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Pedagogia Histórico-Critica e Luta de Classes

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Revista HISTEDBR On-line Resenha

PEDAGOGIA HISTÓRICO-CRITICA E LUTA DE CLASSES


NA EDUCAÇÃO ESCOLAR

Resenha do livro:
SAVIANI, Dermeval e DUARTE, Newton. Pedagogia histórico-critica e luta de classes
na educação escolar. Campinas: Autores Associados, 2012. 184 p

Por Lucia Mara de Lima Padilha1

O livro Pedagogia Histórico - Critica e Luta de Classes na Educação Escolar, de


autoria dos professores Dermeval Saviani e Newton Duarte, dividido em sete capítulos,
aborda o debate acerca da participação do trabalho educativo escolar no processo de
superação da sociedade burguesa, processo esse que se dá por meio da luta permanente
pela efetivação das máximas possibilidades de socialização dos conteúdos científicos,
artísticos e filosóficos. Os autores elegem como tese central a assertiva de que a luta pela
escola pública coincide com a luta pelo socialismo, e que perante a gravidade mundial é
preciso ter atitudes claras e respostas concretas em termos de mobilização coletiva por
transformações sociais radicais. O acesso ao conhecimento dá-se de maneira
profundamente desigual e seletiva, porém, tudo camuflado pelo discurso de respeito às
diferenças culturais, pelo fetichismo da democratização do acesso ao conhecimento e pela
subordinação dos objetivos da educação escolar a uma lógica de permanente esforço do
indivíduo para se adaptar às mudanças constantes das condições de vida e de trabalho. Para
os autores, a luta pela plena socialização do conhecimento pela escola, na sociedade
burguesa, não revolucionará a sociedade, pelo simples fato de que a escola não tem o poder
de mudar a sociedade, mas acreditam que a revolução é uma ação humana, e como tal,
depende da consciência, sendo a revolução não um processo espontâneo, mas movido pela
classe trabalhadora conscientemente organizada. Nesse sentido, desenvolver o trabalho
educativo na perspectiva de superação do modo de produção capitalista requer uma
pedagogia de inspiração marxista, e este livro, soma-se aos esforços que vêm sendo
realizados coletivamente para a construção da pedagogia histórico – crítica.
No capítulo, A formação Humana na Perspectiva Histórico-ontológica, Saviani e
Duarte discutem a definição da educação como formação humana e em que ela se consiste.
Analisam o homem, como um ser situado e determinado pelas condições do meio natural e
cultural, nos seus aspectos pessoais e intelectuais. No aspecto pessoal, isto é, da liberdade,
o homem mostra-se capaz de aceitar, intervir e modificar, deste modo, ele poderá intervir
na vida de novas gerações para educá-las. No entanto, a educação continua sem ser
legitimada, pois, com que direito o educador interfere na vida do educando? Na análise
intelectual, o homem é capaz de transcender a situação, assim como pontos de vista
pessoais, para se colocar na perspectiva universal entrando em comunicação com os outros
e reconhecendo suas condições situacionais. Funda-se aí a legitimidade da educação, que
emerge, como uma comunicação entre pessoas livres em graus diferentes de maturação
humana. A formação humana coincide, nessa acepção, com o processo de promoção
humana, levado a efeito pela educação. Desta forma, a filosofia da educação cumpre o
papel preliminar de estabelecer a própria identidade da educação, sua tarefa consiste em
uma reflexão radical, rigorosa e de conjunto sobre os problemas que a realidade apresenta.
A filosofia trata daquilo que é a qualidade humana por excelência, isto é, o pensamento,
razão pela qual interessa a todos os homens. Mas o conteúdo da filosofia é a história, ou
seja, a produção da própria existência humana no tempo. Assim, a filosofia e a história da
educação constituem o núcleo duro da formação do educador. Dando continuidade a esse

