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Ações Estratégicas para A Pequena Mineração Responsável

Este documento foi elaborado a pedido do IBRAM e apresenta uma proposta de ações estratégicas para transformar o setor de micro e pequena mineração responsável do Brasil, que emprega mais de 300 mil pessoas e ocupa 87% dos títulos minerários ativos do país. A transformação desse setor por meio de tecnologias limpas, capacitação e outras ações pode dobrar a produção de ouro em 3 anos.

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Ações Estratégicas para A Pequena Mineração Responsável

Este documento foi elaborado a pedido do IBRAM e apresenta uma proposta de ações estratégicas para transformar o setor de micro e pequena mineração responsável do Brasil, que emprega mais de 300 mil pessoas e ocupa 87% dos títulos minerários ativos do país. A transformação desse setor por meio de tecnologias limpas, capacitação e outras ações pode dobrar a produção de ouro em 3 anos.

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Assunto: Ações estratégicas para a transformação do

garimpo em Pequena Mineração Responsável


Para: Raul Jungmann, IBRAM
De: Giorgio de Tomi, NAP.Mineração/USP
Data: 06 julho 2023

Resumo
Este documento foi elaborado a pedido do IBRAM e apresenta a minuta de uma
proposta abrangente de ações estratégicas para transformar o setor de micro e pequena
mineração responsável do Brasil.
Esse setor emprega mais de 300 pessoas e ocupa 87% dos títulos minerários ativos do
país. No caso do ouro, o setor produz pelo menos 30 toneladas de ouro por ano a partir
de aproximadamente 2,400 títulos de permissão de lavra garimpeira. A transformação
desse setor por meio de tecnologias limpas, capacitação dos seus trabalhadores e
demais ações propostas pode dobrar essa produção em 3 anos. O mesmo padrão de
resultado pode ser alcançado nas demais substâncias produzidas pela micro e pequena
mineração e pelo garimpo.
Para que o Brasil se torne um protagonista mundial no suprimento das substâncias
minerais críticas para a descarbonização e para a transição energética, é necessário
promover a transformação desse setor, especialmente na Amazônia. Por mais que o
mundo anseie pela transição energética, nosso país não pode abrir mão de preservar a
Amazônia e de promover o desenvolvimento socioeconômico da região para a
segurança climática do planeta.

Objetivo
O objetivo do documento é propor ações que estabeleçam uma visão estratégica para a
transformação do setor de mineração de micro e pequeno porte, levando em conta
aspectos críticos de atuação do setor e as ações recomendadas a curto e médio prazo
associadas à preservação ambiental e socioeconômica do país, e em especial, da
Amazônia brasileira.

A micro e pequena mineração e o garimpo


O setor de micro e pequena mineração é responsável por 87% dos títulos minerários
ativos no Brasil, sendo que aproximadamente 25% desses títulos correspondem a
Permissões de Lavra Garimpeira de ouro (CNI, 2020).

Ações Estratégicas para a Pequena Mineração Responsável no Brasil (julho/2023) 1


A micro e pequena mineração é responsável por pelo menos 300 mil empregos diretos
e indiretos (MME, 2018; IGF, 2017) no Brasil. Deste total, as empresas que atuam na
extração de minerais metálicos fornecem 31% dos postos de trabalho do setor,
enquanto o ramo de minerais não metálicos oferece 42% das ocupações e a extração de
gemas representa 27% das ocupações. De modo geral, a área operacional concentra
73% do contingente de mão de obra do setor. Quanto à distribuição da mão de obra
por grupo de substâncias extraídas, o grupo de substâncias não metálicas responde por
78% dos postos de trabalho, enquanto o grupo de substâncias metálicas responde por
19% e o grupo de gemas responde por 3% (MME, 2018).

