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Psiconeurose na Infancia
Trabalho apresentado ao Congresso Ortopsiquittrico
Escandinavo, em Helsinque, 8 de setembro de 1961
Originalmente, o titulo de minha palestra foi anunciado como sendo A Crianga Neurd-
fica, Achamos, entretanto, que estas palavras, na lingua inglesa pelo menos, cons
tuem uma terminologia popular, antes que diagndstica. Na realidade, com fregiiéncia
se descobre no tratamento analitico que criangas ditas neurdtices sio em parte psicd-
ticas. Um elemento psicdtico se acha oculto na crianga neurética e pode ser este 0
elemento que tem de ser atingido e tratado, se se quer que o estado clinico da erianga
soja corrigido.
A fim de tornar um pouco mais facil minha tarefa, decidimos alterar o titulo para
“Psiconeurose na Infancia”. Desta maneira, estou tentando fornecer-lhes um enuncia-
do de algo que é diferente da psicose. Permanece uma dificuldade, contudo, no fato
de haver duas maneiras possiveis de lidar mesmo com este titulo simplificado, Devo
falar a respeito das origens da psiconeurose, origens que sempre se encontram na
infancia do individuo em estudo, ou sobre o estado clinico de criangas que sao elas
proprias, na ocasiao, durante a infincia, psiconeuréticas? Acho que nio tentarei ser
cuidadoso demais a respeito deste dilema.
Acho-me, portanto, descrevendo a psicaneurose ¢ cistinguindo-a de outros esta-
dos psiquidtricas. Naturalmente, em psiquiatria nao existem fronteiras claras entre
estados clinicos, mas a fim de chegar a algum lugar, temos de fingir que exisiem. A
alternativa principal & psiconeurose é a psicose. Digamos que, na psicose, hd um
transtorno que envolve a estrutura da personalidade. Pode-se mostrar que © paciente
se acha desintegrado, ou irreal, ow fora de contato com 0 seu proprio corpo ou com
aquilo que nés, como observadares, chamamos de realidade externa. Os problemas do
psicético so desta ordem. Em comparagio na psiconeurose, o paciente existe como
pessoa, é uma pessoa total, que reconhece objetos como tolais; acha-se bem-alojado
em seu proprio corpo e a capacidade de relacionamentos objetais esta bem-estabeleci-
da. Desde este ponto de vista, o paciente encontra-se em dificuldades, e estas surgem
dos conflitos que resultam da experiéncia dos relacionamentos objetais. Naturalmente,
08 conflitos mais graves aparecem em conexdo com a vida instintual, isto é, as varia~
das excitagdes com acompanhamentes corporais que tém como fonte a capacidade que
© corpo possui de ficar excitado — de mado geral e localizado.
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D. W. Winnicott
Temos aqui entao dois conjuntos de criancas, aquelas cujos estagios mais iniciais
de desenvolvimento foram satisfatérios e que tiveram problemas a que damos 0 nome
de psiconeuréticos, e aquelas cujos estagios mais iniciais de desenvolvimento sao
incompletos e esta qualidade domina o quadro clinico. Assim, 0 importante a respeito
da psiconeurose é que ela constitui um transtorno daquelas criangas que sio suficien-
temente sadias para nao serem psiccticas.
Naturalmente, esta divisao de estados clinicos em dois é simples demais. Ha trés
complicagdes que tenho de mencionar, para que vocés fiquem satisfcitos com o que
estou dizendo.
1. Em algum lugar entre a psicose € a psiconeurose entra a depressio. Nesta, a
estrutura da personalidade é relativamente bem-estabelecida. Podemos lidar com esta
complicagio dizendo que ha depressdes que sio bastante psicéticas, com coisas tais
como estados de despersonalizagio fazendo parte do quadro, e que hd depressées que
so praticamente psiconeuroses. Em qualquer dos casos, 0 paciente se encontra em
dificuldades com as idgias e impulsos destrutivos que acompanham a experiéncia dos
relacionamentos objetais. Com isto, quero dizer a experitncia de relacionamentos
objetais que possuem excitagdes neles mesmos, ou seja, que sio mais vitais ¢ intensos
do que sentimentos que podem ser descritos por palavras tais como afetuosos, e que
inckiem climax ou orgasmo.
