Promoção Da Saúde e Difusão de Conhecimento: Ditos e Escritos Dos Favelados Universitários
Promoção Da Saúde e Difusão de Conhecimento: Ditos e Escritos Dos Favelados Universitários
P965
Livro em PDF
ISBN 978-65-5939-548-4
DOI 10.31560/pimentacultural/2024.95484
CDD: 613.370
PIMENTA CULTURAL
São Paulo • SP
+55 (11) 96766 2200
[email protected]
www.pimentacultural.com 2 0 2 4
CONSELHO EDITORIAL CIENTÍFICO
Doutores e Doutoras
CAPÍTULO 1
Michelle Oliveira
Danielle Cerri
O encontro entre EJA e favela
na luta contra violência.......................................................................... 16
CAPÍTULO 2
Natã Neves do Nascimento
Poetry Slam e a poesia das ruas:
o protagonismo da favela na competição.............................................................. 27
CAPÍTULO 3
Karina Ribeiro Soares Reis
A importância do ensino afrocentrado
em pré-vestibulares sociais
para moradores periféricos...................................................................42
CAPÍTULO 4
Rosilandia da Cruz Eduardo
Capoeira e universidade:
acesso e formação.............................................................................................53
CAPÍTULO 5
Rosilaine Souza de Araújo da Silva
Ê! Ê! Ê! Ê! Camará! Uma análise sobre
a história e as transformações espaciais
no bairro de Senador Camará – Zona Oeste
da cidade do Rio de Janeiro..................................................................60
CAPÍTULO 6
Yanka Martins Pereira
Favelas cariocas
e a vivência do favelado:
o acesso ao ensino superior, ultrapassando muros e barreiras................................. 73
CAPÍTULO 7
Francisco Overlande Manço de Souza
Humberto Salustriano da Silva
Aryanne Paiva da Felicidade
Pedagogias críticas e insurgentes:
articulação entre educação popular, escola pública
e a “defesa” de uma dimensão ampliada de educação............................................84
CAPÍTULO 8
Rodrigo Silva Magalhães
Uma “nova” maré no ensino de história:
o local como território de (re)afirmação da cidadania,
memórias, identidades e sujeitos históricos...........................................................96
CAPÍTULO 9
Ana Carolina Lydia
Alycia Beatriz da Silva Rangel
Ana Luisa Santana Santos
Isabel Maciel dos Santos
Julia das Núpcias Moura
Júlia Oliveira de Mendonça
Voz a elas...................................................................................................116
CAPÍTULO 10
Mayana Ribeiro Montenario
Allayne Ellen Pantaleão Plácido Cílio
“De que cor eram os olhos de minha amiga?”
Afeto e permanência na universidade............................................. 127
CAPÍTULO 11
Lidiane Santos Barbosa
Pammella Casimiro de Souza
Camila Reis Tomaz
Escutas nas frestas:
sobre esforços pela conservação
de naturezas faveladas em uma pós-graduação................................................... 138
CAPÍTULO 12
Silvânia Cerqueira
Gifs de resistores.................................................................................... 155
CAPÍTULO 13
Wudson Guilherme de Oliveira
O aquilombamento
dos povos bantu no ensino de filosofia:
perspectivas no ensino de filosofia
e as suas transversalidades no “chão da escola”.................................................. 166
CAPÍTULO 14
Isadora da Silva Barbosa
Sabrina Dal Ongaro Savegnago
Espaços de desenvolvimento infantil
e a relação com a saúde mental
de crianças no Complexo da Maré:
o olhar de educadoras.......................................................................................191
CAPÍTULO 15
Julia Maria Dias Moreira Vaz
Maria Clara Miranda Mello
Ana Carolina Lydia Ferreira da Silva
Sujeitos da nossa história................................................................... 202
SUMÁRIO 12
que apoiam os jovens destes territórios na disputa por uma vaga na
Universidade Pública. Também foram denunciadas práticas racistas,
colonizadoras e sexistas, que culminam em diversos processos de
apagamento e silenciamento dos favelados e periféricos.
SUMÁRIO 13
conhecimento: juventude, favela, promoção da saúde e educação
superior, e em específico, na segunda edição, aporte de recursos pelo
projeto vencedor do Edital FAPERJ Nº 14/2021 – Programa de Apoio
à Organização de Eventos Científicos, Tecnológicos e de Inovação.
SUMÁRIO 14
Considerando os limites textuais (tamanho do livro) e a
necessidade de manter coerência com os princípios das Jornadas
Científicas, a Comissão Organizadora instituiu uma rede de avaliado-
res parceiros, muitos já presentes na Comissão Científica do Evento.
A seleção considerou o caráter multidisciplinar dos manuscritos e os
diferentes níveis de formação dos autores.
Boa leitura.
REFERÊNCIAS
FFU. Edital II Jornada Científica Favelades Universitáries (https://www.even3.com.
br/favela_universidadeii). Rio de Janeiro: Fórum Favela Universidade, 2022.
SUMÁRIO 15
1
Michelle Oliveira
Danielle Cerri
O ENCONTRO ENTRE
EJA E FAVELA NA LUTA
CONTRA VIOLÊNCIA
DOI: 10.31560/pimentacultural/2024.95484.1
Em sala de aula, tentávamos nos concentrar, mas era
impossível. A atitude dos profissionais da escola foi ime-
diatamente buscar um lugar mais seguro. Meia hora
depois: tiros, bombas e clarões. Alguns se escondiam
por de trás das pilastras, outros, deitavam no chão. Uma
estudante parecia passar mal enquanto a outra chorava
de nervoso. Uma estudante de 55 anos, que já havia per-
dido seu neto assassinado em confronto armado, dizia:
Não podemos viver assim! É preciso fazer alguma coisa!
(Depoimento de uma estudante de EJA e moradora da
favela de Manguinhos/RJ).
SUMÁRIO 17
Os confrontos armados, nos territórios de favela, têm cau-
sado interrupções de aulas, adoecimento de estudantes e profissio-
nais da educação, assim como, violado o direito de ir e vir dos mora-
dores e seu acesso aos serviços públicos (ir para o trabalho, ir para
o posto de saúde, ir à escola). Infelizmente, temos vivido situações
em que, a violência tem servido de justificativa para reiterar práticas
arbitrárias de fechamento de EJAs, ao invés da construção de pro-
postas de enfrentamentos e alternativas pensadas em conjunto com
a comunidade local.
SUMÁRIO 18
com uma organização de base local de favela (Rede CCAP1). Esta
proposta de educação surge em 2004, como demanda de mora-
dores e trabalhadores organizados, por uma educação formal que
possibilitasse a ampliação de escolaridade do território aliada a uma
perspectiva crítica, popular e territorializada. Ou seja, uma educa-
ção que fomentasse a participação popular dos estudantes e pro-
fessores, bem como a construção de conhecimentos comprometi-
dos com a garantia de direitos deste território. Falaremos, a seguir,
de uma experiência política e pedagógica desenvolvida pela EJA-
Manguinhos com coletivos de favela na luta contra a violência.
1 A sigla CCAP designava-se até o final dos anos 90 como Centro de Cooperação e Atividades Po-
pulares. Rede CCAP é uma organização de base que atua no território de Manguinhos desde 1986,
atuando, inicialmente, com a comercialização de produtos orgânicos na favela na perspectiva da
segurança alimentar e ampliando, posteriormente, para trabalhos voltados para Educação, Cultura
e Direitos Humanos.
SUMÁRIO 19
comunitários, agentes culturais e instituições. Mesmo com a insegu-
rança de sair de suas casas para estar na assembleia, a forte partici-
pação comunitária revelou o quanto a questão era emergente.
MARCO TEÓRICO
As bases teóricas, que estruturam a experiência apresentada,
demarcam as seguintes questões: “Qual a concepção de educação
de jovens e adultos expressa nesta prática pedagógica?”, “Qual é
o olhar da EJA-Manguinhos sobre a favela?”, “Que tipo de relação
se constrói entre o espaço formal de educação e o território em
que ela está inserida?”. A este respeito, dialogaremos com o con-
ceito de educação popular (Brandão, 2006), o conceito efeito-favela
SUMÁRIO 20
(Burgos, 2009), assim como, a relação entre educação e território
expressa por Streck (2013).
SUMÁRIO 21
Assumir uma educação territorializada implica, portanto,
conhecer, refletir e dialogar com este território, no sentido
de perceber seus desafios e potencialidades, bem como
os “cabos de forças”, poderes socioeconômicos existentes.
Assim, torna-se necessário um posicionamento crítico no
que diz respeito a que territorialidade queremos disputar ou
reforçar neste local, isto é, a que educação queremos cons-
truir: o da perpetuação das iniquidades ou a de um territó-
rio saudável, participativo e de direitos (EPSJV, 2012, p. 6).
SUMÁRIO 22
Outras formas de apropriação da favela, como a experi-
mentada na EJA-Manguinhos, podem produzir novas visões sobre
o lugar. Uma delas é estabelecer diálogos com as potencialidades
do território, como por exemplo, com os movimentos de resistências
que ali são produzidos. O efeito-favela originalmente pensado como
a imagem negativa do espaço da favela, passa a ganhar outros sig-
nificados. Nesta perspectiva a educação territorializada favorece a
produção de novas representações sobre a favela e da reflexão do
seu papel frente a estas realidades.
SUMÁRIO 23
Organizamos as análises em dois momentos: (1) a contribuição desta
experiência na formação dos estudantes; e (2) o fortalecimento de
uma educação popular de jovens e adultos.
SUMÁRIO 24
REFERÊNCIAS
ARROYO, Miguel González. Educação de Jovens e Adultos: um campo de direitos e
de responsabilidade pública. In: GIOVANETTI, Maria Amélia; GOMES, Nilma Lino (org.).
Diálogos na Educação de Jovens e Adultos. Belo Horizonte: Autêntica, 2013. p. 19-50.
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é Educação Popular. São Paulo: Brasiliense, 2006.
BURGOS, Marcelo Baumann. Escola e Projetos Sociais: uma análise do ‘efeito-favela’. In:
PAIVA, Angela Randolpho; BURGOS, Marcelo Baumann (org.). A Escola e A Favela. Rio de
Janeiro: PUC-Rio, Pallas, 2009. p. 59-131.
EPSJV. Plano de Curso - EJA Manguinhos (Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio.
Rio de Janeiro, 2012.
SUMÁRIO 25
MEJÍA, Marco Raúl; AWAD, Myriam Inés. Educación popular hoy. En tiempos de
globalización. Bobotá: Ediciones Aurora, 2004.
STOTZ, Eduardo Navarro. Participação Social. In: PEREIRA, Isabel Brasil; LIMA, Julio César
França (org.). Dicionário da Educação Profissional em Saúde. Rio de Janeiro: EPSJV,
2009. p. 293-298.
SUMÁRIO 26
2
Natã Neves do Nascimento
POETRY SLAM
E A POESIA DAS RUAS:
O PROTAGONISMO DA FAVELA
NA COMPETIÇÃO
DOI: 10.31560/pimentacultural/2024.95484.2
Criado na década de 1980 em Chicago nos Estados Unidos,
o Poetry Slam surgiu com uma proposta de união entre a poesia
falada e a performance. O idealizador desse evento poético foi Marc
Kelly Smith, um trabalhador da construção civil e poeta, que conse-
guiu transformar esse evento em um grande movimento cultural que
desde então, tem alcançado muitas pessoas. Smith, nasceu em 1949
e trabalhou por mais de uma década na construção civil. Além do
trabalho, ele também escrevia e lia poesias, versos de Walt Whitman,
Wallace Stevens e Robert Frost, autores que ele admirava.
2 Do original: “At the beginning, this was really a grass-roots thing about people who were writing
poetry for years and years and years and had no audience”.
SUMÁRIO 28
A programação dessas noites consistia em um conjunto ini-
cial de microfone aberto, onde qualquer um da plateia poderia subir
ao palco e recitar, seguido de uma performance de um artista con-
vidado e, então, a competição entre os poetas. E tratando de uma
competição, o prêmio daquele que vencesse a batalha de poesias da
noite era o valor de cinco dólares ou uma barra de chocolate.
3 Do original: “Slam poets’ frustration over the academic monopoly on poetry readings and the atten-
ding highbrow airs of these events helped fuel a rowdy, countercultural atmosphere at slams, one
that persists at many venues today”.
SUMÁRIO 29
ambas as culturas são vistas como reinos daquele vago e
ameaçador opressor, ‘o homem’ (Somers-Willett, 2009, p.
40, tradução nossa4).
4 Do original: “In this sense, popular verse is marginal, that is, it exists outside the dominant center of
poetry’s production, criticism, and reception, which is often located within academic culture. Popu-
lar verse in performance also engages in a larger tension with dominant culture, one often located
in or embodied by the American white middle class. Its artists are bohemian, vagabond, militant,
or otherwise countercultural. In many respects, popular verse’s dual tensions with dominant and
academic culture are inseparable, for popular poets often portray them as one and the same. Put
in reductive but utterly familiar terms, both cultures are seen as realms of that vague and ominous
oppressor, ‘the man’”.
SUMÁRIO 30
A potência do público em ser protagonista em ato estará
condicionada apenas ao desejo de protagonizar. Ou seja,
o encontro dos saraus provoca esse desejo explicitado
pelos momentos de partilha. É a experiência de partilha
que nos leva a crer que, ao ver alguém recitando, exer-
cendo sua potência como protagonista, por meio de sua
voz poética, ela implementa mais uma etapa da conquista
dos desejos alheios, porque, em princípio, esse alguém
partilha sua voz num espaço em que todos(as) têm a
liberdade para tal (Coelho, 2017, p. 91).
SUMÁRIO 31
Como qualquer outro campeonato o slam possui regras, e
apesar de acontecerem diferentes competições pelo país as regras
na grande maioria deles são as mesmas e por isso, considero algumas
das práticas dessas regras ritualizadas durante as batalhas de poesia.
SUMÁRIO 32
Os poemas podem ser de qualquer assunto ou tema e em
qualquer estilo. Porém, é importante que cada poeta apresente poe-
mas originais de sua autoria e as apresentações não devem ultrapas-
sar três minutos de duração. Cada participante tem direito a alguns
segundos para adaptar o microfone e o palco, o tempo começa a ser
contado a partir do momento em que o poeta se dirige ao público,
depois dos três minutos, penalidades de tempo serão aplicadas de
acordo com os segundos além dos 3 minutos de apresentação. O
anúncio das penalidades, são feitos pelo apresentador depois que os
juízes tiverem atribuído às notas da apresentação do poeta.
SUMÁRIO 33
aquele evento e tentar garantir uma vaga para concorrer no cam-
peonato estadual, a moradores de outros bairros e da zona sul que
cruzavam a linha dois do metrô para subir a Laje no Complexo do
Alemão e apreciar poesia e turistas de diversas nacionalidades.
SUMÁRIO 34
PROTAGONISMO PERIFÉRICO:
NARRATIVAS DE DOR E ESPERANÇA
Há uma necessidade no ser humano de contar seus proble-
mas, compartilhar seus anseios e ter sua voz ouvida. Embora cada
indivíduo tenha capacidade de se expressar através de sua voz, essa
voz poderá ser ouvida ou não a partir de relações sociais e de poder.
No entanto, as experiências que muitos dos poetas trazem em seus
textos na competição de slam, é de repressão, silenciamento e pre-
conceito, com destaque para as falas de poetas negros e negras,
LGBTQIAPN+5 e sobretudo de origem periférica.
5 LGBTQIAPN+ é uma sigla que abrange pessoas que são Lésbicas, Gays, Bi, Trans, Queer/Questio-
nando, Intersexo, Assexuais/Arromânticas/Agênero, Pan/Pôli, Não-binárias e mais.
SUMÁRIO 35
Segundo o sociólogo Manuel Castells, identidade é aquilo
que é “fonte de significado e experiência de um povo” (2001, p. 22).
Nesse caso podemos considerar o slam como um lugar onde as múl-
tiplas identidades se encontram, as pessoas se reúnem para com-
partilhar suas vivências por meio de palavras, ideias e poemas. Ele
se torna um lugar de acolhimento para quem frequenta, as mulheres
podem falar, os gays, independentemente de raça, religião, gênero,
no slam a pessoa será ouvida, pois não há impedimento para aqueles
que desejam abrir seus corações e trazer suas inquietações. Apesar
de possuir tal abertura, as poesias que se destacam são as que falam
sobre as vivências dos poetas negros e periféricos na cidade.
SUMÁRIO 36
Do lado de cá
somos a maioria,
tratados como minoria,
pela supremacia que quer nos matar
Do lado de lá
somos vitimistas,
que quer estar na mídia
e protesta por uma vida,
que de nada valia pro lado de lá
SUMÁRIO 37
A narrativa da poeta, apresenta a perspectiva da vítima, de
quem não pode sequer protestar pela perda de uma vida que muitas
vezes não tem valor algum para o Estado. O Estado tem seus agen-
tes treinados nas ruas, seguindo e reproduzindo práticas que não
estão marcadas em nenhum manual, práticas de violência não ins-
titucionalizadas. Podemos perceber a relação desses sujeitos com a
memória, como são muito fortes esses ensinamentos e aprendiza-
dos que se tornaram conteúdos para as suas poesias. Esses jovens
de fato vivenciam suas experiências e as compartilham dentro dos
slams. Eles se tornam os protagonistas de suas narrativas.
A experiência que passa de pessoa a pessoa é a fonte a
que recorrem todos os narradores. E, entre as narrativas
escritas, as melhores são as que menos se distinguem
das histórias orais contadas pelos inúmeros narradores
anônimos (Benjamin, 1983, p. 198).
SUMÁRIO 38
No Brasil, esse perfil de poeta periférico tem se destacado
entre os poetas mais jovens, como o exemplo das poetas Sabrina
Martina e Sabrina Azevedo, moradoras do Complexo do Alemão e
da Cidade de Deus. Como visto anteriormente nos versos de Sabina
Azevedo, Sabrina Martina também compartilha relatos de sua vivên-
cia enquanto moradora de favela. Como relata no trecho abaixo:
SUMÁRIO 39
Podemos destacar as experiências de vida para pensar o que
é competir no slam. Esse espaço que jovens, em sua maioria de ori-
gem periférica, falam sobre seus medos, suas inseguranças e outros
temas que eles não se sentem confortáveis em falar fora dali.
SUMÁRIO 40
REFERÊNCIAS
ASSIS, Lidiane Viana. Poetry Slam na escola: Embate de vozes entre tradição e
resistência. 2018. Dissertação (Mestrado em Letras) – Faculdade de Ciências e Letras.
Universidade Estadual Paulista (UNESP). São Paulo, 2018.
BENJAMIN, Walter. O narrador. In: BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política.
São Paulo: Abril, 1983.
D’ALVA, Roberta Estrela. Um microfone na mão e uma ideia na cabeça – O poetry slam
entra em cena. Synergies Brésil, n. 9, p. 119-126, 2011. Disponível em: http://gerflint.fr/
Base/Bresil9/estrela.pdf. Acesso em: 20 jan. 2023.
