lh e e s tu d o u a ssaz a in d o le s in c e ra ,
g ra c io sa , h y p e rb o lic a , e in fa n til ao m esm o te m p o , a q u e lle quê
p a r tic u la r d e e sty lo q u e a c a ra c te ris a v a , e d e q u e a in d a a h i
p e la s s e rr a s a lg u m a \ e l h a to n ta sa b e m a is d o q u e to d o s os
— 117 —
Rima«« opulonfa««
— 121 —
PRINCIPIO DO LIVRO I
— 123 —
D O M ODO D E U S A R D O S C O N S O A N T E S
Q u a n to ao m o d o d e u s a r d o s c o n so a n te s, é im p o ssív e l n ã o
r e c o n h e c e r u m a lin h a d e d e m a rc a ç ã o , q u e n o s s e p a ra dos n o s
so s a n tig o s . P a r a os a n tig o s tu d o e sta v a p a u ta d o se g u n d o
os p a d rõ e s d T ta ü a e C astella: p a r a fó ra d a s d e m a rc a ç õ e s s a
b id a s , e m u i lim ita d a s em n u m e ro , n in g u é m a v e n tu r a v a n e m
u m p asso . E m n o sso s d ia s n ã o só c a d a q u a l e n g e n h a n o v a s
c o m p o siç õ e s d e e s tro p h e s, se n ão q u e n o m esm o p o e m a , p o r
m a is c u rto q u e seja, as v a ria a s e u s a b o r, e m u ita s v ezes co m
y io la ç ã o n o tá v e l d a raz ã o e d a h a rm o n ia .
— 124 —
CAPITULO XVII
K m p r e g o <ioM c o n » o a n ( c s e n t r e o s a n t i g o » '
TERCETO.S
E x e m p lo :
í' ■
A ’ foz d o T e jo , em b ro n c a p e n e d ia ,
m in a d a p e la s o n d a s sa litro sa s,
p r is io n e ir o d ’a m o r T r itã o g e m ia .
C o n ch as da c ô r d o liq u id o e le m e n to ,
p a r t e do c o rp o e n o rm e lh e v e s tia m ,
ig u al n a lig e ire z a ao p r o p r io v e n to ,
« R e b e n ta e d e v u lc ã o , q u e o m u n d o a b a le ,
e a p e s te , q u e e x h a la e s d o p e ito h o rre n d o i.?
o fero c o ra c ã o d e L ilia rale .»
i Ä
C alo u -se, e do a lto e sco lh o á p re s s a e rg u e n d o
o fo rm id á v e l c o rp o , in d a m a is a lto ,
e as n e g ra s m ão s fre n e tic o m o rd e n d o ,
p o r e n tr e as o n d a s se a b y sm o u d ’u m salto .
( bocage .)
O h tris te ! oh te n e b ro s o ! oh c ru e l d ia!
A m a n h e c id o j á 'p a r a m eu d a m n o !
P o d e s te -m e a p a r t a r d ’a q u e lla v ista ,
p o r q u e m v iv ia com m e u u n a l c o n te n te ?
A h ! se 0 s u p re m o fô ra s d ’e sta v id a,
q u e em ti se c o m e ç a ra a m in h a g lo ria!
M as co m o e u n ã o n a sc i p a r a te r g lo ria ,
s e n ã o p ç n a , q u e c re sç a cad a d ia ,
0 ceo m e e stá n e g a n d o o fim da v id a ,
p o r q u e n ã o te n h a tim com e lla o d a m n o ,
p a r a q u e n u n c a p o ssa s e r c o n te n te .
D a v ista rne tir o u a q u e lla v ista .
N ã o v ia m a io r gloria, q u e o m e u d a m n o ,
q u a n d o do d a m u o m eu er;is c o n te n te ;
ag o ra m e é toi in en to a m a io r gloi ia
q u e p ó d e p r o m e tte r - m e a m o r u a v id a,
p o is t ir a r - te n ã o p o n d e a m o r d a v ista ,
q u e só n a tu a a d ia v a a lu z do d ia .
E p o is d e d ia em d ia c re sc e o d a m n o ,
n e m p o sso sem tal v ista s e r c o n te n te ,
só co m p e r d e r a v id a a c h a re i g lo ria.
(CAMÕES.)