2. A segunda complicagio provém do fato de que, em alguns pacientes, ha uma
expectativa persecutéria, e esta pode datar até mesmo da primeirissima infancia,
3. A terceira complicagio tem a ver com o estaclo a que as vezes nos referimos
pela palavra “psicopatia’’. Quero dizer, criangas com uma tendéncia anti-social mere-
cem uma classificagio toda sua, porque clas padem ser, essencialmente, normais ou
psiconeuréticas ou depressivas ou psicdticas. O fato é que se tem de pensar em sua
sintomatologia em termos de valor de dano. A tendéncia anti-social representa 0 SOS
ou © cri de cocur da crianga que, em um estigio ou outro foi privada, privada da
provisio ambiental que seria apropriada na idade em que the faltou. A privagao
alterou a vida da crianca; causou-lhe afligéo intoleravel e a crianga esta com a razio
em reclamar o reconhecimento do fate de que “as coisas estavam bem e, depois, nao
ficaram bem” e de que isto constituiu um fator externa, fora do controle da crianga.
Uma crianga desse tipo acha-se engajada em retornar, através da privacdo e da
aflicao intoleravel, ao estado que existia antes da privacao, quando as coisas nao eram
muito ruins. Nao podemos classificar este estado, que pode conduzir & delingiiéncia
ou a reincidéncia, junto com os outros estados que etiquetamos com as. palavras
psicose, depressio e psiconeurose
Concordarao, espero eu, que primeiro tenho de estabelecer 6 mapa psiquiatrico
desta maneira, de forma a que possa perseguir minha tese de que a psiconeurose é
um estado de criancas (ou adultos) que, em seu desenvolvimento emocional, chega-
ram a um estado de relativa satide mental. Havendo sido trazidos através dos estagios
mais iniciais que pertencem 4 dependéncia extrema, e chegado aos estagios bem mais
posteriores em que a privagio traumatiza, estes individuos acham-se agora em posi-
gio de terem suas proprins dificuldades. Estas pertencem essencialmente a vida e aos
relacionamentos interpessoais, e, de modo geral, as pessoas no se ressentem com
estas dificuldades, porque elas so suas préprias, isto 6, ndo sao resultado de fracassos
ambientais ou de negliggncia.
Encarada desta maneira, a psiconcurose assume uma determinada forma e pode
ser descrita com consideravel clareza, Eu diria que O Ego e os Mecanisnios de Defesa, de
Anna Freud, fornece um bom reteato da psiconcurose, € provavelmente todos vocés
conhecem esse livro!.
1. Landon, Hogarth Press, 1937Psicanaliticas 55
Exploragai
Podem estar imaginando em que idades estou pensando quando falo das origens
da psicose ¢ da psiconeurose. Com referéncia & psicose, penso na primeirissima infin-
cia como sendo 0 estégio de dependéncia extrema, quando mal faz sentido, em
psicologia, falar em um bebé, porque a presenga e a atitude da me sdo parte vital do
que poderia ser chamado de potencial infantil em processo de tornar-se um bebé.
