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Reflexões Críticas Acerca Da Psicologia Existencial de Rollo May

O documento discute a psicologia existencial de Rollo May, um psicólogo estadunidense esquecido no Brasil. Aborda breve biografia de May e histórico da psicologia humanista nos EUA. Também descreve influências em seu pensamento e conceitos como inconsciente e visão de humano para entender sua psicologia existencial.

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Reflexões Críticas Acerca Da Psicologia Existencial de Rollo May

O documento discute a psicologia existencial de Rollo May, um psicólogo estadunidense esquecido no Brasil. Aborda breve biografia de May e histórico da psicologia humanista nos EUA. Também descreve influências em seu pensamento e conceitos como inconsciente e visão de humano para entender sua psicologia existencial.

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29/10/2020 Reflexões críticas acerca da psicologia existencial de Rollo May

Revista da Abordagem Gestáltica Serviços Personalizados


versão impressa ISSN 1809-6867
artigo
Rev. abordagem gestalt. vol.17 no.1 Goiânia jun. 2011
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May

Carlos Roger Sales da Ponte; Hudsson Lima de Sousa

Universidade Federal do Ceará (Campus de Sobral)

Endereço para correspondência

RESUMO

Partindo do pressuposto de que Rollo May é um psicólogo geralmente esquecido nas terras brasileiras, este breve
estudo teórico de uma pesquisa em andamento objetiva dar novo conhecimento deste eminente psicólogo. Para
tanto, mostramos um breve esboço biográfico de May e de um histórico da Psicologia Humanista nos EUA;
resgatamos algumas influências epistemológicas de seu pensamento, descrevemos as temáticas ligadas ao
conceito de Inconsciente e a concepção de humano em May a fim de fornecermos alguns delineamentos da
Psicologia Existencial por ele construída.

Palavras-chave: Rollo May; Psicologia existencial; Psicologia humanista; Epistemologia das psicologias.

ABSTRACT

Assuming that Rollo May is a psychologist usually forgotten in the land of Brazil, this short theoretical study of
going research aims to provide new knowledge of this eminent psychologist. To this end, we show a brief
biographical sketch of May and a history of Humanistic Psychology in the U.S.; rescued some epistemological
influences of his thinking, we describe the issues related to the concept of the Unconscious and the concept of
human in May to provide some guidelines of Existential Psychology built for him.

Keywords: Rollo May; Existential psychology; Humanistic psychology; Epistemology of psychologies.

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29/10/2020 Reflexões críticas acerca da psicologia existencial de Rollo May

RESUMEN

Suponiendo que Rollo May es un psicólogo olvidardo en la tierra de Brasil, este breve estudio teórico de una
investigación en curso tiene como objetivo proporcionar nuevos conocimientos de este eminente psicólogo. Con
este fin, se muestra una breve semblanza de May y una historia de la Psicología Humanística en los EE.UU.,
rescatamos algunas influencias epistemológicas de su pensamiento, se describen los problemas relacionados con el
concepto de lo Inconsciente y el concepto de lo humano en May para dar algunas pautas de la Psicología
Existencial por él construida. Humanística

Palabras-clave: Rollo May; Psicología existencial; Psicología humanística; Epistemología de las psicologías.

"Rollo May também é um salvador do mundo"


Abraham Maslow (Citado por Frick, 1975)

Introdução
Muito se escreveu e pesquisou sobre a história da Psicologia Humanista (suas, origens, suas características, visão
do humano, epistemologia, pesquisas, perspectivas de futuro, etc.) e de alguns de seus expoentes mais
conhecidos. Porém, percebemos que tal não acontece com outro importante nome: Rollo May.

Este breve estudo epistemológico intenta corrigir esta lacuna. Partindo da pressuposição de que Rollo May é um
psicólogo geralmente esquecido nas terras brasileiras, objetivamos primeiramente dar a conhecer quem foi este
eminente pensador por meio de uma breve biografia. Em seguida, esboçamos rapidamente um histórico da
Psicologia Humanista nos EUA. Por fim, traçaremos uma série de comentários a algumas dimensões que subjazem
à Psicologia Existencial de May, promovendo um rápido resgate de algumas influências epistemológicas de seu
pensamento; descrevendo certas temáticas conceituais singulares deste psicólogo para podermos fornecer
contornos mais nítidos da Psicologia Existencial por ele proposta.