S e 0 s e n h o r p o e ta to scan o A rn a u d o D a n ie lo , n ão i n v e n
to u em s u a v id a a lg u m a coisa m e lh o r q u e e sta s m ó lh a d a s d e
d o rm id e ira s , e scu sa v a m u ito b e m o te r n a scid o ; as s e x tin a s ,
d e q u e h a a in d a o u tra s co n feiçõ es, são s e m p re tã o in su lsa s
co m o d ifficeis; C am õ es, c re a d o com a le itu ra de D a n te e P e -
t r a r c a , ta lv e z só p a ra m o s tra r e n g e n h o a s com poz; m as sã o
d e s s a b o ro s a s , corno p e la a m o s tra se a c a b a d e v ó r; q u e a d m i
r a ? im p o s s ív e is n in g u é m os faz.
OITAVAS
N em d e ix a rã o m e u s v e rso s e sq u ec id o s
a q u e lle s , q u e n o s re in o s lá d a a u ro ra
se fizeram p o r a rm a s tão su b id o s,
v o ssa b a n d e ira s e m p re v e n c e d o ra :
u m P a c h e co fo rtissim o , e os te m id o s
A lm e id a s , p o r q u e m s e m p re o T ejo c h o ra ;
A lb u q u e rq u e te r r ib il. C a stro fo rte ,
e o u tro s em q u e m p o d e r n ã o te v e a m o rte .
(CAMÕES.)
128 —
SOiNCTOS
E x e m p lo :
S o b re e sta s d u ra s c a v e rn o s a s fra g a s,
q u e 0 m a rin h o fu ro r v ai c a rc o m e n d o ,
m e e stã o n e g ra s p a ix õ e s n ’a lm a fe rv e n d o ,
co m o fe rv e m n o p ég o as c re s p a s vagas.
R azão fero z , o c o ra ç ã o m e in d ag a s
d e rn eu s e rro s a so m b ra e sc la re c e n d o ,
e v a is n ’elle (ai d e m im !) p a lp a n d o , e v e n d o
d e a g u d a s a n c ia s v e n e n o sa s ch ag as.
C ego a m e u s m ales, s u rd o a te u re c la m o ,
m il o b je c to s d e h o r r o r c o a id é a e u c o rro ,
so lto g em id o s, la g rim a s d e rra m o .
R azão, de q u e m e s e rv e o te u so c c o rro ,
m a n d a s -m e n ão a m a r: e u a rd o , e u am o :
d iz e s-m e q u e so ceg u e: e u p e n o , eu m o rro .
( bocage .)
v e rd a d e s p u r a s sã o , e n ã o d e fe ito s;
e n te n d e i q u e s e g u n d o o a m o r tiv e r d e s ,
te r e is o e n te n d im e n to d e m e u s v e rso s.
(CAMÕES).
•f J
0 u s o d e s te r ro u com ra z ã o os te rc e to s d ’e s ta e sp ec ie.
Q u a n to ao s q u a r te to s dos so n e to s h a ta m b é m o u tra m a
n e ir a d e os r im a r, q u e é p o n d o a p r im e ir a d a s su a s d u a s r i
m a s n o s v e rs o s im p a r e s : 1, 3, o , e 7; e a s e g u n d a n o s v e rs o s
p a r e s : 2 , 4 , G, e 8 . N o so n e to a le x a n d rin o a'^pag. 3 9 se p ó d e
v ê r 0 e x e m p lo .
O s q u in h e n tis ta s á im ita ç ã o d o s ita lia n o s faziam ás v e z e s
n n s s o n e to s a q u e c h a m a v a m d e c a u d a , q u e e ram com u n s
p o u c o s d e v e rs o s, m ais o u m en o s, p o s to s d e p o is dos q u a to rz e
em a r d e p o s ts c r ip tu m , a n o m a lia q u e ta m b é m p a sso u co m o
o u tr a s m u ita s . P o r c u rio s id a d e e x e m p lific a re m o s com C a
m ões:
T a n to se fo ra m , N im p h a , c o stu m a n d o
m e u s o lh o s a c h o r a r tu a d u re z a ,
q u e vão p a ssa n d o j á p o r n a tu re z a ,
o q u e p o r a c c id e n te iam p a ssa n d o .
n o q u e ao so m n o se d e v e e sto u v e la n d o ,
e v e n h o a v e la r só m in h a tris te z a ;
o c h o ro n ã o a b ra n d a e s ta a sp e re z a ,
e m e u s o lh o s e stã o s e m p re c h o ra n d o .
A ssim d e d ô r em d ô r , d e m ag u a em m a g u a ,
c o n s u m in d o -s e v ã o in u tilm e n te ,
e e s ta v id a ta m b é m v ã o c o n su m in d o .
