DIVERSIDADE CULTURAL
Muitas vezes a diversidade é vista sob o prisma exótico no olhar dos turistas, outras vezes é
vista com desprezo pelo olhar etnocêntrico, colonizador e explorador. É preciso diversificar tais
olhares e perceber que é na diversidade cultural que estão as raízes para a busca do respeito e
justiça social em nosso país.
A cultura brasileira é representada pelo conjunto de tradições, manifestações culturais,
costumes, culinária e religião dos povos que viveram no país ao longo da História. Devido a um
grande processo de miscigenação de etnias, o Brasil é um dos países com maior diversidade
cultural do mundo.
A formação cultural do Brasil é o resultado da miscigenação entre o indígena, o negro e o
imigrante europeu (portugueses, espanhóis, franceses, italianos, alemães) mas também
imigrantes asiáticos (judeus, sírios, turcos, libaneses, japoneses) que dependeu de ondas
migratórias no século XIX e XX. Vários povos de outras nacionalidades, trazendo consigo suas
tradições e costumes, contribuindo para a diversidade cultural.
Exatamente pela questão da diversidade, a cultura brasileira deve ser vista como heterogênea,
pois é resultado de diferentes elementos culturais, que se expressam nas distintas regiões do
território brasileiro. Mesmo assim a diversidade não é vista pelo aspecto rico da
pluriculturalidade, e muitas vezes é abordado pelo viés da desigualdade, do preconceito, que
acompanha as relações desiguais e hierarquizadas, como manifestações das injustiças sociais e
violência contra os povos (negros e indígenas) considerados inferiores e por isso não
merecedores de respeito e reconhecimento.
Consideramos aqui a necessidade de abordar a temática da violência cultural abordada por
RIZZO (2018) que
“[...] considerada o tipo de violência mais sutil, indireta e duradoura através do tempo. Nasce
na esfera simbólica, nas crenças e nos costumes dos seres humanos. Não está nas crenças e
costumes em si, mas na forma como são utilizados para justificar e legitimar formas de
violência, sem parecer errado. Busca embasamento em diferenças culturais, étnicas de gênero
e pode se manifestar através da arte, religião, ideologias, linguagens e ciência.”
Observamos a violência cultural como algo natural e comum, onde fica difícil combater, o
preconceito e violência racial que se utiliza da diferença na cor da pele para justificar
diferenças salariais, criminalização e perseguição.
Segundo dados divulgados pelo Atlas da Violência 2021, produzido pelo Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (Ipea) e o Fórum de Segurança Pública confirmam as características da
violência urbana no Brasil:
A violência afeta de diversas maneiras os grupos mais vulneráveis da população brasileira.
Nesse sentido, os dados de 2019 indicam que:
• Jovens são, historicamente, as principais vítimas de homicídios.
• Feminicídios representam 1 ⁄ 3 das mortes violentas de mulheres no país.
• Negros são o grupo racial mais atingido:76% do total das vítimas de homicídios.
• Foram 7.613 notificações de violência contra pessoas com deficiência no ano.
• A taxa de homicídios de indígenas subiu 9,8% de 2018 para 2019.
• Notificações registradas de violência contra homossexuais e bissexuais cresceram 9,8%
em relação a 2018.
Os dados evidenciam a origem histórica da violência no Brasil, na herança escravista,
patriarcal, autoritária, racista, machista formou uma sociedade desigual, discriminatória e
preconceituosa que acaba por normalizar atos de violência principalmente contra os grupos
excluídos do poder.
Então quando falamos da formação da cultura brasileira, também devemos lembrar da
dominação e exploração dos portugueses, no início da colonização do território, que era
ocupado por indígenas de diversos grupos étnicos. Em seguida, o colonizador europeu trouxe
milhões de negros africanos para trabalhar como escravos no Brasil. A escravidão foi utilizada
durante todo o período da colonização portuguesa e também durante o período imperial.
A partir do século XIX, diversos imigrantes europeus vieram trabalhar em terras brasileiras,
com destaque para os italianos e alemães. E no início do século XX, o Brasil também recebeu
uma grande quantidade de japoneses. Cada um desses grupos étnicos teve forte influência na
cultura brasileira, trouxeram suas tradições, manifestações culturais, religiões e culinária. Esses
elementos culturais não apenas foram reproduzidos em território brasileiro, como foram se
fundindo e se transformando em novos elementos culturais, que no seu conjunto são a base
de toda a cultura brasileira.
Identificamos a seguir as influências indígenas nos componentes culturais brasileiros, com
destaque para as etnias e troncos culturais tupis e guaranis que conseguiram sobreviver a
violência cultural através da linguagem, religiosidade, elementos da culinária e tradições.
Apesar da repressão, muitos elementos culturais de herança indígena ainda estão presentes na
sociedade brasileira atual, como o hábito de dormir em redes e a confecção de objetos em
cerâmica. Na culinária, alguns pratos de origem indígena são a maniçoba, uma espécie de
ensopado feito com carne e com a folha da mandioca e servido com arroz e farinha. E o tacacá,
prato preparado com tucupi, mandioca, jambu e camarão. Muitas palavras da língua
portuguesa também são de origem indígena. Jacaré, gambá, pirarucu, sabiá, tamanduá,
tucano, perereca e jiboia são exemplos de alguns nomes de animais. Ibirapuera, Curitiba,
Macapá, Sergipe, Sapucaí, Guarujá e Iguaçu são palavras que se referem a lugares e também
foram incorporadas à língua portuguesa. O folclore brasileiro também absorveu muito das
lendas indígenas. Um dos exemplos mais famosos é o caipora, um menino que anda montado
em um porco pela floresta e tem como função proteger as cachoeiras, os rios e os animais da
floresta.
As influências africanas comportam elementos de diferentes etnias, com línguas distintas e
culturas próprias. Assim como os indígenas, os negros escravizados foram proibidos de
professar sua fé e de realizar suas manifestações culturais. Mas apesar da repressão, muito de
sua cultura foi absorvida pela população brasileira. Na culinária, destaca-se o azeite de dendê,
um óleo bastante utilizado na culinária africana e que é ingrediente indispensável da cozinha
baiana atualmente. Um dos pratos típicos da Bahia feito com azeite de dendê é o acarajé. As
religiões de matriz africana também foram desenvolvidas com elementos de origem africana.
Tanto a Umbanda, quanto o Candomblé, cultuam os orixás, que são divindades africanas. Os
africanos também exerceram importante influência sobre a música brasileira, alguns
instrumentos são o atabaque, o agogô, o afoxé e o berimbau. O berimbau é o principal
instrumento da capoeira, uma luta desenvolvida pelos negros escravizados como mecanismo
de defesa e que hoje é praticada em diversos países do mundo.
Os colonizadores portugueses impuseram a língua portuguesa como a oficial, falada em todo o
território brasileiro. Outra influência foi o catolicismo, que esteve na base da sociedade
brasileira ao longo de sua história e continua sendo a religião com mais adeptos no país.
A partir do século XIX, outros imigrantes europeus começaram a chegar ao Brasil, muitos deles
para trabalhar nas lavouras de café em São Paulo. Italianos e alemães foram os grupos mais
expressivos, mas também vieram grandes grupos de suíços, espanhóis, poloneses e
ucranianos.
A influência dos povos europeus é observada na culinária, na arquitetura, nas manifestações
culturais e até mesmo no idioma - em algumas cidades do Rio Grande de Sul e Santa Catarina é
possível encontrar habitantes que ainda falam alemão, por exemplo.
A partir do século XX, também houve uma grande imigração de japoneses, que se
concentraram especialmente em São Paulo e no Paraná. A influência japonesa na nossa cultura
se expressa na culinária, na prática de esportes como o judô, o karatê e o beisebol e também
em festas típicas como os matsuris.
A diversidade cultural no Brasil é representada pelas inúmeras tradições, manifestações
religiosas e artísticas, culinária, crenças e costumes, dos diferentes grupos de indivíduos nas
diferentes regiões brasileiras.
Devido à extensão territorial e ao processo de povoamento com povos de diferentes origens, o
Brasil é um país com imensa diversidade cultural. De norte a sul, as tradições, as festas, os
rituais e a alimentação variam de maneira significativa. As manifestações culturais são
influenciadas também pelas características locais, como o clima e a vegetação e os aspectos
sociais e econômicos.
Entre as regiões do país existem diferenças bastante significativas da formação cultural, mas
mesmo dentro de uma região ou estado é possível encontrar grande diversidade de tradições
e manifestações culturais. A cultura dos mais variados grupos no Brasil é elemento de
identificação, é o que forma os indivíduos que pensam, sentem e agem em seus círculos
sociais.
Assim verificamos que geograficamente a diversidade cultural pode ser observada nas regiões
brasileiras:
• Norte - na região norte acontecem dois importantes eventos culturais, o Festival de
Parintins no Amazonas e o Círio de Nazaré em Belém do Pará. O Festival de Parintins
conta com apresentações semelhantes ao carnaval, com fantasias, alegorias e enredo,
e acontece uma competição entre o boi caprichoso e o boi garantido. O Círio de
Nazaré é uma manifestação religiosa cristã de devoção à Nossa Senhora de Nazaré e
reúne cerca de 2 milhões de pessoas. Nessa região, a culinária apresenta forte
influência indígena, sobretudo na utilização do peixe e da mandioca. Também são
pratos típicos dessa região a carne de sol, o jambu e o tucupi (caldo de mandioca
cozido).
