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HESSEL, Ana Maria Di Grado; LEMES, David de Oliveira.

Criatividade da Inteligência
Artificial Generativa. TECCOGS – Revista Digital de Tecnologias Cognitivas, n. 28, 2023,
p. 119-130.

Recebido em: 15 dez. 2023


Aprovado em: 15 jan. 2024

dx.doi.org/
10.23925/1984-3585.2023i28p119-130 Criatividade da Inteligência
Lincensed under Artificial Generativa
CC BY 4.0
Ana Maria Di Grado Hessel1

David de Oliveira Lemes2

Resumo: O texto tem como objetivo refletir sobre a criatividade com o uso da IA genera-
tiva. A temática tem sido muito debatida em função das opiniões especulativas que ora
valorizam o potencial criativo das ferramentas ou recursos e ora depreciam sua utilida-
de. O conceito de criatividade humana é apresentado na visão de alguns autores e pode
ser sintetizado como a capacidade de produzir algo original ou inovador. O texto discute
se a IA generativa pode simular a criatividade humana. Argumentos são colocados para
mostrar que os processos de criação do homem e da IA generativa são diferentes, pois os
algoritmos não são capazes de desenvolver algumas lógicas humanas. Entretanto, a IA
generativa pode gerar produtos aceitáveis e interessantes na medida em que o prompt
criado pela inteligência humana, para fomentar a geração de um produto, for bem cons-
truído. A semelhança entre os produtos da IA generativa e os trabalhos humanos destaca
o potencial dessa tecnologia em expandir as fronteiras da criatividade.

Palavras-chaves: criatividade; Inteligência Artificial Generativa; prompt; produto;


inovação

1 Ana Maria Di Grado Hessel – Doutora e mestre em Educação/ Currículo pela PUCSP. Professora
credenciada no Programa de estudos Pós-Graduados em tecnologias da Inteligência e Design Digi-
tal. Pesquisadora do GEPEC e GPTED. Orcid: https://orcid.org/0000-0003-4776-7754.
2 David de Oliveira Lemes – Doutor em Tecnologias da Inteligência e Design Digital pela PUCSP.
Diretor da Faculdade de Estudos Interdisciplinares da PUCSP, professor do curso de Ciência da
Dados e Inteligência Artificial da PUCSP. Orcid: https://orcid.org/0000-0003-0291-807X.

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teccogs Criatividade da Inteligência Artificial Generativa
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Generative Artificial Intelligence creativity

Abstract: The text aims to reflect on creativity using generative AI. The topic has been
much debated due to speculative opinions that sometimes value the creative potential
of tools or resources and sometimes depreciate their usefulness. The concept of human
creativity is presented in the view of some authors and can be summarized as the ability
to produce something original or innovative. The text discusses whether generative AI
can simulate human creativity. Arguments are put forward to show that the processes
of creation of man and generative AI are different, as algorithms are not capable of
developing some human logic. However, generative AI can generate acceptable and in-
teresting products as long as the prompt created by human intelligence, to encourage
the generation of a product, is well constructed. The similarity between the products of
generative AI and human works highlights the potential of this technology to expand the
boundaries of creativity.

Keywords: creativity; Generative Artificial Intelligence; prompt; product; innovation

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Para começar a conversa

A IA generativa (IAG) é uma área da inteligência artificial que se


dedica em criar soluções, conteúdos e dados novos, a partir de informa-
ções armazenadas em grandes bases de dados. Vale notar que a criação
executada pela IA generativa tem como base os produtos que já foram
concebidos pela mente humana. São vários os conteúdos gerados e in-
cluem diversas áreas, como artes, músicas, textos, imagens e design de
produtos. O processo de criação por IA generativa envolve várias técnicas
e modelos, entre os quais os mais destacados são as redes neurais gene-
rativas e os modelos de linguagem como o GPT (Generative Pre-trained
Transformer).
Como um modelo de linguagem, a IA generativa tem sido experi-
mentada e tem sido implementada em várias plataformas e interfaces,
permitindo aos usuários interagirem por meio de websites, aplicativos, e
integrações em outros softwares. São muitas as apreciações contraditórias
a respeito do seu uso, suscitando opiniões favoráveis e temores de toda
a natureza. Entretanto, uma questão se mantém presente no âmbito das
especulações: Em que medida a IA generativa pode contribuir para a cria-
tividade humana?
A relação entre tecnologia e criatividade humana é um tema com-
plexo e tem sido muito debatido. Enquanto alguns argumentam que a
IAG pode estimular a expressão da criatividade ao oferecer novas ferra-
mentas e recursos, outros alertam que ela pode gerar dependência e re-
duzir a inventividade.
A IA generativa está em constante evolução, com novos modelos e
técnicas sendo desenvolvidos regularmente. Ela tem o potencial não ape-
nas de automatizar tarefas criativas, mas também de abrir novas possibi-
lidades para a criatividade humana, oferecendo ferramentas que podem
inspirar e ampliar a expressão criativa. A favor da Inteligência Artificial
Generativa, argumenta-se que ela pode gerar novas ideias em forma de
texto e em forma de arte, além de proporcionar o aprendizado sobre dife-
rentes culturas e suas perspectivas.
A aplicação da Inteligência Artificial Generativa abrange diversas
áreas criativas, como o desenvolvimento de softwares de pintura, novos
instrumentos musicais e formas de arte digital. Ela também pode ajudar
na exploração de culturas e na criação de jogos educativos e simuladores
de realidade virtual.

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Entretanto, existe o risco da aplicação da IA resultar em produções


artificiais e pouco originais, levando à confiança excessiva em tecnologia e
à perda da capacidade de inovação. A criação de conteúdo enganoso tam-
bém é uma ameaça e é crucial compreender os benefícios e riscos dessa
tecnologia para seu uso responsável e ético. Alguns críticos ressaltam que
a tecnologia poderia encorajar a inércia criativa e a confiança excessiva,
criando conteúdo realista e persuasivo demais. A criação repetitiva e des-
provida de inspiração também é uma preocupação.
Este ensaio tem como objetivo trazer elementos sobre a temática
de modo a contribuir com a reflexão sobre a criatividade com o uso da IA
generativa.

Como definir criatividade?

O conceito de criatividade é multifacetado e pode ser definido de


várias maneiras, mas geralmente envolve a capacidade de gerar ideias no-
vas e originais. Isso pode incluir a produção de algo inédito e útil, o pro-
cesso mental de geração de ideias, a combinação original de elementos
existentes e a capacidade de transcender o convencional. A criatividade
é vista como a habilidade de gerar ideias, soluções, ou produtos que são
ao mesmo tempo originais e apropriados para uma determinada situação
ou problema. A criatividade humana é caracterizada pela capacidade de
estabelecer conexões inéditas entre ideias, conceitos ou objetos aparente-
mente não relacionados, resultando em algo novo, útil e valioso.
A criatividade não se limita à arte, campo na qual é valorizada, mas
desempenha um papel importante em diversas áreas da atividade huma-
na, sendo influenciada por fatores individuais, sociais, culturais e am-
bientais.
Um autor que discute criatividade é Mihaly Csikszentmihalyi (2013),
um psicólogo húngaro-americano conhecido por seu trabalho sobre o
conceito de “fluxo” e por suas contribuições significativas ao estudo da
temática. Para o autor, a criatividade é definida como a produção de uma
novidade. Não se trata da invenção de algo completamente novo, mas sim
a capacidade de transformar e combinar ideias já existentes para produzir
algo com originalidade.
Csikszentmihalyi (2013) destaca que a criatividade não ocorre no va-
zio. Ela é reconhecida e valorizada dentro de um contexto cultural, social
e histórico. Sua abordagem enfatiza o sistema de criatividade, que inclui
a pessoa criativa e o conjunto de regras e práticas ou o domínio no qual

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ela opera. Essa visão sistêmica da criatividade sublinha a importância das


interações entre o indivíduo, a sociedade e a cultura na realização de con-
tribuições criativas.
A criatividade desempenha um papel fundamental em diversas áre-
as da vida, incluindo educação, negócios, ciência, tecnologia, artes, en-
tretenimento e solução de problemas sociais. Ela promove a inovação, a
expressão individual, o pensamento crítico e a resolução de problemas
de maneiras únicas e originais. Segundo Ostrower (1977), o potencial
criador humano elabora-se nos múltiplos níveis do ser sensível-cultural-
-consciente do homem, e se faz presente nos múltiplos caminhos em que
o homem procura captar e configurar as realidades da vida. Para o autor a
criatividade se refaz sempre, de maneira inesgotável.
Fleith, Vilarinho-Resende e Alencar (2020) apresentam um mo-
delo de criatividade concebido por Amabile. Essa psicóloga social, define
criatividade como a produção de ideias ou produtos que são tanto origi-
nais quanto apropriados ao contexto no qual são desenvolvidos e enfatiza
a importância da motivação intrínseca, do ambiente de trabalho favorável
e do fluxo de trabalho para estimular a criatividade humana em todos os
sentidos em busca da inovação.
A inovação pode ser definida como o processo de introdução de algo
novo ou significativamente melhorado em termos de produtos, serviços,
processos ou modelos de negócios, resultando em valor adicional para os
indivíduos, organizações ou sociedade como um todo. Ela não se limita
apenas à criação de algo totalmente novo, mas também envolve a aplica-
ção criativa de ideias existentes de maneira única e eficaz. A inovação fre-
quentemente surge da interseção entre a criatividade, que envolve a gera-
ção de ideias originais, e a implementação dessas ideias de forma prática
e viável. E para Plonski (2017), “inovação é a criação de novas realidades”.

