AVALIAÇÃO DA METODOLOGIA DE “ICTIOPLÂNCTON VIVO” COMO
FERRAMENTA PARA DETERMINAR ÁREAS DE DESOVA E CARACTERIZAÇÃO
DE OVOS E LARVAS DE PEIXES
SARAH DE ANDRADE FROELICH 1,2*, MARTHONI VINICIUS MASSARO3,
LUCAS ADRIANO PACHLA4, THAISE MACHADO VECHIETTI1,2, DAVID
AUGUSTO REYNALTE-TATAJE2,5
1 Introdução
A identificação precisa dos estágios iniciais de desenvolvimento dos peixes constitui
uma importante etapa nos estudos sobre a ecologia dos peixes, no entanto, devido às
transformações morfológicas que a maioria das espécies sofrem desde os primeiros estágios
larvais até a formação do juvenil, muitos indivíduos acabam sendo identificados
erroneamente. Nos ambientes continentais brasileiros, os peixes geralmente apresentam larvas
eclodindo com tamanho de 1,0 a 8,0 mm (comprimento total), podendo chegar de 10- 40 mm
até o final do seu desenvolvimento inicial (período juvenil), sendo que este processo pode
durar dias ou mesmo semanas (Nakatani et al., 2001; Reynalte-Tataje & Zaniboni-Filho,
2008).
No Brasil, apesar de possuir uma das maiores diversidades de espécies de peixes de
água doce do mundo, os estudos de ictioplâncton ainda são escassos e também são raros os
estudos que envolvem o aperfeiçoamento das técnicas de coleta, triagem e identificação
(Sulzbacher et al., 2022). Nos trabalhos de ictioplâncton as coletas envolvem no geral o
sacrifício de ovos e larvas que são fixadas em formol para depois serem identificadas, devido
a isto as vezes centenas ou milhares de organismos ictioplanctônicos precisam ser sacrificados
inclusive alguns pertencentes a espécies ameaçadas. Uma alternativa para evitar o sacrifício
destes organismos é fazer a triagem e a identificação dos organismos ainda vivos com a
1 Acadêmica do curso de Ciências Biológicas – Licenciatura, Universidade Federal da
Fronteira Sul, campus Cerro Largo, contato:
[email protected]2 Grupo de Pesquisa: Biociências, Biodiversidade e Conservação
3 Mestrando do curso de Pós-graduação em Ambiente e Tecnologias Sustentáveis -
PPGATS, Universidade Federal da Fronteira Sul, campus Cerro Largo, RS.
4 Mestre do curso de Pós-graduação em Ambiente e Tecnologias Sustentáveis - PPGATS,
Universidade Federal da Fronteira Sul, campus Cerro Largo, RS.
5 Professor da Universidade Federal da Fronteira Sul, campus Cerro Largo, RS. Orientador
posterior devolução para o meio ambiente. Nos últimos anos, a técnica do “ictioplâcnton
vivo” tem sido aplicada para triar e identificar os organismos ictioplanctônicos ainda vivos
(Reynalte-Tataje & Zaniboni-Filho, 2008), entretanto é desconhecida a eficiência desta
técnica como ferramenta para usos em estudos de ecologia e biologia na identificação e na
triagem do material.
Assim, este projeto pretende avaliar a viabilidade do método conhecido como
“ictioplâncton vivo” que é um método que permite a triagem e a identificação dos organismos
ictioplanctônicos vivos e compara-lo com o método “tradicional” que avalia os organismos já
fixados.
2 Objetivos
Avaliar a metodologia do “ictioplâncton vivo” como ferramenta para triagem e
identificação de organismos ictioplanctônicos.
3 Metodologia
As coletas foram realizadas mensalmente no período de outubro de 2021 a fevereiro
de 2022, em um trecho do rio Ibicuí (Médio rio Uruguai) situado no município de Itaqui (RS),
entre às 20 e 21 horas. Foi utilizado três redes de plâncton de formato cônico-cilíndrico, a
qual consiste em uma malha de náilon de 500 μm, com uma das extremidades presa a um aro
metálico de 35 cm de diâmetro, acoplado em três cordas unidas por um cabo amarrado no
barco; e outra extremidade composta por um copo coletor rosqueável, o qual armazena o
ictioplâncton coletado (Nakatani et al., 2001).
Nesse tipo de coleta, uma das redes foi amarrada na parte de trás e, as outras duas em
lados opostos do barco, por um período de 4 minutos. Ao retirar o material da água, o mesmo
processo foi repetido por quatro vezes, totalizando doze amostras. Das doze amostras, seis
amostras receberam formaldeído 4% para poder realizar a triagem e a identificação dos
organismos ictioplanctônicos através da técnica “tradicional”. As outras seis amostras não
receberam o fixador. No laboratório as amostras fixadas em formol foram triadas com ajuda
de uma lupa estereoscópica e os ovos e larvas foram separados e contabilizados. Já as
amostras que não receberam formaldeído foram despejadas numa bandeja branca e os ovos e
larvas foram separados do restante material com ajuda de uma lanterna. Os ovos e larvas
separados foram contabilizados. A identificação das larvas em ambas as triagens foi realizada
ao menor nível taxonômico possível de acordo com Nakatani et al. (2001) e Reynalte-Tataje e
Zaniboni-Filho (2008) e separados de acordo com seu estágio de desenvolvimento (Nakatani
et al., 2001) em LV (Larval vitelo), PF (Pré-flexão), F (Flexão) e POF (Pós-flexão). Os ovos e
as larvas do “ictioplâncton vivo” depois de contabilizadas e identificadas foram devolvidas
para o rio.
