ISSN 1983-974X
Dezembro / 2023
DOCUMENTOS
314
Anuário CiCarne da cadeia produtiva
da carne bovina - 2023
ISSN 1983-974X
Dezembro/2023
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
Embrapa Gado de Corte
Ministério da Agricultura e Pecuária
DOCUMENTOS 314
Anuário CiCarne da cadeia produtiva
da carne bovina - 2023
Guilherme Cunha Malafaia
Paulo Henrique Nogueira Biscola
Embrapa Gado de Corte
Campo Grande, MS
2023
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da Embrapa Gado de Corte
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1ª edição
Publicação digitalizada (2023)
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constitui violação dos direitos autorais (Lei nº 9.610).
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Embrapa. Superintendência de Serviços Compartilhados
Malafaia, Guilherme Cunha.
Anuário CiCarne da cadeia produtiva da carne bovina – 2023 / Guilherme
Cunha Malafaia, Paulo Henrique Nogueira Biscola. - Campo Grande, MS :
Embrapa Gado de Corte, 2023.
PDF (30 p.) : il. color. - (Documentos / Embrapa Gado de Corte, ISSN
1983-974X ; 314).
1. Cadeia produtiva. 2. Comércio. 3. Gado de corte. 4. Exportação. 5.
Desenvolvimento sustentável. I. Malafaia, Guilherme Cunha. II. Biscola,
Paulo Henrique Nogueira. III. Título. IV. Série.
CDD 636.213
Maria de Fátima da Cunha (CRB – 1/2616) © Embrapa, 2023
Autores
Guilherme Cunha Malafaia
Administrador, doutor em Agronegócio – UFRGS, pesquisador
da Embrapa Gado de Corte, Campo Grande, MS
Paulo Henrique Nogueira Biscola
Administrador, doutor em Administração – UFMS, pesquisador
da Embrapa Gado de Corte, Campo Grande, MS
Sumário
Introdução....................................................................................................... 7
Cadeia produtiva da carne bovina no mundo.................................................. 8
A cadeia produtiva da carne bovina no Brasil............................................... 16
Comércio internacional de carne bovina e de bovinos vivos........................ 22
Considerações finais..................................................................................... 27
Referências................................................................................................... 29
Anuário CiCarne da cadeia produtiva da carne bovina - 2023 7
Introdução
Com a estimativa de 202,78 milhões de cabeças em 2022, o rebanho bovino
brasileiro mais do que dobrou em relação aos anos 1970 (ABIEC, 2023).
Além disso, foram verificados, nesse período, ganhos excepcionais em di-
versos índices zootécnicos que proporcionaram ao País uma conquista sem
paralelo em todo o mundo.
Antes importador, o Brasil passou a ser autossuficiente na produção de carne
bovina. Com 72,1% da produção destinada ao mercado interno, proporcio-
namos um consumo médio anual de 36,7 kg por habitante por ano, como
observado em 2022 – um dos mais elevados do mundo. E com a produção
excedente, apenas 27,9%, passamos à condição de maior exportador mun-
dial, posição mantida desde 2004 (ABIEC, 2023).
Em 2022, foram exportadas para 150 países, 2,26 milhões de toneladas,
com receita anual de US$ 12,97 bilhões (ABIEC, 2023). Nesse mesmo ano,
a cadeia produtiva, além de garantir segurança alimentar para a sociedade
brasileira, representa uma importante fonte geradora de emprego e renda. Os
números registrados nos últimos anos não deixam dúvidas e demonstram a
pujança deste setor que faz do Brasil um dos principais atores na produção e
comércio mundial de carne.
Essa atividade de sucesso começou na época do descobrimento do Brasil com
a chegada dos primeiros bovinos trazidos pelos colonizadores portugueses.
Inicialmente, sua evolução ocorreu sustentada por decisões tomadas dentro
da porteira. Mais tarde, engajados na busca por qualidade e sustentabilidade,
instituições de ciência e tecnologia, indústria, associações de produtores, entre
outros atores, atuaram de maneira decisiva para a evolução do setor.
Hoje, a pecuária de corte vai muito além da porteira e agrega vários elos dentro
da sua cadeia de produção. A atividade é dotada de expressivo parque indus-
trial para processamento e abate de bovinos. Para alcançar o grau de excelên-
cia atual, foi necessário muito investimento na busca de novas tecnologias em
nutrição, pastagem, manejo sanitário e genética. Este elaborado processo de
desenvolvimento tornou a fazenda uma empresa rural, preocupada não só em
melhorar a rentabilidade da atividade, mas também a qualidade do produto bra-
sileiro e, consequentemente, sua competitividade e abrangência de mercado.
