Escalas de exploração vocacional para
estudantes de ensino médio
Vocational exploration scales
for high school students
Marco Antônio Pereira TEIXEIRA1
Ana Cristina Garcia DIAS2
Resumo
A exploração vocacional é essencial para o desenvolvimento vocacional e para as tomadas de decisão vocacionais. O objetivo
deste estudo foi testar as propriedades psicométricas de uma versão adaptada para estudantes do ensino médio das Escalas de
Exploração Vocacional, que avaliam duas dimensões de exploração vocacional: exploração de si e do ambiente. As escalas foram
aplicadas a 436 estudantes de ensino médio (média de idade de 16,3 anos; 55,3% mulheres). Análises de componentes
principais revelaram os dois componentes esperados, sugerindo a validade de construto do instrumento. Os índices de fide-
dignidade obtidos também foram satisfatórios. Conclui-se que as Escalas de Exploração Vocacional são instrumentos válidos e
fidedignos para avaliar exploração vocacional, podendo ser utilizadas em futuras pesquisas.
Unitermos: Avaliação psicológica. Comportamento exploratório. Exploração de carreira. Exploração vocacional.
Abstract
Vocational exploration is essential to vocational development and for career decision-making. The aim of this study was to test the psychometric
properties of a version of the Vocational Exploration Scales adapted for use with high school students, which evaluate two dimensions of
vocational exploration: self-exploration and environmental exploration. The scales were applied to 436 high school students (mean age:
16.3 years; 55.3% women). Principal components analyses revealed the two expected components, suggesting the construct validity of the
instrument. Reliability indices obtained were also satisfactory. It may be concluded that the Vocational Exploration Scales are valid and
reliable instruments for assessing vocational exploration that can be used in future research.
ESCALAS DE EXPLORAÇÃO VOCACIONAL
Uniterms: Psychological assessment. Exploratory behavior. Career exploration. Vocational exploration.
O comportamento exploratório é um aspecto sobre o mundo do trabalho, obtendo e organizando
central no desenvolvimento vocacional e nos processos informações importantes para suas escolhas voca-
de tomada de decisão de carreira (Jordaan, 1963; D. E. cionais (Flum & Blustein, 2000; Taveira, 2000).
Super, Savickas & C. M. Super, 1996). É por meio da O conceito de comportamento exploratório
exploração que o indivíduo reflete sobre si mesmo e vocacional foi inicialmente desenvolvido por Jordaan
▼▼▼▼▼
1
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Instituto de Psicologia, Programa de Pós-Graduação em Psicologia. R. Ramiro Barcelos, 2600, Sala 117,
90035-003, Porto Alegre, RS, Brasil. Correspondência para/Correspondence to: M.A.P. TEIXEIRA. E-mail: <[email protected]>.
2
Universidade Federal de Santa Maria, Departamento de Psicologia. Santa Maria, RS, Brasil. 89
Estudos de Psicologia I Campinas I 28(1) I 89-96 I janeiro - março 2011
(1963), que descreveu esse comportamento como parte diversidade de pesquisas que incluem a avaliação da
de um processo de resolução de problemas. Diante de exploração vocacional, relacionando-a com outras va-
uma situação ambígua ou de crise, que exige uma deci- riáveis. Por exemplo, há estudos que mostram existir
são ou escolha, o indivíduo aumentaria seus compor- associação entre exploração e decisão de carreira
tamentos exploratórios a fim de obter informações (Sparta, 2003; Taveira, 2000), autoeficácia vocacional
suficientes para decidir-se por um curso de ação. Assim, (Rogers, Creed & Glendon, 2008), características de per-
comportamentos exploratórios ocorreriam durante sonalidade (Reed, Bruch & Haase, 2004; Rogers et al.,
toda a vida, mas seriam mais salientes em momentos 2008), estabelecimento na carreira (Jepsen & Dickson,
de transição nos quais o indivíduo se vê compelido a 2003) e nível de identidade vocacional (Scott & Ciani,
tomar decisões importantes e percebe ser necessário 2008). Além disso, um dos focos nas intervenções de
obter informações que o auxiliem nesse processo aconselhamento de carreira são atividades que buscam
(Jordaan, 1963). levar os indivíduos a explorar suas possibilidades edu-
Super (1963) caracterizou a exploração como um cacionais e ocupacionais como forma de aumentar sua
estágio dentro do desenvolvimento vocacional que capacidade de tomar decisões (Hirschi & Läge, 2008).