4 Resultados e Discussão
Foram capturados um total de 233 ovos e 227 larvas, desse total 173 ovos e 129
larvas (LV=49, PF=75, F=2, POF=3) foram identificadas pelo método “tradicional” e 60 ovos
e 98 larvas (LV=11, PF=81, F=3, POF=3) foram identificadas pelo método do ictioplâncton
vivo” (Figura 1).
Larvas
Tradicional
Vivo
Ovos
200 150 100 50 0 50 100 150
Número de organismos
Fonte: Elaborado pelos autores, 2022.
Figura 1. Número de organismos do ictioplâncton (ovos e larvas) triados pelo método tradicional e pelo método
do “ictioplâncton vivo”.
No presente estudo foi observado a presença de mais ovos e larvas na triagem
tradicional. Esse fator ocorre porque ao utilizar a lupa estereoscópica como um meio de
contagem e identificação, o material dificilmente é perdido. Enquanto na metodologia de
“ictioplâncton vivo”, onde a retirada dos organismos é a olho nu é possível que alguns
organismos principalmente os mais pequenos e transparentes como os ovos e as larvas vitelo
(LV) possam não ter sido observados e retirados. E é justamente a diferença entre o número
de ovos e de larvas em LV que foram as mais diferentes entre o uso das duas metodologias.
Avaliando a composição taxonômica, foram identificadas 11 espécies/gêneros, desse
total nove espécies foram identificadas no método tradicional e dez no método do
“ictioplâncton vivo” (Figura 2).
Fonte: Elaborado pelos autores, 2022.
Figura 2. Composição taxonômica de larvas capturadas no rio Ibicuí comparando os métodos
tradicionais de triagem e identificação com o método de “ictioplâcnton vivo”
Na figura 2 pode ser verificado que o número de táxons identificados foi semelhante
entre as duas metodologias. Também foi verificado que o número de organismos identificados
por espécie por cada método foi semelhante. A maior disparidade, entretanto, pode ser
verificada com o Pimelodus spp. Este gênero foi muito mais presente na triagem tradicional
do que no “ictioplâncton vivo”. A grande diferença no número encontrado nestes dois
métodos para este gênero pode estar relacionada com o estágio de desenvolvimento e pela
morfologia destes organismos, já que a maior parte das larvas de Pimelodus se encontrava no
estágio LV um estágio bem inicial, e a larva desta espécie em este estágio é muito pequena e
transparente o que pode ter dificultado o seu registro no “ictioplâncton vivo”.
5 Conclusão
A técnica de “ictioplâncton vivo” pode ser utilizada em estudos de ecologia dos
peixes ou de biologia pesqueira, já que apresenta resultados semelhantes a triagem tradicional
e ainda possibilita a sobrevivência dos organismos ictioplanctônicos que são devolvidos ao
meio natural. Entretanto, alguns cuidados precisam ser levados em consideração na triagem
de ovos e larvas em estágios iniciais já que podem não ser detectados e retirados do material
coletado.
Referências Bibliográficas
NAKATANI, Keshiyu et al. Ovos e larvas de peixes de água doce: desenvolvimento e
manual de identificação. Maringá: Eduem, 2001.
REYNALTE-TATAJE, David A.; HERMES-SILVA, Samara; SILVA, Patrícia Alves da;
BIALETZKI, Andrea; ZANIBONI-FILHO, Evoy. Locais de crescimento de larvas de peixes
na região do Alto Rio Uruguai (Brasil). In: ZANIBONI-FILHO, Evoy; NUÑER, Alex Pires
de Oliveira. Reservatório de Itá: estudos ambientais, desenvolvimento de tecnologias de
cultivo e conservação da ictiofauna. Florianópolis: Editora UFSC, 2008. p. 159-193.
SULZBACHER, Rosalva; HARTMANN, Paula; DOS SANTOS, Tacieli; MASSARO,
Marthoni Vinicius; PACHLA, Lucas Adriano; BASTIAN, Rodrigo; BRUTTI, Virian
Coradini; REYNALTE-TATAJE, David Augusto. The influence of the trawl net mouth size
and collection cod-end type on catch of ichthyoplankton. Brazilian Journal of Development,
v8, n.4, p. 24867-24884, 2022
Palavras-chave: Identificação, Ovos e larvas; Rio Ibicuí.
Nº de Registro no sistema Prisma: PES- 2021-0221
Financiamento: CNPq