Garimpo Nas Margens Do Rio Madeira Desafios e Implicações Socioambientais Na Amazônia Brasileira
Garimpo Nas Margens Do Rio Madeira Desafios e Implicações Socioambientais Na Amazônia Brasileira
RESUMO
Este estudo tem como objetivo abordar a problemática do garimpo ilegal na Amazônia
brasileira, com foco específico nas operações do governo federal destinadas a coibir essa
atividade na região sudoeste, mais precisamente nas margens do rio Madeira. Apesar de o
Brasil ser reconhecido internacionalmente por sua rica biodiversidade, enfrenta desafios
consideráveis na proteção e manejo desses recursos naturais e na resolução de conflitos
socioambientais. Esta pesquisa é de cunho qualitativa e bibliométrica e fundamenta-se em
dados provenientes de fontes oficiais do governo e de bases científicas. Com base nos dados
encontrados, destaca-se a necessidade de aprimoramento das estratégias governamentais de
combate ao garimpo ilegal, uma vez que os garimpeiros, que muitas vezes dependem
exclusivamente dessa atividade secular, se encontram desamparados pelo Estado. Neste
contexto desafiador, complexo e repleto de impactos, é urgente estabelecer um acordo de
cooperação que engloba a preservação ambiental, os direitos humanos e as necessidades
econômicas locais. A implementação de soluções multidimensionais, voltadas para um futuro
sustentável, surge como uma abordagem mais promissora para mitigar o estresse
socioambiental e proteger a subsistência das comunidades afetadas pela atividade de garimpo
ilegal de ouro no rio Madeira.
ABSTRACT
This study aims to address the issue of illegal mining in the Brazilian Amazon, with a specific
focus on federal government operations aimed at curbing this activity in the southwest region,
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more precisely along the banks of the Madeira River. Although Brazil is internationally
recognized for its rich biodiversity, it faces considerable challenges in the protection and
management of these natural resources and in resolving socio-environmental conflicts. This
research is qualitative and bibliometric in nature and is based on data from official government
sources and scientific databases. Based on the data found, there is a need to improve
government strategies to combat illegal mining, as miners, who often depend exclusively on
this centuries-old activity, are left unprotected by the state. In this challenging, complex, and
impact-laden context, there is an urgent need to establish a cooperation agreement between
environmental preservation, human rights, and local economic needs. The implementation of
multidimensional solutions, aimed at a sustainable future, emerges as a more promising
approach to mitigate socio-environmental stress and protect the livelihoods of communities
affected by illegal gold mining activity in the Madeira River.
1. INTRODUÇÃO
O Brasil é reconhecido mundialmente pela sua vasta diversidade de biomas, abrigando
uma das maiores biodiversidades do planeta Terra (MAGNUSSON et al., 2016). Essa
abundância natural oferece acesso a uma quantidade considerável de recursos, mas também
apresenta desafios significativos em relação à proteção, conservação e manejo desses recursos.
Um desses desafios antigo e persistente é o garimpo ilegal, uma atividade prejudicial que
continua a existir em diversas regiões do país, apesar das leis que a proíbem e dos diversos
fatores que a tornam altamente controversa.
O garimpo ilegal na Amazônia tem testemunhado uma expansão moderada nos últimos
anos (SOUSA; VIEIRA; FOLLMANN, 2023). Contudo, é importante salientar que a presença
de atividades garimpeiras na região, hábitat da maior floresta tropical do mundo, não é uma
novidade recente. A região se tornou um dos principais centros de exploração no país durante
a década de 1980, especialmente durante o regime militar, e ganhou destaque internacional
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com o surgimento do maior garimpo a céu aberto, o de Serra Pelada, no Pará (NEVES; FOLLY,
2021; CARDOSO, 2023).
