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Sandra Reimão - Repressão e Resistência - Censura A Livros Na Ditadura Militar-Edusp (2019)

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Direitos autorais
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UNIVERSIDADE DE SÃO PAUtO

Reitor Vahan Agop)1an \


. ,
Vice-reitor Antonio Carlos Hernandes

edusp
- EDITORA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

Diretor-presidente Lucas Antonio Moscato

COM JSSÃO EDI1.0 R IAL

Presidente Rube11s Ricupero


Vice-presidente Valeria De Marco
Carlos Alberto Ferreira Martins
Clodoaldo Grotta Ragazzo
1v1aria Angela Faggir1 Pereira Leite
Ricardo Pinto da Rocl1a
Tânia Ton1é Marti11s de Castro
Siiplentes José Roberto Castilho PiqL1eira
Marta 1v1aria Geraldes Teixeira
Sandra Reimão

Editora-assistente Carla Fernanda Fontana


Chefe Téc. Div. Editorial Cristiane Silvestrin

D D D D

Censura a livros na Ditadura Militar


-
SANDRA REIMAO

'

Copyright C 2019 b)' Sandra Reimão

,•edição 2ou (Edusp/Fopesp)


1• edição 2019 (Edusp/Fapesp)

Ficha caralogmfica elaborada pelo l)epart.amcnto


Técnico do Sistema Integrado de Bibli0tccas da usr
Reimão, Sandra
Repressão e Resistência: Censura a l,ivros na Ditadura Militar. 1
Sandr-J Reimão. 1. ed.- São Paulo: Editora da Universidade de São
Paulo, l¾apesp, 2019.
184 pp.; 20 >< 24 cm.

Incluí imagens.
Inclui anexos.
ISBN 978•8S·314•17SS·9

L Censura, 2. libe.rdade de Expressão. 3. livros. 1. Titulo.


11. Titulo: Censuro n Livros na Ditadura MU.lta.r.

Direitos reservudos à

Edusp - Editoro da Universidade de São Paulo


Rua da Praça do Relógio, 109-A, Cidade Ualversitárla
o;so8-oso - Soo Paulo - SP - Brasil
Divisão Comercial: Tcl. (11) 3091-4008 / 3091-4150
,v,vw.edusp.com.br - e-mail: [email protected]
'
Printed in Brazll 2019

Foi feito o depósito legal


'

Para Ricardo e João Marcelo

'

Apresentação ~ ~
Sobre os Artigos ~~

1. Ditadura Militar e Censura a Livros. Brasil, 1964-1985 ~'il


Cultura, Livros e Censura - Um Breve Panorama ~©
Censura a Livros - Brasil, 1968-1988 ~
Autores Nacionais e Censura ~
Teatro em Livros ~
Livros não Ficcionais ~
Livros Eróticos/Pornográficos ~
Romances, Contos, Poesia ~
Cultura, Livros e Censura - Uma Observação Geral (fil)

2. Dois Livros Censurados: Feliz Ano Novo e Zero ~


Feliz Ano Novo (jff) '
Zero 'il~
Os Atos Censórios ~

9

10 3. Aguinaldo Silva, um Escritor Censurado: Dez Estórias Imorais ilfJ


Repressão e Resistência
O Escritor Aguinaldo Silva ~
A Censura do SCDP @:fl

4. Livro e Prisão. fm Câmara Lenta, de Renato Tapajós IDí)


Memórias de Lutas ~
Em Câmera Lenta - Censura ao Livro, Prisão do Autor [ff)
A Editora Alfa-Ômega (®
Tecendo os Fios tl(OO)

5. "Mister Curitiba" e "O Cobrador" nos Concursos da Revista Status '[I~


A Revista Status e seu Concurso de Contos Eróticos '[l@'il
Os Contos "Mister Curitiba" e "O Cobradoi-" em Livro '[l'[I~

Considerações Finais '[l'[l'lJ

Anexos '[I~
1. Decreto-lei 1.077, de 26 de Janeiro de 1970 'LIW

2. Livros de Autores Brasileiros Censurados (1964-1985) '[I~


3. Pareceres do Serviço/Divisão de Censura de Diversões Públicas '[I~
4. Balanço das Atividades Censórias do Ano de 1976 '[l(W
5. Manifestações da Sociedade Civil '[I~

Referências '[lm)
Créditos das Capas Reproduzidas '[l!W

'

ma das primeiras providências da maioria dos regimes autoritários é censu-


rar a liberdade de expressão e opinião, uma forma de dominação pela coer-
ção, limitação ou eliminação das vozes discordantes. Telejornais, jornais,
revistas e livros costumam ser alvos de atos de censura.
Durante a vigência da censura prévia, regulamentada em 1970 pelo Decreto-lei
1. No artigo "'Prezada Censura':
1077 1 para "livros e periódicos, [... ] diversões e espetáculos públicos ben1 como à Cartas ao Regin1e Militar'; Carlos
programação das emissoras de rádio e televisão': era problemáico noticiar a pró- Pico enfati1.a que esse decreto era
clara.m ente voltado para "a moral
pria censura. A Polícia Federal, em 4 de junho de 1973, elaborou um taxativo texto e os bons costuines''. Além disso,
a respeito: afirma o autor, visava especial-
mente a livros, revistas, rádio e
televisão, não tanto a jornais.
De ordem superior, fica tern1inante1nente proibida a publicação de críticas ao siste- 2. Paolo Marconi, A Censura
ma de censura, seu fundamento e sua legitimidade, bem como qualquer notícia, crítica, Política 11a !t11pre11sa Brasileira
(1968-t978), p. 37. Estudando o
referência escrita, falada e televisada, direta ou indiretamente formulada contra órgão de
acervo de matérias censuradas na
censura, censores e legislação censória •
2
revista Veja, Maria Fernanda Lo-
pes Almeida, ein Veja sob Censura
- 1968-1976, notou que o tema
A existência da censura a jornais, no entanto, era notória para as parcelas mais da censura foi o segundo assunto
esclarecidas da população: ''A existência da censura prévia à imprensa era vista mais censurado na revísta.

11

12
Repressão e Resistência __ ___
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demissão do ministro da Agri-
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Lima, com críticas ao governo. ~...:.=:LS;l~F:ffi.l VJSita e .n:awev a....._.


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pelo regime como algo proibido de ser mencionado. Sendo de conhecimento no-
tório de um público restrito, determinava um pacto mantido em ~egredo mas não
em total sigilo"3•
Impedidos de noticiar que haviain sido censurados, os jornais recorriam a expe-
dientes tais como publicar, no espaço das matérias suprimidas, n1aterial "estranho" e
"inadequado'~ O jornal O Estado de S. Paulo, por exemplo, publicou poesias várias no
lugar do texto censurado e, a partir de 26 de julho de 1974, passou a reproduzir, nes-
ses espaços, trechos de Os Lusíadas, de Camões - o que ocorreu n1ais de seiscentas
vezes4 • O mesmo O Estado de S. Paulo publicou, em 10 de maio de 1973, na primeira
página, um "anúncio" da Rádio Eldorado com o slogan ''.Agora é San1ba" ao lado de
3. Bcalriz Kuslulir, Cães de Guar- uma "carta de leitor" que versava sobre a inexistência de rosas azuis - os espaços
da. p. 42.
4. Ver livreto que acompanha a destinavai11-se originalmente a notícias sobre a renúncia do ministro da Agricultura.
edição fac-si1nilar d'Os L11sfadas, Le1nbre1nos que a censura prévia era, muitas vezes, feita no jornal já diagramado,
de Camões, publicado pela Ed. '
com a composição já paginada, e que a recomposição para eliminar os espaços dei-
Takano cn1 2001 por ocasião da
publicação da edição n. 7 de A xados em branco pelos textos elin1inados implicaria gastos e tempo extras.
Revista. Indicando as lacunas deixadas pela ação da censura, o Jornal da Tarde publicava

ma das primeiras providências da maioria dos regimes autoritários é censu-


rar a liberdade de expressão e opinião, uma forma de dominação pela coer-
ção, limitação ou eliminação das vozes discordantes. Telejornais, jornais,
revistas e livros costumam ser alvos de atos de censura.
Durante a vigência da censura prévia, regulamentada em 1970 pelo Decreto-lei 1. No artigo "'Pre-Lada Censura':
1077 1 para "livros e periódicos, [... ] diversões e espetáculos públicos bem con10 à Cartas ao Regime Militar", Carlos
programação das emissoras de rádio e televisão': era problemáico noticiar a pró- Fico enfatiza que esse decreto era
• claramente voltado para "a n1oral
pria censura. A Polícia Federal, em 4 de junho de 1973, elaborou um taxativo texto e os bons costum es~ Além disso,
a respeito: afirma o autor, visava especial-
mente a livros, revistas, rádi.o e
televisão, não tanto a jornais.
De ordem superior, fica terminantemente proibida a publicação de críticas ao siste- 2. Paolo Marconi, A Censura
ma de censura, seu fundamento e sua legitimidade, bem con10 qualquer notícia, crítica, PoUtica na Imprensa Brasileira
(1968-1978), p. 37. Estudando o
referência escrita, falada e televisada, direta ou indiretamente fonnulada contra órgão de
acervo de matérias censuradas na
2
censura, censores e legislação censória • revista Veja, Maria Fernanda Lo-
pes Almeida, em Veja sob'censura
- 1968-1976, notou que o tema
A existência da censura a jornais, no entanto, era notória para as parcelas mais da censura foi o segundo asstmto
esclarecidas da população: "A existência da censura prévia à imprensa era vista mais censurado na revista.

11

14 Concebemos a censura como parte de um aparelho de coerção e repressão que


Repressão e Resistência
resultou em enormes prejuízos no exercício da cidadania e da cultura em geral.

*
No primeiro capítulo, "Ditadura Militar e Censura a Livros. Brasil, 1964-1985",
delineia-se um panorama histórico da atuação censória dos governos militares em
relação à cultura, às artes e aos livros. Neste capítulo, buscamos ta111bém identificar
os livros de autores brasileiros vetados pela censura.
A partir do q uadro geral traçado nesse capítulo inicial, passamos, nos capítulos
seguintes, a detalhar alguns casos de vetos censórios a textos de ficção de autores
brasileiros.
O segundo capítulo ten1 por tema a censura aos livros Feliz Ano Novo, de Ru-
bem Fonseca, e Zero, de Ignácio de Loyola Brandão, ocorrida em n1eados da dé-
cada de 1970. São casos exemplares no sentido de que ambos os processos tiveram
início por meio de denúncias, como era comum na época.
O veto ao livro Dez Histórias Imorais, de Aguinaldo Silva, publicado em 1967,
é o assunto do terceiro capítulo. Este é um caso muito específico, no qual o exame
pela ocoP e a decisão de veto se deram nove anos depois da publicação do livro.
Nossa hipótese é a de que as atuações posteriores de Aguinaldo Silva como colabo-
rador de publicações em franca oposição à ditadura 1nilitar, alén1 de sua militân-
cia pelos direitos de n1inorias, deram mais visibilidade ao autor e motivaram uma
nova empreitada da censura em relação a ele. .
O quarto capítulo enfoca a censura ao livro Em Câmara Lenta, de Renato Tapa-
jós, publicado em maio de 1977 pela editora Alfa-ômega, caso único de autor preso
durante a ditadura 1nllitar em virtude do conteúdo de um livro.
Por fim, no quinto capítulo, o estudo das diferentes reações da Revista Status
frente à proibição da publicação dos contos "Mister Curitiba", de Dalton Tre-
visan, em 1976, e "O Cobrador", de Rubem Fonseca, em 1978, possibilitou-nos
detalhar a existência de n1omentos diversos da atividade censória durante a dita-
dura militar brasileira. O fato de esses contos terem sido vetados para publicação
em revista, mas não o terem sido para publicação em livro, é um exemplo con-
creto de que a censura durante a ditadura militar teve atuações diferenciadas,
não só nos distintos períodos co1no també,n en1 relação aos diversos meios de
comunicação. '
Nos anexos, o leitor deste livro encontrará à sua disposição uma série de docu-
n1entos vinculados à atividade da censura no Brasil: leis, listagens de obras, .m a.n i-

O mfnlstto vnl õ ()$(:Ola


13
Apresentação

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INAUGOAÃÇOES

2000 km de asfalto

Revista Veja, 2 fev. 1974, p. 22.


As ilustrações com demônios
preenchem os espaços de textos
censurados. legendas: "Captada
pela nossa objetiva, uma das
últimas aparições do demônio";
. •-:• .... ,.,_ "Belzebu e Asmodeo no tempo
" ...... M . . , ...._ . . , _ em que reinavam"

receitas culinárias; a revista Veja, figuras de den1ônios; A Tribuna da Imprensa, no


Rio de Janeiro, mantinha os espaços em bra11co (estratégia não vista com bons olhos
pelos censores); e os semanários Opinião e Manuscrito publicavam tarjas pretas5•

*
No Brasil, durante a ditadura militar (1964-1985), a censura oficial do Estado
em relação a filmes, peças teatrais, discos, apresentações de grupos n1usicais, car-
tazes e espetáculos públicos em geral era exercida pelo Ministério da Justiça (MJ),
destacadamente por meio do Serviço de Censura de Diversões Públicas (SCDP), da
Divisão de Censura de Diversões Públicas (DCDP). A partir de 1970, livros e revis-
tas também passara1n a ser examinados pelo SCDP/DCDP.
Este livro aborda a censura oficial à cultura e às artes e, especificamente, a livros
de ficção de autores nacionais durante a ditadura militar brasileira.
O estudo dos atos censórios em relação aos livros possibilita o delineamento de '

alguns mecanismos da censura, além de facultar que reflitamos sobre a repercus-


são da censura no universo da produção da cultura brasileira. 5. Ver idem, p. 13•


14 Concebemos a censura como parte de um aparelho de coerção e repressão que
Repressão e Resistência resultou em enorn1es prejuízos no exercício da cidadania e da cultora em geral.

*
No prin1eiro capítulo, "Ditadura Militar e Censura a Livros. Brasil, 1964-1985':

delineia-se um panorama histórico da atuação censória dos governos 1nilitares em
relação à cultura, às artes e aos livros. Neste capítulo, buscamos também identificar
os livros de autores brasileiros vetados pela censura.
A partir do quadro geral traçado nesse capítulo inicial, passa.m os, nos capítulos
seguintes, a detalhar alguns casos de vetos censórios a textos de ficção de autores
brasileiros.
O segundo capítulo tem por tema a censura aos livros Feliz Ano Novo, de Ru-
bem Fonseca, e Zero, de Ignácio de Loyola Brandão, ocorrida em meados da dé-
cada de 1970. São casos exemplares no sentido de que ambos os processos tiveram
início por meio de denúncias, como era comum na época.
O veto ao livro Dez Histórias Imorais, de Aguinaldo Silva, publicado em 1967,
é o assunto do terceiro capítulo. Este é wn caso muito específico, no qual o exame
pela DCDP e a decisão de veto se deram nove anos depois da publicação do livro.
Nossa hipótese é a de que as atuações posteriores de Aguinaldo Silva como colabo-
rador de publicações em franca oposição à ditadura militar, além de sua militân-
cia pelos direitos de minorias, deram n1ais visibilidade ao autor e motivaram uma
nova empreitada da censura em relação a ele.
O quarto capítulo enfoca a censura ao livro Em Câtnara Lenta, de Renato Tapa-
jós, publicado em maio de 1977 pela editora Alfa-Ómega, caso único de autor preso
durante a ditadura militar em virtude do conteúdo de um livro.
Por fim, no quinto capítulo, o estudo das diferentes reações da Revista Status
frente à proibição da publicação dos contos "Mister Curitiba", de Dalton Tre-
visan, em 1976, e "O Cobrador", de Rubem Fonseca, em 1978, possibilitou-nos
detalhar a existência de momentos diversos da atividade censória durante a dita-
dura n11litar brasileira. O fato de esses contos terem sido vetados para publicação
em revista, mas não o terem sido para publicação em livro, é um exemplo con-
creto de que a censura durante a ditadura militar teve atuações diferenciadas,
não só nos distintos períodos como tambén1 em relação aos diversos n1eios de
comunicação.
Nos anexos, o leitor deste livro encontrar á à sua disposição uma série de docu-
mentos vinculados à atividade da censura no Brasil: leis, listagens de obras, mani-
festações da sociedade, etc. No anexo 3, por exe1nplo, são reproduzidos pareceres 15
Apresentação
que subsidiaram vetos a obras de autores nacionais.

*
Nos últimos anos, em inúmeras ocasiões, apresentei e discuti partes deste tra-
balho com alunos e orientandos. Agradecendo a Eduardo Razuk e Karin Muller,
busco representar todos eles.
De diferentes formas, por colaborações várias, empréstiI11os de 1naterial e infor-
mações, agradeço a: Adolpho Queiroz, Alais Coluchi, Alcides Fontes, Erick Vieira,
Igor Silva Alves, Isaac Epstein, Marcos Nobre, Sergio Manabu e Sonia Reimão.
Agradeço também aos entrevistados: prof. Antonio de Andrade; prof. Alvaro
Peterson; Fernando Mangarielo, editor; lgnácio de Loyola Brandão, escritor; J. A.
de Granville Ponce, jornalista e editor; prof. José Carlos Estevão; José Mindlin, bi-
bliófilo; José Nêumane Pinto, jornalista e escritor; prof. Leonildo Silveira Campos;
profa. Marisa Lajolo; Raul Castels, editor e livreiro; e Renato Tapajós, escritor.

Ana Claudia Gruszynski, Bárbara Heller e demais colegas do Grupo de Pesqui-
sa Produção Editorial da lntercom - Sociedade Brasileira de Estudos Interdiscipli-
nares da Comunicação - escutaram, discutiram e contribuíram com suas observa-
ções na elaboração dos trabalhos aqui reunidos.
Sem o apoio e a assistência dos funcionários do Arquivo Nacional de Brasília,
em especial Carlos Marx Gomide Freitas, este trabalho não teria sido possível.
Alguns caros amigos estiveram presentes e muito contribuíram no processo de
elaboração deste trabalho: Aníbal Bragança, Antonio de Andrade, Dorothée du
Bruchard, Helena Bonito Couto Pereira, Joana Puntel, João Elias Nery, José Antonio
Pasta, Maria Otilia Bocchini, Mónica de Fátima Rodrigues Nunes e Wilson Merege.
Esta pesquisa tornou-se possível graças ao Auxílio Projeto de Pesquisa da Fapesp;
à Bolsa de Produtividade em Pesquisa do CNPq e também às ações de apoio à pes-
quisa docente da usP.
Este livro foi publicado com apoio da Fapesp.

Sobre os artigos

Uma versão de "Ditadura Militar e Censura a Livros. Brasil, 1964-1985" foi pu- '
blicada no livro Impresso no Brasil: Dois Séculos de Livros Brasileiros, organizado
por Aníbal Bragança e Márcia Abreu e publicado pela Editora Unesp em 2010.

16 O artigo "Dois Livros Censurados: Feliz Ano Novo e Zero" foi publicado, com
Repressão e Resistência
leves modificações, no vol. 50 da revista Comunicação & Sociedade (São Bernardo
do Campo, Editora Metodista, 2ll sem. 2008).
O texto "Aguínaldo Silva, um Escritor Censurado: Dez Estórias Imorais" saiu
impresso no vol. 3:2, da revista Intercom - Revista Brasileira de Ciências da Comuni-
cação (São Paulo, lntercon1, jan.-jun. 2009).
O artigo "Livro e Prisão. Em Câmara Lenta, de Renato Tapajós" foi publicado,
com algumas modificações, no vol. 15, n. 2, da revista Em Questão (Porto Alegre,
Ed. UPRGS, 29. sem. 2009).
O artigo "Os Contos 'Mister Curitiba' e 'O Cobrador' nos Concursos de Contos
da Revista Status" foi publicado com o título "Reagindo à Censura: Criatividade
em Tempos Sombrios. O Caso do Concurso de Contos da Revista Status" na revis-
ta Co1nunicação & Inovação, São Caetano do Sul, uses, vol. 9, jan.-jun. 2008.

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Cultura, Livros e Censura - Um Breve Panorama

golpe militar de 31 de março de 1964 ocorreu após um período de cerca de


vinte anos de democracia. Nesse período pré-1964, consolidou-se no país
uma reflexão social de ideário esquerdista presente em boa parte das ativi-
dades culturais e artísticas nacionais.
Ao assumirem o governo federal "a fim de garantir o capital e o continente
contra o socialisn10': os militares, "para surpresa de todos': não investiram contra a
produção cultural de esquerda. Por isso, entre 1964 e 1969, a paradoxal convivência
de urna ditadura de direita com uma ampla presença de produções culturais de
esquer da foi característica marcante do panorama cultural brasileiro. Como escre-
veu Roberto Schwarz no clássico estudo "Cultura e Política 1964-1969': "apesar da
ditadura da direita há relativa hegemonia cultural da esquerd a no país"•. Este é o
período que Elio Gaspari denomina "ditadura envergonhadá:
Durante os primeiros quatro anos da ditadura militar, por tanto, conviviam um '
1. No livro Pai de Família e Outros
Es111dos, p. 62. Também são desse
governo ''de direita" e obras que faziam críticas a esse mesmo regime, presentes nas teKto as cítações no ilú cio do
telas de cinema, 110s teatros, nos shows e nas livrarias. parágrafo.

19

20 Em 21 de maio de 1964, urna equipe liderada por Millôr Fernandes lançou a


Repressão e Resistência
revista Pif-Paf. "O Pif-Paf em revista foi a primeira iniciativa editorial de resistên-
cia ao arbítrio do regime policialesco [... ]"•. Ou, como prometeu a própria revista,

"Em todos os números do Pif- Paf falaremos da Liberdade. É um assunto que nos
tem presos':
Em julho de 1964, o lançamento de O Ato e o Fato, de Carlos Heitor Cony, tan1-
bérn se transformou em um ato de resistência: ''.Além de ter batido o recorde de fre-
quência para uma noite de autógrafos, assinando 1600 exemplares, viu a primeira
edição esgotar-se em poucas semanas"3•
En1 1965, logo depois do lançamento de O Ato e o Fato, Nelson Werneck Sodré,
em um artigo publicado no primeiro número da revista Civilização Brasileira, co-
n1entava que as crônicas de Cony reunidas e1n livro "encontrarain repercussão
enorme" 4 • No mesn10 artigo, Werneck Sodré enfatiza que "a crônica, no Brasil,
ganhou, na imprensa, um lugar específico: alguns de nossos melhores escritores

frequent amo genero."
Dois romances publicados entre 1964 e 1968 destacam-se por serem analíticos
e críticos ao siste1na vigente: Quarup, de Antonio Callado, publicado pela Editora
· Civilização Brasileira, e Senhor Embaixador, de Érico Veríssimo, publicado pela
Livraria do Globo de Porto Alegre.
A estratégia básica do governo militar, no que tange à circulação das produções
culturais entre 1964 e 1969, foi, como salientou Roberto Schwarz, a de "preservar a
produção culturaf' mas "liquidar o seu contato con1 a 1nassa operá1)a e camponesá'5•
Fique claro que não podemos considerar a farta produção cultural engajada
politicamente durante o período pós-1964 como uma a.firmação de que a censura
incentivaria a criati:vidade; o que aconteceu foi o exato contrário: "o movimento
cultural destes anos é uma espécie de floração tardia, fruto de dois decênios de
2. )iuüo de Freitas, na ediç.'\o fac-
similar da coleção do periódico.
democratização'; como escreve Roberto Schwarz.
3. Elio Gaspari, A Ditadura Enver- Na realidade, entre 1964 e 1968, isto é, entre o golpe militar de 1964 e a decre-
go11/Jada, p. 143.
tação do AI-5, a censura a livros no Brasil foi marcada por uma atuação confusa e
4. Nelson Vlerneck Sodré, "Prosa
Brasileira en1 1964: Balanço Literá- multifacetada e pela ausência de critérios, mesclando batidas policiais, apreensões,
rio': Revista Civilização Brasíleira, confiscas e coerção física:
n 1, pp. 159-160.
5. Roberto Schwarz, "Cultura
e Política 1964-1969'; u, Pai de As ações confiscatórias ocorrian1 de forma primária, improvisada, efetuadas por pesso-
Pamllia e Outros Estudos, p. 63. as mal treinadas para este tipo de operação, e eram justificadas através da necessidade' de
6. Alexandre Stephanou, Censura
no Regime Militai' e 1\tfilitarizaçâo
garantir a Segurança Nacional e a ordem n1oral. Objetivava confiscar todo material consi-
dt1s Artes, p. 215. derado subversivo, contra o Regime, ou pornográfico, contra a familia e os costumes6•
Um editorial do Jornal do Brasil de 22 de janeiro de 1966 reclamava da falta de 21
critérios nas apreensões de livros, que estaria transformando essas ações em "peças Ditadura Militar e
Censura a Livros
modelares da ignorância"7•
,
O presidente Castello Branco "procurava assegurar a liberdade de expressão,
respeitando a imprensa estabelecida e as manifestações culturais"S, 1nas pouco fazia
contra grupos de extrema-direita que executavan1 violentas ações anticomunistas.
"Todo o esforço que o grupo moderado de Castello Branco fazia para apresentar ao
mundo um regime militar diferenciado das Banana Republics, respeitoso portanto
em relação às instituições, sumia a cada intervenção desastrada desses 1nilitares,
chamados 'gorilas' pela esquerda:',
Entre 1964 e 1968, o alvo predileto da atuação aleatória das forças de repressão
no que tange à apreensão, coação e censw·a a livros foi o editor Ênio Silveira, dono
da Editora Civilização Brasileira. Ênio Silveira, que chegou a publicar "un1 livro
e meio por dia, útil ou não, quer dizer 45 livros por mês"'º, foi preso várias vezes,
processado outras tantas, e viu a Editora Civilização Brasileira ser invadida e sua
produção editorial, apreendida.
Em maio de 1965, a prisão do editor provocou um manifesto assinado por cerca
de mil pessoas ligadas à produção cultural. Ênio Silveira ficou detido nove dias, sob
a acusação formal de ter escondido o ex-governador Miguel Arraes de Pernambu-
co, deposto pelo regime militar. "A prisão, determinada pelo coronel-intendente
Gerson de Pina, objetivava inti.Jnidar o editor:'" Antes disso, em junho de 1964,
a editora já havia sido alvo de uma perícia para verificar se havia em seu capital
dinheiro do governo deposto ou de algum organismo internacional "de esquerdà'.
Elio Gaspari descreve assim a reação do então presidente Castel1o Branco à
prisão de Ênio Silveira, em maio de 1965:

1. Apud Alexandre Stephanou, op.


Castello [... ] mandou ao general Ernesto Geisel quatro folhas de bloco manuscritas tra-
cit., p. 214.
tando do assunto [...]. Dizia o presidente ao seu Chefe de Gabinete Militar: "Por que a 8. Elio Gaspari, A Ditadura E11v•r-
prisão do Ênio? Só para depor? A repercussão é contrária a nós [...). Apreensão de livros. gonhada, p. 229.
9. lnima Simões, Roteiro da Intole-
Nunca se fez isso no Brasil. Só de alguns (alguns!) livros inJorais. Os resultados são os pio- rância, p. 87.
res possíveis contra nós. É tnesmo um terror cultural''. 11J. Jerusa P. Ferreira (org.), Ênio
Silveira, p. 105.
11. Alexandre Srephanou, op. cit.,
A expressão "terrorismo cultural" foi criada por Tristão de Athayde (pseudôni- p. 227. Para o restante do parágra-
mo de Alceu Amoroso Lima) e era "ridicularizada pelo governo e pelos intelectuais fo, ver p. 226. '
12, Ver Elio Gaspar!, A Ditadura
que o apoiavam"11•
Envergo11hada. pp. 231, 96-c17 e
220.

22 Em um corajoso e claro ato de resistência ao governo militar, em maio de 1966


Repressão e Resistência a Editora Civilização Brasileira impetrou mandado de segurança contra o Depar-
tamento Federal de Segurança Pública, questionando as várias ações confiscatórias

de livros. Os confiscas eram feitos sem bases legais, sem inquéritos policiais. O
mandado começa questionando a legalidade de tais procediinentos:

Trata-se de saber se o governo tem o arbítrio de apreender os livros que bem entende,
sob ridículos pretextos, como se não houvesse leis no País. [... ] trata-se de saber, em suma,
se estão com razão os que afim1am que a revolução de 1964 inaugurou no país uma época
de arbítrio, de intolerância, de prepotência e de opressão,;.

O n1andado afirma que se poderia deduzir que houve três grupos de livros
apreendidos: 1) "os que foram apreendidos por equívoco" - por falsa indução em
relação ao assunto em virtude do título ou das ilustrações; 2) "os que foram apreen-
didos porque se referem ao marxismo"; e 3) "os que foram apreendidos porque se
referen1 à revolução de abril ou a políticos por esta perseguidos''. Neste últin10 gru-
po (livros que teriam sido considerados como denegridores da Revolução de 1964),
estariam Primeiro de Abril, de Mário Lago, O Golpe de Abril, de Edmundo Moniz,
O Golpe Começou em Washington, de Edmar Morel, e História Militar do Brasil, de
Nelson Werneck Sodré.
Depois de apresentar uma série de argumentos sobre a ilegalidade do ato de
apreensão de livros, o mandado conclui:

[...] a digna autoridade (que fez as apreensões) procura justificar-se com a simples ale-
gação de que as obras são subversivas. Tal alegação não só não está acompanhada por qual-
quer elemento de convicção, como pode facilmente ser desmentida por qualquer pessoa de
rudimentar inteligência e cultura, que tenha lido os livros apreendidos.

Muitos anos n1ais tarde, Ênio Silveira rememora assim as apreensões:

Ao todo eles apreendenun mais de trinta títulos nossos, só isso já basta para dar wna
dimensão terrível em termos empresariais. Eles invadiam nosso depósito, iam às livrarias,
recolhian1 livros e sumiam com eles. Movi uma ação contra o governo[...). Foi um período
13. Há uma reprodução il\tegral terrível. Nós érainos atacados de todas as n1aneiras possíveis e imagináveis, cerceados: 'inti-
na revista Civilização Brasileira,
midação a livreiros e gráficos, apreensão de livros••.
"· 9/to, pp. 291-297.
14. Jerusa P. Ferreira, op. cit., p. 71.

Também ocorrido no período entre 1964 e 1968, não se pode deixar de mencio- 23
Ditadura Militar e
nar outro episódio de terrorismo cultural de direita dirigido ao mundo editorial: a
Censura a Livros
série de ações do ministro da Educação Flávio Suplicy de Lacerda, que "organizou
pessoalmente o expurgo de bibliotecas, queimou livros de Eça de Queiroz, Sartre,
Graciliano Ramos, Guerra Junqueiro, Jorge Amado, Paulo Freire, Darcy Ribeiro" 1s.
Lacerda foi, segundo Elio Gaspari, "o mais catastrófico dos ministros da Educação
na história da pedagogia nacional''16•
Entre as ações "destrambell1adas" da direita para intimidar os que eles chama-
vam de "comunistas", algun1as se tornara1n quase folclóricas. No mundo editorial,
um exemplo é a apreensão, em uma feira de livros em Niterói, de exemplares da
encíclica Mater et Magistra, do papa João xxu1 17•
Stanislaw Ponte Preta, pseudônimo de Sérgio Porto, captava e transcrevia com
humor essas ações "destrambelhadas" da direita, tanto em suas crônicas no jornal
Última Hora como em seus livros. Seus Febeapas - Festival de Besteira que Assola
o País - 1 e 2, de 1966 e 1967, respectivamente, mostravam essas incongruências
absurdas. Nas crônicas de Stanislaw, escreveu Werneck Sodré, "sob a irreverência
e a malicia, há muito mais seriedade e profundidade do que em geral se julga"18•
Outro episódio: em outubro de 1966 o ministro da Justiça Carlos Medeiros Silva
baixou uma portari~ declarando proibida a edição, a distribuição e a venda, assim
como ordenando a apreensão do romance O Casamento, de Nelson Rodrigues.
O livro havia sido publicado no mês anterior pela Editora Eldorado, de Alfredo
Machado, e vendera oito mil exemplares nas duas prilneiras semanas de setembro,
"pau a pau com o novo romance de Jorge Amado, Dona Flor e Seus Dois Maridos,
que a outra editora de Machado, a Record, também acabara de lançar"19 •
Nelson Rodrigues reagiu em entrevista ao Jornal do Brasil:

Essa é uma medida odiosa e analfabeta [...]. Vou espernear com todas as minhas for-
ças, porque não estamos no faroeste e ainda há leis no Brasil que devem ser respeitadas. 15. Alexandre Stephanou, op. cit.,
Eu acredito que a Justiça imporá a obra nas livrarias. Outra esperança que tenho, apesar p. 223
16. Elio Gaspari, A Ditadura
de tudo, é a de que não assistirei à queima pública do meu livro como numa cerimônia Envergonhada, p. 115.
nazista
' 10
. 11. Idem, p. :1.21.
18. Nelson Werneck Sodré, op. cit.,
p. 159.
Para Ruy Castro, 19. Ruy Castro, O Anjo Pon1ográ-
fico. A Vida de Nelson Rod?igues,
p. 350.
A proibição de O Casamento, além de ser uma descarada transgressão constitucional, 20. Bntrev.ista reproduzida em
era ainda mais perigosa porque abria um precedente: permitiria que, a partir dali, qualquer Ruy Castro, op. cit., p. 351.
24 autoridade administrativa [...] se sentisse no direito de proibir e apreender livros que não
Repressão e Resistência lhe agradassem. E tudo isso, como se dizia, ao arrepio da lei.

Apesar da arbitrariedade da ordem, ela foi cumprida. '½.gentes do Dops saíram


pelas livrarias de Rio, São Paulo, Brasília, Curitiba e Porto Alegre apreendendo O
Casamento. A colheita foi magra porque as duas primeiras edições, de três mil e
cinco mil exen1plares, já estavam esgotadas:' O editor não imprimiu, na época, a
terceira edição, que já estava planejada. Nelson Rodrigues entrou com um manda-
do de segurança contra o ato de proibição da edição, distribuição e venda de seu
romance. Julgado o mandado, decidiu-se pela liberação: em abril de 1967, o Tribu-
nal Federal de Recursos confirmou a sentença, "considerando o ato do ministro da
Justiça uma 'ilegaHdade máximi. O Casamento estava livre de novo"".
Um pouco antes do golpe militar de 1964, em 1963, o Juizado de Menores im-
pedira a transmissão da telenovela de Nelson Rodrigues A Morta sem Espelho às
oito e meia da noite, transferindo-a para o horário das onze e meia. Foi a primeira
telenovela diária de autoria de um escritor brasileiro na televisão nacional, uma vez
que as anteriores haviam sido escritas por estrangeiros. A telenovela 25499 Ocupa-
do, primeira telenovela diária nacional, que começou a ser transmitida em meados
de junho de 1963 pela TV Excelsior, baseava-se em um texto de um autor argentino;
seu diretor, Tito Di Miglio, ta.tnbém era de nacionalidade argentina".
Em 1964, na cidade de Natal, Rio Grande do Norte, a peça Toda Nudez Será
Castigada, trunbém de Nelson Rodrigues, foi interditada, apesar do sucesso obtido
anteriormente em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Salvador. E esse foi ape-
nas mais uni dos episódios da con1plexa e tumultuada relação de Nelson Rodrigues
com os governos militares pós-1964.
Em 1968, o terrorismo de direita provocou, segundo os cálculos de Elio Gaspari,
dezessete atentados, catorze explosões e um assalto a banco. Editoras e livrarias
estavam entre os alvos: foram atingidas a Editora Tempo Brasileiro, a Editora Civi-
lização Brasileira e a Livraria Forense').
Embora editoras e livrarias fossetn alvos de vandaHsmo de direita, não houve
nos primeiros anos após o golpe militar de 1964 a estruturação de um sistema úni-
21. Idem, ibidem (parn censura) e
co de censura a livros. Essa ausência de uma regulamentação censória em relação
p. 367 (para liberação). a livros faz co1n que entre os best-sellers de 1968 constem, por exemplo, clássicos
22. Ismael Fernandes, Memória da do pensamento nacional de esquerda, como Um Projeto para o Brasil, de Celso
Telenovela Brasileira, pp. 36 e 39.
23. Ver Elio Gaspari, A Ditadura Furtado, e clássicos internacionais da literatura erótica, como Kama Sutra, litera-
E11vergo11hada, pp. 328 e 301. tura hindu de fisiologia e moral sexual, Filosofia na Alcova, do Marquês de Sade, e


Minha Vida, Meus Amores, de Henry Spencer Ashbee, relato autobiográfico de um 25


colecionador de arte erótica24 • Ditadura Militar e
Censura a Livros

Censura a Livros - Brasil, 1968-1988

Em maio de 1961, o então presidente Jânio Quadros concedeu aos estados o


direito de exercer a censura, simultaneamente à legislação que, desde 1946, dava à
Polícia Federal a responsabilidade de realizar a censura prévia a filmes, peças tea-
trais, discos, apresentações de grupos musicais, cartazes e espetáculos públicos em
geral. "O decreto gerou uma confusão de poderes[ ...] alguns filmes eram proibidos
em São Paulo, e liberados na Guanabara, e vice-versa. Resultado: uma guerra de
liminares, mandados de segurança.. :'16
Em abril de 1965 foi inaugurado e1n Brasília um novo prédio para o Departa-
n1ento Federal de Segurança Pública, onde atuaria o Serviço de Censura de Diver-
sões Públicas - SCDP. Essa edificação indica o desejo do governo federal de centrali-
zar as atividades censórias: "Legalmente, a censura era jw·isdição do Departamento
de Policia Federal; na prática, todos os órgãos n1ilitares de segurança se achavam
no direito de proibir [... ] diferentes autoridades, dos mais altos postos ao simples
funcionário público, buscavam vetar produções culturais ou artísticas"27• A Consti-
tuição outorgada de 1967 oficializou a centralização da censw·a con10 atividade do
Governo Federal, em Brasília. A lei número 5.536,_de 1968, incluiu novelas televisi-
vas no conjunto do n1aterial a ser e,'(a1ninado pelo Conselho Superior de Censura.
Quando o Ato Institucional n. 5 foi decretado, as atividades censórias já se en-
contravam centralizadas no Governo Federal.
Duas grandes manifestações públicas contra as arbitrariedades do regime mili-
tar ocorridas no Rio de Janeiro antecederam a decretação do AI-5: a manifestação 24. Ver Sandra Reimão, Mercado
"Cultura contra Censura: en1 fevereiro de 1968, que reuniu n1embros da classe tea- Editorial Brasileiro, pp. 43-50.
tral para manifestarem sua indignação contra a proibição da encenação de oito 26. Alexandre Stephanou, op. dr.,
p. 269. Pa.ra início do parágrafo,
peças18, e, alguns meses mais tarde, aquela que ficou conl1ecida como "A Passeata ver p. 261.
dos Cem Mil': em 26 de junho de 196829 • 21. Alexandre Stephanou, op. cit.,
p. 293. Para o inicio deste parágra-
Sexta-feira, i3 de dezembro de 1968. Em nome da "autêntica ordem democráti-
fo, ver p. 244.
ca, baseada na liberdade, no respeito à dignidade da pessoa hun1ana, no co1nbate 28. Ruy Castro, op. clt., p.370.
à subversão e às ideologias contrárias às tradições de nosso povo"3º, o presidente 29. Ver Zuenir Ventura, 1968 ' -
O Ano que 11ão Term/11011, pp.
Costa e Silva editou o Ato Institucional n. s - AI-5. A edição deste ato tornou possí- 155- 165.
vel cassar mandatos, suspender direitos políticos, suspender garantias individuais 30. Consideranda do Al ·5


26 e criou condições para a censura à divulgação da informação, à manifestação de


Repressão e Resistência
opiniões e às produções culturais e artísticas. Começa aí o período chamado "anos
de chumbo" ou, para usarmos a nomenclatura utilizada por Elio Gaspari, a "dita-
dura escancaradà'.
Nas memórias de Zuenir Ventura registradas no livro 1968 - O Ano que não Ter-
rninou, o autor escreve que no início de 1968 não se poderia supor que se iniciaria
aí um dos períodos mais obscuros da história recente do país:

Com algum otimismo, encontravam-se boas razões para se esperar um feliz 68. A efer-
vescência criativa de 67 não era por certo mau sinal. Terra em Transe, Quarup, o Tropicalis-
mo, Alegria, Alegria, O Rei da Vela, talvez fossem só o começo. Alé1n do n1ais, o movimento
estudantil[...] vinha se reorganizando [...]3'.

