Nateria 01
Nateria 01
DIREITO
DOS REGISTOS E DO
NOTARIADO 1
Faculdade de Direito
Universidade de Coimbra
2021
SEMESTRE DE PRIMAVERA
Programa:
1. Introdução
2. Principais sistemas de notariado (latino, anglo-saxónico e administrativo)
3. Natureza da função notarial nos sistemas de Notariado Latino
4. Breve referência histórica à atividade notarial desenvolvida em Portugal
4.1 Desfuncionarização
4.2 Desformalização
5. O Estatuto do Notariado português
6. Tipos de documentos: escrituras públicas, termos de autenticação e reconhecimentos
7. Alguns atos notariais sujeitos a Registo Predial
8. Registo
8.1. O Registo Predial
8.2. Publicidade registal
8.3. Principais sistemas registais
8.4. O sistema registal português
8.4.1. A atribuição (transferência e constituição) de direitos reais sobre imóveis e móveis
sujeitos a registo
8.4.2. Factos sujeitos a registo;
8.4.3. Atos de registo;
8.4.4. Princípios;
8.4.5. Efeitos (artigo 5.º do C. R. Predial, 291.º CC e 17.º do C. R. Predial).
8.5. Vícios do registo
8.6. O Registo provisório de aquisição versus o contrato-promessa dotado de eficácia
erga omnes
8.7. Justificação: a escritura justificação (notário) e o processo de justificação
(conservatória do registo predial)
Sem a forma exigida por lei o negócio é inválido, logo é nulo. Havendo forma e não
padecendo de vícios, o negócio tem de ser registado, pelo conservador, que trabalha na
conservatória
AULA 9 DE MARÇO DE 2021
SUMÁRIO:
Notariado
Introdução
Principais Sistemas de notariado
Breve referência histórica à atividade notarial desenvolvida em Portugal
O estatuto do notariado Português
Natureza da função notarial
9 DE MARÇO – PARTE 1
A atividade dos registos e do notariado, situa-se claramente neste segundo plano: a suposta
incerteza do direito objetivo, a atividade notarial e a atividade dos registos em geral, tende a
Prevenir e evitar conflitos, é uma consequência, não um resultado normal, quer da atividade
registal, quer da atividade notarial.
Atividade Notarial
3
A origem do notariado
De forma ampla, está ligada à descoberta e difusão da escrita. A escrita possibilitou aos
homens a possibilidade de efetuarem o registo dos atos e dos contratos, que já existiam na
altura.
Antes da escrita, esse registo era efetuado através de testemunhas, através da memória falível
das testemunhas. Com a escrita, criou-se a necessidade de reduzir os documentos à forma
escrita, passando a haver um documento, uma prova do acordo celebrado.
Nesta altura, nem todas as pessoas sabiam escrever, e o redator convénio, representava-se
como uma testemunha privilegiada, presenciava o que ambas as partes criam, e redigiam o
tal acordo.
A origem da atividade notarial encontra-se perto da data em que foi inventada e difundida a
escrita.
Os documentos, são instrumentos públicos, que detém fé pública, o notário, não era um
mero particular, já estava a exercer um cargo de oficial de estado, tendo mais força provatória,
executiva.
Na idade média, sobretudo por influência da doutrina dos glosadores, a atividade notarial
atingiu o máximo do seu prestígio e o notário para além de continuar a ser o tal redator como
oficial público, passou a ter uma fé pública qualificada. Isto porque, não só escrevia aquilo
que as partes pretendiam, não só recolhia a vontade das partes e a interpretava e reduzia a
escrito, mas também fazia em conformidade com a Lei. Esta é uma nova realidade. A
atividade notarial aqui só podia ser realizada por alguém com conhecimentos jurídicos.
1. O notário como simples redator, que reduzia a escrito o acordo das partes, sendo um
documento privado.
A nós interessa-nos em particular o notariado latino, e dele falaremos com mais pormenor. 4
Mas tem que se ter em conta que nem em todos os ordenamentos jurídicos o tipo de notário
é o mesmo.
3 tipos:
1. Notariado anglo-saxónico
Referente ao 1. é aquele que existe na Grã-Bretanha e nos demais países da
Commonwealth, são particulares, profissionais livres que não são
funcionários públicos, nem oficiais públicos (não trabalhando por delegação
do estado), são profissionais liberais que não tem sequer ser formados em
direito, não tendo que ter conhecimentos jurídicos.
Qual é, portanto, a sua função?
A atuação destes notários é posterior, sobreposta, o notário é estranho ao
conteúdo do documento. Não atribui fé pública, nem autenticidade.
Na prática o que acontece é: o documento é elaborado pelos particulares,
redigindo-o onde A vende a B determinado imóvel pelo valor de x, e depois
de o ter elaborado esse documento, e o notário limita-se a reconhecer as
assinaturas das partes, a pôr a sua assinatura e selo branco e quando muito
recolher a declaração das partes, e dizer que o conteúdo do documento está
conforme a vontade das partes.
Porque é assim? É bom é mau? É assim e é adequado tendo em conta a
realidade nestes países, e serve perfeitamente os objetivos que são visados.
Os países da Commonwealth têm um ordenamento jurídico particular, sendo
ordenamentos jurídicos que assentam sobretudo no costume, nas decisões
judiciais, no precedente judiciário, que desconhecem a diferença entre
documento público e documento privado e torna-se desnecessário uma
maior intervenção do notário. Onde a prova oral tem mais importância do
que a prova escrita, sendo assim porque o sistema económico é outro, é
diferente, em questão estão economias sobretudo assentes sobre a iniciativa
privada, e onde o que se busca não é a segurança jurídica, mas a segurança
ressarcitória:
Quem celebra um contrato de compra e venda na posição de comprador, o
que pretende em países destes, não é ter a garantia, ou pelo menos não é
aquilo que o ordenamento jurídico deles oferece não é ter efetivamente a
garantia que vai adquirir o bem, mas que, caso não adquira o bem, reaverá o
dinheiro pago, que terá de volta o seu dinheiro e uma indemnização.
Este tipo de segurança económica/ressarcitória, em vez de segurança
jurídica, é próprio de uma economia baseada na iniciativa liberal, e é próprio
de países cujo ordenamento jurídico assentam em fontes distintas do direito
relativamente a nós.
Assim, podem constatar que a atividade do notário anglo-saxónico é mais do 5
3. Notariado latino:
É o tipo de notariado que existe na generalidade dos países a nível mundial,
é próprio de países com economia de mercado, com ordenamento jurídico
de raíz romano-germânica, onde a lei escrita, é a fonte básica do direito, e
onde os tribunais se limitam a interpretar direito, não a criar direito.
Nestes países de economia de mercado, assente não só na iniciativa privada,
mas também, com a intervenção do estado, faz sentido outro tipo de notário:
um notário que não seja administrativo, nem anglo-saxónico, e surge assim o
notário latino.
Este tipo é o que existe entre nós, em Espanha, no Brasil, na generalidade da
Europa e na maioria do mundo.
Que tipo de atividade é desenvolvida?
Desde logo é um jurista, e tem como função receber, recolher a vontade das
partes, interpretar essa vontade, e dar-lhe forma legal: conformando a forma
legal ao direito, dando forma ao documento.
O notário é aquele que redige o documento sempre que a lei obriga a uma
determinada forma especial.
O documento regido pelo notário, tem especial força provatória e especial
força no âmbito do processo de execução.
No âmbito da força provatória, basta ler o artigo 371.º e 372.º do CC.
No notário latino nem temos o profissional liberal e independente que
encontramos no notário anglo-saxónico, nem temos o funcionário público
que encontramos no notário administrativo: o notário latino é alguém que
atua por delegação do estado, mas não é um funcionário público, é um oficial
público: atua exercendo poderes que competiam ao estado, é o estado que
concede o título de notário, é o notário que atribui licenças para serem criados
cartórios notariais e que depois procede ao controlo da sua atividade (do
ponto de vista disciplinar).
Temos uma entidade que é oficial público, não sendo um funcionário
público, mas que exerce uma função delegada pelo estado ao serviço das
partes, dos interessados e que têm que ser um jurista que possa servir os
interesses das partes.
A atividade do notário latino, é uma atividade que garante segurança.
Apesar de ser dada muita importância a esta segurança documental, dos notários criarem
documentos com especial força provatória, com especial força executiva, porque se têm
delegação do poder do estado…. Este aspeto documental, na perspetiva da doutora não é o
mais relevante.
Quem recorre ao notário, não recorre para obter um documento, ou uma prova pré-
constituída, ou pensando que assim é melhor para evitar um conflito futuro, recorre ao
notário:
Exemplo: numa compra de uma casa, não nos viramos para o vendedor a dizer: é melhor nós irmos ao
notário, não só porque a lei o impõe, mas também porque eu quero ficar com um documento de que comprei
a casa! E pretendo isso porque pretendo ficar com uma prova pré-constituída, para que, se o senhor negar que
me vendeu, eu tenho aqui o documento de forma a evitar futuros problemas!
Isto não é o que passa pela cabeça das pessoas quando recorrem ao notário!
A atividade dos notários não é apenas e só dar forma ao negócio, e garantir que o negócio
esteja conforme à lei.
O notário é a pessoa que vai esclarecer as partes do que querem, porque a ideia de que todos
sabem o que querem quando recorrem ao notário é manifestamente falsa.
8
Muitas vezes as partes não têm consciência das consequências práticas, económicas,
patrimoniais, entre outras, que o ato virá a ter. É suposto interpretar a vontade das partes,
recolher, adequa-la à lei, e reduzir a escrito, MAS É SUPOSTO TAMBÉM dar informações
às partes, das consequências jurídicas, patrimoniais… para assim assegurar se é o que as
partes querem.
Exemplo 1:
Suponham que A pretende fazer uma doação a um filho, e não quere avantajar esse filho perante os demais,
quer apenas fazer uma antecipação do valor que viria a receber no momento da sua morte.
Primeira pergunta que o notário deve fazer: pretende avantajar este filho, ou manter a mesma situação entre
os demais?
Se o notário não fizer esta pergunta, o que vai acontecer é que esta doação, de acordo com o regime supletivo
(a aprender no direito das sucessões), ficará sujeito à COLAÇÃO1: Ou seja: na hora da morte, o filho terá
que restituir à massa da herança o valor, e, portanto, não ficará avantajado, perante os demais.
Na verdade, o que a lei garante, com este regime supletivo, é que seja feita a igualação possível de igualar
todos os filhos, se assim não for, não se faz a igualação possível.
Daí a necessidade da pergunta, porque a pessoa pode querer avantajar esse filho. Nesse caso têm que ser feita
uma doação não sujeita ao regime da colação.
Noutra situação, se numa fase posterior pretender que os filhos fiquem com uma igualação absoluta, têm que
doar sobre o regime da colação absoluta.
Se assim não for podendo haver pequenas disparidades, e se a pessoa se conformar com o regime supletivo,
ficará sujeito ao regime da colação previsto no CCiv.
Exemplo 2:
Pessoa B, dirige-se ao notário para fazer uma doação a favor de um filho, pretendendo avantaja-lo, e o
funcionário não lhe perguntou, e fez uma doação, sem nada dizer sobre isso, aquele filho não vai ficar
avantajado.
Há hora da morte, vai ter que restituir os bens à massa da herança. Mas não era essa a vontade que a pessoa
tinha! Mas ninguém é obrigado a saber do regime supletivo de colação.
Exemplo 3:
O notário esclareceu, e o objeto da doação era um terreno para o filho vir a construir uma casa, que seria
construída com o dinheiro que viesse a ser emprestado, através de um contrato de mútuo por um banco.
Se for introduzida a nota de que a doação está sujeita à colação absoluta, precisamente porque tem que haver
uma igualação total à hora da morte, essa nota da colação absoluta vai ter que ser registada. Pois
eventualmente vai ter que se devolver o bem à massa da herança para todos ficarem iguais. Porque assim é, 9
Nesse caso a doação de um terreno para construir uma casa, perderia toda a sua qualidade.
Dessa forma o notário deverá questionar para que serve o terreno, qual a intenção, para que pretende doar o
terreno.
Esta função assessora, formativa, de proporcionar informação jurídica, tem têm que ter, e
desta forma o notário está ali para dar essas informações.
Por outro lado, existe outro caso para dar conta/demonstrar que as partes nem sempre
sabem aquilo que pretendem.
9 DE MARÇO – PARTE 2
Exemplo 4:
Relativamente à função formativa e assessora que o notário têm que ter junto das partes.
Boa parte da população, quando herda um imóvel e não é o único herdeiro, fica com o terreno e em regra
divide materialmente o terreno com os demais herdeiros.
Suponham que em causa estão 2 irmãos que herdaram um prédio rústico, onde o dividem e um fica com o
lado norte e o outro fica com o lado sul.
No dia em que um deles decide vender, em regra, considera que vai alienar a parte certa e determinada do
terreno, não tendo ideia do que é compropriedade de um terreno, na maioria das vezes já exerceu posse pacífica
em via pública à mais de 20 anos sob aquela parte concreta do terreno, sendo para a pessoa uma coisa
autónoma.
Se pretender alienar essa parte certa e determinada não o pode fazer, sem que previamente separe/autonomize
essa parte do restante, e colocando fim a essa situação de compropriedade, colocando uma ação de divisão de
coisa comum, ou por acordo com o irmão.
Se quiser alienar essa parte do imóvel não vai conseguir, pois não é proprietário do lado norte ou sul.
Compete ao notário informar ao proprietário que aquilo que vai vender é a compropriedade, ou seja a cota
parte do dto de propriedade, que só poderá fazer isso se previamente informar o outro comproprietário e
esclarecer o possível adquirente que vai adquirir uma cota parte do terreno e não uma parte em concreto do
terreno.
Isto em concreto os particulares em geral não sabem, não sabem como é o regime da compropriedade, não
sabem a diferença de estarem como comproprietário ou como proprietário.
É preciso dar esta informação, e é necessário ter em causa que aquele que vende sabe muito mais do que aquele
que compra.
Exemplo 5:
10
Quem vende um carro sabe o que está a vender, quantos quilómetros tem, se já bateu, senão bateu, e sabe do
ponto de vista jurídico coisas que o comprador pode não saber e compete ao notário eliminar aspetos, dentro
do possível, das suas competências esta assimetria de informação.
Portanto, para além da estabilidade documental, segurança substancial, é suposto este papel
assertivo e assessor.
O notário não detém clientes, as partes estão perante si em igual posição, não pretendendo
satisfazer os interesses individuais das partes, mas os comuns.
Em TGDC, foi esclarecido que num contrato existem duas declarações de vontade opostas,
mas convergentes.
O notário não está ao serviço de nenhuma das partes, mas de ambas para atingirem o objetivo
convergente, daí o notário ter que ser imparcial.
Da mesma forma que um advogado tem que ser num divórcio por mútuo consentimento,
estando ao serviço de ambos.
Notário que se apresenta como oficial público, mas também jurista ao serviço das relações
jurídico privadas.
Atua como oficial público, porque atua por delegação do estado, que é quem lhe atribui o
título de notário, que é quem lhe atribui a licença para montar o cartório notarial, e é o estado
que também controla o exercício da actividade do ponto de vista disciplinar, através do
conselho do notariado (ordem do notariado).
Detém a vertente de oficial público, detendo autoridade para fazer documentos com uma
determinada força provatória e executiva, onde o notário tem o dever de guarda/arquivar,
porque esses não são seus, são do público, sendo um serviço claramente público, e nessa
medida é um funcionário público.
O notário é também o jurista ao serviço das relações jurídico privadas, se vai dar forma ao
contrato de compra e venda, se vai garantir que do ponto de vista substancial vai garantir
que o tal contrato de compra e venda está conforme a lei, se só o vai redigir se corresponder 11
à vontade das partes, falo-a de acordo com as partes, sendo um profissional liberal.
É esta ambivalência que conduz que o conceito de notário latino seja original, residindo
precisamente na ambivalência da sua função, pública por um lado, jurídico privada por outro.
É a exercer este tipo de funções que evita conflitos, sendo um a consequência natural do
exercício da atividade notarial.
Agora depois de sabermos que tipo de notariado existe, e sabemos que nos nossos notários
são notários latinos.
Não eram normas disciplinadoras apenas dos notários, mas também de quem
exercia a atividade notarial.
12
NOTA: é importante terem bem presente que a partir de 1340, o Rei chamou a si este
tipo de atividade, e ele que podia delegar a atividade e não queria delegar no clero.
Com tudo isto podemos constatar que a Coroa Portuguesa pretendeu colocar o
notariado na sua dependência. Os monarcas regularam o ofício de tabelião como
exclusivamente público, como parte integrante da afirmação do poder do reino, sob
os poderes do clero. O notário era um funcionário público funcionalizado, que agia
em nome do Rei e munido da autoridade do Rei.
Portanto a função notarial era publica, intrinsecamente desligada e acima dos interesses
privados, porque o interesse dominante era o ius imperi.
• Depois dando um salto em termos temporais cabe fazer referência à Primeira Lei
Orgânica do Notariado Português, publicada em 1899, onde houve uma
reorganização do notariado público:
o os notários passaram a ser magistrados de jurisdição voluntária e foi
determinado que só podiam ser nomeados entre bacharéis formados em
Direito, ou pessoas diplomadas com o curso superior de notariado. Nunca
chegou a haver o curso de Notariado. 13
Acaba por fazer sentido, pois tal como num país comunista, numa ditadura de
direita, também fazia sentido, os funcionários públicos incluíssem os notários,
estando ao serviço dos interesses do estado.
Mas não foi por isso que ocorreu esta funcionalização, foi para o bem dos notários,
e para o bem da população em geral. A ideia foi esta: garantir aos notários um valor
mensal fixo e certo.
Em 1949, Portugal era um país fechado, com pouco tráfego jurídico, com o nível
de negócios muito reduzido. E como considerava esta função muito importante,
tornou-os funcionários públicos, para a atividade poder continuar a existir.
Pois tinha que haver notários nos variados conselhos ao longo do país.
Assim o foi até ao 25 de Abril, e depois até 2004 (exercendo sempre funções como
notário latino)
SUMÁRIO:
16 DE MARÇO – PARTE 3
• Em 1995, no governo do PSD, cujo primeiro-ministro era o Dr. Cavaco Silva, foi
apresentada uma proposta de desfuncionarização, que não procedeu porque foi
vetada pelo Presidente da República, Mário Soares;
com a oposição do PSD e do PCP. Nesse ano, o PS deixou claro que não tentaria
mais a desfuncionarização da atividade notarial e introduziu no seu plano político a
futura desformalização, que em verdade não se pode dizer que é uma ausência de
forma, o que se pretendia era atribuir funções que eram exclusivamente dos notários
a outras entidades;
P. ex., em 2000, as juntas de freguesia, os CTT, as câmaras de comércio e indústria, os advogados
e solicitadores passaram a ter competência para extrair fotocópias originais que lhes fossem presentes,
que era competência dos notários; e também em 2000, foi dispensada escritura pública em matéria
de registo comercial e demais atos relativos a sociedades comerciais. No entanto, o grosso da atividade
notarial pertencia aos notários.
• Em 2003, apareceu:
3Os primeiros notários desfuncionarizados, tomaram posse em início de 2005. É claro que os primeiros já
eram notários que eram funcionários públicos que o deixaram de ser.
• Acontece, porém, que, em julho de 2005, nem 6 meses passados sobre a tomada de
posse dos primeiros notários desfuncionarizados, começaram a surgir uma série de
diplomas a atribuir a competência dos notários a advogados, solicitadores, câmaras
de comércio e indústria, e conservadores - o denominado movimento de
desmantelamento da profissão de notário.
Portanto, os notários viram a sua área de atividade de competência exclusiva
praticamente esvaziada. São exemplos de alguns desses diplomas:
• O Decreto-Lei n.º 111/2005, de 8 de julho, através do qual foi criada a figura da Empresa
na Hora perante as Conservatória do Registo Comercial e nos seus postos de atendimento
localizados nos Centros de Formalidades de Empresas. Assim, os interessados na
constituição de uma sociedade comercial ou civil sob forma comercial, podem, em geral,
desde que optem por um pacto ou ato constitutivo de modelo aprovado pelo Instituto dos
Registos e do Notariado, constituir uma sociedade e registá-la em ato imediato;
• O Decreto-Lei n.º 76-A/2006, que aboliu a obrigatoriedade de escritura pública num
vasto leque de atos respeitantes a sociedades (escrituração mercantil e modificação do regime
de fusão e cisão);
• O Decreto-Lei 263.º-A/2007, de 23 de julho, através do qual foi criado um procedimento
especial de transmissão, oneração e registo imediato de prédio urbano, da competência do
serviço de Registo Predial da área da situação do prédio: o procedimento Casa Pronta.
• O Decreto-Lei n.º 40/2007, de 24 de agosto, através do qual foi criado o balcão da
Associação na Hora em que os interessados, se podem deslocar a um balcão denominado
Associação na Hora e, desde que escolham um modelo de estatutos previamente aprovado,
no mesmo ato, conseguem constituir a associação que é imediatamente publicitada.
• O Decreto-Lei n.º 234/2007, de 28 de setembro, através do qual passou a ser possível
aos herdeiros habilitarem-se a uma herança, partilhar os bens e registar aqueles sujeitos a
registo, também em regime de Balcão Único: o Balcão das Heranças. Também criou o Balcão
Divórcio com Partilha, no qual os interessados podem fazer de imediato a partilha do
património comum, efetuar o registo dos bens sujeitos a registo que sejam partilhados e
proceder ao cumprimento das obrigações fiscais associadas, em atendimento presencial
único;
• O Decreto-lei n.º 116/2008, de 4 de julho, foram alterados vários preceitos do Código
Civil, no sentido de dispensar a escritura pública e passar a permitir a formalização da
generalidade dos contratos que têm por objeto bens imóveis por mero documento
particular autenticado.
O resultado foi de os notários, que até 2005 tinham praticamente uma competência exclusiva
para praticar uma generalidade destes atos e depois de terem feito o investimento, (comprado
cartórios, adquirido computadores, empregado funcionários) subitamente passaram a ser um
de entre os vários sujeitos a poder praticar esses atos.
A par dos sujeitos já mencionados que passaram a poder praticar a generalidade dos atos
que os notários antes detinham exclusivamente, ainda surgem os denominados balcões (o
balcão de partilhas, por morte ou divórcio; o balcão de heranças para habilitar herdeiros; o 18
balcão da casa pronta, onde se faz todo o tipo de negócio que tenha objeto constituição ou
transmissão de direitos reais e outros balcões).
• Os notários, neste momento, têm na sua competência exclusiva, apenas e só:
➢ Testamentos;
➢ Procurações irrevogáveis;
➢ Certificação de atos que tenham presenciado.
Então, face a tudo isto, além da atividade ter sido desfuncionarizada, porque ainda foi
desformalizada? Com atribuição de competências a advogados, solicitadores, câmaras de
comércio e indústrias de forma a autenticarem documentos, e terem o mesmo valor de uma
escritura pública? Porque isto aconteceu?
Este aspeto, explica-se, crê a DOUTORA MÓNICA JARDIM, da seguinte forma. Quando
os notários eram funcionários públicos, boa parte do rendimento dos cartórios era para o
Estado, que depois não reinvestia nos cartórios, porque utilizava esse dinheiro sobretudo
para sustentar o sistema judiciário e o sistema prisional. Quando ocorreu a
desfuncionarização, os notários obviamente continuaram a entregar o dinheiro ao Estado,
mas agora na forma de impostos. Só que esse dinheiro já não ia diretamente para o Ministério
da Justiça, mas sim para o Ministério das Finanças. Logo, a Justiça perdeu o valor provindo
da atividade notarial.
