Rafael Cardoso - Uma Introdução À História Do Design
Rafael Cardoso - Uma Introdução À História Do Design
3ª edição - 2008
1 ª reimpressão - 201O
Fotografi.a
GABRIEL DO pATROCfNIO
CDD-620.112
CDU-620.1 73-0505
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CAPITULO 1
Introdução
16 Hislória e design
20 A natureza do design
,.
CAPITULO 2
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CAPITULO 3
A -
,
CAPITULO 4-
Design, indústria e o consumidor moderno,
1850-1930
76 Design e reformismo social
86 Consumo e espetáculo
94 O império dos estilos
109 O advento da p1·odução em massa
,
CAPITULO 5
,,
CAPITULO 7
255 Bibliografia
,
265 Indice
A primeira edição deste livro foi escrita em 1999. Nos últimos oito anos, muita
coisa mudou no mundo e no design. Foi mais radical ainda a transformação do
campo de história do design no Brasil. É um prazer inequívoco constatar que, desde
o ano 2000, mais pesquisas foram realizadas e textos publicados nessa área do
que em muitasdécadas anteriores. Praticamente todas as informações das quais
dispomos hoje sobre o exercício do design no Brasil, devidamente codificadas,
resultaramde trabalhos relativamente recentes. No conjunto, isto representa nada
menos doque uma revolução na forma com que enxergamos o design brasileiro.
Aoredescobrirmos o passado, não resta dúvida de que estamos também a
reinventar o presente. Se os campos de estudo se transformam, o que dizer, então,
dos indivíduos que os compõem? Na vida do autor deste livro, mudou quase tudo,
passando por um amadurecimento natural como pesquisador. Por todas essas
razões, faz-se necessária a atualização de um trabalho que, embora tenha apenas oito
anos de existência, já virou coisa do século passado!
Esta terceira edição é quase um livro novo, pela quantidade de acréscimos e
pela qualidade das pesquisas que embasam as alterações feitas. Ao redimensionar
o índice remissivo (para citar um indicador quantificável), foram introduzidos nada
menos do que cem novos nomes e termos, antes inexistentes. A segunda edição
deste livro, de 2004, apresentou relativamente poucas modificações, apenas
agregando
os resultados de pesquisas novas, corrigindo erros e acrescentando alguns fatos
esquecidos na primeira. Tratou-se da resposta possível, naquele momento, mas não
foi o suficiente para manter o livro atualizado por muito tempo. Esta terceira edição,
agora, traz mudanças bem mais significativas, com vários novos trechos, tópicos,
imagens e a correção, tardia, de alguns erros que permaneciam desde a primeira.
Quem se der ao trabalho de compará-la com as edições anteriores, perceberá
rapidamente o quanto ela cresceu. Para os leitores que já possuem uma ou ambas as
edições anteriores, o autor pede desculpas por se ver obrigado a impingir-lhes mais
esta. Sinto informar que, sim, esta não é uma simples atualização, mas uma edição
que vem substituir as anteriores, tornando-as ultrapassadas.
Alguns leitores, ressabiados com essa notícia, podem estar ponderando
a sabedoria de investir novamente em um livro, cujo autor, pelo visto, é afeito a
revisões periódicas do seu trabalho. Para estes, a boa notícia é que, não, o autor
INTRODUÇAO
- .. ,,
A HISTORIA DO DESIGN
UMA
VIII
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CAPITULO
• •
n u rzat zzacao
• e
•
rza.,,
•
orl anzzacao znau
séculos 1 e1
Revoluções industriais
e industrialização
Primórdios da organização
industrial
Expansão da organização
industrial
ufiriais
que exercerall?-- sobre a sociedad , o qual só encontrava eco na ruptura radical com
- o passado efetuada pela Revolução Francesa. O termo se refere essencialmente
à criaçã9 de um ist ma e fabricação que produz em quantida es tão andes
-
•
- -
custo que vai diminuindo tão rapidamente que passa a não_de.peuder mais
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um
- demanda existente, mas gera o seu próprio mercado (HoBSBAWM, 1964: 50).
da
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Hoje em dia, praticamente todos vivem nesse sistema, em que_quase tudo o que se ,_
- onsome éproduzido porindústrias, e é justamente o longo processo de transição
global do sistema anterior para o atual que se entende por industrialização.
