BREVE ESCORÇO SOBRE A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO DO
TRABALHO NO PLANO INTERNACIONAL E BRASILEIRO.
WILCINETE DIAS SOARES1
Resumo- O presente artigo discorre sobre a evolução histórica do Direito do
Trabalho no plano internacional e na esfera nacional, abordando a sua gênese e
o seu desenvolvimento no decorrer do tempo.
Palavras-Chave- Direito do Trabalho, Precedentes ; Evolução Histórica; Plano
Internacional e Brasileiro.
Sumário-1. Introdução; 2.Definição; 3. Precedentes Históricos; 3.1. Evolução do
Direito Trabalho no Plano Internacional; 3.2. Fase do Liberalismo; 3.3. Fase do
Intervencionismo; 3.4. Fase da Coletivização; 3.5. Fase da Flexibilização; 4.
Evolução do Direito do Trabalho no Brasil; 4.1. Fase do Liberalismo
Monárquico; 4.2. Fase do Liberalismo Republicano; 4.3. Fase do
Intervencionismo; 5. Considerações Finais. Bibliografia.
1
A autora é Procuradora do Município de Diadema-SP. Especialista em Direito Municipal pela UNIDERP. Pós
graduada em Direito Administrativo e Processual Civil pelas Faculdades Integradas de Jacarepaguá. Advogada
Militante na área do contencioso cível no Estado de São Paulo.
1
1. INTRODUÇÃO
O Direito do Trabalho é um dos ramos jurídicos que desperta o interesse
de todos. Tem uma rica história, havendo passado ao longo de séculos por
profundas mudanças, notadamente por via de consequência de eventos
extraordinários de repercussão mundial.
Neste estudo, faremos uma breve abordagem da história evolutiva do
Direito do Trabalho no plano internacional, mormente no plano nacional, desde
épocas remotas nas quais os trabalhadores não tinham nenhuma garantia e
segurança. Pode se dizer, que trabalhavam em condições análogas de escravos
cotejando-se com as condições atuais.
Será abordado o tema quanto às fases por que passou notadamente a
influência da ocorrência de grandes fatos históricos como a Revolução Industrial
em 1765, a Revolução Francesa em 1789, as Grandes Guerras Mundiais,
surgimento das primeiras normas garantidoras dos direitos dos trabalhadores.
2. DEFINIÇÃO-DIREITO DO TRABALHO.
Sergio Pinto Martins preleciona que, “Inicialmente o trabalho foi considerado
na Bíblia como castigo. Adão teve de trabalhar para comer em razão de ter comido a maçã
proibida. Trabalho vem do latim tripalium, que era uma espécie de instrumento de tortura de
três paus ou uma canga que pesava sobre os animais. A primeira forma de trabalho foi a
escravidão, em que o escravo era considerado apenas uma coisa, não tendo qualquer direito,
2
muito menos trabalhista. O escravo, portanto, não era considerado sujeito de direito, pois era
propriedade do dominus. Nesse período, constatamos que o trabalho do escravo continuava
no tempo, até de modo indefinido, ou mais precisamente até o momento em que o escravo
vivesse ou deixasse de ter essa condição. Entretanto não tinha nenhum direito, apenas o de
trabalhar.
Na Grécia, Platão e Aristóteles entendiam que o trabalho tinha sentido pejorativo.
Envolvia apenas a força física. A dignidade do homem consistia em participar dos negócios
da cidade por meio da palavra. Os escravos faziam o trabalho duro, enquanto os outros
poderiam ser livres. O trabalho não tinha o significado de realização pessoal. As
necessidades da vida tinham servis, sendo que os escravos é que deveriam desempenhá-las,
ficando as atividades mais nobres destinadas às outras pessoas, como política. Hesíodo,
Protágoras e os sofistas mostram o valor social e religioso do trabalho, que agradaria aos
deuses, criando riquezas e tornando os homens independentes. A ideologia do trabalho
manual como atividade indigna do homem livre foi imposta pelos conquistadores dóricos (que
pertenciam à aristocracia guerreira) aos aqueus. Nas classes mais pobres, na religião dos
mistérios, o trabalho é considerado como atividade dignificante”·2
De todo modo, o Direito do Trabalho de suas origens aos dias atuais
passou por muitas alterações notáveis, acompanhando a dinâmica dos fatos e
também da Sociedade.