No caso da mineração por garimpagem, este regime está definido na Constituição


Federal de 1988, estabelecendo que o Estado deve favorecer a organização da atividade
em cooperativas, compatibilizando-a com a proteção do meio ambiente e com a
promoção socioeconômica dos garimpeiros. A Lei no 7.805/90 definiu o regime de
permissão de lavra garimpeira, outorgada a pessoa física ou cooperativa,
especificamente para a extração dos minerais listados pela lei e na forma de depósito
aluvionar, eluvionar e coluvial, ou de outros minerais considerados garimpáveis pela
Agência Nacional de Mineração. O parágrafo único do artigo 1o, da Lei no 7.805/89
estabelece a possibilidade de realizar a lavra sem prévios trabalhos de pesquisa. A Lei
no 11.685/2008, conhecida como o Estatuto do Garimpeiro foi promulgada com o
objetivo de conformar a legislação com os preceitos do Direito Minerário e normatizar,
entre outras matérias, as modalidades de trabalho no garimpo, reafirmando as
obrigações e responsabilidades dos garimpeiros, inclusive com relação à
indispensabilidade do título para a lavra e primeira comercialização dos minerais
garimpáveis extraídos. São consideradas substâncias minerais garimpáveis o ouro, o
diamante, a cassiterita, a columbita, a tantalita e wolframita, nas formas aluvionar,
eluvionar e coluvial; a sheelita, as demais gemas, o rutilo, o quartzo, o berilo, a
muscovita, o espodumênio, a lepidolita, o feldspato, a mica e outros, em tipos de
ocorrência que vierem a ser indicados, a critério da ANM (MME, 2019).

Especificamente em relação ao garimpo de ouro, a produção nacional é de


aproximadamente 100 toneladas de ouro por ano, sendo 30 toneladas produzidas em
regime de Permissão de Lavra Garimpeira (ANM, 2022). Um levantamento recente
(MME, 2019) indicou que há 2.419 operações de Permissão de Lavra Garimpeira ativas
no país, sendo um terço delas nos Estados do Pará e de Mato Grosso. Além disso, há
aproximadamente 16.687 requerimentos ativos para Permissão de Lavra Garimpeira
junto à ANM, incluindo requerimentos em tramitação com propostas de indeferimento
e arquivamento que ainda não possuem decisão final (MME, 2019).

Recentemente a Secretaria Especial da Receita Federal do Brasil (RFB) editou a Instrução


Normativa RFB nº 2.138/2023, que institui a obrigatoriedade de emissão de Nota Fiscal
Eletrônica do Ouro Ativo Financeiro. Dessa forma, todas as operações de compra de
ouro por parte das Distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários (DTVM), que são
empresas que revendem o ouro para o mercado financeiro, deverão emitir uma nota
fiscal eletrônica. Essa medida permitirá o controle sobre as operações com ouro ,
promovendo o aumento da transparência, e contribuindo para o aperfeiçoamento do
combate ao comércio ilegal do mineral (MF, 2023).

Ações Estratégicas para a Pequena Mineração Responsável no Brasil (julho/2023) 2


Levando em consideração as 30 toneladas de ouro produzidas no regime de Permissão
de Lavra Garimpeira, e utilizando a média de 250 g de ouro em uma transação típica de
venda de ouro, é possível estimar que serão emitidas pelo menos 120.000 notas fiscais
eletrônicas por ano na comercialização de ouro proveniente de garimpos.

Desafios na transformação do setor de garimpo


Atualmente, o maior desafio para o setor de micro e pequena mineração está
relacionado com o garimpo ilegal na Amazônia. Não há dados sobre a quantidade de
ouro produzido ilegalmente na Amazônia, mas levando em conta os levantamentos
feitos em outros países amazônicos, é possível estimar que essa quantidade é pelo
menos equivalente ao ouro produzido em regime de Permissão de Lavra Garimpeira, ou
seja, 30 toneladas de ouro de origem ilegal por ano.

No entanto, para promover uma transformação no setor de garimpo, é essencial


diferenciar as operações ilegais de extração de ouro, do garimpo informal. Conforme
indicado pela OECD (2022), o termo “mineração informal” está relacionado à mineração
realizada por indivíduos, grupos ou cooperativas sem o cumprimento integral de todas
as normas formais impostas pelo Estado. A tabela a seguir resume as definições de
mineração/garimpo formal e informal, e da extração ilegal.

Escala de Produção
Localidade Documentação Micro Pequena Média Grande

Completa Mineração Formal


Permitida
Incompleta Mineração Informal

Proibida Extração Ilegal

A oportunidade de transformação do setor do garimpo passa pela conversão das


operações de mineração informal para a mineração formal e responsável,
independente da escala de produção. Seguramente, as operações de maior porte, de
média ou grande escala, tem capacidade financeira e, na maior parte dos casos,
capacidade técnica para empreender sua evolução para a mineração formal. Portanto,
o foco das ações estratégicas de transformação do setor deve ser as operações de
mineração informal, para que possam cumprir integralmente as normas formais
determinadas pelos órgãos reguladores e pelas comunidades locais.