• Nordeste - No nordeste, uma das manifestações artísticas mais tradicionais é a
literatura de cordel, que é um gênero literário produzido em versos. Os textos são
escritos em folhetos e pendurados em cordas nas apresentações, por isso o nome
"cordel". Outras tradições famosas dessa região são o maracatu, o bumba meu boi, o
carnaval, a capoeira, o frevo, o coco, a ciranda, a festa de Iemanjá, a marujada e a
lavagem das escadarias do Bonfim. Os pratos típicos da região são: acarajé, vatapá,
caruru, sarapatel, carne de sol, bolo de fubá, arroz doce, canjica, buchada de bode,
tapioca, pamonha, feijão verde e cocada.
• Centro oeste - O centro-oeste é uma região de grande diversidade devido às
influências de outros estados, de povos indígenas e até mesmo de outros países como
a Bolívia e o Paraguai. Nessa região, algumas das manifestações culturais famosas são
a cavalhada, o fogaréu e o cururu. E dentre os pratos típicos estão o arroz com pequi,
o angu, o arroz boliviano, o cural e os peixes do pantanal.
• Sudeste - No sudeste, algumas das tradições são as festas do divino, o carnaval, o
bumba meu boi, o peão boiadeiro, o samba de lenço, o caiapó, a dança de velhos, a
folia de reis e o jongo. Os pratos típicos dessa região são o cuscuz paulista, aipim frito,
moqueca capixaba, pão de queijo, feijoada, tutu de feijão, feijão tropeiro, queijo
minas, farofa e bolinho de bacalhau.
• Sul - O sul tem diversas manifestações culturais relacionadas aos imigrantes europeus,
principalmente alemães, italianos e japoneses. Os grupos descendentes desses
imigrantes preservam práticas culturais de dança, culinária e também na arquitetura. É
comum encontrar cidades inteiras construídas em estilo alemão, por exemplo. No que
se refere a culinária, destacam-se o chimarrão, especialmente no Rio Grande do Sul, o
pirão de peixe, o barreado (carne cozida em panela de barro) e a produção de vinho.
É interessante observar a diversidade cultural pela ótica positiva da miscigenação e do
estabelecimento do respeito às culturas e contribuições que formularam uma identidade
nacional. O quanto podemos crescer, exatamente por que apresentamos tantas contribuições
culturais e adaptações que deram origem à cultura brasileira.
Superar o racismo e preconceito que são manifestados pela violência cultural, ultrapassando
os limites do complexo etnocêntrico do colonizador ou dos imigrantes europeus que através
do racismo, de considerar o diferente como inferior.
Pois são manifestações culturais que fornecem identidade e contam a história de um país, por
isso, sua preservação é muito importante. Para a cultura de um país ser preservada é preciso
que se criem políticas públicas de valorização e reconhecimento das tradições, incluindo tais
temas nos currículos escolares
CONCLUSÃO
A diversidade cultural é muito rica no nosso país em suas mais diversas manifestações na
religiosidade, linguagem, gastronomia, costumes e manifestações artísticas com festas típicas
e outras elaborações culturais representativas. A diversidade cultural determina uma cultura
heterogênea, vinda da mescla dos elementos nativos aos que foram chegando junto com o
processo de colonização.
Em um território continental como o brasileiro a cultura se expressa também de forma distinta
em cada região, visto os aspectos de culturas locais, somadas a colonização diferenciada
conforme o tempo, assim como as características de clima, biomas naturais e o povoamento
de cada região
Quando a diversidade cultural não é vista pelo aspecto rico da pluriculturalidade, e muitas
vezes é abordado pelo viés da desigualdade, do preconceito, que acompanha as relações
desiguais e hierarquizadas, acaba por desencadear processos de violência cultural. Que não
conseguem transpor as injustiças sociais contra os povos considerados inferiores pelo senso
comum, principalmente os negros e indígenas.
O reconhecimento das riquezas da diversidade cultural brasileira é fundamental no
reconhecimento de nossa identidade. São as manifestações culturais que ajudam a contar a
história do nosso país, por isso é tão importante preservar. Para tanto devemos cobrar a
criação de políticas públicas de valorização e reconhecimento das tradições, assim como esses
temas devam ser incluídos nos currículos e vivências escolares.