O Direito como um todo é dinâmico, todavia, o ramo do Direito do
Trabalho, mais do que qualquer outro é sensível a estas mutações, bastando
lembrar os efeitos de grandes eventos como as revoluções Industrial e Francesa,
acrescente-se ainda as Grandes Guerras Mundiais.
2
MARTINS. Pinto Sérgio. Direito do Trabalho, p. 37/38, 19ª ed. Editora Atlas.
3
Sobre essa dinâmica do Direito do Trabalho colhe-se as lições do Ilustre
Professor Miguel Reale, trazidas pelo não menos, Professor Amauri Mascaro
Nascimento:
“(...). O direito não é um fenômeno estático. É dinâmico. Desenvolve-se no
movimento de um processo que obedece a uma forma especial de dialética
na qual se implicam, sem que se fundam, os polos de que se compõe. Esses
polos mantêm-se irredutíveis. Conservam-se em suas normais dimensões,
mas correlacionam-se. De um lado, os fatos que ocorrem na vida social,
portanto a dimensão fática do direito. De outro, os valores que presidem a
evolução das ideias, portanto a dimensão axiológica do direito. Fatos e
valores exigem-se mutuamente, envolvendo-se num procedimento de
intensa atividade que dá origem à formação das estruturas normativas,
portanto a terceira dimensão do direito
Na gênese da norma jurídica está presente a energia dos fatos e valores que
se atuam reciprocamente, pressionando uns sobre outros, pondo-se a norma
jurídica como a síntese integrante que se expressa como resultado dessa
tensão.”3
Ao abordarmos a definição de Direito do Trabalho, devemos observar
não apenas o aspecto individual, mas, também o coletivo, devendo, pois, assim
ser definido, observando-se as correntes doutrinárias que se contrapõem.
Maurício Godinho Delgado nos traz posições de autores diversos, tais
como Hueck, Nipperdey e Messias Pereira Donato acerca da definição de Direito
do Trabalho sob estes dois aspectos, fazendo uma análise criteriosa das
definições dadas pelos ilustres doutrinadores mencionados:
“Definir um fenômeno consiste na atividade intelectual de apreender e
desvelar seus elementos componentes e o nexo lógico que os mantém integrados. Definição é,
pois, a declaração da estrutura essencial de determinado fenômeno, com seus integrantes e o
vinculo que os preserva unidos.
3
NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Direito do Trabalho, p. ¾, 24ª Ed. Editora Saraiva
4
Na busca da essência e elementos componentes do Direito do Trabalho,
os juristas tendem a adotar posturas distintas. Ora enfatizam os sujeitos componentes das
relações jurídicas reguladas por esse ramo jurídico especializado – trata-se das definições
subjetivistas, com enfoque nos sujeitos das relações justrabalhistas. Por vezes enfatizam o
conteúdo objetivo das relações jurídicas reguladas por esse mesmo ramo do direito: são as
definições objetivistas, que firmam enfoque na matéria de conteúdo das relações
justrabalhistas. Há, finalmente, a elaboração de concepções mistas, que procuram combinar,
na mesma definição, os dois enfoques acima especificados.
A mesma variedade de perspectivas já se verificou, a propósito, no
Direito Comercial, definido quer como “Direito dos Comerciantes” (subjetivismo), quer
como “direito regulador dos atos de comércio” (objetivismo).
É subjetivista a definição exposta por Hueck e Nipperdey” ... o direito do
Trabalho é o direito especial de um determinado grupo de pessoas, que se caracteriza pela
classe de sua atividade lucrativa(...) é o direito especial dos trabalhadores.(...) O Direito do
Trabalho se determina pelo circulo de pessoas que fazem parte do mesmo.
É objetivista a definição exposta por Messias Pereira Donato: “corpo de
princípios e de normas jurídicas que ordenam a prestação do trabalho subordinado ou a este
equivalente, bem como as relações e os riscos que dela se origina.
É definição mista, por sua vez, esta construída por Octávio Bueno
Magno. Expõe o autor que Direito do Trabalho é o “conjunto de princípios, normas e
instituições, aplicáveis à relação de trabalho e situações equiparáveis, tendo em vista a
melhoria da condição social do trabalhador, através de medidas protetoras e da modificação
das estruturas sociais.
Dos três enfoques utilizados para a construção de definições, o menos
consistente, do ponto de vista científico, é, sem dúvida, o subjetivista. É que, considerada a
relação de emprego como a categoria fundamental sobre que se constrói o Direito do
Trabalho, obviamente que se o ramo jurídico especializado não irá definir-se, sob o ponto de
vista técnico, a partir de qualquer de seus sujeitos, mas a partir de sua categoria
fundamental. Por outro lado, o caráter expansionista desse ramo jurídico tem-no feito
regular, mesmo que excepcionalmente, relações jurídicas de trabalho que não envolvem
exatamente o empregador – o que torna o enfoque subjetivista inábil a apreender todas as
relações regidas pelo ramo jurídico em análise.
Não obstante suas deficiências, o enfoque subjetivista não é de todo
inválido. De fato, ao destacar a figura obreira, tem a virtude de enfatizar o caráter
teleológico do Direito do Trabalho, em sua qualidade de ramo jurídico dirigido a garantir um
aperfeiçoamento constante nas condições de pactuação da força de trabalho na sociedade
contemporânea.
O enfoque objetivista de feitura da definição do Direito do Trabalho é
mais satisfatório do que o anterior, em face da circunstância de se construir desde a
categoria jurídica essencial do Direito em questão: a relação empregatícia. A ênfase no
5
objeto, no conteúdo das relações jurídicas de prestação empregatícia do trabalho, confere a
tais concepções visão mais precisa sobre a substância e elementos componentes desse ramo
jurídico especializado. Não obstante, o acentuado direcionamento teleológico do Direito do
Trabalho – e que consiste em seu qualificativo diferenciador perante outros ramos jurídicos –
pode descobrir-se nas definições objetivistas, com prejuízo ao desvelamento da essência desse
ramo jurídico especializado.
As concepções mistas, desse modo, têm melhor aptidão para o
atendimento da meta científica estabelecida para uma definição – apreender e desvelar os
elementos componentes de determinado fenômeno, com o nexo lógico que os mantém
integrados.
Nesse quadro, o Direito Individual do Trabalho define como: complexo de
princípios, regras e institutos jurídicos que regulam, no tocante às pessoas e matérias
envolvidas, a relação empregatícia de trabalho, além de outras relações laborais
normativamente especificadas.
Já o Direito Coletivo do Trabalho pode ser definido como o complexo de
princípios, regras e institutos jurídicos que regulam as relações laborais de empregados e
empregadores, além de outros grupos jurídicos normativamente especificados, considerada
sua ação coletiva, realizada autonomamente ou através das respectivas. ”4
3. PRECEDENTES HISTÓRICOS
Feitas estas considerações iniciais acima quanto à definição de Direito do
Trabalho, oportuno mencionar que nos primórdios, tudo era muito diferente dos
dias atuais.
Naqueles tempos, homens e mulheres, não tinham as necessidades de
hoje. Não possuíam aspirações consumeristas. Suas necessidades em síntese, era
unicamente a de alimentos, consistindo estes a maior preocupação daquela
época.
4
DELGADO, Godinho Mauricio, Curso de Direito do Trabalho, p, 47/49, Editora LTr
6
Para suprir essa necessidade básica, o homem precisava caçar, para tanto
dependiam de armas e estas eram fabricadas inicialmente de ossos de animais,
posteriormente evoluindo para fabricação destas com pedras.
Por certo, não passava na mente daquelas pessoas em época tão remota,
que, em um futuro muito distante, esta atividade se tornaria extremamente
lucrativa e geradora de muitos empregos, como o são as indústrias de fabricação
de armas de notório conhecimento de todos.
Fato é que o homem foi evoluindo, e, estas armas que inicialmente eram
usadas para caçar vieram logo a serem usadas para combater seus semelhantes, –
as tribos adversárias. Assim, se tornou comum naquele período, intensos
conflitos, ocorrendo muitas mortes e também grande número de prisioneiros
pelos vencedores.
Este acontecimento inclusive tornara-se um grande problema para os
vencedores que não sabiam o que fazer com tantos prisioneiros. Afinal, estas
pessoas careciam ser alimentadas, e, de certa forma também necessitavam de
cuidados -, um grande incômodo para os vencedores. Isto realmente era um
fardo muito pesado a suportar. Então passaram os vencedores a vender estas
pessoas como escravas para outras tribos. Como se vê, era, o inicio da utilização
da mão obra escrava.