Outro dos mo1nentos privilegiados de 1967 foi o m Festival Record de Música


Popular Brasileira, em que os vencedores foram Ponteio, de Edu Lobo (12 lugar);
Domingo no Parque, de Gilberto Gil (2si lugar); Roda Viva, de Chico Buarque (3si
lugar); e Alegria, Alegria, de Caetai10 Veloso (4si Jugar). As canções de Gilberto Gil
e Caetano Veloso premiadas no festival podem ser consideradas "certidões de nas-
cimento" do· tropicalismo musical.
No dia 12 de janeiro de 1969, o presidente Costa e Silva explicou, por transmis-
sões televisivas e radiofônicas, a necessidade do AI -5 para manutenção da ordem e
da segurança. E,

Quinze dias depois cassava 38 mandatos legislativos e suspendia por dez anos os direi-
tos políticos de 28 deputados federais, dois senadores e wn vereador. Determinou ainda a
aposentadoria de três ministros do Supremo Tribunal Federal e de u1n do Supremo Tri-
bunal Militar, alép1 da suspensão dos direitos políticos da diretora do matutino carioca
Correio da Manhã; dois n1eses depois assinava a cassação de mais 95 parlamentares3• .

O ano de 1969 foi um ano de

31. Zuenír Ventura, op. cit., pp.


[...] cassações em massa, rígido controle dos movimentos operários e estudantis, recru-
19-20. descirnento da censura, instituição da pena de morte e prisão perpétua para crimes poli- ,
32. Revista Visão, 11 mar. 1974, ticos e inauguração, no país, da prática de sequestros por parte de guerrilheiros urbanos.
especial "Assin1 se Passaram Dez
Anos~ p. 46. [...] As atividades culturais passaram a ser rigorosrunente vigiadas e artistas de projeção
33. idem. nacional [...] tiveram de deixar o paísn.

Não é possível precisar o número de prisões que se seguiram à decretação do 21


Ditadura Militar e
AI-5. Zuenir Ventura estima algo e1n torno de algumas centenas de pessoas efeti-
Censura a livros
vamente presas: "algumas centenas de intelectuais, estudantes, artistas, jornalistas
[.'..] recolltidos às celas do Dops, da PM e aos vários quartéis do Exército, da Mari-
nha e da Aeronáutica em todo o país"3•1•
Em 12 de dezembro de 1968, o general Jayme Portella de Mello "determinou à
Polícia Federal que se preparasse para calar as emissoras de rádio e televisão e en-
viar censores aos jornais do Rio e de São Paulo"35• Em Brasília, foi preso o jornalista
Carlos Castello Branco; 110 Rio de Janeiro, Osvaldo Peralva, diretor do jornal Cor-
reio da Manhã36, também foi preso. E1n l3 de dezembro de 1968, os encarregados da
censura invadiram jornais em vários pontos do país, inclusive as redações do Jornal
do Brasil e do Correio da Manhã, realizando uma blitz geral. As prisões da véspera
"foram atos de violência destinados muito mais a garantir o sucesso do golpe do que
a assegurar a permanência do regime''. A partir do mes1no dia 13 houve fortes inter-
venções da censura no jornal O Estado de S. Paulo e, entre 1972 e 1975, censores fo-
ram instalados diretamente na redação37; o mesmo aconteceu, durante dez anos, no
jornal Tribuna da Imprensa. A revista Veja também foi informada, em dezernbro de
1969, que, semanalmente, deveria submeter wn exemplar impresso para exame por
u1u determinado militar, que liberaria ou suspenderia a circulação daquela ediçã~.
Correlatamente à censura à imprensa, floresceu a chamada imprensa alternativa,
ou nanjca. "Os dois semanários impressos e1n papel jornal que 1nais se destacavam,
a,. Zuenir Ventura, op. cit., p. 290.
O Pasquim e Opinião [...], vendiam em torno de 100 mil exe1nplares, quase todos 35. Elio Crt\spari, A Di111d11r11 Es-
nas bancas. Era uma circulação superior às das revistas Veja e Manchete somadas"39• cn11c11rada, pp. 211-219. Idem para
a continuação do parágrafo.
Aos poucos, a presença de censores nas redações foi retirada da maioria dos 36. Menos de uni ano depois,
jornais e o co11trole passou a ser exercido mais diretamente sobre os proprietáTios em setembro de 1969, por falta
dos veículos de comunicação. de outras opções, a proprietária
do jornal, Niomar Moniz Sodré
Bittencourt, se viu forçada a ceder
A mordaça imposta à imprensa a partir de dezembro de 1968 era confusa, onipotente o controle do Jornal e arrendá-lo a
um empreiteiro.
e errática. Passada a blitz do AI-5, os censores foram dispensados, a tesoura foi instru-
:n. Jornal O Estado de S. Paulo, 31
mentalizada através de sucessivos encontros de autoridades com proprietários de empresas mar. 2004, p. HS, Caderno Espe•
jornalísticas. Criou-se, assim, u1na rotina de con1unicações entre a Censura e as empresas, cial «Março de 64~
38. Elio Gaspar!, A Ditadura
quase sempre informal, telefônica•º.
Escancnradn, p. 169.
39. Idem, p. 219.
40. Idem, p. 21$. '
Son1ente se pode dizer, no entai1to, que houve o fin1 da censura prévia à im-
41. Pery Cotta, Calnndra. O Sufoco
prensa em junho de 1978, quando os jornais Tribuna da Imprensa, O São Paulo (da da Impre11sn nos Anos de Cl11u11bo.
Arquidiocese de São Paulo) e Movimento foram finalmente liberados deste ritual~'. p. 144 .

28 Em 13 de outubro de 1978 foi promulgada pelo Congresso Nacional a Emenda


Repressão e Resistência
Constitucional n. 11, que revogava, a partir de 111 de janeiro de 1979, o At-5.
Nos dez anos de vigência do Al-5 ( de 13 de dezeo1bro de 1968 a 31 de dezem -
bro de 1978), segundo estimativas apresentadas por Zuenir Ve.o tura, 1607 cidadãos
foram atingidos diretan1ente e explicitamente por este Ato com punições - como
cassação, suspensão de direitos políticos, prisão e/ou afastamento do serviço públi-
co••. No que tange ao cerceamento da produção artística e cultural, nos dez anos de
vigência do AI-5 foram censurados, ainda segundo dados apresentados por Zuenir
Ventura, "cerca de 500 filmes, 450 peças de teatro, 200 livros, dezenas de progra-
mas de rádio, 100 revistas, mais de 500 letras de música e uma dúzia de capítulos e
sinopses de telenovelas"43 •
A censura à imprensa, durante os dez anos de vigência do Al-5, faz com que este
seja "o mais prolongado período de censura da história do Brasil independente" 44 •
Antes de assumir a presidência, en1 1974, o presidente Ernesto Geisel falara em
restabelecer a orde1n e em seu projeto de wna "lenta, gradativa e segura disten-
são"45. Mesmo assim, segw1do Thomas Skidmore, "o fin1 do período Geisel não era
de modo algwn certo":

42. Estimativa citada na matéria Quando Geisel finahnente assumiu a presidência em 1974, poucos n1embros do público,
"1-.1arço de 64 - Durante" publíca- mes1no os mais bem informados, poderiam ter previsto o desenlace [...]. Durante o primeiro
da no jorn-al O Estado de S. Paulo
ano de Geisel, a ferocidade da linha dura só se intensificou[ ...]. Embora ele não desaprovas-
em 31 1nar. 2004, p. H3. fala em
números bem maiores: "Entre se, por princípio, medidas repressivas, ele queria acabar com elas em seu próprio mandato•6 •
1964 e 1985 [... ] foram cassados -
estima-se que em torno de 3500
pessoas - exilados, presos, tortu-
Geisel, o único dos presidentes p6s-A1-5 que "não fez a pron1essa (de restaurar
rados e mortos''. as franquias democráticas), acabou com a ditadura"47.
43. Zuenir Ventura, op. cit., p. 285. Não se pode esquecer que, durante os chamados anos de ch.umbo (1969-1974),
114. Elio Gaspari, A Ditadura
Esca11carnda, p. 218. "o mais duro período da mais duradoura das ditaduras nacionais': o Br asil vivia
45. Ver Idem, p. 26. altas e inéditas taxas de crescimento econôn1ico e um regime de pleno en1prego -
45. Thomas Skidmore, "Capítulo
era o chamado Milagre Brasileiro. "O Milagre Brasileiro e os Anos de ChW11bo
de uma Queda Articulada'; O
Estado de S. Paulo, 23 oov. 2003, foram silnultâneos. Ambos reais, coexistiram negando-se:' 46 Nestes anos iniciais
p. D5. da década de 1970, entre 1970 e 1973, em que o Brasil, sob a presidência de Médici,
47 El io Gaspari, A Dillldura
viveu o clima do Brasil "grande potência" e a política do "desenvolvin1ento acele-
E11vergo11hacla, p. 35.
48. Elio Gaspnri, A Ditadura rado': o Produto Interno Bruto cresceu anualmente u,3% e o produto industrial,
Esc1111cnrada, p. 13. u,7%'19 • Essas taxas começam a decair a partir de 1974 e inicia-se um processo 'de
49_ Ver Luís C. U. Pereira, De-
se11volvh11e11to e Crise 110 Brasil.
desaceleração da economia, entre outros motivos, pelo fator exógeno do primeiro
1930-1983, p. 218. choque do petróleo de 1973.

Durante o "Milagre Brasileu·o", entretanto, como observou Elio Gaspari, "ao 29


êxito econômico não correspondeu progresso político algutn. Pelo contrário, en- Ditadura Militar e
Censura a Livros
tendeu-se que a ditadura era, se não a causa, indiscutivelmente a garantia da pros-
peridade. O controle da imprensa desempenhou um papel essencial na ca11tata
dçsse 'Brasil Grande' e na supressão dos conflitos que abrigava">º.

Autores Nacionais e Censura

A censura prévia, já anteriormente regulamentada para cinema, televisão, tea-


tro, espetáculos públicos, música e rádio, e prát ica presente em várias revistas e
jornais impressos, se expandiu para a totalidade do mercado editorial depois da
centralização do Serviço de Censura de Diversões Públicas, em Brasília.
A censw·a prévia para livros foi regulamentada pelo Decreto-lei 1077/70. Os
artigos 152 e 2 52 desse decreto estavam assiln redigidos:

Art. 1° Não serão toleradas as publicações e exteriorizações contrárias à moral e aos


bons costumes quaisquer que sejam os meios de comunicação.
Art. 22 Caberá ao Ministério da Justiça, através do Departamento de Polícia Federal
verificar, quando julgar necessário, antes da divulgação de livros e periódicos, a existência
de matéria infringente da proibição enunciada no artigo anterior.

Depois de anunciar o que deveria ser censurado, o mesmo decreto versa sobre
as sanções:

Art. 3e Verificada a existência de n1atéria ofensiva à moral e aos bons costu1nes, o Mi-
nistro da Justiça proibirá a divulgação da publicação e determinará a busca e a apreensão
de todos os seus exemplares. [... ]
Art. 5!.l A distribuição, venda ou exposição de livros e periódicos que não hajam sido li-
berados ou que tenham sido proibidos, após a verificação prevista neste Decreto-lei, sujeita
os infratores, independentemente da responsabilidade crinlinal.

A Portaria 11-B, de 6 de fevereiro, para operacionalizar o Decreto 1077/70, de-


terminava que todas as publicações deveriam ser previamente encanunhadas para '
o Ministério da Justiça para julgamento. A reação adversa de editores, escritores,
50. El io Gaspari, A Ditndura
intelectuais e associações da sociedade civil - entre elas a Associação Brasileira de Esc:a11carada, p. 210.
30 Imprensa, a Ordem dos Advogados do Brasil e a Academia Brasileira de Letras -
Repressão e Resistência
foi grande, como relata, entre outros, Antonio Costela no livro O Controle da Im-
prensa no Brasil, publicado no calor da hora, em 1970, pela Editora Vozes.

Liderando a oposição à censura prévia para livros destacaram-se Jorge Amado e
:Érico Veríssimo, líderes também de vendagens na época, que declararam publica-
mente "em nenhuma circunstância ma11daremos os originais de nossos livros aos
censores, nós preferinJos parar de publicar no Brasil e só publicar no exterior"s•.
A incisiva reação contra o estabelecimento da censura prévia para livros e pu-
blicações en1 geral levou o governo a recuar e a publicar uma nova Instrução para a
Portaria 11-B, a Instrução n. 1-70, de 24 de fevereiro, que explicita que "estão isentas
de verificação prévia as publicações e exterio1izações de caráter estritamente filo-
sófico, científico, técnico e didático, bem como as que não versarem sobre temas
referentes ao sexo, moralidade pública e bons costumes':
Foi um avanço democrático conseguido pelas forças sociais do momento a
regulamentação de que deveriam ser enviados para o exame censório apenas as
publicações que "versaren1 sobre ten1as referentes ao sexo, moralidade pública
e bons costumes': 1nas é claro, também, que os limites para decidir se um texto
enfoca ou não, engloba ou não, tangencia ou não temas de moralidade pt'.1blica,
bons cost1u11es ou sexo são bastante móveis - e essa mobilidade permitiu que re-
levantes obras - teóricas, conceituais e ficcionais - fossem alvo de rigorosos atos
, .
censor1os.
Na prática, a censw·a a livros dava-se, segundo uma descrição publicada na
.
revista Veja de 29 de dezembro de 1976, da seguinte forma:

Alguém que tenha lido um livro, autoridade ou não, e o considere atentatório à moral
ou mesmo subversivo, faz un1a denú11cia ao Ministério. Instala-se, então, um processo no
qual é dada a um assessor do ministro da Justiça a tarefa de ler a publicação e emitir pare-
cer. Com base neste, o ministro decreta ou não a apreensão. [...] A tarefa passa a seguir para
a Polícia Federal que deve providenciar o recolhin1ento dos exemplares à venda.

Apesar dos censores trabalharen1, no que tange à censura de livros, responden-


do a denúncias, de acordo com as informações da revista Veja, "as superintendên-
cias regionais da Polícia Federal costumam receber livros para censura prévia, de
editoras que temem uma apreensão posterior à publicação". '
51. Derek /ones (ed.), Ce11sorship.
A censura prévia de todos os livl'OS seria inexequível. Uma matéria da revista
A World Encyclopedia. vol. 1, p. 46. Visão de u de março de 1974 salienta esta impossibilidade técnica: "só em 1971 fo-
ram lançados no Brasil 9950 títulos novos, que exigiria.m um número incalculável 31
de censores"s•. O conjunto de pessoas atuando como censores federais passou de Ditadura Militar e
Censura a Livros
- dezesseis funcionários em 1967 para 240 ao final do regime mil.itarS3. Mesmo com
este inchaço, entretanto, a censura prévia de todo o mercado editorial brasileiro
era algo não executável. A maior parte da atividade de censura em relação a livros
dava-se, na prática, por denúncias.
Na prin1eira metade da década de 1970, no chamado "Milagre Brasileiro", a
edição de livros cresceu em número de títulos editados e também em número de
exemplares. En1 1972, o Brasil ultrapassou, pela primeira vez, a barreira de um livro
por habitante ao ano. Em 1972 a população brasileira era de 98 milhões de habitan-
tes e foram produzidos 136 milhões de livros - 1,3 livro por h abitante. Para enten-
der esse crescimento é preciso levar em conta, entre outros indicadores básicos, a
queda da taxa de analfabetismo de 39% para 29% na população com mais de cinco
anos de idade, entre os anos de 1970 e 198054•
Os dados gerais sobre a ação da censura a livros neste período são conflitantes: 52. Revista Visão, u mar. 1974,
especial "Assim se Passaram Dez
Zuenir Ventura, em 1968 - O Ano que não Terminou, indica, como citamos, que ..
Anos, p. 150.
entre 1968 e 1978 fora1n censurados duzentos livros; um levantamento realizado 53. Alexandre Stephanou, op. cit..
pela equipe de pesquisadores do Centro Cultural São Paulo e pt1blicada no primei- p. 246
54. Sandra Reunão, op. cit., pp.
ro volume do livro Cronologia das Artes em São Paulo 1975-1995 - Quadro Brasil 59-61, a partir de dados dos Anuá-
indica esses mesmos números55• rios Estáticos do Brasil e Censos
Diferentemente de Zuenir Ventura e da Cronologia das Artes, Deo11ísio da Silva, Demográficos do JBGE.
55. Cronologia das A rres em São
no livro Nos Bastidores da Censura, indica 430 livros proibidos pela censura duran- Paulo 1975-1995 - Quadro Brasil,
te o regin1e m iUtar56• vol. !, p. 41.
56. A n1esma lista também foi
Na listagem de obras censuradas apresentada por Deonísio da Silva57, cerca de
public:tda pelo autor {apenas com
98 dos títulos são de autores brasileiros. Destes 98 livros, oito são teJ...'tos teatrais a exclusão de u1n titulo) no n. 34
censurados para publicação em livro, dezenove são livros de não ficção e setenta da Revista Escrita, em um texto
denominado KOs Livros Banjdos
são textos literários. Entre os setenta textos literários referidos, cerca de sessenta pela Revolução''. Há, nesta lista-
são eróticos/pornográficos. gem, n1uitos casos e1n que não nos
foi possível identificar a nacionali-
dade do autor indicado, especial-
* mente de literanua aparentemente
Em Brasília, no subsolo do prédio do Arquivo Nacional, encontram-se docu- pornográfica. Alguns oomes.
como Lili Lamont, supomos ser
mentos do fundo da Divisão de Censura de Diversões Públicas. Em 1988, com a
pseudônimos.
promulgação da nova Constituição, que bania a censura, o serviço de censw·a foi 57. Depois de eliminados 35 títulos
desativado e sua documentação, transferida para o Arquivo Nacional. O órgão foi sem Indicação de autoria e livros
de catorze autores em relação aos
substituído pelo Departamento de Justiça e Classificação e os censores, quando
quais não nos foi possível identifi-
possível, foram aproveitados no serviço público como delegados ou peritos. car a naciooalJdade.

32 Em 1997, Inimá Simões, pesquisando documentos sobre censura no cinema,


Repressão e Resistência
assim registrou suas impressões sobre o tamanho do arquivo:

[...] me deparei com milhares de processos registrando a passagem de filmes brasileiros


e estrangeiros pela Censura Federal [...). O primeiro passo a considerar foi o tamanho da
empreitada [... ]. Restou a opção de estabelecer um recorte de material e trabalhar em un1
esquema de amostragems8•

Esse trabalho de Inimá Simões, que delimitou seu foco em alguns processos de
censura de filmes, foi publicado em 1998 pelas editoras Senac e Terceiro Nome com
o título Roteiro da Intolerância. A Censura Cinematográfica no Brasil.
A pesquisadora Leonor Souza Pinto, coordenadora de un1 grupo de pesquisas
que analisa e constrói um banco de dados sobre pareceres de censores em relação
a obras cinen1atográficas (disponível no endereço eletrônico W\-VW.memoriacinebr.
com.br), ta1nbém decidiu trabalhar, por amostra intencional, com um universo
de 175 processos relacionados a filmes. No fundo DCDP há pastas sobre filmes que
contêm mais de trinta documentos: roteiros, certificados de censura, autorizações
para exibições especiais, con1unicados de indeferimento de pedidos de exibição na
televisão, entre outros.
A preservação e orgaitização do arquivo com os docwnentos da extinta DCDP
estão, desde 1988, a cargo de três funcionários que se incwnbiram pessoalmente da
transferência, manutenção e catalogação do material.
Quando a DCDP foi desativada é possível, claro, que muitos documentos te-
nham sido elitninados, extraviados ou perdidos. Inimá Sitnões, na apresentação
de seu Uvro sobre censura cinematográfica, assinala: "Compulsando os processos,
percebe-se que páginas foram arrancadas, ofícios subtraídos e, de vários filmes,
não ficou nenhum sinal de sua passagem, apesar da interdição oficial''. Mesmo as-
sin1, trata-se de um acervo muito grande e de enorme valor histórico.
No que tange ao material dos processos de censura prévia em relação a pu-
blicações (livros e revistas), o universo dos documentos é bastante pequeno se
comparado com o n1aterial referente a obras cinematográficas e teatrais. Segundo
levantamento realizado pelos próprios ft1ncionários do Arquivo, há r egistros de
cerca de 490 livros e 97 revistas que foram submetidos à DCDP, assim distribuídos
(tabela elaborada a partir da listagem retratando a situação do fundo em dezembro
de 2010):
58. lnin1á Simões, Roteiro da
Intoleráncia, p. 13


_, #

FUNDO DCDP, SEÇAO CENSURA PREVIA, SERIE PUBLICAÇOES


, -
33
Ditadura Militar e
Ano Livros Livros vetados Revistas Revistas vetadas Censura a Livros
submetidos Número Porcentagem submetidas Número Porcentagem
1970 25 5 1 1 *
1971 6
1972 16 2 12,5% 5 3 *
1973 11 4 36,3% 1

1974 20 1 55% 2 2 *
1975 132 109 82% 15 3 20%
1976 100 61 61% 42 3
1977 49 30 61% 11 4
1978 84 62 73% 8 2

1979 47 38 80% 2 1 *
1980 4 4
1981 1 1 2 1 *
1982 1 3 3
1988 1

• não calculan10s o percentual devido ao reduzido tamanho do universo.

Em qualquer afirmação sobre esses dados, não podemos esquecer que se trata
da documentação preservada e que não sabemos a que percentual do total origi-
nalmente existente essa documentação corresponde. Dentro desse universo de 492
livros examinados pela censura, eliminando aqueles de que não consta autoria e os
que figuram como sendo de autores cuja nacionalidade não conseguimos identifi-
car (dezesseis), cerca de 140 são de autores nacionais; destes, setenta foram vetados,
sendo que sessenta deles podem ser classificados como eróticos/pornográficos.
(Os números são sempre aproximados, pois há livros que foram apresentados mais
de uma vez e há livros que foram apresentados com nomes diferentes.)

Teatro em Livros

Em 1970, o Serviço Nacional de Teatro encaminhou à censura dezenove textos


de peças teatrais de dran1aturgos brasileiros que seriam publicados em formato de
livro. Desses, quatro foram vetados: Pavana para um Macaco Defunto, de Antônio

34 Galvão Naclério Novaes; Papa Highirte, de Oduvaldo Vianna Filho; O Sótão e o Rés
Repressão e Resistência
do Chão ou Soninha toda Pura, de José Ildemar Ferreira; e A Farsa do Bode Expía-
tório, de Luiz Maranhão Filho (a documentação desses processos encontra-se no
Arquivo Nacional).
De acordo com o levantamento realizado por Deonísio da Silva, oito outros tex-
tos teatrais de autores brasileiros tiveram sua publicação em livro censurada: lv!aria
da Ponte, de Guilherme Figuereido; Rasga Coração, de Oduvaldo Vianna Filho;
Canteiro de Obras e O Belo Burguês, de Pedro Porfírio; Quarto de Empregada, de
Roberto Freire; Abajur Lilás e Barre/a, de Plínio Marcos; e Lei é Lei e Está Acabado,
de Nazareno Tourinho. Note-se que, aqui, estamos destacando apenas a publicação
en1 livro de peças teatrais, diferente de sua encenação.
Quanto à encenação, o mecanis1no de funcionamento da censura era de outra
ordem. Apenas em 1965 foram proibidas as encenações de: O Berço do Herói, de
Dias Gon1es, Brasil Pede Passagem, espetáculo com textos de Castro Alves e Sérgio
Porto, Berço Esplêndido, de Sérgio Porto, e 1nais três peças estrangeiras, de Gorki,
Brecht e Feideau, depois liberadass9.
A peça O Berço do Herói, de Dias Gomes, escrita em 1963, teve uma trajetória
complexa. Sua encenação foi proibida pela Censura Federal em 1965, ao mesmo
tempo en1 que a publicação em livro alcançou sucesso de vendas. Em sete1nbro de
1965, Nelson ,,Vemeck Sodré escrevelt: "O Berço do Herói, que foi proibida pela cen-
sura no teatro [...] em livro, afirma-se como best-seller, e Dias Gomes recebe essa
consagração e mais a da reprise de sua peça O Pagador de Prome~sas. Vejam-na ou
revejam-na: é muito oportuna [...]"60 •
Dez anos depois, em 1975, Dias Gomes adaptou o enredo básico de O Berço
do Herói para telenovela sob o título Roque Santeiro. Naquele ano, já com 36 capí-
tulos gravados, Roque Santeiro teve sua trans1nissão censurada no dia da estreia.
No livro Dicionário da Globo, esclarece-se: "O veto foi estabelecido depois que a
Delegacia de Ordem Política e Social (Dops) descobriu que Dias Gomes estava
adaptando u.m texto teatral de sua autoria, escrito em 1963, O Berço do Herói, proi-
bido pela Censura Federal"61• No programa Globo Repórter 40 Anos de Telenovela,
59. Revista Visão, 11 mar. 1974, transmitido pela Rede Globo en1 1991, Dias Gomes relatou que havia contado para
especial "Assim se Passnram Dez
A nos", p. 143.
Nelson Werneck Sodré, por telefone, que Roque Santeiro era uma adaptação de O
60. Nelson Werneck Sodré, "Mo- Berço do Herói e que apenas depois soube que o telefone de Nelson Werneck Sodré
1ncnto Literário'; l,lcvista Civiliza- estava "grampeado''. '
çifo Brasileira, n. 4, p. 181.
61. Dicionário da Globo, vol. 1, Em 1985, a mes1na telenovela voltou a ser produzida e obteve enorme sucesso
p. 142. de audiência. Entre junho de 1985 e fevereiro de 1986 a telenovela Roque Santeiro

"contaminou o país" e "o Brasil se reuniu mais uma vez em frente à televisão"6' . Nes- 35
Ditadura Militar e
ta segunda versão televisiva Aguinaldo Silva atuou como coautor de Dias Gomes.
Censura a Livros
José Wtlker fazia o papel-título, Regina Duarte interpretava o papel da protagonis-
ta feminina, viúva Porcina, e Lima Duarte, como sinhozü1ho Malta, completava o
triângulo. Na versão televisiva de 1975, que não foi ao ar, o papel de viúva Porcina
era interpretado por Betty Faria e Francisco Cuoco interpretava Roque Santeiro.
En1 casos como este, em que há uma interdição para exibições públicas mas o
livro está publicado, ocorre um fenômeno curioso: algo "que não pode ser visto por
plateias adultas pagando ingressos, está ao alcance de qualquer pessoa que saiba
ler"63 • Casos similares ocorreram com os filJnes Macunaíma, São Bernardo e Toda
Nudez Será Castigada. Macunaíma, de 1969, filme de Joaquim Pedro baseado no
livro de Mário de Andrade, foi liberado co1n quatro cortes depois de 1nuita nego-
ciação com a censura. São Bernardo, de 1972, dirigido por Leon Hirzman, estreou
apenas um ano e meio depois de pronto, em razão de embates com os poderes
censórios. Toda Nudez Será Castigada, de 1972, baseado em Nelson Rodrigues e di-
rigido por Arnaldo Jabor, foi liberado com cortes, depois de interditado, por conta
da pressão por ter recebido prêmios em festivais internacionais 64 • O filn1e Dona
Flor e Seus Dois Ma1idos, baseado na obra de Jorge Amado e dirigido por Bruno
Barreto, que foi visto por onze milhões de espectadores nos cinemas brasileiros,
passou pratícamente incólun1e pela censura depois da indicação de alguns cortes,
graças à amizade entre o produtor Luíz Carlos Barreto e o censor Coriolano de
Loyola Fagw1des65•
Outro caso de ações censoras diversas para diferentes meios de con1unicação
ocorreu em 1973 em relação à peça Calabar, de Chico Buarque de Hollanda e Ruy
Guerra. O texto foi liberado pela censura prévia para publicação em livro, porém a
encenação foi censurada e o disco teve que alterar a capa prevista. Chico Buarque,
no ovo Bastidores, de 2005, relembra assim o episódio: 62. Ismael Fernandes, op. cit., pp.
308-310.

A peça foi aprovada [...] n1ontamos o espetáculo e aí a cenStlra que teria que aprovar 63. Com alterações no tempo
verbal, esta cítação foi extraída de
a 1nontagem, não foi aprovar. Aquilo ficou 111uito esquisito. Por que aí os jornais eran1 Ruy Castro, op. cit., p. 197. O autor
proibidos de noticiar a proibição e as pessoas chegavam na bilheteria e não entendiam [...] está se referindo à publicação, cm
livro, da peça A/bum de F11n1i/í11.
e já tinha os cartazes preparados "leia o livro, assista a peça, compre o disco Calabar''. [...]
Mas esta ambiguidade pode ser
O livro foi liberado (... ] o espetáculo simplesmente deixou de existir[...] e o disco [...] saiu generalizada para muitos outros
com uma capa branca [...] e ficou sendo Chíco Canta. casos análogos. ,
64. Ver lnuná Simões, op. cit., pp.
132., 155 e 181.
65. Ver idem, pp. 187-188.
36 Livros não Ficcionais
Repressão e Resistência

No acervo de documentos do fundo da Divisão de Censura de Diversões Pú-


blicas encontran1-se os processos responsáveis pelo veto a dois livros de não ficção
de autores brasileiros: Programa de Saúde: Projetos e Temas de Higiene e Saúde, de
Lídia Rosenberg Aratangy e outros, publicado pela Companhia Editora Nacional e
vetado em 1978; e Basta Bastardos, de Helio de Almeida, vetado em 1970 - os origi-
nais deste texto foram encaminhados para verificação censória pelo próprio autor
e fogem totalmente ao perfil dos livros aqui enfocados, pois, entre outros, o texto
apresenta "perigoso caráter de antissemitismo, absolutamente insustentável ante as
leis do País': como assinala o parecer que subsidiou o veto.
Deonísio da Silva lista ainda outros textos não ficcionais de autores brasileiros
censurados entre 1968 e 1978: O Poder Jovem: Hist6ria da Participação Política dos
Estudantes Brasileiros, de Arthur José Poerner; O Mundo do Socialismo e A Revo-
lução Brasileira, de Caio Prado Jr.; A Universidade Necessária, de Darcy Ribeiro;
Contradições Urbanas e Movimentos Sociais, de José Álvaro Moisés e outros; Classes
Médias e Política no Brasil e Movimento Estudantil e Consciência Social na América
Latina, de J. A. Guilhon Albuquerque; América Latina: Ensaios de Interpretação
Econômica, com textos de diversos autores e coordenado por" José Serra; O Des-
pertar da Revolução Brasileira. e Torturas e Torturados, de Márcio Moreira Alves;
Dicionário do Palavrão e Termos Afins, de Mário Souto Maior; Hist6ria Militar do
Brasil, de Nelson Werneck Sodré; Memórias: A Verdade de um Revolucionário,
. de
Olympio Mourão Filho; A Automação e o Futuro do Homem e A Mulher na Cons-
trução do Mundo Futuro, de Rose Marie Muraro; Autoritarismo e Dernocratização,
de Fernando Henrique Cardoso; O Gênio Nacional da História do Brasil, de Ro-
berto Sisson; EUA: Civilização Empacotada, de Mauro Almeida; e A Ditadura dos
Carteis, de Kurt Rudolf Mirow.
O livro 113 Dias de Angústia - Impedimento e Morte de um Presidente, que retra-
ta a doença e a morte do presidente Costa e Silva em 1969, escrito pelo jornalista
Carlos Chagas, que à época trabalhava como secretário de Imprensa da Presidên-
cia da República, foi publicado em 1970 pela editora Agência Jornalística Imagem
e ficou proibido por muitos anos pela Censura66 •
66. Este livro não consta do le- Pelos temas dos livros censurados percebe-se que a DCDP fazia a expressão "te..x-
,
vantan1cnto de Deoo[sio da SI lva. tos que versem sobre sexo, n1oralidade pública e bons costwnes" ter uma abran-
Extraímos a informação de Elio
Gaspari, A Ditadura E.sca11cnrnda, gência bastante ampla e atu1gir praticamente tudo que não fosse do interesse do
p. 105. poder divulgar.
31
ALAIN TOURAINE J. A. Guilhon Albuquerque Ditadura Militar e
BRAZ J. ARAÚJO
FERNANOO HENRIQUE CARDOSO
Censura a livros
GILBERTG VELHO
J. A. GUILHON ALBUQUERQUE
M. /1;. SALVO COIMBRA
MOVIMENTO
~~i~~~~ ESTUDANTIL
E
~~i~i~ CONSCIENCIA
SOCIAL
~ IT>®lliD1fíl@ill
BIIBIII~
NA
J. A. GUILHON ALBUQUERQUE,
Coordenador AMÉRICA LATINA
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PAZ E TE.ARA

I.C1)1A RO.~ ~N8f:!H(; 1\H, \T.\S,,,,:( ~Y


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'

C:Ol'-,1l~'\.°'<I II A 8Ul 'f0R, \ N t\C'IO:-IAJ.


38
Repressão e Resistência
39
EDITôRA BRASILIENSE Ditadura Militar e
Censura a Livros

Caio Prado Jr.


2.0 EDIÇ.i\O

'

40
Repressão e Resistência

41
Ditadura Militar e
Censura a Livros

'
42
Repressão e Resistência


43
Ditadura Militar e
Censura a Livros

--
E O FUTURO DO HOMEM
ROSE MARIE MURARO COLEÇÃO PRESENÇA DO FUTURO / 2 VOZES

'
44
Repressão e Resistência

O DESPERTAR

-
D A REVOLUy.....-..'AO
BRASILEIRA
MÁRCIO MOREIRA ALVES

'

colecção de leste a oeste st


I
45
Ditadura Militar e
Censura a livros

Mareio Moreira Alves 2.ª EDIÇAO


.

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46
Repressão e Resistência

41
General Ditadura Militar e
Censura a Livros
OLYMPIO MOURÃO FILHO
MEMÓRIAS:
AVERDADE
DEUM
REVOLUCIONÁRIO

apresentação
e arquivo de
HÉLIO SILVA
2a. e dicão

JOSE Al VARO MOISES


VEAEf\:A MARTi0!EZ•ALIER
FRANCISCO DE OLIVEIRA
SERGIQ OE SOGZA

A UNIVERSIDADE
,
NECESSARIA

'
CO-EOiÇÔfS.'
2~ edição CEDECIPAZ E TERRA1

48
Repressão e Resistência
49
Ditadura Militar e
Censura a livros

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gen.10
nac1ona
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Flistori
do
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rober o sisson '


50
Repressão e Resistência

l<URT RUDOLF MIROW


A DITADUR~
'
DOS
CARTEIS
<Anatomia de um subdesenvolvimento>

-

. 51
0 itadura Militar e
Censura a Livros

'
52 Livros Erótjcos/Pornográficos
Repressão e Resistência

Nos arquivos do fundo da DCDP encontram-se indicações de setenta Uvros


eróticos/pornográficos de autores brasileiros vetados entre 1968 e 1978; o livro de
Deonísio da Silva, Nos Bastidores da Censura, apresenta 69 títulos com esse perfil;
comparando-se as duas listagens e excluindo-se as repetições, resulta que cerca de
cem livros eróticos/pornográficos de autor nacional foram censurados na década
de 1970. Entre esses, dezoito são de autoria de Cassandra Rios, treze de Adelaide
Carrarro, 22 são assinados por Dr. G. Pop, dezessete por Brigitte Bijou e seis por
Márcia Fagundes Varella.
Os últimos três nomes Ustados, ao que tudo indica, são pseudônimos: Brigitte
Bijou era o pseudônimo literário de Silvino Neto; nos livros de G. Pop percebe-se
claramente tratar-se de pseudônimo - assim, por exemplo, em Kuhla, a Boneca,
obra publicada pela Editora L. Oren em 1974, lê-se "o nome Francisco Stoppa é
fictício, mas os outros, com diferenças ao do autor, são reais"; pela dificuldade de
localizar-se qualquer dado sobre Márcia Fagi1ndes Varella, além de seus livros, su-
pomos também se tratar de pseudônimo.
Adelaide Carraro e Cassandra Rios foram, nos ru1os de 1960 e 1970, campeãs de
vendage1n. Seus livros, considerados eróticos ou francamente pornográficos, eram
lidos, às escondidas, por adolescentes e adultos. Eram livros "fortes" que mistura-
vam política, "negociatas" e sexo, muito sexo. E como tais eram lidos.
Os livros de Adelaide Carraro proibidos pela censura foram: Ca.rniça; O Castra-
do; O Comitê; De Prostituta a Primeira Darna; A Escuridão; Falência das Elites; Os
Padres Também Amam; Podridão; Sexo em Troca de Fama; Submundo da Socieda-
de; A Verdadeira História de um Assassino; Mulher Livre e Os Amantes.
De Cassandra Rios, por sua vez, os livros censurados foram: A Borboleta Bran-
ca; Breve História de Fábia; Copacabana Posto Seis; Georgette; Maçaria; Marcel/a;
Uma Mulher Diferente; Nicoleta Ninfeta; A Sarjeta; As Serpentes e a Flor; Tara; Tes-
sa, a Gata; As Traças; Veneno; Volúpia do Pecado; A Paranóica e O Prazer de Pecar.
Os livros de Brigitte Bijou, Dr. G. Pop e Márcia Fagtindes Varella censurados
ostentavam títulos como: Astúcia Sexual, Cidinha a Insaciável, Graziela Amava e...
Matava, Clube dos Prazeres, O Padre Fogoso de Boulange ou Noviça Erótica.
Apesar de Adelaide Carraro afirmar que seus livros tratavam de temas políticos,
'
questões sociais e políticas aparecem apenas como problemas secundários.