A história do garimpo na Amazônia está intrinsecamente ligada ao ciclo do ouro que
remonta aos tempos coloniais. No entanto, a extração do ouro na década de 1980 foi marcada
por um aumento significativo na atividade, impulsionado em parte pela promulgação de
políticas governamentais que incentivaram a exploração mineral na região amazônica. O rio
Madeira desempenha um papel importantíssimo na ecologia, cultura e economia das
comunidades regionais. Além de ser uma fonte vital de recursos naturais, ele também serve
como uma "estrada fluvial" que conecta outras áreas do país. Mas, devido à sua riqueza mineral,
o rio Madeira é frequentemente alvo de balsas de garimpo, explorando minerais valiosos, como
o ouro, sem considerar os impactos ambientais, sociais e culturais decorrentes dessa atividade
secular e poluidora (LEONEL, 2020).
Essa expansão do garimpo trouxe uma série de desafios, incluindo desmatamento,
contaminação da água e conflitos sociais, ambientais, culturais e econômicos. Infelizmente,
muitas famílias ainda dependem exclusivamente do garimpo como fonte de renda, e quando as
operações de desintrusão realizadas pela Polícia Federal ocorrem, elas perdem tudo, ficando
desamparadas pelo poder público.
Neste contexto, o presente artigo explanou uma análise sucinta das operações realizadas
pelos órgãos governamentais nos últimos cinco anos para combater o garimpo ilegal nas
margens do rio Madeira. Foram utilizadas informações de fontes oficiais e bases científicas, a
fim de dialogar com as operações empreendidas e os desafios enfrentados, tanto na preservação
e conservação do meio ambiente quanto na busca de alternativas de subsistência para as
famílias envolvidas no garimpo.
2. GARIMPO NA AMAZÔNIA
A busca por metais preciosos desempenhou um papel significativo na colonização das
Américas, especialmente na América Latina, onde havia uma clara demanda por ouro e prata
por parte das metrópoles colonizadoras. A extração do ouro nas terras brasileiras está
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intrinsecamente ligada à sua própria história e formação. Esta atividade remonta ao período
colonial, quando os portugueses iniciaram a exploração das minas de ouro e diamantes na
região de Minas Gerais (NEVES E FOLLY, 2021; BRASIL, 2020).
A mineração de ouro desempenhou também um papel importante na formação
geográfica e histórica da Amazônia brasileira contemporânea. A Amazônia é uma vasta região
que abriga a maior floresta tropical do mundo, estendendo-se por territórios de nove países:
Brasil, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa
(MOTA E GAZONI, 2009). A Amazônia brasileira corresponde a uma área que abrange 59%
do território nacional, distribuída em nove estados: Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso,
Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins e parte do Maranhão (Araújo e Moret, 2016). Embora as
primeiras descobertas de ouro na região remontam ao período colonial, o ouro da Amazônia só
ganhou destaque nacional e regional quando um grande número de pessoas migrou para os
garimpos de ouro no final do século XX (WANDERLEY, 2015). A partir desse marco, iniciou-
se uma corrida significativa em busca de riquezas nessa região.
A região da Amazônia brasileira está emergindo como o epicentro de uma nova corrida
pelo ouro, abrigando atualmente quase a totalidade (93,7%) das atividades de garimpo do
Brasil. Segundo dados fornecidos pelo MapBiomas em 2020, o garimpo ocupou 67,6% da área
total destinada à mineração na região, o que equivale a 101.100 hectares. Esses números
ressaltam a magnitude do garimpo na Amazônia e sua influência crescente nas atividades
mineradoras da região, com implicações significativas para o meio ambiente e as comunidades
locais.
É importante ressaltar que a mineração em terras indígenas na Amazônia brasileira
também registrou aumentos significativos nos últimos 35 anos. Em 1985, essa atividade
ocupava apenas 7,45 km², mas, em 2020, esse número saltou para uma área específica de
102,16 km², e 95% dessa área de garimpo ilegal estão em apenas três terras indígenas: Kayapó,
Munduruku e Yanomami (MATAVELI et al., 2022).
