0 notas0% acharam este documento útil (0 voto) 16 visualizações260 páginasAs Politicas Das Interventorias em Sergipe - José Ibarê - Dissertação de Mestrado
As politicas das interventorias em Sergipe - José Ibarê - dissertação de mestrado
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JOSE IBARE COSTA DANTAS
AS POLITICAS DAS INTERVENTORIAS EM SERGIPE
(1930/45)
Dissertagao apresentada para a obtencao do
grau de Mestre em Ciéncia Politica, no Insti-
tuto de Filosofia e Ciéncias Humanas da
Universidade Estadual de Campinas,
D235p
sus0rse_| CAMPINAS
1982Le
2.
e
a
AS POLITICAS DAS INTERVENTORIAS EM SERGIPE
1930/7955
INTRODU CAD
TERDENCIAS INGYADORAS
Estrutura de Poder na Primeira Repiblica
Tendéncias da Economia de Exportagao
- 08 Governos ProvisGrios Efémeras
Interventoria e Classe Dominante
Manifestagdes da Classe Dominante
Interventoria e Trabalhadores Urbanos
REACAO CONSERVADDRA NO INTERREGNO CONSTITUCIONAL-
LIBERAL ‘
3.1 - Estado e Classe Dominante
3.2 - Estado e Trabalhadores Urbanos
© CONTROLE ESTABELECIDO
4.1 - 0 Controle Repressivo - Eronides de Carvalho
4,2 - 0 Controle Integrative - Milton Azevedo
4.3 - 0 Controle Corporativo - Maynard Gomes
CONCLUSBES
FONTES E BIBLIOGRAFIA
UNIC AMP
BIBLIOTECA CENTRAL
34
39
70
96
136
134
163
187
187
206
216
236
241INTRODUCAG
Pretendenos néste trabalho descrever e analisar as
praticas polfticas das interventorias em Sergipe, no perfodo
1930/45, tentando identificar nessas praticas interesses de
classe.
Na configuragdo da ordem social pds 1930, 0 papel
dos governantes estaduais se torfia retevante para se avaliar
as modificagdes politicas que se teriam operado no Estado.
Dentro da formacSo social brasileira, subordinada
ao sistema capitalista mundial, o Estado Nacional pouco tem
se transformado. Sem a presenga de wma burguesia industrial
com projeto definido de afivmacdo das instituigdes liberal-
democraticas, degenvolveu-se ent&o a paradoxal convivéncia do
Viberalismo com as oligarquias que manipulam o Estado da Pri
meira Replblica, No processo histdrico de dominacdo burguesa
tactonal, a formalizagio do estatudo de cidadania carece de
realizagdo efetiva, na medida em que consegue cercear a parti.
cipagao polftice-social das classes subaiternas,
Mas, ¢ regime oligarquico também vai esgotando suas
potencialidades econSmicas e perdendo legitimidade, defron
tando-se com myinentos que propunham mudangas, dentre os
quais o tenentismo assumia papet expressivo.
@ resultado dessa crise foi a Revolugdo de 1930, cu
jo significado passa pelas mais controversas interpretacdes:
algumas a consideram Revolug3o no pleno sentido do termo, ou
tras a caracterizam como golpe contra-revolucionario. Em meio
a esses pontos de vista discrepantes, concordamos em conside
ri=la como "movimento polético militar conduxtdo por una cog
Lisdo heterogénea contra o bloea hegeninico", coalizio essacomposta de oligarcas dissidentes, parte da classe média e
militares (Saes, 1967:7}, A partir dessa qualificacao, vemos
9 Estado pds 1930 como um Estado de compromisso. Com a perda
da hegemonia do setor agro-exportador teria se configurado um
composicéo politica composta de oligarcas rurais, a burguesia
industrial nascente, envolvendo também determinados grupos 1i
gados ao aparelho de Estado.
Embora essas modificacies nfo tenham alterado funda
mentalmente a estrutura do Estado @ muito menos o sistema de
propriedade, obrigaram as oligarquias @ empreenderem recompo
sigdes e a realizaren concessies dantes inimaginadas,
Mas, se a nivel nacional essa caracterizag&o geral
parece-nos a mais fundamentada, a nivel estadual nao existe
nen a controvérsia em face da carSncia de estudos. Em 1976,
Campelo de Souza afirmava: # vara « bibliografia histérica que
trata dae interventortaa ¢ inexistentes estudos sistemdticos
sobre elas" (Souza; 1976:45), Realmente, decorridos cinco anos
dessa afirmagdo, a situag&e pouco se modificou. Além das con
tribuigdes dos brasilianistas que tém enfocado alguns aspec
tos das politicas dos interventores em Estados tais como Mi.
nas Gerais (Wirt: 1975), Rio Grande do Sul, Pernambuco e Rio
Grande do forte (Levine, 1975 e 1980), pouco se tem estudado,
Algumas monografias produzidas em Sao Paulo tém explorado 0
pertodo, mas a publicag3o que mais se preocupou com as polTti
cas dos interventores foi o trabalho coordenado por Castro Go
mes (1980). Mesmo assim, centrado em grandes Estados(Rio Gran
de do Sul, Minas Gerais @ So Paulo) além do "Norte" visto so
bretudo através de Pernambuco e sempre restrito ao perfodo
1930/35.
Em face dessa caréacia bibliografica, pouco se co
nhece sobre as priticas dos tenentes na direcfa do poder polt
tico, especialmente em Estados pequenos.
Tendo sido Sergipe nalco de revoltas na década de
1920, como parte do movimento tenentista, o qual alias j& ti
vemos oportunidade de estudar no ambite estadual (Dantas,1974),
be
Inem sua primeira fase (1924/30), retomamos aqui o tema propondo-
nos a analisar nfo apenas o que se refere ao tenentismo em si,
mas sobretudo enfocar as politicas dos governantes que se suce
deram nos quinze anos pos 1930, tentando detectar praticas de
classe,
Essa preocupacds central nos conduziré a verificer
queis as rearticulagdes que se processaram entre o Estado e as
classes sociais.
0 universo da pesquisa abrangendo quinze anos se ex
plica pela tentativa de observar as principais mutagdes que
marcam o pertodo 1930/45. Sendo a Revolugdo de 1930, a nfvel
nacional, geralmente avaliada por esse tempo de realizacao, @
comum qualifica-la pelo legado apresentado em 1945, quando se
fecha o primeiro ciclo de Vargas. No fundo, essas andlises pa
recem permeadas pela idéia de que os fatos que ocorrem até 1945
estavam previstos, senio dados em 1930, Aqui partimos de outro
pressuposto, Consideramos que o movimento de outubro proporcio
nou um minimo de espago polttico que apesar de efémero, por du
rar apenas cinco anos, facultou grande participacdo da socieda
de civil. Embora o desenvolvimento do aparato coercitivo do Es
tado e@ do exacerbamento das praticas autoritaérias tenham debi
Jitado as organizacées das classes subalternas, isso porém nao
nos parece que estivesse inteiramente contido em 1930. A bata
Tha, ainda que nitidamente desigual, foi sendo definida . snos
desdobramentos das lutas de classes, no jogo de composicio ¢
recomposigio de forcas. Foi pensando portanto em recuperar es
ses desdobramentes, envolvendo todo processo de conquistas e
de perdas entre 1930 e 1945, que optamos por estudar o pertodo
em seu conjunto num pequeno Estado do Nordeste, oferecends co
mo ijustrac&o eos que pensam o quadro nacional levando em con
ta nio apenas o exempio dos Estedos centrais de maior importan
cia politica, mas também os outros.
0 fato de eleger as polfticas dos governantes como
objeto de an@lise nao significa considerar o Estado como prin
cipal agente histdrico, mas antes como locus privilegiado onde
iids
se refletem as manifestagGes dos diversos grupos sociais. Ne
se sentido, a estratégis de estudo visa contemplar tanto o Es
tado quanto a sociedade, estudando-os através do ponto de in
tersecgac, qual seja das relagées do Estado com as classes.
A divisdo dessa monografia conserva a periodizagio
institucional vigente no quadro nacional, tendo em vista os
tracos que ela estabelece até em Estados nordestinos, © mais
discuttvel talvez seria.a preservacio do interregno 1935/37
como perfodo propria, em vez de inclut-io junto ao Estado Nova
como apenas uma subfase espectfica, Contudo, a experiéncia Ti
beral-constitucional apresentou caracteristicas tao pecultares,
entre as quais a estratégia dos conservadores num momento de
transigao de regime liberal para o ditatorial, que justificou
sua identidade prépria. 0 trabalho ficou efitde constituido de
trés partes.
Na primeira, fendéactas Inovadovas, tragamos em Vi
nhas gerais o quadro politico da Primeira Republica, em segui
da apresentamos sumariamente as tendéncias de economia esta
dual, para entaéo tratar das politicas dos governantes que se
sucederam até 1935, analisando em trés Ttens as praticas das
interventorias © suas retagdes com a classe dominante e com os
trabalhadores urbanos.
Na segunda parte, denominada Reagdo — Conservadora
(1935/37), observamos as reatizagdes fundamentais do grupo pg
Vitico que ocupou o governo do Estado, suas dificuldades no
exercicio da hegemonia e as mudancas que se operam entre a so
ciedade politica, stricto seneu e 05 trabalhadores urbanos.
A terceira e Ultima parte, 0 Controle Estabelecido
(1937/45), analisa o jogo de influéncia das fragdes dominantes
num Estado forte e centralizado, assim como as tendéncias auto
ritdrias que enquadram as classes subalternas em rigido siste
ma de controle, de forma repressiva, integrativa ou corporati
va, conforme a postura do respectivo interventor e dos condi
cionamentos que ele vivenciou.
Essas trés fases parecem configurar uma transigao
que marca a passagem do Estado oligirquico patrimonialista(pré
iv1930) ao Estado populista. 0 periods 1930/45 teria entio repre
sentado em seu conjunto, em meio a contradighes, uma certa a
tualizagdo das instituigdes democraticas que tiveram impulso
entre 1888/51, mas que encantraram dificuldades de realizacio,
especialmente nas regides onde a influéncia da estrutura agra
ria tradicional havia contriduTdo para a formacio de poderosas
oligarquias.
Novembro/193}AGRADECIMENTOS
No percurso da construcZo desta monografia tornei-me
gratificado pela contribuicio de numeroses pessoas.
Em reconhecimento agradeco &@ CAPES e 3 UFS responsd-
veis pelo financiamento do projeto de pesquisa; @ estagidria,
Elme Maria Trindade Freitas, que me auxiliow na coleta de ma-
terials aos entrevistados relacionados nas fontes que em varia
das proporgdes dispensaram-me atencies; is professoras da UNI-
CAMP, S6nia Draibe e Maria Hermfnia Tavares de Almeida gue par
ticiparan do seninarjo de tese ¢ apresentaram sugestées rele-
vantes; aos amigos Antonio Vieira da Costa, José Maria de O14,
veira Silva, dos€ SilvGrio Leite Fontes e Josué Modesto das
Passos Sobrinho pela Teitura dos originais seguida de impor-
tantes criticas; ao meu irmao, Francisco José Costa Dantas pe-
Jas observagdes valiosas sobre o aspecto formal: ao meu orien-
tador, DEcio Azevedo Marques Saes, pela solicitude e estimulo que
me foram dispensados durante o mestrado, pela ajuda na defini-
gio dos marcos da dissertacdo, e pela analise perspicaz enceta
da neste trabalho quando de seu retorno ao Brasil.
Dedico essa dissertacio aos meus pais, David e Miral
da, acompanhantes abnegades dos meus passos; aos meus filhos,
Ibaré diinior e STlvia pelos sacriffcios impostos na jornada cam
pineira e a minha esposa, Beatriz, pela presenga pertinaz aju-
dando-me a velejar em ventos nem sempre favoraveis.2 - TENDENCIAS TROVADGRAS
2.1. A Estrutura de Poder da Primeira Republica
A estrutura de poder da Primeira Repiblica em Sergi
pe inscreve-se com seus tracos mais caracteristicos e peculia
res dentro do quadro do Estade oligirquico nacional.
Nesse sistema oligarquico excludente, o desempenho
da classe dominante em Sergipe, apesar de apresentar caracte-
res comuns aos dos demais Estados da federacdo, nem por isso
deixou de constituir sua especificidade.
Come Estado agro-exportador, entre as fragdes domi-~
nantes se destacavam os produtores de aclicar que contribuiam
en torno de 50% para a renda total de exportagio, Num segun~
do plano, situavam-se os agricultores que plantavam algodao,
arroz, coco etc., muitos dos quais, simultaneamente, criando
gado destinado em grande parte ao mercado interno.
Ao lado desse patronato rural, ja semaforca de tra
batho escravo, mas ainda, nado raro, conservando métodas tradi
csionais de trabalho (come o sistema de parceria) e formas de
dominacio pessoal, ja-se imponde no meio urbana a reduzida
burguesia industrial e comercial. Entre a industrial se des-tacavam os proprietarias de fabricas téxteis que nasegunda dé
idos, com um montante cor-
respondente @ segunda maior taxa de exportacéo, atingindo, no
cada participavam, através dos te
Wltimo triSnio dos anos vinte, a média de 25%, Enguanto em
1900 havia apenas 2 fabricas de tecidos, em 1930 j8 existiam
V1, distribuidas através de 7 munictpios do Estado?
Apesar da pequena representatividade dos estabeleci
mentos locais, passaran de 41 (1907) para 237 (1920)2
Ao lado dessas fracées de classe, vinha~se desenvol
vendo a burguesia comercial, ao ponto de, no inTcio dos anos
trinta, 0 nimero de casas comerciais de varios ramos ser de
987, sem incluir os estabelecimentos da burguesia financeira
ainda incipiente °, Entre as diversas fracies da classe domi
nante, os proprietérios de estabelecimentos agucareiros ocupa
vam posicao hegeménica fortalecida pelas suas amplas bases e-
conémicas e tradicdes de mando, dispondo, nas agéncias produ
toras de ideologia {Imprensa, Escola, lgreja),de intelectuais
que contribulam para proporcionar-lhes adiregao moral e cul-
tural da sociedade.
E certo que na primeira década que se seguiu 3 pro
clamaglo da Repllblica o governo do Estado foi marcado por cer
ta instabilidade polftica, constitufda por mudancas frequen-
tes de governadores, o que, alias, ndo diferiu muito do resto
do pais. Era uma crise de representagdo, constituida sobretu
do pelas disputas entre fragdes integrantes da prépria classe
dominante, Mas, também, como ocorreu em outras plagas, com o
estabelecimente da Politica dor Covernadoree por Campos Sales,
a situagdo se estabilizou em virtude da formacdo de oligar
quias que tinham o apoio do Poder Central, enguanto a nivel
municipal eram sustentadas pelos coronéis. que dispunham devo
tos e sobretudo de milicias particulares para impor sua forga.
Solidificada a estrutura de dominac&o, as crises de represen-
tagio rarearam, @ os grupos de oposic¢do enfragueceram-se.
Entre 1900 @ 1930, pelo menos trés otigarquias po-
dem ser destacadas no Estado na esfera governamental,A primeira surge em 1899 © tem por principal figura
o Nensenbor Olympio Campos que, embora tenha sido assassinado
em 1906, seu grupo polttica permanece controlando o aparelho
de Estado até 1971,"
Apés o interregno situacionista, representado na po.
Titica local peto governo do General Jos® Siqueira de Menezes
(1911/14), marcado de autoritarismo, estrutura-se nova oligar
quia com a ascensdo ao poder do General GliveiraValaddo (1914/
18), A este, associou-se © grupo do Coronel Pereira Lobe que
© substitui no governo do Estado (1918/22), enquanto aquele o
substituta no Senado, havendo semeihante permuta de cargos
com Graccho Cardose, que o sucede na Presidéncia do Estado
(1922/26),
Por fim, a partir de 1927, nova oligarquia se rees-
truturava sob a direcio do coronel usineiro Mandel Correa Dan
tas € que seria apeada do governo pela Revolucdo de 1930,
0s grupos oligdrquicos que se sucedian no poder, sob
a chefia de religiosos, civis e militares, enquadravam-se ne
ideologia e nos Interesses materiais da classe dominante, or-
ganizando-a sob a hegemonia da fragio ligada ao agdcar.
A distingdo entre uma e outra oligarquia parece bas
tante ténue e perde significado quando se sabe que, por mais
que se vinculasse a essa ov Squela faccdo, todas repousavam
no apoio dos grandes proprietarios rurais, coronéis aglutina ~
dos em torno do Partido Republicano de Sergipe, a agremiacao
oficial que formalizava e legitimava as decisdes da cilpula po
litica, No fundo, as tres oligarquias referidas nao passavam
de nuances especificas do mesmo sistema oligdrquico, predomi.
nante na Primeira Repiblice, embora de forma subalterna em fa
ce das fragdes hegemdnicas nacionats.
Um traco que imprime certa peculiaridade @ polTtica
sergipana, diferindo da de estados como Pernambuco e Alagoas,
por exemplo, 80 baixo Indice derepresentacko politica direta
dog senhores do agiicar junto 3Presidéncia de Estade. Emb
ja presenca efetiva durante a primeira década repubiicana, no4
perfodo de 1960 a 1930, encontramos apenas dois fithos de se-
nhor de engepha na primeira oligarquia (monsenhor Olympia Cam
pos e seu irm@o, 0 desembargador Guilherme de Campos) @ um u-
sineiro.(Manget Correa Dantas - 1927/30) no crepiisculo da ve-
Tha ordem,
Deve ter concorrido para essa representatividade re
jativemente baixa, a nivel do governe do Estado, a interferén
cia fregiente do Poder Central na indicagde dos candidatos 30
governo do Estado @ até, por vezes. na area do Legistative Fe
deral, Sendo Sergipe um Estado de pequena expressividade em
termos politicos e econémicos, a intromiss3o da Presidénciada
Repiiblica se fez sentir nas crises pelitico-institucionais e
quando as cligarquias se manifestavam vacilantes na indicacio
dos candidatos, de conformidade com os resultados dos conta-
tos com as faccdes polfticas, Afora essa regra geral, houve
0 caso extreme do parlamentar maranhense, Lopes Goncalves, que
foi indicado por Artur Bernardes e eleito deputado federal sem
o minimo vinculo com Sergipe, §
Cabe observar, porém, que essa interferéncia do Po
der Central sofria alguns limites, Sasta notar que, salvo ra
ros casos ainda ndo perfeitamente esclarecidos, em geral es-
sas indicagées de candidatos se processavam depois de 1Tderes
politicos locais serem ouvidos. Mesmo Lopes Goncalves, a con
tragosto ou nio, recebeu a anuéncia de Graccho Cardoso e no
deixou de ser legitimado pelo voto, por mais insignificante
que fosse a participacao popular.
