0% acharam este documento útil (0 voto)
34 visualizações6 páginas

Diálogos Entre Discursos, Sujeitos E Identidades

Enviado por

Luiz Guedes
Direitos autorais
© © All Rights Reserved
Levamos muito a sério os direitos de conteúdo. Se você suspeita que este conteúdo é seu, reivindique-o aqui.
Formatos disponíveis
Baixe no formato PDF, TXT ou leia on-line no Scribd
0% acharam este documento útil (0 voto)
34 visualizações6 páginas

Diálogos Entre Discursos, Sujeitos E Identidades

Enviado por

Luiz Guedes
Direitos autorais
© © All Rights Reserved
Levamos muito a sério os direitos de conteúdo. Se você suspeita que este conteúdo é seu, reivindique-o aqui.
Formatos disponíveis
Baixe no formato PDF, TXT ou leia on-line no Scribd
Você está na página 1/ 6

IOSR Journal Of Humanities And Social Science (IOSR-JHSS)

Volume 28, Issue 5, Series 2 (May, 2023) 59-64


e-ISSN: 2279-0837, p-ISSN: 2279-0845.
www.iosrjournals.org

Diálogos Entre Discursos, Sujeitos E Identidades


Luiz Eduardo Guedes1, Nagila Maria Silva Oliveira2,
Pabla Alexandre Pinheiro da Silva3, Tamara Afonso dos Santos4
1
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Acre, Brasil
2
Universidade Federal do Acre, Brasil
3
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Acre, Brasil
4
Universidade Federal de Rondônia, Brasil

Abstract:
Introdução As categorias de análise de discurso, sujeito e identidade são fundamentais para compreender as
relações entre linguagem e sociedade. Essas categorias de análise são importantes porque nos permitem
compreender como a linguagem é usada para construir e manter as relações sociais e como ela afeta a forma
como os indivíduos se percebem e se relacionam com o mundo ao seu redor. Elas também nos permitem revelar
as relações de poder e dominação presentes nos discursos e como essas relações afetam a forma como os
sujeitos se constroem e se identificam em uma sociedade.
Material e Método: O corpus é composto por textos teóricos de autores como Deleuze (1991), Hall (2006),
Foucault (1987; 2003; 2009; 2010; 2011), Pêcheux (1988) e Volóchinov (Círculo de Bakhtin) (2017). Trata-se
de uma pesquisa bibliográfica de cunho qualitativo.
Resultados: Os resultados mostram que os aspectos abordados neste estudo assumem relevância na
constituição enquanto pesquisadores de estudos da linguagem para possibilitar a problematização e o uso
crítico dessas categorias.
Conclusão: Os aspectos abordados neste estudo são relevantes para a formação de pesquisadores em estudos
da linguagem, uma vez que permitem a problematização e o uso crítico das categorias de análise de discurso,
sujeito e identidade. Isso significa que essas categorias são fundamentais para uma análise mais aprofundada e
crítica da linguagem e das relações sociais que a cercam.
Palavras-chave: Discursos, Sujeitos, Identidades.
----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- ----------
Date of Submission: 02-05-2023 Date of Acceptance: 12-05-2023
----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- ----------

I. Introduction
Este trabalho, escrito a oito mãos, visa apresentar reflexões a respeito dos conceitos de discurso, sujeito
e identidade a partir de textos lidos no decorrer da disciplina Discursos, Sujeitos e Identidades do Programa de
Pós-Graduação em Letras: Linguagem e Identidade (PPGLI) da Universidade Federal do Acre (Ufac) como
instrumento de avaliação na referida disciplina, que tinha como objetivo "desenvolver leituras e reflexões acerca
da relação entre discurso e acontecimento, pontuando os embates em torno das questões identitárias" 1
Durante a disciplina, tivemos a oportunidade de problematizar a relevância da análise do discurso para
o estudo da linguagem, considerando as categorias identitárias, a importância da alteridade para a formação de
um pensamento a respeito da enunciação na linguagem. Além disso, discutimos questões de autoria, linguagem,
subjetividade e intersubjetividade, noções de sujeito e identidade a partir de diferentes abordagens teóricas que
compõem as teorias da desconstrução. Por fim, analisamos categorias como cultura, linguagem, sociedade e
identidade, partindo dos diferentes matizes dos estudos culturais e do discurso pós-colonial.
Para este trabalho, elencamos como categorias de análise noções de discurso, sujeito e identidade por
entender que tais categorias são importantes para os estudos da linguagem, portanto, estão presentes em nossas
pesquisas. Assim, o objetivo deste artigo é apresentar os usos que diferentes teóricos fazem destas categorias em
diferentes abordagens epistemológicas.
Compreendemos que estas categorias de análise, objeto deste trabalho, possuem uma natureza
complexa, visto que, os teóricos estudados na disciplina possuem compreensões muitas vezes divergentes. Essa
multiplicidade de concepções implica consequentemente a nós, enquanto pesquisadores, realizarmos escolhas
teóricas e determinar com quais estudiosos e concepções iremos dialogar. Neste cenário, optamos por não

1
Plano de Curso da disciplina LEM 410 Discursos, Sujeitos e Identidades, 2021
DOI: 10.9790/0837-2805025964 www.iosrjournals.org 59 |Page
Diálogos entre discursos, sujeitos e identidades

restringir o texto em sua completude a um único teórico, mas seguir com diferentes escolhas teóricas para cada
categoria de análise, estabelecendo os diálogos e entrelaçamentos possíveis.

II. Materiais e Métodos


Os aspectos metodológicos deste artigo acadêmico consistem em uma pesquisa bibliográfica de
natureza qualitativa de acordo com Paiva (2019). A escolha dessa abordagem qualitativa permite uma análise
aprofundada dos textos teóricos selecionados. O objetivo é compreender e interpretar as contribuições desses
autores para o tema em questão.
O corpus da pesquisa é composto por textos teóricos de diversos autores. Os principais nomes incluídos
são Deleuze (1991), Hall (2006), Foucault (1987; 2003; 2009; 2010; 2011), Pêcheux (1988) e Volóchinov
(Círculo de Bakhtin) (2017). Esses autores são referências importantes no campo em que o estudo se insere, e
suas obras são fundamentais para a compreensão e análise do tema proposto.
A pesquisa bibliográfica consiste na busca, seleção e análise crítica de fontes secundárias, neste caso,
textos teóricos. A escolha desses textos foi feita com base em critérios de relevância para a pesquisa,
considerando a contribuição teórica que cada autor oferece ao tema em estudo (PAIVA, 2019).
Durante a condução da pesquisa bibliográfica, foram utilizadas técnicas de leitura atenta e análise
crítica dos textos selecionados. Foi realizada uma leitura minuciosa dos escritos de cada autor, buscando
compreender seus argumentos, conceitos e perspectivas teóricas. A partir dessa leitura, foram identificadas as
principais ideias e debates presentes nos textos teóricos, permitindo uma análise comparativa e a construção de
um panorama teórico consistente.
Por fim, os resultados da pesquisa bibliográfica foram interpretados e discutidos com base em uma
abordagem qualitativa. Foram estabelecidas relações entre as diferentes teorias e perspectivas dos autores,
identificando convergências, divergências e possíveis complementaridades. Essa análise proporciona uma
compreensão mais ampla e aprofundada do tema em estudo, contribuindo para a construção de conhecimento no
campo acadêmico.

III. Resultados e Análises


Esta seção está organizada em três partes: na primeira parte discutimos a noção de discurso dialogando
com Bourdieu (1986), Gramsci (1986), Foucault (2003; 2009; 2010; 2011) e Pêcheux (1988); na segunda parte,
nosso foco de reflexão é a noção de sujeito, a partir das contribuições teóricas de Pêcheux, Foucault, Lacan e o
Círculo de Bakhtin (2017); na terceira e última parte, dialogamos com Gramsci (1987, 1989) e Foucault (1987)
para pensar a categoria identidade.

