Edição nº 120/2021 Brasília - DF, disponibilização terça-feira, 11 de maio de 2021
Presidência
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RESOLUÇÃO N 391, DE 10 DE MAIO DE 2021.
Estabelece procedimentos e diretrizes a serem observados pelo Poder Judiciário
para o reconhecimento do direito à remição de pena por meio de práticas sociais
educativas em unidades de privação de liberdade.
O PRESIDENTE DO CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA (CNJ), no uso de suas atribuições legais e regimentais,
o
CONSIDERANDO o direito fundamental à educação (arts. 6 , 205 e seguintes da Constituição Federal) e o disposto na Lei
o o
n 9.394/1996 - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, e na Lei n 13.005/2014 - Plano Nacional de Educação;
o
CONSIDERANDO a Lei n 7.210/1984 - Lei de Execução Penal, que estabelece o direito da pessoa privada de liberdade
à educação, cultura, atividades intelectuais e o acesso a livros e bibliotecas, ressaltando a finalidade de reintegração social por meio da
individualização da pena (arts. 17 a 21, 41 e 126);
o
CONSIDERANDO a Lei n 13.696/2018, que institui a Política Nacional de Leitura e Escrita como estratégia permanente
para universalizar o acesso aos livros, à leitura, à escrita, à literatura e às bibliotecas de acesso público no Brasil;
CONSIDERANDO que o Departamento de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Penitenciário tem entre suas atribuições
fomentar a implementação de medidas protetivas e de projetos de capacitação profissional e reinserção social do interno e do egresso do sistema
o o o
carcerário (art. 1 , §1 , IV, da Lei n 12.106/2009);
o
CONSIDERANDO a decisão da Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal proferida em agravo regimental no HC n
190.806/SC, que reconheceu o direito à remição de pena pela leitura, considerado o escopo da ressocialização em que se inserem as atividades
de educação, e determinou a expedição de recomendação ao CNJ para que sejam implementadas condições básicas de estudos no sistema
carcerário;
CONSIDERANDO as Regras de Nelson Mandela - Regras Mínimas das Nações Unidas para o Tratamento de Reclusos,
especialmente aquelas que estabelecem o direito à educação, à biblioteca e às atividades culturais (Regras 4-2, 41, 64, 92, 104, 105 e 117);
CONSIDERANDO as Regras de Bangkok - Regras das Nações Unidas para o Tratamento de Mulheres Presas e Medidas
Não Privativas de Liberdade para Mulheres Infratoras, no que tange aos princípios de não discriminação e de reconhecimento das especificidades
do encarceramento feminino;
CONSIDERANDO os Princípios de Yogyakarta para aplicação da legislação internacional de direitos humanos em relação
à orientação sexual e identidade de gênero, que estabelecem o direito ao trabalho (Princípio 12), ao tratamento humano durante a detenção
(Princípio 9) e a não sofrer tortura e tratamento ou castigo cruel, desumano e degradante (Princípio 10);
CONSIDERANDO o compromisso do Estado Brasileiro com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações
Unidas, que inclui o objetivo de assegurar a educação inclusiva, equitativa e de qualidade, além de promover oportunidades de aprendizagem
ao longo da vida para todos (ODS 4);
o
CONSIDERANDO a Recomendação CNJ n 44/2013, que dispõe sobre atividades educacionais complementares para fins
de remição da pena pelo estudo e estabelece critérios para a admissão pela leitura;
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CONSIDERANDO a Resolução n 2/2010, do Conselho Nacional de Educação, que dispõe sobre as diretrizes nacionais
para a oferta de educação às pessoas privadas de liberdade em estabelecimentospenais; e
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CONSIDERANDO a Resolução n 3/2009, do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, que dispõe sobre as
diretrizes nacionais para a oferta de educação nos estabelecimentospenais;
o
CONSIDERANDO a deliberação do Plenário do CNJ no Ato Normativo n 0001883-74.2021.2.00.0000, na 330ª Sessão
Ordinária, realizada em 4 de maio de 2021;
RESOLVE
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Art. 1 Estabelecer procedimentos e diretrizes a serem observados pelo Poder Judiciário para o reconhecimento do direito à
remição de pena por meio de práticas sociais educativas em unidades de privação de liberdade.
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Art. 2 O reconhecimento do direito à remição de pena por meio de práticas sociais educativas considerará as atividades
escolares, as práticas sociais educativas não-escolares e a leitura de obras literárias.
Parágrafo único. Para fins desta resolução, considera-se:
I – atividades escolares: aquelas de caráter escolar organizadas formalmente pelos sistemas oficiais de ensino, de
competência dos Estados, do Distrito Federal e, no caso do sistema penitenciário federal, da União, que cumprem os requisitos legais de carga
horária, matrícula, corpo docente, avaliação e certificação de elevação de escolaridade; e
II – práticas sociais educativas não-escolares: atividades de socialização e de educação não-escolar, de autoaprendizagem
ou de aprendizagem coletiva, assim entendidas aquelas que ampliam as possibilidades de educação para além das disciplinas escolares, tais
como as de natureza cultural, esportiva, de capacitação profissional, de saúde, dentre outras, de participação voluntária, integradas ao projeto
político-pedagógico (PPP) da unidade ou do sistema prisional e executadas por iniciativas autônomas, instituições de ensino públicas ou privadas
e pessoas e instituições autorizadas ou conveniadas com o poder público para esse fim.
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Art. 3 O reconhecimento do direito à remição de pena pela participação em atividades de educação escolar considerará
o número de horas correspondente à efetiva participação da pessoa privada de liberdade nas atividades educacionais, independentemente de
aproveitamento, exceto, quanto ao último aspecto, quando a pessoa tiver sido autorizada a estudar fora da unidade de privação de liberdade,
hipótese em que terá de comprovar, mensalmente, por meio da autoridade educacional competente, a frequência e o aproveitamento escolar.
Parágrafo único. Em caso de a pessoa privada de liberdade não estar vinculada a atividades regulares de ensino no interior
da unidade e realizar estudos por conta própria, ou com acompanhamento pedagógico não-escolar, logrando, com isso, obter aprovação nos
exames que certificam a conclusão do ensino fundamental ou médio (Encceja ou outros) e aprovação no Exame Nacional do Ensino Médio -
Enem, será considerada como base de cálculo para fins de cômputo das horas visando à remição da pena 50% (cinquenta por cento) da carga
horária definida legalmente para cada nível de ensino, fundamental ou médio, no montante de 1.600 (mil e seiscentas) horas para os anos finais
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do ensino fundamental e 1.200 (mil e duzentas) horas para o ensino médio ou educação profissional técnica de nível médio, conforme o art. 4
o
da Resolução n 03/2010 do Conselho Nacional de Educação, acrescida de 1/3 (um terço) por conclusão de nível de educação, a fim de se dar
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plena aplicação ao disposto no art. 126, § 5 , da LEP.
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Art. 4 O reconhecimento do direito à remição de pena pela participação em práticas sociais educativas não-escolares,
excetuada a leitura, considerará a existência de projeto com os seguintes requisitos:
I – especificação da modalidade de oferta, se presencial ou a distância;
II – indicação de pessoa ou instituição responsável por sua execução e dos educadores ou tutores que acompanharão as
atividades desenvolvidas;
III – objetivos propostos;
IV – referenciais teóricos e metodológicos a serem observados;
V – carga horária a ser ministrada e conteúdo programático;
VI – forma de realização dos registros de frequência; e
VII – registro de participação da pessoa privada de liberdade nas atividades realizadas.
Parágrafo único. A participação nessas práticas sociais educativas ensejará remição de pena na mesma medida das
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atividades escolares (artigo 3 ), considerando-se para o cálculo da carga horária a frequência efetiva da pessoa privada de liberdade nas
atividades realizadas.
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Art. 5 Terão direito à remição de pena pela leitura as pessoas privadas de liberdade que comprovarem a leitura de qualquer
obra literária, independentemente de participação em projetos ou de lista prévia de títulos autorizados, considerando-se que:
I – a atividade de leitura terá caráter voluntário e será realizada com as obras literárias constantes no acervo bibliográfico
da biblioteca da unidade de privação de liberdade;
II – o acervo bibliográfico poderá ser renovado por meio de doações de visitantes ou organizações da sociedade civil, sendo
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vedada toda e qualquer censura a obras literárias, religiosas, filosóficas ou científicas, nos termos dos art. 5 , IX, e 220, § 2 , da Constituição
Federal;
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III – o acesso ao acervo da biblioteca da unidade de privação de liberdade será assegurado a todas as pessoas presas
ou internadas cautelarmente e àquelas em cumprimento de pena ou de medida de segurança, independentemente do regime de privação de
liberdade ou regime disciplinar em que se encontrem;
IV – para fins de remição de pena pela leitura, a pessoa em privação de liberdade registrará o empréstimo de obra literária
do acervo da biblioteca da unidade, momento a partir do qual terá o prazo de 21 (vinte e um) a 30 (trinta) dias para realizar a leitura, devendo
apresentar, em até 10 (dez) dias após esse período, um relatório de leitura a respeito da obra, conforme roteiro a ser fornecido pelo Juízo
competente ou Comissão de Validação;
V – para cada obra lida corresponderá a remição de 4 (quatro) dias de pena, limitando-se, no prazo de 12 (doze) meses,
a até 12 (doze) obras efetivamente lidas e avaliadas e assegurando-se a possibilidade de remir até 48 (quarenta e oito) dias a cada período
de 12 (doze) meses.
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§ 1 O Juízo competente instituirá Comissão de Validação, com atribuição de analisar o relatório de leitura, considerando-se,
conforme o grau de letramento, alfabetização e escolarização da pessoa privada de liberdade, a estética textual (legibilidade e organização do
relatório), a fidedignidade (autoria) e a clareza do texto (tema e assunto do livro lido), observadas as seguintes características:
I – a Comissão de Validação será composta por membros do Poder Executivo, especialmente aqueles ligados aos órgãos
gestores da educação nos Estados e Distrito Federal e responsáveis pelas políticas de educação no sistema prisional da unidade federativa ou
União, incluindo docentes e bibliotecários que atuam na unidade, bem como representantes de organizações da sociedade civil, de iniciativas
autônomas e de instituições de ensino públicas ou privadas, além de pessoas privadas de liberdade e familiares;
II – a participação na Comissão de Validação terá caráter voluntário e não gerará qualquer tipo de vínculo empregatício ou
laboral com a Administração Pública ou com o Poder Judiciário; e
III – a validação do relatório de leitura não assumirá caráter de avaliação pedagógica ou de prova, devendo limitar-se à
verificação da leitura e ser realizada no prazo de 30 (trinta) dias, contados da entrega do documento pela pessoa privada de liberdade.
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§ 2 Deverão ser previstas formas de auxílio para fins de validação do relatório de leitura de pessoas em fase de alfabetização,
podendo-se adotar estratégias específicas de leitura entre pares, leitura de audiobooks, relatório de leitura oral de pessoas não-alfabetizadas ou,
ainda, registro do conteúdo lido por meio de outras formas de expressão, como o desenho.
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§ 3 O Poder Público zelará pela disponibilização de livros em braile ou audiobooks para pessoas com deficiências visual,
intelectual e analfabetas, prevendo-se formas específicas para a validação dos relatórios de leitura;
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§ 4 Na composição do acervo da biblioteca da unidade de privação de liberdade deverá ser assegurada a diversidade de
autores e gêneros textuais, incluindo acervo para acesso à leitura por estrangeiros, sendo vedada toda e qualquer forma de censura.
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Art. 6 Além do previsto no artigo anterior, o Juízo competente zelará para que as unidades de privação de liberdade promovam
a realização de projetos de fomento e qualificação da leitura em parceria com iniciativas autônomas das pessoas presas, internadas e seus
familiares, organizações da sociedade civil, instituições de ensino e órgãos públicos de educação, cultura, direitos humanos, dentre outros,
observando:
I – a ampla divulgação da realização dos projetos para as pessoas privadas de liberdade, a fim de possibilitar a adesão
voluntária e o interesse universal pela participação;
II – apactuação com a equipe organizadora do projeto acerca dos critérios de seleção das pessoas interessadas;
III – a oferta de projetos para os diferentes níveis de letramento, alfabetização e escolarização;
IV – a garantia de participação dos responsáveis pelosprojetos de leitura e dos alunos presos na escolha das obras que serão
tratadas nos projetos de leitura, valorizando-se a diversidade de autores e gêneros textuais, sendo vedada a censura; e
V – a garantia da remição de pena pela leitura dos livros abordados no projeto, cumpridos os requisitos previstos neste artigo.
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Art. 7 A participação da pessoa privada de liberdade em atividades de leitura e em práticas sociais educativas não-escolares
para fins de remição de pena não afastará as hipóteses de remição pelo trabalho ou educação escolar, sendo possível a cumulação das diferentes
modalidades, cabendo ao Juízo competente zelar para que:
I – as pessoas privadas de liberdade possam frequentar as atividades descritas na presente resolução de forma cumulativa
ou independente, sendo vedada a vinculação de participação em uma das modalidades de estudo como pré-requisito para a participação em
quaisquer das outras atividades;
II – seja assegurado o registro de presença da pessoa inscrita na prática social educativa, com o respectivo cômputo de carga
horária, em caso de ausência motivada por questões de saúde, caso fortuito, força maior e quando a não realização da atividade decorrer de
ato injustificado da administração da unidade de privação de liberdade;
III – a direção da unidade de privação de liberdade encaminhe semestralmente, para homologação, a relação das pessoas
que adquiriram o direito, naquele período, à remição de pena pelo estudo, reduzindo-se o prazo, individualmente, para os casos de pessoas que
se encontrem em lapso menor para a progressão de regime; e
IV – a pessoa privada de liberdade tenha acesso à relação dos dias remidos por meio do estudo, incluídas as atividades
escolares, a leitura e a participação em outras práticas sociais educativas.
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Art. 8 Compete ao Poder Judiciário, especialmente aos Grupos de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário, em
articulação com os demais órgãos da execução penal e com a sociedade civil, a garantia do direito às práticas sociais educativas a todas as
pessoas presas ou internadas cautelarmente e àquelas em cumprimento de pena ou de medida de segurança, independentemente do regime
de privação de liberdade ou regime disciplinar em que se encontrem, objetivando:
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I – assegurar o acesso universal aos livros para fins de remição, seja por meio de permissão para frequência às bibliotecas,
seja mediante estratégia de circulação do acervo ou catálogos de livros para requisição;
II – fomentar a diversificação de estratégias de renovação do acervo em seus múltiplos formatos e de acesso às bibliotecas
das unidades de privação de liberdade, bem como às iniciativas locais de estímulo à leitura e às práticas sociais educativas, inclusive com relação
à integração entre projetos de educação não-escolar e o projeto político-pedagógico (PPP) de escolarização;
III – assegurar que todas as pessoas privadas de liberdade tenham acesso às informações acerca das práticas sociais
educativas realizadas na unidade, bem como às informações sobre os procedimentos para o exercício do direito à remição de pena;
IV – fomentar e monitorar a execução das práticas sociais educativas e sua articulação com as políticas de educação escolar,
especialmente com os Planos Estaduais de Educação;
V – garantir a efetividade das formas de registro e de comunicação entre unidades de privação de liberdade e a Vara de
Execução, para fins de remição.
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Art. 9 Fica revogada a Recomendação CNJ n 44/2013.
Art. 10. Esta resolução entra em vigor 30 (trinta) dias após sua publicação.
Ministro LUIZ FUX
Secretaria Geral
PORTARIA SECRETARIA-GERAL N. 52 DE 10 DE MAIO DE 2021
Institui Grupo de Trabalho destinado à padronização e unificação da
nomenclatura das rubricas de pagamento, nos termos da recomendação
expedida pelo Tribunal de Contas no item 9.2 do Acórdão n. 2.331/2020 –
Plenário, prolatado no âmbito da Tomada de Contas n. 022.202/2019-6, de
relatoria do Ministro Aroldo Cedraz.
O SECRETÁRIO-GERAL DO CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, no uso de suas atribuições legais e regimentais, e tendo em vista o
que consta do Processo n. 08794/2020,
RESOLVE:
Art. 1º Instituir Grupo de Trabalho destinado à padronização e unificação da nomenclatura das rubricas de pagamento, nos termos da
recomendação expedida pelo Tribunal de Contas no item 9.2 do Acórdão n. 2.331/2020 – Plenário.
Art. 2º Integram o Grupo de Trabalho, na condição de titular e suplente, respectivamente:
Conselho Nacional de Justiça:
I – JohanessEck; Diretor-Geral do CNJ;
II – João D’arc Ramos de Oliveira; Chefe da Seção de Pagamento do CNJ;
III – Raul Ribeiro de Souza, servidor da Seção de Pagamento;
Superior Tribunal de Justiça:
III – Octávio Barbosa Nenevê, Coordenador de Pagamento do STJ; e
IV – Vilmar Franco, Chefe da Seção de Pagamento de Pessoal Ativo do STJ.
Conselho da Justiça Federal: