Geografia
Cidades
GrupoI
Como definir cidades?
É difícil estabelecer uma definição única e universal de cidade, uma
vez que os critérios utilizados variam de país para país, em função da organização
política, administrativa e territorial de cada um deles.
Podemos, contudo, identificar as seguintes características associadas ao conceito
de cidade:
● área com densidade populacional relativamente elevada;
● espaço urbano caracterizado pela continuidade da construção e por uma
grande concentração de edifícios de diversas dimensões e estilos
arquitetónicos;
● elevada concentração de atividades económicas (sobretudo do setor
terciário);
● lugar de concentração de poder político;
● espaço caracterizado pelo modo de vida urbano.
Como é atribuído o título de cidade em Portugal?
A atribuição do título de cidade é legislativa e assenta numa conjugação de critérios
demográficos com critérios funcionais. Para que uma vila seja elevada à categoria
de cidade, necessita de ter, no mínimo, 8000 eleitores em aglomerado populacional
contínuo e, pelo menos, metade de um conjunto de equipamentos coletivos
estipulados na lei, tais como farmácias, corporação de bombeiros, escolas básicas e
secundárias, transportes públicos, urbanos e suburbanos, entre outros.
No entanto, importantes razões de natureza histórica e arquitetónica podem
determinar a elevação da cidade sem que os requisitos anteriores sejam cumpridos.
Os critérios de definição
Demográfico
Considera a população absoluta e/ou a densidade populacional.
Funcional
Relaciona-se com as funções centrais existentes, com o peso da população ativa no
setor terciário, com os movimentos pendulares e com a área urbana funcional.
Jurídico-administrativo
Relaciona-se com as decisões legislativas.
Morfológico
Refere-se à fisionomia do lugar: tipo de edifícios, existência de praças, monumentos
de diferentes épocas, etc.
As limitações dos critérios...
No caso do critério demográfico, que é o mais comum à escala internacional,
verifica-se a impossibilidade de se estabelecer um valor mínimo universal de
habitantes para que um aglomerado populacional seja considerado cidade.
Por outro lado, muitos aglomerados populacionais, com um elevado número de
habitantes e forte densidade populacional, são cidades-dormitório em relação a uma
cidade central, não possuindo funções urbanas significativas para além da
residencial.
Por seu turno, no caso do critério funcional, em muitas situações, a população
residente de um aglomerado urbano trabalha no setor secundário ou terciário, mas
não exerce a sua atividade na sua área de residência.
No caso do critério jurídico-administrativo, muitas cidades portuguesas, por
exemplo, foram elevadas a esta categoria no passado por decisão régia, sendo que,
hoje em dia, registram declínio em termos demográficos e funcionais e não seriam
classificadas como tal atualmente.
A lei que regula a determinação e categoria das povoações em Portugal é a Lei n.
11/1982, de 2 de Junho, e assenta numa conjugação de critérios demográficos
com critérios funcionais.
Expansão Urbana
Quais as principais funções urbanas?
A cidade é um espaço multifuncional, onde consistem diversas funções urbanas:
Função urbana: atividade (econômica, político-administrativa, social, etc.) que se
desenvolve no interior das cidades com vista à satisfação das necessidades da
população.
Terciário
Está relacionada com o comércio e os serviços.
Industrial
Está associada à presença de unidades industriais.
Residencial
É a função que permite a fixação da população e que tende a ocupar maior espaço
no perímetro urbano.
Turística
Relaciona-se com atividades de recreio, de lazer, de descanso e com as férias em
geral.
Defensiva
Está relacionada com a existência de castelos e de muralhas construídos para a
defesa da cidade.
Cultural
Está associada à existência de universidades, bibliotecas e monumentos históricos
ou religiosos.
Religiosa
Está relacionada com a existência de santuários de peregrinação, de igrejas,
seminários e casas de artigos religiosos.
Político-administrativa
Está associada à administração central, incluindo os órgãos do governo.
Qual a relação entre as funções urbanas e a variação da
renda locativa?
O preço do solo urbano, ou seja, a renda locativa, reflete o equilíbrio entre a procura
e a oferta num dado território.
Especulação fundiária: subida desenfreada do preço do solo, como consequência
de uma grande procura e reduzida oferta.
Renda locativa: corresponde ao preço do solo. Este é mais elevado no centro da
cidade, porque tendencialmente, o centro corresponde à área de maior centralidade
e de maior acessibilidade.
O centro é, regra geral, o local da cidade de maior valorização do solo, visto que é
onde se cruzam os principais eixos de comunicação, sendo o local que apresenta
maior acessibilidade potencial. É também aí que a ocupação é mais antiga e os
equipamentos e infraestruturas são mais diversificados e completos.
A procura é elevada, mas a oferta é reduzida, uma vez que o espaço central é exíguo
e a densidade de ocupação é elevada.
Assim, na área central, o preço do solo atinge valores extremamente altos, dando
origem, com frequência, à especulação fundiária, afastando as atividades com
menor poder de compra e atraindo as atividades mais rentáveis.
De um modo geral, à medida que nos afastamos do centro, a
renda locativa diminui, devido:
● à diminuição da acessibilidade (visto que as comunicações são mais densas
na área central de convergência e vão-se tornando mais radiais nas áreas
mais afastadas do centro);
● ao aumento dos terrenos disponíveis;
● à diminuição da procura.
As diferenças registadas na variação do preço do solo urbano nas três funções
urbanas dominantes devem-se à capacidade financeira de cada uma delas e ao
grau de necessidade de se localizarem no centro.
● As atividades terciárias, por registarem um elevado número de utilizadores,
que procuram a máxima acessibilidade, apresentam maior capacidade
financeira para se localizarem no centro e são o tipo de atividades que mais
compete por esta localização central. Estas podem concentrar-se nas áreas
exíguas do centro, uma vez que têm a possibilidade de se sobrepor nos
diversos andares dos edifícios;
● A atividade industrial ocupa sobretudo espaços mais vastos, sendo a que
menos compete pela localização nas áreas centrais, embora estas não a
exclua completamente;
● A atividade residencial está numa situação intermédia, embora seja
necessário ter em linha de conta as características morfológicas da área e as
classes sociais a que se destinam.
Como se caracterizam as áreas funcionais de uma
cidade?
Área funcional: espaço mais ou menos homogéneo e individualizado, relacionado
com a localização das diferentes funções no espaço urbano.
A diferenciação funcional do espaço urbano permite delimitar três grandes áreas
funcionais: as áreas terciárias, as áreas residenciais e as áreas industriais.
As áreas terciárias
Nas aglomerações urbanas de maior dimensão e importância, a área central é
designada por CBD (Central Business District).
CBD (Central Business District): área localizada no centro da cidade, de grande
acessibilidade e onde se assiste a uma grande concentração de edifícios ocupados
por funções do setor terciário (comercial, financeira e função administrativa).
Caracteriza-se pela grande concentração de população flutuante, o que determina
um trânsito intenso e engarrafamentos frequentes durante o dia.
O CBD é a área onde o solo atinge os preços mais elevados, como reflexo da grande
competição pela decisão locativa das atividades.
caracteriza, se essencialmente:
● pela boa acessibilidade por transportes coletivos;
● pela construção em altura, devido a ser uma área restrita e à forte
competição pelo espaço;
● pela forte terciarização do espaço, marcada pela elevada concentração de
atividades terciárias, das quais se destacam:
- o comércio, quer seja especializado, normalmente associado a artigos de
luxo, quer seja vulgar (cafés, pastelarias, restaurantes, …), destinado a servir a
pouca população que aí vivem ou a população que aí se desloca para
trabalhar ou visitar;
- a atividade turística, que regista uma crescente procura destas áreas
centrais;
- os espaços de cultura e lazer, como os teatros e os museus;
- as sedes de bancos, de empresas de grande projeção, de companhias de
seguros e bolsa de valores;
- os órgãos da Administração Pública, como ministérios, tribunais superiores,
governos regionais ou municipais.
Zonamento: processo de diferenciação de um território em zonas, atribuindo a cada
uma delas uma determinada função ou uso (industrial, habitacional, comercial,
agrícola, …).
Zonamento Vertical
A atividade comercial, que exige um maior contacto
com o consumidor, ocupa, sobretudo, o rés do chão
dos edifícios, para que os clientes possam ver os
produtos expostos nas montras.
As funções menos nobres, ou com menor
necessidade de contacto com o público de passagem
(armazéns, oficinas e habitação), ocupam os pisos
superiores.
A função industrial é diminuta, encontrando-se no
CBD unidades de pequena dimensão, que fabricam
produtos raros e de alto valor (ex.: ótica e joalheria),
ou que requerem contacto direto com o cliente,
como a alta costura.
Zonamento Horizontal
● O CBD apresenta diversas áreas especializadas, sendo possível, usualmente,
individualizar:
- o centro financeiro, onde se concentram as sedes dos bancos e das
companhias de seguros, a bolsa de valores e as sedes das grandes
empresas;
- o centro comercial e de serviços, onde predomina o comércio retalhista
(venda de produtos diretamente ao consumidor), os hotéis e outros
alojamentos turísticos e os restaurantes;
- o centro de diversões e de lazer, que concentra os teatros, bares, discotecas,
entre outros.
● Nas margens do centro, pode encontrar-se comércio grossista (venda de
produtos, em grandes quantidades, destinados à revenda por parte dos
retalhistas).
Declínio Demográfico nas Cidades
A par do declínio demográfico das áreas centrais, assiste-se ao aumento da
concentração populacional nas áreas mais periféricas, muitas vezes em cidades
próximas, onde a renda locativa é menor.
Os fatores responsáveis pela diminuição generalizada da função residencial no
centro são:
● a sobrelotação do espaço;
● o desenvolvimento dos transportes urbanos e suburbanos, que favorecem o
aumento da mobilidade da população e a sua fixação em áreas cada vez
mais afastadas do centro;
● o aumento do congestionamento de trânsito e das dificuldades de
estacionamento;
● o aumento da poluição sonora e atmosférica;
● a degradação das habitações antigas, que apresentam condições de
habitabilidade precárias, constituindo mesmo um risco para a saúde e para a
vida dos seus habitantes;
● a recuperação de muitos alojamentos e a sua reconversão em unidades de
alojamento local, o que leva à diminuição da oferta de alojamentos
habitacionais permanentes e ao agravamento da especulação fundiária.
O Surgimento de Novas Centralidades Terciárias:
A cidade é um organismo dinâmico, sofrendo mutações no tempo e no espaço. O
congestionamento das áreas centrais originais leva à procura por parte das
atividades terciárias de alternativas noutros locais da cidade, dotadas, inclusive, de
melhor acessibilidade.
A migração das atividades terciárias para outras áreas da cidade resulta, pois, de
determinados condicionalismos a que os centros originais estão sujeitos:
● o elevado congestionamento funcional;
● a elevada especulação fundiária;
● a escassez de espaço para a expansão das atividades;
● a existência de ruas estreitas e a saturação das vias de acesso (elevada
intensidade de tráfego), que implicam perda de acessibilidade relativa;
● a expansão suburbana, que determina que o CBD já não seja muito central