CONDOMÍNIO
O TRATO DO ESGOTO EM
LOTEAMENTOS NÃO ATENDIDOS
POR REDE COLETORA Alexandre Fontolan*
A disposição final do esgoto doméstico deve seguir
preceitos que alinham questões ambientais, de engenharia, e de
EXIGÊNCIAS NORMATIVAS ATUAIS
As leis municipais e estaduais atualmente não autorizariam
saúde pública. É fato que a devida destinação dos efluentes torna- a implantação de loteamentos sem o devido projeto de rede co-
-se uma obrigatoriedade de atendimento pelo poder público, ou a letora pública, bem como do estudo dos impactos ambientais.
quem lhes foram outorgadas estas responsabilidades. Esse é o caso Entretanto, para a situação dos condomínios e loteamentos
dos Condomínios, tanto verticais como horizontais. consolidados, é obrigação dos gestores em exigir o correto ma-
No município de Cotia (e em muitas cidades vizinhas), nejo dos sistemas de cada residência.
na ocasião da aprovação dos loteamentos mais antigos, princi- Atualmente, as normas vigentes da ABNT que tratam do
palmente entre os anos 1970 e 1980, não eram exigidas as re- assunto são:
des coletoras, e tampouco as Estações de Tratamento de Esgoto • NBR 7229:1993 - Projeto, construção e operação de sistemas
(ETE), para aprovação em órgãos estaduais e municipais. de tanques sépticos;
Estes empreendimentos, que resultaram nos diversos lote- • NBR 8160:1999 - Sistemas prediais de esgoto sanitário - Pro-
amentos fechados ou condomínios horizontais da região, ainda jeto e execução;
hoje carecem de uma gestão mais ativa por parte dos síndicos ou • NBR 13969:1997 - Tanques sépticos - Unidades de tratamen-
de associação de moradores no trato dos sistemas privativos de to complementar e disposição final dos efluentes líquidos - Pro-
tratamento e disposição de esgoto, na grande maioria formada jeto, construção e operação.
por “fossas sépticas” e “sumidouros”. A configuração mínima exigida para o trato dos efluen-
tes de origem residencial nessas normas abrangem dispositivos
CARACTERIZAÇÃO DOS EFLUENTES como “Caixas de Gordura”, “Fossas Sépticas”, “Filtros Anaeró-
O sistema de esgoto sanitário tem por funções coletar e bios”, e os “Sumidouros”. Eventualmente, pode ser necessária a
conduzir os despejos provenientes do uso dos pontos de con- adoção de “Estações de Tratamento de Esgoto” (ETE) compactas
sumo de água a um destino apropriado. Esse sistema deve ser em substituição à Fossa Séptica e ao Filtro Anaeróbio.
projetado de modo a:
• Evitar a contaminação da água, seja nas instalações de MAS QUAL A FUNÇÃO DESTES DISPOSITIVOS?
consumo, bem como na disposição em corpos receptores O proprietário do imóvel é o responsável pela manuten-
(rios, córregos, e o próprio lençol freático); ção ao longo dos anos, mas cabe aos gestores do condomínio o
• Permitir o rápido escoamento dos despejos; incentivo à boa prática e mesmo na exigência do cumprimento
• Impedir que o acesso de gases, insetos e ratos; do plano de manutenção, além da adequação às conformidades
• Permitir que os componentes sejam inspecionáveis e de fácil atuais. Alguns elementos do sistema devem ter atenção especial
remoção para manutenções. não só na etapa de projeto e execução, mas também nas manu-
O esgoto domiciliar é um líquido cuja composição é forma- tenções necessárias.
da aproximadamente por 99,9 % de água. Os 0,1 % restantes são
sólidos (sedimentáveis ou não). Da parte sólida, cerca de 75%, Caixas de Gordura
são matéria orgânica em decomposição, onde proliferam micror- Os esgotos de pia de cozinha caracterizam-se pela deposi-
ganismos, podendo inclusive ocorrer a presença de patógenos. ção de restos de comida, óleos e gordura. Essas substâncias, cau-
Quando o esgoto sanitário é lançado nos corpos d´água, sam redução da efetividade do tratamento privativo, formando
podem-se esperar sérios prejuízos ao ambiente. Além do as- uma densa camada de “escuma” na superfície da Fossa Séptica, e
pecto visual desagradável, pode haver o declínio do oxigênio reduzindo a capacidade de percolação nos Sumidouros. As Cai-
dissolvido, afetando a sobrevivência da vida aquática, exa- xas de Gordura (fig. 1) são dispositivos instalados diretamente
lando odores fétidos, além da possibilidade da contaminação após as pias de cozinha, devem ter o conteúdo periodicamente
animal e humana. removido, e possuir as seguintes características:
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• Devem ser separadas por um “septo”;
• Devem ser instaladas em locais de fácil acesso e possibilitar a
retenção e posterior remoção da gordura;
• Possuir dispositivos de entrada e de saída projetados para que
o líquido escoe normalmente;
• Ter altura entre a entrada e a saída suficiente para reter a gordu-
ra, evitando-se o arraste do material juntamente com o efluente;
• Possuir vedações adequadas para evitar a penetração de
insetos, animais, e de águas pluviais.
Fig. 2 - Detalhe típico de Fossa-Filtro-Sumidouro
O volume do sumidouro é condicionado pela superfície
lateral de infiltração (contato com o solo), e depende da taxa de
percolação deste, que pode ser obtida por meio de um ensaio de
fácil execução, conforme previsto na NBR 13969:1997.
Foto e Ilustrações: Acervo do Autor
Fig. 3 – Ensaio de Percolação do solo
Fig. 1 - Detalhe típico de Caixa de Gordura
RESUMINDO
É possível também encontrar no mercado Caixas de Gor- A funcionalidade plena do sistema leva em conta (além
dura pré-fabricadas em plástico, com prático sistema de limpeza. dos métodos de purificação e filtragem dos efluentes) a rápi-
da disposição final de modo a não saturar o solo receptor. O
Fossas Sépticas dimensionamento destes dispositivos depende diretamente do
A Fossa Séptica (fig. 2) é um “tanque” cuja função é per- volume diário de esgoto produzido na residência, e da capacida-
mitir a sedimentação, o armazenamento dos sólidos (Lodo), de de absorção do efluente pelo solo no local.
e a sua digestão. No interior da Fossa Séptica, “flotando” na As práticas de manutenção e limpeza regulares do sis-
superfície do líquido, forma-se uma camada de “escuma” cons- tema são essenciais para a qualidade do efluente devolvido
tituída de gorduras e substâncias graxas, misturada aos gases da à natureza.
decomposição anaeróbia.
O líquido efluente da Fossa Séptica é ainda altamente con-
taminado por coliformes fecais e dotado de Demanda Bioquími-
ca de Oxigênio (DBO) solúvel relativamente alta. A previsão de
limpeza é realizada de acordo com o dimensionamento. *Alexandre Fontolan. Engenheiro Civil (MSc.)
e Professor Universitário especialista
em sistemas hidrossanitários.
Filtro Anaeróbio
O Filtro Anaeróbio de fluxo ascendente (fig. 2) é uma das al-
ternativas do tratamento dos efluentes das Fossas Sépticas. Trata-se
de um tanque, dotado de um “fundo falso” perfurado. O efluente
da Fossa entra por baixo e atravessa os furos da laje que sustenta o
material de enchimento filtrante (geralmente brita). A passagem
desse líquido pela camada de brita vai possibilitar a formação de
um “filme biológico” constituído de bactérias fermentativas.
AM2 Arquitetura
Sumidouro (Poço Absorvente) Projetos Residenciais, Comerciais,
É um tanque moldado in loco, escavado à profundidade Aprovações e Licenciamento
que não atinja o lençol freático (mínimo de 1,50 m do fun- Rua Monte Alegre, 294 - Portão
do), cujo solo em contato com as paredes (furadas) deverá Cotia / SP - (11) 4262-1622
absorver todo o efluente produzido pela residência no perí-
[email protected] www.am2arquitetura.com
odo de 24 horas.
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