Pelo que se pensou que se teria de reaver esse valor diretamente para o Ministério da Justiça,
atribuindo competência às conservatórias para atos que antes eram só dos notários. Tal foi
conseguido, além de ser estabelecido em diploma legal, porque alguma parte dos notários,
funcionários e escriturários não aderiram à desfuncionarização e continuaram como
funcionários públicos nas conservatórias, portanto havia como exercer nas conservatórias
essa atividade, pois tinham nas conservatórias funcionários capazes de exercer tais funções.
Pode, assim, dizer-se que o Estado voltou a funcionarizar a atividade, porque chamou a
atividade que era dos notários para dentro das conservatórias.
19
Posto isto, neste momento, os atos que os notários antes praticavam em
exclusividade
passaram a poder ser praticados ou nas conservatórias nos referidos balcões ou por
advogados, solicitadores e câmaras de comércio e indústria.
Com as seguintes incongruências:
SUMÁRIO:
23 DE MARÇO – PARTE 1
numa figura ambivalente por ter uma função ambivalente — e do n.º 2 resulta que para
efeitos do disposto no número anterior, pode o notário prestar assessoria às partes na
expressão da sua vontade negocial.
Este artigo 1ª resume a função do notário latino e a sua função na sociedade, e o facto de ser
uma atividade ambivalente.
O artigo 2.º do CN fala dos órgãos próprios da função jurisdicional: o notário, apesar de,
neste momento, não é apenas o notário que pratica a atividade notarial, também os
solicitadores, os advogados, as câmaras de comércio e indústria, os oficiais do registo e os
balcões.
O artigo 3.º do CN fala dos órgãos especiais que podem desenvolver a atividade notarial,
nomeadamente os agentes consulares portugueses (n.º1/a), os notários privativos das
câmaras municipais e da Caixa Geral de Depósitos recrutados, de preferência, de entre os
notários de carreira (n.º1/b), os comandantes das unidades ou forças militares, dos navios e
aeronaves e das unidades de campanha, nos termos das disposições legais aplicáveis (n.º1/c)
e as entidades a quem a lei atribua, em relação a certos atos, a competência dos notários
(n.º1/d), bem como, em caso de calamidade pública, podem desempenhar todos os atos da
competência notarial quaisquer juízes ou sacerdotes e, bem assim, qualquer notário,
independentemente da área de jurisdição do respetivo serviço (n.º2).
O artigo 4.º do CN refere quais as competências dos notários, das quais importa conservar
os documentos que por lei devam ficar no arquivo notarial e os que lhe forem confiados com
esse fim (n.º 2/m) — em cada cartório notarial há um arquivo que é público, não pertence
ao notário.
Tipos de documentos
(não será questionado em prova escrita ou oral)
Desta forma, cabe por esclarecer o que se entende por documento (em sentido amplo): de
acordo com o artigo 362.º do CC, é qualquer objeto elaborado pelo homem com o fim de reproduzir
ou representar uma pessoa, coisa ou facto.
1. Autênticos:
a. De acordo com o artigo 363.º/2 do CC, são autênticos os documentos
exarados com as formalidades legais, pelas autoridades públicas nos limites
da sua competência.
b. De acordo com o artigo 35.º/2 do CN, são autênticos os documentos que
são exarados, escritos, redigidos e elaborados pelo notário nos respetivos
livros ou instrumentos avulsos tal como os certificados (artigo 161.º e ss. do
CN), as certidões (artigo 164.º e ss. do CN) e outros documentos análogos
por eles expedidos.
Em relação a estes 3 tipos de documentos, que podem não ser feitos pelo notário, temos que
ter em conta alguns artigos do código do notariado, designadamente:
p. ex.:
• Artigo 39.º (deve usar tinta preta, conferindo inalterabilidade e duração à escrita);
• Artigo 42.º (não se deve constar reprodução de preceitos legais, porque o notário já deu
cumprimento aos ditos preceitos, tanto assim é que no n.º 3 se diz que a mera reprodução
dessas normas só será feita pelo notário por indicação expressa das partes);
• Artigo 46.º (requisitos dos instrumentos notariais em geral; estão previstos um conjunto de
formalidades que são comuns aos documentos notariais, se não o ato é nulo; apesar de o
legislador dizer que apenas constará a hora quando solicitado pelas partes, há uma hipótese
em que, em regra, os notários colocam a hora: na feitura dos testamentos, porque o
testamento que vale a final é o que contém a manifestação da última vontade do testador);
• Artigo 54.º (princípio da legitimação - só se pode titular um ato que tenha por objeto ou
imóvel ou móvel sujeito a registo se o alienante ou onerante tiver o registo feito a seu
favor);
2. Elaboração de rascunho:
3. Escritura:
Na data marcada para a escritura, faz-se a leitura a partir do rascunho. São então assinalados
e depois corrigidos os erros e as imprecisões. É então impressa a escritura definitiva e
assinada. Partimos do pressuposto que a escritura é feita em computador, com a ajuda de
suporte informático, pois ela pode ser lavrada à mão. De qualquer forma, a cor da escritura
será sempre preta, mesmo as assinaturas.
4. Arquivamento:
Em regra, a escritura é feita por computador e depois é impressa em folhas avulsas. Estas
folhas vão sendo reunidas em pastas de arquivo/dossiers até completarem no máximo 150
folhas (artigo 21.º do CN). Estas folhas são depois encadernadas, bem como os documentos
– estes nos Maços de documentos. Temos assim a escritura completa, que é levada para casa
pela parte, permanecendo uma cópia nos arquivos do Cartório onde é lavrada - uma das
funções do notário também é arquivar/guardar os documentos.
(*) Além do notário, tem competência para autenticar documentos particulares, as câmaras de comércio e
industria, oficiais de registo, advogados e solicitadores, com a mesma força probatória que teriam se tivessem
sido realizados com intervenção notarial. A validade dos atos efetuados por estas entidades, depende de registo
em sistema informático. Este registo informático dos atos praticados por estas entidades consta da Portaria nº
627-B, de 29 de Junho. Valem para estas entidades os impedimentos previstos nos artigos 5.º e 6.º do CN,
bem como as hipóteses de recusa previstas nos artigos 11.º/2 e 19.º/ 3).
24
O notário (etc.) não terá qualquer responsabilidade pelo seu conteúdo, ele só vai verificar
certos requisitos e é a esses que confere autenticidade.
Reconhecimentos
Previstos nos artigos 153.º e ss. do CN, os reconhecimentos podem ser, nos termos do
artigo 153.º/1 do CN:
Nos termos do artigo 38º do DL n.º 76-A/2006 de março, as câmaras de comércio e indústria, os
conservadores, os oficiais de registo os advogados e solicitadores podem fazer reconhecimentos simples e com
menções especiais, presenciais e por semelhança.
Os reconhecimentos efetuados por estas entidades conferem ao documento a mesma forma probatória que teria
se tais atos tivessem sido realizados com intervenção notarial.
A validade dos reconhecimentos simples e com menções especiais, presenciais e por semelhança efetuada por
estas entidades depende de registo em sistema informático.
7 Se estiver em causa estiver um ato anulável ou ineficaz, o notário não pode recusar-se a
participar com fundamento de que o ato é anulável ou ineficaz.
Nesse caso, o notário tem de advertir as partes para a existência de um vício e consignar no
instrumento a advertência que tenha feito. É assim porque em causa estão atos anulados ou ineficazes:
o ato ineficaz pode ser sanada a posteriori desde que haja ratificação; o ato anulável pode nunca ser
anulado - há prazo para intentar a ação e apenas determinadas pessoa têm legitimidade para a intentar
e a anulabilidade não é de conhecimento oficioso e, se assim é, se nem os tribunais conhecem a
anulabilidade, o notário também não, em rigor, ele conhece, adverte as partes e dá conta da
advertência no documento.
A hipoteca, nos termos do artigo 686.º/1 do CC, confere ao credor o direito de ser pago
pelo valor de certas coisas imóveis, ou equiparadas, pertencentes ao devedor ou terceiro, com
preferência sobre os demais credores que não gozem de privilégio especial ou prioridade no 27
registo.
Posto isto, a hipoteca é um direito real de garantia (que, como os demais direitos reais de
garantia, tem caráter acessório ou instrumental, porque está ao serviço de um direito de
crédito, assegura a satisfação de um direito de crédito) que tem por objeto imóveis ou móveis
equiparados por lei (automóveis, navios e aeronaves), que podem ser do devedor ou de
terceiro (artigo 701.º/2 do CC), com preferência sobre os demais credores (o credor
hipotecário tem a garantia de que, se o devedor não cumprir, pode promover a venda judicial
do bem imóvel ou móvel atingido pela hipoteca e com o produto da venda vai ser satisfeito
com preferência face aos demais credores) que não gozem de:
1. Privilégio especial;
2. Prioridade no registo;
3. Direito de retenção (artigo 759.º do CC) - o direito de retenção prevalece sobre a hipoteca,
mesmo que a hipoteca se tenha constituído anteriormente.
A obrigação que é garantida pela hipoteca, de acordo com o artigo 686.º/2 do CC, pode ser
uma obrigação pura ou uma obrigação condicional.
O credor intenta a ação de execução, nomeia à penhora o bem objeto de hipoteca e o dito
bem vai ser vendido judicialmente e com o produto da venda o credor hipotecário vai
satisfazer o seu crédito com preferência aos demais credores que não beneficiam de privilégio
especial, de hipoteca com registo anterior ou direito de retenção.
A hipoteca leva em si a possibilidade de promover a venda judicial do bem, tal como qualquer
outro direito real de garantia. Por isso mesmo, só tem legitimidade para hipotecar quem pode
Objeto da hipoteca
O objeto da hipoteca são os bens imóveis e móveis equiparados, previstos, de forma
expressa, nos artigos 688.º e ss. do CC. 28
• Os prédios rústicos e urbanos (artigo 688.º/1/a) do CC) - podem ser hipotecados no seu
todo (com os limites materiais fixados no artigo 1344º do CC) ou em parte, podendo ainda
ser hipotecados os respetivos elementos suscetíveis de propriedade autónoma que possam
ser alienados (artigo 688º/2 do CC);
• O domínio direto e o domínio útil dos bens enfitêuticos (artigo 688.º/1/b) do CC);
• O direito de superfície - que tenha por objeto imóvel (artigo 688.º/1/c) do CC);
• O usufruto das coisas - imóveis - e direitos constantes das alíneas anteriores (artigo
688.º/1/e) do CC);
• As coisas móveis que, para este efeito, sejam por lei equiparadas às imóveis (automóveis -
DL n.º 47952, de 22.9.1967 -, navios - artigos 584.º e ss. do C.Com. - e aeronaves - DL n.º
20062, de 30.07.193) (artigo 688.º/1/f) do CC);
• As acessões naturais e as benfeitorias feitas na coisa, salvo direito de terceiro no caso das
benfeitorias (artigo 691.º do CC).
Não podem ser hipotecadas, à luz do artigo 690.º do CC (porque estão afetos a um fim
específico):
Registo da hipoteca
A hipoteca é uma exceção ao princípio da consensualidade (artigo 408.º do CC), porque ela
não nasce por mero efeito do título (contrato, lei, decisão judicial, etc.), é preciso o registo,
mesmo para produzir efeitos em relação às partes (artigo 687.º do CC e 4.º/2 do CRP).
Em 1959, quando foi imposto o registo da hipoteca mesmo para a produção de efeitos inter
partes, a doutrina não hesitou em afirmar que o registo era constitutivo e não meramente 29
consolidativo e, consequentemente, havia aqui uma exceção ao princípio da consensualidade.
Não obstante, anos passados, parte da doutrina passou a questionar a natureza constitutiva
do registo, nomeadamente o DR. OLIVEIRA ASCENSÃO que afirmou que o que é dito
na lei é que a hipoteca antes de ser registada não produz efeitos entre os terceiros e entre as
partes, mas isso não quer dizer que a hipoteca não exista, ela existe, mas não e eficaz, portanto
o registo não é constitutivo.
Na versão anterior do artigo 6.º/2 do CRP, as hipotecas que fossem registadas com a mesma
data concorriam entre si na proporção dos respetivos créditos, introduzindo assim uma
exceção à regra geral prevista no n.º 1. Entretanto, com o registo eletrónico, passou a saber-
se com precisão quando é que é feito o pedido do registo (hora, minuto, segundo, milésimo
de segundo) e, portanto, o legislador entendeu que não havia necessidade de dizer que as
hipotecas com a mesma data concorriam entre si na proporção dos respetivos créditos,
porque, mesmo com a mesma data, tinham hora, minuto, segundo e milésimo de segundo
diferente e conseguia-se, assim, apurar a prioridade e, por isso, revogou o artigo 6.º/2 do
CRP.
(negócio jurídico, contrato que deu origem à hipoteca). Todavia, pode acontecer que as datas
dos títulos sejam iguais, que os títulos tenham sido celebrados no mesmo dia, e, nesse caso,
os pedidos de registo vão ser anotados sob o mesmo número de ordem, o que quer dizer
que quando os registos forem feitos vão ficar com a mesma data. Este problema, que era
antes resolvido pelo artigo 6.º/2 do CRP, caberá agora ao juiz decidir e espera-se da mesma
forma que era resolvido por aquele artigo, pelo pagamento aos credores na proporção dos
respetivos créditos. 30
— Princípio da especialidade:
A hipoteca tem, como qualquer outro direito real, por objeto bens certos e determinados,
mas na hipoteca há um acréscimo de exigências: do registo deve constar o fundamento da
hipoteca, o crédito (dívida garantida) e os seus acessórios (bens atingidos). Só assim se
protege os terceiros e o devedor.
No entanto, é lícito convencionar que o crédito hipotecário se vencerá logo que esses bens
sejam alienados ou onerados.
• A coisa seja dividida em diversas coisas. P. ex., um prédio sobre o qual recai um único
direito de propriedade foi objeto de hipoteca, de seguida o proprietário sujeitou o prédio ao
regime de propriedade horizontal, o quer era uma coisa passou a ser múltiplas.
A hipoteca é um direito real de garantia que, ao contrário do que é regra, pode incidir sobre
mais do que uma coisa. Quando incidir sobre várias coisas, cada uma delas responde pela
totalidade da dívida, ou seja, cabe ao credor intentar a ação executiva e nomear à penhora
aquela que lhe interessar, se tiver de executar à penhora. 31
De acordo com o regime da hipoteca, o credor não fica com a coisa para si, de acordo com
esse regime, o que o credor pode é, no caso de incumprimento, intentar a ação executiva,
nomear à penhora o bem e promover a venda judicial do mesmo, para com o produto da
venda satisfazer o seu crédito, com preferência face aos demais credores, com as devidas
exceções.
Poderia admitir-se uma modalidade de pacto comissório que é o pacto marciano, que supõe
que haja uma avaliação efetiva do bem e que só se possa ficar com o bem pelo valor pré-
determinado. Não obstante abrir-se uma exceção à proibição do pacto comissório.
Tipos de hipotecas
De acordo com o artigo 703.º do CC, existem três grandes tipos de hipotecas:
1. Legal
2. Judicial
3. Convencional
Hipoteca legal
De acordo com o artigo 704.º do CC, as hipotecas legais resultam imediatamente da lei, sem
dependência da vontade das partes, e podem constituir-se desde que exista a obrigação a que
servem de segurança.
Apesar de não dependerem da vontade das partes, não resultam imediatamente da lei, porque
dependem:
- Da norma legal;
- Do registo.
32
A razão de ser destas hipotecas está na necessidade de garantir determinados credores que
não poderiam obter o consentimento do devedor para uma hipoteca convencional.
• A qualidade do crédito;
• A posição do credor; ou
• A natureza da dívida.
b) O Estado e as demais pessoas coletivas públicas, sobre os bens dos encarregados da gestão
de fundos públicos, para garantia do cumprimento das obrigações por que se tornem
responsáveis;
f) O legatário de dinheiro ou outra coisa fungível, sobre os bens sujeitos ao encargo do legado
ou, na sua falta, sobre os bens que os herdeiros responsáveis houveram do testador.
A hipoteca legal é suscetível de substituição por outra caução, nos casos em que (artigo 707.º
do CC):
• O credor o exigir, nos termos do artigo 625.º do CC, quando o devedor não tiver bens
suscetíveis de hipoteca ou suscetíveis para garantir o crédito, pode o credor exigir outra
caução, salvo nos casos das hipotecas destinadas a garantir o pagamento das tornas ou do
legado de dinheiro ou outra coisa fungível (n.º 2).
São bens sujeitos à hipoteca legal, quando não forem especificados por lei ou no título
respetivo os bens sujeitos à garantia, quaisquer bens do devedor (artigo 708.º do CC).
33
Hipoteca judicial
Hipoteca judicial (artigo 710.º do CC): É título para o registo de hipoteca sobre quaisquer
bens do obrigado, mesmo que não haja transitado em julgado:
- A sentença condenar o devedor à entrega de uma coisa (não fungível) ou de uma prestação
de facto, desde que haja conversão da prestação numa indemnização pecuniária (n.º 3).
• Mesmo que já fosse possível intentar a ação executiva, o credor pode não querer já intentar
a ação executiva, pode apenas querer garantir, caso ela venha a ser intentada, que ele será
pago com prioridade em relação aos demais credores.
Portanto, ele pode fazer o registo apenas da hipoteca e se vier a existir uma ação executiva,
seja proposta por si ou por terceiro credor, sabe que tem a garantia a preferência dada pelo
registo da hipoteca.
O ato de constituição ou modificação, quando recaia sobre bens imóveis, deve constar de
escritura pública, de testamento ou de documento particular autenticado (artigo 714.º do
CC).
Tem legitimidade para hipotecar quem puder alienar os respetivos bens (artigo 715.º do CC).
As hipotecas voluntárias não podem incidir sobre todo o património do devedor, tem de
incidir sobre bens certos e determinados, devendo ser especificados os bens no título (artigo
716.º do CC). Sempre haveria tal especificação, nunca a hipoteca incidiria sobre a totalidade
dos bens porque a especificação seria feito no registo, mas o legislador veio exigir que na
hipoteca convencional se indique os bens no próprio título executivo.
Mesmo existindo estas hipotecas, nada impede que o dono do bem de voltar a hipotecar o
34
bem (artigo 713.º do CC), podem existir várias hipotecas que onerem o mesmo bem ou
mesmo direito de propriedade sobre o bem. Depois, aquando da excussão das garantias, é
só graduar as hipotecas e ver qual a registada em primeiro lugar e assim sucessivamente.
Redução da Hipoteca
De acordo com o princípio da indivisibilidade, mesmo que o devedor já tiver pago grande
parte do crédito, aquela hipoteca vai continuar a onerar o bem da mesma forma e o registo
continuará a anunciar quanto é que aquela hipoteca garante. Portanto, anunciará a todos os
outros potenciais credores que aquele bem eventualmente não pode voltar a ser hipotecado
por não ter valor patrimonial que permita ser onerado segunda vez, quando, na verdade, o
credor daquela primeira hipoteca só pode, no âmbito da ação executiva, satisfazer o crédito
que efetivamente tenha e não o valor total pelo qual no início que constitui a hipoteca.
Assim, enquanto sobreviver a hipoteca com aquele valor, pode-se estar a impedir o devedor
de voltar a conseguir uma nova hipoteca, quando ele pode ter interesse nisso. Por isso, a lei
prevê a hipótese de redução da hipoteca (artigo 718.º e ss. do CC), para garantir a posição do
devedor.
Do n.º 2 resulta que, mesmo nas hipotecas legais, em que a coisa onerada ou a quantia
assegurada tenha sido especialmente indicada, e nas hipotecas voluntárias, pode haver
redução judicial se se verificar uma de duas circunstâncias:
Do n.º 3 resulta que a redução da hipoteca é possível/realizável quanto aos bens, ainda que
tenha por objeto uma só coisa ou direito, desde que a coisa ou direito seja divisível ou
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suscetível de cómoda divisão.
Nos termos do artigo 701.º/1 do CC, quando, por causa não imputável ao credor, a coisa
hipoteca perecer ou a hipoteca se tornar insuficiente para a segurança da obrigação, tem o
credor o direito de exigir:
• Que o devedor a substitua ou reforce (cuja vantagem em relação à hipoteca é ser mais
célere);
• Nos casos em que o devedor não substitua ou reforce, o imediato cumprimento da
obrigação ou, tratando-se de obrigação futura, registar hipoteca sobre outros bens
do devedor.
Nos termos do artigo 701.º/2 do CC, não obsta ao direito do credor o facto de a hipoteca
ter sido constituída por terceiro, a não ser que o devedor seja estranho à sua constituição;
porém, mesmo neste caso, se a diminuição da garantia for devida a culpa do terceiro, o credor
tem o direito de exigir deste a substituição ou o reforço, ficando o mesmo sujeito à
cominação do número anterior em lugar do devedor - que é poder ser exigido o imediato
cumprimento da obrigação ou, tratando-se de obrigação futura, registar a hipoteca sobre
outros bens do devedor.
Transmissibilidade da hipoteca
À luz do princípio da acessoriedade, a hipoteca é acessória do crédito - tem uma função
instrumental -, no entanto o legislador admite que ela seja transmitida sem que o crédito
assegurado o seja, isto é, o credor hipotecário transmite a sua hipoteca e permanece como
credor comum. Há, todavia, pressupostos para que possa ocorrer esta transmissão (artigo
727.º do CC):
A hipótese de uma hipoteca legal atribuída a um herdeiro por tornas é uma hipótese em que
não pode haver transmissão da hipoteca sem transmissão do crédito.
desse terceiro.
A pediu um empréstimo ao banco para montar um negócio e o banco exigiu uma hipoteca e A garantiu a
hipoteca com a casa dos seus pais. Se o banco decidir transmitir a hipoteca a um credor do filho, é preciso que
os pais autorizem, porque estes autorizaram a constituição da hipoteca sobre a sua casa porque era uma
dívida em concreto, um novo credor pode ser credor de uma outra dívida qualquer.
O credor hipotecário com preferência abrirá mão dessa preferência dependendo do quanto
o outro credor se dispuser a pagar.
Extinção da hipoteca
De acordo com o artigo 730.º do CC, a hipoteca extingue-se:
Renascimento da Hipoteca8
O artigo 732.º do CC é das normas que mais concede tutela aos terceiros que confiaram no
que consta do registo, mais do que o artigo 291.º do CC.
O que resulta deste artigo é que se o registo de uma hipoteca for cancelada (por se ter
demonstrado junto da conservatória que se havia extinto a obrigação ou que o credor tinha
renunciado à hipoteca) e posteriormente, se vier a constatar que a causa extintiva da 37
obrigação ou que a renúncia do credor era nula ou padecia de anulabilidade e se efetivamente
a causa extintiva da obrigação e a renúncia do credor vier a ser declarada nula ou anulada (p.
ex., renunciou porque foi coagido, porque houve um erro), a hipoteca vai renascer, mas
apenas desde a data da nova inscrição.
A era credor hipotecário na primeira posição e B era credor na segunda posição. Ocorreu o cancelamento da
hipoteca de A em virtude de uma causa extintiva da obrigação ou da renúncia do credor, que afinal vieram
a ser declaradas nulas ou anuladas.
Na vigência do cancelamento da hipoteca, C (credor) concedeu crédito àquele devedor, porque analisou o
registo e verificou que o bem já tinha sido onerado com duas hipotecas: uma a favor de A e outra a favor de
B; mas, neste momento, porque a hipoteca de A foi cancelada, só estava onerado com a hipoteca de B.