D e m a is: u m e n g e n h o q u e r e s p e ita a s u a p r ó p r ia l ib e r d a
d e , e sa b e com o os a rro jo s p o é tic o s I b e v e e m in c a lc u la d o s, r e
p u g n a fo rç o s a m e n te a c irc u m s c re v e r p o r fo rç a o se u p o e m a
em c e n to e c in c o e n ta e q u a tr o sy lla b a s, d iv id id a s p o i q ^ t i o
p e río d o s p re e s ta b e le c id o s : d o is, d e q u a r e n ta e q u a tr o sy lla b a s
c a d a u m , e d o is d e tr in ta e tre s.
O so n e to p o r ta n to n ã o p a re c e m u ito c o m p a tív e l com a
Ín d o le d a escola p o é tic a h o d ie rn a , o q u e p o d e r á em p a r t e e x
p lic a r a s u a r a r id a d e .
í'j
J 31
CAPITULO XVIÍI
PARELHAS
S e r r a q u e tal g ad o tem
n ã o n a s u b ir á n in g u ern .
TERCETOS
E x e m p lo :
E sfo rç a , m e u co ração !
N ã o n a m a te s , se q u iz e re s;
le m b ra -te q u e são m u lh e re s .
QUADRAS
E x e m p lo :
D e fe n d e r os p á tr io s ta re s,
d a r a v id a p e lo re i,
é d o s lu so s v a lo ro so s
c a ra c te r, c o stu m e e lei.
A lm a tã o sem assocego,
q u e n e m d ’e ste a r m e fa rto ,
d ’o n d e com q u e ix u m e ch eg o ,
com m il q u e ix u m e s m e a p a rto .
_,!í3í
E x e m p lo :
Q ual v o s v i, e q u a l m e v iste s ,
m e u s a m ad o s a rv o re d o s,
fu i com o v ó s q u a n d o ledos,
a g o ra co m o e u sois tris te s .
— 133 —
E x e m p lo :
L iiid a c a ç a m u i s u b id a ,
se d e sc o b re em n o ssa v id a ,
a q u a l n u n c a foi sa b id a ,
n e m se u p re ç o q u a n to v a i.
O h! d a griã m a tta L is b o a ,
o n d e toda a c a ç a v o a ,
A ra b ia , P e rs ia , G oa,
tu d o ca b e era se u c u rr a l.
QUINTILHAS
E x e m p lo :
P e la s r ib e ira s d e u n s rio s
p o r o n d e c a n ta m a s a v e s,
p o r e n tr e b o sq u e s so m b rio s,
d e p o is de c o n to s m ais g ra v e s,
o u v i d ’e ste s m a is b a ld io s .
— 134 —
E p o r q u e e u ta m b é m m e afasto
d o p o v o q u e m e n ã o v e ja ,
e tra z si m e le v e a ra sto ,
v e d e do te m p o em q u e g a sto ,
O que me ás vezes sobeja.
E x e m p lo :
C om o e u vi c o r r e r p a rd a o s
p o r C a b e c e ira s d e B asto,
c re s c e r em c e rc a s e g asto ,
e vi p o r c a m p o s tã o m ao s
tal trilh a , e ta m a n h o ra sto !
N e ssa h o ra os o lh o s e rg u i
á c asa a n tig a e á to r r e ,
d iz e n d o co m m ig o a s s i : '
se nos D eu s n ão Vai a q u i,
p e rig o so iin ig o c o rre .
SEXTINAS
E x e m p lo :
N ão p o sso t ir a r os o lh o s
d o n d e os n ão lev a a raz ã o .
Q u em p o rá lei á v o n ta d e .
— 13 5 —
c o n firm a d a d o c o stu m e ,
v o n ta d e , q u e á s su a s leis
m a n d a o b e d e c e r p o r força.
Isto q u e al é s e n ã o fo rç a
q u e m e fazem os m e u s o lh o s
q u e b r a n ta d o r e s d a s le is?
l ir a d a a p o z m i a ra z ã o ,
m a s q u e vai c o n tr a o c o stu m e
e m q u e e s tá p o s ta a v o n ta d e ?
E ' m o rta o u d o rm e a ra z ã o ,
o u n ã o s e n te p o r c o s tu m e ,
q u e fa re i á m a io r fo rça?
H a ja m p ie d a d e a s leis
d e q u e m e n tre g u e á v o n ta d e
v a i p re s o ap o z os s e u s o lh os.
O lh o s a p o z a v o n ta d e , 1 I'
a s leis a p o z o c o stu m e ,
a p o z a fo rç a a razão .
r, n
E x e m p lo :
O jo g o s e m p re tra z d a m n o ,
a q u e m jo g a m ais v e rd a d e ;
0 g a n h o v em p o r e n g a n o ,
p o r b u rla s e falsid a d e ;
e d e tal e n fe rm id a d e
p o u c o s p o d e m e s c a p a r,
se n ã o d e ix a m d e jo g a r.
m
— 136
E x e m p lo :
N ão sei q u e p o ssa d iz e r
p o r v ó s q u e se ja lo u v o r!
fti'v -.::' Í: q u e se tã o o u sa d o fô r,
J ; : . - Í; ••il
p e r d e r e i o in te n d e r.