A primeira Revolução Industrial ocorreu na Inglaterra, com início por volta
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1
•
.
praticamente sozinhos a
erc ian tes passaram portanto a intermediar
comprae d d ' '
comprando todas as mercadorias
v Oen a e produtos nos quatro cantos do planeta,
pe 1 menor preço e vendendo-as pelo maior.
Gerou-se assim um ciclo emq t ·d h,.
_ . ' ue ec1 os, c as e louças comprados na
Chinae na Ind1a eram trocados por esc Af,. · d
ravos na rica, usa os para plantar algodão barato
nos Estados Unidos e no Brasil O qual er til' d 1 · d, · b · A •
como um si• stema que pass a g_ erar deman.da ve- z d-e-a-p-.,e.n_as suprir aqu-ela
em_
ex•isten- te-.S abe--se-, essa demanda crescente data de antes da Revolução
pore.,m, que
I n d u-stri•al d' ita. Houve um grande crescimento no a c_ú m.ulo de
propri•amente
ri•quez a, hqu1. d a ao
1 ongo d
os cem anos anteri ores e,_portanto._, um. a.cresc1mo
,-Eroduzia (HESKE'JT, l980: 12). Osucesso de Meissen foi tama o u França acabou
fundandoa sua própria manufatura real de louças, estabelecida 1nic1almente em
1738e transferida após alguns anos para Sevres, denominação sob qual atingiu
um êxito comercial enorme. Também em Portugal o século 18 testemunhoua
instalação
rt uras · tai·s quais a de lanifícios da Covilhã e a de louças do Rato.
de manura
• d ,, 1 r8 começaram a surgir na Europa também importantes
reais,
A partir o secu o •
· d ,, · d · · · · ·vada Estas tenderam a se organizar inicialmente em
1n ustr1as e 1n1c1at1va pr1 •
·~ h • forte tradição oficinal de produção com algum tipo de
regioes em que aVIa uma
,, . . A •d d d Lvon na França, por exemplo, tornou-se um centro
mater1a-pr1ma. c1 a e e 1
· . ld r b• ~ de sedas. A Catalunha também desenvolveu uma
1nternac1ona e 1a r1caçao •
• . , . ,,.. •J hegando a contar mais de 3.000 pequenas fábricas
importante 1ndustr1a text,1 e
- A . ,
HIST ORIA DO DESIGN
UMA JNTRODUÇAO
.
-- ) al gião de Staffordshire na
na decada de 1790 (PARRY, 1974: 381 • Igu mente na re
. . ~ d ,,,.., · bou por gerar um dos casos ma1•
Ing1aterra, a trad1c1onal produçao e ceram1cas aca s
· interessantes d e evo1uçao
~ · d ,,. ul
1n ustr1a· 1 d o sec o 18.• a r; rábrica dejosiah Wedgwood.
Quando Wedgwood iniciou as suas atividades manufatureiras na década de 1750,
as oficinas de cerâmica da região eram numerosas mas pequenas,empregando
em média cerca de vinte trabalhadores. Em menos de duas décadas,transformou
sua fábrica em uma indústria de porte internacional, com representações em
Londres e Dubline exportando para toda a Europa e para as Américas (ver
1
CRASKE, 999).
perceber que o sucesso da sua produção dependia ainda de outros fatores de or :_1::,
mercadológica. Ele inovou, por exemplo, com venda de louças por encomenda
_ a partir de livros contendo uma seleção de formas e de padrões.O comprador
conseguia compraro modelo exato de louça que desejava e, paraa fábrica,
haviaa vantagem de não ficar com estoque encalhado (FORTY, 1986: - ).
29 30
Wedgwood havia aberto a sua primeira fábrica em 1759, produzindo
essencialmente louças utilitárias que se conformavam ao gosto da época, sendo de
modo geral moldadas em forma de frutas e legumes com esmaltes coloridos, ou
brancas com cenas e motivos ornamentais pintados Aos po d ~ r ·
• ucos, sua pro uçao 10 1 1
salário de um artesão comum e a Flaxman era paga 1790, fabricado com a cerâmica
uma soma quatro vezes maior ainda. Wedgwood conhecida como jasper
elaborar o projeto garantia não somente que as peças mais avançados. O protótipo
_tivessem.·Umamaior aceitação comercial como tam - desse vaso levou quatro anos
- --
bém cen.tralizava o controle- sobre os aspectos mais para ser aperfeiçoado.
- -
Por último, crescia a divisão de tarefas com uma especialização cada vez maior
-
de funções, inclusive na separação entre as fases de planejamento e execução.
32 't Cabe destacar que as transformações desse período dependeram muito menos de
novas maquinarias do que se costuma imaginar. Deveram-se, antes de mais nada,
ª-2!1-udanças na organização do trabalho, da produção e da distribuição, ou seja,
mudanças de ordem mais social do que tecnológica. O declínio do poder
político das antigas guildas de artesãos (ou-, corporações de ofícios) foi um fator
imprescindível, pois a extrema divisão de tarefas característica do trabalho
industrial só foi possível devido ao desmantelamento sistemático das tradicionais
habilitações
_e privilégios que protegiam o artesão livre.
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Um dos aspectos J?-ais interessantes da transição da fabricação oficinal para
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aindustrial stá no uso rescente de projetos ou modelos como base para a
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a necessidade de empregar trabalhadores co um alto grau de capacitação técnica.
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UMA INTRODUÇAO A HISTORIA DO O:IIIOlt
Apartir dessas conquistas efetivas, se bem que limitadas na sua aplicação, a busca
da mecanização foi elevada a uma espécie de santo graal da evolução industrial
e a automação tornou -se uma questão de honra para os ideólogos do progresso
industrial. Na década de 1830, dois dos mais importantes desses pensadores
vieram sofisticar a análise de Adam Smith sobre divisão de trabalho. Segundo
Andrew Ure e Charles Babbage, a grande meta da produção industrial seria a de
retirar todo
o processo de execução das mãos do trabalhador e entregá-lo para as máquinas,
eliminando de vez o erro humano. Ambos acreditavam piamente que a automação
completa das fábricas estava prestes a chegar e a sua certeza acabou contagiando
outros pensadores influentes como Karl Marx (ver BERG, 1986: 189-197) .
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demonstrando as vantagens do •
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qualquer habilidade especial.
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9. "-\r..J' -
Industrialização e organii:.açãa industrial,séculos 18e 19
-
bem-sucedido podia gerar lucros imensos para o fabri - 35
cante, sem nenhum investimento adicio!)-al _qe mãq_:- - ---
--- ... -
de-obra. O custo de gerar ou adquirir o padrão era
único e as possibilidades de reprodução ilimitadas; não
por acaso, este foi um dos primeiros setores em que se
fez notável o emprego de designers. Porém, a facilidade
- -
de reprodução ecânica logo gerou um novo pro
blema para o fabric t :-a-pirataria. s Padrio/pro-
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jeto não fosse eXclusivo, a própria falta de intervenção
do elemento artesanal possibilitava a qualquer outro
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fabricante produzir imitações perfeitas, tirando par tido
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do design alheio. Esse problema, cedo reconhe cido, .
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levou a um esforço concentrado de reformulação das
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1830 e 1860 (ver FORTY, 1986: 58), esforço este que teria
Máquina para a impressão
repercussões em todo o mundo e continuaria a marcar
contínua de padrões
a evolução industrial ao longo dos séculos r9 e sobre papel ou tecido, de
. -- .. - - -\ um tipo
e outras cerâmicas.
.., A' HIST RIA DO DESION
l u MA
INTRODUÇAO O,
•
~ d segurança nacional. Nos
como medida anti-sindicalista, ora como quest ªº d ,, ul
e
. ulou ativamente, urante o sec o 19,
Estados Unidos, por exemplo, o gove1 no e iro st d E
. d O d fabricação de armas e ogo'
o desenvolvimento de um sistema mecaniza e .
. . ~ mbém investindo diretamente
não somente através de pedidos e aqu1s1çoes, mas ta . ,, .
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na produção. Seguindo os passos de diversas .,,.,ncias europeias, o inventor
experie
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americano Eli "Whitney propôs, no f1 o 1,g fabricar mosquetes com
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n se c O
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peças i nteiramente uniformes e portanto • A vantagem em termos de
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troca v
ab astec·1mento mi·li·tar era eV·I d ente, poi•s seri•a poss1,.vel utilizar as peças de uma arma
para consertar outra, sem de su b st1·t u1• arma inteira a cada revés. Seu
necess1'd a d e ra
sucesso foi apenas parcial, mas estimulou outros fabricantes a realizar pesquisas na
mesma área (HESKE·1·1·, 1980: 50-52; HOUNSHELL, 1984: 32-46). Emmeados do século 19, esse
tipo de fabricação já havia sido aperfeiçoada e o seu maior expoente era o americano
36 Samuel Colt, cujos famosos revólveres contribuíram decisivamente para a
bem-sucedida expansão territorial dos Estados Unidos na guerra contra o México
e às expensas da sua própria população indígena. Com o crescimento descomunal
dos exércitos nacionais no período napoleônico e ao longo do século 19, e a
necessidade concomitante de equipar esse contingente enorme de soldados, a
indústria de armamentos evoluiu com extraordinária rapidez, resultando em um
ritmo acelerado de desenvolvimento tecnológico (THAYER, 1970: 24-27; REID, 1984: 178;
fabricada no Arsenal de
tecnológico da época.
lndustrialii:.ação e organi açào industrial! séculos 18 e 19
minera.ção, a indústria da guerra deve ser considerada uma das matrizes históricas
do longo movimento em direção à mecanização de tarefas e desintegração da
individualidade como princípio organizador do trabalho (MuMFORD, 1952: 46-65).
A idéia de produzir equipamentos a partir de peças padronizadas e trocáveis
foi ganhando força e, graças à melhoria contínua das máquinas-ferramentas,
espalhou-se para outras indústrias, principalmente nos Estados Unidos.
Quando da época da Grande Exposição de 1851 em Londres, esse tipo de
produção era percebida como suficientemente diferente da norma européia para
merecer o epíteto de 'sistema americano' de manufaturas e para suscitar
inquéritos oficiais do governo britânico para estudar as suas vantagens
(ROSENBERG, 1969; HOUNSHELL,
-
a liderança mundial na produção industrial de equipamentos mecânicos, que
---- riayam desde cadeadós e relógio;·até máquinas agrícolas e de escrever (G1En10N, 37
-
1948: 47-71; SCHAEFER, 1970: 75-95; HESKE·1·1·, 19so: 50-67).As
-
razões da precocidade..
americana nessa área não são inteiramente claras, mas a maioria dos comentaristas,
tanto na época quanto posteriormente, atribuem-na em parte à relativa escassez
--
e,... p_or conseguinte, alto custo de mão-de-obra especial izada nasér a_s.
- .. -
O fabricante europeu, contando com uma grande reserva de trabalhadores ..
-qualificados, tinha menos i:1-cent o para investir na mecanização de _processos
'"'ofic :1:_1.ais (HoUNSHELL,
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Máquina de costura
dade,a mecanização dos processos industriais geral
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Thonet desde
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EDWARns, 1993: 19-32). As chamadas camas patentes tambémcoS umam ser citadas
como um exemplo da padronização e modernização do mobiliário em pleno
1995 31 33 4
século 19, inclusive no Brasil (ver GIEDION, 1948: 393-39 ; SANTOS, : - ). Trata-se
porém de um tipo de móvel de uso extremamente restrito,o qual se constitui
em caso de exceção antes do que de regra. De modo geral,a indústria mobiliária
conseguiu realizar aumentos significativos da sua produção sem recorrera
transformações drásticas em termos de mecanização. Mesmo no Brasil, ondea
fabricação de móveis era mais limitada, tem-se notícia na década de 1880 de pelo
menos uma fábrica produzindo em grande escala - a Moreira Carvalhoe Cia.,
no Ri0 de ( PIRES DE ALMEIDA, 1889: 74) - e novas pesquisas revelarão outros
J ane1• ro
exemplos, com toda certeza.
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Industrialização e organização industrial, séculos 18 e 19
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CAPITULO
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esz n comunzcacao
e
no novo .
.. cenarzo uroano,
seculo 1
Formação da comunicação
visual moderna
A imagem e a fotografia
O design na intimidade
O design na multidão
•
moderna
1NTRODU
- ' ,
A ffJST ORIA DO Dl:llGlf
UMA
ÇAO
sãodemeios tradicionais,
público leitor, possibilitando não somentea expan
. - d veículos impressos novos ou pouco
como livros e jo1·nais, mas também a cr1açao e .
b la em O catálogo e a reVIsta
explorados anteriormente, como o cartaz,a em ª g '
tª,, no uso da polpa de madeira para
. . . . ~ ,, .
ilustrada. A pr1me1ra dessas 1novaçoes • , .
tecn1caseS
·- d • ,, ulo 18 mas que so se generalizou
fabricar pap_ l, procedimento já emprega o no sec ' . ... _
---, - . ~ d ,, • s no processo de fabr1caç a1o 0
apos-a decada de 1840. Coma 11"1:troduçao e maquina.
. . - -.
- d · b ndante e barata, poss1b1l1tando
papel foi se tornando aos poucos uma merca oriaa u -
_, - , ,.., · pensável em função do alto
a produção de impressos por um preço ate entao 1
m
,, · O utros avanços d.1zem speito aos tipos utilizados para
· custo do ~pro pr 10 suporte.
1mpres sao de let1 as e aos processos re a sua composição em linhas
os para
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emprega
, · ·
ape1· 1e 1çoam o d a fu ndi·ça~o meca nica de tipos metálicos
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e pag ina 1nte1
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· ras.
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._ facilitoua produção de letras de aiores dimensões e variedade, além de propiciar
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48 1 a criação de fontes novas, como o Clarendon e os primeiros tipos sem serifa.
. . ,, .
Também foram introduzidas durante o século 19 a estereotipia e as maquinas
de composição, estas culminando no linotipo de Mergenthaler. Talveza mais
significativa dentre as novas tecnologias tenha sido a introdução da prensa cilíndrica
a vapor de Konig por volta de 1812, o grande marco nas pesquisas intensivas para
mecanizar o processo de impressão. Atransformação extraordinária efetuada na
capacidade de gerar impressos pode ser avaliada mais nitidamente ao se comparar
a cifra de 250 folhas/hora geradas pela prensa de ferro de Stanhope por volta
de 1800 como número de 4.200 folhas/hora que podiam ser impressas na
prensa de quatro cilindros construída para o jornal londrino The Times por
Applegarth
e Cowper em 1827 (cLAIR, 1976: 360-380; MEGGS, 1992: 132-131; CARnoso, 200s: 160-164) .
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-
(' A, ·('11 Folha de rosto de livro
..........
)
f <t ) publicado pela Tipografia
Nacional em 1863,
l I1 1 ;\l)AS l)E 1.:soro 1 IJE J., '\Ft):\T.\l l 1
demonstrando claramente as
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possibilidades franqueadas
século 19.
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rr).POGI{..\l>JIl_.\. N.-\.l:1ONA f. :i
Rua da <,uardn Velha,
1863.
.
re-
dator de jornais, Paula Brito dirigiuentre 1831e 186i
uma série de 'tipografias' (como sechamavam então as
editoras) no Rio de Janeiro, responsáveis pela publi
cação de importantes jornais e revistase também de
boa parte da literatura nacional da época (GONDIM, 1965:
Semana Ilustrada, revista ras, as quais passaram a circular entre nós desde 1844
dirigida por Henrique Fleuiss com..-- _Lan!ema Mágica, publicação dirigida pelo poeta
e publicada no seu Imperial e pintor Manuel de Araújo Porto-Alegre e ilustrada pelo
Instituto Artístico. também pintor Rafael Mendes de Carvalho (LIMA, 1963:
,
II, 723-730, 743-758; SODRE, 1966: 233; FERREIRA, 1976: 98, 214-
_,4a históX:i gr fi<:; n_a_cion --E mio chargista, Agostini elevou a um alto E cl:rão
-------
-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------·--
té J?.iCO e artísti<:_o _o design de_! vi!tas_entre n9s:- b,!f;do espaço para a atuação na
-
imp; -;_Sa d lal_:nt --'-como Pe ro Ainérico, Aurélio-de Figieil'eao e O caricalurist;
---- e..- ----- -- -
-P?!tu ês
-
Rafael B rialo.finhejrQ.(LIMA, 1963: 11, 780-8o4; SODRÉ, 1966: 22 49: 34-252;
COTRI M, 1983: 13-37; CAGNIN, 1996: 57-75).
....
' -.e:::- ,0. Ângelo Agostini, foi a mais
....,
\ C•Of'.TI:
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J...
PUBllCAOA POR
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foCGE.lO :\COSTINt
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representado.por um índio,
como de costume.
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52 Rótulo litográfico da Imperial Le Charivari e L'Illustration na França ou o Illustrated London
Fábrica de Chocolate a Vapor
- ordem
- tecn !§gica1 mas também em termos de cultura visu (cARnoso,-2005: Go-93),
-Uma das linguagens visuais que viriam a se-tornar característica do século2 O teve
também o seu início nesse período fértil de inovações.,Algumas revistas ilustradas
passarama veicular diversos tipos de histórias e irnagens, geralmente constiiuí d
- -
as
-
de uma seqüência de quadros com algum encadeamento visual, encimando um
- - pequ no text narrativo. (Essas histórias geralmente não fazem uso do balão para
contera fala, apesar desta já ser uma prática comum na caricatura desde século 18,
O
pelo menos.) Um dos primeiros exemplos de que se tem notícia são os trabalhos
do artista, escritore professor universitário Rodolphe Topffer, de Genebra,
0
qual publicou entre 1846e 1847 as aventuras de personagens, como 'Monsieur
O
--= Cryptogame'. Outros exemplos se seguiram no mundo inteiro ao longo.-da segunda
metade do século 19, incluindo "As aventuras de Nhô Quim", história em imagens
Designe comunicação no novo cenârio urbano, século 19
""
--:- com o texto inserido dentro do quadro desenhado, geralmente por intermédio
de balão, personagens recorrentes e um alto grau de figuração narrativa-só iria. ,Q.