O aumento da mineração de ouro na Amazônia brasileira desde 1979 representa, em
certa medida, o aumento mais significativo na exploração dos recursos naturais que a região
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experimentou desde o auge do ciclo da borracha. Em várias partes da Amazônia, a corrida pelo
ouro não apenas alterou profundamente o cenário social, econômico e político, mas também
provocou mudanças substanciais na paisagem física dessas áreas (Lauthartte, 2018). Isso faz
com que o território adquira diversas perspectivas que envolvem tanto a dimensão material do
mundo quanto as relações sociais e percepções que os seres humanos constroem através de
suas lutas. Essas relações, por sua vez, dependem de elementos culturais e das necessidades
básicas de sobrevivência que estão intrinsecamente ligadas a acontecimentos relacionados às
práticas sociais (MORET et al., 2021).
A atividade de garimpo ilegal na Amazônia, infelizmente, não é recente. Há anos,
organizações que atuam na região denunciam e evidenciam o aumento dos garimpos ilegais,
especialmente em terras indígenas e áreas florestais que deveriam ser protegidas. O garimpo
ilegal é uma das principais causas do aumento do desmatamento e da contaminação de rios e
nascentes, principalmente devido ao uso do mercúrio, e coloca em risco a sobrevivência das
comunidades indígenas, tradicionais, ribeirinhas e de toda população que necessita dessa
região. Apesar dos vários danos causados, o garimpo continua sendo a única fonte de renda de
muitas famílias que moram na calha do rio Madeira.
Portanto, se as atividades de garimpo continuarem a crescer na região, isso resultará em
uma contribuição significativa para as mudanças climáticas. A região abriga uma diversidade
biológica incomparável e desempenha um papel fundamental na regulação do clima global,
atuando como um amplo reservatório de carbono e influenciando os padrões climáticos na
escala continental. Os serviços ecossistêmicos fornecidos pela Amazônia, como a produção de
oxigênio e a regulação do ciclo da água, têm impactos significativos na estabilidade climática
e na sustentabilidade ambiental de nosso planeta. Diante desse cenário, é imprescindível que
sejam pensadas ações viáveis e concretas para diminuir os impactos dos garimpos na região.
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e seus afluentes têm suas nascentes nas áreas montanhosas dos Andes Bolivianos, e pertencem
ao grupo dos principais afluentes do rio Amazonas. Sua bacia hidrográfica abrange três países:
Brasil, Bolívia e Peru. Além de seu valor ambiental significativo, a região do rio Madeira
desempenha um papel fundamental na economia, pois fornece recursos essenciais para a pesca
e especificamente como transporte fluvial. Além disso, o rio Madeira abriga um complexo
hidrelétrico composto por duas usinas de grande porte: a Usina Hidrelétrica de Jirau e a Usina
Hidrelétrica de Santo Antônio. Essas usinas fornecem eletricidade para as regiões Centro-Oeste
e Sudeste do Brasil a partir de energia de Porto Velho, contribuindo assim para as necessidades
do país (BASTOS; LACERDA, 2004; CEMADEN, 2018).
O interesse pelo vale do rio Madeira não é recente, remonta ao século XIX,
especialmente durante o período de extração e exportação de borracha. E a exploração de ouro
na bacia do rio Madeira tem origens nos tempos coloniais, quando exploradores e colonizadores
portugueses e espanhóis buscavam riquezas na região. O interesse pelo ouro ganhou impulso
com notícias de descobertas significativas de depósitos auríferos nas áreas próximas ao rio,
desencadeando uma verdadeira corrida pelo metal precioso. Esse aumento na atividade
econômica contribuiu para o crescimento populacional na região, resultando na fundação de
cidades e povoados ao longo das margens do rio Madeira. (RIO; COELHO; WANDERLEY,
2015).
O início do garimpo de ouro na região amazônica, por volta da década de 1970,
desencadeou uma das maiores ondas de migração na história da Amazônia, impulsionada pela
descoberta de grandes reservas de ouro aluvionar na calha do rio Madeira. No entanto, o
garimpo de ouro no rio Madeira também acarretou desafios significativos para a região. Além
da degradação ambiental decorrente das atividades mineradoras, surgiram problemas sociais
decorrentes da intensificação da atividade, como conflitos de terra e deslocamento de
comunidades locais. Além disso, há preocupações com os impactos na saúde das pessoas
devido à exposição ao mercúrio, um metal tóxico frequentemente utilizado no processo de
extração do ouro, o que pode resultar em sérios problemas de saúde pública, incluindo
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3. METODOLOGIA
Para alcançar o objetivo principal desse estudo, foram utilizadas diversas fontes de
dados, incluindo estudos científicos, relatórios governamentais e informações oficiais de
instituições ambientais e sociais.
Para delimitar o escopo da pesquisa, foram consultadas fontes de dados em sites oficiais
de órgãos competentes, como a Polícia Federal (https://www.gov.br/pf/pt-br) e o Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(https://www.gov.br/ibama/pt-br), com a delimitação de operações realizadas no rio Madeira
nos últimos 5 anos. Além disso, fez-se uma breve análise bibliométrica em jornais indexados
pela CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e no Google
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4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1. Impactos, Consequências e Desafios do Garimpo Ilegal no Rio Madeira
No contexto brasileiro, a poluição ambiental devido à presença de mercúrio representa
uma das questões mais críticas, com impactos significativos na saúde pública e no ecossistema.
Esse problema é particularmente grave em regiões remotas como a Amazônia, onde a intensa
atividade mineradora tem predominado nos últimos anos (SILVA, 2021). A Amazônia,
caracterizada por sua ampla extensão de floresta tropical e biodiversidade exuberante, tem sido
alvo frequente de garimpo ilegal, uma prática extrativista que resulta em impactos severos tanto
para a região quanto para o contexto global. Diante deste cenário, enfrentamos uma série de
desafios para mitigar esses efeitos (NUNES ET AL., 2023; SOUSA; VIEIRA; FOLLMANN,
2023).
As principais regiões de mineração artesanal, conhecidas como garimpos, na Amazônia
brasileira estão distribuídas por vários estados. No Mato Grosso, destacam-se as áreas próximas
de Pontes Lacerda, Alta Floresta e Poconé. No Pará, merecem destaque a Bacia do Tapajós e
Serra Pelada. Quanto ao Rio Madeira, identificam-se nascentes garimpadas desde o Peru,
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atravessando os estados de Rondônia e Amazonas (POZZETTI et al, 2022). Para este estudo,
é importante destacar a presença anual de centenas de dragas no leito do rio na área específica
do município de Humaitá, localizado no sul do estado do Amazonas, causando diariamente
impactos e consequências a população.
De acordo com a legislação brasileira, o impacto ambiental é definido como “qualquer
alteração nas características físicas, químicas e biológicas do meio ambiente resultante das
atividades humanas que afetam diretamente a saúde, a segurança e o bem-estar da população,
bem como as atividades sociais e econômicas, a biota, as condições estéticas e sanitárias do
meio ambiente, e a qualidade dos recursos ambientais” (Bitar, Ortega, 1998; CONAMA, 2012).
Vários estudos como de Dórea et al. (1998), Oliveira et al. (2010), Vieira et al. (2013),
Bastos et al. (2015) e Mendes et al. (2021) documentaram a presença significativa de mercúrio
(Hg) na bacia do rio Madeira, tanto em espécies de peixes quanto na população ribeirinha, com
concentrações acima dos limites estabelecidos pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e
pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Esses limites permitidos de Hg são
de 7,0 mg kg-1 no cabelo e 10,0 μg L-1 no sangue e na urina (JUNIOR et al., 2023).
