TCC Eso Claudiobarbozadeandrade
TCC Eso Claudiobarbozadeandrade
RECIFE, 2021.
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO
DEPARTAMENTO DE MEDICINA VETERINÁRIA
RECIFE, 2021.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação
Universidade Federal Rural de Pernambuco
Sistema Integrado de Bibliotecas
Gerada automaticamente, mediante os dados fornecidos pelo(a) autor(a)
Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) - Universidade Federal Rural de Pernambuco, , Recife, 2021.
1. ureterolitíase. 2. stent. 3. obstrução. 4. urato de amônio. 5. duplo-J. I. Neto, Joaquim Evencio, orient. II. Cavalcanti,
Grazielle Anahy de Sousa Aleixo, coorient. III. Título
CDD
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO
DEPARTAMENTO DE MEDICINA VETERINÁRIA
Aprovado em 19/07/2021
BANCA EXAMINADORA
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Sou especialmente grato aos meus familiares. Minha avó, Edinaura, que sempre
apoiou, acreditou e confiou em mim fazendo tudo possível para que meu sonho se tornasse
real. Meus pais, Simone e Claudiano (in memoriam), que são minha base e sei que sempre
irão me apoiar nas decisões fáceis e difíceis. Meus avós José, Severina e Severino; meus tios
Erioberto, Sebastião, Taciana e Fabiano (in memoriam). A Jorge, meu padrasto. Meus irmãos
Eduarda e Júnior, meus primos; A João, meu companheiro de todas as horas, com quem
divido os momentos bons e ruins; As minhas “crianças”: Alvin, Simon, Fred, Cando, Dudu,
Teó e Comida de Cobra, por todo carinho e amor;
Aos meus amigos, principalmente os que conheci durante a graduação e aqueles que
dividiram os momentos de sufoco e felicidade: Ana, Ana Bactéria, Ayrlon, Andreya, Chris,
Carla, Jéssica, Paulinho, Rebecca, Renata Vegs, Renata Paraíba, Sanly, Tamarah e Tati.
Vocês são maravilhosos e capazes de fazer de tudo o que quiserem;
Às minhas amigas DMFA, Andressa Melo, Mariana Rêgo, Maria Edna, Erika Bruna,
Agnes Carvalho e Priscila Rocha. Nossos momentos no laboratório de histologia foram
memoráveis;
J. K. Rowling (2007)
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 Espaço para internamento dos cães que dispõe de seis baias ................... 16
Figura 2 Espaço para internamento dos gatos que dispõe de quatro baias ............ 16
1
/2 - Meio
%- Porcentagem
ALT - Alanina-amino-transferase
AV - Avaliar
BID - Duas Vezes ao Dia
bol - Bolus
C.H.C.M. - Concentração de Hemoglobina Corpuscular Média
cap - Cápsula
cp - Comprimido
dL - Decilitro
DMV - Departamento de Medicina Veterinária
ESO - Estágio Supervisionado Obrigatório
F.A. - Fosfatase Alcalina
fL - Fentolitro
FREQ. - Frequência
g- Grama
gts - Gotas
h- Hora
ITU - Infecção do Trato Urinário Inferior
IV - Intravenoso
kg - Quilograma
mg - Miligrama
mL - Mililitro
O2 - Oxigênio
SC - Subcutâneo
SID - Uma Vez ao Dia
U.I. - Unidades Internacionais
UCI - Unidade de Cuidados Intensivos
UFRPE - Universidade Federal Rural de Pernambuco
UTI - Unidade de Terapia Intensiva
V.C.M. - Volume Corpuscular Médio
VO - Via Oral
μL - Microlitro
RESUMO
The ESO occurred between April 5th to July 9, 2021 at Animalis – Cirurgia e Clínica
Veterinária, in the intensive care sector, and at the Hospital Veterinário PetDream, in the
surgery sector. In all, 75 patients were followed up with varied clinical conditions. This
allowed contact with different therapeutic conduct and surgical procedures that provide an
extremely enriching experience. During the internship period, a case of ureteral obstruction
was followed, which was reported in this paper. Urolites can be treated through clinical
management (using medication and/or nutritional management) and surgical removal (a more
invasive procedure). Urolithiasis can be treated through clinical management (using
medication and/or nutritional management) and surgical removal (a more invasive procedure).