aparecer Ilª década de 1890 nos Estados Unidos, como parte da guerra de circulação
entre os dois magnatas da imprensa nova-iorquinaJoseph Pulitzere William
- Randolph Hearst. Na busca constante de novidades que aumentassem as vendas,
o jornal New York World, de propriedade de Pulitzer, passou em 1893a publicar uma
'-- páginaa cores no seu suplemento dominical e, nesta página, estavam incluídas as
histórias ilustradas de Richard Outcault, futuro criador do quadrinho Buster Brown
(a partir de 1902).A popularidade das peripécias do Yellow Kid, principal personagem
de Outcault na época, acabou levando o seu autor parao jornal concorrente,
o New Yorkjournal, de propriedade de Hearst. Foi neste I Rótulo de rapé da marca Areia
53
jorn l que surgiu em 1897 a tira que marcariao início
Preta, de propriedade da
dqsc om ics m9dernos - os Katzen jammer Kids
- - ..... .. Meuron e Cia. Esta é a primeira
(publicadano marca registrada de que se tem
Brasil com o título_!}s S()br nhos do Capitã?), de Rudolph
conhecimento no Brasil, tendo
Dirks (couPERIE et alii, 1967: 19-21). Com o estrondo so
sido depositada na Junta
sucesso das deliciosas e maliciosas aventuras dos
Comercial da Corte por volta
'Katzies', a histór-i-a e m- -q_uadrinhos...
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encontrava um ..._
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... À a1sTÓ.llIA DO DESIGN
UMA INTRODUÇAO
MARzro, 1979: 3). Como explicar que, após um início tão promissor, a litografia
no Brasil
54 tenha passado tão rapidamente para uma fase de estagnação e mesmo declínio,
justamente em momento de grande aplicação comercial dessa técnica? Existem, sem
dúvida alguma, dados econômicos e políticos que ajudam a explicar esse contraste.
O governo dos Estados Unidos protegeu a indústria litográfica nacional durante
todo o século 19, impondo altas tarifas sobre a importação de litografias
estrangeiras, ao mesmo tempo que liberava de qualquer imposto a importação de
pedras litográficas, a mais importante matéria-prima (MARZIO, 1979: 90-91). Apolítica
alfandegária brasileira nesse mesmo período foi tudo menos sistemática, vacilando
entre tarifas mais protecionistas, como as de 1844 e 1879 e outras mais liberais
como as de 1857
e 1869. Fator mais decisivo ainda foi, sem dúvida, a expansão industrial generalizada
dos Estados Unidos, a qual correspondeu a um crescimento contínuo da prosperidade
que beneficiou, por tabela, cada indústria individual Quer •
i queza gera ri· queza
•
é evidente; porém, parece insuficiente explicar O sucesso da m• li togra'fº1ca
d,u,. stri·a
americana apenas como um reflexo do sucesso da ind, u
ri·a em ger al.
O caso da indústria litogrª-ficª é e_s.,Çlarecedor • t t
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2§
fatores que sao essenciais p_ara entender a h ·t -- · d .
inserçã
0 _is ?r1c ? design. Examinando-
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se apenas os dados citados acima, e possível at ·b · f
. ,. . . . ,. ri uir um racasso à indústria
l1tograf1ca brasileira; porem, tal conclusão se · "'
~ . ria erronea e historicista ao extremo.
Pelos padroes da sociedade da época a exp ~ d l
. ' ansao ª itografia no Brasil é um caso de
retumbante sucesso e a qualidade das produ õesd f· . .
Heaton ç
& Rensburg, S.A. Sisson Casa L · e irmas, como Ludwig & Br1ggs,
a importância assumida po aer t· & e· t
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Vcel a ( LIMA, 1963: II, 731-738· FERREIRA
h egun
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°Reinado e na República
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1g e comu11icoçào 110 novo cenário urbano, século 191
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expa sãoda litografiae de toda a ind':1stria gráfica na época era limitado pel
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típico das iniciativas políticas, educacionais e comer Rótulo de cigarros datando
ciais daquele país durante todo o período em questão do último quartel do século 19
(MARZIO, 1979: 2-s). Tratando-se, por outro lado, de e impresso na Litografia
impressos voltados não para uma leitura verbal com Pereira Braga (RJ).
- A conjugação sucinta da
imagem da locomotiva com
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plexa, mas ra a id enti
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- fica-- çã o -sistemática
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- de .... ---
uma iden-
tidade
- visual - como é o caso dos rótulos comerciais e
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das marcas registradas - obteve-se no Brasil um desen- as palavras 'progresso'
- volver nesse âmbito uma linguagem própria, tanto em tipográficos típicos da época,
que vem sendo alvo de pesquisas ais aprofundadas um nível de discurso visual
bastante sofisticado.
(ver REZENDE, 2003; CAR;OSO, 2005: 20-59). •
UMA INTRODUÇAO ' ,
A HISTOJllA DO DllltOM
a propagação internacional de
possibilidades técnicas da
56
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DE 60 :MUSICIENS
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._O impacto dafotografia sobre o design gráfico não foi imediato. Ao contrário do
que muito se repete com base em suposições no míci o du dosãi, a nova invenção
não represent_()u nenhuma meaça direta aos processos então empregados para a
produção e veiculação comercialcde imagens i.:Upressas e nem, diga-se de
passagem,
' àsºtécnicas convencionais de representação gráfica pelo des cli , pela gravura e pela
pintura. Na verdade, a fotografia permaneceu durante muitos anos uma curiosidade
- t c 'c;lógica e um privilégio exclusivo de poucos usuários. Além de ser relativamente
demorada, difícil e cara, a daguerreotipia produzia imagens únicas, não passíveis de
reprodução. Somente na década de 1860, após a difusão do processo de colódio para
gerar negativos sobre vidro, a fotografia começou a ficar mais acessível em termos de
custos, propiciando a grande voga dos retratos em formato de carte de visite, bem como
59
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Carte de visite datando de 1895.
•
Na segunda metade do século
19, tornou-se comum.ofertar
o próprio retrato aos amigos,
como lembrança.
•
•
••
•
•
•
CROWLEY, 1996: 21-28, 112-113; CARDOSO, 2005: 60-93). Ainda assim, valea pena ressaltar que
se tratava geralmente da impressão de fotografias em preto e branco. Até cerca de
três
60
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ou da pintura (MEGGs, 1992: 149-1so; JOBLING & CROWLEY, 1996: 26-2 7 ) . Nestes e em- diversos
outros sentidos, pode-se dizer que a segunda metade do século 19 ma co -o iníclo -
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de uma nova etapa na valoriza_ção cultural, ocial e econômica das imagens. Nunca
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em d pro
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industrial de obietos ut1·11·ta'r1·os e tal "d " · ' ·
_ J m me , vi 1·0 e ceram1ca; paI·a moveis, tapetes
e papéis de pa1'ed, e· para tec1"d os e roupas; para 11· vros e outros ·impressos; e para-
1
•
-
glória. Com a contínua ascensão da classe média, esse gosto pela ostentação e pelo
• •
luxo foi aos poucos se difundindo para esta camada social. Os grandes burgueses,
enriquecidos pelo comércio e pela indústria, construíam também os seus
palacetes e suas mansões, afirmando sua pretensão de igualar-! à~an ga :1- b_:e.El.
O desejo de ostentação à vezes exagerado da nova elite e os conflitos gerados
como conseqüência deram início a uma vigilância redobrada sobre as distinções
sociais através de conceitos como o de nouveau riche, termo cunhado para descrever
0 novo rico que possuía dinheiro, masnão necessariamente bom gosto. No tempo
em que as divisões hierárquicas haviam sido claras, não existia tanta necessidade
de policiar os limites entre uma classe e outra, masa relativização dessa separação
s. O
uma
f1,. n1ss·1ma perspectr·va liºterária sobre a instabilidade das relações sociais de elite
HIST DO DESIGN
A RIA
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' O
UMA JN'fRODUÇÃO
. d
_ stabeleciam. O anonimato a metropo e
concentrações urbanas que entao see .
vizinho de rua ou o passageiro ao lado no
0
trazia a ameaça de não se saber quem era
,,veis do vizinho ou da roupa do companheiro
bonde. Nesse contexto, o aspecto dos mo
• d . . • ta"'ncia em termos de identificação. O exterior da casa
d e viagem a qurr1a nova impor
· •
64 e da pessoa passa a ser v isto a vez mai s século 19 como uma expressão do seu
d no
ca
sentido interior, passível de apreciação e de interpretação. Gera-se um jogo duplo
de ostentar e ocultar, em que cada indivíduo tenta atingir um equilíbrio ideal entre
o que quer mostrar e o que quer esconder dos olhares atentos da multidão.
Conforme
analisa Sennett, essa relação dialética entre interior e exterior se reflete nas
distinções
....
estabelecidas entre espaço público e espaço privado. A medida que vão sendo minadas
a estabilidade e a segurança dos espaços públicos da rua e do trabalho, as pessoas
se voltam para a busca de uma expressão privada da personalidade pelo cultivo de
hábitos de consumo pessoais e domésticos. A manifestação antológica dessa dualidade
entre severidade externa e brandura interna encontra -se no descompasso, muitas
vezes desconcertante, entre as fachadas sóbrias das casas burguesasd e
osd o
mead
séc o 19e a opulência dos seus interiores, fenômeno perceptível principalmente na
Gra-Bretanha e nos Estados Unidos ·á ·
. , J que a arquitetura dos países latinos tendeu
em d1reçao a uma pomposidade maior tam,b r h
, . . em nas iac adas. De modo quase global,
porem, o mter1or doméstico passa a ser ,. ul
no sec o 19 como uma expressão da
vist0 .
personalidade dos donos da casa ee ·a1mente da dona vi
spec1
mulheres ao espaço 'bli '. d as
pu co continuava a ser muit , sto que o acesso
de classe média, proibidad t b 1h reS r 1.
O t to. Para a dona de casa
tempo prisão e e ra a ar tora, a Vd•I o 5,. t1.
refúgi o e ca tornava-se ao mesmo
, úni· al alad,
co can e md . .
vazão às suas energias criativas ª igreJae das obras de caridade para dar
, comumente atra ,. d
O aspecto do interior burguêsd . ves a decoração.
., . a era vitoriana fi01.
1numeras pinturas de gênero perpetuado através das
.. que o retratam no
,
tapetes, almofadas, papéis de ared seu acumulo de móveis estofados,
p e, quadros d
' ecoraçoes e bibelôs. Ele suscita
Design e comunícaçüo no novo cenârro
urbano, sicu/o 19 1
rap1·d ez e ef1· c1""e" nc1· a, q uem e"'(ou quem pretende ser) essa pessoa. Uns vestem-se
para
parecer o que na~ o sa~ outros manipulam códigos sutis para demonstrar que
o;
uMA 1NTRoouÇAO
- '
A a1sTORIA
,
DO DJ!S
ION
tex
Nesse con • to detalhes, como a largu
' ra
pe.r·tence1n mesmo a inado grupo- •d d
d eterm 1 · dade de um teci o' po em
• 1 1 de uma bainha oua qua i , , m t
de t1111a lape a, a a tura dd. Não e a toa que u au or corno
. d. •ficação preten i a. .
confirmar ou trair uma i enti . do século 19, era capaz de dedicar
d cronista de Paris
Hono1'é de Balzac, o grane . d personagem - Com a pro ssão
parágrafos inteiros à . ~ f· r1no e um -- -
O
d igu . . copiar a aparência do vestuário
descriçao
~ disfarce a ma1or1a passaa ..
desse jogo de. ll; laça e .•·. '. r sua vez, passam a viver numa
- d . ue ditam a moda. Estes, po
de quem a mir _ o qs "' ---= ~ anterem sempre um pass
- -- - . E maçao para se m
o busca constante de novidade e trans or ' ul
·1 d d
da metade do séc o 19, os c1c os e mo a
adiante do rebanho. Durante a segun
.d d ·t O alto em capitais como Londres e Paris.
atingiram um grau de complexi a e mui '
. .
Um d O eríodo é a moda que levou o homen s
dos fenômenos mais interessantes P ..." "
r- .
a se tra1arem pred om1nantemen
• et d e preto, em quase todas as ocasiões, durante
66 1------década (ver RVEY, 1994). Umdosmotivos por trás dessa ho--mogeneização ---...
•
< 1 nte
crom,at1• ca era, provave me , de tornar ainda mais difícil a leitura dasaparências
O