53
Ditadura MIiitar e
Censura a Livros

'
Romances, Contos, Poesia 55
Ditadura Militar e
Censura a Livros
Além dos textos teatrais já abordados e das obras eróticas/pornográficas, outras
obras de ficção de autores nacionais foram censuradas durante a ditadura militar bra-
sileira. Segundo a listagem do acervo da DCDP e o citado levantamento de Deonísio
da Silva, foram elas: Quatro Contos de Pavor e Alguns Poemas Desesperados, de AIvaro
Alves de Faria; Dez Histórias Imorais, de Aguinaldo Silva; Meu Companheiro Querido,
de Alex Polari; Zero - Romance Pré-histórico, de Ignácio de Loyola Brandão; Em Câma-
ra Lenta, de Renato Tapajós; Aracelli, Meu Amor, de José Louzeiro; Feliz Ano Novo, de
Rubem Fonseca; Diários de André, de Brasigóis Felício, e os contos "Mister Curitibâ: de
Dalton Trevisan, e "O Cobrador': de Rubem Fonseca68 •
O livro Quatro Cantos de Pavor e Alguns Poemas Desesperados, de Alva.ro Alves
de Faria, percorreu um trajeto editorial bastante curioso: em 1973 o autor enca-
minhou, por iniciativa própria, os originais do livro para a Divisão de Censura de
Diversões Públicas. O texto foi examinado e recebeu um parecer indicativo de veto.
O autor não foi informado desse parecer pois, como a u1iciativa de envio havia sido
dele mesmo, a ocoP aguardou que viesse buscar o resultado 69. Concomitantemen-
te ao processo, e sem conhecimento do parecer, no entanto, o livro foi editado pela
editora Alfa-Ómega, também em 1973, co1n uma tiragem de quinhentos exempla-
res. A seguir, houve ainda wna segunda edição.
O veto à obra de José Louzeiro, Aracelli, Meu Amor, pelo Ministério da Justiça,
é um caso n1uito específico. O livro relata um episódio real: o estupro e o assassi-
nato da menina de nove anos Aracelli Cabrera Crespo por três jovens de famílias Si. O conto "Rebelião dos Mor-
tos•: de luíz Fernando Emediato,
da elite de Vitória, Espírito Santo. Apesar de se tratar de um relato ficcional, o texto
aparece na listagem de Deonísio
utiliza os nomes dos acusados. As familias dos acusados manifestaram-se juridica- Sílva. No caso, não se tratou de
mente contra o fato e o Ministério da Justiça suspendeu a publicação e a circulação censura pela DCDP e sim pela or-
ganização do Concurso de Litera-
do livro por algum tempo enquanto o processo transcorria, mas, mesmo assim, tura da Cidade de Belo Horizonte
houve nova edição mesmo antes do fim do processo70 • de 1976, que premiou o texto e
Os contos "Mister Curitiba': de Dalton Trevisan, e "O Cobrador': de Rubem depois retirou a premlação e não
o publicou. Ver a "introdução" de
Fonseca, foram vetados previamente pela DCDP quando venceram concursos de Luiz Ruffato em Luiz Fernando
contos da revista Status em 1976 e 1978, respectivamente. A revista Status, assim Emediato, Trevas 110 Parafso, p. 12.
como as revistas Inéditos (revista mineira de cultura e literatura), Paralelo (de Porto 69. Ofício n. 511/73 - oCDP: Pro-
cesso n. 57308/73 e despacho no
Alegre), Homem (hoje Playboy), Ele e Ela, Nova e Pais e Filhos7' estavam entre aque- mesmo processo em 28 maio 1976.
las que, a cada edição, deveriam remeter os originais previamente à DCDP. 10. Ver Laurencc Hallewell,' O
Livro 110 Brasil, p. 593.
Alex Polari consta na listagem de Deonísio da Silva como tendo seu texto Meu 71. Ver Paolo Marconi, op. cit.,
Companheiro Querido censurado. Nas listagens de livros examinados pela DCDP, p. 61.
56 no entanto, não localizamos referências ao autor. Alex Polari, militante de um mo-
Repressão e Resistência
vimento armado de esquerda, foi preso en1 n1aio de 1971; quando seu primeiro
livro, Inventário de Cicatrizes, foi lançado em 1978, ele ainda estava preso, condena-
do à prisão perpétua. Na quarta capa da obra, editada pelo Comitê Brasileiro pela
Anistia em conjunto com o Teatro Ruth Escobar, lê-se:

Como preso político, juntan1ente con1 seus companheiros, tem participado de todas as
lutas de sobrevivência, denúncia e resistência que os militantes políticos são obrigados a
travar nos cárceres, principaln1ente depois de 1968. Se as poesias de Alex ainda não toma-
ram a forma unitária de um livro - conforme acontece hoje - elas já foram objeto de ampla
divulgação dentro e fora do país. Diversas delas foram publicadas e distribuídas por ocasião
das manifestações estudantis de 76 e 77.

Não consegui.mos localizar precisamente a que poema a listagem se refere,


nem as circunstâncias do veto. Em 1979, em virtude da Lei da Anistia, Alex Polari
foi solto e publicou seu segundo livro, Camarim de Prisioneiro.
Os livros Dez Histórias Imorais, de Aguinaldo Silva (Editora Record, 2. ed., 1969);
Diários de André, de Brasigóis Feücio (Editora Oriente, 1974, vetado em 1976); Zero
- Romance Pré-histórico, de Ignácio de Loyola Brandão (Editoras Rio/Brasília,
1976); Feliz Ano Novo, de Rubem Fonseca (Editora Artenova, 1976); e Em Câmara
Lenta, de Renato Tapajós (Editora Alfa-Ômega, 1977), foram publicados, distribuí-
dos, comercializados e, meses ou anos depois, examinados pela DCDP, cujo parecer,
.
na maioria dos casos, tornou-se base do decreto de proibição e apreensão assinado
pelo ministro da Justiça, con1 a formulação: "proíbo a publicação e circulação em
todo o território nacional [... ] bem como determino a apreensão de todos os seus
exemplares expostos à venda, por exteriorizarem matéria contrária à moral e aos
bons costumes''.
Não poden1os esquecer, como já observamos anteriormente, que o exame pela
DCDP de livros já editados ocorria em razão de solicitações as mais variadas, feitas
por qualquer pessoa "que tenha lido um liVTO, autoridade ou não, e o considere
atentatório à moral ou mesmo subversivo''.
No arquivo de documentos da DCDP encontram-se os processos e os pareceres
sobre Quatro Cantos de Pavor e Alguns Poemas Desesperados, Dez Histórias Imo-
rais, Diários de André e Feliz Ano Novo. '

*
57
Ditadura Militar e
Censura a Livros

'
2! edição

58
Repressão e Resistência

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BRASIGOIS FELICIO
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JOSE LOUZEIRO Ditadura Militar e


Censura a Livros

'

60 Apesar de a temática sexual estar bastante presente nas obras ficcionais cen-
Repressão e Resistência
suradas pela ditadura militar7\ elas não podem ser classificadas con10 eróticas ou
pornográficas.
O traço que parece mais evidente entre essas obras literárias é a filiação a uma
certa literatura da violência: violência física e psicológica das prisões e da tortura, a
impunidade dos criminosos como mecanismo propulsor da violência, a violência
ensandecida e sem rumo dos marginalizados e excluídos - violências essas que o
regime militar propiciara e se esforçava por ocultar.

Cultura, Livros e Censura - Uma Observação Geral

Os dados quantitativos gerais sobre censura a livros calculados a partir dos do-
cumentos disponíveis no acervo preservado da DCDP listados anteriormente indi-
cam que a atividade censória, nesse setor, foi 1uais rígida entre 1975 e 1980, período
em que mais de 50% dos livros submetidos foram vetados, enquanto entre 1970 e
1973 o percentual ficava muito abaixo desse número.
A censura a livros durante a ditadura militar, portanto, teve uma atuação mais
forte não nos chamados Anos de Chumbo (1968-1972), mas durante o governo
Geisel (março de 1974 a março de 1979), e especialmente no final desse governo -
que, apesar dos momentos de retrocesso, foi aquele em que se iniciou o processo
de abertura política lenta e gradativa. A censura a livros por pa,rte da Divisão de
Censura de Diversões Públicas aumentou quando a maioria dos jornais e revistas
estava sendo liberada da presença da censura prévia nas redações.
Pode-se dizer que a censura a livros durante a ditadura nulitar apresenta wna
dinâmica similar à de outros setores das diversões públicas: dados da DCDP indicam
12. "Uma leitura superficial desta
que também o teatro e o cinema foram mais vetados durante o governo Geisel73 •
obra pode tachá-la de erótica e
pornográficá; afirmou Affonso Três hipóteses podem explicar a diferença da repressão censória relativa a jor-
Romano de Sant'Anna sobre Feliz nais e revistas e aquela relativa às diversões públicas.
Ano Novo, de Rubem Fonseca,
antes de a obra ser censurada. Ver A primeira hipótese seria a de que a ocoP teria, grosso modo, wn escopo cen-
Deonísio da Silva, Nos Bastidores sório mais moral e menos político, e essa censura moral, nas palavras de Carlos
dn Censura, p. 29.
Fico, "obedecia a outros ditames, embora não tenha ficado imune às peculiaridades
73. Cactos Fico, '"Prezada Cen•
sura': Cartas ao Regime Militar·: do regime militar. Ela dizia respeito a antigas e renovadas preocupações de ordem
p. 2 2 (a paginação corresponde moral, n1uito especialmente vinculadas às classes médias urbanas"71 • '
à versão do artigo dispon fve.l
A segunda hipótese para se entender a grande atividade censória da DCDP em
011/i11e).
14. Idem, ibidem. relação a livros, teatro, cinema e televisão após a posse de Geisel, e especialmente

nos dois últimos anos de seu governo, é a de que a própria DCDP, percebendo a 61
possibilidade do fim das atividades censórias, buscou mostrar-se como necessária Ditadura Militar e
Censura a Livros
ao sistema.
Essa segunda hipótese pode ser reforçada pelo fato, citado por Gaspari, de que
em junho de 1974 a Censura proibiu que se publicasse "a declaração de un1 deputa-
do contando que Golbery lhe disse, durante uma audiência, que se vai acabar com
a censura"75.
Uma terceira hipótese, de certa forma correlacionada à segunda, seria a de que,
nos Anos de Chumbo (1968-1972), artistas e intelectuais exerciam a autocensura,
conscien tes do rigor da atividade censória que, durante o governo Médici (1969-
1974), "ficou prioritariamente em mãos dos militares da 'linha-dura"'76, evitando
produzir obras que pudesse1n ser censuradas. Como observou Bernardo Kucinsk.i,
a existência de um.a censura rigorosa "induz ao exercício generalizado da autocen-
surá'77. A autocenstua explicaria o índice proporcionalmente menor - em relação
ao total examinado - de livros, peças de teatro e filmes censurados durante os Anos
de Chumbo.

*
A Constituição de 1988 estabeleceu, na área cultural, o fim da censura às artes e
aos meios de comun icação. Os livros que ainda não tinham sido liberados foram-no
automaticamente78, uma vez que, de acordo com o inciso 1x do artigo 52 da Consti-
tuição de 1988, "é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de
75. Elio Gaspari, A Ditadura
comunicação, independentemente de censura ou lícençá'; no mesmo sentido, no Encurralada, p. 488
parágrafo 2 11 do artigo 220, no capítulo reservado à comunicação social, afirma-se: 76. Maria Aparecida de Aquino,
"Mortos sem Sepultura~ in Ma-
"é vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística''. ria Luiza Tucci Carneiro (org),
lvlinorias Silenciadas. História da
Censura no Brasil, p. 530.
n. Bernardo Kucinski, "A Primei-
ra Vítima: A Autocensura durante
o Reglmc Militar'; in Maria Lui1..a
Tucci Carneiro (org.), op. cit.,
p. 536.
18. Feliz A 110 Novo, de Rubem
Fonseca, entretanto, por un1a
questão de inst:incia jurídica do
recurso impetrado pelo autt>r,
ainda demorou algum tempo
para ser liberado. Ver Deonísio da
Silva, Nos Bastidores da Censura,
p. 46.
rnmo~ [•mrnm~
rn~m~oornmrnm~ 8 ~~[□~
mmm mmmm ~ ~~rnm
O país da Arcádia súbito, escurece,
em nuvem de lágrimas.
Acabou-se a alegre pastoral dourada:
pelas nuvens baixas,
a tormenta cresce.

Cecília Meireles, "Romance XX


ou Do País da Arcádia",
Romanceiro da Inconfidência

'

m 17 de dezembro de 1976, uma sexta feira, saiu impresso no Diário Oficial


da União um despacho do ministro da Justiça Armando Falcão que, seguin-
do o modelo padrão, apresentava o seguinte texto:

Proc. MJ-74.310-76 - Nos termos do parágrafo so. do artigo 158 da Constituição Federal
e artigo 3si do Decreto-lei n. 1.077, de 26 de janeiro de 1970, proíbo a publicação e a circu-
lação, em todo território nacional do livro Feliz Ano Novo, de autoria de Ruben1 Fonseca,
publicado pela Editora Artenova S.A., Rio de Janeiro bem como determino a apreensão de
todos os seus exemplares expostos à venda, por exteriorizarem matéria contrária à moral
e aos bons costumes. Comunique-se ao DPF. Publique-se. Brasília, 15 de dezembro de 1976.

A censura a Feliz Ano Novo deu-se cerca de um mês depois da censura de Zero,
de Ignácio de Loyola Brandão. Essas obras fazem parte de um conjunto de livros de
literatura de ficção de autores brasileiros publicados em 1975 e 1976 que se torna-
ram referências para o período. Nesses anos, foram lançados também, entre outros: '
Lavoura Arcaica, de Raduan Nassar; Leão de Chácara, de João Antonio; A Festa, de
Ivan Ângelo; Quatro Olhos, de Renato Pompeu; e A flha, de Fernando Morais. Esse

65

66
Repressão e Resistência
Dezembro de 1976
N" 8401-B
Proe. MJ-7•.a10-18 - No. •~rmoa
do ·parágrafo S- do -artigo 153 d• CoM-
tltu1ç!io Fedetal e artigo s- do Do-
C?ttc-1&1 n• 1.077. de 28 de Janeiro !!e
1870, prolõo a pubUcação e cl:rculaç4o,
em todo o t<>.nltórlo nacional, do livro
Lntltul1uio "Feliz Ano 'Novo", de .v1-
t.orb, de Rubem Fonseca, publicado
pel& Editora Artenov& s. A., Rio de
Janeiro bem como determlno a apre-
!eruão e!~ todos 0& seua exemplarea ex-
lpostca à vendai p0r · eitterlorh-.~re_r,,,
maté.-f& contrár a à moral e aos bon's
costumes.
Comunique-~ ao DPP.
Publi(lue-1&.
Brasllla. 15 de dezembro de 197~.
- A-rmando Falcão, M!nl3tro da J~-
t!Ç4, .
Diário Oficial, 17 dez. 1976, p. 16435.

grupo de textos abrange narrativas das mais diferentes feições: da proximidade


do relato jornalístico ao experimentalismo, passando por narrativas alegóricas e
pela busca de entendimento e exploração de novas formas de comportamento e de
visões alternativas do real e do mundo. En1 que pese essa diversidade, no entanto,
todos têm em comum um forte vínculo com o Brasil do momento: todos se pro-
põem a analisar, opinar, intervir, atuar frente à realidade imediata do país de então.
Na década de 1970, por inú1neros fatores - entre os quais o fato de o livro lite-
rário depender menos do investimento estatal e ser pouco visado pela censura -,
a literatura tornou-se um centro de atenções e inscreveu-se "significativan1ente na
atualidade do debate cultural"'.
1. Heloisa Buarque de Hollanda
e Marcos Augusto Gonçalves, Nesse sentido, pode-se dizer que o campo artístico-cultural articulou-se, no
"Politica e Literatura: A Ficção da Brasil da década de 1970, de forma diversa à da década anterior. Na década de 1960,
Realidade Brasileira'; in Heloisa
o mais representativo da produção cultural, as manifestações capazes de represen-
Buarque de Hollanda, Marcos
Augusto Gonçalves e Armando tar e refletir os debates de então, se davam nos "gêneros públicos, de teatro, afiches,
Freitas, Anos 70. Vol. 2 - Litera- música popular, cinema e jornalisn10, que transformavam este clima em comício
tura, p. 98 (ver também p. u3).
Há uma nova ed ição desse livro,
e festa, enquanto a literatura propriamente saía do primeiro plano: como obser-
publícada em 2005 pelas Editoras vou Roberto Schwarz no artigo "Cultura e Política - 1964-1969"2 • Já na década de
Aeroplano e Senac Rio. 1970, o eixo desloca-se para a literatura, que "expressa, nas opções de linguagem,
2. Roberto Schw:in:, "Cultura e
Polltica - 1964-1969 ~ in Pai de produção e mercado, sintomas significativos de um debate vivo dentro do campo
Fanu1ia e Outros Estudos, p. 80. cultural''3• '
3. Heloisa Buarque de Hollanda
Os textos literários vindos a lume em meados da década de 1970 fizeram parte
e Marcos Augusto Gonçalves, op.
cit., p. 10. de uma segunda leva da narrativa ficcional da década, enquanto Incidente em An-

tares, de Érico Veríssimo, de 1971, e Bar Dom Juan, de Antonio Callado, do mesmo 61
ano, seriam os carros-chefes de uma primeira leva, publicada logo após a decreta- Dois Livros Censurados:
Feliz Ano Novo e Zero
ção do Ato Institucional n. 5 - essa primeira leva pode ser claramente vinculada ao
horizonte temático de uma possível revolução social no Brasil.
)

Feliz Ano Novo

Feliz Ano Novo foi publicado em 1975 pela Editora Artenova, empresa carioca
fundada doze anos antes, em 1963, por Alvaro Pacheco. Em meados dos anos 1970,
publicava cerca de quinze títulos novos por mês. Até o final de 1976, Feliz Ano Novo
tinha vendido doze mil exemplares, sendo o quinto livro de ficção mais vendido no
Brasil nesse ano.
Para assinalarmos a forte presença da literatura brasileira em meados da década
de 1970, lembremos que o livro mais vendido de 1975 foi Fazenda Modelo, de Chico
Buarque de Hollanda, e que Chico foi tan1bém, em parceria com Paulo Pontes, o
autor do livro mais vendido de 1976, Gota d'Agua, roteiro da peça homônima, em
cartaz na época. Com muita ironia e humor, em Fazenda Modelo Chico Buarque,
como explicitado na quarta capa da primeira edição da obra, "recorre à alegoria e
nos oferece uma novela pecuária, um livro que diverte, irrita, inspira e consolá'; já
Gota d¼gua tematiza, no dizer dos autores na introdução de sua primeira edição,
"a experiência capitalista que vem se implantando aqui [... ] a brutal concentração
de riqueza".
Segundo a revista Veja de 31 de dezembro de 1975, os livros nacionais mais
vendidos do ano foram: 111 Fazenda Modelo, de Chico Buarque de Hollanda; 2ll
Gabriela, Cravo e Canela, de Jorge Amado; 3ll Novo Dicionário Aurélio, de Aurélio
Buarque de Hollanda Ferreira; 4ll Teje Preso, de Chico Anísio; 511 As Meninas, de
Lygia Fagundes Telles; 62 Dôra, Doralina, de Raquel de Queirós; l2 De Notícias
e Não Notícias, de Carlos Drumn1ond de Andrade; 8ll Leão de Chácara, de João
Antônio; 91t Solo de Clarineta, de Érico Veríssimo; e 10!! A Travessia da Via Crucis,
de Carlos Eduardo Novaes.
Em 1976, a listagem dos mais vendidos do ano da revista Veja não foi separada
em autores nacionais e autores estrangeiros e sim em ficção e não ficção. Na lista-
gem dos livros ficcionais mais vendidos deste ano aparecem cinco obras de autores '
brasileiros: em primeiro lugar, Gota d'Agua, de Chico Buarque e Paulo Pontes; em
quinto, Feliz Ano Novo, de Rubem Fonseca; em sétimo, Cândido Urbano Urubu, de
68 Carlos Eduardo Novaes; em nono, A Última do Brasileiro, de Ziraldo; e em décimo,
Repressão e Resistência
A Grande Mulher Nua, de Luís Fernando Veríssin10.
Na década de 1970, especialmente em. meados dela, a literatura nacional pro-
duzida no calor do momento desempenhou um papel central de resistência à di-
tadura. Con10 afirma o escritor Júlio Martins em depoimento sobre esse período
concedido a Heloísa Bua{que de Hollanda en1 "Política e Literatura: A Ficção da
Realidade Brasileira": "A função da produção cultural e da literatura en1 particular,
nestes anos, foi principalmente a de resguardar a nossa integridade criativa, a nossa
dignidade ameaçada"4 •
Desde o primeiro livro de Rubem Fonseca, Os Prisioneiros, lançado pela Co-
decri em 1963, a temática da violência desempenhou papel central na produção
literária do autor. Feliz Ano Novo foi a quinta obra publicada por ele e, como todos
seus livros anteriores, é uma coletânea de contos. São quit1ze narrativas relativa-
mente curtas, totalizando 144 páginas com um projeto gráfico despojado - se1n
orelhas, sem prefácio e uma diagramação convencional. Forn1ado em Direito, e
tendo trabalhado como delegado, Rubem Fonseca traz em sua literatura o tema
da violência e da barbárie da cidade do Rio de Janeiro. O fato de Rubem Fonseca
ter sido delegado de políçia o colocou em um lugar privilegiado para constatar o
crescimento da violência descontrolada nos centros urbanos.
O conto que dá nome ao volume, "Feliz Ano Novo': narra como três párias, três
excluídos sociais que estão vendo as festas de fim de ano pela televisão e "esperan-
do o dia raiar para con1er farofa de macumba" em um decadentíssiI~o apartan1en-
to, quase um cortiço da Zona Sul do Rio de Janeiro, acaban1, meio que por acaso
e quase sem planejamento, munidos de arnias, invadindo uma festa de réveillon
ern uma casa de classe alta - "a gente ouvia o barulho de música de carnaval, mas
poucas vozes cantando. Botamos as meias na cara, cortei com a tesoura os buracos
dos olhos. Entramos pela porta prmcipal''. A extrema violência com. que eles atiran1
em quatro dos participantes da festa é correlata a um chocante descaso pela vítima
e pela vida.
Nas palavras de José Antonio Pastas, na literatura de Rubem Fonseca "a pers-
pectiva é um enfrentamento com um cotidiano que não tem horizonte de revolu-
4. Heloisa Buarque de Hollanda
ção à vista, que não tem horizonte de transformação radical à vista, há um tipo de
e Marcos Augusto Gonçalves, op. embate com um novo tipo de realidade brasileira''.
cit., pp. 68 e 70. Nos textos de Fonseca, essa nova realidade brasileira é correlata, segundo Pastà,
5. Em entrevista concedida a
Sandra Rein1ão e Helena llonito a uma transformação da visão do povo brasileiro:
C. Pereira em u juJ. 2006.
69
Dois Livros Censurados:
Feliz Ano Novo e Zero

Autor de O CASO MOREL e LÚCIA McCARTNEY

'

artenova

70 [...] a literatura de Rubem Fonseca, Feliz Ano Novo em particular, marca uma hora his-
Repressão e Resistência
tórica na percepção, na visão do povo brasileiro. O povo brasileiro que aparece na literatura
dele, aquilo que aparece como os tipos populares têm uma feição claramente desdealizante.
O escritor vai se confrontar com a transformação da malandragem em marginalidade pe-
sada, com o crime pelo crime, com o prazer da desforra e da vingança social, com aquilo
que se chama mais genericamente de desagregação do tecido social.

Pasta também destaca que, no conjunto de contos de Feliz Ano Novo, há uma
''desidealização das elites": "digan1os que ela não ocupa a maior parte do livro mas
também é forte[ ... ] há três contos que vão nesse sentido: 'Nau Catrineta' e 'Passeio
Notuno I e 11"'.
"Nau Catrineta" começa com a declamação de um trecho do poema de mesmo
nome do escritor português Almeida Garrett. Almeida Garrett construiu seu poe-
ma a partir de uma narrativa popular, com inúmeras versões, que narra como um
anjo salvou un1 capi¼e_ em um barco à deriva. No conto, essa narrativa transforma-
se em um ato de antropofagia: para que os marinheiros não morressem de fome,
alguns foram mortos e comidos pelos sobreviventes. O conto de Rubem Fonseca
focaliza o dia do vigésim.o primeiro aniversário de José, o herdeiro de um.a familia
rica. Nessa data, para assumir seu lugar no seio da burguesia, ele teria de cumprir
uma missão: comer carne humana. Assim ele se tornaria o 11ovo chefe da famí-
lia, uma fainília cujos membros, diz o conto, orgulhavam-se de serem "carnívoros
conscientes e responsáveis. Tanto em Portugal como no Brasil''.
.
Com o mesmo grau de violência, descaso pela vida e gratuidade dos atos, os
contos "Passeio Noturno e e r1" narram como um executivo a bordo de um carro
Jaguar usa o ato de atropelar (e matar) como um exercício de relaxamento.
No próprio conto "Feliz Ano Novo': em paralelo à violência insana e gratuita
dos marginais liderados por Pereba, a burguesia assaltada e assassinada, ou seja,
os participantes da festa de final de ano, também apresentam um comportamento
irresponsável e vazio de sentido - além de sere1n pernósticos e petulantes.
Abordando essa violência enfocada e retratada por Rubem Fonseca, Alfredo
Bosi afir1na:

In1agem do caos e da agonia de valores que a tecnologia produz em um país do Terceiro


Mundo é a narrativa brutalista de Ruben1 Fonseca[... ]. A dicção que se faz no interior desse
mundo é rápida, às vezes compulsiva; impura, se não obscena; direta, tocando o gestual;
6. Alfredo Bosl (org.), O Conto
Brasileiro Co11temporá11eo, p. 18. dissonante, quase ruído6 •

,

Zero 11
Dois livros Censurados:
Feliz Ano Novo e Zero
A violência tambén1 é un1 traço central do romance Zero, de Ignácio de Loyola
Brandão, que tem como subtítulo Romance Pré-histórico. A primeira edição bra-
sileira de Zero foi publicada em 1975. Antes dessa, houve uma edição na Itália,
publicada em 1974 pela Editora Feltrinelli. A primeira edição brasileira foi lançado
no dia 31 de julho de 1975, pela Editora BrasUia/Rio, uma pequen a en1presa carioca
de propriedade de Lygia Jobim. As vendagens justificaram u1na segunda edição por
essa mesma editora.
Nas palavras de Ignácio de Loyola Brandão,

/ . Zero tinha sido publicado na ItáJia pela Feltrinelli e teve repercussão no Brasil porque a
Veja fez uma matéria grande, até foi o Silvio Lanceloti que fez essa matéria falando de um
livro brasileiro que tinha sido publicado lá, o que era uma curiosidade na época porque a
primeira edição era en1 italiano. [...] Quando o livro saiu e provocou certa curiosidade eu
fui procurado por uma pessoa chamada Lygia Jobiin, que eu não conhecia, que não tinha a
menor ideia de quem era, que me perguntou se eu estava disposto a publicar esse livro aqui
e eu falei que sim, claro - eu fiz esse livro para publicar aquF.

Zero é um conjunto de pequenas histórias; são fragmentos apresentados grafi-


camente como tais. Ignácio de Loyola Brandão relaciona a origem de muitos desses
fragmentos à própria censura: "Zero nasceu também da censura. Eu era secretário
do jornal [... ) e aí as primeiras coisas proibidas eu fui jogando na gaveta [... ] tudo
que está aí é coisa real e é o Brasil e aí eu falei dá para fazer um romance, dá para
montar um romance':
Analisando o caráter fragmentário da narrativa no romance Zero, Heloisa Buar-
que de Hollanda e Marcos Augusto Gonçalves assinalam:

Zero, a princípio, se manifesta como uma grande alegoria do estado violentado e desa-
gregado de um país que ainda espera por sua história [...) o recurso ao frag1nento e o pró-
prio aproveitamento do espaço gráfico do livro, aqui e ali diagramado à moda dos jornais
promove uJn estilhaçamento da perspectiva naturalista do jornal.[...] É assim que a técnica
1. Entrevistas concedidas a Sandra
do fragmento aqui traduz a desagregação produzida pelo cli1na de opressão que acompa- Rei mão e I-ielena Bonito C. Perei-
nha, em todos os momentos, a narrativa de Loyola8• ra em seL 2006 e maio 2007.'
8. Hcloisa Buarque de Hollanda
e Nlarcos Augusto Gonçalves, op.
clt., p. 61.


12
Repressão e Resistência

\

Os Atos Censórios 13
Dois Livros Censurados:
Feliz Ano Novo e Zero
Em novembro e dezembro de 1976, respectivamente, Zero e Feliz Ano Novo fo-
ram alvos de atos censórios por parte do Ministério da Justiça.
Para entendermos con10 se dava a apreensão de obras publicadas e já em cir-
culação nas livrarias do país é preciso relembrarmos a especificidade da censura
relativa aos livros: o exame das obras pela Policia Federal, na maioria dos casos, se
dava como reação a uma denúncia.
Zero e Feliz Ano Novo foram vetados por atuações desse tipo - ambas 1notivadas
por denúncia. No caso de Zero, não houve parecer, o despacho foi direto. Loyola
Brandão relembra assim o ocorrido:
"-
[...] eu tenho vagas ideias [...] o jornal Opinião parece que, numa crítica, numa re-
senha sobre outra coisa, citou o Zero co1no un1 livro que mostrava o n1omento da di-
tadura, dos militares. Isso teria sido lido pela mulher de um general [...], que teria lido
e co1nentado "olha, ten1 um livro aí que parece que além de tudo era pornográfico", e
alertou uma mulher que era amiga da mulher do Armando Falcão, que levou a queixa
ao marido.

Loyola continua assim seu relato:

Uma tarde de novembro o Mino Carta me ligou de Brasllia e disse [... ] o Zero está em
cima da mesa do Armando Falcão. O Zero vai ser proibido. Por que não tem nenhum mo-
tivo para o Zero estar em cin1a da n1esa do Falcão. No dia seguinte foi censurado. Aí eu fui
procurar o censor. Ele me pergtmtou qual era o livro e ele disse "eu vou verificar. [...) Se for
proibição n1oral fica tranquilo. Não se faz tuna nova edição e cala-se a boca. Fique quieto".
Aí no dia seguinte ele me ligou [... ] processo contra o Zero é moral e eu perguntei "e agora
o que eu faço?". ''Fique tranquilo não faz nada". "E o livro vai ser apreendido?" "Se for
apreender tudo que está aí eles ficam perdidos, eles não têm nem gente para isso. Os livros
continuarão nas livrarias''.

Loyola esclarece que o ato censório foi justificado pelo Decreto-lei 1.077, que
estabelecia a proibição da publicação e a apreensão dos exemplares de qualquer
obra que fosse considerada "contrária à moral e aos bons costumes•: '
O processo contra Feliz Ano Novo deveu-se também a wna série de coincidên-
cias. No livro Bastidores da Censura, Deonísio da Silva cita wn depoimento de

74 Lygia Fagundes Telles ao Jornal do Brasil de 19 de janeiro de 1977 no qual a escri-


Repressão e Resistência
tora relata u.ma cena unaginária en1 que un1 pai de um estudante que está lendo
um livro de Ruben1 Fonseca pega o livro e olha, meio por acaso, algumas páginas,
poréJn, acontece que o pai em questão

[...] é íntimo de um mi.nistro. Alertado por esse pai, o n1inistro n1anda un1 funcionário
ler o dito livro. Funcionário e n1inistro fazen1 cara de horror e o livro é proibido. Mas Feliz
Ano Novo não é apenas mais uni dos livros proibidos pelo ministro. E Ruben1 Fonseca é
escritor de prestígio e diretor da Light9 • Alertado mais uma vez, o ministro resolve ele n1es-
mo ler o livro. Recebe-o co1n passagens assinaladas en1 vermelho. Escandaliza-se outra vez,
agora para justificar a proibição.
(
Lygia Fagundes Telles, segundo Deonísio Silva, encerra a matéria afirmando a
existência de uma minoria que se põe a ostentar o poder de "proibir os livros dos
quais não gosta, sen1 exa1ninar a sua qualidade artística"'º.
O parecer elaborado por wn técnico da DCDP em 3 de deze1nbro de 1976, o qual
deu origem ao despacho de censura, publicado no dia 17 do 1nesmo .mês, fala em:
"personagens portadoras de complexos, vícios e taras [... ] delinquência, suborno,
latrocínio e homicídios, sen1 qualquer referência a sanções. [...] A pornografia foi

largamente empregada[...] e são feitas rápidas alusões desmerecedoras aos respon-
sáveis pelo destino do Brasil e ao trabalho censório"".
9. Na ~poca, empresa estata l de
dístribuição de luz e energia.
10. Deonísio da Silva Nos Bastido• *
res do Censuro, pp. 37 e 38 Os livros Feliz Ano Novo, de Rubem Fonseca, e Zero, de Ignácio de Loyola Bran-
11. Dispo.nível oo acervo do
Arquivo Nacional, Fundo DCDP, dão, e seus processos de censura são exen1plares no que diz respeito ao w1iverso
Seção Censura Pré,•ia, Série Pu - dos livros e da literatura ficcional no Brasil de meados da década de 1970.
blicações, caixa 18.
En1 primeiro lugar, a con1paração das formas narrativas e das propostas literá-
12. A informação sobre Feliz A110
Novo foi extraída de Laurence rias desses dois livros atesta e exemplifica a diversidade da literatura produzida no
Hallewcll, O Livro 110 Brasil, p. 591, período.
e o dado sobre Zero foi fornecido
pelo au1or em en1re,~s1as conce- Em segundo, os dados de vendagen1 das duas obras - em menos de um ano
didas a Sandra Reimão e Helena Feliz Ano Novo vendeu trinta mil exemplares e Zero teve duas edições, vendendo
Bonito C. Pereira em sct. 2006 e cerca de seis mil exemplru:es no total•-> - também podem ser entendidos como índi-
maío 2007.
13. Deonlsio da Silva, Nos Basti- ces da força e da aceitação do autor brasileiro de ficção naquele período.
dores da Censura. Sexualidade, Por fim , noten1os que os processos que resultaram nos vetos censórios a Feliz
Literarurn e Repressão P6s-6,1,c
Carlos Fico, ~Prezada Censura':
Ano Novo e Zero, corroborando o que diz a literatura da época e trunbém estudos
Cartas ao Regin1e Militar~ posteriores'3, originaram-se co1no que por acaso, a partir de denúncias de leitores
comuns que se sentiram no direito de proibir os livros de que não gostavam - 15
Dois livros Censurados:
como era frequente. Feliz Ano Novo e Zero

*
Na segunda metade da década de 1970, escritores, editores, intelectuais, artistas,
cientistas, professores - a sociedade como um todo - começaram a 1nobilizar-se
para resistir e protestar co11tra os desmandos e arbítrios de um regime autoritário.
Essa resistência da sociedade aos atos autoritários do governo de então culmi-
nou com várias demonstrações e atos públicos de repúdio ao autoritarisn10. No que
diz respeito às n1anifestações pelas liberdades no âmbito das p roduções culturais
destaca-se o Manifesto dos 1046 Intelectuais Contra a Censura, entregue ao nJinistro
da Justiça em Brasília, em 25 de janeiro de 1977, por uma comissão composta por
Hélio Silva, Lygia Fagundes Telles, Nélida Pinõn e Jefferso11 Ribeiro de Andrade.

*
Em 1979, depois de encerrado o período de vigência do AI -5, Zero, de Ignácio
de Loyola Brandão, foi publicado em terceira edição pela Editora Codecri.
Rubem Fonseca processou o Ministério da Justiça pela censura a Feliz Ano Novo
e seu livro só foi liberado bem mais tarde, ao final do processo' 4 •

Zero já teve mais de dez edições em português; foi traduzido para o alemão, o
coreano, o espanhol, o húngaro e o inglês.

14. Esse processo é o rema central


do livro de Deonísio da Silva, Nos
Bastidores da Censura. Sex11alída-
de, Lil.eratura e Repressão Pós-64.

ffi(tl00000ffi[OO® ~O~Willº 00~


rn~rnrn•u®rn rnrnoo~oornmrn®8
rnrnLZ rn~u®rnom~ •~®rnm•~

liberdade, essa palavra que o sonho


humano alimenta
que não há ninguém que explique e
ninguém que não entenda

Cecília Meireles, "Romance XXIV


ou da Bandeira da Inconfidência"
Romanceiro da Inconfidência


livro Dez Estórias Imorais, de Aguinaldo Silva, reúne escritos ficcionais re-
cligidos entre out1tbro de 1960 e maio de 1965. São eles: "De como a Prosti-
tuta Rita Pereira Noivou, Casou e Morreu, numa Noite de São João, em Ple-
na Zona do Cais do Recife ou Estranho Itinerário"; "O Nada jamais Acontecerá";
"O Círculo de Giz"; "Um Homem, sua Maldade e a Marinha Nacional"; "Westhalia:
Um Mar"; "Cidade, Mulher e Rio"; "A Prüneira Sede"; "O Despertar de Toin' Qui-
rino"; "O Morto na Rua" e "Proclamação Final''.
Esse conjunto de textos foi publicado em livro pela Gráfica Editora Record em
1967 - é uma brochura de formato pequeno, com 148 páginas e projeto gráfico bem
simples. Houve uma segunda eclição em 1969, pela mesma editora.
As dez histórias centram-se, mais do que na ação ou na narrativa de aconte-
cimentos, na descrição de personagens, em função da qual os acontecimentos se
desenrolam. As personagens são essencialmente de dois tipos sociais: os excluídos
pela miséria, como os retirantes da seca, prostitutas de baixo escalão, bêbados e lou-
cos; e tipos da baixa classe média, como a dona de casa sonhadora e insatisfeita e o '
funcionário do pequeno escritório. As narrativas buscam, simultaneamente, enten-
dê-las socialmente e também retratá-las internamente, dando-lhes a voz narrativa.

19

80
Repressão e Resistência
- •

Un1 exemplo da estratégia de dar voz narrativa à personagem, no caso, um ex- 81


Aguinaldo Silva, um
cluído, pode ser encontrado no texto "A Primeira Sede''. O conto é narrado em pri-
Escritor Censurado
meira pessoa por um retirante sobrevivente que fugira da seca e agora, velho, retor-
na a Cabrobó, de onde saíra. Por que voltara? "Por que voltei? Ora bem, Cabrobó é
a minha ter ra. E depois, o senhor pensa que Cabrobó é e sempre será essa mesma
visão do inferno? Pois nisso, imaginação tão fraca a sua, é que reside o engano:'
Outro exen1plo da narrativa literária como espaço para dar voz às personagens
é o título do primeiro conto, "De como a Prostituta Rita Pereira Noivou, Casou e
Morreu, numa Noite de São João, em Plena Zona do. Cais do Recife ou Estranho
Itinerário''. Esse título mimetiza a forma dos títulos de folhetos de cordel, um tipo
de publicação pertencente ao âmbito sociocultural da personagen1 central, a pros-
tituta Rita Pereira.
No que tange às personagens das classes baixas, o autor assinala o lado opres-
sivo do trabalho alienante e da repressão sexual e familiar. O conto "O Círculo de
Giz': por exemplo, descreve assim o cotidiano do funcionáiio de um escritório:
"[ ...] chegava mesmo a armazenar forças mas caía na mesma estagnação, as mãos
cansadas. Haviam traçado um círculo de giz ao seu redor, não ]1avia como escapar.
O dia, o dia; o tudo, o tudo; o nada, o nada''.
Sabendo-se que mais tarde Aguinaldo Silva se tornaria escritor de telenovelas,
não podemos deixar de observar que, em duas histórias desse livro, o tema da fun-
ção da radionovela e do radiojomalismo aparece na construção das personagens.
No conto "O Nada jamais Acontecerá': Lu é uma dona de casa casada com Manuel
e "inteiramente sufocada" em sua vida sem emoções. Os parâmetros que fazen1
com que ela perceba esse vazio e que assinalam a falta de emoção de seu cotidiano
são as vidas das heroínas e dos condes das radionovelas: "[ ...] que horas? Ele olha
o relógio, murmura, nove horas. E ela: está na hora da novela diz com u1n sorriso
triste[ ...] Depois tudo começa, o conde é o primeiro a falar com sua voz quente. Ela
olha Manuel dormindo, a boca entreaberta, murmura, eis o meu conde''.
Note-se que o uso do artigo definido no título do conto - "O Nada jamais
Acontecerá" - faz ressoar títulos de radionovelas n1elodramáticas, cujo exemplo
mais expressivo é "O Direito de Nascer''. Escrita pelo cubano Felix Caignet em
1946, essa radionovela já havia sido apresentada no Brasil pela Rádio Nacional por
quase dois anos, a partir de 8 de janeiro de 1951, em adaptação de Eurico Silva.
O elenco contava com Paulo Gracindo (corno Albertinbo Limonta), Iara Sales
(1namãe Dolores) e Roberto Faisal (Dom Jorge Luiz), entre outros.
(
82 No já citado conto "O Círculo de Giz'~Mateus, o entediado funcionário buro-
Repressão e Resistência
crático, insere a programação do rádio no seu cotidiano: "Depois o jornal falado
pelo rádio, o programa esportivo e uma ária insignificante que assim mesmo era
uma ária. E a volta para o ponto (... ]. Não havia como fugir'~
Para a personagem Lu, a ficção radiofônica fornece a possibilidade de sonhar,
e esse sonho permite que ela din1ensione suas frustrações. Já para Mateus, antago-
nica1nente, o rádio fornece informação (jornal falado), entretenin1ento (programa
esportivo) e cultura (ária), mas todos como parte de um cotidiano mecanizado e
Unútado. Hoje em dia, em virtude da configuração atual dos sistemas de comu-
nicação no país, podemos supor que o rádio não apareceria com tanta ênfase no
cotidiano dessas personagens. Esse papel, talvez, seria da televisão. Len1bremos
que os contos "O Círculo de Giz" e "O Nada jamais Acontecerá" são ambos de 1960,
quando a televisão acabara de chegar a Recife con1 a inauguração da TV Rádio Clu-
be, integrante do grupo Diários e En1issoras Associados, de propriedade de Assis
Chateaubriand.
Permanecendo no tópico da presença dos meios de co1nunicação no livro Dez
Est6rias Imorais, faz-se necessária a menção de mais duas passagens.
A função informativa do jornal aparece de maneira bastante negativa no último
conto do volu1ne, "Proclamação Final': quando o protagonista fica sabendo do sui-
cídio de Lucinda pelas páginas do noticiário policial e pensa:"[ ...] agora ela morta,
meia dÚ:bia de linhas na página de u111 jornal, desse Diário de Pernambuco que não
passa de um pasquim nojento e desatualizado, Lucinda sendo suj? pelas páginas do
Diário de Pernarnbuco antigo e fora de 1nodà'. Em outra passagem do conto, a mes-
ma personagem afirnla: "O jornal não tinha cor para mi1n, o jornal não era nada':
Ainda nesse mesmo conto aparece uma radiovitrola, um rádio acoplado a um
toca-discos, un1a radiola, não con10 veículo de entreterumento, lazer, cultura ou
informação, mas primordial1nente como uma mercadoria, um almejado bem de
consumo. LuciJ1da, pobre amante da personagem central, tinha o sonho de "final-
mente ir morar em Boa Viage1n. Numa quitinete n1es1no, dizia, não tenho ambi-
ções. E un1a radiola, discos de alta fidelidade, um litro de uísque escocês'~
No livro, em que pese a ilustração da capa um tanto marota e satírica, não se
pode dizer que o termo 'imoral' se refira essencialmente ao âmbito sexual. Há ce-
nas e reflexões sobre sexo, mas o do1ninante no significado do termo imoral é a
imoralidade da pobreza, da exclusão, da falta de perspectivas. '

Dez Estórias bnorais foi publicado pela Gráfica Editora Record em 1967. Nove
anos depois, em 11 de dezembro de 1976, foi pt1blicado no Diário Oficial da União

o veto "a sua publicação e circulação", seguindo a mesma fórmula dos demais vetos 83
Aguinaldo Silva. um
a livros:
Escritor Censurado

Nos termos do parágrafo 89 do artigo 153 da Constituição Federal e artigo 39 do Decreto-


lei n. 1.077, de 26 de janeiro de 1970, proíbo a publicação e circulação em todo território na-
cional, do livro intitulado DEZ ESTÓRIAS ThfORAIS [ ... ) por exteriorizare1n matéria contrária
à 1noral e aos bons costun1es.

Para entendermos melhor esse fato é preciso retomar, brevemente, a atuação


prévia do escritor.

O Escritor Aguinaldo Silva

Aguinaldo Silva é um escritor de ficção televisiva muito produtivo e de grande 1. Minisséries: u1111piiio e Maria
Bonira (1982), Ba11didos da Fnlnnge
aceitação pelos telespectadores. Iniciou suas atividades na televisão no ano de 1979,
(1983), Padre Cícero (1984), Tenda
com o seriado Plantão de Polícia, e até 2010 havia escrito seis minisséries e doze dos l•filagres (1985), Riacho Doce
telenovelas, todas produzidas e transmitidas pela Rede Globo. Algumas dessas te- (1990) e Ci11q11e11t/11/111s (2009);
telenovelas: Partido Alto, con1
lenovelas são marcos de sucesso e de altos índices de audiência, como Pedra sobre
Glória Perez (1984), Roq11e S,m-
Pedra, Tieta, A Indomada e Senhora do Destino'. teiro, c01no colaborador ele Dias
Anteriormente ao início de sua carreira na televisão, Aguinaldo Silva havia pu- Gomes (1985), O Outro (1987),
Vale Tudo (!988), con,o colabo·
blicado um livro e trabalhara co1no jornalista. Em 1964, mudou-se de Pernambuco rador de. Gilberto Braga, 7ieta
para o Rio de Janeiro e começou a trabalhar em reportagens policiais no jornal {1989), Pedra sobre Pedra (1992),
Fera ferida (1993), A Indomada
O Globo. Durante a década de 1970, atuou como colaborador nos jornais Opinião e
(1997), em coautoria com Ricardo
Movimento, ambos podendo ser caracterizados como publicações de resistência à Línhares, A•fou Bem Querer (1998),
ditadura militar. Con10 jornalista, nos anos 1970, o autor foi processado duas vezes con10 supervisor ele lexto, Suave
Veneno (1999), Porto dos Milagres
por cr.in1es de opinião - figura jurídica presente na Lei de Imprensa, lei n. 5.250, de
(2001), em coautoria com Ricar-
9 de fevereiro de 1967. do Llnhares, Senhora do Dest-/110
Em abril de 1978, em conjunto com Peter Fry, Jean-Claude Bemardet, Darcy (2004) e Duns Cnras (2007). Ver
lsmael Fernandes, lvlemória da
Penteado, João Silvério Trevisan e outros artistas e intelectuais, Aguinaldo Silva Telerwvela Brasileíra e, também, o
lançou o primeiro número do jornal O Lampião, un1a publicação inicialmente vol- blog ele Aguioaldo Silva no portal
tada para a defesa dos direitos das minorias em geral e que acabou por concentrar- da Globo na internet. no qual
co,nenta suas produções e conta
se especialmente na defesa dos direitos dos homossexuais. O nome da publicação, histórias de sua vida: http://
em seu primeiro número, era Lampião de Esquina, uma referência tanto à vida das bloglog.globo.com/blogf. '
2. 'James Green, A lém do Ct1r11aval.
ruas, à vida nottuna, como ao rei do cangaço - Virgulino Lampião. A edição era de
A Homossexualidade 110 Brasil do
dez mil exemplares e a publicação era vendida e1n todo o país1 • Século XX, pp. 430-431.

i
J

84 A publicação perdurou até junho de 1981 e, por conta desse jornal, Aguinaldo
Repressão e Resistência
Silva respondeu, em 1979, a un1 processo baseado na Lei de Segurança Nacional:
"Foi o momento mais difícil de minha carreira de jornalista. Havia uma inseguran-
ça total e podia ser preso a qualquer mo1nento': disse o autor em entrevista para a
revista Isto É.
O temor de ser preso a qualquer momento se justificava, uma vez que a Lei de
Segurança Nacional, nome como ficou conhecido o Decreto-lei n. 898, de 29 de
setembro de 1969, no seu art. 3ll, definia que "a segurança nacional compreende,
essencialmente, medidas destinadas à preservação da segurança externa e interna,
inclusive a prevenção e a repressão da guerra psicológica adversa e da guerra revo-
lucionária ou subversivà'3•
A mesma lei também determinava que os crimes contra a segurança nacional
fossem submetidos a processo e julgamento pelo foro militar e que durante as
investigações o encarregado do inquérito podia manter o indiciado preso pelo
prazo de trinta dias, prorrogável por mais trinta, além de mantê-lo incomwticável
por dez dias.
Uma década antes, en11969, o autor havia sido preso e ficara detido por setenta
dias por conta de um prefácio ao livro Diário, de Che Guevara, publicado pela
Coordenada Editora.
No romance autobiográfico Lábios que Beijei, escrito em 1990 e publicado em
1992, Aguinaldo Silva relata assim a história dessa publicação:

Em n1eados de 1968, a convite do editor Victor Alegria, escrevi para un1a das muitas
edições brasileiras do Diário de Che Guevara um prefácio a que dei o pomposo título de "A
Guerrilha não Acabou''. O livro foi publicado pela Coordenada Editora, da qual ele era dono,
e à qual eu prestava eventuais serviços [... ). O livro ficou poucos meses nas livrarias: em de-
zembro foi promulgado o Ato Institucional n. 5, que, entre outras prerrogativas, dava às auto-
ridades poderes para apreender livros e punir quem tivesse alguma coisa a ver com eles, até
mesmo quen1 os guardasse e.m casa. Às voltas com as atribulações cada vez n1aiores da minha
vida privada, nunca me preocupei em perguntar ao Victor o que fora feitos dos exemplares
3. O conceito de Segurança Na- não vendidos do Diário. Achava que ele tivera o bom senso de descobrir um modo qualquer
cional havia sido utilizado antes
no Decreto-lei n. 314, de 1narço de de destruí-los. Na verdade, com todos os riscos, o editor decidira guardar o que restara da
1968, e na Constituição de 1967, edição. (...] Os rnuitos exemplares forn1avam un1a pilha enorme, conforme os agentes do
oficializada em 24 de janeiro de Centro de Informações da Marinha que invadiram o local em seguida a uma denúncia anô- '
1967,
4. Aguinaldo Silva, L6bios q11e nima. Eram muitas pessoas que deviam ser castigadas por causa deles - desde o pobre dono
Beijei, pp. 91 e ss. do depósito que jurava não saber o que continhrun os pacotes e1npilhados, até eu4•

O depósito foi descoberto e, no dia seguinte, ao entrar em seu_apartamento ao 85


Aguinaldo Silva, um
voltar do trabalho na redação do jornal O Globo, Aguinaldo Silva foi coagido a
Escritor Censurado
acompanhar três homens que o levaram para os porões do Ministério da Marinha,
onde foi interrogado.
A pergunta central do interrogatório dizia respeito ao título do prefácio escrito
para o Diário de Che: "- O senhor diz aqui que a guerrilha não acabou. Baseado
em que informações pode afir1nar wna coisa dessas? O que o senhor sabe sobre a
guerrilha que nós ainda não sabemos?" O escritor tentou argumentar que a afir-
mação fora feita em um sentido figurado e que se tratava de uma brincadeira com
um filme de Alain Resnais, A Guerra Acabou (La Guerre est finie), de 1966, que já
havia sido exibido por aqui. Ao final da conversa, o interrogador falou a Aguinaldo
Silva que ele "estava preso e seria processado, de acordo com o Ato 5, por ter escrito
esse monte de merda':

- Mas o livro foi publicado antes do Ato s - argmnentei - e a punição não pode ser
retroativa ...
Ao que o con1andante [... ] respondeu:
- Nesse caso você não vai ser processado... , mas vai ficar preso sim.

Para dimensionarmos a gravidade da situação, citemos o próprio Aguinaldo


Silva comentando o episódio:

Sinto vergonha por meus carcereiros [...]. Esta deve ser mais uma das minhas falhas: o
fato é que a violência, antes de me causar revolta, n1e faz sen1pre ficar envergonhado e com
pena de quem a pratica. Foi por puro constrangilnento que durante vinte anos evitei falar
de minha prisão - só escrevi sobre ela uma vez no jornal Lampião, de que fui editor.

Se1n vínculo com grupos políticos organizados, vivendo na Lapa do Rio de Ja-
neiro da década de 1960, bairro em que havia baixa prostituição e pequena cri-
minalidade, Aguinaldo Silva, preso, se perguntava: "Como ficar incomunicável 45
dias por causa de um simples prefácio?': e finalmente percebeu: "estava incomu-
nicável[ ... ] não porque fosse autor de um perigoso e subversivo texto, mas porque
era homossexual''.
Aguinaldo Silva publicou mais de quatorze livros. Seus livros mais bem cotados '
pela crítica são República dos Assassinos, de 1976, e O Homem que Comprou o Rio,
de 1986. Essas duas obras, relatos no gênero literatura policial elaborados a partir

86 de fatos reais ocorridos entre militares, policiais e o mundo do crime carioca, fo-
Repressão e Resistência
ram traduzidos e publicados na série "Noire" da Editora Gallimard, na França.

A Censura do SCDP

A censura ao livro Dez Estórias Imorais foi resultado de um parecer elaborado


por um técnico de censura do Serviço de Censura de Diversões Públicas do Depar-
tamento de Polícia Federal.
Nesse parecer, disponível para consulta no Arquivo Nacional, o técnico de cen-
sura inicialtnente apresenta o conjw1to dos textos e depois recorta dois contos que,
indica ele, deveriam ser censurados:

São dez contos de um mesmo autor con, assuntos variados, como a vida de prostitutas
nwn bordel, a vida du1·a nas caatingas con1 seus retirantes, estórias de marinheiros nos
portos do Brasil, etc.
Das dez estórias duas lmpl.icam em veto para Uberação por conterem matéria im-
, .
propr1a:
1) UM HOME!vl, SU,\ lliALDADE, E A MARINHA NACIONAL: a vida de um marinheiro con-
tado por ele desde sua infância no Ceará, suas provações, sua entrada para a Marinha, suas
aventuras con, 1nuJheres depravadas e seu envolvimento hon1ossexuaJ com um Capitão de
Corveta, inclusive citando o nome do navio onde serv.iu, Baependí.
2) PROCLAMAÇÃO FlNAL: um inconformado com a vida, onde é contra tudo e contra
todos. Nas suas falas, ofende a igreja com críticas mordazes e indecentes sobre monges e
padres[ ...]. Alén1 do mais, ofensa aos n1ilitares en1 geral, cha1nando-os de estúpidos.
Em razão do exposto sou de opinjão, s.m.j., que sejam proibidas a publicação e exterio-
rização do livro exan1inado [...].

Note-se que, apesar da redação urn pouco confusa e de o técnico salvaguardar-


se usando a expressão "salvo 1nelhor juízo" antes de expressar sua opinião, o censor
não propõe o veto ao livro todo. O parecer afirma que o livro aborda prostitutas
e "estórias de marinheiros'; mas ele não vê nesses temas fundamentos para o ato
censório. Os dois contos que o parecer salienta con10 censuráveis são aqueles em
que aparecen1 avaliações negativas e descrições de ações não aceitas pela moral '
tradicional relativas a marinheiros, religiosos e n1ilitares. Ou seja, o parecer não
indica o veto a toda e qualquer "n1atéria contrária à moral e aos bons costumes"

'

1nas, sim, aquelas que diganl respeito a autoridades constituídas pertrncentes aos 81
Aguinaldo Silva. um
quadros da Marinha, Igreja ou Exército.
Escritor Censurado
No caso da narrativa que envolve o marinheiro, o parecer enfatiza que o con-
to fala em "envolvimento homossexual com um Capitão de Corveta': ou seja, um
supe1ior hierárquico no interior da Marinha Brasileira. Destaca, tambén1, que na
narrativa o 111.arinheiro cita o "nome do navio onde serviu, Baependí", que foi, de
fato, um navio de Guerra que esteve a serviço da Marinha Brasileira de 1953 a 1973.
Baependí é uma homenagem a uma cidade com esse non1e em Minas Gerais.
O mais inusitado em relação ao parecer e ao ato censório que engendrou é a
data de sua realização: o ito anos após a publicação do livro, quando, normalmen-
te, o ciclo de vida de uma obra não integrante de um cânone consolidado já está
encerrado.
A hipótese mais coerente que se pode aventar para explicar o exame do livro
Dez Estórias Imorais pelo SCDP em 1975 e o decorrente ato censório em 1976 é a de
que a atuação posterior de Aguinaldo Silva - colaborador de publicações em franca
oposição à ditadura militar - deu 1nais visibilidade ao autor e pode ter 1notivado,
quer por denúncia explícita, quer por auton1otivação, uma nova empreitada da
censura do SCDP em relação a ele.
Para corroborar a l1ipótese de q ue a atuação de Aguinaldo Silva con10 jornalista
nos jornais Movimento e Opinião, juntamente com sua 1nilitâ.ncia pelos direitos dos
homossexuais, motivaram o exame e o veto censório ao lívro Dez Estórias Imorais,
vale a análise de algumas das matérias jornalísticas assinadas pelo autor em 1975.
Em 14 de fevereiro de 1975, Aguinaldo Silva publicou no jornal Opinião uma
matéria intitulada "Uma Tragédia Americana': cujo subtítulo era "De un1 Lado
Moradores da Zona Norte, de Outro, wna Garota de Ipanema''. Com um texto
irônico, o autor denuncia como "velhos repórteres policiais'; con, sua "crueldade
típica': e a imprensa em geral estavam, apesar das evidências de wn crime con1eti-
do por uma jovem de classe média alta contra um trabalhador braçal da pe1;feria,
protegendo a joven1 suspeita, "escudada en1 um jogo de aparências que tipifica as
jovens de sua classe''.
Aguinaldo Silva acaba por concltúr que, nesse caso, imprensa e polícia, em vez
de noticiarem e investigarem, estavam a serviço do apartheid social vigente, nun1a
tendência de "dividir claramente os personagens dessa atormentada história": "de
um lado, os n1oradores de uma vila da zona norte, os empregados de wn posto '
de gasolina e de uma loja de consertos de televisão na Lapa, de outro, a bela, bem
falante e promissora universitária Lot1rdes, uma garota de Ipanema, com me il faut''.


88 Outr o exe1n plo de matéria-denúncia publicada por Aguinaldo Silva em 1975


Repressão e Resistência
pode ser encontrado no jornal Movimento do dia 1ii de setembro: "Incidentes no
Grande Rio" conta como "Um ladrão foi m orto a tiros, outro linchado; dois assal-
tantes (foram) espancados, outro linchado; (e) um contingente da PM fo i a.m eaçado
pela multidão''. A matéria conclui ironicamente que na periferia da cidade do Rio
de Janeiro só há marginais e, depois de observar que todos os assaltos foram moti-
vados pela busca de comida, explica, com palavras de dom Adriano Hipólito, bispo
de Nova Iguaçu: "Sim, eles são marginais. Mas n ão no sentido que a polícia dá a
essa palavra, e sim porque vivem aqui abandonados sem qualquer infraestrutura
que os permita viver dignamente''.
Salientemos ainda que em 1975, ano do exame censório de Dez Estórias Imorais,
Aguinaldo Silva publicou, pela Editora Pallas, do Rio de Janeiro, o romance Primei-
ra Carta aos Andróginos, un1 texto explícita e francamente homoerótico.
Muito n1ais do que o livro, já publicado há muito tempo e com seu ciclo de
divulgação praticamente encerrado, tudo leva a crer que foi o fato de Aguinaldo
Silva colaborar regularmente em jornais de oposição que 1notivou o exame da obra
5. O documento que ficou co- e acabou gerando o estranho episódio de ela ter sido censurada nove anos depois
nhecido como Ma11ifcs10 dos 1046 de publicada e com base em wn ato jurídico que sequer existia quando d a pr imeira
Tntelectuais contra II Censura foi
entregue cm Brasilia em 2.5 de edição do livro, u111a vez que o Decreto-lei n. 1.077/70, que subsidiou a decisão do
janeiro de 1977 por um grupo ministro da Justiça para proibir a "publicação e circulação em todo território na-
composto por Hélio Silva, Né• cional': foi decretado em 26 de janeiro de 1970.
lida Pinõn, Jéferson Ribeiro de
Andrade e Lygia Fagundes Telles Para reforçar a hipótese de que o exan1e e o veto a Dez Estór~as Imorais deve-
para ser encan1in hado ao Minis- ram-se a motivos outros que não o próprio livro, lembremos que, em virtude do
tro da Justiça Armando Falcão.
grande movimento editorial brasileiro em termos do número de títulos p ublicados
Assinavam o documento nomes
como: Antonio Candido, Chico por ano, a DCDP só examinava livros quando acionado para tanto. Um ofício do
Buarque, Jorge A1nndo, Paulo diretor-geral do Departamento de Polícia Federal, Moacyr Coelho, dirigido ao mi-
Einilio Sales Gomes etc. Ver, entre
outros, Cro110/ogi11 das Artes e111 nistro da Justiça Armando Falcão, datado de 31 de janeiro de 1977, comentando um
Selo P11ulo 1975-1995, vol. 1, Lite- documento de protesto que ficou conhecido como o i\1.anifesto dos 1046 Intelectuais
ratura, p. 33. Elio Gaspari, em A contra a Censuras, afirma:
Ditadura Errcurralatla, p. 495, fala
em ntil intelectuais e enfatiza que
o protesto era contra a censura ao Quanto a livros, convém esclarecer, de logo, que este Departamento só man da verificar
1h•ro Feliz J\110 Novo, de Rubem
aqueles remetidos pelos órgãos descentralizados, em decorrência de solicitações recebidas,
Fonseca.
1. Fundo ocoP, Seção Ad1ninistra- nas respectivas áreas de pais, professores, livreiros ou autoridades locais[ ... ] já que seria im-
ção Geral; Série Correspondência possível programar a verificação de toda produção literária posta em circulação no Brasl1"7•
oficial; Subsérie Oficios de comu-
nicação; Oficio n. 053/77 - ocor,
Brasília, 31 jan. 1977. *


O trajeto da censura ao livro Dez Estórias Imorais repete, com as devidas mo- 89
dificações, percurso análogo ao da prisão de Aguinaldo Silva em 1969. Nos dois Aguinaldo Silva, um
Escritor Censurado
casos, a motivação declarada não era a motivação real. A prisão do autor em 1969
foi justificada pelo prefácio "A Guerrilha não Acabou': no Diário de Che Guevara,
mas a motivação real, conforme concluiu Aguinaldo Silva, foi a homofobia. En1
1976, tudo indica que a censura às Dez Estórias Imorais deu-se não em função do
livro, mas sim como uma forma de homofobia e também de coação ao jornalista e
militante Aguinaldo Silva.

'


Ao longo do tempo, histórias e estórias se
repetem. O Estado republicano, censor por
excelência, foi responsável pela mutilação da
cultura nacional interferindo, negativamente,
na construção do conceito de cidadania. O
aparato policial[...] deve ser considerado
como um dos promotores da barbárie, da
violência, da segregação e da intolerância,
marcas registradas deste século XX. O Estado
tem aqui a responsabilidade enquanto geren-
ciador e legitimador da brutalidade, promotor
do medo e da autocensura. No entanto, ao
nos debruçarmos sobre os arquivos policiais,
constatamos que os intelectuais brasileiros
conseguiram, nos subterrâneos da sociedade,
colaborar para a metamorfose da realidade,
suplantando sua condição de meros especta-
dores conformados.
'
Maria Luiza Tucci Carneiro, Livros Proibidos,
Ideias Malditas, 1997.
livro Em Câmara Lenta, de Renato Tapajós, foi publicado em maio de 1977
pela editora Alfa-Ômega. Autobiográfico, ele relata a participação do autor
na guerrilha urbana durante a década de 1960 e discute essa opção política.
O autor, preso entre agosto de 1969 e setembro de 1974, redigiu o livro em 1973,
depois de saber da morte, na prisão, da ativista de esquerda Aurora Maria Nasci-
mento Furtado'.
Em 27 de julho de 1977, ao sair do trabalho, na Editora Abril, Renato Tapajós foi
preso novamente, pela segunda vez, por agentes do Deops (Polícia Civil do Depar-
tamento de Ordem Política e Social), pois o livro, segundo ofício do delegado Ser-
gio Fernando P. Fleury, violava a Lei de Segurança Nacional por ser "uma apologia
do terrorismo, da subversão e da guerrilha em todos os seus aspectos"'.
O ilnpacto da notícia, caso único de autor preso durante a ditadura militar por 1. Marcelo Ridenti , Em Busca do
Povo Brasileiro, p. 154.
causa do conteúdo de un1 livro, e o espanto pelo fato de a prisão ter ocorrido já no
2. Documento reproduzido em
início de um processo de abertura política - "lenta, gradual e segura" - geraram Mário Augusto Medeiros da Sílva,
'
Os Escritores da Gue,,.ill:a Urbana,
uma grande mobilização da imprensa e da sociedade. Quase diariamente os jornais
Literatura de Testemunho, Ambi-
da grande imprensa e da imprensa alternativa publicavam matérias protestando
valência e Transição Políficç ' 1977-
contra o caso. No dia 9 de agosto, o jornal O Estado de S. Paulo noticiou e a Folha de 1984), p. 14.

93
94
Repressão e Resistência

RtNAíO
íAPAOS

ROMANCE.
-2eediçãO-
- ...

_j
1
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1
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EDITORA ALFA -OMEGA
S. Paulo publicou o texto (não as assinaturas) de um abaixo-assinado (com oitocen- 95
tos sign atários) protestando publicamente contra a prisão. A Secretaria de Seguran- Livro e Prisão

ça Pública do Estado de São Paulo recebeu também um grande número de cartas


(treze em português, duas em espanhol e 25 em inglês), especialmente de membros
da organização Anistia Internacional, protestando contra a prisão de Tapajós3•
O autor foi solto em 23 de agosto de 1977.

Memórias de Lutas

Em Câmara Lenta, publicado em 1977, é o primeiro livro de memórias de ex-


militantes políticos da década de 1960. É, mais especificamente, o "prin1eiro livro
de memórias, um romance, fruto de um militante ativo do período de desenvol-
vimento e fim das ações armadas e da guerrilha urbaná: de acordo com Mário
Augusto Medeiros da Silva no livro Os Escritores da Guerrilha Urbana.
A partir do fim da vigência do Ato Institucional n. 5, em 31 de dezembro de 1978,
e da Lei da Anistia, de 28 de agosto de 1979, começaria a surgir uma série de livros-
depoimentos sobre o tema. Entre as memórias dos n1ilitantes de esquerda que apa-
receram em forma de livro no final da década de 1970, destacan1-se Os Carboná-
rios, de Alfredo Sirk.is, e o grande sucesso editorial O Que é Isso Companheiro?, de
Fernando Gabeira, ambos integrantes da vertente à esquerda da memorialística
que "foi, de algum modo, a primeira tentativa de constr ução de uma narrativa his-
tórica sobre o período"4 •
O Que é Isso Companheiro?, que tem o termo "depoimento" como subtítulo, é a
memória modificada pelo tempo e pelo trabalho de elaboração do texto. Ziraldo,
nas orelhas do livro, salienta este último aspecto: "Eu me pergunto se este livro é um
romance, se é um livro de memórias, se é um causo muito grande contado por uma
testemun ha ocular e atenta de sua própria histórià'. E conclui: "Seja o que for, ele é
escrito com a maestria de um experimentado romancista, um escritor de palavras
precisas e adjetivos exatos, enxuto''. Mais adiante, reforçando a tese, Ziraldo afuma:
"Fernai1do Gabeir a é um jornalista, foi um guerrilheiro, é un1 político atuante e
lúcido, um possível líder sereno e incisivo. Mas, ao final deste livro o leitor vai des- 3. Dados extraídos deMãrio Au-
gusto Medeiros da Silva, op. cil.
cobrir que, mais do que tudo isso - aqui e agora - Fernando Gabeira é um escritor''. 4. Carlos Fico, "Versões e Con-
Em Gavetas Vazias - Ficção e Política nos Anos 70, T'ania Pellegrini defende a trovérsias sobre 19 64 e a Dlfàdura
Militar~ Revista. Brasileira de
ideia de que o caráter referencial de memória vívida é um atributo central para
História, São Paulo, vol. 4, n. 47,
subsidiar o sucesso de vendas de O Que é Isso Companheiro? Segundo Pellegrini, "o 2004, p. 31.
96 ouvinte dessa fala (o leitor desse relato) a ela se prende desde o início e, ouvindo-a,
Repressão e Resistência
tem a impressão de enveredar por um caminho proibido, que leva à verdade antes
censurada. É a aventura da transgressão''. A transgressão narrada é partilhada pelo
leitor, que se torna cúmplice dela, no ato de leitura: "É a aventura da transgressão,
duplamente colocada: do autor, enquanto executor de ações contra o regime, e do
leitor, copartícipe, cúmplice pelo ato de leitur a. Nessa simbiose, a explicação do
sucesso do livro"s.
Em 1979, o livro O Que é Isso Companheiro?, publicado pela editora Codecri,
do Rio de Janeiro, vendeu oitenta mil exemplares6 • Até o final de 2009, segundo
informações da Companhia das Letras, editora que passou a publicá-la posterior-
mente, a obra já teve mais de quarenta edições, tendo sido vendidos mais de 250
mil exemplares 7•
Alfredo Sirkis, no livro de não ficção Os Carbonários, relata sua transformação,
entre 1967 e 1971, aos dezenove anos, em militante guerrilheiro urbano sob o codi-
nome Felipe. No prefácio da edição de 1998, republicado na edição de 2008 da Edi-
tora BestBolso, o autor afirma: "não me desconforta esse passado, também não me
enaltece''. Salienta, ainda, que "seu inventário de cicatrizes é relativamente brando':
resumindo-se "à dor da perda de alguns queridos companheiros': pois "nos anos de
chumbo tive a tríplice felicidade de sobreviver, não ter sido capturado e seviciado
e não ter matado ninguém''.
O Que é Isso Companheiro? e Os Carbonários ganharam o Prêmio Jabuti, da Câ-
mara Brasileira do Livro, na categoria biografia, em 1980 e 1981, respectivamente.

Os Carbonários, de Alfredo Sirkis, juntamente com 1968 - O Ano que não Ter-
minou, de Zuenir Ventura, serviram de base para a minissérie da TV Globo Anos
Rebeldesª, exibida de 14 de julho a 14 de agosto de 1992, momento em que se inicia-
va no país a mobilização pela instauração do processo de impeachment do presi-
dente Fernando Collor de Mello, acusado de corrupção. Muitas pessoas estabele-
ceram "de imediato uma relação de causa e efeito entre Anos Rebeldes e os fatos que
5. Tànía Pellegrini, Gavetas Va- resultaram na onda de manifestações estudantis que redundarain no impeachment
zias - Ficção e Po/ftica nos Anos
70, pp. 36-37.
de Fernando Collor"9 •
6. Laurence Hallewell, O Livro 110 Sobre o fato de a Rede Globo, emissora tida na década de 1970 como porta-voz
Brasil, 2. ed., p. 596.
da ditadura militar, ter tematizado diretamente, com a minissérie Anos Rebeldes,
l Fonte; site eletrôníco da ed itora.
Consultado em 23 jul. 2008. pela primeira vez, fatos históricos dos anos de 1960 e 1970, o jornalista Luís An-
8. Fonte: Dicionário da TV Globo, tonio Girón perguntou: "terá mudado a Globo ou o passado se adequou às suàs
vol. 1, p. 340.
necessidades?''. Sua resposta: ''.Ambas as opções não são incorretas. A Globo é uma
9. Narciso Lobo, Ficção e Po/ftica,
O Brasil nas Mi11isséries, p. 325. senhora que anda mais tolerante com a realidade. O 'perigo comunista' acabou e

,

não há motivos de sobressaltos co111 golpes. A senhora alivia a tensão ru1cestral no 97


trabalho de marketing político na ficção"'º. Livro e Prisão

O Que é Isso Companheiro?, de Fernando Gabeira, e Os Carbonários, de Alfredo


Sir kis, não tiveram proble1nas con1 o Departan1ento de Censura Federal nem com
qualquer outra instância dos órgãos censórios.
Renato Tapajós foi o único caso de autor preso durante a ditadura militar por
conta do conteúdo de um livro. Outros escritores foram presos no período e111
razão de textos publicados, mas en1 jornais ou revistas. Len1bren1os, por exe1nplo,
que quase todos os integrantes do periódico O Pasquim, entre eles os jornalistas
e escritores Paulo Francis e Ivan Lessa, fora.in presos no final de 1970. O Pasquim,
periódico publicado entre 1969 e 1991, teve seu auge de vendas em n1eados dos anos
de 1970 e travou vários embates contra a censura.
Antonio Candido observou, em 1972, que, dw·ante a ditadura 1nilitar, o controle
sobre os meios de comunicação se dava em função do público atingido:

O atual regu11e militar do Brasil é de natureza a despertar o protesto incessante dos ar-
tistas [... ] e seria unpossível que isto não aparecesse nas obras criativas[...]. Por outro lado,
este tipo de manifestação é ex1re1na1nente dificultado pelo regime, que exerce um controle
severo sobre os meios de comunicação. Controle total na televisão e no rádio, quase total
nos jornais de maior circulação, muito grande no teatro e na canção; nos livros e nos perió-
dicos de pouca circulação a repressão é mais branda, porque en1 razão direta do alcance dos
n1eios de comwlicação".

Anterior1nente a Renato Tapajós, Monteiro Lobato foi preso, em 1941, por acu-
sações relativas ao conteúdo de um de seus livros: A Questão do Petróleo.

Em Câmara Lenta- Censura ao Livro, Prisão do Autor

A primeira e a segunda edições de Em Câmara Lenta são providas de uma in1-


pactante capa criada por Moen1a Cavalcanti. U1na sequência de três fotogramas
e1n extremo close-up, co1no se fizessem parte de ttm rolo de filme, figuram uma
boca: lábios sorrindo; lábios entreabertos; lábios com um fio de sangue. Esses lá- 18. Matéria reproduzida e.m Narci•
bios estão desenhados e1n traço preto, silnples e grosso. O fundo é branco. O non1e so Lobo, op. cit., p. 296. '
do autor e o da editora também estão impressos em preto, com letras retas. O titulo 11. Antonio Candido, "A Literatura
Brasileira em 1972·; Arte em Revis-
e o sangue, en1 vermelho, quebram a relação branco/preto. ta, n. 1, p. 25.