IAG pode simular a criatividade humana?

Do ponto de vista da IA, a criatividade é frequentemente descrita em


termos de “criatividade computacional”. Isso se refere à capacidade de um
sistema de IA de produzir resultados que seriam considerados criativos
se originados por humanos. Isso inclui a geração de arte, música, textos
literários, soluções inovadoras para problemas complexos, entre outros.
No entanto, a criatividade em IA é limitada pelas informações, algoritmos
e objetivos específicos programados por humanos. Pode-se observar se
o sistema de IA é criativo se consegue gerar saídas que são novas, não
vistas previamente ou incomuns dentro do contexto específico; se tem a
capacidade de produzir saídas que são apropriadas, úteis e relevantes para
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o problema ou contexto em questão; se tem a habilidade de modificar e


combinar ideias existentes para criar algo distinto e original.
Ward (2020) explica que a criatividade computacional não precisa
ser equivalente à criatividade humana, ou seja, as máquinas não preci-
sam ser equiparadas aos humanos no quesito inventividade, mas podem
contribuir com resultados considerados interessantes. Apesar dessas ca-
racterísticas, a criatividade da IA ainda é frequentemente vista como de-
rivada das instruções e intenções humanas; as máquinas não possuem
consciência ou motivações próprias. Assim, a criatividade de um sistema
de IA é um reflexo tanto das suas capacidades técnicas quanto das visões
e inputs humanos que o guiam. A criatividade computacional ainda en-
frenta desafios, como a capacidade de entender e replicar ou reproduzir
completamente os aspectos intuitivos, emocionais e contextuais da criati-
vidade humana.
Santaella (2023) explica que as inteligências artificiais são distintas
da inteligência humana. Questiona se o ChatGPT pode pensar, compre-
ender e criar, frente às afirmativas de que o chat não é inteligente. Em sua
narrativa a autora reúne elementos para explicar que os algoritmos não
são capazes de desenvolver algumas lógicas humanas.
A IAG possui o potencial de ser um recurso valioso para a criativida-
de humana, oferecendo inspiração, aprimoramento e eficiência aos seus
usuários. Ao gerar uma ampla variedade de ideias e estilos, a IA pode
expandir os horizontes criativos dos indivíduos, encorajando a exploração
de novas direções em seu trabalho. Além disso, ferramentas de IA po-
dem ajudar os artistas a refinar suas ideias, aumentar sua produtividade
e acessar recursos avançados que podem estar além de suas habilidades
individuais, impulsionando assim a inovação e o progresso criativo. E,
nos dias atuais, vemos uma grande variedade de ferramentas, acessíveis a
um clique. Na fig 1 encontramos o logo de algumas delas.

Figura 1. Seleção de algumas ferramentas de inteligência artificial. Fonte: https://ai-to-


ols.tools/. 124
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Entretanto, apesar das oportunidades que a IA generativa oferece,


também surgem preocupações sobre sua influência na originalidade e
autonomia da expressão criativa humana. Questões éticas, como a autoria
de obras geradas por algoritmos e o risco de estagnação criativa devido à
dependência excessiva da tecnologia, devem ser cuidadosamente conside-
radas. Portanto, enquanto a IA generativa pode ser um ponto de apoio va-
lioso para a criatividade humana, é essencial abordar essas preocupações
de forma ética e colaborativa, garantindo um uso responsável e inclusivo
da tecnologia.
O crescimento vertiginoso da aplicação de Inteligência Artificial Ge-
nerativa aos processos criativos tem suscitado grandes debates acerca
dos direitos autorais relacionados ao uso de sistemas dessa espécie. As-
sim, a utilização de Inteligência Artificial Generativa para a criação de
obras literárias esbarra em questões complexas no que tange à autoria
de obras produzidas por humanos. Isso pode gerar uma reestrutura-
ção do sistema de proteção de autores existentes no cenário brasileiro
(Prass; Mügge; Bernasiuk, 2023).

Engenharia de prompt

Um prompt é uma instrução ou entrada fornecida pelo usuário para


direcionar a geração de conteúdo por parte do modelo ou serviço de IA.
Essa instrução pode variar em complexidade e formato, dependendo da
tarefa e do objetivo desejado. Um prompt pode ser tão simples quanto
uma única frase ou palavra-chave, ou pode incluir informações mais de-
talhadas, como contexto, estilo desejado e restrições específicas.
Por exemplo, em uma tarefa de geração de texto, um prompt sim-
ples pode ser uma frase inicial que serve como ponto de partida para a
IA criar uma história ou um parágrafo. Por outro lado, um prompt mais
complexo pode incluir detalhes sobre o personagem principal, o cenário e
o enredo desejado. Além disso, o prompt também pode conter instruções
adicionais, como o tom ou estilo de escrita desejado, bem como quaisquer
restrições ou requisitos específicos que devem ser seguidos pelo modelo
de IA. Röhe e Santaella (2023) concluem no seu estudo que o comando
mais elaborado pode fazer toda a diferença, mas os resultados alcançados
nem sempre são atingidos de maneira confiável e satisfatória.
O guia “Recomendaciones para la docencia con inteligencias artifi-
ciales generativas” (2023), divulgado pela Universidad Carlos III de Ma-
drid, sugere algumas formas de compor um prompt, com o objetivo de

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obter um determinado resultado desejado: definir o papel de especialista


que o chat vai assumir para compor a sua resposta; fornecer o contexto cla-
ro, com detalhes importantes para serem considerados na composição da
resposta; explicar qual será público-alvo para o qual a resposta será dirigi-
da; usar verbos claros e inequívocos; estabelecer claramente as restrições
e limitações; definir o formato narrativo da resposta esperada. Depois de
obtida a resposta, a sugestão complementar é iterar com o chat para refi-
nar o texto, com o objetivo de alcançar o melhor patamar possível. Nesse
sentido o prompt pode ser refeito para incorporar determinados detalhes.
A seguir apresentamos um exemplo de prompt usado para criar
uma breve história, tendo como base uma ferramenta de inteligência ar-
tificial, o Copilot, desenvolvida para auxiliar usuários em várias tarefas,
integrando-se com os produtos e serviços da Microsoft, encontrada no
link https://copilot.microsoft.com
Prompt de entrada:

Crie uma história onde dois irmãos gêmeos, um menino e


uma menina, de 9 anos de idade, estão perdidos em uma ci-
dade grande como São Paulo (Brasil) e buscam um caminho
para voltar para casa. Eles carregam um mapa da cidade, uma
garrafa de água, uma mochila e ambos usam óculos e boné.

A história gerada:

Numa tarde ensolarada em São Paulo, os gêmeos Lucas e


Luana encontraram-se numa situação inesperada. Após se
distraírem com as vitrines coloridas de uma loja de brinque-
dos, eles se viram sozinhos em meio à multidão da grande
cidade, longe dos olhares atentos de seus pais.

Com apenas 9 anos, mas munidos de coragem e um mapa da


cidade, eles decidiram que era hora de encontrar o caminho
de volta para casa. Lucas ajustou seus óculos e olhou para
o mapa, enquanto Luana segurava firmemente a garrafa de
água, sabendo que a aventura exigiria hidratação.

Eles caminharam por entre as ruas movimentadas, passando


por vendedores de rua e músicos, cada um com sua mochila
nas costas e um boné protegendo-os do sol. Em cada esqui-
na, eles consultavam o mapa, comparando os nomes das ruas
com os letreiros e buscando pontos de referência.

Quando a noite começou a cair, e as luzes da cidade se acen-


deram, os gêmeos se sentiram um pouco mais ansiosos. Mas
então, eles avistaram algo familiar: a grande biblioteca onde
sua mãe os levava nos fins de semana. Com os olhos brilhan-
do de esperança, eles seguiram em direção à biblioteca, sa-
bendo que dali para casa era um caminho conhecido.

Finalmente, após uma longa jornada, Lucas e Luana chega-


ram em casa, onde seus pais os aguardavam com abraços
apertados e lágrimas de alívio. Eles haviam aprendido uma
grande lição sobre responsabilidade e a importância de estar

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sempre atento, mas também sobre a aventura e a indepen-


dência que a grande cidade poderia oferecer. E assim termi-
na a história dos gêmeos aventureiros, que com um mapa e
coragem, descobriram que mesmo nas maiores cidades, há
sempre um caminho para casa.

O mesmo prompt também foi usado para gerar imagens utilizando


a mesma ferramenta, sendo que o comando inserido foi adaptado para
gerar uma ilustração:

Crie uma ilustração onde dois irmãos gêmeos, um menino e


uma menina, de 9 anos de idade, estão perdidos em uma ci-
dade grande como São Paulo (Brasil) e buscam um caminho
para voltar para casa. Eles carregam um mapa da cidade, uma
garrafa de água, uma mochila e ambos usam óculos e boné.
A ilustração deve ser feita no estilo cartum, preto e branco,
desenhado com gis de cera.

A resposta da IA:

Acabei de criar a ilustração que você pediu: dois irmãos gê-


meos, um menino e uma menina, de 9 anos, perdidos em
uma cidade grande como São Paulo. Eles estão com um mapa
da cidade, uma garrafa de água, uma mochila e ambos usam
óculos e boné. A ilustração está no estilo cartum, preto e bran-
co, e foi desenhada com giz de cera. Espero que goste!

O resultado:

Figura 2: Imagens geradas pelo Copilot. Fonte: https://copilot.microsoft.com.

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O produto criado pela IA Generativa

A IA Generativa cria conteúdos por meio de modelos treinados em


grande quantidade de conjuntos de dados. Esses modelos aprendem pa-
drões, estilos, estruturas e relações dentro dos dados durante a fase de
aprendizagem ou treinamento. Após treinados, eles podem gerar novos
conteúdos que são similares em estrutura e estilo aos dados originais.
O processo de criação por IA generativa envolve várias etapas e compo-
nentes críticos: na fase de treinamento o modelo de IA é exposto a uma
grande quantidade de dados. Ao processar os dados, o modelo aprende
padrões e relações. A partir de um prompt inicial, o modelo produz uma
saída baseada no que aprendeu durante o treinamento, tentando fazer
com que o conteúdo gerado seja coerente com o prompt fornecido.
O prompt, ou o comando utilizado para enviar uma solicitação em
uma interface de IA generativa, tem um papel fundamental no processo
de criação da resposta criada pela ferramenta. Ele serve como um ponto
de partida para a geração, orientando o modelo sobre o que se espera
como saída.
O teor do prompt é crucial, pois guia o processo criativo da IA in-
fluenciando diretamente a qualidade e relevância dos produtos gerados.
A especificidade do prompt pode afetar significativamente o resultado
produzido. Na medida em que o prompt é bem específico, os resultados
obtidos são mais precisos e alinhados com as expectativas iniciais. O de-
talhamento com relação ao contexto, ao nível de informação e até mesmo
a definição da área de conhecimento pode fazer a diferença na resposta
ofertada pela ferramenta. Um prompt claro pode ajudar a evitar ambi-
guidades, orientando o modelo de forma mais efetiva para produzir o
resultado desejado. Os resultados podem ter um teor original em função
de instruções bem definidas.
No exemplo apresentado acima, gerado a partir de um prompt es-
pecífico, podemos observar que a narrativa contém os elementos solici-
tados. Mas vai além, pois também avança, ambientando a situação com
detalhes coerentes com o cenário e com o conto. Frente a veracidade
do produto não é impossível supor que ele pode ter sido criado por um
ser humano. Sabemos que os caminhos criativos da IA generativa e dos
humanos são diferentes, mas os resultados produzidos podem se apre-
sentar muito semelhantes.

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Conclusão

A IA generativa, com sua capacidade de aprender a partir de vastos


conjuntos de dados e criar conteúdo novo que espelha os padrões, estilos
e estruturas dos dados originais, representa um avanço significativo na
tecnologia e na criatividade.
O papel central do prompt na orientação do processo criativo ressal-
ta a importância da interação humana na definição dos resultados finais,
evidenciando que, embora a máquina execute o trabalho de geração, a
orientação humana é crucial para garantir a relevância e precisão do con-
teúdo produzido. Esse equilíbrio entre a capacidade computacional e o
direcionamento humano abre novas possibilidades para a criação de con-
teúdo, permitindo resultados que, em muitos casos, são indistinguíveis
dos criados diretamente por humanos.
A similaridade entre os produtos da IA generativa e os trabalhos
humanos não apenas demonstra o avanço da tecnologia em simular pro-
cessos criativos humanos, mas também destaca o potencial dessa tecno-
logia em expandir as fronteiras da criatividade, oferecendo ferramentas
poderosas para explorar novos territórios criativos.

Referências

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PEREIRA, Mônica Souza; FLEITH, Denise de Souza (orgs.). Teorias da
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SANTAELLA, Lucia. Há como deter a invasão do ChatGPT? São Paulo:


Estação das Letras e Cores, 2023.
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docencia con inteligencias artificiales generativas, 2023. Disponível em:
https://hdl.handle.net/10016/37989. Acesso em mar 2023.
WARD, Megan. Victorian fictions of computational creativity. In: CAVE,
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University Press, 2020, p. 144-164.

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