ROHTER, Larry. Is Slam in Danger of Going Soft? The New York Times. 2 jun. 2009.
Entrevistado: Marc Kelly Smith. Disponível em: https://www.nytimes.com/2009/06/03/
books/03slam.html. Acesso em: 20 jan. 2023.
SOMERS-WILLETT, Susan B. A. The Cultural Politics of Slam Poetry: race, identity and
the performance of popular verse in America. Michigan: Ed. The University of Michigan
Press, 2009.
SPIVAK, Gayatri. Pode o subalterno falar? Belo Horizonte: UFMG, 2010.
SUMÁRIO 41
3
Karina Ribeiro Soares Reis
A IMPORTÂNCIA DO ENSINO
AFROCENTRADO EM
PRÉ-VESTIBULARES SOCIAIS
PARA MORADORES PERIFÉRICOS
DOI: 10.31560/pimentacultural/2024.95484.3
O presente trabalho dialoga sobre a necessidade do ensino
afrocentrado, nos pré-vestibulares sociais para moradores de peri-
feria, em sua maioria pretos e pardos. Com finalidade, para além,
do ensino classificatório em processos seletivos, preparando o edu-
cando a partir da história e cultura de seu grupo social, para que
este chegue ao ensino superior empoderado. A metodologia é apli-
cada nas aulas de geografia de forma transversal junto ao conteúdo
programático. Mediamos o estudo e discussão de leis de reparação
social, conteúdo afro-brasileiro, desenvolvimento do pensamento
crítico diante de assuntos atuais e a educação antirracista. Ao final
do curso preparatório, a maioria dos estudantes demonstrou enga-
jamento na temática, amplo preparo para ingressar na universidade,
determinação e grande aprendizado sobre a temática proposta.
SUMÁRIO 43
Com a finalidade de diminuir o privilégio da classe dominante nas
universidades e resistir reescrevendo a história do negro na acade-
mia. Para tal, desenvolvemos na turma do ano de 2023 do pré-vesti-
bular social Norma Brito na cidade de Campos dos Goytacazes (RJ),
o projeto de ensino afrocentrado que trabalha concomitante à maté-
ria de Geografia as leis, cultura e história afro-brasileira.
A PERSPECTIVA DO ENSINO
AFROCENTRADO
O método empregado pode ser classificado como afrocen-
trado porque em todas as aulas, de maneira transversal aos conteú-
dos de Geografia, trabalhamos temas ligados à cultura, leis e história
afro-brasileira. Esse formato foi desenvolvido porque observamos que
o público do curso preparatório, que é de maioria negra e periférica,
não detém informações importantes para ingressar nas instituições
públicas brasileiras. A maioria dos indivíduos não entendem a
importância de se autodeclarar de modo coerente e utilizar a política
de cotas que é fruto da Lei 12.711/2012 (Martins; Ribeiro, 2017) por
SUMÁRIO 44
falta de informação. Muitos chegam aos pré-vestibulares e ao ensino
superior sem ter consciência de seus direitos enquanto cidadãos e
não compreendem a história de seu grupo social.
SUMÁRIO 45
associação e memorização de questões de provas objetivas para a
classificação do estudante. O mediador carece observar uma ques-
tão muito importante e fundamental para que o discente futuramente
progrida em seus estudos, o pensar com criticidade, o “treino” e foco
do curso que carrega em sua nomenclatura o termo “social” deve
estar voltado para esta função diferenciando-se do ensino con-
vencional e de mercado.
SUMÁRIO 46
e da classe dominante perante a história de outros povos. Empoderar
o estudante negro periférico com sua cultura e descortinar a lógica
do modo de produção vigente corrobora para que este seja dono de
sua própria história e a reescreva com base na resistência de seu
povo. Torna-se necessário conceber a ideia de que um curso prepa-
ratório para o público específico deve conter conteúdo característico
para de fato ser considerado identitário e progressista.
SUMÁRIO 47
(Ramos, 2020). O movimento negro e sua luta política local possibi-
litou não só a criação desse espaço comunitário em prol do negro,
mas sempre se manteve firme pela igualdade racial – sobretudo, com
intuito de firmar um compromisso do Estado com a população preta
e parda – prestando inúmeros serviços à população negra campista,
foi um instrumento social, educacional e político de suma importân-
cia para o desenvolvimento em caráter emancipatório multidimen-
sional de seus assistidos.
SUMÁRIO 48
muito criticada pela elite garante a inserção no Ensino Superior de
indivíduos de classe baixa, periféricos e negros (Martins; Ribeiro,
2017). Diante do fato supracitado é de suma importância informar o
educando sobre a legislação referida, possibilidades de permanência
institucionais, história e cultura negra para que o indivíduo entenda
que essas políticas sociais são justas e necessárias diante de toda a
desigualdade gerada no país que recai sobre o grupo.
SUMÁRIO 49
Explicar sobre a formação racial nacional é outro passo
importante na construção das aulas afrocentradas, para realizar o
diálogo da temática em caráter transversal ao conteúdo da Geografia
adotamos constantemente em nossas aulas, o uso e confecção de
mapas. A cartografia é uma técnica muito importante para mediar
o ensino diferenciado e interativo. Para tal, utilizamos a técnica de
identificação e localização cartográfica, uma atividade que utiliza a
ludicidade (Luckesi, 2014) para a partir da confecção do material dis-
cutir diversas questões, inclusive políticas, sociais e ambientais. Uma
dessas aulas tratou da divisão do continente africano e da diáspora
negra que trouxe, forçadamente, como escravizados bilhões de pes-
soas para o Brasil. A diversificação racial, predominantemente for-
mada por pretos, indígenas e portugueses culminou no colorismo
racial de nosso país.
SUMÁRIO 50
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A perspectiva de ensino afrocentrado foi idealizada com
intuito de preparar os cursistas para além da classificação em pro-
cessos seletivos, visando a permanência desses indivíduos até o fim
do curso, evitando a evasão e buscando o fortalecimento do negro no
ambiente acadêmico. A metodologia que consiste em aderir a edu-
cação afro-brasileira de forma transversal ao conteúdo de Geografia
corroborou para uma nova concepção de ensino que considera fato-
res sociais e culturais. Constatamos que os estudantes se tornaram
mais participativos em sala de aula, desenvolvendo a criticidade e
problematização dos conteúdos mediados e assuntos cotidianos
usados transversalmente.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Silvio. Racismo Estrutural. São Paulo: Pólen, 2019.
SUMÁRIO 51
LUCKESI, Cipriano. Ludicidade e formação do educador. Revista entreideias: educação,
cultura e sociedade, v. 3, n. 2, p.13-23, 2014.
JESUS, Carolina Maria de. Quarto de despejo: diário de uma favelada. São Paulo: Ática, 2019
REIS, Karina Ribeiro Soares. Possíveis contribuições das obras de Carolina Maria
de Jesus na Educação de Jovens e Adultos. Revista Multidisciplinar do Vale do
Jequitinhonha-ReviVale, v. 2, n. 2, 2022.
SOUZA, Ari Herculano de. A ideologia. São Paulo: Editora do Brasil, 1989.
SUMÁRIO 52
4
Rosilandia da Cruz Eduardo
CAPOEIRA
E UNIVERSIDADE:
ACESSO E FORMAÇÃO
DOI: 10.31560/pimentacultural/2024.95484.4
A partir de uma análise crítica dos avanços e transforma-
ções da capoeira numa sociedade ainda de acentuada desigual-
dade social, percebi a necessidade de dar visibilidade à capoeira,
sobre o assunto. A partir de experiências pessoais, técnicas e cultu-
rais percebi o impacto dos benefícios que a capoeira traz no senso
de empoderamento, pertencimento e fortalecimento de identidade.
Defendo que, a execução de eventos inclusivos de atividades da
capoeira e de capacitação dos seus integrantes, possibilita o acesso
desses atores às possibilidades de formação oferecidas, ou que
venham a ser, futuros graduandos, parte da comunidade universi-
tária, gerando nos mesmos, o sentimento de pertencimento e que
possam perceber o campus como uma fonte de conhecimento e
facilitador de oportunidades.
6 Cortejo: o cortejo de capoeira acontece como um desfile de carnaval, na qual a bateria são os
berimbaus e as pessoas participam com palmas e realizando movimentos de capoeira.
7 “Papoeira” é o nome que se dá ao bate-papo da capoeira, uma roda de conversa com o nome
“capoeiristicado”.
SUMÁRIO 54
Considero necessário possibilitar a outros a diversidade cul-
tural que foi apresentada no simpósio, a fim de mostrar e reafirmar
a importância da capoeira enquanto cultura brasileira, utilizando-a
como a porta de entrada de jovens pertencentes às classes menos
favorecidas, possibilitando-lhes o acesso à universidade.
SUMÁRIO 55
mas não conseguem devido à falta de conhecimento na área, falta
de experiência e por não terem recursos para custear um profissional
em gestão de projetos.
SUMÁRIO 56
Destarte, identifico a capoeira como cultura ainda pouco per-
cebida nesse mosaico cultural desenhado pelos órgãos competen-
tes ao distribuir as verbas destinadas à cultura.
Tais margens e bordas não se referiam apenas aos limi-
tes geográficos do município, como também aos limiares
do poder e da institucionalidade. Nestas cartas culturais
novas e moventes, tudo aquilo que antes constituía peri-
feria tendia agora a assumir outras posições, revelando
como possíveis novas centralidades culturais. Bairros
pobres, territórios populares, favelas, vielas, becos e
esquinas, [1] assim como realizadores (muitas vezes
informais) que fazem cultura cotidianamente, porém sem
suporte oficial ou infraestrutura pública, visibilizavam-se e
reivindicavam reconhecimento (Baron, 2016, p. 1).
SUMÁRIO 57
Destaco que a Comissão Técnica de Elaboração de Editais e
Análise de Projetos Culturais do fundo estadual de cultura do Rio de
Janeiro apresentou transparência nas informações, possibilitando-
-me consultar e acrescentar mais dados à minha pesquisa destinada
à capoeira. Reforço que o problema, pelo meu olhar, está na falta
de investimento na formação dos capoeiristas para poderem pleitear
recursos daquilo que já executam no seu cotidiano.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Assim sendo, presumo que a formação de um curso de
extensão que possibilite aos capoeiristas escrever e planejar seus
projetos para participar dos editais, seja o início dessa transforma-
ção. Viabilizando assim o incentivo a estudos, pesquisas, cursos e
eventos que coloquem os capoeiristas numa “briga” em igualdade
de condições com as outras culturas, facilitando assim o acesso à
universidade, gerando o interesse pela qualificação e consequente-
mente uma melhora significativa na sua qualidade de vida.
SUMÁRIO 58
Em sequência, formaremos a equipe de implantação desse
projeto de pesquisa, realizando o estudo piloto desse projeto com os
próprios membros do LABCAPO, para posteriormente, abrir o curso
de formação, com a perspectiva de auxiliar esse público alvo especí-
fico a alcançar seus direitos de cidadãs e cidadãos.
REFERÊNCIAS
BARON, Lia. A territorialização das políticas públicas de cultura no Rio de Janeiro. Revista
Z Cultural (UFRJ), v. XI, p. 1, 2016.
EDITAL SECEC Nº 01/2020, Edital Cultura Presente Nas Redes. Cultura e Economia
Criativa, 2020. Disponível em: http://cultura.rj.gov.br/cultura-presente-nas-redes/. Acesso
em: 18 maio 2022.
SUMÁRIO 59
5
Rosilaine Souza de Araújo da Silva
Ê! Ê! Ê! Ê! CAMARÁ!
UMA ANÁLISE SOBRE A HISTÓRIA
E AS TRANSFORMAÇÕES ESPACIAIS
NO BAIRRO DE SENADOR CAMARÁ
– ZONA OESTE DA CIDADE
DO RIO DE JANEIRO
DOI: 10.31560/pimentacultural/2024.95484.5
Senador Camará é um bairro periférico localizado na Zona
Oeste da cidade do Rio de Janeiro, foi considerado pelo IBGE
(2010) como a maior favela em área (Complexo de favelas Fazenda
Coqueiros) da cidade do Rio de Janeiro. Em seu território ocorrem, fre-
quentemente, operações policiais violentas com o uso do Caveirão (da
terra e do ar), nestes dias, a suspensão dos direitos básicos, tais como
transportes, funcionamento de escolas e equipamentos de saúde é
frequente, mas nem sempre noticiada. Esse cenário, somado à ausên-
cia de políticas públicas e baixos indicadores sociais vem criando uma
narrativa entre os jovens de que o bairro “não tem nada”. Esse artigo
possui outro ponto de partida, a partir de um projeto realizado com
alunos/as do ensino fundamental e médio, o objetivo foi resgatar a
história e geografia do bairro, bem como suas formas de organização
comunitária, patrimônios e resistências de sobrevivência cotidiana que
se inserem dentro de um contexto de luta pelo direito à cidade.
SUMÁRIO 61
processos de organização espacial da Fazenda Bangu e posterior-
mente da Fábrica Bangu.
SUMÁRIO 62
Camará) e que apontam resistências através da organização comu-
nitária através de associações de lavradores:
o representante trabalhista apresentava ‘um histórico’ da
Coqueiros: teria se originado de uma ‘sesmaria’ doada
pelo governo aos pretos forros. Na visão de Carvalho, ela
seria uma herança jacente, pois não viviam mais descen-
dentes dos pretos forros ali. Posteriormente, a propriedade
foi ‘empolgada por um dos mais vorazes e desumanos gri-
leiros que proliferam nesta terra, Hermano Barcelos’, dono
da Cia. Rural e Urbana. A União teria conseguido reincor-
porá-la em 1942, mas três anos depois, ela voltou às mãos
de Barcelos, ‘que por influências políticas e de amizade,
conseguiu anular o ato do governo’. Finalmente, parte dela
fora vendida ao IAPI (Instituto de Aposentadoria e Pensão
dos Industriários). Em setembro de 1952, o número de
lavradores ameaçados pelo IAPI tinha dobrado para 400,
segundo cálculo do Imprensa Popular, apesar da sempre
crescente ameaça de despejo. A luta desses lavradores –
que se autointitulavam ‘posseiros’ que lá trabalhavam ‘há
dezenas de anos’ – seria muito antiga, confirmando a ver-
são de Aguir Tavares: em 1927, por exemplo, eles teriam
obtido ‘uma manutenção de posse e direito de retenção
contra a Cia. Rural e Urbana do Distrito Federal’. Mas dife-
rentemente desses anos, em que a luta parecia respeitar
os limites impostos pela lei, o pretenso proprietário (IAPI)
se utilizava de métodos pouco amistosos. Os lavradores
denunciavam que ele queria que eles assinassem um
contrato de locação; diante da resistência dos ‘posseiros’,
o instituto teria recorrido à polícia e a um oficial de jus-
tiça, ‘que intimidaram os trabalhadores’. Ao que parece,
a situação permaneceu tensa durante toda a década de
50, com várias idas dos lavradores de Coqueiros ao cen-
tro da cidade. Numa delas, já em 1957, eles protestavam
contra a violência praticada pela polícia numa medição
feita pelo IAPI. Em fins de 1963, o referido órgão ainda era
objeto de denúncias; numa concentração de lavradores
na Assembleia Legislativa, o presidente da Associação
Rural de Santíssimo José Ribeiro, alegava que o instituto,
‘por incrível que pareça’, tentava ‘despejar os verdadeiros
donos’ daquelas terras (Santos, 2011, p. 2).
SUMÁRIO 63
A Citação nos remete a um problema nacional, a grilagem de
terras, ou seja, o acesso à terra através da falsificação de documentos,
transformando o processo de produção de moradia em uma relação
voltada para a lógica da produção do capital e que é mediado pela
violência através da expulsão daqueles/as que já viviam/sobreviviam
no território, no caso citado acima, pequenos agricultores e posseiros
onde a terra também significava trabalho, memória e ancestralidade.
SUMÁRIO 64
O BAIRRO DE SENADOR
CAMARÁ NA ATUALIDADE
A partir de 23 de julho de 1981, a prefeitura do Rio institui o
bairro de Senador Camará, com uma área total de 1.723,59ha e uma
população de 105.515 habitantes (IBGE, 2010), veja a localização do
bairro no mapa abaixo:
SUMÁRIO 65
Se levado em consideração a extensão territorial ocupada,
o complexo de favelas denominada Fazenda Coqueiros passa a ser
considerada a maior da cidade do Rio de Janeiro, alcançando uma
área total de 1.095.094 metros quadrados. No complexo de fave-
las Fazenda Coqueiros, que engloba praticamente todo o bairro de
Senador Camará, destacamos: a favela do Sapo, favela do Rebu, a
favela do Cavalo de Aço e a favela da Coreia, todas essas comunida-
des possuem presença do tráfico de drogas e a ausência do poder
público. Em períodos de operações policiais a violência é acentuada,
seja pela presença de barricadas nas ruas construídas pelos trafican-
tes, seja pelo Caveirão da terra (carro blindado) ou o Caveirão do ar
(helicóptero blindado).
SUMÁRIO 66
e Norte da cidade do Rio de Janeiro, dentre esses locais, o bairro de
Senador Camará, ou seja, complexo de favelas Fazenda Coqueiros,
principalmente nas favelas do Rebu, Cavalo de Aço, Coreia e na
vizinha Vila Aliança.
SUMÁRIO 67
Sendo assim, o discurso oficial, noticiado pelos meios de
comunicação de massa, sobre a violência, o marginal, o ilegal passa
a ser forte entre os sujeitos locais.
SUMÁRIO 68
Foliões Carnavalescos denominados “Clóvis” ou “Bate-bolas” – no
bairro de Senador Camará a cultura dos bate-bolas está pulsante.
Conseguimos mapear alguns grupos, os mais antigos, com mais de
trinta anos de existência, como a Turma do Coqueiro, Turma da paz,
Fidelidade, Nova geração, Turma do Sonic, Turma da luz e os mais
recentes: Explosão, Perfeição, Turma do Índio, Turma da Ferradura,
Constelação, Aloprados, Sempre Jovem e Sensacional. Vale ressal-
tar que muitas turmas criaram alas femininas, como as Herdeiras
do Coqueiro e que movimentam grafiteiros que fazem a pintura dos
muros, costureiras, ousaremos aqui em dizer que são como “minies-
colas” de samba, que movimentam a economia comunitária.
SUMÁRIO 69
e os movimentos populares, como por exemplo de educação ambien-
tal, ou seus patrimônios materiais, tais como a Fazenda Viegas
e o Marco Sete.
MAPEANDO POSSIBILIDADES
ATRAVÉS DA HISTÓRIA LOCAL
Em 2018 iniciamos um projeto com os/as alunos/as com a
participação dos bolsistas do Programa Institucional de Bolsas de
Iniciação à Docência – PIBID que mergulhava na história e geografia
do bairro onde se localiza a escola e que vive a maioria da comu-
nidade escolar. Neste momento, de forma presencial, realizamos
pesquisas, leituras, recebemos moradores na escola e realizamos
trabalhos de campo.
SUMÁRIO 70
Durante a pesquisa questionamos a homenagem feita ao
Senador Otacilio Camará, que dá nome ao bairro e que nem per-
tencia ao território, e no geral, é desconhecido dos moradores/as.
Passamos para uma tentativa de ressignificar o local, lembramos
imediatamente das rodas de capoeira e de samba onde “Camará”
aparece como camarada, parceiro, jogador. Certamente ser mora-
dor de Camará exige muita solidariedade comunitária, muita cama-
radagem, muita coragem e criatividade, afinal, como abordamos
aqui viver na periferia da cidade, em um território precário de instru-
mentos urbanos e culturais, com o crescimento da favelização e da
violência aumenta a vulnerabilidade social. Sendo assim, estar em
Camará também significa potência e resistência!
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Percebemos ao longo dessa pesquisa a importância da
memória social coletiva do bairro, enquanto área periférica da cidade,
afinal as representações que são construídas desses grupos estão
por vezes, vinculadas à criminalização de suas ações sociais e artís-
ticas. Olhando para o passado podemos indicar a capoeira, o samba,
o funk, ou seja, atividades vinculadas às populações de matriz negra
ou favelada como pilares importantes da identidade comunitária e
que historicamente são marginalizadas. E que no bairro de “Camará”
se apresentam como formas de resistência.
SUMÁRIO 71
ausências e urgências, mas entendendo todos os apagamentos que
as classes populares sofreram/sofrem na história e geografia, mas
principalmente, todas as lutas travadas pelos que vieram antes. Êh
Camará… Êh, Êh, Êh Camará!
REFERÊNCIAS
IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Censo Brasileiro de 2010.
Rio de Janeiro: IBGE, 2012.
SANTOS, Leonardo Soares dos. A Cidade Está Chegando: Expansão Urbana na Zona
Rural do Rio de Janeiro (1890-1940). Revista Critica Histórica. Ano II, n. 3, Julho/2011.
SOUSA, Fabiana Melo. Aqui não tem nada? A favela como um problema filosófico a
partir de uma cartografia numa escola de Senador Camará. 2019. Dissertação (Mestrado
em Filosofia e Ensino) – Programa de Pós-Graduação em Filosofia e Ensino do Centro
Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca. CEFET/RJ, 2019.
SUMÁRIO 72
6
Yanka Martins Pereira
FAVELAS CARIOCAS
E A VIVÊNCIA DO FAVELADO:
O ACESSO AO ENSINO SUPERIOR,
ULTRAPASSANDO MUROS E BARREIRAS
DOI: 10.31560/pimentacultural/2024.95484.6
INTRODUÇÃO
O presente ensaio se constitui enquanto parte de reflexões
levantadas academicamente no mestrado em Serviço Social e em
especial no Laboratório de Estudos Urbanos e Socioambientais da
PUC-Rio. Objetivamos, a partir de reflexões teóricas e indagações
enquanto uma favelada universitária, propor o debate acerca da
construção da cidade do Rio de Janeiro, em especial a vivência nas
favelas cariocas e a chegada de seus moradores ao ensino supe-
rior de educação. Seu referencial teórico-metodológico considera a
intensificação das desigualdades sociais, raciais e de gênero e traz
como apontamentos finais que o movimento de acesso e perma-
nência de favelados ao ensino superior se constitui, enquanto uma
forma de resistência, capaz de romper barreiras socialmente e histo-
ricamente construídas.
SUMÁRIO 74
Um importante ponto de relevância para esta análise é
a contribuição das políticas de ações afirmativas8, que através do
sistema de cotas e programas de assistência estudantil, possibi-
litaram o acesso e a permanência de negros, pobres, favelados e
da classe trabalhadora – ainda que com limitações estruturais –
ao ensino superior.
8 O termo Ação Afirmativa refere-se a um conjunto de políticas públicas para proteger minorias
e grupos que, em uma determinada sociedade, tenham sido discriminados no passado. A ação
afirmativa visa remover barreiras, formais e informais, que impeçam o acesso de certos grupos ao
mercado de trabalho, universidades e posições de liderança. Em termos práticos, as ações afirma-
tivas incentivam as organizações a agir positivamente a fim de favorecer pessoas de segmentos
sociais discriminados a terem oportunidade de ascender a postos de comando (Oliven, 2007, p. 30).
SUMÁRIO 75
A CONSTRUÇÃO DESIGUAL DA CIDADE DO
RIO DE JANEIRO, A VIVÊNCIA DA FAVELA
Historicamente as construções das cidades reiteram a segre-
gação social, visto que a oferta de moradias e acesso a serviços são
condicionados ao nível de renda populacional, o que reforça a divi-
são entre classes intrínseca a contradição capital/trabalho, e, tam-
bém, racial, visto que há uma evidente concentração da população
preta e parda em bairros pobres e periféricos.
SUMÁRIO 76
dos sujeitos que ali existiam (maioria negra), da crise habitacional e,
posteriormente, do evidente aumento do fluxo migratório.
SUMÁRIO 77
ULTRAPASSANDO MUROS E BARREIRAS,
A FAVELA E A UNIVERSIDADE
Conforme já mencionado, as políticas de ação afirmativa con-
tribuíram para o acesso ao ensino superior de uma população que
pouco se imaginou poder ser pertencente a esse espaço. Negros,
pobres, favelados, chegaram à universidade, muitas vezes sendo os
únicos da família a passar pela porta, como alunos.
SUMÁRIO 78
trabalhistas, mão de obra barata e especialmente destinadas ao tra-
balho braçal, babás, empregadas domésticas, caixas de supermer-
cado – profissões estas que não foram poupadas na pandemia.
SUMÁRIO 79
Com relação às políticas afirmativas, dirigidas para a dife-
rença e inclusão, a experiência é ainda relativa. Entretanto,
as políticas de ação afirmativa vêm apresentando alguns
resultados positivos, que podem contribuir para a redu-
ção das diversas formas de desigualdades sociais no
Brasil. Tendo em vista a exasperação da desigualdade
social brasileira e a necessidade premente de reversão
desse quadro, torna-se essencial a efetivação de políticas
de cunho igualitário e também das políticas de reconhe-
cimento das diferenças (Clapp, 2010, p. 151).
SUMÁRIO 80
não existe. No cenário da cidade, na vivência de favelados, periféri-
cos, suburbanos, ocupar e permanecer neste espaço se traduz em
diversos desafios, por exemplo horas de trânsito em transporte pre-
cário para assistir aulas, rotinas de estudo após horas de trabalho,
bolsas auxílio com valor extremamente defasado frente a inflação e
alta dos produtos, o cenário pouco favorável indica que acessar e
permanecer é também resistir.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com todo o exposto, buscou-se pensar a cidade, em especial
as favelas, que desde a sua gênese são marcadas enquanto espaços
marginalizados; seja pela sociedade ou pela ação do Estado mar-
cada por intervenções pontuais no que compete a oferta de serviços
e garantia de direitos, mas com uma ação bem relevante e fortalecida
no que compete as ações repressoras, violentas e coercitivas. Nesse
percurso, pôde-se depreender as tensões que perfazem os territórios
de favela a partir da vivência do favelado, desvelando os desafios que
perfazem o acesso ao ensino superior, marcado pelas desigualda-
des de oportunidades historicamente estruturadas, sobretudo para a
população negra e periférica. Nesse enredo, afirma-se que as políti-
cas de ação afirmativa são, portanto, instrumentos importantes para
atenuar as desigualdades de acesso no campo educacional, mas
não isentam a necessidade de se fortalecer politicais de cunho igua-
litário e de reconhecimento das diferenças.
SUMÁRIO 81
são pautadas em ações focalizadas e precárias, que culminam na
responsabilização da chamada sociedade civil, neste espaço, e dos
próprios moradores através de redes de solidariedade etc.
REFERÊNCIAS
CAMPOS, Andrelino. Do Quilombo à favela: a produção do “espaço criminalizado no Rio
de Janeiro”. Rio de Janeiro: Editora Bertrand Brasil, 2010. 208p.
HARVEY, David. Cidades Rebeldes: direito à cidade à revolução urbana. São Paulo: Ed.
Martins Fontes, 2014.
SUMÁRIO 82
INEP. Estudo detalha expansão da educação superior no Brasil. Assessoria de
Comunicação Social do Inep, gov.br, novembro de 2022. Disponível em: https://www.
gov.br/inep/pt-br/assuntos/noticias/estudos-educacionais/estudo-detalha-expansao-
da-educacao-superior-no-brasil Acesso: 10 de janeiro de 2023.
OLIVEN, Arabela Campos. Ações afirmativas, relações raciais e políticas de cotas nas
universidades: Uma comparação entre os Estados Unidos e Brasil. Educação, Porto
Alegre/RS, ano XXX, n. 1, v. 61, p. 29-51, jan./abr. 2007. Disponível em: http://flacso.
redelivre.org.br/files/2012/07/580.pdf. Acesso em: 30 jun. 2022.
SUMÁRIO 83
7
Francisco Overlande Manço de Souza
Humberto Salustriano da Silva
Aryanne Paiva da Felicidade
PEDAGOGIAS CRÍTICAS
E INSURGENTES:
ARTICULAÇÃO ENTRE EDUCAÇÃO
POPULAR, ESCOLA PÚBLICA
E A “DEFESA” DE UMA DIMENSÃO
AMPLIADA DE EDUCAÇÃO
DOI: 10.31560/pimentacultural/2024.95484.7
É difícil defender, só com palavras, a
vida (Melo Neto, 2007, p. 132).
INTRODUÇÃO
Ministramos em setembro de 2022 o minicurso “Pedagogias
Críticas e Insurgentes: Articulação Entre Educação Popular e Escola
Pública, e a Defesa de uma Dimensão Ampliada de Educação” na II
Jornada Científica Favelades Universitáries que oportunizou o apro-
fundamento teórico-político com enfoque na escola pública e espa-
ços de experiências de educação popular e decolonial. As reflexões
apresentadas apontam para o horizonte da perspectiva de uma
dimensão ampliada de educação que considera a relevância das
contribuições das concepções pedagógicas críticas, independente
do espaço formativo onde são realizadas. Logo, a articulação entre
educação popular e escola pública fundamenta as reflexões propos-
tas no curso, que visava aprofundar o debate para professores, edu-
cadores populares e militantes nos mais diversos contextos educa-
cionais a partir de/com pedagogias críticas e insurgentes.
SUMÁRIO 85
para a concretização de uma sociedade pautada por justiça social.
Precisamos refletir sobre o papel dado ao processo educativo que o
restringe ao de formador de “capital humano” e que contribui para a
sustentação do discurso de ascensão social “pelos estudos”. Assim,
os estudantes oriundos das classes populares, desde pequenos,
ouvem o conselho do “estuda, meu filho, para ser alguém na vida”, tal
pensamento contribui para, em alguma medida, reforçar o discurso
de meritocracia que deposita todo sucesso ou insucesso no esforço
pessoal desconsiderando a falta de condições materiais que tanto
prejudicam a vida estudantil das filhas e filhos da classe trabalha-
dora. Sem a transformação das condições estruturais da sociedade,
somente a educação não dá conta de disputar um projeto de socie-
dade pautado por justiça social.
SUMÁRIO 86
caráter de intencionalidade política emancipadora é imprescindí-
vel para que a concepção pedagógica da Educação Popular possa
ser uma realidade na Escola Pública, espaço de formação humana
e intelectual das classes populares. Desse modo, as experiências
da educação popular realizadas nos espaços de educação não for-
mal buscam concretizar o algo novo possível de ser realizado ou,
segundo Paulo Freire, o inédito viável de contribuir em busca de uma
educação criticizadora, democrática e cidadã, na defesa da escola
pública. Uma educação crítica, cidadã e democrática antídoto para
investidas antidemocráticas.
O COMPROMISSO ÉTICO-POLÍTICO
DA EDUCAÇÃO POPULAR
A Educação Popular é atualizada ao longo do tempo-espaço
nos enfrentamentos aos processos de dominação que retiram as
possibilidades existenciais dos diversos grupos que historicamente
foram colocados em um lugar de subalternidade. Assim, esse con-
fronto exige a reinvenção do que-fazer da EP (Educação Popular)
para melhorar a relação político-epistemológica da proposta educa-
tivo-pedagógica para que não perca de vista a realidade dos sujeitos
envolvidos, como bem disse Freire “todo aprendizado deve encon-
trar-se intimamente associado à tomada de consciência da situação
real vivida pelos educandos” (2001, p. 19).
SUMÁRIO 87
educação bancária. A reprodução de colonialidades pedagógicas no
cotidiano de espaços formativos “acríticos-conservadores”, é a repeti-
ção de práticas da educação bancária. Segundo Souza, Rego e Silva
(2021, p. 192), “para além de uma EP que capacite tecnicamente as
camadas populares, o que se coloca em primeira linha é a insurgên-
cia dos saberes dos povos”, tal pensamento busca valorizar o acervo
sociocultural e político das experiências oriundas dos movimentos
sociais. Na Educação Popular, a criticidade é ao mesmo tempo meto-
dologia e propósito formativo, tal aspecto é reflexo da intencionalidade
política da concepção pedagógica da Educação Popular. Nesse sen-
tido, movimentos sociais e populares já vêm realizando há um bom
tempo o que hoje tem sido nomeado de educação democrática.
SUMÁRIO 88
a criatividade, o diálogo, a vivência da práxis e o protago-
nismo dos sujeitos (Paludo, 2010, p. 141).
SUMÁRIO 89
A QUEM INTERESSA A CONSTRUÇÃO
DO DISCURSO DE FRACASSO
DA ESCOLA PÚBLICA?
O fortalecimento da escola pública deve ser um compro-
misso de toda a sociedade. É preciso que a escola seja compreendida
como espaço de formação humana, de legitimação da democracia e
de direitos na perspectiva de rede-comunidade, ou seja, a escola em
permanente diálogo com outras experiências educacionais produto-
ras de “aprendizagens e saberes” que estão no “entorno da escola”,
como afirma Libâne “nem a negação da escola, nem o isolamento da
escola em relação à vida social” (2010, p. 90-91).
SUMÁRIO 90
já eram perceptíveis antes da pandemia da covid-19, que as desi-
gualdades sociais e a precarização da atividade docente já impac-
tavam o cotidiano da escola pública enquanto “tecnologia da demo-
cracia”. Dentro deste panorama, a defesa de uma dimensão ampliada
de educação permite ampliar as possibilidades da articulação entre
a escola pública e a Educação Popular, que é realizada na educação
não formal, no fortalecimento de práticas educativas críticas e insur-
gentes e que promovam uma educação democrática. Que assegure
a escola pública como ambiente alinhado às demandas das clas-
ses populares e na ampliação das perspectivas de emancipação, na
reivindicação de uma escola democrática como bem vislumbrou o
educador Paulo Freire (Souza; Silva, 2021, p. 59).
SUMÁRIO 91
Educação Popular questionam a intencionalidade política da educa-
ção acrítica, prescritiva, conteudista, bancária e tradicional visando a
concretização de uma educação crítico-transformadora e que contri-
bui com a formação de uma “nova cultura política” (Gohn, 2010, p. 93)
para as classes populares. Portanto, é no esperançar freiriano que
se concretiza a escola pública voltada para os interesses das cama-
das populares, de uma escola de fato cidadã a partir da dinâmica da
reflexão-ação, na interpretação da realidade através do pensamento
crítico, criador de uma perspectiva libertadora a partir do contexto
sociocultural dos educandos.
PAULO FREIRE:
MEDIADOR DA EDUCAÇÃO POPULAR
COM A ESCOLA PÚBLICA
A obra de Paulo Freire oferece diversas chaves de leitura,
recursos teóricos e práticos para o desafio permanente da constru-
ção de uma educação emancipadora. A Educação Popular que é rea-
lizada na educação não formal demonstra a eficácia da concepção
pedagógica de base freiriana que tem como cerne a educação como
prática de liberdade. Narrando um pouco das nossas trajetórias é
possível identificar que o ideário de Paulo Freire é uma bússola para
as nossas experiências educacionais “fora e dentro” das salas de
aula da rede pública de ensino na educação básica e enquanto edu-
cadores populares nos pré-vestibulares comunitários. A ação-refle-
xão que molda a metodologia de ensino-aprendizagem é a mesma,
independente do espaço formativo, pois carrega princípios centrais
da obra de Freire, tais como: dialogicidade, amorosidade, conscienti-
zação, o esperançar freiriano, entre outros.
SUMÁRIO 92
Libâneo (2010, p. 97) afirma que “a educação escolar que,
como veremos adiante, é uma instância de educação formal, não
pode eximir-se da interação com outras modalidades de educação
(informal e não-formal)”. A articulação entre espaços formativos não
é algo novo no campo da educação, inclusive consta no texto do
Plano Nacional de Educação (PNE) 2014-2024, está previsto entrela-
çamento de experiências da educação não formal com a educação
formal, inclusive de experiências de educação popular e cidadã com
a escola, na perspectiva de políticas públicas:
7.28. mobilizar as famílias e setores da sociedade civil,
articulando a educação formal com experiências de edu-
cação popular e cidadã, com os propósitos de que a edu-
cação seja assumida como responsabilidade de todos
e de ampliar o controle social sobre o cumprimento das
políticas públicas educacionais (Brasil, 2014).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pensando o campo da educação como uma arena de dis-
puta de projeto de sociedade e entendendo os espaços formativos
como lugares de legitimação da democracia, cidadania e de uma
SUMÁRIO 93
nova cultura política, a escola pública cumpre com o papel funda-
mental de concretizar o cenário democrático. Uma escola capaz de
contemplar os estudantes das classes populares em suas especifici-
dades sociais, econômicas e culturais, convergindo com suas reali-
dades, ampliando percepções de mundo e permitindo que educan-
dos construam autonomias em um processo de reflexão-ação frente
a essa mesma realidade (Freire, 1987, p. 44).
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014. Aprova o Plano Nacional de Educação -
PNE e dá outras providências. Brasília, Diário Oficial da União, 2014.
FREIRE, Paulo. A Pedagogia do Oprimido. 17 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
FREIRE, Paulo. Educação como prática de liberdade. São Paulo: Paz e Terra, 2014.
SUMÁRIO 94
FREIRE, Paulo. Conscientização: teoria e prática da libertação – uma introdução ao
pensamento de Paulo Freire. São Paulo: Centauro, 2001.
LIBÂNEO, José Carlos. Pedagogia e pedagogos para quê? 12 ed. São Paulo: Cortez,
2010, 208 p.
MEJÍA, Marco Raúl. La Educación Popular: una construcción colectiva desde el sur y
desde abajo. In: STRECK, Danilo; ESTEBAN, Maria Teresa (Orgs.). Educação Popular: Lugar
de construção social coletiva. Petrópolis: Vozes, 2013.