É certo que não queremos mostrar exaustivamente o pensamento de May, e nem conseguimos cobrir a totalidade
das temáticas por ele desenvolvidas neste breve estudo. Em tempos que muito se discute e constrói-se
interrelações entre Psicologia Humanista e as Filosofias da Existência, pretendemos aqui provocar o diálogo e
convidar ao mergulho radical na psicologia existencial-humanista de Rollo May: uma psicologia prenhe de
contribuições para uma compreensão mais alargada e profunda do humano em suas várias nuances existenciais,
recheada de interseções e atalhos ricos para que possamos construir nossa próprias reflexões e práticas.

1. Esboço Biográfico1
Rollo May nasceu em 21 de abril de 1909 em Ada, Ohio, EUA. Após uma infância particularmente conturbada por
conta da convivência difícil de seus pais, ao se tornar estudante universitário na Universidade de Michigan,
trabalhou durante algum tempo numa revista estudantil de perfil radical. Ao que parece, trabalhar neste periódico
acarretou-lhe problemas junto à Universidade sendo expulso desta instituição. Foi para a Faculdade de Oberlin,
Ohio, e ali se graduou em Artes em 1930.

Motivado que estava pelo campo das artes, May viajou para a Grécia onde se revezava entre o ensino de inglês na
Universidade de Anatólia e excursões pelas aldeias camponesas gregas com um grupo de artistas, esmerando- se
em desenho e pintura. Permaneceu na Grécia por três anos. Durante a estadia na Europa, May também teve tempo
de estudar brevemente em Viena com Alfred Adler, o qual, desde 1911, havia abandonado a psicanálise freudiana e
constituído sua Psicologia Individual.

Ao retornar para os EUA, May, ingressou no Union Theological Seminary de New York, prestigiada instituição
religiosa de caráter liberal (Carl Rogers já havia sido estudante deste Seminário dez anos antes) e onde lecionava,
desde 1933, o conhecido teólogo e filósofo alemão Paul Tillich, de quem se tornou amigo até a morte deste em
1965.

A graduação de May em Teologia foi completada em 1938 quando tinha 29 anos. Antes de deixar o Union
Theological Seminary, May teve de interromper seus estudos temporariamente para cuidar de assuntos familiares
que necessitavam sua atenção.

Completado seus estudos, May começou a trabalhar como ministro da Igreja Congregacional em New Jersey. Na
condição de homem religioso e próximo de seus fiéis, May constituiu-se um "conselheiro", empreendendo uma
reflexão acurada no modo como lidar com as pessoas em situação de aconselhamento. May apontava para a
necessidade de se perceber a pessoa como um todo, ali em atendimento, e como deve o aconselhador relacionar-
se com esta pessoa e não com o seu "problema". Ressalta inclusive a importância da empatia como processo-
chave nesta relação de ajuda. Sem dizerse "psicoterapeuta" (já que efetivamente não era) e influenciado pelo que

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aprendera com Adler, Otto Rank e a psicanálise freudiana, o resultado destas experiências tomará corpo em 1938
com a publicação de seu primeiro livro, A Arte do Aconselhamento Psicológico.2

Quando voltou para New York iniciou uma formação mais sólida e aprofundada em psicanálise (na verdade, em
abordagens psicológicas neo-freudianas) no William Alanson White Institute of Psychiatry, Psychology and
Psychoanalysis, onde travou contato com os enfoques culturalistas de Harry Stack Sullivan e Erich Fromm. Mas foi
na Universidade de Columbia que ele recebeu seu doutorado em psicologia clínica em 1949. Suas incursões
filosóficas sobre o drama humano existencial começavam a ficar cada vez mais incisivas. Uma mostra disto está na
sua obra, publicada em 1953, O homem à procura de si mesmo (MAY, 1999).

Enquanto trabalhava no seu Doutorado (cujo resultado foi o seu 3º livro, O Significado da Ansiedade, publicado em
1950), que May contraiu tuberculose, passando 1 ano e meio internado em um hospital, posto que naquela época o
desenvolvimento de antibióticos no combate à tuberculose ainda estavam em seus estágios iniciais e a cura (ou
não) do paciente dependia somente de constantes cuidados médicos.