No caso do garimpo de ouro, tal transformação é crítica para a proteção da Amazônia


e para promover o desenvolvimento sustentável na região. Afinal, essa região contém
alto potencial para o suprimento de minerais críticos para os desafios de
descarbonização e de transição energética do Século XXI, como o cobre, grafita, lítio,
tântalo, níquel, fosfato, potássio, terras raras, estanho, manganês, entre outros, e várias
dessas substâncias minerais ocorrem em depósitos de pequeno porte; daí a importância
para o fomento da pequena mineração responsável no Brasil.

Ações Estratégicas para a Pequena Mineração Responsável no Brasil (julho/2023) 3


Conforme discutido por GOMES (2023), se o Brasil realmente quer ser um protagonista
mundial no suprimento das substâncias minerais críticas para a descarbonização e para
a transição energética, é necessário promover a transformação do setor de pequena
mineração, especialmente na Amazônia. Já tivemos nosso ciclo de ouro há alguns
séculos, quando as atividades de extração mineral no Brasil não necessariamente se
converteram em desenvolvimento para a nossa sociedade. Por mais que o mundo
anseie pela transição energética, Brasil não pode abrir mão de preservar a Amazônia
e de promover o desenvolvimento socioeconômico da região para a segurança
climática do planeta.

Eixos da transformação do setor de pequena mineração


A transformação do setor de garimpo e da mineração de micro e pequeno porte para a
pequena mineração responsável necessita de um amplo compromisso público, privado
e da sociedade em geral. Tal compromisso deve levar em conta os seguintes entraves
que rodeiam os setores de garimpo, micro e pequena mineração no Brasil:

• Existe uma tradicional cultura de 5 séculos de garimpo no Brasil. Os garimpeiros


e empreendedores do setor de micro e pequena mineração são normalmente
resistentes à mudança. Novas regulamentações ou normativas para o setor
muitas vezes impulsionam os mineradores para a informalidade. Por outro lado,
levantamentos recentes comprovam que estes mineradores estão cientes e se
preocupam com os desafios relacionados ao controle das mudanças climáticas,
e anseiam por acessar tecnologias limpas e mais eficientes para que suas
atividades sejam menos impactantes (THE WORLD BANK, 2023).

• O histórico recente de desastres ambientais e conflitos sociais relacionados ao


setor de mineração em geral tem contribuído para projetar uma imagem
negativa para o setor. Tal histórico não se limita aos conflitos socioambientais
relacionados a atividades de extração ilegal, mas também inclui os desastres de
Mariana e Brumadinho, e os impactos sociais, econômicos e ambientais
associados (MJSP, 2023; RAMOS et al. 2023).

• O garimpo e a mineração de micro e pequeno porte, particularmente na


Amazônia, tradicionalmente mantém boas relações com as comunidades locais,
mas recentemente tem sido alvo de conflitos relacionados à gestão do
território e ao tema de fechamento de mina e de uso futuro dos terrenos
ocupados temporariamente pela mineração. Recentes avanços na legislação
mineral obrigam os titulares de Permissões de Lavra Garimpeira a apresentar
um plano de fechamento de mina em conformidade à Resolução 68/2021 (ANM,
2022). O sucesso da implantação dessa importante iniciativa depende de ações
de fiscalização e mesmo da promoção de esforços de governança e
autorregulação para que possam surtir o efeito esperado pela sociedade (OECD,
2022).

Levando em conta os desafios e os entraves da mineração, e em particular, dos setores


do garimpo e da micro e pequena mineração, as ações estratégicas para promover a

Ações Estratégicas para a Pequena Mineração Responsável no Brasil (julho/2023) 4


transformação desses setores podem ser classificadas em 4 eixos principais, conforme
descrito a seguir.

EIXO 1: Extensionismo mineral para modernização tecnológica e


competitividade do garimpo e da micro e pequena mineração, por
meio de um serviço nacional de aprendizado para a pequena
mineração responsável, similar ao SENAR para o aprendizado rural.
Observar também iniciativas anteriores, como por exemplo a
experiência acumulada do MME em ações extensionistas virtuais
(PORMIN), localizadas (Telecentros Minerais) e presenciais.

EIXO 2: Cooperativismo e associativismo para aprimoramento das estruturas


de gestão e governança do garimpo e da micro e pequena mineração,
incluindo a expansão de iniciativas atuais como os Arranjos Produtivos
Locais (APL) de base mineral.

EIXO 3: Políticas públicas para. apoiar o setor de garimpo e de micro e


pequena mineração no cumprimento das exigências de formalização,
incluindo linhas de crédito e financiamento para o setor. Mudanças
frequentes nas políticas criam um ambiente de insegurança ao
minerador do garimpo e da micro e pequena mineração no momento
de investir ou expandir sua empresa. Um sistema de balcão digital
único para a pequena mineração responsável pode vir de encontro às
expectativas do setor. Algumas entidades ligadas ao setor têm
inclusive proposto discussões sobre iniciativas de auto regulação
supervisionada para o setor, com apoio de cooperativas e associações.

EIXO 4: Coexistência entre a mineração de grande porte e o setor de garimpo


e de micro e pequena mineração. Os modelos de coexistência são
considerados o principal mecanismo atual para promover a evolução
da micro e pequena mineração no mundo, com diversos casos de
sucesso na América Latina e na África. Esse tipo de modelo incentiva o
diálogo entre as partes interessadas no garimpo e na micro e pequena
mineração e promove a mediação de conflitos entre os mineradores,
os órgãos reguladores e as comunidades envolvidas.

Um ponto comum nos 4 eixos de transformação apresentados é a necessidade que esse


setor conte com instituições e órgãos fortes e presentes. O sucesso das iniciativas de
extensionismo mineral, como o formação de cooperativas e associações, as políticas
públicas para o setor e a implantação de modelos de coexistência dependem do
fortalecimento das instituições do setor, em particular, a Agência Nacional de
Mineração, ligada ao MME e o Centro Tecnológico Mineral, ligado ao MCTI.

Substituição do mercúrio no garimpo de ouro


Um dos principais desafios para que o setor de garimpo de ouro possa efetivamente
contribuir para o desenvolvimento sustentável da Amazônia está relacionado com a
substituição do uso do mercúrio no garimpo de ouro da região.

Ações Estratégicas para a Pequena Mineração Responsável no Brasil (julho/2023) 5


O governo Federal está liderando a execução do “Projeto Ouro Sem Mercúrio”, uma
iniciativa conjunta do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e
do Ministério de Minas e Energia (MME), financiada pelo Fundo Global para o Meio
Ambiente (GEF), para apoiar o Brasil na elaboração de um Plano de Ação Nacional para
reduzir e eliminação da poluição causada pelo uso de mercúrio na extração de ouro. O
Ministério de Minas e Energia é o ponto focal do projeto no Governo Federal,
responsável pela coordenação das ações institucionais e mediação do diálogo entre as
diversas parte interessadas, especialmente os diversos Ministérios (MME, 2023).

É importante que todas as partes interessadas no garimpo e na micro e pequena


mineração de ouro estejam engajadas no Projeto Ouro Sem Mercúrio. Este projeto
produzirá informações técnicas e científicas para que o Governo Federal do Brasil
discuta este desafio com a sociedade e tome decisões importantes a respeito do uso
de mercúrio na atividade garimpeira. Essas decisões farão parte de um Plano de Ação
Nacional, que deverá conter ações de curto, médio e longo prazo para reduzir a poluição
causada por mercúrio na atividade garimpeira. O projeto também irá apresentar
sugestões que tornem mais fácil para os garimpeiros adotar práticas menos perigosas
para a sua saúde e menos poluentes e, no futuro, não usar mais mercúrio na atividade
garimpeira. Essas sugestões vão incluir, por exemplo, compromissos para os prazos de
mudança e medidas de apoio.

Principais contribuições e impactos do setor


O setor da micro e pequena mineração e do garimpo é marcado por contribuições
positivas e por aspectos negativos de sua atuação. O quadro a seguir destaca as
principais contribuições e impactos desse setor, cuja transformação dependerá de
esforços multidisciplinares e multi-institucionais além de um pacto dos setores público
e privado para ser alcançada.

Aspectos positivos: Aspectos negativos:

• Emprego: oferta de trabalho em regiões sem • Impactos ambientais: desmatamento,


outras alternativas de renda contaminação alteração da paisagem, perda
de biodiversidade
• Infraestrutura: aprimora a infraestrutura local
e promove o desenvolvimento regional • Disputas do território: acesso à terra, uso
de recursos naturais, conflitos étnicos
• Desenvolvimento econômico: movimenta
a economia em localidades remotas e isoladas • Saúde e segurança: doenças tropicais,
respiratórias, lesões ocupacionais e acidentess
• Suprimento: promove o suprimento de
substâncias minerais essenciais para todos os • Comércio informal ou ilegal: questões
setores industriais e para a transição energética tributárias, lavagem de dinheiro

Ações Estratégicas para a Pequena Mineração Responsável no Brasil (julho/2023) 6


Ações propostas
Há inúmeras iniciativas e ações em andamento para a modernização e a para a adoção
de medidas que promovam o desenvolvimento sustentável no setor da micro e pequena
mineração e do garimpo. No entanto, essas iniciativas carecem de uma coordenação
central e dedicada a buscar a transformação do setor como um todo, e não somente de
projetos isolados. Além disso, as ações para a transformação do setor da micro e
pequena mineração e do garimpo deverão fazer estar alinhadas e fazer parte da política
nacional de mineração.

A tabela a seguir resume algumas propostas de ações estruturantes e fundamentais para


impulsionar a transformação desse setor.

Eixo Tema Comentários Ações recomendadas

Eixo 1: Modernização A transformação do setor • Promover aproximação de fabricantes


Extensionismo tecnológica necessita de esforços e fornecedores com o setor
Mineral multidisciplinares para • Desenvolver projetos pilotos para
promover a modernização demonstrar tecnologias limpas e
tecnológica de processos e processos sustentáveis
equipamentos. • Estabelecer mecanismos de suporte
técnico local permanente nas regiões
de interesse do setor
• Desenvolver linhas de crédito (por
exemplo FINAME) para o setor
Treinamento e É necessário ampliar a • Oferecer cursos adaptados para as
capacitação abrangência de programas necessidades locais e regionais
anteriores de conforme as demandas e necessidades
extensionismo (PORMIN e específicas de cada local
Telecentros Minerais) • Desenvolver materiais didáticos
para promover o alinhados às demandas e expectativas
aperfeiçoamento técnico, do publico alvo
profissional, gerencial e de • Desenvolver parcerias locais com ICTs,
promoção social para Centros de Pesquisa e Instituições de
capacitar trabalhadores de Ensino para a disseminação dos cursos
todas as funções da cadeia
de valor mineral
Serviço Nacional Estabelecer um Serviço • Promover consultas para encorajar o
de Aprendizado Nacional de Aprendizado diálogo com trabalhadores e
Mineral Mineral no modelo do empreendedores do setor para
Senar, que é uma iniciativa identificar as demandas de formação
de capacitação do profissional conforme as necessidades
trabalhador rural com locais e regionais.
formação profissional • Estabelecer um plano de estruturação
rural, atividades de de um serviço nacional de aprendizado
promoção social, e com mineral a exemplo do Senar.
um modelo inovador de • Desenvolver parcerias locais com ICTs,
assistência técnica e Centros de Pesquisa e Instituições de
gerencial. Ensino para operacionalizar o serviço

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Eixo Tema Comentários Ações recomendadas

Produtividade e Os mineradores devem • Promover uma avaliação crítica sobre


Eficiência adotar métodos mais práticas de agregação de valor e
eficientes, limpos e tecnologias limpas no setor.
competitivos para o • Unir esforços da SGM/MME,
tratamento dos minérios ANM/MME e CETEM/MCTI com ICTs,
metálicos. Além da Centros de Pesquisa e instituições de
competitividade, essas ensino para fornecer subsídios técnicos
práticas contribuirão para para os diferentes ambientes, regiões e
a redução dos impactos na substâncias lavradas pelo setor.
saúde e segurança dos • Estabelecer metas de aumento de
trabalhadores e para produtividade do setor em geral para
mitigar os impactos atender as crescentes demandas por
ambientais e nas substâncias minerais. No caso do
comunidades locais. garimpo de ouro, tal meta pode ser
dobrar a produção do setor em 3 anos.

Eixo 2: Cooperativismo O poder público deve • Aproximar os órgão e instituições


Cooperativismo fortalecer a atuação da reguladoras e fiscalizadoras da OCB
e OCB, para disseminar o para fortalecer a atuação da
Associativismo modelo de cooperativa organização junto ao setor.
sustentável para o setor. • Replicar os modelos de sucesso de
cooperativas do setor para outras
regiões e outras substâncias minerais
Arranjos Os Arranjos Produtivos • Aproximar os órgão e instituições
Produtivos Locais Locais de Base Mineral são reguladoras e fiscalizadoras da Rede
conjuntos de APL de Base Mineral para fortalecer a
empreendimentos e de atuação da rede junto ao setor.
indivíduos, localizados em • Replicar os modelos de sucesso de APL
um mesmo território, que de Base Minera para outras regiões e
atuam em torno de uma outras substâncias minerais
cadeia produtiva que
tenha como base a
atividade extrativa e de
transformação mineral
Rastreabilidade e A governança das • Promover iniciativas de
Sustentabilidade operações e o controle de aprimoramento da governança no
originação das substâncias setor, principalmente por meio do
minerais representa um cooperativismo e do associativismo.
desafio importante para o • Dar andamento às atuais medidas que
setor, em particular, no visam uma melhor certificação do ouro
garimpo de ouro. O setor comprado do Brasil.
necessita de ações que • Encorajar o diálogo e a aproximação
promovam a entre joalheiros que atuam no Brasil e
transparência e o controle as mineradoras de ouro para
social na micro e pequena desenvolverem estratégias voltadas a
mineração e no garimpo. assegurar negociações de minérios
com origem comprovada.

Ações Estratégicas para a Pequena Mineração Responsável no Brasil (julho/2023) 8


Eixo Tema Comentários Ações recomendadas

Eixo 3: Formalização A medidas para promover • Estabelecer mecanismos para a


Políticas a formalização do setor discussão e aprovação de um Plano
Públicas precisam ser reunidas em Nacional de Apoio à MPE (PNMPE), que
uma estratégia articulada consiga articular as diferentes
e de longo prazo entre iniciativas públicas, privadas e
diferentes setores e associativistas.
instituições para combater • Disponibilizar e o acesso a melhores
a mineração ilegal. informações e inteligência para
combater efetivamente operações de
extração ilegal.
Fiscalização A transformação do setor • Fortalecer a estrutura da ANM,
depende de um sistema incluindo pessoal, processos e
de fiscalização presente e tecnologias, de forma a poder atuar de
eficiente. Os órgãos forma efetiva na fiscalização do setor.
fiscalizadores devem ser • Incluir temas de fiscalização nos
fortalecidos e programas de extensionismo do setor.
estruturador para atuar no • Fortalecer a capacidade técnica das
setor prefeituras e das entidades públicas
para apoiar a atuação da micro e
pequena mineração e do garimpo.
Autorregulação Alguns atores do setor • Promover o diálogo entre mineradores,
Supervisionada têm introduzido a consumidores e órgãos reguladores do
discussão sobre A setor para discutir modelos de
autorregulação autorregulação supervisionada que
supervisionada pelo possam atender às necessidades do
Estado. Essa modalidade setor.
induz a adoção de boas • Desenvolver projetos pilotos para
práticas de governança, avaliar a eficácia da autorregulação
promovendo supervisionada no setor.
transparência.
Crédito Estudos recentes indicam • Discutir a abertura de linhas de crédito
que a grande maioria das para o fomento da pequena mineração
cooperativas minerais não com recursos oriundos de programas
acessa linhas de de desenvolvimento social, além de
financiamento, por vários Incentivos fiscais a pesquisa mineral,
fatores, entre os quais a viabilizando o seu acesso ao mercado
impossibilidade de de capitais.
fornecer as garantias • Educar e incentivar os mineradores do
exigidas, a falta de linhas setor a utilizarem as linhas de crédito
de crédito para o fomento existentes, como por exemplo o
da atividade mineral e as FINAME direto, o Fundo Clima (MMA),
altas taxas de juros. o FUNTEC, o Fundo de Crédito para a
Indústria e Serviços e o Crédito ASG.
• Buscar mecanismos que permitam a
inserção da mineração de micro e
pequeno porte no mercado de capitais.

Ações Estratégicas para a Pequena Mineração Responsável no Brasil (julho/2023) 9


Eixo Tema Comentários Ações recomendadas

Balcão Único Já existem sistemas de • Discutir com os mineradores e com os


Digital Balcão Único Digital para órgãos reguladores e fiscalizadores
simplificar o registro de quais as demandas, os riscos e os
diferentes processos legais benefícios de se implantar um balcão
e jurídicos. A centralização único para o setor de micro e pequena
das demandas técnicas, mineração e do garimpo.
legais, ambientais e sociais • Desenvolver projetos piloto para testar
do setor de pequena o método de balcão único digital para
mineração poderá agilizar o setor, e avaliar a efetividade e a
os processos de eficácia do sistema.
formalização e • Discutir os resultados e estabelecer
licenciamento do setor uma estratégia de implantação.
Eixo 4: Diálogo entre os Modelos de coexistência • Promover o diálogo entre mineradores
Coexistência setores da pequena mineração do setor com empreendimentos de
com empreendimentos de mineração para buscar acordos de
mineração de grande parceria entre as partes envolvidas.
funcionam em locais onde • Construir de forma conjunta o escopo
há bom engajamento das e metas do modelo de coexistência,
empresas com os levando em conta demandas e
mineradores e existe expectativas das partes.
infraestrutura adequada • Consolidar o engajamento dos
para a movimentação de mineradores do setor firmar acordos
minério. equilibrados para o modelo de negócio
da coexistência.
Instrumentos Os casos de sucesso de • Avaliar a possibilidade de sobreposição
regulatórios coexistência reportados de direitos minerários como foco na
na literatura operam com vocação local da pequena mineração.
a liderança do poder • Discutir com a ANM e com os demais
público e com incentivos órgãos reguladores e fiscalizadores a
equilibrados para os possibilidade de sobreposição de
atores envolvidos. direitos minerários entre a pequena
mineração e empreendimentos de
mineração de grande porte.
Projetos piloto Não há uma solução • Providenciar os requisitos de
de coexistência universal de coexistência planejamento, projeto, licenciamento,
na mineração, pois os construção e posta em marcha dos
modelos devem ser projetos piloto de coexistência.
ajustados às condições • Avaliar os resultados de engajamento e
locais e de acordo com as adesão dos mineradores da pequena
relações específicas entre mineração ao modelo proposto.
as partes envolvidas. • Consolidar o modelo de gestão do
negócio com visão de sustentabilidade
para assegurar os padrões de
governança do modelo de coexistência.

Ações Estratégicas para a Pequena Mineração Responsável no Brasil (julho/2023) 10


Comentários Finais
Este documento apresenta um conjunto de ações para promover a transformação do
setor de micro e pequena mineração e do garimpo em operações de pequena mineração
responsável, de forma a assegurar a preservação ambiental e socioeconômica do país,
e em especial, da Amazônia brasileira, e promover o desenvolvimento sustentável das
regiões mineradoras do país.

As ações propostas estão distribuídas em 4 eixos de transformação, que incluem o


extensionismo mineral, a promoção do cooperativismo e do associativismo, a proposta
de políticas públicas para o setor, e a disseminação de modelos de coexistência.

Conforme discutido, se o Brasil realmente quer ser um protagonista mundial no


suprimento das substâncias minerais críticas para a descarbonização e para a transição
energética, é necessário promover a transformação do setor de pequena mineração,
especialmente na Amazônia. Já tivemos nosso ciclo de ouro há alguns séculos, quando
as atividades de extração mineral no Brasil não necessariamente se converteram em
desenvolvimento para a nossa sociedade. Por mais que o mundo anseie pela transição
energética, Brasil não pode abrir mão de preservar a Amazônia e de promover o
desenvolvimento socioeconômico da região para a segurança climática do planeta.

São Paulo, 6 de julho de 2023

Prof. Giorgio de Tomi


Engenheiro de Minas
CREA-SP no. 0601247934

Ações Estratégicas para a Pequena Mineração Responsável no Brasil (julho/2023) 11


Referências
CNI (2020). Plano de retomada e desenvolvimento da indústria mineral. Confederação
Nacional da Indústria, Março, 2020.

GOMES, B. (2023). Mineração, energia e clima: uma equação global e brasileira. NEXO
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IGF (2017). Global Trends in Artisanal and Small-Scale Mining (ASM): A review of key
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https://www.iisd.org/system/files/publications/igf-asm-global-trends.pdf

MF (2023). Receita Federal Cria Nota Fiscal Eletrônica do Ouro. Ministério da Fazenda,
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