Q u a n d o q u e ro c o m e ç a r
é co isa q u e n ã o tem c ab o :
a n te s m e q u e ro c a la r
q u e c u id a re m q u e v o s g ab o .
V ó s n ã o n o to rn a e s p o r v ó s,
m a s v ó s so is tã o d e sa iro so ,
q u e fazeis q u a lq u e r d e n ó s
d e s e m sa b o r g rac io so .
D e m u la e d e c a v allo
n o te r r e ir o , e n o se rã o ,
so is tã o fó ra d e fe iç ã o ,
q u e e u j á n ã o p o sso ca la l-o .
E x e m p lo :
D os no sso s S ás C olonezes
g ra m tro n c o , n o b re c o lu in n a ,
g ro sso ra m o d o s M enezes,
em sa n g u e , e b e n s d e fo rtu n a ,
q u e é tu d o e n tr e os p o rtu g u e z e s.
M as v ó s q u e s e m p re v o s ris te s
d o p o v o q u e n ã o vê m a is,
ric a m e n te a lm a v e s tis te s ,
o m a is te n d o p o r d e m a is.
DECIMAS
E x e m p lo :
T re s v ezes so b re m e u s la re s,
v o zeo u q u a n d o e u n a scia
a v e , q u e a b o rre c e o d ia,
q u e p re v ê c ru é is a z a re s.
A m o r d iv id ira os a re s
d e se u s to rm e n to s c e rc a d o ,
á fu n d a e sta n c ia d o fado
0 v ô o h a v ia a b a tid o ,
e am b o s tin h a m re so lv id o
q u e e u fosse em fim d e sg ra ç a d o .
( bogage .)
— 138 —
E x e m p lo :
Q ual s e rá o co ra ç ã o ,
tã o c rú e sem p ie d a d e ,
q u e lh e n ã o c a u se |)aix ã o
u m a tã o g ram c ru e ld a d e ,
e m o rte tã o sem razão!
T r is te d e n )im , in n o c e n te ,
q u e p o r t e r m u ito fe rv e n te
le a ld a d e , fé. a m o r
ao pi in c ip e , m eu s e n h o r,
m e m a ta ra m c ru a m c n te .
E x e m p lo :
E is 0 n o sso p e g u re iro ,
p la n ta n d o em to in o do o h n e iro ,
v e rd e p u i p u r e o ro sa i,
n)OiUim enlo de um p rim e iro
d o c e b e ijo v irg in a l.
C O N T IN U A Ç Ã O DA R IM A D O S A N T IG O S
VcFKos d e o n x e s y l l a b a s
OITAVAS
O h! D e lia , q u e a p e s a r d a n e v o a g ro ssa ,
c o o s te u s ra io s d e p r a ta
a n o ite e sc u ra fazes q u e n ã o p o ssa
e n c o n tr a r o q u e tra ta ,
e 0 q ue n a lm a re tra ta
a m o r, p o r te u d iv in o
ra io , p o r q u e e n d o id e ç o e d e sa tin o .
(CAMÕES.)
E x e m p lo s d e v e rso s re d o n d ilh o s co m os se u s q u e b ra d o s :
— « S e n h o ra , p o is m in h a v id a
« te n d e s em vosso p o d e r:
« p o r s e rd e s d ’ella s e rv id a ,
« n ão q u e ira e s q u e d e s tr u íd a
« p o ssa s e r.» —
— «F also c a v a lle iro in g ra to ,
« e n g a n a e s-m e ,
« vós d izeis q u e e u v o s m ato ,
«e v ó s m a ta e s-m e .»
O q u a l se la m e n ta
d a a d v e rs a f o rtu n a , em q u e c o rre to rm e n ta ,
e p o rq u e a c o m e d ia v ai tã o d e c ra ra d a ,
e tã o ra so o e sty lo , n ã o s e rv e d e n a d a
0 m a is a rg u m e n to , e c e rro a e m e n ta .