Arnaldo Sussekind, Délio Maranhão, Segadas Viana e Lima Teixeira nos
trazem preciosas lições acerca do trabalho naquela época distante:
7
SEGADA VIANA:
[...]
“Àquele tempo, a escravidão era considerada coisa justa e necessária,
tendo Aristóteles afirmado que, para conseguir cultura, era necessário ser
rico e ocioso e que isso não seria possível sem a escravidão”....” Nos
tempos medievais a escravidão também existiu e os senhores feudais
faziam grande número de prisioneiros, especialmente entre os “bárbaros”
e “infiéis”, mandando vendê-los como escravos nos mercados de onde
seguiram para o Oriente Próximo. Sob vários pretextos e títulos, a
escravização dos povos mais fracos prosseguiu por vários séculos; Em
1452 o Papa Nicolau autorizava o rei de Portugal a combater e reduzir à
escravidão todos os muçulmanos, e em 1488 o rei Fernando, o Católico,
oferecia dez escravos ao Papa Inocêncio VIII, que os distribuiu entre
cardeais.
Mesmo na Idade Moderna (1453 – Queda de Constantinopla) a escravidão
continuou e tomou incremento com o descobrimento da América. Os
espanhóis escravizavam os indígenas das terras descobertas e os
portugueses não só aqueles, como também faziam incursões na costa
africana, conquistando escravos para trazer para as terras do Novo
Continente. Ingleses, franceses e holandeses, por outro lado, através de
companhias e piratas, faziam, para suas colônias, o tráfico de escravos “.5
Vê-se pois, que na antiguidade a escravidão era considerada coisa justa
e necessária.
3.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO DO TRABALHO NO
PLANO INTERNACIONAL.
Na seara internacional a evolução do Direito do Trabalho veio marcada
por vários acontecimentos históricos que influenciaram paulatinamente a criação
de um conjunto de normas de proteção social ao trabalhador em todas as partes
do mundo. Podendo ser citadas as seguintes fases:
5
SUSSEKIND Arnaldi, Délio Maranhão, Segada Viana e Lima Teixeira, Instituições de Direito do Trabalho, p. 30, 20ª
Ed. Editora LTr
8
3.2 FASE DO LIBERALISMO
Esta fase do Direito do Trabalho teve sua magnitude no período que
abrangeu dois fatos da maior importância para o mundo, a Revolução Industrial
em 1765, e a Revolução Francesa, 1789, havendo esta fase deste ramo do Direito
se estendido até o Manifesto Comunista de 1848.
Nesta época houve um período de Contestação transcorrido desde o
Manifesto Comunista de Marx e Engels em 1848, até a Primeira Guerra
Mundial, 1919.
Naquela fase, tudo era permitido, não havia intervenção normativa do
Estado. O trabalhador não tinha nenhum tipo de proteção, não havia da parte dos
empregadores preocupação com a segurança dos empregados. Era liberado o
trabalho de menores e da mesma forma de gestantes; haviam verdadeiras
condições e forma desumana de trabalho. As jornadas de trabalho eram de sol a
sol. Não existiam entidades de classe como sindicatos para defender interesses
dos trabalhadores, sendo inclusive proibidas na época. Tanto que, na França, a
Lei “Le Chapellier” de 1791, proibia as corporações de ofícios e o Decreto
“Dallarde” garantiu a liberdade de Trabalho. Entre empregado e empregador,
havia o contrato de locação de serviços a exemplo do “conducio operum” do
Direito Romano.
Pode-se afirmar que foi um período terrível para os trabalhadores. A
sociedade da época não enxergava mínimos direitos individuais das pessoas,
9
ficando claro que o fator determinante desta fase, o mais importante mesmo, era
o econômico.
Acerca deste tema, Jorge Luiz Souto Maior, nos traz os seguintes
ensinamentos do que chama de LIBERALISMO ECONÔMICO.
[...]
“Conforme explicita Pierre Rosanvallon, a obra de Adam Smith insere-se
no contexto das preocupações da época, procurando o autor, inicialmente,
em Teoria dos Sentimentos Morais, ainda com ambições filosóficas,
aprofundar as investigações em torno do “estado de natureza” e do
contrato social, buscando em Hume a noção de simpatia para chegar a
uma explicação a respeito.