Ele nos conta que, enquanto se deparava com a possibilidade de morrer, tendo "um vasto tempo para ponderar
sobre o significado da ansiedade - além de inúmeros dados em primeira mão colhidos de mim mesmo e de meus
ansiosos companheiros pacientes" (May, 1988, p. 15), ocupava seu tempo com a leitura de dois livros: O Problema
da Ansiedade de Freud (este livro, na verdade, é uma tradução norte-americana do texto Inibição, Sintoma e
Angústia) e O Conceito de Angústia de Kierkegaard. Embora percebesse as claras divergências entre as concepções
de Freud e de Kierkegaard (o primeiro, a partir de uma descrição mais técnica dos mecanismos psíquicos os quais
manifestam a angústia; o segundo, o significado, o sentido existencial e ontológico da angústia como um conflito
entre ser e não-ser, entre o finito e o eterno, sem jamais encontrar uma síntese ou paz), May não desprezou nem
um nem outro. De todo modo, pode-se imaginar os sentimentos de pavor que acometiam May ao ver outros
pacientes ocasionalmente morrerem ao seu lado com relativa frequência. Isso deve tê-lo deixado mais sensível a
esta "disposição fundamental" que é a angústia (May, 1980).

Assim, os inícios da Psicologia Existencial de Rollo May, relacionam-se com a não só com a angústia enquanto
problema conceitual, psicológico, mas como vivência e ciência irmanadas. Incluam-se aí leituras cada vez mais
originais e ousadas da psicanálise freudiana. Como ele mesmo atesta,

(...) o enfoque existencial não tem o objetivo de rejeitar as descobertas técnicas de Freud ou daqueles
de qualquer outro ramo da psicologia. Procura, no entanto, situar estas descobertas sobre novas
bases, dando uma nova compreensão, redescobrindo a natureza e a imagem do ser humano (May,
1988, p. 17).

Mesmo com as gritantes diferenças entre estes autores (Freud e Kiekegaard), May, como se disse, não fez escolha
entre eles. E diferente de outros psicólogos humanistas que tendiam a desprezar os achados psicanalíticos, May
agrega os dois pontos de vista como necessários (May, 1980). Tais experiências fizeram com que May se alinhasse
cada vez mais a uma concepção de psicologia de cunho fortemente existencial, fazendo-o aprofundar-se cada vez
mais nesta corrente filosófica. Tanto foi assim que em 1958, May organizou juntamente com Ernst Angel e Henri
Ellenberger, o livro Existence: a nem dimension in psychatry and psychology (May, Angel & Ellenberger, 1977),
obra de referência que difundiu com maior ênfase as ideias e pesquisas em termos de uma psicologia e uma
psicopatologia existencial de cunho fenomenológico.

Depois daí a vida pessoal, profissional e a reflexão de May não cessou de serem frutíferas: exerceu durante anos a
atividade de psicoterapeuta existencial, o que enriquecia seus questionamentos concernentes às dimensões
trágicas e às potencialidades do humano: o humano como constituidor de valores e como este "valorar" afeta a
existência (May, 1977); as relações amorosas e a questão da vontade (May, 1973); a dinâmica da criatividade e da
arte (May, 1992a); a discussão entre destino e liberdade (May, 1987); sobre a arte e a beleza (May, 1992b). Esta
obra em particular é um fruto tardio de suas reflexões daqueles anos em que estivera na Grécia após estudar
artes) e acerca dos mitos (May, 1992c). May ainda lecionou em Universidades como a de New York, Harvard, Yale e
Princeton.

Rollo May viveu seus últimos anos em Tiburon, Califórnia, falecendo em 22 de outubro de 1994, aos 85 anos.
Como se viu, a trajetória de Rollo May como psicólogo existencial o fez convergir com o ideário da Psicologia
Humanista dos EUA. Porém, como ele entra na constituição desta forma de fazer e pensar a psicologia, para depois
comportar uma certa diferença em relação à mesma? Uma rápida caracterização histórica da Terceira Força se faz
necessária para responder esta pergunta.

2. O Surgimento da Psicologia Humanista


A Psicologia Humanista fez seu aparecimento nos EUA no final dos anos 50 e início dos anos 60, com as primeiras
publicações de Abraham Maslow sobre a motivação no estudo da personalidade e a consequente formulação do
conceito de autorrealização. Esta psicologia foi se desenvolvendo, não apenas pela continuidade das pesquisas de
Maslow, mas com a adesão de outros nomes (entre eles, Carl Rogers, Rollo May, Gordon Allport, Charlotte Bühler,
etc.) cujos trabalhos, apesar de comportarem diferenças metodológicas e conceituais, se alinhavam em diversas
premissas semelhantes.