A presenca de militares no governo de Sergipe em
trés perTodos consecutivos nao autoriza a afirmar que houves-
se deyaste politico dos senhores do aciicar ou de qualquer ou-
tra fracao da classe dominante.
Primeiro, esses militares foram indicados em vista
de seu prestigio pessoal, inclusive junto as forgas dominan-
tes locais, edas suas influéncias junto a figuras politicas na
ndicow Siqueira de
cionais, tais cono Hermes da Fonseca que
Menezes, @ Pinheiro Hachado que contribuiu decisivamente para
a indicacao de Oliveira Yaladao para governo do fstado.5
Segundo, no se deve esquecer que todos os trés mi-
litares (Menezes, Valadoe Lobo), 38 possuiam ramificacdes na
politica interna do Estado desde a primeira década do pertedo
republicano, Principelmente os dois Gltimos fizeram da poid,
tica uma atividade permanente, envolvendo-se inclusive em cé-
Jebres questGes no inicio da Repiiblica,
Alén disso, cabe-nos lembrar que todos ou quase to
dos cles provinhan de familias tradicionais ©, 0 que é mais im
portante, sempre estiveram inteiramente sintonizados com os in
teresses da classe dominante a quem sempre serviram com desve
lo @ tenacidade.
Na verdade, para contrapor aos interesses e 3 ideo~
Jogia da classe dominante nado vamos encontrar agentes entre
0s governantes, mas entre as classes populares que apesar de
apresentarem débeis n¥veis de organizacdo, yao paulatinamente
ganhando espaco e elaborando uma contra-idealogia com defini
cées cada vez mais nitidas e difusdo menos restrita,
Durante a primeira década do perfodo republicano, em
bora se processassem numerosos conflitos, estes se situaram
no interior da classe dominante através das disputas pelo po-
der entre faccoes, Com a estruturagdo da primeira oligarquia,
desenvolveu-se forte movimento contra a dominacde do grupo ti
derado pelo Monsenhor Olympio Campos, resuitando na Revoltade
1906 @ nas mortes do parlamentar Fausto Cardoso, ITder dos re
voltosos, e do citado Monsenhor, assassinado meses depois no
Rio de Janeiro.
Tendo sido um movimento que aglutinou vastas parce-
las das massas urbanas, envolvendo inctusive grande parte da
intelectualidade sergipana, em meio ao seu carater muito pes-
soal, contribuiu para operar alguma recomposig&o de forgas a
nivel de representagao, embora nao tenha chegado a abalar aes.
trutura de dominagdo!
Parece-nos que os primeiras sinais mais perceptY ~
veis donascimento de contra-idevlogia, no sentido de oposigao
ao sistema ideoldgico reinante e de formacao de nova concepgaade wunde, vio surgir dentro da imprensa "operdvia", Ensaia-se
de forma restrita em 1896 e posteriormente vai reaparecendo
tenuemente pelos anos dez até atingir seu &pice em 1920/22,
prosseguindo até 1930, se bem que de forma enfraquecida.
Apesar de essa imprensa contar com a participagdo de
intelectualidade Jocal yinculada @s camadas médias, @ a par-
tir de 1918 com a fundagie do Centro Socialista Sergipanc, de
duragdo efémera, que Comecam a tomar corpo entre essas camia~
das algumas tend&ncias reformistas que se foram desenvolvendo
na medida em que participavam das campanhas’ pela candidatura
de Rui Barbosa (1918), pela do Voto Seereto, pela Reagdo Re-
publiecana, etc,, por contraditério que fosse seu conteiido,
De forma que, quando o movimento tenentista se re-
flete em Sergipe com a Revolta de 1924, que resulta na ocupa-
do do eparetho de Estede pelos tenentes por dezenove dias,
a receptividade popular foi relativamente favordvel. Depots
veio a frustrada revolta de 1926, e por ocasiao da campanha da
Alianga Liberal ji se podiam observar entre as massas urbanas
sinais de inquietac#o, indicando alguma predisposic#o & mudan
ga.
E justamente neste momento (1929) que rebenta ci-
sio entre as forcas politicas mais representativas da classe
dominante, nas disputas pela sucessio.
Apesar da divis%o que se operou no bloco politico
dominante, consideramos prematuro deduzir por esses eventos(o
crescimento das inquietacdes populares @ a ciséo dentro da re
presentacgdo politica da classe dominante) que a hegemonia’ da
classe dominante estivesse seriamente ameacada, Afinal, a cri
se que se esbocava carecia de maior significagao, na medida
em que na sombra dela nfo se desenvolvia nenhuma classe com
suporte suficiente para fazer frente ao poderio da classe do
minante sob a predominé@ncia da frac#o acucareira. Isso, po-
rém, nao descarta a possibilidade de alguma modificacao no a~
parelho de Estado, a partir de cima, (em face da dependéncia
do Poder Central) obrigando-a 2 concessdes dantes inimaginad
veis.7
Notas
Armando Barreto (org) - Cadestro Industrial, Comereial e Infor
mative de Sergipe, Avacalu, Artes Grificas da Escola de
Aprendizes Artifices de sergipe, 1933, pp. 101/108.
Censo de 1920,
José Ibaré Costa Dantas - 0 Tenentismo em Sergipe, Petropolis
Rd, Editora Yozes, 1974.
0 term oparelio de Estado & empregado aqui como "o pessoal do
Batado, os quadres da adwintatragio, da burceracia, do eadr
cito, etc." cf. Nicos Poulanzas, Foder Politico e Classes
Sociais, Porto, Portucalense Editora, 1971, p. 136,
Mafores dados sobre a interferancia do Poder Central na politty
ca interna de Sergipe ver José Ibaré Costa Dantas, ob, cit.,
pp. 28/29.
0 termo dominagdo, apesar de ser larganente enpregado, raramen
te & precisado conceitua’
nte. Gramsci empregou-o num sen
tido semeThante a ditadura‘para definir situagdes onde ha
predominancia da coercio. Embora em grande parte aceitemos
a terminologia gramsciana, julgamos que tal acepcdo de domi
nagio nao favorece a operacionalizacio, ja que situacdes de
ditadura quer autoritaria, quer totalitaria podem ser me.
Thor caracterizadas a partir da contribuicdo de Juan Linz,
nfo cbstante seu formalismo. Em face disso optamos pelo en
prego usual de dominac3o que comumente se aproxima da defi
nigdo "probabilidade de encontrar obedt@neta a wn mandate de
deierninade contetide entre pessoas dadaa" Max Weber - Feo
nomta y Soetedade, WExico, Fondo de Cultura, 1974, 1 vol.
p43.
fegenonia ser utilizade compreendendo a direcio polftica, eco
nimica, ideolégica e cultwral de uma classe ou fracdo de
classe sobre determinada sociedads, através da predominan
cia do consentimento, corforme interpretagao livre de Ant
nio Gramsci - Maquiavel, 2 Politiea @ 0 Estado Modemo, Rio
“de Janeiro, Edt, Civilizaclo Brasileira, 1976.2,2, Tendéncias da Economia de Expertacao
Antes de analisar especificamente as polfticas das
interventorias, pretendemos apreciar sumariamente o guadro e~
condmico do Estado como fim de fornecer vis#o globalizante
das tendéncias que marcam o perTodo 1930/45,
Quando se examinam as mudancas operadas pela Revoly
cio de 1930 num pequeno Estado nordestino como Sergipe, a ques
t8o da insergao de sua economia no quadro geral suscita pro —
blemas complexos e ainda néo equacionados.
A nivel nacional, caracterizagdo muito aceita @a
de que "os anoe 1929/32 marean a passagem do capttaliemo a
una nova fase de desenvolvimento. Rompe-se o modo de
acunutagdo exportador-capitalista, que prevalecerades
de fins do sécuto passado, ao mesmo tempo em que se
perfaaem as condigées indiepensdvets para que, em1935,
ee inicte a Induatrialisagao Restringida"}. Mas, pergun-
ta-se, até que ponto o Nordeste participa dessa mudanca do qua
dro econdmico?
Sem nos interessar aqui investigar como a economia
sergipana se situa dentro das novas formas de acumulacio que
comandam a economia nacional (uma vez que foge a0 escopo do
nosso trabaiho), desejamos simplesmente sugerir que no quadro
estadual fia tendéncia de continuidade do setor agro~exporta ~
dor, Ou seja, se a nivel nacional o complexo exportador ca~
feeiro encontra nesse momento o termo de seu predominio, no
ambito da estrutura econdmica do Estado de Sergipe, os setores
fundamentais continuam com as mesmas tendéncias que se vinhan
desenvolvendo na Primeira Repiiblica. Sergipe continuava sendo
um Estado predominantemente exportador, apesar da ocorréncia de
modificagdes no desempenho de alguns produtos,
0 declinio que se observa na participagdo do impos
to de exportacdo na receita do Estado, de 26,57% para 23,70%,
correspondente as aédias dos periades 1927/29 e de 1934/35,
respectivamente,* nao foi suficiente para afetar a predomi-nancia do setor exportador nesse primeiro momento.
Com a pro ibic&o pela carta de 1937 (art? 25) de im
postas interestaduais, o tribute proveniente das exportacdes
tendeu a desaparecer >.
Entre os produtos de exportacdo, o aglicar continua-
va em primeire plano; pelo menos até 1936 (quando dispo mos de
dados), sua participavdo no valor total do imposte de exporta
ges apresentou a média de 48,42%. 0 perfil dos derradeiros
anos da década de 1920 continua pelos anos trinta, conforme
se pode ver pelo quadro abaixo:
QUADRO I
PARTICIPACKO DO ACUCAR NO IMPOSTO
DE EXPORTACKO
ANOS PERCENTUAL(%)
1926 51,38
1927 39,86
1928 53,40
1929 56,98
1930 43,91
1931 58,23
1932 36,42
1933 49,14
1934 43,72
1935 51,26
1936 48,36
Fonte: Célculos efetuados pelo autor a partir de
dados constantes in
a) 0 Extado de Sergipe em1935, Aracaju,Gra
fica Editora, 1937, p. 103,
b) Eronides F, de Carvalho, Kenoagem a ag
senblta Legislativa, 7.9.37, Aracaju,
Imprensa Oficial, 1937, anexos.
Embora n3o se possa conhecer a importéncia do agG- _10
car depois de 1937 pela substituigdo progressiva do imposto
de exportagdo, visto que esse imposto passa a ser cobrado ape
nas em remessas para o estrangeire (a essa altura, insignif
cante), os dados referentes 4 produgdo e & area cultivada no
pertodo 1931/45 permitem avaliar o desempenho do produto nes.
se periodo,
QUADRO IT
PRODUCGAO DE ACUCAR DE CANA E AREA CULTIVADA
PRODUCAG EM SACOS AREA CULTIVADA
ANOS DE 60 KG (Ha)
1931 778.350 Tate
1932 645.416 12.340
1933 362,000 5.520
1934 379.400 4,800
1935 867.600 12.410
1936 811.677 17.390,
1937 607.448 13.100
1938 493,140 10,000,
1939 678.277 18,068
1940 920.975 15.671
1941 945.328 16.126
1942 687.017 15.003
1943 879.903 8.406
1944 901.898 13.845
1945 724.334 15.510
Fonte: Sergipe Eeondmico e Financetro, IBGE,
Departamento Estadual de Estatistica,
Aracaju, 1953, pp, 187/8.
As producdes referentes aos anos de 1933 e 1934 re
velam acentuada baixa resultante da seca de 1932 que assolou
o Nordeste. Além dessa crise, hd noticia de outra, desta vez
do prego, entre os anos de 1929/31, Enquanto na safra de t928/
29 9 preco teria variado entre 52 2 60$000 por saco, de 1929
a 1931 teria oscitado de 12 a 249000,"NZo obstante as sensiveis repercussdes dessas
i
cri-
ses mo setor, elas néo foram suficientes para provocar a rut-
ha ou mesmo @ declfnio evidente dos usineiros, conforme indi
cam a recuperagdo da producdo a partir de 1935 e, até certo
ponto, a evoluc&o dos centros de produgda do Estado.
QUADRO ITT
CENTROS DE PRODUCKO DE ACUCAR
ENGENHOS BANGUES USINAS
ANOS
1903
1917
1930
1934
1938
1940
Fontes: 1)
2)
3)
4)
5)
6)
Apesar de
como por exemple, 0
643 14 1
329 54 2
- 85, 3
201 86 4
167 cal 5
63 65 6
dosino Menezes ~ Mensagem 4 Aseembléia Le
gisiativar 79.1903, Aracaju, typ. d'0
Estado de Sergipe, 1903,pp, 44/45.
Manoel P. de Oliveira Valadio - veneagen
& Agsembiéia hegtotativa, 7.9.1917, Araca
ju, Imprensa Oficial, 1917, p. 27
Armando Barreto{org)Cadastro de Sevgipe,. Ara
caju, 3933, pp. 41/2,
Luiz Relemberg, in Anuario acucareiro, trans
crito pelo 0 Estado de Sergipe em 6934, pp.
Tal/ ae,
0 Estado de Sergipe em 1935, IBGE, Araca-
ju, 1937, p71.
Censo de 1940, Série Regional, Parte XI,
IBGE, 1952, p. 318/19.
aiguns dados nos parecerem questionaveis,
niimero de engenhos bangués constantes dos
Jevantamentos de 1935 e de 1940, por considerarmos inferiores12
ao real, © quadro acima fornece elementos que suscitam algu~
mas consideragées.
: Primeiramente, a queda dos engenhos bangués @ bas-
tante sugestiva enquanto indica a transformacao que se foi o-
perando nos centros de produg%o do Estado. Mas a diminuigdo
dos engenhos n3o atributo do inicio dos anos 30, Antes, fa-
zia parte da tendncia que se vinha manifestando desde o int-
cio do sSculo como parte do processo de transigdo para as usi
nas que, por menores que fossem, eram dotadas de tecnologia
mais aprimorada. Entretante, mesmo dentro dessa tendéncia ge
ral, surgem outras questées, Por exemplo, qual a repercussdo
econdiiice = socia} dessa transigSo dos engenhos para as usinas,
representada pela concentracdo dos centros de producio? E pos
sivel aventar que se tratava de processo natural de concentra
gio de capital, Mas, quais as principais atividades suced
neas dos senhores proprietarios que colocavam seu engenho de
fogo movto, ou seja, inative? Quantos teriam optado pela pe-
cuaria, pelo algod%o ou simplesmente continuaram plantando ca
na, passando a fornecedares das usinas? Se bem que pretende-
mos retomar essas questées em outras oportunidades, cabe-nos
desde logo observar que, apesar das crises de preco e deseca,
nfo ha evidéncias de mudangas abruptes provocadas no setor a-
cucareiro como decorréncia da Revolug3o de 1930, conforme se
pode observar pelo desempenho nos anos trinta. Essa resttén-
cia dos usineiros as crises talvez se explique em parte pelos
altos precos no ps-guerra até mais ou menos 1929. Mas, se as
pequenas transformacdes obedeceram a uma tendéncia que provi-
nha da Primeira Repliblica, deve-se notar que o crescimento do
niimero de usinas ocorre até aproximadamente 1935, A partir de
entao, os dados existentes atestam declinio da quantidade, de
clinic esse que tende a continuar até mesmo no pos 1945,
Dessa forma o fendmeno que vai ocorrer nos anos qua
renta apresenta inovagdes, J& n&o so apenas os engenhos ban
gués que diminuem, mas também as usinas, Estaria havendo con
centracio entre os préprios usineiros? Talvez sim, Entretan
to, o perfil da area cultivada do quadro II permite extrair a
ilagio da substituicdo da cultura canavieira por outra ativi-13
dade qualquer, com posstyeis reflexes na infludncia polTtica
da fragdo agucareira.
Rum contexto mais amplo, situando Sergipe dentro de
sua regio, nfo se pode negar que estivesse havendo perda de
posicio do Nordeste em face das expansées da producdo do Rio
de Janeiro e principalmente de Sdo Paulo 5 Contavam esses Es
tados do Sudeste com técnicas mais aperfeicgoadas e, sobretudo,
com grandes mercados consumidores mais préximos, fato bem sig
nificativo quando se sabe que quase toda a producio estava vo}
tada para o mercado interno, implicanda em problemas de dis-
tribuigto e refletindo nos precos. DaY se explica a cria~
gio do Instituto do Agicar ¢ do Alcool (IAA), em junho de 1933,
que expressava, entre suas finalidades, aesegurar o equilibrto
interne entre as safras anuate de cana e o consume do agucar,
mediante aplicagdo de uma quantidade de matéria prima, a de -
terminar, ao fabrieo do Eteoot.®
Em Sergipe, a noticia da criag#o do IAA se apresen
tou alvissareira para of usineiros. Nao obstante alguns des~
contentamentos no momento de fixagdo de taxa de cotas do Esta.
da, foi considerada como uma das grandes reatizagdes do gover
no Getilto Vargas, conforme assinalou um usineiro ensafsta,”
Indubitavelmente, 0 que no se percebia era o quede
monstraria mais tarde Francisco de Oliveira, ov seja, que ©
IAA que se havia revelade como um eftcaz mecantsmo para a den
fesa, para a ndo desaparigGo da economia agueareirva do Nordes
e
te, revela-se ineficaa como mecantemo para a expansio
Se a agdo do Estado concorria para preservar o arca
Ysmo da indistria acucareira do Nordeste, tornando-o desse mo
do vulneravel @ expansao de Sao Paulo, ha quem considere queo
dectinto teria atdo provavelmente mats wdpido se 0 IAA néo te
vease entetido.® .
De qualquer forme, na conjuntura dos anos trinta, a
criagdo do IAA significeu seguranca e estYmulo para a conti~
nuidade da existéncia e da influencia dos usineiros.14
Ainda no setor rural, en segundo plano poden ser lew
bradas a producfo de algodio e arroz e a criacdo de gado. Se
nao tanto pelas suas partictpagSes na exportagio, mes princi
palmente por se contituir no suporte material do patronato a-
grario ligado 4 grande propriedade, além de sua importancia
dentro do mercado interno.
0 algodio aiém de se constituir em matéria prima pa
ra as fibricas téxteis existentes no Estado, era exportado tan
to em forma de pluma como através de subprodutos tais coma o
farelo de caroco de S120, Como produto de exportacdo e consu
mo interno foi duramente afetado pelas crises no in¥cio dos a
nos trinta, mas j& em 1934 retomaya um patamar que permitia
alto nivel de exportacdo, superando os encontrados na segunda
netade da década de 1920.
A partir de 1931 0 desempenho epresentou o seguinte
perfil:
QUADRO IV
PRODUCKO DE ALGODAO EM CAROCO E AREA CULTIVADA
ANOS PRODUCAO (t) AREA CULTIVADA(ha)
1931 13.750 30.937
1932 5.966 15,299
1933 20,613 50.000
1934 20,723 34.539
1935 16.667 30.300
1936 18.827 34.220
1937 19,583 39.696
1938 16.667 34,013
1939 14.156 29.291
1940 12.255 25.710
1941 11.837 24.185
1942 11.667 23,333
1943 13.333 25.860
1944 8.900 16.251
1945 6.218 12.393
Fonte: sergipa Feondmico e Pénancetra, Aracaju, IBGE, 1953
p.153, baseado em dados do Servico de Estatistica |
de Produgao do Ministério da Agricultura.is
Representando o segundo produto agricola na contri
buigio @ Receita do Estado, vé-se que também o algod%o foi bas.
tante afetado pela seca de 1932, atingindo grande — producto
hos dois anos subsequentes, produgdo essa até hoje nao suplan
tada em Sergipe. -
A exemplo do que ocorreu com a cana de agiicar, apos
a geada de 1919 © a crise de 1929 que atingiram o café, a ne~
cessidade de diversificacao levou Sie Paulo a intensificar o
cultive de algod%o, tendo consequéncias nefastas para o Norte
e Nordeste. A produgio de algod&o destas regides representa
va até 1930 mais de 70% do total nacional. Em 19238 somente
So Paulo ja fornecia 59,9% dessa produgdo, ficando o Nordes-
te com a pouco expressiva cifra de 24,3%.%" E a tendéncia foi
continuar diminuindo, especialmente depois de 1945. Sema e-
xistncia de uma autarquia, a exemplo do IAA, gue controlasse
a produgo e a distribuic3o em face da concorréncia interregi,
onal, e sobretudo diante das especulagées das empresas estran
geiras, a producdo, nao. somente nordestina como também a na~
cionat, tenderdo a dectinar.
Em So Paulo ainda ha noticias de movimentos agtuti.
nadores como as congresses algodoeiras, que tinham inclusive
como preocupacdo a organizacdo de entidade de classe, que re-
sultou na Unido dos Lavradores de Algodao do Estado de Sdo Paw
to (WEA) criada em intcios de 1939.7*
No Nordeste, e particularmente em Sergipe, nao en-
contramos nenhum movimento similar, 0 que demonstra a debili-
dade dos agricultores plantadores de algodio. 0 mais que con
seguiram foram atgumas medidas protecionistas que analisare-
mos oportunamente.
Cultivado no Estado principalmente por pequenos a-
gricultores, a ponto de ser considerado cultura de pobre, su
jeito @ adversidade de condigdes climaticas e de pragas como
a legarta résea, além do jogo de influéncias dos comerciantes,
seu indice de vulnerabilidade se apresentava bastante elevado.
Como se isso nao bastasse, em novembro de 1937 0 go16
verno estabelceu o servico de classificacéo do algodio, impon
do tributagdo elevada a espécies aclimatadas em proveito de
outras consideradas de melhor fibra, mas de precdria adapte-
gio %@ regido, resultando em desest{mulos aos agricultores.
Entre os demais produtos agricolas, aquele que apre
sentava contribuigdo significativa na receita do Estado era o
arroz.
Cultivado, sobretudo 3s margens do rio S80 Francis~
co, provavelmente, grande proporgao em sistema de parceria .
seu desempenho pode ser avaliado a partir dos seguintes dados:
QUADRO V
PRODUCKO, AREA CULTIVADA E EXPORTACKO DE ARROZ
PRODUCKO (1) BREA CULTIVADA (2) EXPORTACKO (3)
ANOS sacn 60 kg (Ha) TONELADAS
1926 ~ - ° 1.344
1927 - 7 2,806
1928 - - 4.788
1929 - - 2.479
1930 - - 2.534
1931 96.200 4.710 1.854
1932 90.000 . 4,910 3.016
1933 146.920 7.360" 3,518
1934 120.000 6.670 3.107
1935 50.000 3.530 1.679
1936 88,000 5.900 -
1937 90.000 6.200 -
1938 90,000 6.140 -
1939 143.177 4,773 -
1940 146.300 4.874 -
1941 220.949 7,045 -
1942 241,100 7.193 -
1943 204,083 8.366 -
1944 153.392 4,496 -
1945 142.640 6.955 -
Fontes: (1} Sew, too @ Pinaneetro, Aracaju, IBGE,1963,
. 187,
(2) fen.
(3) 0 Betado de Sergipeem 1935 , Aracaju, IBGE, 1937, p104,17
Enquanto o movimento de exportag3o revela continui-
dade do periodo pos trinta em relagdo ao quinquanioanterior, a
produgdo que esteve oscilante nos anos trinta mantém propor ~
gio relavitamente elevada nos anos quarenta. De todos os pro
dutos agricolas, certamente foi o arroz o menes sensivel a se
ca de 1932, 0 que talvez se explique pela dependéncia das en
chentes do Rio Sdo Francisco que nem sempre coincidem com as
condigdes pluviométricas do Estado.
Além desses produtos agricolas, outros podem ser ci
tados tais como a mandioca eo milho. Embora ndo se destinas
sem ao mercado externo, desempenhavam destacado papel na eco~
nomia do Estado, Basta observar que o espaco ocupado supera-
va praticamente todos os produtos agricolas, Enquanto a cana,
por exemplo, raramente chegava a 18.000 hectares, a mandfoca va
riava de 20 a 30,000 hectares.?* Enquanto isso a importncia
da mandioca chegou ao ponte de ser considerada de 1943 a 1948
como o produto agricola que, em termos globais, ocupava °
maior valor da produgdo.?? Mas, ressalvava 0 autor do Rela~
tOrio citado, queremos acreditar que os dados estatistt
cos relativos @ produgdo de mandioca, como os dos
demats produtos agricotas, eatejam distanciados da
vealidade, podendo os seue resultados acusar, en al
gune casos, grandes diferengas para mais ou para me
nos."
Realmente a veracidade dos dados estatisticos cons
titui problema dos mais sfrios para quem os utiliza com o ob-
Jetivo de conhecer a realidade, Ha casos, por exemplo, em
que se encontram indicios de determinadas tendéncias, mas que
nao tam registro nos dados estatisticos. Eo que ocorre no
nosso caso com a pecuaria, conforme revela o seguinte quadro:18
QUADRO VI
POPULACKO PECURRIA DO ESTADO DE SERGIPE
(GADO ATOR)
y91eao
: QUANTIDADE
ESPECTE 1912 (1) 1920 (2) 1935 (3) 1940 (4)
Bovinos 268,770 311.239 330,000 267.944
Equinos 83,090 47.724 © 60.000 36.737
Asininos e
muares 36.350 12.995 42,000 16.819
ovinos 148.960 123,708 163,000 100.017
Caprinos 202,240 332.294 156.000 60.478
Fontes: 1) Censo de 1912
2) Censo de 1920
3) Inquérito da Diretoria de Estatistica da Pro
ducio do Ministério da Agricultura junto as.
Prefeituras Municipais.
Conforme duadvos Estattetieos de Sergipe Ara
caju, IBGE, Inmprensa Oficial, 1938, p,16
4) Censo de 1940.
Por esse quadro, mesmo desconsiderando o inquérito
de 1935, fica patente o dectinio da populacdo pecuaria de 1920
para 1940.
Sem ter a pretensio de revisar dados tradicionalmen
te aceitos, somos levados a questionar a veracidade dos Cen-
sos de 1920 e/ou 1940 por varias razSes, Primeiramente por-
que @ em torno dos anos quarenta que o ag¢iicar e sobretudo oo
algodio sofrem declinio, inclusive da drea cultivada, confor
we j& foi visto em quadros anteriores. Mas nfo foram somen
te o aglicar e 0 algod&o os Gnicos afetados. Segundo dados do
Anuario Estatistico do Brasil, apresentados no Relatdrio Ja
citado, a Grea cultivada das principais culturas agricolas do
Estado foi avaliad2 da seguinte forma:is
QUADRO WIT
AREA CULTIVADA DAS PRINCIPAIS CULTURAS
AGRICOLAS D0 ESTADO
(1831 - 1944)
ANOS AREA CULTIVADA (Ha)
1931 101.142
1932 94,542
1933 180.416
1934 179.899
1935 165.158
1936 . 184.916
1937 187,486
1938 177.632
1939 107.421
1940 103,213
1941 110,624
1942 114.005
1943 117,659
1944 110,002
Fonte: Proposta Orgamentaria para 1948,
vol III, Secretaria da Fazenda ,
Producio @ Obras Piblicas, Araca
gu, 1947, (datilografado) p, 53.
Se, portanto, estava verificando-se, sobretudo a par
tir de 1939, contracdo da Grea cultivada na agricultura, que
alternativas se ofereciam para os agricultores?
Sabendo-se, inclusive através de varios depoimentos,
que ja nos anos trinta o gado, especialmente o bovino, vai en
contrando maior valor comercial, tormando-se cada vez mais co
mum os proprietarios rurais comprarem bojadas em outros Esta~
dos, (Bahia ¢ em Minas Gerais) a fim de engordar e revenderen
geralmente pare Estados do Nerdeste, tudo léva a crer que a
pecuaria adquire importincia crescente a partir dos anos trian
ta, tornando~se o principal sucedaneo das culturas que naque-20
ta conjuntura encontravam menores compensagdes financeiras.
K3o & por acaso que as referencias em documentos oficiais re-
lativas a pecudria se amiudam, indicando atengao ao setor, bem
coma as reivindicagdes dos interessados, **
Embora ainda sem elementos suficientes, levantamos
a hipdtese de que, apesar da valorizacio do produto nio ser
suficiente para afetar significativamente as :posighes desfru
tadas pelo aclicar ou até pelo algodac, @ provavei ter havido
melhoria de precos no com@rcio do ‘gado ao ponto de represen ~
tar alternativa de investimento viavel. No relatdrio de 1947
seu autor afirmava: Reaimente cheganos a una sttuagdo tal que
passou a pecudpia a ser entre nds, em determinadas etreunstan
eias, uma atividade muito mats luerativa do que a agricultu ~
va 38
Por certo a transicde ndo se processou depois de
1945,
Francisco de Oliveira afirmou que a oligarquia agu-
careira do Nordeste foi suplantada pela ascensio da oligar ~
quia-algodoeira-pecuaria no pos 1930.77 Em Sergipe tal fend
meno nZo nos parece ter ocorrido, pelo menos até 1945. Sendo
o plantio do algoddo atividade a quat se dedicavam diversos es
tratos rurais e de maneira muitas vezes intermitente, no vi-
sualizamos suficiente unidade e consist@ncia com forca para
dominar o grupo acucareiro. £ certo que comerciantes de algo
d3o tiveram major influancia, mas desconhecemos pacto com 0
setor ligado @ pecuaria com vistasa sobrepor-se ao setor do
aglicar.
Talvez seja mais apropriado considerar a década sub
sequente a 1935, como pertodo decisivo de gestacdo da impor -
téncia dos pecuaristas de forma a possibilitar essa fracdo de
classe 1® 2 exercer a hegemonia no pos 1945.
Ap passarmos ao mundo urbano, também néo encontra-
mos mudancas significativas,
Do ponto de vista populacional, o indice de urbani-21
zacdo permanecia reconhecidamente baixo. fm 1940, 0 Censo re
gistraria 69% da populacio estabelecida no campo. 0. centro
mais populoso do Estado continuava sendo de longe a capital
que de 1920 para 1940 passara de 37.440 para 59.031 habitan-
tes, enquanto no Estado, no mesmo periodo, a populacao cresce
ra de 477.064 para 542.326 habitantes.?*
0 seter secundario onde melhor se refletem as trans
formagdes econdmicas também no apresenta mudancas substan —
ciais.
Se computarmos 9 nlimero de estabelecimentos indus-
triais, excluTdos usinas e engenhos, j& apreciados quando tra
tamos do agiicar, encontramos o seguinte quadro:
QUADRO VIIT
ESTABELECIMENTOS INDUSTRIAIS~SERGIPE
1907/40
ESTABELECIMENTOS 1907 (1) 1926 (2) 1930 (3) 1935 ( 4} 1940(5)
Unidades emGeral 41 237 - 492 249
-Operarios 1,742 5.386 - - 11.438
Fabricas Téxteis 4 7 W W 12
-Operarios - > - 5.696 5.683
Fontes: 1) Censo de 1907.
2) Censo de 1920.
3) Armando Barreto (org) - Cadastre de Sergipe, Araca
ju, 1935, pp/101/107.
4) 0 @etade de Sergipe em 1985, Aracaju, IBGE, 1937 ,
pp.69 e 74.
5) Censo de 1940.
Embora 0 niimero de unidades industriais tenha cres
cido bastante, estas no possuiam poder germinativo. Eram, em
sua estiagadore maioria, pequenos estabelecimentos de transfor,
macio etementar com reduzido nimero de empregados. As mais
significativas pela quantidade de pessoal empregado eram as
texteis que em 1934 possufam contingente de operarios de 147-4
1042 pessoas.7°22
Dispersas através de sete municipios, apresentando
reduzido sentido de integraggo com outras indistrias, ou mes
mo entre si, embora seu niimero fosse acrescido de apenas uma
unidade, no pertodo 1931/45 sua produg&o tendeu @ aumentar:
QUADRO 1X
PRODUSKO DE TECIDOS DE ALGODAO
Y
wos MSIE lho
1926 29,235 (1) -
1927 . 31,283 (1) -
1928 29.069 (1) -
1923 29.306 (1) -
1930 29.200 (1) -
1931 39.665 (1) -
1932 34.340 (1) -
1933 28.204 (1) -
1934 - 31.630 (1) -
1935 28.350 (1} -
1936 35.031 (2) 31.794 (2)
1937 38.150 (2) 35.724 (2)
1938 41.692 (2) 33.687 (2)
1939 42,730 (2) 33,945 (2)
1940 38.536 (2) 32.869 (2)
1941 40.916 (2) 40.934 (2)
1942 56.569 (2) 84.850 (2)
1943 56.354 (2) 114.169 (2)
1944 49.693 (2) 123.013 (2)
1945 46.549 (2) 132.860 (2)
Fontes: 1) Quadros Estatisticos de Sergipe, IBGE,
Aracaju/Imprensa Oficial, 1938, p, 18
2
Sergipe Eeondmico e Financetros Ara-
caju, IBGE, 1953, p. 191.
Como se ve, se no dec@nio 1926/35 a producdo se ma-
nifestou relativamente estacionaria, a partir de 1936 tende a
aumentar, acentuando-se nos anos quarenta, como efeito da Se-23
gunda Guerra. A elevacdo dos precos, embora parcialmente im
pulsionada pela inflagdo, nfo deixava de se constituir em po-
deroso estimulo no sentido de preencher a capacidade ociosa,
Como dizia o autor do Relatério ja cttado, o perto~
do da iiltima guerra, atingtu a aua predugdo o maximo desenvol
vimento apesar da precariedade das suas tnstalagdes conatdera
dee quace obeotetas 7
N&e obstante, Sergipe ocupava o sexto lugar entre
os produtores nacfonais, conforme poderd se verificar pelo qua
dro seguinte:
QUADRO X
Indistrias de Tecidos de Atgodzo no Brasi}
1945
one "EE SER ee oe
1, So Paulo 320,200,318 223° 85.494 29.811 1.102.288
2, Minas Gerais 180,423,360 60 25.785 11.768 368.707
3. Pernambuco 136.899.9989 7 28.807 8.425 205,134
4. D. Federal 112,828,378 154,748 14,180 560.176
5, Rio de Janeiro 95.263.297 th 16.696 «8.342 289.163
6, SERGIPE 46,549,571 12 9.445 3,290 100.652
7. Alagoas 43,566,183 9 898) 3.391 111,132
8, Bahia 32,655,103 8 5.323 4.585 98,468.
3, Maranhio 17,508,750 8 3.584 2.133 80.820
10. Ceard 12,209.67 3,382 987 37.708
M1, Santa Catarina 11,382.30 21 6.264 = 1.383 41.480
12, Paraiba 7.803.811 5 10,987 3.000 57.988
13. Rio Grande do Sul 3.689.880, 2 1.026 607 24.172
14, Espirito Santo 2.421.751 1 35 sl 3.986
15. Pard 1,952,999 1 316 vel 7.804
16, Piaut 1.067.973 1 350 Ws a2
17, Parand 92,150 1 B 30 -
Nota: Os dados referentes a Sergipe foram colhidos no Comunicado n? 8 do D.
E.E. @ os dos denais Estados, no Anuaric Brasileiro de Estatistica ,
ano 1 @ VIT,
Fonte: Proposte Orcamentiria para 1948, Aracaju, Secretaria da Fazen-
da, Produglo © Obras Plblicas, 1947, p.48.24
Apesar dessa situacdo de relative destaque em 1945,
© quadro pouco havia se alterado em relacdo aos anos 1920, no
que se refere ao nlimero de estabelecimentos, Efetivou-se nos
anos quarenta aumento da predugdo por razées ja citadas. De
qualquer forma a producHo de tecidos representava @ principal
atividade econdmica do Estado fora do setor rural.
No comércio os dados séo menos explicitos. Levanta
mento efetuado por volta de 1932/33 dava conta de 987 estabe-
Jeciméntos, mas nZo h@ notfcias da quantidade de empregados 22.
© Censo de 1940 registrou 2.023 estabelecimentos comerciais
contando com pessoa? ocupade na ordem de 3,576 individuos *3,
Apesar dessa larga diferenciagio, torna-se diffcil estabele-
cer exatamente o grau de transformacdo, nJo apenas pela falta
de confiabilidade dos dados, como também por AZo estabelecer
critérios de distingdo quanto ac tamanho dos estabelecimentos,
Contudo, por mats que relativizemos a proporcéo das
mudancas, n&o se pode negar a exist@ncia de algum crescimento
dentro das tendéncias que se vinham operardo dos anos vinte.
Outro recurso de tentar avaliar o volume global do
movimento comercial do Estado podera ser realizado tomando
por base a arrecadacao do imposto sobre vendas e consignagées,
conforme @ apresentado pelo relatorio de 1947:
QUADRO XI
GIRO COMERCIAL BO ESTADO - 1936/45
RECEITA DO _IMPOSTO GIRO COMERCIAL
ANOS DE ViACOES E CONSIG TAXACAO wb x 100)
€
1936 1.403,625,00 122, 290.000 ,00
1937 1.762,338,00 140.987 .040 ,00
1938 3.012,999,00 241.039.920,00
1939 3,680,358,00 1, 25% 294.428 .640,00
1940 +216,00 290.897,280,00
1947 +796,00 337.343 .680,00
1942 . 832,00 431.186 .560,00
1943 +325,00 ) 498, 808.928 ,00
1944 29,00 + 1,408 644,330,642,00
1945 «485,00 a 717,034.714,00
Fonte: Proposta Oreamentaria para 19gg, Secretaria da Fazenda,
Producao e Obras Publicas, Aracaju, 1947,Vol, IIT(Dat},p.5325
Apesar do aumento do custo de vida do decénio 1936/
45 ter sido avaliado em terno de 295% 2% © da elevacdo da ta-
xagéo de 1,25% para 1,40%, houve aumento substancial do giro
comercial, especialmente nos anos quarenta,
Af, apesar da crise de escoamento dos anos quarenta,
deveria pesar bastante o volume de negécios representado pelo
comércio interestadual, especialmente com as pracas do Rio de
Janeive e Salvador, para onde se destinava a grande parte das
exportacdes do Estado.
Alias @ interessante observar que até o destino dos
produtos de exportacdo quase néo se modificou, conforme se po
de ver pelo quadro abaixe: *
QUADRO XII
DESTINO DAS EXPORTAGOES
posi¢no 1900(1) 1979(2) 1934(3) 1935(4) 1941(5)
19 Lugar Rd RI Rd RI Rd
29 Lugar BA SP BA BA BA
30 Lugar PE BA SP RS SP
Fontes: 1) Hons. Olympio Campos, Meneagen G Aacembléta Legie-
lativa de Sergipe, 7.9.1901, Aracaju, » -Typografia
d'0 Estado de-Sergipe, 1901 (recapitulacdo do quadro
li).
2) U.d, Pereira Lobo, Mensagem G Assembléta Legislati
vadesergipa Aracaju, Imprensa Oficial, 1920.
3) 0 Betade de Sergipe em 1944, Aracaju, Artes Grafi-
cas de Artifices, Diretoriade EstatTstica,1936,p2t8
4) 0 Estado de Sergipe em 1845, Aracaju, Grafica Edi -
tora, Depto Estadual de Estatistica, 1937, p.102.
5) Exportagda de Sergipe (lege/4i), Aracaju, IBGE, De
partamento Estadual de Estatistica ~ Sergipe, 1942,
pb.26
Como se ve, Rio de Janeiro continuou com a mesma po
sicio assegurada na Primefra Replblica, seguindo-se a Bahia
que baixava em 1919, embora continuasse com participacao sig-
nificativa ocupando o terceire lugar, perdende por pequena di
ferenga de Sio Paulo. Enquanto isso, o mercado interestadual
em retacZo 20 externo continuava com afsoluta predominancia :
99% em 1900, 91% em 1935, 98,5% em 1949, 98% em 1947 25 perma
necendo Indice semetnante ao da Replblica Vetha.
Quanto a0 movimento de embarcagdes, dividindo-se a
fase de 1927/45 em quatro perfodos, encontram-se as seguintes
médias anuais:
QUADRO XIII
. FLUXO DE EMBARCACUES NO PORTO DE ARACAUU
MEDIA ANUAL
PERTODOS EMBARCACOES A VAPOR EMBARCACUES A VELA
1927/29 132 201 dQ)
1930/35 155 224 = (2)
1936/39 230 zag (3)
1940/45 125 165 (4)
Fontes: 1) Manoel Correa Dantas, Mensagem GAesemblida Legit
lattva em 7.0.28, Avacaju, Imprensa Oficial, 1928
p 113 Idem, ih. 1929, p 97; Idem, ib. 1930, p. TT.
2,3,4 - Sergipe Eoondmtco 2 Finaneetro, IBGE, Araca
ju, 1938, p,193.
Em relacdo a0 perfodo anterior 2 1930, registrourse
aumento at® 1939. Com a eclos&o da Guerra, verifica-se violen
to deélinio que jamais seria recuperado, em face das transfor
magées no sistema de transportes no perfodo pos 1945.
Além do escoamento das mercadorias pela Barra do Rio
Sergipe, correspondente ao porto de Aracaju, havia também mo-
vimento através das barras dos rios Piaut e Sao Francisco, so
bre aS quais nao foram computados dados por-ndo terem sido en
contrados,27
Gutro aspecto gue ilustra o crescimento comercial @
© movimento bancério visto através do volume de depositos e
empréstimos:
quapro xI¥
MOVIMENTO BANCARIO EM SERGIPE
ANOS DEPOSITOS EMPRESTINOS
1928 17,420 16.400 (1)
1937 22,170 18,060 (1)
1934 31.626 » a)
1935 25,068 26.300 (1)
1938 44,311 51.857 (2)
1940 56.015 66.283 (2)
1942 68.616 74.190 (2)
1943 109.971 113,384 (2)
1944 175,229 209.027 (2)
1945 199,522 283.551 (2)
Obs - Até 1935 em contos de reis, de 1939 em dian
te em mil cruzeiros.
Fontes: 1) guadmos Fetatistieos de Sergépe, Ara-
caju, 1938, p. 30.
2) Sergipe Econdmieo 2 Financetro, Araca
ju, IBGE, 1953, p.195/6,
Embora o movimento financeiro apresentasse cresci-
mento relativamente diminute entre fins dos anos vinte e mea-
dos dos anos trinta, j2 no fim desta década alcangava maior e&
levagdo, continuando a crescer pelos anos quarenta. Esse cres
cimento pode ainda ser ilustrado pelo aumento do numero de es
tabelecimentos. As fontes sobre a quantidade de bancos no i-
nicio da década de 1930 sdo escassas. Temos informacdes da
existencia apenas de um estabelecimento particular, o Banco
Mercantil Sergipense, do Cel. Goncaio Rolemberg do Prado, a-
Yém do Banco do Brasil, 7°
Em 1940 0 censo j& registrava 4 empresas e 7 estabe
lecimentos,?7 enquante que em 1946 j8 hd noticias de 20 esta.28
belecimentos, sendo 9 na capital e 1] no interior ,?&
Mesmo diante da precariedade dos dados, pode-se ad-
witir consideravel crescimento do setor, como que reflexo das
pequenas mudancas que se operam na economia estadual, E o apa
recimento de novos bancos ndo deixa de se constituir num dos
elementos mais expressivos dessa mudanga, indicando a diversi
ficacdo dos investimentos, partindo de grupos que até entio
se haviam concentrado na indistria acucareira, como era o ca
so dos Prado Franco, -
Portanto, embora o perfil da economia de exportacao
se mantenha de uma década a outra, configurendo segura conti-
nuidade, a diversificacio dos investimentos revela perda rela
tiva do setor exportador.
Foi visto que apesar das crises de precos (1930/31}
e de producd (1932) na economia de exportacdo, houve r&pida
recuperacyo em face de conjuntura favorével, do ponto de vis-
ta climatico e de prego, engendrando relativa — prosperidade
que se preserva mais ou’menos até 1937, A partir da? embora a
economia continuasse preponderantemente de exportac3o, tendo
no acgicar seu produto fundamental, algumas pequenas altera-
goes merecem consideracgao,
A primeira talvez seja o declinio do algodao que se
acentua pelos anos quarenta. Quanto ao acicar, os precos pou
co compensadores e os problemas de escoamento na conjuntura de
guerra tendem a afetar o setor. Embora o nivel da producdo
se mantenha pelos anos seguintes, os centros produtores, espe
cialmente as usinas comecam a se reduzir em niimero, E nesse
periodo (1939/45) que aparecem novos bancos, enquanto a produ
gio de tecidos alcanga patamar inédito estimulada pela cres-
cente demanda revestida de altos pregos. Se bem que @ prospe~
ridade da indistria téxtil ira revelar-se efémera, a ascensdo
da pecudria manifestar-se-& duradoura @ progressiva, expandin
do-se pelos anos quarenta, conforme atesta o mapa 1.
SHo essas as modificacdes mais significativas quese
observam na economia de Sergipe. Substancialmente o quadro29
SERGIPE
VARIACAO DAS AREAS DE PASTAGENS
19.40 - 1350
VARIACRO RELATIVA
Grescimento
de 25%
TT] ee 25% 0. 50%
He 50% “o- de 100%
100 % © mois
Oiminuigto
= 60 18%
Fontes Centos Aaricelos de 1940-1950
cseata: Lut?
es, ule ae Fig. 47
Fonte: Aracaju e sua Reqida - Subsidios ao planejamento da Brea nordas
tina, Ninist&rio do Planejonsente e Coordenacdo Geral, Fundagdo
IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia, Rio de Janeiro, 1971.30
praticamente nao se alterava e nem parecia gestar-se nenhum
fendmeno que apontasse para alguma ruptura de modo a abalar a
estrutura de dominac#o. Quando muito, poder-se-ia dizer que
o declinio do algodio, a ascens¥o da pecudria, a perda de po-
sigio do aciicar e a paulatina diversificagio da economia se
contituram em mudangas secundarias, mas que eram suficientes
para afetar a correlacdo de forcas, especialmente entre os se
tores da classe dominante,3h
Notas
“1, Liana Maria Lafayete Aureliano da Silva - Yo Limiar da In
dustrializagéa ~ Estado e Acumulagdo de Capital, 1919
37, Tese de Doutoramento apresentada ao Instituto de
Filosofia e Ci€ncias Humanas da Universidade Estadual
de Campinas, Campinas, 1976 p.1.
Ver também Maria Conceicdo Torres - pados n9 1, Rio de
Janeiro, 1966, p.l17.
2, Manoel Correa Dantas -Mensagem apresentada d Assembiétabe
géslativa em 7.9.1928, Aracaju, Imprensa Oficial, 1928.
Idem, idem 7.9.1929, idem 1929.
Idem, idem 7.9.1930, idem 1930.
0 Estado de Sergipe em 1935, Departamento Estadual de
Estatistica, Publicidade e Difus&o Cultural, Aracaju,
Grafica Editora, 1937, p. 145.
3. Enquanto em 1937 era arrecadada em imposto de exportacao
a importancia de Cr$ 4.380.641,00, em 1945 ndo passava
da cifra insignificante de Cr$ 750,00. Proposta orga~
mentdrta para i948, Yol. LIT, (Relatorio apresentado pe
la secio de estudos econdmicos efinanceiros ao presi-~
dente da comiss3o de orcamento), Aracaju, 1947 (datilo
grafado) p.92.
4, Conf, RelatSrios eontas e pareceres do consetho fiscal da
Agsoctagdo Comercial de Sergipe, triénio 1929/31, Ara-
caju, 1932, Grafica Editora de Sergipe, 1932, p. 44.
5, Para se ter uma idéia da expansdo do aglicar em S¥o Paulo,
basta observer que enquanto a producfo do Estado de Per
nambuco aunentava de 4.603.127 sacos em 1929 para
5.200.000 sacos em 1946 « a de Sergipe permanecia mais
ou menos estacionada em torno de 500.000 sacos, Sao Pau
jo passava de 1.113.417 em 1929 para 4,000,000 em 1946.
Conf. Edgard Carone - 0 Batade Youo, Sao Paulo, Difel,
1976, p.39.10.
ie
12,
13.
14,
18.
16,
Ww,
18,
32
Edgard Carone - 4 Segunda Repildtiea, SHo Paulo, Difel ,
1973, p.15?.
+ Orlando Dantas, 9 Probiema Agueareiro de Sergipe,Aracaiu,
Livraria Regina Ltda, 1944, p. 28.
+ Francisco de Oliveira, Elegta para uma Rallilgido, Rio de
Janeiro, Paz e Terra, 1977, p.61.
Tomas Szmrecsanyi, Agroindistria Canavtetva, Avaltagéo do
Planejamento no Brasil, S. Paulo, Brasiliense, 1977 ,
p. 29.
Edgard Carone, Ob, cit. 1976, p. 50/51.
Idem, Ibidem, p53.
0 Estado de Sergipe em 134, Diretoria de Estatistica, A-
racaju, Artes Graficas Escola de Artifices, 1936, p139
Propoata Orgamentarta para 1948, p.33.
Idem, ibidem, p.33.
Ver Augusto Maynard Gomes,Relatério Apresentada ao Exmo.
Sr, Presidente da Repiblica, Dr. Getiilio Vargas, refe-
rente as atividades da administracao sergipana, duran.
te o ano de 1942, Aracaju, Imprensa Oficial, 1943, p.
21, Segundo o citado relatério “a peeudrta sargipana
tem sido objeto de especiaia cutdados do governo sergt
pano",
Ver também, Revista de Avaeaju, Ano TI, nQ 2, Aracaju,
1944, p. 248. °
Proposta Opgamentdria para 1948, p. 30.
Francisco de Oliveira, ob. cit. p. 35/37.
Q terme fragdo de clasee @ empregadg aqui em sentido am-
plo, qual seja, de parcela de classe que apresenta ca~
racteres comuns, relacionados sobretudo com a posic¢ao
em face do sistema produtiva, definindo interesses es~
pecificos.1.
20.
21.
2
23.
2a,
25.
26
27.
28.
33
Censos de 1920 e 1940
0 Estado de Sergipe em 1934, pp, 166/7
Proposta Orgamentdrta para 1948, p.46
‘
Armando Barreto (org) - Cadastro Induatrial e Comercial e
Informative de Sergipe, Avacaju, Artes Graficas da £5
cola de Aprendizes Artifices de Sergipe, 1933, p. 456.
Censo de 1940,
Conf. Movimento,17.7.78, p. 12.
Mons, Olympio Campos, Mensagem apresentada A Assemblaia
hegistativa em 7/9/1901, Aracaju, Typografia d'0 Es
tado de Sergipe, 1901,
0 Fatado de Sergtpe em 1935, p.102
Expovtagdo de Sergipe (1940/41), p.6
Armando Barreto (org) - ob. cit. p.18?
Censo de 1940 - p.392.
Proposta Orgamentania para 1948, p.51.34
2.3. Os Governos Provisérios Efémeros
Nao obstante ter sido Sergipe palco de revoltas te-
nentistas em 1924 e 1926, 0 processo de acomodacéo politica
que foi ocorrendo a partir de 1927, entre revaltosos e situa-
cionistas, contribu para diminuir a polarizagdo politica in-
terna, Isso néo significa que a oposic&o ao governo estadual
tenha diminufdo, Pode-se constatar até certo crescimento em
face da atuac&o dos grupos revoltosos que nao se acomodaram
ao esquema do governo e de outros grupos, provenientes princi
palmente das aamadas médias urbanas, De qualquer forma, a po
Jarizagdo existente 4 @poca da Revolugdo ndo foi suficiente
para provocar, de imedtato, agdes que ameacgassem a seguranca
e os interesses econdmicos fundamentais da classe dominante.
Em contrapartida, os governantes que num primeira
momento assumiram a diracgaéo do Estado, em geral, nem sequer
demonstraran pretensdes de modificar a antiga ordem oligdrqui
ca nos seus tracos mais essenciais.
Depois que um avide, na manhé do dia 16.10.30, dis-
tribuiu em Aracaju manifestos dando conta do avango das for-
gas revolucionarias, provenientes do Norte, em direc&o & capi.
tal, o Presidente do Estado fugiu e 0 capitio Aristides Prado,
de acordo com Juarez Tavora, empossava o tenente-médico Eroni.
des de Carvalho como Governador Provisério do Estado de Sergi
pest
Em sua oragdo de posse o primeiro governante da no-
va ordem dizia “aseumir por delegagdo dos companhetros revolu
etondrios, o Governo Militar do Betado (,..) tendo por objeté
vo o reepetto aoe direitos individuais, o direito da proprie-
dade e, sobretudo, o respecte & familéa Sergipana”. Gutra pro
messa anunciada era quanto aos "servigos pilbiicos” marcharen
sem interrupcao.?
Além de preocupar-se com a continuidade da ordem, o
novo governante declarou-se conciliador, dizendo~se sem adver
sirios, ter em cada sergipano um amigo dedicado e que até os