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Educação de Surdos

O documento discute os desafios da inclusão de alunos surdos nos sistemas de ensino. Aborda as mudanças ocorridas nas políticas educacionais para surdos desde a década de 1980, com o reconhecimento da Língua Brasileira de Sinais e da perspectiva bilíngue e cultural. O texto também analisa as tendências históricas que tratavam os surdos como deficientes versus as novas práticas que celebram suas diferenças.

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larissa.buccelli
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Educação de Surdos

O documento discute os desafios da inclusão de alunos surdos nos sistemas de ensino. Aborda as mudanças ocorridas nas políticas educacionais para surdos desde a década de 1980, com o reconhecimento da Língua Brasileira de Sinais e da perspectiva bilíngue e cultural. O texto também analisa as tendências históricas que tratavam os surdos como deficientes versus as novas práticas que celebram suas diferenças.

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Apresentação O primeiro capitulo apresenta uma narrativa histórica das politicas de atenção social para

Surdos,desde a Antiguidade até os dias de hoje, revelando as concepções de sujeito e de


conhecimento que as motivaram em cada época. O texto aponta para a circularidade dos fatos
históricos demonstrada pelo resgate, na década de 1990, de práticas realizadas no século XVIII.
Além disso, esforçamo-nos para explicitar que o estigma de incapacidade e limitação difundido
nas concepções sociais sobre a surdez e os Surdos tem suas raizes no século XIX, periodo em
que a medicina, e não a pedagogia,cuidou da educação dos Surdos.
No segundo e no terceiro capitulos, ocupamo-nos em esmiuçar fatos novos abordados na
A inclusão de alunos Surdos impõe inúmeros desafios aos sistemas de ensino em razão das educação de Surdos no atual momento histórico, em que o preconceito e a discriminaçao que
mudanças estruturais ocorridas desde a década de 1980. Esse momento histórico congrega um cercam as diferencas individuais e culturais que nos constituem têm sido combatidos nos
periodo de transição: da escola que ignorava as diferenças de tais alunos, tratando-os como se discursos oficiais e na literatura produzida na área. Abrimos espaço para a voz dos Surdos,
fossem ouvintes,para uma fase de resgate de direitos - em que os Surdos figuram como minoria apresentando a gênese de seus movimentos sociais, além das lutas e das conquistas
(levando em conta aspectos linguisticos) -e de exigência do reconhecimento dessa diferença pelo efetivadas, de modo a mostrar que o que os faz diferentes não é a falta de audição, mas sua
sistema educacional, forma visual de interação e comunicaçao, simbolizada pelo uso da lingua de sinais. Ainda são
Essas tendências com objetivos contraditórios coexistem na educação especial, a qual opera, por sintetizados nesses capitulos conhecimentos das principais investigações sobre a lingua de
um lado, como mecanismo de manutenção de práticas tradicionais e, por outro, como espaço de sinais e suas implicações para o desenvolvimento linguistico,cognitivo,afetivo-emocional e
contestação e de efetivação de novas politicas de identidade. social das pessoas Surdas.

Em alguns espaços "escolares" ainda perpetuam propostas de atendimento em que o aluno No último capiulo, buscamos articular os conhecimentos teóricos desenvolvidos com as
Surdo figura como um "paciente", recebendo tratamento especializado do professor - misto de mudanças que se fazem necessárias nas práticas dos sistemas de ensino, diante da urgência de
educador e fonoaudiólogo-,cujas práticas objetvam a reabilitação da audição e da fala. implementação da educação bilíngue para Surdos, que envolve a Lingua Brasileira de
Sinais(Libras) e a lingua portuguesa no curriculo escolar.
Já em outros espaços, novas práticas são produzidas voltadas ao reconhecimento das
Convidamos o leitor, nas páginas que se seguem, ao exercicio da reflexão critica acerca de
possibilidades dos alunos Surdos, em que são potencializadas suas diferenças linguisticas e conhecimentos sobre os Surdos e a surdez, os quais foram sistematizados e incorporados ao
culturais. Nas propostas pedagógicas desenvolvidas com essa perspectiva, o objetivo é consolidar longo de sua formação profissional como verdades inquestionáveis.
uma situação de bilinguismo, em que a lingua de sinais seja mediadora no acesso às atividades
escolares e a lingua portuguesa seja aprendida como uma segunda lingua, Essa visão, defendida Imersos nessa perspectiva, pretendemos ancorar nossas discussões neste texto: realizando
nas agendas politicas de movimentos surdos organizados, tem como principio a celebraçao das contrapontos, questionamentos e reflexoes com base em fundamentos históricos,
diferenças dos sujeitos Surdos e suas possibilidades alternativas de comunicação e aprendizagem. politicos,linguísticos e pedagógicos que circunscrevem novas concepções e práticas no
processo educacional dos Surdos.
Neste livro, intitulado Educação de Surdos, lançamo-nos ao desafio de contextualizar os
determinantes históricos e ideológicos em que as duas tendências citadas anteriormente foram Esperamos que os conhecimentos aqui sistematizados contribuam para uma sólida politica
fundadas, oferecendo a oportunidade de reflexão/critica e aprofundamento acerca da trajetória de formação profissional que integra aulas a distância e atividades de reflexão e de estudo.
escolar e social dos Surdos. Nossa principal intenção é a de oportunizar a superação de um modelo escolar que opera na
manutenção de processos de exclusão e de marginalização de parcelas da população escolar
Esta obra se organiza em quatro capitulos, que buscam sintetizaros principais debates e as brasileira que, como os Surdos, lutam pelo direito à cidadania.
demandas educacionais que contextualizam a inclusão de Surdos na atualidade.
Introdução 0 aspecto mais significativo dessa mudança repousa no reconhecimento do potencial visual dos
sujeitos Surdos na produção de formas alternativas de interação e de comunicação simbólica,
Na década de 1990, mudanças intensas agitaram o cenário de educação de Surdos no sendo a lingua de sinais seu produto cultural mais representativo. Nessa perspectiva, ao invés de
Brasil.Motivados pelos movimentos surdos em nivel mundial, grupos brasileiros passaram a "deficientes", eles passam a ser reconhecidos como um grupo cultural que utiliza uma lingua
reivindicar a garantia da comunicação e do acesso ao conhecimento mediados pela lingua de sinais, minoritária - a Libras. Essa constatação se faz em relação à lingua oficial e majoritária do pais - a
nos diferentes segmentos sociais, como um dos direitos imprescindiveis ao reconhecimento de sua lingua portuguesa.
cidadania bilingue. Isto é, para a comunidade Surda organizada politicamente, tornou-se uma
bandeira de luta o respeito à sua situação linguistica diferenciada, com o reconhecimento da lingua Reconhecer parte das pessoas Surdas como integrante de uma minoria linguistica e cultural que
de sinais como seu simbolo identitário e, somado a isso, o direito ao aprendizado escolar da lingua utiliza a Libras, língua complexa e completa, gramatical e funcionalmente, mas sem prestigio
escrita oficial do pais como segunda lingua. social, éa principal tese que sustenta essa nova perspectiva de discussão do que significa "ser
Surdo".
A oficialização da Lingua Brasileira de Sinais (Libras), as discussões sobre a educação bilingue, a
valorização de educadores Surdos nas escolas e a presença de intérpretes em vários segmentos A educação, como espaço ideológico de (re)produção do conhecimento, que se constitui no
sociais foram marcos das conquistas dos Surdos brasileiros que se seguiram a esse periodo. interior das relaçoes sociais, interpela os educadores ao enfrentamento dos desafios que se
impoem diante das novas práticas pedagógicas e sociais que esse fato invoca.
"É o resultado do processo de inclusão social", alguns poderiam dizer. Para os Surdos, é muito mais
que isso. Os últimos 15 anos sintetizam a ruptura com décadas de práticas sociais em que a
deficiência da audição se tornou mais importante para a definição de politicas públicas em
detrimento de aspectos socioculturais das comunidades surdas. Em sintese, esse movimento
representou a cisão com uma tendência na educação especial que colocava a "orelha defeituosa" e
suas implicações para o desenvolvimento da fala no centro das práticas educacionais, em detrimento
das potencialidades dos sujeitos Surdos na totalidade.
Uma breve incursão pela década de 1980, e o século que a antecedeu, permite-nos compreender a
dimensão que essas conquistas simbolizam, pelo mérito que têm em romper com a concepção de
deficiência que circunscreveu o "Ser Surdo", sua escolarização e sua cidadania, historicamente.
Estudiosos contemporâneos apontam que o conjunto de concepções e práticas que norteou a
educação desses alunos no último século - inserindo os Surdos e a surdez em discursos e práticas
relacionados à patologia, ao déficit e à limitação - pode ser denominado de modelo clinico-
terapêutico da surdez e já não encontra respaldo cientifico no século XXI. Esse modelo vem sendo
fortemente questionado, desde a década de 1960, por pesquisadores e estudiosos das áreas das
ciências humanas, com destaque à linguistica e à filosofia, e cede espaço a novas percepções dos
sujeitos Surdos e de suas possibilidades educacionais e sociais.
Sobre a educação de Surdos, há muitas versões históricas que podem ser relatadas, a depender do ponto de

Histórico da educação vista do narrador. Na perspectiva oficial, há a história apresentada pela maioria dos textos publicados na área,
sob a ótica de pessoas nào Surdas e seus esforços para tornar as pessoas Surdas em individuos sociaveis,
plenamente integrados a um mundo que se constitui com base na audição e na fala.

de Surdos Essa versão põe em destaque a deficiência auditiva, categorizando os indivíduos pelo grau de perda (leve,
moderada, severa e profunda) desse sentido, questão que pode ser sintetizada nos seguintes fatos abordados
na literatura disponivel na área:
»as primeiras iniciativas na educação de Surdos, já no século XVI, com ênfase aos famosos personagens
(obviamente não Surdos) que a empreenderam;
a fundação das instituições especializadas pioneiras no contexto europeu e, posteriormente, no brasileiro,
entre 1850 e 1950;
»os avanços médicos e tecnológicos que permitiram conhecer a anatomia e a fisiologia da audição, assim
como buscar a cura e o tratamento dos déficits auditivos, destacando-se nesse ponto as fonoterapias, os
aparelhos auditivos e o implante coclear;
»o embate metodológico entre correntes gestualistas e oralistas na comunicação e na educação de
Surdos(que se estende aos dias de hoje), com predominio da filosofia oralista, cujo principal objetivo é a
reabilitação da audição e da fala como pressuposto para a integração social das pessoas Surdas.

Por outro lado, há a perspectiva não registrada na literatura oficial que sobrevive nas narrativas de Surdos
adultos, passadas de geraçào em geração, as quais não deixam morrer as experiências vivenciadas em sua
trajetória familiar, escolar e social. Gradativamente, essas narrativas vêm sendo sistematizadas em
dissertações de mestrado e teses de doutorado e, timidamente, ganham espaço no mercado editorial. Nessa
versão, vem à tona uma história de denúncias relatadas pelos Surdos sobre práticas sociais arbitrárias em que
suas diferenças foram ignoradas e, em alguns casos,silenciadas, permanecendo desconhecidas pela grande
maioria das pessoas, dada a escassez de publicações que as veiculam.
Para autores dessa versão, como Sacks (1990), Quadros (199) e Perlin (1998), entre outros, que pòem em
evidência os sujeitos Surdos, o que menos interessa é o grau de perda auditiva ou a patologia que a originou,
pois o fio invisivel que tece seus laços identitários se constitui na comunicação e na cultura visuais,
simbolizadas pela lingua de sinais.
Compreender os conflitos e as tensões que constituem a história cultural dos Surdos, nessa
visão,requer entender os interesses e as relações de poder que estão em jogo ao se perpetuar o
1.1 Nos primórdios
mito de queos Surdos são deficientes e incapazes.
A surdez é tão antiga quanto a humanidade. Sempre existiram Surdos. O que acontece, porém, nos
Muito embora a literatura oficial dominante tenda a tratá-los como um grupo homogêneo,cuja diferentes momentos históricos, é que nem sempre eles foram respeitados em suas diferenças ou
principal diferença seria o grau de perda auditiva e a consequente inabilidade para se comunicar e mesmo reconhecidos como seres humanos.
aprender como os demais, os sujeitos Surdos se contrapõem a essa visão.
Desde os tempos mais remotos, há registros que indicam a existência de pessoas que não
Eles se esforçam por demonstrar que não há como eleger critérios prévios para caracterizar a ouviam,e que os Surdos congênitos (de nascença) não aprendiam a falar normalmente e, por
experiência da surdez, pois ela é única e não categorizável. Relatam nos fóruns de debate da área e isso,expressavam-se por sinais. A falta de audição, nesses relatos, sempre foi associada à
em publicações especializadas que suas identidades são múltiplas e construidas nas diferentes incapacidade para compreender e articular a palavra falada, dai serem denominados de Surdos-
experiências socioculturais que compartilharam ao longo de suas vivências. Para eles, pode-se mudos (Sánchez,1990,p.31).
classificar o ouvido deficiente, jamais o sujeito que o carrega.
Afirmam também que inúmeros grupos poderiam ser contemplados nas suas múltiplas Surdo-mudo:apague essa ideia!
identidades surdas; contudo, suas narrativas se ocupam dos acontecimentos que envolveram
Surdos, os quais, ao longo da história, têm sido marginalizados por uma singularidade:utilizar a As expressões Surdo-mudo ou mudinho, embora muito usadas, são pejorativas e exemplificam uma
lingua de sinais como forma predominante de comunicação e interação, em detrimento da fala, fato visão preconceituosa sobre as pessoas Surdas. Os Surdos não são mudos, apenas não falam porque
que estabelece a exclusào social. não ouvem, mas têm o aparelho fonoarticulatório em plenas condições de funcionamento para a
produção vocal, se for o caso. Há serviços de reabilitação oral,desenvolvidos por fonoaudiólogos,
Essa justificativa, dizem eles, é necessária porque, diferentemente de outros Surdos, que utilizam que têm como objetivo o desenvolvimento da oralidade, caso as pessoas Surdas optem por
a linguagem oral por opção ou imposição, os Surdos que priorizam a comunicação visual nas aprender essa modalidade de comunicação.
interações verbais têm uma história marcada pela marginalização e discriminação social, que
merece ser conhecida pela sociedade. Por muito tempo, os Surdos foram vitimas de uma concepção equivocada que vinculavaa surdez
Como se vê, registrar a história de grupos humanos é uma tarefa complexa, visto que relações de àfalta de inteligência,levando-os a serem marginalizados, com base na crença hegemônica de
poder estão ai envolvidas. 0 posicionamento adotado nunca é neutro, ele reflete uma opção que,como não poderiam falar, não desenvolveriam linguagem, não poderiam pensar e, portanto,
ideológica e está atravessado por valores e adesões pessoais. não haveria possibilidades de aprendizagem formal.
Esse pensamento influenciou as práticas sociais durante toda a Antiguidade e grande parte da
As escolhasque fazemos para nossa narração, ao selecionarmos os tempos e os espaços em que Idade Média, sendo os Surdos privados do acesso à instrução- que significava ler escrever e
os acontecimentos ocorrem, podem favorecer dominadores ou dominados, opressores ou calcular,à época,Comunicavam-se utilizando poucos sinais e gestos rudimentares, jà que na familia
oprimidos.Enfatizamos que essas "divisões" também respondem a opções e interesses referentes não havia comunicação sistematizada, e eram isolados do convívio da comunidade de seus iguais
ao contexto histórico e social dos homens de cada época. A ocupação do lugar (que não é (Sacks, 1990).
geográfico,obviamente) de dominador ou dominado é dependente das crenças e de pontos de vista
daqueles que realizam as narrativas. É necessário, então, avaliar a lente com que será realizada a Por conta disso, atos extremamente desumanos foram praticados por diferentes civilizações, as
leitura dos fragmentos da história da educação de Surdos que se seguem. quais consideravam a surdez um castigo. Estas eram influenciadas pelo pensamento mitico da
época, que atribuia tal fato à ação e aos poderes sobrenaturais dos deuses, o que não podia ser
Nos itens que compõem este capitulo, encontram-se sintetizadas as ideias da vertente que explicado pelos homens.
expressa a"versão oficial da história",por assim dizer.
Na Grécia e, depois, em Roma, os Surdos eram condenados à escravidão ou à morte, recaindo
novamente na ideia de que o pensamento se desenvolvia somente através da palavra articulada
oralmente. Uma vez que o sentido da audição lhes faltava, a intenção de ensiná-los a falar foi E trouxeram-the um surdo e mudo, e suplicavam-lhe que lhe impusesse a mão.[...].E,levantando os olhos
considerada absurda, relegando-os à condição de não humanos, tal qual os escravos e as ao céu, deu um suspiro, e disse-lhe: Ephpheta, que quer dzer,"abre-te".E imediatamente se lhe abriram
mulheres,àépoca. os ouvidos e se lhe soltou a prisão da lingua, e falava claramente.(Marcos, 7:32-35)
Entretanto, algumas vozes importantes se posicionaram contrariamente a tais representações Estava expelindo um demônio, o qual era mudo. E depois de ter expelido o demônio, o mudo
dominantes, mostrando a possibilidade de um outro caminho para os Surdos. É o caso do falou,e as multidões ficaram maravilhadas. (Lucas, 11:14)
comentário de Sócrates, que consta na obra de Platào, Crátilo, que diz: "se não tivéssemos voz
nem lingua, mas apesar disso desejássemos manifestar coisas uns para os outros, não Esses poucos fragmentos do texto biblico sintetizam a condição que marcou o pensamento
deveríamos, como as pessoas que hoje são mudas, nos empenhar em indicar o significado pelas desde a Antiguidade até a ldade Média, periodo de obscuridade e degradação dos direitos das
mãos, cabeça e outras partes do corpo?"(Sacks, 1990,p.31). pessoas Surdas, pois, mesmo que superficialmente previstos em algumas das leis, o que na
verdade prevaleceu foi uma fase de restrições civis, religiosas e, consequentemente,sociais.
Platão, nesse diálogo, discutia a questão da origem da linguagem no homem, a qal ele supunha
ser imposta por uma necessidade da natureza, de acordo com a metafísica das ideias, que regia, A reversão desse quadro conceitual começou a ter inicio no final da ldade Média, quando
de fora,a mente humana. Por isso, o argumento para exemplificar a necessidade instintiva da filósofos e pensadores passaram a difundir a ideia da possibilidade de aprendizagem dos Surdos
linguagem era imposto por outros meios que não os convencionais para se manifestar(Câmara e experiências isoladas foram desenvolvidas por pessoas comuns, demonstrando que a
Júnior, 1975). compreensão e a expressão de ideias não dependiam, necessariamente, da audição ou da fala. A
respeito disso, temos o discurso do médico filósofo Girolamo Cardano(1501-1576), pronunciado
No Corpus Juris Civilis, código juridico do Imperador Justiniano, no ano de 528 (século VI de no século XVI:
nossa era), pela primeira vez se estabeleceu uma diferença, ainda que equivocada, entre as
possibilidades educativas dos Surdos congênitos. Esse texto cita que estes são “afetados pela é possivel pôr [sic]um surdo-mudo condições de ouvir pela leitura e falar pela escrita [...], pois
surdo-mudez simultaneamente, e que por causas naturais não podem ouvir nem falar [...] e os assim como sons diferentes sào convencionalmente usados para significar coisas
Surdos pós-linguisticos [...] em que a surdo-mudez é decorrente de uma desgraça, não desde o diferentes,também pode acontecer com as várias figuras de objetos e palavras [...]caracteres e
nascimento,e que perderam a voz ou a audição por uma doença e que podem ser ideias escritas podem ser relacionados sem a intervenção de sons. (Sacks, 1990,p.31)
educados"(Sánchez, 1990,p.31).
A possibilidade de que os Surdos poderiam aprender sem a intervenção de forças
Essa distinção, que apenas visava estabelecer os direitos legais dessas pessoas, trouxe sobrenaturais,miticas ou religiosas deu lugar à tentativa de muitos pedagogos de desenvolver
importantes consequências quanto à cons-ciência da dificuldade, ou melhor, à impossibilidade seus trabalhos em diferentes paises da Europa, compartilhando a convicção de que era possivel
que teriam os Surdos de nascimento de compreender a palavra e de desenvolver a linguagem. educá-los.
Do mesmo modo, nas afirmações compativeis com o pensamento da lgreja vigente naquela Teve inicio, nesse periodo, um debate interminável entre experiências pedagógicas que
época,determinadas pelo discurso religioso e pelos dogmas dos textos bíblicos-os quais exaltavam contrapunham correntes que investiam na forma de comunicação "natural" dos Surdos - gestos
a voz e o ouvido como a única e verdadeira forma pela qual Deus e o homem podiam falar-, e sinais - e tendências que insistiam em desenvolver neles o que era universal, natural e comum
enfatizava-se a condiçao de os Surdos viverem à margem da convivência social: àpalavra falada.
O Senhor deu-me uma lingua erudita, para eu saber sustentar com a palavra o que está Em sintese, historicamente, o foco das atenções na educação dos Surdos esteve voltado às
cansado;êle [sic]me chama pela manhà, pela manha chama aos meus ouvidos, para que eu o questões linguisticas e não propriamente pedagógicas (Skliar, 1997b).
ouça como a um mestre. (Isaías, 50:4)
O que tem ouvidos para ouvir, ouça.(Mateus, 11:15) 1.2 Fala ou sinais? Inicia-se a educação formal dos Surdos
Aquele [sic]que tem ouvidos ouça o que o Espirito diz às lgrejas[...].(Apocalipse, 2:7)
No século XVI, o monge espanhol beneditino Pedro Ponce de León (1520-1584), reconhecido oficialmente como o primeiro professor de Surdos da história, ensinou nobres Surdos a ler,a
escrever e a contar, com o apoio de gestos utilizados em alguns mosteiros, como resultado da regra pretendiam interligar o ouvido às cordas vocais, a confissão e a remissão dos pecados permitidos apenas pela
de silêncio ali imposta. Ele utilizava também o alfabeto dactilológico (soletração manual) para a oralidade e, sobretudo, a proibição de qualquer forma de comunicação gestual,chegando a ocorrer a
aprendizagem da palavra falada (Meadow, 1980, citado por Sánchez, 1991, p. 36). amarração ou a mutilação das mãos.

Já a primeira alusão à experiência do ensino da fala para Surdos se encontra no famoso tratado Curiosamente, após quase 300 anos, essas ideias da nocividade da comunicação gestual ainda prevalecem
Reducción de las letras y arte para enseñar a hablar a los mudos, de 1620, no qual o soldado e nos fundamentos que norteiam práticas oralistas da atualidade.
filólogo Juan Pablo Bonet afirma que
Figura 11-Práticas pioneiras de reabilitação oral eauditiva no século XIX
para ensinar ao mudo o nome das letras simples[...]o professor e seu aluno devem estar
sozinhos,sendo uma operaçao que requer a maior atençào para a qual convém evitar qualquer
movimento de distração[...]o que escrevemos basta para provar que o surdo-mudo nào deve ser
considerado como um ser incapaz de falar e de refletir, mas como um surdo capaz de aprender as
linguas e as ciências.(Meadow, 1980, citado por Sánchez,1991,p.23)
Embora Bonet tenha sido o pioneiro, Pedro J. R. Pereire (1715-1780) é apontado, nos relatos
históricos, como o mais célebre entre todos os educadores de sua época, como precursor na
"desmutização" de Surdos.
Vale lembrar que todas as iniciativas de oralização desenvolvidas entre o século XVI e início do
século XVIII têm caráter individual, sendo realizadas por preceptores, geralmente contratados para
educar Surdos oriundos da nobreza.
Entre todas as experiências registradas, foi a metodologia de um alemão que ganhou notoriedade
no intento de fazer os Surdos falarem. Samuel Heinicke (1727-1790) é conhecido como fundador do
oralismo, filosofia educacional que tinha como pressuposto que o pensamento era dependente da
mediação da fala. Dessa forma, ele retomou o pensamento dominante na Antiguidade greco-romana.
Para Heinicke, a utilização de gestos ou mímica, como eram denominados os sinais à
época,significava caminhar em direção contrária ao avanço do aluno, e a oralização era necessária
para que os contatos sociais dos Surdos não fossem restritos aos seus semelhantes. Sua metodologia
inicial foi aplicada a apenas dois alunos Surdos(em 1754 e 1768) e se oficializou em 1778, quando ele
fundou a primeira escola para Surdos na Alemanha.
Rafael Ivancheche.
Seguidores de Heinicke aperfeiçoaram técnicas e metodologias oralistas, proibindo
terminantemente qualquer manifestação que identificasse outra forma de comunicação que não a
fala.
Nesse contexto, foram praticados inúmeros atos arbitrários movidos por nobres intenções, em Em posição oposta a seus contemporāneos, na segunda metade do século XIX, o religioso Charles Michel
nome do progresso ou da defesa da sociedade, avalizados pela palavra da religião ou da L'Epée criou um método diferente, com base no emprego de sinais, que alcançou imenso sucesso na década de
1780 e que se estendeu a centenas de Surdos por toda a Europa.
ciência.Exemplificam esse fato a perfuração de ouvidos, a criação de instrumentos mirabolantes que
Esse sistema procedeu da ideia de que a "mimica" constituia a linguagem natural dos "Surdos- linguagem sinalizada para a comunicação e a elaboração mental é o mesmo, ainda que se
mudos". L'Epée se utilizava de sinais metódicos -uma combinação da língua de sinais utilizada concretize em uma lingua tão particular como a lingua de sinais.
pelos Surdos com a gramática sinalizada francesa - e permitia que os Surdos lessem, escrevessem e
compreendessem o que lhes era dito por meio de um intérprete sinalizador. Obviamente, não havia estudos sistematizados sobre o estatuto linguistico da língua de sinais
naquele momento, visto que a linguistica organizou seus métodos formais de investigação apenas
Os registros sobre experiências educacionais coletivas com pessoas Surdas demonstram que os no inicio do século XX. Os primeiros estudos cientificos sobre a lingua de sinais americana
profissionais envolvidos foram ferrenhos defensores dos sinais, trazendo notoriedade ao Instituto (American Sign Language-ASL)foram realizados somente em 1960.
Nacional de Surdos-mudos de Paris, fundado em 1775.
Mesmo assim, a "gestualidade" era reconhecida como uma forma própria de comunicação, que
Pelo sucesso obtido, a prática de L'Epée ganhou inúmeros adeptos e vários professores foram deveria ser estimulada pelos ótimos resultados que trazia ao desenvolvimento sociale acadêmico
treinados para difundi-la nas mais de 20 escolas para Surdos criadas na França e no resto da Eropa dos Surdos.
até 1789. 0 mais interessante é que, pelo predominio da comunicação gestual nas aulas, vários
professores Surdos passaram a colaborar nas práticas educativas, o que, pela primeira vez, As experiências pedagógicas desenvolvidas na época objetivavam a leitura, a escrita e a
conferiu status social às pessoas Surdas. comunicação com os ouvintes mediante a soletração digital (a representação das letras da escrita
com as mãos) e o ensino da fala e de sua compreensão pela leitura labial. O dominio da palavra
As evidências históricas sobre os bons resultados por eles alcançados afirmam que "discipulos articulada, no entanto, era tratado como um meio, entre outros, para alcançar os fins da educação,
de L'Epée e de seus sucessores fundaram centenas de outras escolas, em moldes semelhantes, em e nào sua única meta, como foi considerada nos anos que se seguiram.
todo o mundo"(Moura, citado por Bueno, 1998).
Essas experiências causaram uma generosa mudança de concepção em relação à aceitação das
A conquista de direitos educacionais e sociais aos Surdos, que dominou a França entre 1770 e pessoas Surdas, Conforme afirma Sacks(1990,p.37),
1820,continuou seu curso triunfante nos Estados Unidos até 1870. Em 1864, o congresso
americano autorizou o funcionamento da primeira instituição de ensino superior especificamente esse periodo-que agora parece uma espécie de época áurea na história dos Surdos-testemunhou a
para Surdos,o Colégio Gallaudet-atualmente Universidade Gallaudet, em Washington. rápida criacão de escolas para Surdos, de um modo geral dirigidas por professores Surdos, em todo o
mundo civilizado. A saida dos Surdos da negligência e da obscuridade, sua emancipação e cidadania,
A posição gestualista de L'Epée, que reconheceu a lingua de sinais como o único veículo a rápida conquista de posições de eminência e responsabilidade-escritores Surdos, engenheiros
adequado para desenvolver o pensamento e a comunicação dos Surdos, trouxe inúmeras Surdos, filósofos Surdos, intelectuais Surdos,antes inconcebiveis, tornaram-se subitamente possiveis.
contribuições para a integração social destes. Seus alunos eram capazes de se expressar tanto por
meio da lingua de sinais francesa (Langue des Signes Francaise - LSF) quanto da escrita, o que Mesmo que sua percepção da língua de sinais seja a de uma lingua incompleta e universal -
possibilitou sua profissionalização em diferentes áreas do conhecimento e a ocupação de papéis conforme a concepção da época-e carente de complementos inventados por ele para representar
sociais significativos. palavras da sintaxe da lingua francesa, o abade L'Epée é reconhecido como uma das figuras
históricas de maior importância na educação de Surdos.
A lingua de sinais francesa, sistematizada como fruto da aglutinação de Surdos europeus no
Instituto de Surdos-Mudos de Paris, é conhecida como a primeira língua de sinais do mundo e raiz É inegável a superioridade dos métodos utilizados por L'Epée em relação à conquista de direitos
de todas as outras linguas sinalizadas que foram disseminadas pelo planeta. Sua difusão se deu em educacionais dos Surdos, se comparados aos resultados do oralismo de Heinicke. Enquanto o
decorrência da ida de professores Surdos, que trabalharam com L'Epée, a outros paises europeus e alemão e seus seguidores desenvolviam experiências individuais e pontuais, que envolviam
ao continente americano, multiplicando a metodologia desenvolvida pelo religioso para educar descendentes Surdos da nobreza europeia, o método francês dominou a Europa e se estendeu ao
Surdos. continente americano, atingindo a grande massa de Surdos marginalizados socialmente.
O trabalho de L'Epée fundamenta uma das maiores conquistas em relação à ampliação da Mesmo a despeito de todos esses avanços, que perduraram por quase um século, sucedeu-se
concepção de linguagem para além da fala, demonstrando com seus procedimentos que o poder uma poderosa reação do oralismo, a partir da segunda metade do século XIX, em virtude de
da fatores
politicos e econômicos. ouvintes seriam o modelo ideaI para os alunos. A proporção de professores Surdos nas escolas,que chegava
a 50% do corpo docente em 1850, caiu para 25% na passagem para o século XX e para 12%em 1970(Sacks,
Assim, em pouco mais de 20 anos, as conquistas de um século foram dissipadas. 1990, p.44).

1.3 O triunfo do oralismo e da medicalização da surdez A perseguição a que foram submetidas as posições gestualistas, principalmente após o Congresso de
Milão, afetou severamente comunidades de Surdos em toda a Europa. Aos adultos Surdos, atéentão tidos
como modelos educativos para as crianças no processo escolar, foram relegados papéis secundários e
A difusão do oralismo puro se intensificou e, no século XIX, a oposição entre os métodos francês irrelevantes, quando não o seu desaparecimento das escolas.
(gestual)e alemão (oral) era evidente. No entanto, o oralismo fortaleceu suas bases em toda a Europa
por meio da poderosa influência de representantes de prestigio, como o emergente lider Adolf Os Surdos e sua história no Brasil
Hitler,na Alemanha, e seu aliado Benito Mussolini, na Itália, além de Alexander Graham Bell, gênio
tecnológico da época que, paralelamente à invenção do telefone, trabalhou em protótipos de No Brasil,os mesmos movimentos mundiais se refletiram nas propostas de atendimento iniciais.A primeira
aparelhos de amplificação sonora para Surdos. instituicão especializada foi o atual Instituto Nacional de Educação dos Surdos(Ines),fundado no Rio de
Janeiro em 1857. Quando iniciou suas atividades, sob a supervisão do professor Surdo francês Ernest Huet,
0 Segundo Congresso Internacional de Ensino de Surdos-Mudos, marco histórico que simbolizou o utilizava a lingua de sinais como meio de acesso aos conteúdos curriculares, destacando-se como disciplinas
triunfo do oralismo, realizado em 1880, na ltália, é conhecido mundialmente até hoje como a Lingua Portuguesa, a Aritmética, a Geografia, a História do Brasil,a Escrituração Mercantil, a Linguagem
Congresso de Milão. No evento, representantes do mundo todo, em sua maioria não Surdos, Articulada, a Leitura sobre os Lábios e a Doutrina Cristã. A despeito dos poucos alunos que inicialmente
aprovaram o método oral como o mais eficaz para a educação da criança Surda. atendeu, devido àcondição social dos Surdos - à época sequer reconhecidos como cidadãos - e ao caráter
assistencialista de tal atendimento, Huet atingiu bons resultados.
Segundo Skliar (1997b), as decisões tomadas no Congresso de Milão foram decorrentes de uma
confluência de fatores linguisticos, filosóficos e religiosos, mas não educativos: Ao longo de meio século de existência, diversas mudanças sofridas trouxeram ao Instituto novas dināmicas
administrativas e pedagógicas e, em 1911, conforme a tendência mundial, foram assimilados os
a ltália ingressava num projeto geral de alfabetização e, deste modo, se tentava eliminar um fator pressupostos que fundamentavam as práticas desenvolvidas no resto do mundo,e o oralismo foi
de desvio linguistico-a lingua de sinais-,obrigando também as crianças surdas a usar a lingua de estabelecido como metodologia oficial de ensino para alunos Surdos.
todos; por outra parte, o Congresso legitimava a concepção aristotélica dominante,isto é, a ideia
da superioridade do mundo das ideias, da abstraçào e da razão -representado pela palavra-em A lingua de sinais, apesar de oficialmente proibida, sobreviveu em sala de aula até 1957,continuando a ser
oposição ao mundo do concreto e do material-representado pelo gesto-:por último, os utilizada, às escondidas, pelos alunos nos banheiros, pátios e corredores da escola, longe do olhar vigilante
educadores religiosos justificavam a escolha oralista, pois se relacionava com a possibilidade dos cuidadosos mestres.
confessional dos alunos Surdos. (Skliar, 1997b, p.109)
Na década de 1920, assumiram a direção do Instituto dois médicos otologistas, famosos pelos trabalhos de
Além disso, o estudo das linguas vivas modernas, iniciado no século XVI, intensificou-se e reeducação auditiva que realizavam, apresentando como uma das medidas administrativas a divisão dos
contribuiu para que o aspecto oral da linguagem fosse trazido à tona, firmando bases para a teoria alunos em dois grupos- o oral e o silencioso-aos quais caberiam "tratamentos" distintos:
fonética. Os estudos de cunho biológico, que tnham crescente interesse pelos órgãos da fala e sua
maneira de produzir os sons da linguagem, encontraram ressonância nas práticas empiricas utilizadas o primeiro tratamento compreendia a linguagem articulada e a leitura labial e era destinado aos Surdos
para ensinar os "Surdos-mudos" a articular a palavra (Câmara Júnior, 1975). profundos de inteligência normal e aos semissurdos (os não congênitos);
o segundo se referia à linguagem escrita e à datilologia e era destinado aos retardados de
Com base em tais pressupostos, alunos Surdos foram proibidos de usar sua lingua potencial e
obrigados a aprender a falar, independentemente de suas possibilidades para alcançar êxito nessa
tarefa. Nesse contexto, não havia mais espaço para os professores Surdos, pois, sob a nova ótica, os
inteligência e aos Surdos que ingressavam depois dos 9 anos. 111): "medicalizar a surdez significa orientar toda a atenção à cura do problema auditivo, à
correção de defeitos da fala, ao treinamento de certas habilidades menores, como a leitura labial
O maior desafio, à época, era exterminar a chamada contaminação mimica, que faz com que os e a articulação,mais que a interiorização de instrumentos culturais significativos, como a lingua de
"Surdos-mudos, em poucas horas, se comuniquem, entre si, por esse meio instintivo e sinais".
deficiente". Sob essas bases teóricas, o oralismo sustentou seus métodos, aliando suas práticas aos avanços
na medicina. Podemos exemplificar as invenções da eletroacústica, as pesquisas de reabilitação
Fonte: Adaptado de Espaço, 1997, p. 16-17. de pacientes com distúrbios da linguagem - como as afasias - e os trabalhos das clinicas foniátricas
A concepção oralista, que utilizava como critério para a educação a possibilidade ou não de em geral como práticas que serviram de modelo aos procedimentos utilizados com Surdos nas
falar,consolidou suas bases científicas no século XIX, fortemente influenciada pelo poder da escolas.
medicina. Sánchez (1990) analisa por que a medicina se encarregou da surdez, ainda que não dispusesse
Como ciência orientadora das práticas em educação, a medicina foi uma tendência que teve de nenhum meio cientifico para "curá-la". Faltavam respostas ou explicações convincentes às
suas raízes na primeira década de 1800, com as experiências desenvolvidas por Jean Itard, no questões pertinentes ao desenvolvimento e às funções da linguagem, bem como de suas
contexto europeu. implicações sobre o desenvolvimento pleno da pessoa Surda.

Itard, considerado o precursor da educação especial, realizou as primeiras experiências Com base na confiabilidade do esquema médico-pedagógico, pode-se proclamar,irresponsavelmente,
pedagógicas com um garoto selvagem, com cerca de 10 anos, encontrado nas florestas que todos os Surdos podiam falar, que a surdez era superável, que poderia ser curada. Porém, ao
francesas,tido inicialmente como "Surdo-mudo" e retardado mental. Itard desenvolveu um mesmo tempo, eram dadas explicações do porquê, individualmente, os Surdos não aprendiam a falar,
programa educacional baseado no treinamento de atividades de vida diária, fundamentado no os Surdos não eram curados, coisas que sempre se soube[...].Para perpetuar o engano [...]com
comportamentalismo clássico: estimulo-resposta-reforço-positivo/negativo(Fernandes, 2006c). testemunhos mais que duvidosos, referidos a pessoas com perdas auditivas parciais ou pós-linguisticas,
montou-se o grande circo dos oralizados.(Sánchez, 1990, p.60-61)
Victor, como foi batizado o garoto selvagem, conseguiu alguns avanços em relação ao seu
processo de socialização e adestramento, sendo capaz de viver em sociedade e desempenhar
tarefas cotidianas simples e, até mesmo, a identificação de letras e de algumas palavras, A concepção social predominante durante esse momento histórico pode ser definida, segundo
mas,jamais, falar de fato. Skliar (1997a), dentro do ouvintismo. Esse termo é cunhado pelo autor para se referir ao conjunto
de representações e práticas sociais em que a normalidade ouvinte-a maioria -constitui-se no
Por conta do êxito obtido pelo médico, seus procedimentos foram adotados, aperfeiçoados e se modelo ideal, que deve ser reproduzido pelos Surdos a qualquer custo.
disseminaram, constituindo-se nos fundamentos da futura educação especial, área sistematizada
no século XX, que se estende às pessoas com deficiência, destacando-se as crianças e os jovens Assim,toma-se a patologia do ouvido, explica-se sua anatomia e seu mau funcionamento e se
Surdos. classifica o déficit biológico do sujeito. Para seu tratamento, indicam-se aparatos
tecnológicos,investe-se em aparelhos auditivos e implantes cocleares (mesmo sem a certeza de
Tendo em vista a influência da medicina nos procedimentos utilizados no oralismo, autores sua eficácia).Para restabelecer as funções auditivas ineficientes ou inexistentes, são aplicados
como Sánchez(1990) passaram a denominar esse periodo de medicalizaçào da surdez. 0 objetivo métodos de reabilitação da audição e da fala. Embora o professor esteja à frente desse processo,
maior da medicina, à época, era corrigir "anormalidades", proceder à "cura" e evitar a seu fazer tem caráter de tratamento clinico-terapêutico, já que reproduz estratégias usadas na
manifestação das diferenças.As consequências dessa perspectiva se veem refletidas em ações que fonoaudiologia para a produção da fala e a leitura labial. Em sintese, o ouvido defeituoso - e não o
tentaram suprimir a diferença como se suprime o sintoma de uma enfermidade. sujeito Surdo - é o centro do processo pedagógico.

Na educação dos Surdos, isso se deu pela prática mais óbvia: fazer com que eles falassem como Como decorrência de tal ponto de vista, estabeleceu-se uma identidade absoluta entre
se fossem ouvintese impedir que se expressassem por meio de sinais. De acordo com Skliar linguagem e fala. Essa interpretaçao incide na ideia de que o déficit cognitivo da pessoa Surda se
(1997a, p. deve à falta de audição e à ausência de experiências mediadas pela oralidade. Por isso, toda a
educação oralista teve como determinação alcançar os melhores indices de aproveitamento dos
residuais auditivos e o desenvolvimento de métodos e técnicas de produção da fala
(desmutização) e leitura labial.
Aproximar os Surdos da "normalidade" ouvinte significava fazê-los falar, devolvendo-lhes a Neste capitulo, apresentamos um relato histórico sobre a educação de Surdos nos periodos
capacidade de abstração e de desenvolvimento cognitivo que a condição afetada pela surdez lhes compreendidos entre a Antiguidade e o século XX, fazendo uma breve alusão a seu movimento no
impunha. contexto brasileiro. Nesse periodo, caracteriza-se a oposição entre os métodos
gestual,representado pelo francês L'Epée, e oral, que imortalizou o alemão Samuel Heinicke, O
O oralismo prevaleceu como filosofia educacional predominante no periodo que compreendeu oralismo,assim,tem predominio histórico, estendendo seus princípios e práticas até a
a década de 1880 até meados de 1960, fazendo com que toda a escolarização dos Surdos, bem contemporaneidade,cujo marco históríco de ascensão foi o Congresso de Milão, em 1880. A fim de
como o acesso ao conhecimento (informal ou cientifico), fosse dependente da possibilidade de que não se procedesse à mera narrativa cronológica, foram abordadas as concepções de surdez e
oralização, o que, na maioria dos casos, não acontecia. de sujeitos Surdos subjacentes ao oralismo, denominada de concepção clínico-terapêutica da
surdez. Esse modelo,assim analisado pelas práticas de normalização que impõe aos Surdos, utiliza
O modelo clinico-terapêutico produziu (produz) e provocou (provoca) efeitos prejudiciais nos procedimentos para fazê-los ouvir (tecnologias da audição) e falar (métodos de reabilitação da
aspectos socioemocionais, reforçando a percepção social dos Surdos como seres "deficientes" da audição e da fala).aproximando-os do padrão de "normalidade" caracteristico da maioria e
linguagem, da audição, da cognição, entre outras analogias incapacitantes. proibindo a utilização da lingua de sinais e da comunicação gestual.

Durante esse periodo (de mais ou menos 100 anos), os Surdos foram excluidos
sistematicamente das discussões, que acabaram por definir seus destinos, sem direito à voz ou ao Indicações culturais
voto. Desde as primeiras experiências educacionais, foram os não Surdos que, historicamente,
decidiram qual a melhor escolha para a integração social dos Surdos. Livro
As práticas desenvolvidas no interior das instituições especializadas, durante esse longo
periodo,não responderam de forma satisfatória à propagada integração e, no final do século XX, SACKS, 0. Vendo vozes: uma jornada pelo mundo dos Surdos. Rio de Janeiro: Imago, 1990.
não conseguiram sustentar por mais tempo a infinidade de fracassos de seus fundamentos, de
suas atitudes e de seus procedimentos. Nesse livro, o Doutor Oliver Sacks descreve a história dos Surdos nos Estados Unidos e sua luta para
serem aceitos no mundo dos ouvintes. Ele analisa a lingua de sinais dos Surdos, reconhecida,na década
A fragilidade da sustentação científica que não se comprovava na prática, a lógica mecânica de de 1980, como uma lingua tão completa, rica e expressiva quanto qualquer linguagem falada.É
seus procedimentos, as contradições internas de seu modelo teórico de homogeneização da considerada uma obra pioneira, a qual inscreve novas representações e definições dos Surdos no
surdez e, principalmente, o maciço fracasso educacional dos Surdos foram alguns dos fatores que mercado editorial.
desestabilizaram esse modelo de atendimento.
Muitos outros aspectos de influência dessa concepção de Surdo e de surdez poderiam ser Filmes
abordados, evidenciando ainda mais os efeitos que o modelo clinico-terapêutico acarretou na
vida das pessoas Surdas. Estas, pelas privações linguisticas e culturais que sofreram, tiveram O GAROTO selvagem. Direção: François Truffaut. Producão: Marcel Berbert. França: United Artists,1970.84
marcas irreversiveis em seus destinos e em suas possibilidades sociais. Nesse contexto, cabe aqui min.
uma afirmativa de Foucault(1984), que diz: onde há poder, há resistência.
Essa produção francesa reproduz a história de Victor de Aveyron e os procedimentos médico-pedagógicos
No próximo capitulo, veremos as ações e as reações dos Surdos em relação a esse periodo utilizados pelo Doutor Itard para reeducá-lo. 0 filme traz uma visão bastante interessante das concepções
histórico. de educação desenvolvidas naquela época, baseadas em teorias comportamentais.Por acreditar na
possibilidade de transformar o garoto selvagem em um homem civilizado, Itard é considerado o "pai da
educação especial" e muitas de suas páticas utilizadas com Victor perduram até a atualidade.
Síntese E SEU nome é Jonas. Direção: Richard Michaels, EUA: TV Film, 1979. 100 min
Esse filme narra a história de Jonas, uma criança Surda diagnosticada como retardada mental e ( ) As primeiras experiências de Heinicke foram coletivas, realizadas com filhos de nobres europeus.
internada em um hospital durante três anos. Sua mãe luta arduamente para se comunicar com
ele e educá-lo.Inicialmente, ele é ensinado pelo oralismo, sem sucesso, o que agrava seu 4. Em relação ao trabalho desenvolvido no Brasil, na década de 1920, observe o seguinte parecer e
quadro de agressividade e isolamento social. Por fim, ao aprender a lingua de sinais, abrem-se assinale(V) para as proposições verdadeiras ou(F) para as falsas: "O maior desafio, à época,era
novas perspectivas sociais e pessoais para Jonas, No filme, podemos observar as relações entre exterminar a chamada contaminação mimica que fazia com que os Surdos-mudos, em poucas horas, se
a concepçao de surdez e suas influências nos aspectos escolar e social. comunicassem, entre si, por esse meio instintivo e deficiente"(Espaço, 1997,p.17, grifo nosso):
( ) A contaminação mímica expressa o pressuposto da cura da surdez, eliminando seus sintomas,
Atividades de autoavaliação como a lingua de sinais.

( ) A expressão Surdo-mudo é adequada, já que os indivíduos Surdos se comunicavam por meio de


1. Na trajetória educacional dos Surdos, são vertentes contraditórias:
gestos e mimica.
a) o gestualismo e a datilologia.
( ) Reflete a concepção adotada na primeira escola pública para Surdos, em Paris.
b) as concepções clinico-terapêuticas e o ouvintismo.
( ) llustra o que Sánchez denominou de medicalização da surdez.
c) os métodos francês e alemão.
5. O enunciado que segue traduz a essência do conceito de ouvintismo, proposto por Skliar (1997a)para
analisar as concepções sociais da surdez no oralismo:
d)o oralismo e a medicalização da surdez.
a linguagem falada é prioritária como forma de comunicação dos surdos e a aprendizagem da
2. Sobre o método gestual, é incorreto afirmar que: linguagem oral é preconizada como indispensável para o desenvolvimento integral das
a) tem como representante pioneiro o abade L'Epée. crianças. De forma geral, sinais e alfabeto digitais são proibidos, embora alguns aceitem o uso
de gestos naturais, e recomenda-se que a recepção da linguagem seja feita pela via
b) surgiuno contexto europeu, mais precisamente na França. auditiva(devidamente treinada)e pela leitura orofacial.(Trenche, 1995,citado por Lacerda,
2007,p.5)
c) era um método utilizado para educar Surdos nobres em sessões individuais. Indique se essa proposição é verdadeira(V)ou falsa(F).
d) foi o primeiro modelo adotado no Brasil.
Atividades de aprendizagem
3. Considerando cada um dos princípios do oralismo a seguir, assinale (V) para as proposições verdadeiras
e(F)para as falsas: Questões para reflexão
( ) 0 foco metodológico do oralismo repousa em práticas de reabilitação da audição e da fala.
( ) O oralismo pressupunha a colaboração de professores Surdos em suas práticas iniciais.
1. Como pudemos observar neste capítulo, a história da surdez e dos Surdos foi e é marcada por desencontros e confrontos ideológicos, em que imperam o preconceito e a discriminação acerca da
possibilidade
( ) É analisadode ser utilizada,
como um modelo noclínico-terapêutico
processo educacional, uma forma alternativa de
da surdez.
comunicação que expressa a cultura visual dos Surdos: a lingua de sinais. Durante o último século, a dos textos da internet que seguem:
principal preocupação por parte dos educadores não Surdos foi o ensino da lingua oral.Essa
perspectiva sintetiza os pressupostos de uma tendência denominada por autores como Skliar e DORZIAT,A. Análise critica. Disponivel em: <http://www.sj.cefetsc.edu.br/~nepes/docs/midiat
Sánchez de modelo clinico-terapêutico da surdez. eca_artigos/historia_educacao_Surdos/texto46.pdf>.Acesso em: 19 jul. 2011.
Realize uma pesquisa nas referências indicadas a seguir e também em outras fontes e sintetize os LACERDA,C. B. F. Um pouco da história das diferentes abordagens na educação dos
principais fundamentos do modelo clinico-terapêutico da surdez e suas consequências para o Surdos.Disponivel
processo educacional dos Surdos. em:<http://www.sj.cefetsc.edu.br/~nepes/docs/midiateca_artigos/historia_edu
cacao_Surdos/texto29.pdf>.Acesso em: 19 jul.2011.
LULKIN, S. O discurso moderno na educação dos Surdos: práticas de controle do corpo e a
expressão cultural amordaçada. In: SKLIAR, C. (Org.). A surdez: um olhar sobre as
diferenças.Porto Alegre: Mediacão,1998. Atividade aplicada: prática
QUADROS, R. M.; SKLIAR, C. Invertendo epistemologicamente o problema da inclusão: os Agora que você já conheceu aspectos teóricos e metodológicos importantes sobre a história da
ouvintes no mundo dos Surdos. Estilos da Clinica, São Paulo, v. 7, n. 9, p. 32-51, educação de Surdos no mundo e no Brasil, realize uma pesquisa e organize uma narrativa cronológica
2000.Disponivel em:<http://www.ronice.ced.ufsc.br/publicacoes/invertendo.pdf>.Acesso sobre a educação de Surdos em seu municipio. Não se esqueça de identificar os principais fatos e
em:19jul.2011. personagens que contribuiram para a organização do atendimento nessa área, analisando as
concepções e as tendências educacionais em cada época. Essa pesquisa, por sua importância,poderá
SKLIAR, C. Uma perspectiva sócio-histórica sobre a psicologia e a educação dos Surdos. In:SKLIAR, C. ser socializada com os dirigentes e os técnicos da Secretaria Municipal de Educação e integrar o
(Org.). Educação e exclusão: abordagens socioantropológicas em educação especial.Porto Alegre: acervo histórico do município.
Mediação,1997.

2. Podemos destacar três grandes politicas ou filosofias educacionais na área da surdez: o oralismo, a
comunicação total e o bilinguismo. Realize uma pesquisa e sintetize as concepçoes e os procedimentos
adotados em cada uma dessas correntes, considerando:
»a concepção de surdez e de pessoa Surda;

a concepção de linguagem adotada;

o papel da lingua de sinais na educação;

»as relações entre a lingua de sinais e o português no contexto escolar;

»os procedimentos didático-pedagógicos utilizados;

a relação da comunidade surda com as produções culturais e linguisticas.

Ao final,analise as vantagens e desvantagens existentes em cada um desses itens,considerando as


singularidades inerentes à surdez. Para isso, você pode utilizar as referências
Os movimentos
Como afirmamos no início do capitulo anterior, na complexa dinâmica das relações sociais não cabem
unanimidades. Ao acompanharmos os relatos de apenas um dos aspectos da história, aquele em que os
Surdos são submetidos às práticas oralistas, que lhes impuseram a necessidade de aprender a falar e a ouvir
a qualquer custo,temos a impressão de que estes aceitaram passivamente essa imposição.

surdos e a resistência
No entanto, há outros relatos que começam a ser sistematizados nas pesquisas desenvolvidas em
instituições de ensino superior, que aos poucos vêm sendo publicados em forma de artigos e livros,nos quais
temos acesso também a outras informações.

Nessas obras, há a preocupação de demonstrar que os Surdos, diferentemente de outros grupos de

ao ouvintismo pessoas que apresentam deficiências, têm como caracteristica principal a necessidade de agrupamento em
função da necessidade de formar comunidades linguisticas. No entanto, para muitos, a ideia da formação de
comunidades linguisticas pelos Surdos, em função do uso de uma lingua comum, cria a falsa ideia de
segregação.
Para Behares (1987), citado por Sánchez (1990), de forma diferente de comunidades étnicas,religiosas ou
politicas, a comunidade de Surdos deve ser compreendida como uma "comunidade de experiências". Nas
palavras desse autor, "É o agrupamento organizado de todas aquelas pessoas (ou uma parte delas) que têm
uma diferença especifica relacionada com a formação da identidade social e sua integração se dá por meio
dessa diferença"(Behares, citado por Sánchez, 1990, p. 61, tradução nossa).
Pessoas não Surdas costumam atribuir a diferença dos Surdos a um aspecto negativo:o não ouvir e o não
falar. Já na visão dos Surdos, o que os diferencia é o fato de utilizarem a lingua de sinais, um idioma
diferente daquele que é usado pela maioria. Obviamente, pessoas não Surdas que aprendem a se comunicar
por sinais também podem pertencer a essas "comunidades de experiência".
Relatos históricos demonstram que o resgate dos Surdos, após a sua dispersão pelo mundo, deu-se
apenas a partir do final da ldade Média. Como decorrência do crescimento das cidades e dos intercâmbios
entre diferentes populações e culturas, favoreceu-se seu agrupamento e a formação de
comunidades.Consequentemente, houve o desenvolvimento das linguas de sinais pela necessidade de
comunicação.
A concentração de pessoas nos centros urbanos, como forma de gerar a força de trabalho necessária à
expansão do modo capitalista de produção, foi determinante para o surgimento ea organização das
comunidades surdas(Silva, 2006).

Assim, diferentemente de grupos étnicos que compartilham traços raciais, os Surdos transmitem sua
cultura e lingua visuais, de geração em geração, apenas quando há a possibilidade da convivência
efetiva entre adultos e crianças Surdas. Isso se dá porque o percentual de hereditariedade do traço da oposição aos mais de 150 eleitores presentes.
surdez é muito pequeno, variando entre 1% a 10% nas populações.
Esse episódio foi determinante, já que, no retorno do grupo de professores à América, a comunicação
Do mesmo modo, Sánchez (1990) faz uma análise interessante em relação à diferença dos Surdos gestual continuou a ser adotada (contrariamente à opção pelo oralismo puro predominante no continente
quando comparados a grupos religiosos e políticos, que se juntam por opção. Isso porque, de acordo com europeu). Para os pofessores, o ensino da lingua de sinais não se opunha ao ensino da fala; sendo assim,
Stokoe(1965), citado por Sánchez (1990, p.41), não há a possibilidade de se "optar" porser Surdo em optaram pela oferta complementar de ambas. Essa decisão era motivada pela crença de que os Surdos de
função dos inúmeros fatores que contribuem para esse fato. Assim, é contundente a questão da lingua nascença não poderiam aprender a falar, sendo o método oral aplicado apenas àqueles que possuiam
como fator de aglutinação entre os pares pela impossibilidade de se apropriar "naturalmente"da fala.0 restos auditivos.
argumento linguístico é simples, porém forte: o efeito que o fato de possuir uma lingua comum ou
necessitar desta produz sobre o grupo de Surdos é óbvio e habitualmente intenso;quando a diferença não Desse modo, mesmo que posteriormente escolas orais tenham sido críadas e a medicalização da surdez
se refere a dialetos ou a idiomas, mas a ter ou não a linguagem falada, esse efeito se intensifica tenha se efetivada como um modelo dominante também nos Estados Unidos, o fato de haver se
enormemente (Perlin, 1998, p. 70). fortalecido uma comunidade surda, representada pelos inúmeros professores que, por décadas,foram os
responsáveis pela educação de crianças e jovens, contribuiu para a criação de um movimento de
Desse modo, o crescimento das comunidades surdas se deu nos últimos séculos principalmente em resistência.
funçàoda criação de asilos-escolas, em diferentes paises, como modelo de educação adotado
historicamente. Assim, apesar das condições adversas, os Surdos não deixaram de lutar pelos seus direitos -
fundamentalmente, pelo uso da lingua de sinais -, preservando as experiências que possibilitaram a
Com base no exposto, podemos refletir sobre as consequências e os efeitos que asdecisões tomadas no organização das primeiras comunidades surdas.
Congresso de Milão tiveram sobre a formação da identidade linguistica e cultural dos Surdos,já que os
professores Surdos foram banidos das escolas e a lingua de sinais terminantemente proibida. Destacam-se, nessa versão da história, personagens como Thomas Hopkins Gallaudet, fundador da
Podemos nos perguntar, em virtude desse fato histórico, como essa lingua sobreviveu no último século e primeira escola americana, e seu filho, Edward Miner Gallaudet, que mais tarde o substituiu na direção
ganhou força e reconhecimento nos dias de hoje. A educação de Surdos nos Estados Unidos traz uma desta. Entre os Surdos, destaca-se Laurent Clerc, professor que propagou as ideias de L'Epée e de seus
contribuição inegável a essa possibilidade. seguidores na América.
2.1 A organização politica do movimento surdo
Desde sua origem, no periodo colonial, a educação de Surdos acompanha a perspectiva fortemente
influenciada pelas práticas religiosas de caridade e sua problemática é tomada como uma tarefa da A partir de 1960, principalmente nos Estados Unidos, as denominadas minorias étnicas e
comunidade quando a familia não pode assumir esse papel. Seguindo a politica de segregação daqueles culturais,apoiadas por setores representativos da sociedade, organizaram-se em movimentos sociais para
que podem representar ameaças à vida nas colônias (loucos, vagabundos,criminosos), adotada na reivindicar seus direitos, com o objetivo de terem suas diferenças reconhecidas politicamente.
transição da economia exclusivamente agricola para a sociedade pré-industrial, são criadas as primeiras
escolas de Surdos, por volta da década de 1820, com regime residencial. Engajados nos discursos da igualdade de direitos, lideres Surdos articularam um processo
social,denominado pelos estudos socioantropológicos de movimento surdo, com o objetivo de denunciar a
Nessas escalas, inspiradas nas orientações do método gestualista de L'Epée e no sistema opressão sofrida historicamente e difundir o que eles afirmavam ser suas produções culturais como grupo
linguístico francês, por mais de 50 anos os Surdos adultos foram os principais responsáveis pela minoritário.
educação das futuras gerações. Esse fato contribuiu para as mudanças linguísticas ao longo dos
anos, que originaram a atual lingua de sinais norte-americana(American Sign Language-ASL). Para Gladis Perlin, doutora em Educação e primeira professora Surda de uma universidade federal
brasileira, o movimento surdo tem se caracterizado como local de gestação da politica de identidade surda
Fato curíoso é que, no Congresso de Milão, apenas a delegação dos cinco professores contra a coesão ouvinte, por meio de lutas que objetivam, entre outras coisas, questionar a natureza
americanos,aliados a um professor britânico, votaram favoravelmente à continuidade do método ideológica das experiências surdas e descobrir interconexões entre essa comunidade cultural e o contexto
gestual, em social em geral(Perlin, 1998).
Apoiados em seu poder de mobilização social e no conhecimento cientifico produzido por Essa confluência de fatores contribuiu para a sustentação cientifica e a sistematização dos
disciplinas como Linguistica, Psicologia e Antropologia, os movimentos de resistência surda buscam estudos linguisticos sobre as línguas de sinais em diferentes paises, cujo representante pioneiro é
reverter discursos e práticas dominantes, recusando rótulos e estigmas de deficiência e o linguista norte-americano William Stokoe, com seus estudos sobre a ASL.
incapacidade que relegam os sujeitos Surdos a uma perspectiva de inferioridade.
Como professor do Colégio Gallaudet e aprendiz da lingua de sinais, Stokoe pôde realizar um
Sua principal tese é demonstrar que a perda auditiva é um fato secundário, posto que a principal inventário minucioso dos gestos utilizados pelos Surdos e compreender a lógica interna que
manifestação do ser Surdo é sua possibilidade de estabelecer vinculos com a realidade social por constituía a regra de formação de palavras nesse idioma. Assim como os fonemas para a fala, o
meio da comunicação visual. 0 símbolo mediador mais efetivo dessa manifestação é a língua de pesquisador descobriu que há um número limitado de unidades (chamadas configurações de
sinais. mão), as quais são combinadas com movimentos sistemáticos, localizados em determinados
pontos do corpo,que produzem unidades de sentido.
Vejamos quais foram os fatores politicos e cientiicos que contribuiram para essa organização.
Alladas a essas descobertas, incorporaram-se as recentes descobertas da psicologia sobre a
Do ponto de vista político, o movimento surdo se ambientou no clima de revolução de grupos importância atribuida à linguagem no desenvolvimento do pensamento simbólico e do raciocínio
minoritários, embalados pela insatisfaçao popular pós-Segunda Guerra Mundial e pós-Guerra do lógico, com destaque às trocas verbais possibilitadas por uma lingua.
Vietnã, entre outros conflitos socioeconômicos. Nesse contexto, eclodiram movimentos sociais de
minorias étnicas, linguisticas e religiosas que denunciavam a discriminação a que estiveram Assim,investigações realizadas com crianças Surdas filhas de pais Surdos apontaram seu
submetidas e reivindicavam direitos legais ao reconhecimento de suas diferenças. superior desempenho em testes de inteligência, bem como o desenvolvimento acadêmico, o
aprendizado de segundas linguas, entre outros aspectos, se comparadas às crianças Surdas filhas
Na educação especial, esse contexto favoreceu o movimento de integração que buscou de pais ouvintes.Obviamente, esse fato comprovou o prejuizo das últimas, privadas do acesso à
demonstrar o potencial de pessoas com deficiência para a aprendizagem e o trabalho, abrindo a lingua de sinais na infancia, periodo fundamental para o desenvolvimento da cognição e da
possibilidade de sua matricula em escolas regulares, já que seu atendimento se dava linguagem.
exclusivamente em escolas especiais. Como forma de integração parcial, foram criadas as primeiras
classes especiais em escolas comuns. Outro fator surpreendente constatado foi a baixa incidência de problemas emocionais, como a
agressividade e a tendência ao isolamento, presentes macicamente em crianças e adolescentes
Aliados a esses aspectos politicos indicados, podemos acrescer fatores cientificos que contribuem Surdos que vivem em familias não Surdas, fato que comprova que a identificação linguístico-
para a mudança nos rumos da educação de Surdos no final do século XX. cultural com os pares é fator indiscutível no desenvolvimento sadio da personalidade da criança.
Particularmente no que tange às linguas e às culturas, o processo histórico de colonização
europeia e, posteriormente, norte-americana, que se perpetuou por séculos, disseminou não As mudanças iniciais, decorrentes dessa nova perspectiva, foram percebidas no espaço
apenas o seu poder econômico, mas também promoveu um massacre cultural e linguistico dos educacional por meio da incorporação da língua de sinais nas práticas escolares, originando as
povos sob seu dominio. primeiras experiências de bilinguismo na educação.

A década de 1960 constituiu um marco para a incorporação de novos campos de estudo pela A oposição normalidade ouvinte versus deficiência surda passou a ser questionada
linguistica. A sociolinguistica se organiza como uma ramificação da ciência da linguagem, valendo-se vigorosamente por meio da participação dos Surdos nos debates e nas decisões pedagógicas.
de estudos que demonstram a lógica formal e funcional da multiplicidade de línguas e culturas Argumentam Bergamo e Santana (2005) que os estudos cientificos que conferiram à lingua de
humanas existentes, até então não estudadas por estarem ameaçadas sob o jugo de colonizadores sinais o estatuto de idioma não tiveram apenas repercussòes linguisticas e cognitivas,
europeus, como portugueses, espanhóis e ingleses. mas,sobretudo, sociais. A sociedad considera que "ser normal" implica ter uma lingua;sendo
Intensificaram-se estudos sobre linguas indigenas, linguas de povos africanos e asiáticos assim,se a anormalidade é a ausência de lingua e de tudo o que ela representa (comunicação,
primitivos, como também, pela primeira vez, foram sistematizados métodos científicos para a pensamento,aprendizagem etc.), a partir do momento em que se configura a lingua de sinais
investigação do fenômeno da variação dialetal, solapando a hipótese da unidade linguística. como a lingua do Surdo, o estatuto do que é normal também muda. Em outras palavras, a lingua
de sinais oferece a
possibilidade de legitimação do Surdo como um "sujeito de linguagem", transformando a "anormalidade" utilizadas por médicos e audiologistas que se ocupam do aspecto clinico-terapêutico da surdez.Educadores,
em "diferença" (Bergamo; Santana, 2005). Em última análise, a lingua de sinais aproxima os sujeitos Surdos linguistas e antropólogos devem ter como foco o sujeito, e não a deficiência.
do território da normalidade.
Assim,a opção pela palavra Surdo é ideologicamente marcada.
Os movimentos sociais de pressão, orquestrados pelas comunidades surdas no Brasil e no
mundo,levantaram bandeiras em torno da necessidade do reconhecimento de sua situação
linguistica diferenciada, que os aproxima de outros grupos étnicos minoritários e os distancia das
2.2 Movimentos sociais e políticas públicas na educação de Surdos no
pessoas com deficiências. Esse fato foi determinante para se entender o porquê de os Surdos Brasil
afirmarem, na atualidade,que a surdez não é uma deficiência, mas uma diferença.
No Brasil, a partir do final da década de 1990, o conjunto de reflexões e práticas originadas nos
Diante dessa questão, podemos nos perguntar: Qual termo devemos utilizar no dia a dia? movimentos sociais foi incorporado, progressivamente, às politicas públicas.
Deficiente auditivo ou Surdo?
O movimento pela mudança foi motivado, principalmente, pela grande insatisfação de pais e
educadores com relação ao desenvolvimento global de seus filhos e alunos. Apesar dos esforços e
Desde os anos 1970, Surdos no mundo todo empreendem esforços para demonstrar que não da seriedade do trabalho desenvolvido pelas instituições especializadas, até então os resultados
veem a si próprios como deficientes, mas como um grupo linguistico e culturalmente diverso obtidos na escolarização e na integração social não foram os esperados.
(Garcia, 1999).Sobre isso, Thoma(2004,p.58)faz a seguinte observação:
Um dos principais indicadores desse fato foi o fracasso escolar maciço dos alunos, sinalizado pelo
A comunidade surda faz distinções-particularmente quanto à lingua-entre os Surdos e os que número reduzido de Surdos nos níveis mais avançados da educação básica e quase inexistente no
ouvem.Não uma distinção audiométrica,como aquelas que encontramos com frequência na ensino superior.
literatura voltada a ensinar sobre quem são os Surdos, uma literatura que os narra a patir de
graus de perda de audição e os coloca sempre em referência a uma norma ideal, em comparação Como os Surdos dependiam do aprendizado da fala para serem integrados ao ensino comum, e a
aos que ouvem. Mas uma distinção que fala nos Surdos como sujeitos com uma cultura visual e maioria não obtinha sucesso em sua reabilitação oral, acabavam por não desenvolver uma forma
como membros de uma comunidade plural, mas que têm em comum as marcas da exclusão pela de comunicação sistematizada. Do mesmo modo, como as metodologias de alfabetização
condiçào do "não ouvir".[grifo nosso] priorizavam relações entre letras e sons, tampouco aprendiam a escrever.
Em resumo, o foco da mobilização social dos Surdos é a luta pelo reconhecimento politico de Em obra pioneira, Quadros (1997) apresenta dados incontestáveis sobre os resultados
sua condição de grupo cultural que representa uma minoria linguistica . Nesse sentido, produz-se acadêmicos de alunos Surdos no oralismo no mundo todo. Nos Estados Unidos, um estudo
uma discussão gerada no interior dos movimentos surdos pela mudança na terminologia de divulgado em 1972revelou que o nivel de leitura dos jovens Surdos de 18 anos (ensino médio) era
referência ao grupo. Em diferentes instancias, os sujeitos Surdos reivindicam o direito de serem equivalente à 4 série;na Inglaterra, um estudo similar, realizado pelo psicólogo R. Conrad, aponta
referenciados como Surdos e não como deficientes auditivos. que estudantes Surdos na graduação apresentavam um nivel de leitura próximo ao de uma criança
de 9 anos; de maneira mais taxativa, Duffy (citado por Quadros, 1997) argumenta que o nivel
A mudança de estatuto da surdez, de patologia para fenômeno social ou diferença,vem médio de leitura e escrita de 90% dos alunos Surdos com o segundo grau completo corresponde ao
acompanhada, também, de uma mudança de nomenclatura, não só terminológica, mas da 5a série.
conceitual (Bergamo; Santana, 2005). Sobre isso, Maia (2007, p. 4-5) nos diz: "Minorias
linguisticas são grupos que usam uma lingua, quer entre os membros do grupo, quer em público, No Brasil, Quadros(1997)cita dados semelhantes descritos pela Federacão Nacional de Educacão
que claramente se diferencia daquela utilizada pela maioria, bem como da adotada oficialmente e Integracão dos Surdos (Feneis), em 1995, sobre uma pesquisa realizada pela Pontificia
pelo Estado".
Universidade Católica do Paraná (PUCPR) em convênio com o Centro Nacional de Educação
Para o grupo, as expressões deficiência e deficiente auditivo(a) são pejorativas e carregam o Especial (Cenesp), que atestam a mesma realidade: 74% dos Surdos não chegam a concluir o 12
estereótipo da doença incurável, do déficit, da limitação. São expressões que continuam a ser grau; a maioria dos 5% da populaçao surda total que estuda em universidades é incapaz de lidar
com o português escrito.
Aliada à questão do fracasso na escolarização está a situação dos inconsistentes resultados na educação especial na educação básica e assegura a educação bilingue e os profissionais
aprendizagem da lingua oral. Pesquisas desenvolvidasnos Estados Unidos, também por Duffy
(citado por Quadros, 1997, p. 23), constataram que,

apesar do investimento de anos da vida de uma criança surda na sua oralização, ela somente
écapaz de captar, através da leitura labial, cerca de 20% da mensagem e, além disso,sua
producao oral, normalmente, nao é compreendida por pessoas que não convivem com ela
(pessoas que nào estào habituadas a escutar a pessoa surda).
Esses dados cientificos demonstram que a preocupação de mais de um século de educação
oralista foi a de produzir cidadãos pseudo-ouvintes, uma vez que a sua condição de Surdos jamais
foi assumida e eles também nunca se tornariam ouvintes. Ao colocar o dominio da fala como o
centro das preocupações pedagógicas, produziu-se uma geração de pessoas sem identidade
própria, sem acesso à linguagem e ao conhecimento e, consequentemente, sem um
posicionamento social,ideológico e cultural definido (Fernandes, 2003).

Diante desse quadro de fracasso generalizado, pais, professores e - pela primeira vez -as
pessoas Surdas passaram a pressionar o Poder Público para fazer valer os seus direitos à
diferença.

A Feneis é uma entidade filantrópica sem fins lucrativos, com finalidade sociocultural,
assistencial e educacional, que tem por objetivo a defesa e a luta dos direitos da Comunidade
Surda Brasileira.
Destacamos essa instituição em razão de que, em maio de 1987, ela destituiu a entidade
anterior, a Federacao Nacional de Educacao e Integração dos Deficientes Auditivos (Feneida), que
tinha sua diretoria composta apenas por pessoas ouvintes.

Outra data representativa da articulação politica do grupo é o dia nacional do Surdo,


comemorado em todo o Brasil em 26 de setembro. É uma atividade que mobiliza vários setores
sociais,com destaque às associações de Surdos, às escolas e aos grupos religiosos, a fim de
manifestar publicamente aspectos socioculturais da comunidade surda, bem como relembrar
lutas históricas e propor novos projetos e ações, visando à igualdade de condições nos direitos
sociais básicos.
Selecionamos, a seguir, alguns dos fundamentos legais que asseguram as conquistas
alcançadas nesse período:

»Lei n° 10.098, de 19 de dezembro de 2000(Lei de Acessibilidade)-Promove a acessibilidade nos


sistemas de comunicação e sinalização nos diferentes segmentos sociais (Brasil,2000).
»Resoluçāo CEB/CNE n°2, de 11 de setembro de 2001- Institui diretrizes nacionais para a
intérpretes, entre outros(Brasil, 2001). sinais;

» Lei n° 10.436, de 24 de abril de 2002- Oficializa a Lingua Brasileira de Sinais-Libras(Brasil,2002). »o desenvolvimento de propostas de educação bilingue, incorporando a lingua de sinais como
primeira lingua, seguida da aprendizagem da lingua portuguesa como segunda lingua no
Portaria n° 3.284, de 7 de novembro de 2003-Dispõe sobre a acessibilidade dos Surdos às curriculo escolar;
universidades brasileiras(Brasil, 2003b).
»a potencialização do aspecto pedagógico em detrimento do aspecto clinico no processo
Decreto n°5.626, de 22 de dezembro de 2005- Dispõe sobre a Libras(Brasil, 2005). educacional;

»o resgate dos educadores Surdos como mediadores fundamentais em propostas de educação


Diante desses movimentos e diretrizes legais, as principais mudanças sociais e no território
bilingue para Surdos.
escolar foram as seguintes:

»a difusão da língua de sinais na sociedade e sua utilização no espaço escolar; Contudo,como parte do movimento histórico peculiar no campo educacional, ainda que os
principios da educação bilingue sejam progressivamente assimilados pelos profissionais,
»a disseminação de pesquisas e trabalhos acadêmicos que problematizam os postulados teóricos persistem crenças e práticas oralistas.
e metodológicos vigentes nos últimos anos e viabilizam caminhos para a concretização da
educação bilingue; Assim,ao mesmo tempo em que o discurso em defesa da educação bilingue para Surdos
éveiculado em políticas públicas e por educadores, a prática, de forma contraditória, retrata uma
»a formação de profissionais bilingues, como professores especializados e intérpretes de lingua de realidade bastante distante do discurso que se defende.
Com o movimento de inclusão educacional, por exemplo, percebemos que há um total FENEIS-Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos. Disponivel em: <http://www.fen
desconhecimento sobre a singularidade linguistica dos alunos Surdos por parte dos professores do eis.com.br>.Acesso em:22 jun.2011.
ensino regular.
Nesse site você conhecerá a organização da entidade nacional que representa e defende os direitos da
A concepção predominante no imaginário de pais e educadores é a de que os Surdos são seres comunidade surda brasileira.
deficientes e incapazes, por não utilizarem a comunicação oral da maioria. Persiste a necessidade da
formação continuada dos professores, contemplando discussões sobre as mudanças LIBRAS É LEGAL.Disponivel em:<http://www.libraselegal.com.br>.Acesso em:22 jun.2011.
atitudinais,teóricas e metodológicas implicadas na educação bilingue para Surdos no contexto
Esse site poderá auxiliá-lo(a) no conhecimento sobre os materiais para divulgação e valorizaçào da Libras e
escolar. Esse será o assunto que trataremos no próximo capitulo. na compreensão da questão do reconhecimento dos direitos linguisticos das pessoas Surdas.
NEPES.Núcleo de Estudos e Pesquisas em Educação de Surdos. Disponivel em:<http://www.sj.cefet
Síntese sc.edu.br/~nepes/nepes_historico.htm>.Acesso em:22 jun.2011.

Este capitulo apresentou um panorama geral dos movimentos sociais empreendidos pelos Surdos no Nesse site você poderá ter acesso a produções cientificas, materiais didáticos, teses e revistas sobre a
mundo todo para o fortalecimento de aspectos representativos de suas experiências de vida, como comunidade surda.
éo caso da cultura visual e da lingua de sinais. Trouxemos aqui um breve relato histórico da
formação das primeiras comunidades surdas, do periodo de formação das cidades até o final da Atividades de autoavaliação
ldade Média.Destacamos também o surgimento do movimento surdo, que se uniu aos demais
grupos minoritários que eclodiram no mundo todo após a Segunda Guerra Mundial para defender e 1. Assinale as seguintes proposições como verdadeiras (V) ou falsas(F):
lutar por seus direitos.No Brasil, a organização politica dos Surdos se ambienta na década de 1980, ( ) A lingua de sinais tem sua origem no final da ldade Média.
com a criação da Feneis e com apoio de pais e educadores, de modo a assegurar avançosà sua
cidadania e à sua condição de minoria linguistica. Entre as conquistas mais importantes daquele ( ) O único pais que contraria as decisões do Congresso de Milão é a França.
período estão a oficialização da Libras em território nacional e as primeiras experiências de
educação bilingue nas escolas. ( ) Laurent Clerc foi o primeiro professor Surdo famoso na história.

( ) Gallaudet é a instituição educacional mais importante nos EUA.


Indicações culturais
2. Em relação ao movimento surdo, assinale a alternativa incorreta:
Sites

DHNET.Os direitos das minorias étnicas. Disponivel em: <http://www.dhnet.org.br/direitos/militant


es/lucianomaia/lmaia_minorias.html>. Acesso em:22 jun. 2011.

Nesse site há um interessante artigo sobre os direitos das minorias étnicas.

EDITORA ARARA AZUL.Centro Virtual de Cultura Surda. Disponivel em: <http://www.editora-arara-az


ul.com.br>.Acesso em:22 jun.2011.

Nesse site você poderá conhecer clássicos da literatura em Libras, dicionários, livros on-line e outras
producões interessantes dedicadas à cultura e à diversidade das pessoas Surdas.
a) Questiona a oposição normalidade ouvinte/deficiência surda. c) utilizam para comunicação uma lingua diferente daquela adotada oficialmente no pais.

b) Objetiva a participação dos Surdos nos debates e nas decisões que lhes dizem respeito. d) Nenhuma das alternativas anteriores está correta.

c) Faz distinções baseadas nos graus de perda auditiva para aceitar seus membros Surdos.
Atividades de aprendizagem
d) Lutam para que os Surdos sejam reconhecidos como "diferentes" e não como "deficientes".
Questões para reflexão
3. 3.Leia o enunciado e responda verdadeiro(V)ou falso(F):
1. Os movimentos sociais de Surdos ganharam força na década de 1980, no mundo todo. Um
Behares (citado por Sánchez, 1990) afirma que, diferente de outros grupos, os Surdos se dos eventos mais importantes nessa década foi a greve realizada pelos estudantes da
constitutem em comunidades de experiência. Verifique se o trecho a seguir exemplifica o Universidade Gallaudet para reivindicar que, pela primeira vez na história da instituição, um
conceito definido pelo autor: reitor Surdo fosse nomeado. Pesquise o acontecimento e identifique que mudanças se
Os Surdos, enquanto povo surdo, têm necessidade da identidade cultural que identifica a sucederam a esse importante marco histórico nos movimentos surdos mundiais.
diferença."Povo surdo representa as comunidades surdas que transcendem questoes
geográficas e linguisticas. Os Surdos que celebram uma lingua visual-espacial por meio do 2. Faça uma pesquisa sobre o tema "identidades surdas", desenvolvido no Brasil pela doutora
encontro surdo-surdo.(Perlin; Quadros, 2006,p.181) em Educação Gladis Perlin (1998), da Universidade Federal de Santa Catarina(UFSC), e sintetize
as características atribuidas pela autora a cada uma das identidades destacadas:
» Identidades surdas.
4. Considerando os fatores cientificos que favoreceram o reconhecimento dos Surdos como um grupo cultural,
assinale a alternativa correta: »Identidades hibridas.
a) A revolta da população pós-Segunda Guerra Mundial.
»Identidades flutuantes.
b) O reconhecimento de que os filhos de pais Surdos adquirem a Libras como lingua materna.
» Identidades de transição.
c) Os estudos de Stokoe sobre a organização da lingua de sinais americana.
Atividade aplicada: prática
d) As novas tecnologias para o tratamento da surdez, como o implante coclear.
Nelson Pimenta é um ator Surdo brasileiro famoso pela promoção das produções artisticas e
5. Os Surdos são reconhecidos como uma minoria linguistica porque: culturais da comunidade surda brasileira. Utilize a internet e pesquise artigos, entrevistas e
outras noticias relacionadas a essa importante personalidade dos movimentos surdos brasileiros
a) a lingua de sinais é inferior à língua portuguesa. e verifique com qual das identidades surdas, descritas por Gladis Perlin (1998), Nelson Pimenta
mais se identifica,
b) apenas pequena parte deles utiliza a lingua de sinais.
Surdez e linguagens
Para que possamos iniciar esse novo bloco de discussões, convidamos o leitor a relembrar situações em
que esteve envolvido com pessoas Surdas. Se você fosse desafiado a indicar quais as caracteristicas que
"denunciam" a surdez, faria isso com facilidade? Provavelmente, não.
Isso se dá porque a surdez não acarreta marcas físicas, facilmente identificáveis, mas se evidencia
plenamente quando nos detemos a perceber detalhadamente o comportamento pessoal e o
relacionamento social da pessoa. Obviamente, esse é um critério muito subjetivo, já que cada individuo
possui caracteristicas muito próprias.
A relação entre fatores sociais e individuais é que nos constitui pessoas singulares. Assim, de acordo
com Fernandes (2006b, p. 2), "o lugar onde nascemos, as pessoas com quem nos relacionamos, as
oportunidades que tivemos, a educação que recebemos, enfim, o amplo conjunto de experiências
socioculturais que vivemos ao longo da vida" são elementos que determinam nossa singularidade.
Para Fernandes(2006b,p.2), se isso é óbvio,
ao nos relacionarmos com uma pessoa Surda, devemos nos lembrar que sua perda auditiva éapenas
um aspecto de sua subjetividade. Há muitos outros que só serào conhecidos se nos dermos a
oportunidade de vê-la como um ser humano global, que externaliza conhecimentos que acumulou
ao longo de sua existência.
Sendo assim, não há informações definitivas sobre como ensinar alunos Surdos e se relacionar com
eles. É necessário dizer o óbvio, pois o discurso da inclusão disseminou a ideia errônea de que pessoas
com necessidades educacionais pertencem a categoris que podem ser classificadas e logicamente
definidas em um conjunto de caracteristicas comuns.
Essa é a consequência mais nociva da inclusão ao aluno Surdo: tomar a deficiência na audição como
fator central nas relações que serão estabelecidas no contexto escolar e esquecer a pessoa, o sujeito
singular que ali está. Nunca é demais relembrar que as reflexões e a tomada de decisão do professor a
respeito das práticas mais adequadas a serem utilizadas com seu aluno serão dependentes do sujeito
concreto que ele tem diante de si, bem como as considerações sobre sua história de vida.
Definida pela medicina e por ciências da saúde correlatas, a surdez é um quadro orgânico que
acarreta perdas auditivas, parciais ou totais, refletindo-se principalmente no desenvolvimento da
linguagem oral. No senso comum, é usual a interpretação equivocada de que todas as outras formas de
linguagem serão prejudicadas.
Isso se dá porque a maioria das pessoas se comunica por meio da oralidade, e não faz ideia comunicação, por ser esta uma estratégia ineficaz para a comunicação e o acesso ao conhecimento escolar.
de que a linguagem é comunicação simbólica (ou seja, acontece por meio de signos que Mesmo entre os Surdos "treinados" para o domínio dessa técnica, esse não é um meio confiável para a plena
compreensão na conversação.
representam a realidade) e se realiza por inúmeros meios: desenhos, gestos, escrita, sons,
icones, cores e, no caso dos Surdos, sinais. Isso ocorre porque, na melhor das hipóteses, 50% da mensagem estará comprometida pela
Muitos ignoram o fato de que, se apenas a linguagem oral for utilizada, não haverá interaçao dificuldade da percepção visual de fonemas articulados no interior da cavidade
nem acesso ao conhecimento pela criança Surda, sendo que as relações sociais e de bucal(/k/,/g/,/R/,/lh/,/nh/...), além da rapidez do fluxo da fala. Assim, uma estratégia
aprendizagem ocorridas em sala de aula e demais contextos da escola ficarão comprometidas, utilizada pelos Surdos é a dedução do conteúdo, aliando elementos não verbais - como as
gerando barreiras em seu processo educacional(Fernandes, 2003). De acordo com essa autora, expressòes faciais e o contexto comunicativo - para “adivinhar" o que ficou "obscuro" na
crianças com leitura.

surdez leve ou moderada, via de regra, comunicam-se utilizando a linguagem oral e Ainda devemos ressaltar que a presença de outros elementos que prejudicam a tarefa da
desenvolvem relativo dominio do português. No entanto, a perda auditiva pode impedir a leitura labial, como movimentações paralelas e as caracteristicas dos lábios de quem fala -
perfeita percepção dos fonemas das palavras, podendo causar problemas na compreensão presença de bigodes, lábios imperfeitos, trejeitos articulatórios, mobilidade labial -, que tiram
do que é dito. Em última análise,essa dificuldade poderá se refletir na escrita, ocasionando a atenção da pessoa Surda.
problemas no processo de alfabetizacao/letramento.(Fernandes, 2003,p.3)
Ler lábios, portanto, é uma tarefa extremamente cansativa, que pressupõe esforço e
Geralmente, a natureza das dificuldades, na linguagem oral, requer um atendimento fonoaudiológico, já que atenção redobrados. "Seria uma postura excessivamente otimista acreditar que uma criança,
pressupòe um trabalho terapêutico de correção nos aspectos fonoarticulatórios envolvidos na fala. na faixa etária entre 7 e 14 anos, permaneceria 100% do tempo que passa na escola atenta
aos lábios dos professores para ter acesso ao conhecimento cientifico veiculado pela escola"
Caso ocorram problemas na escrita, em consequência das dificuldades na linguagem oral, (Fernandes, 2003, p.4-5).
essas crianças podem receber atendimento educacional especializado no contraturno,
desenvolvido em sala de recursos, com estratégias semelhantes às dos demais alunos que Essa orientação metodológica norteou as práticas de integração de alunos Surdos em
apresentam dificuldade em seu processo de alfabetização. tempos em que a metodologia oralista predominava e os sinais eram proibidos e em muito
pouco promoveu a escolarização e a inclusão social dos alunos Surdos, como discutido
Já as crianças com surdez severa ou profunda demandam atenção mais especifica no anteriormente nos aspectos históricos.
contexto escolar devido às suas necessidades linguisticas diferenciadas, pois, na maioria dos
casos, não se apropriam da linguagem oral e se comunicam utilizando, predominantemente, A superação desse mito coloca em seu lugar a necessidade de adoção de práticas
sistemas visuais de comunicação. alternativas para a apropriação do conhecimento pelos alunos Surdos, mais baseadas em
experiências visuais que em experiências auditivas. Se há pouca ou nenhuma audição, a vísão
Há uma crença equivocada na sociedade de que todos os Surdos podem fazer a leitura labial será o sentido mais importante para a criança em seu processo de aprendizagem.
com facilidade e, assim, muitos falam com eles acreditando que estão entendendo o que é
dito. E comum que pessoas surdas utilizem duas estratégias, isoladamente ou de forma
combinada, na comunicação:
No entanto, a leitura labial é possibilitada pela visualização da expressão fisionômica e pela
percepcão dos fonemas pronunciados pela pessoa que fala, estando envolvidas nessa »a linguagem gestual, que se desenvolve sem dificuldade, mesmo isolada do contato com
aprendizagem habilidades perceptivas e de memória visual para quem as realiza. outros Surdos, por meio da qual interagem relativamente bem em situações cotidianas mais
Ainda que essas crianças tenham recebido atendimento fonoaudiológico, voltado à simples;
reabilitação da linguagem oral, dificilmente terão possibilidades de acompanhar as aulas por
meio dessa forma de »a lingua de sinais, que potencializa suas possibilidades de representação e de interação
social,cuja aquisição é dependente do contato comoutros Surdos sinalizadores para sua apropriação.
Portanto, há que se ter claro que, como qualquer sistema linguístico, a apropriação dessas utilizada. No entanto, vimos que apenas recentemente a linguistica da língua de sinais passou a ser uma
formas de linguagem ocorrerá espontaneamente, ou seja, em contextos de interação verbal área de estudo em expansão.
significativos entre crianças e adultos Surdos que a utilizam como forma de comunicação. De
acordo com Fernandes(2003,p.6) A Libras é a sigla utilizada para designar a lingua brasileira de sinais, já que cada pais tem sua própria
lingua, que expressa os elementos culturais daquela comunidade de Surdos. É utilizada pelas Comunidades
Daí decorre uma importante implicação pedagógica no processo educacional de alunos Surdas Brasileiras, principalmente dos centros urbanos, pois muitas vezes os Surdos que vvem em
Surdos,já que, além dos professores especializados bilingues, haverá a necessidade de localidades distantes e em zonas rurais acabam por desconhecê-la e, assim, acabam por desenvolver um
interaçào, desde a educaçào infantil, com educadores Surdos usuários nativos da lingua de sistema gestual próprio de comunicação, restrito às situações e às vivências cotidianas. Há, também,
sinais, para assegurar a identificaçào linguistico-cultural das crianças com seus pares. alguns Surdos que vivem nas grandes cidades que desconhecem a lingua de sinais por inúmeros fatores:a
não aceitação pela familia, a falta de contato com outros Surdos que a utilizem,a opção metodológica da
Do ponto de vista cognitivo, a lingua de sinais será o sistema simbólico privilegiado para o escola em que foi educado, entre outros aspectos.
desenvolvimento da linguagem pelo fato de sua modalidade visual-espacial não oferecer
barreiras àaprendizagem desde a infância; assim, "sua produção é realizada através de signos Essa lingua foi oficializada em território nacional pela Lei Federal n° 10.436, de 24 de abril de
gestuais e espaciais e sua percepçao é realizada por meio de processos 2002,regulamentada em 22 de dezembro de 2005 pelo Decreto Federal n° 5,626, de 22 de dezembro de
visuais"(Fernandes,2003,p.5). 2005. A regulamentação trouxe avanços para a cidadania bilíngue das pessoas Surdas, visto que ampliou
os dominios da lingua de sinais para diferentes segmentos sociais. Torná-la componente currcular
Essa lingua visual oferecerá aos Surdos os mesmos elementos simbólicos da linguagem oral obrigatório nos cursos de formação de professores, em nivel médio e superior, e de Fonoaudiologia é o
para quem ouve, necessários ao desenvolvimento das funções psiquicas superiores, como a mais importante, pois prepara o futuro educador para a reflexão sobre formas alternativas de
memória, o raciocinio lógico, a formação e a generalização de conceitos, entre outros. Ignorando comunicação e de interação como requisito de acesso aos conteúdos acadêmicos.
essa condição,a criança estará privada do acesso ao poder de representação que a linguagem
verbal oferece e poderá ter prejuizos em seu desenvolvimento cognitivo. No Brasil, os primeiros estudos formais sobre a Libras datam da década de 1980. Nesses poucos anos de
pesquisas, há uma significativa produção acadêmica e literária que nos aponta a complexidade estrutural e
Passemos agora a conhecer alguns dos elementos componentes das linguas de sinais. funcional dessa lingua (Oviedo, 1998).

A Libras é uma lingua de modalidade visual-espacial que, diferentemente das linguas orais-auditivas,
3.1 Aspectos linguísticos e culturais da Língua Brasileira de Sinais utiliza-se da visão para sua apropriação e de elementos corporais e faciais, organizados em movimentos no
(Libras) espaço, para constituir unidades de sentido: as palavras ou, como se referem os Surdos, os"sinais".

Os sinais podem representar qualquer dado da realidade social, não se reduzindo a um simples sistema
Como pode haver uma lingua sem sons? Movimentos desenhados no ar pelas mãos podem de gestos naturais, ou mimica, como pensa a maioria das pessoas. Aliás, esse é o principal mito em relação
expressar conceitos abstratos? Palavras devem ser soletradas com o alfabeto manual? Essas são à lingua de sinais, pois, por utilizar as mãos e o corpo na comunicação, costuma-se compará-la à linguagem
algumas das perguntas que nos fazemos quando nos defrontamos com a lingua de sinais dos gestual contextual e restrita a referentes concretos, palpáveis,transparentes, que têm seu significado
Surdos. facilmente apreendido por quem os observa.
Infelizmente, a grande maioria das pessoas desconhece que esse conjunto de "gestos
desenhados no ar" estrutura uma lingua organizada, que se presta às mesmas funções das
linguas orais para as pessoas que ouvem.
Com base nesses argumentos, a teoria linguistica e os estudos realizados no Brasil sobre as linguas dos
Mas o que caracteriza essa lingua? Qual a sua história? De onde ela surgiu? Surdos apoiam o uso do substantivo lingua e a expressão de sinais para designar, em nossa língua, os
sistemas visuais-espaciais de comunicação dos Surdos (Oviedo, 1998). Desse modo, não são gestos ou
linguagem gestual o que os Surdos realizam, mas a Libras.
A língua de sinais é tão antiga quanto a humanidade. Nos relatos históricos sobre a existência de Surdos, desde a Antiguidade se faz sempre menção à forma "diferente" de comunicação que era
Segundo Oviedo (1998), isso ocorre porque a comunicação gestual está relacionada Figura 31-Parametros principais da Libras
etimologicamente à ideia de expressar certos significados com o rosto, as mãos e o corpo - o que
poderia ser aplicável às linguas de sinais dos Surdos. Entretanto, em seu sentido mais moderno e
usual,"gestos" se referem ao conjunto de expressões não linguisticas que acompanham a fala,
como forma de apoio ao que foi dito, e que não se configuram como um código produtivo, ou
seja, carecem da possibilidade de construir significados complexos.
Assim, entendemos que a utilização da linguagem gestual se estende a todos os grupos
humanose nào se refere ao complexo sistema linguistico utilizado pelos Surdos na comunicação
que configura,de fato, uma lingua.
Na verdade, o léxico (ou vocabulário) da lingua de sinais é formado por palavras que mantêm
uma relacão totalmente arbitrária com o dado da realidade a que se refere, tal como se dá com
as palavras das linguas orais. O que ocorre é que, dada a sua modalidade visual-espacial, há uma
tendência em se buscar relação com aspectos da realidade para constituir seu sistema de
representação, o que faz com que haja motivação icônica em alguns sinais. É o caso, por exemplo,
de verbos como nadar,dirigir, cozinhar, e de substantivos como borboleta, casa, árvore, que
guardam alguma relação de verossimilhança.
No entanto, mesmo que tentemos "adivinhar" seu conteúdo, bastam 10 minutos de conversa
com um grupo de Surdos para nos sentirmos completamente "estrangeiros" em meio ao
inesgotável universo de signos que povoam sua interação e nos deixam à mercê de qualquer
tentativa de dedução lógica sobre o que seria o objeto da discussão.
Como um sistema linguistico autônomo, as regras de organização gramatical da Libras diferem
completamente das regras da lingua portuguesa. A lingua de sinais apresenta complexidade
estrutural (organização em todos os niveis gramaticais: fonológico, morfossintático, semântico e
pragmático) e se presta às mesmas funções das linguas orais.
Os principios básicos de organização de um sinal, segundo Karnopp e Quadros (2004), são:
》Configuração da mão (CM)- Forma que a mão assume na representação de um sinal. Expand
ir
»Locação da mão(L)- Posição da mão no espaço de sinalização.

»Movimento da mão (M). A ordem dos constituintes na oração, a chamada sintaxe, em nada lembra a lógica da lingua
portuguesa. Essa é a principal dificuldade de aprendizes não Surdos ao estudar a Libras, pois sua
»Orientação da mão (OM)- Direcionamento da mão no espaço. tendência é pensar na ordem das palavras no português e sinalizar a partir dessa
estrutura,produzindo o que se denomina português sinalizado - algo parecido com o
»Expressões não manuais (faciais e corporais). "portunhol",para exemplificar.
Do mesmo modo, é comum se ouvirem afirmações de aprendizes da lingua de sinais quanto
àinexistência de marcação de tempo nas formas verbais ou de flexão de número e gênero. Esse
equivoco se dá pela tendência em buscar esses elementos incorporados ao sinal. Na Libras, esses
aspectos são marcados discursivamente em mecanismos espaciais, e não morfossintaticamemente,tal nação.Ainda que a lingua de sinais seja cada vez mais difundida e utilizada, não se tem notícia da
como ocorre em português. Por exemplo, em um enunciado que envolve o verbo olhar, a orientação da existência de nenhuma "surdolândia", em que convivam autonomamente comunidades surdas
geograficamente isoladas.
mão será a responsável por indicar o sujeito e o objeto da oração. Isso significa que não há dependência
estrutural entre a lingua de sinais de um pais e sua língua oral. 0 esforço social em difundir a lingua de sinais como mais uma das inúmeras linguas que
compoem a diversidade linguistica do povo brasileiro e em adotar politicas linguisticas que
Enfim, há uma riqueza de elementos na Libras, baseados na cultura visual dos Surdos, que nos contemplem a situação de bilinguismo nos diferentes segmentos sociais é o que fará dos Surdos
oferecem um amplo universo de possibilidades de representar o mundo, encadeando as palavras, cidadãos brasileiros.
não de forma linear e sequencial como estamos acostumados na comunicação oral e também na
escrita,mas de modo simultâneo e multidimensional. Decorrente dessa visão e da necessidade de compartilhar os mesmos conhecimentos e bens
sociais produzidos historicamente pela humanidade, é fundamental que os Surdos, como parte
Toda essa riqueza cultural-que, infelizmente, ainda é desconhecida pela maioria das pessoas - de uma minoria linguistica, apropriem-se, além da lingua de sinais, da lingua portuguesa para
contribui para a compreensão da visão das pessoas Surdas como integrantes de uma minoria ampliar suas relações interculturais e sociais.
linguistica, tal como ocorre com comunidades indigenas e de imigrantes.
Por serem cidadãos brasileiros, sua inclusão social depende do respeito à sua singularidade
Mesmo sendo plena de forma e conteúdo, a Libras não possibilita aos seus usuários a condição linguistica, manifestada pelo uso irrestrito da lingua de sinais e pela organização das diferentes
de monolingues. Quando isso acontece, torna-se um dos principais aspectos da marginalização instâncias sociais, com destaque à escola, para possibilitar-lhes o aprendizado da lingua
social dos Surdos, justamente porque a lingua portuguesa, por ser a lingua oficial, domina os portuguesa.
veiculos mais importantes para o acesso ao conhecimento. Por meio dela, são transmitidas
informaçoes, sào redigidos documentos oficiais, a arte, a poesia e o entretenimento são Essa situação sociolinguistica peculiar impõe a necessidade de um redimensionamento das
registrados e, acima de tudo,é ela o elemento mediador fundamental para o acesso ao diretrizes curriculares e sua materializacao nos projetos politico-pedagógicos ds
conhecimento cientifico. escolas,efetivando-se, para os Surdos, um processo de educação bilingue.
Assim, em muitos casos, os Surdos que não tiveram a oportunidade de aprender o português
escrito restringem enormemente seus circulos sociais e o acesso aos bens culturais produzidos 3.2 A família e o desenvolvimento da linguagem
pela humanidade. Decorrente dessa situação, reduzem seus circulos de interação, geralmente
formados pelos pares usuários da Libras, o que acaba contribuindo para a formação de
comunidades surdas,equivocadamente denominadas de guetos. De maneira geral, as pesquisas de aquisição e de desenvolvimento da linguagem consideram em
seus estudos apenas o percurso do aprendizado realizado por crianças ouvintes ao aprenderem
Loïc Wacquant (2004), professor de Sociologia na Universidade da Califórnia (Berkeley), afirma linguas orais. Nessa perspectiva, é usual as fases de uma trajetória verbal - que se inicia com
em um de seus artigos que uma das caracteristicas da formação de um gueto é o confinamento choro,vocalizações e balbucios até a emissão das primeiras palavras-serem identificadas como
espacial de um grupo em determinada área, de tal modo que sua estrutura organizacional comuns e quase "universais" em crianças de qualquer etnia e cultura.
permita a vida independente, ou seja, permita ao grupo que se isola se reproduzir dentro do
perimetro estabelecido. Quando se trata de comparar esse percurso seguido por crianças ouvintes ao processo vivido
por bebês Surdos, são comuns as afirmações de que seu desenvolvimento é semelhante
Um segundo aspecto implicado seria o de que a formação do gueto ocorre por imposição atéaproximadamente os seis meses de idade, quando se inicia o balbucio silábico, resultante da
externa,decorrente de determinações econômicas (por exemplo, quando um grupo étnico- repetição de sons que são ouvidos pelas crianças em seu ambiente linguistico. Ou seja, o balbucio
cultural ésegregado para ser explorado), como também por relações de poder assimétricas silábico é uma fase que requer não apenas sensações auditivas, mas já um refinamento da
marcadas pela estigmatização de um grupo politicamente minoritário (tal como ocorreu, por percepção sonora do ambiente ao selecionar consoantes e vogais próprias do sistema fonológico
exemplo,com os campos de exterminio dos judeus implementado pela Alemanha nazista). de sua lingua materna e combiná-las em silabas repetidas ("dada", "gugu", "papa").
Fazemos esse breve parêntese para asseverar que não há o perigo da formação de "guetos" Os resultados das investigações psicolinguisticas nas últimas décadas demonstram que essa
entre os Surdos pelo fato de usarem sua lingua, a menos que a segregação seja a perspectiva análise comparativa só pode ser realizada se forem considerados os contextos linguísticos em que
politica da
vivem as crianças Surdas. Portanto, o ambiente famillar cumpre papel essencial nos processos vocalizações são interrompidas nos bebês Surdos, assim como as produções manuais são
linguísticos das crianças, em razão de que possibilitam as primeiras interações comunicativas como interrompidas nos bebês ouvintes, favorecidas pelos estímulos e pelas interações de sua lingua
base às futuras operaçoes simbólicas e à interiorizacão de significados compartilhados socialmente. materna.
Ter em mente que os ambientes linguisticos em que as crianças Surdas se desenvolvem são muito
variados e acarretam experiências linguisticas muito diferentes é tarefa fundamental para uma 3.2.2 Estágio de um sinal
análise do desenvolvimento da linguagem delas. As crianças Surdas, filhas de pais Surdos, devido ao
ambiente linguistico adequado, em que circula uma lingua que não oferece barreiras ao seu 0 estágio de um sinal tem inicio por volta dos 12 meses e se estende até os 2 anos. A criança Surda
aprendizado e à sua interação, adquirem de forma espontânea a lingua de sinais, de modo começa a nomear as coisas, aprende a unir o sinal ao objeto, produzindo suas primeiras
semelhante ao que acontece entre as crianças ouvintes e a linguagem oral falada em sua família. palavras:papai, mamãe, água, tchau etc. Assim como as crianças ouvintes que não dominam ainda,
A seguir, abordamos os estágios de produção linguistica manifestados por crianças Surdas imersas nessa fase,o sistema fonológico, trocando ou omitindo letras na emissão das palavras, as crianças
em ambientes em que a sinalização se faz presente como lingua materna, identificados por Petitto e Surdas também terào dificuldade para expressar corretamente um sinal se o seu desenvolvimento
Marantette, citados por Quadros (1997), em consonância com as pesquisas desenvolvidas com a motor não estiver adequado às exigências visuais-manuais necessárias, ocorrendo erros nos
Libras(Karnopp, 1999; Quadros, 1997). parâmetros de articulação, tais como a troca na configuração de mão ou no ponto de articulação do
sinal.

3.2.1 Período pré-linguístico Um aspecto interessante desse estágio se refere ao ato de apontar. As crianças Surdas, nessa
idade, assim como as ouvintes, frequentemente apontam para indicar objetos ou pessoas. Como na
língua de sinais o sistema pronominal é constituído com base no ato de apontar, quando a criança
A primeira fase da vida de uma criança se caracteriza pela emissão de ruidos, como o choro, e de Surda entra no estágio de um sinal esse uso desaparece, indicando um momento de reorganização
gritos relacionados aos estados organicos pelos quais ela passa- sensação de mal-estar e de bem- básica em que ela começa a constituir o conceito desse recurso como um elemento gramatical da
estar -e com os quais ela exprime suas necessidades e emoções. Progressivamente, a quantidade de língua.
gritos diminui assim que aparecem as emissões sonoras que constituem o balbucio.
0 balbucio, normalmente, é caracterizado como o periodo em que a criança "brinca" com os 3.2.3 Estágio das primeiras combinações
sons,sentindo prazer em desfrutar o funcionamento dos seus órgãos fonoarticulatórios. Ocorre por
volta dos 2 meses de idade, quando ela começa a usar os sons vocálicos e consonantais e os
chamados ruídos glóticos("angu"etc.). As primeiras combinações de sinais surgem por volta dos 2 anos. Os pesquisadores observam que a
criança começa a produzir frases de duas palavras, na ordem sujeito-verbo ou verbo-
Essa fase se manifesta em todos os bebês, sejam estes Surdos ou ouvintes. Ocorre que, em bebês objeto,iniciando as relações gramaticais.
Surdos, além do balbucio comum, foi detectado também um outro tipo de balbucio: o manual.
Nesse estágio, as crianças começam a usar o sistema pronominal, porém de forma
O balbucio manual se apresenta sob duas formas: o balbucio silábico e a gesticulação. O balbucio inconsistente,apresentando erros como as crianças ouvintes que usam, por exemplo, a palavra ela
silábico se caracteriza por combinações que fazem parte do sistema fonético das línguas de para se referir a si mesmas. Além disso, os objetos são nomeados e referidos somente em situações
sinais,ou seja, a combinação de configurações de mão e movimentos no ar. A gesticulação, ao de contexto imediato.
contrário,não consta de uma organização interna.
3.2.4 Estágio de múltiplas combinações
Em dados analisados, foram observadas todas as produções manuais tanto de bebês Surdos
como de bebês ouvintes, e ambos contam com dois tipos de balbucio até determinado estágio,
após o qual desenvolvem apenas o balbucio da sua modalidade (oral ou sinalizada), a partir dos 5 Em torno dos 2 anos e meio a 3 anos, as crianças Surdas apresentam a chamada explosão de
ou 6 meses. As vocabulário. Elas começam a usar formas próprias para diferenciar nomes e verbos, utilizando o
sistema pronominal com propriedade.
Tal como as crianças ouvintes que realizam generalizações verbais como fazi, gosti e sabo, as total - que irá prejudicar o desenvolvimento normal de seus processos lnguisticos,
crianças Surdas flexionam verbos cuja flexão não é aceita na lingua de sinais, como é o caso de cognitivos,emocionais e sociais.
gostar, falar ou conhecer. Por volta dos 5 anos, começam a adquirir o dominio completo da lingua
de sinais, quando também já produzem frases maiores e mais complexas. Há inúmeras formas de se ter acesso à lingua de sinais e de colocar os filhos em contato com
Surdos adultos para facilitar essa aprendizagem. Isso pode ser realizado das seguintes formas:
A exposição desses estágios teve a intenção de demonstrar que a lingua de sinais preenche as
mesmas funções cognitivas que dão suporte ao desenvolvimento linguistico da criança, tal como »buscando contato com associações de Surdos, pastoral de Surdos, ministérios de Surdos em igrejas
ocorre com as linguas orais. Isso demonstra que, para o cérebro, não importa se a lingua é falada evangélicas, ou outras possibilidades;
ou sinalizada, pois nos dois casos há a capacidade de representação; sendo assim, a simbolização
e a formação de conceitos se mantêm em ambos os casos. 》procurando informações nas Secretarias de Educação para verificar a oferta de curso de lingua
de sinais na comunidade;
No entanto, uma vez que 90% das crianças Surdas nascem em familias ouvintes que
desconhecem a lingua de sinais e interagem exclusivamente pela oralidade com seus filhos »conhecendo escolas que trabalham com a lingua de sinais, pois estas possuem professores e
Surdos, é muito pequeno o número de Surdos que segue seu desenvolvimento linguistico nos instrutores Surdos que atuarão como modelos linguisticos e culturais fundamentais para as
padrões de normalidade. crianças.

Esse fato aponta para a necessidade imperiosa de que, na educação infantil, que compreende a
faixa etária de 0 a 6 anos, sejam desenvolvidas políticas públicas que possibilitem o acesso o mais Há, também, muitos materiais didáticos produzidos atualmente que podem auxiliar nesse
rapidamente possível à lingua de sinais na infância. processo, como você poderá verificar nas indicações culturais deste capitulo.

Algumas experiências já realizadas com sucesso em paises europeus, como a Espanha e a Por não depender da audição para ser compreendida, é por meio da lingua de sinais que as
Suécia,além dos Estados Unidos, demonstram que se a surdez for detectada precocemente e se crianças Surdas construirão o elo de interação e o vinculo afetivo familiar, estabelecendo uma
pais e filhos Surdos estiverem envolvidos com a lingua de sinaís pela interação com Surdos adultos comunicação sem barreiras com seus pais ouvintes.
e em vivências significativas, esse aprendizado será favorecido.
Além disso, pelo contato com outros Surdos, os laços e os sentimentos de identificação com seus
Myrna Salerno Monteiro, pesquisadora Surda pioneira da lingua de sinais no Brasil, denuncia pares são fortalecidos. Perlin (1998) e Perlin e Quadros (2006) publicaram alguns trabalhos sobre
em artigo recente (Monteiro, 2006) o fato de que há pouco mais de 15 anos familias ouvintes a questão da falta de referências de elementos produzidos no interior das comunidades surdas,
escondiam os filhos pela "vergonha" de ter concebido uma criança fora dos padrões considerados que sóserão conhecidos pelas crianças Surdas quando estas se tornam adultas.
normais. Com isso, muitos Surdos não saíam de casa ou só o faziam acompanhados dos pais.
Assim como ocorreu com ela, a comunicação na família se dá de modo muito dificil, em razão do Para elas, a falta de contato com os aspectos culturais das pessoas Surdas faz com que as
desconhecimento e da não aceitação dos pais da lingua de sinais. Esse fato conduziu filhos Surdos crianças não se reconheçam como diferentes, mas como limitadas, deficientes, sentindo-se
ao isolamento,gerando sérios problemas de comportamento, como nervosismo,agressiviade e divididas entre um mundo de sons e de fala, do qual não se sentem parte, e um mundo de
crises de identidade. imagens e experiências visuais, que não são explicadas e interpretadas em uma lingua que eles
possam compreender. Essa lingua seria a lingua de sinais.
A falta de comunicação criou gerações de Surdos passivos, conformados com o preconceito e a
exclusão. A pesquisadora acredita que muitas conquistas já foram efetivadas, mas que é na familia Perlin (1998) afirma que os Surdos têm sua identidade construida na experiência visual, nas
que a transformação deve acontecer. Por isso, deve-se garantir que os Surdos tenham a lingua de trocas com outros Surdos. Eles precisam da vivência familiar, mas também da identificação com
sinais como lingua materna no seio familiar e que, posteriormente, seja oferecido a eles o direito outros pares que tenham a mesma percepção de mundo que eles.
de optar pelo uso da modalidade oral ou apenas escrita da lingua portuguesa.
Compartilhando esse raciocinio, Sánchez (1993), médico e pesquisador da educação de
Nesse contexto, se os pais não buscarem aprender a lingua de sinais como sistema alternativo Surdos,relata que, no momento de informar o diagnóstico de surdez de um filho aos pais, ele
para interagir com seus filhos, a criança Surda poderá passar por uma carência verbal - às vezes, costumava
oferecer uma explicação muito clara e simples: ter um filho Surdo equivalia a acolher um bilingue no Brasil. Há, também, dicionários digitais que trazem uma melhor definição dos
"estrangeiro" no seio familiar. Para que ele se sentisse acolhido e integrado á familia e para que a sinais.Conheça essa e outras obras nos sites que seguem como sugestão:
comunicação não fosse interrompida, seria preciso que os pais se desdobrassem em aprender a
lingua de sinais assim que fossem informados da surdez da criança. Para Sánchez (1993), essa EDUSP-Editora da Universidade de São Paulo. Disponivel em:
condição, aliada à possibilidade de contato e de interlocução com Surdos adultos, cria um <http://www.edusp.com.br/detlivr o.asp?id=715379>.Acesso em: 22 jun. 2011.
ambiente linguístico favorável à comunicação e à interação já na infância.
FENEIS-Federação Nacional de Educação e Integração de Surdos. Disponivel em:
Dessa forma, aprendendo a lingua de sinais, os pais ampliam as possibilidades de oferecer <http://www.fe neis.org.br/page/dicionarios.asp>. Acesso em: 22 jun.2011.
informações e conhecimentos às crianças antes mesmo de elas chegarem à escola.
LIBRAS-Dicionário da Lingua Brasileira de Sinais. Disponivel em:<http://www.acessobrasil.org.b
Sabemos que a participação dos pais, por meio do estabelecimento de uma relação de r/libras/>. Acesso em: 22 jun. 2011.
confiança mútua com os filhos Surdos, contribui para a elevação da autoestima destes, bem
como para que não se sintam diferentes, rejeitados ou incapazes ao ingressarem em uma escola Atividades de autoavaliação
e iniciarem os primeiros contatos com a leitura e a escrita.
1. Com relação à comunicação e à linguagem de Surdos, assinale (V) para as proposições verdadeiras
Síntese ou(F)para as falsas:
( ) As trocas fonéticas na fala e de letras na escrita são caracteristicas de Surdos profundos.
Este capitulo teve como objetivo principal oferecer subsídios teóricos para a ampliação do ( ) A leitura labial é o recurso mais importante para a inclusão social do Surdo.
conceito de linguagem para além da fala, abordando relações entre os graus de perda auditiva e
suas implicaçoes na comunicação infantil. Empreendemo-nos em demonstrar que, na ausência ( ) Surdos filhos de pais Surdos têm a Libras como lingua materna.
da audição,há possibilidades alternativas de comunicação simbólíca, proporcionadas por
sistemas visuais-espaciais de representação, com destaque à Libras. A Libras é a lingua das ( ) A visão é o sentidomais importante na aprendizagem da Libras.
Comunidades Surdas Brasileiras e se apresenta como um sistema linguistico completo em forma
e conteúdo,preenchendo, para as crianças Surdas, as mesmas funções cognitivas que as linguas 2. Em relação à Libras, marque a única alternativa incorreta para as sentenças que seguem:
orais para as demais crianças. Se for aprendida precocemente, as criancas Surdas mostram um a) Possui modalidade visual-espacial, ou seja, é produzida no espaço e percebida visualmente.
desenvolvimento linguístico que segue as mesmas etapas das crianças que ouvem, como o
balbucio, a primeira palavra, a palavra-frase e o dominio completo das regras gramaticais e de b) Equivale à linguagem gestual, pois representa conceitos concretos, de forma transparente.
funcionamento da lingua,até os 3 anos. Destacamos a importāncia da familia nesse processo,
principalmente se os pais forem ouvintes, pois o esforço destes em aprender a Libras assim que c) Possui variações dentro de um mesmo pais e de um pais para outro.
for identificada a surdez cria um ambiente seguro em que a criança se sinta acolhida e
compreendida, fortalecendo as bases para um desenvolvimento afetivo-emocional na infância. d) Possui uma estrutura gramatical diferente da lingua portuguesa.

Indicações culturais 3.Leia o enunciado a seguir e indique se essa proposição é verdadeira(V)ou falsa(F):

Sites

Recentemente, foi lançado o primeiro dicionário ilustrado trilingue da Libras, o que,


certamente,contribuirá para a divulgação da lingua de sinais, bem como para a concretização da
educação
A análise do sociólogo Loïc Wacquant sobre a guetização dos Surdos, apresentada neste Surdas com peras totais.
capitulo, é a seguinte: a difusão da Libras em todo o pais, a defesa de seu uso pelos Surdos e a
discriminação da sociedade podem estimular a formação de guetos pelos Surdos, pois 2. Procure aprofundar as informações sobre as principais causas da surdez pré e pós-linguistica e
contribuem para a comunicação e o agrupamento dos Surdos entre si. as ações governamentais das áreas de saúde e educação para informar pais e familiares sobre os
encaminhamentos necessários, após diagnosticada a surdez.
4. Com relação à Libras e à sua gramatica, aponte a alternativa incorreta: Atividade aplicada: prática
a) Foi oficializada por uma Lei e por um Decreto Federal, de 2002 e 2005, respectivamente.
Consulte o site a seguir e acesse o dicionário digital da Lingua Brasileira de Sinais (Libras). Conheça
b) 0 movimento da mão (M)é a forma que a mão assume ao sinalizar. alguns sinais e tente reproduzi-los. Após a experiência, reflita sobre as principais diferenças em
produzir uma palavra em uma lingua oral e em uma lingua visual.
c) Os tempos verbais existem na Libras, mas não estão incorporados ao verbo, como no português.
LIBRAS-Dicionário da Lingua Brasileira de Sinais. Disponivel em: <http://www.acessobrasil.org.br/li
d) Deve-se evitar o português sinalizado, isto é, sinalizar na ordem das palavras do português. bras/>. Acesso em: 22 jun.2011.
5. Assinale a única alternativa incorreta sobre o desenvolvimento linguistico de bebês Surdos que
nascem em familias Surdas:
a) O balbucio é uma etapa que se apresenta apenas na lingua oral; na Libras, essa fase édenominada de
gesticulação.

b) Contam com a fase inicial do balbucio, de vocalização, por volta de 2 meses.

c) Por volta de um ano, o ato de apontar desaparece para voltar posteriormente como um pronome na
lingua(eu, ela, ele).

d) A diferença entre o balbucio silábico vocal e o manual está na modalidade da lingua em questão: oral
ou visual.

atividades de aprendizagem
Questões para reflexão

1. Relacione quais seriam as principais diferenças em relação ao desenvolvimento da linguagem (oral


e sinalizada) de crianças Surdas com perdas parciais(leves e moderadas) e crianças
Educação bilíngue
Focando-se apenas a situação linguistica, a educação bilingue para Surdos pode ser definida como uma
proposta educacional que compreende, em sua realização, a utilização de duas linguas na comunicação e
no ensino dos Surdos: a Lingua Brasileira de Sinais(Libras) e a lingua portuguesa.
Como vimos, em uma situação de bilinguismo considerada ideal, as crianças Surdas deveriam aprender

para Surdos: desafios primeiro a lingua de sinais no ambiente familiar, viabilizando a apropriação da linguagem e a capacidade
de simbolização até os 3 anos. Tendo essa base linguistica consolidada, processar-se-ia o ensino do
português, na escola, aprendido por meio de metodologias voltadas ao ensino de segundas linguas. Esse
aprendizado deveria se iniciar já na educação infantil.

à inclusão No entanto, como essa situação atinge um pequeno número de familias, quando essas crianças chegam
à escola, enfrentam inúmeros problemas em seu processo de alfabetização/letramento,tendo em vista
que seu aprendizado da segunda lingua-o portugues-ocorre sem que a maioria dos Surdos tenha tido
acesso à linguagem por meio da aquisição da primeira lingua-a lingua de sinais.Soma-se a isso o fato de
que, nas escolas, a escrita é ensinada com base na oralidade, situação que em nada favorece a
aprendizagem dos alunos Surdos.

De acordo com Kleiman(1998, p. 268), o ensino da lingua oficial do grupo dominante em programas de
educaçao bilingue destinados a grupos socialmente marginalizados pode se transformar em instrumento
de colonização do curriculo, se não abrir espaço igualitário para a manifestação e o reconhecimento da
identidade linguística e cultural de grupos minoritários.

O direito a ser diferente, sem inferiorizar a condição bilíngue dos Surdos, impòe aos sistemas de ensino
o desafio de mudanças em suas estruturas e práticas, geralmente acomodadas às necessidades da
maioria, que tem no português a lingua oficial e materna.
Em relaçao à organização escolar, a situação de bilinguismo impõe a mediação de diversos profissionais
no atendimento especializado, responsáveis pelas modalidades linguisticas envolvidas,os quais estão
descritos a seguir:

»Professor ou instrutor de Libras-Profissional, preferencialmente Surdo, com graduação em Letras(Libras


ou Letras Libras/Lingua Portuguesa)ou com formação em nivel médio e/ou superior com certificado de
proficiência linguistica em Libras emitido pelo Ministério da Educação -MEC(Prolibras).
Professor bilingue-Professor com fluência em Libras que desenvolverá o ensino do português escrito com
base em metodologias de ensino de segunda língua.
»Profissional intérprete de Libras/lingua portuguesa-Profissional ouvinte que atua na mediação linguitica
do processo educacional de alunos Surdos matriculados no contexto
regular de ensino, com graduação em Tradução e Interpretação em Libras/Lingua classe, a oralidade predomina e muitas das informações socializadas em sala de aula não são
Portuguesa;ou com formaçao em nível médio e/ou superior com certificado de proficiência em compartilhadas por alunos Surdos. Isso faz com que eles não tenham acesso aos conteúdos
tradução e interpretaçào em Libras/Língua Portuguesa(Prolibras) emitido pelo MEC. acadêmicos, o que dificulta seu aprendizado e sua produção nas avaliações.
Fonoaudiólogo bilingue-Profissional responsável pelas práticas terapêuticas de ensino do O ambiente bilingue pressupõe o conhecimento da lingua de sinais pelo maior número de
português oral, em turno distinto ao da escolarização, caso seja opção do aluno ou da familia pessoas na escola, e não apenas pelo aluno Surdo e seu professor. Nesse ponto, vale lembrar a
essa modalidade de lingua. A ação desse profissional depende de politicas de interface entre as necessidade de as escolas contarem com instrutores ou professores de Libras, preferencialmente
áreas de saúde e educação. Surdos, com a finalidade de atuar como modelos para a identificação linguistico-cultural das
crianças Surdas e ser responsáveis por difundir e ensinar a lingua de sinais na escola e na
comunidade. Há, nesse sentido,algumas experiências inovadoras de introdução da Libras como
Esses profissionais constituem apenas o ponto de partida para a implantação de propostas de disciplina na parte diversificada da matriz curricular,favorecendo sua aprendizagem por todos os
educação bilingue. Do ponto de vista das práticas escolares, exige-se uma constante reflexão alunos.
sobre os conteúdos, os objetivos, as metodologias e asformas de avaliação em curso na escola e
sua adequação às possibilidades das crianças Surdas. Por esse processo de educação linguistica da comunidade escolar estar em construção, já que
demanda uma série de ações a longo prazo, é fundamental que algumas estratégias
O fundamento de um curriculo inclusivo para Surdos repousa na reorganização da situação metodológicas e de organização do ambiente sala de aula, como as apresentadas a seguir, sejam
linguística da escola. Transpor os desafios impostos pela educação bilingue requer repensar utilizadas para facilitar a interação/comunicação entre todos.
nossas práticas monolingues (baseadas na lingua majoritária, o português) para uma educação
linguistica diferenciada, que também reconheça e incorpore ao curriculo a lingua minoritária, a Porém, é bom lembrar que todas essas estratégias não preenchem a função simbólica da língua
Libras. de sinais, limitando as possibilidades de abstração presentes nos conteúdos cientificos veiculados
pela escola. As estratégias, apresentadas por Fernandes(2006c)são as seguintes:
Diante disso, as principais mudanças no curriculo da escola dizem respeito à garantia da
acessibilidade na comunicaçāo, oportunizada pela interação e pelo acesso ao conhecimento, »Alfabeto datilológico ou manual -É um recurso utilizado para soletrar nomes próprios, realizar
pelos alunos Surdos, em lingua de sinaise pelo ensino da modalidade escrita do português empréstimos linguisticos(em função do estreito contato, predominantemente do
como segunda lingua. português),soletrar sinais desconhecidos por aprendizes da Libras e verificar a ortografia de
palavras do português, entre outras possibilidades.

4.1 Quanto à comunicação Mimica/dramatizaçāo- São estratégias visuais possiveis na comunicação, que podem acompanhar ou
enriquecer os conteúdos discutidos em sala de aula; podem ser utilizadas para constituir significados
É inquestionável que a maioria dos professores, na quase totalidade das escolas, emprega como mais relacionados ao contexto imediato.
metodologia a exposição oral e utiliza como recurso material o quadro de giz. Do mesmo modo,as
situações de interação entre professores e alunos e entre os próprios alunos são mediadas apenas Desenhos/ilustraçōes/fotografias-Auxiliam no esclarecimento de temas abordados em sala ou
pela lingua oral, desconsiderando-se as dificuldades e o pouco conhecimento dos Surdos em como pistas na leitura de textos. Toda pista visual pictográfica enriquece o conteúdo e é um
relaçào a essa forma de comunicação. recurso que contribui para a memória visual dos alunos.

Muitas vezes, o professor propõe ordens ou a resolução de problemas que não são Recursos tecnológicos (video/TV, retroprojetor, computador, slides, entre outros)- Desde que
compreendidos pelo aluno Surdo, que ignora ou não atinge os objetivos propostos pela tarefa disponíveis na escola, são instrumentos poderosos para trazer para o contexto de sala de aula
simplesmente por não entender o conteúdo da mensagem veiculada. temas e conteúdos de ordem mais abstrata. Em relação aos videos, especificamente, há um
acervo muito variado de temas envolvidos nas diferentes disciplinas. A preferência por filmes
A forma mais adequada para estabelecer a comunicação com pessoas Surdas seria por meio da legendados facilita a compreensão das imagens pelos Surdos.
lingua de sinais, pela modalidade visual-espacial que privilegia suas potencialidades. No
entanto,devido ao desconhecimento dessa forma de comunicação pelos professores e pelos
colegas de
Escrita-Apresenta-se como uma possibilidade de registro visual que nem sempre é lembrada pela presença da limitação auditiva que os impede de se apropriar da lingua portuguesa, em
pelos professores de Surdos. Roteiros, esquemas, palavras-chave, indicação de situação de imersão, pelo simples contato com seus falantes, tal qual se dá com as demais crianças
sinonimias,expressões idiomáticas, entre outras formas, podem ser relacionadas ao conteúdo a (Fernandes, 2002).
ser desenvolvido como elementos de apoio em uma exposição oral.
A impossibilidade de fazer a relação entre oralidade e escrita, processo comum às crianças
Língua oral/leitura labial-Repousa,sobre esse recurso um mito entre os professores de que ouvintes quando chegam à escola, faz com que o português se transforme, para os Surdos, naquilo
todos os Surdos leem os lábios. Na verdade, uma pequena parcela de alunos Surdos (não mais que pode ser visto. Ou seja, todo o processo de apropriação da lingua portuguesa pelos Surdos
que 20%, segundo as pesquisas) pode dominar, ainda que precariamente, essa técnica. No estarápautado em experiências visuais com a lingua, que seriam prioritariamente centradas na
entanto, mesmo entre os Surdos treinados exaustivamente para isso, há estudos e pesquisas leitura. E éjustamente nesse aspecto que se encontra a questão mais importante a ser refletida
demonstrando ser a leitura labial um meio ineficaz para a compreensão plena entre os pelos professores: a natureza visual das atividades de leitura e produção escrita a serem
interlocutores, Na melhor das hipóteses, 50% da mensagem estará comprometida pela desenvolvidas pela escola.
dificuldade de leitura de fonemas não visiveis para os Surdos e pela rapidez do fluxo da fala, o
que dificulta o entendimento do conteúdo, que acaba sendo deduzido pelo contexto, estratégia Argumenta Gesueli (2004,p.40)que a questão problemática que se coloca em relação à aquisição
pouco confiável. Portanto, esse é um mito que deve ser superado. do português escrito pelos Surdos está centrada na ênfase dada pela escola na relação oralidade-
escrita, consolidada no grafocentrismo, que favorece uma leitura por meio das lentes de uma
Com relação à disposição do aluno Surdo em sala de aula, é comum se recomendar que ele seja cultura letrada.
posicionado nas primeiras carteiras, em frente ao professor. Porém, como a experiência visual é que Essa reflexão nos alerta para o fatode que as maiores dificuldades de incursão no mundo da
será desencadeadora das interações e das aprendizagens em sala de aula, ao sentar-se na primeira leitura e da escrita pelos Surdos têm origem metodológica, posto que as práticas escolares, voltadas
carteira, o aluno não tem uma visão global da sala de aula e de suadinâmica interacional, pois fica de a crianças que ouvem e falam, priorizam a relação entre oralidade e escrita nesse processo.
costas para os demais alunos. Assim, seria oportuno que, rotineiramente, as carteiras ficassem
dispostas em circulo (já que as filas ainda têm a preferência na maioria das escolas) e que o aluno Assim, pelo fato de não apresentarem os resultados esperados (por razões óbvias)em se
Surdo se sentasse em um local que privilegiasse a visualização da sala toda, facilitando a interação alfabetizar com as mesmas metodologias e no mesmo tempo que as crianças ouvintes (já que esse
com os colegas. processo se baseia na oralidade), os Surdos acabam sendo marginalizados pelas particularidades
evidenciadas na escrita e pela impossibilidade de atribuirem sentidos aos textos que leem,na lógica
solicitada pela escola.
4.2 Quanto ao aprendizado da modalidade escrita do
português como segunda língua Em trabalho anterior, Fernandes(2004) demonstrou que os Sur-dos, ao terem a língua de sinais
(ou apenas uma linguagem gestual, quando distanciados do contato com outros Surdos) como
ponto de partida para suas reflexões linguísticas, produzem uma espécie de "interlingua", processo
Certamente, com as reflexões que fizemos até aqui, o professor teri elementos suficientes para peculiar a aprendizes de segunda lingua que se caracteriza pela mistura de estruturas e funções
compreender que, em uma abordagem educacional bilingue, na qual a lingua de sinais se coloca entre a lingua-base(Libras)e a lingua-alvo (português).
como primeira lingua para os Surdos, o ensino e a aprendizagem do português escrito como
segunda lingua requerem práticas diferenciadas. Essa singularidade é perfeitamente compreensivel por professores de lingua
estrangeira,acostumados às "misturas" gramaticais realizadas por seus alunos ao se depararem com
Esse aprendizado pelos Surdos pode ser comparado ao de uma lingua estrangeira, pois, de modo as inúmeras diferenças estruturais e culturais envolvidas no aprendizado de uma nova lingua.
similar, exigirá ambiente artificial e sistematização por meio de metodologias próprias de ensino.
No entanto, esse processo é inteiramente desconhecido pelos professores de lingua materna, que
Muitas das sensações vivenciadas no processo de aquisição de uma lingua estrangeira por trabalham na perspectiva da modalidade oral para a modalidade escrita de uma mesma lingua (o
qualquer pessoa (estranhamento, bloqueio, insegurança etc.) serão reforçadas, no caso dos Surdos,
português). Há certa tolerância, na fase inicial de apropriação, apenas em relação aos erros se, nesse processo, a possibilidade diferenciada de apropriação da lingua portuguesa pelos
decorrentes da influência da oralidade na grafia, quando crianças produzem junturas e Surdos,mediada simbolicamente pela lingua de sinais, ou seja, com base em estratégias
segmentações indevidas em seus enunciados, mas apenas isso. essencialmente visuais, e não orais-auditivas, como acontece com pessoas ouvintes.

Assim, deve ser entendido que a lingua de sinais (lingua visual-espacial) será o ponto de partida Em textos produzidos por alunos Surdos, é comum os professores se depararem com:
para o processo de aprendizagem do português escrito (lingua gráfico-visual), devendo ser
conhecidas as implicações que esse fato traz para o letramento dos Surdos,o que representa uma »palavras inadequadas;
realidade ainda ignorada pela imensa maioria dos professores.
»troca de artigos;
A lingua de sinais tem as mesmas funções que a lingua falada para os ouvintes na fase inicial de
aprendizagem da escrita. Por meio dela, organiza-se o pensamento, atribuem-se sentidos ao texto »omissão ou erros no uso de preposições, conjunções e outros elementos de ligação;
escrito e são levantadas hipóteses sobre a leitura.
»problemas de concordância nominal(gênero, pessoa e número);
Como os alunos Surdos não utilizam a oralidade como apoio para a compreensão do
funcionamento do português, serão totalmente dispensáveis atividades de análise linguistica que »uso inadequado de verbos;
tomam elementos menores da escrita, como fonemas e silabas, para estabelecer relações nesse
processo. O ponto de partida das atividades de leitura e de escrita para Surdos deve ser sempre o »alterações atipicas na ordem sujeito-verbo-objeto, na construção da frase.
texto, e a compreensão das unidades de sentido que o compòem será mediada pela lingua de
sinais (Fernandes, 2006d).
Os textos que seguem, escritos em situação informal (texto 1 - bilhete) e formal (texto 2 -
Apoiados nos estudos de Vygotsky (1991) sobre o desenvolvimento da escrita, depreendemos comunicado),exemplificam essas caracteristicas:
que esta é independente do desenvolvimento da oralidade, já que se constituem em sistemas
diversos,em estrutura e funcionamento. A escrita, pelo maior grau de complexidade e de Texto 1:Bilhete
abstração envolvidos em sua organização, requer, para sua compreensão, uma atividade mental
intencional e ativa,diferentemente das interações cotidianas na oralidade, ou na lingua de sinais, Ola,
no caso de pessoas Surdas.
Que bom minha amigos algum todos, vamos visitar informação mundo aqui.
Justamente por essa diferença na natureza do aprendizado, exige-se que a mediação do
professor no processo de aprendizagem da escrita pela criança seja intensa e sistematizadora, E eu enviar você quando mandar outros mais comunidade qualquer informação.
expondo-a aos diferentes textos que circulam socialmente, explorando, assim, suas capacidades
linguisticas por meio de inferências e atribuições de sentido ao texto lido. E brevemente site feneis vai reformar aproximação e esperado pouco.
No entanto, a despeito dessa necessidade e motivados pela representação de que os Surdos E voce receber email ok aviso me quando eu enviar informação voce.
são deficientes da linguagem, que são incapazes de compreender o que leem e de escrever com
clareza,as práticas pedagógicas os colocam na posição passiva de receptores que devem Grato
memorizar vocábulos isolados, sem condições de entender relações textuais mais amplas
(Karnopp; Pereira,2004).
Texto 2:Comunicado
Argumenta Fernandes (1999) que, como consequência disso, as respostas para o fracasso
escolar abordado não são buscadas nas estratégias inadequadas destinadas ao aprendizado da Comunidades surdas assumiram ser orgulhoso da defesa de direitos de Surdos...
lingua, mas são justificadas como inerentes à condição de sua "deficiência auditiva". Na verdade,
desconsidera-
Atenção comunidades surda ninguem fiquem medo ou ficar calado?! fundamental que sejam propostas novas formas de demonstrar a aprendizagem, pois, se tudo o
que o aluno Surdo souber for avaliado por sua produção escrita, reduzem-se enormemente suas
Por que Surdos tem direitos de Surdo ou Surdos não conhecem ser direitos?! possibilidades de sucesso e avanço acadêmico.
Por favor, atenção comunidade surda e instrutores Surdos precisam observar edital Em relação à avaliação da produção escrita, é fundamental valorizar o conteúdo desenvolvido
pelos alunos, buscando a coerência em seu texto, mesmo que a estruturação frasal não
Estrangeiros que estão adquirindo uma segunda lingua, cuja estruturação gramatical difere corresponda aos padrões exigidos para o nivel/série em que se encontra. Deve-se ter em mente
consideravelmente de sua lingua materna, deparam-se com dificuldades semelhantes às dos Surdos que a produção analisada está organizada em segunda língua, e não em língua materna, o que
em relação ao uso de preposições, tempos verbais, sufixação, prefixação, concordancia nominal e poderá acarretar:
verbal, ou seja, nos componentes estruturais da segunda lingua, que são diferentes de sua lingua- »o uso d palavras aparentemente inadequadas ou sem sentido, que não indicam um significado
base. Esse processo é decorrente da interferência linguistica de sua primeira lingua (a lingua de diverso do pretendido pelo aluno;
sinais) e/ou ao quase inexistente acesso a práticas linguisticas significativas com a lingua portuguesa
(Fernandes, 1998). »possiveis equivocos em relação ao uso de tempos verbais e a omissão ou inadequação no uso de
artigos e preposições, decorrentes do desconhecimento da lingua portuguesa ou da interferência
Assim, o minimo desejável da escola, ao se deparar com um texto escrito singular, marcado pela da Libras;
condiçao bilingue do aluno Surdo, é que haja uma postura diferenciada em relação aos critérios de
avaliação utilizados. 0 aprendizado do português, para os Surdos, inicia-se nas séries iniciais do »vocabulário "pobre" ou limitado, em virtude das poucas experiências significativas com a lingua
ensino fundamental e, quase sempre, ocorre sem adequações metodológicas, voltadas às suas portuguesa que a criança Surda vivenciou em sua infância.
especificidades linguísticas de aprendiz de segunda lingua. Nas séries finais (5 a 8
séries),apresentarão inúmeras dificuldades em seus primeiros contatos com textos cientificos-
altamente abstratos e complexos em organização gramatical-pela pouca experiência com a lingua Do mesmo modo, devem ser redimensionados os critérios de avaliação que tenham como pré-
portuguesa,encontrando dificuldades no vocabulário e na compreensão de orações mais complexas requisito a oralidade ou a percepção auditiva para sua compreensão (acentuação, tonicidade
(subordinadas, reduzidas, na voz passiva, entre outras). Esse fato influirá negativamente na silábica, pontuação, ditados e exercicios ortográficos, discriminação de fonemas etc.).
compreensão dos textos-base das diferentes disciplinas, bem como na resolução de problemas pela
dificuldade de compreensão dos enunciados propostos. Sabe-se o quanto é difícil para o professor, sozinho, assimilar esse conjunto de novas informações
relacionadas à escolarização de alunos Surdos e decidir sobre as melhores estratégias
A consciência de todas essas particularidades pelos professores-não só os de Lingua Portuguesa,já metodológicas, de modo a não ignorar suas necessidades diferenciadas e não marginalizar suas
que a língua permeia a organização de todas as disciplinas - aponta para a revisão de práticas produções escritas. Por isso, dada a importância da tomada de decisão ai implicada, seria oportuno
pedagógicas, elegendo estratégias de ensino e critérios de avaliação diferenciados que possam que essas reflexões fossem fruto de uma discussão conjunta entre professores regentes, equipe
considerar as produções singulares de alunos Surdos em comparação ao padrão apresentado por técnico-pedagógica e professores especializados.
alunos ouvintes.
Essa ressignificação das práticas escolares exige postura e atitude positivas diante da diferença,na
Com a leitura e a interpretacão de textos, todas as atividades de leitura devem ser qual a produção de alunos ouvintes-falantes nativos do português - não poderá ser tomada como
contextualizadas em referenciais visuais que permitam ao aluno uma compreensão prévia do tema parâmetro de análise ou comparação com aquelas dos alunos Surdos.
implicado. É a leitura das imagens nas diferentes linguagens (desenho, pintura, escultura,
murais,maquetes,teatro, dramatização, mimica etc.)que contribuirá para a ampliação dos sentidos do Espera-se que esse conjunto de informações, ainda que genéricas, tenham sido úteis para subsidiar
texto. o professor e ajudá-lo a refletir sobre as dificuldades enfrentadas pelos alunos Surdos que estudam
em classes no ensino regular, buscando formas de superação.
Na elaboração de exercicios e questoes, será sempre prejudicial utilizar questões que exijam
apenas respostas dissertativas, em função da pouca experiência dos alunos Surdos com a escrita. É
4.3 A inclusão de alunos Surdos e o atendimento educacional atuaçao do profissional intérprete caracteriza suporte pedagógico, e não exercício de
docência;portanto, a responsabilidade pela aprendizagem do aluno é do professor regente.
especializado
Instrutor Surdo de Libras-Profissional que tem como função ensinar e difundir a Libras e os
A efetivação de um processo educacional com enfoque bilingue para Surdos envolve uma aspectos socioculturais da surdez na comunidade escolar. No âmbito pedagógico, atua como
diversidade de possibilidades e contextos de atendimento. A depender da realidade de cada modelo de identificação linguistico-cultural para as crianças Surdas, de modo a oportunizar a
municipio e da disponibilidade de profissionais habilitados, a escolarização poderá ocorrer: apropriação da Libras como primeira língua no curriculo escolar.
»em escola regular, com ou sem apoio de intérpretes de lingua de sinais em sala de aula; Classes de educação bilingue-Caracterizam-se pela formação de turmas compostas por alunos
Surdos e ouvintes, no contexto da escola regular. O curriculo a ser seguido será o mesmo
»em escola regular, com apoio especializado, no contraturno, em sala de recursos ou instituições proposto para a série/ciclo em questão, mediante a utilização da lingua de sinais como língua
especializadas; de instrução e de interação. A lingua portuguesa, em sua modalidade escrita, será ofertada
como segunda lingua.
»em classes bilingues, abertas aos demais alunos;
Instituições especializadas- Escolas especiais que oferecem, em contraturno, atendimentos de
natureza pedagogica, desenvolvidos por professores especializados; de natureza terapêutica,
»em escolas bilingues, abertas aos demais alunos. desenvolvidos por fonoaudiólogos(terapia de fala, indicação e adaptação de próteses,
estimulação auditiva entre outros); e/ou de natureza assistencial, desenvolvidos por psicólogos
e/ou assistentes sociais.
Essas são as alternativas de atendimento educacional especializado oferecidas aos alunos
Surdos,que não excluem a necessidade de mudanças no projeto politico-pedagógico. Escola de educaçāo bilíngue - Escolas para Surdos com autorização para a oferta de educação
infantil, ensino fundamental e/ou ensino médio. O critério básico para seu funcionamento é o
A seguir, caracterizaremos cada um dos apoios e dos serviços especializados previstos na desenvolvimento da proposta de educaçao bilingue, por meio da constituição de equipe
legisação de modo a assegurar os atendimentos necessários aos alunos Surdos, a depender da técnico-pedagógica com dominio da Libras, O curriculo a ser seguido será o mesmo dos demais
realidade local: estabelecimentos de ensino,mediante a utilização da lingua de sinais como lingua de instruçao
e interação. A língua portuguesa, em sua modalidade escrita, será ofertada como segunda
»Sala de recursos-Serviço de natureza pedagógica, com a finalidade de apoio à escolarização língua.Em alguns casos, há a possibilidade da oferta de atendimentos complementares de outra
formal de alunos Surdos matriculados na educação básica, desenvolvido por professor natureza(fonoaudiologia,psicologia, assistência social, entre outros). Segundo o Decreto n
especializado, quando possivel com o auxilio de instrutor Surdo. A sala de recursos oferece 5,626, de 22 de dezembro de 2005, essas escolas devem ser abertas à comunidade,recebendo
complementação curricular por meio do acesso à Libras e à modalidade escrita da lingua também alunos ouvintes, se for o caso (Brasil, 2005).
portuguesa desde a educação infantil.
Intérprete de Libras/Lingua Portuguesa-Profissional bilingue que atua no contexto do ensino Esses serviços proporcionam o avanço acadêmico dos alunos Surdos em condições de igualdade
regular em que há alunos Surdos que utilizam a lingua de sinais, regularmente matriculados nos com os demais alunos do sistema educacional.
diferentes niveis e modalidades da educação básica. O profissional intérprete media situações de
comunicação entre os alunos Surdos e demais membros da comunidade escolar por meio da
interpretação/tradução da lingua de sinais/lingua portuguesa, Sua outra função é informar Síntese
àcomunidade escolar sobre as formas mais adequadas de comunicação a serem utilizadas, de
modo a assegurar a proposta de educação bilingue, viabilizando a interação e a participação Neste capitulo, apresentamos os aspectos conceituais da educação bilingue para Surdos e a
efetiva do aluno nas diferentes situações de aprendizagem e interação no contexto escolar. A indicação das politicas educacionais necessárias à sua implantaçào nos sistemas de ensino.
Destacamos a necessidade da formação de novos profissionais para a realização dessa proposta,como éo c) A garantia da educação bilingue desde o ensino fundamental até o superior.
caso do professor ou instrutor de Libras, do profssional tradutor/intérprete e do professor bilingue. Em
relação aos fundamentos de um curriculo inclusivo para Surdos, apresentamos sugestões para a d) Incluir a Libras como disciplina nas escolas e ensinar o português como segunda lingua para Surdos.
reorganizacao da escola em relaçào à comunicação com os alunos, ao aprendizado da lingua portuguesa
como segunda lingua e à avaliação diferenciada das produções escritas do aluno Surdo. Nesse ponto,
chamamos a atenção para o percurso da aprendizagem do português para Surdos, o qual se assemelha ao de 2.Em relação ao bilinguismo para Surdos, assinale (V)para as sentenças verdadeiras ou(F)para as falsas:
aprendizes de lingua estrangeira, tendo em vista a interferência da estrutura da Libras em suas produções. ( ) O ideal é que eles aprendam a Libras como primeira lingua e o português oral como segunda lingua.
Por fim, detalhamos as funções e as finalidades dos principais serviços de apoio pedagógico oferecidos pela
( ) O ideal é que eles aprendam a Libras como primeira lingua e o português oral e/ou escrito como
educação especial como apoio ao processo de inclusão escolar de alunos Surdos.
segunda lingua.

( ) O ideal é que eles aprendam o português como primeira lingua na familia e a Libras na escola.
Indicações culturais
()O ideal é que eles aprendam o português como segunda lingua na escola e a Libras na familia.
Livros 3.No que se refere ao aprendizado do português pelos Surdos, marque as alternativas como
verdadeiras(V)ou falsas(F):
FERNANDES, S. Letramentos na educação bilingue para Surdos. In: BERBERIAN, A. et al. ( ) Em sua modalidade escrita, deverá ser ministrado por professores bilingues, com estratégias
(Org.).Letramento:referências em saúde e educação. São Paulo: Plexus, 2006. metodológicas de ensino de segunda lingua.
FERNANDES, S. Critérios diferenciados de avaliaçāo na lingua portuguesa para estudantes ( ) Não serão necessárias adequações no processo de avaliação escrita, apenas de ensino.
Surdos.2.ed.Curitiba: Seed/Sued/DEE,2002.Disponivel em:<http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/por
tals/portal/institucional/dee/dee_surdez.php>, Acesso em: 22 jun, 2011. ( ) Sua modalidade oral ficará sob a responsabilidade de fonoaudiólogos.
É possivel ser Surdo em português? Lingua de sinais e escrita: em busca de uma aproximação.In: SKLIAR, ( ) Todas as afirmativas anteriores estão corretas.
C. (Org.). Atualidades na educação bilingue para Surdos. Porto Alegre: Mediação, 1999.p.59-81.v.2.
Educaçāo bilingue para Surdos: desafios à inclusão. Curitiba:Seed/Sued/DEE, 2006.Disponivel em: 4.Em relação à avaliação de Surdos, marque (V)para verdadeiro ou(F)para falso:
<http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/portal/institucional/dee/grupo_es tudo_surdez2006.pdf>. ( ) Os Surdos não apresentam diferenças na escrita do português em relação às crianças que ouvem. O
Acesso em: 22 jun. 2011. que ocorre é que eles demoram mais para aprender.

( ) Alunos Surdos aprendizes do português contam com uma escrita com incorreções gramaticais,
Atividades de autoavaliação semelhante à escrita de estrangeiros aprendendo a segunda lingua.

1. Assinale a alternativa que nāo corresponde às necessidades dos Surdos na inclusão:


a) A capacitação de professores bilingues.

b) A mediação de intérpretes de Libras em todas as atividades escolares.


( ) Alegislação assegura critérios de avaliação diferenciados em lingua portuguesa,respeitando-se sua Texto 1-E-mail de um norte-americano para a cunhada brasileira
diferença linguistica.
Eu carro vende para $ 1.600.00 ou posso para um pouco menos se preciso talvez $
( ) Para a aprendizagem da escrita, o professor não deverá enfatizar relações entre fonemas/grafemas. 1.500.00um pouco menos para familia. Eu gosto esse computador muinto, eu compra uma
pra me tambem and e otimo!! Que voces pensa com esse notebook? Pode vende para esse
5. Assinale a única alternativa que nāo corresponde a um serviço de apoio especializado para Surdos: preso?Sabe alguma pessoa intersante?
a) Instrutor e intérprete de Libras. Escreve para me por favor..tambem tem outro cam para computador paricedo do que o
cam eu compra para Adriano....quanto voces pense eu possa venda pra? Um abraso para
b) Salas de recursos no contraturno escolar. todo mundo...Ron
c) Classes e escolas com educação bilingue.
Texto 2-Sintese do acidente ocorrido com o avião da TAM, no aeroporto de Congonhas,em
d) Escolas especiais. julho deste ano.
Tragédia em São Paulo
Atividades de aprendizagem
Na terça-feira(dia 16/07)a noite aconteceu uma tragedia do avião com 186 pessoas a bordo
Questões para reflexão do Airbus 320 bateu uma empresa TAM e não conseguiu frear o aviào. Expoldiu tudo que
avião caiu até posto de gasolina e tinha pessoas atravessam e forem morrem. Tem fumaça
grande como bola de fogo e espalham pelo ar. Os bombeiros chegarem e tentam salvar as
1. Diferencie os processos comunicativosutilizados no bimodalismo e no bilinguismo na educação pessoas, mas, já é tarde que dentro da empresa tinha pessoas estão pedindo socorro e não
de Surdos, Exemplifique cada um desses processos. conseguiram e pularam para fora e alguns morrem e alguns foram hospital com fraturas
graves.
2.0 processo de aprendizagem do português como segunda lingua pelos Surdos pode ser
comparado ao percurso realizado por estrangeiros, falantes de linguas gramaticalmente muito O destino do avião era Porto Alegre (Poa).
diferentes do português, como o chinês e o inglês. Identifique quais são as principais dificuldades
dos Surdos na apropriação da escrita do português.
2. Pesquise em uma escola que ofereça atendimento educacional especializado a alunos Surdos em seu
Atividades aplicadas: prática municipio e identifique os seguintes aspectos:
a) Tipo de atendimento especializado:
1. Considerando os aspectos de sua pesquisa sobre as caracteristicas da escrita de Surdos,compare os ( ) Escola especial para Surdos.
textos a seguir de dois adultos-um norte-americano e um Surdo brasileiro-e identifique quais seriam as
caracteristicas que assemelham suas produções escritas em segunda lingua. Reflita sobre o porquê da ( ) Sala de recursos.
necessidade de serem adotados critérios diferenciados na avaliação dos alunos Surdos na escola regular. ( ) Escola regular com apoio de profissional intérprete.

( ) Outro tipo de atendimento especializado.


b) Os alunos Surdos matriculados apresentam: f) Quanto ao conhecimento de Libras pela comunidade escolar:
( ) perdas auditivas parciais(leves e moderadas). ( ) apenas os alunos Surdos conhecem e utilizam a Libras.

( ) perdas auditivas totais(severas e profundas). ( ) os professores especializados e os alunos Surdos dominam a Libras.

( ) ambas as perdas. ( ) além dos alunos Surdos, pais e professores e alunos ouvintes conhecem a Libras e se comunicam por
meio dela.
c) Entre os alunos Surdos estão:
( ) filhos de pais ouvintes que não utilizam a lingua de sinais. ( ) ninguém conhece ou utiliza a Libras na escola.

( ) filhos de pais ouvintes que estão aprendendo a lingua de sinais na escola. 3. Ainda nesse mesmo contexto, responda às seguintes questões:
( )filhos de pais Surdos que utilizam a lingua de sinais desde a infância. a) A observação das práticas escolares e as respostas às perguntas dadas são coerentes com a resposta
dada à questão "d"(filosofia educacional adotada pela escola)?
( ) Outra situação.
b) Com base nos estudos realizados neste módulo e nos dados colhidos na escola, enumere as
d) Qual a filosofia educacional adotada pelo professor e/ou pela escola? dificuldades a serem superadas pela comunidade escolar para a implantação da educação bilingue para
( ) Oralismo. Surdos.

( ) Comunicação Total.

( ) Bilinguismo (Libras e lingua portuguesa-oral e escrita).

( ) Bilinguismo(Libras e Lingua portuguesa escrita).

( ) Não soube informar.

e) Quanto aos profissionais da escola, há:


( ) professores ouvintes que desconhecem a Libras.

( ) professores ouvintes bilingues.

( ) professores e/ou instrutores Surdos.

( ) profisionais tradutores e intérpretes de Libras.


Considerações finais

Neste livro, procuramos apresentar uma breve, porém consistente, análise de aspectos históricos,linguísticos,
culturais e sociais que atravessam o desafio da inclusão escolar de alunos Surdos,destacando-se a década de 1990 e os
anos iniciais do atual milênio.

Muitos outros fatores poderiam ser pontuados, ou mesmo alguns dos pontos abordados poderiam ser aprofundados,
demonstrando a complexa situação da escolarização dos Surdos nesse momento histórico.

Nosso objetivo principal foi o de demonstrar que mais do que promover adaptações e pequenas mudanças no
curriculo escolar, há que se difundir novas representações sobre os Surdos e a surdez,as quais sinalizem para suas
potencialidades como grupo cultural.

Nesse intento, repousa o reconhecimento indiscutível do valor da lingua de sinais para os Surdos e sua incorporação nas
agendas das politicas públicas, assegurando que, na prática, a cidadania bilingue dos Surdos seja plenamente realizada,
expandindo suas possibilidades pessoais e profissionais.

Esperamos que o conjunto de reflexões apresentado aqui possa ter contribuído para que os educadores transformem
estratégias de submissão e domesticação em práticas de respeito àdiferença e à libertação no cotidiano escolar.
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4.b
Gabarito 5.a

Capítulo 4

1.c

Capítulo 1 2.V,V,F,F
3.V,F,V,F
1.c
4.F,V,V,V
2.c
5.d
3.V,F,V,F

4.V,F,F,V

5.V

Capítulo 2

1.V.F,V,V
2.c
3.V
4.c
5.c

Capítulo 3

1.F,F,V,V
2.b
3.F
Nota sobre a autora

Sueli Fernandes é doutora em Estudos Linguisticos (2003) e mestre em Linguística (1998) pelo Programa de Pós-
Graduacão em Letras da Universidade Federal do Paraná (UFPR). É professora do setor de Educação da UFPR, coordenadora
do curso de Letras Libras - Polo UFPR e docente de cursos de graduação e pós-graduação nas áreas de linguistica e
educação especial. Nessa última área, atua desde 1990 desenvolvendo consultorias, mais especificamente relacionadas à
educação bilingue para Surdos. Nos últimos anos, vem se dedicando a pesquisas de letramento voltadas ao ensino de
português como segunda lingua para alunos Surds. É autora de diversas publicações nas áreas de educação especial e
educação de Surdos, com destaque para a coautoria do caderno Saberes e Práticas da Inclusão: desenvolvendo
competências para o trabalho com as necessidades educacionais de alunos Surdos, da Secretaria de Educação Especial do
Ministério da Educação (MEC).

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