Drug treatment does not always prove to be effective and may aggravate the patient's
condition. Therefore, the assessment and surgical indication can be carried out as soon as
possible. The present work had the objective to report the case of a male Yorkshire Terrier
breed, 6 years old, castrated, weighing 2.9 kg, presenting signs of hydronephrosis, ureteral
urolithiasis, vesical urolithiasis, vomiting, azotemia, and suspicion of infection of the urinary
tract (UTI). The patient with left ureteral obstruction due to ureterolithiasis underwent
ureterotomy and insertion of a double-j catheter for clearance. The use of the double-j catheter
allowed the urinary flow through the left ureter without obstruction stenosis. The quantitative
analysis of the urolith showed ammonium urate. The patient is being followed up for late
observation of the results, especially the recovery of renal function. The success of this
procedure demonstrates the effectiveness of the double-j catheter in case of ureteral
obstruction.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................... 26
CAPÍTULO II: TRATAMENTO DE URETEROLÍTIASE ATRAVÉS DO
IMPLANTE DE CATETER DUPLO-J POR URETEROTOMIA EM UM
CÃO COM OBSTRUÇÃO URETERAL UNILATERAL - RELATO DE
CASO..................................................................................................................... 27
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 28
2 REVISÃO DE LITERATURA ........................................................................... 29
3 RELATO DE CASO ............................................................................................ 32
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO.......................................................................... 36
5 CONCLUSÃO ...................................................................................................... 39
6 REFERÊNCIAS ................................................................................................... 40
ANEXO 1............................................................................................................... 42
ANEXO 2............................................................................................................... 43
ANEXO 3............................................................................................................... 44
ANEXO 4............................................................................................................... 45
CAPÍTULO I: DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES REALIZADAS DURANTE O
ESTÁGIO SUPERVISIONADO OBRIGATÓRIO
1 INTRODUÇÃO
15
especialidades médicas, como Cardiologia, Neonatologia e Nefrologia. A clínica foi escolhida
por proporcionar a vivencia em diversos tipos de atendimentos, possibilitando o contato com
várias formas de abordagens clínicas para cada tipo de paciente.
A UCI fica localizada numa área reservada/isolada da clínica, conta com espaços
para internamento de cães (Figura 1) e gatos (Figura 2). Os animais ficam acomodados em
baias (Figura 3) que possibilitam sua locomoção, o que a diferencia de outros tipos de
internamentos que acomodam os animais em gaiolas com menor espaço.
A UCI possui pontos de O2 (oxigênio) em todas as baias e bombas de infusão
contínua (Figura 4) para administração medicamentos intravenosos e fluidoterapia. Os
medicamentos e insumos são armazenados em armários e os medicamentos de emergência
ficam localizados em uma estação específica.
Figura 1. Espaço para internamento de cães que Figura 2. Espaço para internamento de gatos que
dispõe de seis baias. dispõe de 4 baias.
Fonte: Cortesia da Animalis - Cirurgia e Clínica Fonte: Cortesia da Animalis - Cirurgia e Clínica
Veterinária (2021). Veterinária (2021).
A entrada da UCI divide a área dos cães e gatos. Nesse espaço existe um armário
onde se armazena os alimentos dos pacientes, além deste, há uma pia para auxiliar no preparo
das refeições e lavagem dos utensílios utilizados. Essa distinção de espaços importante para
promover o bem-estar dos pacientes e evitar maiores estresses com a diferença de espécies e
suas particularidades.
Em cada espaço existe uma mesa metálica onde os procedimentos são realizados,
incluindo os de emergência. Para os cães (Figura 5) a mesa se localiza no segmento final do
internamento e para os gatos, a mesa está no centro do internamento.
16
Figura 3. Baia de internamento Figura 4. Bomba de infusão de Figura 5. Mesa metálica para
de cães. medicamentos. procedimentos realizados na
Fonte: Cortesia da Animalis - Fonte: Cortesia da Animalis - UCI. Fonte: Cortesia da
Cirurgia e Clínica Veterinária Cirurgia e Clínica Veterinária Animalis - Cirurgia e Clínica
(2021). (2021). Veterinária (2021).
Há um quadro de horários, na área dos cães, onde são inseridas as informações dos
pacientes para auxiliar no controle das medicações, alimentações e realizações de exames.
Um balcão com gavetas e cadeiras está situado também na área dos cães, onde encontra-se um
notebook com acesso à internet para consulta ao sistema.
O bloco cirúrgico fica localizado no piso principal e sua entrada divide os ambientes
sujo e limpo, onde existe uma pequena divisória para colocar o propé e acessar o bloco
17
cirúrgico. O espaço de entrada (Figura 6) conta com um armário onde são armazenados os
instrumentais esterilizados e insumos como luvas, compressas, gazes, sondas, entre outros.
O lavabo para antissepsia das mãos (Figura 7) também está na área antes da sala de
cirurgia, bem como um vestiário. A sala de cirurgia conta com uma porta automática (Figura
8) em sua entrada e é equipada (Anexo 1) com uma mesa de elevação e inclinação
automatizada, foco cirúrgico, equipamentos de monitoração dos parâmetros vitais do paciente,
bomba de infusão enteral e infusão de seringa, aparelho de anestesia com respirador mecânico
e traqueia Baraka acoplados e um negatoscópio para visualização das radiografias.
Além disso conta com uma mesa metálica para acomodação dos instrumentais
durante os procedimentos cirúrgicos e um armário para armazenamento dos fármacos
anestésicos, analgésicos e antibióticos, além de seringas, ataduras e sondas.
18
As atividades realizadas na Animalis – Cirurgia e Clínica Veterinária incluíam o
acompanhamento de pacientes internados na UCI desde o recebimento até a alta médica,
monitoramento dos parâmetros vitais, acompanhamento e realização de procedimentos como
canulação venosa, passagem de sondas nasogástricas e uretrais, colheita de material para
exames (como sangue e urina), cálculos de fluidoterapia de reposição e manutenção e da
infusão contínua de medicamentos, acompanhamento da realização de exames de imagem.
Foram ainda acompanhados alguns procedimentos cirúrgicos e realizado discussão dos casos
clínicos dos pacientes internados na UCI.
Durante o período de estágio, acompanhou-se 38 pacientes internados com diferentes
condições clínicas. A análise dos animais atendidos evidenciou a prevalência de caninos (n =
28, 74%) em relação aos felinos (n = 10, 26%) (Gráfico 1). Em relação a distribuição de
internamentos por sexo entre as espécies internadas, houve a prevalência de fêmeas caninas (n
= 18, 64%) e de machos felinos (n = 6, 60%).
A maior parte dos internamentos foram feitos para observação após procedimentos
cirúrgicos. No caso dos pacientes internados por mais tempo referiam-se a casos clínicos que
demandaram cuidados intensivos, como pacientes com alterações renais, cardíacas e os
neonatos. Os dados referentes as causas e o número de casos são apresentados na Tabela 1.
19
Tabela 1. Causas de internamento e o número de casos acompanhados durante o ESO na UCI da Animalis.
Causa do internamento Número de casos
Acidose Metabólica 2
Acompanhamento Neonatal 9
Anemia 3
Anorexia 2
Biópsia de Nódulo em Orelha 1
Caquexia 1
Cardiopatia 1
Corpo Estranho 1
Desidratação 2
Doença Periodontal 1
Doença Renal Crônica 3
Edema de Membro 1
Erliquiose 1
Fratura de Escápula 1
Hipertensão 1
Hiporexia 2
Insuficiência Renal Aguda 1
Leishmaniose 1
Lesão Hipotalâmica 1
Lesão Sublingual 1
Miíase 1
Nefropatia 2
Nódulo Cervical 1
Nódulo em Região Dorsal 1
Obstrução Urinária 2
Pancreatite 1
Piotórax 1
Pós-Cirúrgico Cesárea 3
Pós-Cirúrgico Enucleação 1
Pós-Cirúrgico Mastectomia 4
Pós-Cirúrgico Nosectomia Parcial 1
Pós-Cirúrgico Piometra 2
Pós-Cirúrgico Shunt Porto-Sistêmico 1
Pós-Cirúrgico Uretrostomia 1
Reação Alérgica 1
Sepse 1
Simblefaroplastia 1
Uremia 1
Carcinoma de Células Escamosas 1
Enfisema Subcutâneo 1
Total 40
Fonte: Andrade (2021).
20
Ainda durante o estágio, foi possível acompanhar três procedimentos cirúrgicos de
emergência, duas cirurgias de cesárea e uma cirurgia de piometra. Os procedimentos foram
realizados sob supervisão e em conjunto com a médica veterinária Alinne Rezende de Souza.
21
Gráfico 2. Porcentagem dos animais acompanhados
da espécie canina quanto ao sexo, no Hospital
Veterinário PetDream.
22
Tabela 2. Relação dos casos cirúrgicos e o número de casos acompanhados durante o período de estágio na
cirurgia.
Caso Cirúrgico Número de Casos
Ablação Total do Conduto Auditivo 1
Biópsia Cutânea Excisional 1
Cantoplastia 1
Celiotomia Exploratória 1
Cesárea 2
Cistotomia 2
Colocação de Cateter Venoso Central 1
Colocefalectomia 5
Episioplastia 1
Esofagostomia 2
Esplenectomia 1
Gastrotomia 1
Herniorrafia Perineal 2
Lavado Traqueobrônquico 2
Linfadenectomia 2
Lobectomia Hepática 1
Mastectomia 1
Nodulectomia 2
Orquiectomia 2
Osteossíntese Bilateral de Ílio 1
Osteossíntese de Maxila 1
Osteossíntese de Mandíbula 1
Osteossíntese de Tíbia e Fíbula 1
Ovário Salpingo Histerectomia 2
Palatorrafia 1
Profilaxia Dentária 2
Remoção de Fixador Externo 1
Transposição da Crista Tibial 2
Trocleoplastia 2
Uretroplastia 1
Total 46
Fonte: Andrade (2021).
23
Ao todo 75 pacientes foram acompanhados na UCI e no setor da cirurgia. Os quadros
clínicos variaram em relação ao tratamento: enquanto na UCI ocorre a terapia clínica e
intensiva, a clínica cirúrgica corrige, através de uma intervenção mais invasiva, o quadro
clínico do paciente na maioria das vezes, porém essas duas áreas andam extremamente
interligadas, pois os pacientes cirúrgicos, nos dois locais de estágio, passavam pela UCI no
pré e pós cirúrgico para observação antes da liberação por alta médica.
O acompanhamento da rotina médica na UCI foi fundamental para formação de um
olhar mais aguçado para os pacientes intensivos, pois estes apresentam quadros que exigem a
atenção do médico veterinário de forma integral, verificando o seu estado geral, manutenção
da hidratação, medicações e alimentação em horários específicos, controle do débito urinário
e parâmetros vitais. Além das situações de emergência que demandam uma ação rápida para
salvar a vida do paciente, como os casos de parada cardiorrespiratória.
Nos casos acompanhados no internamento, que eram encaminhados da clínica
médica, o clínico delimitava os cuidados necessários para o paciente desde o protocolo
terapêutico medicamentoso e alimentar até os cuidados com o bem-estar dos pacientes que,
ocasionalmente, demandavam cuidados mais específicos.