Mas, levando mais a fundo essa preocupação de explicar a instituição da
sociedade e da regulação social, Adam Smith, segundo Rosanvallon, acaba
se tornando um economista quase sem saber, ou por necessidade filosófica,
isto porque vai reconhecer, já em A Riqueza das Nações, que a sociedade
pode subsistir mesmo que não haja benevolência entre os homens,
havendo, portanto, uma razão econômica a lhe sustentar, um sentimento de
utilidade, baseada na troca interessada de serviços mútuos.
Como dito, expressamente por Adam Smith, em frase que restou famosa:
Não é da benevolência do açougueiro, do cervejeiro e do padeiro que
esperamos o nosso jantar, mas da consideração que eles têm pelos
próprios interesses. Apelamos não à humanidade, mas ao amor-próprio, e
nunca falamos de nossas necessidades, mas das vantagens que eles podem
obter.
Tem-se assim, exatamente na linha das investigações típicas dos séculos
XVII-XVIII, uma base científica para o capitalismo, que seria a teoria
econômica liberal. Enquanto o puritanismo trazia o “espírito do
capitalismo”, constituindo uma espécie de justificação moral do
enriquecimento, o liberalismo econômico constituiria a explicação da
natural instituição e regramento da sociedade a partir das livres e
economicamente interessadas relações comerciais entre os homens. Como
explica Rosanvallon, em tal visão, as relações entre os homens são
compreendidas como relações entre valores mercantis”, traduzidos por
uma palavra, mercado.”6
6
MAIOR, Souto Luiz Jorge, Curso de Direito do Trabalho, vol. I, Parte I, p.93/94, Editora LTr.
10
A concepção econômica do Liberalismo também é explicitada por
muitos outros doutrinadores a exemplo de Amauri Mascaro Nascimento que
mencionando Adam Smith a quem chama de pai do liberalismo econômico, nos
ensina o seguinte:
“Adam Smith é o pai do liberalismo econômico. Sustentou que as riquezas
das nações só é possível mediante a espontaneidade e o interesse de quem
trabalha, e, para esse fim, a pessoa deve ser livre, como ensina em seu
livro A riqueza das nações.
O direito que sucede o Bill of Right, de 1689, a Revolução Francesa e a
Declaração de Virgínia, de 1776, e o Código de Napoleão não podia
prever um problema para o qual não se destinava, qual seja a questão
trabalhista, posterior no tempo.
Significava uma reação contra o absolutismo monárquico e a origem
divina sobrenatural do poder, partindo de uma ideia básica contratualista
inspirada nos princípios sustentados por John Locke, Jean-Jacques
Rousseau, Montesquieu, Voltaire, Adam Smith, Stuart Mill e tantos outros.
A concepção fundamental do liberalismo é de uma sociedade política
instituída pelo consentimento dos homens que viviam em estado de
natureza e na qual cada um, sob direção da vontade geral, vive em
liberdade e igualdade e com a garantia da propriedade de tudo o que
possui.
O governo é simples intermediário entre o povo e a vontade geral, à qual
lhe cabe dar cumprimento, com um mínimo de interferência e com o
máximo empenho no sentido de assegurar a liberdade civil e política, bem
como os direitos naturais, porque estes preexistem ao Estado e não se
sujeitam a restrições.
No plano político, o individualismo se reveste de características
predominantes de tutela dos direitos civis; na esfera econômica parte do
pressuposto coerente da existência de uma ordem econômica natural e que
se forma espontaneamente, independendo da atuação do Estado, que,
assim, deve omitir-se, deixar fazer.
