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Purificados Sarah Kane

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PURIFICADOS SARAH KANE

CENA 1
Logo do lado de dentro da cerca de uma universidade está
nevando.
TINKER está esquentando heroína numa colher de prata.
Entra GRAHAM.

GH – Tinker.
T – Tô cozinhando.
GH – Eu quero ir embora.
T – (Levanta o olhar.)
(Silêncio)
Não.
GH – Isso é pra mim?
T – Eu não uso.
GH – Põe mais.
T – Não.
GH – Isso não é o suficiente.
T – Eu sou um negociante, não um médico
GH – Você é meu amigo?
T – Acho que não.
GH – Então que diferença vai fazer?
T – Isso não vai terminar aqui.
GH – Minha irmã, ela quer –
T – Não me diz.
GH – Eu sei os meus limites. Por favor.
T – Você sabe o que vai acontecer comigo?
GH – Sei.
T – Isso é só o começo.
GH – Sim.
T – Você vai me deixar fazer isso? *
GH – Nós não somos amigos.
Pausa
T – Não.
GH – Sem lamentações.
T – (Pensa. Então põe outra grande quantidade. Ele adiciona
suco de limão e esquenta a heroína. Ele enche a seringa.)
GH – (Procura uma veia com dificuldade.)
T – (Injeta no canto do olho de GRAHAM.)
Conta até dez de trás pra frente.
GH – Dez, nove, oito
T – Tuas pernas tão pesadas.
GH – Sete, seis, cinco
T – Tua cabeça tá leve.
GH – Quatro. Quatro. Cinco
T – A vida é doce.
GH – É o que tá parecendo.
Eles se olham
GH – (Sorri.)
T – (Desvia o olhar.)
GH – Obrigado, Doutor.
Ele desmaia.
T – Graham?
Silêncio.
T – Quatro.
Três.
Dois.
Um.
Zero.

CENA 2
ROD e CARL estão sentados na grama logo do lado de dentro da
cerca da universidade.
Meio do verão – O sol está brilhando.
O som de uma partida de cricket vindo do outro lado da cerca.
CARL tira seu anel.

C – Pode me dar o seu anel?


R – Eu não vou ser o seu marido, Carl.
C – Como é que você sabe?
R – Eu não vou ser marido de ninguém.
C – Eu quero que você fique com o meu anel.
R – Pra quê?
C – Um sinal.
R – De quê?
C – Compromisso.
R – Você me conhece há três meses. Isso é suicídio.
C – Por favor.
R – Você morreria por mim?
C – Sim.
R – (Estende a mão.)
Não tô gostando nada disso
C – (Fecha os olhos e põe o anel/aliança no dedo de Rod.)
R – Quê que você tá pensando?
C – Que eu sempre vou amar você.
R – (Ri.)
C – Que eu nunca vou te trair.
R – (Ri mais.)
C - Que eu nunca vou mentir pra você.
R – Acabou de mentir.
C – Meu bem
R – Querido Meu amor Meu bem. Você me ama tanto, e não
lembra o meu nome?
C – Rod.
R – Rod. Rod.
C – Me dá o seu anel?
R – Não.
C – Por quê não?
R – Eu não morreria por você.
C – Tudo bem.
R – Eu não posso te prometer nada.
C – Eu não me importo.
R – Eu me importo.
C – Por favor.
R – (Tira o anel dele e entrega para CARL.)
C – Você não vai pôr ele no meu dedo?
R – Não.
C – Por favor.
R – Não.
C – Eu não espero nada em troca.
R – Espera sim.
C – Você não precisa dizer nada.
R – Preciso sim.
C – Por favor, Meu bem
R – Caralho –
C – Rod, Rod, por favor, desculpa
R – (Pega o anel da mão de Carl.)
Escuta. Só vou te dizer isso uma vez.
(Ele põe o anel no dedo de Carl.)
Eu te amo agora.
Tô com você agora.
Eu vou fazer o meu melhor, minuto a minuto, pra não te trair.
Agora.
É isso. Mais nada. Não me faz mentir pra você.
C – Eu não tô mentindo pra você.
R – Cresce.
C – Nunca vou te dar as costas.
R – Qualquer um que você imaginar, alguém em algum lugar, vai
tá de saco cheio de trepar sempre com a mesma pessoa.
C – Por quê você é tão cínico?
R – Eu sou velho.
C – Você tem 34.
R – 39. Eu menti.
C – Fica quieto.
R – Não confia em mim.
Pausa
C – Eu confio.
Eles se beijam
TINKER está assistindo.

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