A discussão dos casos com os clínicos ocorria de forma constante, onde foi possível
obter conhecimento de diversas áreas. O cuidado com neonatos, não antes experienciado pelo
discente, foi possível durante o estágio, aprendendo desde o nascimento até a reaproximação
com a mãe. Nesse processo ainda foi possível vivenciar uma situação de emergência com
neonatos, aprendendo a reestabelecer o paciente e promover saúde. Casos da nefrologia
ocorriam rotineiramente no internamento, uma vez que existe uma especialista na clínica. Os
casos apresentavam condutas e tratamentos específicos para cada paciente e suas avaliações
clínicas eram extremamente necessárias para evolução do protocolo terapêutico, pois as
alterações clínicas, quando não intervindas rapidamente, poderiam desencadear alterações
sistêmicas, às vezes, irreversíveis.
Casos mais complexos foram vivenciados, como pacientes que permaneceram em
internamento por diversos dias até fechamento do diagnóstico e instituição do tratamento do
paciente. A exemplo, uma paciente canina idosa, que deu entrada com quadro de hiper-
hidratação, anúria e edema pulmonar, foi diagnosticada com doença renal crônica e erliquiose.
Outro caso vivenciado, que interligou a clínica, internamento e cirurgia foi vivenciado e será
relatado no Capítulo II deste trabalho.
24
A rotina cirúrgica é, de certa forma, mais equilibrada uma vez que os pacientes são
acompanhados previamente e entram em cirurgia, na maioria das vezes, hígidos. Exceto nos
casos de emergência, quando os pacientes precisam de intervenção imediata e não há tempo
para estabilização clínica prévia. O acompanhamento das atividades no centro cirúrgico do
Hospital Veterinário PetDream proporcionou o entendimento de diversos quadros clínicos que
são resolvidos através de procedimentos cirúrgicos que requerem a habilidade e conhecimento
do cirurgião para serem realizados.
Foi necessário estudar os casos previamente aos procedimentos cirúrgicos para
melhorar a compreensão do que seria executado, associado às instruções e ensinamentos do
supervisor e dos outros veterinários envolvidos nos casos. Após as cirurgias, as dúvidas eram
esclarecidas com os profissionais e as técnicas debatidas com a equipe, onde ocorriam
questionamentos sobre a escolha da técnica, se poderia ser realizado outra abordagem
terapêutica, quais os cuidados necessários para o pós-cirúrgico e quais as medicações
indicadas.
Procedimentos simples, como passagem de sonda esofágica e colocação de cateter
venoso central (Figura 9), foram acompanhados bem como casos mais complexos, como
exérese de nódulo hepático e procedimentos no sistema hepatobiliar. Afecções ortopédicas
foram observadas com maior frequência durante a vivência do estágio, sendo acompanhados
casos de fratura (Figura 10) e luxação (Figura 11) por exemplo.
25
Figura 11. Acesso venoso central. A: Kit para acesso
venoso central. B: Área operatória da região cervical
lateral direita. C: Passagem do fio guia do cateter venoso
central. D: Cateter venoso central posicionado.
Fonte: Andrade (2021).
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Quando ocorre a formação dos urólitos seja no sistema urinário superior ou inferior
recomenda-se o estímulo à ingestão hídrica e à micção independentemente do tipo de urólito
envolvido (CARDOSO, 2020). A terapia preconizada deve ser baseada na fisiopatologia da
formação do urólito, havendo duas possibilidades: o tratamento clínico, que promove a
dissolução ou impede o crescimento do cálculo; e o tratamento cirúrgico, que remove o
urólito cirurgicamente (WAKI; KOGIKA, 2015). Dentre as terapias conservadoras sugeridas,
recomenda-se a diurese por fluidoterapia intravenosa com administração de manitol, podendo
ou não se associar outras terapias com fármacos, sendo ainda necessário a avalição crítica da
estabilidade e do estado hídrico do paciente (NELSON; COUTO, 2015), mas o tratamento
conservador é pouco eficiente. Em casos de obstrução ureteral, total ou parcial, que devem ser
tratados como emergência a indicação cirúrgica é a recomendação mais eficaz. O
procedimento cirúrgico que tem sido realizada com maior frequência para o tratamento de
obstrução ureteral em cães é a ureterotomia e colocação de stents, como o cateter duplo-j
(NELSON; COUTO, 2015; CARDOSO, 2020).
28
2 REVISÃO DE LITERATURA
A composição dos urólitos é variada, sendo classificados como simples, quando mais
de 70% da composição é formada por um único mineral; mistos, mais de um tipo mineral está
presente, porém nenhum passa de 70% da composição; e compostos, onde o núcleo é
identificável e existem camadas de diferentes composições ao redor do núcleo; e podendo ser
observados diversos tipos de minerais como estruvita, oxalato de cálcio, urato de amônia,
cistina e fosfato de cálcio (LULICH et al., 2016; CARDOSO, 2020; DEFARGES et al., 2020;
BURGGRAAF et al., 2021), sendo o conhecimento da composição o ponto chave na terapia
de tratamento da urolitíase. O estudo realizado por BURGGRAAF et al. (2021) evidenciou
que há uma semelhança entre a composição dos diferentes tipos de urólitos ao longo do
tempo, muito embora outros autores citem uma maior prevalência de cálculos de estruvita e
oxalato de cálcio dentre os achados mais comuns na análise de cálculos (OSBORNE, et. al.,
2009; CARDOSO, 2020; DERFARGES et al., 2020), sendo esses ainda, os mais encontrados
em cães (FOSSUM, 2015; CLÉROUX, 2018).
29
vai de encontro as informações presentes em FOSSUM (2015), NELSON e COUTO (2015),
WAKI e KOGIKA (2015), REZENDE et al. (2019), CARDOSO (2020), FERRAZ et al.
(2020). O diagnóstico e identificação do tipo de cálculo envolvido é um fator determinante
para estabelecer o protocolo terapêutico a ser seguido. Por outro lado, segundo MILLIGAN e
BERENT (2019), o tipo de cálculo pode ser previsto quando se considera a sintomatologia,
aparência radiográfica, urocultura, pH da urina em jejum, cristais de urina, pois em alguns
casos o simples manejo nutricional pode na dissolução dos urólitos através do manejo
dietético associado a determinados fármacos (LULICH et al., 2016). Analises cristalográficas
quantitativas e qualitativas devem ser realizadas para confirmar o tipo de cálculo. Ao
diagnosticar um paciente com qualquer tipo de urólito deve ser estimulado a ingestão hídrica
e a micção, para evitar supersaturação da urina e estase urinária (WAKI; KOGIKA, 2015;
CARDOSO, 2020).
30
Stents ureterais são implantes usados para promover o reestabelecimento do fluxo
urinário, quando há obstrução do ureter, seja ela interna ou externa (CLÉROUX, 2018;
BEYSENS; TAILLY, 2018), podendo ser implantados através de ureterotomia e
ureteroscopia. A drenagem do trato urinário é absolutamente indicada em casos de obstrução
bilateral ou unilateral, dor severa ou quando a obstrução está associada à infecção do trato
urinário ou sepse. A utilização do cateter duplo-j promove excelente drenagem, resiste à
migração, formação de crostas e infecção, além de não provocar reações ou sintomas nos
pacientes e ser fácil de inserir e removê-lo (BEYSENS; TAILLY, 2018). REZENDE et al.
(2019), citam que a utilização do cateter duplo-j em complicações por cálculos é segura e
efetiva, corroborado por CARDOSO (2020) que descreve a melhora da função renal e
LULICH et al. (2016) que relatam redução da morbidade e mortalidade. CRIVELLENTI e
PEREIRA (2019) citam que a utilização do cateter duplo-j facilita o processo de sutura do
ureter e diminui o risco de estenose. Muito embora existam todos os pontos positivos,
BEYSENS e TAILLY (2018) descrevem que esses dispositivos podem causar relevante
desconforto para os pacientes, afetando negativamente em sua qualidade de vida, sendo ainda
um corpo estranho suscetível à formação de biofilme, podendo levar a infecção do trato
urinário ou formação de crosta, o que complica a subsequente remoção do stent.
Por fim, após a remoção cirúrgica, todo cálculo deve ser submetido à análise
qualitativa em camadas, pois o conhecimento da composição mineral direciona para o
tratamento adequado e evita a recorrência (FOSSUM, 2015; LULICH et al., 2016;
CLÉROUX, 2018; CARDOSO, 2020).
31
3 RELATO DE CASO
O paciente foi admitido no internamento no dia 06 de abril de 2021 e teve alta no dia
14 de abril de 2021, nesse período houve diversas avaliações e cuidados com o paciente, uma
vez que seu quadro era considerado delicado em decorrência da obstrução ureteral e
consequente lesão renal que estava em curso. Exames complementares foram realizados para
acompanhar e monitorar a evolução do paciente (Anexo 2), sobretudo exames
ultrassonográficos para estadiar o grau de comprometimento renal e avaliar o grau de
obstrução ureteral através da mensuração das dilatações da pelve e ureter.
O protocolo terapêutico inicial foi instituído pela médica veterinária responsável pelo
atendimento clínico do paciente, que estipulou os seguintes fármacos: Prasozina (0,5mL/via
oral - VO/a cada doze horas – Alterado para 0,25mL/VO/a cada doze horas), Tramadol
(2mg/kg/intravenoso - IV ou subcutâneo - SC/a cada doze horas), Dipirona (25mg/kg/IV/ a
cada doze horas), Manitol (500mg/kg/IV/ a cada doze horas), Ondansetrona (0,5mg/kg/IV/ a
cada doze horas), Omeprazol (1/2 comprimido - cp/VO/ a cada vinte e quatro horas),
Amoxicilina triidratada com clavulanato de potássio (25mg/kg/SC/ a cada quarenta e oito
horas), Doxiciclina (1/2 cp/VO/ a cada doze horas) (Anexo 3). Recomendou-se ainda a
avaliação da pressão arterial a cada 4-6h, alimentação e água ad libitum.
32
acústico distal forte e limpo em região de pelve renal direita (1,32 cm), sendo a conclusão
diagnóstica de litíases em interior de vesícula urinária, nefropatia bilateral com pielectasia em
rim esquerdo e dilatação ureteral esquerda associada à microcálculos/sedimentos em porção
final de ureter esquerdo e presença de interface em pelve renal direita comumente associada à
mineralização focal/litíase.
Em decorrência dos resultados não satisfatórios, piora do quadro renal cursando com
hidronefrose e hidroureter, o que era esperado uma vez que a terapia conservadora não fosse
efetiva. Optou-se pela abordagem cirúrgica e implante do cateter duplo-j, uma decisão tomada
em conjunto com a equipe da clínica médica e cirúrgica, com o objetivo de preservar o rim
esquerdo do paciente ao promover a desobstrução e drenagem contínua através do cateter. O
procedimento ocorreu no dia 12 de abril de 2021 e não houve intercorrências.
33
Figura 12. Procedimento cirúrgico da ureterotomia e passagem do cateter duplo-j. A: Seta indicando o ureter
esquerdo e estrela indicando a bexiga. B: Seta indicando o ponto de obstrução do ureter esquerdo. C:
Dilatação do ureter esquerdo (seta) em decorrência da obstrução. D: Passagem do fio guia (seta espessa) do
cateter duplo-j (seta fina). E: Cateter duplo-j (seta espessa) e ureter (seta fina). F: Urólitos removidos do
ureter esquerdo.
34
Figura 103. Radiografia pós-operatória evidenciando o cateter duplo-j. A: Projeção latero-lateral esquerda. B:
Projeção ventrodorsal. Estrela: Rim esquerdo. Seta: ureter esquerdo. Ponta de Seta: Bexiga.
35
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
36
De acordo com FOSSUM (2015), em casos de animais com cálculos ureterais a
ureterotomia pode ser realizada, sendo necessário uma combinação de técnicas
microcirúrgicas e cuidados pós-operatórios intensivos para minimizar a morbidade, sendo
ainda recomendado a realização de incisões transversais no ureter para diminuir a tensão e
promover melhor cicatrização, além da utilização de fios de suturas absorvíveis, pois fios não
absorvíveis podem promover formação de cálculos e infecção. No procedimento cirúrgico
realizado a ureterotomia com incisão transversa, assim como a sutura com fio absorvível de
calibre mais fino em padrão interrompido simples, objetivando melhor recuperação.
37
alantoína, o produto final do metabolismo de purina mais solúvel, ou ainda por maior
absorção de ácido úrico pelos rins. Não há como afirmar o que levou o paciente a desenvolver
esse tipo de cálculo, sendo necessário uma investigação clínica mais aprofundada para
elucidar esse questionamento.
38
5 CONCLUSÃO
Os casos de obstrução do trato urinário em cães são uma realidade comum na rotina
do clínico veterinário, sendo necessário realizar o correto diagnóstico do quadro clínico de
cada paciente e estabelecer o protocolo terapêutico adequado.
Ao optar pela terapia medicamentosa nos quadros de obstrução ureteral e/ou renal, o
clínico deve observar de forma intensiva a evolução do paciente, uma vez que a interrupção
imediata é indicada nos casos de não evolução do quadro. A abordagem cirúrgica deve ser
levada em consideração e o planejamento cirúrgico uma etapa fundamental no sucesso do
procedimento.
39
6 REFERÊNCIAS
BATISTA, F.T. Técnicas cirúrgicas para desobstrução ureteral em cães e gatos. Gama, f.
19, 2019.
CARSODO, P.G. Nefrologia e Urologia. In: SOUZA, M.R. Clínica Médica de Pequenos
Animais. 1. ed. Salvador: Sanar, 2020. p. 155-251. ISBN: 978-65-87930-09-1.
FERRAZ, M. L. et al. Urolitíase em um cão da raça Pug. PUBVET, v. 14, p. 132, 2020.
FOSSUM, T. W. Cirurgia do Rim e do Ureter. In: Cirurgia de pequenos animais. 4. ed. Rio
de Janeiro: Elsevier Brasil, 2015. p. 705-734. ISNB: 978-85-352-6991-8
LULICH, J. P. et al. ACVIM small animal consensus recommendations on the treatment and
prevention of uroliths in dogs and cats. Journal of veterinary internal medicine, v. 30, n. 5,
p. 1564-1574, 2016.
40
MCLOUGHLIN, M.A.; BJORLING, D.E. Ureteres. In: SLATTER, D. Manual de cirurgia
de pequenos animais. 3. ed. São Paulo: Editora Monole, 2007. p. 1619-1628. ISNB: 978-85-
204-2272-4
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41
ANEXO 1. Equipamentos do Bloco Cirúrgico. A: Mesa cirúrgica. B: foco cirúrgico. C: Monitor
multiparamétrico. D: Bombas de infusão e infusão de seringa. E: Aparelho de anestesia com cilindro de
isoflurano. F: Negatoscópio. G: Mesa de instrumentais. H: Armário de sondas e ataduras. I: Armário de
fármacos e insumos. J: Janela comum ao internamento. K: Janela para passagem do material para lavagem e
autoclavagem. L: Kit cirúrgico.
42
ANEXO 2. Valores hematológicos e bioquímicos do paciente durante o internamento na UCI.
43
ANEXO 3. Protocolo terapêutico instituído para o paciente durante o internamento na UCI.
44
ANEXO 4. Resultado da análise quantitativa dos urólitos removidos do ureter durante o procedimento
cirúrgico.