INTRODUÇÃO
Estivemos presentes a apresentação do espetáculo Bailei na Curva do
dramaturgo Júlio Conte, que foi a proposta de encenação do grupo de
alunos da turma oitenta e quatro do curso técnico de teatro do Senac
(TT84). Essa encenação fez parte da conclusão das atividades de uma
unidade curricular (UC) de encenação e foi coordenada e dirigida pelo
professor Walmir Pavam.
Farei uma breve análise a partir dessa apresentação, levando em
consideração as minhas impressões, entendendo se tratar de uma
montagem que é parte de um processo de aprendizagem e sobretudo
levando em consideração o caráter pedagógico contido em apreciar um
trabalho realizado por uma turma em um estágio mais avançado de
desenvolvimento da mesma formação técnica a que nos propomos. Nesse
sentido fomos provocados a fazer um exercício de observação do
espetáculo que contemplasse principalmente alguns aspectos relativos ao
preparo, utilização e o impacto que o uso da voz exerce no
desenvolvimento da encenação, que é o objetivo principal dessa unidade
curricular de expressão vocal.
1 ESPACIALIZAÇÃO DA VOZ
Um aspecto bastante interessante de poder observar atuadores em
estágios intermediários de preparo na formação de ator, é justamente ter
a possibilidade de apreciar as diferenças de desenvolvimento existentes
entre os diversos atores em cena, sobretudo quando nós enquanto alunos
tomamos conhecimento de alguns aspectos da técnica da utilização da
voz. Esse prévio conhecimento, embora ainda não
plenamente desenvolvido em nós estudantes, torna evidente quem entre
os atuadores está fazendo bom uso das técnicas e dos conceitos e das
boas praticas da utilização da voz em cena.
Um importante ponto a ser destacado nesse exercício de observação está
relacionado a espacialização da voz. A sua utilização no fazer teatral difere
do seu uso nas nossas praticas do dia a dia e requer certos cuidados e
ajustes que proporcionem uma boa compreensão do que é dito, e o
uso inadequado pode prejudicar muito a experiência de apreciação do
espetáculo como um todo.
Uma voz a serviço do teatro é ao meu ver aquela que preenche todo o
espaço e permite que tanto o primeiro espectador quanto aquele que
está na última fileira do anfiteatro possam usufruir da mesma experiência.
Cito dois momentos que ilustram bem resultados bem distintos na peça,
quando pensamos em espacialização da voz:
As cenas iniciais que mostram o grupo de amigos ainda
crianças, ou a cena dos casais no interior do automóvel, são
bons exemplos de como a voz dos atores chega de forma clara
a toda a plateia. Esse fato ajuda a tornar a cena mais
envolvente e clara, o que ajuda na imersão da história.
Um exemplo contrário pode ser observado em uma das cenas
finais em que a personagem que se torna jornalista visita a casa
da mãe do amigo desaparecido para tentar convencê-la a
contar a história dele. A cena é praticamente inaudível e muitos
diálogos importantes simplesmente não puderam ser ouvidos
prejudicando a experiência.
2 RELAÇÃO ENTRE CORPO E VOZ
Outro aspecto que tende deixar marcante uma atuação é quando
percebemos que há um casamento agradável entre a voz e corpo, ou seja,
aquilo que é comunicado com a voz é coerente com a ação que o corpo
realiza. Certas características de uma personagem como por exemplo,
idade, sexo, condições psicológicas e sociológicas criam particularidade
que enriquecem a construção da personagem e quando o atuador está
alheio a essa necessidade de composição e ajuste, a voz pode ficar
simplesmente descolada da personagem e deixar de ser verossimilhante,
como quando assistimos a um filme com uma dublagem muito ruim.
Um exemplo na peça de como essa relação se deu na encenação pode ser
observada negativamente na cena da festa/balada onde a movimentação
dos atores dançando não condizia com as intenções do texto que estava
sendo dito. O resultado foi uma encenação pouco natural, com
textos blocados muitas vezes artificiais, que causava por sua vez bastante
insegurança e pouca fé cênica. E quando os próprios atores não
acreditam nos como expectadores também não acreditamos.
Positivamente por outro lado gostaria de exaltar o primoroso trabalho
dos atores na construção da cena do cinema. A voz em sintonia com o
corpo criou uma linda cena bastante crível ee agradável de ser apreciada.
Mesmo sabendo não se tratarem de crianças e adolescentes, quando os
atores têm o capricho de construir e lapidar bem esses aspectos de voz e
corpo de suas personagens nós embarcamos na história sem ressalvas.
3 MINHA EXPERIENCIA COM O ESPETÁCULO
Tive a oportunidade de assistir a primeira apresentação do grupo, e
possivelmente o nervosismo estava mais acentuado. Porém o espetáculo
na minha opinião apesar desses aspectos conseguiu prender
completamente a minha atenção. Me diverti do começo ao fim. A peça
traz muitas reflexões, o empenho dos atores e a entrega em cena tornou
a experiência muito prazerosa. Escolhi muitos favoritos, alguns não gostei
tanto. Mas entendo que esse é um processo e que assim como eu esses
atuadores estão em busca de aperfeiçoamento e aprendizado. A ação em
cena se traduz na entrega completa do ator, seu corpo sua voz, sua
energia.
Fica evidente que a voz é um componente primordial, e como atores em
formação esse deve ser um dos nossos focos principais. Pois o resultado
do nosso empenho será sempre um trabalho realizado com excelência,
para a nossa satisfação e de quem nos assiste.
SENAC SÃO PAULO - UNIDADE LAPA SCIPIÃO
CURSO TECNICO EM TEATRO TT91
TRABALHO DA UC5 DE EXPRESSÃO VOCAL
ANÁLISE DO ESPETÁCULO BAILEI NA CURVA
Aluno: Claudio Dionizio
Prof. Laura Melamed Barbosa
São Paulo
2023