— 14 1 —
CAPITULO XIX
U m to m o h o u v ê ra m o s d e e n c h e r, a q u e re rm o s m iu d e a r e
e x e m p lific a r to d a s a s v a rie d a d e s d e co m p o siç õ es m é tric a s dos
n o sso s d ias. N isto a lib e rd a d e , q u a n to a n ó s, te m p a ssa d o a
lic e n ç a e a n a rc h ia ; é sim a v a rie d a d e u m a o rig e m de p ra z e
r e s ; m as, q u a n d o o bom g o sto lh e não p re s id e , d e g e n e ra fa
c ilm e n te em c o n fu são , q u e fatig a e e n fa stia ; razão p o rq u e os
p r in c ip ia n te s , em q u a n to o fo re m , fa rã o m e lh o r em se i r fo r
m a n d o n o s b o n s e a p p ro v a d o s e x e m p la re s , do q u e em se
a b a la n ç a re m a in n o v a ç õ e s; p o r o n d e os D ed alo s v ó a m , p r e c i
p ita m - s e os íc a ro s .
E x e m p lo :
lu
V ó s á te r r a e ao ceo p ro p ic io s,
q u e d a e s com m il b e n e lic io s,
c o n tra a fom e, e c o n tra os v icio s,
asy lo ao b a n d o in fa n til; tl'
le d o b r a e com m ão s p ie d o sa s
«
esm o las, q u e , m ilag ro sas,
re c o b ra re is feitas ro sa s,
n o s c a m p o s d o e te rn o a b ril.
0 su ltã o e n tr e c o lu m n a s
so b re c o x in s d ’e sc a rla ta ,
o iça do e u n u c o a v o lata, ' 1
v e ja seio s n ú s p u la r ;
n ã o se m ove; in e r te e frio , il
é q u a l idolo vasio
e n tr e a ro m a s, so b re o a lta r. b-r■
îl'
R e c o rd a s -te , in g ra ta ,
q u a n d o eu te d izia,
__ 144 —
q u e em so n h o s A rm ia
c e d ia a m e u s ais?
s o rria s ; c ó ra v a s;
fu g ias; ju r a v a s
q u e n u n c a m e u s so n h o s,
se ria m leaes.
E x e m p lo :
V o to a A llá, m eu la ú d e c a n ç a d o ,
se co n sig o e sta flô r d a s H u ris,
q u e h a s -d e em M ecca p e n d e r m a rc h e ta d o
d e o iro e p e rla s , de p r a ta e ru h ís .
S a lv e f ro n d e n te a b ó b a d a .
S a lv e c a la d o o lm e iro ,
v ó s te s tir a u n h a s ú n ic a s
d o b e ijo m e u p r im e ir o .
Do m odo de p r o c u r a r a s r im a s
#
A fa c ilid a d e d o r im a r é filh a d o u s o ; n o p r in c ip io n i n
g u é m a p o s s u e , m a s a p o d e r d e e x e rc ic io a ta l p o n to c h e g a
ella,. q u e se im p r o v is a . E s t e e x e rc ic io faz -se p o r d o is m o d o s
c o n ju n c ta m e n te : le n d o com atten ç.ão p o e sia s b e m rim a d a s , e
rim a n d o ao c ab o ; tã o d e im p ro v is o se a c h a m as rim a s co m o
ü m e tro ; p o is q u e o u tr a c o isa é a fa c ilid a d e d e r im a r se n ã o
t e r a m e m ó ria b e m p r o v id a d e c o n s o a n te s , e o h a b ito d e os
e s c o lh e r co m ra p id e z ?
E is a q u i u m re m e d io c a se iro e facil p a r a s u p p r i r d icc io -
n a r io d e rim a s.
C o n se lh o o p tim o s e rá , q u e n a s h o r a s o c io sa s o p r i n c i
p ia n te se a d e s tr e em e s c o g ita r a ssim os v o c á b u lo s, p a r a q u a n
ta s d e s in ê n c ia s lh e o c c o rr e re m ; é u m d iv e r tim e n to q u e d á
fru c to , e elle o s e n tir á d e p o is em q u e re n d o r im a r; é u m s u a v e
e m p re g o p a ra o s a g ra d a v e is m in u to s q u e m e d ê a m e n tr e o
a n in h a r n a c a m a , e o p e g a r n o so m n o , e d e tal n a tu rp z a , q u e
a té a ju d a a c o n c ilia l-o .
CAPITULO XX
A g o ra q u e ju lg o t e r d is p o s to , co m a ssaz d e d e s e n v o lv i
m e n to , tu d o q u e r e s p e ita á p a r t e m e c h a n ic a d a c o m p o siç ã o ,
c o n v é m q u e d e sfa ç a m o s u m a n d a in m q u e h a v ía m o s a rm a d o
p a r a n o s s e r v ir n e s ta c o n s tru c ç ã o , q u e d u r a n te ella n o s foi
u til, m a s q u e j á d a q u i á v a n le se n ã o p o d e ria s o ífre r; fallo
d a c a n tile n a com q u e o o u v id o se h a b itu o u p a r a re c o n h e c e r
d e u m m o d o c e rto e in fa lliv e l a ju s te z a d e c a d a m e tro .