Como consequência desses princípios, o Estado capitalista estruturou-se
com base em certas peculiaridades: soberania nacional, exercida mediante
um sistema representativo; regime constitucional com tripartição dos
poderes; separação entre direito público e privado; liberdade, no sentido
de não ser o homem obrigado a fazer ou deixar de fazer a não ser em
virtude de lei; igualdade jurídica sem distinção de sexo, raça, crença
11
religiosa etc.; igual oportunidade de enriquecimento; não intervenção do
Poder Público; o trabalho sujeito à lei da oferta e da procura; respeito
incondicional à propriedade privada etc. Portanto, nessa fase do
pensamento humano predomina a ideia do individual, da plena expressão
da personalidade, na libertação das faculdades de cada um para um
desenvolvimento que ao Estado competiria assistir.”7
Na visão de Carlos F. Zimmermann Neto,
“Liberalismos econômico foi o movimento filosófico que ocorreu nos
séculos XVII E XIX – principalmente na Inglaterra, berço da Revolução
Industrial -, defendendo o fim da intervenção do Estado na produção e n a
distribuição das riquezas, o fim das medidas protecionistas e dos
monopólios, a livre concorrência entre as empresas e a abertura dos
portos entre os países. Foi encampada por Adam Smith, Thomas Malthus,
David Ricardo e James Mill, entre outros, da chamada “Escola Clássica
Inglesa”.
Formaram-se as concepções sobre o mercado livre, que se auto-regulava,
sem a intervenção do Estado, pela chamada “mão invisível”. Porém o
trabalho, um dos fatores de produção, não foi valorizado, nem foi dada
atenção suficiente à exploração dos operários pelos proprietários das
oficinas.
O Trabalho tornou-se um bem, também sujeito à lei do mercado: a lei da
oferta e da procura. Os trabalhadores queriam o maior salário possível, ao
passo que os empregadores queriam pagar o menor possível. Como havia
excesso de oferta de mão-de-obra, desvalorizava-se o trabalho: baixos
salários e miséria geral nas classes operárias.”8
3.3 . FASE DO INTERVENCIONISMO
Esta fase compreendeu o período da 1ª. Guerra Mundial até a década de
1930. Pode-se dizer que a partir dos movimentos de contestação do liberalismo o
7
Ob. Cit, p. 23/24
8
NETO, Carlos F. Zimmermann, Direito do Trabalho, p.8, Editora Saraiva, 2005
12
Estado passou a criar normas de proteção ao trabalhador. Normas de caráter
social começaram a surgir. Foi assim com a Constituição do México em 1917,
Constituição da Alemanha ( Weimar ), 1919. Criou-se ainda através do Tratado
de Versalhes no final da primeira Guerra Mundial, a OIT – Organização
Internacional do Trabalho, Órgão pertencente a ONU – Organizações das
Nações Unidas, encarregado de gerir a política deste órgão no campo do
trabalho.
Fase da intervenção do Estado controlando o poder econômico no
sentido de evitar que a força do capital sobreponha-se à força do Trabalho. O
Estado procura coibir desigualdades entre trabalhadores e empregadores. Edita
normas constitucionais e infraconstitucionais, criando direitos mínimos,
inclusive irrenunciáveis pelo trabalhador a exemplo do direito a férias.
Este momento histórico foi caracterizado pelo surgimento de normas de
ordem pública, tutelares de direitos e obrigações editadas naturalmente pelo
Estado. O Estado abandona a idéia do deixa fazer, entendendo o legislador da
época que não era mais possível a omissão do Estado nas relações de trabalho.
Foi nesta época que começaram a surgir normas reguladoras das atividades
laborais, das jornadas de trabalho, do trabalho do menor e de gestantes. É desta
época ainda, o surgimento do salário mínimo e das primeiras medidas de
segurança e higiene do trabalho. Diferentemente da fase anterior que adotou
como principal instrumento jurídico o contrato de locação de serviços, esta
adotou a Lei trabalhista.
13
3.4. FASE DA COLETIVIZAÇÃO
Período em que predominou o interesse coletivo sobre o individual,
privilegiando a negociação coletiva, negociação para alterações contratuais que
sugere a construção de uma sociedade solidária.
Esta fase se iniciou na década de 1930, sendo oportuno lembrar que esta
sofreu uma interrupção pela 2ª Guerra Mundial, retomando após o término desta.
Nesta foi reconhecido o direito à sindicalização com criação de
sindicatos, permitindo-se a estes reivindicar direitos de seus filiados, mormente
estabelecerem normas através dos acordos e convenções coletivas de trabalho.
Este estágio evidenciou-se dentre outras coisas, pela integração dos
trabalhadores na gestão empresarial. No ano de 1936, na França, o Acordo de
“Matignon”, criara os delegados do pessoal. Na Alemanha, em 1946, foram
criados os comitês de empresas, e, na segunda fase em decorrência da 2ª. Guerra
Mundial, foi incrementada produção de normas não estatais, com objetivo de
atender os interesses das classes laborais; foi ainda uma característica desta fase
a prevalência da autonomia da vontade coletiva, estabelecendo ordem pública
social. Por fim, ainda nesta fase, no ano de 1968, na França, o Acordo de
“Grenelle” instituiu uma política salarial, mormente a garantia de emprego,
podendo ainda se dizer que a Convenção coletiva de trabalho foi o principal
instrumento jurídico desta fase.
14
3.5 FASE DA FLEXIBILIZAÇÃO
Trouxe a Revolução tecnológica, o processo de informatização, a
automação dos meios produtivos foram fatores motivadores desta fase pós-
industrial. Surgiram novas formas de contratação, mais flexíveis, a autonomia da
vontade individual foi reforçada, sendo ainda caracterizada por menor
intervenção do Estado no contrato de trabalho, e, justamente por este fato, o
contrato individual de trabalho tornou-se o principal instrumento jurídico desta.
Estes são, em linhas gerais, os apontamentos necessários ao
entendimento da evolução do direito do trabalho no plano internacional.
4. EVOLUÇÃO DO DIREITO DO TRABALHO NO BRASIL
A respeito dos precedentes históricos do Direito do Trabalho no Brasil,
Carlos F. Zimmermann Neto esclarece:
“O direito do Trabalho surgiu em consequência: dos diversos eventos que
produziram a industrialização na Inglaterra; do liberalismo político e
econômico; da disponibibilização de grandes contingentes de trabalhadores
desempregados originários do campo, que aviltou os salários e produziu
miséria generalizada; da insatisfação e revolta dos proletários etc. Dizendo
de outro modo, os conflitos de trabalho é que escreveram a historia do
Direito do Trabalho nos países europeus. No Brasil, contudo, isso ocorreu
de modo distinto e com grande atraso.
O Brasil como colônia de Portugal não diferia muito do sistema feudal
europeu. Tratava-se de uma plantation – grandes extensões de terras
cultivadas com cana de açúcar para exportação -, completada pela extração
de pedras preciosas, ouro e especiarias, cujo resultado enriquecia o reino
português. O trabalho era exercido por escravos, imigrantes, degredados e
mestiços.
15
Copiando o modelo europeu, foram implantadas oficinas de produção de
bens e prestação de serviços, que não chegaram, no entanto, a formar as
organizadas corporações de ofícios de além-mar.”9
Tem se que naquela época, quase nenhuma proteção do Estado tinha o
trabalhador. As normas neste sentido começaram a surgir no Brasil a partir da
Carta Magna de 1824. Ainda que referidas normas não fossem diretamente de
natureza trabalhista, sem dúvida vieram a beneficiar os que dependiam do
trabalho para o sustento e também como meio de realização pessoal.
Sergio Pinto Martins escreve que:
“Inicialmente, as Constituições brasileiras versavam apenas sobre a forma
de Estado, o sistema de governo. Posteriormente, passaram a tratar de
todos os ramos do Direito e, especialmente do Direito do Trabalho, como
ocorre com nossa Constituição atual.
A constituição de 1824 apenas tratou de abolir as corporações de ofício
(art. 179, XXV), pois deveria haver liberdade do exercício de ofícios e
profissões.
A Lei do Ventre Livre dispôs que, a partir de 28-09-1871, os filhos de
escravos nasceriam livres. Em 28-09-1885, foi aprovada a Lei Saraiva-
Cotegipe, chamada de Lei dos Sexagenários, libertando os escravos com
mais de 60 anos. Mesmo depois de livre, o escravo deveria prestar mais
três anos de serviços gratuitos a seu senhor. Em 13-05-1888, foi assinada
pela Princesa Isabel a Lei Áurea, que abolia a escravatura.
Reconheceu a Constituição de 1891 a liberdade de associação (§ 8° do art.
72), que tinha na época caráter genérico, determinando que a todos era
lícita a associação e reunião, livremente e sem armas, não podendo a
polícia intervir, salvo para manter a ordem pública”10.
9
Ob. Cit. p 20
10
Ob. Cit. p.43
16
De todo modo, o Direito do Trabalho no Brasil a exemplo do quanto
ocorreu no âmbito internacional, também passou por suas fases, quais sejam, do
Liberalismo Monárquico, Republicano e por fim, Intervencionismo.
4.1 FASE DO LIBERALISMO MONÁRQUICO
Pode-se dizer que esta fase transcorreu da Proclamação da Independência
em 1822, estendendo-se até 1889, data da Proclamação da República, inserido
neste período, a Abolição da escravatura no ano de 1888. O traço marcante
desta fase foi o trabalho escravo em nosso país. Havia trabalho livre embora
raro, sendo este regulado pelo Código Comercial de 1850.
4.2 FASE DO LIBERALISMO REPUBLICANO
Transcorreu da Proclamação da República até 1930. O que diferenciou
esta fase da anterior foi que nesta o trabalho escravo estava abolido. O trabalho
era livre nos moldes ocorrentes nos Estados Unidos da América.
Nesta época surgiram leis trabalhistas dispondo sobre o trabalho de
menores, férias, funcionamento dos sindicatos, das caixas de assistência e
previdência dentre outros institutos. Nesta fase foi editado o Código Civil de
1916, de grande importância naquela ocasião por regular a locação de serviços e
empreitadas, tendo sido seu principal instrumento jurídico o contrato de
prestação de serviços.
17
4.3 FASE DO INTERVENCIONISMO
Prolonga-se até os dias atuais, havendo iniciado na década de 1930.
Período de Revolução, cujo governo que desta saiu, chegou ao poder fortemente
influenciado pelo dirigismo estatal, decorrendo daí, uma enorme demanda
legislativa no tocante ao Direito do Trabalho, sobre vários institutos como,
férias, duração do trabalho, trabalho da mulher, do menor, salário mínimo,
criação e funcionamento dos sindicatos, Previdência Social, Justiça do Trabalho,
embora ainda dirigida mais a determinadas categorias de empregados e não à
totalidade dos empregados do país, pois inicialmente referiam-se a ferroviários,
industriários, bancários, etc., embora não tenha tardado extensão a todos os
trabalhadores, vez que o Estado na seara do dirigismo estatal, restou
consolidando a legislação trabalhista com a C.L.T. – Consolidação das Leis do
Trabalho, ano de 1943.
Característica a destacar desta fase trabalhista: submissão dos sindicatos
ao Estado, rompida apenas com o advento da Constituição Federal de 1988.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Direito do Trabalho como dissemos no inicio deste estudo, constitui-
se em um dos mais dinâmicos ramos do Direito.
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Ao longo de sua história este importante ramo da ciência jurídica se
aperfeiçoou, no intuito de tutelar e proteger o trabalhador, regendo-se
hodiernamente por princípios como os estabelecidos por Plá Rodriguez, quais
sejam: da Proteção, da Irrenunciabilidade, da Continuidade, da Primazia da
Realidade, da Razoabilidade e da Boa-fé, consistindo sem dúvida em grande
avanço na proteção do trabalhador sempre a parte mais fraca na relação de
trabalho.
Imperioso que ande em perfeita harmonia e sintonia com as inovações
tecnológicas e os efeitos destas na Indústria, no Comércio e Serviços.
No Brasil, a Consolidação das Leis Trabalhistas data de 1943. De lá para
cá muita coisa mudou e nossos legisladores não foram sensíveis às mudanças e
inovações. Pela via da consequência, nossas leis trabalhistas, notadamente a
CLT, já não se harmonizam com os fatos inovadores introduzidos no meio
trabalhista, clamando por uma ampla reforma.
Não é para menos, a CLT tem mais de 70 anos. O Brasil de 1943
certamente muito difere do Brasil de hoje, a Indústria, o Comércio, os Serviços,
tudo em muito mudou e nossa legislação trabalhista pede urgentes mudanças
para se adequar aos novos tempos.
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BIBLIOGRAFIA
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Godinho Delgado, Maurício, Curso de Direito do Trabalho, Editora LTr.
Luiz Souto Maior, Jorge, Curso de Direito do Trabalho, Volume I, Parte I,
Editora LTr
Mascaro Nascimento, Amauri, Curso de Direito do Trabalho, 24ª. Edição,
Editora Saraiva
Plá Rodrigues, Américo, Princípios do Direito do Trabalho- tradução de
Wagner D. Giglio, São Paulo, LTr 1978, p. 28
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Susseking, Arnaldo; Maranhão, Delio; Viana, Segada e Teixeira, Lima,
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