MELO NETO, João Cabral de. Morte e Vida Severina e outros poemas para vozes. Rio
de Janeiro: Objetiva, 2007.
SOUZA, Francisco Overlande Manço de; REGO, Noélia Rodrigues Pereira; SILVA, Humberto
Salustriano da. Experiências e reflexões sobre a prática docente Anti/Contra/Decolonial
no ensino da História na escola pública e suas relações com o Museu da Maré como
uma ferramenta pedagógica da Educação Popular. Intellèctus, v. 20, n. 1, p. 185-206, 2021.
SOUZA, Francisco Overlande Manço de; SILVA, Humberto Salustriano da. Desigualdades
educacionais em tempos de pandemia: os desafios dos estudantes da escola pública e
das favelas cariocas em meio à crise sanitária global. Revista Espaço Crítico, v. 2, n. 2,
p. 52-68, 2021.
SUMÁRIO 95
8
Rodrigo Silva Magalhães
DOI: 10.31560/pimentacultural/2024.95484.8
INTRODUÇÃO
A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos,
ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o hori-
zonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais
alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para
que eu não deixe de caminhar (Galeano, 1993, p. 310).
SUMÁRIO 97
duas, certo hibridismo ou uma complementaridade. Tais inquieta-
ções são oriundas de toda minha trajetória dentro da Universidade,
desde a graduação até os dias atuais, quando foram acentuadas
por conta da minha atividade como morador e professor de escolas
municipais da favela da Maré.
SUMÁRIO 98
Em Santo Antônio, outeiro pobre, apesar da situação em
que se encrava na cidade, as moradas são, em grande
maioria, feitas de improviso, de sobras e de farrapos,
andrajosas e tristes como os seus moradores. [...] Por
elas vivem mendigos, os autênticos, quando não se vão
instalar pelas hospedarias da rua da Misericórdia, capo-
eiras, malandros, vagabundos de toda sorte, mulheres
sem arrimo de parentes, velhos dos que já não podem
mais trabalhar, crianças, enjeitados em meio a gente
válida, porém, o que é pior, sem ajuda de trabalho, ver-
dadeiros desprezados da sorte, esquecidos de Deus
(Edmundo, 1938, p. 246-247).
SUMÁRIO 99
cidade, apesar dos subterfúgios simbólicos para extingui-
-la. Enfim, o Favela Bairro, com os seus importantes inves-
timentos em infra-estrutura, corre o risco de se tornar uma
mera maquiagem urbanística sem a envergadura social
que poderia e deveria possuir (Gonçalves, 2013, p. 17).
SUMÁRIO 100
Território é o lugar em que desembocam todas as ações,
todas as paixões, todos os poderes, todas as forças, todas
as fraquezas, isto é, onde a história do homem plenamente
se realiza a partir das manifestações da sua existência [...]
o território não é apenas o conjunto dos sistemas natu-
rais e de sistemas de coisas superpostas. O território tem
que ser entendido como o território usado, não o território
em si. O território usado é o chão mais a identidade. A
identidade é o sentimento de pertencer àquilo que nos
pertence. O território é o fundamento do trabalho, o lugar
da residência, das trocas materiais e espirituais e do exer-
cício da vida (Santos, 1999, p. 07).
SUMÁRIO 101
trabalho com o campo da educação e, mais propriamente, o ensino
de História, procuramos estabelecer as conexões necessárias, com
a possibilidade de discutir o que pensamos sobre currículo, cultura
e, por conseguinte, a escola que queremos. Nessa perspectiva, não
podemos deixar de citar e contar com o trabalho de alguns auto-
res como Apple (1989), Candau (2008), Hall (1997) e Moreira e Silva
(2008), pois mesmo apresentando características próprias, suas for-
mas de pensar nos permitem realizar conexões sobre as suas ideias.
Caminhando por essa vereda e, pensando as questões ligadas aos
currículos, os autores ressaltam a intencionalidade existente no seu
estabelecimento, que é a de formar identidades. Nesse sentido, o
currículo representa uma esfera de poder, pois pode criar signi-
ficados sociais, por conta de seu estatuto de “verdade” dentro da
sociedade. Não cabendo assim, nenhuma forma de questionamento.
Combatendo essa ideia, ou melhor, denunciando a intencionalidade
dos currículos, os autores afirmam que
O currículo é o espaço em que se concentram e se des-
dobram as lutas em torno dos diferentes significados
sobre o social e sobre o político. É por meio do currículo
que certos grupos sociais, especialmente os dominantes,
expressam sua visão de mundo, seu projeto social, sua
“verdade”. O currículo representa, assim, um conjunto de
práticas que propiciam a produção, a circulação e o con-
sumo de significados no espaço social e que contribuem,
intensamente, para a construção de identidades sociais e
culturais. O currículo é, por consequência, um dispositivo
de grande efeito no processo de construção da identi-
dade do(a) estudante (Silva, 1999b, p. 28).
SUMÁRIO 102
oficiais” e, por consequência, de um modelo de sociedade, ocorre
uma tentativa de padronização cultural através dos currículos. Nessa
lógica perversa, a gradativa universalização da escolarização a todas
as classes sociais no país, principalmente nas últimas décadas, ser-
viu de base para o discurso da isenção. Esse discurso propagado
pelo Estado, dentro de sua lógica hegemônica, apresenta-nos a
ideia, de que colocando todos aqueles a quem por direito constitu-
cional, dentro da escola, diminui-se as arestas ao questionamento
do que vem sendo construído. Assim, caberia às escolas somente
o papel de reproduzir aquilo que estava acontecendo em outros
âmbitos da sociedade.
SUMÁRIO 103
escolar, para que possamos fazer com que os(as) alunos(as) pas-
sem a desnaturalizar o familiar, desestabilizando crenças, que tra-
zem consigo inúmeras formas de preconceito. Vou dar um exemplo
simples, e acredito muito próximo da realidade de muitas escolas,
o da insistente estigmatização das religiões de matrizes africanas.
Quantas vezes não escutamos nos ambientes escolares “isso é
macumba professor”, “tenho medo disso, pois é coisa do mal”, entre
outras formas de significação negativa. Com certeza, essas falas
representam dentro do microcosmo escolar uma característica rati-
ficadora de todo esse texto, como o conhecimento de alguns grupos
e suas culturas foram deixados de lado da história.
SUMÁRIO 104
com a antiga hierarquização de saberes, Bittencourt (1998) passa
a defender o conhecimento histórico escolar, como uma ideia mais
ampla, afirmando que
o conceito de conhecimento histórico escolar, que não
pode ser entendido como mera e simples transposição
didática de um conhecimento maior, proveniente da ciên-
cia de referência e que é vulgarizado e simplificado pelo
ensino [...] a história escolar não é apenas uma transposi-
ção da história acadêmica, mas constitui-se por intermé-
dio de um processo no qual interferem o saber erudito,
os valores contemporâneos, as práticas e os problemas
sociais (Bittencourt, 1998, p. 25).
SUMÁRIO 105
pode pretender reproduzir uma homogeneidade, assim
como os textos das aulas de história já não se ocupam
com exclusividade da genealogia da nação, como diferen-
tes também são as indagações que nossos alunos fazem,
prenhes de outras tantas inquietações. [...] A aula de his-
tória como texto é criação individual e coletiva a um só
tempo; criação sempre em curso, que permanentemente
renova um objeto de ensino em decorrência de novas
leituras, de outras experiências vividas, da chegada de
novos alunos, dos encontros acadêmicos e das conversas
com os colegas de ofício, do surgimento de novos manu-
ais didáticos, das decisões emanadas das instâncias edu-
cacionais e das questões, dos desafios e das expectati-
vas geradas pelo movimento do mundo no qual vivemos,
em sua dimensão local ou global. [...] Ela é a condição de
passagem do velho para o novo conhecimento, por parte
dos que aprendem; de superação das explicações da vida
social, tributárias do senso comum e de aquisição de uma
consciência crítica; e da possibilidade de realização, ama-
nhã, de uma diferente leitura do mundo. Possibilidade de
uma prática que se renova a cada dia, a aula como texto
ou o texto de nossa aula propicia que cada um dos alunos
valorize as diferenças, constitua identidades, crie memó-
rias e exercite a cidadania. E, assim, torne-se capaz de
fazer sua própria história (Matos, 2007, p. 5).
SUMÁRIO 106
Esse nadar contra a maré do desinteresse, nos leva a remar ao
encontro da Maré como possibilidade de construção de um conhe-
cimento histórico, capaz de colocar esses alunos em pauta, como
coautores de suas histórias e as da própria favela.
10 Pensando em questões metodológicas, devo dizer que a pesquisa utiliza como inspiração o Projeto
Caixa de História. O Projeto realizado pelos Professores da UERJ Helenice Aparecida Bastos Rocha,
Márcia de Almeida Gonçalves, Marcelo de Souza Magalhães, Rui Anicetto Nascimento Fernandes
e Luis Reznik. Todos fazem parte do grupo História de São Gonçalo: memória e identidade. A Caixa
da História contém um conjunto de atividades a ser utilizado com alunos de diferentes séries do
ensino fundamental. Constitui um instrumento voltado tanto para o resgate e a constituição do
patrimônio material e imaterial do Município, como para a (re)elaboração de memórias históricas
relacionadas à localidade. Apresenta propostas estruturadas em forma de atividades. Todas elas
são constituídas a partir de vestígios documentais referenciados ao patrimônio histórico, formal e
informal, da localidade. Ao figurarem como mediadores para a apreensão do patrimônio histórico
local, tais vestígios podem ser qualificados como materiais de memória; são pistas para refletir-
mos sobre as vivências passadas de indivíduos e coletividades.
SUMÁRIO 107
A partir desse trabalho, poderemos ganhar campo no prazer
de conhecer a história. Uma história pode os ajudar a entender o que
são ou gostariam que fossem (Le Goff, 1990). A partir do resgate inten-
cional desses lugares de memória (Nora, 1993), podemos combater
uma necessidade quase natural do ser humano, o de ter seu chão, sua
terra. A preservação da memória, assim, funciona como espaço de (re)
construção de sentidos e identidades, capazes de tornar aquilo que
não é, um passado presente. Por isso, devemos sistematizá-la para
ajudar no processo de formação dos sujeitos, revestindo-a de um sim-
bolismo definidor daquilo que queremos conhecer. De acordo com
Halbwachs (2006), essa é a beleza relativa à memória, pois ela passa
a existir na medida em que cria laços afetivos de indivíduos e um sen-
timento de pertencimento diante da vivência em determinado grupo.
SUMÁRIO 108
dispensará sem reconstituí-lo em uma unidade recom-
posta; a promessa de que o sujeito poderá, um dia – sob a
forma da consciência histórica –, se apropriar, novamente,
de todas essas coisas mantidas a distância pela diferença,
restaurar o seu domínio sobre elas e encontrar o que se
pode chamar sua morada (Foucault, 2009, p. 14-15).
SUMÁRIO 109
De acordo com essa perspectiva, podemos entender que a
questão do local para os moradores e, no nosso caso, preocupados
com o ensino de história local, para os nossos alunos, é fundamental.
Assim, é necessário realizar um processo de valorização dessa his-
tória local, tornando-a o ponto de partida do processo de formação
do cidadão (Nogueira, 2001) e da relação do processo de ensino-
-aprendizagem. Nessa trajetória como professor de história local vou
procurar estabelecer algo para além da simples vivência que, pelo
simples fato de estar na existência desses alunos, não gera a com-
preensão necessária da realidade em muitos momentos. Com essa
noção, podemos tornar essa história vivida, em uma história refletida
e pensada (Monteiro, 2007). De acordo com Reznik (2010) essa deve
ser uma ação consciente da sua capacidade e, sobretudo, da sua
intencionalidade de tornar o local como agente potencializador de
entendimento sobre o lugar que ocupamos socialmente e aquilo que
produzimos a partir disso. Segundo o autor
Ao tomarmos como objeto o local – bairro, região, muni-
cípio -, esperamos que a experiência refletida sobre o ter-
ritório e a vizinhança contribuam para a reflexão dos valo-
res culturais ali presentes, abrindo novos horizontes para
a afirmação e transformação dos mesmos. Dito em outras
palavras, ao se enfatizar temas e objetos, espaços, indiví-
duos e costumes que podem ser reconhecíveis entre pes-
soas que pertencem a um determinado sistema cultural
baseado em relações de vizinhança, contiguidade territo-
rial e proximidade espacial, espera-se ampliar o potencial
da reflexão histórica (Reznik, 2010, p. 92).
SUMÁRIO 110
pesquisador. Ao ter contato muito próximo, com uma realidade tão
específica quanto a Maré e, vendo algumas demandas sociais ine-
rentes àqueles alunos, decidi pesquisar o impacto e a importância
do ensino de história local.
SUMÁRIO 111
de que suas histórias passam pelo entendimento de seu papel no
mundo, como sujeitos históricos. Nesse processo, poderemos junto
a eles(as) nos posicionar frente à uma cidadania perversa e silen-
ciadora. Colocando no lugar, uma cidadania que requer (auto)reco-
nhecimento e participação. Uma cidadania voltada à ampliação e
ao exercício de direitos, do questionamento de representações este-
reotipadas ligadas a eles(as) e ao local que vivem. Tudo isso, tendo
como partida, uma esfera especial de suas existências, a escola e
uma de suas disciplinas, a História.
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ZAVALLA, Ana. Mi clase de historia bajo la lupa. Por un abordaje clínico de la práctica
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SUMÁRIO 115
9
Ana Carolina Lydia
Alycia Beatriz da Silva Rangel
Ana Luisa Santana Santos
Isabel Maciel dos Santos
Julia das Núpcias Moura
Júlia Oliveira de Mendonça
VOZ A ELAS
DOI: 10.31560/pimentacultural/2024.95484.9
INTRODUÇÃO
A expressão assédio sexual abrange uma vasta gama de
comportamentos que vão desde agressões verbais até abuso sexual
e agressão sexual. O assédio sexual pode acontecer em diversos
contextos, não seguindo uma dinâmica específica. Pessoas de todos
os gêneros podem sofrer assédio sexual, mas percebemos que a fre-
quência é maior em mulheres. Assim, como mulheres estudantes do
Ensino Médio da cidade de São Gonçalo, a partir do encorajamento
da nossa professora de Geografia e de uma disciplina da Escola Firjan
SESI São Gonçalo, desenvolvemos um projeto visando a segurança
de meninas e mulheres na nossa cidade. Percebemos que muitas de
nós sofremos assédio, violência ou constrangimento sexual nas nos-
sas vidas e, com isso, desenvolvemos medo para nos deslocarmos
em nossa cidade. O projeto consiste em um aplicativo e um reló-
gio digital que, usando fontes de informação da polícia e de outras
mulheres, cria rotas seguras, redes de apoio e alertas para mulheres.
SUMÁRIO 117
Logo, fomos pesquisar sobre o assunto e fazer um levantamento
dentro da nossa escola.
SUMÁRIO 118
AUTORES E TEORIA
Na década de 1990, Alice Barros (1998), expôs que “alguns
autores equiparam o assédio sexual ao uso medieval do jus primae
noctis”. O assédio sexual teria surgido na Idade Média por meio da jus
primae noctis (direito à primeira noite), de acordo com esta prática,
os senhores feudais poderiam escolher passar a noite de núpcias
com as mulheres que contraíssem matrimônio. Com a Revolução
Industrial, as mulheres conquistaram espaço nos processos de pro-
dução nas fábricas, porém, a sociedade dominada pelos séculos de
patriarcado contribuiu para a potencialização do assédio sexual em
ambientes de trabalho.
SUMÁRIO 119
O assédio pode ser sexual, moral ou qualquer outra conduta incon-
veniente e perseguição que cause constrangimento e que tenha por
objetivo abalar emocionalmente a vítima.
DESENVOLVIMENTO DE PROJETO
A partir de um levantamento em nossa escola, feito através
de um formulário on-line, pudemos observar que os casos de violên-
cia acontecem em diversos momentos, ambientes, horários e acon-
tecem de diversas formas.
SUMÁRIO 120
Gráfico 1 - Quantidade de mulheres que sofreram, ou não, algum tipo de assédio
Contagem - Você já sofreu algum tipo de
assédio?
12,30%
87,70%
Sim Não
Fonte: tabulação própria (2022).
26,30%
73,70%
SUMÁRIO 121
Gráfico 3 - Porcentagem de mulheres que acham útil, ou não, ter acesso a
um mapa de calor que indica locais com maior e menor índice de assédio
Contagem - Você acha que seria útil ter
acesso a um "mapa de calor" indicando
localidades com maior e menor índice de
assédio?
2,60%
97,40%
Sim Nâo
Fonte: tabulação própria (2022).
92,10%
Sim Não
SUMÁRIO 122
Gráfico 5 - Quantidade de mulheres que acham que seria mais fácil utilizar
o celular ou um relógio inteligente para denunciar casos de assédio
Contagem - Você acha que, durante um caso
de assédio, seria mais fácil denunciar usando
o celular ou um relógio inteligente ligado à
delegacia da mulher?
27,20%
72,80%
95,60%
Sim Não
Fonte: tabulação própria (2022).
SUMÁRIO 123
Nosso projeto consiste no desenvolvimento de um aplicativo
que irá contar com um botão de emergência, que pode e deve ser
usado em casos de assédio ou se você estiver em uma situação de
perigo. Um mapa de calor, para indicar as áreas com mais e menos
incidência de assédios ou casos de abuso sexual. Este aplicativo
estaria conectado ao relógio digital e mandaria informações senso-
riais para as usuárias.
SUMÁRIO 124
CONCLUSÃO
Portanto, conclui-se que o objetivo no nosso aplicativo é
diminuir o número de assédios e abusos sexuais em nosso municí-
pio. O mesmo possui atalhos com a central de atendimento à mulher
para facilitar a denúncia de possíveis abusos, mapas de áreas com
mais casos de violência sexual utilizando dados oficiais, e, também,
atalho para o centro de valorização à vida para ajuda psicológica.
REFERÊNCIAS
ADAMES, Yahisbel. Novo app quer ajudar mulheres a denunciar assédios na rua:
Aplicativo “Sai Pra lá”, desenvolvido por estudante de 17 anos, ajuda as mulheres a
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1 ed. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2017. Disponível em: https://
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SUMÁRIO 125
MACKINNON, Catharine A. Sexual harassment of working women. New Haven: Yale
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SIO, U Chong. Análise do art. 170º do Código Penal Português e do art. 164.º-a do
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(Mestrado em Direito Penal) – Faculdade de Direito da Universidade Católica Portuguesa
de Lisboa, [S. l.], 2019.
TRINDADE, Rodrigo. Apps são criados para denunciar assédio e dar segurança a
mulheres. TILT UOL, São Paulo, p. 1-1, 4 jul. 2018. Disponível em: https://www.uol.com.
br/tilt/noticias/redacao/2018/07/04/apps-sao-criados-para-denunciar-assedio-e-dar-
seguranca-a-usuarios.htm. Acesso em: 27 ago. 2021.
SUMÁRIO 126
10
Mayana Ribeiro Montenario
Allayne Ellen Pantaleão Plácido Cílio
DOI: 10.31560/pimentacultural/2024.95484.10
INTRODUÇÃO
O ambiente universitário é uma possibilidade para poucos e
solitário para muitos. Me encontrei em alguns espelhos, reflexos das
poças d’água nas quais sorri os primeiros piques, escondida por opção
desta vez. Espelhos emoldurados por familiares e professores dos
quais os olhares e abraços me deram o ninho que eu precisava para
crescer em segurança. No meu reino, fui coroada princesa bem cedo,
o sofrimento pode parecer brincadeira de criança. Lama e simplici-
dade arrancavam gargalhadas e em cada caminhada para a escola
havia a oportunidade de vivenciar aventuras. A dor do crescimento
vai além do abdômen dolorido após piadas e alegrias compartilhadas,
quando a consciência chega e o reflexo da poça me declara mulher
preta, o peito aperta, pois, a vulnerabilidade social é explícita e grito,
apesar de silenciada: olha eu aqui. Escondida sob a estrutura que fun-
damenta a sociedade, agora a vida e a luta se confundem e o reino tor-
na-se campo minado. Desde que a realidade perdeu cores e enfrento
um esquema cinematográfico que reduz a gente em “preto e branco”
procuro me reencontrar. O voo fora do ninho é, no mínimo, assustador,
embora o que me assuste mais seja não estar apta ao voo. Exigem
excelência e leveza de minhas asas exaustas. Procuro me reencontrar
nos lugares em que frequento, embora não os pertença. Universidade,
você está pronta para me ver e ouvir? Sou o voo resiliente das asas que
sobreviveram à solidão que as expectativas e estatísticas outorgaram.
SUMÁRIO 128
a vulnerabilidade como direito, tendo em vista a importância dos escri-
tos de memória tecidos através da experiência da sororidade.
A Sororidade parece não dar conta da nossa pretitude.
Foi a partir dessa percepção que pensei em outra direção,
num novo conceito que, apesar de muito novo, já carrega
um fardo antigo, velho conhecido das mulheres a Dor.
Mas, neste caso, especificamente, a Dor que só pode ser
sentida a depender da cor da pele. Quanto mais preta,
mais racismo, mais dor (Piedade, 2016, p. 17).
SUMÁRIO 129
Assim, o feminismo enaltecido, conhecido e dominante no discurso é
o feminismo branco. Isto é, “falar sobre a mulher negra e poder é falar
sobre o ausente”, visto que a relação entre ambos inexiste (Carneiro,
2003, p. 50). Aquém da produção de conhecimento, a mulher negra
sofre os atravessamentos da realidade cruel como que imobilizada,
perecendo por falta de equidade. Nesse ínterim, é importante des-
tacar a existência da “interseccionalidade”, conceito cunhado por
Kimberlé Crenshaw que diz respeito à:
Conceituação do problema que busca capturar as con-
sequências estruturais e dinâmicas da interação entre
dois ou mais eixos da subordinação. Ela trata especifi-
camente da forma pela qual o racismo, o patriarcalismo,
a opressão de classe e outros sistemas discriminatórios
criam desigualdades básicas que estruturam as posi-
ções relativas de mulheres, raças, etnias, classes e outras
(Crenshaw, 2002, p. 177).
SUMÁRIO 130
Idealização incompatível com a realidade, uma verdadeira
exceção e não regra geral, visto que a mulher negra brasileira
compõe a margem evidenciada pela PNAD (Pesquisa Nacional
por Amostra de Domicílios) em dados divulgados no ano de 2015
pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), nos quais
negros e pardos representavam 54% da população brasileira, con-
tudo, com participação expressiva (75%) no grupo dos 10% mais
pobres. Com efeito, são desencadeados danos tanto à autoimagem
e autoconfiança quanto ao desempenho acadêmico. Isso porque “a
estrutura racista materializa-se de forma discriminatória nas insti-
tuições” (Almeida, 2019, p. 27), inclusive educacionais. Enquanto a
promoção da dignidade humana, além de trazer equidade à mulher
negra, significa tornar possível o estabelecimento de novos modelos
pedagógicos, para benefício desta e de toda a sociedade.
Quando você não tem uma comunidade, não é ouvido,
não tem um lugar em que possa ir e sentir que realmente
pertence a ele, não têm pessoas para afirmar que você é e
ajudá-lo a expressar seus dons. Essa carência enfraquece
psique (Somé, 2003, p. 15).
SUMÁRIO 131
equivocada onipotência na figura de guerreira e/ou lutadora. Isto é,
com subjetividades silenciadas por uma estrutura genocida e escra-
vocrata, infelizmente ausente em lugares de escuta, comunicação
não violenta e segurança às mulheres negras.
Quando falamos em romper com o mito da rainha do lar,
da musa idolatrada dos poetas, de que mulheres estamos
falando? As mulheres negras fazem parte de um con-
tingente de mulheres que não são rainhas de nada, que
são retratadas como antimusas da sociedade brasileira,
porque o modelo estético de mulher é a mulher branca
(Carneiro, 2003, p. 2).
SUMÁRIO 132
- Hoje eu vou dormir cedo. Tô cansada, Mãe. Ontem eu
sonhei que abraçava um baobá., baobás são bonitos e
gigantes tipo BK falava. Eu gosto de baobás (2021);
SUMÁRIO 133
- Eu ainda tô com sono e ainda tô com medo, mas sempre
lembro do seu sorriso hoje à noite vou dormir contando
as estrelas. Cê sabe que a escuridão não me assusta
mais, mesmo assim tem vezes que a claridade parece
me cegar. Tô descendo do ônibus daqui a pouco. Bença,
Mãe. Te amo, Mãe (2023).
SUMÁRIO 134
Todavia, a segregação socioespacial da cidade, que afastou pobres
para as áreas do subúrbio, conjuntamente a locomoção descon-
fortável e excessivamente demorada nos transportes públicos com
espaço reduzido para cada passageiro, expõe a integridade do corpo
feminino às violações. Logo, é possível pensar que a confluência
desses fatores aos conflitos urbanos, sobretudo quando se habita
a favela, colaboram para que jovens universitárias convivam com
o esgotamento físico e mental acentuado pelo atravessamento da
ferida dolorosa que é o racismo genderizado. A branquitude univer-
sitária não está genuinamente disposta a deixar que os interesses
de mulheres negras recebam destaque no currículo acadêmico. O
sentimento de solidão da mulher negra (Souza, 2008) extrapola o
âmbito de relacionamento amoroso, uma vez que a faculdade não
propicia um acolhimento às demandas emocionais singulares da
experiência de uma mulher preta periférica tornando, assim, a con-
vivência a reverberação de um contínuo isolamento social e angús-
tias. Por outro lado, a ação de tornar-se negra (Souza, 2021) pode vir
acompanhada de uma dissociação do seu verdadeiro eu a fim de
se associar aos padrões estéticos e culturais embranquecidos e, até
mesmo, numa intelectualidade eurocêntrica. O espaço acadêmico já
conhecido por seu epistemicídio (Carneiro, 2005) é capaz também
metaforicamente de assassinar a subjetividade de estudantes pretas.
SUMÁRIO 135
políticas de acesso bem-sucedidas, na medida em que a permanên-
cia é promovida em coletivo. Ambas, entrada e permanência, alinha-
das ao afeto, são o ato de resistência contra a estrutura imobilizante
do racismo no Brasil e, no interior das Universidades, do racismo
institucional (Werneck, 2016), impresso em forma de sofrimento nas
existências de mulheres negras no contexto acadêmico.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Sílvio. Racismo estrutural. São Paulo: Pólen, 2019.
DAVIS, Angela. Mulher, Raça e Classe. São Paulo: Boitempo, 2016, 244p.EVARISTO,
Conceição. Olhos D’água. Rio de Janeiro: Pallas, Fundação Biblioteca Nacional, 2014.
EVARISTO, Conceição. Canção para ninar menino grande. São Paulo: Unipalmares, 2018.
SUMÁRIO 136
GUIMARÃES, Antônio Sérgio Alfredo. Democracia racial: o ideal, o pacto e o mito. Novos
Estudos Cebrap, v. 61, p. 147-162, 2001.
SOUZA, Claudete Alves da Silva. A solidão da mulher negra: sua subjetividade e seu
preterimento pelo homem negro na cidade de São Paulo. 2008. Dissertação (Mestrado
em Ciências Sociais) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2008.
OMI, Michael; WINANT, Howard. Racial Formation in the United States. 3 ed. New York:
Routledge, 2014.
WERNECK, Jurema. Racismo institucional e saúde da população negra. Saúde Soc. São
Paulo, v. 25, n. 3, p. 535-549, 2016.
SUMÁRIO 137
11
Lidiane Santos Barbosa
Pammella Casimiro de Souza
Camila Reis Tomaz
DOI: 10.31560/pimentacultural/2024.95484.11
INTRODUÇÃO
Este trabalho se debruça nas ações do Grupo de Estudos
Saberes de Fresta (GESF) durante os anos de 2021 e 2022 a partir dos
registros de uma das coordenadoras e da primeira integrante convi-
dada a participar, a estender reflexões sobre os saberes e reconstruir
a trajetória acadêmica, que pretendem seguir a frente após a saída
da fundadora e coordenadora não-institucional do GESF.
SUMÁRIO 139
de afetos e de brincadeiras que é tecida toda semana no
GESF é uma base para que todes possam falar suas pró-
prias práticas e propostas para o funcionamento de novas
pesquisas contra hegemônicas / contra coloniais dentro
da academia. O GESF é coordenado por Luiza Ponciano,
Camila Reis e Pammella Casimiro.
11 🎊
Ver mais em: Proexc Unirio no Instagram: “ Campanha Mais Extensão - Papo Reto 🥳🎥 No vídeo
de hoje da nossa série Papo Reto, a Monique Chessa, moradora de Angra dos Reis, conta sua […]”
SUMÁRIO 140
decisões de uma de suas coordenadoras. Em seguida, apresenta-
mos o contexto de criação do GESF e de manutenção por aproxi-
madamente dois anos, institucionalizado enquanto ação de exten-
são. Listamos participações em eventos e produções coletivas de
integrantes cuja confecção se deu em parcerias durante reuniões do
GESF, Grupos de Trabalho (GTs) para escritas ou a partir destes. Por
fim, consideramos pontos fortes e lacunas deste formato de busca
de fortalecimento para ingresso e permanência na pós-graduação.
LETRAMENTO RACIAL
Chega um dado momento em que o saber ler e escrever não
é o suficiente para ser reconhecido como um corpo letrado dentro da
academia. Como o jeito de falar e se comunicar que te serviu a vida
inteira passa a não ser o suficiente? Como todo um conhecimento,
que teoricamente você precisou aprimorar para estar ali, não basta?
Esvaziar-se de si mesmo é apresentado como estratégia para a manu-
tenção da ideia de que o “sonho do oprimido é se tornar o opressor”,
da falácia que somos vasos vazios esperando por ser enchidos de algo
que não preenche nem a terça parte do que podemos ser, método
proveniente de uma educação bancária e opressora (Freire, 2016).
SUMÁRIO 141
O apagamento e afastamento provocados pelo racismo cien-
tífico através da escrita e um letramento racista, nos afasta do eu e do
nós. A quem a academia quer que eu comunique, a quem esse afas-
tamento beneficia? Uma contradição entendida apenas por aque-
les que assinam o pacto de uma educação que aprisiona. Podemos
falar da favela, mas não com a favela e muito menos como favela-
dos. A escrita que comunica e conecta tem poder, o falar é liberta-
dor e estremece, a consciência sobre isso é tão forte que é preciso
embranquecer todos os corpos para que esse lugar de privilégio seja
mantido por alguns.
METODOLOGIA
Para construção desta historização de ação vinculada à pes-
quisa-ação (Bartholl, 2015; 2018; Reis, 2021), foram lidas e traduzi-
das à relatos de experiência, escrevivências (Evaristo, 2017; 2021;
Casimiro, 2021; Reis, 2021) de integrantes do GESF com funções e
formatos distintos por hierarquia e mesmo tempo de participação.
A escolha de tradução das escrevivências que, para Reis (2021, p. 11)
“marcam o processo do pesquisar e as transformações que ocorre-
ram na pesquisa e na pesquisadora”, para relatos de experiência vem
do que Xavier (2019) e Reis (2021) descrevem como distinções entre
os métodos de escrita. Na intenção de proteger formas próprias e
territorializadas de oralidade, assim como buscando expor marcas
do racismo institucional (Almeida, 2018), linguístico (Munanga, 2004)
e ambiental (Bullard, 2004) sofridos mesmo de forma Recreativa
(Moreira, 2019), optamos pela revisão integrativa dos relatos de
experiência com os referenciais teóricos de racismos sofridos na
academia ou por ela.
E percebi que justamente essa Academia é que se pro-
punha a discutir a Conservação do que eu reconhecia,
SUMÁRIO 142
assim como Omar Giraldo & Ingrid Toro (2021), enquanto
complexo de afetos múltiplos, relações constantes que
saudáveis só quando coletivas e, por isso, reconhecida-
mente interligadas (Reis, 2021, p. 17).
SUMÁRIO 143
salas virtuais onde se realizaram; os Comunicados Internos são os
avisos extraordinários, por isso não expostos durante os Encontros,
ou enquetes necessárias para organização estrutural (alteração de
data de algum encontro ou oficina, programação para eventos extras,
dentre outros); no Quadro 2 constam os convites para realização de
GTs internos, com e sem convidades externes de Programas de Pós-
Graduação parceiros, são enquetes para composição facultativa de
um grupo de WhatsApp específico para a participação em evento
Acadêmico. No Quadro 5 detalham-se os eventos que o GESF sub-
meteu trabalhos a partir desses Gts; os Passeios e Eventos são com-
postos por uma lista de eventos assíncronos gravados e disponibi-
lizados no YouTube ou links para a inscrição em Eventos, que forne-
cem ou não certificados, e que podem contribuir com discussões
realizadas nos Encontros. Nos Quadros 1 e 4 encontram-se rodas de
conversas e ciclo de debates organizados e/ou protagonizados por
integrantes do GESF.
SUMÁRIO 144
Quadro 1 - I Ciclo de Debates GESF
Ciclo de Debates
Nome do evento Título do Participantes/Autores Data Local Canal
Trabalho GeoTales
I Ciclo de Debates: Natureza na/ Lidiane Santos (Debatedora), Prof. Dr. out.2022 UNIRIO- Online
Conservação da da Favela Timo Bartholl (Debatedor), Jefferson
Natureza de Bases Andrade (Mediação)
Saberes de Me. Camila Reis (Debatedora), Prof. Dr. out.2022 UNIRIO- Online
Preservação Renato Barreto da Silva (Debatedor),
Luiz Lourenço (Mediação)
Conservação e Bronzi Rocha (Debatedor), Prof. Dr. out.2022 UNIRIO- Online
Diversidade Nilton Junior (Debatedor), Prof. Dr.
Rafael Garcia (Debatedor), Lua Brainer
(Mediação)
Relações (d)e Kim Tiba (Debatedor), Pammella CANCELADO UNIRIO- Online
Pertencimento Casimiro (Debatedora), Me. Tainá
Figueroa (Mediação).
Fonte: Fresta, a Sala de Aula Google GESF / elaborado pelas autoras (2022).
SUMÁRIO 145
Quadro 3 - Oficinas GESF 2021 e 2022
Oficinas
Nome do evento Data Local
Elementos Textuais d’um Pré-projeto jan. 2021 online
Temas e Perguntas de Pesquisa fev. 2021 online
Metodologias Outras mar. 2021 online
Por uma Ciência Coletiva mai.2021 online
Oficina sobre Canva mai. 2021 online
Escrita Coletiva: Drive, Boas Práticas e Agências mai. 2021 online
Leitura de Editais out. 2021 online
Lattes, Orchid e Researchgate out. 2021 online
Produção Textual: Pré-Projeto out. 2021 online
Racismo Institucional, Linguístico e a Escrita Acadêmica contra-hegemônica jan., 2021 online- UNIRIO
Planners e os fazeres acadêmicos jan., 2021 online- UNIRIO
Arte como caminho político na ciência jan., 2021 online- UNIRIO
Desmistificando Exames de Qualificação fev. 2022 online- UNIRIO
Mapa Astral do Lattes ideal: Atualizando o currículo com o GESF mar. 2022 online- UNIRIO
(Projeto Consciências. Luta contra o racismo) Móbile Ancestralidade e mai. 2022 Cancelado
Continuidade: Mulheres na Ciência
(Festival do Conhecimento UFRJ) Metodologia de pesquisa para conservação jul. 2022 UFRJ - Online
da Natureza: A Urgência do antirracismo na construção epistêmica de futuros
sustentáveis
Fonte: Fresta, a Sala de Aula Google GESF / elaborado pelas autoras (2022).
SUMÁRIO 146
Quadro 4 - Rodas de Conversas GESF 2021 e 2022
Nome do evento Autores Data
Roda de Conversa com a Extensão Universitária Danilo Cerqueira; Gabriel Mação; Matheus abr. 2021
Arcanjo; Bernardo de La Vega; Rodolfo Jordano;
Camila Reis; Italo Casemiro; Sara Muranaka
Jornada Antirracista - SESC “Tecnologias: da Genilson Leite; Camila Reis out. 2021
lógica preta do cuidado ao saber colonial
distanciado”
II Roda de Conversa do GESF Mayara Souza; Pammella Casimiro; Gabriel fev. 2022
Mação; Brunna Ellen; Daniel Mendes; Lidiane
Santos; Matheus Arcanjo; Maycom Lopes; Léo
Cruz; Bronzi Rocha; Camila Reis; Luiza Ponciano
III Roda de Conversa do GESF Grazielly Xavier; Leonardo Amoedo; Taina Silva; abr. 2022
Rachel Silva; Thais Matos; Renato Mendonça;
Matheus Arcanjo; Camila Reis; Pammella
Casimiro; Luiza Ponciano
De “produtos” à divulgação científica... Criação Camila Reis; Luiza Ponciano mai. 2022
de produtos técnicos, tecnológicos e artísticos-
culturais
Fonte: Fresta, a Sala de Aula Google GESF / elaborado pelas autoras (2022).
SUMÁRIO 147
Eventos e Produções Coletivas
Evento Titulo do Trabalho Data
Festival Ecologia dos Saberes Kûanâbará: A importância da cosmovisão geopoética dos set 2021
povos originários para repensar a Conservação da Baía
de Guanabara
Festival Ecologia dos Saberes Roda de conversa viver sem Feminina: a busca por voz das set 2021
mulheres que não se deixam calar
4º CRMS - Congresso Regional Ecomotricidades Geopoéticas: uma reflexão afetiva sobre nov 2021
Multiprofissional de Saúde psicomotricidade de crianças no espectro autista em
unidades de conservação da Costa Verde - RJ
2º SACEPI (Minicurso) Unidade de Conservação: Conceitos, usos nov 2021
e potencialidades
2º SACEPI (Minicurso) Pedagogias Contracoloniais extra-muros: nov 2021
o Racismo Ambiental na apropriação dos saberes
automediados
10º SIGABI Ecomotricidades Geopoéticas: uma experiência de inclusão nov 2021
pelo afeto para trilhas interpretativas
10º SIGABI Escrevivendo as geoéticas d’m fazer no eco rede: nov 2021
Conservação da Natureza a partir da Cidade de Deus
10º SIGABI Grupo de Estudos Saberes de Fresat: uma experiência nov 2021
antirracista e Eecruzilhadas geopoéticas pela Conservação
da Natureza
Afetiva arte um convite acessibilidade ambiental pela nov 2021
geopoética nas obras de Clarice Lispector e Lygia Clark
10º SIGABI Prevenção de incêndios florestais no Parque Estadual nov 2021
Cunhambebe: Uma educação geopoética para a Conservação
da Natureza
I Fórum internacional de estudos Fui feita pra vadiar: trajetória e perspectivas asfraodiasfóricas nov 2021
e pesquisas no universo do lazer
SUMÁRIO 148
Eventos e Produções Coletivas
Evento Titulo do Trabalho Data
2º SACEPI (Minicurso) Geopoética em territórios afetivos: pelo (re) dez 2021
encantamento do e com o mundo
2º Encontro de socioantropologia Toda Bahia chorou: corpo capoeira e a morte como cuidado jan 2022
política do corpo da Saúde da
doença e da morte: Reflexões
da pandemia
2º Encontro de socioantropologia O lugar do Luto do Homo Sportivus periférico jan 2022
política do corpo da Saúde da
doença e da morte: Reflexões da
pandemia
Revista Ecoturismo e conservação Escre(vi)vendo como metodologia: Naturezas da gente para a jan 2022
conservação dos Nossos
II CCI - Rede CT Virada Cultural na Geoconservação: Gira Cunhambebe à jan 2022
Conservação da Natureza
XII Semana Acadêmica de Capoeira, o rural eo (des)encantamento do mundo jan 2022
Geografia
Revista Ecoturismo e conservação Naturezas Coletiváveis: Práxis Pedagógica Geopo´rticas para fev 2022
a Conservação d’um Nós
VII Encontro Nacial de Ensino de Biomas e Geopoética pela prevenção a incêndios florestais: jun 2022
Ciências, da Saúde e do Ambiente um encontro encruzilhado no Parque Estadual Cunhambebe
Seminario Saber-se Negra. Tempo Teia: Vivência Criativa Feminina jul 2022
de Anunciação
IV Seminário Internacional Sobre Práticas Geopoéticas no turismo de base Comunitária: jul 2022
Democracia e Cidadania e Estado a Natureza enquanto sujeito de direito em Unidades de
De Direito Conservação Brasileira
Festival do Conhecimento UFRJ Driblando Junto: uma práxis yoga-basquete jul 2022
SUMÁRIO 149
Eventos e Produções Coletivas
Evento Titulo do Trabalho Data
IV Seminário Internacional Sobre Concessão Isenção Fiscal e a Sofisticação Do Racismo jul 2022
Democracia e Cidadania e Estado Ambiental: De Novo De Novo E De Novo
De Direito
II Jornada Cientifica Favelades Escultas nas Frestas: Sobre esforços pela |Conservação de ago 2022
Universitáres Naturezas faveladas na pós-graduação
II Congresso Norte-Nordeste de Reflexões geopoéticas para a ciência cidadã em ambientes ago 2022
Ciências Agrárias rurais
Seminário Tecnologia para Geopoética na conservação da Natureza de bases ago 2022
Edificação e Cidades Inteligente, Comunitária: valão é racismo e canal não sustenta não no rio
Saudáveis e Sustentáveis que é caminho favela tem solução
XII Semana Acadêmica de Tá na mesa: uma reflexão socioambiental sobre a partilha de jan 2023
Geografia si de um corpo-terreiro
XII Semana Acadêmica de Escrevivências d’uma lancheira colonial: Racismo Ambiental, jan 2025
Geografia é de comer?
Revista Ecoturismo e conservação Já estive aqui jan 2026
Revista Ecoturismo e conservação Georreferenciamento, geopoética e ética ambiental em cruzo jan 2027
pela prevenção de incêndios florestais no Parque Estadual
Cunhambebe
Revista Ecoturismo e conservação Palavras geopolíticas pela Conservação da Natureza: saberes jan 2028
de fresta
Fonte: @Geotales (instagram).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O GESF se inicia como proposta de espaço de segurança para
partilhas e facilitadores a partir destas, quanto aos impedimentos aca-
dêmicos normativos ao corpo preto, periférico, favelado e divergente.
SUMÁRIO 150
No período entre janeiro de 2021 e novembro de 2022 foram
realizados 64 Encontros, tendo em média uma hora e meia de dura-
ção cada, somando aproximadamente 96 horas de debates a partir
de leituras, eventos assistidos ou propostas de escrita e composi-
ções diversas. Os textos tiveram formatos em prosa, verso e audiovi-
sual (Reis, 2021). Integrantes e pesquisadores com temas afins con-
vidaram o GESF para suas qualificações e defesas de Mestrado, sete
participações do Grupo em conclusões de Pós-Graduações com
debates internos via grupo ou no Encontro seguinte.
Eu sou Natureza e, apesar dos ataques, resisto porque
não se é Natureza sem se ser coletivo. E esse foi o primeiro
saber, que óbvio pra mim e, aparentemente estranho à
Academia, tornei fazer. [...] Então, quando eu digo ‘eu’,
daqui pra frente, peço que me leiam nós (Reis, 2021, p. 18).
CONSIDERAÇÕES
O GESF propôs provocar o despertar consciente do corpo
não-branco, em cada fazer e estar, que é científico por excelência,
que se recria mais rápido que a forma destrutiva sob a qual opera
o racismo. São passos ancestrais, que resistem e se fortalecem, e
que continuam reverberando, provocando ações e trans-forma(a-
ções). As inquietantes resultantes do fazer colonial, que estigmatiza
os saberes locais, estigmatizam também nossas memórias, nossos
fazeres e como resultantes vivos de fazeres respeitosos, nos movi-
mentamos. Os movimentos não ordenados cronologicamente ou
delimitam um objeto pois o corpo periferizado reconhece o caos de
ser, precisar ser, querer estar, precisar ocupar diversos territórios.
SUMÁRIO 151
construção de conhecimento e forma de existir, que outrora foram,
e num conservadorismo antiquado ainda se fazem ser considera-
das uma condenação. A oralidade por exemplo, que foi apontado por
Quijano (1992) como sendo uma forma de condenação, decorrente
do processo de colonização, onde o letramento ficou restrito aos
colonizadores é uma dádiva. É através da oralidade que podemos
disputar os lugares de poder na atual sociedade, distribuindo carim-
bos no passaporte do conhecimento científico. Alertando que foram
movimentos prévios e extra-acadêmicos que nos forjaram, como
lembrado pelas mais velhas Sueli Carneiro e Conceição Evaristo,
para qual retornamos e compartilhamos, e verdadeiramente mante-
mos o conhecimento vivo, utilizando-o como ferramenta de luta para
manter os nossos vivos.
AGRADECIMENTOS
Reconhecemos aqui as participações neste texto das inter-
venções de cada integrante. Saudamos a indescritível força preta pre-
sente no Núcleo de Estudos Cultura Popular e Sociedade (NECPS/
UFRJ), coordenado pelos Prof. Dr. Renato Barreto Mendonça da
Silva e Me. Genilson Leite da Silva, constantemente cuidando
de quem cuida. À recepção gentil e calorosa do Prof. Dr. Nilton
Abranches Junior e ao grupo Geocorpo (UERJ) pelos ensinamen-
tos e letramentos imprescindíveis para a continuidade de constru-
ções e manutenções plurais. As mulheres em movimento social da
Cidade de Deus e de diversas favelas que conheci a partir, através
SUMÁRIO 152
e com as práticas do Alfazendo. Ao Núcleo de Estudos Territórios
e Resistência na Globalização, ao Rogério Haesbaert, ao Timo
Bartholle aos Sacis por fortalecerem, partilharem e reconhecerem
quem e o que se ganha ao hacker, possuem valores inestimáveis.
As iniciativas de fomento do Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq). Agradecemos também aos espaços
institucionais proporcionados pela Prof. Dra. Luiza Corral Martins de
Oliveira Ponciano (UNIRIO).
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Sílvio Luiz de. O que é racismo estrutural? Belo Horizonte: Letramento, 2018.
EVARISTO, Conceição. Seminário A escrevivência de Conceição Evaristo. [S. l.: s. n.], 2021.
1 vídeo (2:07:10). Publicado pelo canal Itaú Social Disponível em: https://www.youtube.
com/watch?v=bzwGCFEkEf4. Acesso em: 15 out. 2021.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 60 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2016.
MOREIRA, Adilson. Racismo Recreativo. São Paulo: Pólen Produção Editorial LTDA, 2019.
SUMÁRIO 153
MUNANGA, Kabengele. Uma abordagem conceitual das noções de raça, racismo,
identidade e etnia. In: Programa de educação sobre o negro na sociedade
brasileira, 2004.
XAVIER, Giovana. Você pode substituir mulheres negras como objeto de estudo por
mulheres negras contando sua própria história! Rio de Janeiro: Malê, 2019.
SUMÁRIO 154
12
Silvânia Cerqueira
GIFS DE RESISTORES
DOI: 10.31560/pimentacultural/2024.95484.12
INTRODUÇÃO
O presente texto busca apresentar o ciberespaço enquanto
via de atuação política e de letramento digital, visando entender
as mídias sociais enquanto ambiente de propagação de discursos
fazendo uso de gifs animados no intuito de despertar no imaginário
dos usuários da web outras vias de agir politicamente neste terreno
de disputas de imagens e discursos. Busco no texto expor o roteiro
adotado na oficina de criação de gifs, realizada com a mulheres con-
templadas no projeto Malungas, oficina também inscrita na II Jornada
Científica Favelades Universitáries (2022); o processo de criação con-
siste em escavar palavras buscando suas variações de sinônimos e
sentido. Para a oficina, a palavra resistência12 guiou o processo, com
suas derivações foram escritas frases em formato de gifs animados
com os sinônimos e significados desta palavra seguindo uma linha
discursiva de pensar o uso consciente dos meios e propagação de
discursos na internet, usando a linguagem que os meios de pro-
dução digital sugerem.
O HUMANO E A ASCENSÃO
DA CIBERCULTURA
O humano é o único animal que busca desenvolver tecnolo-
gias para melhorar ou se adequar aos diferentes contextos, podemos
citar as primeiras técnicas desenvolvidas desde a descoberta de um
corpo capaz de andar em posição ereta até as tecnologias de agora,
com as ampliações de linguagens e extensões corporais e espaciais,
12 Deriva da palavra resistência, plural de resistor, peça que aumenta a resistência elétrica de um
circuito. A palavra é uma tentativa de informar que os escritos das frases e gifs compõe um circuito,
o da política.
SUMÁRIO 156
das quais o mesmo faz uso. Seguindo o fluxo histórico podemos nar-
rar os diferentes estágios, o estar nômade, momento histórico no
qual o humano passou a ficar longos períodos de permanência no
ambiente consumindo os recursos naturais disponíveis até o total
esgotamento, e ao perceber a possibilidade de desenvolver instru-
mentos para garantir sua permanência, este inicia agremiações que
na contemporaneidade são tituladas sociedades. Ao passar para o
estar sedentário esse inaugura a formação de pequenas colônias, se
adequando ao espaço de maneira cômoda. Comodidade adquirida
através dos diversos instrumentos e ferramentas agrícolas, dispo-
níveis no habitat, no qual se estabelecia uma nova ordem de rela-
ções homem-conhecimento.
SUMÁRIO 157
observador passivo, mas sim como agente interventor, isto porque,
ao regressar às vivências do homem paleolítico, nota-se a existência
de uma relação sujeito-espaço-ambiente, a qual propomos a ideia
de sujeito-ciberespaço-linguagem com ampliação e popularização
dos meios digitais efervescente no final dos anos 90 com a ascensão
da cibercultura, o ciberespaço tornou-se um ambiente de fronteiras
e também terreno de produção de conhecimento (Lèvy, 1999). Em
relação ao ciberespaço Gadotti (2000, p. 7) expõe que
O ciberespaço não está em lugar nenhum, pois está em
todo o lugar o tempo todo. Estar num significaria estar
determinado pelo tempo (hoje, ontem, amanhã). No cibe-
respaço, a informação está sempre e permanentemente
presente e em renovação constante. O ciberespaço rom-
peu com a idéia de tempo próprio para a aprendizagem.
Não há tempo e espaço próprios para a aprendizagem.
SUMÁRIO 158
modalidade imagética, envolve, portanto, em práticas de letramentos,
compreendidos como “um conjunto de práticas sociais que usam a
escrita, enquanto sistema simbólico e enquanto tecnologia, em con-
textos específicos” (Kleiman, 1995, p. 19). Partimos da ideia de lingua-
gem enquanto tecnologia para propormos a criação de gifs de resisto-
res, usando os meios disponíveis enquanto estética de resistência par-
ticipando da arena de discursos e pulverizando ideias ciberativistas.
GIFS DE RESISTORES
Alterações visíveis com o advento da cibercultura fecundada
nos anos 40 através do desenvolvimento da informática e da ciber-
nética, popularizada na década de 70 com o surgimento do micro-
computador, inaugurou a formação de uma sociedade conectada
“computador para todos” (Lemos, 2002, p. 109), ação que generali-
zou a conexão nos anos 90, e resultaram na popularização dos meios
digitais, mais especificamente os canais de vídeos, nos quais são
exibidos desde tutoriais de jogos à receitas de culinária e atualmente
acessados via celular, visto que, vivemos uma sociedade de celula-
res para todos, se formos analisar a capitalização das operadoras
de aparelhos móveis no Brasil, a qual se configura de maneira per-
versa e desigual, despertando o fetiche das atualizações imediatas
de modelos de aparelhos, falácia que leva para mercado modelos
fadados a obsolescência em arquivamento e envio de dados, o tele-
fone móvel tem ganhando atribuições de computador móvel.
SUMÁRIO 159
As rupturas promovidas pelos novos instrumentos de produ-
ção (ativo/passivo) emergidos no contexto da Web 2.0, reconfiguram
as relações do educando com os meios e a produção científica, ou
seja, com os diferentes canais-instrumentos desde o primeiro porto
de embarque em plataformas, as redes sociais aos diferentes apli-
cativos, convergidos nas telas das mídias móveis, que permitem a
dinamização e popularização do conhecimento.
Desta forma, com base no uso das novas tecnologias foi feita
uma análise sobre a importância da difusão científica, conteúdo
exposto neste projeto explicitando o uso dos meios digitais e das
diferentes mídias na difusão do conhecimento científico, para res-
ponder às seguintes perguntas; qual a importância das mídias digi-
tais para pensar o ativismo? Como podemos usar os meios digitais
enquanto via de resistência? Foram essas perguntas que moveram
o caminho até chegarmos aos gifs (Graphics Interchange Format ou
em português formato de intercâmbio gráfico), para melhor traduzir
o que seriam os gifs, são mensagens com imagens ou textos cur-
tos animados em poucos segundos usadas geralmente pela gera-
ção nascida na web 2.0.
13 Expressão usada para referenciar o uso e a necessidade de buscar desenvolver nas escolas ações
usando como ponte a Educomunicação.
SUMÁRIO 160
rede telemática e rede de computadores, são frutos de uma
corrida armamentista e sedenta por informações rápidas
(Lemos, 2002). Partindo da sumarização do surgimento da
internet, iniciamos o processo criativo, a oficina foi inscrita na
II Jornada Científica Favelades Universitáries (2022), evento
no qual não tivemos inscritos, o que motivou sua realização
no projeto Malungas (2022);
SUMÁRIO 161
Quadro 1 - Sentidos da resistência
Significado Sinônimos Fonte
1. Ato ou efeito de resistir. Força: energia, decisão, confiança, Dicionário de português do
2. Propriedade de um corpo que ânimo, brio, força, fortaleza, moral, Google é alimentado pela Oxford
reage contra a ação de outro corpo. valor, vigor. Languages.
Persistência: constância,
determinação, firmeza, obstinação,
perseverança, persistência,
pertinácia, teimosia, tenacidade.
Oposição: objeção, antagonismo,
luta, reação, rechaço, relutância,
renitência.
Embaraço: dificuldade, bloqueio,
barreira, empecilho, estorvo,
impedimento, óbice, obstáculo.
Recusa: desaceitação, descrédito,
recusa, rejeição.
Defesa própria de quem luta
contra outros: defendimento,
defensão, defesa.
Fonte: elaborado pela autora (2022).
SUMÁRIO 162
Figura 2 - Exemplo de Gift produzido na Oficina
SUMÁRIO 163
grupos detentores dos dados da população mundial de ciborgues
conectados pelas redes de aplicativos desde o financeiros aos de
relacionamentos, incitando o aniquilamento do modelo fetichista da
Indústria Cultural, e do funcionalismo das tradições teóricos socioló-
gicas, ou seja, vivemos uma assimetria, na qual a “máquina” deten-
tora de informações tem donos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Adotar a linguagem das mídias para pensar caminhos de
ocupar a arena dos discursos pode ser uma via tortuosa, mas par-
ticipativa, pois é importante entendermos os meios e mesmo de
maneira desigual os ocuparmos. Omitir-se não faz sentido, o modelo
da oficina permitiu entendermos que é possível com um celular na
mão. Um letramento digital pode vir a ser uma via para revertermos o
avanço do uso ingênuo das mídias digitais e os dispositivos móveis,
a ideia de pensar os gifs de resistores é uma tentativa de explicitar
o uso ativista dos meios eletrônicos atribuindo a estes não apenas a
instrumentalização, mas um entendimento dos meios de produção e
participação política através da criação de mensagens.
14 É pertinente salientar que a cibernética de segunda ordem já se faz presente e atualmente vi-
venciamos a popularização da web 3.0 com o deslumbre dos avatares presentes na realidade
ampliada, modelo que ainda não se popularizou na classe mais baixa da população devido a
necessidade de atualização do android e alto envio de dados.
SUMÁRIO 164
REFERÊNCIAS
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XXI. A humanização das tecnologias. São Paulo: Editora UNESP, 1997. p. 336-334.
GADOTTI, Moacir. Perspectivas atuais da educação. Porto Alegre: Ed. Artes Médicas, 2000.
SUMÁRIO 165
13
Wudson Guilherme de Oliveira
O AQUILOMBAMENTO
DOS POVOS BANTU
NO ENSINO DE FILOSOFIA:
PERSPECTIVAS NO ENSINO DE FILOSOFIA
E AS SUAS TRANSVERSALIDADES
NO “CHÃO DA ESCOLA”
DOI: 10.31560/pimentacultural/2024.95484.13
MEDITAÇÕES INTRODUTÓRIAS
[...] à possibilidade de se estabelecer, na prática educativa
uma relação entre aprender conhecimentos teoricamente
sistematizados (aprender sobre a realidade) e as ques-
tões da vida real e de sua transformação (aprender a rea-
lidade da realidade) (Brasil, 1998, p. 30).
15 Em 11 de Março de 2008 a Lei 10.639/2003 foi substituída pela criação da Lei 11.645/2008 que
torna obrigatório, também, o ensino ligado à História e Cultura dos Povos Indígenas nos currículos
oficiais da educação nacional.
SUMÁRIO 167
Sobre a amabilidade do protagonismo dos Movimentos
Negros16 em relação aos processos das promoções das equidades
raciais no Brasil, Nilma Lino Gomes (2017) afirma que:
Uma coisa é certa: se não fosse a luta do Movimento
Negro nas suas mais diversas formas de expressão e de
organização [...] muito do que o Brasil sabe atualmente
sobre a questão racial e africana, não teria acontecido.
E muito do que hoje se produz sobre a temática racial e
africana, em uma perspectiva crítica e emancipatória não
teria sido construído. E nem as políticas de promoção da
igualdade racial teriam sido construídas e implementadas.
[...] A obrigatoriedade do estudo da história e da cultura
afro-brasileira e africana nas escolas públicas e particu-
lares de educação básica não teriam se transformado em
realidade, ajudando a todos nós, brasileiras e brasileiros,
de todo e qualquer grupo étnico-racial a superar a nossa
ignorância sobre o racismo e seus efeitos nefastos, como
também a reconhecer o protagonismo das negras e dos
negros, que representam 53% da população que vive e
constrói o nosso país (Gomes, 2017, p. 18).
SUMÁRIO 168
das Leis Federais 10.639/2003 e 11.645/200817. Não podendo deixar
de aludir, os desprovimentos de materiais, didáticos e paradidáticos
que ainda não estão presentes nas salas de aula, pois “o racismo
imprime marcas negativas na subjetividade dos negros e também na
dos que os discriminam” (Parecer CNE/CP 3/2004), provocando a
não contribuição para os professores colaboradores.
Fonte e Arte: Wudson Guilherme de Oliveira, professor e mediador na 1ª Jornada Científica Favelades.
17 Esta lei foi assinada no mês de março de 2008, é inserida a Lei Federal 11.645/08, acrescentando
as temáticas ligadas à história e cultura dos povos indígenas nos currículos oficiais no artigo 26 -
A da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) em todo território nacional.
SUMÁRIO 169
Desta maneira, estas façanhas tidas aqui, como ações afir-
mativas, que se tornam em um
Conjunto de políticas públicas e privadas de caráter com-
pulsório, facultativo ou voluntário, concebidas com vista
ao combate à discriminação racial, de gênero e de origem
nacional, bem como para corrigir os efeitos presentes da
discriminação praticada no passado (Gomes, 2001, p. 40).
18 “[...] raça é uma construção política e social. É a categoria discursiva em torno da qual se organiza
um sistema de poder socioeconômico, de exploração e exclusão, ou seja, o racismo. Todavia, como
prática discursiva, o racismo possui uma lógica própria. Tenta justificar as diferenças sociais e
culturais que legitimam a exclusão racial em termos de distorções genéticas e biológicas, isto é,
na natureza” (Hall, 2003, p. 69).
SUMÁRIO 170
À vista disso, também foram germinadas novas discus-
sões acaloradas, que interrogaram e dinamizaram, conhecimentos
como: desigualdade racial, violência, preconceito, ações afirmativas,
gênero, racismo, intolerância religiosa contra os adeptos das reli-
giões afro-brasileiras, entre outras intervenções epistemológicas e
teóricas das ciências humanas, sociais, jurídicas e da saúde. Onde
também podemos incluir as produções críticas das teorias do século
XIX, que ainda são presentes no imaginário pedagógico, teórico e
social (Gomes, 2017).
SUMÁRIO 171
pintando o rosto da criança com tinta guache branca e tanga
de papel pardo com um machado cruzado;
20 O Movimento Negro tem interpretado esta data como “Dia Nacional de Luta contra o Racismo”, de
modo a reeducar e construir novos diálogos pela igualdade e representatividade.
21 No Estado do Rio de Janeiro, é decretado como feriado o dia 20 de novembro, data da morte do
líder quilombola Zumbi dos Palmares, estabelecido com o “Dia da Consciência Negra” sancionada
pela Governadora Benedita da Silva pela Lei nº 4007, de novembro de 2002.
SUMÁRIO 172
sobre tais controvérsias, como por exemplo, as perspectivas ligadas
à discriminação, preconceito, racismo e branquitude.
22 A interseccionalidade foi um termo cunhado no ano de 1989, pela teórica feminista estadunidense
Kimberlé Crenshaw (1991). Em suas primeiras reflexões escritas, a autora via a interseccionalidade
como uma “metáfora” e em seus textos posteriores, Kimberlé Crenshaw passou a apontá-los como
uma “categoria provisória”. Para saber mais, buscar em: Mapping the margins: intersectionality,
identity politics, and violence against women of color de Kimberlé Williams Crenshaw.
SUMÁRIO 173
TENSÕES CAUSADAS PELA
IMPLEMENTAÇÃO DAS LEIS
NO CHÃO DA ESCOLA
Em uma determinada instituição privada de Educação
Básica, em um município localizado na Baixada Fluminense, região
metropolitana do Rio de Janeiro, foram planejadas, preparadas e rea-
lizadas de modo desacompanhado, “Aulas/Oficinas” de modo emer-
gencial para uma turma do 1º Ano do Ensino Médio, nas aulas da
Disciplina de Filosofia.
23 Vale lembrar que Luiza Mahin, era uma mulher negra, inteligente, princesa em África, vinda da
Costa da Mina (Nagô de Nação) da etnia Mahi, daí o seu nome étnico, é muito referenciada e
idealizada pela comunidade negra e outros segmentos da sociedade brasileira associados aos
movimentos negros, e à valorização da história e cultura afro-brasileiras, sendo representada pe-
las memórias históricas como uma escrava de ganho, quituteira e quitandeira, que sempre lutou
contra a escravidão. Mulher insubordinada, foi uma revolucionária baiana, tornando-se livre por
volta de 1812. Foi grande apoiadora de variadas revoltas de escravizados. Inclusive na repressão
da gigantesca Revolta dos Malês, se tornando um símbolo de resistência negra, se configurando
em um mito para a população afrodescendente. Já no ano de 1835, ela teria fugido para o Rio de
Janeiro, onde foi presa e possivelmente deportada para o Continente Africano. Luiza Mahin é mãe
do poeta Luiz Gama “percursor do abolicionismo no Brasil”. Para saber mais, consultar em Aline
Najara da Silva Gonçalves Luiza Mahin: uma rainha africana no Brasil (2011).
SUMÁRIO 174
Neto (2011) exibe que o Bullying, é aquela soma de com-
portamentos agressivos e frequente de opressões, abusos, injúrias
e subjugação de uma pessoa ou grupos sobre outro indivíduo ou
grupos, subjugados pela força. Nesse sentido, Neto define o Bullying
como “atitudes agressivas, intencionais e repetidas, que ocorrem
sem motivação evidente, adotadas por um ou mais estudantes con-
tra outros (os), causando dor e angústia, e executadas dentro de
uma relação desigual de poder, tornando possível a intimidação da
vítima” (Neto, 2011, p. 21).
SUMÁRIO 175
Todavia, o projeto não foi aprovado, por não se tratar de ques-
tões tão pertinentes e urgentes, pois de acordo com a coordena-
ção, o Colégio Educacional Luiza Mahin “Rainha Africana no Brasil”,
não compactuava com algo que não existe, pois racismo não existe.
Inclusive, como a escola poderia estar tendo práticas racistas, se ela
possuía em seu quadro de funcionários, dois professores negros e as
“Tias da limpeza da escola”.
SUMÁRIO 176
Agravando, de modo intenso, as desigualdades, as injustiças
e mantendo as exclusões, fundadas em preconceitos e na manu-
tenção dos privilégios, para os grupos sempre privilegiados, for-
talecendo o imaginário de que no Brasil e em nossa escola, existe
uma harmônica relação amparada na democracia racial. Vale des-
tacar que em nossa sociedade ainda encontramos pessoas que
acreditam nesse mito.
25 A ativista e pesquisadora Catherine Walsh (2013) foi quem delimitou a referida abordagem por
sugerir práticas insurgentes no processo de formação escolarizada, no entanto, também, em ou-
tros espaços de conhecimento. Onde se destaca a publicação Pedagogias Decoloniais: práticas
insurgentes de resistir, (re)existir y (re)vivir, livro organizado por ela no ano de 2013.
SUMÁRIO 177
Figura 2 - Slide inicial apresentado na instituição de
ensino e na 1º Jornada Científica Favelades
Fonte e Arte: Wudson Guilherme de Oliveira, professor e mediador na 1ª Jornada Científica Favelades.
SUMÁRIO 178
AS AULAS ANTIRRACISTAS
Tendo em vista implementar a Lei Federal 10.639/03 e
11.645/08 e as suas perspectivas que acercam as Histórias e Culturas
Africanas, Indígenas e Afro-brasileiras, para que sejam incorporados
nos conteúdos curriculares do Ensino de Filosofia, para a turma do 1º
Ano do Ensino Médio da Educação Básica, foi planejado trabalhar com
os alunos utilizando perspectivas das Filosofias Africanas26, reputada
como a filosofia que “está presente em todas as discussões a respeito
do status filosófico de pensadores e pensadoras do continente afri-
cano” (Nogueira, 2014, p. 72) sempre inspirado, nas reflexões de alguns
filósofos e intelectuais africanos, afro-americanos e afro-brasileiros.
26 Em relação aos filósofos que exploram reflexões das Filosofias Africanas com uma abordagem
filosófica afroperspectivista, podemos nos portar em referenciais como: Abdias do Nascimento
(2002), Cheikh Anta Diop (1967), Joseph Omoregbe (1998); Kwame A. Appiah (1997); Mogobe Ramo-
se (2011); Paul Hountondji (2010), Renato Noguera (2014), entre outros.
27 Doutor em Filosofia e professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), responsável
pelo Grupo de Pesquisa Afroperspectivas, Saberes e Interseções (AFROSIN) e autor de vários livros.
28 Mestra em Filosofia Política pela Unifesp, colunista do jornal Folha de São Paulo e foi secretária
adjunta de Direitos Humanos e Cidadania do município de São Paulo. Coordena a coleção Femi-
nismos Plurais da Editora Pólen.
SUMÁRIO 179
Asante29 (2009), Frantz Fanon30 (2008), entre outros e outras pensa-
doras e pensadores (as) potentes.
Fonte e Arte: Wudson Guilherme de Oliveira, professor e mediador na 1ª Jornada Científica Favelades.
SUMÁRIO 180
Amadou Hampâté Bâ34, Djamila Ribeiro, Patrice Lumumba35,
Amauri Mendes36, Frantz Fanon, bell hooks37, Lélia Gonzalez38, Sueli
Carneiro39 e Renato Nogueira.
34 Filósofo, historiador e escritor, natural da República do Mali, trabalhava para que as culturas
orais africanas fossem reconhecidas mundialmente, onde apresentou a público belos textos
sobre essas culturas.
35 Foi líder da independência congolesa e primeiro-ministro da República Democrática do Congo. Foi li-
gado aos pan-africanistas e profundamente influenciado pelas ideias nacionalistas e anticolonialistas.
36 Doutor em Ciências Sociais e professor da UFRRJ, tem vastas publicações sobre as Relações Raciais.
37 É professora, ativista e escritora. Possui publicações que propõem uma pedagogia antissexista e libertária.
38 Filósofa, antropóloga e escritora brasileira. Mestre em Comunicação Social e doutora em Antropologia.
39 Filósofa, pedagoga, advogada, escritora, militante negra e líder feminista.
40 Termo do vocabulário franco-africano, criado na época colonial para designar o narrador, cantor,
cronista e genealogista que, pela tradição oral, transmite a história de personagens e famílias
importantes das quais, em geral, está a serviço.
SUMÁRIO 181
Os livros expostos tinham temáticas que dialogavam e/ou
colocavam em pauta as questões relacionadas às filosofias africa-
nas, racismo e aos povos bantu. Tendo livros, como por exemplo:
Memórias da plantação: episódios de racismo cotidiano (Kilomba,
2019); Filosofia do ubuntu: valores civilizatórios das ações afirmativas
para o desenvolvimento (Malomalo, 2014); Filosofias africanas: uma
introdução (Lopes, 2020); Bantos, Malês e identidade negra (Lopes,
2021) entre outros.
Fonte e Arte: Wudson Guilherme de Oliveira, professor e mediador na 1ª Jornada Científica Favelades.
SUMÁRIO 182
Já em outros momentos, efetivamos leituras de fragmentos
de textos, assistimos vídeos e estudamos a partir de Slides afrocen-
trados, referentes às múltiplas questões que trouxeram as temáticas
para baile. Com discussões que serviram de subsídio para as trocas
de perspectivas, e muitos outros desdobramentos para a luta contra
o racismo, no “chão da escola” e fora dos seus territórios.
SUMÁRIO 183
Figura 4 - Slide sobre a migração dos povos bantu
SUMÁRIO 184
foram obrigados a fazer estas migrações, além de serem subjugados
e transformados em mão-de-obra escrava especializada.
41 “Termo de origem iorubá que, em sua acepção filosófica, significa a força que permite a realização
da vida, que assegura a existência dinâmica, que possibilita os acontecimentos e as transforma-
ções” (Lopes, 2011, p. 146).
42 “Estado psicopatológico, espécie de nostalgia com depressão profunda, quase sempre fatal, em
que caíam alguns africanos escravizados nas Américas” (Lopes, 2011, p. 181).
43 “Denominação do fruto do dendezeiro e, por extensão, do óleo extraído desse fruto, também cha-
mado azeite de dendê” (Lopes, 2011, p. 445).
44 Aldeamento de escravizados foragidos.
45 “Loja ou tabuleiro em que se vendem hortaliças, legumes, ovos etc., bem como produtos da paste-
laria caseira. Também, biscoitos, bolos e doces expostos em tabuleiro” (Lopes, 2011, p. 1.082).
SUMÁRIO 185
Figura 6 - Slide sobre algumas das palavras incorporadas Figura 6 - Slide sobre
algumas das palavras incorporadas no português brasileiro pelos Povos bantu
Fonte e Arte: Wudson Guilherme de Oliveira, professor e mediador na 1ª Jornada Científica Favelades.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Desfecha-se que dialogar com as reflexões dos filósofos e
intelectuais africanos, afro-americanos e afro-brasileiros, a partir
das afroperspectivas das filosofias africanas, realizadas em “Aulas/
Oficinas” é extremamente importante para as contribuições cultu-
rais, históricas e linguísticas dos povos bantu em nossa sociedade.
SUMÁRIO 186
transgressora para a implementação das Leis Federais 10.6339/03
e 11.645/08, para a luta a favor de uma educação étnico-racial plural.
Pois, sem dúvida alguma, o uso dessas “Aulas/Oficinas”, dinamizou
uma potente promoção das relações raciais no “chão da escola”.
REFERÊNCIAS
ARAÚJO, Edna Maria de. TOLENTINO, Adivânia Nogueira. SILVA, Ananda Catharina
Azevedo. Saúde da população negra: política nacional de saúde, avaliações e reflexões
sobre suas diretrizes. In: KOMINEK, Andrea Maila Voss; VANALI, Ana Crhistina (org.).
Roteiros temáticos da diáspora: caminhos para o enfrentamento ao racismo no Brasil.
Porto Alegre: Editora Fi, 2018, p. 243-264.
ASANTE, Molefi Kete. Afrocentricidade: notas sobre uma posição disciplinar. In:
NASCIMENTO, Elisa Larkin. Afrocentricidade: uma abordagem epistemológica
inovadora. Tradução: Carlos Alberto Medeiros. São Paulo: Selo Negro, 2009, p. 93-110.
SUMÁRIO 187
BEAUDOIN, Marie-Nathalie; TAYLOR, Maurreen. Bullying e Desrespeito: como acabar
com essa cultura na escola. Porto Alegre: Artmed, 2006.
BRASIL. CNE. Parecer n. 03/2004. Diretrizes curriculares nacionais para a educação das
relações étnico-raciais e para o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana.
Brasília, 2004.
BUSQUETS, Maria Dolors. Temas transversais em educação: bases para uma formação
integral. Tradução: Cláudia Schinlling. São Paulo: Ática, 2000.
FANON, Frantz. Pele negra, máscaras brancas. Tradução: Renato da Silveira. Salvador:
EdUFBA, 2008.
GOMES, Nilma Lino. Alguns termos e conceitos presentes no debate sobre relações
raciais no Brasil: uma breve discussão. Portal Geledés, 2010. Disponível em: https://
www.geledes.org.br/wp-content/uploads/2017/03/Alguns-termos-e-conceitos-
presentes-no-debate-sobre-Rela%C3%A7%C3%B5es-Raciais-no-Brasil-uma-breve-
discuss%C3%A3o.pdf. Acesso em: 02 fev. 2023.
SUMÁRIO 188
GOMES, Nilma Lino. Educação, identidade negra e formação de professores/as: um olhar
sobre o corpo negro e o cabelo crespo. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 29, n. 1, jan/
fev. 2003.
GOMES, Nilma Lino. O movimento negro educador: saberes construídos nas lutas por
emancipação. Petrópolis: Vozes, 2017.
GONÇALVES, Najara da Silva. Luiza Mahin: uma rainha africana no Brasil. Rio de Janeiro:
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LOPES, Nei. Bantos, malês e identidade negra. 4 ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2021.
LOPES, Nei. Enciclopédia brasileira da diáspora africana. São Paulo: Selo Negro, 2011.
LOPES, Nei; SIMAS, Luiz Antônio. Filosofias africanas: uma introdução. 2 ed. Rio de
Janeiro: Civilização Brasiliense, 2020.
LOPES, Nei. História e cultura africana e afro-brasileira. São Paulo: Barsa Planeta,
2008, p. 31, 67 e 90.
MALOMALO, Bas’Ilele. Filosofia ubuntu: valores civilizatórios das ações afirmativas para
o desenvolvimento. Curitiba: CRV, 2014.
SUMÁRIO 189
MARQUES, Bruna; NOGUERA, Renato. Um olhar afro-centrado sobre os bantos: o perfil
étnico dos aportados no Rio de Janeiro (1790-1800). In: BERINO, Aristóteles. (org.).
Diversidade Étnico-Raciais e Educação Brasileira. Seropédica, UFRRJ: Evangraf,
2013, p. 147-169.
NETO, Aramis Antônio Lopes. Bullying saber identificar e como prevenir. São Paulo
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NOGUEIRA, Renato. Ubuntu como modo de existir: Elementos gerais para uma ética
afroperspectivista. Revista da ABPN, v. 3, n. 6. nov. 2011 – fev. 2012, p. 147-150.
RIBEIRO, Djamila. O que é lugar de fala? Coleção Feminismos Plurais. São Paulo: Pólen, 2019.
SOVIK, Liv. Aqui ninguém é branco: hegemonia branca e media no Brasil. In: WARE, Vron
(org). Branquidade: identidade branca e multiculturalismo. Tradução: Vera Ribeiro. Rio
de Janeiro: Garamond, 2004, p. 363-386.
WALSH, Catherine. Pedagogias Decoloniais: práticas insurgentes de resistir, (re)existir
y (re)vivir. Tomo I Serie Pensamiento Decolonial. Equador: Editora Abya Yala, 2013.
SUMÁRIO 190
14 Isadora da Silva Barbosa
Sabrina Dal Ongaro Savegnago
ESPAÇOS DE DESENVOLVIMENTO
INFANTIL E A RELAÇÃO COM
A SAÚDE MENTAL DE CRIANÇAS
NO COMPLEXO DA MARÉ:
O OLHAR DE EDUCADORAS
DOI: 10.31560/pimentacultural/2024.95484.14
INTRODUÇÃO
O tema da educação infantil é de interesse para muitos profis-
sionais, apoiados em um discurso de cuidado, em busca de políticas
públicas que correspondam adequadamente a esse público, que pode
apresentar demandas relacionadas à saúde mental que são identi-
ficadas nos espaços escolares. A saúde mental infantil conecta-se
à educação como uma das faces da complexidade deste campo,
envolvendo aspectos emocionais, comportamentais e sociais. Esses
são influenciadores e indicativos do sofrimento psíquico na infân-
cia, que quando ignorados ou ineficientemente trabalhados, causam
prejuízos ao desenvolvimento infantil. Crianças com sofrimento psí-
quico apresentam uma maior dificuldade de experimentar a escola,
o que pode afetar os âmbitos pedagógico e cognitivo, por conta de
questões socioemocionais (Vieira et al., 2014).
SUMÁRIO 192
passem toda a primeira infância numa mesma escola. Essa integra-
ção é justificada por facilitar o “monitoramento do seu desenvolvi-
mento e crescimento ao longo desse percurso” (Rio de Janeiro, 2010,
p. 3), enquanto é oferecido um modelo pedagógico que reconhece e
valida suas potencialidades, incluindo a questão física, psicológica e
cognitiva. Os EDIs também propõem um acolhimento familiar, com a
pretensão de manter relações de pertencimento, confiança e segu-
rança, essenciais ao desenvolvimento infantil (Rio de Janeiro, 2010).
SUMÁRIO 193
MÉTODO
A pesquisa foi realizada de forma qualitativa, através de
entrevistas semiestruturadas em quatro EDIs da Maré. Participaram
duas educadoras de cada EDI, totalizando oito participantes que se
identificam como mulheres, com idades entre 32 e 50 anos, com for-
mações que vão do magistério à pós-graduação, com carga horá-
ria entre 22h a 40h na instituição e tempo de atuação entre um e
dez anos no EDI. Das participantes, apenas uma reside na Maré,
enquanto a maioria mora na Baixada Fluminense (RJ) e faz o tra-
jeto para a Maré diariamente. Os EDIs que participaram da pesquisa
fazem parte da 4º Coordenadoria Regional de Educação e estão dis-
tribuídos entre diferentes territórios dentro do Complexo da Maré.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para falar de riscos ao desenvolvimento infantil e incluir
a saúde mental das crianças como parte deste desenvolvimento
é necessário compreender que riscos seriam esses, a partir da
perspectiva das educadoras, contando com um recorte territorial.
De acordo com as mesmas, além dos riscos gerados pela presença
SUMÁRIO 194
constante de grupos armados e das imprevisíveis operações poli-
ciais, há riscos implícitos, que se relacionam com o medo e a insegu-
rança constantes que deixam de ser elaborados, são naturalizados e
atingem de forma simbólica a criança, aparecendo em seu compor-
tamento (Vieira; Zornig, 2015). Nesse sentido, estas educadoras se
encontram com o suposto “amadurecimento precoce” das crianças,
gerado pelo contato com a violência diária, e neste encontro surge
a possibilidade de elaboração ou de fuga dessa realidade. Assim,
as participantes destacaram algumas maneiras como abordam tais
situações com as crianças, como por exemplo:“A gente precisa ten-
tar amenizar a situação, mas não fantasiar que não tá acontecendo
nada, porque isso também é meio que negligenciar a inteligência
dessa criança, subestimar” (EDI 2|G).
SUMÁRIO 195
os pares, dificuldades na participação em atividades coletivas e iso-
lamento. Portanto, a relação entre as educadoras e as crianças nos
mostram como o olhar atento e comprometido pode perceber o que
no comportamento infantil poderia transparecer um risco e alertar
em relação a situações de sofrimento psíquico: “Quando a criança
apresenta um comportamento muito diferente do esperado para a
idade dela, tá?” (EDI 3|P), “Aqui nós temos crianças muito alegres
e aí quando você começa a perceber que a criança começa a ficar
quietinha, calada [...] percebo que essa criança precisa de uma aten-
ção maior” (EDI 4|G).
SUMÁRIO 196
da dificuldade da família em aceitá-lo. Nos casos em que aceitam o
que é sinalizado, o desafio se torna encontrar um pediatra, como indi-
cado nas falas: “Eu sempre peço pra ir ao pediatra, mando ninguém
para psicólogo e psiquiatra”, “A gente orienta para ir a um pediatra, a
gente até oferece um relatório” (EDI 3|P).
SUMÁRIO 197
A gente conversou já com a Redes da Maré, a gente faz a
parceria para Clínica da Família, para a questão de vacina-
ção, de atendimento médico, eu já fiz uma ação social aqui
que deu muito certo esse ano [...] a gente trouxe pessoas
da própria comunidade para fazer ação social (EDI1|G).
SUMÁRIO 198
da escola amplia as possibilidades de atuação, seja no contato
com a criança, no atendimento às famílias e na intersetorialidade
dentro do território, expandindo o trabalho em rede sem sobrepor
a importância da participação de cada sistema ligado à criança
(Vokoy; Pedroza, 2005).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
De acordo com este trabalho, é possível inferir a importância
dos EDIs na promoção e na prevenção da saúde mental de crian-
ças da Maré. As educadoras afirmam que estão atentas à identi-
ficação de sinais de sofrimento psíquico e de riscos ao desenvol-
vimento dessas crianças e veem a escola como responsável pelo
encaminhamento de demandas e pelo suporte às famílias, ainda que
estas muitas vezes não encontrem nas políticas de saúde pública
o cuidado demandado.
SUMÁRIO 199
Ressalta-se a importância de intervenções voltadas aos edu-
cadores destes espaços, com o objetivo de capacitá-los para a iden-
tificação de demandas e o manejo de problemáticas relacionadas à
saúde mental infantil. Destaca-se ainda a necessidade de fortaleci-
mento das ações intersetoriais voltadas para a promoção de saúde
mental infantil, que envolvam os diversos atores e sistemas envolvi-
dos na atenção a este grupo social.
REFERÊNCIAS
BARDIN, Laurence. Análise de Conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2016.
BITTENCOURT, Maria Ines Garcia de Freitas; CALDAS, Renata. de Oliveira Pinto. Infância,
violência e redes de apoio em uma comunidade carioca. Arq. bras. psicol., Rio de
Janeiro, v. 64, n. 2, p. 130-142, ago. 2012.
CID, Fernanda Barboza Cid; SQUASSONI, Elisabeth Carolina; GASPARINI, Danieli Amanda;
FERNANDES, Luiza Helena de Oliveira.Saúde mental infantil e contexto escolar: as
percepções dos educadores. Pro-Posições, Campinas, v. 30, e20170093, 2019.
COUTO, Cristina Ventura Couto; DUARTE, Cristiane S.; DELGADO, Pedro Gabriel Godinho. A
saúde mental infantil na saúde pública brasileira: situação atual e desafios. Rev. Bras.
Psquiatr, v. 30, n. 4, p. 390-398, 2008.
CRIANDO REDE. Guia metodológico em saúde mental. Rio de Janeiro: Unicef, 2021.
SUMÁRIO 200
DINIZ, Eva; KOLLER, Silvia Helena. O afeto como um processo de desenvolvimento
ecológico. Educar, Curitiba, n. 36, p. 65-76, 2010.
DUARTE, Katy Lopes; SOUZA, Eloísa Mello de; RODRIGUES, Luna. Importância e desafios
do trabalho em rede entre a escola e um serviço de saúde mental infanto-juvenil.
Revista de Psicologia da Criança e do Adolescente, Rio de Janeiro, v. 8, n. 1, 2017.
VIEIRA, Ana Carolina Dias.; ZORNIG, Silvia Maria Abu-Jamra. Ambiente violento, infância
perdida? Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, v. 18, n. 1, mar. 2015.
SUMÁRIO 201
15
Julia Maria Dias Moreira Vaz
Maria Clara Miranda Mello
Ana Carolina Lydia Ferreira da Silva
SUJEITOS
DA NOSSA HISTÓRIA
DOI: 10.31560/pimentacultural/2024.95484.15
INTRODUÇÃO
Durante o ano de 2022 aprendemos muitas coisas novas,
principalmente por estarmos voltando às aulas presenciais, depois
das medidas de isolamento por causa da covid-19, pandemia que
assolou o mundo. Também era uma nova experiência para nós pois
estaríamos inaugurando o Itinerário Formativo do Novo Ensino
Médio, com as aulas da área das Ciências Humanas (CH).
SUMÁRIO 203
O Itinerário teve como assunto norteador a identidade, tema tão
caro às CH e que, muitas vezes, é negligenciado de debates mais
profundos na escola.
SUMÁRIO 204
Figura 1 - Mapa do Estado do Rio de Janeiro com a cidade de São Gonçalo destacada
SUMÁRIO 205
pessoas que conhecemos, que estão do nosso lado e que de alguma
forma são importantes para nossas próprias histórias.
SUMÁRIO 206
Sua atuação foi necessária já que a prefeitura nunca deu acesso aos
bairros periféricos.
SUMÁRIO 207
CONCLUSÃO
O que foi importante para nós, foi buscar de que forma essas
histórias poderiam fazer parte de uma história muito maior e mais
importante: a nossa. Após as apresentações, percebemos que todas
as narrativas dos nossos colegas serviram de exemplos para nós
mesmos, nos incentivando a ser protagonistas da nossa própria his-
tória e até mesmo das nossas comunidades.
SUMÁRIO 208
REFERÊNCIAS
FARIA, Ederson de; SOUZA, Vera Lúcia Trevisan de. Sobre o conceito de identidade:
apropriações em estudos sobre formação de professores. Psicologia Escolar e
Educacional, v. 15, n. 1, p. 35-42, 2011.
CHAVES JUNIOR, José Inaldo. Biografia e micro-história: diálogos possíveis para uma
história da governança no Império Português (Capitania da Parayba, c.1764-1797).
Revista Cantareira, [s. l.], 2011.
HALL, Stuart. A Identidade Cultural na Pós-Modernidade. 6 Ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2001.
SILVA, Tomaz Tadeu da; HALL, Stuart; WOODWARD, Kathryn. Identidade e diferença: A
perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis: Editora Vozes, 2014.
SUMÁRIO 209
SOBRE OS AUTORES
E AS AUTORAS
Allayne Ellen Pantaleão Plácido Cílio
Cria do subúrbio carioca, 23 anos, estudante de medicina na UFRJ. Amo cantar,
borboletas, câmeras antigas e roupinhas de brechó. Lugar favorito: Madureira,
onde aprendi a importância da coletividade desde a creche Tia Maria Jongo.
E-mail: [email protected]
SUMÁRIO 210
Ana Luísa Santana Santos
Estudante do Ensino Médio na escola Sesi e do Curso Técnico em Redes de
Computadores pelo Senai.
E-mail: [email protected]
Danielle Cerri
Professora-pesquisadora da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio
da Fundação Oswaldo Cruz.
E-mail: [email protected]
SUMÁRIO 211
Humberto Salustriano da Silva
Doutor em Educação pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro –
UNIRIO. Mestre em Planejamento Urbano e Regional pela Universidade Federal
do Rio de Janeiro. Professor de História da Educação Básica na Rede Pública de
Ensino – UFRJ. Pesquisador NEPS-CEASM.
E-mail: [email protected]
SUMÁRIO 212
Lidiane Santos Barbosa
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO. Programa de
Pós-Graduação em Ecoturismo e Conservação.
E-mail: [email protected]
Michelle Oliveira
Professora-pesquisadora da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio
da Fundação Oswaldo Cruz.
E-mail: [email protected]
SUMÁRIO 213
Rosilaine Souza de Araújo da Silva
Professora na Escola Estadual CIEP 313 Rubem Braga, Escola Municipal
Evaristo de Moraes e Escola Municipal Mario Fernandes Pinheiro.
E-mail: [email protected].
Silvânia Cerqueira
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Universidade
Federal da Bahia, linha de Processos Criativos, bolsista da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior Capes.
E-mail: [email protected]
SUMÁRIO 214
ÍNDICE REMISSIVO
A desenvolvimento infantil 191, 192, 193, 194
ações afirmativas 12, 75, 170, 171, 182, 189 desigualdade 46, 49, 54, 57, 75, 79, 80, 171, 177
assédio sexual 117, 119, 125 desigualdade racial 171, 177
C desigualdade social 46, 49, 54, 80
capoeira 54, 55, 56, 57, 58, 62, 68, 71, 149 diáspora 50, 170, 187, 189
cartografia 50, 72 diferença 24, 80, 103, 109, 113, 204, 205, 209
cibercultura 156, 158, 159 E
ciberespaço 156, 158, 160, 163 Ecoturismo 139, 149, 150, 152, 154, 212
cidadania 104, 149, 150, 179 educação 14, 15, 18, 19, 20, 21, 22, 23, 24, 25, 43, 48, 49, 50, 51, 52,
colorismo racial 50 70, 74, 79, 80, 82, 83, 84, 85, 86, 87, 88, 89, 90, 91,
92, 93, 94, 95, 102, 113, 137, 141, 142, 148, 154, 165,
comunicação 67, 68, 132, 160, 163, 164, 178
167, 168, 169, 170, 171, 172, 174, 175, 177, 186, 187, 188,
comunidade 18, 23, 49, 54, 64, 70, 90, 97, 100, 101, 109, 111, 117, 120, 189, 190, 192, 193, 198, 201
131, 174, 187, 197, 198, 200, 204, 205, 206, 207, 208
educação bancária 88, 141
comunidade local 18, 23
educação básica 49, 90, 92, 168
comunidade universitária 54
educação crítica 80, 82, 87
confrontos armados 18, 19, 24
educação formal 18, 19, 22, 23, 86, 89, 91, 93
conhecimento 12, 13, 14, 47, 54, 55, 56, 78, 98, 103, 104, 105, 106,
educação infantil 192, 198, 201
107, 108, 111, 130, 132, 141, 152, 157, 158, 159, 160, 164,
176, 177, 187, 193, 196, 198, 203 educação não formal 86, 87, 90, 91, 92, 93
conhecimento histórico escolar 104, 105 educação popular 20, 21, 24, 84, 85, 87, 88, 93, 95
conjuntos habitacionais 64, 71 efeito-favela 20, 22, 23, 25
Conservação da Natureza 139, 145, 147, 148, 149, 150, 154 EJA 16, 17, 18, 19, 20, 21, 23, 24, 25, 214
cultura 19, 51, 56, 57, 59, 114, 140, 152, 165, 167, 186, 188, 211, 213 escola pública 22, 84, 85, 87, 89, 90, 91, 92, 94, 95
cultura afro-brasileira 45, 49, 168, 188 escravidão 76, 172, 174
cultura brasileira 55, 136 escrevivência 78, 129, 143, 153
cultura política 92, 94 F
Cultura Popular 152 favela 12, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20, 22, 23, 24, 25, 27, 36, 39, 40, 61,
currículo 44, 45, 46, 51, 102, 103, 115, 135, 146 66, 72, 74, 75, 76, 77, 78, 81, 82, 98, 100, 101, 106,
107, 109, 115, 133, 135, 142, 150
D
feminismo 128, 130, 136
democracia 47, 48, 90, 91, 93, 177, 180
democracia racial 47, 48, 177
SUMÁRIO 215
G P
gifs de resistores 159, 161, 164 papoeira 54
H pensamento crítico 43, 44, 45, 48, 49, 92
história 51, 95, 97, 101, 102, 104, 105, 106, 107, 110, 111, 112, 113, 114, periferias 12, 13, 14, 28, 43, 47, 86, 87, 88, 94
115, 167, 171, 180, 186, 188, 189, 206, 207, 210, 211, 214 poesia falada 28, 30
história local 70, 97, 104, 106, 110, 111, 114 Poetry Slam 27, 28, 30, 34, 41
I R
identidade 17, 36, 38, 46, 54, 68, 71, 100, 101, 102, 104, 107, 113, racismo 33, 38, 43, 45, 46, 47, 49, 70, 75, 76, 83, 129, 130, 132,
114, 129, 137, 154, 182, 189, 190, 203, 204, 208, 209 135, 136, 142, 146, 150, 151, 153, 154, 168, 169, 170,
igualdade 48, 58, 103, 113, 168, 170, 172, 177, 188, 204 171, 173, 175, 176, 177, 178, 182, 183, 187, 189, 190
intencionalidade política 86, 87, 88, 91, 92 racismo científico 142
interculturalidade 103, 113 racismo estrutural 43, 45, 46, 49, 153, 176
resistência 24, 29, 47, 63, 69, 71, 74, 75, 78, 81, 82, 136, 153, 156,
M
158, 159, 160, 161, 162, 174, 177, 178, 207
marginalização 22, 129, 132
T
memória 62, 64, 71, 101, 107, 108, 112, 113, 114, 129, 134, 145, 153, 207
território 21, 97, 101, 139, 154
meritocracia 47, 80, 86, 176
movimento negro 48, 168, 189 V
movimentos sociais 21, 43, 87, 88, 153 violência 16, 18, 19, 20, 21, 22, 33, 38, 63, 64, 66, 68, 71, 74, 75, 98,
117, 118, 120, 125, 130, 171, 180, 195, 198, 200, 204
mulheres negras 128, 129, 132, 134, 135, 136, 154
vulnerabilidade social 71, 128, 196
O
oralidade 142, 152, 157, 207
SUMÁRIO 216