98 O traçado preto no fundo claro remete às capas xilogravadas dos folhetos de


Repressão e Resistência
cordel nordestinos; a sequência de três bocas repetidas faz referência ao universo
do cinema, presente no titulo, e também faz ressoar os quadros da década de 1960,
como os de Andy Warhol, assin1 como cartazes cinematográficos e publicitários.
O vermelho e o sangue dão novos significados a essas referências e ü1troduzem o
Brasil da ditadura.
A boca que sorria, saberen1os depois, era de Aurora Maria Nascin1ento Furtado,
111orta em uma sessão de tortura. A narrativa desenvolve-se em dois eixos - pre-
sente e passado - e em vários blocos temporais distintos - memórias de distâl1cias
variadas. Entre esses blocos e ao mes1no tempo completando-os, a cena da prisão
e da tortura de Aurora Furtado vai se repetindo como uma in1agem-refrão e vai se
formando. Enquanto estava preso, Renato Tapajós enviava os origillais, clandestí-
na1nente, em pequenos retall1os de papel, pelas visitas que recebia. Qua11do saiu
da prisão procurou várias editoras antes de acertar a publicação pela Alfa-Ômega.
A publicação de Em Câ.n1ara Lenta dá início a urna sequência de fatos surpreen-
dentes. Em resumo":

o 111aio 1977: evento de lançamento de Em Câmara Lenta en1 São Paulo, no


bairro de Pinheiros, na rua Lisboa, em uma galeria de arte que também faz
molduras. Venda de cerca de oitocentos exen1plares no período do lançamento;
o 13 jul. 1977: rese1lha na revista Veja sobre Em Câmara Lenta;
o jun. e jul. 1977: artigos no Jornal da Tarde sobre o livro' 3;
o 18 jul. 1977: o delegado Sérgio F. P. Fleury encanunha à Secretaria do Estado dos
Negócios da Segurança Pública ofício em que afun1a que Em Câ.1nara Lenta
12. As fontes dessa cronologia são infringe a Lei de Segurança Nacional;
os ,iá citados livros de Marcelo Ri- • 21 jul. 1977: Secretaria do Estado dos Negócios da Segurança Pública e1nite do-
denti e Mário Augusto /vledeiros
da Silva e entrevistas conced idas cu1nentação confidencial informando sobre o livro;
pelo editor Fernando Ma ngarielo o 27 jul. 1977: prisão de Renato Tapajós por orden1 do coronel Erasmo Dias;
à autora em julho de 2008.
o 30 juL a 30 ago. 1977: grande mobilização da imprensa, dos intelectuais e de
'13. Em entrevista a Marcelo Ri-
denti, Renato Tapajós afirma que diversas organizações com manifestações de repúdio pela prisão de Renato
acredita q ue foi através desses Tapajós;
artigos que o coronel Erasmo Dias
atentou para Em Câmara Leuta.
o 3 ago. 1977: depoimento dos editores Fernando e Claudete Mangarielo, sendo
Agradeço a Marcelo Ridenti o que Fernando Mangarielo ficou preso dois dias;
en,~o da transcrição integral da o 8 ago. 1977: Ministétio da Justiça proíbe a publicação e circulação do livro Em
entrevista. Mário Medeiros atribui
essa função à resenha publicada
Câmara Lenta;
na Veja. o 9 ago. 1977: manifesto abaixo-assinado de intelectuais e1n apoio ao autor;

'

o 23 ago. 1977: Renato Tapajós deixa a prisão; 99


Livro e Prisão
o 30 set. 1977: procurador apresenta denúncia ao Ministério Público contra o es-
critor, por incitação à subversão;
o 25 out. 1977: início do julgamento do autor;
o 1nar. a abr. 1978: tramitação do processo. O julgan1ento contou co1n parecer téc-
nico do prof. dr. Antonio Candido de Mello e Souza, que se encerra da seguinte
maneira: "Resumindo para concluir: em qualquer nivel que me coloque, sou le-
vado a negar que Em Câmara Lenta constitua um inventivo ou sequer un1 mero
exemplo de atividade subversiva. E se fosse necessário extrair dele uma lição,
como dos velhos romances alegóricos, eu concluiria que é, antes, o contrário";
o 26 abr. 1978: o Conselho Pern1anente de Justiça absolve Renato Tapajós;
a out. 1978: o Supremo Tribunal Militar absolve Renato Tapajós;
a 17 mar. 1979: Armando Falcão, en1 seu último ato como Ministro da Justiça,
libera a publicação e a circulação en1 todo o território nacional do livro En1
Câmara Lenta.

Essa sequência de fatos constitui, de acordo com Mário Augusto Medeiros da


Silva, "um dos casos mais extraordinários de arbitrariedade, abuso de poder e, até
n1esmo, disputas de leituras e visões de n1undo a partir de uma mesma obra, co-
nhecidos nas histórias política e literária conte1nporâneas"14 • Marcelo Ridenti sin-
tetiza:"[ ... } foi uma operação inusitada da ditadura, já sob o governo Geisel: pren-
deu o autor e só veio a censurar o livro depois"•s.

A Editora Alfa-Omega

A Editora Alfa-Ómega foi fundada no bairro de Pinheiros, em São Paulo, em


1973, por Fernando e Claudete Mangarielo e está '11á 35 anos publicando o pensa-
mento crítico brasileiro': como define seu lema. O foco da editora são obras de his-
tória, sociologia, política, filosofia, economia, clássicos do marxismo, pluralismo 14. Mário Augusto Medeiros da
jurídico, literatura brasileira e literatura estrangeira. Nos seus primeiros três ru1os Silva, op. cit., p. 158.
15. Marcelo Riden1 i, op.cit., p. 155.
de existência, a Alfa-Ôn1ega publicou trinta títulos' 6; no total; a editora j á editou 16. Laurence Hallewell, op. cit., p.
583 obras' 7 e em 2008 contava com wn catálogo de mais de duzentos títulos ativos. 722. Ver também Sandra Reimão,
Nos últimos doze anos, a editora, que na década de 1990 sofreu uma grande baixa Mercado Editorial Brasilciru, pp.
35·51.
nas vendas, te1n investido forten1ente na internet con10 ferramenta editorial e pla- 17. Entrevista à aulora en1 23 jul.
neja mudar-se para uma sede maior na cidade de Cotia. 2008.
100 Antes de publicar Ern Câmara Lenta, Fernando e Claudete Mangarielo tinham
Repressão e Resistência
publicado A Ilha, de Fernando Moraes, texto sobre Cuba, o que sublinha a opção
dos editores por publicar livros politicamente engajados.
Fernando Mangarielo, comentando sua atuação como editor na década de 1970,
atribui sua corage1n para criar uma editora "de resistência e independente" em
parte à sua juventude, "ao seu apetite voraz de jovem': que o fez "atrelar-se aos va-
lores de minha geração': e també1n a uma resistência em relação à autocensura dos
editores. Segundo ele, "havia mna autocensura dos ecUtores, porque uma edição,
sendo pega, desmontava financeiramente uma empresà:
Nos primeiros anos, relata Mangarielo, preventivamente, o estoque de cada um
dos títulos da editora já saia da gráfica estrategicamente dividido em três blocos:
1nil exen1plares eram enviados para a sede da editora, que ficava co1n apenas uns
cem, e já encaminhava os outros para as livrarias; dois mil exemplares iam para
outro lugar: "era uma coisa importante na minha geração, a estratégia e a tática do
vietcongue. Eu dividia em três partes, porque a ação, quando pegava tudo... gerava
um grande prejuízo':
Durante todo o desenrolar da prisão de Renato Tapajós, em 1977, e da discussão
do caso de censura ao livro Em Câmara Lenta, não houve nenhuma busca e apreen-
são de livros na sede da editora. De acordo com Fernando Mangarielo, no entanto:

[...] alguns livros foram apreendido nas livrarias [... ] o livreiro lá de Salvador mandou
uma cópia do auto de apreensão e deduzimos da duplicata que ele tinha a ~agar [...] e outro
de Recife[ ... ]. Mais ou menos ltns trezentos livros, dez por cento da prin1eira edição, foran1
pegos de forma fraginentária ao longo de todo o território.

O editor Fernando Mangarielo, em depoimento, afirma que em momento ne-


nhum pensou em recoll1er o livro, pois "não fazia parte daquele coro de caixa de
ressonância ao discurso oficial': Quando a censw·a oficial chegou, a primeira edi-
ção já estava esgotada. Houve uma segunda edição.

Tecendo os Fios

E1n 2 de agosto de 1977, o advogado Raimundo Faoro manifestou sua indignà-


ção com o arbitrário da prisão de Renato Tapajós:


[... ] é espantoso que havendo Censura Federal, com poderes draconianos, poderes de 101
verificação prévia - segundo wna lei que reputamos inconstitucional mas que está en1 ple- Livro e Prisão

no vigor - a policia estadual interfira e repute subversivo Wll livro que à Censura Federal
não causou nenhuma impressão negativa 18•

O inusitado da prisão de um autor por causa do conteúdo de um livro, run


mês e pouco antes da censura do próp1io livro, também foi salientado no já citado
.
abaixo-assinado de apoio e de solicitação de soltura de Renato Tapajós, publicado
em 9 de agosto de 1977: "Pela primeira vez no Brasil um autor é preso porque o con-
tet'tdo de seu romance, editado e vendido legalmente, foi considerado subversivo
pela autoridade policial"19•
Um. trecho do parecer sobre o livro, escrito pelo delegado Alcides Singillo, do
Deops de São Paulo, talvez possa dar alguma racionalidade ao arbítrio da prisão:
"[ ... ] outro aspecto a ser abordado é que o livro Em Câmara Lenta seja nada menos
que o embrião de uma nova modalidade de ataque e calúnias aos governos, disfar-
çada por runa casca literária"'º. Essa frase do parecer reflete o ten1or das forças da
repressão frente ao início do processo de abertura. Os militares temiam uma "ondà'
de memórias recentes dos militantes da esquerda, o que realmente veio a acontecer.
A publicação de Em Câmara lenta, em 1977, antecede cronologican1ente outras
memórias da guerrilha. Se destacarmos o trecho citado do parecer do delegado
Singillo, então não podemos deixar de concluir que as n1anifestações de repúdio
à prisão do autor e sua absolvição tornaram politicamente possível que as demais
publicações do gênero vicejassern sem maiores problemas.

18. Mário Augusto Medeiros da


Silva, op. cit., p. 149.
19. Lembremos que o livro A
Questão do Petróleo, que gerou a
prisão de Monteiro Lob.ato~não
era um romance.
20. Citado por Mário Augusto
Medeiros da Silva, op. cit., p. 151.

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~D~Tirnrn OOOOOODTIDIBffiw
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mm~ rnmoornoorn~m~ mm
rnrnm•~TIIB ~TiillTIOO~

A censura é sempre expressão da intolerância


e do medo.

Robert Badinter, Censures: de la Bible aux


/armes d'Eros, Paris, BPI, 1967.

'


s textos vencedores de duas edições do Concurso Nacional de Contos Eró-
ticos promovido pela revista Status foran1 vetados pela censura prévia. Já
no 1!! Concurso, em julho de 1976, a censura impediu a publicação do pri-
meiro colocado, o conto "Mister Curitiba': de Dalton Trevisan, que concorrera sob
o pseudônimo João Maria; no 3° Concurso, em julho de 1978, o primeiro colocado
foi "O Cobrador", de Rubem Fonseca, também vetado.
Nas duas ocasiões, a revista adotou estratégias diferentes frente ao veto. Na pri-
meira delas, o índice da publicação menciona o concurso e remete o leitor para a
páglna onde seria publicado o conto; na referida página, no entanto, encontra-se
apenas uma charge. Na segunda ocasião, em 1978, na página indicada no índice
como sendo aquela em que o leitor encontraria o conto pren1iado, há uma foto do
autor e a explicação de que "motivos alheios à decisão do Júri e à vontade da reda-
ção de Status impedem que o público tome conhecimento do texto premiado". Em
seu lugar, publicou-se outro conto do mesmo autor.
'
Vejamos essa históriamais de perto.

105

\

106
Repressão e Resistência 87 CONCURSO

A comissão julgadora do
1.° Concurso Nacional de
Contos Eróticos, depois de
várias reuniões (uma de-
las, na casa de Jorge Ama-
do, em Salvador), revela os
cinco premiados.
88 DALTON
TREVISAN Ao lado: revista Status, jul. 1976, n. 24, p. 3 (detalhe
O ganhador do concurso e do Sumário). Abaixo: revista Status. jun. 1978, n. 48.
seu conto Mister Curitiba. (detalhe da capa)

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A Revista Status e seu Concurso de Contos Eróticos 101
Os Contos "Mister
Curitiba e "O Cobrado"
Status era uma revista para o público n1asculino adulto - algumas capas trazem
grafada a indicação "Revista Masculina da Editora Três", outras salientam "Leitura
para Adultos''. O primeiro número de Status foi publicado em agosto de 1974. No
editorial deste número explica-se o porquê dessa denonunação:

Há sempre o grande perigo de se entender mal o que as palavras significam (... ]. Status
signHica educação, categoria, saber viver. Significa conquista. Nem sempre significa dinhei-
ro, mas significa sempre respeito, posição. [... ] Com a firme intenção de fazer ver o que de
ben1, de inteligente, de certo o homem deve conhecer. Os Editores.

Status antecedeu, por doze meses, outra revista também destinada ao público
1nasculino adulto: a revista Homern, publicada pela Editora Abril. A revista Ho-
mem era um similar nacional da Playboy norte-americana, mas não foi lançada
com esse título pois senão "atrairia ainda mai.s a ira da Censura"•. Em 1978, depois
de perder o direito de usar o título Homem por já ter sido previamente registrado
pela Editora Três e de conseguir um acordo com o editor da original norte-ameri-
cana, a revista Homem altera seu título para Playboy. Status e Playboy concorriam
nas bancas com outras revistas de mesmo perfil, entre as quais a veterana Ele Ela,
publicada desde 1969.
Na revista Status, desde o pr imeiro número havia uma seção denomin ada "Fic-
ção': na qual se publicava uma novela ou um conto. Os textos em "Ficçãó' eram
relativan1ente longos, con1 cerca de seis a doze páginas, e geralmente havia uma
chamada a respeito na capa. Alguns dos primeiros autores publicados nesta seção
foram: F. Scott Fitzgerald, Philip Roth, Ray Bradbury, Julio Cortázar e Tennessee
Williams.
Além da seção "Ficção", havia um espaço destinado à crítica, com um texto cur-
to indicando um ou n1ais livros. Em alguns números, havia ainda a publicação de
algum outro texto literário: no n. 4, encontra-se uma seleção de seis cartas de amor
de Graciliano Ramos para sua segunda esposa e, no n. 15, foi publicado um conto
de Ignácio de Loyola Brandão ("Rosajeine Tira a Roupà') que a revista informa ter
sido escrito especialmente para aquela edição.
No n. 20, de março de 1976, a seção "Ficção" apresenta um con to de Ivan Ângelo '
1. Ver l\,lario Sergio Conli, Noticias
e anuncia o lançamento de um grande concurso: "Status lança um concurso lite- do Planalto: A Imprensa e Fernan-
rário diferente - Prêmio Status de literatura erótica brasileirá: Explica-se, a seguir, do Collor, p. 148.
108
Repressão e Resistência

Revista Status, jul. 1976, Você JJâO uclta c1uc, mals t.'(tt/t) ou mt1il ltlrt}t.·. papai ,•ni p,·,·et·bcr?
n. 24, p. 88: "Você não acha
que, mais cedo ou mais tarde, 88

papai vai perceber?"


que o concurso seria anual e que os resultados seriam divulgados sempre no mês 109
de julho, e que no mesmo mês do anúncio dos vencedores o primeiro colocado da- Os Contos "Mister
Curitiba e "O Cobrado"
quele ano seria publicado na revista. O regulamento anuncia também os prêmios.
O primeiro lugar receberia uma passagem de ida e volta para a Europa e Cr$ 25 mil.
Na edição de julho de 1976 (n. 24), apesar de o índice listar a publicação do
primeiro colocado do Prêmio Status daquele ano - no caso, "Mister Curitiba': de
Dalton Trevisan - o que se vê nas páginas indicadas são anúncios e piadas.
Explicitando: no índice da edição de julho de 1976, localizado na página 3, está
escrito: "[página] 87 Concurso/ A comissão julgadora do 112 Concurso Nacional de
Contos Eróticos, depois de várias reuniões ( uma delas, na casa de Jorge Amado, em
Salvador), revela os cinco premiados"/ [página] 88 Dalton Trevisan. / O ganhador
do concurso e seu conto 'Mister Curitiba"'. Na referida página 88, o leitor encontr a,
de fato, uma ilustração cômica. No desenho veem-se duas jovens, vestidas com
roupas do fim do século XIX, urna delas utiliza uma armação para aumentar os
quadris e a outra utiliza o mesmo tipo de artefato na barriga disfarçando a gra-
videz. A primeira jovem pergunta para a outra: "Você não acha que, mais cedo
ou mais tarde, papai vai perceber?': enquanto o pai de ambas olha distraído pela
janela. Nas três páginas seguintes, espaço presun1iveln1ente reservado para o conto
suprimido, encontra-se material publicitário.
Posteriormente, em outubro de 1976, no n. 27, publicou-se o comentário de um
leitor da revista sobre o episódio:

[... ] ficamos [...] decepcionados [... ] quando contávamos con1 a tão desejada apresen-
tação do conto anunciado no índice da revista número 24 - e nas páginas indicadas havia
apenas duas piadas e alguns anúncios. Não sabemos o que ocorreu com o conto, [...] se
houve alguma falha técnica.

A carta foi publicada com o título "Que no Centenário de Status não Sejam
Necessários Erros Assim''. Sem resposta ou outras observações.
Para avaliar todo o constrangimento da situação é preciso enfatizar a impor-
tância da revista Status, o destaque cultural que os concu1·sos literários tinham
na década de 1970 e, principalmente, a necessidade de o sistema vigente negar ou
esconder suas ações cens6rias.
No acervo do Arquivo Nacional• encontra-se uma carta do diretor-geral do De- 2. Fundo OCDP; Seção Adminis-
tração Geral; Série Correspon-
partamento de Polícia Federal encaminhando a decisão sobre o assunto para o dência Oficial; Subsérie Ofícios de
ministro da Justiça, por conta da complexidade da situação. No documento, lê-se: ComunJcação; docw,1ento n. 081.

110 A "Editora Três': de São Paulo, promoveu a realização do 12 CONCURSO NACIONAL DE


Repressão e Resistência
CONTOS ERÓTICOS, Instituindo comissão julgadora integrada pelos escritores JORGE AMA-
DO, FAUSTO CUNHA e GILBERTO MANSUR para apreciação dos trabalhos inscritos.
O primeiro lugar coube ao conhecido escritor DALTON TREVISAN, pelo seu conto intitu-
lado "MISTER CURITIBA'; ao qual não se pode recusar valor literário, mas contém a narra-
tiva de uma relação sexual anorn1al, que se me afigura infringente da proibição anunciada
no artigo 1º do Decreto-lei n. 1077, de 1970.
Como qualquer medida restritiva da censura poderá provocar n1an,ifestação de pro-
testo, com repercussão negativa para o Governo, em virtude de impor verificação prévia
uma produção literária selecionada por renomados escritores brasileiros, apresso-me em
submeter a matéria à elevada consideração de Vossa Excelência.

Un1a vez que o conto 11ão foi publicado, supõe-se que o ministro da Justiça
optou pelo veto.
A estratégia de Status frente ao veto da censura foi semelhante àquela adotada
pelos periódicos O Estado de S. Paulo, Jornal da Tarde e outros da época: publicar
outra matéria - como receitas culinárias ou trechos de poemas na primeira pági-
na de um jornal diário de prestígio - no local destinado ao conteúdo censurado,
visando a explicitar que tal substituição não se deu por conta da redação. O risco
dessa estratégia era o de que um leitor n1ais desinformado poderia pensar que se
tratava realmente de um erro gráfico, um empastelamento. Há várias histórias de
leitores que ligaram para as redações reclamando pois, ao tentar f~zer as receitas
culinárias indicadas, o resultado não tinha sido satisfatório.
Em 1977, no 2 2 Concurso Status de Literatura Erótica Brasileira, os vencedores
foram: 12 Luis Fernando Emediato, com o conto "Vegetal"; 2 2 Regina Célia Colônia,
"Sob o Pé de Damasco, Sob a Chuva"; 32 Sonia Coutinho, "Cordélia, a Caçadora";
4!! Edla Van Steen, "Um Dia em Três Tempos"; 512 Aércio Flávio Consolim, "Sob o
Sol''. Ao anunciar os vencedores, a revista informa que houvera dois mil inscritos.
Não houve problemas na publicação desses contos.
Em 1978, mais urna vez o conto vencedor - no caso, "O Cobrador", de Rubem
Fonseca - foi vetado pela censura prévia. Naquele ano, na edição o. 48, de julho,
a capa anuncia "150 mil para o vencedor do Prêmio Status de literatura brasileira:
Rubem Fonsecà'; no índice, lê-se "[página] 127 / O resultado do maior concurso
literário da América Latina, o de Status, e o conto vencedor de Rubem Fonseca~
Na página 127, fala-se do concurso, de sua comissão julgadora e do resultado, e
informa-se que o valor de Cr$ 150 mil é o maior prêmio literário da América do
111
Os Contos "Mister
Curitiba e "O Cobrado"

AQUI DEVERIA
ESTAR O CONTO
PREMIADO.
EM SEULUGAB.,UM.A
EXPLICACAO.
EUM OUTRO-CONTO
DO MESMO AUTOR.
ocê deveria estar lendo agora Sta tus espera poder, u1n dia, ter o

V O Cobrador, um co11to de Ru- direito - como cem atualn,enre


bem Fonseca, que concorreu quase toda a in1prensa brasileira -
con1 o pseudônimo de Joaquim de decidir, soberanamente, sobre
Araújo e que, ~ - - - - - -- - - - - - - - - , os textos que
por 1.1nanimi- _ gostaria de
dade de votos colocar nas
da Comissão páginas da re-
julgadora, re- vista.
cebeu o Prê- ;7111r:r Entretanto,
n1.io Status de para não frus-
Literarura Bra- trar a expecta-
sileira 1978, tiva dos nos-
um prêmio de sos leitores
Cr$ 150.000,00, publicamos, a
o maior do partir da pá-
Brasil e de gina seguinte,
toda a América u m o u tro
Latina. ·Rubem Fonseca: ptoib)do no Brosil. .S.UC.C$$0 no. Extarior. conto inédito
Infelizmente, motivos alheios à - A1andrahe - de Ruben1 Fonseca,
decisão do Juri e à vontade da reda- un1 escritor que cada vez consegue
ção de Status impedem que o 111aís êxito, de público e crítica, no
público come conhecime11to do Brasil e nos principais países do
texto preai iado de um dos maiores mu11do, onde seu trabalho de fie-
escritores brasileiros. A redação de ção tem sido traduzido. '

Revista Status, jun. 1978,


n. 48, p. 130
112 Sul. Nas páginas 128-129, há uma ilustração para o conto "O Cobrador" e indica-
Repressão e Resistência
se que ele havia sido o vencedor. No entanto, na página 130, lê-se, en1 maiúsculas,
a seguinte chan1ada: "AQUI DEVERIA ESTAR O CONTO PREMIADO. EM SE U LUGAR,
UMA EXPLICAÇÃO. E UM OUTRO CONTO DO MESMO AUTOR'~
A estratégia usada pela revista Status frente ao veto da censura ao primeiro
colocado no seu Concurso de Contos de 1978 foi diferente da adotada em 1976.
Em 1978, a revista optou por tornar claro que a redação fora in1pedida de "deci-
dir soberanamente sobre os textos que gostaria de colocar nas páginas da revistá'.
No texto, a revista informa também que outro livro de Rubem Fonseca, Feliz Ano
Novo, estava "proibido de circular em todo o território nacional, por portaria do
Ministério da Justiça''.

Os Contos "Mister Curitiba" e "O Cobrador" em Livro

Caracterizado como uma narrativa curta, o conto, ensina-nos Alfredo Bosi,


pode ser um "lugar privilegiado e1n que se dizem situações exe1nplares vividas
pelo homem contemporâneo''. Na busca destas "situações exemplares•: o contista
é co1nparado por Bosi a um pescador: "Em face da História, rio sem fim que vai
arrastando tudo e todos no seu curso, o contista é um pescador de momentos sin -
gttlares cheios de significação"3•
Na década de 1970, o conto destaca-se como uma das principais. formas da nar-
rativa ficcional. Chega-se a afirn1ar que o conto seria "a forma narrativa principal"
da produção literária daquele momento 4 •
Dalton Trevisan é um dos principais contistas brasileiros. Ele é "cont ista e só
contista [...] tendendo à síntese e ao 1niniconto, numa das carreiras literárias mais
ricas da literatura brasileira"s.
Dalton Trevisan iniciou suas atividades literária publicando contos em forma de
3. Alfredo Bosi (org.), O Conto folheto e fundando, em Curitiba, en1 1946, a revista Joaquim. Foi apenas a partir de
Brasileiro Co11temporáneo, pp.
8 e 9. Novelas nada Exemplares, publicado en1 1959, que "sua obra passa a ter repercussão
4. Cronologia das Artes em São nacional"6• Ao ser lançado pela Livraria José Olympio Editora, o livro mereceu uma
Pa11/o 1975-1995, vol. 1, Literatura,
resenha de Paulo Hecker Filho, publicada em 25 de julho de 1959 no "Suplemento
p. 25.
5. Afrânio Coutinho e J. Galante Literário" do jornal O Estado de S. Paulo. A resenha refere-se a um texto em que
Souza, Enciclopédia de Literatura '
Otto Maria Carpeaux teria falado bastante bem do livro, "a despeito da aparêncià:
Brasileira, vol. 11, p. 1584.
ou seja, apesar do título "Pretensão sem Surpresa''. Segundo Paulo Hecker Filho,
6. Alfredo Bosi (org.), op. cit., .
p. 185. Carpeaux teria enfatizado o fato de Dalton Trevisan referir-se no título de seu livro
113
Os Contos "Mister
Curitiba e "O Cobrado"

1.• DALTON TREVISAN, CURITtBA.


PSEUDÔNIMO: JOÃO MARIA. CONTO: " MISTER CURITIBA"
2.º AIDENOR AIRES, GOIÃN1A.
PSEUDÔNIMO: ANGRAHYOCHÁ. CONTO: " ATE A IJLTIMA ESTAÇÃO".
3.º VARA RAMOS RIBEIRO, RIO.
PSEUDÔNIMO: RENEE JORGE. CONTO: " AS TRES VIRGENS ".
4.º LUIZ FERNANDO EMEOIATO, BELO HORIZONTE.
PSEUDÔNIMO: MARTIN. CONTO: " OS LÁBIOS UMIDOS DE MARILYN MONROE" .
s.• SERGIO TONI, SÃO PAULO. Revista Status, jul. 1976,
PSEUDÔNIMO: KLEMENTE. CONTO: " ARR OZ E FEIJÃO".
n.24, p.87

a Novelas Exemplares, de Miguel de Cervantes, e visto aí uma manifestação de pre-


tensão. Paulo Hecker vê, nesse titulo, "um divertido achado verbal':
Em 1976, quando teve seu conto "Mister Curitiba" vetado para publicação na
Status, Dalton Trevisan já era um contista conhecido, com nove livros publicados.
"Mister Curitibâ' relata as falas de um hon1em adulto casado e uma jovem du-
rante o ato sexual. O texto pode ser lido à luz das anotações de Alfredo Bosi sobre
Dalton Trevisan: ''Aqui, a obsessão do essencial parece beirar a crônica, mas dele
se afasta pelo tom pungente ou grotesco que preside à sucessão de frases, e faz de
cada detalhe um índice do extremo desamparo e da extrema crueldade que rege os
destinos do homem sem nome da cidade moderna"7•

*
Rubem Fonseca estreou e1n livro em 1963, com Os Prisioneiros, reunião de doze
contos. "Halterofilistas, n1arginais, ninfomaníacas, burguesia ociosa são os perso-
nagens de Rubem Fonseca, que domina com o maior vigor a linguagem literária,
enriquecida pelo falar carioca da gíria de rua"8 •
Antonio Candido coloca Rubem Fonseca, juntamente com João Antonio, na
vertente ultrarrealista, ou de "realismo feroz" da literatura nacional pós- 1960:
'
1. Idem, p. 17.
Esta espécie de ultrarrealismo sem preconceitos aparece igualmente na parte mais forte
8. Afrânio Coutinho e /. Galante
do grande mestre do conto que é Rubem Fonseca. Ele também agride o leitor pela violência, Souza, op. cit., p. 722.
114 não apenas dos temas, mas dos recursos técnicos - fundindo ser e ato na eficácia de uma
Repressão e Resistência fala magistral em primeira pessoa, propondo soluções alternativas na sequência da narra-
ção, avançando as fronteiras da literatura no rumo dmna espécie de notícia crua da vida9.

O conto "O Cobrador" é um relato em primeira pessoa. Trata-se de uma narra-


tiva, no tempo presente, na voz de wn jovem economicamente excluído, de "físico
franzino': con1 cicatrizes pelo "corpo todo': com "poucos dentes" ("se não fizer um
tratamento rápido vai perder todos os outros") e que estudara no "mais noturno de
todos os colégios noturnos do mundo''. Este jovem excluído autodeno1nina-se "O
Cobrador" e declara que vai cobrar o que lhe devem, constatando:"[...] estão me
devendo [... ], cobertor, sapato, casa automóvel, relógio, dentes[ ... ]. Tão me deven-
do colégio, namorada, aparelho de som, respeito, sanduíche de mortadela no bote-
quin1 da rua Vieira Fazenda, sorvete, bola de futebol'~ Este personagem-narrador,
com atos de extrema violência, executa aquilo que entende con10 esta cobrança.

*
É importante assinalar que, no ano seguinte aos seus respectivos vetos pela cen-
sura para publicação na revista Status, os contos "Mister Curitiba" e "O Cobrador"
foram publicados em livro, sem ser i11terditados pela censura. "Mister Curitibà'
fez parte do livro A Trombeta do Anjo Vingador, lançado pela Editora Codecri em
1977, na coleção Edições do Pasquim, e o conto "O Cobrador" dá título ao livro de
Rubem Fonseca publicado pela editora Nova Fronteira em 1979. Tanto a Editora
Nova Fronteira como a Editora Codecri errun, no momento, empresas de unpacto
no mercado editorial e de grande visibilidade.
O fato de os contos "Mister Curitiba" e "O Cobrador" terem sido vetados pela
censura para publicação em revista, mas não em livro, é um exemplo concreto de
que a censura, durante a ditadura militar, teve atuações diferenciadas, não só nos
diferentes períodos como também em relação aos diversos meios de comunicação.
Os casos descritos exemplificam, nos meios in1pressos, como a atuação da censura
foi mais rígida em relação a jornais e revistas do que em relação a livros.
Casos como esses parecem indicar que havia uma llierarquização da censura,
que resultava em atuações diversas em virtude do potencial impacto da produção
em questão.
Embora estejamos enfocando especificamente um caso de censura à ficção' em
revistas e livros, a hierarquização que verificamos parece reforçar a ideia da racio-
9. Antonio Candido, A Educaçifo
pela Noite e outros Ensaios, p. 2u. nalidade da ação censói:ia durante a ditadura militar - essa ação, depois de 1968,

teria sido variante, multifacetada, mas não arbitrária. Maria Aparecida Aquino, 115
no livro Censura, Imprensa, Estado Autoritárío (1968-1978), defende posição seme- Os Contos "Mister
Curitiba e "O Cobrado"
lhante ao estudar a censura a noticias nos jornais O Estado de S. Paulo e Movimen-
to, concluindo que "a censura apenas ocasionalmente foi aleatória; possuía, com
certeza, uma 'lógica' interna enraizada na defesa dos interesses dos grupos presen-
tes no Estado autoritário e no projeto político que conceberam para o país"'º.
No caso específico do presente estudo - censura à ficção en1 revistas e livros -,
essa hierarquização dos atos censórios se daria em dois níveis: um primeiro, relativo
aos meios de con1unicação (televisão, cinema, rádio, imprensa); e um segundo, de
acordo com produções específicas de cada un1 dos diversos meios de comunicação.
Na son1atória desses fatores, o resultado era o de que quanto mais público uma de-
terminada produção cultural pudesse ter, mais ela seria "alvo" da censura. No caso
em questão, Status, naquele momento uma das principais revistas do país, era, sem
dúvida, muito mais lida que a maioria dos livros nacionais de ficção".
Voltando à revista Status: nos dois casos de veto à publicação do texto vencedor
do Concurso de Contos, em 1976 e 1978, a revista buscou alternativas que não alte-
rassem sua diagramação e sua paginação, evidentemente por questões de custos e
prazos. Se no primeiro caso, em 1976, a estratégia usada pode até ser lida como um
erro gráfico, um empastelainento, em 1978 a revista resolveu explicitar que havia
sido censurada e proibida de publicar o conto vencedor. A estratégia da revista foi
diferente por que os tempos eram outros: em 1978 o país já estava em pleno proces-
10. Maria Aparecida Aqulno,
so de "desmonte da ditadw·a" 12, às vésperas do fim da vigência do Ato Institucional
Ce11sura,.Jmpre11sa, Estado Auto-
n. 5, e, como o próprio texto explicativo salienta, naquele momento "quase toda a ritário (1968-1978), p. 256. Posíção
imprensa brasileira" tinha o direito "de decidir, soberanamente, sobre os textos" a semelhante também é encontrada
no artigo de Carlos Fko, ~Pre-
serem publicados. zada Censura': Cartas ao Regime
Militar''.
11. O Anuário Brasileiro de Mídia
1975'1976, na p. 268, informa que
a circulação total (assinaturas
mais vendas) da revista Stah1s era
de 95 mil exemplares. O Anuário
Brasileiro de Mídia 1977/1978
não informa a circulação total da
revista, mas indica que a circu-
lação das Status especiais era de
oitenta 1nil exemplares. O editor
' de
das Status especiais era lgnácio
Loyola Brandão.
12. Ver Elio Gaspari, A Ditadura
Derrotada, pp. 15-19.
in1prensa teve início 110 Brasil em 1808, ano da transferência da Familia
Real Portuguesa de Lisboa para o Rio de Janeiro, con1 a consequente insta-
lação da linpressão Régia nessa cidade.
A Família }leal Portuguesa decidiu fixar-se no Brasil para escapar da invasão
das tropas de Napoleão Bonaparte, que pretendiam obrigar Portugal a participar
do bloqueio continental contra a Inglaterra. Ao transferir-se para o Brasil, a Fan1í-
lia Real visava a mudar a sede do Estado português e assim manter a sua soberania
em relação ao invasor.
Com a mudança, a Fainilia Real dos Bragança "fugia (na visão de alguns), evi-
tava a sua dissolução {na visão de outros), ou e1upreendia uma política audaciosa
para escapar do tratamento hu1nilhante que Napoleão vinha impo11do às demais
monarquias"'.
Na época, um pequeno poema musicado narrava ironicamente a situação:
'

Portugal não foi à guerra, '


1. Lilia Moritz Schw=~ A Longa
Mas também não acovardou-se,
Viagem da Biblioteca dos Reis, p.
Cobriram Portugal com um pano 209.

111
118 e escreveram em cima
Repressão e Resistência
Portugal mudou-se•.

Antes de 1808, a metrópole Portugal proibia a existência de oficinas tipográficas


e a produção de qualquer tipo de impresso na Colônia.
As poucas tentativas de burlar a proibição foram duramente reprimidas pelo
governo português. É o que afirma, entre outros, Muniz Tavares, citado por Wilson
Martins:

Até a transferência da corte para o Rio de Janeiro, a metrópole nunca quis consentir o
estabelecitnento de tipografias coloniais. Os tímidos ensaios de imprensa que tivera1n lugar
em Pernambuco e no Rio de Janeiro no decorrer do século xv1n (...), foram rigorosamente
suprin1idos, sequestrando-se o material e sendo ameaçados de prisão os in1pressores'.

O prin1eiro livro in1presso no Brasil foi editado em 1747, burlando as proibições


de Portugal. Era um folheto de vinte páginas denominado:

Relaçaõ da entrada que fez o excellentissimo e reverendissimo senhor D. F. Antonio do


Desterro Malheyro, bispo do Rio de Janeiro, en1 o primeiro dia deste presente anno de 1747,
havendo sido seis anos Bispo do Reyno de Angola, donde por non1iaçaõ de Sua Magestade,
e Bulia Pontificia, foy promovido para esta Diocesi. Composta pelo doutor Luiz Antonio
Rosado da Cunha Juiz de Fora, e Provedor dos defuntos, e auzentes, Cap~llas, e residos do
Rio de Janeiro. Rio de Janeiro. Na Segunda Oflicina de Antonio Isidoro da Fonceca. Anno
de M.Cc.xLn. Co1n licenças do Senhor Bispo•.