E m v e r d a d e q u e é e s te u m a b u s o b e m diíTicil d e d e sa r-
re ig a r; é a n tig o , e é d e to d o s o s p o v o s. Os p o e ta s , q u e são os
q u e n isso m ais p e jtle m , fo ra m p ro v a v e lm e n te os se u s in tio -
d u c to re s ; d o s a u c to re s d o s p o e m a s p e g o u -s e a o s le ito re s d 'e l
le s; a p o sse 0 fez p a r e c e r n e c e s s id a d e n a tu ia l.
E r a m is te r n a d a m e n o s q u e u m a re v o lu ç ã o c o m p le ta n a s
— 147 —
O s v e rs o s p o n tu a d o s co m m iu d e z a , co m o e u m e p r o p u z e
p r a tiq u e ! n a tra d u c ç ã o d a s M e ta m o rp h o se s, p o d e ria m n e s ta
p a r t e a ju d a r os e x e rc ic io s d o p r i n c i p ia n te .
CAPITULO XXI
DA POESIA
C o n s tru im o s, e afin am o s o in s tr u m e n to ; a p re n d e m o s - lh e
a e sca la e os se g re d o s ;— falta o h y m n o q u e o lia -d e a n im a r, e
d iv in is a l-o . '
0 c s c u lp to r tem p r e s te s a a rg illa e os u te n s ís d e m o d e l
izar; 0 p in to r a p a lh e ta e os p in c é is ; m a s a e s ta tu a e stá p o r
lo ir M r; a tela , q u e b a -d e s e r q u a d ro , c o n s e rv a -s e em b ra n c o .
O te m p lo , os in c e n so s, e a s flo re s, e stam p r e s te s ; o s a c e r
d o te p e ra iite a a ra , e o D e u s, a q u e m to d o e ste c u lto se e n -
d e r í^ a , n ã o b a ix o u . O se u o rá c u lo , a p o e sia , n ã o e x is te a in d a .
O s v e rso s, d e q u e a té a q u i te m o s tra ta d o , n ã o são m a is
q u e a fóiaua s e n s ív e l, e co m o q u e r q u e se ja m a te ria l, com
q u e a p o e sia se n o s r e v e lia . C om o to d a s a s a rte s p la s tic a s , a
v e rs ific a ç ã o p ó d e s e r fa c ilm e n te s u b m e ttid a á a n a ly s e , e su -
— 153 —
je ita a re g ra s , n ã o a ssim o e n th u sia sm o . A su a esso n cia é li-
n e id a d e . L re a d o r, com o o C re a d o r d e q u e m p ro c e d e , é ao
n o v o , ao d e sc o n h e c id o , q u e o e n th u s ia s m o a s p ir a d e c o n ti
n u o . D eb ald e e s tu d a rie is a su a h isto ria par<a lh e p ro fe tis a r-
d e s 0 p o r v ir ; e m ais d e b a ld e a in d a p a ra p o r ella lh e im p o r-
d e s le is . \ a r i a v c l com o P ro te o , e in e x h a u riv e l com o a n a
tu re z a , in c a rn a -s e em to d a a e sp ec ie d e g ig an te s re p e n tin o s e
in e s p e ra v e is ; a q u i, sob o n o m e d e Hom ei-o; a lé m , d e M ovsés
d e J e re m ia s , d e B a ru c , d e D av id , de S alom ão, de V irg ílio d e
1 lo p e rc io , d e D a n te , d e S h a k s p e a re , d e K lo p sto c k . d e C a
m õ es, d e H ugo, d e L a m a rtin e ; é o W is h n o u da in y tb o lo " ia
In d ic a , a p p a re c e n d o ca d a v ez com u m a d iv e rs a m e ta m o r
p h o s e , e c u ja d e rr a d e ir a e s tá a in d a e e s ta rá s e m p re p o r ch e-
. . . .n e c p o n e re in o rd in e c u ra t.
M eus sa n a in c o rp o re sano;
a p re s e n te , a c c e ita as d o re s, p ro c u ra -a s e e n th e s o ira -a s , p e d e
ao p r e te rito o ra sa u d a d e s, o ra a rr e p e n d im e n to s ; ao p o s s iv e l,
o ra re c e io s, o ra e sp era n ç as.
O a m o r p a ra com a m ãe, e o a m o r p a ra com os filh o s,
sy m b o lisa ria m e sta p o esia; sy m b o lisa i-a -h ia a in d a o a m o r d a
te r r a , q u e é de alg u m a so rte c o m p le x o d ’a q u e lle s dois. A p o
b rez a e 0 in fo rtú n io são m ais in sp ira d o re s p a ra e sta p o e s ia ,
d o q u e os d e le ite s e a se re n id a d e o fo ram p a ra a q u e m o rre u .
