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HISTERIA
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Pyright © Denise Maurano Met}
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vabinete de Artes/Axel Sande”
Diagramacao
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CIP-BRASIL,
SINDICATO NACION,
Mal2h Maurano, Denise
Ze An eate © principio de
‘olegao Nina Saroldi} — 3 Mi
2017. *roldll~ 3" ed — Ro de janet any
Civitizagsg pote
~(Para ler Freud) “ot
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AL DOS f DITOREs oN
DEL
Udo / Denise
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-200-0854.6
1. Freud, Sigmund, 1856-1939, 2
Rh Histeria. 3, Psicandlise. 1 Tiny.
10-5126 DD: 6168524
OU: 662 = ___——
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~ BeacilINTRODUZINDO A HISTERIA, ONTEM, HOJE E SEMPRE
A psicanalise caiu na boca do povo. Referida pela mt
dia de diversos modos, dos mais pertinentes aos mais equi-
vocados, alvo de sérias investigagoes cientificas e de ae
a a segue a vocacao histriOnica de sua mae
Freud, 0 neurélogo, tocado pelas pressdes amorosas
financeiras e sociais da vida, ja que se encantara com Marta,
queria casar-se e ndo tinha dinheiro, € convocado a sair dag
pesquisas laboratoriais na universidade, que néo Ihe propi
ciavam meio de vida, para assumir suas fungoes ieee
atender pacientes, trabalhar em hospitais. La chegando, in.
teressa-se pela hsteria,e seré buscando responder a0 enig.
ma da origem e do funcionamento desses sujeitos que fe
venta um novo saber, ou um novo método de relacao com
© saber: a psicandlise. Daf dizermos
da psicandlise, seu lugar de origem.
A hisieria acaba por tevelar-se para ele nao como uma
Patologia qualquer, mas como um moda. de subjetivacao
Ou seja, um modo de estar no mundo, de fazer lacos e de
operar com o desejo, funcionando como uma curiosa defe-
sa frente a falta inerente & condi¢ao humana, uma ves au
viver € estar sempre em busca de algo. =
Essa sua abordagem da histeria ¢ completamente
inovadora dentro do quadro geral em que a histeria se
que a histeria é a mae
16
circunscreve ha milénios, e cabe remarcé-la com vigor no
momento atual, no qual a tendéncia organicista da ps\-
quiatria chegou ao desplante de erradicé-la de suas uhi-
mas ‘classificagoes, eliminando com isso, infelizmente,
também 0 que quer que diga respeito @ subjetividade
Nesse contexto, 0 que restou foi apenas a observacao de
pseudotranstornos corporais, para os quais se propoem
tratamentos medicamentosos e comportamentais,
‘A atual Classificagao Internacional de Doeneas, CID-
10 (1992), e a DSM IV (1994), classificacao americana das
doengas mentais — influenciadas pelos laborat6rios farma-
céuticos e, portanto, submetidas as presses econdmicas
a0 que Thes gira em torno —, nos lugares em que antes
mencionavam a histeria referem-se agora a uma infinidace
de transtornos, retirando-a de cena e suprimindo também 0
{ermo neurose, Falam apenas de transtomos dissociativos €
somatoformes.