O garimpo ilegal na região amazônica é uma prática que acarreta uma série de impactos
negativos, abrangendo dimensões ambientais, sociais e econômicas. Teorias como a de
Desenvolvimento Sustentável, proposta pelo relatório de Brundtland (1987), nos ajudam a
compreender a necessidade de conciliar desenvolvimento econômico com preservação
ambiental, ressaltando a importância de abordagens que promovam a equidade social e a
conservação dos recursos naturais para as gerações presentes e futuras (Pimenta; Nardelli,
2016). O conceito de Desenvolvimento Sustentável emergiu na década de 1980 com a
publicação do relatório Brundtland, também conhecido como "Nosso Futuro Comum", durante
a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento em 1987. De
acordo com o relatório, o desenvolvimento sustentável é definido como "o desenvolvimento
que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras
de satisfazer suas próprias necessidades" (WCED, 1987).
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Tabela 1. Quantidade de operações realizadas no Rio Madeira contra o garimpo ilegal de ouro nos últimos cinco
anos.
Quantidade de
Nome das
Data Objetivo das operações balsa
operações
inutilizada
Verde
05/10/2019 Repressão à extração ilegal de minérios. Não informado
Brasil
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afetadas é essencial para a elaboração de soluções que atendam às suas necessidades específicas
e garantam sua subsistência e bem-estar. Uma abordagem multidimensional é necessária para
enfrentar essa complexa problemática. A diversificação econômica, por meio do
desenvolvimento de iniciativas agrícolas, pesqueiras, turísticas sustentáveis e atividades
artesanais, pode proporcionar novas oportunidades de trabalho e renda para as comunidades
locais. Além disso, a capacitação profissional e o fomento de cooperativas e associações são
fundamentais para fortalecer a economia local e promover o empoderamento das comunidades.
Investimentos em saúde comunitária, educação e ciência são imprescindíveis para
proteger a saúde das pessoas afetadas pela atividade de garimpo e preparar as futuras gerações
para um futuro mais sustentável. A implementação de políticas públicas eficazes, aliada a
pesquisas científicas que visem reduzir os danos causados pelo mercúrio, pode contribuir
significativamente para mitigar os impactos do garimpo ilegal no Rio Madeira, como o Projeto
Ochroma piramidale (FAPERO, 2023).
Diante deste cenário desafiador, repleto de complexidades e impactos significativos, a
busca pela relação harmônica entre a conservação ambiental, os direitos humanos e as
necessidades econômicas locais se tornam indispensáveis e urgentes. A implementação de
soluções multidimensionais, direcionadas para um futuro mais sustentável, emerge como uma
abordagem promissora para diminuir o estresse socioambiental e salvaguardar a subsistência
das comunidades afetadas pelo garimpo ilegal no rio Madeira, principalmente a região de
Humaitá ao sul do estado do Amazonas. As operações foram realizadas, no entanto, os órgãos
governamentais negligenciaram a criação de alternativas para os cidadãos que dependem
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exclusivamente dessa renda para sua subsistência. Não foram identificadas no site
governamental ações voltadas para a preservação da vida humana.
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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerando o panorama discutido, fica evidente a urgência de abordagens integradas
e holísticas para lidar com os desafios apresentados pela atividade de garimpo ilegal na região
sudoeste da Amazônia. Isso implica não apenas na aplicação rigorosa das leis ambientais e na
preservação dos ecossistemas, mas também no desenvolvimento de soluções tangíveis para as
comunidades que dependem do garimpo como principal meio de subsistência. A criação de
alternativas econômicas sustentáveis, o fortalecimento da educação, a melhoria das condições
de saúde e o envolvimento ativo das comunidades locais são passos essenciais na construção
de um futuro mais promissor e na construção de uma sociedade mais justa.
Nesse sentido, é fundamental que o Estado assuma um papel proativo na implementação
de políticas públicas eficazes e na promoção de iniciativas que visem o desenvolvimento
socioeconômico e ambiental sustentável das regiões afetadas pelo garimpo ilegal. Esta breve
análise abordou alguns aspectos-chave; no entanto, recomenda-se estudos mais aprofundados
para identificar e mitigar os impactos específicos, contribuindo assim para a construção de um
mundo mais saudável, sustentável e equitativo a cada dia.
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