A s in c e rte z a s m esm as d o s n o sso s te m p o s; as c o n tin u a s d e s
tru iç õ e s a q u e a ssistim o s; o a n h e la r de to d a u m a g era ç ã o p a r a
0 p ro g re sso , são in co in m o d o s, m as são p o esia. A n tig a m e n te ,
a p o e s ia fa z ia -se , o u a p a n h a v a -s e feita, com o se colhem p o
m o s e b o n in a s; h o je a p o e sia v iv e -se ; re s a lta d e tu d o q u e n o s
c e rc a ; p o d e n d o -se d iz e r com assaz d e e x a cção , o q u e j á a l
g u é m d isse; q u e a artificial é a p ro sa , e a p o e sia a n a tu r a l;
p o r q u e o n a tu r a l d a a lm a in te llig e n te e a ffe c tiv a, é m u ltip li-
n
— 155 —
c a r c a d a v ez m a is as su a s re la ç õ e s com os e n te s do m u n d o
e x te rn o .
A p o e s ia g reg a, a ro m a n a , e a ro m a n isa d a , tin h a m o seu
p e n d o r p a ra a s y n th è s e ; a n ossa tem o se u p a ra a a n a ly s e ;
d ’ah i p r o v in h a s e r a q u e lla su s c e p tív e l d e m a io r p e rfe iç ã o de
c o n to rn o s , e d e u m gosto m a is irre p re h e n s iv e l; ao m esm o
p a s so q u e e s ta faz a b so lv e r as su a s m esm as irre g u la rid a d e s ,
p o r u m c a rd u m e d e p e q u e n o s e lte ito s n o v o s e im p re v is to s ;
o s p ro d u c to s d a q u e lla e ra m com o os d a e s ta tu a ria , em q u e a
fó rm a e x triu s e c a é tu d o ; os d ’e sta lem bi'am os tra b a lh o s d a
a n a to m ia e d a p a th o lo g ia , n o s q u a e s o d e s e n c a n ta m e n to d e
m ilh õ e s d e a rc a n o s, co m p en sa m u ita re p u g n â n c ia e m u ito a s
c o ; lá, m o s tra v a -s e do v iv e r h u m a n o a sala e o ja r d im ; c á ,
d e s c e rra m -s e , talv e z com d e m a sia d a fra n q u e z a , to d o s os, r e
c a n to s e p e n e tra e s m ais in tim o s; o c a m a rim , a alcova7“o s u b
te r r â n e o , 0 o ra to rio , e o m ira n te ; o n d e n ã o ch eg a a luz d o d ia ,
v a e -s e com a la n te rn a e x p lo ra d o ra . E m su m m a , e n tã o o c a n
to e ra só m elo d ia, o P a rn a s o o se u m u n d o ; a g o ra to d o o
m u n d o , e to d o s os m u n d o s, são o seu P a rn a s o ; e os se u s c a n
to s u m a h a rm o n ia in fin ita n ’u m a h a rp a de m il c o rd a s. D ’u ni
lad o a p e rfe iç ã o , m as d e sa n im a d a ; d o o u lro , as c o m m o çõ es,
m a s a m iu d o a c o m p a n h a d a s do d e lirio . P a ra A n a c re o n te b a s
ta v a u m a taç a e v io le ta s; p a ra H o racio a fo n te de B la n d u sio ,
e u m b a n q u e te de e p ic u re o em casa de M ecenas; o g e n io a a
p r e s e n te n e c e ssita d e q u e o seu a la ú d e tro v e je n o in fe rn o ,
c a n te ou gem a n a te r r a , s u s p ire n o ceo, e se d isp e rso p e lo in
fin ito .
