Lancem sobre ele todas as suas ansiedades, porque ele contrário, devemos nos alegrar, pois estamos sendo
ois estamos sendo co-
cuida participantes dos sofrimentos de Jesus (1Pe 4:13). É um
de vocês” (1Pe 5:7). privilégio, Pedro disse, sofrer por Cristo. Ao mesmo tempo, é
uma vergonha e uma blasfêmia sofrer perseguição por ser
Ao nos sentirmos nervosos ou preocupados com diversas homicida e ladrão (1Pe 4:14-15). Por essa razão, se vamos
questões que vivemos cotidianamente, estamos, de uma forma padecer, devemos fazê-lo porque somos cristãos, aceitando
ou de outra, expressando algum grau de ansiedade em nossas a vontade de Deus (1Pe 4:16, 19).
vidas. Esse tipo de sensação faz parte da experiência humana, Depois de dizer isso, Pedro se dirigiu aos anciãos da igreja (1Pe
que nos lembra que estamos vivos. Por outro lado, existem 5:1-4), que eram os líderes que cuidavam pastoralmente das
também os chamados transtornos de ansiedade. Essa ansiedade regiões do Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia (1Pe 1:1). A
patológica, diferente da primeira, é constante, extensa e ordem que Pedro lhes deu que era para eles apascentassem o
exagerada, e precisa de ajuda médica. rebanho que Deus havia deixado sob sua responsabilidade,
Nosso estudo de hoje não se concentrará na ansiedade “tendo cuidado dele, não por força, mas voluntariamente” (1Pe
patológica, que requer a opinião de um especialista, mas 5:2, ACF). Eles não eram os donos nem os senhores dos
naquela que os seres humanos experimentam em determinados membros da igreja que ministravam.
momentos de estresse e que é desencadeada ocasionalmente. Portanto, a liderança que deveriam exercer era a do exemplo
Sem dúvida, essa é uma forma de sofrimento, e, como crentes, (1Pe 5:3), mostrando entusiasmo na hora de servir o rebanho
não estamos isentos de seus ataques. (1Pe 5:2).
No estudo de hoje examinaremos os que o apóstolo Pedro, em Por causa disso, Pedro os animou a trabalhar, não por uma
sua primeira carta, nos ensina sobre o que podemos fazer com ganância desonesta (1Pe 5:2), mas porque um dia eles
esse tipo de ansiedade (1Pe 5:1-11). receberiam “a imperecível coroa da glória” das mãos do
Supremo Pastor (1Pe 5:4).
DEUS RESISTE AOS SOBERBOS (1Pe 5:1-5) Em seguida, Pedro se dirigiu aos jovens, admoestando-os a se
Não podemos negar que o cristão sofre. Nenhuma parte da submeterem aos anciãos que os estavam liderando. Essa ordem
Bíblia diz o contrário (Sl 34:19; 2Tm 3:12; Tg 1:2-4). É importante repousa no mesmo princípio que Pedro empregou
levar em consideração que, a partir da perspectiva bíblica, o anteriormente. Pois, assim como os líderes da igreja devem se
que está aflito não necessariamente está assim porque pecou. submeter à liderança de Pedro, os jovens devem se submeter
Os profetas e poetas do Antigo Testamento nos lembram que os aos anciãos (1Pe 5:5). O ato de se submeter ao outro não é uma
maus às vezes prosperam, enquanto os justos padecem em tarefa simples; é por isso que Pedro os aconselha a se
aflição (Sl 73:3; Ec 7:15; Jó 21:7-17; Jr 5:28; 12:1). O livro de Jó revestirem de humildade (1Pe 5:5). E essa admoestação não se
ilustra perfeitamente isso, uma história que nos ensina uma dirige apenas aos jovens, mas também aos anciãos;
verdade fundamental: os justos também sofrem (Jó 1:1-2:13). por isso ninguém está isento.