Antonio Isidoro da Fonseca publicou, no Brasil, esta Relação e 1nais três outros
folhetos. A iniciativa gerou uma Ordem Régia de 6 de julho de 1747 sequestrando
para o Reino as "letras de ilnprimir'' (caracteres móveis, tipos gráficos) e mandan-
do "notificar aos donos das mesmas letras e aos oficiais da imprensa [... ] para que
2. Impressões do Brasil, Grupo
Machline, Digibanco Sharp, s.d. não se imprimam livros, obras ou papéis alguns avulsos [...]''. A mesma Ordem
(v11s). continuava com W11a ameaça, advertindo que "fazendo o contrário, serão reme-
a Wilson Martins, A Palavra
Escrltn, pp. 334-336.
tidos presos para este Reino [...] para se lhes imporem as penas em que tivessem
4. A referência a uma segunda ofi- i11corrido, de conformidade co1n as leis e ordens n1in has";_
cina deve-se ao fato de a primeira A imprensa no Brasil surgiu mais tarde do que em muitos países da Amér ica
ter sido cn1 Portugal.
5. Documento citado por Wílson Latina, como o México, onde nasceu en11539; o Peru, em 1583; e a Bolívia, em 1612.
Martins, op. cit., p. 341. Ao buscar uma explicação para esse fato, Nelson Werneck Sodré afirma que na

An1érica Espanhola havia culturas complexas, como as dos povos asteca e inca, 119
que o invasor teve de destruir para poder in1por a sua cultura, enquanto no Brasil Considerações Finais

a cultura indígena, em grande parte arrasada pelos colonizadores aqui instalados,


não era tão solidificada. Alén1 disso, os u1dios habitantes do Brasil, à época da che-
gada dos portugueses, viviam de maneira dispersa no território, organizados em
grupos não muito grandes, e não concentrados em cidades, como era o caso dos
astecas e dos incas.
Por esse mesmo motivo é que, segundo Werneck Sodré, a instalação de uni-
versidades no Brasil também foi tardia: as primeiras faculdades do Brasil foram a
de Medicina da Bahia, de 1808, e as de Direito de São Paulo e de Olinda, ambas
de 1827, enquanto a primeira universidade data do século xx. Na América espa-
nhola, a universidade n1ais antiga é a de Sai1 Marcos, criada em 1551 no Peru - 257
anos antes. Assim, para Werneck Sodré, o aparecin1ento precoce da universidade
e da imprensa en1 alguns países da An1érica Latina, longe de ser "wna posição de
tolerância", era, de fato, "sintoma de intransigência cultural, de esmagamento, de
destruição, da necessidade de, pelo uso de instrumentos adequados, implantar a
cultura externa, justificató1ia do domínio"6 •
Em História Social da Imprensa, José Marques de Melo observa que os sobera-
nos espanhóis selecionavam rigorosame11te as pessoas que seriam enviadas para
conquistar as Américas, visando a excluir os hereges e a enviar pessoas que zelas-
sem para que as riquezas dos territórios ocupados ficassem con1 os espanhóis e que
tan1bém zelassem pela manutenção das tradições espanholas7•
Antes de 1808, antes da instalação da Impressão Régia 110 Brasil, a única forma
legal de obter-se um livro no país era importar de Portugal os livros aprovados
pelos órgãos de censura: até 1768, o Santo Ofício, o Ordinário e o Desembargo
do Paço; a partir de 1768, a Real Mesa Censória, posteriormente substituída pela
Real Mesa da Co1uissão Geral para o Exame e a Censura de Livros; e, entre 1794 e
1821, a tarefa passou a ser exercida novamente pelo Santo Ofício, pela autoridade
episcopal e pelo Desembargo do Paço8 • A partir de 1821, com a extinção do Santo
Ofício en1 Portugal, a censura a livros se tornará função da Secretaria da Censura e
do Dese1nbargo do Paço de Lisboa.
Foi o complexo sisten1a de censura a impressos no país de 1808 a 1821 que fez
6. Nelson Werneck Sodré, História
co1n que o primeiro jornal brasileiro, Correio Braziliense, tivesse de ser impresso da Imprensa no Brasil. p. 14.
fora do Brasil, na Inglaterra, e aqui chegasse clandestinamente. Editado por Hip6- 1. José Marques de Melo, Hrst6ria
Social d11 Imprensa. p. 75.
lito da Costa, o Correío Braziliense teve seu número inaugural em 1º de junho de 8. Ver Márcia Abreu, Caminlws
1808, dois meses depois da Corte de d. João VI ter chegado ao Rio de Janeiro e três do.f Livros, p. 23.
120 1neses antes do número inicial, de 10 de sete,n bro, da Gazeta do Rio de Janeiro, pri-
Repressão e Resistência
meiro jornal brasileiro impresso no país - a Gazeta era o jornal oficial, publicado
pela Impressão Régia e dirigido pelo frei Tibúrcio José da Rocha.
O Correio Braziliense ou Ar1nazén1 Literário foi publicado de 1808 a 1822 - era
wna publicação n1ensal e teve 175 números. Não era um jornal noticioso, mas dou-
trinário, "pretendia declaradamente, pesar na opinião pública, ou o que d ela e.>..istia
no tempo"9, atacando os defeitos das administrações no Brasil e buscando a n1elho-
ra dos costwnes políticos, en1bora, segundo Nelson Werneck Sodré, não pregasse
a Independência do Brasil e1n relação a Po1tugal1º.
Apesar do estrito controle e _d a complicação burocrática, o 1novimento de in1-
portação de livros para o Brasil era numericamente bastante significativo. Márcia
Abreu, pesquisai1do os registros dessas solicitações de importação nos arquivos
dos órgãos censórios portugueses, chegou aos seguintes dados: entre 1769 e 1826,
por mais de 2,6 mil vezes pessoas manifestaram interesse em remeter livros para o
Brasil, sendo que mais de dezoito mil obras são citadas nesses pedidos.
Detalhando esse 1nesn10 levantamento, Márcia Abreu observa que "consideran-
do-se apenas os livros de belas-artes e apenas a cidade do Rio de Janeiro, vê-se que,
no período anterior à presença da Fanúlia Real, foram re1netidos de Portugal 1328
livros de belas-artes equivalentes a 519 títulos diferentes"".
Em paralelo à remessa legal de livros para o Brasil, havia também a entrada
clandestina - clandestina e perigosa, pois os livros podian1 ser apreendidos e seus
proprietários, punidos. Apesar dos riscos, no final do século XV1TI, por volta de
1780, além das poucas bibliotecas de mosteiros e escolas, começam a aparecer bi-
bliotecas particulares e inicia-se no Rio de Janeiro um comércio de livros indepen-
dentemente da censura. Os exemplares chegavam por contrabando, sobretudo e1n
navios ingleses.
Os processos contra os participantes da Inconfidência Mineira de 1789 n10s-
tram que muitos dos que atuaram nesse n1ovin1ento pela independência do Brasil
possuíam livros em suas casas: Tiradentes possuía, em francês, a Coleção das Leis
9. Nelson Wen1eck Sodré, op. cil.,
p. 26. Constitucionais dos Estados Unidos da América; outros posstúam obras de Con-
10. Tdem, p. 33. dillac, Montesquieu e Rousseau. Cláudio Manuel da Costa, outro inconfidente, ti-
11. lvlárcia Abreu, op. cít., p. 27.
nha uma biblioteca de 383 volti1nes12•
12 Laurcnce Hallewell, O livro 11.0
Brasil, p. 104. Em 1792, no Rio de Janeiro, havia apenas uma livraria; em 1799, existiam duas.
13. Nelson Werneck Sodré, op. cit., Essas livrarias vendiam livros publicados em Portugal e aprovados pela censuta,
p. 16. Este livro é fonte das infor-
mações dos dois parág rafos ante• alén1 de almanaques e folhinhas. "Os bons livros, os livros autênticos, entravan1 de
riores (salvo indicação diversa). contrabando:'•3

Dom João VI, sua família e sua corte, ao se transferirem para o Brasil, chegaram 121
Considerações Finais
inicialmente à Bahia, em janeiro de 1808. Lá, d. João VI assinou a carta régia que
abria os portos brasileiros para o comércio com nações amigas. De lá, o rei e seus
súditos partiram para o Rio de Janeiro, onde desembarcam em março de 1808.
Con1 a transferê11cia da Familia Real e da corte portuguesa, o Brasil, de colônia,
se transforma em sede da metrópole: "o que estava acontecendo era novo e não
tinha antecedente: a colônia transformava-se em sede da metrópole, e a sede se
transformava, aos poucos, em colônia"' 4 • Depois de várias festividades e comemo-
rações pela chegada, foi necessário tomar providências para o alojamento de todos:
afinal, se tratava de cerca de dez a quinze mil viajantes•~ instalando-se em uma ci-
dade que, na época, contava com cerca de cinquenta mil habitantes e necessitava de
melhorias urbanísticas como água encanada, aterros, calçadas e iluminação. Poste-
riormente, foi necessário construir todo um aparato jurídico e diplomático e, nesse
contexto, em 13 de maio de 1808, foi criada a Impressão Régia - data da "instalação
oficial e definitiva da tipografia en1 nosso país"16•
A Impressão Régia foi criada para imprimir "exclusivamente toda a Legislação e
Papéis diplomáticos que emanarem de qualquer Repartição do Meu Real Serviço;
e se possam imprimir todas e quaisquer outras obras, ficando inteiramente perten-
cendo o seu governo e administração à mesma secretariâ'.
A prensa tipográfica que seria utilizada para a formação da Impressão Régia no
Brasil havia sido adquirida na Inglaterra e ainda se encontrava no porto de Lisboa
quando da fuga da Familia Real e da corte portuguesa para o Brasil. Foi, por isso,
transportada nos mesmos pesados caixotes em que tinha chegado da Inglaterra,
que pe1maneciarn intactos. Essa coincidência talvez tenha sido responsável pelo
estabelecimento da Impressão Régia no Brasil. Se os caixotes não estivesse1n no
porto, talvez d. João não tivesse se lembrado de trazer uma tipografia'7• Os prelos
vieram na bagagem de d. Antonio Araújo de Azevedo e foram acomodados por ele
na rua do Passeio, número 42, primeiro endereço da Impressão Régia. D. A11tonio
de Araújo também trouxe na nau Medusa a sua rica biblioteca particular que, de-
pois de sua morte, seria incorporada à Biblioteca Real'ª. 111. Lllia Morítz Schwarz, op. cit. ,
Mes1na sorte não tiveram os caixotes que continham as cerca de sessenta mil p. 2.49.
peças, entre elas inúmeras preciosidades, da Real Biblioteca: no processo de em- 15. Idem, p. 2 18.
18. Nelson Werneck Sodré, op.
barque da corte portuguesa e.m novembro de 1807, esses caixotes não foram leva- cil., p. 344.
dos aos navios: "com a correria ficaram abandonados no porto, onde permanece- 17. Idem, p. 344. '
18. Lilia ~1oritz Schwarz, op. cit.,
ram por algum tempo debaixo de sol e chuva, até retornar ao Palácio da Ajudâ''9•
p. 356.
A Real Biblioteca da Ajuda - que compreendia dois conjuntos, a Livraria Real e a 19. Idem, p. 264.
122 Livraria do Infantado - começou a ser transferida para o Rio de Janeiro três anos
Repressão e Resistência
mais tarde, em 1810, com a remessa de uma primeira leva, a que se somariam duas
outras remessas em 1811. Finalmente, em setembro de 1811, a "Real Biblioteca estava
novamente toda reunida e, por fun, em terras brasileiras"'º. A Real Biblioteca é o
acervo inicial da atual Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.
A primeira publicação da Impressão Régia (que posteriormente veio a deno-
minar-se Imprensa Nacional, Typographia Real, Typographia Régia, Typographia
Nacional, Régia Typographia, Departamento de Imprensa Nacional e atualmente
denomina-se Imprensa Nacional) foi um folheto de 27 páginas denominado:

RELAÇÃO DOS DESPACHOS PUBLICADOS NA CORTE PELO EXPEDIENTE DA SECRETA-


RIA DE ESTADO DOS NEGÓCIOS ESTRANGECROS E DA GUERRA NO FAUSTISSIMO DIA DOS

ANOS DE s. A. R. o PRÍNCIPE REGENTE N. s. E de todos os mais, que se tem expedido pela


mes1na Secretaria desde a feliz chegada de S. A . R. aos Estados do Brazil até o dito dia"'.

Entre 1808 e 1822 a Impressão Régia publicou 1154 trabalhos, a maioria opúscu-
los e avulsos insignificantes, papéis de expediente, editais, sermões, cantos fúne-
bres e hinos triunfais. Imprimiu também, contudo, obras de grande valor literário,
tais como Mari?ia de Dirceu, de Tomás Antônio Gonzaga, e de discussão política,
como Compêndio da Obra da Riqueza das Nações, de Adam Smith.
Pode-se dizer que Marília de Dirceu foi o primeiro best-seller do Brasil". A obra
teve quatro edições em Portugal entre 1792 e 1800, sendo que uma delas vendeu
.
dois mil exemplares em seis meses. E1n meados do século x1x, a obra já somava 34
edições no Brasil e em Portugal.
Ao iniciar suas atividades de edição no Brasil em 1808, a Impressão Régia estava
submetida aos mesmos mecanismos de censura vigentes en1 Portugal e em todas
as colônias de além-mar. Esses âmbitos de verificação censória eram, naquele mo-
mento, já o vimos, o Santo Ofício, a autoridade episcopal e o Desembargo do Paço.
Além dessas instâncias, em 22 de abril de 1808 foi instituída a Mesa do Desembargo
do Paço do Rio de Janeiro, entre cujos objetivos constavam o de controlar livros
e papéis que passassem pelas alfândegas e o de examinar os escritos submetidos à
Impressão Régia23 •
20. Iden1, p. 269.
21. Wilson l\.:fartlns, op. cit., p.349. Em abril de 1821, d. João VI e a Família Real voltaram para Portugal, enquanto d.
22. É o que afirma Laurence Pedro 1 pern1aneceu no Brasil, na qualidade de Príncipe Regente. Em 2 8 de agosto
Hallewell , op. cit., p.98.
do mesmo ano, d. Pedro I estabeleceu por decreto o funda censura prévia e restrin-
23. Márcia Abreu, op. cit., pp. 40
e 41. giu as atividades dos censores, estabelecendo um marco para o início da liberdade
de imprensa no Brasil. Um ano depois, e1n 7 de setembro de 1822, m enos de dois 123
Considerações Finais
anos depois do decreto do fim da censura prévia, d. Pedro 1 proclamará a Indepen-
dência do Brasil. É célebre sua declaração: "Viva a independência e a separação
do Brasil. Pelo meu sangue, pela minha honra, pelo meu Deus, juro promover a
liberdade do Brasil. Independência ou Morte!':

*
No Brasil, a in1pressão de livros - que teve uma aparição esporádica em 1747,
com a publicação de folhetos à revelia do veto de Portugal sobre a instalação de
prelos na colônia - nasceu oficialmente em 1808, no interior de um complexo sis-
tema de censura, vindo a ser radicalmente cerceada novamente durante o Estado
Novo e durante a ditadura militar.
No governo ditatorial de Getúlio Vargas conhecido como Estado Novo (1937-
1945), livros foram apreendidos inún1eras vezes em livrarias, depósitos de editoras
e até mesmo em bibliotecas, além de serem incinerados. Essas destruições eram
frequentes e acontecia.in arbitrariainente, a mando de qualquer pessoa que se jul-
gasse em posição de autoridade: era possível "a destruição em massa de quaisquer
livros a que algué1n em posição de mando fizesse objeção" 24 • Algumas editoras,
como as Edições Cultura Brasileira, fecharam en1 virtude de perdas financeiras
ocasionadas pelas apreensões. Graciliano Ramos, Jorge An1ado e Raquel de Quei-
roz, entre outros, foram presos sob suspeita de partilhar ideias comunistas. Muitas
obras de Monteiro Lobato foram queimadas. Até mesmo Gilberto Freire, um co-
nhecido n1oderado, foi acusado de subversivo e sua obra Casa Grande e Senzala,
considerada antinacionalista e comunista.
Merece destaque o fato de que, durante a ditadura de Getúlio Vargas, Cecília
Meireles foi presa por traduzir As Aventuras de Tom Sawyer, de Mark Twain, consi-
deradas subversivas, tendo, por isso, uma edição confiscada. Esse episódio perfila-se
na lista das iro11ias ligadas à história da censura. Rob ert Netz, estudando a censura
no mundo, conclui que quase sempre existe uma lista de "bobagens" realizadas pe-
los agentes da repressão, o que, ainda de acordo com Netz, acontece por ser a cen-
sura "uma intervenção autoritária em um circuito comunicacional e, portanto, ela é
sempre mais ou menos inadequada em relação ao discurso que ela quer impedir"25 •
Durante a ditadura n1ilitar brasileira (1964-1985), a edição de livros foi, inicial- 24. Laurence Hallewcll, op. cit., p.
mente, vítin1a de atos de vandalismos da direita e, a partir de 1970, coagida por 457 (fonte também para o' restante
desse parágrafo).
uma legislação de censura prévia. O estudo que empreendemos sobre a censura a
25. Robert Netz, Histoire de la
livros nesse período nos conduz a três constatações: censure daris l~dition, p. 123.
124 A primeira é a do limite de qualquer ato de coação censória: toda coação é tem-
Repressão e Resistência
porária e limitada - "pode-se reprimir o espírito por um curto espaço de tempo,
mas, no final, o espírito sempre vence"26 • Em Carta sobre o Comércio de Livros,
Diderot, dirigindo-se a uma autoridade jurídica, sintetiza assim a situação: "Preen-
cha, senhor, todas as suas fronteiras com soldados, arme-os com baionetas para
apreender todos os livros perigosos que se apresentarem e, mesmo assim': adverte
o autor, "esses livros, perdoe-me a e}..-pressão, passarão entre as suas pernas e salta-
rão por cima de suas cabeças e chegarão até nós"'7•
A segunda observação geral a que o estudo realizado nos conduz é a de que a
censura durante a ditadura militar brasileira foi parte de um aparelho de coerção
e de repressão e resulto u em enormes prejuízos para o exercício da cidadania e da
cultura.

O estudo conduziu-nos, por fim, à verificação da existência de grande n ún1ero


de ações de resistência à opressão. Foram muitos os atos e as manifestações contra
a censura por parte de grandes escritores, como Jorge Amado e Érico Veríssimo, e
também por parte de grandes intelectuais e editores, como Ênio Silveira. Por fim,
e talvez principalmente, foram muitos os atos de resistência protagonizados por
urna legião de anônimos - pequenos e médios editores, impressores e livreiros que,
no limite de seus campos de ação, atuaram com dignidade e em prol da liberdade,
mesmo em tempos sombrios. Não nos esqueçamos de incluir os leitores nessa si-
lenciosa legião de pessoas que, com pequenos atos, buscaram prese_rvar os direitos
humanos essenciais nas adversidades - pois, lembremos, em certos momentos, até
1nesmo comprar, carregar e guardar alguns livros podia ser perigoso.

26. Essa frase foi dita pelo biblió-


filo José Mindlin em entrevista
a mltn concedida em nove mbro
2008.

/
27. Denis Diderot, Lettre s11r /e
commerce de ln librairie, p. 100.

1. Decreto-lei 1.077, de 26 de Janeiro de


1970
2. Livros de Autores Brasileiros
Censurados (1964-1985)
3. Pareceres do Serviço/Divisão de
Censura de Diversões Públicas
4. Balanço das Atividades Censórias do
Ano de 1976
5. Manifestações da Sociedade Civil

'

/

Decreto-lei 1.077, de 26 de Janeiro de 1970

Dispõe sôbre a execução do artigo 153 § 8º, parte final, da República Federativa
do Brasil.

o PRESIDENTE DA REPÓBLICA, usando da atribuição que lhe confere o artigo 55,


inciso I da Constituição e
CONSIDERANDO que a Constituição da República, no artigo 153, § 8!1. dispõe que
não serão toleradas as publicações e exteriorizações contrárias à moral e aos costumes;
CONSIDERANDO que essa norma visa a proteger a instituição da família, preser-
var-lhe os valôres éticos e assegurar a formação sadia e digna da mocidade;
CONSIDERANDO, todavia, que algumas revistas fazen1 publicações obscenas e
canais de televisão executam programas contrários à moral e aos bons costumes;
CONSIDERANDO que se tem generalizado a divulgação de livros que ofendem
frontalmente à moral comum;
CONSIDERANDO que tais publicações e exteriorizações estimulam a licença, in-
sinuam o amor livre e ameaçam destruir os valores morais da sociedade Brasileira; '
CONSIDERANDO que o emprêgo dêsses meios de comunicação obedece a um
plano subversivo, que põe em risco a segurança nacional.

121
128 decreta:
Repressão e Resistência

Art. 111 Não serão toleradas as publicações e exteriorizações contrárias à moral e


aos bons costumes quaisquer que sejam os meios de comunicação.
Art. 2 11 Caberá ao Ministério da Justiça, através do Departamento de Polícia Fe-
deral verificar, quando julgar necessário, antes da divulgação de livros e periódicos,
a existência de matéria infringente da proibição enunciada no artigo anterior.
Parágrafo único. O Ministro da Justiça fixará, por meio de portaria, o modo e a
forma da verificação prevista neste artigo.
Art. 311 Verificada a existência de matéria ofensiva à moral e aos bons costumes,
o Ministro da Justiça proibirá a divulgação da publicação e determinará a busca e
a apreensão de todos os seus exemplares.
Art. 411 As publicações vindas do estrangeiro e destinadas à distribuição ou ven-
da no Brasil também ficarão sujeitas, quando de sua entrada no país, à verificação
estabelecida na forn1a do artigo 211 dêste Decreto-lei.
Art. 511 A distribuição, venda ou exposição de livros e periódicos que não hajam
sido liberados ou que tenham sido proibidos, após a verificação prevista neste De-
creto-lei, sujeita os infratores, independentemente da responsabilidade criminal:
1 - A mttlta no valor igual ao do preço de venda da publicação com o mínimo
de NCr$10,oo (dez cruzeiros novos);
rr - A perda de todos os exemplares da publicação, que serão incinerados a sua
custa.
Art. 611 O disposto neste Decreto-lei não exclui a con1petência dos Juízes de
Direito, para adoção das medidas previstas nos artigos 61 e 62 da Lei número 5.250,
de 9 de feve.reiro de 1967.
Art 79. A proibição contida no artigo 112 dêste Decreto-lei aplica-se às diversões e
espetáculos públicos, bem co1no à programação das emissoras de rádio e televisão.
Parágrafo único. O Conselho Superior de Censura, o Departamento de Polícia
Federal e os juizados de Menores, no ân1bito de suas respectivas competências,
assegurarão o respeito ao disposto neste artigo.
Art. 811 :Êste Decreto-lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas
as disposições em contrário.

Brasília, 26 de janeiro de 1970; 149Qda Independência e 82n da República. '

Emílio G. Médici / Alfredo Buzaid


mmrnmm z92 Livros de Autores Brasileiros Censurados (1964-1985)1

Livros de ficção
• Dez Histórias Imorais, de Aguinaldo Silva. Rio de Janeiro, Gráfica Record
Editora, 1967* (DOU 11.2.1976)**
o Zero: Romance Pré-histórico, de Ignácio de Loyola Brand ão. Rio de Janeiro,
Editora Brasília, 1975 (DOU 16.11.1976)
• Feliz Ano Novo, de Rubem Fonseca. Rio de Janeiro, Artenova, 1975*
(DOU 17.12.1976)
• Em Câmara Lenta, de Renato Tapajós. São Paulo, Alfa-Ómega, 1977
(DOU 11.8.1978)
• Diários de André, de Brasigóis Felício. Goiânia, Oriente, 1974* (DOU 7.7.1975)
• 4 Cantos de Pavor e Alguns Poemas Desesperados, de Álvaro Alves de Faria.
São Paulo, Alfa-Ómega, 1973*,***
• Aracelli Meu Amor, de José Louzeiro. Rio de Janeiro, Record, 1981*** t Fontes: Acervo DCDP, Arquivo
Nacional, Deonisio da Silva, Nos
o O Casamento, de Nelson Rodrigues. Rio de Janeiro, Eldorado, 1966* Bastidores da Ce/lsura e EIJo Gas-
parL A Ditad11ra Escancarada.
., Hã parecer no ;\ rquivo Nacio nal
Livros de não ficção •• o ou: indicação da data ae
publicação do despacho censório
/ o O Poder Jovem: História da Participação Política dos Estudantes Brasileiros, de
no Diário Oficial da União.
Arthur José Poerner. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1968 .,, Ver o prin1ei ro capílulo.

129
130 • 113 Dias de Angústia - bnpedimento e Morte de um Presidente, de Carlos
Repressão e Resistência Chagas. Rio de Janeiro, Image, 1970
• O lv[undo do Socialismo, de Caio Prado Jr. São Paulo, Brasiliense, 1962
• A Revolução Brasileira, de Caio Prado Jr. São Paulo, Brasiliense, 1966
• A Universidade Necessária, de Darcy Ribeiro. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1969
• Contradições Urbanas e Movimentos Sociais, de J. Álvaro Moises, Verena
Martinez-Alier, Francisco de Oliveira, Sergio de Souza. Rio de Janeiro, Paz e
Terra, Cedec, 19n
• Classes Médias e Política no Brasil, de J. A. Guilbon Albuquerque
(coordenador), Alain Touraine, Braz J. Araújo, Fernando Henrique Cardoso,
Gilberto Velho, M. A. Salvo Coimbra. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1977
• Movimento Estudantil e Consciência Social na América Latina, de J. A.
Guilhon Albuquerque. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1977
• América Latina: Ensaios de Interpretação Econômica, de José Serra
(coordenação) e Celso Furtado, Maria da Conceição Tavares, Fernando
Henrique Cardoso, Anibal Pinto, Pedro Vuskovic Bravo, Fernando Fajnzylber,
Paulo R. Souza, Victor E. Tokman, Arturo O'Connell, Charles Rollins, Mario
la Fuente. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1976
• Programa de Saúde: Projetos e Temas de Higiene e Saúde, de Lídia Rosenberg
Aratangy, Silvio de Almeida Toledo Filho, Oswaldo Frota-Pessoa. São Paulo,
Companl1ia Editora Nacional, 1976*
o O Despertar da Revolução Brasíleira, de Márcio Moreira Alves. Lisboa, Seara
Nova, 1974
• Torturas e Torturados, de Márcio Moreira Alves. Rio de Janeiro, Idade Nova,
1967 (DOU 31.5.1967)
• Dicionário do Palavrão e Termos Afins, de Mário Souto Maior. Recife,
Guararapes, s.d.
• História Militar do Brasil, de Nelson Werneck Sodré. Rio de Janeiro,
Civilização Brasileira, 1965 (oou 2.6.1970)
• Memórias: A Verdade de um Revolucionárío, de Olympio Mourão Fil110. Porto
Alegre, L&PM, 1978
• A Automação e o Futuro do Homem, de Rose Marie Murara. Petrópolis, Vozes,
1968 (DOU 14.10.1975)
o A Mulher na Construção do Mundo Futuro, de Rose Marie Muraro. Petrópolis,
) Vozes, 1966 (nou 14.10.1975)
• Basta Bastardos, de Hello de Almeida*,**,.
• Autoritarismo e Democratização, de Fernando Henrique Cardoso. Rio de 131
Janeiro, Paz e Terra, 1975 Anexos
a O Gênio Nacional da História do Brasil, de Roberto Sisson. Rio de Janeiro,
Unidade, 1966 (Dou 29.6.1972)
• EUA: Civílização Empacotada, de Mauro Almeida. São Paulo, Fulgor, 1961
• A Ditadura dos Carteis, de Kurt Rudolf Mirow. Rio de Janeiro, Civilização
Brasileira, 1977 (Dou 28.2.1977)

Peças de Teatro Censuradas para Publicação em Livro


• Pavana para um Macaco Defunto, de Antônio Galvão Naclério Novaes.
Serviço Nacional de Teatro*
• Papa Highirte, de Oduvaldo Vianna. Serviço Nacional de Teatro*
a O Sótão e o Rés do Chão ou Soninha Toda Pura, de José Ildemar Ferreira.
Serviço Nacional de Teatro*
• A Farsa do Bode Expiatório, de Luiz Maranhão Filho. Serviço Nacional
de Teatro*
• Abajur Lilás, de Plínio Marcos. São Paulo, Global, 2. ed. (oou 19.7.1978)
• Barrela, de Plínio Marcos (Dou 20.6.1977)
a O Belo Burguês, de Pedro Porfirio
• Canteiro de Obras, de Pedro Porfírio
• Maria da Ponte, de Guil11erme Figueredo
• Quarto de Empregada, de Roberto Freire
• Rasga Coração, de Oduvaldo Vianna Filho
• Lei é Lei e Está Acabado, Nazareno Tourinho

Livros Eróticos/Pornográficos
o Cassandra Rios: A Paranóica; Tessa, a Gata; O Prazer de Pecar; A Borboleta
Branca; Breve História de Fábia; Copacabana Posto Seis; Georgette; Macária;
Marcella; Uma Mulheri Diferente; Nicoleta Ninfeta; A Sarjeta; A Serpente e a
Flor; Tara; As Traças; Veneno; Volúpia do Pecado•.
a Adelaide Carraro: Mulher Livre; Os Atrzantes; A Escuridão; Carniça;
2. A maioria dos cinllos foi publi-
O Castrado; O Comitê; De Prostituta a Primeira Dama; Falência das Elites; cada pela editora Mundo Musical,
Os Padres Também Amam; Podridão; Asco - Sexo em Troca de Fama; de São Paulo. '
3. A maioria dos titulos foi publi•
Submundo da Sociedade; A Verdadeira História de um Assassino3•
cada por L Oren Editora, de São
a Dr. G. Pop: Vida e Sexo; A Coisa Incrível; Vida Amorosa de u,n Médico; Paulo.

132 A Menina Cor de Rosa, Sensação em Portugal; Astúcia Sexual; As Bruxas Estão
Repressão e Resistência
Soltas; Cidinha a Insaciável; As Coisas Amargas da Doce Vida; Contrabandistas
de Escravas; Duas Flores do Sexo; A Filha de Ninguém; Graziela Amava e...
lv1atava; O Honiem que Desafiou o Diabo; Loira Vestida de Branco; Horas
'[ardias; Kukfa, a Boneca; As Lágrimas das Virgens; O Louco; Quando o Diabo
se Diverte; As Trigêmeas4 •
• Brigitte Bijou: Tentação Sensual; Vamos Querida; Caminhos Eróticos; Amor a
Três; A Chinesinha; Chinesinha Erótica; Clube dos Prazeres; Duelo entre duas
Mulheres, Em Busca da Aventura; A Garota Cobiçada; Garotas em Apuros;
A Inocente; O Padre Fogoso de Boulange; Play Sexy; Prazer sem Pecado; Na
Voragem do Êxtase'.
• Márcia Fagundes Varella: Dois Corpos em Delírio; Mulher Pecado; Noviça
Erótica; O Preço de Marta; Sexo Superconsumo; Mulheres de Ninguém 6•

11. A maioría dos tltulos foi publ.i• )


cada por L. Oren Editora, de São
Paulo.
5. A maioria dos títulos foi publi-
cada por L. Orcn Editora, de São
Paulo, ou por Arel,1x. '
&. A maioria dos títulos foi publi-
cad:i por L. Oren Editora, de São
Paulo.
ffiOOílill® ~ Pareceres do Serviço/Divisão de Censura de Diversões Públicas1

Pareceres sobre Livros de Ficção:


o Parecer inicial de Feliz Ano Novo, de Rubem Fonseca (caixa 18)
• Dez Histórias Imorais, de Aguinaldo Silva (caixa 16)
o Diários de André, de Brasigóis Felicio (caixa 10)
• Quatro Cantos de Pavor e Alguns Poe,nas Desesperados, de Álvaro Alves de
Faria (caixa 5) )

Parecer sobre Livro de Não Ficção:


• Programa de Saúde: Projetos e Ten1as de Higiene e Saúde, de Lídia Rosenberg
Aratangy e outros (caixa 26)

Pareceres sobre Publicação em livro de Peças Teatrais:


1. Arquivo Nacional - Fundo:
• Pavana para um Macaco Defunto, de An tônio Galvão Naclério Novaes (caixa 1) Divisão de Censura de Diversões
• Papa Highirte, de Oduvaldo Viannna (caixa 1) Públicas -ocoP; Seção: Censura
Prévia; Série: Publicações. Orga-
• O Sótão e o Rés do Chão ou Soninha Toda Pura, de José lldemar Ferreira (caixa 1) nização e listagens: Carlos Mru-x
• A Farsa do Bode Expiatório, de Luiz Maranhão Filho (caixa 1) Gomíde Freitas.

133
134 Pareceres sobre publicação de livros eróticos/pornográficos:
Repressão e Resistência
• A Paranoica, de Cassandra Rios (caixa 26)
• Copacabana Posto 6 (A Madrasta), de Cassandra Rios (caixa 9)
• As Traças, de Cassandra Rios (caixa 9)
a Eni Busca de Aventuras, de Brigitte Bijou (caixa 19)
• A Chínesinha Erótica, de Brigitte Bijou (caixa 8)
• O Louco, de Dr. G. Pop (caixa 26)

'
MINIST~ RIO DA
135
DEPARTAMENTO DE POLfCIA F.EDERAL Anexos
DIVISÃO DE CENSURA DE DIVERSÕES PÚBLICAS

PARECER N9
.
,,LL
Ti'rU LO: "FELI Z, ANO NOVO"

CLASSIFICAÇÃO ETAR IA: _,;.N;.;.lt..;:.o_;L;;,.;I;.::B;.::E.;.;R;.;.AC~l.;.;


\'.·n;___ _ _ _ __ __

Obra litea:-ária

O p11e:.sente -· liv r o de Rubem F."onseca, publi


o.ado pela Editora A-rt e nova~s . A. , esttabelecida à. Rua Pref.eito
-
Olímpio de,:Melo , número 1774, são G'.rist ovão - R:J. , reunindo 1
vários contos autô~omos . do re,fàrido autor, re:trat ac, em quase.
sua t ·otal idade , personagens p'orta.dores de complexos, v!cios 1
e taras:, oom o objetiuo de., enfoca,r; ar. f a ce ob.s:cura.,~ s:ocieda;
. de nae• práti ca dar->de,linquênoia, s ubor.no, latJ:"ocÍnio ª: homic! -
' -
dio , sem qual:q1;1er re,f!a.râr:iaia, a·, sanç Õe·s:;.

O autor uti-lizou-se de uma lingµage m b.8'J!1


. .
tant'e popular ond8" a:, pornogra flia s. foi la.rruimsntm e mpragirdw , .
a.o rno podB'l se:tt· o.ons-1:ia~db nasr, 3.!» pá9..i nas .. assin alaclàis.

Por: out·ro lado, na s, p!Íg:j.nas 31, 13.9 e ll/ll )


aão f,ài tas rápida.e,; alusões de s mer.acerlor.a'S aos . re:sponsávfilis., '
peã o destino do Brasil e: ao trabalho censório.
,
Ao nosso v.E!'r' a, p resent 93 obDa v.asi. de a n -
o.entro ao q~e : de tt :oo,ina o Oaorati.o-Lei nR l .077, no seu art:..•
lR, ª.• .destes. modo o i ~os pe la•·,Não Lio'e ãm .

o de 1976

Q, . . ~-~ }
. G,.. o ~-·~'?·
w'f" /.•º·
<o .•
.~ \''°' ~·
.__.,., ~~ZJ\' ~.,..

'
Parecer inicial de Feliz Ano
Novo, de Rubem Fonseca
136
...
Repressão e Resistência
-· ..
...,, ,' , .: ·1'(!·
-~·\·••, t ·-
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.. ,
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1' ..
seAvt~O pl) 1
, :u.,co ~EDliRAL

1 ~~./' ,:" :., · . ~


Depa;-tamento de Polícia Federal
".
-t,.;~~ ,•:·.~
N
Serviço de Censura de Diversoes Públicas
,

Parecer no~U °J
ssunto ••• : LEITURA DE. LIVRO
!tulo•• ••: DEZ ESTÓRIAS IMORAIS
ter ••••• : AGUINAIDO SILVA
itora••• , ClÚ.FICA RECORD EDITC>Rà - .av. Rio Branco 131 • 18"
J\J'

São dez contos de um mesmo autor co


ssuntos variados, como a vida d'e prostitutas
, num bordel, a vi'd
ura nas caatingas com seus .retirantes, estoria de marinheiros /
os portos do Brasil, etc •••
. . ,
Das dez estórias duas implicam Ell1··ve+
o para liberação por conterem.mat~ia 1.mpr~priai Í
1a) UM HOMEM, SUA MAIDADE, _B .l MélU
NACIONAL: a vida de um marinheiro contada por . ele desde Stla
• , N

ancia·no Ceara, suas provaçoes, sua entrad~ para a ~1Qha~


s aventuras com mulheres depravadas e seú envolvimento homosae-
al com um -Capitão de Corveta, inclusive citandÓ o. no111e do nav.1
-nde serviu, Baependio
211) -PROCLAMAÇJlo FINALc um •inconror
o com a vida, onde é contra tudo e contra todos. Nas suas falas
fende a igreja com crltiCafi mordazes
, e indecentes
,.. sobre mong~s 1

adres, assim como


, ao tomar a .hostia lhe. deu enjoo, sendo obriga
'
o a vomitar., Alam.do mais,- ofensa aos militares em geral, oham
º"ºs de estupidoso
Em razão do exposto sou de opinião
N N
.mojo, que sejam proibidas
.
a publicaçao e ~xterio.r i.;açao do 11
,
o examinado, por conter o mesmo em seu teor meteria infriilg
, do arto lQ de Decolei no 1.077, de 26 d
a proibição constante
jaAeiro de 1970, alem dos outros assuntos mencionados.
á o meu parecer.
Rio de Janeiro , 30 de zem.bro de . 1975.

Parecer de Dez Estórias Imo-


rais, de Agulnaldo Silva
131


MINISTÉllO OA JUSYICA
DEPllfAJIEHTO DE POÚCII FEDEl.lL
Anexos

:Braeüia,29 de maio de 1974.