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capítulo, os autores esboçam uma fenomenologia de uma época atual, constatando que as
ideias atualmente hegemônicas na educação se centram na crítica à razão e às noções de
verdade e objetividade. As ideias que parecem ser hegemônicas se manifestam como
expressão de crise na medida em que não se afirmam positivamente, mas se expressam
como negação daquilo que é denominado como sendo a metafísica do sujeito,
característica da modernidade. Daí a crítica à razão, à consciência, às noções de verdade e
de objetividade, a substituição da epistemologia pela linguística e da lógica pela semântica,
chegando-se a conclusão de que não faz sentido se falar em conhecimento das coisas, já
que tudo se resume a “jogos de linguagem”. A esse neopragmatismo que, na tentativa de
opor-se a metafísica, acaba por ser metafísico reduzindo tudo à linguagem, os autores, a
partir de uma reflexão histórico – ontológica sobre a formação humana contida nos
Manuscritos Econômicos e Filosóficos (1844), afirmam que é preciso restabelecer o
entendimento de que o pensamento de Marx é caracteristicamente antimetafísico,
manifestando-se provavelmente como a forma mais acabada de um modo de filosofar que
unifica, na história, o conteúdo e a forma da filosofia. É assim, uma filosofia ao mesmo
tempo histórica e historicizadora, em que estão em causa não os sujeitos abstratos, mas os
indivíduos reais, sujeitos históricos que se constituem como síntese de relações sociais.
No capítulo, Lukács e Saviani: a ontologia do ser social e a pedagogia histórico –
crítica, Duarte parte da afirmação que na abordagem materialista histórico – dialética, o
estudo ontológico do ser social não prescinde do estudo da gênese histórica da
especificidade da sociedade perante a natureza. O ser humano é antes de tudo um ser vivo
e a sociedade só pode existir em permanente intercâmbio com a natureza. No que diz
respeito à educação em geral e à educação escolar em particular, um dos desafios que estão
postos para uma teoria educacional marxista é o da construção de uma ontologia da
educação. Assim, adotando a concepção de Lukács, a educação adquire real significado
como objeto da reflexão ontológica somente quando analisada como um dos complexos
que compõem a sociedade. Mas como o ser da sociedade é histórico, a essência ontológica
da educação só pode ser apreendida numa perspectiva historicista. Trata-se da análise dos
processos historicamente concretos de formação dos indivíduos e de como, por meio
desses processos vai se definindo, no interior da vida social, um campo específico de
atividade humana, o campo da atividade educativa. O autor constata que são poucas as
tentativas de aproximação entre os estudos de Lukács no campo de uma ontologia marxista
do ser social e os estudos de Saviani no campo da pedagogia histórico – crítica. Uma das
características basilares dos trabalhos de Saviani é justamente a busca da superação da
dualidade entre a essência e historicidade, característica essa que fez o pensamento desse
educador destacar-se de outras teorias críticas sobre a educação brasileira. Para que uma
teoria marxista da educação possa ser também uma pedagogia marxista, é necessário
assumir um posicionamento afirmativo sobre o que significa educar seres humanos hoje.
Os elementos para uma ontologia da educação na obra de Saviani são justamente aqueles
nos quais ele apresenta um posicionamento afirmativo sobre a essência do ato educativo.
Nesse sentido, o autor analisa momentos da obra de Saviani que se podem constituir em
elementos para uma ontologia da educação.
No capítulo intitulado: Marxismo, Educação e Pedagogia, Saviani aborda o tema
da relação entre marxismo e educação pelo ponto de vista da relação mais específica entre
a teoria marxista e a pedagogia socialista. Aborda a concepção marxista de homem, as
contradições da concepção burguesa de educação, a concepção socialista de educação,
educação socialista, politécnica e o panorama atual, educação e sociedade de classes com
seus desafios, a pedagogia histórico-crítica e os desafios pedagógicos no contexto
brasileiro. Começando pelo significado do conhecimento em Marx como base para o