Pedro diz que não podemos nos surpreender “com o fogo que A palavra “humildade”, tal como é usada aqui nesta passagem,
surge”, como se isso fosse algo estranho (1Pe 4:12). Pelo expressa uma atitude de serviço amoroso (At 20:19) que molda
nossa forma de tratar o próximo (Ef 4:2). Em essência, o termo
descreve uma pessoa que coloca as necessidades e desejos dos A SOBERBA E A ANSIEDADE (1Pe 5:6,7)
outros em primeiro lugar. Um autor que ilustra isso claramente Tendo em mente tudo o que foi dito anteriormente, Pedro nos
é Paulo, que ordena: “Nada façam por ambição egoísta ou por convida a nos humilharmos “debaixo da poderosa mão de
vaidade, mas humildemente considerem os outros superiores a Deus” (1Pe 5:6). Isso significa reconhecer nossa insuficiência e
si mesmos” (Fp 2:3, Nova Versão Internacional). Foi isso que o limitações humanas. Não sabemos a razão nem porque
próprio Jesus fez, que, “embora sendo Deus, não considerou que sofremos, muito menos sabemos o que acontecerá com nossa
o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se; mas esvaziou- vida terrena no futuro. Pensando assim, o ato de se humilhar
se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos compreende permitir que Deus dirija nossa vida e aceitar que o
homens” (Fp 2:6,7). Em outras palavras, o ato de humilhação sofrimento que vivemos opere de acordo com Sua vontade. Por
que Pedro exige tem como modelo Jesus, que “se humilhou, isso, é essencial destacar que essa disposição submissa que
tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz” (Fp 2:8). Pedro nos admoesta a seguir não acontece em um vazio
Pedro ressalta que uma disposição diferente, que se concentra existencial nem se realiza em um contexto sem rumo. A
em si mesmo e se esquece do próximo, não é o caminho que o submissão ocorre quando colocamos nossas vidas “debaixo da
crente deve seguir (1Pe 5:5). Isso porque Deus resiste aos poderosa mão de Deus” (1Pe 5:6). Isso implica crer que a mão
soberbos (1Pe 5:5; Pv 3:34). Uma pessoa soberba é aquela que Daquele que nos criou também tem cuidado de nós (1Pe 5:7).
age de maneira egoísta e vã, independentemente das Por ocasião do sermão da montanha, Jesus instruiu sobre o
consequências que tal comportamento acarrete. Em outras cuidado que Deus tem com aqueles que O amam. Jesus diz que
palavras, um soberbo quer ter o controle de sua vida, sem nós somos mais valiosos que as aves do céu e que os lírios do
sequer respeitar a vontade divina. Como então alguém que campo, e ainda assim Deus os alimentas e os veste (Mt 6:25-30).
age soberbamente poderia sofrer em nome de Cristo? Isso gera Portanto, não fiquemos ansiosos com o que ainda não está
um problema, porque aqueles que padecem fazem isso de acontecendo ou com o alimento que estaria faltando hoje em
acordo com a vontade de Deus (1Pe 4:19). Isso explica por que nossa mesa (Mt 6:31-34). Jesus diz que devemos buscar primeiro
Deus dá graça aos humildes, que se submeteram à vontade “o Reino de Deus e a sua justiça, e todas estas coisas nos serão
divina a ponto de arriscar suas vidas por Cristo (1Pe 4:12,13). acrescentadas” (Mt 6:33, adaptado).
É importante destacar que nossa tendência como seres É nesse contexto que Pedro nos convida a jogar toda a nossa
humanos é assumir o comando de nossas vidas e nos tornar ansiedade na mão poderosa de Deus (1Pe 5:7). O adjetivo “toda”
independentes de Deus. A sociedade ocidental na qual vivemos ressalta que a ansiedade que cada um experimenta pode ser
nos ensina e nos motiva a agir dessa maneira. Por outro lado, distinta para cada indivíduo, ou seja, pode assumir diferentes
Pedro nos convida a transitar o caminho contrário. Isto é, a ser formas. Para alguns, pode ser o trabalho, e para outros, os
submissos uns aos outros, para que, dessa forma, aprendamos filhos. Tanto faz. Pois não importa o que nos aflija, o Senhor
acima de tudo a ser obedientes a Deus. está pronto para ouvir, pois Ele Se preocupa com o que
acontece conosco (1Pe 5:7). Por essa razão, vale a pena notar
que o ato de lançar nossas ansiedades sobre Ele salienta a
importância que a oração tem para o crente. O apóstolo Paulo mal que vivemos, não é Deus (Tg 1:13-15), mas o diabo, a
resume perfeitamente isso, ao dizer: “Não fiquem preocupados serpente do Éden (Gn 3:1-7; 4:1-8). E é o inimigo, não Deus, que
com coisa alguma, mas, em tudo, sejam conhecidos diante de anda como um leão rugindo em busca de presas com o
Deus os pedidos de vocês, pela oração e pela súplica, com ações propósito de destruí-las (1Pe 5:8). Ao contrário do diabo, Deus
de graças” (Fp 4:6). Portanto, oremos e falemos a Deus sobre a nos ama, a ponto de enviar Seu Filho unigênito ao mundo,
ansiedade que nos mantém acordados e, em seguida, fechemos “como propiciação pelos nossos pecados” (1Jo 4:10). Jamais nos
os olhos, acreditando e confiando no poder de Sua mão esqueçamos disso.
poderosa (1Pe 5:6,7). O propósito do sofrimento, quando o entendemos sob a
perspectiva bíblica, consiste em reconhecer que Deus nos
permite experimentá-lo porque Ele deseja nos ensinar alguma
O DIABO TAMBÉM ESTÁ ANSIOSO (1Pe 5:8-11) coisa (Tg 1:2-4). Pedro diz que nossa fé é semelhante ao ouro
Pedro nos admoesta a praticar o domínio próprio e a vigiar (1Pe (1Pe 1:7). E assim como o ouro deve passar pelo fogo para saber
5:8). Em ambos os casos, o que é necessário é tomar decisões e se é autêntico ou não, a fé, depois de passar pela prova da
trabalhar em nossa “salvação com temor e tremor, porque Deus aflição, “resultará em louvor, glória e honra, quando Jesus
é quem efetua em vocês tanto o querer como o realizar, Cristo for revelado” (1Pe 1:6,7, NVI). Portanto, evitemos cair na
segundo a sua boa vontade” (Fp 2:12,13). Dessa forma, o crente armadilha de pensar que, só porque somos filhos e filhas de
é chamado a crescer espiritualmente e reconhecer que fazemos Deus, estamos protegidos contra qualquer tipo de sofrimento.
parte de um grande conflito cósmico, para o qual é nosso dever Infelizmente, e a partir de nossa experiência cristã, sabemos
estar atentos às ciladas do inimigo (1Pe 5:9). que o resultado é totalmente oposto ao que muitas vezes é
O diabo, nosso adversário, “anda em derredor, como leão que pregado. Pois, como afirma Paulo, “todos os que querem viver
ruge procurando alguém para devorar” (1Pe 5:8). É provável piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos” (2Tm 3:12).
que Pedro tenha em mente as ciladas do diabo como a causa da No entanto, o sofrimento não durará eternamente. Porque, nas
ansiedade que seus ouvintes estavam experimentando. Como palavras de Pedro, Deus nos exaltará quando for o momento
notamos anteriormente, Pedro instrui os membros da igreja a (1Pe 5:6). Esse momento pode ser agora, ou talvez na segunda
padecer em nome de Cristo, aceitando o sofrimento como parte vinda de Jesus. Independentemente de qual seja o caso, Jesus
da vontade de Deus (1Pe 4:12-19). Essa associação entre Satanás em algum momento fará justiça e nos restaurará. O importante
e a perseguição compreende entender que às vezes Deus para Pedro, no entanto, é o efeito discipulador que o sofrimento
permite que o diabo atue em momentos específicos de nossas tem, e isso nos leva a reconhecer que o grande Mestre espera
vidas (Jó 1:1-2:13; Ap 2:10). Entretanto, Deus não permite o que Seus filhos e filhas depositem Nele toda a sua ansiedade
sofrimento de Seus filhos porque tem prazer nisso. Deus nem (1Pe 5:7).
mesmo tem prazer na morte de um pecador, esperando, em vez É verdade que a experiência da ansiedade não é agradável, e o
disso, que o pecador se converta e viva (Ez 18:31). Isso quer conflito que vivemos às vezes nos deixa exaustos. No entanto, é
dizer que Deus não é um masoquista que sente prazer ao ver transcendental nesse contexto reconhecer a visão
uma pessoa sofrendo. O causador do sofrimento, e do compreensiva
que a Escritura tem a esse respeito. Isso significa ter em mente de Deus a partir da discussão do problema da existência do mal
que, embora “nenhuma disciplina pareça ser motivo de alegria e de sua relação com a bondade de um Deus onisciente e
no momento, mas sim de tristeza”, uma vez passada, essa onipotente.
experiência produzirá “fruto de justiça e paz para aqueles que
por ela foram exercitados” (Hb 12:11).
Os frutos prometidos implicam crescer em graça e caráter. Em
graça, porque teremos suportado a provação unicamente
protegidos sob Suas asas. Em caráter, porque, ao sairmos do
sofrimento que Ele nos permitiu experimentar, nossa leitura do
mundo e do nosso relacionamento com Deus será diferente.
Pois, como diz Tiago em sua epístola, a fé que é provada produz
paciência (Tg 1:2). Dessa maneira, depois que a aflição passar e
aprendermos a depender de Deus, poderemos descansar nessa
promessa. E não somente isso, pois também teremos a
capacidade espiritual de ver como o Senhor constantemente
nos encoraja, sabendo que no momento de ansiedade que
podemos estar vivendo, podemos confiar que, ao lançar
todas as nossas inquietudes sobre Ele, estamos sob o cuidado de
Sua poderosa mão.
CONCLUSÃO
O conselho de Pedro contra a ansiedade humana consiste em
lançar nossas cargas e nosso problemas sobre Deus. Isso
significa que devemos orar e acreditar que o Senhor está
preocupado e cuida de nós. O diabo é sem dúvida uma fonte de
ansiedade, que procura nos destruir. Por isso, devemos resistir
às suas artimanhas. E, para que isso aconteça, temos que estar
conscientes de seus ataques e reconhecer, em humildade, que
nossa única esperança está no Senhor.
Bem, não nos esqueçamos: “Deus Se opõe aos orgulhosos, mas
concede graça aos humildes” (1Pe 5:5, NVI).
Teodiceia é um termo derivado do título da obra Ensaio de
Teodiceia do filósofo alemão Leibniz, que sustenta a existência