.Senhor Ohefe do BCDP; I551:;z/;zf"


Procedendo ao exame do livro, intitu-
lad.o " Diários de Ano.ré " àa autor-ia de Brasig6is FelÍcio,
L>rt'oxmamos o seguinte:
ll'm estilo biográfico,o autor relata a
vida de wn psico::9ata, descrevendo conflitos íntimos, deeajua-
tes, recalquese fr~strad~e experiências sexuais.Atribue as
causas de~e desequilíbrios à sociedade: sua acusação é vee-
111ente e generali.Zaâa, estendendo-se também aoe homens ( cita
nominall!lente pessoas reais),e a 'Deus, Sobre Ele faz referên-
cias po:-nográficae,blaefêmaa,irreverentes,morda~ee.lsxempli-
f'icando;à página 89 encontramos: " :l!'ico a esJ>erar qu.e Deus
desça sõbre minha pica e esfregue sobre ela a sua gigentest
ca bunda"
Sua linguagem éáustioa é repleta de
termos de baixo calão:suaa divagaçõee refletem um. ser com-
pke~ado,cuja filosofia,basenda na insatisfa gão e no protee-
to,aponta a inutilidade da vida,f~zendo uma verdadeira apo.!
logia do suicíô.io e ô.o alcooli camiil.hos e.fic:;.zes para e. fuga
e 11. ab$tração.
Quanto aos enfoques sexuais, o escri-
tor descendo a detaL~es groeeeiros,chocantea, eróticos,des-
creve sua :primei ra ex3,\eriêr,cia num prostíbulo (pág.70 ),os
desejos incontroláveis e iDJSatisfei:os de o~tras situações
(págs.80, 84).
Poz·tani;o, tendo em vista o que dis-
põe a portaria ll/B,art. 6g do Dec. Lei 1077/701 e apóe a
constatação de que o exemplar em epígrafe se enguadra nee-
ea determine.ção superior,consio.eramoe fora de nossas atr1-
bu.i9Ões,;julgar a. referida 01>:ra..
Aesim. eenê!D,d&~olvemoe o presente
b~o .a fim de q~e 1lhe seja dada a provià.ência J.egai.
'f"f/J(,/,/4.J,4-4f.l o~ , '""1 1 A,1i
ea N ae O Pontes Hellé PJ.lim~el.h~do

Parecer de Diários de André,


de Brasigóis Felicio
138 PROCESSO N!l 57306/73
Repressão e Resistência

EXCELENTIS0IMO SE:NHOR MINISTRO.

Pa r a verificação prévia, nos termos da lei, o DPF


<?ncaminho u a este Mihist~rio o livro de versos intitulado "QUATRO CAN-
TOS DE PAVOf< E ALGtnqs FO!ll-L.l.S DESESPER•.'.\D OS 11 , de a uto1•ia de Alvaro Alves
de Fa ria.
No"Tarceii•o Canto de Pavor", lê-se o seguinte:
• • • • • • • • • • • • • • •• • • • • •
"Meu amor, o nosso licor,
nosso exer cício,
,
a nossa culpa, a maxima culpa,
a nossa cópula , a nossa cúpula . 11 (pág . 3)
•••••••• • ••••••• • ••

"Pra t.ico o c rime de aceitar,


como num coito de hotel,
[pp. 138-140) • • • • • • •• • • • • • • • • • • • • • • • • •
Parecer de Quatro Cantos
Mo poema "Fotografia", lê-se o seguinte:
de Pavor e Alguns Poemas
,
Desesperados, de Alvaro • t •••• •• • •• ••• • ••••••••••

Alves de Faria. Notar, na "d uas nntl.heres se beijam na boca


terceira página do parecer:
e. se enfiam a~ mão$ pernas. a dentro
"Os versos supra, dado que
atentam contra a moral e os ••••••••••••••••••• •• • • •••
bons costumes, impedem se para sempre as tristes putas amadas às cinco hora
autorize a publicação da obra.
da manhã
/ Nessas condições, opino
no sentido de ser proibida a • ••••••• • ••• • ••••••••••••••••• • •••••• •
publicação do livro intitulado No poema "A cidada", lê-se:
'Quatro Cantos de Pavor e Al- l '
"as muJ.here2 qne se deitam com~go
guns Poemas Desesperados',
,
de autoria de Alvaro Alves de V são ·mui to mais tristes que eu.
Faria./ Éo parecer, s. m. j."
139
No posma 11 0 C()ito" 1 lê-se o seguinte : Anexos
•••• • • • • • •• ••• • •• • • • •••

''Vida em largos p~l os


engolindo a car11d
e levas sont1os
ni::s bocas?
De gsmer,
Ai,
ou de engoli1• orgasmos,
enfiar a vida no gemido?
Uma sanguessuga violeta
no sexo, mordendo
assim sugaz, assim sutil ,
na dor I ar I dente,
no amor, e jJ1st3nte
do ayo?
• • ••••••••••••••• •• ••

Cabelos se orrancam
braços e mãos aberta~,
livre~, fecbadas 1
em luta camarada,
E pernas se enlaçam
e se soltam,
pi s am estômaeos,
ventl'e ,
' '

••••••••••• • • • • • • ••••

assim delírio
de mordel:Ínguas,
lábios e pubis 1
o germe aprofundado,
~ -~oss1vel da vida,
••• • • • • • • • • • •• •••• • •• '

140
Repressão e Resistência

Os versos supra, dado que atontam contra a moral


e os bons costumes, impedem ne aut.orize a pi:lllicação da obra,
!!essas condições, opino no sentido de eer proibid
i: pu\Jll.cação do liv1·0 :lntitu.ladc " Qu.at1•0 Cantos de rovor e Algo.os Poe
ln11s Desesp<>radoo", dG nuto1•ia de Alva:ro Alves da Fari { ,
~ o paracer> s.m.j .

São Paulo, l de ezembro de 1973.

'

141
Anexos

SERVIÇO PôBUCO FEDERAL


DEPARTAMENTO DE POL1€1A FEDERAL
SUPERINTE.'IDtNCIA REGIONAL NO PARJ\NA

,PARECER NO 270/78 Em 19 de outubro de 1978


,
Do Teonicos de Censura Lilian Filus e Regina Ma.ria Abil Russ
Ao Senhor Chefe do SCDP/SR/PR

A01unto Parecer de publ icação didática (apresenta)

TÍtuJ.o: "PROGRAMA
, DE SAÚDE (PROJErOS E TEMAS DE HIGIENE
E SAUDE} 11 ,
Autores : LÍdia Rosenberg Aratangy, SÍlv1o de Almeida T,2
ledo Filho e Oswaldo Frota- Pessoa
Editora: Cia. Editora Nacional
Endereço: Gusmões, 639 - são PauJ.o/SP
Edição: 1976
,
Procedemos ao exame do livro d1dat1co acima,
que tem como principal objetivo utilizar o métOdo de projetos, baseados no/
Parecer NO 2. 264/?4 do Conselho Federal de
, Educação, q'W\ndo trata do desen-
volv1mento da disciplina "PROGRAMA DE SAUDE 11 para o 20 Grau, oriada por for-
,
ça da Lei NO 5.692/7+, em seu Artigo_70. Esclareça- se que esse metodo de/
uprojetos 11 pretende que o aluno alcance comportamentos desejiveis para in-/
grassar .na realidade de seu ambiente, oom sugestões e discussões sobre os /
problemas. O livro procura exatamente levantar questões para discutir te- /
mas entre todos os alunos de uma classe, advindo dali uma solução pr~tioa /
para a cOlDUnidade.
,
, Especialmente quanto ao conteudo, detivemos
nossa analise
, ao quinto
, tema que aborda "Drogas e Comportamento , abrangen-,
11

do a s paginas 121 ate a 133, e se complementa 00111 a Lei Brasileira sobre t,2
xicos, de 2!}/10/71, a qual vem na Íntegra.
Embora saibamos que tal tema faz parte do/
curr!ouJ.o da disciplina em pauta, observamos que nesse livro' ~ dada grande
ênfase ao asswito 11 drogas 11 , oom toda uma exposição clara, preoisa e -oonoisa
do que se segue:
, ,
a) o que e oada droga (como se oUltiva, oomo e onde se obt8111, e detalhes ge-
rais sobre trafi cantes e sua ação.
[pp. 141-143)
Parecer de Programa de
SIVPR • 012.JOO Saúde: Projetos e Temas'
de Higiene e Saúde, de Lídia
Rosenberg Aratangy e outros,
pp. 1-3
142
Repressão e Resistência

SERVIÇO POBUCO FEDE:RAL


b) as sensações que as drogas p;;:-oduzem, dlll'ante o efeito.
c) a depend&noia especifica que cada droga causa.
d) explicação dos nomes das drogas.
e) as razões que levam uma pessoa a procurar o uso de drogas.
f) as oonsequêl'llias do uso de entorpecentes
,
- fisioa,-
,
mêhtal, psiquioa.
g) o problema sob o aspecto policial e medico: e or1rn1nnso ou doente?

COLOCAÇÃO LgGAL:
O Decreto NO 69.845 de Z'l/12/7). que re.gulame~
ta a Lei NII 5'.. 726 de 29/10/71, diz em seusArtigos
, 12, e 13 que o MiDist ~rio da
Educação e Cultura
.
-, M.E.o. - coordenara e executara , programas de esol areoi-/
manto popular atraves do Conselho de Prevenção Antitoxioo. Em seu Art igo 16
e seus parágrafos dispõe sobre o pessoal que estar~ habilitado a ministrar /
, , "' f ,
oursos gpbre t oxicos, isto e, educanores especifioos para orientar pais, medi•
cos e alunos no âmbito escolar. Para efeito deste Artigo aoillla, sQJlente pode-
rão ministrar cursos antitóxicos, pessoas devidamente qualificadas pel o MEC e
. ,
com oartas de credenciamento fornecidas pelo referido M1n1sterio.
,
- No Artigo 18 o MEC determina que se incluira
, ~ ,..
na Disciplina 11Educaçao Moral e Civioa11 a realizaçao de palestras visando o /
esclarecimento quanto ao uso nocivo de substâncias entorpecentes.
;eAR~)g\ FINAL.
, -
,
-
vemos oonfirmaçao de que os livros did~~icos
,
,
,
-
l) Apos consultas a orgaos competentes, obti-
-
sao lançados no mercado para uso
,
de professores e alunos em oolegios, sem previa analise ou aprovaçao do MEC,/
podendo qualquer professor utilizar em sua classe o livro que l _he aprouver.
2) Normalmente, oada professor aconselha aos
alunos a publicação que julgar conveni.a nte para o melhor aproveitamento na di!
oiplina que leciona.
3) Os autores do livro analisado são , doutores
em Biologia e podem estar credenciados pelo MEC a lecionar sobre tox1oos 1 po-
rém são imprevisíveis os anfoques que oada professor de "Programa de SaÚde" /
que venha a utilizar tal publicação, dê ao problema, enfatizando que a maioria

não possui este oredenoiam.e nto acima citado. ·
lt,) Como ·a abordagem do tema "Droga.s 11 é regida
por lei espeo1f1oa, observadas todas , as precauções quanto ao tipo de platéia
- idade, meio sooial 1 meio psicologico -, julgamos perigoso o uso generalizado
,
,
do texto deste livro em escolas, ja que se destina a adolescentes de
. 1, a 18
,
anos, no caso, os mais susoetiveis de querer experimentar o proibido, pois e
a idade da busca de liberdade, e todas as gamas de sensação, de perigo e de a-
ventura estão presentes.
'
5'l No limitado oampo de professores que oonhe-
oemoa1 e ondt oaaeamoa 1101110 pa.reoer por 1111011tra1111111 e1p10.1.t:Loamante 4a rea.1.-
143
Anexos
SERVIÇO PO'BUCO FEDERAL

N ,.,. # ,
ao de Curitiba, est1m!IIJlns q_ue nao ha grande numero de credeno1ados a manejar

nistram
,. aulas ,de "Programas de Saude
Ciencias Bi9logioas.
,.
esse texto do livro, conforme a exigenoia do Mll'.0 1 sendo a maior1ai dos que mi-
,
, 11 , licenciados por fa.o uldade na area de / --
6) O t001or de que a má utilização, por pesso-
as não qual;ifioadas para palestrar sobre 11Drogas 11 , usando a abordagénl tão am-
. , -
pla que a publicação apresenta, possa causar sérios problemas no espirita da
,
juventude brasileira, e que nos manifestamos oo.o.trar1os a sua venda e uso in-
d1sor1ro1nados.
É nosso Paraoer.

~L.0 - J.;·""'.c--,.-::::,
, Lilian F1lus
Teon1oo de Censura
MATR: 2ol+l6.94,l

.,_vc~~~ v_.>- '"i ! i)

~ "\_,'ô~ ~ ~~ 1i0_
~'Ç I fvº ~1~ tf. 1-YC1) p
,h,bVt\
,. ~·~
r ~c:i . ~ _J..
tM1fn~cl') .. ;;;,

,~~i~ r r" ~~Oi-v


~ ~V),c_ ,.. b2 J),4r.,,
~::'.-,,,,,---;(ô lo ~e----- '

144
Repressão e Resistência . MINISTÉRIO DA JUSTIÇA

• DfPARTAMail"O OE POÚCIA FEDERAL

SERVICO Of CENSURA DE DIVERSOES PUBLICAS


TURMA DE CE NSURA DE TEATROS f CONGÊNERES
• •

P A R E C E R

I) Documentação

a) Tí'tulo em Português: PV.'\lla "'.~Rll IY.& l·'.J\CW,:() DEPill'lJ'O. •.• ··- - - - - -- - - -

b) 'ri'tulo original:---- - - - - - - -- - - - -- - -- -- -- - - -- -

-
c) Autor· ANr0!TI0. r,_4,.T/!'F.t) 1' a".:!,tt!() tTOVAf,S
.
d) T r a d u t o r : : ~ - - - · · - - - - - - - -- - - -- - - - - - - - - - -- - -- - -

·el Dlr~tor: _ _ __ __ ,.......__, _ _ ... ··--·--·-- -


í) Prodhtor: ___ . _ ·-·---· ·--· -··-·-- - - -- •·- _ _ __ -----------

g) Com 1u1hi a:_ ~ - · ....... _ __
- ------------- --------
h) .~~a$~ificaçRo d:,.. Çr.nouca : In1:(l:rr1J.t3.20. elo a.cr..:>'.'~lo com r, ]!oc .:?Q.j,.!).J/:, 6 ::>.r-~.
_ _11 :'llL"lCI!'. 12._ _ _ _ __ _ •_____ _ _ _,_ _ _ __ _ _ _ ______

II) Análise

a) Gênero ;,-"'
D.::ra.::~"'m"'l!l.'----·-- - - - -- - -- - -- - - - ~- - -- - -- - - -
b) Argumento: TJ,:, <:. icnti:st"-, ""X' e:;,f.3rço p:t6prio, con3es:u~ obter·:ê:q. t o fa-
:;,;endo com nue um 1ll8.8'8CO falaooc e rociocinaann <:omo !'l~r 1'111.,;ir o! o. ,-,,.1,,n-io
~~t a. p:<J.r-R concl11i r a · 31ta por.1<].Ul.;;l!\ e 11ublicn-½ pnr'l. to·lo o immd o, . ~r.ge
um euvlrl<lo 001t0zic~uro ,1ccc, au ~h.! •JJ.d c com o eoverno local, pc:n;ai totltül an
f ê--:-ç:a, ... porra , ol!Jlr o"f;r:t,t-o dG': ""AU ':vaba.lho" o ,;u;á- lo ll~$-El"XpQl!i.Ô'1cis..:- ee,....
paciais. O cientista nno. ~?~ccrdo. e apelf!. ::it~ pi,.rm a. Ip;rejn. l!ada consc-
~tie, ê a cu!l'l.do de cof,pernr coti o.o comnniot!\s e finalmr.nte internado <im um
líospitãl m:i.11tai' como docn.t e mental. o macaco que Já r êc:foera o:Mon§ ne
:fugir é mePt~Mee~te ~Qe nãe e reeonheoera. l ,eçs te,miea ea~ wn
grj to de aJ ertn doe- ou+.i-o"' macacos, que não pretendi em ficar p3osivoe o
}S:;t yJ;oc.~,;~ll;!'l:g~ J u to r pc J a J i be rd e d e •
r1;en2ngcm-ld'.oztro. c omo a ti!cno],oe-ia, os inventos o as dcoc obi,rtns c icn til'i.-
cas,. silo 11:-:-a;lucticadã:P.-:>i.õs pnÍ S'-''1 s tibde:acnvolviõ.os 1,cloãã'o'll3.r,s.dorer, <lP.
p1Jtencias. l'l-6-t:aso-·~,...,,o.-
,:-EEfl'Er-Fl?U'H-,.- - - - - - -- - - - - - - - -- - - - - - - - -

2. . Imor .·, ,;_ aJ .o es1>cctador sente-se deprimido a o ver que ~do conse-
5
e;uicdo po-r ~'M"í1ál.8 S\ltrde!!ct<VO'.tvi:do.m em 4eoanvolv1nmnto (llranil.) é ass!tlll-
bareaQe ,;ie, eo él.E>oenvelvidoa (Es-t,ad.<>-so'-'JOan.i=<i.go-ss+)T.- - -- - - - -- - -- -

d) Diálogos:.AI?arcntemente igenuos nuw há in{,_m9ros in.o eridos gu~ f e rem a


autoride.de constituidn e às nol~i;ividailon.

[pp. 144-145)
Parecer de Pavana para um -e))(Cs;e;;n:;;a~s;-;,:Icirei:fil~:;~===========================
e '

Macaco Defunto, de Antônio


Galvão Naclério Novaes, pp.
1-2
145
Anexos
i) Personagens: Dr. Obervitch, Lnu-ra., Simão (gorila), 'Roit.flr, 'Professor
P.edro, Cel. 'Morales, etc.

------------,...--,.------------------------------
g.) Valor educatl vo :n
__e_nh_u_m_•--,---,=-----,---,,.-----,--=,.,...----=--
Coc lu !!íio - A e a com um invólucro sim les e inCenu", fonnl:Í..;Mdo ua1il -te-
ma de int.eresce gera. , qu g~an no r•e'l1J.U saa e esco "r 11.fJ ci<»:it"3.f'1cAà .
li.borda as pesquit:?as o eiq11.,Tl.onc:i.ar-i de Uln <!iénf.1a't:n qUI! dbteVII l!::ct:to !>i-
llI),:XR'~f'~z·en~ç· eom qUê uni Jttacaco ftt:t. u•.:.:c e r~,cc 1,,u111asoc ewuo ww.7'"crr-
lrúl11ono. ·~tràtarlto, essa emodugum 1
i11ebnxu11tc e putt$.la1.nt:e fr..l.=: ..... , :po-r>,r-u~
~a v~•li.. (lade a nua i,9t~u~,jA:O Qos-m-a) ~ :i:ar a 'lrttcr~ dac3e o ferir nc i!<>l-ct.i:vi-
tl de ~m e!! ec:l.ol os JmUU e dl'.l 11m. c,:,rt.ô rnodo n,;i '"'""'"lº l'Ôr~t:11? A-.,•a~n"
o ExP,::r,:!.~:o • rzoo ::;~ c1'3p~~.;rui..'J r,cl~s inumõr20 dlâ.loeoo :il1oe1~:tt10~ lH,-c-n,,-
té'ktO e que êStaõ ne~:tnal:Ul:?Sn'r!lnt preto , --mi ton~u~1: ii,
f3, ,15;•. . ~9-, ~7; .. :1r.
, 60, 6 4 , 67, ao, SJ, 8.3, 84, 87. oo, 95, -~'-=- JQ?, _ _ ro::--~-;.. ~.::;,~"t.OS. Q.~'liT!~-
~ªº" """"ri,..m oQr. ca:clui<loo :par:,. ~e l:l.bcro.r. n º"""-• mno c:l'.l· :l.:i::io ~.cn'\1,,:,oc,i·
no.o haverá . con<li9Õos de c-óncntenar oi, restanto "ii"":tiõi>.nno dcn::ic m'lrl o ;r;,,~;ur-
yãdO ó éSPt:l:táCUI<.S.llê!J"tJai''t é, CuID .ftO.Cl'Q i\ ó f}ttC (t1$pf.t! o »,Í.,, •~ô.~ ,3/1; fítrrt . 41
~eA: » , st1:ee:uif::eo
0 -
c-u1 • e .:"fl
.se. e ·ljo,,.,li ,_,õ9 """e
· - .i ,
...s p.)•• ;1.~~ 'hno9.
•• .,; • • -·• - · ;

~rasí'ua, 1 3 de._ __ 70_ __


__ _ _.,_de 19 _
'1 •.'Vf)1tlbro

, .
Tecru.co
''irW.1Ml,,.,.l;·
Jtl /1:Jensura - io2
Cart, n9_ _ _ ._ __
ltARI/1. DAS GRAÇAS !'r.<!IJA'l'T.

<lBS: h J1<1Çn c:e identif:lc,,, pe1.·i'eitamente com o Bra.sil, poi$ falo. cm o


11
O .l'ASC.)UJJ.!" cn, ":l:)I'.\ d.'l\~1111:,. ·1:J.or~<1tn" e n.9 re~r,euimento do paía.

'

146 W' Ofl!l,RTMlfNIO Of POIÍCIA FEOEIIAL


Repressão e Resistência
SERVIÇO or OE'NSIJ.RA DE OIV·elJSÕES PÚBLICAS
TURMA DE CENSURA DE TE ATROS ~ CONG{NE·R'ES

PARECER

I) Docwnentaçao -
a.) 'j:'Ítulo em Português '""'?'-'A,..?.,_,A-'fl=-::1G::,;lol.,_lufll',_.'íi.,_,E~-- - - - - -- -- - - - --
b) T{tulo o r l g l n a l : - - - - -- - - -- - -- - - - - - - - - - --
c1 Autor: ODUVAi::DO 1/f ANNA

d) Tr&d\lto'r:------ - -- - - - - - - - - - - - -- - - --
e) Diretor·, _ _ _ ___ _ __ _ _ _ _ __ _ _ __ _ _ __ _ _ __

f) Produto r; _ _ __ _ _ _ _ __ _ _ _ _ _ _ _ _ __ _ _ _ _ __

g) Co,v .,anhla: _ _ __ __ _ _ _ _..,,_ _ __ __ _ _ _ _ _ _ _ __

- da Censura ,~PE~L-A.....,,NA...,o
h) Clas•ificaçao - .....,L..._(. ,B1E.aR.,.A. .,Ç. H,_AO""•.__ _ _ _ _ __ _ __ _

------------ ---------- -------


1) Análise


b) Argumento: PAPÁ H I Sflf ~IJTr-", EX-P ES IDENIE DE A~tl:AMBP.A , PA (s SUL Al!.ER I CA!JO,
E~JCONTRA-SE EX f LA))() EM~íhl(ll,Jlff,LVA, SUAS ESPERAN AS DE RETOMAR O PODER NAO
DESAPARECERA/A E ÊtE, El.1SORA DISTANTE MAT~M CONTATO COM AQU LES QUE O APOIAM
1
E O AUX IL IARÃO NUl,IA VOLTA TRIUNFAL. SUAS PALAVRAS sAo DE AMOR X PATRIA,
SEI/S SENIIHEMIOS síio Dr- SAUDADE E PEVOT,AMENTO E SUi\ PREOCUPAÇÃO~ DERRUBAR
QUEM o SUCEDEBA. CONS (DERB:&E QUERJDO PECO Povb E SUPÕE/QUE ESSE MESMO POV°t
O COLOQUE.: POR MERECI MENJ:O 1NO LUGARrONDE ACREDI TA 1 SEI,\ SOUBE SERVIR E PROTE-
GER, ENTRET~NTO, A SEQUENCIA DA BS ÓRIA MOSTRA O QUAO ERRADO SE ·ENCONTRAVA:
c~~X.X~X NEM os AlilGOS TRABA LHAV~M POR SEU REWBNO. NEM O POVO DESEJA-
VP. 8BFla-Lo NA Dl8ECÂ0 DO PAÍS, AS TOR:UüRAS, PRISÕES E CRIMES PRATICADOS EM
SEU NOME, ATESTAVIIIJ O dDIO OUE SEUS COMPATRIOTAS LHE DEVOTAVA~!. PhBLO MARIZ,
O EXEMPLO E INSTRUMENTO: MORTE DE AAAN ITO REVO LUC IONllR IO Al.: 1:;o DE MARI Z
F~l-2,Jp~t'á~!/sl ,P.Af½ EXPLODIP. O SEU ANTAGONISMO INICIAL, LE SE DIRIGE A MON-
TA LVA, CONSEGUE INTRODUZIR-SE tlA lrJTl),ll DADE DE HI GHI RTE~COMO MOTORISTA E,
P SCRtlPULOS ASSASSINA O HOMEM QUE JULGAVA CI\UBADOR DA
1 DO AM O PRECISAMENTE QUANDO f.t.>U LE VI A
d)~:BUIB SEUS SONHOS DE VOLTA AO PO -R E CRfJ::IAM-LliE D IDAS E N RA-
- " 1 • r.:J UZ I R U!,t POVO.
UfJtSAGEM- NEGATIVA INTERElSES E IDE S íllOS, A M ~ Q "PODER
IMP. OL'flMA- SOA - No QUE SE 11EFERE i\ l'lllH E ti lEh/(RJA, CONSIDEHA)qoo O VALOR DA
e)(~:QBBA. A PECA, Ê UMA ÃNÃLISE PGLl'I ICQ SOCl/l,Et1 QUE A ES1R01UR/\ P1IL(TICA
DE NQ:SSê lâPOCA 1~ APRESENTADA EM PR ISMAS V~RIOS, ESPEU!1'NDO O DESENCONTRO DAS
ClêSSES DOMINAlll;So
DJ~LOGOS- JNC0Nf06M6DOS, CQNTBADJTI1BJOS
CENAS SQMFiNTE A VISTA D~ ENSAIO GERAL.PARTICULAR CUl,DADO, PEÇO PARA, AS CEM
[pp. 146-147] BEEEBENTES Ãs TOR'TURAS E QUELAS RELATIVAS 'AS ESPOSIÇOES SENSUAIS, PAGINAS
Parecer de Papa Highirte, de 20, 21, 23, 24, 25, 21, 39, 40-. 44, 55, 63. '
Oduvaldo Vianna, pp. 1-2

141
Anexos
,
.í) Peraona.gena, PAPA HIGHIBIE - PQI IIICO IA/ VEZ BEM INTENC\Ot>JAPO, EtLCUJA
'A: SOMBRA ·FORAM COMETl'DAS ATROCIDADES E INJUSTIÇAS. PABLO MAíllZ- SÊ DIZJ.A
PA'J"RI-OTA - REVOLUCfON~RIO ~iMAO VfNGllDORA Q.UE SE' A81\TE SÔ8RE AOUÊLE 1 A
QUEM $; ATRIBUI A RESPONSA'B!I, IDADE DO AV('LTAMENTQ DE AI HAL!SBA EEÍlA 1/0R.TE
DE ALGUNS OOIIPANHEIROS TAMí!El.l RE'tOLUGION.(RIOS •

g) Va'lor educa.tivo:RELATIVQ./ APRESENTA ÊRBOS E .SANÇÕES, FRUTOS DA INDEFINI çA


I.DEQL6G I Q:i\ DO$ PEBSQNAGENS, EM S114 SÊlãE DE PODEB.

m)Conclusa.oSEM CQNIEB SEMEJ HA!Çê. COM A BEAI IDADE NAOIOl>J.AL., l;Â~ S~lilE_NTi, AP~E-
Sf'NTA ASPÉCJ'OS QIIE PQDERAO CONDl!Zf'R o·s• ESPECTADORlãS ASS TÊR140S ' i>A so.L&RTIH
C'.AMPANHA .QIIE YEM TiB6EQ8MêNDQ A IMAGEM ' DO BRASIL NO !ZXTERIOR.
' ,. SIIG!BO
. A...NAI
I I BEBA:ÇAO DA PffE.SG'ilTE P:.ÇA, POR CONSIDEAA~LA \JULNERÃ\1!i:L A INTERPRETAÇÕES
r "'
EBBQNEaS SOBBE O REGl 14E \IIGENTE,

Bra.sÚia, 10 de NOVEf~BRO de 19_7,_,0" ----

Técnico tw.sura - Cart. n':'-"40=6_ __


HELL~ PRUDENTE CARIJALHÊDO

Voto pe:Le. i nterdi~ão da obra tendo em vista in:t'llilgir o diapos~o


no axt:igo 41 .A:I.ínea D do Decreto. 20.•4'93 d~ 24 de janeiPô. de 19·46
Em 10.:.12-70
1

11


'

148
Repressão e Resistência
. MINISTÉRIO DA JUSTIÇA

• DEPARTAMENTO OE POUC!A FEDBIAL

SERVIÇO Df CENSURA DE DIVERSÕES PÚBLICAS


TURMA DE ·CENSURA DE lEATROS F CONt3ÊNERtS

PAllECEll

I) Documentação

a) T{tulo em Portuguôe,O !':OT..il'.O E O :RSS-DO-OR..?i:O ttu. Soninha tÔda pura,


b) Título original;: _ _ __ _ _ _ _ _ _ _ _ _ __ _ _ _ _ _ _ _ _ _ __

e) Auto·r: ·JOSt I 1,0LEM.ffi FER.T-lB!RA.

d) Trad.utor: - - - - - - - - - -- - - - - - - - - - - - - -- - - -
e) Diretor: _ _ __ _ _ _ __ _ _ _ __ _ _ _ _ _ _ _ __ _ _ _ _ __

f) Produtor: _ _ _ _ _ _ _ _ _,___ _ _ __ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ __ _

g) Companhia:_ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ __ _ __ _ _ _ __

h) Claaeiflcação da Censura:. Inter•1iç.;lo - Dl!lc,Lei 20,191 Art,41 A2Í..'leR, ll•


ç e f' , ·~.x..;;,

II) Análise

a) Gênero;:.=Dc.:l:.::''-'::n::
::~:.:••c..__ _ _ _ _ __ _ _ _ __ _ __ _ _ _ _ _ _ _ __ _ __

b) Argumento: All:,ütor!I lave c'!!u "-~l":te , c~m :fi lha men or e i.w cnsal d e am:1.-
,51.:j.nhoo pa ra r-~,:,s ~r o !:.:.1 d e -semana em Ca bo ll'r io. 'l'raticnm nêste locaJ.
tncla ea;pécie ,~., depraacõea, enll.)l3nto e. ,u•j ci;a da filha woeura ind)l;,;'ir
a ID.e!lr:,a C, l)r!i·ti ca do atos J.éobicos , Embora esta reaja , mao devido sua

inocenci" ;,ceit a on cnrinhoa cua aro;!z!l e título d·e praticar teatr o, 1)r<:P-' -
:Fe. faser., Fi w.alõ&o~to 1 e e;~,:-,n-t e <la ll!Õ<i, :l;Qa:l;a ooàQ!5iP a ;f;i,làa, QQIIIQ ~Sta
ren~e, a~i em deaeanero devido o t6xivo gye havia ingerido antee e çho-
c - e s eu erro em uma. árvore.
e) l - Mensagem:. ?Te,;at iva. Embora sirva ele exemplo em alguns t nicos.

2. - Impress ão final::.a"a.:6..:e:..::s:.:C:.:i:.:ma=•- - - - - - - - - - -- - - - - -- - - -

[pp. 148-149]
Parecer de OSótão e o Rés d) Diá.logos,J?ornográ±'icos e :picante.,,
dr Chão ou Soninha toda
Pura, de José lldemar Ferrei-
e) Cenas,Il'ITl:lIDIÇ!u,
ra, pp. 1-2 (há três pareceres
'
sobre essa peça no Arquivo
Nacional)
149
Anexos

ãl Valor educativo ;W"TJln,m •.

ill)Conclua:O )';mbgra g peça tenha sido liberada anteriormenti;, concluo por


eua;,.WeriU ção com ~ e no Decreto -Lei 20 ,493, visto s·eu: te;l];t"O cómple-
teroente reJlleto de por;nografiae e diálogos picantes, e ainda, _cp~Lenrê-
·11.0 gg.ntribio Tl. decêi:1cia e o d ecôro p,~blico •·--- - - -- - - - - - - - -

,. _14
Bras11ia, _de _dez.
__embro 70_ _ __
_ _ _ _ _ de 19 _
• • 1 •

Técnico de Cens~ - Cart. n'? 40~


GARI.OS ALDERTO UILHOME?l DE SOUSA

'
150
Repressão e Resistência ,..."
~.,.' :~-
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. •,,' j. -~1,
.... .
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• •• .1 '

SEIVIÇO DE CENSURA DE DIVEIIOEI ,O• tcAt


TURMADECEM!llllADEffAJtlOBECCIIICbERE&

P A R E C E R
I) Documenta.çao -
a) Tfrulo cm Português: "A E'lrsa do BQ.de Expiatória"
b) TÍtu:.o original:_ _ _ __ _ __ _ __ _ __ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ __

e ) A·..1t<>r: _ _ _ __ _-'L'-'u"'
ic::z'--H-"a"'-r-"a""nh=ão"'-.:cli!::cl .ccho=----- -- - - - - -- -- -
dl '.rt·adutor: _ _ _ __ _ __ _ _ __ _ _ __ __ _ _ __ _ __ _ _ _ __

e) Diretor: _ _ __ _ _ _ _ _ _- - - - - - - - ~ -- - - - - - - - - - - -
! l Pi·odutor: _ __ _ _ _ __ _ __ __ _ _ _ _ _ _ __ _ __ _ _ __ _

g) Co mpa.nhia.: _ _ _ _ __ _ _ cc__ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ __ _ _ _ _ __

h) Cl~ssüicaçã.o .da Censura.: _ ___


I-'NT=~~D~I=-Ç~1!:~0~- - - - - - - - - -- - - -- -

. U) Anál i se _ _ __ _ __ _ _ __ _ __ _ __ _ _ _ __ _ __ _ _ _ _ __ _

a) cênaro:_,_ _ _ _,e:D,._r,.am...,.a-,,:po"'l""1._'t,,.1..,s:.,o.,-,.s..,.o.,c..,1..,a.-J_____ ___________

b) Argun,ento: A .llI'Btexta de fbcal1 z.ar pi;oble111as (la :i:eaião U3!neiPe de Not'deste


.. - ,., ,. ' , t -
o...au..,;_o.,__ua enfase ll 0011 r1 o~çao coou 1n1.zantQ dg ost~'1antes oos ~ s eftllll)Oneses
,.
Ao mesmo tempo em que ridicuJ ar1:z11 o co1:1p°"tam<1nto· de P.1ilite:Pee q;ue investigam
subversão
_ _ no País, a nartir d<i! 196/.l1 ·eoa e case de um ~,Ódico
. qa e 111:n 1tlÍm wn pac1 •
ente (;ig1tndor) sob eteito de drogas para nãci preshu· dQ.poimento, até Et\lC am-
bos chegam ao R:º
e conseguem áUlo l'.)JJmn emba1xndo estraogoir~. Cum~e se, ass~
tllna farsa m!_e nao passou de um plano bem executado,

e) 1 • l!,,lcnsage ro:. _ __ _ _.:.;li"'e,,g.,n-"t..,,1v~a=


-- - - - -- - -- - - - - - - --

2 - Impre ssão íinal: _ _..,..:.l"'•!u"'i,.,t,,o,._,ft"'•..,a.,,c,,~.,.._ _ _ _ __ _ _ _ __ _ __ _ __

d) Diálogos_: _ _ __ _ _~P.r;~•~
o~o~r=i~o~s_d~o~t~e=m=!l~•~--- -- - - -- - -- - - -

!'l Cen:;s:,..___ __ _ _ ___:S:.,U=.,j,_,e""i'-'t'-"ª"'$'---"'ª--"ªe,P=.Sa,..i,..o..,_,_,e,,


_ _..c...a..s....o._..d_..e____._]~1bue"'r""a"'ç!i'...
,ãa...,~--
[pp. 150-151 J
Parecer de A Farsa do Bode '
Expiatório, de Luiz Maranhão
Filho, pp. 1-2.

151
Anexos
Os_const.antes
f) Porsonagens: _ _ _ _ _ ==-='-'---do-texto examinádo
- ' ---'-- " ' - '.- - - - - - - - -- -

----------------------------------·-

g) Valo>- e<iucativo: _ _.....eN,.,ec,nhum,=""-'•----------- - - - - -- - - --

I) Conclusão Trata-se de uma tentativa de J airor a revoirução ao descrédito, . através de


insinuagões de que ng Brasil não bá liberdade.
n
Gbamoria a atençao da Chefia ~ra as aoota:çoes fêitns as pagl nas : 20,
N - " ,
29 1 30, 321
33, !!1, 45, I.J.7, 51.J., 52, 6P, 6J., 62, 63, 6.5 e 66 •
.il.to pÔsto, Oll1.0lL.P.ela ,interai~o....,com t\lnilamento no oue di sl)Õe o ítem_I do art •
.za da Lei na 5,536, de 2l de 110JC.e111J.b11.r'"o"-'a,.,e,__.1..,q"'6_8=·------ - - -- -

Bm!li. , 06.,, <bell ~7_7~0~--


-it/_~c~:.:/-- Ca.r-;,- n2~--º~4~6~- - -
~=ente de Paulo Alencar .Monteiro
Tecnico de Censura Mat. 2.095. 765

'
152
Repressão e Resistência
SEAVICO PÚ8&..ICO Ft!OeAAt..

D.~••r')~•,•t,11\• ., ,._ ~r..c,


.L. r:. • ;..-~.l "'T.' 'l"!IV!'
;,,,~ Jc,... '
·v .:.,J. J..'t. W~.~n ,'.['""'''~ -,,u
.i.: ......., _

'":••iv·rc•o
,.,~_,, , '.I ~')J''
!, O'•'...11 ·'U'"
,,;i.i1- D'!\'
1,1 J;, '.U
'l''I' .~H,;V.u.J
r,.., .. x ,,, .. ·ru'n·
... ··..-~1""
.JJ.,.v t.,..>

1):.O,l"\.u..,
~~..'l>t.,,-r;'T>
t nl! 1711
c,J;1,.

CON~'DO: :r,rmo
T:t.TULO: " COl'«C,illf.l'.A l'O,;TO 6 " A l:trill:U,:•;'.i'A .
AU'.rOr..A: CA~;;:;Aliw.Jt HIOS
EDITORA: i,:""ü!l..:)C ,.'.U::OICAL ,.,n;;ITADA
C'ú.\f;f,TI'IC.iÇÃO:V Z 1' A iJ A

O livro da senhora Caosr.ndra Rioc é um romance


sobre \Un& jovem lésbic~. , El\l(l.r.J conc!\\ictas e s eu ,·mbitlnte famili/
e.r; :3uc.s :·.titv.des s;o referendadus COJJO n cawiu <le seu tlesn.jw;/
te. !<lenoagem r.eaativa, psicoloe-ic umer.te ft\lsa cm ccrtoo ;.,.spéc to .
à.e rel:icionnrnento, noc ivn e depTiraente ;:r:,nc Ípõ\lmente pela con
. t a '.!
g~,J.f:I ,.,,,, b.J.Ca d a ;'' .! er {) J.Da
. . t.,O :;\
JUll ' m:· ur.-.:;
• t a O O d up1 O l;ll1CJ.
. 'd·J.O-
final, ._
À p:1.g ina 200,201, 20?. a uutor:i. tente. com injus
ti:ficadai. cite,ções BÍblic,,s subverter conceitos morais em uma
infeliz sub literatice ps rn juotificar o tema a 1ue se propos.
O :;>oder econômico é, também um fatal coator , z ceundo ela,dns t\
nom"1.lias a que se compraz em relntar. -
]:r,quo.dramos, pois, o compendio em o Dec .Lei 1077
de 1970. VETA D O,

ele Ja.neiro, 27 de outubro de 1975

: P(

; ' M:~tD~!, DE A•
'

,,.•·

'

Parecer de Copacabana Posto


6, de Cassandra Rios
153
Anexos

'
154
Repressão e Resistência
SEAV'CO PCIBLICO FEC!:AAL

n :,FA,rr ,t-!1fl'J.U l)Ji !":)J,:CCIA ?l~::'?:JAL


D7. 'ltSÃ0 !>3 C-::~!tHl.iA Dr: DI V,;:{SO:'.S 1'Ü N ,I0AS

T:t TULO : " AS 't:lA ÇAS"


AU·IORA: CASS AITT!IlA ~IOS
F.T•!'.l\'.>RA: r.füt.l lX) ~1JZI::JAL LTDA.
CLASSJ:~!C!\')ÃO : VETADO

O J!ret;ent!l livro versa sobre ns t ,~ras homossexuais


de uma )_)ro;fessora por suas a lunas. Ap6s vári~1s vítillll\S, a nH:'-'-
ma fixa- se numa jovem, filh o. de um ex- colc,ea c'!e r-•· ,:;i ,, t.~rio.
~ncumbic1r1 1:Plo r,,a:,.netismo da pr-:> :!) :ns ora , a ::ovem cn-
de, J.>nns a ndo a viVP.r em xt r P.mo c on fl i t o, n t> ,;li..:; e ncia n c o ;,s
0

~~tudos e refu~ :i.ando-se cm drot,t-a n . T':."o.f"un,.1 1?.1:t "':Jt~ i.nto~.: ·i~11d:'I ,


a moça é in tll..:-n u da. Após recobra r a C!'lneci.ê,1c in , •.•l r•i f'S CH 't.".\
nrn c'!iól u~o e:~ ~uu mã"' e n t al p1•ofonnora , ll t •·íl.060 êsse '!U"
cott.r,rova j á :; 9r !~ •.prido on'tro ts dv.~ts o t- iHHt.O c a~o.
c~1:1arJJ8r~o: ~Io livro er;: P.l)Í 1., rt:l Fe fico evi/ 1en c ~.q ~n umf.l.
m~;H; A.:,;~m ~ ni...attvo ~o bre t: :>·1os ',.)0 a sf~P.ctos, j,iH'!l1.u ~ive l' º"'"'}UC a
:iu t ora nfirmn q_ue o J. P- sb:l ;,1 n i !'mo 4 n VP..\'!1a:l nira C<Jncli~:io normal
c1à mtü!1er. Cnn trc1 r i a ~11• sim, de m,:innir,, f. ,:on"tal, um pu:lr ã o mo:..
:ral coni,,, _ _.?_eo pel a noosa HOcicdade.
! !;', t n !)Ort to , r P. cor:1anda 1nos o V~ !:0 !>ara o rP.R~r i,1o J. ).v t~ ,
1

cor,1 base no Art. l e do :>r.creto - Lei NP. 1. 077 .

'

Parecer de As Traças, de
Cassandra Rios

155
Anexos

'

'

~-
-

156 MiNISTERlO DA
DEPARTAMENTv ~" POLfCIA FEDERAL
Repressão e Resistência
D IVISÃO DE CENSURA OE DIVERSÕES PUBLICAS

PARECER N9 __0::..:0'--'0'-'7..,3'--_ I 78

TITULO ::_ _"_.:.:A_:_P1'::..RA


= N:.:.'0:.:I:..C:.:;,. :.'_' - -- -- - -- -- - - - -

CLASSIFICAÇÃO ETARIA: _ _ ___::_


P:::;el,..~a=---=-P.:.:R:.::cO::aIB::aI,,_,Ç,,_Ã,,,O'------
~a ta, Goiânia, 27 de dezembro de 1978 .

1-Título do livro : 11
A PARANOICA"
2-Nome de autor: Cassandra Rios
3-Editora: Global Edit. e Dist. Ltda.
4-Enderêço: Ruà José Antonio Coelho 814 - SP.
5-Ano de publicação: 1976
"---
~-E S ~=fil_Q:
Ariella, jovem de dezes-
sete anos, é o paran6ica. Pelo. oenos esta foi a defi-
nição da éutora. Filha do Dr. Rodrigo e de D. Helena;
irmã de Alfonso e Clécio. Ao descobir que era filha~
dotiva, do referido cas~l; ela usa de todos os meios/
para desvendar os mistérios que envolviam i:,s sua ori-
gens. Entrega- se Sell.-ualmen,e, e de foma ridículé_, ao
pa~ e oos irmãos (adotivos), joga uns contra os outroo
para que a verdade aparecesse. Desenvolve os seus ins-
tintos e põe eo prática o homosse xua li smo feminino com
J.:ercedes, noiva ãe J.lfonso .

A~ E e E R: Arie l l~ vai alem da Pa-


-P---===-=-=:=
r2nóia, as õescriçÕes dos a'toe ~a~uai~: s;o feitas noe
seus n:ínic,os óet'-lhes, h~ homoseexuali&~o, viclênci, e
o con~eúdo do livro é deprimente . Co~ base no art. 12
do L·ecreto - lei 1,077/70, sugerimos a sua PnOIBIÇÃO.
' •'
6~ ·
-

-~"
,-
,J?_' I ·;; ""-:::-1:-,--._
t.. ... \.• \.. _ _ . ...
SID'"".S,.....p ,-,1,UINO LIRlcGOUY!í.
Tecnicó ce Censura.
...

Parecer de A Paranóíca, de OPF-742


Cassandra Rios

MINISTERIO OI\ JUSTIÇA 151


o DEPARTAMENTO DE POLÍCIA FEDERAL
DIVISÃO DE CENSURA DE DIVERSÕES PÚBLICAS
Anexos

PARECER N\> ao J./g6


TfTULO :_ _ __ _ _ _ _ _ _ __ __ _ _ _ _ _ _ __

CLASSIF ICP,.ÇÃO. ETAR IA:._ _ _ __ _ _ _ _ _ _ _ _ __

Titulo do livro: EM OUSCA OE AVE~ITURAS


Autor: Brigitte Bijou
Editora: L. Oren Editora e Distribuidora de Livros Ltda .
- -
Parecer: Pala sua nao liberaçao, baseada
no que dispõe o ort . l • do Decre-
to-Lei n9 1077 de 26 de jcneiro de
1970.
,
Enredo : O pers:,ne gom principal, jornalista reoem forma-
do, de naciona lidade americana, empree nde uma viagem a •
E1:1ropa a fim de conhecer diversas mul heres , dando início
a aventuras amorosas com finalidade da recolher confidên
cias ·Íntimos, experiência s pe·ssoais, além dos conta tos '
-
sexuais. Assim transcorre a obro, sem qualqu·or conteúdo
informativo, cultural ou nmsmo educativo . Polo contrário ,
dá ênfase às con quistas do personagem oom mulheres de na-
cionalideda francesa e italiana, da tpda espécie, entre '
estas prostitutas e recepcionistas incautos e até mesmo 1
menor de idade iniciedas no prostitui~êo.
Considerações
Nota-se no decorrer d& obra o intuito nocivo de
des~erter a li bido pelos excessivos detalhes de re lações
sa:xuais entre os diversos personagens- incluindo onorm~
11·d edes e o tos imorais- r-,ndando-se ci tár as seguintes P!,
gi·nas com trecho.s assi nalados: .27,2B,29,30,66,6A,6.9,7D,
72,7B,B2,B3,94,95,l51,152,153,l56. Considerando o número
da impropriedades de tamanho implicaç~o, ~ ohrA revelo-
' .
se contrcr1.a e' mo r a l comu•1, sendo contra indicada a sua
.
11.beraç:ro, -
Bra·s í li-s, 22 de ~e zombro de 1973
,.{:l:y,.rJJ0;.,.,... Q_ '
Teresa C1·is'tl~a dos Reis Narra
DPF-742 Parecer de Em Busca de
Aventura, de Brigitte Bijou
158
Repressão e Resistência A MINISTERIO OA JUSTIÇA
DEPARTAMENTO OE POLÍCIA FEDERAL

- DIVISÃO DE CENSURA DE DIVERSÕES PÚBLICAS

PARECER N9 <tlf 7
TffULO: " 'A CHINESI~JHA ERÓTICA" - De !1riçiil:tn Bi jn11

CLASSIFICAÇÃO ETARIA:_N_A_O_l_ I ,,_,E~R_A~Ç_A~


D_ _ _ _ _ _ _ __

A autora va le- se de urna IYlr r otiva v.izia , ins


sossa, compondo, adrede , uma aotória asque rosa sobre ralações
aranormais ,
O enredo do livro engloba toda a gama de des
ios sexuais da uma ninfo ma níaca, pera quem os homens são insu-
-
ficientes para saciar seus instintos. Entao , recorre aos ani-
eis , a quem elege parceiros para suas org ias muitas vazes ma-
cabras e sanguinárias, envolvendo secrificios e mutilações com
objetivo de se excitar, As vítimas, sempre virgens, são dafl •
redas selvagemente sob suas vistas, em condições degradantes,
Verifica- se em todo o decorrer da leitura,/
s abusas sexuais que extrapolam os l i mites da imaginação mais
ermissiva e a bestialidade como uma constante.
Com base no Dec. Lei 1077 , em seu art. 12, su
iro a Não Liberação .

'

Parecer de A Chinesinha OPP-742


Erótica, de Brigitte Bíjou

MINISTERIO DA JUSTIÇA
159

o DEPARTAMENTO DE POLÍCIA FEDERAL


DIVISÃO OE CENSURA OE DIVERSÕES PÚBLICAS
Anexos

PARECER N9 _ __.::0:..::5_ _

TITULO:_ _ ____;_
O_ L;,;..O;_U;_C;_O_ _ __ _ __ _ _ _ __ __

CLASSIFICAÇÃO ETÁRIA: _""P.=ce.=la::.....,Pe:.:r


:..:o:..::i=-:b::i::!ç~ã;::.o_ _ _ __ _ __
Autor: Dr. o. Pop

Enredo Conta as narrativa~ de um louoo a um


01.dadão res pei tJvel, de sua infânoi.a em ,;iue doaoobre
ser oou mo:l>-:1.rmõo, ainda garoto, u.i1. invertido sexual,
Relata, pormenorizada:nante, horooi,.,, ~xuali,~1110 entre ma:
n1.nos, tente ti vo d :o, os tupro, rol flçÍ>eo 11e:.ruaia, sexo '
grupal.
Considerações O romanoe diverge, em termos, de ou~
trod, ptU'atDen·te pornogri!fioou, poii1 oontém wn enredo
mais elaborado, não fugindo, porém, das pasaegens on ,-
de deaoreve desvios sexuais.
-
~ nítido o caminho porno~fioo do ro
ma.nos em Vl,<itA. ~A inrportância da,ln, pelo autor, pnra
-
tamenhna aberrações.
Baseada no ~ue dia~õe o Deo-Lei nV1077
de 1970, sugiro ,11ie proibição .

Drasi!llia, 08 de janeiro de 1979


,jj)/e~
Teresa Cridtina doa Rais .Marra

Parecer de O Louco,
OPF-742
de Dr. G. Pop

Balanço das Atividades Censórias do Ano de 1976

or!cio no 053/77-DCOP BresÍlia, 31 de Janeiro ds 1977.

Senhor Ministro:

Os signatários do pres ente docur.1en i o , que se


identificam como e s critores, Jornalistas, professores, cineas-
tas, músicos e artistas br asilsiros, após definir e m sua posição
, -
a' csnsura, pedem e "imediata revogaçao dos atos queim
contraria
~ da livros, a apresenta~ao
pedem a circulaçao - de peças e filmes, -
a difusão de músicas", e m nome da libe'rdade de ;:,eneamento.

A Constituição da República, precisame nts no


dispositivo que asse gura a livre man ifostação do pensamento, de
convicção polí t ica ou filosófica (àrt .153 , § 8Q), estabelece â.Jes
-
restriçoes1
[pp. 161-164]
a) - uma , dizendo respeito às diversões e es
, , .
pstaculos pub licas , sujeitos a csns ura1
- Ofício do diretor da ocoP ao
Ministro da Justiça apresen-
b) - a outra, prescrevendo que não eerão to-
leradas a propagenda da guerra, de eub- tando o balanço das ativida-
-
versao da ordem ou da preconceitos de des censórias do ano de 1976.
-
religiao, ds raça ou de clasee e as pu - Esse ofício foi motivado
- - ,
bliceçoes e exteriorizeçoes contrarias pelo documento que ficou
à mot'el e ·aos bons costumes• conhecido como "Manifesto
dos 1.046 Intelectuais contra a
-
OB interpre teçao do rererido precBito , veri- Censura", encaminhado em 25
de janeiro de 1977 ao ministro
rica-se Qu e e Constituição ressalva, entre os direitos fundemen
- da Justiça. Assinavam o do-
cumento nomes como Antonio
A Sua Exoel.ância Candido, Chico Buarque,
Ministro ARMA NDO rALCno. Jorge Amado e Paulo Emllio
Mi nistério de Justiça Sales Gomes. Notar, no quinto
N e s t e ./ parágrafo da página 3, a'
afirmação de que o exame de
livro s se dá como decorrência
de denúncias.

161

I
162
Repressão e Resistência
-
tais dos cidada os, e liberda de de penoamBnto, mas asse qure ao
Estado a feouldede do dofander-se dos que ate ntem, con t ra a sua
segurança e dos que se va le m doe meios de comunicaç~o socialpe
r a destruir valoree éticos que devem ser preservados, por maio
--
do trabalhos ofensivos •a moral e a os bons costumes ,


A lei ordinaria, por sua vez, cuida de re-
p r i mir a prá tica ~e a ções que con t rariam o prescrito no manda-
mento con~ti t ucional, sanci ~nando, nõ o só a propaga nda da gua!_
-
r a ou e subvers oc da ordem promovida atravas , dd jornais, pa ri,!!_,

,
bem ,
o comercio, .. -
a dlstribuiçao -
dicoa, r ádio, t e levisão, cinema , teatro a c ongênaras, como tam
,
ou a ex;,osiça o puL>l i.. ca de obras

a te n tator i a s •a moral.

-
Per mitir e divulgaçeo de traba l hos que con-

\ trariam a norma constit ucional,significarla vlolar a Constitui


-
çao, porque serie permitir Justamen te o que ela de modo expre.!_
,
-
se proibs. A au t oridade publica estaria fu gi ndo ao seu de ver
se deixasse de evitar que no uso dos direitos e garantias i nd!
viduais os c idadãos lesem a ordem pÚblica , a segurança nacio -
nal, a paz social e os bons c ostumes .

-
Nao cabe, por conoeguinte, c atalogar a ati-

, , - -
vidade exercida nesse setor como ''inexçilic~veis arb!trioe'', se
-
tais atos sao praticados por ex pressa detorm l na ç a o legal. O~
e preciso, antes de mais nada, e ne o confundir liberdade com
licença . To do indivíduo é livre agindo dentro da lei. Logo,
o e xercício do direi t.o da manifestar seu poneamsnto deve ser
.
submetido , om toda sociedade organizada, ee condlçoes e limi - -
tes prescritos em lei.

Se fosse pe~mltido escapar a• incidencia


• dao
. ,
leia, como panece ser este o desejo dos signatarios, estaria
comprometida a fu .,ção do di reito no me io social .

,
--
Para que seja atendida a pretensao delee ,e.!
ria nece esarlo,
, -
entes · de tudo, modif ica r a Constituiçao da Re-
,
pun lice, r evogar a legislaçao exist~nte e ate denuncia r a ~or -
dos internaciona i s assina dos pel o Brasil, no que diz res peito

'

1
163
Anexos
a medidas des tinades o prevenir em s uu t ert· i tório n circ ulação
d e mate ria l ob s c eno, prov i dências ostas que não cebom aor tom.!!_
des pelo Hin is tór io da J ustiço .

Rel ati vemente oo c onsi gnado no documento oi


t í: do, du que a "cunsura vom rntiro ncto 1!0 circuli-: ção , om os c a la
e .-oscan te, um c on junt o de obr as liter~r ias , tee l. reis , ru u:i i cais
e ci ncm e tográr icas", n;::, cus t o ,ios t rnr , numer iconwntc, o frog.!,
lido de da o legação.

Tomondo c omo o xe mfJl o os dJ dos oatn t!nL icos


de> 1 9 76, verificar- se-á q uo eoto Do po rt::,manto, et r nvóa oc,u Ór-
.. iio " s peci;;lliz ,do , examinou , dur onto oque lo a xo r c f c i o , r~uia de
2:s m;.L..e.roc,,s~g_s de fi l :t,as, inclui ndo pol!c .. los do 70, J 5, 16
o 8 milímetros, de .longe e curte metragens, upreson t :.idas para
-
renovaça o de connure ou pare esse fim pel a prime ir a vo ;:,e das
se n~mero somente 06 (seis ) filmas deixaram de r ,: cebor c e rtlfi
,
cedas libera t orios .

f oram examinada s 9 0 9 novas peças de t 1ia tro


-
e apenas 29 delas neo f oram apr ovadas , por versarem, na quase
total ida da, temas ofensivos •a mora l e aos be ns costumos , con -
, . -
·t r aria s , :·arte ,t o, n le!;islaçao em vigor .

,
Quanto a livros, convom escla rn cer , de logo,
que este Doparta.,,e nto só munda ve r ificar aqueles re mo ti dos pa -
los or -
, gaos dascantroli;:e dos, em deco r~o... n1.. i a d, solicilaçons r~-
c abidas.nas respec t ive9 6rees,de pais, pr ofess oras, livreiros,'
..
0 u autor idades loca i s , que ao pa"t"cabe1:em inconvaniancia s em al
gumes ob ras , no t o cen te •o moral a a os bons costumes, reclamam /
-
prov idências da autoridada, já que se rie impos!l!vel pru •·r a mara
- - , N
v or ifica ça o de t oda ptoduçao litororia poeta em cir <ul Dçao no
Brasil,

No indicado período chegarem 21 9 obras, to


das danunci adaa po • diPeren t es c amadas sociais como ofensivas
-
à r.1or11l, •aas qu13, cuida dosamente examinadas , apenas 74 merece-
- .
rem proibiçao. Os mesmo forma como nos trabelhos t e atrais , pr!!_
, .
dom inaram temas atentetor1 os ammoral.

'

'

164
Repressão e Resistência
Como o S i ndicato Nocional dos Editores BPO.!J.
N ,
ta uma produ çao literario no Brasil de cerca de 9.000 t ! tulos /
por a no, a proibi ção de 74 livros co rres ponde o manüs da l % das
obras lançadas no moi:coclo e m 1976.

Rest a s al ientar, por fim, que nenhuma medido


N #
judicial c ontr a ntos do cunsur ti obteva doc is a o fovor,1tael , o que
co ns t itui evide n te prova da co ,· r eta observância, por pnrte do
# N # -
orgao r asponeovel por sua OY-Ocuçoo, eoe ditames leqais .

-
Cm f oco do e xposto , entendo , nao obs t ante o
ol to e prcc,; o e m q ue eo posoo ter oos s i i;netÓrios do doc umonto di
. -
ri9ido e Vossa Cxcol encia , qua o pe dirto noo merece aco! hido,pals
-
s i qnif icar ia torno;; lotr:1 inortn uma pre cei t ua r;;ão c ons ti t lJciona l
de ,:;r a nde alcanco jurÍdic:o e tronscendência mor al .

Aprove ito a opo::tunida da para r enova r o Vos•


s e Excol ôn :J.e os meus protaa l oc de elevada os time e dis t in to cq:i_
-
s ideroçao.

MOI\CY ! C ELHO
Oiret or • Ge~al do O. P.r .

'

/

Manifestações da Sociedade Civilª

o Carta de 2 de setembro de 1974 enviada ao ministro da Justiça solicitando


censura, especialmente a Dias de Clichy (Quiet Days in Clichy), de Henry
Miller.
o Carta de 2 de março de 1977 enviada ao ministro da Justiça solicitando censura
de Manchete, Gente - Fatos e Fotos, Status, Homem e Ele e Ela.
o Manifestação da Associação Brasileira de Imprensa enviada ao 1ninistro da
Justiça contra a proibição da publicação do conto "O Cobrador" pela Revista
Status, datada de 20 de julho de 1978.
o Manifestação do educador Elias Boaventura enviada à Divisão de Censura
pela liberação do filme Em Nome da Segurança Nacional, de Renato Tapajós,
autor do livro Em Câmara Lenta, anteriormente vetado. Datada de 4 de
setembro de 1984.
8. Documentos conservados no
Arquivo Nacional. Fundo: Divisão
de Censura de Diversões Públi-
cas - DCDP; Seção: Administração
Geral; Sé rie: Correspondência
Oficial; Subsérie: Manifestações
da Sociedade Civil.

165

166 Lençóis Paulista, 2 de setem.bro de 1. 974.


Repressão e Resistência
Prezado senhor

Ela eonaidex-.ção ao interêaae de V. Exa., em dee04brir ~a


ca.ueaa que leVlllll oa ilad.1víduoa ao c.ri.ae, toll!O a liberdade de dar &

11iinba opilúão aÔbre duaa que W Jllllite venho obaervando- aa.


la.- Educação UniaaeXU&l- A educação igual para oa doia
aexoa, dada ui escolaa, em claasea mistas, levam os indiVÍdu.011 ao ho
lll.OlllilexualilllD.O • eate aoll crimea.
-
O ~deal aeri& educação eapecial cad.a sexo, relil
peitaxado a• auaa caraoterísticalil.
tlllla

comu.a, sentirmos o cheiro de ci-


-
~
pua

ga.rroa numa 111en:lna e o cheiro acentuado de perfu.me nos men:lnoe. Os


~eninea e lllAl'IÍDPA vivendos permanentemente jrmtoa, aentir-ae-ão, di-
fioul,-dades para lilUI. própri& identificação .
educação deveria ser de "renc'linhas", somente p~ as
A
:meninao e de "botina.a", para os 111.elli.uoe, respeitando aeei:m,seu aexo.
"Se o desejo de guerra na.soe n.n mente, ~namente que
devemos comb11.te-lo, atraves da edu.caça.o das crianças". Es8'1. edu.oaçao ,
A , - • N

portanto, dev& ser sadia e especial, eal~da devemos fazer com f ru.ta11
e legumes• nunca com crianças.
2a- Livros- lmitur.1. de obras pornográficas levam a s cri-
anças e jováns a POLUIÇÃO MENTAL. Aqui cidade do Lcnç6is Paulista, llll.

pude verificar que lllllitos jovéns, ap6e a leitura de livros aem nenhum
valor &rtístico ·e científico, foram leVli.dos a cometerem faltas contra
o pUdor. O livro "Dias d e Clicl:!~ de He& .~5ller, é, um v~;r1,~!l'!..¾f-2-
11
,

atentado ª0..-l!.E~~-t no_ ent~to1, encontrava:-:~«;..~à, disposição de qUalquer


,1tw.,;a•:•==s .e .u• •---,.,..,, • ., • •--• 11 ,,. ~
adolescente na Biblioteca T,b,ni nipal, desta localidade e ílci apoiado
_ ,e< m f • 1 ses~ e , ,..,...._...-- ...,.._ ..t,l.~ ~ - : v _ .••·1'·-...:..~ ~...,~ • .,. ,,..,. ,,,~~,.,,...__,,, -..>11V a o • •• 'M.4.t

-pelo seiahor prefeito e presidente da biblioteca e só foi retirado da

.
circulação e muita. insistência. Assim também o livro "0 ID.ti:mo Tan- •
:_ ____
ge em Paris".
"':'~·....,.~
..,_ ,. ·•~,.r: '

Contando com v o ~- muito obrigada


1r ua n

Oê---.~ . . . .--.c,, __.,,.. o · •-- ~. . . . .. .. . ._ _ _...

~~~
Usana Bura.nelli 1ilinetto

Carta de 2 de setembro de AO En!O, SR. DR. ARMANDO RDlEillO FALCÃO


1974 solicitando censura.
'
MINISTRO DA JUSTIÇA
especialmente a Dias de
BRASILIA- DISTRITO FEDERAL - llRASIL
C/ichy, de Henry Miller.

/

161
Anexos

[pp. 167-169)
Carta de 2 de março de 1977
solicitando censura das..
revistas Manchete, Gente -
Fatos e Fotos, Status, Homem
e Ele-E/a.
168
Repressão e Resistência

~ - ç ~ ç ~ , oO-., '7,,,..,.,~ .li.. (.Á. ~,,.__ • ~ 6-A-,._,__,_;_-


~ -j~, .t,, ,-\..._, C\ . \~C ' \ ~ ~f..~t~ -4, 41.r ~ , .. , , , , . ._,___._ -{c_j.__
k~- . J
-? • i _Q " • • n.
j · JvV\-~v-.À<~ - -,.,_....., ~ V\A.10 • , ~~ /]!;rrt -
~ ~ c : l . ~ OVl. 1,l,,. ..,..,c~ ·tC'<,X.c< ~fA,c,.",._ cL,... ..<.,..x:....:~-t<'.."c ;,,
1
c-ll C..c.·, ük.;<. ~-~
A- , ~ ~ ·vv,.c, - .J.>.<..,~
~ .o-::r~~
e\~::) -l-,'--<--';, ~ . l'.?IY' ~~-

1,'\,Ô:.,, ~ ~ ~ c;...\..,J.,.:~'-' ·pc.<.A.<~ ~~ &-:, cJ,....,.._-

~ ~ O-"'~~ck> ~~? . ' C,~__,.,

~ ~~ ~~/ J~~-- ~ /
'1.J'.-t.. ~~ :'-'-'-' .' e," "}"'<: ·v\.C"-. ·t ·\.\.·\ ,-_ ( J~ C, .. ~ ., '-l,2t, ,, ,<,·
< \ \.C. ,--U. / .li. 0 ,Á..A,s.A..AA"-"<'õ° . ~ -l \.•, o. ~(: c-tr• ~ cJ.A... C <S-",-

(w -~ c:vn · / l.}Cv\-0.- ~-✓-~6<-V\. o-. f-;-


~~ oLo P(M..,,b ..e.. :t'-s. '- , "o. " e ,-o '-C\. ~ - \ ......'-- --~ , f e\. _.""
~ ~ ~. ~ , ~ ~ ~ ~0--
~ 1 ""° ~ -_.t:...>c,~~<t.~.
Ys.d-.~--,cl~ ~,:: 'c·-C.:...\..d.-<'<--l.i..,_, ., ,cu...,--.-
4 1 ~ -"v---t, ~v\.-0-.C~ ~~ c,Lo.,_ fl..t.-
~ ,&t (0-v--.:><.. ~ '-1,"-~.....Q .

k, ~ ~ ,e / '-~-<L-~to,

V¼~.,__ -1eo~...IA,._~~ ~
1< , - ¼ ~ ,9 4 ~ ~• s~ - I

0 t.5 lj 2> S ?1M


. ~

'

Transcrição: 169
São Paulo, 2 de março de 1977 Anexos

A Sua Excelência
Dr. Armando Falcão
Digníssimo Ministro da Justiça
da
República Federativa do Brasil
Ministério da Justiça
Brasília - Distrito Federal

Excelência:

Permita-me que, com toda reverência, dirija um apelo a Vossa Excelência.


Um pedido de mulher brasileira, uma solicitação de mãe, uma súplica de quem enxerga
com evidentíssima nitidez, a pornografia atentarória da instituição familiar.
Excelência, como explicaremos nossas pesadas responsabilidades ante Deus, pela cor-
rupção de uma juventude, aturdida em face do carnaval de imoralidades a que somos, com-
pungidos, obrigados a assistir diariamente?
É agora a vez de Manchete, n12 1298 e Gente - Fatos e Fotos, da mesma semana. Como
poderia ter sido a vez de Status, Homem ou Ele-Ela.
Permita-me, Senhor Ministro, salva revêrentia, indagar de Vossa Excelência da existên-
cia de lei ou decreto-lei sobre a circulação de matéria atentatória aos bons costumes. Por
que não é aplicado ou aplicado para coibir os Abusos já dramáticos destas publicações?
Não olvidemos jamais, Senhor Ministro, que vivemos numa "guerra total, global e per-
manente" e o inimigo se vale do recurso da corrupção dos costumes para desmoralizar a
juventude do País e tornar o Brasil um país sem moral e respeito aos olhos dos estrangeiros,
no exterior.
Pedindo escusas pelo verdadeiro desabafo, acredite-me admiradora sincera da serieda-
de de sua atuação ministerial.
1

Com todo o respeito,

Maria Helena Marques Dlp '


R. Harmonia, 972 ap 52.
C5435 / São Paulo
110
ASSOCIAClO Bll6SDoEIJIA DE IIIIJ'JIENSA
Repressão e Resistência
R.SPR:JSS.E?t'r.A0,\0 RK DRAS1LtA

Brasilia, 20 de julho de 1978.

Senhor Diretor Geral:

Informado, pela Editora Três, de São Paulo, de que a Censura


Federal - Õrgão desse Departamento - proibiu a publicação, na revista Status, do
conto "O Cobrador", de autoria do esctitor Rubem Fonseca, vencedor do "Prêmio
Status de Literatura Brasil eira 1978", cumpro o dever de, em nome da Representa-
ção em Brasilia da Associação Brasil eira de Imprensa, apresentar a Vossa Senho-
ria protesto contra esse ato, que representa um desserviço ã cultura do Pais,
alêm do prejuizo que acarreta a editora da revista.
Ninguêm ignora que Rubem Fonseca ê um dos escritores mais im
portantes da literatura brasileira contemporânea, jã antes atingido por outra me
didade obscur.antismo, com a apreensão de seu livro "Feliz Ano llovo", o que,
aliâs, constitui objeto de ação judicial que o autor move presentemente contra o
Ministro da Justiça. Igualmente notõrio ê o alto valor intelectual da comissão
julgadora do referido concurso, composta pelos escritores Antõnio Houaiss , Fer-
reira Gul lar e Gilberto Mansur, cujo trabalho, nesse particular, consistiu na
leitura e seleção de cerca de dois mil contos.
Trata-se - deve ser acentuado, ainda - de um prêmio que, pe-
lo seu valor monetãrio, representa um dos poucos exemplos de estimulo material ã
produçio literária, no Brasil. O ato da Censura - ainda mais tendo em vista que
repete proibição idêntica contra o conto vitorioso em concurso semelhante, no
ano anterior, de mesma revista, dessa vez da autoria de outro mestre do ginero,o
escritor Dalton Trevisan - pode determinar uma retração da parte da editora pre-
judicada, como de outras, no sentido de manter ou extender tão louvãvel empreen-
dimento.
Por todas estas razões, Vossa Senhoria hã de concordar que
medidas dessa natureza contrapõem-se, na verdade, aos interesses nacionais, na
defesa dos quais essa Representação da ABI aqui manifesta o seu protesto, assim
como a espectativa de que, de futuro, não venham a repetir-se.
Aprovei to a oportunidade para apresentar a Vossa Senhoria res

Pompeu de Sousa
,
Presidente
IlustrTssimo enhor
Manifestação da Associação Coronel Moacir Coelho
Brasileira de Imprensa contra M.D. Diretor Ge al do Departamento
a proibição da publicação de PolTcia Federal
Brasil i a-DF
do conto "O Cobrador" pela
SBN • EDIF!CIO CEN'Ill.AL B&ASILlA • SAI.A 110¾ - FONE: 225-7568 - CEP 70.000 , BRASD.IA • DP.
Revista Status, 20 jul. 1978.

111
Anexos

Piracicaba, 04 de setembro de 1984

Ilma. Sra.
Dra. Solange Maria Teixeira Hernandes
Presidente do Serviço Nacional de Censura
Diretoria de Divisão de Censura
GABINETE DO M1N1STRO DA JUSTIÇA
'BRASÍLIA, DF.

Prezada Senhora:

Sendo um educador brasileiro de ideais cristãs


e democráticos, venho através desta solicitar a liberação do filme "E!!
NOME DA SEGURANÇA NACIONAL", dirigido pelo cineasta Renato Tapajós.
Como participante ativo no processo de rcdemocr!
cização no país, não posso testemunhar calado o uso de um instrumento es
pÜrio, como ea censura po11tica, em um momento em que estamos tentanto
implantar a democracia.

Sou um educador e portanto, conheço o valor da


história na compreensão do presente e na construção do futuro. O filme
-
em questao retrata com cora.gem e clareza os acontecimentos e fatos do
nosso triste passado recente que foi tão marcado por incompreensão, auto
ritarismo e violência. Sem esta visão histórica não podemos entender a
nossa delicada conjuntura atual e cartamente nao poüeremos Uu:.iC8r ca-
minhos de maior entendimento, justiça social e par ticipação plena dentro
de um estado de.\i.reito.
.
Certo de que a liberação do filme pelo Serviço
Superior de Censura contribuirá para o amanhecer de um Brasil mais digno
e for te, subscrevo-me.

Atenciosamente,

Manifestação do educa-
A~A~~ L
dor Elias Boaventura pela
Reitor liberação do filme Em Nome
da Segurança Nacional, de
Renato Tapajós, autor do livro
' - - Mantida pelo ln.a1ituro Edu.cocionol Pirocicabano
Ru• Range.! Ptsuno. 762 · Calxa Posut 68 · 13.400 Pirac:ieabl lSPt Em Câmara Lenta, anterior-
Tolox 019 • 1914 UMEP BR • F-one PABX (0194I 33-5011
mente vetado pela DCDP.
Data: 4 de setembro de 1984.

ABREU, Alzira Alves et. all (coord.). Dicionário Histórico-bibliográfico Brasileiro Pós
1930. 2. ed. Rio de Janeiro, Ed. FGV, 2001, 5 vols ..
ABREU, Márcia. Caminhos dos Livros. Campinas, Nlercado de Letras; São Paulo, ABL e
Fapesp, 2003.
AousP. O Controle Ideológico na USP: 1964-1978. São Pau.lo, Adusp, 2004. Disponível
em: www.adusp.org.br/cadernos/livronegro.pdf. (Publicado originahnente em 1987
co1n o título O Livro Negro da usP - o Controle Ideológico na Universidade)
'i\..GUINALDO Silva". Isto É. Entrevista disponível em: www.terra.eom.br/istoegente.
Acessado em 28 dez. 2007.
ALBIN, Ricardo Cravo. Driblando a Censura. Rio de Janeiro, Gryphus, 2002.

ALMEIDA, Maria Fernanda Lopes. Veja sob Censura - 1968-1976. São Paulo, Jaboticaba,
2008.

ANUÁRIO Brasileiro de Mídia 1975/1976. São Paulo, Editora Três, 1977.


ANUÁRIO Brasileiro de Mídia 1977/1978. São Paulo, Publiform, 1979.
AQUINO, Maria Aparecida. Censura, Imprensa, Estado Autoritário (1968-1978). Bauru, '
Edusc, 1999.
_ _ . "Mortos sen1 Sepultura''. In: CARNEIRO, Maria Luiza Tucci (org). Minorias Si-

113
114 lenciadas. História da Censura no Brasil. São Paulo, Edusp, l1nprensa Oficial, Fa-
Repressão e Resistência pesp, 2002.
BELO, André. História & Livro e Leitura. Belo Horizonte, Autêntica, 2002.
BoRELLI, Silvia Helena Simões. Ação, Suspense, Emoção. Literatura e Cultura de Massa
no Brasil. São Paulo, Educ, Fapesp, 1996.
BoRGEs, Jorge Luis. Cinco Visões Pessoais. Trad. Maria Rosinda Ramos da Silva. Brasí-
lia, Ed. UnB, 1995.
Bos1, Alfredo. Dialética da Colonização. 3. reimp. São Paulo, Companhia das Letras, 1993.
_ _ . História Concisa da Literatura Brasileira. São Paulo, Cultrix, Edusp, 1977.
_ _ (org.). O Conto Brasileiro Contemporâneo. São Paulo, Culti·ix, s.d.
Bos1, Ecléa. Cultura de Massa e Cultura Popular. Leituras Operárias. Rio de Janeiro,
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Movirnento Estudantil e Consciência Social na América Latina, de J. A. Guilhon Albu- 183


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Zero: Romance Pré-histórico, de Ignácio de Loyola Brandão. Rio de Janeiro, Editora
Brasília, 1975. Capa: Paulo de Oliveira. Formato: 21 x 14 cm.

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Titulo Repressão e Resistência: Censura


a Livros na Ditadura 1\,1.ilitar
Autora Sandra Reimão
Produção Carla Fernanda Pontana
Projeto Gráfico e Capa Carla Fernanda Fontana
Editoração Eletrônica Estúdio Asterisco
Maria Beatriz Oliveira Rosa
Preparação de Texto Alice Kyoko Míyashiro
Revisão de Provas Cada Fernanda Fontana
Pietro Fabrizio Moro Ferrari
Tratamento de Imagens Cristiane Silvestrin
Carla Fernanda Fontana
Divulgação Regina Brandão
Bruno Tenan
Mayara Palma
Formato 20 x 24 cm
Tipologia Minion Pro
Univers LT STD
Impact LT STD
Papel Certificado Fsc• Pólen Bold 90 gim' (miolo)
Cartão Supremo 300 gim' (capa)
Número de Páginas 184
Tiragem 1000
CTP, bnpressâo e Acabamento Pigma Fast Gráfica e Editora

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Papel Pfod\121do • p•r11t
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FSC
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