Aulas 01 A 06 - Arquivo Único
Aulas 01 A 06 - Arquivo Único
1.1 Introdução
De acordo com a Pequena enciclopédia de moral e civismo, decisão, do latim
decisio do verbo de + codere = cortar uma parte de uma coisa, resolver, decidir. Ação
ou efeito de decidir. É um ato da vontade que, diante dos prós e contras de uma questão,
opta por um dos membros da alternativa. 1
Na vida, somos colocados continuamente diante de opções que reclamam de
nós uma decisão. Algumas são simples e corriqueiras, outras são graves e decisivas.
O importante é formarmos o hábito de ponderar as vantagens e os
inconvenientes para decidir com lucidez e firmeza. O homem indeciso e perplexo acaba
sempre sucumbindo ao desânimo, joguete das vicissitudes, incapaz de construir o
próprio destino.
A capacidade de decisão é a grande qualidade que se espera de um chefe. Na
vida das instituições, empresas e organizações governamentais, o processo decisório
toma-se cada vez mais complexo. Cabe à autoridade tomar as decisões, das quais
assume a responsabilidade.
Dada a complexidade dos problemas, é cada vez mais difícil chegar à decisão
racional sem uma ampla consulta das bases e sem os recursos que a informática
moderna põe a serviço dos administradores.
Há decisões de natureza técnica que não podem ser tomadas sem as
informações indispensáveis. Há outras que implicam aspectos políticos, que exigem
sabedoria e experiência. O que é, contudo, indispensável, é saber assumir a
responsabilidade da decisão e executá-la com coragem.
1
Pequena enciclopédia de moral e civismo. Rio de Janeiro: Fename, 1982.
1.2 Tipos de decisões
Quando se fala de empresa, sempre se pensa numa organização social com
objetivos próprios e motivação financeira deliberada. Isso significa que na maioria das
empresas pode ser identificado um conjunto de objetivos ou propósitos seja de forma
explícita, como parte do plano de negócios da empresa, ou implicitamente, por meio do
exame de sua história e das motivações individuais das principais pessoas que nela
trabalham.
Tradicionalmente, a medida de sucesso numa empresa tem sido o lucro - o
excedente de receitas da empresa sobre os custos incorridos - e é essa medida que tem
distinguido uma empresa de outras formas de organização social, como o governo, a
igreja, as forças armadas, fundações sem fins lucrativos etc.
O papel da rentabilidade como pilar básico da empresa tem sido muito
questionado recentemente. Além disso, a mensuração da rentabilidade apresenta alguns
problemas teóricos e práticos difíceis. Entretanto, para fins de discussão das decisões
numa empresa, precisamos dispor apenas do que os matemáticos denominam hipótese
"fraca", ou seja, a de que, qualquer que seja o modo de mensuração e por mais variável
que ele seja, pode-se atribuir um conjunto de objetivos a cada empresa, e esse conjunto
é o principal marco de referência para o processo decisório.
Outra questão importante e essencial para uma compreensão da tomada de
decisões é a de que a empresa procura atingir seus objetivos por meio do lucro e, mais
especificamente, por meio da conversão de seus recursos em bens e/ou serviços, daí
obtendo um retorno sobre esses recursos com a venda dos bens ou serviços aos clientes.
Há três tipos de recursos básicos: recursos físicos (estoques, fábricas e
equipamentos), monetários (dinheiro e crédito) e humanos. Todos os três são
consumidos no processo de conversão: a fábrica torna-se obsoleta, o dinheiro é gasto, e
os executivos envelhecem. Nesse aspecto, a sobrevivência da empresa depende do
lucro; a menos que lucros sejam obtidos e usados para a geração de lucros futuros e a
reposição de recursos, a empresa eventualmente desaparecerá.
De um ponto de vista decisório, o problema geral da empresa é configurar e
direcionar o processo de conversão de recursos de tal modo que seja otimizada a
consecução dos objetivos. Como isso exige inúmeras decisões distintas e diferentes, um
estudo do processo geral de decisão pode ser facilitado pela divisão do espaço total de
decisão em várias categorias distintas.
Nosso enfoque será o de construir três categorias, denominadas
respectivamente estratégica, administrativa e operacional, cada uma relacionada a um
aspecto diferente do processo de conversão de recursos.
As decisões operacionais normalmente absorvem a maior parte da energia e
da atenção da empresa. Visam maximizar a eficiência do processo de conversão de
recursos da empresa, ou, em linguagem mais convencional, maximizar a rentabilidade
das operações correntes.
As principais áreas de decisão são a alocação de recursos (por meio de
orçamentos) entre áreas funcionais e linhas de produtos, a programação das operações, o
acompanhamento do desempenho e a aplicação de medidas de controle.
As decisões-chave envolvem a fixação de preços, o estabelecimento da
estratégia de marketing, a fixação de programas de produção e níveis de estoque, e
decisões quanto a gastos para o apoio a atividades de P&D (pesquisa e
desenvolvimento), marketing e operações.
Já as decisões administrativas preocupam-se com a estruturação dos recursos
da empresa de modo que crie o maior potencial possível de desempenho. Uma parte do
problema administrativo lida com a organização: a estruturação de relações de
autoridade e responsabilidade, fluxos de trabalho, fluxos de informação, canais de
distribuição e localização de instalações. A outra parte diz respeito à aquisição e ao
desenvolvimento de recursos: desenvolvimento de fontes de matéria-prima, treinamento
e desenvolvimento de pessoal, financiamento e aquisição de instalações e equipamentos.
As decisões estratégicas (pertinente à relação entre a empresa e seu ambiente)
preocupam-se principalmente com problemas externos, e não internos da empresa, e
especificamente com a seleção do composto de produtos que a empresa produzirá, e dos
mercados nos quais os venderá. Trata-se do problema de decidir em que ramo a empresa
opera e em que tipos de ramos procurará entrar.
Questões específicas consideradas no problema estratégico são: quais os
objetivos e metas da empresa? Deve a empresa procurar diversificar-se? Em que áreas?
Com que intensidade? Como deve a empresa desenvolver e explorar sua posição atual
em termos de produtos e mercados?
Um aspecto muito importante do processo decisório geral da empresa é
acentuado pelo problema estratégico. Trata-se do fato de que uma grande maioria de
decisões deve ser tomada dentro do contexto de uma limitação geral de recursos.
Independentemente do tamanho da empresa, as decisões estratégicas lidam com uma
escolha entre comprometimentos alternativos de recursos. Por exemplo, a ênfase nos
negócios correntes tende a bloquear a diversificação, enquanto uma ênfase excessiva na
diversificação tende a fazer com que se negligenciem os produtos existentes. Por conta
disso, deve-se chegar a um padrão de alocação de recursos que ofereça o melhor
potencial para atingir os objetivos da empresa.
Outra maneira de classificar as decisões é categorizando-as em decisões
programadas e decisões não programadas.
Decisões programadas são aquelas tomadas de acordo com um hábito, uma
regra ou um procedimento. Toda organização tem políticas, por escrito ou não, que
simplificam as decisões em situações que se repetem, limitando ou excluindo
alternativas. Por exemplo, geralmente não teríamos que nos preocupar com o salário de
um empregado recém-contratado; as organizações em geral têm uma escala de
ordenados já estabelecida para todos os cargos. Analogamente, não teremos que pensar
muito sobre a maioria dos problemas com que deparamos todos os dias; existem
procedimentos de rotina para lidar com problemas de rotina.2
Os problemas de rotina não são necessariamente simples; usam decisões
programadas para assuntos complexos e simples. Se um problema se repetir e se os
elementos que o compõem puderem ser definidos, previstos e analisados, ele poderá ser
um candidato à decisão programada. Por exemplo, as decisões sobre o nível de estoque
a ser mantido para determinado produto podem envolver muita descoberta de fatos e
muita previsão; contudo, uma análise cuidadosa de cada um dos elementos do problema
pode levar a uma série de decisões programadas, de rotina.
É claro que, até certo ponto, as decisões programadas limitam nossa liberdade,
pois é a organização, e não o indivíduo, que decide o que fazer. Entretanto, as decisões
programadas visam ser liberadoras. As políticas, as regras ou os procedimentos pelos
quais tomamos nossas decisões nos poupam tempo necessário para pensarmos em novas
2
SIMON, Alexander Herbert. Administrative behavior: study of decision-making processes in
administrative organization. New York: Macmillan, 1957.
soluções para todos os problemas e nos permitem dedicar nossa atenção a outras
atividades mais importantes.
As decisões não programadas, por outro lado, são as que tratam de problemas
incomuns ou peculiares. Se um problema não aparece com tanta freqüência para
merecer uma política ou se for tão importante que mereça tratamento especial, terá que
ser resolvido por uma decisão não programada.
Problemas como a alocação dos recursos de uma organização, o que fazer com
uma linha de produtos que não esteja dando certo, como melhorar as relações com a
comunidade - e, na realidade, quase todos os problemas importantes com que se
defronta um administrador - geralmente exigirão decisões não programadas. À medida
que se vai subindo na hierarquia organizacional, a capacidade de tomar decisões não
programadas vai ficando mais importante, porque um número cada vez maior das
decisões tomadas não é programado.
As decisões programadas são, obviamente, as mais fáceis de ser tomadas pelos
administradores. É mais rápido e mais simples consultar uma política do que pensar
sobre um problema desde o início. Devemos observar, porém, que os administradores
eficazes recorrem a uma política para poupar tempo, mas continuam atentos aos casos
excepcionais.
Por exemplo, a política de uma empresa pode estipular um teto para o
orçamento de propaganda de cada produto. Todavia, um produto pode precisar de uma
campanha intensiva de propaganda para contrabalançar uma nova estratégia de
marketing ousada de um concorrente. Uma decisão programada - quer dizer, uma
decisão de fazer propaganda do produto de acordo com as diretrizes orçamentárias -
poderia, nesse caso, ser um erro.
Em última análise, os administradores têm que se valer de sua própria opinião
para decidir se uma situação exige ou não uma decisão programada.
Exercícios
1. Diferencie Decisões Estratégicas, Administrativas e Operacionais.
2. Caracterize e Diferencie as decisões programadas e não programadas.
3
ANSOFF, H. I. Estratégia Empresarial. São Paulo: McGraw Hill, 1977. 265 p.
Aula 02: O Processo de Tomada de Decisão
4
ROBBINS, S. P. Administração: mudanças e perspectivas. São Paulo: Saraiva, 2000.
5
STONER, J. A. F. e FREEMAN, R. E. Administração. 5ª ed. Rio de Janeiro: Prentice
Hall do Brasil, 1992.
6
STONER e FREEMAN (1992).
inadequada do problema leve a um resultado que reduz a eficiência e a eficácia, pois a
formulação incorreta pode definir o problema errado.
Segundo Luftman et aI., apud Shimizu, o responsável para estruturar um
modelo de decisão na empresa está encarregado de:
- fazer as perguntas certas;
- detectar os elementos relevantes;
- identificar os parâmetros significativos;
- determinar os relacionamentos significativos entre os elementos e
parâmetros selecionados;
- especular sobre o 'tamanho certo' e a 'formulação certa' do problema;
- avaliar a característica temporal do problema (ciclos de vida, duração,
estabilidade e descontinuidade).7
Já para Monks apud Shimizu o processo decisório deve seguir os seguintes
passos:
- Fase 01 – Formulação
- Definir o problema e sua variáveis relevantes (parâmetros);
- Estabelecer os critérios ou objetivos de decisão;
- Relacionar os parâmetros com os objetivos, ou seja, modelar o
problema;
- Gerar as alternativas de decisão e as alternativas dos cenários
possíveis, para diferentes valores dos parâmetros
- Fase 02 – Tomada de Decisão
- Avaliar as alternativas e escolher a que melhor satisfaz aos
objetivos (método de decisão);
- Implementar a decisão escolhida e monitorar os resultados por
meio de: análise de sensibilidade e aprendizagem pela
retroalimentação dos resultados, para poder alterar ou melhorar
o modelo.
Simon apud Shimizu salienta que a solução de qualquer problema de decisão
em atividades empresariais, científicas ou artísticas pode ser visualizada em quatro
etapas: percepção da necessidade de decisão ou oportunidade, formulação das
7
SHIMIZU. Decisões nas organizações. São Paulo: Atlas, 2001.
alternativas de ação, avaliação das alternativas em termos de suas respectivas
contribuições e escolha de uma ou mais alternativas para fins de execução.8
Supõe-se que a percepção da necessidade de decisão e a formulação de
alternativas ocorrem antes e fora do esquema de análise. Para que as duas primeiras
etapas sejam cumpridas, simplesmente não há qualquer coisa que substitua a reflexão.
Não há varinha mágica que possamos usar para produzir alternativas. Vamos olhar
atentamente cada uma das etapas.
A percepção de necessidades é uma questão fundamental na tomada de
decisões estratégicas. Um método que não é capaz de permitir a escolha entre a
preocupação permanente com o problema operacional e a atenção ao estratégico deixa
parte importante do problema à intuição e ao julgamento subjetivo.
Uma empresa, digamos, necessita de um mecanismo para acompanhar as
tendências do retorno sobre o investimento (que tem caído) e da taxa de crescimento de
demanda (que tem perdido velocidade), necessita de um mecanismo para reconhecer
que chegou o momento de diversificar-se. Tudo isso precisa ocorrer antes que sejam
levantadas e analisadas oportunidades específicas de diversificação.
Na busca de alternativas, a teoria tradicional do investimento exige que todas
as alternativas sejam conhecidas no momento em que a decisão deve ser tomada. No
problema estratégico, essa situação é pouco comum. No começo de qualquer período de
planejamento, somente algumas alternativas serão conhecidas com detalhes suficientes
para permitir a montagem de fluxos de caixa. Normalmente, incluirão os produtos e
mercados tradicionais da empresa, os projetos de P&Djá existentes, e talvez os nomes
de algumas empresas que se sabe estarem interessadas numa fusão.
Alternativas se apresentarão ao longo do período de planejamento num fluxo
contínuo: invenções de produtos nos laboratórios da empresa, novas oportunidades de
mercado, empresas disponíveis para aquisição, e oportunidades de joint venture. Nas
decisões estratégicas, essas condições de desconhecimento parcial a respeito de
oportunidades futuras constituem a regra, e não a exceção; um método que deixa de
refleti-Ias não serve para uma empresa.
Sob condições de desconhecimento parcial, uma empresa defronta-se com dois
problemas. O primeiro é o de como conduzir uma busca ativa de oportunidades
8
SHIMIZU. Decisões nas organizações. São Paulo: Atlas, 2001.
atraentes. A empresa pode adotar uma atitude completamente passiva e esperar que as
oportunidades venham até ela. Entretanto, essa atitude leva, para a maioria das
empresas, a práticas gerenciais desprovidas de coordenação, ineficientes e
potencialmente dispendiosas.
O segundo problema é distribuir os recursos limitados da empresa entre as
oportunidades identificadas e as outras oportunidades, possivelmente mais atraentes,
que estejam prestes a surgir. Esse é o dilema clássico do pássaro na mão contra dois
voando, que é comum a muitas situações reais de decisão.
Quanto a esse aspecto, a teoria do investimento silencia, pois pressupõe que
todas as alternativas de decisão possam ser enumeradas, e que seus resultados possam
ser medidos. Um método prático para decisões estratégicas, portanto, deve ampliar essa
teoria para permitir a busca de alternativas e a avaliação de projetos sob condições de
desconhecimento parcial.
Na avaliação das alternativas, a tomada de decisão pode ser caracterizada como
um processo de escolha ou seleção de alternativas ou caminhos de ação
"suficientemente bom", entre o grupo de alternativas para atingir um objetivo ou alguns
objetivos.
Muitas tomadas de decisão envolvem incertezas. Daí, um dos mais importantes
aspectos, que auxiliam na decisão mais adequada, está em suprir a habilidade de lidar
com informações vagas e imprecisas, tais como: alto lucro; velocidade alta; preço baixo.
Muitas das tomadas de decisão levam a um ambiente em que os objetivos e
as,conseqüências das possíveis ações se alteram no decorrer do tempo, já que sua
visualização torna-se cada vez mais difícil.
Para Harmond, Keeney e Raifa apud Shimizu, uma forma objetiva de
minimizar a ocorrência das "más decisões" é recorrer ao processo da análise de
sensibilidade, submetendo a decisão tomada a uma variação controlada dos valores
envolvidos.9
Até então não abordamos a questão do risco e das incertezas no processo
decisório. Como essas questões podem ser consideradas num modelo "racional"? Ou
seja, como deveremos comportar-nos na análise e avaliação das alternativas
9 HARMOND, J. S.; KEENEY,R. 1.; RAIFA,H. The hidden traps in decision making. Harvard Business
10
BAZERMAN, M. Judgment in Managerial Decision Making. 3ª. ed. New York: Wiley, 1994
2.4 Construindo um Modelo para o Processo Decisório
Um modelo descreve, representa e imita o procedimento que ocorre no mundo
real, estabelecendo o relacionamento das variáveis com os objetivos, da melhor maneira
possível, obedecendo à limitação de tempo e de custo. Os modelos podem ser de vários
tipos, a saber:
• verbais: quando descritos e representados por palavras e sentenças
(exemplos: questionários, sistemas especialistas etc.);
• físicos: quando representados por algum tipo de material ou hardware,
alterando-se suas dimensões, formato e custo (exemplos: maqueta,
protótipos);
• esquemáticos: quando representados por meio de gráficos, tabelas,
diagramas ou árvores de decisão;
• matemáticos: quando representados por equações e valores numéricos ou
valores da lógica simbólica (exemplos: programação linear, rede neural
etc.). Um modelo matemático pode ser visto como uma caixa preta que
recebe as entradas (parâmetros, variáveis exógenas e decisões), e
processa essas informações para produzir as saídas (variáveis endógenas
ou resultados da decisão).
Uma maneira bastante útil de representar um modelo de decisão é organizando
o mesmo sob a forma matricial composta pelos seguintes elementos:11
- Nas Colunas da Matriz são apresentadas as Estratégias ou Alternativas de
Decisão: cada coluna da matriz representa uma das alternativas possíveis,
apresentadas ao decisor. Todas as alternativas possíveis de decisão devem
estar formuladas. Dizemos, então, que o conjunto das alternativas possíveis
é exaustivo e cobre todo o campo de definição do problema. As alternativas
devem ser também mutuamente exclusivas, isto é, uma alternativa de
decisão exclui as demais. As alternativas desconhecidas devem ser
agrupadas em uma só, formando a alternativa “outras alternativas”.
11
SHIMIZU. Decisões nas organizações. São Paulo: Atlas, 2001. p. 40.
- Nas Linhas da Matriz são apresentados os Cenários de Decisão ou estados
possíveis do Problema: Os cenários representam os resultados possíveis do
problema ou os resultados das ações tomadas por um adversário, quando
temos uma situação de conflito. Os estados possíveis (cenários) também
formam um conjunto exaustivo e mutuamente excludente. Nos problemas
de decisão sob risco, uma probabilidade de ocorrência deve ser atribuída a
cada estado ou cenário.
Não se iluda, o processo decisório não é tão simples como se apresenta aqui. A
escolha de um modelo depende da finalidade da decisão, da limitação do tempo e custo
e da complexidade do problema.12 Um problema pode ser considerado complexo
quando apresenta grande número de variáveis ou objetivos e/ou quando não existe
independência entre os cenários e entre as alternativas
Por conta disso, o modelo de tornada de decisão mais adequado é o que lida
com conhecimentos e informações incompletas e incertas. Diferentes enfoques, atitudes
e crenças também precisam ser considerados. O modelo de decisão precisa incluir nos
processos de identificação medidas e critérios de combinação de alternativas e cenários
a fim de criar um modelo conceptual para decisões e avaliações em ambientes difusos.
Anexo a aula 02
Anarquia organizacional: o modelo da lata de lixo
O modelo da lata de lixo13 proposto por Cohen supõe que o problema da
tomada de decisão é semelhante a uma enorme lata de lixo, na qual os problemas a
serem resolvidos são jogados. Os problemas bem estruturados ou de prioridade maior
são resolvidos e retirados da lata de lixo. Os demais problemas são retirados após um
exame superficial, ou são retirados da lata porque estão ocupando espaço ou "cheirando
mal". Muitos problemas ignorados permanecem no fundo da lata de lixo, o que exige o
esvaziamento periódico do conteúdo da lata.
Os empresários ou chefes certamente apreciam em seus executivos ou
subordinados a habilidade para negociar, protelar ou solucionar aspectos diferentes de
12 SHIMIZU (2001)
13
COHEN apud SHIMIZU (2001) p. 182-185.
um problema. Esses procedimentos nem sempre ocorrem por meio da resolução
satisfatória desse problema.
A ocorrência desse fenômeno de decisão pode estar ligada à maior ou menor
importância ou prioridade atribuída ao problema. Essas decisões podem ocorrer devido
à existência de um fenômeno denominado anarquia organizacional.
Segundo Cohen, as dificuldades na tomada de decisão ocorrem pelo fato de
existir muitas anarquias organizacionais difíceis de serem descritas de modo preciso.14
As anarquias organizacionais ocorrem devido à:
• falta de clareza para definir e selecionar um problema, e um número
elevado de problemas (importantes ou sem importância) apresentados
pelos participantes da decisão é jogado dentro de um mecanismo de
decisão como se fosse uma lata de lixo;
• dificuldade em descrever, aplicar e avaliar o uso de tecnologias ou
experiências anteriores, isto é, existem dúvidas para avaliar a utilidade de
uma tecnologia ou a experiência anterior para a solução de um problema;
• existência de múltiplas restrições ou condições impostas ao problema e
que dispersam a atenção do tomador de decisão;
• participação irregular, esporádica ou inadequada de pessoas ou grupos de
pessoas, de modo que o nível da energia dispensada para resolver o
problema é irregular .
A ocorrência da anarquia organizacional pode ser encontrada com freqüência
em uma universidade (ou um órgão público) onde:
1. diversos tipos de organismos de decisão (escolas, departamentos, cursos
ou disciplinas) são criados, e seus problemas, jogados na lata de lixo
representada pela universidade;
2. os métodos de resolução usados (como métodos de ensino, métodos de
pesquisa, avaliações etc.) trazem resultados incertos para o desempenho
da universidade;
3. professores, alunos, funcionários ou representantes da comunidade
participam de maneira irregular em seus organismos de decisão.
14
COHEN et aI. apud SHIMIZU (2001) p. 182-185.
O modelo da lata de lixo é formado pelos seguintes elementos:
1. mecanismo de decisão: é uma estrutura ou instância para tomar uma
decisão sobre um problema, gastando determinada quantidade de
energia, de acordo com a dificuldade ou interesse em resolver esse
problema. Exemplos: reuniões de decisão, comissão de admissão,
comissão para demissão ou promoção de funcionários, parlamento,
congressos etc.;
2. participantes: são pessoas ou organismos que fazem parte do
mecanismo de decisão e gastam determinada quantidade de energia
(tempo, conhecimento ou dinheiro) para tentar resolver um problema;
3. problemas: são propostas apresentadas ao mecanismo de decisão;
4. soluções do problema: uma ou mais alternativas de decisão escolhidas
para cada problema.
Segundo este modelo de decisão, um problema proposto pode receber:
• decisão satisfatória, com a apresentação de uma solução final: a decisão é
tomada escolhendo-se uma das alternativas possíveis que propõem
resolver completamente o problema. Todos os modelos de decisão
discutidos nas outras sinopses pertencem a essa categoria;
• decisão de abandono, devido à dificuldade de chegar a uma solução;
• decisão com exame superficial das soluções possíveis (decisão por vista
grossa ou oversight): nesse caso, a decisão é tomada de modo superficial,
grosseiro ou negligente, sem qualquer critério de análise do problema.
Por exemplo, podemos mencionar o caso da contratação de funcionário
sem exame de seu currículo ou sem submetê-lo a um exame de
capacitação ou seleção;
• decisão sem qualquer discussão (decisão por omissão, decurso de prazo,
passagem ouflight): engloba os problemas aprovados (ou abandonados)
devido às dificuldades de apreciação e resolução adequada, pois
envolvem conflito de interesses, falta de objetivo, falta de interesse, falta
de tempo etc. Podemos citar como exemplos a caixa de sugestão ou
reclamação, da qual a maioria das sugestões ou queixas é jogada fora, ou
problemas administrativos acumulados por longo tempo.
Todos os modelos de decisão apresentados pressupõem que o tomador de
decisão resolve um problema escolhendo uma das alternativas possíveis de solução
apresentadas. Na Teoria da Decisão, esse aspecto é rigorosamente obedecido, embora,
na maioria dos casos, essas alternativas sejam versões simplificadas ou condensadas dos
estados possíveis da natureza. Entretanto, os problemas da vida real nem sempre são
resolvidos dessa maneira, e devemos, também, considerar o comportamento do
indivíduo, como já foi mencionado anteriormente, ou da organização envolvida na
decisão. Vários autores, como Cohen et al15 e Takahashi16 têm apresentado modelos e
resultados de pesquisa que envolvem o problema do comportamento nas decisões.
Exercícios
15
COHEN et al. apud SHIMIZU. Decisão nas organizações, São Paulo: Atlas, 183 p. 2001.
16
TAKAHASHIapud SHIMIZU.Decisão nas organizações. São Paulo: Atlas, 182 p. 2001.
Aula 03: Armadilhas do Processo Decisório
17
BAZERMAN, M. Judgment in Managerial Decision Making. 3ª. ed. New York: Wiley, 1994.
18
MINTZBERG. Apud ANSOFF, Igor. A nova estratégia empresarial. São Paulo: Atlas, 1990. 265 p.
19
BAZERMAN (1994).
inevitáveis, mas sua identificação e a preocupação de estabelecer estratégias para
superá-los pode melhorar o processo decisório.
Se um decisor conseguir compreender os vieses cognitivos que influenciam seu
julgamento, ele pode começar a mudar seus procedimentos de decisão com vistas a
reduzi-los. A análise de várias situações, apresentadas na aula 06, no final deste
material, trará uma visão de como esses vieses acontecem no processo decisório. Isso
não só irá possibilitar a análise de seu próprio processo de decisão, mas também o
auxiliará na análise dos procedimentos decisórios de outras pessoas, o que será
importante na tentativa de prever seu comportamento numa negociação, por exemplo.
O julgamento refere-se aos aspectos cognitivos de processo de tomada de
decisão. Para compreendê-io, precisamos antes de tudo identificar os componentes
desse processo. Cada decisão propõe, quase que necessariamente, um problema, e cada
um deles tem uma série de possíveis alternativas de solução. Por conta disso, é
necessário que observemos, então, os passos que deveriam, implícita ou explicitamente,
estar presentes quando da aplicação de um processo "racional" de tomada de decisão em
cada situação.
Apesar de termos esse tipo de tratamento "racional" e normativo para a questão
do risco no processo decisório, Bazerman20 nos diz que os indivíduos não são,
tipicamente, racionais e/ou consistentes em seus julgamentos sob incerteza. Mas,
mesmo assim, é importante o estudo desse tipo de estrutura normativa, pois ela propicia
um pano de fundo para a ilustração dos desvios sistemáticos da racionalidade, que são
objeto de estudo dos modelos descritivos do processo de tomada de decisão.
Bazerman21 diz que, num processo decisório "racional", pressupõe-se que os
tomadores de decisão definam com perfeição o problema, conheçam todas as
alternativas relevantes, identifiquem todos os critérios e os ponderem com precisão
segundo suas preferências, avaliem com precisão cada alternativa e escolham com
precisão a alternativa com o maior valor percebido.
Esse modelo "racional" propicia uma orientação muito boa para se pensar
sobre como seria um processo ótimo de tomada de decisão. Deve-se deixar claro que o
termo racional refere-se ao processo de tomada de decisão que se espera, logicamente,
que venha a levar ao melhor resultado possível no processo decisório, dada uma
20
BAZERMAN (1994).
21
BAZERMAN (1994).
avaliação precisa dos valores e das preferências quanto aos riscos do tomado r de
decisão.
Ainda para Bazerman,22 o modelo "racional" baseia-se em um conjunto de
suposições que prescrevem como uma decisão deveria ser tomada, ao invés de enunciar
como uma decisão é tomada. Nos trabalhos de Simon23 temos a sugestão de que o
julgamento individual é limitado em sua racionalidade e que é possível entender melhor
a tomada de decisão pela explicação dos processos de decisão efetivos, ao invés dos
normativos (o que deveria ser feito).
Ao mesmo tempo em que o quadro de referência da "racionalidade limitada"
considera que os indivíduos tentam efetuar decisões racionais, ele dá conta de que os
tomadores de decisão não possuem, freqüentemente, as informações importantes para a
definição do problema, os critérios relevantes, e assim por diante. Há restrições de
tempo e custo que limitam a quantidade e a qualidade da informação disponível, além
das restrições de capacidade de reter informações por parte dos decisores e das
limitações de inteligência e percepção que restringem a capacidade de calcular com
precisão a escolha ótima com base nas informações disponíveis.
O conjunto dessas características do processo decisório faz com que os
decisores sejam impedidos de efetuar as escolhas ótimas pressupostas no modelo
"racional". Ao invés disso, elas sugerem que os tomadores de decisão deixarão de lado a
melhor solução em prol de outra que seja aceitável ou razoável. Isso significa dizer que
os tomadores de decisão adotam uma postura de satisfação, ou seja, ao invés de
examinarem todas as possíveis alternativas, eles simplesmente procuram até encontrar
uma decisão que atenda a determinado nível aceitável de desempenho.
Segundo Robbins,24 uma vez que a capacidade humana para formular e
resolver problemas complexos é pequena demais para atender aos requisitos da
racionalidade plena, os decisores operam dentro dos limites da "racionalidade limitada".
Eles constroem modelos simplificados que captam as características essenciais dos
problemas sem considerar toda sua complexidade.
22
BAZERMAN (1994).
23
SIMON, Herbert Alexander. Administrative behavior: study of decision-ranking processes in
administrative organization. New York: Macrnillan, 1957.
24 ROBBINS (2000).
Para Robbins, o modelo de racionalidade pode servir de base para explicar
como as decisões realmente são tomadas. Os decisores, uma vez identificado um
problema, começam a procurar critérios e alternativas em uma lista que provavelmente
esteja longe de ser exaustiva, sendo, então, formada pelos critérios e alternativas mais
explícitas, mais fáceis de encontrar e que tendem a ser extremamente visíveis, já
testadas e de aplicações comprovadas.
A análise dessas alternativas, por sua vez, também não será abrangente nem
detalhada. Seguindo caminhos conhecidos e bem trilhados, eles passarão a analisar
alternativas apenas até identificar uma que seja "suficientemente boa", ou seja, uma que
alcance um nível aceitável de desempenho. A primeira alternativa que atender ao
critério de "suficientemente boa" encerrará a procura e levará a uma de acomodação ao
invés de uma melhor escolha.
Uma vez que os modelos utilizados são simplistas e limitados, normalmente os
decisores começam por identificar alternativas óbvias e com que estão familiarizados.
Isso nos leva a um dos aspectos mais interessantes dessa abordagem "irracional", que é
o fato de que a ordem na qual são consideradas as alternativas tem grande peso na
determinação de qual delas será selecionada. Isso quer dizer que uma alternativa criativa
provavelmente não será escolhida, pois uma solução aceitável será identifica da antes
que o decisor seja obrigado a procurar soluções distantes de sua realidade.
Stoner e Freeman,25 ainda sobre os desafios do uso do modelo racional de
tomada de decisão, dizem que ele cria uma imagem dos decisores como supermáquinas.
Porém, sabe-se que eles são na verdade seres humanos reais que não tomam todas as
suas decisões dessa forma. Em vez disso, eles tendem a usar um modelo que
poderíamos chamar de "racionalidade limitada", proposto por Simon,26 que consiste no
uso de regras empíricas denominadas de heurísticas de decisão, que deixam que as
tendências influenciem suas decisões.
Isso acontece porque num processo de tomada de decisão é necessário
enfrentar as informações inadequadas sobre a natureza do problema e suas possíveis
soluções, a falta de tempo e outros recursos para coletar informações mais completas, as
25
STONER e FREEMAN (1992).
26
SIMON, Herbert Alexander. Administrative behavior: study of decision-ranking processes in
administrative organization. New York: Macrnillan, 1957.
percepções distorcidas, a incapacidade de recordar grandes quantidades de informações
e os limites da inteligência humana, e mesmo assim chegar a uma resposta.
Ainda segundo Stoner e Freeman, em vez de buscar a decisão perfeita ou ideal,
os decisores freqüentemente aceitam uma que irá servir adequadamente a seus
propósitos. Na verdade, eles se satisfazem ou aceitam a primeira decisão satisfatória que
descobrem, ou seja, ao invés de maximizar os resultados com sua decisão, eles
procuram otimizar os recursos de que dispõem no processo decisório.
Esses elementos nos levam à discussão de dois aspectos fundamentais para o
processo decisório:
• criatividade: é a capacidade de combinar idéias de modo singular ou
fazer associações incomuns entre elas. Ela permite ao decisor avaliar e
entender mais plenamente o problema e perceber questões ainda não
consideradas. A maioria dos tomadores de decisão não utiliza de maneira
correta seu potencial criativo e, por conta disso, não o evocam quando se
confrontam com um problema. Para superarem essa situação é necessário
que saiam de suas tocas psicológicas, em que muitos se encerram, e
aprendam como pensar sobre um problema de maneiras diferentes;
• decisão intuitiva: é um processo inconsciente criado, geralmente, com
base em um refinamento das experiências anteriores. Na busca por uma
solução ideal para um problema esse processo não é necessariamente
independente do modelo racional, mas os dois são normalmente
complementares entre si.
Embora os conceitos de "racionalidade limitada" e de busca por uma solução
satisfatória ao invés de ótima sejam relevantes para se discernir que o julgamento
desvia-se da racionalidade, eles não nos dizem como o julgamento será enviesado. Esses
conceitos ajudam os tomadores de decisão a identificar situações nas quais eles podem
estar agindo com base em informações restritas, mas eles não dão apoio para que se
diagnostique os vieses específicos, sistemáticos e direcionais que afetam nosso
julgamento.
Nos estudos de Kahneman e Tversky,27 que continuaram o que Simon havia
iniciado, encontramos informações críticas acerca de vieses específicos que influenciam
o julgamento. Os autores sugerem que as pessoas baseiam-se em uma série de
estratégias simplificadoras ao tomarem decisões. Essas estratégias simplificadoras são
denominadas de heurísticas.
Elas consistem em regras-padrão que implicitamente dirigem o julgamento e
servem como um mecanismo para se lidar com o ambiente complexo que cerca nossas
decisões. Em geral, a heurística ajuda, mas seu uso pode, por vezes, levar a erros
drásticos. A identificação e a ilustração dessas heurísticas e dos vieses que delas podem
resultar, no cenário gerencial, constituem um tema central para a discussão do processo
decisório nesta disciplina. No final desta discussão (aula 06) utilizaremos exemplos de
uma série de heurísticas e vieses para explicar como os indivíduos desviam de um
processo de decisão plenamente racional.
Na concepção de Bazerman,28 o processo de Julgamento e Tomada de Decisão
é aquele em que se leva em consideração três pontos importantes: os aspectos
cognitivos do processo decisório; o processo mental de formar opinião ou avaliar, por
meio de discernimento ou comparação; e a capacidade de julgar, ou seja, o poder e/ou
habilidade de decidir com base em evidências.
Além disso, deve-se ter em vista que a capacidade da mente humana para
formular e solucionar problemas complexos é muito pequena comparada à necessidade
para uma decisão racional e estruturada. A conclusão a que chegamos é que na verdade
não procuramos soluções ótimas, mas apenas razoáveis, e não avaliamos todas as
alternativas, mas apenas algumas.
27
KAHNEMAN,D.; TVERSKY,A. Subjective probability: judgment of representativeness. Cognitive
Psychology, 1972; KAHNEMAN,D.; 1VERSKY,A. On the psychology of prediction. Psychological
Review, 1973; TVERSKY,A.; KAHNEMAN,D. Judgment under uncertainy: heuristics and erases.
Science, 1974; TVERSKY,A.; KAHNEMAN,D. The framing of decisions and the psychology of choice.
Science, 1981.
28
BAZERMAN (1994).
As "armadilhas ocultas" que acompanham o processo de decisão podem causar
erros na formulação e estruturação do problema, e, também, na escolha da alternativa
correta.
As principais armadilhas são:
1. armadilha da âncora: um dos tipos mais comuns de âncora (um peso que fixa o
navio no mesmo lugar) é a fixação no "histórico passado" ou na "tendência mundial"
ou na "tradição";
2. armadilha do status quo: mesmo as alternativas inovadoras tendem a ser
semelhantes às que foram abandonadas ou não passam da mesma idéia apresentada
de modo diferente, isto é, existe uma acomodação para não sair do status atual;
3. armadilha do custo investido ou afundado: muitas decisões tentam levar em conta as
perdas (ou ganhos) do passado, mesmo que elas sejam irrecuperáveis;
4. armadilha da evidência confirmada: muitas decisões estão baseadas em evidências
não confirmadas, mas assumidas de forma polêmica, como, por exemplo,
propaganda de TV, P&D, violência urbana, pena de morte etc.;
5. armadilha das tabelas comparativas (frames): um mesmo problema pode ser
representado por uma tabela ou árvore de decisão, de modo diferente, dependendo
do ponto de vista adotado;
6. armadilha da estimativa e da previsão: os valores adotados para estimar um valor ou
uma previsão devem ser analisados e discutidos de modo a minimizar o efeito do
julgamento subjetivo ou superficial;
7. armadilhas do excesso de confiança/prudência: a confiança ou, por outro lado, a
excessiva prudência pode levar a exageros na obtenção da informação ou decisão.
Exercícios
1. De modo geral, quais são as fases de um processo "racional" de tomada de decisão?
2. Quais as premissas de um processo decisório "racional"? Faça uma relação entre estas
e as principais características do processo decisório. Quais são os problemas que você
vê nesse processo?
Aula 04: Heurísticas de Julgamento e Vieses de Decisão
4.1 Introdução
Para Bazerman, podemos classificar o processo de julgamento e tomada de
decisão em dois tipos:
• julgamento probabilístico: julgamento quanto às chances deste ou daquele
evento ocorrer;
• julgamento de valor: julgamento por meio do qual indicamos nossas
preferências, posição quanto a risco e valores em geral.
Com relação ao julgamento probabilístico, Bazerman29 diz que existem três
grupos básicos de regras práticas ou heurísticas de julgamento utilizadas por gerentes e
outros profissionais trabalhando sob pressão de tempo, no processo decisório, com o
intuito de propiciar uma forma simples de lidar com um mundo complexo. Pode-se,
então, dizer que é praticamente inevitável que os seres humanos venham a adotar
alguma forma de simplificar suas decisões, porém, ao adotá-las, devem ter consciência
de suas conseqüências. A aplicação equivocada da heurística a situações indevidas deixa
as pessoas desorientadas. Se pudermos fazer com que os tomadores de decisão tomem
consciência do potencial de impactos adversos no uso da heurística, eles poderão então
decidir quando e onde deverão utilizá-la e, se isso lhes for proveitoso, eliminar
determinadas heurísticas
de seu repertório cognitivo. Para Stoner e Freeman,30 as pessoas utilizam princípios
heurísticos para simplificar a tomada de decisão. Essas heurísticas podem até apressar o
processo de tomada de decisão, mas são falíveis se os decisores dependerem demais
delas ou se as macularem com idéias preconcebidas e nuanças pessoais.
O julgamento de valor busca ajudar a tomar decisões sob condições de
incerteza. O que será examinado são aspectos sutis relativos à apresentação das
informações, referidos como enquadramento da informação, que podem exercer um
29 BAZERMAN (1994).
30
STONER e FREEMAN. Op. cito
impacto significativo sobre a tomada de decisão. O que faz os decisores se desviarem
rotineiramente da racionalidade é o fato de que eles não avaliam, de maneira geral, a
natureza da incerteza e os efeitos do enquadramento.
No intuito de melhorar o processo decisório, é necessário que se crie a
conscientização do que há de errado com o julgamento intuitivo. Assim, é preciso que
se tome consciência de uma série de vieses que provavelmente afetarão sua decisão.
Porém, para que a mudança ocorra e perdure ao longo do tempo, há que ter mais do que
consciência, é necessário fazer com que os decisores "descongelem" os atuais processos
de tomada de decisão. Essa discussão remete a uma questão fascinante para o campo da
eficácia gerencial, pois os tomadores de decisão, por vezes, conseguem resolver
problemas de inferência demasiadamente sutis e complexos e cometer erros nos mais
simples dos julgamentos acerca de decisões rotineiras. Para Bazerman31 essas limitações
de julgamento podem provir de pelo menos três fontes: emoções, motivações e
cognições. Mas, ainda segundo o mesmo autor, uma melhor tomada de decisão
cognitiva reduz as barreiras emocionais e motivacionais. Vale ressaltar que, antes que
possam ser mudados os processos de tomada de decisão dos gerentes, eles têm que estar
convencidos de que há elementos em seu repertório cognitivo que poderiam ser
melhorados.
31BAZERMAN (1994).
32KAHNEMAN, D. P., SLOVIC, P. e TVERSKY, A. Judgment under Uncertainty: Heuristics and
Biases. Cambridge: Cambridge University Press, 1988.
por natureza não emocional, neutro, difícil de imaginar ou vago. Com isso a Heurística
da Disponibilidade
pode constituir uma estratégia gerencial muito útil para a tomada de decisão, tendo em
vista que circunstâncias de eventos de maior freqüência são, em geral, reveladas mais
facilmente, em nossas mentes, do que as de eventos de menor freqüência. Porém, não se
deve considerar essa heurística infalível ou livre de vieses, em virtude de ser a
disponibilidade da informação também afetada por outros fatores não relacionados com
a freqüência objetiva (real) do evento em julgamento. Esses fatores, que deveriam ser
irrelevantes ou pouco importantes na avaliação de probabilidade, podem influenciar
indevidamente a proeminência perceptível imediata do evento, a vividez com que se
revela ou a facilidade com que é imaginado.
Segundo Bazerman,33 a Heurística da Representatividade é o julgamento por
estereótipo, em que a base do julgamento são modelos mentais de referência. Os
gerentes avaliam a probabilidade de ocorrência de um evento por meio da similaridade
da mesma com seus estereótipos de acontecimentos semelhantes. Em alguns casos,
quando sob controle, o uso dessa heurística é uma boa aproximação preliminar. Porém,
em outros, leva a comportamentos que muitos de nós encaramos como irracionais ou
moralmente condenáveis - tais como a discriminação. Um problema evidente é o fato de
que indivíduos tendem a basear-se em tais estratégias mesmo quando essas informações
são insuficientes e há outras de melhor qualidade com base nas quais se pode fazer um
julgamento correto.
Ainda segundo o mesmo autor, a heurística da ancoragem e ajustamento é
aquela em que se avalia a chance de ocorrência de um evento pela colocação de uma
base (âncora) e se faz, então, um ajuste. Os gerentes começam a realização de suas
avaliações com base em um valor inicial, que é posteriormente ajustado para fins de
uma decisão final. O valor inicial, ou ponto de partida, pode ser sugerido por um
precedente histórico, pela maneira na qual um problema é apresentado ou por uma
informação aleatória. Em situações ambíguas, um fator trivial pode exercer um
profundo efeito sobre nossa decisão, caso sirva como ponto de partida, do qual
passamos a proceder a ajustamentos. Freqüentemente, as pessoas
33 BAZERMAN (1994).
serão capazes de perceber a falta de razoabilidade da âncora, mas seu ajustamento
muitas vezes permanecerá, irracionalmente, próximo à mesma. O que se pode ver com
grande constância é que, independentemente da base do valor inicial, os ajustamentos
efetuados no mesmo tendem a ser insuficientes. Assim, podemos ter decisões distintas
para o mesmo problema, dependendo de quais são os valores iniciais.
A discussão acerca das heurísticas e vieses do processo decisório sugere que os
indivíduos desenvolvam regras simplificadoras para reduzirem as exigências de
processamento de informação na tomada de decisão. Essas regras proporcionam aos
decisores maneiras eficientes de lidar com problemas complexos, que produzem boas
decisões em várias situações. A heurística, no entanto, também leva os tomadores de
decisão a resultados sistematicamente enviesados, quando mal utilizada. Um viés
cognitivo refere-se, exatamente, às situações nas quais as heurísticas são indevidamente
aplicadas no processo de tomada de decisão.
Exploraremos, aqui, a oportunidade de as pessoas auditarem suas próprias
decisões e identificarem os vieses que as afetam. Ao final de nossa discussão teórica
faremos uma análise de uma série de questões que nos ajudarão a entender as heurísticas
e vieses existentes em várias situações de decisão e que levam os decisores a se
desviarem sistematicamente da racionalidade. A idéia por trás dessa maneira de explorar
essa problemática está em aumentar sua capacidade de conscientização do impacto da
heurística sobre suas decisões e para ajudá-lo a desenvolver uma capacidade a fim de
apreciar os erros sistemáticos que emanam de um excesso de dependência das mesmas.
De forma geral os vieses que serão analisados são relevantes, praticamente, para todos
os indivíduos, e cada um deles diz respeito a pelo menos uma das heurísticas já
apresentadas.
A meta desta discussão é ajudá-lo a "descongelar" seus padrões de tomada de
decisão e perceber com mais facilidade como as heurísticas se transformam em vieses
quando são aplicadas de forma inadequada. Por meio da apreciação de diversos
problemas que demonstram os fracassos desses tipos de heurísticas, você irá tornar-se
mais consciente dos vieses em sua tomada de decisão. Aprendendo a identificar tais
vieses, você poderá melhorar a qualidade de suas decisões.
Vamos explorar agora os vieses em relação a cada tipo de heurística. Em
relação a Heurística da Disponibilidade, há os seguintes vieses:
• facilidade de lembrança: baseia-se na vividez e na ocorrência recente, ou
seja, segundo Kahneman, Slovic e Tversky,34 quando um indivíduo julga a
freqüência de um evento por meio da disponibilidade de suas ocorrências,
aquele cujas manifestações forem mais facilmente relembradas parecerá
acontecer mais do que o de igual freqüência e menos facilmente recordado.
Os mesmos autores dizem que, tendo em vista nossa suscetibilidade à
vividez e à ocorrência recente, temos uma tendência especial a superestimar
eventos pouco prováveis. A observação direta de um evento, mesmo de
baixa freqüência, faz com que ele nos seja mais evidente;
• possibilidade de recuperação: baseia-se nas estruturas da memória e na
facilidade de recuperação. Entre as alternativas apresentadas em um
processo decisório, aquela que apresentar menor dificuldade relativa de ser
lembrada será a escolhida, mesmo que não seja a de maior freqüência. Isso
afeta diretamente nosso comportamento de busca de informação no âmbito
de nossas rotinas de trabalho. Estruturamos as organizações de forma a que
propiciem ordem, mas essa mesma estrutura pode levar à confusão, caso a
ordem suposta não funcione exatamente conforme sugerida;
• associações pressupostas: as pessoas freqüentemente caem na armadilha do
viés da disponibilidade em sua avaliação da probabilidade de que dois
eventos ocorram em conjunto. Ao avaliarem dois eventos as pessoas
costumam ignorar o fato de estes formarem quatro situações distintas que
precisam ser consideradas na apreciação da correlação existente entre as
duas situações. Vários estudos mostram que, quando a probabilidade de dois
eventos ocorrerem em conjunto é julgada pela disponibilidade de situações
percebidas, desse tipo, em nossas mentes, em geral atribuímos uma
probabilidade desproporcionalmente elevada de que ocorram novamente em
conjunto.
Toda uma vida de experiência nos levou a acreditar que, em geral, os eventos
mais freqüentes são relembrados em nossas mentes com mais facilidade do que os que
têm menor incidência, sendo os eventos mais prováveis mais fáceis de serem lembrados
34
KAHNEMAN, SLOVIC e TVERSKY (1988).
do que os menos prováveis. Em resposta a esse aprendizado, desenvolvemos a
heurística da disponibilidade para estimar a probabilidade de eventos. Em muitos casos,
essa heurística simplificadora leva a julgamentos acurados e eficientes. Entretanto,
como estes três primeiros vieses indicam, o uso inadequado da heurística da
disponibilidade pode conduzir a erros sistemáticos no julgamento gerencial.
Pressupomos com facilidade demasiada que nossas lembranças disponíveis sejam
verdadeiramente representativas de algum conjunto maior de ocorrências que existe fora
de nossa faixa de experiência.
Numa análise da heurística da representatividade temos os seguintes vieses:
• falta de sensibilidade às proporções da base: as pessoas tendem a ignorar
informações relevantes acerca das proporções da base. Normalmente são
consideradas informações irrelevantes e desconsideradas outras que são
cruciais no processo decisório. Segundo Kahneman, Slovic e Tversky,35
quando os indivíduos não são expostos às informações irrelevantes eles
costumam usar corretamente os dados das proporções da base. Assim,
dizem os autores, as pessoas compreendem a relevância das informações
sobre as proporções da base, mas tendem a desconsiderá-las quando
também se encontram disponíveis dados descritivos;
• falta de sensibilidade ao tamanho da amostra: embora, estatisticamente
falando, o tamanho da amostra seja crucial para uma análise, Kahneman,
Slovic e Tversky36 observam que este elemento se situa claramente fora do
repertório de intuições das pessoas. Ao trabalhar com problemas que lidem
com amostragens, as pessoas muitas vezes usam a heurística da
representatividade. Em suas mentes, elas fazem analogias com
informações dadas, e claramente ignoram a questão do tamanho da
amostra, a qual é crítica para uma avaliação acurada de qualquer problema
dessa natureza;
• concepções errôneas do acaso: a maioria dos indivíduos se vale
freqüentemente de sua intuição e da heurística da representatividade e
erradamente concluem que determinado desempenho seria pouco provável,
39 BAZERMAN (1994).
processos decisórios. Quando se torna urna decisão, seja essa qual for, a
pessoa, por conta da armadilha da confirmação, tende a evitar, mesmo
antes de se comprometer em definitivo, evidências desafiadoras ou de não-
confirmação, que são exatamente as que poderiam proporcionar as visões
mais úteis;
• retrospecto: as pessoas não são, em geral, muito boas para se lembrarem
ou reconstituírem a forma pela qual uma situação incerta lhes apareceu
antes de descobrirem os resultados da decisão. Talvez nossa intuição seja
algumas vezes precisa, mas tendemos a superestimar o que sabíamos e
distorcer nossas convicções acerca do que conhecíamos anteriormente,
com base no que posteriormente viemos a constatar. O fenômeno ocorre
quando as pessoas olham para trás para avaliar o julgamento dos outros
assim como o de si mesmos. Este viés é o conhecido "eu já sabia".
Segundo Kahneman, Slovic e Tversky;40 a maneira mais usual de tentar
explicar esse viés é por meio das heurísticas já apresentadas anteriormente.
A ancoragem pode contribuir para esse tipo de viés quando indivíduos
interpretam seus julgamentos subjetivos anteriores das probabilidades de
UIT.. evento que ocorreu, em referência à âncora de saber se o resultado
efetivamente se deu ou não. Sendo os ajustamentos às âncoras
sabidamente inadequados, pode-se esperar que o conhecimento em
retrospecto venha a enviesar as percepções do que se pensa que já se sabia
de antemão. Além disso, à medida que os diferentes elementos de dados
sobre o evento variam em termos de seu apoio ao resultado real, indícios
que se mostrem consistentes com o resultado conhecido poderão tornar-se
cognitivamente mais evidentes e, assim, mais disponíveis na memória. Isso
levará um indivíduo a justificar uma antevisão alegada em vista dos "fatos
fornecidos". Finalmente, a relevância de determinado elemento de
informação pode,
• posteriormente, ser julgada como maior, à medida que ele seja
representativo do resultado final observado. A alegação de que o que
aconteceu era previsível com base em conhecimento prévio nos coloca em
41 BAZERMAN (1994).
Quadro 02 – Vieses que emanam das heurísticas
VIÉS DESCRIÇÃO
VIESES DA HEURÍSTICA DA DISPONIBILIDADE
FACILIDADE DE LEMBRANÇA Os indivíduos julgam que os eventos mais facilmente recordados na memória,
com base em sua vividez ou ocorrência recente, são mais numerosos do que
aqueles de igual frequência cujos casos são menos facilmente lembrados.
CAPACIDADE DE Os indivíduos são enviesados em suas avaliações da frequência de eventos,
RECUPERAÇÃO dependendo de como suas estruturas de memória afetam o processo de busca.
ASSOCIAÇÕES PRESSUPOSTAS Os indivíduos são enviesados ao analisarem a probabilidade de que dois
eventos ocorram em conjunto, em função de desconsiderarem a possibilidade
dessa correlação s serem afetados pela disponibilidade em suas memórias.
VIESES DA HEURÍSTICA DA REPRESENTATIVIDADE
FALTA DE SENSIBILIDADE À Os indivíduos tendem a ignorar as proporções da base na avaliação da
PROPORÇÕES DA BASE probabilidade de eventos, quando é fornecida qualquer outra informação
descritiva, mesmo se esta for irrelevante.
FALTA DE SENSIBILIDADE AO Os indivíduos, frequentemente, não são capazes de apreciar o papel do
TAMANHO DA AMOSTRA tamanho da amostra na avaliação da confiabilidade das informações da
mesma.
CONCEPÇÕES ERRÔNEAS Os indivíduos esperam que uma sequência de dados gerados por um processo
SOBRE O ACASO aleatório pareça ser "aleatória", mesmo quando for demasiado curta para que
aquelas expectativas sejam estatisticamente válidas.
REGRESSÃO À MÉDIA Os indivíduos tendem a ignorar o fato de que eventos extremos tendem a
regredir à média nas tentativas subsequentes.
A FALÁCIA DA CONJUNÇÃO Os indivíduos julgam erradamente que as conjunções (dois eventos que
ocorrem em conjunto) são mais prováveis do que um conjunto mais global de
ocorrências do qual a conjunção é um subconjunto.
VIESES DA HEURÍSTICA DA ANCORAGEM E AJUSTAMENTO
INSUFICIENTE AJUSTAMENTO Os indivíduos fazem estimativas para valores com base em um valor inicial
DA ÂNCORA (derivado de eventos passados, atribuição aleatória ou qualquer outra
informação que esteja disponível) e, em geral, fazem ajustes insuficientes
daquela âncora quando do estabelecimento de um valor final.
VIÉS DE EVENTOS Os indivíduos exibem um viés tendendo para a superestimação da
CONJUNTIVOS E DISJUNTIVOS probabilidade de eventos conjuntivos e para a subestimação da probabilidade
de ventos disjuntivos.
EXCESSO DE CONFIANÇA Os indivíduos tendem a ser excessivamente confiantes quanto à infalibilidade
de seus julgamentos ao responderem a perguntas de dificuldade variando de
moderada a extrema.
VIESES QUE EMANAM DIVERSAS HEURÍSTICAS
ARMADILHA DA Os indivíduos tendem a buscar informações de confirmação para o que
CONFIRMAÇÃO consideram ser verdadeiro e negligenciam a busca de indícios de não
confirmação.
RETROSPECTO Após terem constatado a ocorrência ou não de um evento, os indivíduos
tendem a superestimar o grau em que teriam antevisto o resultado correto.
Exercícios
1. O que são heurísticas de julgamento? De que forma elas estão presentes em seu dia-a-
dia?
2. Quais os principais tipos de heurísticas de julgamento e quais seus principais vieses
de decisão (cite pelo menos cinco vieses)? .
Aula 05: A Teoria dos Prospectos
Como dito anteriormente, há dois tipos de julgamento e agora vamos falar dos
vieses e heurísticas (regras simplificadoras) do segundo tipo, que é o Julgamento de
Valor. Segundo Kahneman, Slovic e Tverskye Bazerman, neste tipo de julgamento
levamos em consideração questões referentes à incerteza e ao risco. Temos por
incerteza a ausência completa de qualquer indicativo de probabilidade associada às
possibilidades de um evento para estimarmos seu valor esperado. Já o risco é a medida
de incerteza pela qual temos a possibilidade de estimar probabilidades associadas aos
acontecimentos esperados, para prevermos o que pode acontecer, ou o que esperamos
que aconteça.
Até então vimos como as heurísticas cognitivas podem levar-nos
sistematicamente a uma tomada de decisão enviesada. Isso continuará a ser o foco de
nossas discussões, porém vamos examinar aspectos sutis relativos à apresentação das
informações, que denominaremos de enquadramento da informação, e veremos como
eles podem exercer impactos significativos sobre a tomada de decisão. Vamos
apresentar indícios de que as pessoas se desviam sistematicamente da racionalidade em
decisões que envolvam risco, pois elas não avaliam, de maneira geral, a natureza da
incerteza e os efeitos do enquadramento.
Uma grande parte dos decisores não se sentem à vontade em relação às
incertezas. Eles tendem a querer ficar longe delas e acreditar que, se trabalharem
bastante, poderão controlar os resultados futuros. Ou seja, a primeira e mais usual
maneira de lidar com as incertezas é ignorá-las. Isto geralmente envolve a crença de que
os eventos dos acasos podem ser controlados se formos hábeis para isso. Nas palavras
de Bazerman, o ser humano demonstra uma necessidade patológica de ter know-how
para as situações que contêm incerteza inerente. Isso leva as pessoas a darem crédito em
demasia aos sucessos e a procurarem "culpados" nos fracassos.
Como decisores em situações gerenciais, estamos constantemente frente a
decisões que levarão a resultados incertos, e muitas dessas decisões são cruciais, pois
envolvem empregos, segurança, confiabilidade de produtos/serviços e até a própria
existência da organização. Por isso, a preocupação com o quanto arriscado é tomar uma
decisão ou qual nível de risco é aceitável, ao tomá-la, é sempre saudável.
Alguns problemas no tratamento dos riscos são inevitáveis, como, por
exemplo,o trade-off existente entre resultados e custos. Mas, se não lidarmos
racionalmente com tais escolhas, ou apenas reagirmos às mesmas de maneira
superficial, deveremos preparar-nos para encontrarmos inconsistências sérias em nossas
decisões. o que temos que ressaltar é que, se você consegue entender a natureza das
decisões arriscadas, será mais provável que as avalie com base em um processo de
decisão de qualidade. A questão é que se pode tomar decisões melhores aceitando a
existência da incerteza e aprendendo a pensar sistematicamente em ambientes de risco.
Isso implica o uso de dois Princípios Básicos de Comportamento Racional:
• princípio da Invariância: sempre que temos os mesmos elementos, temos
que chegar às mesmas decisões;
• princípio da Dominância: sempre que, na comparação entre duas
alternativas, tivermos em uma delas um aspecto dominante, e os outros
não são perdedores, temos nesta alternativa a melhor.
Os efeitos do enquadramento da informação podem ser explicitados pela troca
na maneira que uma informação é disponibilizada para o decisor. Ou seja, o conteúdo da
informação é o mesmo, porém sua forma de apresentação é diferente. Em teoria isso não
deveria alterar em nada as preferências e, por conseguinte, as decisões de uma pessoa;
porém, o que sente na prática é uma mudança de atitude que impacta até o
comportamento em relação ao risco, fazendo com que pessoas aparentemente avessas
passem a ter um comportamento propenso ao risco. Esse deslocamento de preferências e
padrões de decisão tem sido foco de inúmeras publicações e estudos recentemente.
Dentre eles podemos destacar os livros de Kahneman, Slovic e Tversky e Bazerman,
que mostram que os indivíduos tratam os riscos relativos a ganhos percebidos
(resultados apresentados em termos positivos) de forma diferente dos riscos que dizem
respeito às perdas percebidas (resultados apresentados em termos negativos). Para
Bazerman, nesse tipo de julgamento se utiliza muito o conceito de utilidade, porém com
algumas modificações que serão mostradas pela Teoria Prospectiva da Decisão ou
Teoria dos Prospectos, desenvolvida por Kahneman e Tversky. Essa, que é a teoria
descritiva mais abrangente sobre a maneira como decidimos como agir sob condições de
risco e uma das mais importantes tentativas de explicar esses desvios comuns e
sistemáticos da racionalidade, sugere o seguinte:
• as recompensas e perdas são avaliadas com relação a um ponto de
referência neutro;
• os resultados potenciais são expressos como ganhos (pontos positivos)
ou perdas. (pontos negativos) com relação a esse ponto de referência
fixo e neutro;
• as escolhas que as pessoas fazem são formadas com base na mudança
resultante na posição de ativos, avaliada conforme uma função de
valor no formato de um S (conforme Figura 01).
Kahneman, Slovic e Tversky dizem que na Teoria Prospectiva da Decisão ou
dos Prospectos modifica-se o conceito de utilidade, pois os resultados da decisão são
vistos como desvios (ganhos ou perdas) em relação a um ponto de referência que o
decisor adota na decisão. Assim, se o ponto de referência é tal que os resultados são
vistos como ganhos, prevalece uma posição de aversão ao risco. Se, ao contrário, os
resultados são vistos como perdas, prevalece a propensão ao risco. Isso se deve ao fato
de que a sensação associada a perda de um valor é mais forte do que a sensação
associada ao ganho do mesmo valor; isso modifica um pouco a curva de utilidade, que
passa a ser vista da seguinte maneira:
Figura 01 – Gráfico da utilidade para ganhos e perdas
Utilidade
Utilidade na
Região dos A intensidade (utilidade)
Ganhos da perda de um valor é
maior que a intensidade
(utilidade) do ganho
deste mesmo valor.
Utilidade na Valores
Região das
Perdas
42
TVERSKY, A.; KAHNEMAN, D. The framing of decisions and the psychology of choice. Science,
1981.
Em função das constatações da Teoria dos Prospectos e das pesquisas que
surgiram com base em sua proposição desenvolveremos agora oito aspectos genéricos
ou vieses a serem considerados em uma abordagem de situações incertas. O que se
busca com essa organização dos vieses é tão-somente mostrar o que existe, em termos
de estudos, acerca do enquadramento de decisões e de nossas reações diferenciadas aos
variados tipos de risco:
• decisões afetadas pelo enquadramento das escolhas: o reflexo imediato
desse viés é que, na maioria das vezes, a soma dos resultados de todas as
escolhas indesejáveis predomina sobre a soma de todas as escolhas
desejáveis. Assim, quando o enquadramento do problema é combinado em
duas partes, tem como resultado uma reversão de preferências. A curva
depreferência da Teoria dos Prospectos dá conta dessa constatação, mas isso
não quer dizer que as escolhas sejam racionais. Na realidade, essa
inconsistência viola os requisitos fundamentais da tomada de decisão
racional: consistência e coerência. Muitas das decisões gerenciais
interligadas, tais como a seleção de carteira, a orçamentação e o
financiamento de novos projetos, podem ser enquadradas como decisões
separadas ou conjuntas. Os resultados sugerem ser provável que a
subdivisão da tomada de decisão por meio de toda a organização aumente o
potencial de inconsistência e de escolhas não racionais. Os departamentos
de vendas são estimulados a pensar em termos da aquisição de ganhos
corporativos, ao passo que as áreas de crédito são encorajadas a enquadrar
as decisões em termos de evitarem perdas corporativas. Para se chegar a
uma estratégia coerente para a realização de julgamentos sob incerteza, os
indivíduos precisam ficar mais conscientes desse viés e desenvolver
procedimentos para identificar e integrar as decisões de risco por meio das
organizações;
• decisões afetadas pelo enquadramento dos resultados: como já dito
anteriormente, a localização do ponto de referência é fundamentada para
que se determine se uma decisão está enquadrada positivamente ou
negativamente, afetando a preferência de risco resultante do tomador de
decisão. Além disso, a mudança do ponto de referência desloca as decisões
dos indivíduos da parte superior para a parte inferior da curva. Mas o que
pode ser feito em relação a esse viés? Primeiro identifique seu ponto de
referência quando estiver tomando uma decisão arriscada e depois descubra
se outros pontos de referência seriam igualmente razoáveis. Se a resposta
for positiva, pense sobre sua decisão com base em diversos pontos de vista e
veja se há uma contradição. Você estará, então, preparado para reagir ao
problema com uma total consciência dos enquadramentos alternativos pelos
quais o problema poderia ter sido apresentado;
• decisões afetadas pela pseudocerteza e pseudo-incerteza enquadradas nas
escolhas: a Teoria dos Prospectos sugere que as pessoas dão menor peso a
eventos de alta probabilidade, mas ponderam adequadamente eventos que
são certos. Assim, se um evento tem uma probabilidade de 1 ou O,tendemos
a avaliar corretamente sua probabilidade. Contudo, se o evento tiver uma
probabilidade de 0,99, tendemos a responder conforme o quadro de
referência da utilidade esperada, reagindo a uma probabilidade menor que
essa. Em outras palavras, qualquer ação preventiva que reduza a
probabilidade de dano de, por exemplo, 0,01 para zero será mais altamente
avaliada do que uma ação que reduza a probabilidade do mesmo dano de
0,02 para 0,01. Mas o que é curioso é que a percepção de certeza
(probabilidade zero ou 1) pode ser facilmente manipulada, formando o que
denominamos efeito certeza e efeito da pseudocerteza. Esses efeitos levam
às inconsistências de julgamento. No caso do efeito certeza, estamos mais
aptos a ficar interessados na redução da probabilidade de eventos certos do
que de eventos incertos. Sob o efeito da pseudocerteza estamos mais
inclinados a favorecer opções que nos assegurem a certeza do que as que
apenas reduzem a incerteza. Racionalmente, qualquer redução constante do
risco em uma situação incerta deveria ter o mesmo valor para o tomador de
decisão. As manipulações de pseudocerteza têm importantes implicações
para a concepção das comunicações sobre tratamentos médicos, seguros
pessoais, responsabilidade empresarial e uma série de outras formas de
proteção. Isso significa que os indivíduos, em geral, podem comprar seguros
não apenas para se protegerem do risco, mas também para eliminar a
preocupação causada por qualquer quantidade de incerteza;
• enquadramento do pagamento de prêmios versus a aceitação de perdas
certas: um prêmio de seguro consiste na perda certa (o prêmio) que você
aceita em troca da redução de uma pequena probabilidade de uma grande
perda. Vários estudos mostram que uma perda certa fica mais interessante
quando enquadrada como um prêmio de seguro do que quando enquadrada
como prejuízo financeiro. Isso pode ser explicado de várias maneiras. A
Teoria dos Prospectos sugere que, na condição de prejuízo financeiro, as
pessoas usam o status quo como ponto de referência. Ao contrário, na
condição de prêmio de seguro, o ponto de referência já incorpora o prejuízo
correspondente ao prêmio. É importante dizer que, independentemente das
causas desse viés, é fundamental que se percebam as implicações do efeito
desse enquadramento de decisões relativas a seguros em contraposição à
aceitação de perdas certas. Esse estudo sugere que é mais provável que as
pessoas aceitem uma perda certa se ela for encarada como seguro do qve se
for um prejuizo monetário certo;
• qualidade de uma transação afetada pelo enquadramento em que é
apresentada: este viés nos leva à conclusão de que algo mais importa além
do valor que você atribui a determinado bem adquirido, mesmo quando não
há nenhum outro tipo de vantagem associada ao nível de serviço. Isso nos
leva à conclusão de que, além da utilidade de aquisição, existe outra
denominada de utilidade transacional. Esta se refere à qualidade do que
você recebe, avaliada em relação ao que o item custaria. Mas, na verdade,
mesmo sem receber mais nada em termos práticos, a utilidáde transacional
nos leva a um comportamento irracional de pagar mais sem ter nada a mais
em troca;
• decisões áfetadas pelo somatório dos ganhos e perdas: o argumento para as
diferenças percebidas decorre logicamente da curva em forma de S
identificada pela Teoria dos Prospectos. A teoria alega que damos maior
valor aos ganhos iniciais de um ponto de referência do que aos ganhos
subseqüentes. Isso também vale no caso de perdas, ou seja, damos um valor
mais negativo às perdas iniciais do que às subseqüentes;
• enquadramento do problema e valor de seu tempo: o tempo tem muito a ver
com a questão de risco, e saber como as pessoas valorizam seu tempo é uma
tarefa interessante. Nos últimos anos, os profissionais vêm-se tornando
muito explícitos ao encararem o tempo como seu bem mais valioso, e pensar
racionalmente sobre o valor de nosso tempo tornou-se cada vez mais
importante. Isso é normalmente feito por meio de perguntas em que as
pessoas são convidadas a valor ar seu tempo em relação a uma atividade que
lhes consumiria este;
• racionalidade de suas escolhas intertemporais: um outro aspecto ainda
ligado à questão do tempo é se o valor que atribuímos a nosso tempo é o
mesmo que damos às diferenças nos prazos dos resultados. Isso é o que é
denominado na literatura como escolhas intertemporais. Os modelos-padrão
de tomada de decisão supõem que agimos de forma a maximizar a utilidade
esperada a uma taxa única, constante, de desconto. Isto é, esse tipo de
modelo mostra os indivíduos agindo consistentemente em termos do valor
do tempo. Porém, a realidade de que o futuro é algo intrinsecamente
incerto leva muitos indivíduos a introduzirem vieses na escolha pessoas
usam o status quo como ponto de referência. Ao contrário, na condição de
prêmio de seguro, o ponto de referência já incorpora o prejuízo
correspondente ao prêmio. É importante dizer que, independentemente das
causas desse viés, é fundamental que se percebam as implicações do efeito
desse enquadramento de decisões relativas a seguros em contraposição à
aceitação de perdas certas. Esse estudo sugere que é mais provável que as
pessoas aceitem uma perda certa se ela for encarada como seguro do que se
for um prejuízo monetário certo; qualidade de uma transação afetada pelo
enquadramento em que é apresentada: este viés nos leva à conclusão de que
algo mais importa além do valor que você atribui a determinado bem
adquirido, mesmo quando não há nenhum outro tipo de vantagem associada
ao nível de serviço. Isso nos leva à conclusão de que, além da utilidade de
aquisição, existe outra denominada de utilidade transacional. Esta se refere à
qualidade do que você recebe, avaliada em relação ao que o item custaria.
Mas, na verdade, mesmo sem receber mais nada em termos práticos, a
utilidade transacional nos leva a um comportamento irracional de pagar
mais sem ter nada a mais em troca; decisões afetadas pelo somatório dos
ganhos e perdas: o argumento para as diferenças percebidas decorre
logicamente da curva em forma de S identificada pela Teoria dos
Prospectos. A teoria alega que damos maior valor aos ganhos iniciais de um
ponto de referência do que aos ganhos subsequentes. Isso também vale no
caso de perdas, ou seja, damos um valor mais negativo às perdas iniciais do
que às subseqüentes;
• enquadramento do problema e valor de seu tempo: o tempo tem muito a ver
com a questão de risco, e saber como as pessoas valorizam seu tempo é uma
tarefa interessante. Nos últimos anos, os profissionais vêm-se tornando
muito explícitos ao encararem o tempo como seu bem mais valioso, e pensar
racionalmente sobre o valor de nosso tempo tornou-se cada vez mais
importante. Isso é normalmente feito por meio de perguntas em que as
pessoas são convidadas a valorar seu tempo em relação a uma atividade que
lhes consumiria este;
• racionalidade de suas escolhas intertemporais: um outro aspecto ainda
ligado à questão do tempo é se o valor que atribuímos a nosso tempo é o
mesmo que damos às diferenças nos prazos dos resultados. Isso é o que é
denominado na literatura como escolhas intertemporais. Os modelos-padrão
de tomada de decisão supõem que agimos de forma a maximizar a utilidade
esperada a uma taxa única, constante, de desconto. Isto é, esse tipo de
modelo mostra os indivíduos agindo consistentemente em termos do valor
do tempo. Porém, a realidade de que o futuro é algo intrinsecamente incerto
leva muitos indivíduos a introduzirem vieses na escolha intertemporal que
se assemelham aos que se fazem na avaliação das escolhas de risco.
Como discutimos anteriormente, a Teoria dos Prospectos representa o avanço
mais importante para nossa compreensão dos processos comportamentais de tomada de
decisão, nos últimos 15 anos.
Por meio dos vieses apresentados tentamos demonstrar algumas das principais
características dessa teoria, principalmente no que diz respeito à importância crítica que
o enquadramento da informação assume na forma pela qual tomamos decisões em
situações incertas.
Em geral, as pessoas tendem a responder de maneira diferente quando os
resultados arriscados são definidos em termos de perdas versus ganhos do que em
termos de certeza versus incerteza. O contexto em que os resultados ocorrem também
afeta nossas visões da utilidade transacional e leva a inconsistência na interpretação dos
resultados. Da mesma forma, o somatório, ou agregação, de uma série de resultados
extrai de nós respostas diferentes das que daríamos se fôssemos abordar separadamente
os mesmos resultados.
Ao responder a escolhas temporais, em especial quando elas necessariamente
não envolvem risco, damos um maior valor à perda de tempo pessoal do que o fazemos
ao ganhá-lo. Igualmente, respondemos distintamente aos prazos correspondentes a bons
e maus resultados. Queremos bons resultados agora, mas os maus resultados depois. O
adiamento de um bom resultado implica uma perda maior de utilidade percebida do que
o não-adiamento de um resultado ruim equivalente. Assim, como no caso dos resultados
arriscados, o somatório de escolhas temporais nos afeta de forma diferenciada.
O que se procura é fazer com que você agora seja capaz de identificar
situações nas quais atualmente adota determinado enquadramento, à exclusão de outros
pontos de vista. Se você puder entender e aplicar esse conhecimento, a consistência e
qualidade de suas decisões serão bastante aperfeiçoadas. O conceito de enquadramento
tem um imenso potencial para expandir nosso entendimento de problemas gerenciais
aplicados. Considere como esses efeitos podem ser aplicados em uma diversidade de
contextos organizacionais.
Seja individualmente, enquanto gerentes, seja numa visão mais geral em
termos organizacionais, temos uma tarefa difícil em termos de processo decisório. Uma
tarefa importante para as organizações é fazer com que todos nelas possam seguir uma
estratégia única e racional de assunção de riscos. É inconsistente ter um departamento
de vendas que tenta tomar decisões arriscadas ao mesmo tempo em que o departamento
de crédito tenta tomar decisões conservadoras. Há, provavelmente, uma estratégia de
assunção de risco que se situa entre as estratégias perseguidas por esses dois
departamentos e que se pareça mais com a apropriada para a organização como um
todo, sendo que possivelmente os acionistas prefeririam ver todas as divisões seguindo
uma abordagem global consistente. Pesquisadores dizem que há dois motivos para esse
tipo de inconsistência na assunção gerencial de risco: comunicação e incentivos.
Uma das razões pelas quais os gerentes podem vir a não tomar decisões
consistentes com a estratégia de risco da organização em sua totalidade é que eles
podem não saber qual é a estratégia de risco da organização. Se uma organização não
torna claro o grau de risco que está disposta a aceitar ao conceder crédito aos clientes,
por exemplo, então a briga entre os departamentos de vendas e crédito torna-se
previsível. A organização tem que desenvolver e comunicar a perspectiva global da
companhia no que se refere ao risco.
Além disso, os gerentes podem não vir a tomar decisões consistentes com a
estratégia de risco da organização toda, porque esta dá incentivos que atuam contra seus
melhores interesses. As organizações tendem a recompensar os resultados e, como já
argumentamos, isso não deveria ser assim.
A maioria das decisões é probabilística, e mesmo as melhores decisões podem
não funcionar bem na prática. À medida que a organização recompensa os resultados,
alguns gerentes terão comportamento conservador a fim de evitarem incorrer no erro
que leva à dispensa, enquanto outros tomarão decisões despropositadamente arriscadas
na esperança de que um sucesso inesperado venha a levá-los a uma promoção. Uma
organização pode alterar esse comportamento recompensando a qualidade das decisões
ao invés dos resultados que delas decorrem.
Uma outra estratégia para fazer com que os gerentes tomem decisões no
melhor interesse da organização é recompensá-los com base no sucesso da organização
ao invés do sucesso individual. Trata-se de um princípio básico dos sistemas de
incentivos de âmbito organizacional. Esse tipo de plano liga as recompensas do
indivíduo ao sucesso da organização. O indivíduo não é mais recompensado ou punido
com base no sucesso pessoal e, assim, as metas do indivíduo e da organização não
entram mais em conflito.
Há muita incerteza no mundo, e uma das escolhas mais básicas é se
aceitaremos essa incerteza como um fato ou tentaremos inventar um mundo estável para
nós mesmos. Esse desejo natural das pessoas de reduzir a incerteza, que pode ser básico
para toda a empreitada cognitiva de se entender o mundo, fica descontrolado ao ponto
de que elas começam a acreditar que a incerteza não existe.
Em suma, o que se espera ter conseguido é um quadro de referência analítico
que aumente sua consciência da natureza da incerteza e das decisões arriscadas, que
identifica formas sistemáticas pelas quais o julgamento se desvia da racionalidade em
condições incertas e que coloca essa informação em um contexto que lhe permita
generalizar o material apresentado para aplicações gerenciais mais amplas. Destaca-se
também o firme propósito de se criar uma consciência de natureza intrinsecamente
probabilística da maioria das decisões. Trata-se, aqui, de vários elementos críticos para
o desenvolvimento da capacidade gerencial de tomar decisões eficazes e de avaliar
devidamente as decisões dos outros. Podemos ver, resumidamente, o que tratamos aqui
no Quadro 03:
Quadro 03 – Vieses que emanam do enquadramento da informação
VIESES DESCRIÇÃO
DECISÕES AFETADAS PELO ENQUADRAMENTO Os indivíduos tendem a ser avessos a risco no caso de
DAS ESCOLHAS escolhas enquadradas positivamente e a buscar o risco
no caso de escolhas enquadradas negativamente.
DECISÕES AFETADAS PELO ENQUADRAMENTO Depois que os indivíduos ganham ou perdem algum
DOS RESULTADOS bem, as decisões futuras (no curto prazo) são avaliadas
em termos da curva S, em relação à posição vigente de
perda ou ganho certo.
DECISÕES AFETADAS PELA PSEUDO-CERTEZA Os indivíduos dão mais valor à redução da incerteza
E PSEUDO-INCERTEZA ENQUADRADAS NAS quando o resultado era inicialmente certo do que
ESCOLHAS quando este era apenas provável.
ENQUADRAMENTO DO PAGAMENTO DE Perdas certas são mais atraentes quando enquadradas
PRÊMIOS VERSUS A ACEITAÇÃO DE PERDAS como prêmios de seguro do que quando enquadradas
CERTAS como prejuízos monetários.
Exercícios
1. Como os vieses relacionados à incerteza podem impactar o processo de tomada de
decisão?
Aula 06: Vieses de Decisão: alguns exemplos
Objetivo: O objetivo desta aula é apresentar alguns exemplos relacionados aos vieses de
decisão provenientes do uso das heurísticas de julgamento e dos impactos da Teoria dos
Prospectos.