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Havia também uma forte insatisfação com o modelo do humano proporcionado pelo Behaviorismo, ainda sob forte
influência de Watson, e pela Psicanálise proposta por Freud. No entender dos primeiros psicólogos humanistas, a
Psicanálise e o Behaviorismo eram enfoques por demais reducionistas, mecanicistas e deterministas acerca do
humano em detrimento de valores exclusivamente humanos, como a criatividade, a liberdade, a decisão e a
escolha, etc. (Carpintero, Mayor & Zalbidea, 1990). Mas vejamos melhor como isso se deu.

Na década de 50, Maslow - que era professor de psicologia na Universidade de Brandeis -, possuía interesses pouco
ortodoxos em pesquisa e sentia dificuldades para publicar seus artigos que não possuíam o referencial teórico
adotado pela maioria dos periódicos vigentes, o que lhe proporcionou um certo isolamento profissional e
intelectual. Da necessidade de contornar a dificuldade de publicação e a troca de conhecimentos, Maslow
organizou, em meados da década, uma lista de psicólogos (a Rede Eupsiquiana) que compartilhavam com ele
ideias menos tradicionais em psicologia e que se preocupavam com questões ligadas a saúde psicológica do
humano (Boainain Jr, 1998).

Com o volume das discussões que se vinham produzindo na Rede Eupsiquiana eles perceberam que já podiam
fundar uma revista própria. Após várias discussões sobre os nomes possíveis para esta publicação, em 1961 o
nome escolhido foi Journal of Humanistic Psychology, sugerido por Sidney Cohen. E com o sucesso da Revista, em
1963, surge a American Association for Humanistic Psychology (fundada por Abraham Maslow, Charlotte Bühler e
Rollo May) e em 1964, ocorre na cidade de Old Saybrook uma grande conferência que reunirá os principais nomes
da Psicologia Humanista que serviram de inspiradores deste movimento que então se inaugurava (Boainain Jr,
1998). Reunidos por uma Associação e com uma publicação própria, o movimento humanista em psicologia
"concede prioridade à validez da experiência humana, aos valores, intenções e significados da vida" (Carpintero,
Mayor & Zalbidea, 1990, p. 71).3

Os psicólogos que aderiram a Psicologia Humanista eram diversificados em interesses e em pensamentos, sem um
expoente inicial, constituindo um grupo de diversas tendências que, no geral, se opunham à Psicanálise e ao
Behaviorismo. Assim "ao contrário das forças anteriores, a Psicologia Humanista não se identifica ou inicia com o
pensamento de determinado autor ou escola" (Boainain Jr, 1998, p. 24). Do ponto de vista histórico, todavia,
concorda- se que Maslow foi, com toda propriedade, o aglutinador destes vários pensadores e psicólogos, o
principal nome de referência na fundação da Psicologia Humanista, além de ter cunhado a expressão "Terceira
Força" (Carpintero, Mayor & Zalbidea, 1990).

Entre as influências que se aproximam da Psicologia Humanista, podemos ver os psicanalistas dissidentes de Freud
(Adler, Rank e Jung) que são vistos com bons olhos pelos humanistas. Uma vez que os psicanalistas dissidentes já
possuem suas críticas ao modelo freudiano de psicopatologização, impessoalidade técnica e visão pessimista do
homem, eles forneceram confluências com a psicanálise e insights a vários dos humanistas clássicos (Boainain Jr,
1998). Vale incluir nesta lista os psicanalistas Erich Fromm e Karen Horney.

Os humanistas clássicos também se apropriaram de propostas da Psicologia da Gestalt, utilizando-se fortemente da


visão holista de humano que também vigorava no interior desta vertente psicológica; as Teorias da Personalidade
criadas em solo norte-americano (Allport, Murray, Murphy e Kelly); a Psicologia Organísmica de Goldstein e as
psicologias existenciais européias de Binswanger, Boss, Van Kaam e da sua versão americana criada por Rollo May.
(Carpintero, Mayor & Zalbidea, 1990).

Com tal miríade de componentes epistemológicos, o humanismo em psicologia percebia a natureza humana como

(...) positivamente orientada, devendo as relações deletérias ser responsabilizadas por qualquer desvio
dessa bondade original. Para os existencialistas, sendo o homem livre e auto-orientado pelos
propósitos e sentidos que dá a própria existência, não pode eximir-se de se responsabilizar plenamente
[...], pois qualquer outra atitude seria auto-engano, má fé, inautenticidade no existir (Boainain Jr,
1998, p. 33).

Como qualquer acontecimento histórico de peso, o surgimento e desenvolvimento da Psicologia Humanista também
se vinculam às "características sócias e aos valores sociedades ocidentais na década de sessenta, e em particular,
da sociedade americana" (Carpintero, Mayor & Zalbidea, 1990, p. 76). E isto significa um forte questionamento
advindo de várias camadas sociais acerca do modo como se conduzia a vida humana: uma busca desenfreada de
sucesso financeiro a qualquer custo, o domínio bélico de países sobre outras nações, a economia que começava a
tomar contornos globais que afetavam a vida humana e a vida do planeta como um todo. Estas inquietações
existenciais motivaram vários movimentos para a "busca de novos horizontes políticos e éticos que abriram
andamento a aspirações de riqueza e qualidade de vida mais genuína, colaboraram de modo fundamental a
configurar o contexto social, coletivo, que propiciou o nascimento da Psicologia Humanista" (Carpintero, Mayor &
Zalbidea, 1990, p. 77). Em tal contexto desencadeou o movimento da Contracultura.

Dentro deste movimento, os jovens "queriam mudar o mundo. Perguntava-se como se poderia torna o mundo mais
humano, melhor de se viver, menos insensato" (Campos, 2006, p. 243). Este contexto permitia o surgimento e
perpetuação de uma psicologia em que se buscava um aumento exponencial das potencialidades humanas, e que
valia a pena tentar atingir este objetivo. Neste período também estava muito em voga o interesse por modelos
orientais de vida e a Psicologia Humanista acabou por ser também usada como "ferramenta" nesta busca (um
nome que teve uma grande intimidade por tais modelos foi, por exemplo, Fritz Perls).

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Até meados da década de 70, este movimento contracultural foi altamente turbulento, pois os jovens eram
marcadamente rebeldes e promoviam revoltas contra toda a estrutura social que então vigorava. Estes atos
surgiram em várias partes do mundo, tendo como mote principal serem contra a desumanização do humano em
geral. No entender dos ativistas, nada estava bom, desde a prática política até o menor dos costumes (incluindo aí
os costumes sexuais). Tudo precisaria ser reinventado. Tinha-se o sonho de que o mundo poderia mudar para
melhor pela via da união e da luta política (Campos, 2006).

Na busca de outro tipo de mentalidade (bem entendido, outro tipo de consciência), estimulou-se o uso de drogas
alucinógenas (como o LSD) e os ídolos da música (como os Beatles, os Rolling Stones, The Doors, mas também
Bob Dylan, Jimi Hendrix e Janis Joplin poderiam ser incluídos neste rol) foram elevados à condição de exemplos de
conduta pessoal. O lema sexo, drogas e rock’n’roll fazia todo o sentido (Campos, 2006).

Dentro de uma perspectiva política, os jovens admiravam líderes como Mao Tsé-Tung (com a Revolução Cultural
Chinesa), Ernesto "Che" Guevara e Fidel Castro (com a Revolução Cubana) pelo empenho que eles dedicavam a um
modo de construção social diferente ao status de vida apregoado pelo capitalismo. Isso sem falar da repercussão
da Primavera de Praga, em 1968, que defendia um socialismo com uma face mais humanizada, e as consequências
funestas da longa Guerra do Vietnã.

Nos EUA, pessoas como Martin Luther King (pastor protestante que se tornou líder do ativismo político pelos
direitos civis dos negros), Malcolm X (de orientação islâmica e também defensor dos direitos políticos dos negros)
e a atividade político-partidária dos Panteras Negras também eram alvos de elogios e veneração da juventude
daquela década.

Na perspectiva filosófica, o pensamento de Herbert Marcuse, com sua crítica da sociedade capitalista e do homem
unidimensional, e a Escola de Frankfurt, tornaram- se os referenciais constituidores dos protestos contra a toda a
estrutura social vigente. Pensava-se o seguinte: para que fosse promovida uma mudança externa (social), primeiro
deveria advir uma mudança interna (psicológica). Todavia, logo perceberam que essa mudança de "atitudes
mentais" como algo prévio a uma revolução social era algo grande demais. Assim, os revoltosos dos anos 60
reduziram seu raio de ação do "social" para o âmbito do psíquico a fim implantar as mudanças que tanto
almejavam. Todo este contexto também se encontrava na base das ideias humanistas (Campos, 2006).

No entender de Campos (2006), todo este clima sóciocultural dos anos 60 foi o principal suporte sócio-cultural que
preparou, tanto o terreno para a emergência da Psicologia Humanista, como seu desenvolvimento posterior.
Escreve ele que

(...) de um certo modo, estão "dadas" as condições para o surgimento do projeto de psicologia
humanista. No meu entendimento, o clima cultural dos anos 60 foi a principal condição de possibilidade
para a constituição dessa proposta de psicologia. Essa psicologia será uma resposta, fará eco ao
movimento cultural dos anos 60 nos EUA (Campos, 2006, p. 249).