8 DOCUMENTOS 314
A partir de uma forte reestruturação da cadeia de produção foi possível ao setor
obter ganhos como: melhorias nos índices de natalidade, queda nos índices
de mortalidade, redução na idade para abate, melhoria nos índices de desfrute
do rebanho. Porém, ainda que seja um segmento reconhecidamente inovador
e sólido, há ainda uma infinidade de oportunidades a serem exploradas, com
vistas à melhora da rentabilidade e à diversificação das demandas de consu-
mo, pois a cadeia de produção ainda apresenta muitos gargalos que precisam
ser solucionados. Observa-se ainda uma discrepância muito grande no nível
tecnológico adotado nas propriedades. Por outro lado, a baixa qualificação de
grande parte dos produtores dificulta a introdução de novas tecnologias.
Este documento tem por objetivo contextualizar a cadeia produtiva da carne
bovina mundial e brasileira, focando em números que demonstrem carac-
terísticas econômicas, de produção, consumo e comercialização. Contribui
para que os agentes dessa cadeia possam se alinhar com os grandes objeti-
vos do desenvolvimento sustentável.
Cadeia produtiva da carne bovina no mundo
Contextualização do setor
Segundo estimativas do Departamento de Agricultura Norte-Americano
(Estados Unidos, 2023), o efetivo mundial de bovinos deve chegar a pouco
mais de 941 milhões de cabeças em 2023. A se confirmar tal previsão, o es-
toque de gado no mundo diminuirá 0,3% em relação a 2022, o que representa
uma diminuição de 2,8 milhões de cabeças (Gráfico 1).
Fonte: USDA (2023).
Gráfico 1. Evolução do estoque mundial de bovinos, em mil cabeças.
Anuário CiCarne da cadeia produtiva da carne bovina - 2023 9
A população bovina mundial encontra-se concentrada em 7 regiões. O maior
rebanho do mundo, em número de cabeças, está no Brasil, seguido da Índia,
Estados Unidos, China, União Europeia, Argentina e Austrália (Estados
Unidos, 2023; IBGE, 2023; FAOSTAT, 2023).
Produção e comércio mundial de carne bovina
A natureza cada vez mais globalizada do comércio internacional tem possi-
bilitado aos países produtores de commodities o acesso a mercados consu-
midores espalhados por todo o globo. A possibilidade dessa integração fez
surgir um mercado muito disputado, regido por consumidores cada vez mais
exigentes. A forte competição passou a ser norteada por determinantes de
padrões muito rígidos. No caso específico da carne, destacam-se os seguin-
tes determinantes de padrões comerciais:
• Diferenças de consumo: como bem superior (elasticidade de renda
maior que um), o nível de consumo de carne está fortemente associa-
do ao nível médio de renda em cada região, que também está ligado
ao acesso a cortes de maior qualidade e métodos específicos de con-
servação. Por outro lado, fatores culturais explicam diferenças nas
preferências do consumidor em termos de tipos de carne (espécies e
raças);
• Política comercial: barreiras comerciais (tarifas, subsídios, quotas,
etc.) e acordos de integração são de grande importância neste se-
tor, onde o comércio potencial encontra barreiras muito importan-
tes que geram uma lacuna substancial com o comércio observado.
Negociações sobre acesso a mercados são árduas e, embora tenha
havido um certo processo de liberalização, as restrições são críticas
para explicar os fluxos reais de comércio, de modo que as abordagens
políticas econômicas fornecem explicações relevantes sobre as rela-
ções entre governos e empresas domésticas, ambas no que tem a ver
com a proteção do mercado interno, bem como com a promoção de
seu acesso a terceiros mercados;
• Estrutura de mercado: as economias de escala desempenham um papel
importante na redução dos custos médios na produção, o que gera uma
10 DOCUMENTOS 314
tendência de haver poder de mercado no setor e a consequente tendên-
cia à concentração;
• Aspectos de saúde: doenças animais que envolvem riscos para a saúde
humana ou para a produção doméstica levaram a numerosas e recor-
rentes crises de saúde que frequentemente envolvem o fechamento de
todos os mercados externos para o país afetado, e a disseminação global
de algumas doenças abalou o mundo.
A Tabela 1 apresenta dados da evolução da produção de carne bovina
dos principais países produtores de 2013 a 2023, disponibilizados pelo
USDA. O mundo deve produzir 59,5 milhões de toneladas equivalente
carcaça de carne bovina em 2023, crescendo 0,4% em relação a 2022.
Os dados revelam ainda, que a produção mundial cresceu no período
2,87%. Segundo as projeções, os Estados Unidos seguem como o prin-
cipal produtor mundial com 20,78% do volume global produzido, seguido
do Brasil com 17,87% e a União Europeia aparecendo em terceiro lugar
com 11,07%. A China, quarto maior produtor mundial de carne bovina,
também deve apresentar crescimento da produção de 4,46%, contudo,
sua produção ainda está muito aquém do seu consumo interno. Com re-
lação a Índia e Argentina, quinto e sexto no ranking dos maiores produ-
tores do mundo, aparecem como destaques com aumento de produção,
respectivamente, 16,84% e 11,23% no período analisado. A Austrália,
teve diminuição de sua produção no período (-12,71%), mas apresenta
sinais de recuperação em 2023 em relação a 2022 (aumento de 9,57%).
Ressalta-se que o Brasil apresentou taxa de crescimento positivo no pe-
ríodo (6,5%) e em 2022 superou pela primeira vez na história a marca de
10 milhões de toneladas.
Tabela 1. Produção mundial de carne bovina, em mil toneladas em equivalente carcaça, 2013 a 2023.
Ano Mundo EUA Brasil UE China Índia Argentina Austrália Outros
2013 57.910 11.750 10.000 7.390 6.130 3.800 2.850 2.360 13.630
2014 57.650 11.080 9.720 7.440 6.160 4.000 2.700 2.600 13.950
2015 57.550 10.820 9.430 7.680 6.170 4.080 2.720 2.550 14.100
2016 55.300 11.510 9.400 6.940 6.170 4.170 2.650 2.130 12.330
2017 56.530 11.940 9.750 6.950 6.350 4.230 2.840 2.150 12.320
2018 57.820 12.260 9.980 7.070 6.440 4.240 3.050 2.310 12.470
2019 58.540 12.390 10.050 6.960 6.670 4.270 3.130 2.430 12.640
2020 57.700 12.390 9.980 6.900 6.720 3.760 3.170 2.120 12.660
Anuário CiCarne da cadeia produtiva da carne bovina - 2023
2021 58.400 12.730 9.750 6.880 6.980 4.200 3.000 1.900 12.960
2022 59.330 12.890 10.350 6.710 7.180 4.350 3.140 1.880 12.830
2023 59.570 12.380 10.650 6.600 7.500 4.440 3.170 2.060 12.770
tx cresc.
período 2,87 5,36 6,50 -10,69 22,35 16,84 11,23 -12,71 -6,31
(%)
var.
2022 /
0,40 -3,96 2,90 -1,64 4,46 2,07 0,96 9,57 -0,47
2023
(%)
Fonte: USDA (2023).
11
12 DOCUMENTOS 314
É esperado que o consumo mundial de carne bovina aumente em 2023 e alcan-
ce 57,81 milhões de toneladas, um aumento de cerca de 0,57% frente a 2022. O
maior aumento de consumo, em termos absolutos, é esperado que aconteça na
China, quarto maior produtor e segundo maior consumidor mundial, com consu-
mo estimado em 10,98 milhões de toneladas em 2023. O consumo nos Estados
Unidos deve chegar a 12,55 milhões de toneladas em 2023, uma diminuição de
1,94% em relação a 2022 (12,79 milhões de toneladas). No período entre 2013 e
2023, o Brasil e a UE tiveram uma diminuição de consumo de -7,21% e -14,91%,
respectivamente. No Brasil o consumo em 2023 deve ficar em 7,66 milhões de
toneladas e na UE, 6,42 milhões de toneladas. Na Índia, o consumo cresceu
expressivamente no período, na ordem de 42,07% (Tabela 2).
Tabela 2. Consumo mundial de carne bovina, em mil toneladas em equivalente
carcaça, 2013 a 2023.
Ano EUA China Brasil UE Índia
2013 11.608 6.473 8.258 7.545 2.087
2014 11.241 6.491 7.951 7.544 1.978
2015 11.275 6.754 7.824 7.781 2.326
2016 11.676 6.873 7.811 6.613 2.461
2017 12.052 7.237 8.001 6.582 2.444
2018 12.181 7.808 8.000 6.753 2.729
2019 12.409 8.826 7.779 6.698 2.776
2020 12.531 9.485 7.486 6.539 2.476
2021 12.717 9.987 7.492 6.529 2.798
2022 12.799 10.662 7.524 6.486 2.908
2023 12.551 10.980 7.663 6.420 2.965
tx cresc.
8,12 69,63 -7,21 -14,91 42,07
período (%)
var. 2022 /
-1,94 2,98 1,85 -1,02 1,96
2023 (%)
Fonte: USDA (2023).
Anuário CiCarne da cadeia produtiva da carne bovina - 2023 13
O consumo de carne bovina no mundo aumentou rapidamente nos últimos
50 anos e hoje é quase duas vezes maior do que o de 1970 - de 34 milhões
de toneladas, atingiu 57,5 milhões em 2022 (Estado Unidos, 2023), muito em
função do crescimento da população mundial que duplicou no mesmo perío-
do, de 3,7 bilhões de pessoas em 1970, somos em 2023 mais de 8 bilhões
de habitantes.
Em 2010, de acordo com o gráfico 2, Argentina, Zimbabué, Brasil, Austrália
e EUA lideravam o ranking global de consumo de carne bovina por habitan-
te. Em 2020 os países com maior consumo por habitante permaneceram os
mesmos. O Uzbequistão tem se aproximado desses países e o Uruguai tem
se distanciado, embora ainda tenha um consumo alto. A China tem aumenta-
do seu consumo, mas por ser muito populosa, seu consumo per capita ainda
pode crescer muito, em 2020 foi de 6,75 kg/hab/ano.
Fonte: FAO (2023).
Gráfico 2. Consumo per capita de carne bovina em países selecionados – kg/hab/
ano - 2010 a 2020.
14 DOCUMENTOS 314
Dados recentes, divulgados pela Associação Brasileira das Indústrias
Exportadoras de Carnes Bovinas (ABIEC), demonstram que (Gráfico 3), em-
bora tenha havido expressiva mudança na quantidade absoluta consumida
de carne bovina, no que se refere ao consumo per capita, o cenário é muito
parecido. A Argentina foi o país que mais consumiu carne bovina em 2022,
47,5 kg/hab/ano. O Brasil é o quinto país desta lista, com um consumo de
36,7 kg/hab/ano. Os Estados Unidos são o terceiro deste ranking com con-
sumo muito próximo do consumo brasileiro, 38 kg/hab/ano. E o Zimbabué
possui o segundo maior consumo per capita, de 41,1 kg/hab/ano.
Fonte: ABIEC (2023).
Gráfico 3. Maiores consumidores de carne bovina (KG/HAB/ANO) - 2022.
Projeções da oferta e demanda para carne bovina
A seguir são apresentados alguns dados que revelam as perspectivas do
mercado mundial de carne bovina para a próxima década, com base em pro-
jeções elaboradas pelo USDA e pela OECD e FAO. De acordo com as pro-
jeções elaboradas pela OECD e FAO, a produção mundial de carne bovina
deve seguir crescendo nos próximos dez anos e alcançar o patamar recorde,
de 77,8 milhões de toneladas em 2032 (Tabela 3).
Anuário CiCarne da cadeia produtiva da carne bovina - 2023 15
Tabela 3. Projeções da produção mundial de carne bovina – 2023 a 2032.
Ano Total
2023 72.100,43
2024 72.646,78
2025 73.264,89
2026 73.911,41
2027 74.568,96
2028 75.228,30
2029 75.873,48
2030 76.525,20
2031 77.165,98
2032 77.811,58
tx cresc. período (%) 7,92
Fonte: Organisation for Economic Co-Operation and Development, 2023..
Segundo as projeções da OECD e FAO para a próxima década, dentre os
maiores produtores mundiais, o Brasil deverá ter o quinto maior crescimento,
de 4,52%. Se comparado aos demais líderes do mercado internacional, o
crescimento previsto para a produção brasileira será inferior ao da Austrália,
China, Argentina e Índia (Gráfico 4). Assim, dentre os sete principais produto-
res, o Brasil terá crescimento superior somente ao dos Estados Unidos. Fonte: Organisation for Economic Co-Operation and
Development, 2023
Gráfico 4. Variação da produção de carne bovina entre 2023 e 2032 (%).
16 DOCUMENTOS 314
Reforçando os índices otimistas para o segmento da carne, a Organização
para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) prevê que em
2032 o consumo mundial de carne deverá atingir um patamar de 77,6 milhões
de toneladas, um incremento de 5,68 milhões de toneladas em relação a
2023. O crescimento estará associado, principalmente, ao avanço populacio-
nal, uma vez que o consumo per capita permanecerá praticamente estável,
em 5,91 kg/ano (Tabela 4).
Tabela 4. Projeção do consumo mundial de carne bovina, 2023 a 2032.
Ano Total (mil ton.) Per capita (kg)
2023 71.947,79 5,91
2024 72.467,75 5,90
2025 73.067,29 5,89
2026 73.731,99 5,89
2027 74.390,27 5,89
2028 75.049,41 5,90
2029 75.693,19 5,90
2030 76.344,48 5,90
2031 76.985,86 5,90
2032 77.631,27 5,91
tx cresc. período (%) 7,90 0,00
Fonte: OECD-FAO (2023).
A cadeia produtiva da carne bovina no Brasil
Caracterização
O Brasil é reconhecidamente marcado pela sua pujante agropecuária, des-
tacando-se como potência produtora de alimentos, sejam grãos ou produtos
de origem animal. Apesar desse quadro favorável, o país vem passando por
diversas mudanças ao longo dos anos, alterando a estrutura produtiva e a
forma como conduz sua produção.
Anuário CiCarne da cadeia produtiva da carne bovina - 2023 17
De 2006 para 2017 houve a saída de mais de 1,6 milhões de trabalhadores
do campo e redução de mais de 100 mil propriedades agropecuárias (IBGE,
2023). Fruto da injeção de tecnologia, a atividade segue em expansão, tanto
territorial quanto econômica.
Fonte: IBGE, elaborado por CiCarne.
Gráfico 5. Área Total, Pessoal Ocupado e Estabelecimento na Agropecuária do Brasil
– 2006 a 2017.
A bovinocultura no Brasil tem papel importante nesse movimento, sendo in-
dissociável de fatores sociais e naturais que traçaram o processo de constru-
ção do território rural brasileiro. A abertura de novas áreas de pastagens foi
uma das principais causas do aumento no número de estabelecimentos veri-
ficados desde a década de 50. Em zonas de ocupação mais antiga, como Rio
de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, esse processo se deu por um recuo da
área já cultivada com lavouras, abrindo espaço à criação de bovinos de corte.
No entanto, a grande expansão da atividade pecuária foi caracterizada pelo
avanço em áreas de fronteira agrícola, sobretudo pela incorporação de áreas
de cerrados da região centro-oeste aos estabelecimentos rurais.
18 DOCUMENTOS 314
Fonte: IBGE - SIDRA (2023), elaborado por CiCarne.
Figura 1. Mapa de calor da distribuição do rebanho bovino do Brasil – 2020.
A partir de 1995 então, inicia-se o processo de recuo no uso de terras para
pastagens, dando espaço às lavouras e áreas de preservação ambiental.
Considerando o Censo Agropecuário 2017 do IBGE como base, 25% dos
bovinos são produzidos em propriedades de até 100 hectares e outros 37%
produzidos em propriedades de 100 até 1.000 hectares, o que demonstra a
Anuário CiCarne da cadeia produtiva da carne bovina - 2023 19
Fonte: IBGE - Censo Agropecuário (2017), elaborado por
CiCarne.
Gráfico 6. Uso de Terras para Agropecuária no Brasil – 1995 a 2017.
pulverização da produção do setor no país. Do montante total, 1,95 milhões
são estabelecimentos que possuem menos de 50 cabeças e 605,7 mil são
estabelecimentos com mais de 50 cabeças. Enquanto isso, as propriedades
acima de 1.000 hectares representam 2% dos 2,55 milhões de estabeleci-
mentos agropecuários com bovinos e detém 33% do número de cabeças.
Tabela 5. Estabelecimentos Agropecuários com Bovinos por Área e Efetivo do
Rebanho em 2017.
Nº de % de Nº de % de
Área
propriedades propriedades cabeças cabeças
De 0 a menos
2.158.947 84,75% 50.113.091 29,03%
de 100ha
De 100 a
menos de 348.101 13,67% 63.624.451 36,86%
1000ha
Acima de
40.291 1,58% 58.891.140 34,11%
1000ha
TOTAL 2.547.339 100% 172.628.682 100%
Fonte: IBGE - Censo Agropecuário (2017), elaborado por CiCarne.
20 DOCUMENTOS 314
Do total de propriedades agropecuárias com bovinos, 1,38 milhões de pro-
priedades são produtoras exclusivamente de gado de corte (IBGE, 2023),
foco do presente estudo. Das propriedades agropecuárias do Brasil, 27,3%
produzem bovinos exclusivamente para a finalidade de corte. Sua importân-
cia social e econômica fica evidente. É uma atividade superlativa, talvez ape-
nas comparável com a soja em termos de agronegócio.
A expansão na exploração do cerrado brasileiro, que possibilitou o avanço
pecuário há mais de cinco décadas, hoje demarca a região centro-oeste
como a maior produtora de bovinos do Brasil. Nos Estados do Mato Grosso,
Mato Grosso do Sul e Goiás concentra-se mais de 30% da produção bovina
nacional, tendo a região pouco mais de 10% das propriedades produtoras de
bovinos no país.
Fonte: IBGE - Censo Agropecuário (2017) e IBGE -
PPM (2022), elaborado por CiCarne.
Gráfico 7. Estabelecimentos com Bovinos e Produção de Bovinos por Região do
Brasil – 2017.
Em 2022, de acordo com o IBGE, foram abatidos 29,8 milhões de bovinos.
A liderança do setor ficou a cargo do Estado do Mato Grosso com abate aci-
ma de 4,6 milhões de cabeças, seguido por São Paulo, Mato Grosso do Sul
e Goiás (Tabela 6). A predominância de estados da região Centro-Oeste, a
coloca como principal região produtora do país, seguida pela região Sudeste
e Norte (Gráfico 8).
Anuário CiCarne da cadeia produtiva da carne bovina - 2023 21
Fonte: MAPA - Observatório da Agropecuária Brasileira, Abate,
2022.
Gráfico 8. Número de bovinos abatidos no Brasil, total e por região – 2012 a 2021.
Tabela 6. Estados brasileiros com maiores números de abates de bovinos – 2022.
Estado Abates (cabeças) %
Mato Grosso 4.697.425 15,8
São Paulo 3.420.964 11,5
Mato Grosso do Sul 3.276.271 11
Goiás 2.946.977 9,9
Minas Gerais 2.838.517 9,5
Pará 2.430.612 8,2
Rondônia 2.044.518 6,9
Rio Grande do Sul 1.653.629 5,5
Total 23.308.913 78,2
Fonte: MAPA - Projeções do Agronegócio (2023).
A produção de carne bovina em 2022 obteve crescimento de 11,23% em
relação ao ano anterior e espera-se que tenha crescimento nos próximos 10
anos. O Brasil fica atrás apenas dos Estados Unidos no ranking de produção
de carne bovina mundial. O setor vem buscando constantemente incrementar
a produção com o uso de tecnologias modernas, juntamente com a diminui-
ção de área para a pecuária. São visíveis os esforços para a melhoria da qua-
22 DOCUMENTOS 314
lidade produtiva nacional, com a ajuda de importantes pilares tecnológicos,
como genética, saúde e manejo. Onde se tinha um movimento de expansão
produtiva por área e quantidade, hoje se enxerga um movimento de intensifi-
cação produtiva com maior qualidade técnica.
A importância da pecuária para o Brasil se fortalece a cada ano. Em 2022 o
PIB total da cadeia produtiva de carne bovina foi de USD 198,12 bilhões. O
faturamento total cresceu nos últimos 10 anos em torno de 187%, sendo que
somente no último ano, o aumento de receita do setor foi de 12%. O PIB do
sistema agroindustrial da carne bovina representou 41,6% do PIB total do
agronegócio em 2022, que foi de R$2,5 trilhões. Em relação a toda riqueza
gerada pelo Brasil (R$ 9,9 trilhões), o PIB da pecuária representa 10%. O
setor de insumos e serviços para a produção teve faturamento de R$159,31
bilhões. O setor produtivo da pecuária de corte somou R$241,38 bilhões.
Do total faturado no PIB pecuário, R$250,56 bilhões são representados pela
indústria frigorífica (ABIEC, 2023).
Do total de carne bovina produzida no Brasil em 2022, 72% foram destinadas
para consumo interno e 28% para o mercado externo. Os maiores clientes
do país em exportação de carne bovina in natura são a China (62,39%), EUA
(4,47%), Egito (4,3%) e Chile (3,96%) (USDA, 2023; ABIEC, 2023).
Apesar da queda no valor das exportações de carne bovina no início de 2023,
é notável a contínua expansão da demanda internacional que impulsiona o
volume de produtos embarcados para outros países (Biscola et al., 2023).
Comércio internacional de carne
bovina e de bovinos vivos
Exportações brasileiras de carne bovina
A indústria brasileira de carne bovina tem vivido um cenário promissor nos
últimos anos, com inúmeras oportunidades para expandir suas exportações.
A demanda global por alimentos, aliada à queda nos preços domésticos e ao
aumento dos preços internacionais, tem impulsionado a busca por mercados
estrangeiros. Nesse contexto, o Brasil destaca-se como o maior exportador
da carne mais demandada no mundo, conhecida como “carne ingrediente”,
que será posteriormente industrializada no país de destino.
Anuário CiCarne da cadeia produtiva da carne bovina - 2023 23
Uma oportunidade significativa surge com o aumento da demanda da China,
que busca reduzir sua dependência dos Estados Unidos. Além disso, a epi-
demia da gripe suína africana continua a impulsionar a procura pela nossa
carne. Essa doença destruiu mais de 40% da população suína da China,
abrindo espaço para outras carnes. Há inclusive quem defenda que a carne
bovina ganhou espaço no hábito alimentar dos chineses, ou seja, mesmo
depois do final do efeito da menor oferta de carne suína, sua demanda será
reduzida em favor da carne bovina. A China é, atualmente, o principal merca-
do para a carne brasileira e apresenta grande potencial de crescimento, pois
seu consumo per capita ainda é baixo, na faixa de 6,75 kg/hab/ano. A China
depende de importações que chegam a 30% de seu consumo doméstico,
sendo o maior importador mundial dessa proteína.
Outra questão relevante é que, após uma espera de 20 anos, o mercado me-
xicano foi aberto para o Brasil. O México é o terceiro maior importador mun-
dial de proteína animal, atrás apenas da China e do Japão. Essa abertura
possibilita acesso ao mercado da América do Norte (EUA, México e Canadá),
que contempla algo em torno de 500 milhões de habitantes. A expectativa é
que isso gere um aumento significativo nas exportações, de modo a propor-
cionar um impulso econômico.
O governo da Indonésia aumentou de 20 mil para 100 mil toneladas a cota
anual de importações de carne bovina brasileira. Em 2019, quando esse país
abriu seu mercado, os frigoríficos nacionais exportaram 3,5 mil toneladas.
Isso mostra o aumento expressivo ocorrido nos últimos 5 anos. As importa-
ções totais da Indonésia estão em torno de 230 mil toneladas de carne bovina
por ano, sendo que o principal fornecedor é a Austrália, um dos principais
concorrentes brasileiros. Atualmente, o maior país muçulmano é a Indonésia
e uma das exigências para importação é que os produtos sejam provenientes
de abatedouros com certificado halal.
Halal é uma palavra em árabe que significa o que é permitido, lícito, autoriza-
do e dentro da lei. A regra deve ser seguida à risca pela lei islâmica, que rege
os costumes dos muçulmanos. Atualmente a população muçulmana está em
torno de 1,8 bilhão de pessoas e a expectativa é de que ela seja um terço da
população mundial nos próximos 10 anos. O Brasil tem grande potencial para
exportação da carne bovina halal e o número de certificações está crescendo
significativamente de acordo com dados da CDIAL Halal, uma das certificado-
24 DOCUMENTOS 314
ras da América Latina acreditada pelos principais órgãos oficiais. Esta certifica-
ção é aceita em todo o mundo, inclusive nos países de maior população mu-
çulmana como Malásia, Indonésia, Singapura e Golfo Pérsico (ou Golfo Árabe).
Embora as exportações de carne bovina tenham aumentado, em compa-
ração com os padrões internacionais, há espaço para conquistas de novos
mercados e expansão nos atuais que o Brasil poderá atender. É inegável o
avanço alcançado nos últimos anos devido às pesquisas desenvolvidas em
Universidades, iniciativa privada e instituições de pesquisa, como a Embrapa.
Esse avanço só foi possível graças ao grande esforço feito pelos pecuaristas
brasileiros em adotá-las em suas propriedades, mas ainda existe uma boa
margem para melhorias na produtividade da pecuária de corte.
Nessa cadeia produtiva também são visualizados riscos que podem ser
transformados em oportunidades, como questões que envolvem a segurança
do alimento, tais como surtos de doenças como febre aftosa ou encefalopatia
espongiforme bovina (vaca louca), as quais podem prejudicar significativa-
mente as perspectivas de exportação do Brasil. Portanto, manter um sistema
de defesa robusto e garantir a transparência e agilidade das operações para
manter a confiança dos compradores internacionais traduz-se como uma
oportunidade a ser explorada, que pode ter um impacto de manter e aumen-
tar a demanda de carne bovina no mercado interno e nos principais mercados
de exportação nos próximos anos.
Outro aspecto de grande impacto está relacionado à rastreabilidade da ca-
deia de suprimentos e implementação de padrões governamentais no setor,
os quais são essenciais para fortalecer a transparência e reduzir os riscos de
adquirir carne bovina de áreas com problemas ambientais e sociais. Iniciativas
como essa estão cada vez mais presentes na agenda de empresas e órgãos
governamentais que atuam nessa relevante cadeia produtiva. Muito impor-
tante que seja um esforço de toda a cadeia produtiva, repartindo justamente
as responsabilidades de cada um e com esforços conjuntos e coordenados
garantir uma produção que minimize os impactos negativos da atividade.
O Brasil possui oportunidades significativas para expandir suas exportações
de carne bovina. A demanda internacional crescente, o aumento da renda
global e a busca por novos mercados são fatores promissores. No entanto,
desafios relacionados à produtividade, segurança do alimento, sanidade ani-
Anuário CiCarne da cadeia produtiva da carne bovina - 2023 25
mal e sustentabilidade devem ser enfrentados para garantir a viabilidade e a
competitividade do setor. Com investimentos em inovação e aprimoramen-
to da cadeia de suprimentos, o Brasil pode não só consolidar sua posição
como um dos principais exportadores de carne bovina do mundo, mas ser um
exemplo a ser seguido.
Exportações brasileiras de bovinos vivos
No ranking mundial, o Brasil se posiciona em 8º lugar na exportação de bo-
vinos vivos, ficando atrás da França, Austrália, Canadá, Holanda, Espanha,
Tchéquia e Alemanha, respectivamente (Gráfico 10). O Brasil vem perden-
do espaço e representatividade nesse mercado. Em 2021, a participação do
país foi de 1,5% do total. Existe uma volatilidade nas exportações brasileiras
de bovinos vivos, com uma tendência de queda. O ápice no embarque de
bovinos vivos pelo Brasil foi em 2009, quando o país exportou 589,49 mil ani-
mais. Entretanto, desde então, a diminuição atingiu 90% até 2022. Em 2021
a exportação foi de 52,86 mil bovinos vivos (Gráfico 9).
Fonte: Arantes (2022), Agrostat (2023).
Gráfico 9. Exportação de bovinos vivos pelo Brasil - 2000 a 2021.
26 DOCUMENTOS 314
Fonte: Arantes (2022), USDA (2023).
Gráfico 10. Países exportadores de bovinos vivos em 2021.
É importante destacar que se trata de um mercado relevante economicamente
e que merece um olhar mais cuidadoso e estratégico, uma vez que alguns
dos principais concorrentes do Brasil no setor de carnes têm forte atuação
nesse mercado.
Projeções da produção, consumo e
exportação da carne bovina
O cenário internacional tem se mostrado favorável ao crescimento do se-
tor, uma vez que importantes exportadores de carne bovina têm enfrentado
Anuário CiCarne da cadeia produtiva da carne bovina - 2023 27
problemas diversos de produção que os obrigam a restringir a sua oferta no
mercado internacional, ao mesmo tempo em que há uma pressão sobre a de-
manda por proteína animal em função das expressivas taxas de crescimento
da população mundial.
Via de regra, as projeções para a pecuária brasileira mostram que o setor
deve apresentar crescimento nos próximos anos (Tabela 7) e a expectativa
é que a produção de carne bovina no Brasil continue em crescimento na
próxima década. Segundo projeções do Ministério da Agricultura, Pecuária
e Abastecimento – MAPA, no período de 2023 a 2033 a produção de carne
bovina do Brasil deverá crescer 12,36% em 10 anos. Espera-se atingir 10,18
milhões de toneladas produzidas em 2033 (Agrostat, 2023).
Tabela 7. Projeções da produção, consumo e exportação da carne bovina brasileira
(em mil toneladas).
Ano Produção Consumo Exportação
2023 9.065 6.266 2.883
2024 9.168 6.469 2.969
2025 9.134 6.228 3.055
2026 9.268 6.196 3.140
2027 9.453 6.354 3.226
2028 9.575 6.422 3.312
2029 9.678 6.410 3.397
2030 9.805 6.435 3.483
2031 9.939 6.495 3.569
2032 10.064 6.539 3.655
2033 10.186 6.568 3.740
Fonte: MAPA - Projeções do Agronegócio (2023).
Ainda, segundo o mesmo estudo, o crescimento no consumo nos próximos
10 anos é de 4,8%, aumentando de 6,2 para 6,5 milhões de toneladas.
Quanto às exportações, as projeções indicam um quadro favorável. Devem
alcançar em 2033, pouco mais de 3,7 milhões de toneladas.
28 DOCUMENTOS 314
Considerações finais
A cadeia produtiva da carne bovina, como uma grande propulsora produtiva,
social e financeira, deve ser enaltecida e valorizada por sua importância no
país. O Brasil tem provado ser a nação com maior capacidade de alimentar o
mundo, sendo cada ano mais produtivo e dono de bases sólidas para o setor.
Há um caminho evolutivo importante a ser percorrido para nossa excelência
técnica e econômica, sendo necessários esforços de todos os setores da ca-
deia. É de fundamental importância o fortalecimento da pesquisa, desenvolvi-
mento e inovação para que se possa alavancar ainda mais a pecuária de corte
brasileira, reforçando-a como referência mundial. Neste sentido, torna-se de
fundamental importância o fortalecimento de práticas de inteligência estratégi-
ca territorial. Isso permitirá a construção de agendas programáticas mais as-
sertivas, alinhadas com os reais desafios da pecuária de corte em cada Bioma.
Torna-se imperativo entender que a pandemia COVID-19 (Malafaia et al.,
2020) no qual nos defrontamos colocará no topo do debate global a preocu-
pação com a sanidade animal, onde deve-se crescer as exigências e con-
sistência sobre os sistemas de vigilância e controle de doenças que atingem
animais e humanos. Esta pode ser uma grande oportunidade para a cadeia
da carne bovina mostrar ao mundo, de forma transparente, como os nossos
processos produtivos, tanto no campo como na indústria, são confiáveis.
A transformação digital irá impactar toda a cadeia produtiva da carne bovina.
A maior transformação será no processo de distribuição, seja de insumos,
gado ou da carne. A relevância da sanidade, qualidade e sustentabilidade
crescerá via interação digital com o consumidor final. Entretanto, torna-se de
fundamental pertinência melhoras no sistema de conectividade no território
brasileiro, especialmente, no campo.
É de fundamental importância a criação e fortalecimento dos diálogos entre
stakeholders em rede no setor de carne bovina. A integração e coordenação
da cadeia é extremamente necessária e estratégica. É preciso romper a cultu-
ra demarcada pela falta de relacionamentos sistêmicos e avançar em mode-
los colaborativos em rede, já realizado com êxito por países como Austrália,
Canadá, China, Estados Unidos, Reino Unido e Uruguai. A Câmara Setorial da
Anuário CiCarne da cadeia produtiva da carne bovina - 2023 29
Bovinocultura de Corte do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(MAPA) pode ser um fórum propício para germinar uma ação nesse sentido.
Por fim, este documento não teve qualquer pretensão de ser exaustivo, ape-
nas buscou-se, contextualizar a cadeia produtiva da carne bovina mundial e
brasileira, focando em números disponíveis em estudos e bases de dados
nacionais e internacionais que demonstrem características econômicas, de
produção, consumo e comercialização. Espera-se, desta forma, contribuir
para a qualificação dos debates pelos gestores públicos e privados sobre o
fortalecimento da mencionada cadeia produtiva.
Referências
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tabela 6910: número de estabelecimentos agropecuários com bovinos, efetivos e venda, por
tipologia, condição do produtor em relação às terras, grupos de cabeças de bovinos e grupos
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IBGE. Sistema IBGE de Recuperação Automática – SIDRA. Censo Agropecuário 2017: tabela
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30 DOCUMENTOS 314
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