Porém, isso ndo impede a histeria de continuar exis-
tindo, de forma tao evidente quanto sempre foi, acrescen-
tando as roupagens antigas outras novas, que envolvem até
a caracterizagéo acentuada de “novos velhos sintomas”, co-
mo anorexia, bulimia, obesidade, panico, depressto, mania,
aparecendo nas mais variadas versdes nas quais operam
modos subjetivos de lidar com a falta. Esta vem entdo se
configurar como falta de objeto, que pode se caracterizar
como algo ou alguém, num perfodo marcado pela dinarrica
consumista que sustenta o capitalismo que, por contrapar-
tida, gira em torno do apelo ao objeto. Objeto esse que tem
até, na imagem corporal, uma referéncia privilegiada, abrin-
do assim urn campo fecundo para manifestagoes histéricas,
Vyoi
em que 0 corpo esté sempre em evidencia, hiperinvestido
como via de salvacdo frente a inconsisténcia da experiéncia
humana,
Com 0 nao reconhecimento da histeria como expres-
s4o clinica, retrocedeu-se a uma era pré-fteudiana. Desse
modo, ficou reduzido a pé todo o trabalho de despatologi-
zacao da histeria, no qual se verifica que 0 sujeito histérico
encontra-se, em certa medida, em todos nés, como uma
maneira especial de desejarmos e de nos dirigirmos ao ou-
tro. Ou melhor, resumiu-se esse trabalho a drégeas ou a
condicionamentos comportamentais que prometem o im-
possivel le curar a ferida de sermos humanos e, portanto,
dependentes, carentes, sugestionaveis e, por tudo isso, tam-
bem maravilhosamente criativos e surpreendentes, sobretu-
do se pudermos acolher nossas dependéncias e carencias,
com a *substancia” da falta que tornamos operante
© vazio, 0 ndo senso da existencia, e fazemos dele alguma
coisa — inventamos. Fazemos 0 nao ser vir a ser. Na pior
das hipéteses, fazemos 0 ndo ser vir a ser um sintoma. Mas,
ainda assim, estamos construindo, edificando. E verdade,
as vezés, com um custo pot demais alto, mas que s6 pode
ser minimizado por outra edificacdo, jamais pela supressio
do sujeito em nome de uma normalizagéo que nega a dife-
Tenca pura que singulariza cada um de nés. A psicandlise
opera na contracorrente dessa pretensio absurda de objeti-
var 0 subjetivo.
Empreender uma trajet6ria para sabermos fazer algo
melhor com nosso sintoma é 0 que o tratamento psicanalt-
tico possibilita. Tomando aqui sintoma nao como sinal de
uma doenca, mas como sinal de um sujeito que clama por
18
expressarse e por seisizer-st, ainda que das maneitas mais
transversas, Freud se vale de uma singular orientacao etic,
norteada por um novo modo de conceber cg a =
atos ¢ de intervir sobre ele. O que encontrara aa en 3
com 0 que [oi produzido até entao pelo saber méclico, m: 3
com certas dimensdes da arte, das quais certamente partic
pa o teatro tragico e a expresso barroca, como a
demonstrar mais adiante. Isso porque sua abordagem da
condigao humana néo se dirige a um plano ideal, de gas
as coisas deveriam ser, mas encontra-se referida ao real e —
recursos que precisam ser agilizados para que o sujeito pos
sa amortecer o impacto de “cair na real
Tanto 0 teatro tragico quanto a expressao barroca sto
orientados por uma ética que tome mais em consideracao 0
real do que 0 ideal. Edipo Rei, Antigona, Hamlet, ee
Julieta e tantas outras tragédias colocam em cena ae
da crueza do existir humano, sublinhando © co Hin,
‘excessos, as reviravoltas da vida. E 0 barroco impoe Saul
dinamismos e instabilidades a retidao da forma om le
figurar o mundo. E também no questionamento do que se
presenta como ideal que a histeria ganha expresso € Pro
10 mundo.
oa histeria vern de longa data, presente oe
a Antiguidade, antes de fazer fpecmings ou ad
festagdes posteriormente designadas como feat ie
ram, num primeiro momento, atribuidas ao ttero, hystera.
Trata-se da histeria como referida a problemas da matriz, :
witero. Que o utero seja abordado como matriz, a
ndo € potco. Curiosamente, podemos perceber ae ; :
essa epoca, por diversas vias distintas, sua vacuidade
19vista como elemento causal na manifestagao de sintomas
como ansiedade, angustia, tonteira, vomito, desmaios, en-
xaquecas, perda da fala, paralisias, analgesias ¢ uma série
de outros. Seja a vacuidade atributda a falta de semen de.
vido @ auséncia de telagéo sexual (Hipocrates, 460-377
aC. Galeno, 131-201 d.C. outros) ou A falte de filhos
(Platao 428-347 a, C.; Soranos de Efeso, 98-139 d.C.e ou-
tr0s) ou referida como a razao de uma leveza danoca que
Provocava o deslocamento do titero do lugar que ele deve-
ria ter, parece haver nas teorias que tentavam explicar as
causas dos transtornos histéricas uma flagrante mencao a
Certa insustentcivel leveza de ser.