Essas vivências que ajudaram a Contracultura, todavia "estimulou o estudo, a experimentação e a aplicação -
infelizmente de modo nem sempre tão serio e criterioso como seria de se desejar - de novas formas de ajuda
psicológica" (Boainain Jr, 1998, p. 27). Desta forma com o fortalecimento da Contracultura, fortalecia-se a
Psicologia Humanista e vice versa. Entretanto, nem sempre de forma tão simétrica.

Assim, a Psicologia Humanista, dentro do momento dos EUA nas décadas de 60 e 70, nada mais foi do que uma
das respostas aos apelos daqueles anos turbulentos. Ela tinha como fios condutores básicos uma crítica ao modelo
científico que vigorava até então em psicologia (de inspiração positivista e tendo as ciências naturais como modelos
de como se fazer ciência) e uma perspectiva acerca do humano como livre e responsável.

Devemos ressaltar, contudo, o quanto foi convergente o fortalecimento da Contracultura com a Psicologia
Humanista sendo ela muitas vezes vistas como uma faceta daquele momento histórico. Pode-se afirmar, com esta
caracterização histórica, que uma das tônicas do humanismo em psicologia em acordo com o movimento da
Contracultura "é marcada por um compromisso de engajamento em favor da mudança social e cultural em direção
a uma sociedade de valores mais humanos (...)" (Boainain Jr, 1998, p. 28). Os jovens sentiam-se na necessidade
de inventar novas propostas de vida, outros padrões familiares novos costumes sexuais. A Contracultura em suas
contestações,

(...) não contavam com nenhuma espécie de dirigentes, nem estiveram ligados a nenhum partido
político; os jovens desse período contestavam inclusive os profissionais da contestação. Esses jovens
estavam unidos por afinidades e não por cumplicidade. Tratava-se, naquele momento, de combater
uma sociedade que se vinha constituindo como meramente tecnocrática [...] privilegiando os aspectos
técnicos-racionais, em detrimento dos sociais e humanos (Campos, 2006, p. 242).

Percebemos que a proximidade político-ideológica da Contracultura estava também na base para os psicólogos
humanistas, além da quebra da autoridade e a negação da tecnocracia como modelo de melhorar a condição
humana. Aqui o humanismo vem colocar a importância da autodeterminação, ideia igualmente valorizada no
movimento contracultural.

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3. Dimensões da Psicologia Existencial de Rollo May: epistemologia e temáticas


Descrita a Psicologia Humanista em suas linhas históricas gerais, arriscamos desde já em dizer que Rollo May foi
uma figura mais ou menos diferenciada dentro deste movimento, mesmo tendo sido um de seus membros
fundadores. Também nele existe uma valorização do humano como detentor de potencialidades de crescimento e
como uma totalidade existencial responsável por si mesma. Todavia, a nosso ver, May não cumpre todos os
requisitos que o fariam se alinhar às fileiras desta Psicologia, parecendo que seu enquadramento no humanismo é
mais por sua participação histórica na fundação do movimento. Some-se a isso o fato de que os interesses
existencialistas e humanistas de May já vinham se construindo antes de Maslow constituir sua Rede.

A partir de tais dados, concordamos com Barrocas (s/d) de que May deve ser identificado como um psicólogo
existencial-humanista, até pelo fato dele mostra-se muito mais bem fundamentado epistemologicamente do que
Maslow ou Rogers, comentando e apropriando-se de autores aos quais faz clara referência. Percebemos, inclusive,
e estranhamente, que, apesar da densidade de sua psicologia e seus constantes diálogos com a fenomenologia-
existencial, suas ideias, repetimos, encontram-se bastante esquecidas nas paragens brasileiras quando se trata da
estudar a história, a epistemologia dos enfoques humanistas em psicologia, bem como as intersecções entre
fenomenologia e existencialismo.

4. Dimensões Epistemológicas
Um primeiro ponto importante a que já aludimos e para se começar a compreender a psicologia de May, foi a
marcada influência da filosofia em geral e, particularmente, das filosofias existenciais européias.

Este encontro foi proporcionado, em primeiro lugar, pelo forte contato com Paul Tillich quando May ainda era
estudante no Union Theological Seminary.

Tillich dizia de si mesmo como sendo um teólogo de fronteiras, isto é, alguém que não poderia ser classificado ou
inserido nesta ou naquela corrente de pensamento, posto que se enveredava em dialogar com várias teologias e
filosofias, às vezes contraditórias entre elas, concedendo-lhe uma postura eclética. Influenciado fortemente por
Kierkegaard e pela filosofia tardia de Schelling, Tillich teceu uma densa investigação teológica (com fortes tons
luteranos e agostinianos) incorporando a "perspectiva filosófica do existencialismo, no sentido da tematização da
existência humana no âmbito da subjetividade e da concretude" (Goto, 2004, p. 100). Interessado em audaciosos
diálogos com outros saberes, também fez releituras da psicanálise freudiana a partir do seu prisma existencial. Por
isso, Tillich este vê envolvido, nos anos 40, em debates com o New York Psychology Group (NYPG), em que
"participaram vários pensadores de vanguarda da psicologia da época, dentre os quais se destacam Erich Fromm,
Carl Rogers, Rollo May, Ruth Benedict, Seward Hiltner e David Roberts" (Silva & Holanda, 2010, p. 72).

Este contato com o pensamento religioso-existencial de Tillich, e seus intercâmbios com a psicologia, terá um
efeito intenso e marcante no pensamento e na obra de May que não cansou de citá-lo e comentá-lo. Podemos
dizer, sem dúvida, que foi Tillich que apresentou o pensamento de Kierkegaard a May.

Tal familiaridade de May com o existencialismo lhe forneceu um modo diferente de perceber o humano em suas
dimensões trágicas, além de vê-lo como, simultaneamente, padecendo de um dilema, ao mesmo tempo, entre ser
sujeito e ser objeto. Dilema em que não se escolhe apenas um dos termos da questão, mas vivenciando- os
enquanto pólos numa situação irresolvível de perene tensão (May, 1977). Só isso já começa a desviar-lhe dos
caminhos psicanalíticos tradicionais, bem como da visão do humano (por vezes otimista demais) dos outros
psicólogos humanistas como Rogers e Maslow, por exemplo; ou mesmo do cientificismo behaviorista dos anos 50 e
60.

No tocante à difusão das psicologias fenomenológicas- existências européias em solo norte-americano, Carpintero;
Mayor e Zalbidea (1990) sustentam que não se pode defender que a fenomenologia teve influência direta nas
obras de todos os criadores da Psicologia Humanista, ainda que muitos teóricos ligados ao pensamento existencial
ou gestaltista tenham migrado para os EUA em consequência da ascensão do nazismo na Europa.

De todo modo, pouco a pouco foi surgindo traduções para o inglês de algumas obras daqueles psicólogos europeus
feitas por May e pela difusão do próprio Tillich. Ao disseminar aquelas psicologias em solo norte-americano, em
1959, dois anos antes da aparição do Journal of Humanistic Psychology, May organizar o primeiro Simpósio
Americano de Psicologia Existencial que contaria com a presença dos futuros lideres do movimento humanista
(Boainain Jr, 1998).

As marcas deixadas no espírito de May pelas filosofias da existência podem ser claramente percebidas no capítulo
intitulado "Origens e Significado da Psicologia Existencial" de sua obra A Descoberta do Ser (May, 1988). Ali May
discorre sobre tais influências sofridas em sua própria Psicologia Existencil. Podem-se ler nomes como Husserl,
Heidegger, Kierkegaard, Nietzsche, Sartre; e as psicologias de Binswanger, Minkowsky, Straus, Gebsattel, etc. Tais
considerações traçam uma forte linha de diferenciação nos embasamentos teórico-epistemológicos de May se
comparados às bases de outros psicólogos humanistas.

Consoante a estas reflexões, May (1980) invoca o nome de William James como um pioneiro do pensamento
existencial nos EUA. Este parece-nos um empreendimento arriscado, uma vez que esta tese é difícil de ser

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29/10/2020 Reflexões críticas acerca da psicologia existencial de Rollo May

comprovada. May afirma que tal "pensamento existencial" em James surgiu após dificuldades pessoais vividas por
este psicólogo em determinado momento de sua vida. Existe a suspeita de que James tenha tido contato coma
filosofia de Kierkegaard na sua juventude quando estava na Europa. Mas não há provas disso. Invocar os reveses
da vida de James nos parece um argumento fraco epistemologicamente para mostrar supostas afinidades da
psicologia de James com a filosofia existencial. Porém, May assevera que as ideias de James possuem alguma
sintonia com temáticas existenciais, tais como: a ênfase da experiência imediata, pré-reflexiva; a importância da
vontade e da decisão pessoais; o fluxo constante da vida e da existência humanas; na interação entre essência e
existência; e a importância da constituição de uma ciência do humano concreto para longe de qualquer tipo de
abstracionismos. (May, 1980)

A existência humana, segundo estas fortes influências existenciais que marcaram a formação de May com Tillich
(inclusive posteriormente), não pode ser despregada daquele que a vive e pensa. Barrocas (s/d) percebe algo
singular em May: dentro de uma perspectiva geral do devir humano, Rollo May ousa convergir pensadores difíceis
de aproximar, como Nietzsche, Schopenhauer, James ou Husserl. Portanto, e ainda de acordo com Barrocas (s/d), o
que importa no pensamento existencialista de May é o Ser da experiência imediata, ou seja, o que é vivido como
sentido. May procura compreender todos os autores que explora nesta direção interpretativa.

Outro aspecto relevante nas diferenciações entre May em relação a outros psicólogos humanistas estadunidenses é
a sólida familiaridade de May com a psicanálise freudiana e com certo ramo dissidente feita nos EUA.
Primeiramente, Alfred Adler (quando May se encontrava na Europa), posteriormente Karen Horney, Harry Stack
Sullivan e Erich Fromm. Ou seja, May possui uma forte sua influência, digamos, Neo-Freudiana.

Deste contato com a Psicologia Individual de Adler defendemos a hipótese (a qual necessita maior investigação) de
que May tenha absorvido a convicção daquele psicólogo de que o humano se expressa no mundo através da luta
incessante para impor seu plano de vida pessoal (algo como o projeto existencial que Sartre descreve no
existencialismo) em meio às exigências despersonalizantes da vida social. Deste modo, as finalidades, as metas
colocadas pelo próprio humano, estão na base das motivações humanas. Para este fim, as forças do Eu (Ego)
procuram expandir-se na direção de uma autonomia e para longe de qualquer complexo de inferioridade (conceito
criado por Adler) (Mueller, 1971). Este papel preponderante do Eu, em detrimento das injunções inconscientes
descritas pela psicanálise freudiana, encontrará eco na futura Psicologia Existencial de May.

No que tange à formação específica de May nos EUA, ele mesmo nos diz que foi "treinado" dentro do modelo
psicanalítico da "escola interpessoal ou neofreudiana" (MAY, 1977, p. 95). Como ele fez seu "treinamento" no
William Alanson White Institute of Psychiatry, Psychology and Psychoanalysis, esta "escola interpessoal" se refere
claramente aos trabalhos de Harry Stack Sullivan. Entretanto, tais influências merecem um melhor esclarecimento
para que se possa perceber sua relevância na constituição da Psicologia Existencial de Rollo May.

Os neof reudianos se diziam "psicanalistas". Estritamente falando, não o eram, pois estavam mais inclinados a
perceberem o desenvolvimento do humano, do psiquismo e seus conflitos imbricados à cultura social e as
condições de vida dos centros urbanos, minimizando a influência da libido recalcada postulada por Freud, sendo
por isso, conhecidos também como "culturalistas" (Mueller, 1971). Com base nesta premissa, compreendiam o Ego
como uma instância psíquica privilegiada e independente em relação Id, nem submisso aos apelos pulsionais deste.
É justo dizer, portanto, que se trata de Psicologias do Ego e não de psicanálise, haja vista que o papel da
sexualidade (sumamente valorizado por Freud) foi suprimido pelo pensamento conservador norte-americano. Isso
leva a desconsiderar o Inconsciente como instância fundamental, colocando o Ego e a Consciência nos papéis
privilegiados no drama humano.

A psicologia de Sullivan, no que nos interessa aqui, deteve sua atenção nos aspectos interpessoais das relações
psicoterapêuticas. Somando-se ao fato da experiência de May em aconselhamento e das leituras feitas naquele
momento (Adler e Freud - mas também Rank - são as principais referências em seu livro sobre aconselhamento
psicológico), May vai compreender o atendimento clínico de modo a convergir com as premissas existenciais.

Mesmo demarcando grandes diferenças ao que se entende por "psicanálise" ao construir sua vereda numa
psicologia de cunho existencial, May não se considera "menos psicanalista" (May, 1977, p. 163) por ter assimilado
uma visão de mundo e do humano heterogênea ao freudismo tradicional. Cumpre apontar que as refer

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