Penso na primeira infancia mais tardia, enquanto a dependéncia esta se tornando
menos séria, quando me refiro as origens das ansiedades depressivas. Penso no perio-
do (que vai aproximadamente de dez meses a dois a trés anos) quando me refiro 8
idade na qual a privagéo leva ao estabeiecimento de uma tendéncia anti-social, e aqui
estou de acordo com John Bowlby, cuja obra todos voces conhecem. Entio, quando
chego ao lugar em que a psiconetirose aparece, estou-me referindo a idade em que a
crianga comeca a dar os primeiros passos, 4 época em que a criancinha da familia esté
claborando a explosio plena do complexe edipiang, isto é, se ele ou ela forem sadios
6 bastante para chegarem la
Mas nic quero que vocés me prendam de maneira demasiadamente exata c estas
idades. Estamos falando mais de estigios do que de idades. Os estagios da primeira
infancia e da dependéncia reaparecem, e assim 0 fazem todos os estagios posteriores,
de maneira que nao ha idade que corresponda exatamente a um estagio, e, na puber-
dade, muita coisa tem de ser reencenada, se 6 que se quer que © menino ou a menina
conduzam 6 desenvolvimento incial pela vicla adulte adenteo,
Encontramo-nos, entio, na idade dos 3-4-5 anos, O menino ou a menina desen-
volveram-se bem e, no brinquedo ou no sonho, sao capazes de identificagao com
qualquer dos pais, ¢, juntamente com o brinquedo e o sonho, hé a vida instintual ¢ as
excitagdes corporais. Tomamos por certo um desenvolvimento satisfatério do uso dos.
simbalos. Grande parte da vida da crianga permanece sendo inconsciente, mas a
medida que ela se torna mais e mais consciente de si, a distingao entre 0 que é
consciente € © que & incansciente se torna mais nitida. A vida inconsciente, ou a
realidade psfquica da crianca, aparece principalmente através da representagao simbélica
Temas agora de fazer um enunciado geral a respeito das criangas da idade em
quecomegam a caminhar e iremos nos referira criancas que moram em casa, em bons lares.
Entendam que esta a idade em que, na satide, a psiconeurose esté se estabele-
cendo e formanda o seu padrio, Se analisarmos pacientes de quelquer idade, encon-
traremos as origens da psiconeurose neste periodo 2-34-5 anos. O que acontece,
contudo, se olharmos diretamente para a prdpria crianga que comeca a caminhar?
Devemos dizer claramente que essa crianca, quando sadia, tem todo tipo p.
vel de sintoma psiconeurstico. (Tomemos como exemplo um menino, para que nao
tenha de continuar dizendo ele ou ela.) Ele é vital e fisicamente ativo, mas também
fica branco e flacido, de um jeito que a mae pensa que a vida dele se foi. Ble é bondoso
e doce, e também cruel com o gato, e, aos inselos, deve assemelhar-se ao pior dos
torturadores do mundo. E afetuoso mas também machuca, chuta a barriga da mie se
esta parece estar ficando grande, diz ao pai para ir embora, ou, talvez, se una com este
€ despreze as mulheres. Tem acessos de manha, que podem ser embaracosos quando
se estd na rua principal da cidade; tem pesadelos e, quando a mae chega para consol
lo, diz-lhe: — Va-se embora, sua bruxa; eu quero a minha mae. Tem medo disto ou
daquilo, embora seja muito bravo ou bravo demais. Fica altamente desconfiado de
uma comida que tenha um fio de cabelo nela, ou que seja da cor errada ou que néo
tenha sido cozinhada pela mae, ou, entao, talvez recuse a comida em casa e coma
vorazmente na casa da tia ou da avé.
E bastante provavel que existam todos os tipos de pessoas ou animais imagind-
rios no corredor do apartamento, ou que haja criancas imaginarias para quem se tem
de por a mesa, na hora do jantar. £ mais fécil aceitar estes delfrins do que tentar
buscar a sanidade.56
D. W. Winnicott
De vez em quando a crianca diz que te ama ou faz um gesto espontineo que
indica a mesma coisa. Uma mistura de tudo.
Neste estégio de desenvolvimento, a crianca se acha em processo de elaborar um
relacionamento entre 6 potencial onirico ou a vida imaginativa total com a confiabili-
dade ambiental acessivel. Exemplificando, se 0 pai achar-se I ao desjejum (refiro-me
a Inglaterra), entao & seguro sonhar que ele foi atropelado ou ter um sonho em que,
simbdlica, 0 Tadrao atira no marido da has rica, a fim de apoderar-se
as dela. Se 0 pai nao estiver presente, um sonho desse tipo 6 assustador
demais econduza um sentimento de culpa ea um humor deprimido. E assim por diante.
Tenho agora de tentar enunciar 0 que esta acontecendo.
Mesmo no meio ambiente mais satisfatério possivel, a crianga tem impulsos,
idéias e sonhos em que ha um conflito intolerdvel: conflita entre amor e édio, entre o
desejo de preservar e 0 desejo de destruir e, de maneira mais sofisticada, entre as
posicdes heterosexual e homossexual na identificacdo com os pais. Tais ansiedades
sio de se esperar; fazem parte da histéria e implicam em estar viva a crianca.
Esta, contudo, acha intolerdvel certs aspectos das ansiedades e, dessa maneira,
comega a estabelecer defesas. Estas defesas se organizam e, entio, falamos de psico-
neurose. A psiconeurose é a organizagao de defesas contra uma ansiedade do tipo que
estou descrevendo.
Naturalmente, a crianga pode regredir 4 dependéncia infantil e a padrdes infan-
tis, pode perder as qualidades félicas e genitais que se tomaram uma catacteristica,
na fantasia e no brin que combina com a excitago, e pode retornar a uma
existéncia oral ou de rato alimentar, ow até mesmo a uma perda das primeiras
conquistas da integracio e de ter uma capacidade para relacionamentos objetais; pode
até mesmo perder um pouco do contato estreito que se desenvolveu entre sua psique
€ seu corpo. Entao, nao falariamos aqui de psiconeurose.
Atendo-nos estritamente ao nosso assunto, dizemos que, na psiconeurose, a
crianga nao perde nada do desenvolvimento integrador inicial, mas defende-se contra
a ansiedade de diversas manciras, maneiras que a Sra. Freud descreve com clareza
no livro a que ja me referi
Primeiro, temos a repressdo: um tipo especial de incansciente se desenvolve,
inconsciente reprimido. Grande parte da vida da crianga que comega a caminhar cai
sob a repressio e torna-se inconsciente. O inconsciente reprimido é, naturalmente, um
inconveniente, porque a repressio é cara em termos de energia, ¢, também, aquilo que
é reprimido esta sempre sujcito a aparecer sob uma forma ou outra, num sonho, ou,
talvez, projetado sobre fendmenos externos. Apesar disso, 0 lucro tem de ser medido
em termos da diminuigéo da suscetibilidade da crianga a ansiedade manifesta ou
clinica. Um aspecto especial da repressio é a inibicdo do impulso, uma perda de um
pouco da pulsao instintual no relacionamento com abjetos. Isto equivale a um sério
empobrecimento da experiéncia de vida da crianga.
Em segundo, a fantasia reprimida pode aparecer e criar problemas sob a forma
de transtomno psicossomatico, 0s ditos sintomas de conversdo, cujo contetido de fan-
tasia se perdeu; ou de ansiedades hipocondriacas a respeito de partes do corpo ou da
alma, ¢ nao existe solucio para tal sintomatologia, exceto pela recuperacio do contet
do de fantasia perdido?
2. Ocorre-me que possa estar usando a palavra “fantasia” de uma maneira que nao 6 familiar a
alguns de vocés, Nao estou falando sobre o fontasiar, ou sobre a fantasia imaginada, mas sim
pensando na totalidade da realidade psiquica ou pessoal da crianga, certa parte dela consciente,
mas a maior parte, inconsciente, e, ainda, incluindo aquilo que nao é verbalizado, imaginado
ou ouvido de maneira estrutural, por ser primitive e proximo das raizes. quase fisioldgicas das
quiais brota, — D.W.W.Exploragées Psicamaliticas 57
Em terceiro, tornam-se organizadas certas fobias, tais como, por exemplo, medo
de lobos, cu de ratos, se estes se acharem mais proximos de casa. Uma fobia desse
tipo pode muito bem resguardar uma crianga contra a rivalidade entre irmaos, por
exemplo, e 0 medo dos irmaos odiados.
Em quarto, pode-se organizar uma tendéncia obsessiva para lidar com a confu-
sto e impedir a volta perigosa do impulso destrutivo, No perfeccionismo, lida-se
antecipadamente com um édio do mundo que o viraria de cabeca para baixo. Trata-
se de um substituto pobre para a seqéncia de satide — (1) impulso ¢ idéia destrutiva,
(2) senso de culpa, (3) reparagéo ow atividade construtiva — mas para 0 neurético,
tem de servir.
Poderio acrescentar a esta relacao varios outros tipos de formagio psiconeuréti-
ca de padres, Em todos os casos, 0 padrao das defesas é contra a ansiedade no nivel
de complexo edipiano, e determinada, até certo porto, pelo carter do meio ambiente,
mas a pulsao a formacio psiconeurética de sintamas provém dos conflitos essenciais,
existentes no individuo, entre amor e Gdio, conflitos esses que indicom um desenvol-
vimento emacional sadio no sentida da estruturacao e fortaleza do ego, e também
indicam um fracasso do ego em toleraras conseqliéncias das tensdes instintivas ou doid
E.a defesa principal é a repressao. Esta ¢ a razio pela qual a psicanilise, em sua
forma classica, é um tratamento que lida com pacientes que tém o ego sadio até o
ponto em que lidaram com a ambivaléncia por meio da repressdo e sem um rompi-
mento da estrutura do ego, ¢ 0 trabalho principal da andlise do paciente com sintomas
psiconeurdticos consiste em trazer a cansciéncia © inconsciente reprimido. Isto é feito
mediante a interpretacao, dia a dia, do relacionamento do paciente com o analista, a
medida que este relacionamento gradativamente evolui, ¢, a0 evoluir revela 0 padrio
da propria histéria do paciente no nivel do complexe edipiano e na idade de 2-3-4 anos
Que papel desempenha o meio ambiente nestas questdes? J4 indiquei a parte
vital que ele desempenha no comeso, no estigio da dependéncia muito grande. Referi-
me ao periodo especial durante 0 qual a crianga pequena pode facilmente ser trans-
formada em uma crianga carente, ¢ por diversas maneiras demonstrei, espero eu, que,
no estégio do complexo edipiano, é imensemente valioso que a crianga possa seguir
vivendo em um ambiente assentado de lar, de mancira que seja seguro brincar ¢
sonhar, ¢ que o impulso a ser amoroso possa ser transformado em um gesto efetivo,
no momento apropriado,
O meio ambiente é algo que tomamos como evidente. Uma erianga que se ache
em uma instituigio tem uma tarefa diferente neste estégio, 0 estégio dos primeiros
relacionamentos triangulares, que a da crianga que esté morando em seu prépric lar,
com seus proprios pais ¢ irmaos. O lar bom também absorve muitas dificuldades que
86 se toram muito aparentes quando o lar se rompe ou € perturbado pela doenca,
especialmente anormalidades psiquidtricas nos pais, Apesar disso, se eu me ativer
estritamente ao meu argumento, que é @ estudo da psiconeurose, ser-me-A necessério
enfatizar que é apenas aqui ¢ exatamente aqui que estamos lidando com as tensdes ¢
estresses iitferios, 08 conflitos, principalmente inconscientes e pertencentes aos domi-
nios da realidade psiquica pessoal do individuo,
O paciente, que sofre de psiconeurose, quer uma ajuda pessoal do tipo que torne
possivel a diminuigio das forgas da repressio a liberagiio da energia pessoal para o
impulso nao-premeditado.
A enfermidade psiconeurética pode ser medida de acordo com a rigidez das
defesas, defesas contra a ansiedade que pertence 3 experiéncia real ¢ imaginaria dos
relacionamentos triangulares, tal como se dio entre pessoas totais.
Verdo que 0 meio ambiente ingressa no quadro da psiconeurose, em parte por
determinar a natureza do padrao de defesa. A psiconeurose, contudo, nao encontra a
sua etiologia na condigao ambiental, mas nos conflitos pessoais que pertencem espe-D. W. Winnicott
cificamente ao individuo. Em contraste, a crianga anti-s cial 6 muito claramente anti-
social em resultado de uma privagio. Também, para nossa surpresa, descobrimos que
na etiologia do mais grave transiorno psiquidtrico, a esquizofrenia, um fracasso do
euidado na fase mais inicial de dependéncia absoluta da primeira infancia ¢ ainda
mais importanie que o fator hereditacio.
Na pratica, esta visio da psiconeurose & tornada obscura pela fato de nés nao
encontrarmos comumente pacientes que sejam, por assim dizer, casos psiconcuréticos
“mures”. Ademais, coma Melanie Klein nos mostrou3, a origem do fracasso da crianga
em evitar organizagies psiconcurdticas de defesa resice em fracassos desenvolyimen-
Jaks ex estépios anteriores. Mas isto néo nos deve deixar contusos. Temos de falar
como se as enfermidades fossem quer psiconeuroses, quer transtomos afetivos, quer
psicoses, quer a tendéncia anti-social, a fim de nos poder situar
Surge a questo: 0 que é normalidade? Bem, podemos dizer que, na satide, o
individuo foi capaz de organizar suas defesas contra os conflitas intoleraveis da
realicade psiquica pessoal, mas em contraste com a pessoa dovnte de psiconeurase, a
pessoa sadia é relativamente livre da repressio macica e da inibigdo do instinto. Na
satide, também, 0 individuo pode empregar todo tipo de defesas, e mudar de uma
para outra, e, na realidade, néo apresenta aquela rigidez. de organizacdo defensiva que
caracteriza a pessoa enferma.
Havendo dito tudo isto, quero sugerir que, clinienmente, 0 individuo realmente
sadio esté mais proximo da depressto e da loucura que da psiconeurose. A psiconeu-
rose ¢ entediante. E um alivio concedido por um senso de humor, e conseguir, por
assim dizer, flertar com as psicoses. Através da arte moderna, experienciamos a
anulagio dos processos que constituem a sanidade e as organizagdes defensivas psi-
coneuréticas, ¢ o principio da seguranga em primeiro lugar
Permitam-se acrescentar uma das palavras a respeita do vasto assunto da ado-
lescéncia. No periodo da adolescéncia, a puberdade ameaca e, depois, desenvolve-se
e domina a cena. Uma descrigdo do adolescente seria bastante semelhante 4 da crianga
de 2-3-4-5 anos, ou seja, uma colegio de tendéncias autocontraditérias. Por causa do
amadurecimento gradativo dos instintos, o adolescente encontra-se, durante alguns
anos, em um estado de ude acuity solweées falsas. sto ocasiona a nossa dificuldade em
lidar com adolescentes, ou seja, o fato que temos de tolerar a recusa deles ¢ encontrar
uma saida para a duvida e para o dilema. A tinica solugio para a adolescéncia é 0
amadurecimento que o tempo trara, 4 medida que ela se transforma em estado adulto.
Dessa maneira, a psiconeurose ingressa no quadro da adolescéncia como uma
ameaga de falsas solugées, falsas solugdes que provém de dentro do individu, inibi-
bes, rituais obsessivos, fobias ¢ sintomas de conversio, defesas contra a ansiedade
associadas com a vida instintual que agora ameaga por uma maneira nova. Faz parte
do problema mundial da adolescéneia atualmente que tenhamos de assistir cada
crianga a defender intrepidamente o seu direito de uo encontrar una solueho falsa, quer
na psiconeurose, quer através da aceitagao dos varios tipos de auxilio que desampa-
tadamente oferecemos,
A psiconeurose que persiste na vida adulta é claramente vista e sentida como
um inconveniente ¢ uma anormalidade, e a tinica coisa que preciso dizer aqui a
respeito da psiconeurose adulta é que a sua cliologia perience ao periodo da infancia
do individuo que vai dos dois aos cinco anos, ao periodo do primeiro estabelecimento
de relacionamentos interpessoais, ¢ ao desenvolvimento, na crianga, de uma capacida-
de de efetuar uma identificagéo com os pais nas vidas instintuais destes.
3. The Oedipus Compiler in the Light of Early Auxieties (1945
i em Melanie Klein, Contributions to
Psycho-Analysis, 1921-1945 (London, Hogarth Press, 1948).