O desiderandim, a a m b iç ã o de to d o o v e rd a d e iro p o e ta ,
d e v e ria s e r c o n to rn a r, se é p o ssív e l, to d a a p a ix ã o m o d e rn a
com a s e v e rid a d e d a s fô rm a s a n tig a s; fu n d ir com a g raç a e le
g a n te e irre p re h e n s iv e l de V irg ílio , a d e sg re n h a d a n u d e z d e
b h a k s p e a r e ; p r o d u z ir d 'e s te s e le m e n to s d iv e rso s, m as n ã o o p -
p o sto s, u m to d o m ais p rec io so q u e elles a m b o s; com o dos v á
rio s m eta es, d e rre tid o s p e lo in cê n d io , a p p a re c e u p a ra e s ta
tu a s d e d e u s e s o m eta l d e C o rin th o . ^Q ue se ria n e c e ssá rio
p a r a o c o n seg u ir? o e s tu d o p ro fu n d o dos m odelos a n tig o s, d e
te rm in a n d o 0 q u e lh es fallece; e egual e stu d o d as o b ra s p r i
m a s m o d e rn a s, a p o n ta n d o o q u e lh es so b ra; te r s e m p re p r e
s e n te ao e s p irito , q u e a a rte é alg u m a co isa m ais do q u e a n a
tu re z a , e p a ra o s e r n ão póde p re s c in d ir de su b lim a r o v e r
d a d e iro a té ao id ea l, isto é, d e a s p ir a r ao bello, á p e rfe iç ã o
a r c b é ty p a em tu d o e c o n sta n te m e n te . N u m a p a la v ra , e p o r
d e rra d e iro , se é diíficil e im p ra tic á v e l p re s c re v e r b o je leis á
p o e sia , u m c o n selb o sau d av el se p ó d e , e d e v e d a r c o m tu d o
ao s se u s n o v c is c u lto re s; este c o n selh o n ão é no v o ; j á ha
— 15G —
d e z e n o v e sé cu lo s, j á a n te s q u e d e s p o n ta s s e d a J u d é a o sol d a
m o ra l, d a s a rte s e d a c iv ilisa ç ã o , j á n o se io d a m a is c o rro m
p id a c id a d e do m u n d o , p a r a p a g ã o s o h a v ia e s c rip lo o p r i
m e iro m e s tre d a p o é tic a .
« A p re n d e i a p h ilo s o p h ia d o s d e v e re s,« d izia elle, « a p re n
d e i 0 q u e se d e v e á p a tr ia , ao s am ig o s; o a m o r q u e v o s m e
re c e m vossos p a e s, v o sso irm ã o , e o v o sso h o s p e d e ; a s o b r i
g a ç õ es d o so ld a d o , d o g e n e ra l, d o ju iz ; se ja S o c ra te s o v o sso
m e s tre .»
M ais do q u e S o c ra te s , se ja o n o sso ; se ja a q u e lle , q u e , c i
fra n d o em si a h u m a n id a d e e a d iv in d a d e , n ã o só c o m p le to u
e e x e m p lific o u a lh e o ria d e to d as a s v ir tu d e s , m as foi elle
m esm o o p r o to ty p o d a m a is c o m p le ta , d a m ais a b s o lu ta p o e
sia ; a c o n c ilia ç ã o m ais p o r te n to s a d o p o s itiv o com o id eal.
P . S .— O a u c to r a n n u n c iá r a h a a n n o s u m a te n ta tiv a so
b r e p o é tic a p a ra se a ju n ta r co m o c o m p le m e n to ao p r e s e n te
o p u s c u lo so b re rn e trilic a ç ã o . P a r te d ’esse p ro je c to , p r in c ip io u
a s e r im p re ss a ; m as ta e s m o n ta n h a s d e d iffic u ld a d e s a to d o s
os m o m e n to s lh e su rg ia m em tã o v a sto , tã o co m p lic a d o , e tã o
c o n tro v e rtid o a s su m p to , q u e o o b rig a ra m a p a r a r , e a d e s is
t i r d o e m p e n h o , e p a ra se m p re . U m a p o é tic a g e ra l p a ra h o je ,
fig u ra -se -lh e co isa im p o ssív e l. C ada u m tem a su a b o a , o u
m á , e n e n h u m a o u tra a c e ita ria .
F IM .
Pag.
Dedicatória.................................. -.................... 3
Proiogo............................................................... 5
CAPITULO I
CAPITULO II
CAPITULO III
CAPITULO IV
CAPITULO V
CAPITULO YII
CAPITULO VIII
CAPITULO IX
CAPITULO X
»
CAPITULO XI
CAPITULO XII
CAPITULO XIII
CAPITULO XIV
CAPITULO XV
CAPITULO XVT
Lexicoloma........................................................ 108
CAPITULO XVII
CAPITULO XVIII
CAPITULO XIX
UM
Das estropbes e rima dos contemporâneos. 141
CAPITULO XX
CAPITULO XXI
Da Poesia.......................................................... 152
-.".V* ^
, -,•>.f ^ *-
*/r Í y\ • -' ,f
77
. ,^-C!
' ' ‘ ',, •'■* “iv-;.
• ■^ ' \ ’ '- 'i f . ; '. - ''4 ' • ''.
‘ N , ■ ■ A ji
Ï f ':
Í- V . , , / ;
.X.•'•■
'it"
N‘ • '• .- ■ i
; :' ■ )
V.. --V' v/T: