AÇÃO ANULATÓRIA DE DOAÇÃO INOFICIOSA – PRAZO PRESCRICIONAL - DATA DA
ESCRITURA ou DATA DO REGISTRO
Regra: prescrição de 10 anos contados da data do registro no RGI.
Exceção: prescrição de 10 anos contados da data da escritura.
Rui e Sandra são irmãos.
Em 09/09/2005, foi lavrada escritura pública na qual os pais doaram para Sandra um bem
imóvel muito valioso.
Vale ressaltar que essa doação foi inoficiosa, pois atingiu a parte indisponível do patrimônio
dos doadores, ferindo o direito de Rui à legítima.
Rui, mesmo não sendo doador nem donatário, participou da assinatura da escritura pública na
qualidade de “interveniente-anuente”.
Em 18/05/2009, essa doação foi registrada no cartório de registro de imóveis.
A mãe de Rui e Sandra faleceu em 2014 e o pai morreu em 2017.
Em 22/08/2018, Rui ajuizou ação pedindo a nulidade dessa doação por ser inoficiosa.
Sandra arguiu a prescrição da pretensão considerando que o prazo de 10 anos teria se iniciado
em 09/09/2005 (data da lavratura da escritura pública).
Rui se defendeu alegando que o termo inicial da prescrição foi 18/05/2009, quando ocorreu o
registro do ato jurídico que se pretende anular.
A 3ª Turma do STJ concordou com os argumentos de Sandra. Confira o que disse a Min.
Nancy Andrighi:
“17) Dito de outra maneira, em se tratando de ação de nulidade de doação inoficiosa, o prazo
prescricional é contado a partir do registro do ato jurídico que se pretende anular, salvo se
houver anterior ciência inequívoca do suposto prejudicado, hipótese em que essa será a data
de deflagração do prazo prescricional.
18) Em suma, dado que o recorrente RUI participou, na qualidade de interveniente-anuente, da
lavratura de escritura pública de doação do imóvel objeto da alegada doação inoficiosa em
09/09/2005, esse é o termo inicial do prazo prescricional, ainda que o registro desse ato na
matrícula do imóvel apenas tenha ocorrido em 18/05/2009, razão pela qual o prazo decenal
para impugná-la escoou em 09/09/2015 e a presente ação, somente ajuizada em 22/08/2018,
está irremediavelmente prescrita.”
Como vimos acima, a pessoa que tenha herdeiros necessários só pode doar até o limite
máximo da metade de seu patrimônio, considerando que a outra metade é a chamada
“legítima” (art. 1.846 do CC) e pertence aos herdeiros necessários.
Se o doador não tiver herdeiros necessários, poderá doar livremente, contanto que não seja
doação universal.
Veja como o tema já foi cobrado em prova:
(FCC – Defensor Público – DPE - BA/2021) Vilma doou R$ 200.000,00 a José, que se
apresentava como líder religioso e dizia a Vilma que tal doação lhe garantiria melhoras na sua
vida profissional e pessoal. O numerário era fruto de poupança de uma vida inteira de Vilma,
que é viúva e tem um filho, já maior e capaz. Meses depois, Vilma procura atendimento na
Defensoria Pública mostrando arrependimento em relação à doação. Nesse caso,
A) a revogação da doação se justifica pela inexecução do encargo estabelecido no contrato
verbal de doação.
B) é válida a doação verbal, ainda que sobrem bens móveis, independentemente do valor, se
for seguida da tradição.
C) é nula a doação dos bens que não garantam o mínimo de subsistência ao doador, estando
sujeita ao prazo prescricional geral de dez anos.
D) a doação realizada por Vilma pode ser considerada doação inoficiosa, porque, no momento
da liberalidade, excedeu o limite disponível em relação à legítima.
E) a doação somente poderá ser anulada se alegado vício de consentimento, prescrevendo a
ação em quatro anos.
Gabarito: letra D
Quem são os herdeiros necessários?
Os descendentes, os ascendentes e cônjuge (art. 1.845).
Obs: considerando a decisão do STF no Tema 809, há autores que sustentam que a(o)
companheira(o) deveria também ser considerada como integrante do rol de herdeiros
necessários:
No sistema constitucional vigente, é inconstitucional a diferenciação de regimes sucessórios
entre cônjuges e companheiros, devendo ser aplicado, em ambos os casos, o regime
estabelecido no art. 1.829 do Código Civil.
STF. Plenário. RE 646721/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso e RE
878694/MG, Rel. Min. Roberto Barroso, julgados em 10/5/2017 (Repercussão Geral – Tema
809) (Info 864).
A doação inoficiosa é nula ou anulável?
O art. 549 do CC afirma que é nula:
Art. 549. Nula é também a doação quanto à parte que exceder à de que o doador, no momento
da liberalidade, poderia dispor em testamento.
Ação cabível para se obter a anulação:
Ação anulatória de doação inoficiosa (ação de redução).
Obs: em alguns outros julgados, o STJ fala em “ação de nulidade de doação inoficiosa”.
Quem pode propor:
Apenas os herdeiros necessários do doador.
Prazo:
10 anos (art. 205 do CC).
O STJ entende que, diante da inexistência de prazo específico, a ação de nulidade de doação
inoficiosa se submete a prazo vintenário, se regida pelo CC/1916, ou decenal, se regida pelo
CC/2002;
Quando se inicia esse prazo?
Regra: conta-se a partir do registro do ato jurídico que se pretende anular.
Exceção: essa prazo pode ser iniciado antes se ficar comprovado que, em momento anterior
ao registro, o suposto prejudicado já teve ciência inequívoca do ato.
Na ação de nulidade de doação inoficiosa, o prazo prescricional é contado a partir do
registro do ato jurídico que se pretende anular, salvo se houver anterior ciência
inequívoca do suposto prejudicado.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.933.685-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/03/2022 (Info
729).
Assim, vamos imaginar que:
- a escritura pública de doação de um bem imóvel foi lavrada em 04/04/2004.
- essa doação, contudo, somente foi registrada no registro de imóveis em 05/05/2005.
- em regra, o prazo prescricional para se anular essa doação inoficiosa se iniciou em
05/05/2005, salvo se ficar demonstrado que, antes dessa data, a pessoa prejudicada com a
doação já teve ciência inequívoca do ato.
Caso concreto julgado pelo STJ:
Rui e Sandra são irmãos.
Em 09/09/2005, foi lavrada escritura pública na qual os pais doaram para Sandra um bem
imóvel muito valioso.
Vale ressaltar que essa doação foi inoficiosa, pois atingiu a parte indisponível do patrimônio
dos doadores, ferindo o direito de Rui à legítima.
Rui, mesmo não sendo doador nem donatário, participou da assinatura da escritura pública na
qualidade de “interveniente-anuente”.
Em 18/05/2009, essa doação foi registrada no cartório de registro de imóveis.
A mãe de Rui e Sandra faleceu em 2014 e o pai morreu em 2017.
Em 22/08/2018, Rui ajuizou ação pedindo a nulidade dessa doação por ser inoficiosa.
Sandra arguiu a prescrição da pretensão considerando que o prazo de 10 anos teria se iniciado
em 09/09/2005 (data da lavratura da escritura pública).
Rui se defendeu alegando que o termo inicial da prescrição foi 18/05/2009, quando ocorreu o
registro do ato jurídico que se pretende anular.
A 3ª Turma do STJ concordou com os argumentos de Sandra. Confira o que disse a Min.
Nancy Andrighi:
“17) Dito de outra maneira, em se tratando de ação de nulidade de doação inoficiosa, o prazo
prescricional é contado a partir do registro do ato jurídico que se pretende anular, salvo se
houver anterior ciência inequívoca do suposto prejudicado, hipótese em que essa será a data
de deflagração do prazo prescricional.
18) Em suma, dado que o recorrente RUI participou, na qualidade de interveniente-anuente, da
lavratura de escritura pública de doação do imóvel objeto da alegada doação inoficiosa em
09/09/2005, esse é o termo inicial do prazo prescricional, ainda que o registro desse ato na
matrícula do imóvel apenas tenha ocorrido em 18/05/2009, razão pela qual o prazo decenal
para impugná-la escoou em 09/09/2015 e a presente ação, somente ajuizada em 22/08/2018,
está irremediavelmente prescrita.”