Esse titerts matriz, que nao é sendo matriz da vida, e em
seu silencio participa do segredo dessa tltima, evoca com seu
Yazio cavetnoso tanto a poténcia da criagdo —afinal, ndo foi
na fecundidade tnida das cavernas que o homem comecou
a Pintar? — quanto 0 contato com o estranho, o hortivel, 0
demontaco, © mutismo do real, que se torna eloquente nas
Configuragdes histéricas. Tais configuracoes encontram na
"dade Média, a partir do século Ill, um destino fumesto. Pas
sam a ser consideradas como consequéncia da intervencao
divina ou da possesséo demoniaca, Revelando tanto 4 afiat
dade entre a histera e o feminino quanto a proximidade en.
tre 0 divino e o demontaco. Via por onde as questoes da
criag4o também encontram 0 seu osso,
© desdobramento de tais aproximacoes culminaré
Cont caga as bruxas na Inquisicao. O martelo das feiticeiras
de 1487 sera o manual oficial para identificagao dessas, que
‘erlam feito um pacto com o demonio, possuldas que esta.
vam Por esse. Mandi-las para a fogueira foi o “tratamento”
20
que a Igreja lhes impos, valendo-se do poder Cee
fogo, fim de tegenerar suas almas. Muito tempo mai
de, no século XIX, Charcot, neurdlogo frances mi a
mente conhecido, endossar4 tais supostas possessées cot
ricos.
Seen eo dee
XIX, até a invengdo da psicandlise, surgem diversas resis
que de certo modo langam sobre a histeria ndo mais a ne
digo do perfodo anterior, mas uma nuyem = suspeic !
Parece que o enigma que a histeria presentifica e ps te
cla atraia todo tipo de desconfianca. Fala-se de ae
emanados ao cérebro decorrente de fermentos ae eo
dos pela falta de atividade sexual (Lange, 168 ae
espiritos animais transmitidos & cérebro ee ony
ap6s terem fermentado no coracdo (Thomas Willis, a
1675). Outras teorias focalizam peer aa
como afetado pela imaginagao, pela intensida s la pai a
(Paul Briquet, 1796-1881) e ainda pelo tédio, pelo ae
(Thomas Sydenham, 1624-1689) e pelo devaneio (Jul
ee eee
nas certezas da racionalidade, a “loucura” Dae gi
de vigor raciocinante, dotada de uma vivacidac agus
pela estimulagao do corpo e da alma, s6 podia ra ea
olhares médicos. Esses foram se encaminhando, facilm i
te, de maneira preconceituosa para a acusacdo de que ie
histeria se tratava de simulac&o, mé-f¢ e pitiatismo, ay
imenso prazer de enganar. Isso ficou evidente nas ae
tivas de Wilhelm Griesinger (1817-1868), que i a 2
doenca detestavel, Hyppolite Bernheim (1837-1919), qt
aconsiderava um artificio, e Joseph Babinski (1857-1933),
que chegou mesmo a sugerir a substituicgo da designagao
de histeria por “pitiatismo”,
Ainda que com Phillipe Pinel (1745-1826), por meio
do movimento de desacorrentamento dos loucos, ela tenha
ganhado o estatuto de neurose e Ihe tenha sido recomenda-
daa dignidade de um tratamento, possibilitando-a migrar da
loucura demontaca para uma concepgao de aspiracdes cien-
tificas, 0 tratamento que Ihe foi indicado nesse contexto foi
norteado pelo exercicio da austeridade e da vigilancia mo-
ral, Método obviamente aleito a uma {€ cega no poder do
discernimento da consciéncia.
Em mefo a esse panorama, na aurora da contempora-
neidade, surge Jean-Martin Charcot (1825-1893) trazendo
um diferencial decisivo para a tespeitabilidade da histeria
| como uma entidade clinica com leis proprias. Sem descon-
© siderar nem as antigas teorias sobre a influéncia uterina na
ctiologia da histeria nem a dimensao de artificio que se en-
contra presente em sua ideia de que ela seria decorrente de
autossugestao, confere-lhe 0 estatuto de uma doenca digna
de estudo. E, em vez de dedicar-se a pesquisar suas causas,
ocupou-se em descrever e documentar suas manifestagoes ¢
de traté-la pela sugestio,
Pierre Janet (1850-1947) também veio a estudar com
Charcot, Para ele, tal como para Alfred Binet, seu contern-
Poraneo, a histeria se deve a uma dissociagao da conscién-
-cia. Ou seja, propde que, devido a uma fraqueza psiquica,
concorrem dois estados de consciéncia em que um desco.
nhece 0 outro, dando margem a toda uma série de ideias
Patogénicas que vém a luz com a hipnose. Trata-se de fend-
22
menos relativos & consciencia e 20 que designava como sub-
aoe de Charcot, no hospital parisiense La Salpe-
trigre, funcionou em sua época como referencia para oe
quer ques fnteresase pela questo, Fol ness conten
aque Freud, senstblizado pelo que acini he evidenciav
diante da contradigdo entre a realidade da dor do sujei
irrealidade material de sta causalidade, cavou a oportuni-
ir estagiar em Paris.
ae ae de eos gue leva em conta sg
io avorece ant ousliade psiquca da ister quaio
4 énfse na imporaneia do outro par obiterico em sua
intense nectsidade de expresio ative sso parce esti
bem ao gosto da comerporaneidade, em que na histo
do pensamento vemos tant relatvizago da fe nario
que encantow a Idade Moderna quanto cea mportarte
focalizaio das intensiades,o que culminsré no apa:
cimento de teorias econdmicas que Dee tanto :
abordagem do exptal finest, com Karl Mars, px
exemplo, quanto do capital afetivo, libidinal, com Sig
pore psicanatisa francs que se dedtow a ree =
bra freudiana, em seu seminério A ética da psicandlise, i
que 0 desejo de pensamento da Idade ce ae
mou-se na contemporaneidade em pensamento de desejo,
para marcar essa mudanca de orientagdo entre um € outro
perfodo.!
7 Assunto que desenvolvemos mais amitide em nosso livro A, eee do
‘amor: a tragédia @ uz da psicandlise. Rio de Janeiro: Imago/UEJF
BAssim, nada mais justo que a histeria, acompanhando
© esplrito de sua época, fumcione como um paradigma da
condicao de seu tempo, no qual influencias contemporaneas,
como o relativismo, a queda da razdo, a énfase no amore na
sexualidade, o hiperinvestimento no corpo como objeto,
ganham a cena e abrem o desfile das manifestacdes histéri-
cas, nas suas mais variadas versées. Esse conjunto de fato-
res, quando acolhidos pela astacia de Freud, sero conjuga-
dos para a abertura de um novo campo de saber e de uma
nova pratica: a psicandlise,
Histeria: 0 intcio‘de tudo pode ser tomado como um ma
nifesto em ptol da histeria, por meio do qual nao se trata de
fornecer ao leitor mais uma das muitas introdugoes dispo-
niveis no mercado. Mas sim oferecer certas contextualiza-
Soes, certas chaves interpretativas, certos dados, para ler
Freud, que podem vir a esclarecer ou a melhor situar os
fundamentos, a ética, a otientagao metodologica que norte-
aram 0 pai da psicandlise na construgdo de sua obra. Visa-
‘os com isso a contribuir para melhor situar a abordagem
da histeria na proposta freudiana
Dessa forma, comecaremos por colocar Freud nos bas-
Udores do que dividia sua orientacao. Por um lado a acade-
Tia e por outro o teatro, em funcao do meio cultural do
qual adveio, a Viena do fim do século XIX, onde a histeria
Bmhou a cena, atraindo olhares de médicos e pesquisado-
res, inclusive com a presenca paradigmética da Imperatriz
Sissi, que comandava com 0 Imperador Francisco José Io
Império Austro-Huingaro, do qual Viena era a capital.
Em seguida, lancaremos luzes barrocas sobre a cena
histérica. Ou seja, tomando 0 barroco nfo como estilo de
24
um tempo, mas como umm modo de orientagao ce N
dade na complexa apreensio do mundo e da ae "
‘mana, 0 utilizaremos como alavanca metodolégica. =a
ara melhor apreendermos tanto 0 conceito de inconscie
ae se enderega & “outra cena” presente no psiquismo quanto
eae da histeria, dada sua tonica na exibicao do en e
na evocagdo de gozo, téo afeita a esse modo de expressdo
one See
tiafeitos-por Freud. Trabalho qué tios sy pe es ne
que, embora sendo de um perfodo considerado pré a a
nalitico, j4 que nem contava ainda com 0 cree ae
consciente, constitui-se até hoje um pilar eae zt para
a edificagéio da psicandlise. caso da-Srta.Bertha ue
heim — que ficou conhecida como Ana 0. que, ecu
ser escutada, inventou a expressio “cura pela ae Ed
signar 0 que fazia com seu médico —eo da Sra. ae
‘Weiss — conhecida como Srta. Elisabeth, que reve ay
Freud a participacao das expressdes lingufsticas ee oe By
ao dos sintomas, dando-lhe, portanto, peso simbdlic
a ial focalizagao.
eee abordar a dinamica da defesa pusteicey
tomando como ponto de partida a ideia de que a Ee
constituigéo da subjetividade esta referida a um Boe
defesa prioritario que funciona como um eixo na ae
40 do sujeito. Veremos o que hé de comum. a a a
¢ outras neuroses e sua diferenca das psicoses. A vocay:
para a conversao da excitagao psiquica eu sintoma corporal
sera caracterizada como recurso defensivo eae
histeria. Nessa perspectiva, 0 Orgéo € desviado da funcao
5que Ihe ¢ destinada para servir & fantasia e aos impasses da
expressio sexual.
Tais impasses sero bem caracterizados por meio do
Jamoso caso Dota, publicado por Freud em 1905, no qual 0
~ Corpo.é surpreendentemente usado para exibir a historia
erdgena do sujeito e sobretndo seus impasses com a femini-
lidade. Uma das revelagdes mais contundentes da histeria
© quanto € tortuoso o caminho para a feminilidade. Para dar
conta do feminino, o psiquismo nao dispée de um elemen-
to imaginario que tenha a prevalencia do penis, tal como
ocorre na representacao do masculino, Restam-lhe arranjos
simbolicos, que vio exigir operagdes bem mais complexas.
A histeria afigura-se como uma das safdas possiveis diante
do enigma que o feminino constitui, dat sua afinidade com
a mdscara, com o teatro, com a ficgao.
A.dimensaotraumatica da sexual e a nogto de conflito
que justifica o recalcamento encontrardo seu fundamento
no desenvolvimento da teoria das pulsdes. Como 0 instinto
nao da conta de elucidar a complexidade da sexualidade
humana, Freud langa mao de um outro conceito — a pul-
sto, que faz. jus a natureza simbolica da atividade sexual
‘humana, Afinal, a linguagem € o nosso meio de acesso a0
Outro, no copulamos simplesmente, mas “fazemos amor”
com palavras ao pé da orelha. Tudo isso faz com que sexual
€m psicandlise ganhe um sentido bem mais amplo, referin-
do-se nao apenas ao que diz respeito a0 coito sexual pro-
Priamente dito. © que obviamente traz implicagoes para a
-cancepso.de desejo em sua relacdo complexa com a ques-
Wo de sua realizado. Se_a pulsio cobra satisfacao a todo
Custo, o desejo determina os meios por caminhos bastante
26
sinuoses, Os memes pelos qual 0 desoencontra ss
modo proprio de se reizay nda ques no pro de
gemnarnsatisacto, config gid prilegada ce ister
‘na.rlacio com seu deseo; por isso, um capftulo seré dest-
rnado 2 abordagem do conflito no campo das pulsées € suas
consequéncias para a relagio do sujeito com 0 desejo.
Faremos todo esse trajeto para concluirmos deixando
desejat, Ou sea, mals importante do que quer que seja que
possamos ensinar acerca da histeria, nos cabe melhor ca
der com ela. Aprender ontem, hoje e sempre, 20 modo de
Freud. E, por falar nele, vejamos como tudo come¢ou.
Nos bastidores, Freud entre a academia e o teatro
Quem nunca ouviu falar de Sigmund Freud? Dotado
de uma curiosidade sagaz, esse vienense ambicionava desde
crianga tornar-se um herdi na cultura, quando sonhava
com um busto seu na ala da universidade com a inscri¢éo
dle um verso de Edipo Rei: “Aquele que resolveu o enigma da
esfinge e que era um homem inegavelmente ace
Isso quem nos conta € Ernest Jones, seu bidgrafo, De| -
o enigma que o capturou e acabou por levé-lo a ae
condigao de heréi foi o relative ao funcionamento do
=
iquismo. ;
Embora sempre admirado por professores e amiges,
seus poderosos dotes pessoais sé se consolidaram na meia-
idade, O atendimento do caso de Elisabeth von R., que fun-
ciona como uma primeira indicacao clara de que ele atingiria
seu intento, é de 1892, quando Freud jé contava 36 anos.
7