IV. Discurso
Na análise do discurso, o sujeito não é um ser individualizado, é, na verdade, um ser social produzido
em um espaço/tempo coletivo. Sua existência se dá em um espaço social a partir de práticas discursivas. Falar
de sujeito e de identidade implica também falar de discurso, entendendo que “não há identidade sem sujeito e
não há sujeito sem discurso” (HALL, 2006). É a partir desse entendimento que os estudos culturais e os estudos
da análise do discurso problematizam o sujeito como ser discursivo.
Essa percepção do sujeito do discurso foi um aspecto importante para o estudo das práticas sociais
realizados por Gramsci, a partir do materialismo histórico, esse filósofo produziu os conceitos de Estrutura e
Superestrutura e Bloco Histórico, já mencionando o caráter ideológico da língua e atribuindo relevância às
práticas de linguagem nas relações de poder quando destaca que é a partir delas que construímos nossas crenças,
opiniões e modos de agir. É pela linguagem, mais especificamente pelas práticas discursivas que se altera o
bloco histórico descrito por Gramsci.
Este autor enfatizou a importância do discurso nas práticas sociais quando afirmou que a “concepção
verbal” influi sobre nossa conduta moral e dirige nossa vontade, enfatizando assim que a hegemonia só se
sustenta por meio do consentimento e da coerção. Dito de outra forma, Gramsci ao formular o conceito de
Estrutura e Superestrutura já tinha clareza de que para um grupo social assegurar sua hegemonia ele precisa
difundir suas ideias para alcançar o consentimento e quando não o consegue pela via discursiva recorre-se a
coerção, que seria a violência. O filósofo admite ainda que, somente a força coercitiva não é suficiente para
manter a hegemonia de um grupo, sendo necessário a prática do convencimento.
Mesmo sem ser um analista do discurso e sem intenção de formular uma metodologia de análise de
discurso, Gramsci ao problematizar sujeito, linguagem e ideologia produziu bases sólidas para o campo da
análise de discurso. É nessa base materialista que Pêcheux vai refletir sobre discurso como ponto intermediário
entre linguagem e ideologia, procurando produzir um método de análise de discurso, criando a Análise do
Discurso Francesa.
Há de se considerar que quando falamos de discurso é preciso fazer escolhas teóricas, haja vista que,
existem divergências e convergências quando tratamos dessa categoria de análise. Para este artigo, pontuamos

DOI: 10.9790/0837-2805025964 www.iosrjournals.org 60 |Page


Diálogos entre discursos, sujeitos e identidades

questões que nos permitem entender a importância das práticas discursivas na produção de subjetividades e na
constituição de processos identitários, a começar por alguns conceitos que sustentam essa afirmação, tais como
enunciado, formação discursiva, interdiscurso e intradiscurso.
Como bem pontuou Foucault (2009), a produção de discurso é sempre controlada, selecionada,
organizada e redistribuída por meio de mecanismos de exclusão, proibição e delimitação dos discursos. O
discurso é um conjunto de enunciados que se apoiam em uma mesma formação discursiva, entendendo-se
enunciado como acontecimento e formação discursiva como campo de saber/conhecimento. É por meio de
formações discursivas que atribuímos significado a nossas práticas sociais e produzimos nossas subjetividades.
Somos, a todo instante, interpelados ou representados por formações discursivas que expressam
relações de poder. Somos resultados de múltiplas vozes e dizeres que nos deslocam por diferentes centros de
poder. Esse caráter polifônico de nossas práticas discursivas é produzido na relação entre o interdiscurso e o
intradiscurso, entendendo interdiscurso como memória discursiva e o intradiscurso como fio condutor dos
discursos que se deslocam dentro de um espaço/tempo de uma formação discursiva para outra, tal como
enfatizou Pêcheux (1988).
Os enunciados são frutos de um resgate do já dito, numa relação entre interdiscurso e intradiscurso, em
que articulam-se palavras para resgatar sentidos possíveis às práticas sociais que produzem nossas identidades.
Fischer (2013, p. 139) lembra que para Foucault “os discursos não preexistem às cenas enunciativas: eles as
constituem permanentemente, e na mesma medida são constituídos por elas”.
Nossas práticas discursivas estão sempre localizadas em um espaço discursivo e de um campo de saber.
Ao falar, estamos sempre obedecendo a um conjunto de regras dadas historicamente, de modo que todo
enunciado está apoiado em um conjunto de signos. Reconhecendo as linhas de luta que atravessam as práticas
discursivas, ao propor um estudo discursivo, o foco não deve ser encontrar verdades, mas sim identificar
continuidades e descontinuidades históricas que deslocam as representações sociais a partir do que é dito e não
dito, as posições de sujeito e as relações de poder implicadas em formações discursivas.
Silva (2013) afirma que Bourdieu deslocou o termo discurso da visão estruturalista e o alocou na
condição de “símbolo de riqueza e de autoridade”, cuja produção dá-se pela valorização e desvalorização,
validação e invalidação nas relações de poder que envolve fatores linguísticos e extralinguísticos. Na
arqueologia do saber, Foucault (2009) interessou-se pelas práticas discursivas de determinados campos de saber,
pensando o discurso como prática que produz subjetividade e representações sobre o sujeito, em que as
formações discursivas funcionam como matrizes de sentido em que nos reconhecemos, nos significamos e nos
subjetivamos.
No entanto, retomando a ideia de discurso como “símbolo de riqueza e de autoridade” de Bourdieu
(1983), bem como de seus fatores linguísticos e extralinguísticos, podemos dialogar com aquilo que Foucault
(2003) denominou de práticas discursivas e não discursivas, sintetizando na noção de dispositivo formulada em
suas palestras e entrevistas. Um deslocamento da arqueologia para a genealogia do poder e da ética, período em
que o filósofo chegou ao entendimento de que as subjetividades são produzidas não só pelo que os homens
dizem, mas também pelo que fazem, ou seja, pelo dito e o não dito, em que o dizer e o fazer interligam todos os
elementos que produzem a subjetividade e as representações.
Para Deleuze (1991) todo dispositivo é composto por quatro dimensões que o tornam operacional as
práticas de análise de discurso foucaultiana. Essas quatro dimensões são as curvas de visibilidade, ou seja, ele
precisa ter visibilidade, que remete ao jogo de visibilidade e invisibilidade. Outra dimensão é a enunciabilidade,
todo dispositivo tem aquilo que ele enuncia/diz excessivamente e aquilo que ele apaga obsessivamente, é o jogo
do dizer e não dizer, são as curvas de enunciabilidade. Essa dimensão é bem perceptível no dispositivo
midiático onde aquilo que se diz e se mostra é controlado pelos poderes. Temos enunciados repetidos
excessivamente e outros ocultados como se fosse feito uma assepsia naquilo que não pode ser dito.
A terceira dimensão é exatamente as linhas de força, onde acontecem os jogos de poder e isso tudo
produz as linhas de subjetividade. Ou seja, a subjetividade é o resultado de todos esses jogos, de tudo que se
mostra e se oculta, aquilo que Foucault (2003) chamou de linhas de fuga que é algo pertinente para se pensar as
identidades como identificações inconclusivas.
Essa noção de dispositivo torna operante práticas de análise de discurso enquanto prática sócio-
histórica, que estuda o que nos tornamos na atualidade a partir daquilo que foi discursivamente estratificado e
consolidado em um contexto histórico e político, nos permitindo pensar a identidade como plural, como
processos e linhas de fuga, entendendo a subjetividade como um dos efeitos dos dispositivos que nos atravessam
nas relações de poder.
Todos os conceitos trabalhados em arqueologia são importantes para compreender as posições que
assumimos nas práticas discursivas e não discursivas. E nesse sentido, a análise do discurso pode ser
operacionalizada a partir do estudo de dispositivos, tais como a sexualidade, a mídia, a escola, etc, que enquanto
dispositivos sustentam-se nessas quatro dimensões citadas acima, naquilo que Foucault (2003) chamou de
genealogia da ética e do poder.

DOI: 10.9790/0837-2805025964 www.iosrjournals.org 61 |Page


Diálogos entre discursos, sujeitos e identidades

V. Sujeito
Para compreender um pouco melhor o conceito de sujeito na análise do discurso, precisamos entender o
conceito de discurso. Como abordado anteriormente, o discurso é analisado a partir da memória e do caminho
social em que origina. Assim, é imprescindível levar em consideração o interdiscurso e, analisando o
interdiscurso, podemos compreender como o discurso funciona, qual a sua relação com o sujeito e a ideologia.
O analista de discurso, em suas análises, precisa considerar, reconhecer, valorizar, relatar e descrever com
detalhes as condições de produção do que é dito, tanto as condições mais restritas quanto aquelas condições
mais amplas de produção discursiva.
Pêcheux (1988) ainda fala que ao interpretar, o analista do discurso o faz a partir de atos de tomadas de
posição, portanto, são para ele gestos de interpretação, marcados pela história, ideologia e o inconsciente.
Entendemos assim que, o próprio analista de discurso precisa fazer tomada de posições, não sendo isento ao
gesto de interpretação.
Para a análise do discurso, os sentidos são criados pelos sujeitos que estão historicamente posicionados,
através de um processo simbólico afetado pelo inconsciente e ideologia. No entanto, mesmo determinando os
sentidos, o processo escapa ao controle e às intenções do sujeito. Assim, o discurso passa a ser histórico,
materializado na língua, oferecendo múltiplas possibilidades de interpretação. E essa relação não é apenas de
sujeito com discursos, mas também de discursos com outros discursos.
Nesta perspectiva discursiva, se impossibilita pensar a constituição do sujeito separado da constituição
do seu discurso. Michel Foucault (1987) diz que o discurso cria sentidos relacionados às posições-sujeito. O
sujeito, então, vai se constituindo pela disparidade e multiplicidade de tais discursos e, quando enuncia, ocupa
várias posições.
Trazemos aqui o sujeito como uma concepção Lacaniana. Visto que Freud nunca falou de sujeito. Ele
falava do /ir/ (termo alemão que significa o eu). Lacan (1970) traz várias derivações desse “eu” e uma delas é o
sujeito. Em que o sujeito não é o “eu”. Lacan (1970) conceituou o sujeito enquanto não sendo a pessoa, não
sendo o indivíduo, o sujeito não é o “eu”. O sujeito difere do “eu”.
Para Lacan (1970), o sujeito da psicanálise: é o sujeito do inconsciente, esse outro estranho que nos
habita e que nos leva a tropeçar na língua. Este sujeito recebe do Outro um discurso, um lugar que virá a fazer
parte de sua história e o formar enquanto sujeito. Este é constituído pelo funcionamento do inconsciente e da
ideologia que leva o indivíduo a se identificar com uma certa posição, a se estabelecer enquanto sujeito dentro
daquele discurso, dentro de uma formação discursiva e, assim, se constitui a sua fala.
Ainda para Lacan (1970), o sujeito dividido não é um sujeito unificado, é pois sujeito a falhas. Ele vai
se constituindo no discurso por essas relações entre ideologia e o inconsciente, mesmo que não lhes seja
perceptível. Essa relação se dá pela linguagem, por isso a sua materialidade, através dessa ideologia, desse
inconsciente. Mas isso não é transparente para o sujeito. Daí, vem a ilusão de acharmos que somos donos do
nosso dizer, quando na verdade reproduzimos discursos outros.
Portanto, o sujeito de Lacan é o inconsciente, não é o eu, é o ele. É um outro. Ele que vai ser
interpretado, desvendado. A ele será dado um sentido. Ele será o material de análise para a psicanálise. Porque o
sentido da interpretação dado a ele não vem do eu, vem de um outro. Ele é constituído a partir de um outro, a
partir da relação com um outro. Surge no campo de um outro e o que ele representa para outro significante.
Assim, entendemos que para Lacan (1970) a descoberta do sujeito acontece pelo outro. Eu, enquanto
indivíduo, me constituo quando um outro me atribui um sentido. Quando outro me interpreta. Quando o outro
atribui a mim significações. Por isso que Lacan (1970, p. 411) vem dizer que o "sujeito é o que um significante
representa para outro significante".
Como dito anteriormente, o surgimento do sujeito se dá ao nível inconsciente. Porque está submetido a
uma alienação. Visto que o inconsciente é aquilo que produzo quando não quero produzir, o sujeito passa ser a
falha do meu ato de falar. É a ideologia me atravessando inconscientemente.
Ainda sobre o sujeito, Lacan (1970) introduz a ideia de alienação. Para ele, esta é própria do sujeito.
Ele nasce por ação da linguagem. Ele nasce no universo a partir do discurso de um grande outro, do qual não
tenho escolhas. A mãe é o primeiro grande outro, que oferece ao eu os significantes/representações, por meio da
linguagem, que irão se tornar seu inconsciente enquanto sujeito. O sujeito não é o cerne e a origem de sentido,
lembra Pêcheux (1988), visto que ele enuncia o discurso de forma a relacioná-lo com o discurso do outro.
Ainda, para o Volóchinov (Círculo de Bakhtin) (2017), a língua, sujeito e o mundo social se encontram
na ideia de que a mente é habitada por signos que possuem uma natureza social, ideológica e dialógica. Assim,
podemos dizer que o sujeito concebido pelo Círculo não possui autonomia e nem cria sua própria linguagem,
mas, ele é constituído na relação com outros sujeitos, perpassada por diferentes usos da linguagem conforme a
esfera social em que está inserido.
Tais esferas sociais e os usos da língua são regulados segundo fatores socioeconômicos. Seria
impossível, então, para o Círculo, que o sujeito se constitua sem a relação com o outro. Nesse contexto, a
singularidade dos indivíduos é possível devido ao caráter plural e heterogêneo da própria realidade: porque

DOI: 10.9790/0837-2805025964 www.iosrjournals.org 62 |Page


Diálogos entre discursos, sujeitos e identidades

existem variadas vozes, verdades, pontos de vista, etc. Assim, para Volóchinov (Círculo de Bakhtin) (2017), o
sujeito tem certa autonomia na escolha das verdades das quais vai se atrelar. Então, temos um sujeito do
conflito, ou seja, um sujeito com a consciência carregada por signos onde a luta de classes ocorre.
Por trás desta visão conflituosa da linguagem e da realidade se encontra uma visão política de mundo,
que pode ser assemelhada à concepção foucaultiana de que as relações intersubjetivas são, fundamentalmente,
relações de poder. Por causa dessas tensões onde a luta de classe ocorre que o processo de constituição da
identidade desse sujeito é inacabado e permanece em constante modificação, sobre isso que falamos a seguir.

VI. Identidade
O que seria identidade? Como tocá-la, como analisar sua materialidade, compreender aquilo do que ela
é feita, constituída? Durante os textos lidos na disciplina “Discursos, Sujeitos e Identidades", o conceito de
identidade foi se esvaindo como um castelo de areia que não resiste ao maremoto discursivo dos diferentes
teóricos apresentados.
E partindo das leituras de Gramsci (1987, 1989) e Foucault (1987) fomos dialogando e entrelaçando
diferentes leituras e análises acerca da identidade, o que reforçou alguns questionamentos e alimentou algumas
dúvidas. Pois a identidade fixa e permanente que outrora existia em cada um de nós foi se deslocando e se
fragmentando, ocasionando uma crise de identidade (HALL, 2006), um emaranhado de incertezas sobre
pertencimento e identificação. Hoje, não teríamos a certeza de nos definir, o que podemos intuir é que,
atualmente, nossas identidades são (algumas vezes) contraditórias.
Mas, o que somos ou quem somos? Como nossas subjetividades foram sendo construídas, ou melhor,
por que foram construídas? Seguindo os questionamentos dessas tramas identitárias que foram sendo
“deslocadas” e “fragmentadas”, trazemos à baila um dos teóricos que pode nos ajudar nessa equação: Gramsci
(1989, 1987). Para o autor, todo o homem possui “concepções de mundo” (GRAMSCI, 1989). Tal concepção de
mundo faz com o que homem promova determinadas formas de pensar e agir, compartilhando valores e normas
de conduta moral.
Além disso, Gramsci (1989, p.14) afirma que a consciência humana é contraditória, pois há "um
contraste entre pensar e agir, isto é, uma coexistência de duas concepções de mundo, uma afirmada por palavras
e outra que se manifesta na ação efetiva". Em outros termos, o intelecto humano e sua conduta estão,
frequentemente, em contradição. O homem é um ser contraditório.
Segundo o autor, a linguagem, a religião, o folclore, a ideologia e a política são concepções de mundo e
estão coerentemente, sistematicamente integradas (GRAMSCI, 1987). A ideologia, por exemplo, é uma
concepção de mundo que se “transforma num movimento cultural” (GRAMSCI, 1987, p.16), estando presente
nas manifestações artísticas, na atividade econômica e na vida individual e coletiva. É por meio da ideologia que
o homem se vincula a um determinado grupo social, sendo sempre conformistas de algum conformismo, sendo
sempre “homens massas” ou “homens coletivos” (Ibid., p.12).
É por isso que o conceito de identidade gramsciana tem uma essência cultural, histórica e política. Pois
a escolha de uma determinada concepção de mundo foi resultado da “submissão ou subordinação intelectual”
(Ibid. p.12). Uma construção identitária modelada e construída, ao longo do tempo, para o benefício de uma
determinada classe dominante. Uma identidade previamente definida e difundida por estruturas ideológicas
como a igreja, a escola e os meios de comunicação. Essas instituições veiculam como devemos agir e pensar,
formando um senso comum (de ideias, conceitos, visões de mundo).
Tal construção ou absorção dessas ideologias em nosso inconsciente pode acontecer tanto de forma
coercitiva como consentida. Passamos a acreditar sem questionar e muitas vezes não temos a consciência de que
tais ideias foram se cristalizando em nossas subjetividades a partir das práticas discursivas dos campos de
conhecimentos em que estamos socialmente imersos.
Podemos estar equivocados em nossas análises acerca dos textos de Gramsci (1987, 1989), mas há em
sua escrita um sussurro intencional de nos revelar o poder homogeneizante das estruturas ideológicas (classe
dominante), buscando construir uma identidade específica, tentando moldar um sujeito (assujeitado) adequado,
naturalizado por um discurso (histórico, político e social) que silencia e discrimina as minorias. A visão crítica e
apurada de Gramsci deve ter sido o crime cometido por ele e pago com sua prisão durante o regime fascista,
uma tentativa de calar um filósofo e conter um ativista.
Apesar de estar preso, Gramsci conseguiu questionar o que estava posto e criticar os aparatos
ideológicos que buscavam “padronizar” os sujeitos e suas identidades. Assim como ele, as ideias de Foucault
(1987) trazem a mesma sinergia, o mesmo movimento de questionar a formação das nossas identidades a partir
de uma construção discursiva que envolve relações de poder. O pensamento foucaultiano nos convida a
questionar essa suposta identidade que nos delimita e aprisiona.
Um convite a problematizar o sentido oculto das coisas, a investigar os “discursos instauradores” ou
“construtores” das nossas identidades. E como podemos realizar tal tarefa? Como devemos iniciar esse retorno
contrário das nossas identidades, até tal ponto em que assumimos que não temos uma identidade? Como

DOI: 10.9790/0837-2805025964 www.iosrjournals.org 63 |Page


Diálogos entre discursos, sujeitos e identidades

questionar uma identidade dispersa numa construção discursiva ininterrupta, que tenta nos definir? Quem somos
nós que vilanizamos os negros? Quem somos nós que aprisionamos as mulheres, impingindo normas e condutas
de comportamento? Que formações discursivas estão sustentando nossas identidades?
Só conseguimos responder que, atualmente, seguimos e obedecemos a um conjunto de regras, de
signos. Somos produtos de vários discursos: político, religioso, feminista, econômico, machista, estético, de
concordância ou resistência. Discursos que se interpenetram, que coexistem entre si num movimento incessante
e que estão a sustentar nossas identidades. E, se você insistir em nos questionar sobre o que preferimos ser neste
momento, vamos parafrasear o cantor e compositor brasileiro Raul Seixas: eu prefiro ser, essa metamorfose
ambulante, do que ter a velha opinião formada sobre tudo.

VII. Conclusão
Neste artigo, discorremos sobre as categorias de análise discurso, sujeito e identidade por meio do
diálogo com diversos autores, dentre eles Bourdieu, Gramsci, Foucault, Pêcheux, Lacan e o Círculo de Bakhtin.
Apesar de termos organizado o texto em seções individuais para cada categoria, o que percebemos é que estas
palavras/conceitos estão conectadas, atravessadas umas pelas outras.
Portanto, ao tratar de discurso, partimos da premissa de que identidade, sujeito e discurso estão
interligados visto que “não há identidade sem sujeito e não há sujeito sem discurso” (HALL, 2006). Assim,
bebemos na fonte de Bourdieu, Gramsci, Foucault e Pêcheux trazendo alguns conceitos, como, por exemplo,
enunciado, formação discursiva, interdiscurso e intradiscurso, que consideramos essenciais para compreender a
noção de discurso como objeto histórico que se materializa através da língua e que mantém relação com outros
discursos.
Neste contexto da análise do discurso, a partir de Pêcheux, Foucault, Lacan e o Círculo de Bakhtin,
entendemos sujeito como um ser atravessado pelo inconsciente e pela ideologia, socialmente produzido dentro
de um espaço/tempo, cuja constituição é indissociável da constituição do seu discurso.
No que diz respeito à identidade, ao dialogar com Gramsci e Foucault chegamos a uma compreensão
de identidade construída a partir de estruturas ideológicas, seja de forma coercitiva ou consentida, cuja formação
somos instigados a questionar. Ao conceber identidades como abertas, contraditórias, plurais, fragmentadas e
descentradas, Hall (2006) aproxima-se das categorias de análise de Gramsci, Lacan e Foucault ora mencionadas
no texto, nos fazendo pensar/reconhecer a importância desses estudiosos para o descentramento do sujeito.
Os aspectos abordados neste artigo assumem relevância em nossa constituição enquanto pesquisadores
de um programa que se propõe por meios de estudos da linguagem problematizar essas categorias, nos
permitindo compreender melhor nossas escolhas teóricas, que precisam ser assumidas com a clareza de suas
implicações nos estudos que nos propomos a fazer sobre discurso, sujeito e identidade. Entendemos ainda que, o
uso mais consciente dessas categorias requer outras leituras, a partir das provocações filosóficas suscitadas na
disciplina Discursos, Sujeitos e Identidades.

Referências
[1]. DELEUZE, Gilles. Foucault. São Paulo: Brasiliense, 1991.
[2]. GRAMSCI, Antonio. Concepção dialética da História. 78ed. Trad. bras. Cartos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1987.
[3]. GRAMSCI, Antonio. Maquiavel, a Política e o Estado Moderno. 78 ed. Trad. Luiz M. Gazzaneo, Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1989.
[4]. HALL, Stuart. A identidade cultural da pós-modernidade. São Paulo: DP&A, 2006.
[5]. FISCHER, Rosa Maria Bueno. Foucault. In: OLIVEIRA, Luciano Amaral. (Org). Estudos do discurso: perspectivas teóricas. 1 ed.
São Paulo: Parábola Editorial, 2013.
[6]. FOUCAULT, Michel. A arqueologia do saber. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1987.
[7]. FOUCAULT, Michel. Ditos e escritos. Tradução de Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Forense Universitária, v. IV (Estratégia, poder-
saber), 2003.
[8]. FOUCAULT, Michel. A Ordem do Discurso. Aula Inaugural no Collège de France, pronunciada em 2 de dezembro de 1970. 19.ed.
São Paulo: Edições Loyola, 2009a.
[9]. FOUCAULT, Michel. Conversa com Michel Foucault. In: FOUCAULT, Michel. Repensar a Política.(Coleção Ditos e Escritos VI).
Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2010.
[10]. FOUCAULT, Michel. Ética, Sexualidade, Política. 2.ed. (Coleção Ditos e Escritos V). Rio de Janeiro: Forense Universitária,
2006b.
[11]. OLIVEIRA, Luciano Amaral. Gramsci. In. OLIVEIRA, Luciano Amaral. (Org). Estudos do discurso: perspectivas teóricas. 1 ed.
São Paulo: Parábola Editorial, 2013.
[12]. PAIVA, Vera Lúcia Menezes de Oliveira e. Manual de pesquisa em estudos linguísticos. 1ed. São Paulo: Parábola, 2019.
[13]. PÊCHEUX, Michel. Semântica e Discurso. Campinas: Ed da UNICAMP, 1988.
[14]. SILVA, José Otacílio da. Bourdieu. In. OLIVEIRA, Luciano Amaral. (Org). Estudos do discurso: perspectivas teóricas. 1 ed. São
Paulo: Parábola, 2013.
[15]. VOLÓCHINOV, Valentin (Círculo de Bakhtin). Marxismo e filosofia da linguagem: problemas fundamentais do método
sociológico na ciência da linguagem. Trad. Sheila Grillo e Ekaterina V. Américo. São Paulo: Editora 34, 2017.

DOI: 10.9790/0837-2805025964 www.iosrjournals.org 64 |Page

Você também pode gostar