A ética e a moral na Religião Tradicional na África: exemplo a ser
seguido!
Por Mario Filho
Ao contrário do que muitos pensam, a ética e a moral são de importância substancial no
pensamento e na vida dos africanos, que são baseadas nos costumes, em leis
tradicionais, tabus e tradições de cada um dos povos da África. Deus é visto como o
derradeiro sancionador e sustentador da moralidade. O relacionamento humano pelo
parentesco e vizinhança é extremamente importante e a ética e moral tradicionais são
construídas, largamente, através das relações humanas.
Analisando a tradição Yorùbá, da qual somos seguidores, temos que ética pode ser
resumida, em Yorùbá, pela palavra Ìwà – caráter. Caráter é a essência da ética africana e
sobre ele se estabelece a vida de uma pessoa. Olódùmarè (Deus) exige que o homem
seja puro eticamente. Olódùmarè é o buscador de corações, que a tudo vê e sabe e cujo
julgamento é correto e inevitável. Deus julga os homens por seu comportamento aqui e
agora, bem como no porvir. Dessa forma a paz na vida após a morte é decidida de
acordo com a moral exercida, pelo ser humano, sobre a terra. Mau comportamento pode
destruir o destino de uma pessoa, enquanto bom caráter é uma armadura suficiente
contra o mal e a desgraça.
Os costumes, ou seja, a moral que é a prática da ética, regulam o que deve e o que não
deve ser feito. De acordo com Mbiti: “Roubar, agredir as pessoas, mostrar desrespeito
aos mais velhos, mentir, praticar feitiçaria, dormir com a mulher de alguém, matar,
caluniar as pessoas e assim por diante são consideradas grandes ofensas, que podem ser
severamente punidas pela sociedade através do degredo, indenização, pagamento de
multas, espancamento, apedrejamento e até mesmo a morte. Por outro lado, a bondade,
a cortesia, a generosidade, a hospitalidade, o respeito, a diligência, a frugalidade e o
trabalho duro são aspectos da moral ensinadas às crianças em várias comunidade
africanas, como princípio básico de vida.”
Os Yorùbá e, na verdade, os povos africanos têm a ética e sua prática, a moral, como a
essência que torna a vida alegre e agradável. Para os Yorùbá, segundo Bólájí Ìdòwú, o
bom caráter (ìwà rere) deve ser a mola mestra na vida das pessoas. De fato é isso que
distingue o ser humano dos animais. Quando os Yorùbá dizem de alguém O ṣe Ènìyàn
(os atos da pessoa), querem dizer que ela se comporta como deve, ou seja, ela mostra
que sua vida e suas relações com os outros são regradas pelas suas melhores
características. A descrição contrária kìí ṣe ènìyàn, n ṣe lof’awọn ènìyàn bora (Ele não é
uma pessoa, ele assumiu a pele de uma pessoa). Isso significa que a pessoa é
socialmente indigna; em consequência de sua característica, não está apta a ser chamada
de pessoa, embora tenha a aparência de uma.
Em geral, deve-se dar ênfase a que Olódùmarè, os Àwọn Òrìṣà (Orixás) e os
antepassados e ancestrais (Egúngún) requerem um bom comportamento dos seres
humanos.
Mas podemos perguntar por que as pessoas que seguem a Religião Tradicional
Africana, assim como os seguidores de outras religiões (cristianismo, islamismo,
judaísmo, hinduísmo etc), praticam atos imorais? A resposta é simples: hoje, muitas
pessoas professam uma determinada religião, porém deixam de agir de acordo com os
princípios e os ditames dessa mesma religião, que é a principal causa para os atos de
corrupção, violação dos Direitos Humanos, péssimas práticas eleitorais, etnicismo, bem
como outras práticas imorais e aéticas.
No entanto, esses problemas não são insuperáveis, basta que as pessoas façam valer
aquilo que aprenderam e unam a religião à moralidade, que são, para muitos, coisas
indissociáveis. Um adágio Yorùbá diz Ìwà l’èsìn, Èsìn ni Ìwà (religião é uma exibição
de moralidade, moralidade é o maior ato de adoração). Por isso é que os adeptos das
diversas religiões devem saber e acatar que nossos atos de adoração só se tornarão
dignos e significativos ao Criador, se eles forem acompanhados pela ética e pela moral.
Religião é uma exibição de moralidade, moralidade é o maior ato de adoração
REFERÊNCIAS
Mbiti, John. Introduction to African Religion. London: Heinemann, 1961