corresponderia aos anos da adolescência e do início da No Brasil, foram localizados poucos estudos que
vida adulta, período no qual a tarefa evolutiva de escolher tratam da avaliação do comportamento exploratório
uma ocupação exigiria do sujeito um aumento nos vocacional com população adolescente. Em geral, a
comportamentos exploratórios. Essa exploração se daria exploração é avaliada qualitativamente, como um ele-
em duas grandes dimensões: uma voltada para o inte- mento presente no processo de escolha profissional
rior do indivíduo (self-exploration, ou exploração de (Magalhães, Lassance & Gomes, 1998). Apenas duas
si) e outra para o exterior, ou mundo ocupacional pesquisas com instrumentos específicos que medem o
(environmental exploration, ou exploração do ambiente). construto de exploração em adolescentes foram iden-
Essas dimensões estariam correlacionadas, pois à me- tificadas: os trabalhos de Frischenbruder (1999) e Sparta
dida que o indivíduo interroga a si mesmo sobre seus (2003), que buscaram adaptar o instrumento Career
interesses e valores (exploração de si) surge a necessi- Exploration Survey (CES) (Stumpf et al., 1983) para uso
dade de conhecer o mundo educacional e ocupacional com adolescentes brasileiros. O CES é um instrumento
(exploração do ambiente). Por sua vez, o conhecimento muito utilizado internacionalmente nas pesquisas em
das possibilidades existentes faz com que o indivíduo desenvolvimento vocacional, e inclui a avaliação de
precise refinar suas autoavaliações a fim de poder fazer diversas dimensões ligadas ao comportamento explo-
escolhas que correspondam com maior grau de espe- ratório, tais como nível de satisfação com a informação
cificidade às suas características, interesses e valores e estresse associado ao processo de exploração. Con-
pessoais. Estudos empíricos têm comprovado a exis- tudo, trata-se de um instrumento relativamente extenso
tência de correlação entre essas dimensões (Sparta, 2003; que não é facilmente aplicável com outras escalas na
Stumpf, Colarelli & Hartmann, 1983). realização de pesquisas. Um outro instrumento de explo-
Atualmente, a exploração vocacional é vista mais ração vocacional existente em língua portuguesa, com
como um processo que ocorre durante toda a vida do evidências de validade para população universitária
que como apenas uma etapa circunscrita no tempo brasileira, são as Escalas de Exploração Vocacional (EEV)
M.A.P. TEIXEIRA & A.C.G. DIAS
(Flum & Blustein, 2000; Super et al., 1996). Sua função é (Teixeira, Bardagi & Hutz, 2007), que são instrumentos
eminentemente adaptativa para o sujeito, pois quanto relativamente curtos, com 24 itens, que medem as di-
maior a clareza que um indivíduo tem a respeito de si mensões de exploração de si e do ambiente, conforme
mesmo e da realidade educacional e do trabalho, mais descrito anteriormente.
bem preparado ele estará para se orientar em um mun- Dada a necessidade de instrumentos válidos e
do em constante mudança. fidedignos para realizar pesquisas sobre comportamento
A importância do comportamento exploratório exploratório em adolescentes no Brasil, este estudo teve
no âmbito das teorias de desenvolvimento vocacional como objetivo testar uma versão adaptada das Escalas
90 e de aconselhamento de carreira se evidencia pela de Exploração Vocacional (Teixeira et al., 2007) para
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estudantes de ensino médio. A expectativa foi a de que “Quando procuro informações sobre uma profissão, eu
a estrutura bidimensional do instrumento (exploração também busco descobrir quais são os seus possíveis
de si e do ambiente) se confirmasse empiricamente na aspectos negativos”).
versão para estudantes de ensino médio, indicando sua Dos 14 itens de exploração do ambiente da ver-
validade de construto. Além disso, pretendeu-se tam- são universitária, quatro foram mantidos sem alteração
bém verificar a fidedignidade das escalas, aferindo sua alguma, sete sofreram pequenas modificações e três
consistência interna. foram eliminados por serem considerados difíceis de
serem respondidos pelos adolescentes ou não ade-
Método quados às suas experiências de vida (“Eu tenho buscado
oportunidades para exercitar as habilidades referentes
Participantes à minha profissão”). Um novo item foi criado (“Eu procuro
conversar com pessoas que trabalham em profissões
Participaram do estudo 436 estudantes de ensino que me atraem para saber mais sobre elas”), ficando a
médio de escolas públicas das cidades de Santa Maria e escala de exploração do ambiente composta por 12
de Porto Alegre (RS), com média de idade de 16,3 anos itens.
(Desvio-Padrão - DP=1,33). As mulheres representaram
Todos os 10 itens de exploração de si da versão
55,3% da amostra. Quanto à série, 47,2% eram do primeiro
original foram mantidos sem alteração nenhuma, e dois
ano, 25,7%, do segundo e 27,1%, do terceiro. A renda
itens foram acrescentados (“Eu tento me imaginar tra-
familiar relatada foi de até 2 mil reais para 77,8% da
balhando em várias profissões para ver como eu me
amostra, entre 2 mil e 4 mil reais para 15,7% e acima de
sinto nelas” e “Eu busco distinguir o que eu realmente
4 mil reais para 6,5%. O nível indicado de escolaridade
quero para mim (em termos profissionais) das influências
dos pais foi: primeiro grau incompleto (38,2% - pais,
que eu tenho recebido de parentes ou amigos”), resul-
36,8% - mães), primeiro grau completo (16,2% - pais,
tando em uma escala de 12 itens também.
18,4% - mães), segundo grau completo (30,5% - pais,
32,2% - mães) e terceiro grau completo (14,8% - pais, As seguintes instruções foram apresentadas im-
12,4% - mães). Dos participantes, 0,2% não soube indicar pressas: “Abaixo há uma série de frases que descrevem
a escolaridade dos pais. atitudes e comportamentos pessoais referentes à
escolha profissional. Avalie com que frequência você se
Instrumento envolveu ou tem se envolvido em cada uma das si-
tuações listadas, de acordo com a chave de respostas
O instrumento empregado foi uma versão mo- dada. Para responder às questões considere seu com-
dificada das Escalas de Exploração Vocacional para uni- portamento e suas atitudes durante os últimos seis
versitários (Teixeira et al., 2007), que avalia as dimensões meses”. Em seguida, entre as instruções e os itens, foi
exploração vocacional do ambiente e de si. As modi- apresentada a chave de respostas: 1) Raramente ou
ESCALAS DE EXPLORAÇÃO VOCACIONAL
ficações introduzidas foram feitas pelos autores sem o nunca; 2) Poucas vezes; 3) Com alguma frequência; 4)
uso de juízes, uma vez que não foram consideradas Frequentemente; 5) Muito frequentemente ou sempre.
alterações substanciais de conteúdo (buscou-se, é
claro, manter a coerência entre as definições dos cons- Procedimentos
trutos e seus indicadores comportamentais presentes
nos itens). Os itens modificados, em sua maioria, tiveram As escolas foram escolhidas por conveniência.
ligeiras alterações na forma de redação a fim de adequá- Uma vez obtida a permissão para a pesquisa, foi feito o
-los ao tipo de experiências exploratórias esperadas para agendamento da aplicação dos questionários, conforme
adolescentes (por exemplo, o item “Quando procuro disponibilidade. Anteriormente ao dia da aplicação dos
informações sobre uma atividade, eu também busco instrumentos, os alunos foram informados, em sala de
descobrir quais são os seus possíveis aspectos aula, sobre a proposta da pesquisa e receberam termos
negativos”, da versão universitária, foi modificado para de consentimento para serem assinados pelos pais e 91
Estudos de Psicologia I Campinas I 28(1) I 89-96 I janeiro - março 2011
por eles e trazidos no dia da realização da pesquisa. A para verificar a estrutura de componentes do instru-
aplicação foi feita coletivamente em sala de aula. A mento, bem como análises de consistência interna e
pesquisa foi previamente aprovada, em 3/9/2007 pelo correlações item-restante. Posteriormente, dados des-
Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal critivos (Médias - M e Desvios-Padrão - DP) foram obtidos
do Rio Grande do Sul, protocolo nº 07/019. para as variáveis. Diferenças entre os sexos e entre os
Em relação às Escalas de Exploração Vocacional, diferentes anos do ensino médio foram investigadas
foram realizadas análises de componentes principais por meio do teste t e análises de variância.
Tabela 1. Estrutura componencial dos itens das escalas de exploração vocacional para adolescentes. Santa Maria e Porto Alegre (RS), 2007-2008.
Componentes
Itens
I II
1 Quando ouço falar sobre uma nova atividade profissional que me chama a atenção eu procuro mais informações sobre 0,56
ela.
2 Costumo ler livros (ou revistas), assistir a programas de TV (ou vídeos) ou procurar páginas na Internet que trazem 0,43
informações sobre profissões.
3 Eu tenho visitado locais de trabalho para conhecer de perto o dia a dia de profissões que me chamam a atenção. 0,54
4 Eu converso com meus pais, professores ou amigos para conhecer mais sobre as possibilidades profissionais que 0,37
existem.
5 Eu tenho buscado obter informações sobre o mercado de trabalho e oportunidades de emprego nas áreas profissionais 0,58
de minha preferência.
6 Quando procuro informações sobre uma profissão, eu também busco descobrir quais são os seus possíveis aspectos 0,63
negativos.
7 Eu procuro conversar com pessoas que trabalham em profissões que me atraem para saber mais sobre elas. 0,69
8 Eu tenho procurado conhecer as diversas possibilidades de atuação profissional que existem nas profissões que me 0,65
interessam (coisas diferentes que um mesmo profissional pode fazer).
9 Eu tenho buscado informações sobre quanto ganham realmente os profissionais que atuam nas áreas que me 0,49
interessam.
10 Eu procuro conhecer as possibilidades de crescimento profissional que existem nas profissões que me atraem. 0,57
11 Eu tenho procurado me informar sobre as principais dificuldades encontradas pelos profissionais das minhas áreas de 0,59
interesse.
12 Eu tenho tentado conhecer o máximo que eu posso sobre as diversas atividades profissionais que existem na atualidade. 0,43
13 Eu tenho parado para pensar sobre que tipos de atividades profissionais realmente me interessam. -0,62
14 Eu tento me imaginar trabalhando em várias profissões para ver como eu me sinto nelas. -0,57
15 Eu me coloco em situações que são novas para mim com o objetivo de me conhecermelhor através de experiências -0,42
diferentes.
16 Costumo pensar sobre quais são minhas principais habilidades e limitações. -0,61
17 Tenho avaliado meus interesses e preferências profissionais. -0,42
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18 Eu tenho pensado na forma como o meu passado se relaciona com a minha escolha profissional. -0,43
19 Eu busco refletir sobre as minhas experiências pessoais para aprender mais sobre mim mesmo. -0,41
20 Eu tenho me questionado sobre o que eu realmente considero importante em uma profissão. -0,57
21 Eu tenho refletido sobre minha história pessoal quando penso sobre o meu futuro profissional. -0,59
22 Eu tenho pensado sobre como o meu jeito de ser pode estar relacionado com as minhas preferências profissionais. -0,68
23 Eu busco distinguir o que eu realmente quero para mim (em termos profissionais) das influências que eu tenho recebido -0,54
de parentes ou amigos.
24 Eu tenho refletido sobre como as habilidades que eu tenho combinam com as atividades profissionais que me -0,62
interessam.
92 Nota: são exibidas apenas as cargas de valor superior a 0,30 .
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Resultados somatório das respostas dividido por 12). Os itens de 1
a 12 compõem a escala de exploração do ambiente, e
Para verificar a estrutura de componentes subja- os de 13 a 24, a escala de exploração de si. Uma análise
cente ao conjunto dos itens, foi realizada uma análise de correlação indicou uma relação positiva e significativa
de componentes principais, utilizando o critério de auto- entre exploração de si e do ambiente (r=0,58; p<0,001).
valor maior do que 1 para a retenção de componentes,
Não foram observadas correlações significativas entre
e empregando o método oblimin de rotação. O indi-
idade e exploração do ambiente (r=0,07; p=0,162) nem
cador Kayser-Meyer-Olkin (KMO) obtido foi de 0,88, e o
entre idade e exploração de si (r=-0,08; p=0,113). (Ta-
teste de esfericidade de Bartlett mostrou-se significativo
bela 2).
(p<0,001), sugerindo a adequação da análise. Seis com-
ponentes apresentaram autovalores maiores do que 1, A fim de verificar possíveis diferenças entre ho-
explicando 54,4% da variação total. Porém, a interpre- mens e mulheres, bem como entre as séries do ensino
tação dos componentes ficou ambígua. Uma análise médio, foram realizados testes t e análises de variância.
da declividade dos autovalores indicou que soluções Os testes t mostraram uma diferença estatisticamente
de três, dois ou mesmo um componente poderiam ser significativa entre os sexos para exploração de si
mais adequadas. Em função disso, testou-se primeira- [t(434)=3,31; p=0,001], mas não para exploração do
mente uma solução retendo três componentes para ambiente [t(434)=1,69; p=0,092]. Contudo, o tamanho
rotação (explicando 40,5% da variação). Essa solução, do efeito observado nessas comparações foi pequeno
contudo, apresentou um componente para o qual não (valores aproximados: d=0,16 para exploração do am-
foi possível atribuir um significado consistente. biente e d=0,32 para exploração de si; Cohen, 1992).
Em seguida, testou-se a solução de dois com- Já em relação às séries, verificaram-se diferenças
ponentes, que era esperada teoricamente. Esses dois estatisticamente significativas tanto em exploração do
componentes explicaram 34,5% da variação total (27% ambiente [F(2,433)=5,68; p=0,004] quanto em exploração
e 7,5% para o primeiro e o segundo componente, res-
de si [F(2,433)=7,63; p=0,001]. Testes post-hoc (Tukey HSD)
pectivamente). A Tabela 1 mostra os resultados da aná-
mostraram que o escore do grupo do terceiro ano foi
lise de componentes principais. Todos os itens elabo-
mais alto que o do segundo ano em exploração do
rados para avaliar exploração do ambiente (itens 1 a 12)
ambiente, enquanto o escore do grupo do primeiro
apresentaram cargas mais elevadas (acima de 0,35) no
ano foi mais alto do que o do segundo ano em explo-
primeiro componente, enquanto os demais (itens 13 a
ração de si. O tamanho dessas duas diferenças, porém,
24), construídos para medir exploração de si, carregaram
mais fortemente no segundo componente. As comu-
nalidades variaram de 0,21 a 0,49. Considerou-se esta a
Tabela 2. Médias e desvios-padrão das escalas de exploração voca-
melhor solução por ser teoricamente consistente e cional para adolescentes. Santa Maria e Porto Alegre (RS),
compatível com as expectativas. 2007-2008.
ESCALAS DE EXPLORAÇÃO VOCACIONAL
Analisaram-se, em seguida, as correlações Homens Mulheres Total
Variável/Série
item-restante e os índices de consistência interna de M DP M DP M DP
Exploração do ambiente
cada escala (alpha de Cronbach). Para a escala de explo-
Primeiro ano 2,90 0,74 2,98 0,67 2,95 0,70
ração do ambiente, as correlações item-restante va-
Segundo ano 2,70 0,64 2,80 0,82 2,76 0,75
riaram de 0,31 a 0,54, e o alpha observado foi de 0,81. Já Terceiro ano 2,94 0,73 3,24 0,77 3,08 0,76
para a escala de exploração de si as correlações item- Total 2,87 0,72 2,99 0,75 2,93 0,74
-restante ficaram entre 0,35 e 0,58, tendo-se obtido um
Exploração de si
alpha de 0,83.
Primeiro ano 3,20 0,68 3,66 0,70 3,46 0,73
A partir desses resultados, foram computados Segundo ano 3,18 0,75 3,09 0,78 3,13 0,76
Terceiro ano 3,21 0,76 3,39 0,80 3,29 0,78
escores para cada escala, calculando-se a média das
Total 3,20 0,72 3,44 0,78 3,33 0,76
respostas dadas a cada item (os escores mínimo e máxi-
mo possíveis são, portanto, 1 e 5, correspondendo ao M: médias; DP: desvios-padrão. 93
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também não foi elevado, embora mais próximo do que pesquisas realizadas com adolescentes (Frischenbruder,
pode ser considerado um efeito de tamanho médio 1999; Sparta, 2003; Taveira, 2000).
(valores aproximados: d=0,42 para exploração do am- Do mesmo modo, as diferenças de gênero obser-
biente e d=0,44 para exploração de si; Cohen, 1992). vadas neste estudo são compatíveis com outros estudos
realizados com adolescentes, que revelam uma ten-
dência de as mulheres apresentarem maior intensidade
Discussão ou frequência em comportamentos exploratórios do
que os homens (Frischenbruder, 1999; Sparta, 2003;
O objetivo principal desta pesquisa foi verificar
Taveira, 2000; Vignoli, Croity-Belz, Chapeland, Fillipis &
se a estrutura de duas dimensões da exploração voca-
Garcia, 2005). Embora a diferença em exploração do
cional (do ambiente e de si) emergiria empiricamente
ambiente não tenha sido estatisticamente significativa
da análise das respostas dadas aos itens das Escalas de
no nível de 5%, o valor p observado foi inferior a 0,10,
Exploração Vocacional para estudantes de ensino médio,
sugerindo que a diferença possa mesmo existir na popu-
conferindo assim evidência de validade de construto às
lação. Porém, deve-se ter claro que o tamanho das dife-
escalas. Os resultados obtidos com a análise de com-
renças observadas é pequeno, tanto em exploração de
ponentes principais indicaram, conforme esperado, a
si quanto do ambiente, sendo talvez irrelevante do ponto
existência de duas dimensões subjacentes, com todos
de vista prático.
os itens carregando de acordo com as expectativas (ou
seja, com cargas elevadas em um componente, e baixas É preciso destacar ainda que nem todos os estu-
em outro). Portanto, o instrumento testado neste estudo dos têm encontrado diferenças de gênero em explo-
apresenta validade de construto no que diz respeito à ração (Ketterson & Blustein, 1997; Teixeira et al., 2007). É
sua estrutura dimensional. possível que as pequenas diferenças observadas nos
estudos (quando existem) reflitam mais uma maior
A pertinência dos itens em cada uma das escalas
preocupação e comprometimento das mulheres em
também pôde ser verificada através das análises de
relação às questões de decisões vocacionais (Sparta,
correlação item-restante. Em ambas as escalas as corre-
2003; Neiva, 2003) do que propriamente um maior enga-
lações observadas foram positivas e dentro de uma am-
jamento em comportamentos exploratórios. Essa hipó-
plitude aceitável (mínima de 0,31 e máxima de 0,58),
tese é coerente com o fato de que a diferença mais sa-
indicando a coerência do conjunto dos itens. Os alphas
liente observada foi na dimensão de exploração de si,
de Cronbach obtidos, ambos superiores a 0,80, revelam
relacionada com a autorreflexão, enquanto na explo-
que as escalas possuem boa fidedignidade.
ração do ambiente a diferença foi ainda menor.
Apesar de serem aspectos diferentes da explo-
No que concerne às diferenças verificadas entre
ração vocacional, as dimensões exploração do ambiente
as séries do ensino médio, os resultados são de difícil
e exploração de si mostraram-se correlacionadas. Con- interpretação. Seria plausível esperar um aumento no
forme apontado na introdução, tal resultado faz sentido comportamento exploratório ao longo dos anos, mes-
teoricamente, já que a busca por informações sobre o mo que pequeno, à medida que o fim do ensino médio
M.A.P. TEIXEIRA & A.C.G. DIAS
mundo ocupacional possivelmente leve o indivíduo a e a transição para o trabalho ou ensino superior se
refletir sobre suas preferências e interesses e a indagar- aproximam, provocando um maior questionamento
-se sobre suas habilidades, valores e personalidade. Do diante da necessidade de uma tomada de decisão
mesmo modo, a autorreflexão acerca das características (Joordan, 1963). Contudo, observou-se uma maior explo-
pessoais com vistas a uma decisão vocacional pode ração de si mesmo nos alunos de primeiro ano quando
produzir a necessidade de busca de mais informações comparados aos de segundo ano, e uma maior explo-
sobre o mundo do trabalho. Essa associação entre explo- ração do ambiente em alunos do terceiro quando com-
ração de si e do ambiente é também consistente com parados aos do segundo. É possível que, no primeiro
os resultados obtidos com a versão para universitários ano, os alunos estejam de algum modo mais propensos
94 das EEV ( Teixeira et al., 2007), bem como com outras a refletir sobre suas características pessoais e preferências
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profissionais em virtude de terem passado mais recen- fatores que fazem com que os adolescentes difiram entre
temente por uma transição educacional (do ensino fun- si nessas variáveis ainda não são claros. Do mesmo mo-
damental para o médio), o que pode funcionar como do, é preciso investigar de que forma a exploração
um evento disparador desse tipo de reflexão. Tal tipo de vocacional se relaciona com outros indicadores de
exploração, contudo, pode diminuir no segundo ano, desenvolvimento vocacional, como clareza de autocon-
voltando a aumentar no terceiro ano quando o fim do ceito profissional, nível de (in)decisão e sentimento de
ensino médio se aproxima. A diferença observada em eficácia para a tomada de decisão. Apesar da necessi-
exploração do ambiente, maior no grupo de terceiro dade de estudos adicionais, as EEV parecem ser um
ano quando comparada à do grupo de segundo ano, é instrumento adequado para pesquisas sobre o tema,
coerente com a ideia de que, diante da necessidade de podendo futuramente ser utilizadas em contextos
uma decisão em relação ao futuro ocupacional, os jo- aplicados de orientação profissional.
vens se envolvam em comportamentos capazes de
ampliar seu conhecimento sobre o mundo do trabalho
e as opções educacionais existentes. Referências
Todavia, é preciso considerar que o envolvi- Cohen, J. (1992). A power primer. Psychological Bulletin, 112,
155-159.
mento dos estudantes em comportamentos explo-
ratórios (de si ou do ambiente) depende em boa parte Flum, H., & Blustein, D. L. (2000). Reinvigorating the study of
vocational exploration: a framework for research. Journal
do quanto estão motivados para isso, ou seja, do quanto of Vocational Behavior, 56, 380-404.
se percebem preocupados com a questão vocacional Frischenbruder, S. L. (1999). O desenvolvimento vocacional
em um dado momento. Jovens que não veem o papel na adolescência: autoconceito e comportamento explo-
ratório. Dissertação de mestrado não-publicada, Pontifícia
profissional como algo central em sua definição de
Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Ale-
identidade pessoal talvez explorem menos do que os gre.
outros. Da mesma forma, aqueles que já tomaram uma Hirschi, A., & Läge, D. (2008). Increasing the career choice
decisão vocacional talvez não sintam mais necessidade readiness of young adolescents: an evaluation study.
International Journal of Vocational and Educational
de explorar. Assim, o significado do nível de comporta-
Guidance, 8, 95-110.
mento exploratório vocacional do adolescente precisa
Jepsen, D. A., & Dickson, G. L. (2003). Continuity in life-span
ser contextualizado levando-se em consideração seu career development. Career Development Quarterly, 51,
desenvolvimento vocacional de modo mais amplo (se 217-233.
está preocupado com a questão vocacional, qual a im- Jordaan, J. P. (1963). Exploratory behavior: The formation of
self and occupational concepts. In D. Super, R. Starishevsky,
portância atribuída a essa questão, a clareza que possui
N. Matlin & J. P. Jordaan (Orgs.), Career development:
dos seus objetivos profissionais, a quantidade e a quali- self-concept theory: essays in vocational development
dade do conhecimento que já possui sobre as opções (pp.42-78). New York: College Entrance Examination
Board.
educacionais e de trabalho etc.).
Ketterson, T. U., & Blustein, D. L. (1997). Attachment
Enfim, este estudo mostrou que as EEV para relationships and the career exploration process. The
ESCALAS DE EXPLORAÇÃO VOCACIONAL
Career Development Quarterly, 46, 167-178.
estudantes de ensino médio são um instrumento váli-
Magalhães, M. O., Lassance, M. C., & Gomes, W. B. (1998).
do - ao menos no que se relaciona à sua estrutura di- Perspectiva experiencial da indecisão vocacional em
mensional - e fidedigno para avaliar comportamentos adolescentes. Revista da ABOP, 2 (1), 21-58.
exploratórios vocacionais com estudantes de ensino Neiva, K. M. C. (2003). A maturidade para a escolha profis-
médio. Outras pesquisas, contudo, são necessárias para sional: uma comparação entre alunos do ensino médio.
Revista Brasileira de Orientação Profissional, 4, 97-103.
ampliar as evidências de validade do instrumento e
Reed, M. B., Bruch, M. A., & Haase, R. F. (2004). Five-factor
também para avançar a teorização sobre desenvolvi- model of personality and career exploration. Journal of
mento vocacional, mais especificamente no que diz Career Assessment, 12, 223-238.
respeito à exploração. Os resultados obtidos nesta pes- Rogers, M. E., Creed, P. A., & Glendon, A. I. (2008). The role of
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quisa mostram, empiricamente, que é possível distinguir
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