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entendimento tanto da teoria marxista da educação como da pedagogia socialista de


inspiração marxista, o autor coloca que, para Marx o movimento global do conhecimento
compreende dois momentos. Parte-se do empírico, isto é, do objeto na forma como se
apresenta à observação imediata, neste momento inicial, o objeto é captado numa visão
caótica, sem clareza do modo como ele é constituído. Partindo dessa representação
primeira do objeto, chega-se por meio da análise aos conceitos, às abstrações, às
determinações mais simples. Uma vez atingido esse ponto, percorre-se o caminho inverso
chegando pela via da síntese, de novo ao objeto, agora entendido não mais como
representação caótica, mas como uma totalidade de determinações e relações. Assim
compreendido, o processo de conhecimento é, ao mesmo tempo, indutivo e dedutivo,
analítico-sintético, abstrato-concreto, lógico-histórico. Deve-se distinguir, portanto, o
concreto real do concreto pensado. Vê-se, pois, que estamos diante de uma concepção
realista, em termos ontológicos, e objetivista, em termos gnosiológicos. Assenta-se,
portanto, em duas premissas. 1- As coisas existem independentemente do pensamento, com
o corolário, 2- A realidade é cognoscível, com o corolário. Continuando sua escrita, o autor
aborda questões específicas da teoria marxista e a educação, destacando que, Marx não se
ocupou direta e especificamente da elaboração teórica no campo da educação, mas que não
faltaram esforços, seja para identificar no conjunto de sua obra passagens referente à
educação, seja para extrair das análises marxianas sobre a história, a economia e a
sociedade derivações de sentido para a educação. Quanto às passagens dos escritos de
Marx referidas à educação, o autor destaca que elas se encontram clara e didaticamente na
obra de Manacorda, primeiro no livro IL Marxismo e L’educazione e posteriormente no
livro Marx e a Pedagogia Moderna, no qual ele distingue três momentos, nos quais Marx
fala sobre a educação. Quanto às derivações de sentido para a educação, obtidas a partir da
consideração do conjunto da obra de Marx e Engels, quem talvez melhor exemplifique esse
esforço é Suchodolski que chegou a publicar em 1961, o livro “Teoria Marxista de La
educación”. O autor concluiu seu texto abordando questões sobre a pedagogia socialista e a
pedagogia concreta, enfatizando que, uma pedagogia concreta é aquela que considera os
educandos como indivíduos concretos, e que para a construção de uma pedagogia inspirada
no materialismo histórico não basta recolher passagens das obras de Marx e Engels, mas
implica na apreensão da concepção de fundo que caracteriza o materialismo histórico.
No capítulo A Pedagogia Histórico – Crítica e o Marxismo: Equívocos de (mais)
uma crítica à obra de Dermeval Saviani, escrito por Duarte, Ferreira, Malanchem, e
Muller, os autores tem como tema central a tese de Lazarini (2010), na qual ele, apoiando-
se na crítica de Lessa (2007), se propõe a mostrar que a obra de Saviani e a pedagogia
histórico-crítica no seu conjunto apresenta equívocos fundamentais. Lazarini afirma que
Saviani ao invés de se posicionar criticamente em relação à lógica do capital, defenderia
uma educação escolar centrada no ensino dos processos de trabalho, ou seja, a pedagogia
histórico-crítica defenderia a domesticação dos indivíduos ao trabalho alienado. Apoiado
em Mészáros e Tonet, Lazarini esforça-se por negar qualquer intenção imobilista, seja de
suas análises, seja daquelas nos quais se apoia. Lazarini apresenta a distinção entre a
produção material e não material como se ela tivesse sido inventada por Saviani como uma
alternativa às categorias marxianas, de trabalho produtivo e trabalho improdutivo.
Contrariamente a Marx, Lazarini e Lessa se recusam a aceitar a existência de uma
produção não material, pois para eles seria uma produção que resultaria num produto
inexistente. Para os autores, o equívoco não está em Saviani, mas sim na identificação feita
por Lessa e adotada por Lazarini, entre o que é material e o que é objetivo. Tanto Lessa
quanto Lazarini caem naquilo que acusam em Saviani, ou seja, são eles que não
conseguem entender a dialética entre materialidade e idealidade, bem como entre

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objetividade e subjetividade. A tese de Lazarini apresenta a fragilidade da argumentação


crítica como consequência do caráter não dialético de sua compreensão do pensamento de
Marx, pois emprega a designação “materialismo histórico” em vez de “materialismo
histórico e dialético”. Ele repete várias vezes ao longo da tese que um dos equívocos de
Saviani seria o de recusar a analisar a atividade do professor à luz dos conceitos de
trabalho produtivo e trabalho improdutivo, que ao invés de fazer uma análise crítica do
trabalho na sociedade capitalista, Saviani opta por uma via crítica e idealista, ao tomar o
trabalho como modelo para a formação humana e ao definir a atividade educativa como
trabalho não material. Segundo os autores, Saviani explica é que a categoria de trabalho
não material mostra-se mais adequada à tentativa de compreensão do significado do
trabalho em educação, isto é, à caracterização da especificidade da educação escolar
perante outras modalidades da prática social. Saviani não está afirmando que as categorias
de trabalho produtivo e improdutivo não se aplicam ao trabalho do professor, mas que elas
não explicam a especificidade desse trabalho. Quando Saviani parte da distinção marxiana,
no campo de produção não material, entre as atividades nas quais o produto se separa do
ato de produção e aquelas nas quais o produto não se separa do ato de produção, seu
objetivo não é negar a existência de alienação no trabalho do professor na sociedade
capitalista, mas sim caracterizar a especificidade da atividade educativa escolar. Lazarini
faz uma leitura inegavelmente parcial e distorcida da obra de Saviani, pois escreve
aproximadamente 500 páginas dedicadas a uma análise crítica da obra de Saviani, na qual
não analisou, nem mesmo citou o conceito de trabalho educativo. Mas não foi somente o
conceito de trabalho educativo que Lazarini preferiu se esquivar como também da própria
utilização de conceitos de trabalho produtivo e improdutivo na análise da atividade
educativa, ele critica Saviani por não empregar esses conceitos, mas o fato é que ele
mesmo não o faz. Sua recusa em considerar a especificidade do trabalho educativo levou à
incompreensão do papel da socialização do conhecimento no processo de superação do
capitalismo. Segundo os autores, somente uma imensa vontade de não entender o que está
escrito levaria alguém a interpretar o raciocínio de Saviani como se ele estivesse afirmando
que a escola pública pode alcançar na sociedade capitalista a plena socialização do saber
sistematizado e que, quando isso ocorrer, a escola terá produzido a passagem do
capitalismo para o socialismo. O que Saviani afirma é que a luta por um sistema público de
ensino que realize a função da escola, que é a de socializar o saber sistematizado, entra em
contradição com a lógica da sociedade capitalista e que, a luta pela escola pública só faz
realmente sentido quando é parte da luta pelo socialismo. E a socialização do
conhecimento sistematizado é necessária para a organização da classe trabalhadora em sua
luta revolucionária contra as relações capitalistas de produção.
No capítulo Debate sobre educação, formação humana e ontologia a partir da
questão do Método Dialético, Saviani escreve sobre sua participação na mesa redonda
realizada no V Encontro Brasileiro de Educação e Marxismo. Inicia respondendo as
críticas feitas a ele por Lazarini em sua tese de doutorado defendida em 2010. A referida
tese retorna as criticas, feitas por Sérgio Lessa, Ivo Tonet e Paulo Sérgio Tumolo, além de
recuperar outros estudos críticos no final dos anos de 1980 e início de 1990. Talvez o que
ela traga de novo seja o fato de reunir num só trabalho um conjunto de críticas formuladas
de forma mais ou menos esparsa, além do caráter bombástico com que as denúncias são
apresentadas. Para Saviani, a grande surpresa foi o fato de ter sido produzida ao longo de
cinco anos, sem que nenhum contato fosse feito com ele. Deste modo, parece ter havido
um problema metodológico da pesquisa, porque seu autor elegeu um objeto, mas não
tomou nenhuma iniciativa em conhecê-lo diretamente. Isso permitiria ao autor da tese
assegurar-se melhor de seus argumentos tornando suas críticas mais consistentes. Saviani,

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afirma não ter sido tratado como um companheiro de mesmo campo teórico-político-
ideológico a quem se endereçam críticas para fazê-lo avançar ou para corrigir os desvios
detectados em sua apropriação da teoria, mas sim como um inimigo a abater. Saviani se
recusa a estudar um autor por ele mesmo e se debruçar sobre seus escritos tentando
decifrá-los para expor o núcleo de seu conteúdo, mas recorre dos autores para poder
compreender melhor a realidade e responder aos problemas enfrentados. Abordando o
tema da mesa Saviani começa sua exposição com a discussão acerca das dificuldades em
se colocar em prática o método desenvolvido por Marx apresentando os três conceitos
básicos presentes no enunciado da mesma: o primeiro é educação; o segundo, formação
humana; e o terceiro é ontologia. Partindo de uma análise formal, o autor diz ser possível
considerar que, se os termos educação e formação humana são sinônimos no plano formal,
quando passamos ao plano concreto essa sinonímia já não é tão evidente. Com efeito, pode
ocorrer que no plano concreto a educação se processe não como formação do homem, mas
como sua deformação. Para Saviani, tendo em vista que é o trabalho que define a essência
humana, pode-se considerar que está aí a referência ontológica para se compreender e
reconhecer a educação como formação humana. O homem se constitui como homem pelo
seu trabalho, e esse processo de produção do homem, que coincide com seu processo de
formação, vai se complexificando ao longo da história dando origem a diversas
modalidades de trabalho, entre as quais assume particular relevância a diferenciação entre
trabalho material e não material. Citando as categorias dialéticas da totalidade, contradição
e ação recíproca, aplicadas por Marx, Saviani destaca que a controvérsia instaurada pelo
grupo que vem se insurgindo contra a pedagogia histórico-crítica em nome do marxismo
gire basicamente em torno dela.
O capitulo intitulado Luta de Classe, Educação e Revolução, trata-se de uma
entrevista para Germinal: marxismo e educação em debate, com Newton Duarte. Para ele,
na perspectiva do marxismo, a revolução é um processo de construção da sociedade. A
revolução tem uma direção e requer a busca da compreensão das mediações entre o
presente e o futuro em longo prazo. Não existe ainda uma cultura plenamente universal,
pelo simples fato de que a humanidade não está ainda plenamente unificada. Para Duarte a
historia até aqui percorrida acumulou elementos importantíssimos para a construção dessa
cultura e será necessário incorporar à sociedade socialista toda a riqueza material e
espiritual até aqui criada, para poder avançar no processo de superação da humanidade
dividida. A resolução de problemas básicos como a eliminação social da fome e do
analfabetismo e como a criação das condições materiais básicas que assegurem a vida não
é a meta da revolução. Mas a concretização, na vida de todos os seres humanos, das
máximas possibilidades de desenvolvimento multifacetado. Isso só ocorrerá quando o
trabalho deixar de ser uma atividade alienada, quando for superada a divisão de trabalho
manual e intelectual. Alguns marxistas no Brasil tem afirmado que atividade educativa não
é trabalho, esta é uma leitura reducionista de marx. Todavia, o autor alerta que a categoria
trabalho na obra de Marx jamais se reduziu à produção material. Então discorre pela obra
de Marx para elucidar ainda mais esta afirmativa. Para Duarte a escola é o lugar por
excelência da luta pela socialização do conhecimento. Há marxista que afirma que o
conhecimento não é um meio de produção e que, portanto, a luta pela socialização do
conhecimento não é parte da luta pela socialização da propriedade dos meios de produção.
Este raciocínio, para o autor, é um equívoco por duas razões: primeiro por que ao longo
dos escritos de Marx encontra-se uma clara análise do processo de objetivação do
conhecimento nos produtos do trabalho e nos meios empregados no processo de trabalho.
Separar os meios de produção do conhecimento que permite a existência deles é assumir
uma atitude fetichista. Duarte faz uma crítica novamente a alguns marxistas

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contemporâneos por afirmarem que nada se pode fazer na esfera do Estado em termos e
luta contra o capital. Esta para ele é uma visão bem pouco dialética, como se não
existissem contradições no Estado burguês. Por sua vez, este grupo, o qual critica Newton,
defende a educação não formal que estaria fora da influência do Estado e do capital. Esta
também é uma visão pouco dialética. O ponto de Acordo para a educação pública, segundo
Duarte é o pensamento do grande educador marxista brasileiro Dermeval Saviani. Quanto
às políticas dos governantes, para Duarte não houve ruptura com a hegemonia da
pedagogia do aprender a aprender entre a política educacional do governo Fernando
Henrique e o governo Lula. Quanto à natureza do trabalho educativo, enquanto espaço
emancipatório, com agendas mundiais por metas direcionadas ao mundo das organizações,
Duarte afirma que há um ataque orquestrado à natureza do trabalho educativo. Uma escola
ensinando de verdade aos filhos da classe trabalhadora é algo que oferece perigo a classe
dominante.
No capitulo História, Trabalho e Educação: comentários sobre as controvérsias
internas ao campo Marxista, Saviani, se propõe a levantar a discussão da questão: por que
as esquerdas, de modo geral, e os marxistas, em particular, timbram em cultivar
divergências sobre as mais variadas questões, sejam elas de ordem teórica ou de ordem
prática? Num primeiro momento o autor aborda a questão referida aos clássicos do
marxismo, analisando o fenômeno das divergências interpretativas de forma positiva
levando em conta que a análise crítica e o debate das posições são um elemento integrante
da tradição marxista, constituindo-se num procedimento crucial para refinar a teoria e as
estratégias revolucionárias e para fazer avançar o conhecimento. Observa que os clássicos
do marxismo, com destaque para Marx, Engels, Lênin e Gramsci, guiaram-se sempre por
dois princípios: 1- a diferenciação entre a perspectiva proletária e aquela dos burgueses e
pequeno - burgueses progressistas; 2 – a firme união entre as forças que buscam expressar
e fazer avançar a luta dos trabalhadores. Para Saviani, os esforços que todos os integrantes
do campo marxista devem fazer é o de unirem-se em torno da luta pela transformação da
sociedade distinguindo claramente a perspectiva proletária daquela dos burgueses e
pequenos – burgueses progressistas. Nesse empenho, cabe considerar as diferenças de cada
um, explorando aspectos distintos da teoria marxista e das estratégias de luta, porém
fazendo convergir sempre para o objetivo do reforço da união na árdua luta contra as
forças dominantes da sociedade capitalista. No marxismo a historia é uma categoria
central, por isso essa concepção de materialismo histórico. Tudo que o homem é o é pelo
trabalho. Saviani fala que são muito bem vindos os esforços para esclarecer o significado
marxista do conceito de trabalho, tarefa a qual se dedicou. Reafirma que na sociedade
capitalista, em que o trabalho assume a forma da produção de valores de troca, ele não
pode ser considerado como princípio educativo. Para o autor se faz necessário distinguir
nesse debate sobre o trabalho como princípio educativo dois aspectos: a) questão teórica e
b) a questão estratégica. Desta forma, ele esclarece, com base nos clássicos do marxismo, o
significado teórico do trabalho como princípio educativo.

1
Mestre e Doutoranda em Educação (linha de pesquisa História e Políticas Educacionais) pela
Universidade Estadual de Ponta Grossa /UEPG - PR.

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