Portanto, este bem tem potencial económica para garantir outra dívida. C, confiando no cancelamento da
hipoteca de A, empresta dinheiro à pessoa e regista a sua hipoteca.
Se seguida a tal causa extintiva da obrigação ou a renúncia vem a ser declarada nula
ou anulável e o registo da hipoteca de A vai renascer, mas só a partir da nova data da
inscrição.
O que quer dizer que o credor hipotecário A vai estar posicionado depois de B e depois de
C. C, que devia estar em 3.º lugar, ocupa o 2.º, porque quando consultou o registo a
informação que o registo lhe deu foi de que apenas havia a hipoteca de B.
Desta forma, afastou-se a lei portuguesa da regra geral, segundo a qual a nulidade e a
anulabilidade produzem efeitos retroativos, bem como da exceção introduzida a esta regra
em benefício de terceiros de boa fé consagrada no artigo 291.º do CC.
8Este mecanismo é relevante no caso exposto em aula do Cancelamento indevido (com fraude de
documentos) das Hipotecas da Caixa Geral de Depósitos, e quando as coisas foram verificadas como fraude,
esta tutela foi imprescindível.
Tendo em conta a tutela que este preceito concede, parece que apesar de a lei se referir apenas
que a causa extintiva da obrigação venha a ser declarada nula ou anulável ou a renuncia do
credor vir a ser declarada nula ou anulada, não nos podemos cingir a estas hipóteses, ou seja,
este artigo deve ser considerado aplicável a todos os casos em que o registo da hipoteca seja 38
cancelado indevidamente, p. ex., o credor consentiu, nos termos do artigo 56.º do CRP.
SUMÁRIO:
Testamento
A atribuição (e a prova) da qualidade de sucessor (os chamados a quem vão ser devolvidos
os bens), bem como a preparação da futura partilha faz-se através da habilitação de herdeiros:
De acordo com o artigo 83.º/1 do CN, a habilitação notarial consiste na declaração, feita em
escritura pública por três pessoas, que o notário considera dignas de crédito, com o seguinte
conteúdo:
De acordo com o artigo 83.º/2 do CN, esta declaração pode ser feita, em alternativa, por
quem desempenhar o cargo de pelo cabeça-de-casal, devendo, neste caso, ser lhe feita a
advertência prevista no artigo 97.º — remissão para o artigos 2079.º (cabeça-de-casal), 2080.º
(a quem incumbe o cargo, pela ordem que aí consta) e ss. do CC.
De acordo com o artigo 83.º/3 do CN, a declaração deve conter a menção do nome
completo, do estado (civil; se casado, deve constar o nome do cônjuge e o regime de bens),
da naturalidade e da última residência habitual do autor da herança (do de cujus) e dos
habilitandos (os que vão suceder ao de cujus) e, se algum destes for menor, a indicação dessa
circunstância.
No âmbito desta habilitação e de acordo com o artigo 85.º do CN, a generalidade dos
factos consegue-se provar através de certidões do registo civil:
Já a prova de que efetivamente não há quem lhes prefira ou quem com eles concorra não se
consegue fazer completamente, é por isso que é mera declaração.
Durante anos, havendo inventário, tinha o processo de correr em tribunal. Depois foi
alterada a situação e passou a atribuir-se competência exclusiva aos notários. Entretanto,
desde janeiro de 2020, voltou a atribuir-se competência aos tribunais, mas sem retirar a
competência aos notários.
A habilitação quer seja feita por escritura, quer seja feita por processo de inventário (em
cartório ou em tribunal) produz, de acordo com o artigo 86.º do CN, os mesmos efeitos: a
partir do momento em que estão habilitados os herdeiros e o cônjuge meeiro passam a poder
proceder ao levantamento de dinheiro e de outros valores, a poder fazer registo na
conservatória a seu favor dos bens que antes eram do de cujus e a poder aliená-los e onerá-
los.
O herdeiro preterido pode impugnar a habilitação notarial, nos termos do artigo 87.º do CN,
propondo a ação nos termos da lei do processo civil e solicitando ao tribunal a imediata
comunicação da pendência do processo ao respetivo cartório notarial onde a habilitação
9Herdeiros forçosos: cônjuges e descendentes ou cônjuges e ascendentes. Tendo que também fazer prova de
quem são.
tenha sido feita, no caso de ser por escritura pública, ou no âmbito do processo a correr no
cartório notarial, para que não sejam, no caso de estar feita a escritura, não serem feitas
certidões.
• Os legatários forem indeterminados (p. ex., deixo a minha casa à pessoa que cuidar de
mim nos últimos 5 anos de vida) ou instituídos genericamente (p. ex., deixo o meu carro a
todos os filhos de x).
É relativamente fácil habilitar herdeiros, tendo em conta que é com base na tal declaração
feita por três pessoas dignas de crédito ou por declaração do cabeça-de-casal.
Este problema, na prática, vai ocorrendo, o que torna mais cauteloso o legislador quando
atribui efeitos ao registo e tutela terceiros quanto ao registo.
Neste caso, se os falsos herdeiros venderem, temos um conflito entre, de um lado, o terceiro
que confiou no registo e achou que aquele bem pertencia àquelas pessoas e, do outro lado,
o verdadeiro proprietário. A questão está em saber se se tutela o terceiro adquirente de boa
fé ou o verdadeiro proprietário que não estava obrigado a efetuar o registo (não havia
obrigatoriedade do registo, até janeiro de 2009) e que é titular do direito real máximo.
10 Exemplo de habilitação: Compareceu perante mim neste cartório notarial cito em… fulano tal… viúvo,
natural de … residente habitualmente em… que a entidade verifiquei com o CC, e por ele foi dito que diante
a lei civil é cabeça de casal por óbito de herança da sua falecida mulher tal…. Onde o declarante disse que no
concelho tal, freguesia tal, faleceu a dital tal, casada com o regime tal…, que sucederam como herdeiros o
fulano e filha tal casada com tal com regime tal de bens e declaram não haver outros herdeiros para a herança.
Noção de testamento
O testamento, que é um dos poucos atos que permaneceu na competência exclusiva dos
notários, está definido no artigo 2179.º/1 do CC como ato unilateral e revogável pelo qual
uma pessoa dispõe, para depois da morte, de todos os seus bens ou de parte deles.
Esta noção é meramente indicativa, pois só pode aceitar-se na medida em que acaba por
definir o conteúdo mais típico do testamento. De facto, as pessoas recorrem ao testamento 41
para através dele dispor dos seus bens, dispor dos seus direitos de propriedade, em
consonância com o artigo 62.º da CRP que a todos reconhece a possibilidade de terem
propriedade privada e de a transmitirem quer em vida quer por morte. De toda a maneira,
este é o conteúdo típico do testamento.
Em regra, utiliza-se o testamento para fazer disposições de cariz patrimonial, mas também
pode ser utilizado para outros fins, p. ex., pode-se utilizar o testamento para perfilhar (artigo
1853.º/b) do CC), para nomear tutor ou revogar a tutela (artigo 1928.º/3 do CC), para
reabilitar indigno (artigo 2038.º do CC), para confessar uma dívida (artigo 358.º/4 do CC),
para nomear um testamenteiro (alguém que assegure o cumprimento de testamento
previamente feito – artigo 2310.º do CC). Ou seja, se é verdade que o conteúdo testamentário
é composto tipicamente de disposições de caráter patrimonial, é verdade também que pode
ter disposições de caráter iminentemente pessoal.
Apesar de boa parte do domínio sucessório, sobretudo o que diz respeito à quota
indisponível, ser formado por normas imperativas e por isso subtraídas ao autor da sucessão,
tal não retira ao testamento o caráter de negócio jurídico.
desde que não contrarie a natureza desse negócio e o seu regime especial e sempre que não
existam normas especiais em matéria de testamento, caso em que se aplicam as norma
especiais.
Os negócios jurídicos podem ser unilaterais ou bilaterais. A distinção faz-se tendo em conta 42
o número de declarações de vontade e como elas se articulam: num contrato existem duas
declarações de vontade opostos, mas convergentes, visando um resultado unitário, embora
com um resultado diferente para cada uma das partes; num negócio jurídico unilateral temos
apenas uma declaração de vontade ou mesmo que sejam várias quando se olha para as
declarações elas são paralelas umas às outras, formando como que um só lado (p. ex., a
propriedade horizontal - há uma decisão do proprietário ou dos comproprietários).
Na verdade, de acordo com o artigo 224.º do CC, um contrato só está perfeito quando a
resposta contém a aceitação e esta chega à esfera jurídica de ação do proponente. Se
pensássemos o testamento como um contrato, teríamos de dizer que só estaria perfeito
quando a resposta dos herdeiros e legatários contivesse a aceitação que chegasse à esfera
jurídica do testador e este tivesse em condições de a conhecer. O que não acontece, porque
a aceitação só acontece depois da morte do testador.
O artigo 946.º/1 do CC dá-nos conta da existência de doações mortis causa e no n.º 2 é dito
que uma doação mortis causa que não possa valer como tal será válida como deixa
testamentária. Ora, uma doação é um negócio bilateral (contrato) e o legislador admite que
esta doação se converta em disposição testamentária (conversão legal). Isto não quer dizer
que com isso se admita um testamento como contrato, o que acontece é que o contrato
inicial que era uma doação, que não podia valer como tal, se converteu em negócio jurídico
unilateral e a figura do donatário perdeu relevância.
Hipótese diferente, e que envolve uma exceção ao testamento ser um negócio jurídico
unilateral, é o artigo 1704.º do CC, de acordo com o qual a instituição de herdeiro e a
nomeação de legatário feitas por algum dos esposados na convenção antenupcial em favor
de pessoas indeterminadas, ou em favor de pessoa certa e determinada que não intervenha
no ato como aceitante, têm valor meramente testamentário, e não produzem qualquer efeito
se a convenção caducar.
tem a sua causa na morte - e, como é evidente, não pode produzir os seus efeitos
antes da sua causa - morte).
Isto não significa que não possa existir uma deixa testamentária em que seja imposto um
modo ou um encargo (p. ex., deixo a minha casa a A com o encargo de todos os sábados
abrir a biblioteca às crianças do município), pois esse modo ou encargo não se traduz numa
contraprestação ou num preço.
1. É insuscetível de ser feito por meio de representante, na medida em que é um negócio que
exprime a vontade própria do testador. Enquanto que, p. ex., a perfilhação (artigo 1849.º do
CC) e o casamento (artigo 1620.º do CC) podem ser feitos através de representação, o
testamento não.
Apesar de o testamento ser um negócio jurídico com caráter pessoal, não obsta a que não
possa ser escrito por outrem a rogo do testador e assinado por ele ou escrito e assinado por
outrem a rogo do testador - artigo 2206.º do CC.
Exceções:
• Artigo 2183.º do CC: O testador pode deixar a escolha da coisa legada à justa apreciação
do onerado, do legatário ou de terceiro, desde que indique o fim do legado e o género ou
espécie em que ele se contém. Exemplo: Deixo uma das minhas espingardas de caça ao amigo B e ele
ou outra pessoa a pode escolher.
Não são admitidos testamentos de mão comum ou conjuntivos (artigo 2181.º do CC). A
lógica é
(1) tentar evitar que um dos cônjuges ou que um dos testadores (porque podem não ser
cônjuges) exerça influência ascendente sobre o outro, 44
Exceções:
1. Artigo 1704.º do CC: Refere aos pactos sucessórios (introduzidos numa convenção
antenupcial) que não forem admitidos por lei convertem-se em deixas testamentárias. O que
começou por ser uma deixa feita por duas pessoas, depois será como que duas deixas
separadas.
2. Artigo 946.º/2 do CC: O mesmo acontece nas doações mortis causa não admitidas por
lei, serão convertidas em deixa testamentária.
O legislador, no artigo 2311.º do CC, teve ainda o cuidado de afirmar, no n.º 1, que o testador
não pode renunciar à faculdade de revogar, no todo ou em parte, o seu testamento e, no n.º
2, que se tem por não escrita qualquer cláusula que contrarie a faculdade de revogação.
O legislador pretende assegurar a liberdade negocial do testador até à morte, pretende-se que
o testamento seja a manifestação da última vontade do testador, portanto ele pode revogar a
todo o momento.
• Tácita (artigo 231411.º do CC): Ocorre quando surge um novo testamento que é em parte
ou totalmente incompatível com o testamento anterior. Nessa hipótese, tendo em conta que
A revogação é tácita porque só pelo confronto do conteúdo dos dois testamentos se chega à
conclusão de que estão em contradição um contra o outro e de qual o feito em último lugar.
Segundo o n.º 2, se aparecerem dois testamentos da mesma data, sem que seja possível
determinar qual foi o posterior, e implicarem contradição, haver-se-ão por não escritas em 45
• Real (artigo 2315.º e 2316.º do CC): Quando o testador posteriormente, sem consentir
noutro testamento, por um ato material ou jurídico, revela um comportamento que leva o
legislador a admitir a presunção da revogação. Ocorre quando:
Forma do Testamento
O testamento tem de obedecer a uma das formas solenes estabelecidas por lei; se não forem
respeitadas, levam à nulidade do negócio.
De acordo com a DOUTORA MÓNICA JARDIM, há muito que deveria ter desaparecido
a expressão não saiba do artigo 2206.º/2 do CC. O testador tem sempre de assinar, a não
ser que não saiba ou que não possa, mas a verdade é que o testamento cerrado só pode ser feito
por quem saiba ler, ora quem sabe ler sabe assinar, agora quem não saiba assinar e saiba ler
não há notícia de tal. O que este número devia dizer é que o testador só pode deixar de
assinar o testamento cerrado se não o poder fazer.
O testamento sob forma especial, de acordo com o artigo 2222.º do CC, perde a sua eficácia
depois de decorridos 2 meses sobre a cessação da causa que impedia o testamento
pelas vias comuns.
testamento feito por um português no estrangeiro fosse feito perante oficial equivalente ao
nosso notário que terá de aprovar o testamento.
Capacidade de testar
A capacidade de testar é muito ampla, na medida em que o leque de pessoas que não
podem testar é reduzido.
A questão da capacidade ou incapacidade está prevista no artigo 2188.º e 2189.º do CC. Nos 47
termos do artigo 2188.º do CC, podem testar todos os indivíduos que a lei não declare
incapazes de o fazer e, nos termos do artigo 2189.º do CC, são incapazes de testar:
No caso em que o testamento ser feito por essas pessoas, ele é nulo, nos termos do
artigo 2190.º do CC.
Assim, podem testar as pessoas físicas (não coletivas), desde que maiores ou menores
emancipados e maiores acompanhados, nos casos em que a sentença de acompanhamento
não determina a incapacidade de testar.
Mas note-se que a incapacidade superveniente não releva, a não ser na medida em que
impossibilita o testador de revogar a declaração anterior, mas não releva para apurar da valia
do testamento. Assim, se a pessoa que faz o testamento faz-lo quando é maior acompanhado
e a sentença não impediu a feitura de testamento, o testamento é válido, mas se
posteriormente é alterado o regime de acompanhamento a esse maior e determina-se a
incapacidade para fazer testamento, o que conta é a data em que foi feito o testamento, logo
é válido, porque foi feito por alguém que naquele momento era capaz.
uma sanção que é o cônjuge ser considerado menor na administração dos bens que leve para
o casal ou que posteriormente lhe advenham por título gratuito até à maioridade. Portanto,
quando se fala em menor emancipado pelo casamento e poder de disposição de bens, o
menor só pode dispor da totalidade dos seus bens, inclusivamente dos que leve para o
casamento, se tiver atingido a emancipação pelo casamento, devidamente autorizada ou com
suprimento dessa autorização.
48
Indisponibilidades (legitimidades) relativas
A lei refere ainda os casos da indisponibilidade relativa, previstos nos artigos 2192.º e ss. Do
CC.
12Estas hipóteses servem para proteger a liberdade do testamento, ou seja, para a pessoa num momento mais
frágil não sentir qualquer obrigação relativamente ao trabalho de outrem
No n.º 2, alínea a), fala-se em 6 anos porque na legislação anterior só podia haver divórcio
sem culpa em hipóteses determinadas e uma delas era de os cônjuges estarem separados (de
pessoas e bens) há mais de 6 anos. Entretanto, houve uma alteração e o legislador esqueceu-
se de alterar esta alínea. Por isso, hoje, nesta norma, onde se fala 6 anos deve ler-se 1 ano
apenas, de acordo com a legislação atual do divórcio.
A data relevante para averiguar das ilegitimidades, na medida em que estas hipóteses
visam proteger a liberdade do autor do testamento, é a data em que é feito o testamento,
ou seja, em que ele foi aprovado pelo notário (no testamento cerrado) ou lavrado no livro de
notas (no testamento público).
De acordo com o artigo 2209.º/2 do CC, a pessoa que tiver em seu poder o testamento é
obrigada a apresentá-lo ao notário em cuja área o documento se encontre, dentro de três dias
Note-se que os notários têm de fazer o registo de todos os testamentos que fazem e têm de
enviar essa informação mensalmente para a conservatória dos registos centrais (artigo 207.º
do CN). Se assim é e se quando alguém morre tem de ser feito o registo do óbito e se essa
informação também chega à conservatória dos registos centrais, seria fácil de resolver o
problema. Bastava que a conservatória dos registos centrais, que tem o registo de quem fez
testamento, quando recebesse a informação do óbito de uma pessoa, fizesse o cruzamento
da informação e verifica-se se aquela pessoa tinha alguma vez feito um testamento. Se consta-
se que sim, sabia quem era o notário que tinha lavrado no livro ou que tinha aprovado o
testamento e informava-o para este proceder em conformidade.
Caducidade testamentária
De acordo com o artigo 2317.º do CC, a caducidade testamentária consiste na causa de
ineficácia do testamento ou disposição testamentária, válidos e não revogados, derivada da
verificação ou não de um circunstancialismo superveniente, previsto na lei ou de uma
condição suspensiva ou resolutiva.
A lista deste artigo é meramente enunciativa dos casos de caducidade ex lege: As disposições
testamentárias, quer se trate da instituição de herdeiro, quer da nomeação de legatário,
caducam, além de outros casos:
SUMÁRIO:
51
Registo
Registo Predial
Publicidade Registal
Principais sistemas registais
O sistema registal Português
Efeitos do Registo
Registo
O registo Predial
Para falar do registo predial temos de falar dos direitos reais que são os direitos tipicamente
publicitados pelos registos prediais dos diversos países.
O direito real traduz-se numa relação jurídica por força da qual uma coisa fica direta
e imediatamente subordinada a uma pessoa.
Precisamente porque assim é, os direitos reais são direitos eficazes erga omnes, na medida em
que deles resulta um esfera de domínio/soberania exclusiva sobre a coisa em relação
a todos os demais (não titulares do direito real), que estão vedados de perturbar essa
zona de soberania - todos os não titulares do direito real estão vinculados pelo o dever geral
de abstenção.
Porque assim é, o titular do direito real está mais exposto à violação do seu direito do que o
titular do direito de crédito. Enquanto o titular do direito de crédito tem um (ou vários)
devedor(es) certo(s) e determinado(s) e apenas este(s) pode(m) violar o direito, o titular do
direito real encontra em todos os outros sujeitos o dever geral de abstenção e, portanto, sabe
que qualquer outro homem, apesar de não ter com ele qualquer relação jurídica, pode violar
o seu direito, mesmo que atue de boa fé, mesmo que atue sem culpa e mesmo que não cause
dano.
Publicidade Registal
Um qualquer terceiro que pretenda adquirir um direito real sabe, na ausência do registo
predial, que pode vir a ser defraudado nos seus interesses adquirindo uma coisa ou direito
cuja titularidade não pertence ou nunca pertenceu ao seu transmitente ou adquirindo um
direito real que afinal está onerado com outros direitos reais.
Exemplo 1. Uma determinada pessoa, na ausência do registo predial, pretendia adquirir o direito de
propriedade sobre um imóvel. Corria o risco de estar a negociar com o potencial proprietário e depois constatar
que ele nunca foi proprietário ou tinha sido e que já não era.
Exemplo 2. Alguém se disponibilizada para ser credor de outrem, mas exige uma garantia real – uma
hipoteca sobre o bem - e pensava que tinha sido assegurado aquele bem e que este estava livre e desonerado.
Haveria sempre o risco de já existir hipoteca na ausência de registo e aquele credor acabar por não reaver o
52
dinheiro por existirem garantias prioritárias.
Estes riscos imanentes aos direitos reais para os terceiros eram riscos relativamente
atenuados quando as sociedades eram compostas por núcleos populacionais
reduzidos e quando o tráfego imobiliário era também reduzido. Nessa altura, a
publicidade dos direitos acabava por ser dada pelo próprio negócio de transmissão
ou constituição do direito real ou deste acompanhado da entrega.
Quando se chega a esta conclusão, de que os direitos reais não podem ser oponíveis erga
omnes como consequência direta e imediata dum contrato ou de um contrato acompanhado
de tradição da coisa, surge a necessidade de dar publicidade de forma estável, permanente e
mais eficiente aos direitos reais. É nessa altura13 que aparecem os diversos sistemas de
registo (predial) a nível mundial, para dar publicidade aos factos constitutivos,
translativos, modificativos, extintivos dos direitos reais relacionados com imóveis
(que eram aqueles que tinham mais valor e os mais facilmente determináveis) para
assegurar o tráfego jurídico.
13(*) Segunda metade do séc. XIX: Bélgica - 1851; França - 1855; Espanha - 1861; Portugal
- 1863; Itália - 1865; Áustria - 1871; Alemanha - 1896 (com a ressalva de Munique - século
XIV). A par destes países, os países da commom law, também porque sentiram a necessidade
de assegurar o tráfico jurídico e os terceiros não titulares de direitos reais, criaram outro
instituto: o seguro de títulos. Este seguro é um seguro ressarcitório que não garante alguém
perante um risco futuro, mas sim perante um risco passado - garante-se ao adquirente de um
direito real que, caso não venha a adquirir o direito ou que não o venha a adquirir com a
amplitude que pretendia, receberá um determinado valor, será ressarcido.
1. Atribuir ao registo uma função constitutiva (Alemanha, Áustria, Suíça): Os direitos reais
não podem ter eficácia erga omnes como consequência direta do negócio ou do negócio com
traditio, Portanto, os direitos reais apenas existem e são eficazes erga omnes após o registo.
simples contrato ou do contrato e da entrega da coisa e são eficazes erga omnes, mas é necessário
serem registados para consolidarem a sua oponibilidade perante certos e determinados
terceiros.
(2) de dar segurança aos terceiros que pretendiam celebrar negócios tendentes à aquisição,
constituição e transmissão de direitos reais e
(3) de impedir que os direitos reais fossem oponíveis erga omnes como consequência
direta do negócio ou do negócio e da traditio, optando uns pelo registo constitutivo e outros
pelo um registo consolidativo.
Em função destas opções, podemos dizer que, atualmente, temos 3 sistemas de aquisição,
constituição, modificação ou extinção de direitos reais: o sistema do título, o sistema
do título e do modo (podendo o modo ser simples ou complexo) e o sistema do modo.
Num sistema de título, vigora (ainda) o princípio da causalidade, segundo o qual tem
de haver uma justa causa - um fundamento - para a ocorrência do efeito jurídico-real.
O que significa que o título tem de ser um bom título, ou seja, tem de ser um título:
I. Existente;
Porque não é preciso um qualquer modo, nestes sistemas, o registo não é, em regra,
constitutivo, o registo serve apenas para consolidar a oponibilidade erga omnes dos direitos reais
(perante certos e determinados terceiros). Se não se der publicidade aos direitos reais que já
nasceram e que já são dotados de oponibilidade erga omnes e posteriormente aparecer um desses 54
terceiros, o tal direito real (que era oponível erga omnes) pode extinguir-se ou ficar onerado.
- Em Espanha, o registo nunca é o modo (o modo é a entrega da coisa), por isso o registo
não é constitutivo.
O modo é complexo porque formado por dois elementos: negócio real + entrega da
coisa ou registo, consoante em causa estejam, respetivamente, móveis ou imóveis.
O modo é complexo porque é formado por dois elementos e abstrai-se do título (do negócio
obrigacional) - vale o princípio da abstração.
O registo é constitutivo quando este é modo e isso acontece quando em causa estão imóveis.
tais conservatórias (do registo predial) são os conservadores e adjuntos e outros funcionários
que são funcionários públicos (que estão integrados na orgânica do Ministério da Justiça).
Nos termos da legislação em vigor, existe uma vinculação hierárquica do responsável pela
feitura dos registos perante o presidente do IRN. Os funcionários públicos estão vinculados
hierarquicamente ao presidente do IRN e estão sujeitos a sanções disciplinares, além de
poderem incorrer em responsabilidade civil e responsabilidade criminal. No entanto, apesar
56
de serem funcionários públicos, no momento da feitura do registo, enquanto responsável
pela feitura do registo, o conservador está incumbido de realizar uma ato que envolve
valoração jurídica, feita de forma imparcial e independente e, portanto, não atua como um
mero funcionário administrativo, mas como um árbitro independente e imparcial,
não subordinado - remissão p/ o princípio da legalidade e p/ os recursos.
Isto era relevante até janeiro de 2009, porque os factos que tivessem por objeto um
determinado prédio tinham de ser registados na conservatória cuja área de circunscrição
abrange-se a localização daquele prédio. A partir de janeiro de 2009, deixou de valer a regra
da territorialidade e porque assim é, neste momento, pode-se solicitar o registo de um facto
jurídico relativo a um prédio em qualquer conservatória do registo predial do país.
O que esteve na fase do fim da competência territorial foi facilitar da vida do cidadão, não o
obrigando a deslocar-se à conservatória do registo predial. Note-se que se pode fazer pedidos
de registo presencialmente, por correio ou online. E essa eliminação foi possível porque o
registo é todo feito em suporte eletrónico - é um registo eletrónico único para todo o país.
Porque o conservador quando decide se vai ou não realizar o registo, e no caso de fazer se o
faz como definitivo ou como provisório, está a atuar como arbítrio imparcial. Porque assim
é, era suposto não ser escolhido, da mesma forma que não podemos escolher o tribunal em
que queremos ver julgada determinada causa e muito menos o juiz. Acresce que quando se
pode escolher a conservatória que vai efetuar o registo e, portanto, o conservador, com isso
estamos também a definir qual vai ser o tribunal que vai julgar um potencial recurso. Ou seja,
o fim da competência territorial conduziu a que não só se possa optar pelo conservador que
vai decidir se efetua o registo ou se o recusa e, no caso de efetuar, se o efetua como definitivo
ou como provisório, como ainda conduziu a que, com isso, se esteja a escolher o tribunal da
área de circunscrição que vai decidir um potencial recurso, caso a decisão não agrade a quem
solicitou o recurso.
Não foi essa a opção. Pôs-se fim à competência territorial e, com isso, Portugal é o
único país no qual não rege a regra da competência territorial.
Até 2009, os atos de registo eram da competência exclusiva dos conservadores (das pessoas
habilitadas, formadas especificamente para efetuar registos). Depois, os conservadores
podiam delegar a competência aos funcionários da sua confiança, nos funcionários que
entendessem que estavam mais habilitados para o fazer, mas a responsabilidade era sempre
do conservador.
Nada nos garante que, em janeiro de 2009, não se tenha considerado competente um
funcionário de uma conservatória, porque todos passaram a ser considerados competentes,
que tivesse mudado para a conservatória há dias.
O legislador atribui essa competência, talvez, porque o trabalho era muito e os conservadores
eram poucos, em vez de formar novos conservadores e atribuir-lhes as respetivas
competências.
Na generalidade dos ordenamento jurídicas onde o registo assume uma função constitutiva,
ele não é obrigatório, porque não há sanção maior do que não ocorrer a aquisição,
constituição, modificação de um direito real.
Em Portugal, desde 2009, passou a ser obrigatório. No entanto, em data anterior, já se tinha
tentado implementar o registo obrigatório:
Esse cadastro nunca foi feito em todo o país e, então, desde 1947 até 1984 (data do atual do
CRP) em certas zonas do país o registo obrigatório (porque nelas vigorava o sistema de 58
2. A partir de 1984, com a entrada em vigor do CRP, o registo obrigatório cessou totalmente,
quer nas áreas em que existia cadastro geométrico quer nas áreas em que não existia.
3. A partir de 2009, e em relação a atos praticados a partir dessa data, o registo passou a ser
obrigatório.
A obrigatoriedade do registo está prevista no artigo 8.º-A e ss. do CRP onde se pode
ler o seguinte: É obrigatório submeter a registo (alínea a) os factos referidos no artigo
2.º e (alínea b) as acções, decisões e providências, referidas no artigo 3.º, salvo as
acções de impugnação pauliana e os procedimentos mencionados na alínea d) do n.º
1 do mesmo artigo.
O artigo 2.º do CRP é o artigo que elenca (de forma não taxativa quanto aos factos)
os factos sujeitos a registo. Já o artigo 1.º do CRP indica quais os fins do registo: O
registo predial destina-se essencialmente a dar publicidade à situação jurídica dos prédios,
tendo em vista a segurança do comércio jurídico imobiliário.
Estão sujeitos a registo todos os factos jurídicos que tenham a ver com direitos reais sobre
imóveis e qualquer direito real que tenha por objeto imóvel e que sofra uma qualquer
mutação depois da sua constituição (neste caso, os factos são os que estão no artigo 2.º e
outros que tenham por objeto direitos reais sobre imóveis). Além destes, os factos
relacionados com alguns direitos de crédito ou com direitos que se pretendem que passem a
ser dotados de eficácia real (neste caso, são só e apenas aqueles indicados no artigo 2.º) (p.
ex., um arrendamento por mais de 6 anos, um contrato-promessa dotado de eficácia perante
terceiros, um pacto de preferência dotado de eficácia perante terceiros).
b) As ações que tenham por fim, principal ou acessório, a reforma, a declaração de nulidade
ou a anulação de um registo ou do seu cancelamento;
c) As decisões finais das acções referidas nas alíneas anteriores, logo que transitem em
julgado.
i) Quando devam ingressar provisoriamente por natureza no registo, nos termos do n.º 1 do
artigo 92.º;
iii) Aqueles que incidam sobre direitos de algum ou alguns dos titulares da inscrição de bens
iv) A constituição de hipoteca e o seu cancelamento, neste último caso se efetuado com base
em documento de que conste o consentimento do credor — Na hipoteca o registo é
constitutivo, o credor saberá se quer ou não constituí-la, se não a registar não tem a hipoteca,
além disso a existência (em abstrato) de uma hipoteca sem registo não perturba a posição de
terceiros, porque na verdade ela não existe.
2. Na ausência de pedido por parte do titulador, os sujeitos ativos do facto jurídico (p. ex. o
alienante, o onerante e o donatário).
- Quanto aos factos jurídicos sujeitos a registo do artigo 2.º, em regra, são 2 meses (n.º 1):
• Em janeiro de 2020, surgiu um novo direito real, o direito real de habitação duradouro,
cujo registo deve ser solicitado no prazo apenas de 1 mês (não se sabe o porquê da diferença
de prazo). Em relação a esse direito real, o primeiro obrigado não é o titulador, é o sujeito
ativo, ou seja, o morador.
- Quanto ao registo de ações referidas no artigo 3.º/1/a) e b), sujeitas a registo obrigatório,
são 10 dias, após a data da audiência de julgamento (n.º 2).
- Quanto ao registo de decisões proferidas nas ações é 1 mês, a contar do trânsito em julgado
(n.º 3).
1. Descrição do prédio: A descrição está prevista no artigo 79.º e ss. do CRP e desses
preceitos resulta que a descrição tem por objeto o prédio e é o ato de registo que se dirige à
identificação física (é suposto dar indicações de como é o prédio) e fiscal (n.º fiscal do prédio
que consta nas finanças) do prédio - hoje já não se exige a identificação económica (o valor
patrimonial).
- Sendo um prédio rústico: nome, localização, área, tipo de cultura, confrontadno a norte
com e a sul com;
- Sendo um prédio urbano: rua, n.º de polícia, localidade, n.º de pisos, composição, destino
(habitação ou comércio), n.º matricial (matriz que consta nas finanças).
Contudo, a descrição dos prédios e a descrição que consta do registo está longe de
ser o retrato escrito do prédio. Na verdade, diz-se que:
• O prédio tem uma determinada área e, na maioria das vezes, o prédio tem uma área
superior, porque os proprietários declaravam menos área nas finanças para pagar menos e
no registo a área era em conformidade com a das finanças. 61
• O prédio confronta com pessoas, quando os prédios, na realidade, confrontam com outros
prédios.
2. Inscrição: Inscrevem-se os factos jurídicos que têm por objeto aquele prédio. Portanto
inscrevem-se tantos factos jurídicos quantos aqueles que forem ocorrendo.
4. Anotações: São meras notícias de circunstâncias previstas na lei que não têm reflexos
diretos na situação substantiva. É apenas para dar alguma publicidade e serve para
internamente os funcionários e conservadores compreenderem e fazerem ligações.
- Por dúvidas: O registo é provisório por dúvidas quando não poder ser lavrado tal como
foi pedido, também não pode ser recusado porque não cabe em nenhuma das hipóteses do
artigo 69.º e também não deve ser feito como provisório por natureza porque não é nenhum
dos casos previstos no artigo 92.º.
Contudo, antes de o conservador fazer o registo como provisório por dúvidas, deve solicitar
ao interessado (a quem apresentou o pedido de registo) o suprimento das insuficiências do
pedido:
São hipóteses exemplares em que o registo é lavrado como provisório por dúvidas:
- Por natureza: O registo só pode ser lavrado como provisório por natureza nas hipóteses
(taxativas) do artigo 92.º do CRP. Essas hipóteses podem juntar-se em alguns grupos:
• al. a): Das acções e procedimentos referidos no artigo 3.º. Exemplo: Intentada uma ação de
reivindicação onde se pede o reconhecimento do direito e a restituição da coisa. O pedido de restituição da
coisa tem cariz obrigacional, não está sujeito a registo, o que está sujeito a registo, de acordo
com o artigo 3.º do CRP, é o pedido de reconhecimento do direito. Quando se intenta a ação
e se solicita o registo da ação ainda não se sabe se vai ser reconhecido o direito ou não,
portanto este facto tem caráter preliminar os precários.
• O facto jurídico que se inscreve ainda não ter ocorrido (pretende-se assegurar o credor
hipotecário ou o futuro adquirente):
Exemplo: O notário (etc.) não deve recusar-se a reduzir esta compra e venda a escritura pública, se o negócio
foi celebrado por um menor ou por um cônjuge sem o consentimento do outro. O negócio é anulável porque
falta o autorização de alguém e ela não foi suprida judicial. Se o negócio foi celebrado de acordo com a lei
depois também há-de ser registado, como provisório por natureza. Se decorrido o prazo para arguir a
anulabilidade e ninguém a arguir, foi sanada e o registo converte-se em definitivo.
• Al. f): De negócio jurídico celebrado por gestor ou por procurador sem poderes suficientes,
antes da ratificação — depois de ocorrer a ratificação converte-se em definitivo.
II. O registo que é pedido está dependente de outro que também está feito como provisório.
Se aquele de que depende for convertido em definitivo este também será, se ao invés aquele
de que depende for cancelado ou caducar este não será convertido.
Exemplo: A (titular registal) vendeu o bem a B e B solicitou o registo a seu favor, mas não comprovou o 63
cumprimento das obrigações fiscais e, por isso, o seu registo ficou como provisório por dúvidas. A seguir, B
titular registal, mas com registo provisório por dúvidas, constituiu uma hipoteca a favor de C. Esta hipoteca
a favor deC não pode ficar como definitiva, porque depende da aquisição a favor de B e o registo a favor de B
está como provisório. Portanto, a hipoteca vai ficar como provisória por natureza. Se o registo de aquisição de
B for convertido em definitivo também o registo da hipoteca será; ao invés, se o registo de aquisição de B
caducar (ao fim de 6 meses) também o registo da hipoteca terminará.
III. O registo pedido seja incompatível com um anterior que ainda não esteja como
definitivo.
Exemplo: A celebrou um contrato de compra e venda com B e B obteve o respetivo registo de aquisição.
Entretanto, A intentou uma ação tendente à declaração de nulidade ou de anulação do negócio entre si e B.
A ação está em curso e B, na pendência da ação, vende o imóvel a C e C vem solicitar o registo a seu favor.
B tem o registo definitivo, mas depois deste registo há o registo de uma ação que ficou provisória por natureza
nos termos da al. a). Se aquela ação proceder, a seguir virá o registo de uma sentença que declare nulo ou
anule o negócio e se for julgada procedente a ação tudo se passa como se o bem nunca tivesse saído da esfera
jurídica de A. Logo, C, que quer um registo a seu favor, quer um registo que é incompatível com o registo da
ação existente. Portanto, se o registo é incompatível como o anterior, que também não foi feito como definitivo,
também ficará como provisório.
- Quando for manifesto que o facto não está titulado nos documentos apresentados (p. ex.,
solicita-se o registo da aquisição da propriedade e não se junta o contrato de compra e venda,
mas o contrato de promessa);
- Quando se verifique que o facto constante do documento já está registado ou não está
sujeito a registo (na primeira hipótese, p. ex., o sujeito ativo do ato, imediatamente após o
ato, solicitou o registo e, de seguida, o titular solicitou também o registo; na segunda hipótese,
apenas estão sujeitos a registo os factos constantes do artigo 2.º e 3.º do CRP);
- Quando for manifesta a nulidade do facto (p. ex., dois comproprietários querem por fim
amigavelmente à compropriedade e dividir o prédio único, que era de ambos, em dois e que
da divisão resultam prédios com a uma área inferior à unidade de cultura e não podia resultar
e a sanção é a nulidade). A lei utiliza a expressão manifesta nulidade, mas manifesta não é no
sentido de ostensivo;
- Quando o registo já tiver sido lavrado como provisório por dúvidas e estas não se mostrem
removidas — Se antes tiver sido formulado um pedido de registo e o conservador tiver
solicitado o suprimento de insuficiências e tal não tiver acontecido e o registo tiver lavrado
como provisório por dúvidas e se tiver decorrido o prazo de 6 meses, caduca o registo. Se o
64
mesmo interessado vier a solicitar o mesmo registo e se suscitarem as mesmas dúvidas, o
conservador já não o faz por dúvidas, recusa-o, se não seria uma forma de manter a
prioridade até regularizar a situação.
SUMÁRIO:
Efeitos do registo
Artigo 5.º do Código do Registo Predial
Na última aula demos conta dos sistemas de registo predial, depois passamos a analisar as
características do sistema registal Português, e por fim a análise dos sujeitos a registo e atos
praticados pelo conservador.
Também falamos do atos sujeitos a inscrição (definitiva ou provisória) e para explicar melhor
como se chegava a essa conclusão analisamos o artigo da recusa do registo.
O recurso está previsto no artigo 140.º e ss. do CN e na verdade são dois recursos. O
interessado tem a possibilidade de optar pelo(a):
1. Recurso hierárquico dirigido ao presidente do IRN: A opção por este recurso não obsta a
que posteriormente ainda haja impugnação judicial.
2. Impugnação/recurso judicial: A opção por este recurso já obsta a que posteriormente haja
recurso hierárquico.
De acordo com o artigo 142.º do CN, quer se opte pela impugnação judicial, quer se opte
pelo recurso hierárquico, o requerimento ou a interposição do recurso é apresentado/
entregue na própria conservatória cujo ato está a ser objeto de recurso. Depois, de acordo
com o artigo 142.º-A do CN, independentemente de quem tenha praticado o ato, ou seja,
independentemente de ter sido um conservador ou um funcionário da conservatória, o
recurso vai ser sempre analisado, num primeiro momento, pelo conservador. Ou seja,
impugnada a decisão, hierárquica ou judicialmente, o conservador vai ter que se debruçar de
novo sobre o assunto e vai, no fundo, ter que proferir um despacho a sustentar ou a reparar
a decisão tomada por ele ou por um dos funcionários. 65
O caso de o recurso ser hierárquico, de acordo com o artigo 144.º/1 do CN, ele tem de ser
decidido no prazo de 90 dias, pelo presidente do IRN e este pode decidir que previamente
seja ouvido o conselho técnico, que, de acordo com o artigo 144.º/2 do CN, deve
pronunciar-se num máximo de 60 dias. Na prática, nem todos os recursos vão diretamente
ao presidente do IRN:
- As questões mais simples, ficam pela secção jurídica do IRN e depois são apenas
homologadas pelo presidente;
- Nas questões complexas, o presidente pode pedir para que o conselho técnico se pronuncie,
para que seja previamente ouvido.
Se o presidente do IRN deferir o recurso, ou seja, se achar que quem intentou o recurso tem
razão, decorre do artigo 144.º/4 do CN, deve ser dado cumprimento à sua decisão, devendo
haver alteração e ser feito o registo no mesmo dia. Se o presidente do IRN, ao invés,
improceder o recurso, ou seja, se achar que a decisão foi bem tomada pelo conservador ou
pelo funcionário da conservatória, das duas uma: (1) ou o interessado se conforma ou (2)
ainda pode impugnar judicialmente. Neste último caso, o que o interessado vai impugnar é
apenas e só a decisão do conservador ou do funcionário da conservatória (a decisão de base
que deu início ao recurso), nunca recorre da decisão do próprio presidente do IRN.
Se houver a impugnação judicial ad initio ou depois do recurso hierárquico valem os artigos 145.º
e ss. do CN, devendo ser ouvido o Ministério Público, nos termos do artigo 146.º do CN,
para emitir parecer. Depois da decisão judicial, ainda há possibilidade de recurso da sentença
para a Relação.
• Os sujeitos ativos e passivos da relação jurídica (no caso de uma compra e venda, tanto o
vendedor (sujeito passivo) como o comprador (sujeito ativo); numa doação, tanto o
donatário (sujeito ativo) como o doador (sujeito passivo));
• Qualquer outro interessado - todas as pessoas que revelem interesse na feitura do registo.
Exemplo: A, que consta do registo como titular registal, vendou o imóvel a B que se tornou proprietário por
aquisição por compra e venda, mas B não solicitou o registo, porque foi antes de 2009 quando não era
obrigatório o registo. Entretanto, B conseguiu alienar o bem a C sem que tivesse o registo a seu favor (era, p.
ex., uma das hipóteses de exceção ao princípio da legitimação, ou seja, em que alguém pode alienar sem que
previamente tenha o registo a seu favor). C solicitou o registo da sua aquisição, juntando o título nos termos
66
do qual adquiriu o direito de B. O conservador, perante os registos existentes, a informação que tem é que o
proprietário é A e o registo gera a presunção da titularidade do direito de A. Então, se assim é, o conservador
não pode fazer o registo de C, de acordo com o princípio do trato sucessivo. C que não vai conseguir o registo
definitivo, apenas vai conseguir, em virtude deste princípio, um registo provisório por dúvida, pode, durante os
6 meses que vigorar o registo por dúvidas, solicitar o registo a favor de B, do seu alienante, porque logo que o
registo de B seja feito, o seu registo converter-se-á em definitivo.
Salvo os casos de oficiosidade previstos na lei - p. ex., artigo 92.º/7 e 8, artigo 98.º/3, artigo
Do n.º 3 e n.º 4 decorre que o registo convertido em definitivo conserva a prioridade que
tinha como provisório, ou seja, a data do registo definitivo é, para todos os efeitos, a data do
provisório.
Se o registo foi recusado ou se foi lavrado como provisório (apesar de não dito
expressamente aqui já resultava do n.º 3) e se chega à conclusão, no final do recurso (seja
hierárquico seja judicial), que o registo devia ter sido feito como definitivo, o registo que é
feito na sequência do recurso mantém a data da apresentação do ato que foi objeto de recusa,
ou seja, tem a data que teria se tivesse sido lavrado logo bem.
A data do registo não é a data em que o registo é feito, é data em que é feita a anotação do
livro diário e a data da anotação corresponde à data em que é feito o pedido, seja online,
presencialmente, seja por correio.
É habitual dizer-se que os efeitos do recurso (do registo definitivo) retroagem à data em que
foi feito o pedido de registo e ele foi recusado (ao do registo provisório). Podendo dizer-se
isto, tem de se ter em atenção que são os efeitos do registo e não os efeitos substantivos, se
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em causa estiver uma ação.
Exemplo: Intentada uma ação de execução específica, esta é provisória por natureza (artigo 92.º/1/a) do
CN). A ação corre e passado uns anos a ação é julgada procedente e há sentença que é constitutiva, porque
dá por celebrado o contrato prometido. Os efeitos que retroagem são os efeitos do registo da sentença à data do
registo da ação. O registo, uma vez convertido em definitivo, conserva a prioridade que tenha como provisório.
A celebração do contrato e a aquisição do direito real em decorrência da celebração coerciva do contrato através
da sentença proferida em ação de execução específica ocorre no dia em que a sentença transita em julgada.
A propósito da hipoteca se disse que, antes de 2009, ou seja, antes de o registo em Portugal
ser eletrónico, existia um n.º 2 do artigo 6.º nos termos do qual as hipotecas concorriam entre
si na proporção dos respetivos créditos sempre que tivessem a mesma data. Esta solução
sempre foi criticada, porque sempre se entendeu que o registo da hipoteca ser constitutivo
não havia porque equiparar registos feitos no mesmo dia, mas em horas diferentes. Mas, com
a entrada em vigor do registo eletrónico e dos livros de registo em suporte digital e um único
livro para todo o país, passou a ser fixava a data, hora, minuto e milésimo de segundo de
cada pedido de registo, independentemente da forma como este é feito. Porque assim é,
entendeu o legislador que não fazia sentido esta solução.
No entanto, pode acontecer que entrem dois pedidos de registo de hipoteca sobre o mesmo
bem por correio no mesmo dia e se os pedidos forem feitos por correio, o conservador vai
anotar no livro diário apenas no fim do expediente. Se forem pedidos dois registos de duas
hipotecas sobre o mesmo imóvel por correio, o conservador não vai optar por dar prioridade
a uma ou a outra. De acordo com o 63.º do CRP, o que vai acontecer é que o conservador
vai ter de verificar qual delas foi primeiro titulada, ou seja, qual foi a que primeiro foi objeto
de negócio jurídico, contrato, disposição legal ou decisão judicial. Se, por hipótese, os factos
jurídicos (títulos) tiverem a mesma data, de acordo com o artigo 60.º/4 do CN, as hipotecas
serão anotadas sobre o mesmo número de ordem, e se assim é, há uma hipótese em que fazia
sentido manter o artigo 6.º/2, ou seja, fazia sentido dizer-se que as hipotecas com a mesma
data concorrem entre si na proporção dos respetivos créditos. O legislador esqueceu-se desta
hipótese e, portanto, neste momento, cabe ao tribunal decidir caso tal ocorra, caso surjam
duas hipotecas com a mesma data.
comum na generalidade dos ordenamentos jurídicos, mas é útil. Por força deste princípio,
no fundo, está logo salvaguardado o cumprimento do princípio do trato sucessivo.
Este princípio foi introduzido no ordenamento jurídico português, em 1984, com o CRP.
Por força deste princípio, muitas vezes, a doutrina afirmava que em 84 tinha terminado a
obrigatoriedade do registo em parte do país, mas que tinha surgido outro tipo de
obrigatoriedade para todo o país. Desde 1947 até 84, o registo era obrigatório nas zonas do
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país onde existia cadastro geométrico e não nas outras zonas do país onde não existia tal
cadastro. Em 84, acabou o registo obrigatório e foi introduzido o princípio da legitimação.
Então, parte da doutrina dizia que o registo tendo deixado de ser obrigatório, quer vigore
quer não vigore o cadastro geométrico, a verdade é que passou a ser indiretamente
obrigatório, porque no dia em que a pessoa que não fez registo a seu favor quiser alienar ou
onerar vai ter de registar - a pessoa pode adquirir o direito que se torna oponível erga omnes,
mas não consolida essa oponibilidade e, portanto, corre os riscos daí inerentes.
1. Artigo 9.º/3 do CRP: Tratando-se de prédio situado em área onde não tenha vigorado o
registo obrigatório, o primeiro ato de transmissão posterior a 1 de Outubro de 1984 pode
ser titulado sem a exigência prevista no n.º 1, se for exibido documento comprovativo, ou
feita justificação simultânea, do direito da pessoa de quem se adquire
Exemplo: Se o doador está prestes a falecer e não tem o registo a seu favor, não se exige o registo.
- Se o titular registal nada disser ou se disser que o bem não lhe pertence, o registo provisório
converte-se em definitivo.
- Se ao invés, o titular registal disser que o bem lhe pertence, o interessado será remetido para
os meios processuais comuns para resolver a questão da titularidade, uma vez que o registo
gera a presunção de que o direito pertence ao titular inscrito.
São hipóteses em que temos num só instrumento (título) ou em dois instrumentos (títulos) diferentes dois atos 69
sucessivos/seguidos/consecutivos.
Exemplo de um só instrumento e de dois atos sucessivo: A pretende adquirir a propriedade de um bem imóvel,
no entanto não tem dinheiro para proceder à compra do imóvel e contratou com um banco para celebrarem
um contrato de mútuo. O banco aceitou, mas exigiu como condição a constituição de uma hipoteca como
garantia do seu crédito, sobre o imóvel que A vai adquirir.
Num só instrumento temos dois negócios: a compra e venda feita por X a A e a constituição
da hipoteca feita por A a favor do banco.
Para o primeiro negócio, o notário dirá que não pode reduzir escritura pública ou o outro
titular não pode termo de autenticação enquanto o X não tiver o registo feito a seu favor.
Mas a verdade é que, através daquele instrumento, não vai ocorrer apenas a transmissão de
X para A, vai também acontecer, imediatamente de seguida, a constituição da hipoteca de A
a favor do banco.
Se se dissesse a A que não podia constituir a hipoteca a favor do banco enquanto não tiver o registo lavrado
a seu favor, isso implicava que os dois atos não pudessem ser celebrados no mesmo instrumento, o que não se
justificaria pois o que interessa é saber se o X é titular registal e sendo pode transmitir a A e seguir o A
solicita o registo a seu favor depois de já ter constituído a hipoteca a favor do banco, mas imediatamente a
seguir.
No segundo caso, em que há em dois instrumentos diferentes dois atos sucessivos, por um
lado, não se podia exigir ao primeiro adquirente que já tivesse o registo feito a seu favor para
praticar o ato porque tinha acabado de receber, portanto ia-se criar um lapso temporal. Por
outro lado, não se justificava esse lapso temporal porque temos a certeza quem é o
transmitente ou o alienante porque tinha o registo feito a seu favor.
• À DOUTORA MÓNICA JARDIM não lhe parece que assim seja. Não se trata de uma
exigência de forma, além disso não à fixação da sanção por falta de cumprimento do princípio
da legitimação e, portanto, não se pode dizer que o negócio é nulo. O que vai acontecer neste
caso é a consequência do direito substantivo, ou seja, a consequência pode ser a nulidade ou
a inexistência:
- Se o alienante ou onerante afinal não fôr o titular do direito, o negócio jurídico é nulo;
70
- Se o alienante ou onerante for o titular do direito e não o titular registal, o negócio é válido.
Mas o adquirente só obterá o registo definitivo a seu favor se previamente for feito o registo
a favor do alienante ou onerante (isto em virtude do princípio do trato sucessivo).
Exemplo: A pretende vender a B um bem imóvel e A celebra o negócio sem demonstrar ao notário que é
titular registal e ele até é. Porque haveremos de considerar o negócio nulo? Não faria sentido. Ou, então, A
não é o titular registal, mas é o titular do direito e tem a documentação toda e pode promover o seu registo a
qualquer momento. Porque se haverá de considerar o negócio nulo? O A ainda pode solicitar o registo e o B
também o fará. Na hipótese de o A não ser titular do direito, nem titular registal aí o negócio é nulo, mas
porque se traduz numa alienação ou oneração de bem alheio.
Pode-se dizer que o princípio da legitimação se destina a quem pretenda onerar ou alienar e
que o seu cumprimento é assegurado pelos tituladores.
Este princípio, sendo cumprido e desde que não se esteja no âmbito das suas exceções,
automaticamente se está a cumprir o princípio do trato sucessivo. O princípio do trato
sucessivo, previsto no artigo 34.º do CRP, tem duas modalidades, sendo a mais aplicável é a
do n.º 4, segundo o qual o adquirente não conseguirá obter o registo definitivo a seu favor,
se, quando o solicita, o titular registal não for aquele que lhe alienou ou onerou o direito.
Por isso se dizia, se no momento em que B tiver adquirido de A for cumprido o princípio da
legitimação, o que se vai passar é o seguinte: o titulador não dá forma ao negócio porque A
não é titular registal e enquanto não for não titula. A irá solicitar o registo a seu favor e depois
poderá alienar ou constituir usufruto a favor de B. Já sendo titular registal, logo quando B
for confrontado com o princípio do trato sucessivo não vai ter qualquer problema, porque
o seu registo foi feito como definitivo. Ao invés, se não se cumprir o princípio da legitimação,
se o alienante ou onerante não for o titular registal e ainda assim o negócio for celebrado, o
adquirente quando quiser o registo do seu direito não vai conseguir o registo definitivo,
apenas vai conseguir o registo provisório por dúvidas.
1. Primeira modalidade (n.º 1 e 2): Para hipóteses em que os imóveis nunca ingressaram
(estiveram escritos) no registo ou para hipóteses em que ingressaram (estiveram escritos),
mas não têm registo de aquisição ou de mera posse em vigor.
aquisição de direitos - aquisição derivada translativa - depende da prévia inscrição dos bens
em nome de quem os transmite, salvo quando apresentado o documento comprovativo do
direito transmitente perante o serviço de registo.
Portanto, um prédio não descrito ou descrito, mas sem inscrição em vigor, se for objeto de
negócio jurídico, violando-se o princípio da legitimação registal ou não se violando porque
se está no quadro das exceções ao princípio da legitimação registal, o que vai acontecer é que
depois de o negócio estar feito, o adquirente não vai conseguir registar a seu favor enquanto
não for feito o registo a favor do seu transmitente. A não ser que, como diz a lei, for
apresentado documento comprovativo do direito transmitente perante o serviço de registo.
II. Se o que se pretende é registar uma aquisição derivada constitutiva, vale o n.º 1,
segundo o qual o registo constitutivo de constituição de encargos - aquisição derivada
constitutiva - por negócio jurídico, depende da prévia inscrição dos bens em nome de quem
os onera.
Exemplo: Se tiver adquirido, através de negócio reduzido à forma de escritura pública, um direito de usufruto
de quem não consta no registo como titular registal e sobre um prédio que nem sequer está descrito no registo,
não vou conseguir registar o meu direito de usufruto enquanto não for descrito o prédio e não for registada a
propriedade a favor de quem lhe constituiu o usufruto.
Poderá achar-se que este princípio, nesta primeira modalidade, não tem assim tanta
relevância, mas tem. Este princípio, na primeira modalidade, só surgiu em 1959 e o que
acontecia até aí era que determinado prédio descrito e que nunca tinha consta dono registo,
consequentemente não tinha inscrição em vigor, não se sabia quem era o proprietário,
portanto:
Assim, haveria duas hipotecas pertencentes a pessoas diferentes sobre o mesmo prédio que
até aí não estava descrito e que passa a estar apenas para ter as hipotecas e fazia-se o registo
de direitos reais menores sem que estivesse previamente registado o direito de propriedade.
Nota 1. Direitos reais menores só acedem ao registo depois de estar descrito o prédio e de 72
2. Segunda modalidade (mais vulgar): Para hipóteses em que os imóveis estão descritos
e existe um registo de aquisição ou de mera posse em vigor (de aquisição, em regra, vale o
n.º 4, segundo o qual é necessária a intervenção do respetivo titular para poder ser lavrada
nova inscrição definitiva. Ou seja, é necessário que o título, que contenha o negócio jurídico,
tenha como sujeito passivo o titular registal. Assim, aquele que adquira um direito sobre um
prédio descrito com inscrição em vigor não vai conseguir o registo a seu favor enquanto não
estiver feito o registo a favor do seu alienante.
Exemplo: O prédio está descrito e consta como titular registal A e apresenta-se C que vem apresentar um
contrato de compra e venda nos termos do qual adquiriu o direito de propriedade de B. O conservador diz que
não pode fazer o registo como definitivo porque para isso C teria de ter adquirido de A que é titular registal
e a favor de quem funcionam as presunções. Só poderá fazer o registo como provisório por dúvidas. O C vai
ter de conseguir, para ter o seu registo como definitivo, que ingresse no registo o registo de B que está em falta.
Para tal terá de demonstrar que o B efetivamente adquiriu e que depois lhe podia transmitir validamente. B
poderá ter adquirido de A (titular registal) ou pode ter adquirido contra A (originariamente por usucapião,
p. ex.). Depois de ser feito o registo de B, aí já pode ser feito o registo a favor de C.
Na parte final diz salvo se o facto for consequência de outro anteriormente registado - é uma
situação de exceção em que se admite o registo definitivo apesar de no registo não constar
como titular do direito aquele que alienou ou onerou o direito.
Exemplo: Constava como titular registal - proprietário - A e A celebrou com B um contrato promessa dotado
de eficácia real e o contrato-promessa foi registo e o seu registo é o registo definitivo, no caso, a favor de B.
A violou a obrigação por si assumida e vendeu o imóvel a C, que solicitou o registo e conseguiu obte-lo como
definitivo, porque ele adquire de quem constava como titular registal que era A. É feito porque o conservador
não tem como saber se aquele contrato-promessa foi incumprido ou resolvido e, mais do que isso, porque os
O princípio do trato sucessivo destina-se a quem adquiriu o direito, impedindo aquele que
adquiriu o direito de obter o registo definitivo se tiver adquirido de quem não é o titular
registal e quem faz o controlo deste princípio é o conservador.
(1) As disposições legais aplicáveis: Não são apenas e só as disposições existentes no CRP
ou no CRP e no CN, são todas as disposições legais que possam ter relevância para a situação
concreta. Tais como as normas do CC, as normas em matéria do direito do urbanismo, as
normas fiscais, etc.
(2) Os documentos juntos pelo interessado que visam promover a feitura do registo: Irão
sustentar/suportar o pedido de registo.
Exemplo: Se A pretende que seja registada a seu favor a aquisição do direito de propriedade dizendo que
adquiriu através de um contrato de compra e venda vai ter de o juntar.
(3) Os registos anteriormente existentes: Para ver se pode fazer aquele registo sem violar o
princípio do trato sucessivo.
Assim, é de concluir que o conservador não tem de levar em linha de conta factos que
conheça em virtude da sua vida privada.
2. A legitimidade dos interessados, o que nos remete para o artigo 36.º do CN;
3. A regularidade (valia) formal dos títulos (ou seja, se a escritura pública foi bem lavrada ou
se o termo de autenticação tem todos os elementos que deveria ter) e a validade (valia)
substancial dos atos (,dos factos jurídicos ou dos negócios) neles contidos (nos títulos).
O controlo é de valia formal e substancial, não é apenas formal, não se vai limita a ver se o
facto jurídico está contido em escritura pública ou documento particular autenticado, vai ver,
também, se o facto é por si válido do ponto de vista substancial, se não padece de causas de
inexistência ou de nulidade, se não padece de vícios que possam ou devam conduzir à recusa
do registo - note-se que o registo deve ser recusado sempre que seja manifesta a nulidade do
facto jurídico.
Este princípio, com toda esta amplitude, não existe em todos os ordenamentos jurídicos. Há
ordenamentos jurídicos que apenas impõe ao conservador o controlo da valia formal do
título. Assim acontece, p. ex., em Itália, na França, na Bélgica e no Luxemburgo.
A questão dos conservadores fazerem este controlo quanto a regularidade formal do título e
valia substancial já conduziu a polémicas, porque os notários vinham dizer que se gera um
duplo controlo da legalidade.
O notário controla a legalidade para saber se pode ou não lavrar a escritura publica, verifica
se existem vícios substanciais ou não, designadamente se há coação ou simulação - porque
ele tem as partes perante si -, ele cumpre as normas quanto ao modo de redigir a escritura ou
o documento particular autenticado. Portanto, ele cumpre formalmente as normas para que
o título seja formalmente válido e faz o controlo da valia substancial do ato antes de o reduzir
a escrito e depois disto o conservador ainda vai verificar se o trabalho do notário foi ou não
bem feito.
De facto, há aqui algum duplo controlo, sobretudo na parte formal, mas aí é o primeiro
controlo, porque o notário foi o primeiro autor daquela escritura e, portanto, não se estava
a autocontrolar. Quanto aos vícios substanciais, naqueles que podem ser apurados também
pelo conservador, há um claro duplo controlo.
Exemplo: Não se pode dividir um imóvel em duas frações que sejam inferiores à unidade de cultura. O
notário tem de efetuar esse controlo, sob pena de o facto jurídico ali contido ser nulo e o conservador também
vai ter de fazer o controlo, antes de efetuar o registo.
Efeitos do registo
— O registo gera duas presunções: De acordo com o artigo 7.º do CRP, o registo gera
a presunção de que:
(1) O direito existe: Presume-se que o direito é válido e apto a produzir efeitos reais e que
existe tal como é publicitado, com aquela qualificação, conteúdo e amplitude.
São presunções ilidíveis, de acordo com a regra geral do artigo 350.º/2 do CC e isso mesmo
resulta também de algumas normas do CRP, como p. ex., o artigo 8.º, 13.º e 17.º, artigos em
que se admite a possibilidade de impugnar factos e se há possibilidade de impugnar factos é
porque se pode provar o contrário. Mas a verdade é que são presunções fortes, ao ponto que
quem quiser alegar o contrário é que vai ter que o provar.
Assegura que caso o autor ou causante venha a provocar um ato posterior incompatível ou
tenha praticado um ato anterior, se não registado não será oponível.
Exemplo: A vende a B, B, por mero efeito do contrato, por força do artigo 408.º do CC, por força do princípio
da consensualidade, adquiriu o direito de propriedade, que é um direito real, portanto oponível erga omnes.
Mas deve registar o seu direito para consolidar a oponibilidade, para impedir que possa surgir um terceiro
(com determinadas caraterísticas) que participando num determinado facto jurídico conduza a que o seu
direito, o direito de B, venha a decair ou a ficar onerado.
1. Servidões aparentes (servidões que se revelam por sinais visíveis - que não necessitam de
ser sempre os mesmos - e permanentes);
Nestas duas hipóteses, por disposição expressa da lei, independentemente do registo, o titular
da servidão ou do direito adquirido originariamente por usucapião, pode sempre opor o seu
direito, não necessitando do registo para consolidar a oponibilidade do seu direito. 76
1. Expropriação;
2. Outras forma de aquisição originária, como, p. ex., a acessão (as formas de aquisição
originária dão origem ao nascimento do direito).
Neste casos, o registo é meramente enunciativo, no entanto, recorde-se que quem tiver
adquirido um direito originariamente nunca poderá alienar ou onerar o seu direito sem o
registar previamente, a não ser que se esteja no campo das exceções do princípio da
legitimação. Já as servidões são insuscetíveis de serem transmitidas sem que seja transmitido,
em simultâneo, o direito de propriedade do prédio dominante e sendo transmitido o prédio
serviente também segue com o encargo.
Portanto, sem registo, a hipoteca não produz efeitos para terceiros, nem inter partes.
Não é uma questão de eficácia, é uma questão de existência do direito, porque a hipoteca é
um direito real de garantia. Os direitos reais de garantia atribuem ao seu titular o poder de
promover a venda judicial do bem e com o produto da venda satisfazer o seu crédito, com
preferência face aos demais credores. Não há, por isso, direitos reais de garantia sem
preferência. O que acontece na hipoteca é que a preferência das hipotecas é fixada pela data
do registo, ou seja, antes do registo, a hipoteca não assegura o credor e a sua preferência.
Assim, sem registo não há preferência e sem preferência não há direito real de garantia,
portanto o registo é constitutivo em matéria de hipoteca.
• Artigo 5.º/4 do CRP: Surge na hipótese em os terceiros são aqueles de quem o mesmo
autor ou causante adquiriram direitos total ou parcialmente conflituantes.
Exemplo: A vender a B e B registar imediatamente, consolida a oponibilidade erga omnes do seu direito, e,
portanto, se A (indevidamente) de seguida vender a C, C não conseguirá registar e, do ponto de vista
substantivo, não terá qualquer direito porque participou de uma venda a non domino - efeito consolidativo a
favor de B.
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Ao invés, se A vender a B e B não registar, não consolida a oponibilidade erga omnes do seu direito, e,
portanto, se (de seguida) A vender a C e C obtiver o registo, este registo a favor de C juntando-se com o
negócio jurídico que ele celebrou com A, negócio que era nulo porque de bem alheio, mas que não padece de
outra invalidade, dá o direito a C - efeito atributivo a favor de C.
Este artigo que protege os terceiros que participaram num negócio nulo e que, por isso, se
traduz a uma exceção ao princípio do nemo plus iuris. Esses terceiros saem beneficiados,
porque vêem o seu registo produzir (a seu favor) um efeito atributivo, que não se produziria
se o primeiro adquirente tivesse consolidado a oponibilidade erga omnes do seu direito.
• Artigo 291.º do CC: Surge na hipótese em que os terceiros são aqueles que, integrando-se
numa mesma cadeia de transmissões, poderão ver a sua posição afetada por uma invalidade
anterior ao negócio em que participaram.
É uma exceção ao princípio do nemo plus iuris e à regra da eficácia retroativa da nulidade e
da anulabilidade do artigo 289.º do CC, pois tudo se passa como se o negócio nulo ou anulado
nunca tivesse sido celebrado.
Exemplo: A vende a B um determinado bem e este negócio padecesse de uma causa de nulidade ou de
anulabilidade, mas antes de ser declarada a nulidade ou a anulabilidade ou antes de ser até registada a ação
tendente à declaração de invalidade, o B tivesse vendido a C e C, se não existisse o 291.º, nunca estaria seguro
de que a sua posição jurídica não podia vir a ser afetada em virtude de uma invalidade anterior ao ato em
que ele interveio.
O artigo 291.º prevê que o terceiro se tiver adquirido a título oneroso, de boa fé, bem imóvel
ou móvel sujeito a registo, se tiver efetuado o registo com prioridade - ou seja, antes do
registo da ação de nulidade ou de anulação - e se já tiverem decorrido 3 anos sobre a data do
negócio originariamente inválido, C não vai ser afetado pelo eficácia retroativa da nulidade
ou da anulabilidade. O registo juntamente com o negócio em que C interveio, e que não pode
padecer de causa de invalidade própria, vai ter o efeito atributivo, vai dar o direito a C.
Enquanto o artigo 5.º do CRP protege o terceiro perante um ato anterior válido, mas não
registado, o artigo 291.º do CC protege o terceiro perante um negócio anterior inválido,
mesmo que registado.
AULA 20 DE ABRIL DE 2021
SUMÁRIO:
Efeitos do registo
Artigo 5.º do Código do Registo Predial
Há é alguns terceiros perante quem o direito real é sempre oponível - não são esses
os que nos interessam, pois não são os do artigo 5.º do CRP -, mas perante os
terceiros do artigo 5.º do CRP é necessário registar/publicitar o direito para
consolidar a oponibilidade erga omnes; se não registados, tornam-se inoponíveis
perante esses terceiros.
Na falta de publicidade registal, o titular do direito sujeito a registo corre o risco de ver
constituída e registada a favor de outrem (que seja terceiro registal) uma situação jurídica
incompatível com a sua e que vai prevalecer sobre a sua, por beneficiar de registo prioritário
– a situação concreta pressuposta é a de um conflito entre titulares de direitos ou pretensões
sujeitos a registo.
Isto é assim porque o registo tem de assegurar aos terceiros (para efeitos de registo) que o
seu transmitente ainda não alienou ou onerou o bem anteriormente a outrem. Não podendo,
por isso, esses terceiros, ver a sua posição jurídica ser posta em causa em virtude da dita
alienação ou oneração que devia ter sido publicitada e não o foi. Assim, tudo se passará,
perante si, como se a alienação ou oneração não existisse, vai ser-lhe inoponível.
Os terceiros, para efeitos do artigo 5.º do CRP, são aqueles que adquiram do mesmo autor
ou causante (que tenham um causante ou autor comum) direitos total ou parcialmente
conflituantes sobre a mesma coisa - para resolver conflitos entre aquisições derivadas de
direitos sujeitos a registo -, direitos esses que têm de aceder ao registo, sob pena de
inoponibilidade:
3. As aquisições ex lege
79
A é proprietário de um imóvel e deu-o de arrendamento a B. Posteriormente, pretendeu alienar o seu imóvel.
De acordo com a lei, o arrendatário tem direito de preferência. É um direito que emerge da lei e, porque assim
é, não tem de ser registado para ser oponível perante terceiros. Portanto, se o A não cumprir a sua obrigação
de dar preferência e vender o bem a C, C não poderá dizer que o direito de preferência de B lhe é inoponível
porque não foi registado, o B adquiriu um direito por força da lei.
Sempre que em causa esteja uma aquisição deste tipo, estas prevalecem independentemente
de serem registadas ou não. Nestes casos, o registo não é condição de oponibilidade ou não
é um pressuposto para que se consolide a oponibilidade destas situações jurídicas. Portanto,
quanto a estas não há conflitos quanto a terceiros.
1. Aquele que adquire um direito de crédito ou um direito pessoal de gozo não sujeito
a registo.
A vende o imóvel a B e B não regista. Por força do princípio da consensualidade, B tornou-se proprietário do
imóvel e, em virtude do princípio da publicidade, ele deveria ter solicitado o registo do seu direito de propriedade
para consolidar a oponibilidade perante quem quer que fosse e, sobretudo, perante certos e determinados
terceiros.
Depois da sua aquisição, A dá em comodato o imóvel a C. C adquire um direito pessoal de gozo que não é
sujeito a registo. C não é terceiro. C não pode dizer que não respeita o dever geral de abstenção e que não
reconhece o direito de B uma vez que esse não foi registado, porque ele não é terceiro.
A vende a B, B não regista e A depois morre. Em partilhas, o bem coube ao herdeiro de A que é C. C não
beneficia da tutela do artigo 5.º. C não pode dizer que a aquisição lhe é inoponível por não ter sido registada
porque C é herdeiro de A.
A vende a B e B não regista e A vende a C e C regista. É uma dupla alienação, pelo mesmo autor, da
mesma coisa, a duas pessoas diferentes. Vai prevalecer a segunda aquisição, que é a primeiramente registada,
apesar do negócio entre A e C se traduzir numa venda a non domino ou numa venda de coisa alheia. Esta é
a hipótese em que, por força do negócio celebrado entre A e C, o C acaba por adquirir o direito. O registo de
C, que se junta a um negócio que não padece de qualquer causa de invalidade, para além da ilegitimidade do
causante decorrente de uma anterior disposição válida - este registo e este negócio - atribui o direito a C. E
porque atribui o direito a C e porque não podem existir dois direitos reais incompatíveis sobre a mesma coisa,
este registo tem uma função resolutiva do direito de B e uma função atributiva para C.
Confronto entre um direito real menor (constituído em 1.º lugar) e o direito de propriedade
plena (constituído em 2.º lugar): A constitui a favor de B um direito de usufruto e B não
80
regista o seu direito. De seguida, A aliena propriedade plena a C e C obtém o registo da
propriedade plena.
Quando A aliena a C a propriedade plena já não era titular da propriedade plena, era apenas titular do
direito de propriedade de raiz ou da nua propriedade. No entanto, B não tinha registado, ou seja, não tinha
consolidado a oponibilidade erga omnes do seu direito. Consequentemente, C não pode ficar prejudicado por
tal situação. Então, o registo de C da propriedade plena juntamente com o negócio padecido de invalidade,
que era a ilegitimidade do A, decorrente da anterior constituição do usufruto - o registo e este negócio - tem
uma função resolutiva do direito de B e uma função atributiva para C, porque atribuem a C a propriedade
plena e porque ela é incompatível com o usufruto primeiramente constituído, o usufruto vai decair.
Quer dizer que o direito primeiramente adquirido cai, não só quando tem o mesmo âmbito
ou conteúdo que o direito adquirido em segundo lugar, mas primeiramente registado, mas
ainda quando tem um âmbito menor.
O direito primeiramente constituído e não registado ser mais amplo do que o constituído em segundo lugar: A
transmite a B o seu direito de propriedade, que não registou, e depois A hipoteca o imóvel ou constitui um
direito de usufruto sobre o imóvel. C participou de um negócio nulo porque em causa estava a constituição de
hipoteca ou usufruo sobre coisa alheia. No entanto, se registar, o registo mais este negócio celebrado com A,
desde que esse negócio não padeça de outra causa de invalidade para além da ilegitimidade de A, decorrente
da anterior disposição válida, o registo e o negócio vão dar o direito a C, que se torna credor hipotecário. C
vai poder, caso não veja satisfeito o seu crédito, nomear à penhora e promover a venda judicial do bem,
satisfazendo com preferência o seu direito de crédito perante os demais credores, com um bem que afinal já não
era de A, era de B.
C fica credor hipotecário, mas não é preciso que B deixe de ser proprietário, porque o direito
constituído em segundo lugar, mas registado prioritariamente, tem um âmbito menor do que
o primeiro. É suficiente, quando a lei atribui o direito a C, que este direito fique onerado com
o direito mais amplo que foi constituído anteriormente, mas não foi registado. Ou seja, a
atribuição do direito ao terceiro registal não conduz à extinção da totalidade do direito, mas
há oneração do direito primeiramente constituído e não registado.
IV. O terceiro participa num negócio a non domino, mas adquire o direito. Em causa
está um facto aquisitivo complexo a favor do terceiro que supõe dois elementos
(cumulativos) para que o terceiro adquirir:
A atribuição ao terceiro do direito, porque não podem existir dois direitos incompatíveis
sobre a mesma coisa, conduz à resolução do direito primeiramente adquirido e não registado. 81
Ou seja, o registo tem uma função atributiva do direito para o segundo adquirente e uma
condição resolutiva de todo o direito ou parte do direito em relação ao primeiro adquirente
que não registou.
Ocorre esta aquisição quando o facto aquisitivo complexo está completo - com o registo,
com eficácia para o futuro (ex nunc e não ex tunc). É isto que faz sentido porque:
- Por um lado, porque as condições legais, em regra, produzem efeitos para o futuro;
- Por outro lado, está em causa o facto complexo com dois elementos, por isso não pode
produzir efeitos antes que o segundo elemento esteja verificado.
V. O artigo 5.º só se aplica às hipóteses que nele caibam, por isso não se resolve com
o artigo 5.º o seguinte caso:
No entanto, apesar desde conflito entre B e D não conduzir à aplicação do artigo 5.º, o mesmo é dizer o facto
de um conflito entre o adquirente imediato de A (B) e o adquirente mediato de A (D) não ser resolvido pelo
artigo 5.º, a verdade é que, antes desse conflito, houve um conflito entre B e C (A vendeu a B que não registou
e A vendeu a C e este registou e depois este é que vende a D) que já é suscetível de ser resolvido pelo artigo
5.º.
Então, sempre que tal aconteça, sempre que antes do conflito atual tenha existido um conflito
para efeitos do artigo 5.º, aplica-se o artigo 5.º para resolver esse conflito e com isso sabe-se
como resolver o atual.
De acordo com o artigo 5.º, o C vai ser titular do direito - o registo feito por C juntamente
no negócio em que interveio vai-lhe atribuir o direito, porque lhe atribui o direito, em
consequência e em conformidade com o que são os direitos reais e os princípios dos direitos
reais, o direito de B decai, deixa de existir. Assim, quando C transmite o direito a D transmite
um direito que é seu, logo D adquiriu a domino.
Por isso, o conflito que há é entre a posição do B (que é nada) e a de D (que é do titular de
um direito real, porque adquiriu de quem era titular de um direito real).
VI. O terceiro que é tutelado pode ou não ser acautelado quando adquira
gratuitamente?
1) O terceiro não devia ser protegido quando adquiria a título gratuito porque não tinha feito
um esforço económico e, portanto, não fazia sentido que saísse a lucrar;
2) O registo visava dar segurança ao comércio jurídico e que este não era composto por
operações gratuitas, mas sobretudo por negócio onerosos;
3) O artigo 291.º do CC e o artigo 17.º do CRP também exigiam a onerosidade e, por isso,
devia-se aplicar por analogia este requisito ao artigo 5.º.
1) O primeiro adquirente só corre o risco de perder o seu direito se não registar, se cumprir
o ónus de registar e, desde 2009, a obrigação de registar, nunca perderá o seu direito, portanto
não faz sentido estar sempre a acautelá-lo a ele em detrimento de quem adquire a título
gratuito;
2) Se é certo que o comércio jurídico é formado, sobretudo, por negócios onerosos, também
é verdade que tem mais certeza e estabilidade se todos aqueles sobre quem impende o ónus
de registar e, desde 2009, a obrigação, se efetivamente registarem;
4) Se os terceiros adquirentes a título gratuito não têm a tutela do artigo 5.º, só vão registar
quando quiserem registar ou onerar, por força do princípio da legitimação;
5) Porque é que o registo de aquisições gratuitas deve ser obrigatório se nenhuma tutela dá a
estes terceiros?;
6) Não podia ser aplicado o requisito da onerosidade por analogia com o artigo 291.º do CC
nem com o artigo 17.º do CRP, porque só deve ser aplicado por analogia uma norma ou um
requisito se as situações forem análogas e, no caso, não o são. Ora, a situação prevista no
artigo 5.º do CRP é diferente da que está prevista no artigo 291.º do CC e também no artigo
17.º do CRP. No artigo 5.º do CRP são terceiros aqueles que do mesmo autor ou causante
adquirem direitos total ou parcialmente conflituantes - este protege o terceiro que primeiro
regista e que participa de negócio inválido, mas que só padece dessa causa de invalidade,
perante um negócio anterior válido, mas não registado. No artigo 291.º são terceiros aqueles
que integrando-se numa mesma cadeia de transmissões poderiam ver a sua posição afetada
em virtude de uma invalidade anterior ao ato em que intervieram, por força da eficácia
retroativa da nulidade ou anulabilidade - protege o terceiro que regista perante um negócio
anterior inválido registado ou não. O artigo 17.º do CRP protege um titular registal e a valia
do seu registo perante uma invalidade de um registo anterior.
83
VII. O terceiro tem ou não de estar de boa fé?
Este requisito continua a ser debatido: Tanto a jurisprudência, como a maioria da doutrina
exige a boa fé do terceiro. A diversidade das suas posições passa pelo tipo de boa fé exigida:
há quem entenda que é boa fé em sentido psicológico e há quem entenda que é boa fé em
sentido ético. Já a Escola de Coimbra nunca defendeu o requisito da boa fé para que o
terceiro pudesse ser tutelado.
O terceiro só é protegido porque confia que o registo espelha a realidade substantiva e porque
desconhece, com ou sem culpa, consoante as posições assumidas, que anteriormente o
causante já tinha alienado ou onerado.
Não faz sentido proteger um terceiro que tem conhecimento da situação e que sabe que está
a participar num negócio a non domino. Portanto, exige-se a boa fé.
Não há necessidade de dar publicidade através do registo de uma situação jurídica anterior
quando o terceiro a conhece ou devia conhecer, consoante se exija a boa fé em sentido ético
ou psicológico.
1) O primeiro adquirente só corre o risco de ver decair o seu direito se não cumprir o ónus
ou a obrigação de registar e, portanto, não faz sentido exigir o requisito da boa fé ao terceiro.
Não exigir o requisito da boa fé para o terceiro ser tutelado é, até, uma forma de estimular o
registo, de conduzir a que o primeiro adquirente de facto cumpra o ónus ou a obrigação de
registar;
1) Não se deve exigir a boa fé por aplicação analógica do artigo 291.º do CC e do artigo 17.º
do CRP, pois as situações não são próximas e, por isso, não justificam uma aplicação
analógica;
3) Proteger o terceiro de má fé pode ser visto como a única forma de proteger os seus sub-
adquirentes de boa fé.
A vende a B a propriedade de um bem imóvel e B não registou. A vende esse imóvel a C, que sabia do negócio
entre A e B, e regista para que o artigo 5.º funcionasse a seu favor, mas como estava de má fé não funciona
o artigo 5.º. Mas o C, a seguir a ter celebrado este negócio a non domino e a ter registado, hipotecou o imóvel
a um sub-adquirente de boa fé, que nada sabia sobre o negócio entre A e B e quanto ao facto de C saber do
negócio entre A e B.
4) É muito maior a certeza e a estabilidade para o tráfico jurídico e do sistema registal se não
se exigir boa ou má fé, ou seja, podemos pensar que não exigir o requisito da boa fé e tutelar,
eventualmente, um adquirente de má é um mal necessário, é o preço que se aceitou pagar.
Quando A celebra negócio com C quer A quer C estão a praticar um facto ilícito e deve-se
apurar da eventual responsabilidade de ambos.
Quando A vende a B e transmite o seu direito de propriedade sabe que fica privado dele. Se
B não regista e se de seguida A aproveita-se desse facto e transmite o mesmo direito a C, que
conhece o negócio entre A e B, quando A celebra o negócio com C está claramente a praticar
um facto ilícito, está a violar o direito de propriedade de B que se tornou proprietário por
mero efeito do contrato, por força do princípio da consensualidade, e está a celebrar um
negócio a non domino.
Claro que este segundo negócio - entre A e C -, num primeiro momento, é ineficaz e é nulo,
porque é venda de coisa alheia, mas a verdade é que é este segundo negócio que permite o
• Ou ainda não concluiu o contrato e, por isso, houve violação do dever acessório ou lateral
de lealdade que impede que as partes assumam compromissos que frustrem o objeto visado
pelo negócio ou comportamentos que afetem o equilíbrio das prestações fixadas pelas partes;
• Ou, estando concluído, mesmo que já estejamos no campo da pós-eficácia das obrigações,
houve violação do dever de lealdade, pois não basta celebrar o contrato e cumprir as
obrigações a ele inerentes. A lealdade traduz-se na necessidade de, para além da realização
formal da prestação, providenciar a efetiva obtenção e manutenção do escopo visado, ou
seja, de omitir de comportamentos que prejudiquem o fim do negócio.
Não se pode dizer que, ao celebrar o segundo negócio, ele não comete nenhum facto ilícito
porque não decorre nenhum dano, que o dano só decorre depois com o registo, pois o
negócio é pressuposto do registo. É claro que o negócio antes do registo era nulo e perante
B era ineficaz, mas a verdade é que se C estava de má fé quando celebra o negócio e ele
celebra-o porque sabe que vai obter o registo e porque vai sair ganhador.
Portanto, ele pratica um facto ilícito quando celebra aquele negócio, negócio que é causa
adequada para gerar o dano, é abstratamente idóneo para obtenção do registo. Mais, desde
2009, em que o registo se tornou obrigatório, o C, se estiver de má fé, sabe que nem precisa
de fazer mais nada para além de celebrar o negócio, a não ser pagar os emolumentos ao
titulador, porque será este o obrigado a solicitar o registo.
Também não se pode vir dizer que o primeiro adquirente sempre poderia evitar o dano se
tivesse solicitado o registo e, por isso, o C não deve incorrer em responsabilidade. O
argumento de que o primeiro adquirente poderia ter registado, evitando o dano, aqui, quando
se tenta apurar se o C de má fé deveria ou não responder, já não procede.
86
1. O primeiro adquirente que não solicita o registo e não cumpre um ónus ou um ónus e
uma obrigação;
Por isso, o primeiro adquirente, que vê o seu direito decair, tem direito a ser ressarcido do
dano, nos termos do artigo 562.º do CC.
De acordo com o artigo 562.º do CC, o ressarcimento não tem de ser (porque não pode ser)
in natura e, sempre que o ressarcimento não pode ser in natura, é feito em dinheiro/ pecunia.
Neste caso, não pode ser in natura porque não se consegue colocar o primeiro adquirente na
situação em que estaria caso mantivesse o direito adquirido. Na melhor das hipóteses,
poderia-se pensar a condenar o terceiro a transmitir o seu direito ao primeiro adquirente, mas
este não ficaria na mesma situação, porque, nesse caso, iria adquiria do terceiro e adquiria a
partir daquele momento; quando, antes, se terceiro não tivesse tido qualquer intervenção, o
primeiro adquirente manteria o seu direito adquirido, desde a data em que celebrou o
negócio.
O facto de ser indemnização, no entanto, não é pior do ponto de vista conceptual ou teórico,
porque podemos levar em linha de conta a atuação ou o comportamento culposo do próprio
primeiro adquirente. Nos termos do artigo 570.º do CC, na hipótese de facto culposo do
lesado ter concorrido para a produção ou agravação dos danos, cabe ao tribunal determinar,
com base na gravidade das culpas de ambas das partes e das consequências que dela
resultaram, se a indemnização deve ser (1) totalmente concedida, (2) reduzida ou (3) excluída.
Neste caso concreto, quando se fala de culpa do lesado utiliza-se a expressão culpa com
pouco rigor, porque a culpa pressupõe um facto ilícito danoso para outrem, que não é o caso.
87
Portanto, quando se fala aqui em culpa do lesado, o que se quer dizer é que desde que o
lesado tenha assumido um comportamento ou praticado um ato que tenha sido concausa do
prejuízo, mesmo que esse ato não tenha caráter ilícito.
• Antes de 2009, B, ao não cumprir o ónus de registar, praticava um comportamento que era
concausa para o dano e, portanto, a indemnização poderia ser reduzida.
• Depois de 2009, quando já há obrigação de registar, se houver ausência de registo por parte
de B teremos que ver se a ausência do registo se traduz num comportamento culposo do
lesado ou não.
Pode acontecer que B tenha celebrado o negócio jurídico com A e tenha imediatamente
entregue os emolumentos para o registo ao titulador e que, dentro do prazo de 2 meses, o
titular ainda não tenha solicitado o registo e seja celebrado o segundo negócio entre A e C.
Caso em que o B foi zeloso. Nesta hipótese, não se pode dizer que o comportamento de B
foi con-causa do dano e ele vai ser ressarcido na integra.
Isto para dar conta que esta solução de não exigir a boa fé do terceiro, mas de o
responsabilizar, do ponto de vista da responsabilidade extracontratual, solidariamente com o
dante causa, que incorre em responsabilidade contratual e extracontratual, poderia faciliar
muito a situação na prática:
1. O primeiro adquirente perdia o direito, mas era ressarcido do dano, na medida devida,
tendo sempre em conta se ele tinha ou não colaborado na ocorrência do dano;
5. Assegurava-se uma aplicação automática do artigo 5.º do CRP, sem ser perturbado por um
elemento psicológico ou ético - a boa fé.
Será que terceiros, para efeitos do artigo 5.º do CRP, são apenas aqueles que adquiremcom
base na vontade do autor comum (dante causa) ou também são aqueles que adquirem direitos
ao abrigo da lei, tendo como sujeito passivo aquele causante, não obstante ele não ter
participado nos atos jurídicos de que tais direitos resultam? É suposto haver vontade do
dante causa comum ou não?
Até 1997:
• A jurisprudência afirmava, de forma maioritária, se não unânime, que terceiros eram apenas
aqueles que adquirissem com base na vontade do autor ou causante comum.
Portanto, não era terceiro aquele que obtivesse uma hipoteca judicial, um arresto ou uma
penhora nem aquele que adquirisse no final da ação executiva (conceção restrita de terceiro).
• A doutrina maioritariamente defendia que terceiros eram aqueles que adquiriam do mesmo
alienante direitos incompatíveis com base na vontade desse alienante, mas também aqueles
cujos direitos fossem adquiridos ao abrigo da lei e que tivessem esse alienante como sujeito
passivo, mesmo que ele não tivesse intervido diretamente nos atos jurídicos de que tais
direitos resultaram, ou seja, para a doutrina, a vontade do autor comum não assumia
relevância. Se o terceiro adquiriu ao abrigo da lei contra o autor comum, mas contra ele,
designadamente por penhora, por arresto, por hipoteca judicial ou a final no âmbito da ação
executiva, devia ser havido como terceiro (conceção ampla de terceiro) Exemplo de penhora
(cont. do exemplo supra): De acordo com a jurisprudência, o banco não era terceiro, pois a
penhora tinha ocorrido contra a vontade de A - o artigo 822.º do CC determina que o
exequente, após a penhora, passa a ter o direito de satisfazer o seu crédito com preferência
face aos demais credores, à custa do bem penhorado. A doutrina era contra e avançou um
um conjunto de argumentos que valiam para a penhora, para o arresto e para a hipoteca
judicial:
1. A penhora é um facto sujeito a registo que, se não for registado, não consolida a sua
oponibilidade perante aos terceiros. Então, factos também sujeitos a registos, sob pena de
inoponibilidade, têm de ser registados, se não devem ser considerados inoponíveis perante a
penhora, ou seja, é preciso defender a conceção ampla;
2. Com a penhora e com o respetivo registo, de acordo com o artigo 822.º do CC, o
exequente adquire um direito real de garantia. Portanto, o exequente passa a poder satisfazer
o seu crédito com preferência face aos demais credores à custa daquele bem, por isso não
faz sentido distinguir o exequente que nomeia o bem à penhora de um credor que tenha uma
89
hipoteca;
4. O artigo 822.º do CC consagra um verdadeiro direito real e, portanto, não faz sentido que
este direito real do terceiro não seja oponível sem registo, mas que contra ele seja oponíveis
direitos anteriores, adquiridos e não registados quando deviam ter sido;
5. O artigo 824.º do CC seria contrariado, artigo que determina que os bens, no âmbito da
ação executiva, são transmitidos livres dos direitos de garantia que os oneram, bem como
dos demais direitos reais que não tenham registo anterior ao de qualquer arresto, penhora ou
garantia, com excepção dos que, constituídos em data anterior, produzam efeitos em relação
a terceiros independentemente de registo;
6. Acresce que defender a conceção restrita de terceiros põe em causa todo o procedimento
judicial, a ação executiva e a justiça.
7. A tutela concedida a terceiro não pode depender do intuito espoliatório do titular registal,
não é razoável.
Por isto, em 1997, a maior parte da doutrina dizia que não era razoável distinguir a hipótese
de aquisição por diferentes pessoas de direitos incompatíveis sobre o mesmo bem, por atos
negociais sucessivos, do titular inscrito da aquisição, em consequência de ato unilateral de
terceiro intermediado ou não pela autoridade pública, mas nos termos da lei. Ou seja, não
fazia sentido distinguir o terceiro que tinha adquirido com base no autor comum do terceiro
que tenha adquirido num arresto, numa penhora, numa hipoteca judicial ou que tinha
adquirido no final da ação executiva.
Em 1997, o STJ teve de se pronunciar sobre esta matéria, porque começaram a surgir
posições contraditórias de diversos tribunais, através de acórdão de uniformização de
jurisprudência e optou pela conceção ampla de terceiros (defendida pela doutrina e ao
contrário do que era defendido pela generalidade da jurisprudência).
No entanto, o aresto que saiu do Supremo não foi bem formulado. Nos termos do dito
aresto, terceiros, para efeitos de registo predial, são todos os que tendo obtido o registo de
um direito sobre determinado prédio, veriam esse direito arredado por facto jurídico anterior
Porque este acórdão não estava de acordo com a maior parte da jurisprudência, em 1999, o
STJ volta-se a pronunciar sobre esta questão, afastando a conceção amplíssima e ampla de
terceiros e, portanto, (aparentemente) consagrando a conceção restrita, nos termos da qual
era suposto adquirir com base na vontade do mesmo autor ou causante exige boa fé por
parte do terceiro. Acontece, porém, que quando se analisa em rigor o acórdão de 1999, o STJ
adotou uma conceção intermédia (entre a restrita e a ampla): são terceiros os adquirentes de
boa fé de um mesmo transmitente comum de direitos incompatíveis sobre a mesma coisa
(aquisição derivada translativa).
De acordo com o STJ, apesar de não ter dito isto, mas ser isto que resulta da fundamentação
do aresto, o credor que nomeia o bem à penhora e que passa a ter o direito, nos termos do
822.º do CC, ou o arrestante ou o credor que beneficia de um hipoteca judicial não é terceiro
(aquisição derivada constitutiva - adquire um novo direito e não o direito que o executado
tinha), mas se a ação executiva correr os seus termos e chegar ao fim e, a final, ocorrer a
venda e a adjudicação do bem, o adquirente por adjudicação ou por venda judicial já é
terceiro. Era suposto haver vontade do mesmo autor ou causante, mas essa vontade só era
relevante no início da ação executiva. Por isso, se a ação chega ao termo com venda ou
adjudicação o adquirente, apesar de adquirir da ação executiva e contra a vontade do
executado, já era havido como terceiro.
Esta posição do STJ compreende-se, do ponto de vista prático, porque defender a posição
restrita põe em causa o processo executivo, a posição do credor e a credibilidade da justiça,
mas, do ponto de vista conceptual, é estranhíssima, porque os argumentos que poderiam
servir de base aos embargos de terceiro, quando os embargos de terceiro não devam ser
julgados procedentes, também não podem ser julgados procedentes no fim da ação executiva.
Quando se deduz os embargos e se vem dizer levanta-se a penhora sobre esse bem, porque
o bem é meu, com isto diz-se que se levarem até ao final a ação executiva depois vou pedir
a ação de nulidade da ação e vou intentar a ação de reivindicação.
O que o STJ diz, de acordo com este aresto, é o seguinte: A vende a B e B não regista e se o
credor intentar uma ação executiva e nomear à penhora o bem de B, registado em nome de
A, no âmbito da ação executiva, B não pode vir deduzir embargos, porque não precisa.
Fazer ou não é igual, será sempre protegido a final, porque o exequente não é terceiro e não
é protegido. Portanto, se B deduzir embargos a ação executiva para, mas se nada fizer e se
deixar a ação chegar ao fim e se o bem for vendido a um terceiro, B não pode pedir a ação
de nulidade da venda executiva nem intentar a ação de reivindicação.
O que não faz sentido, porque quando os embargos são julgados procedentes, apesar de não
terem sido no final da ação executiva, pode vir a ser pedida a declaração de nulidade da venda
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e intentada a ação de reivindicação. Defender a posição restrita perante o exequente implica
defende-la perante o adquirente da venda executiva. Se se disser que ao deduzir os embargos
pode ver levantada a penhora e não pode se fazê-lo a posteriori através de uma ação de
nulidade e de uma ação de reivindicação é criar confusão.
Em 1999, através do Decreto-Lei n.º 533/99, o legislador veio tomar posição no assunto,
introduzindo o artigo 5.º/4 do CRP. No preâmbulo, o legislador tomou posição pela
conceção restrita de terceiro, sem exigir a onerosidade nem a boa fé. No entanto, o artigo
5.º/4 do CRP diz-se apenas que são terceiros, para efeitos de registo, aqueles que tenham
adquirido de um autor comum direitos incompatíveis entre si. Diz-se de um autor comum,
não se diz com base ou contra a sua vontade e introduziu-se a expressão autor para não
limitar a tutela do terceiro à aquisição derivada translativa (como tinha sido feito pelo STJ,
em 1999), abrangendo quer a aquisição derivada translativa, quer a aquisição derivada
constitutiva.
Para DOUTORA MÓNICA JARDIM é claro que, desde 1999, vigora, entre nós, a
conceção restrita de terceiro – são aqueles que do mesmo autor ou causante, com base na
sua vontade, recebam direitos incompatíveis entre si. Esta conceção é indefensável!
Não faz sentido que o penhorante, o arrestante, o titular de uma hipoteca judicial, o
adquirente de uma venda executiva e aquele que adjudica no âmbito da ação executiva não
possa ser havido como terceiro. Todos os argumentos avançados pela doutrina quanto à
conceção restrita, em 1997, continuam a valer aqui! O legislador não devia ter consagrado a
conceção restrita, fê-lo indevidamente e devia voltar a trás, pois essa conceção é o descrédito
da ação executiva, é o descrédito do processo executivo, é a incerteza e a insegurança dos
credores.
Desde 2011, a jurisprudência uniformemente, sem exceção, decide com base na conceção
restrita: terceiros são só aqueles que adquirem com base na vontade do autor comum (até
então, a jurisprudência ia exitando, adotando a posição intermédia ou a posição restrita). Ao
invés, a doutrina, toma a posição inversa, defende a conceção ampla, tal como defende
DOUTORA MÓNICA JARDIM:
• CLARA SOUTO MAIOR: Defende que, fazendo uma interpretação com base em
elementos racionais e sistemáticos, se pode chegar à conclusão que o legislador consagrou
uma conceção ampla — DOUTORA MÓNICA JARDIM não vê como, porque o legislador
92
foi claro no preâmbulo.
Posto isto, devia ter sido adotada a conceção ampla e não a conceção restrita, como foi
adotada.
Neste momento, por força do artigo 824.º do CC, quanto aos direitos reais menores de gozo
constituídos antes do registo da penhora ou antes de qualquer garantia feita valer na ação
executiva, mas que não tenham sido inscritos no registo ou só tenham sido inscritos
posteriormente à penhora ou à garantia que é feita valer na ação executiva, temos de
distinguir:
— Se o direito real de gozo foi publicitado pelo registo após o registo de uma garantia real
convencional feita valer no processo executivo, esta hipótese, mantém-se em vigor o n.º 2
do artigo 824.º do CC porque, como é óbvio, a conceção restrita de terceiros não assume
aqui relevância – o conflito é entre um direito real menor de gozo e um direito real de garantia
adquirido com base na vontade do executado; ambos os direitos foram adquiridos com base
na vontade do executado e, como é evidente, a garantia primeiramente registada prevalece.
93
— Se o direito real de gozo foi publicitado pelo registo após a inscrição de uma hipoteca
judicial ou arresto (convertido em penhora) ou penhora, feitos valer no processo executivo
(portanto, em confronto já está um direito fundado na vontade do autor comum contra uma
direito não fundado na vontade), o direito real de gozo, apesar de não registado, não caduca
e prevalece, porque não temos terceiros, na defesa da conceção restrita de terceiros. Por
isso, nesta hipótese, o artigo 824.º/2 do CC é revogado, no entender da DOUTORA
MÓNICA JARDIM, pois, em princípio, nesta hipótese, o direito real de gozo caducaria,
perante a garantia real feita valor na ação executiva.
SUMÁRIO:
Efeitos do Registo
Artigo 291.º do CC
O artigo 291.º do CC
94
O artigo 289.º do CC consagra a eficácia retroativa da nulidade ou da anulabilidade, o que
significa que se um negócio padecer de nulidade ou de anulabilidade, uma vez declarado nulo
ou anulado, é como se não tivesse sido celebrado.
Esta a situação-regra na generalidade dos países, ou seja, os terceiros que se integrem numa
mesma cadeia de transmissões podem ver a sua posição jurídica afetada em virtude de uma
invalidade anterior ao ato em que participaram, invalidade anterior que uma vez declarada
produz efeitos retroativos e que consequentemente vai gerar uma invalidade em sequência
dos negócios posteriores.
Esta realidade gera incerteza e insegurança aos terceiros, porque eles nunca podem
confiar que vão permanecer titulares do direito, na medida em que não sabem se o seu
causante participou ou não de um negócio que a final era nulo ou que viria a ser anulado e,
se tal acontecer, se o negócio for declarado nulo ou vier a ser anulado, produzir-se-ão efeitos
Esta era a realidade em Portugal, até ao atual CC. Nos trabalhos preparatórios do CC, estes
artigos foram atribuídos ao DOUTOR RUI ALARCÃO que entendeu que era preciso dar
maior segurança ao comércio jurídico e tutelar os terceiros (aqueles que pretendiam adquirir
a garantia de que efetivamente adquiriam, para não estarem sempre e a todo o momento
sobre a possibilidade de ser posto em causa o seu negócio, em virtude da eficácia retroativa
da nulidade ou da anulabilidade). É neste quadro que, em 1967, surge o artigo 291.º do CC,
direito registal, que este terceiro tenha de adquirir de quem conste como titular registal 95
ou não (questão esta que é relativamente recente, pois não se colocava até 1984, porque até
aí não existia o princípio da legitimação). Questiona-se isto, mesmo entre nós onde vigora o
que o princípio da legitimação registal não seja cumprido (este princípio impõe-se àquele
que quer alienar ou onerar e é objeto de controlo por parte do titulador, mas se o titulador
não der cumprimento ao princípio da legitimação o negócio é celebrado e válido). Na
perspetiva da DOUTORA MÓNICA JARDIM, não é requisito de aplicação do artigo 291.º
adquirir de titular registal;
2. A título oneroso;
3. De boa fé: A boa fé que é exigida ao terceiro é a boa fé em sentido ético e não em
que no momento da aquisição, desconhecia e não devesse conhecer, sem culpa, o vício
do negócio anterior;
4. Por negócio jurídico: Este artigo aplica-se a negócios jurídicos e não a vendas executivas;
requisitos, é atributivo, porque o terceiro que preencha esse conjunto de requisitos vai
o direito, não podem existir dois direitos incompatíveis - o direito do terceiro e o direito
No caso de o terceiro adquirir de não titular registal, o registo será provisório por
dúvidas, porque o terceiro não está adquirido do titular registal, de acordo com o
1) Pede o registo a favor do seu causante e depois o seu, caso em que são ambos
2) Pede o seu registo sem o registo do seu causante e o seu registo será feito como
provisório por dúvidas. Caso em que para ver seu registo convertido em definitivo 96
trato sucessivo.
Apesar do princípio do trato sucessivo nos conduzir a que se afirme que o terceiro só
consegue ter o registo definitivo a seu favor se previamente for feito o registo definitivo
a favor do seu dante causa, isto não implica que se diga que o terceiro não pode beneficiar
do artigo 291.º do CC se o terceiro não adquirir de titular registal, porque é possível solicitar-
se posteriormente o registo definitivo do dante causa.
7. Com prioridade sobre a ação de nulidade ou de anulação: Note-se que este artigo só
(p. ex., forjou-se uma escritura de compra e venda ou houve coação física).
numa enorme redução temporal para reagir contra a nulidade, porque a nulidade pode
ser arguida a todo o tempo (artigo 286.º do CC). Já se em causa estiver um negócio que
padeça de uma anulabilidade, o prazo para intentar a ação é o prazo que está previsto
O artigo 291.º do CC pode não conceder uma tutela imediata ao terceiro, pois o terceiro, que
regista o negócio em que interveio com prioridade sobre o registo da ação de nulidade ou de
anulação do negócio anterior ao seu, o terceiro só é protegido imediatamente se já tiverem
decorrido mais de 3 anos sobre a data do negócio nulo ou anulável.
Esta foi a forma encontrada para, por um lado, tutelar os terceiros e o comércio jurídico, e,
por outro lado, permitir que o verdadeiro proprietário ainda tenha tempo para reagir contra
a nulidade ou anulação, porque pode suceder que o verdadeiro proprietário tenha celebrado
o negócio, p. ex., sobre coação.
2. Estiver de boa fé: Segundo a DOUTORA MÓNICA JARDIM, a boa fé que é exigida
ao terceiro é a boa fé em sentido psicológico e não em sentido ético, o que significa que é
97
considerado de boa fé o terceiro adquirente que desconhecer o vício anterior. Não se deve
exigir uma boa fé em sentido ético, porque:
(1) Não parece legítimo exigir ao titular registal (homem médio) que desconheça, sem culpa,
vícios registais anteriores, porque isso implicaria exigir-lhe que tivesse conhecimentos
jurídicos, conhecimentos próprios de um profissional técnico especializado formado para ter
a competência de lavrar registos;
(2) Sempre que em causa estejam vícios intrínsecos (traduz-se na violação de regras
estritamente registais quanto à feitura do registo) ou um vício extrínseco que se traduza numa
nulidade manifesta, ou seja, que envolva a violação do princípio da legalidade, e que,
portanto, devesse ter conduzido à recusa do registo, mas mesmo assim o registo tiver sido
feito, este registo, para além de ser extrinsecamente inválido, também o é intrinsecamente
por violação do princípio da legalidade. Nestes casos, impor a boa fé em sentido ético
implicaria impor ao titular registal (ao terceiro) um ónus de controlar a atividade do
responsável pela feitura dos registos, no sentido de ver se essa atividade tinha sido realizada
de forma correta e adequada, em cumprimento das regras da atuação registal.
4. Tiver registado o seu direito (é titular registal) antes do registo da ação de nulidade;
A tutela do terceiro é uma tutela imediata, não há um decurso de tempo pelo qual o
terceiro
1. Al. a): Quando for falso (p. ex., na altura em que os registos constavam de um livro e
passaram para um registo eletrónico - para um livro digital -, foi efetuado um registo que não
existia nos livros, um registo falso que publicita um facto inexistente) ou tiver sido lavrado
2. Al. b): Quando tiver sido lavrado com base em títulos insuficientes para a prova
legal do facto registado (p. ex., foi lavrado o registo de uma aquisição de um bem imóvel,
aquisição essa que ocorreu através de documento particular não autenticado, quando a lei
exige documento particular autenticado ou escritura pública)
refere (p. ex., se do registo não se conseguir apurar quem é o sujeito passivo e quem é o
98
sujeito ativo ou o imóvel que é objeto do facto jurídico)
4. Al. d): Quando tiver sido efetuado por serviço de registo (materialmente, porque,
desde 2009, já não há incompetência territorial) incompetente (p. ex., se for lavrado um
pessoa sem competência (p. ex., se o funcionário que praticou o ato estava fora das suas
competências próprias), salvo o disposto no n.º 2 do artigo 369.º do Código Civil e não
5. Al. e): Quando tiver sido lavrado sem apresentação prévia (neste primeiro caso
supõe-se que ninguém tenha solicitado o registo, que em causa não esteja uma das
hipóteses de registo oficioso e que o registo tenha sido feito e que, portanto, tenha
havido violação do princípio da instância e, por violação desse princípio (que nos diz
quem é que o registo deve ser solicitado e o conservador não deve lavrar registos de modo
próprio, fora dos casos de oficiosidade), o registo tem de ser havido como nulo; e o registo
é nulo porque a data do registo é a data em que tiver sido feita a anotação no livro
diário e essa data corresponde com a data da apresentação do pedido e, se não houver
pedido de um registo que não seja oficioso, não há data) ou com violação do princípio
do trato sucessivo (neste segundo caso, não estando cumprido o princípio do trato
sucessivo, o registo pode ser lavrado como provisório por dúvidas e, durante os 6
meses da sua vigência, pode ser feito o registo em falta como definitivo, para que este
(artigo 16.º do CRP), se reduzem a vícios intrínsecos ou próprios (o registo é nulo porque
não foram cumpridas as regras que comandam a feitura/realização dos registos e da atuação
➡ Outra parte da doutrina diz que o registo é nulo não só por vícios intrínsecos, mas
também por vícios extrínsecos.
Quem entende que o registo apenas padece apenas de vícios intrínsecos, não tem problemas
em saber como se aplica o artigo 291.º do CC e o artigo 17.º do CRP: o artigo 291.º tutela os
terceiros perante a nulidade e anulabilidade de um negócio jurídico anterior que podia pôr
em causa a valia do negócio em que interveio; o artigo 17.º protege o terceiro de um registo
anterior que seja nulo por vícios intrínsecos.
Quem entende que o registo padece tanto de vícios intrínsecos como extrínsecos, já se pode
ter mais dificuldades de compatibilização entre o artigo 291.º do CC e o artigo 17.º do CRP:
• Quando estamos perante um vício registal intrínseco, aplicamos o artigo 17.º do CRP;
• Quando estamos perante um vicio registal extrínseco temos de ver ser aplicamos o artigo
291.º do CC ou o artigo 17.º do CRP:
- Quando o terceiro tenha adquirido do titular registal à data do negócio, aplicamos o artigo
17.º do CRP, porque o terceiro consultou o registo e verificou que o seu causante, que ia
praticar o ato de alienação ou oneração, era o titular registal e confiou no registo e, portanto,
merece tutela imediata, deste que cumpridos os requisitos, mesmo que o negócio anterior
àquele emque participou padeça de inexistência, ou seja, o artigo 17.º do CRP é aplicável a
vícios substantivos;
Exemplo 1. Se A era titular registal e proprietário e se nada tiver feito e B forjar uma
escritura de compra e venda da qual conste que A lhe vendeu o imóvel ou se B ter
de um titular registal (B), não vai ser afetado por aquela inexistência e, portanto, será
tutelado imediatamente pelo artigo 17.º do CRP, uma vez que regista antes do registo
apresentou o rol de bens, juntou ao rol de bens do de cujus um bem de um vizinho 100
que não tinha o registo feito a seu favor e, assim, aparentemente, passou a adquirir
terceiro também não seria tutelado pelo artigo 291.º que não cobre hipóteses de
Pereira Mendes que os vícios registais são intrínsecos, mas também são extrínsecos
terceiro é protegido.
- Quando o terceiro adquirente tenha adquirido de alguém que não era o titular registal à data
do negócio, aplicamos o artigo 291.º do CC, porque o terceiro não confiou no registo e,
portanto, a tutela pode não ser imediata, depende se à data da aquisição do terceiro já havia
decorridos os 3 anos perante o negócio inválido, tutela essa que só é dada perante a nulidade
e a anulabilidade.
1. Reduzirá imenso o campo de aplicação do artigo 291.º do CC, pois a tutela dada por
este artigo passará a ser menos frequente, porque o princípio da legitimação está
previsto entre nós desde 1984, as exceções não são assim tantas e os tituladores, na
2. Apesar de os vícios registais tanto poderem ser intrínsecos (o registo pode ser nulo
em si e por si, porque aquele que fez o registo não cumpriu as regras que regem a sua
facto jurídico que publicita — é o que acontece, desde logo, quando o registo é falso
por dar publicidade a um facto jurídico que nunca ocorreu ou registo ser falso por ser
lavrado com base num título falso - casos que cabem no artigo 16.º/a) do CRP, a
inexistência do facto jurídico está coberta pela alínea a) - ou quando o registo é lavrado
com base em títulos insuficientes (p. ex. documento particular não autenticado, contrato
promessa, com base num documento que titula um negócio que é inexistente, é nulo ou vem 101
a ser anulado) - casos que cabem no artigo 16.º/b) do CRP), não será de acompanhar a
291.º do CC e do artigo 17.º do CRP. Isto porque não parece que o âmbito de
aplicação destes artigos se sobreponham por algum modo, pois uma coisa são os
registo (nulidade) que publicita esse facto inexistente, nulo ou anulável e aí os efeitos
são diferentes:
• Tanto o artigo 291.º do CC, como o artigo 17.º do CRP surgiram em 1967 e os
assim é, não faz sentido que haja uma sobreposição dos artigos que contêm
requisitos diversos.
Poderá dizer-se que nessa altura já se pretendia tutelar de forma mais célebre/
imediata aquele que adquiri-se de titular registal e impor o prazo de 3 anos a quem
não adquiri-se de titular registal, mas tal não é um argumento credível porque, por
metade do país e nem vigorava o princípio da legitimação, pelo que eram muito
poucos os registos que eram feitos e a maioria das aquisições eram feitas a não
titulares registais e porque, por outro lado, só haveria esta tutela imediata de quem
adquirisse do titular registal se o legislador confiasse no registo e era claro que não
Portanto, não é credível que efetivamente o legislador português quisesse dar esta
amplitude ao artigo 17.º, permitindo que o 17.º protegesse até o terceiro perante os
em consequência desses vícios que o registo é nulo, nos termos do artigo 16.º/b)
do CRP. Temos dois factos e dois vícios: um que afeta o negócio e outro que afeta
o registo.
O facto de o registo ser afetado consequencialmente pelos vícios do negócio que publicita
não cria ou não devia criar qualquer perturbação aquando da aplicação do artigo 291.º do CC
ou do artigo 17.º do CRP, pois o artigo 291.º do CC protege o terceiro perante os vícios
substantivos e o artigo 17.º do CRP protege o terceiro perante o vício registal, o que quer
dizer que:
- Quando o registo padece de um vício extrínseco, o terceiro que tem a tutela do 17.º não
está definitivamente protegido, ele só tem uma tutela provisória, porque pode ser sempre
invocada a invalidade substancial e, nesse caso:
• Se a invalidade for a inexistência, o terceiro não está protegido de qualquer forma, porque,
a qualquer momento, pode ser invocada a inexistência do facto aquisitivo do seu dante causa
e a nulidade consequencial do seu facto aquisitivo e o consequente cancelamento doregisto;
A é proprietário de um imóvel. B forja uma escritura de compra e venda dizendo que A lhe
vendeu o imóvel e consegue o registo a seu favor. B vende a C e C regista, de boa fé e adquire
a título oneroso. Se A, verdadeiro proprietário, vier pedir a declaração de nulidade do registo
de B dizendo que o registo de B é falso, porque foi lavrado com base num título falso, o
registo de B é nulo, nos termos da al. a) do artigo 16.º do CRP, e depois pedir, em
consequência, a declaração de nulidade do registo de C, C poderá dizer que o registo de B é
nulo, mas ele adquiriu de boa fé e a título oneroso, o que o deixa protegido de acordo com
o artigo 17.º/2 do CRP, não podendo o seu registo ser afetado.
Mas esta tutela do artigo 17.º não protege o terceiro definitivamente porque estamos
pedir que se reconheça que aquela escritura foi forjada, que inexistiu qualquer
negócio entre ele e B e que, por isso, seja declarado nulo o registo de B e
intentar a ação também contra C e pedir que seja declarado nulo o negócio
que é a venda a non domino, porque o bem sempre foi de A. Quando A põe em
invocar a nulidade do registo de B e de C beneficiar de tutela do artigo 17.º, podia vir pedir
a declaração de nulidade do negócio de B e C por ser nulo, po
suposto que não seja pelo registo ser falso por dar publicidade a um facto
artigo 16.º.
de tutela mínima dos terceiros e os sistemas registais de tutela máxima dos terceiros:
Quanto a estes sistemas registais que apenas concedem a tutela mínima ao terceiro,
dizemos que concedem uma fraca tutela ao terceiro e, nestes sistemas, são
concluíram que não era equilibrado reconhecer aos direitos reais eficácia erga omnes
Nessa altura, foram criados os sistemas registais para garantir que os terceiros só seriam
afetados por direitos reais aos quais tivesse sido dada a publicidade. Tentou-se
Por esta razão de ser dos sistemas registais, a tutela mínima que é concedida a um
terceiro é o terceiro, na medida em que registe, sabe que, quando negoceia com o
titular registal, não verá a sua posição jurídica ser posta em causa em virtude de
um facto jurídico anterior e válido, celebrado pelo seu dante causa com outrem,
que não tenha acedido ao registo e que incida sobre o mesmo bem ou direito, na
Ou seja, a tutela mínima assegura ao terceiro que o seu dante causa ainda não
alienação ou oneração não lhe será oponível, porque não foi publicitada pelo
registo, mas o registo já não garante ao terceiro que ele está a negociar com quem
é efetivamente o titular do direito, porque não garante que aquele que está a alienar ou
onerar adquiriu de forma válida o direito e que agora também o pode transmitir ou onerar
dessa forma, pois nada garante que o transmitente não tenha participado de um negócio
que padeça de causa de inexistência, seja nulo, venha a ser anulado ou venha a ficar
afetada, isto é, o terceiro nunca está seguro perante estas invalidades anteriores ao facto
Logo, não são protegidos aqueles terceiros que, integrando-se numa e mesma cadeia de
transmissões, podem ver o seu facto aquisitivo ser posto em causa em virtude de uma 105
invalidade anterior.
Posto isto, podemos dizer que nos sistemas de tutela fraca o registo é completo ou
integro, no sentido de que todos os factos jurídicos que a ele devem de aceder têm de lá
estar, sob pena de inoponibilidade a terceiros, mas não é exato, porque não se garante
que quem consta como titular registal seja o titular do direito, porque pode ter
a estes sistemas registais que concedem a tutela mínima ao terceiro, dizemos que
Estes sistemas garantem não só ao terceiro que o seu dante causa ainda não
alienou ou onerou validamente a outrem e que, caso ele tenha alienado ou onerado,
tal facto não lhe será oponível, porque não foi publicitada pelo registo, como
garantem também ao terceiro que ele está a negociar com quem é efetivamente o
jurídicos anteriores (note-se que até são protegidos perante vícios do próprio registo), o
que quer dizer que se o negócio em que o dante causa participou for inexistente, nulo,
vier a ser anulado ou deixar de produzir efeitos ex tunc, o terceiro nunca será afetado,
pois o registo garantiu que o dante causa era o proprietário e o terceiro confiou no registo
Posto isto, podemos dizer que nos sistemas de tutela forte o registo é integro, completo e
exato.
Se A vender a B que não regista e depois A vender a C e este regista, o C é protegido, como
no sistema de tutela fraca - o sistema é integro e completo. Mas o C também é protegido se
A vender a B e B vender a C (terceiro) e o negócio entre A e B for nulo, inexistente ou
anulável - o sistema é também exato.
106
aproveitando-se desse facto, constituiu uma hipoteca sobre a propriedade plena. O credor
hipotecário não vai ficar com uma hipoteca sobre a nua propriedade por existir, do ponto de
vista substantivo, um usufruto. O credor hipotecário não pode ser prejudicado, porque o
registo publicitava que já não existia direito de usufruto e o credor hipotecário vai
efetivamente adquirir sobre a propriedade plena.
Num sistema registal de tutela forte protegem-se os terceiros nas hipóteses em que, em
Portugal, se tutela o terceiro por força do artigo 5.º do CRP, do artigo 291.º do CC, do
O terceiro está protegido contra tudo, o que não quer dizer que o verdadeiro titular do
anulação ou a declaração de inexistência. Ele pode, mas depois não pode opô-la ao
terceiro e, portanto, terá de ter apenas um ressarcimento em dinheiro. Daqui retira-se que
os sistemas que atribuem esta tutela forte aos terceiros deixam desprotegidos os
Estes sistemas de tutela forte são os que dão mais garantia e segurança ao tráfego
imobiliário e aos terceiros. É o que acontece na países como Espanha, Áustria, Suíça e
Alemanha, que são países consagram o princípio da fé pública registal, que tutela o
- Pressupostos comuns:
‣ Registar.
‣ Há factos que não têm de ir a registo para serem oponíveis perante terceiros
Afirmar que os ordenamentos jurídicos que concedem a tutela forte a terceiros são
aqueles em que:
registo apenas concede uma fraca tutela aos terceiros. É o que acontece, p. ex., na
Grécia, na Holanda, no Brasil. Já em Espanha, que concede uma tutela forte, não
da causalidade vigora nos sistemas de título e nos sistemas de título e modo. Ora,
Espanha e Áustria concedem uma forte tutela aos terceiros. Portanto, também não
1. Sistema registal de fólio real, não de fólio pessoal (França, Itália, Bélgica, Luxemburgo 108
(como controlo da valia formal e da valia substancial, princípio este que permite o
Estes tratam-se de pressupostos necessários, mas não suficientes para que exista
A DOUTORA MÓNICA JARDIM entende que a tutela forte não é consequência daquelas
caraterísticas, aquelas caraterísticas, apesar de necessárias para a tutela forte, são mais
consequências da opção feita do legislador. É ainda preciso que o legislador que opta
pela tutela forte e, em função dessa opção (pela tutela forte ou pela tutela fraca), o
princípios necessário.
generalidade dos legisladores, no século XIX e no século XX, terem posto à discussão a
liminarmente, p. ex., França, por entender que não podia pôr em causa o seu direito
substantivo e optou pelo sistema de tutela fraca. Já em Itália, a opção foi por não
sistema registal de maior credibilidade —, mas depois não aderiram aos sistemas de
segurança dinâmica, não quiseram, no caso português, optando por uma situação
fé pública registal, uma vez que, para além de proteger os terceiros, protegem também,
cancelamento da hipoteca.
A DOUTORA MÓNICA JARDIM entende que é da tutela forte, do ponto de vista registal
e não apenas do ponto de vista substantivo. No entanto, a tutela forte não pode ser
consagrada sem mais. É preciso analisar as deficiências do sistema e eliminá-las e, em
Portugal, temos diversas deficiências, p. ex., a facilidade com que se faz uma habilitação de
herdeiros, a facilidade com que se obtém um título para registo através de uma justificação
de direitos, a duplicação das descrições prediais e consequentemente as duplas inscrições, a
falta de cadastro, etc.
Enquanto estas falhas graves do sistema não forem reconhecidas e não forem eliminadas,
não se pode consagrar um sistema de tutela forte e temos de nos bastar com a tutela
concedida pelo direito substantivo.
Na verdade, um qualquer sistema que consagra uma tutela forte, consagra a possibilidade de
o verdadeiro proprietário vir a ser expropriado, ou seja, de ser privado do seu direito em face
de um terceiro e de apenas poder ser ressarcido pelo danos sofridos. Como é evidente, a
SUMÁRIO:
Efeitos do Registo
Artigo 17.º da CRP
Justificação de direitos
Nem sempre os intervenientes no tráfego jurídico conseguem reunir os documentos
necessários que comprovem o facto jurídico (aquisitivo) de que derivou o seu direito. Se nada
• Por outro lado, não poderia ser implementado o princípio da obrigatoriedade do registo,
nem o princípio da legitimação registal (que existem entre nós) e o registo não espelharia
Foi a pensar neste problema que o nosso legislador, aquando da nossa primeira lei
A justificação de direitos surge, portanto, para tentar acautelar quem se arroga titular de
um direito e que não tem na sua posse documentos — o que há é falta de documentos e não
falta de direitos — que provem o facto jurídico aquisitivo do seu direito e traduz-se num
meio simplificado que permite a esse titular obter o registo correspondente a esse direito,
Num primeiro momento, com a lei hipotecária, o legislador não admitiu a justificação de
direito, apesar de ter pensado logo nele, o legislador seguiu uma posição mais acanhada:
previu a justificação da posse. Assim, quem se arrogasse titular de um direito e não tivesse
documentos para obter o correspondente registo, se possuidor, podia justificar a posse (que
111
tinha de ser pública, pacífica e durar um determinado número de anos). Justificada a posse,
esta convertia-se em mera posse e, depois, com base na decisão judicial transitada em julgado
no processo de justificação, poder-se-ia obter o registo da mera posse (em termos de direito
de propriedade). Era um registo de apenas de posse, não de direito, mas que gerava a
presunção da titularidade do direito e que reduzia os prazos para depois se poder invocar a
usucapião e que, por isso, se revelou muito útil. Até porque, aquando da lei hipotecária, era
muito vulgar que os proprietários, que já eram proprietários aquando da entrada em vigor
da lei, não tivessem títulos e, assim, justificavam a posse, nos termos já mencionados.
Atualmente, o registo da mera posse não tem relevância prática, porque a maioria das
pessoas, se não for titular do direito e se não tiver tempo necessário para invocar a usucapião,
também não alerta do verdadeiro proprietário com um processo de justificação da posse para
obter o registo da mera posse, porque isso vai acordar o titular do direito para que ele venha
se opor à posse e interrompe-la e impedir que o prazo termine para a invocação da usucapião.
No entanto, na altura da lei hipotecária foi muito útil, porque em rigor quem estava a justificar
a posse eram, de facto, os proprietários que tinha a posse, mas não tinham títulos e ainda
não podiam invocar a usucapião.
O Código de Seabra começou apenas por admitir a justificação da posse, mas, em 1918,
Apesar de termos a justificação de direitos desde 1918, a verdade é que esta foi sofrendo
alterações ao longo do tempo, quer quanto à sua forma (a quem se recorre para obter a
justificação de direitos), quer quanto às suas modalidades (que tipo de justificações existem),
quer quanto ao seu âmbito de aplicação (que direitos são suscetíveis de serem justificados),
quer quanto à legitimidade para recorrer à justificação (quem pode recorrer à justificação),
etc.
➡ De 1918 a 1951:
• Forma: Apenas e só a justificação judicial (quem queria obter o tal título comprovativo
do seu direito para depois conseguir registá-lo tinha de recorrer a tribunal) - a justificação
judicial de direitos seguia os mesmos tramites que a justificação da posse e estava prevista
no CPC e era admitida desde que não deduzida contestação, pois suponha inexistência de 112
conflito/controvérsia;
inscrição em vigor;
ou seja, direitos em relação aos quais o registo tinha um mero efeito publicidadenotícia ou
enunciativo (p. ex., o direito de propriedade adquirido antes de 1918, quer
independentemente do registo);
Entre 1918 e 1951, a justificação de direitos não foi particularmente procurada pelos
particulares, porque:
- A justificação era judicial, ou seja, só podia obter o título para conseguir o registo
ora, neste período, o registo não era obrigatório e não vigorava, entre nós, o
princípio da legitimação, o que quer dizer que quem fosse titular do direito podia
alienar ou onerar o seu direito sem que lhe fosse exigida a prova de ser titular
registal;
- Apenas podiam ser justificados direitos que, mesmo que não acedessem ao
podia justificar direitos em relação aos quais o registo tinha um mero efeito de
publicidade-notícia/enunciativo.
zonas onde foi feito (e não foi feito em todas as zonas, mas havia a pretensão de ser 113
estendido a todo o país), o registo passava a ser obrigatório. Como se sabia que
muitos titulares de direitos não tinham o registo feito a seu favor e não tinham títulos
entidades, porque se pensou que iria haver uma grande procura pela justificação de
direitos.
era feita por, aquilo que se denominava na altura, missões (as missões eram
extensão e aceitou-se que onde ele estava feito o registo era obrigatório e onde não
justificação notarial (nos cartórios notariais), que é feita através de escritura de justificação.
justificação notarial (que existe desde 1956), com o Decreto-Lei n.º 312/90, de 2 de
decide se aceita ou não e fá-lo tendo em conta o trabalho que tem: se tiver
O que aconteceu foi que houve uma conservatória que se recusou a fazer correr
Até janeiro de 2009, tínhamos de recorrer à conservatória de registo predial cuja área
para a primeira inscrição (ou seja, para adquirir um título que nunca se teve), a
justificação para o reatamento do trato sucessivo (ou seja, para a pessoa que
e contra aquele que consta como titular registal, adquirir um título que comprove o seu facto
aquisitivo originário, p. ex., que adquiriu originariamente por usucapião, que
documento, fazer o registo, sem a colaboração do titular registal, porque foi uma
sucessivo, veio-se a prever que, sempre que existisse titular registal inscrito, o que
previsto. Isto faz todo o sentido, quer quando a justificação é para o reatamento do
sucessivo, porque o titular registal tem a seu favor a presunção de que o direito
existe e de que lhe pertence. Portanto, é preciso notificá-lo para que ele se possa
justificados não apenas os direitos que antes o eram, ou seja, aqueles que sempre 116
contestado, mas não se tem título que comprove o facto aquisitivo de tal direito. Isso
acontece,
I. Nunca se tentou adquirir derivadamente o direito (logo, não houve uma qualquer
derivadamente o direito e adquiriu-se esse direito, mas não se celebrou o ato jurídico válido
de acordo com a lei, na medida em que o negócio padeceu de um
por anos suficientes para invocar a usucapião e vai obter um título formal que demonstre
esse direito e essa aquisição ocorreu validamente, mas por um qualquer motivo
não se consegue ter o documento que comprove que ocorreu essa aquisição (p.
ex., o cartório notarial sofreu um incêndio, houve uma inundação, os suportes em papel
CN): É uma justificação para a primeira inscrição, ou seja, para as hipóteses em que o
prédio não está descrito ou, estando descrito, não tem inscrição de propriedade ou
equivalente em vigor.
Nos termos do n.º 1, a justificação, para os efeitos do n.º 1 do artigo 116.º do Código
Nos termos do n.º 2, quando for alegada a usucapião baseada em posse não
posse geradora da usucapião. Isto tudo para se apurar se a posse é pacífica e pública,
porque a usucapião só ocorre quando assim seja. Sendo a posse não titulada, presumese de
má fé e no cartório notarial não se pode fazer prova de boa fé, faz-se apenas uma
posse, porque uma posse não titulada vai ter de ter durado mais de 20 anos.
documento comprovativo de uma das aquisições derivadas e é preciso obter título para
Nos termos do n.º 1, a justificação, para os efeitos do n.º 2 do artigo 116.º do Código
do Registo Predial, tem por objecto a dedução do trato sucessivo a partir do titular
respectivos sujeitos — o justificante vai declarar o que é que aconteceu desde a data
o titular registal o deixou de ser até àquele momento. Isto porque há uma aquisição que
não está titulada, portanto é preciso titulada e registá-la para tentar reatar o trato. 118
afirme ser-lhe impossível obter o título, devem indicar-se as razões de que resulte
essa impossibilidade.
do CN): O prédio está descrito, tem inscrição é vigor, mas aparece alguém que diz que
adquiriu originariamente (por usucapião) contra o titular registal e é preciso dar início a
um novo trato.
Nos termos do n.º 1, a justificação, nos termos do n.º 3 do artigo 116.º do Código do
aquisição originária - e dos respetivos sujeitos (por remissão do n.º 2 para o artigo 90.º/
afirme ser impossível obter o título e as razões que justificam essa impossibilidade (por
inscrições em vigor.
CN), que, de acordo com o artigo 96.º/2 do CN que remete para o artigo 84.º,
(ou seja, pessoas que não estejam no seu perfeito juízo, menores, que não conheçam
• O cônjuge do justificante.
II. O notário, antes de fazer a escritura de justificação, se verificar que há titular registal
inscrito, tem de notificá-lo (artigo 99.º do CN), tal acontece se estiver em causa uma
pertence ao titular registal, pois há alguém que está a dizer que é o titular do direito e o
escritura de justificação. Não há uma qualquer norma que diga isto, ou seja, que o
notário não deve fazer escritura de justificação, mas isto é o que resulta claramente da
história da justificação de direitos – ela foi pensava para hipóteses em que há total
ausência de conflito. Além disso, se o notário fizer a escritura depois de ter notificado o
titular registal e dele ter contestado, o que vai acontecer é que a escritura será
impugnada, em princípio, pelo titular registal. Portanto, o notário estará apenas a fazer
pública as declarações que lhe foram prestadas (perante mim notário x, com cartório sito 120
pelo justificante). Note-se que a justificação não é mais do que uma declaração do
III. Feita a escritura, é feito um resumo ou extrato da escritura e este tem de ser publicado,
nos 5 dias posteriores à feitura da escritura, no jornal mais lido do concelho
do concelho ou, não existindo este, no jornal mais lido da região (artigo 100.º do CN).
Dá-se publicidade à escritura para que potenciais interessados possam ainda vir pôr em
IV. Após a publicação do extrato ou resumo, o notário, nos 30 dias seguintes, não
pode passar certidões daquela escritura que possam conduzir à feitura do registo,
Se não houver impugnação (prevista no artigo 101.º do CN), o notário extrai certidão
certidão, pode obter o correspondente registo e tendo o registo pode alienar ou onerar,
não impede que, decorridos esses 30 dias, o interessado ainda conteste. A ideia é:
• Se reagir durante os 30 dias, não vai ter de provar que é titular do direito, quem
tem de fazer essa prova é o justificante, porque ainda não há registo, logo não há
registo a favor do justificante, o que acontece é que o justificante passa a ter registo
daquele facto justificado torna-se mais difícil, porque vai ter de lutar contra a
Esta arquitetura conduz a que sejam feitas demasiadas escrituras de justificação que
- O justificante invoca uma posse pacífica e pública que durou mais de 20 anos e que 121
nunca existiu ou que não existiu durante 20 anos e os declarantes confirmam porque são
pagar os impostos respetivos e, muitas vezes, aquele que seria o vendedor na escritura
Esta facilidade em declarar e em declarar falso tem conduzido, ao longo do tempo, a que a
escritura de justificação, por ser tão simples de obter, tenha caído em descrédito. A
DOUTORA
escrituras de mentira, porque era sabido que a maioria dos justificantes, quando prestavam a
declaração, estavam a declarar falso e que os declarantes ou eram amigos ou era aquele que
queria vender o imóvel, mas não queria pagar impostos, ou era alguém a quem se tinha pago
Ainda por mais a publicidade é pouca, pois a maioria da população não lê o jornal, nem os
que lêem procuram os extratos de escrituras de justificação. Devia ser feita uma publicitação
de
forma muito mais alargada e mais eficiente, p. ex., nas câmaras municipais, junto à
conservatória,
junto dos cartórios notariais, através de afixação do extrato no próprio imóvel, porque aí o
seu
rigor não têm de o fazer, eles não têm de tentar apurar se a declaração é verídica e se aqueles
que estão a confirmar sabem o que estão a confirmar, wles só têm de receber a declaração e
a
justificação notarial;
obter;
como das razões que impedem a comprovação pelos meios normais das
título; 123
artigo 116.º.
determinam o início da posse, quando não titulada, bem como, em qualquer caso,
O interessado tem ainda de, nos termos do artigo 117.º-D/2, efetuar o pagamento
improcedente (artigo 117.º-F/1) (p. ex., não se invocou posse pacifica e pública por
liminar, perante aquele recurso, o processo deve ser remetido para o tribunal (artigo
117.º-F/6).
seguir para tribunal, num processo comum para reconhecimento do direito, nos termos
gerais e já não no âmbito de uma justificação de direitos, porque esta apenas pode
documentos que foram juntos e vai ouvir as três testemunhas apresentadas na petição,
IV. Proferida a decisão, vão ser notificados os titulares registais (que não se tenham
oposto), no prazo de 5 dias (artigo 117.º-H/5), para ver se estes a contestam ou não.
Nota: Tudo o que se disse sobre a pouca publicidade ou o pouco alcance da publicidade num
jornal através de um extrato da escritura, aqui amplia-se, é apenas num site da internet, que
a
recorrer, no prazo de 30 dias, para o tribunal de primeira instância (artigo 117.º-I/1 e 2):
passando o prazo, são feitos os registos e a decisão definitiva volta a ser publicitada
(artigo 117.º-I/4).
Antes do tribunal decidir, deve ouvir o Ministério Público (artigo 117.º-J) e só depois
(artigo 117.º-M), que deve fazer os registos oficiosamente e, de seguida, deve publicitar
processo idêntico àquele que corria no tribunal, na medida em que há uma fase de instrução,
há
além do daquilo que o notário faz, que se limita a receber a declaração do justificante e a
notários, eles não aproveitam a fase da instrução. Este procedimento de justificação não nos
oferece mais seguranças e certeza do que a justificação notarial e é tão criticável quanto ela
por
abrir de forma clara um fissura na segurança do nosso sistema registal, que impede o
legislador
de fazer a opção por um sistema registal de tutela forte. Esta é uma das razões, a par da
títulos comprovativos do facto aquisitivo do direito, aquele que pretende dizer que adquiriu
por usucapião (e para tal é preciso ter posse pacífica e pacífica durante um lapso de tempo e
126
invocação) tem de invocar primeiro a usucapião e só depois é que pode recorrer à
justificação?
Não! Neste caso concreto, quando é invocada a usucapião, a justificação funciona como um
dois em um, ou seja, a justificação serve para a invocação da usucapião e depois para a
exerce-se o direito potestativo de adquirir por usucapião e solicita-se o título que permita o
II. A usucapião só pode ser invocada através da justificação de direitos (seja através de
A DOUTORA MÓNICA JARDIM, entende que a usucapião pode ser invocada por
qualquer meio,
confirmarem essa declaração, a escritura de justificação é falsa e o registo feito com base
nessa escritura é nulo com base na al. a) do artigo 16.º do CRP? Ou essa escritura de
justificação é nula e o registo feito com base nela é nulo com base na al. b) do artigo 16.º
do CRP?
A escritura não é falsa, nem é nula: a escritura não é falsa e o registo não é nulo, com base
na alínea a), e a escritura não é nula e o registo não é nulo, com base na alínea b).
autêntico, de acordo com o artigo 363.º/2 do CC, e, porque assim é, de acordo com o artigo
369.º do CC e com o artigo 35.º/2 do CN, a escritura de justificação faz prova plena dos
factos
praticados pelo oficial público (pelo notário) e dos factos por ele atestados com base nas suas
percepções, ou seja, faz prova plena de que a declaração foi feita (de que se apresentou
alguém
127
como justificante, que fez uma declaração, que levou três declarantes e que estes
confirmaram a
(1) Nele se atesta como tendo sido objeto da perceção da autoridade oficial público
(2) Nele se atesta como tendo sido praticado pela entidade responsável qualquer ato que
E isto não é o que acontece quando na justificação são prestadas declarações falsas.
e, se a escritura não é falsa, o registo não é nulo com base na alínea a) do artigo 16.º.
Em segundo lugar, a escritura não é nula, porque as hipóteses de nulidade dos atos notariais
estão previstas taxativamente no Código do Notariado nos artigos 70.º e 71.º e este caso não
está previsto nesses artigos. Portanto, a escritura não é nula e, portanto, o registo não é nulo
Assim sendo, temos uma escritura que é verídica e válida, mas que é o continente de
declarações falsas, feita pelo justificante e confirmadas pelos declarantes. Portanto, o que se
tem de atacar é aquilo que é falso, que são as declarações, ou seja, o facto jurídico que se
num dos jornais mais lidos do concelho ou, na falta deste, da região, e o interessado quer
impugnar:
nesta fase da escritura ainda não foram extraídas certidões e, portanto, a escritura ainda não
atingiu o fim para o qual foi procurada, que era ser título para ser feito o registo, o que se
deve
fazer é pedir:
128
contém um facto aquisitivo que não ocorreu e que não deve ser havida como apta
para ser registada (e que não deve ser registada), por conter declarações falsas e
forem passadas certidões e o registo estiver feito, o que se deve fazer é atacar o facto jurídico
aquisição por usucapião, porque foram feitas falsas declarações, o terceiro adquirente, de
quem prestou falsas declarações, a título oneroso e de boa fé, vai ser protegido?
Temos duas decisões do STJ: uma nos termos da qual o terceiro é protegido, nos termos do
artigo 291.º do CC, e outra nos termos da qual o terceiro é protegido, nos termos do artigo
17.º
do CRP.
O terceiro não será protegido pelo artigo 291.º do CC, porque, se houve falsas declarações,
o facto jurídico justificado não ocorreu, ou seja, ele é inexistente (não ocorreu a usucapião)
eo
artigo 291.º do CC não tutela terceiros perante a inexistência, apenas perante a anulabilidade
ou
O terceiro também não será protegido pelo artigo 17.º do CRP, porque ele tutela os
terceiros perante vícios registais que podem ser consequência de vícios substantivos, mas que
registal intrínseco que não seja a falsidade do registo por inexistência do facto jurídico.
Posto isto, não há tutela, na nossa legislação, para um terceiro adquirente a título
oneroso e de boa fé quando o seu dante causa nunca adquiriu, porque o facto jurídico que
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diz ter ocorrido e que foi publicitado pelo registo e nunca ocorreu.
(sendo as mais das vezes as declarações prestadas impugnadas por serem falsas, mas não é
necessário que assim seja) na escritura de justificação (o facto justificado e publicitado), quer
nos 30 dias posteriores à publicação do extrato (quer quando ainda esteja na posição de
justificante, porque ainda não obteve o registo), quer posteriormente ao registo (quer quando
já
esteja na posição de titular registal), o justificante (no primeiro caso) ou o titular registal (no
A DOUTORA MÓNICA JARDIM entende que as coisas não se podem passar assim e
discorda do
acórdão de uniformização:
- Se já foi feita a escritura, se foi feito o extrato, se este foi publicitado e se estão a
correr os 30 dias previstos no artigo 101.º do CN, como ainda não há registo, o
hipótese.
➡ Não procede o argumento de que o registo não pode gerar a presunção porque foi
Repare-se que se alguém conseguir forjar uma escritura pública de compra e venda e
está a impugnar uma escritura forjada que foi o que permitiu fazer aquele registo e, no
entanto, vai-se debater contra a presunção registal a favor de quem forjou e, nesse caso,
Aqui é igual, a escritura foi feita, foi registada, o registo produz os seus efeitos, a lei não
abre qualquer exceção, não há como dizer que a presunção não funciona porque a
presunção do registo não funciona porque o registo foi feito com base naquela escritura
sentido perante o artigo 101.º do CN, onde se diz claramente que é suposto esperar
tais 30 dias de espera sem passar certidões e sem serem feitos registos se do registo
SUMÁRIO: