aborto
Caio Almeida
SUMÁRIO
03 Introdução
04 Desenvolvimento humano
07 História do aborto
10 Procedimento do aborto
17 Argumentos favoráveis ao aborto
29 Alternativas
32 Conclusão
34 Apêndice I
37 Apêndice II
39 Recomendações
Introdução
O aborto, somando várias definições, pode ser compreendido como: a
interrupção precoce de uma gestação, com o feto pesando menos de 500 g ou
com menos de 20 semanas[1]. É natural que um tema como esse, envolvendo
tantas questões importantes - como sexualidade, conceito de vida, liberdade,
autonomia -, desencadeie emoções acaloradas por onde passe.
O objetivo deste texto é abordar o tema de maneira ampla, avaliando os
argumentos pró aborto, trazendo artigos científicos, visão metafísica, história e
muito mais. Entretanto, não está nos meus planos entrar na parte religiosa do
tema, durante o texto, para não suscitar discussões desnecessárias no
momento. Optei por abordá-la brevemente em um apêndice. Este assunto,
devido à sua complexidade, envolve diversos fatores, desde ético-filosófico,
passando pelo religioso, até jurídico. Cabe lembrar que a minha pretensão não
é, naturalmente, esgotar todo o tema, mas trazer alguns elementos
fundamentais para uma discussão mais abrangente, racional e justa.
Este mini livro começa com o capítulo “Desenvolvimento humano”,
abordando a definição de vida, os aspectos éticos, filosóficos, metafísicos da
questão, qual o papel da ciência no meio disso tudo. O segundo capítulo conta a
história do movimento pró-aborto contemporâneo, que se iniciou nos Estados
Unidos, aproximadamente no começo do século XX, e irradiou-se para o resto
do mundo. O terceiro capítulo aborda os procedimentos que os profissionais
empregam ao realizar os abortos - trago, também, imagens e links com vídeos
dos procedimentos e suas explicações. O quarto capítulo faz um apanhado dos
principais argumentos pró-aborto e discuto um por um, trazendo vários artigos
científicos para embasar a discussão. Por fim, tem um espaço de
recomendações, no qual indico filmes, documentários, curtas.
Espero que este livro possa ser útil!
[1] MONTENEGRO, C.A.B; REZENDE FILHO, J. Rezende - Obstetrícia Fundamental. 15ª. ed. Rio
3
de Janeiro: Guanabara Koogan; 2024.
Desenvolvimento
humano
Uma falha do movimento contra o aborto é dizer: “a ciência já provou que a
vida começa na concepção”. Isso é falso. Mas por quê? Não é papel da ciência
fazer semelhantes afirmações; ela apenas funciona para descrever a realidade.
Por exemplo: se eu tiver um revolver apontado para a cabeça de alguém, a
ciência me descreverá como funciona a propagação do meu impulso nervoso até
os músculos efetores para que contraiam, quanto de ATP meu dedo consumirá
nesse movimento, todo o mecanismo da espoleta bater na munição, da pressão
no interior da cápsula aumentando estrondosamente por causa da explosão da
pólvora, como isso expele o projétil; além de me descrever todo o estrago
biológico causado no crânio e no cérebro de alguém. Tudo isso a ciência me
conta. Mas ela não me diz se eu devo puxar o gatilho. Simplesmente não é o seu
departamento.
Da mesma maneira, a ciência conta que a nidação [fixação do embrião na
parede do útero] ocorre uma semana após a fecundação; sobre todo o complexo
processo que inclui mórula, blástula, gástrula e nêurula; em quantas
semanas/meses tal e tal sistema se desenvolve[1]. Todos esses processos
biológicos, a ciência me diz. Mas ela não me diz quando exatamente a vida
humana começa, se aquelas células são um ser humano, e se é válido ou não o
aborto. Simplesmente não é da sua alçada. Isso é do departamento ético-
filosófico, metafísico e, por que não, religioso. A ciência é descritiva ["conta" e
explica os processos], mas não deliberativa.
Apesar disso tudo, o principal livro de embriologia, Embriologia Clínica –
Moore e Persaud, diz que “o desenvolvimento humano é um processo contínuo
que começa quando um ovócito de uma mulher é fertilizado por um
espermatozoide de um homem. O desenvolvimento envolve muitas
modificações que transformam uma única célula, o zigoto (ovo fertilizado), em
um ser humano multicelular”[2].
[1] Para um excelente vídeo sobre o desenvolvimento embrionário, acesse o link.
[2] Moore, Keith L. Embriologia clínica / Keith L. Moore, T. V. N. Persaud. Rio de Janeiro :
Elsevier, 2008. p2 4
Além disso, 96% dos biólogos ao redor do mundo [de 1.058 instituições
acadêmicas] afirmam que a vida começa na fertilização[3]. Outro artigo
interessante aborda o que caracteriza a vida [4]. A NASA, no texto Quais São as
Características da Vida?, diz:
Em todos os seres vivos, as células são a principal unidade de
organização, as membranas celulares são compostas por moléculas
chamadas fosfolipídios, a informação genética é composta por
moléculas chamadas ácidos nucléicos e as funções dentro e entre as
células são realizadas principalmente por moléculas chamadas
proteínas.
Sendo que o feto também apresenta todas essas características. No mesmo
texto, traz-se os requisitos básicos da vida:
1) Toda vida é altamente ordenada e estruturada. Não apenas todos
os seres vivos que conhecemos possuem células e estruturas
celulares, mas muitos seres vivos também possuem estruturas em
maior escala, como simetria bilateral (em humanos);
2) Toda vida se reproduz [ou tem a capacidade de se reproduzir].
Por exemplo, uma menina de dois anos não se reproduz, mas tem a
capacidade - igual ao feto;
3) Toda vida cresce e se desenvolve para atingir a maturidade;
4) Toda vida absorve e utiliza energia para realizar as funções de
suas células, o que resulta em crescimento e desenvolvimento;
5) Todos os seres vivos apresentam homeostase, que é a capacidade
de manter um ambiente interno estável, independentemente do seu
ambiente externo. Por exemplo, manter a temperatura comporal;
6) Todos os seres vivos respondem ao seu ambiente sentindo
estímulos externos e alterando a sua bioquímica e/ou
comportamento.
[3] Jacobs SA. The Scientific Consensus on When a Human's Life Begins. Issues Law Med. 2021
Fall;36(2):221
5
[4] Çengel YA. Eighteen distinctive characteristics of life. Heliyon. 2023 Feb 10;9(3):e13603.
Em outro texto, também da NASA, afirma-se que, para ser vida, "o registro de
DNA deve ser robusto, complexo, auto-replicável e aberto". Tudo isso mostra
que o feto é uma vida. Mas será uma vida humana?
Entrando no campo da metafísica[5], teremos uma resposta mais apropriada.
Todas as coisas têm uma natureza própria, um conjunto de qualidades e de
capacidades – algo que já vem com ela, que lhe é natural. A natureza de algo
define aquilo que ele é desde o primeiro instante, não lhe é acrescentada a
posteriori. Vamos para um exemplo. Um tigre não vira [e nunca virará], do nada,
uma caneca, porque isso não faz parte de sua natureza. Ele sempre foi um tigre
e sempre o será. Isso é importante: a natureza (as características intrínsecas)
de algo não muda durante toda sua existência – ele sempre será um tigre, desde
o começo até o final.
Isso serve para os humanos também. Se afirmo que alguém de 30 anos é
humano [aquele que possui a natureza humana], ele o é desde o começo – desde
que ganhou existência, ou seja, desde a concepção. O que isso tudo quer dizer?
Uma pessoa tem a natureza humana desde que foi criada. Uma vez que a
natureza não pode ser acrescentada depois, ela já vem [nele] desde o primeiro
momento – a concepção. Em síntese, aquele pequeno embrião – muitas vezes
rotulado como “um aglomerado de células” – já possui, em si, a natureza
humana e é, por isso, um humano. Qualquer outra demarcação é arbitrária.
Afirmar que a vida começa com tantas semanas ou meses é pura arbitrariedade
– que contraria os princípios metafísicos, logo, não se fundamenta.
[5] Metafísica: aquilo que vem antes da física, além do estudo da natureza. Estudo do ser
enquanto ser, dos primeiros princípios, dos essenciais.
6
História do aborto
Ao longo da história da humanidade, o aborto e o abandono de crianças era
uma prática quase universal. Por exemplo, em Esparta, Roma antiga e vários
povos indígenas pelo mundo, livrar-se de um bebê (geralmente abandonando-o
nas ruas ou nas florestas), não era algo malquisto, mas considerado normal.
Com o avanço dos padrões éticos humanos em relação às populações
vulneráveis, o bebê passou a ser valorizado e dotado de direitos. Mas, no final
do século XIX e, em grande parte, no princípio do século XX, começou a aflorar,
especialmente nos Estados Unidos, o movimento pró-aborto atual. Vou me
deter mais na história do movimento norte-americano, posto que de lá
irradiou-se para o resto do mundo.
Poucos sabem como, quando, onde e, mais importante, com quais objetivos
surgiu o movimento, especialmente sobre a liderança de Margaret Sanger, sob
patrocínio da Fundação Rockfeller. Vamos por partes: Margaret Higgins Sanger
(1879 – 1966), nascida em Nova Iorque, era filha de um pai cético e de uma mãe
católica. Depois de deixar o marido com os três filhos, ela se envolveu com um
outro homem, separou-se definitivamente do cônjuge e ingressou na Sociedade
Eugenista[1] Americana.
Sanger, em um de seus textos, escreve:
A eugenia é sugerida pelas mais diversas mentes como o caminho
mais adequado e definitivo para a solução de problemas raciais,
políticos e sociais. O problema mais urgente hoje é como limitar e
desencorajar o excesso de fertilidade daquele que é mental e
fisicamente deficiente.[2]
Seu desejo principal era de “conduzir, finalmente, para uma raça mais
limpa”[3].
[1] Eugenia: “o estudo dos agentes sob o controle social que podem melhorar ou empobrecer as
qualidade raciais das futuras gerações, seja física ou mentalmente.” Esta definição foi dada por
Francis Galton, quem cunhou o termo “eugenia” em 1883. Será um prato cheio para a ideologia
nazista algumas décadas depois.
[2]Margaret Sanger, "O valor eugênico da propaganda do controle da natalidade", na revista
Controle da Natalidade, em outubro de 1921, p. 5
[3] Margaret Sanger em carta ao Dr. Clarence Gamble, 255 Adams Street, Milton,
Massachusetts, 19 de dezembro de 1939.
7
Alguns anos depois, Sanger abre a primeira clínica de controle de natalidade
no Brooklyn/NY. Em 1921, funda a Liga Americana para o Controle dos
Nascimentos [Birth Control League], que mudará de nome em 1942 para
Planned Parenthood[4].
Margaret Sanger
Periódico editado por
Sanger.
Nele há uma mulher com
um peso no seu pé escrito
“bebês indesejados”.
No ano de 1922, ela publica O eixo da civilização, no qual lê-se:
A falta de equilíbrio entre o nascimento dos fracos e dos fortes é a
maior ameaça atual para a civilização. O exemplo das classes
inferiores, a fertilidade dos débeis mentais, dos deficientes, dos
afligidos pela pobreza, não deveria ser tomado como exemplo pelos
mais fortes/aptos mental e fisicamente [...]. O problema mais
urgente hoje é como limitar e desencorajar a hiper-fertilidade das
[pessoas] mental e fisicamente inferiores. É possível que métodos
drásticos e espartanos sejam inevitáveis [...] se se continua
animando com a procriação casual.[5]
De fato, em 1939, Sanger organiza o Negro Project [Projeto Negro] para
realizar serviços contrários aos nascimentos nos estados do sul, onde há maior
prevalência da população negra nos Estados Unidos.
[4] Hoje, a Planned Parenthood [Paternidade Planejada] é a maior provedora de abortos [que
eles chamam gentilmente de “serviços de saúde reprodutiva”] nos Estados Unidos.
Curiosamente, a empresa Paternidade Planejada não vende fórmulas de leite infantil, fraldas
ou outros acessórios de bebê. Afinal, que paternidade eles planejam, de fato? Fica o
questionamento. 96% dos “serviços” que a empresa presta a mulheres grávidas são abortos.
8
[5] Margaret Sanger, The Pivot of Civilization, Oxford: Pergamon Press, 1950. p25
Até com a Ku Klux Klan,
Margaret Sanger se reuniu. Essa
informação está em sua
autobiografia, quando ela diz que
“sempre, para mim, qualquer
grupo agitado era um bom grupo,
e, por isso, aceitei um convite
para falar com a ala feminina do
Ku Klux Klan em Silver Lake,
Nova Jersey.”[6]
O legado racista e abortista de Margaret Sanger se cumpre hoje na Planned
Parenthood. Cerca de 80% de suas clínicas abortistas estão localizadas em
bairros de negros e hispânicos nos Estados Unidos[7]. Hoje, nos EUA, mais
bebês negros morrem de aborto do que a soma de negros vítimas de AIDS,
acidentes automobilísticos, crimes, câncer e doenças cardíacas. Essa é a origem
da indústria abortista atual, fundada não sobre nobres princípios, mas, segundo
sua fundadora, para produzir uma raça mais limpa.
Nos Estados Unidos, as mulheres negras têm a maior taxa de abortos do país,
com 335 abortos por 1.000 nascidos vivos. Lá, percebe-se uma grande
desproporção estatística: as mulheres negras representavam 15% da população
em idade fértil em 2018, mas obtiveram 33,6% dos abortos relatados. Cerca de
20 milhões de bebês negros foram abortados desde 1973; quase quatro vezes a
população da cidade do Rio de Janeiro.
Ao longo da vida, as mulheres negras têm, em média, 1,6 mais gravidezes do
que as mulheres brancas, mas têm 5 vezes mais probabilidade de ter uma
gravidez que termine em aborto. Para um profundo relato sobre essa drástica
situação dos negros nos Estados Unidos, recomendo fortemente este vídeo.
Em total consonância com a ideia eugenista, “antes e agora, a organização de
Sanger tem usado líderes confiáveis para convencer a comunidade negra que o
aborto como forma de controle de natalidade não é apenas aceitável, mas
também benéfico para a cultura afro-americana”[8].
[6] Margaret Sanger, An Autobiography. Elsevier Ltd, 1938. p366
[7] Para esse e para os outros dados citados nesta página, acesse o link. Nele, você encontrará
dados sobre a crise humanitária do aborto na população negra norte-americana.
[8] Ibid p7 9
Procedimento do aborto
A imensa maioria das pessoas que defendem o aborto desconhece quase
completamente como ele é realizado. São diversos procedimentos, que variam
com o tamanho e a idade gestacional. Os procedimentos citados serão
considerados os vigentes nos Estados Unidos, onde o aborto é legalizado em
alguns estados. Cabe ressaltar que nenhum dos procedimentos consta o passo
de aplicar anestesia ao feto.
1. Aborto químico
Conhecido como aborto domiciliar, aborto medicamentoso e RU-486. Usado
até a 10ª semana de gravidez, o RU-486 é um método com dois medicamentos. A
primeira pílula, mifepristona, é um esteroide sintético que bloqueia o hormônio
progesterona, que sustenta a gravidez. O objetivo dessa primeira substancia é
matar o feto antes de sua expulsão. As mulheres então tomam um segundo
medicamento, o misoprostol (que é uma prostaglandina sintética), para induzir
contrações uterinas e expulsar o feto morto. Para um vídeo sobre o
procedimento, acesse o link.
Também pouco discutido, o aborto químico pode apresentar efeitos
colaterais e/ou complicações sérias, tais como: dor, sangramento intenso e/ou
prolongado por várias semanas, aborto incompleto (exigindo procedimento
médico como a curetagem), infertilidade permanente, morte materna.
Um estudo de 2018 na Suécia, onde o aborto é legal, relatou: [1]
Complicações ocorreram em 7,3% dos abortos medicamentosos < 12
semanas. Com o tempo, a taxa de complicações para abortos
medicamentosos < 12 semanas aumentou de 4,2% em 2008 para 8,2%
em 2015. [...] A complicação mais comum (57%) relacionada a abortos
medicamentosos < 12 semanas foram os abortos incompletos, que
ocorreram 153 vezes, compreendendo 4,1% de todos os abortos
medicamentosos.
[1] Carlsson, I., Breding, K. & Larsson, PG. Complications related to induced abortion: a
combined retrospective and longitudinal follow-up study. BMC Women's Health 18, 158 (2018).
10
Mais um estudo recente[2] mostrou que, depois de comprar mifepristona e
misoprostol online e tomá-las em casa...
10% das mulheres relataram continuação da gravidez .
29% relataram eventos adversos (sangramento intenso, febre).
43% necessitaram de procurar ajuda médica subsequente de um prestador
de cuidados de saúde.
18% de todos os casos necessitaram de um aborto cirúrgico subsequente.
Um ponto positivo é que, até certa etapa, é possível reverter um aborto
químico - se apenas o primeiro estágio tiver sido feito. O primeiro
medicamento, Mifepristona, funciona bloqueando a progesterona do bebê, o
que é fatal. Mas centenas de bebés foram salvos pela Reversão da Pílula
Abortiva, a rápida administração de progesterona 72 horas após a ingestão de
Mifepristona.
2. Aborto por sucção
Após a dilatação do colo do útero, uma cureta de sucção (um tubo com ponta
serrilhada) é inserida no útero. A forte sucção (29 vezes a potência de um
aspirador doméstico) despedaça o corpo do feto e o suga através da mangueira
para dentro de um recipiente. Este é o método mais comum de aborto cirúrgico
nas primeiras 12 semanas de gravidez.
3. Dilatação e Curetagem
Usado até a 12ª semana. Após a dilatação do colo do útero, uma cureta é
inserida no útero. O corpo do bebê é cortado em pedaços e extraído, muitas
vezes por sucção. A parede uterina é então raspada para remover a placenta e
confirmar que o útero está vazio.
[2] Kapp N, Andersen K, Griffin R, Handayani AP, Schellekens M, Gomperts R. Medical
abortion at 13 or more weeks gestation provided through telemedicine: A retrospective review
of services. Contracept X. 2021 Jan 25;3:100057.
11
4. Dilatação e Evacuação
Geralmente realizado até 18 semanas, mas pode ser utilizado até as 24
semanas. O profissional que executa o procedimento começa dilatando o colo
do útero e uma pinça é inserida, agarrando e torcendo partes do corpo do bebê
para desmembrá-lo. Se a cabeça for muito grande, deve ser esmagada para
removê-la. Depois, é necessário remontar o corpo do lado de fora [como um
quebra-cabeças] para assegurar que todas as partes foram retiradas.
Lembrando que o feto não recebeu anestesia, ou seja, ele sentiu ser
desmembrado. Para um vídeo mostrando parte deste procedimento, acesse o
link. Para um vídeo explicando este procedimento, acesse o link.
Procedimento: puxando peças
desmembradas do feto.
Instrumentos
Essas fotos são de
abortos reais.
Olhando para essas fotos, sinceramente: isso não é apenas um aglomerado de células.
12
5. Histerotomia
O útero é acessado por meio de uma incisão cirúrgica na parede abdominal,
semelhante a uma cesariana. No entanto, o cordão umbilical geralmente é
cortado enquanto o bebê ainda está no útero, interrompendo o fornecimento de
oxigênio e causando asfixia. Às vezes, porém, o bebê nasce vivo e é deixado
sozinho para morrer.
6. Injeção salina
Agora incomum, mas foi cometido em anos anteriores entre o quarto e o
sétimo mês. Uma solução salina a 20% (a solução salina normal é 0,9%) é
injetada através do abdômen da mãe no líquido amniótico do bebê. O bebê
ingere a solução e morre de envenenamento por sal, desidratação e hemorragia
cerebral. A pele do bebê está queimada. Um bebê morto ou moribundo nasce.
Um bebê que nasce vivo geralmente é deixado sozinho para morrer, embora
alguns tenham sobrevivido.
7. Dilatação e extração (D&X ou aborto parcial)
Cometido no 2º e 3º trimestres e preferido pelos abortistas porque podiam
ter mais certeza de que nenhuma parte da criança foi deixada para trás. Desde
2003, foi proibido pelo governo federal norte-americano na maioria dos casos.
Em um D&X, o colo do útero está dilatado. Uma pinça extrai o bebê vivo pelos
pés até que a cabeça fique dentro do colo do útero, com o resto do corpo
pendurado para fora da mãe. Uma tesoura então perfura o crânio, permitindo
que o abortista o derrube aspirando o conteúdo. O bebê morto é então
totalmente removido da mãe.
13
8. Aborto tardio (assistolia fetal)
O aborto tardio é uma série de procedimentos de aborto que dura vários dias
e normalmente é feito por meio de uma injeção letal de digoxina. No primeiro
dia, a mulher irá ao centro de aborto ou hospital para iniciar o processo de
dilatação do colo uterino, permitindo o acesso ao bebê através do colo do útero.
O profissional usará, então, uma agulha extremamente longa para injetar
Digoxina, cloreto de potássio (KCl) ou lidocaína no coração do feto, o que
causará uma parada cardíaca (comumente conhecida como ataque cardíaco).
Também sem anestesia, ou seja, o feto sente ser perfurado várias vezes pela
agulha [até acertar o coração].
No segundo dia, a mulher continuará dilatada artificialmente enquanto ainda
carrega o filho morto. Ela receberá Misoprostol para estimular artificialmente
as contrações uterinas. Também pode haver uma segunda injeção de Digoxina.
No terceiro ou quarto dia, a mãe fará o parto do filho morto.
Fica-nos uma pergunta: nos casos de aborto tardio, a imensa maioria dos
bebês já tem viabilidade fora do útero. Por que matar e tirar ao invés de tirar e
doar [ou até mesmo criar]? Além disso, este processo abortivo termina com um
parto. Por que matar antes de parir?
Para um vídeo que engloba quase todos os procedimentos abortivos, acesse o
link
.
Neste outro vídeo, é possível ver o bebê - via ultrassom - durante um aborto,
como ele se contorce, se movimenta tentando fugir do equipamento abortivo.
Como um todo, as mulheres podem apresentar diversos efeitos colaterais
após a indução do aborto. As melhores evidências disponíveis indicam que as
mulheres, após o aborto, apresentam mais chances:
81% de doenças mentais, 110% de se tornarem alcóolicas e 115% de tentarem
suicídio;[3]
250% de serem hospitalizadas por questões psiquiátricas;[4]
[3] Coleman PK. Abortion and mental health: quantitative synthesis and analysis of research
published 1995-2009. Br J Psychiatry. 2011 Sep;199(3):180-6.
14
[4] Reardon DC, Cougle JR, Rue VM, Shuping MW, Coleman PK, Ney PG. Psychiatric admissions
of low-income women following abortion and childbirth. CMAJ. 2003 May 13;168(10):1253-6.
138% chances de desenvolver quadros depressivos;[5]
81% de abuso de drogas;[6]
44% de câncer de mama.[7]
Em torno de 10% dos problemas mentais em mulheres [nos EUA] são
atribuídos ao aborto.[8]
A mais recente revisão sistemática, publicada em junho de 2024[9], mostra
o aborto associado a problemas mentais, ideação suicida, tentativa de suicídio,
uso de álcool e substâncias, “síndrome pós-aborto”, transtornos afetivos, entre
outros.
Embora mais antigos, também cabe citar alguns estudos interessantes:
Num estudo com 500 mulheres pós-aborto, os investigadores descobriram
que 50% expressaram sentimentos negativos e até 10% foram classificadas
como tendo desenvolvido “complicações psiquiátricas graves”.[10]
Um estudo sugere que 33% das mulheres pós-aborto desenvolvem um
desejo intenso de engravidar novamente, a fim de “compensar” a gravidez
perdida. 18 % destas mulheres tiveram sucesso um ano após o aborto.[11][12]
Essas estatísticas fazem cair por terra o argumento de que promover aborto
é um caso em benefício da saúde da mulher... É compreensível – e totalmente
válida – a genuína intenção de ajudar as mulheres, mas a questão que deve ser
feita é: como realmente as ajudamos?
[5] Cougle JR, Reardon DC, Coleman PK. Depression associated with abortion and childbirth: a long-
term analysis of the NLSY cohort. Med Sci Monit. 2003 Apr;9(4):CR105-12.
[6] Colemans, Priscilla K. et al. Women Who Suffered Emotionally from Abortion: A Qualitative
Synthesis of Their Experiences. Journal of American Physicians and Surgeons Volume 22 Number 4
Winter 2017
[7] Huang Y, Zhang X, Li W, Song F, Dai H, Wang J, Gao Y, Liu X, Chen C, Yan Y, Wang Y, Chen K. A
meta-analysis of the association between induced abortion and breast cancer risk among Chinese
females. Cancer Causes Control. 2014 Feb;25(2):227-36.
[8] Steinberg JR, Trussell J, Hall KS, Guthrie K. Fatal flaws in a recent meta-analysis on abortion and
mental health. Contraception. 2012;86(5):430-437
[9] Littell JH, Young S, Pigott TD, Biggs MA, Munk-Olsen T, Steinberg JR. Abortion and mental health
outcomes: A systematic review and meta-analysis. Campbell Syst Rev. 2024 May 21;20(2):e1410.
[10] Wallerstein JS, Kurtz P, Bar-Din M. Psychosocial sequelae of therapeutic abortion in young
unmarried women. Arch Gen Psychiatry. 1972 Dec;27(6):828-32.
[11] Pare CM, Raven H. Follow-up of patients referred for termination of pregnancy. Lancet. 1970 Mar
28;1(7648):635-8.
[12] Reardon. (1987) Criteria for the Identification of High Risk Abortion Patients: Analysis of An In-
Depth Survey of 100 Aborted Women. Presented at the 1987 Paper Session of the Association for
15
Interdisciplinary Research, Denver.
Outra consequência preocupante do aborto é a discriminação contra os bebês
do sexo feminino. As estatísticas mostram que meninas têm chances bem
maiores (até 60%) de serem abortadas do que meninos, tanto na China e outros
países asiáticos[13], quanto nos Estados Unidos[14].
Sobre a questão do aborto tardio/assistolia fetal, o Conselho Federal de
Medicina (CFM) lançou, recentemente, uma resolução[15]. Neste documento, o
primeiro artigo declara:
É vedado ao médico a realização do procedimento de assistolia fetal,
ato médico que ocasiona o feticídio, previamente aos procedimentos
de interrupção da gravidez nos casos de aborto previsto em lei, ou
seja, feto oriundo de estupro, quando houver probabilidade de
sobrevida do feto em idade gestacional acima de 22 semanas.
“Optar pela atitude irreversível de sentenciar ao término uma vida humana
potencialmente viável fere princípios basilares da medicina e da vida em
sociedade”. [p3]
A resolução também ressalta que “revisão sistemática de 2020 evidenciou
taxa mais alta de eventos adversos maternos graves em pacientes recebendo
drogas feticidas do que naquelas situações em que as mulheres não receberam
tais medicamentos”[16].
Por fim, a resolução do CFM termina ponderando os princípios bioéticos de:
1. Beneficência: assistolia fetal não promove, de forma clara, a beneficência
materna;
2. Não maleficência: o procedimento de assistolia fetal claramente é
destrutivo e maleficente a uma vida humana, também podendo causar
efeitos na mãe;
3. Justiça: carga adicional ao Sistema Único de Saúde (SUS) sem claro ganho de
equidade;
4. Autonomia: a liberdade para encerrar uma vida humana potencialmente
viável coloca-se também como tirania da vontade. [p6]
[13] Hesketh T, Lu L, Xing ZW. The consequences of son preference and sex-selective abortion
in China and other Asian countries. CMAJ. 2011 Sep 6;183(12):1374-7.
[14] Abrevaya, Jason. 2009. "Are There Missing Girls in the United States? Evidence from Birth
Data." American Economic Journal: Applied Economics, 1 (2): 1–34.
[15] Conselho Federam de Medicina: Resolução CFM Nº 2.378/2024
[16] Tufa TH, Prager S, Antonella F, Kim C. Drugs used to induce fetal demise prior to abortion:
a systematic review. Contraception: X. 2020;2:17 16
Argumentos favoráveis
ao aborto
Agora discutiremos cada um dos principais argumentos utilizados para
defender o aborto. Neste site há vários vídeos comentando os argumentos.
1. Alto número de abortos clandestinos
Alega-se que há números espantosos de abortos clandestinos acontecendo,
deixando as mulheres vulneráveis; e que, se legalizar, haveria melhor amparo.
Primeiro: se os abortos são clandestinos, como se pode ter o número total,
justamente por serem clandestinos/escondidos? Ou seja, qualquer
aproximação é bem perigosa e imprecisa. Outro detalhe a acrescentar é que a
propaganda pró-aborto inflaciona artificialmente os números justamente para
promoverem a pauta. Como sabemos disso? Ex-abortistas e ex-funcionários de
publicidade pró-aborto [como Bernard N. Nathanson e Anthony Levatino] já
declararam que eles próprios mentiam os números para mais com o intuito de
alarmar a situação, colocar urgência para aprovar a pauta.
Bernard Nathanson [1], no livro Aborting América [Abortando a América]
afirmou claramente: “quando falávamos sobre mortes decorrentes de abortos
ilegais, eram sempre 5.000 a 10.000 por ano. Eu confesso que sabia que eram
totalmente falsas”.
Para comprovar isso, tem um caso muito interessante na Cidade do México.
Em 2006, quando o aborto ainda era proibido, estimava-se de 137.000 a 195.000
abortos clandestinos. Após a legalização no ano seguinte, em 2007, foram
registrados “apenas” 10.137 abortos, menos de 10% do número alegado.[2]
[1] Inclusive, Nathanson tem uma biografia muito interessante: ele foi considerado o "pai do
aborto", por ter realizado mais de 60.000 abortos em sua carreira médica. Tudo mudou com o
surgimento do ultrassom, quando ele viu que o feto se debatia contra o aparelho inserido para o
abortar - lembrando que os procedimentos abortivos não constam anestesia para o feto. Assista
ao vídeo. Para saber mais: Casey MJ. Dr. Bernard Nathanson: A story of metanoia. Issues Law
Med. 2019 Spring;34(1):3-13.
[2] International Journal of Women's Health 2012:4 613-632
17
2. Muitas mulheres morrem de aborto clandestino. Se
fosse liberado, morreriam menos. (Vídeo)
Um complemento ao argumento acima e que pode ser facilmente testado:
basta analisar a mortalidade materna devido ao aborto. No Brasil, um estudo
prospectivo em 27 centros obstétricos mostrou que, das 9.555 mulheres com
complicações obstétricas graves, “apenas” 237 (2,5%) eram por aborto.[3]
Outro estudo, em 2009, compara um país que permite [México] e um que
proíbe [Chile][4] e vê-se que a mortalidade por aborto representa, no máximo,
3% das causas relacionadas com a gravidez.
Mesmo o número sendo pequeno, as vidas dessas mulheres continuam sendo
importantes. E aqui cabe uma particularidade interessante: a mortalidade
materna por aborto é quase igual entre os países, sendo levemente maior no
México, onde é legalizado.
[3]Camargo RS, Santana DS, Cecatti JG, Pacagnella RC, Tedesco RP, Melo EF Jr, Sousa MH.
Severe maternal morbidity and factors associated with the occurrence of abortion in Brazil.
Int J Gynaecol Obstet. 2011 Feb;112(2):88-92.
[4] Duas observações: o status mencionado para “permite” e “proíbe” refere-se ao ano de 2009,
quando o artigo analisou os dados; ou seja, a leitura deste meu texto em outro ano pode não
mais refletir a situação legislativa do país quanto ao aborto. O artigo optou por México e Chile
por serem países muito parecidos nos aspectos econômico-sociais, descartando qualquer
possível alegação de que a divergência nos dados se deve a outro fator se não o aborto em si. 18
Outro estudo analisando o Chile mostra que a taxa de mortalidade materna
[gráfico azul] estava em queda acentuada nas décadas antes da legalização em
1989. O mesmo estudo também mostra a taxa de mortalidade por aborto
[gráfico vermelho], que já vinha caindo antes da legalização. Como conclusão da
pesquisa, o nível educacional da mãe foi o maior preditor de queda da
mortalidade, e não o acesso ao aborto. Isso mostra que o aborto legalizado teve
um ínfimo – se é que teve – impacto na redução da mortalidade materna.
Taxa de mortalidade
materna geral
Taxa de mortalidade
por aborto
[5]
[5] Koch E, Thorp J, Bravo M, Gatica S, Romero CX, Aguilera H, Ahlers I. Women's education
level, maternal health facilities, abortion legislation and maternal deaths: a natural
experiment in Chile from 1957 to 2007. PLoS One. 2012;7(5):e36613.
19
Voltando ao México em outro estudo, os locais com legislação menos
permissiva sobre aborto tiveram menores taxas de mortalidade materna quando
comparados com locais onde a legislação era mais permissiva, como mostra
este gráfico de mortalidade materna x ano.
Novamente, os melhores preditores para redução da mortalidade materna
são: escolaridade da mãe e qualidade da assistência à gestante [pré-natal].
A cor mais escura A cor mais clara
representa os locais representa os locais
com legislação menos com legislação mais
permissiva. permissiva.
[6]
[6] Koch E, Chireau M, Pliego F, Stanford J, Haddad S, Calhoun B, Aracena P, Bravo M, Gatica S,
Thorp J. Abortion legislation, maternal healthcare, fertility, female literacy, sanitation,
violence against women and maternal deaths: a natural experiment in 32 Mexican states. BMJ
Open. 2015 Feb 23;5(2):e006013.
20
3. Se legalizar, o número vai diminuir
Para este, tomemos, agora, o caso da Espanha, que teve a legalização do
aborto em 1985. Repare no constante aumento no número de abortos, quase
1.000% em apenas três décadas[7]:
1987: 16.728 abortos
1997: 49.578 abortos
2008: 115.812 abortos
De volta ao México, observamos o mesmo comportamento mostrado neste
gráfico abortos induzidos x ano [8]:
Outra clara evidencia está na honestidade do britânico Lord Steel, o arquiteto
do Ato de 1967 que legalizou o aborto no Reino Unido. Ele, em 2007, observou o
enorme aumento de casos de aborto e teve a coragem de admitir que “hoje o
aborto está sendo usado como forma de contracepção. Surgiu um clima
irresponsável em que as mulheres sentem que podem recorrer ao aborto se as
‘coisas correrem mal’.”
Afinal, não é óbvio que, se for legalizado e o acesso facilitado, as pessoas
procurariam mais? De qualquer forma, os dados confirmam esta lógica.
[7] Contraception 83 (2011) 82-87
[8] Koch E, Aracena P, Gatica S, Bravo M, Huerta-Zepeda A, Calhoun BC. Fundamental
discrepancies in abortion estimates and abortion-related mortality: A reevaluation of recent
studies in Mexico with special reference to the International Classification of Diseases. Int J
Womens Health. 2012;4:613-23.
21
4. A proibição do aborto é uma pauta de homens
brancos e ricos tentando impor restrições às mulheres
pretas e pobres.
Esse é um dos mais falados, especialmente acompanhado da frase “sem útero,
sem opinião”. Mas, segundo o resultado divulgado pelo Ibope em fevereiro de
2018, os grupos populacionais mais contrários ao aborto são mulheres, com
baixa renda e que se autodeclaravam pretas/pardas. Para além disso, cabe
ressaltar que a maior parte da população brasileira é contra a legalização do
aborto, com os números variando de 62 a 87% a depender do instituto de
pesquisa. Sendo que, dentre os que se posicionaram a favor, a maioria prefere
“mais casos permitidos” e só uma minoria optou por “legalização completa”.
5. É apenas um amontoado de células, não está vivo,
não é um ser humano
Vamos às análises: friamente, todos somos um amontoado de células, da
mesma forma a minha cachorra e a planta que minha avó rega dia sim, dia não.
Mesmo que fossemos apenas células, isso ainda é uma vida. Afinal, se
encontrassem uma célula em Marte, isso não seria indício de vida no planeta
vermelho? Por que, quando as células estão no útero de uma mulher, elas
deixariam de ser uma vida?
Outro questionamento: como algo pode crescer se não está vivo? Durante o
desenvolvimento, o feto está com 1 grama e medindo 1,6cm na 8ª semana e
termina os 9 meses com 3.300kg e aproximadamente 50cm. Ou seja, ele cresce.
Até onde a ciência avançou, apenas seres vivos crescem; nunca vi uma cadeira
crescer com os meses.
Em uma palavra: um amontoado de células é uma vida. Só que, além disso, o
bebê é um ser humano, como discutido no primeiro capítulo deste texto. Para
uma visualização em vídeo, acesse o link.
22
Alguma dessas
fotos te parece
apenas um
punhado de
células?
23
6. Meu corpo, minhas regras (Vídeo)
Sob nenhum ponto o bebê é parte do corpo da mulher, da mesma forma que o
pulmão ou o baço o são. Há um outro material genético, outro coração, outra
digital, outra fisionomia, enfim, outro ser. Inclusive, a nível judicial, um
assassinato de mulher grávida é tido como duplo homicídio... mas como isso
seria correto se não houvesse dois seres envolvidos?
Esse argumento “meu corpo, minhas regras” é tão fraco que a argumentação se
resume a:
- Meu corpo, minhas regas!
- Não é seu corpo...
Mesmo que alegue: “mas está dentro do meu corpo e no meu corpo, eu
mando”. Pois bem, quando um bebê nasce e mora com os pais em casa, a mãe
teria alguma razão em dizer: “minha casa, minhas regras, está na minha casa,
logo, posso te matar”? O raciocínio é o mesmo para quando está dentro do
corpo.
Também é possível alegar: “mas depende do meu corpo; se tirar, não
sobrevive sozinho”. E desde quando um bebê recém-nascido sobrevive sozinho?
Ele demanda cuidado, recursos, energia, paciência; tudo que o bebê no útero
demanda.
Outro raciocínio possível: se realmente for o corpo da mulher, uma grávida
poderia ingerir álcool, cigarro e outras drogas que, comprovadamente,
prejudicam e danificam o feto.
Há uma grave consequência que decorre deste pensamento pró-aborto: os
homens podem pensar “se é o corpo dela, a escolha dela, então é problema
dela”, desencorajando fortemente a paternidade, o casamento em si – o que
aumentaria a negligência contra a mulher.
7. Questão de saúde da mulher (Vídeo)
Esse tópico já foi exaustivamente trabalhado no último capítulo, tanto ao
mostrar as consequências do aborto para as mulheres, quanto em evidenciar os
fatores que melhor contribuem para a queda da mortalidade materna:
escolaridade da mãe e qualidade da assistência à gestante.
24
8. Você não pode impor sua crença sobre os outros
(Vídeo) / se você é contra o aborto, é só não abortar
Se eu sou contra o racismo, é só eu não praticar. Se eu sou contra a
escravidão, é só eu não escravizar ninguém. Será que isso é o suficiente? Ou
será que é meu dever ético, como ser humano, me levantar e defender quem
está em situação vulnerável? E quem mais vulnerável e sem voz do que um bebê
na barriga da mãe? Não se trata de impor crença, mas de se fazerem aceitos os
princípios morais básicos.
Mas vamos seguindo a linha de raciocínio. Digamos que se considere o aborto
como moralmente certo, ou seja, que se possa eliminar essa vida humana. A
pergunta que fica é: qual o limite? Quem poderá dizer até quando eu posso
encerrar a vida de outra pessoa? Sob quais condições? Uma vez que você abre o
precedente, fica difícil segurar as consequências. Que tal se fecharmos um
consenso de que a vida começa na concepção e que matar [encerrar a vida] é
moralmente errado em qualquer situação? Assim não abre margem para
nenhum novo Hitler.
9. É melhor abortar do que ter mais uma criança indo
para a rua
Que temos várias crianças na rua, isso é inegável. Sendo assim, por que não
as recolhemos e as matamos? “Nossa, que ideia absurda!”. Certamente, mas por
que a do aborto não causa tamanho espanto? Afinal, a única diferença do bebê
no útero e a criança na rua é a idade: ambos têm, em tese, um futuro pouco
promissor e de muito sofrimento e dificuldades pela frente. Por que não acabar
com ambos?
Isso remete às ideias eugenistas da Margaret Sanger ao dizer que os pobres
eram inferiores e, por isso, deveriam ser eliminados.
25
10. Até a 12ª semana o feto não sente dor, então pode
abortar
Se sentir dor é o critério a ser utilizado para matar alguém, por que não
posso matar uma pessoa em coma, ou sedada para uma cirurgia, ou dormindo?
Afinal, em nenhum desses casos ela sentiria dor... Como disse no começo,
qualquer demarcação depois da concepção é arbitrária, sem fundamento e
falha.
11. Autonomia da mulher, ela tem a liberdade de
escolher
Claro, a mulher tem a autonomia e a liberdade que quiser... para escolher
quando, onde e com quem ela se envolve, com quem ela mantém relações
sexuais. Nossas ações têm consequências e nenhuma mulher pode alegar
desconhecimento de que uma gravidez é possível após relações sexuais. A
mulher é livre para escolher seu parceiro, mas não tem o direito de encerrar a
vida de um terceiro [o bebê] por causa de suas ações.
Outra vertente deste argumento: sim, a liberdade é um dos princípios
constitucionais mais importantes, juntamente com o da vida. E, legalmente, o
direito à vida é preponderante ao da liberdade, não à toa que um homicida
perde sua liberdade por matar alguém, ferir o direito à vida. Já que o direito à
vida vem antes, ele também se aplica ao aborto.
12. Você é homem, não entende a situação de uma
mulher, não é afetado e, por isso, não pode opinar
Qualquer pessoa pode e deve defender a pauta, independe de estar ou não
pessoalmente envolvida. O simples fato de eu não ser afetado pela escravidão
não me impede de ser contra. O simples fato de eu não sofrer racismo e não
vivenciar a situação de quem sofre discriminação não me impede de ser contra.
O certo e o errado não depende de quem está falando.
26
13. O feto foi diagnosticado com uma doença incurável
(por ex. síndrome de Down) ou teve um diagnóstico
terminal (Vídeo) (Vídeo)
Você selecionar como quer o seu bebê é uma das coisas mais discriminatórias
que há. A vida não é como um jogo de videogame no qual se escolhe o
personagem mais bem equipado para jogar com ele. Foi exatamente assim que
Hitler chegou no holocausto: começou eliminando pacientes psiquiátricos e
com outras doenças como síndrome de Down – claro, nesses casos, eles já
haviam nascido. Mas, de novo, qual a diferença? O raciocínio é o mesmo:
pessoas com qualquer tipo de doença têm o direito à vida, seja dentro ou fora
do útero, eles continuam sendo seres humanos. Não devemos proceder à lá
Margaret Sanger, desejosos de “purificar a raça”.
Dizer que “um feto com um diagnóstico terminal deve ser abortado” é a
mesma coisa que dizer “alguém com câncer terminal deve ser assassinado”. O
valor de um humano não é medido pelo tamanho de sua vida.
Outro perigo do raciocínio de “se o feto tem alguma doença, ele deve ser
abortado”: quem define quais doenças estão inclusas? Com quais critérios? Se
um dia colocassem síndrome de Down, por que não poderia adicionar, por
exemplo, bebês sem um braço? E assim vai. Toda doença só pode ser
arbitrariamente escolhida, mesmo alegando que segue critérios – também
arbitrariamente escolhidos.
Especificamente sobre a síndrome de Down: um cromossomo extra não
deveria resultar em uma sentença de morte.
14. As mulheres precisam do aborto para terem
igualdade com os homens
Antes de mais nada, qualquer demanda de qualquer direito – como igualdade
– vem depois do direito da vida, depois da pessoa em si estar viva, ou seja, sem
ter sido abortada.
27
Verdadeira igualdade entre os sexos seria quando homens e mulheres
tiverem a mesma responsabilidade ao criar a criança. Por que um pai é – com
total razão – criticado ao abandonar um filho, “abortá-lo”, mas uma mãe querer
o aborto é algo legítimo? Nivelar por baixo nunca é uma boa alternativa;
“permitir” que as mulheres possam “largar os filhos” tanto quanto os homens é
o pior cenário imaginável. O certo seria empregar as mesmas energias de
legalizar o aborto em manter o pai na família – aumentar o padrão, nunca
nivelar por baixo.
Nessa mesma linha de raciocínio, quando a mulher aborta, ela fica 100%
“livre” do filho; mas quando o homem “aborta” – abandona a família – ele,
legalmente, tem que pagar pensão, suporte e inúmeras outras coisas. Se a luta é
por igualdade, não seria coerente advocar contra pensão, afinal, o pai também
teria o direito de “abortar”, ficar 100% “livre” do filho?
28
Alternativas
Este livro estaria incompleto se não tivesse uma parte mostrando
alternativas para as mulheres que estão grávidas e pensando em abortar. É
compreensível o sentimento de desamparo e desespero, de não se sentir pronta
após descobrir que está grávida e, diante de tudo isso, pensar que o aborto seria
a única – ou a melhor – opção.
Muitas das ideias que vou descrever aqui foram tiradas de uma das maiores
instituições pró-vida nos Estados Unidos, a Live Action. Optei por buscá-la
como fonte porque tem mais experiência na área. Entre as alternativas,
podemos citar:
1. Pílula que “reverte” o aborto
Essa opção se aplica para o aborto medicamentoso, feito em duas etapas. Falei
um pouco sobre na parte de procedimentos, mas achei bem interessante o fato
de haver, lá nos EUA, um telefone para auxiliar as mulheres que liguem, após se
arrependerem de iniciar o aborto.
2. Opções quando está grávida
Linhas telefônicas [Care Net, Option Line, Guiding Star El Paso], algumas 24
horas de plantão, que oferecem recursos para mulheres que estão pensando
em abortar, que fizeram um aborto ou que procuram alternativas ao aborto.
Tudo gratuito e confidencial.
Carrying to Term [Levando a termo]: oferece uma rede de apoio para
qualquer pai ou mãe que enfrente um diagnóstico pré-natal que limite a
vida; oferecem uma comunidade, orientações, informações sobre o
diagnóstico, histórias de famílias que passaram por isso e muito mais.
29
Love Line [Linha do Amor]: oferece apoio para mães solteiras e mulheres
que enfrentam gestações não planejadas e sentem que esgotaram todas as
oportunidades de recursos e assistência material em sua área.
Human Defense [Defesa Humana]: fornece apoio material às mães, através
da sua própria rede e através do movimento pró-vida em geral. Quaisquer
que sejam as necessidades, elas conectarão as famílias com recursos, ajuda
financeira e suprimentos para bebês.
National Diaper Bank Network [Rede Nacional de Bancos de Fraldas]: locais
que fornecem fraldas gratuitas para famílias em dificuldades.
Centro de Atendimento à Mulher: oferece aconselhamento, apoio e
educação gratuitos e confidenciais para mulheres grávidas.
Let Them Live [Deixe-os viver]: outra instituição que presta assistência
financeira e material para mães necessitadas.
No Brasil, tem, por exemplo, a organização Brasil Sem Aborto, que presta
apoio à gestante, e a Pró Vida, com endereços em vários estados pelo Brasil.
Embora os recursos e crentais telefônicas dos EUA também podem ser
acionados por mulheres do Brasil.
3. Adoção
Lifetime Adoption [Adoção vitalícia]: oferece serviços abrangentes de
adoção, incluindo uma linha direta 24 horas, aconselhamento, moradia e
educação sobre adoção.
Catholic Charities [Caridades Católicas]: escritórios em todo os EUA para
aconselhamento local, educação e apoio aos pais e assistência à adoção.
Brave Love [Amor Valente]: organização dedicada aos pais biológicos que
honra seu sacrifício e amor por meio da adoção. Oferecem apoio pós-
adoção, recursos, compartilham histórias de pais biológicos e educação
sobre adoção.
30
4. Cuidados pós aborto
Aqui falo no sentido de prestar assistência às mulheres que realizaram o
aborto. Tanto por todos os problemas que elas podem desenvolver (os quais
foram discutidos anteriormente), quanto pelo arrependimento e pelo luto que
elas podem ter. Existem grupos virtuais com encontros periódicos para
mulheres que passaram pelo aborto (como Support After Abortion), além de
linhas telefônicas com plantões 24 horas, 7 dias por semana (como International
Helpline for Abortion Recovery).
Todas essas opções são interessantíssimas e ótimas sugestões para
aplicarmos ao Brasil.
31
Conclusão
Compreendo o propósito bem intencionado da maior parte das pessoas
favoráveis ao aborto: estão defendendo o que consideram o melhor para a
mulher. Só que, infelizmente, não levam em consideração a peça-chave desta
discussão – o bebê no ventre materno. Tudo se resume à pergunta: será que a
mãe tem o direito de interromper a vida [matar] de seu próprio filho?
Independente de sua situação financeira, da ocasião em que foi concebido, da
sua vontade.
Nada melhor para exemplificar a importância deste tema do que a clara
inversão de hierarquias do mundo moderno ao se preocupar mais com ovos de
um pássaro silvestre do que com um bebê no útero de uma mulher.
Tentei fazer um apanhado geral, sem me estender além do necessário,
trazendo inúmeras referências sobre o tema. Optei por não citar autores
favoráveis ou contrários ao aborto, porque a minha intenção era analisar os
aspectos do tema sem ficar utilizando “argumento de autoridade”; meu objetivo
é ajudar as pessoas a entenderem os argumentos, a história, os processos em
vez de só ouvirem uma frase impactante de um autor pouco conhecido.
Caso haja interesse em aprofundar no tema, posso citar, brevemente, as
obras: Precisamos Falar Sobre Aborto: Mitos E Verdades (Vários autores,
Marlon Derosa – Editor), O Clamor da Vida: Reflexões contra o Aborto
Intencional (Marlene Nobre), Contra o Aborto (Francisco Razzo), o texto Why
Abortion is Genocide do Gregg Cunningham, bem como o site e o Instagram do
students for life. Esse site foi uma das minhas grandes fontes para este texto,
especialmente na parte sobre os procedimentos do aborto. Outro detalhe: fiz
questão de colocar todas as referências dos dados e informações para, caso
alguém ache pertinente, possa conferir com os próprios olhos.
Por fim, gostaria de falar sobre o jogo linguístico/lexical que fazem para
reformular a mentalidade das pessoas sobre o tema.
32
Ao invés de falarem claramente de aborto, seus mecanismos e suas
consequências para a mulher, eles optam por termos mais gentis e eufemísticos
como “eliminação do produto da concepção”. Falo isso para que as pessoas
reparem nas estratégias empregadas para promover a pauta e dessensibilizar
os ouvintes.
Também se utilizam de recursos apelativos, tais como afirmar que, se você é
contra o aborto, você apoia estuprador ou que você tem o sangue das mulheres
mortas em suas mãos.
Uma abordagem interessante seria mostrar histórias de pessoas cujos pais
pensaram em abortá-las, mas não o fizeram. Um exemplo é o Steve Jobs,
fundador da Apple; poucos sabem, mas ele foi entregue à adoção após sua mãe
optar por não cometer o aborto. Outros casos incluem Justin Bieber, Cristiano
Ronaldo e Roberto Gómez Bolaños – o personagem Chaves. Para saber dessas
histórias e outras, recomendo este breve vídeo.
O que eu espero que tenha ficado claro: o movimento moderno pró-aborto
nasceu de ideais eugenistas e racistas, os procedimentos abortistas são cruéis e
podem causar diversos efeitos negativos nas mulheres, os argumentos a favor
são fracos e facilmente refutados, a vida humana é intrinsecamente valiosa e
começa na concepção.
A flexibilização do direito à vida, que ocorre inevitavelmente quando permite-
se o aborto, é uma linha extremamente perigosa de se cruzar. Uma vez
ultrapassada, torna-se cada vez mais difícil evitar a expansão para a morte
intencional de, por exemplo, doentes mentais ou terminais, pessoas de outra
raça, de outra opinião, de outra religião e assim vai. Argumentos retóricos e
“plausíveis”, qualquer um pode inventar – Hitler e os intelectuais das
universidades alemãs não os inventaram contra negros, ciganos, gays,
deficientes e judeus?
Sigamos!
“O aborto não é, como dizem, simplesmente um assassinato. É um roubo... Nem
pode haver roubo maior. Porque, ao malogrado nascituro, rouba-se-lhe este mundo,
o céu, as estrelas, o universo, tudo. O aborto é o roubo infinito.”
Mário Quintana
33
Apêndice I
Reservei este espaço para abordar a parte religiosa do tema, em separado do
restante para mostrar que há muitos outros fatores além do religioso. Vou me
deter especificamente na influência cristã – porque é na qual estamos inseridos
e é a única que eu tenho conhecimento suficiente para abordar com
propriedade.
Começando pelo cristianismo primitivo[1], aquele dos primeiros séculos após
a morte de Jesus, temos um famoso livro – a Didaquê, o ensino, a doutrina dos
doze apóstolos. Escrita no século I, seria um primeiro catecismo cristão. Nele,
lê-se “Tu não matarás, mediante o aborto, o fruto do seio; e não farás perecer a
criança já nascida”. Tertuliano, um dos autores das primeiras fases do
cristianismo também coloca: “É um homicídio antecipado impedir alguém de
nascer; pouco importa que se arranque a alma já nascida, ou que se faça
desaparecer aquela que está ainda para nascer. É já um homem aquele que o virá
a ser”[2]. São Tomás de Aquino, por sua vez, comenta que o aborto é um pecado
grave contrário à lei natural[3]. Também temos comprovação numa bula papal –
a Humanae Vitae (1968), pelo Papa Paulo VI, que diz:
Em conformidade com estes pontos essenciais da visão humana e
cristã do matrimônio, devemos, uma vez mais, declarar que é
absolutamente de excluir, como via legítima para a regulação dos
nascimentos, a interrupção direta do processo generativo já
iniciado, e, sobretudo, o aborto querido diretamente e procurado,
mesmo por razões terapêuticas.
Para saber mais do posicionamento da Igreja sobre o aborto, acesse o link.
[1] Para compreender o cristianismo primitivo, recomendo fortemente o livro A Igreja dos
Apóstolos e dos Mártires – Volume 1 (Daniel Hops).
[2] Tertuliano, Apologeticum, IX, 8: P.L. I, 371-372; em Corp. Christ. I, p. 103, 1. 31-36.
[3] Comentário sobre as Sentenças, livro IV, dist. 31, na exposição do texto.
34
Trouxe, também, passagens bíblicas que corroboram a visão cristã contra o
aborto:
Jeremias 1:5 - "Antes de formá-lo no ventre eu o escolhi; antes de você nascer,
eu o separei e o designei profeta às nações". Mostrando que, desde o ventre,
o ser humano já possui um desígnio divino a ser cumprido.
Salmos 22:10 - "Desde que nasci fui entregue a ti; desde o ventre materno és o
meu Deus.”
Salmos 139:16 – “Os teus olhos viram o meu corpo ainda informe, e no teu
livro todas estas coisas foram escritas, as quais iam sendo dia a dia
formadas, quando nem ainda uma delas havia.”
Lucas 1:41-51 – a passagem em que João Batista, no ventre de Isabel, agita-se
ante a aproximação de Maria grávida de Jesus, mostrando que já no ventre o
bebê tem ação e intenção.
Por fim, a própria crença na Encarnação de Deus que se fez Homem e,
obviamente, passou pela fase embrionária.
Também vou destacar, brevemente, a perspectiva espírita sobre o aborto. No
Livro do Espíritos, as questões 344-360 tratam sobre a união da alma ao corpo e
sobre o aborto. Na questão 344, afirma-se que, desde a concepção, a alma já está
designada/ligada ao corpo. Para a questão 358, temos a seguinte resposta:
Há crime sempre que transgredis a lei de Deus. Uma mãe, ou quem
quer que seja, cometerá crime sempre que tirar a vida a uma criança
antes do seu nascimento, porque impede uma alma de passar pelas
provas a que serviria de instrumento o corpo que se estava
formando.
A questão 880, também do Livro dos Espíritos, diz que o primeiro de todos os
direitos naturais do homem é “O de viver. Por isso é que ninguém tem o de
atentar contra a vida de seu semelhante, nem de fazer o que quer que possa
comprometer-lhe a existência corporal.”
35
Allan Kardec, em outra obra básica - A Gênese, capítulo XI, item 18 - diz que
“Quando o Espírito tem de encarnar num corpo humano em vias de formação,
um laço fluídico, que mais não é do que uma expansão do seu perispírito, o liga
ao gérmen que o atrai por uma força irresistível, desde o momento da
concepção.”
Mais um quesito interessante envolvendo religião: todas as leis são baseadas
em certos valores e princípios morais; especialmente no Ocidente, a influência
judaico-cristã foi decisiva. Muitos dos nossos preceitos civilizatórios ocidentais
são fundamentalmente cristãos: direitos humanos universais; contra a
escravidão e o racismo; igualdade como direito pelo simples fato de ser uma
pessoa; cuidar dos pobres, vulneráveis, dos mais fracos; contra o infanticídio,
os sacrifícios humanos, entre muitos outros.
A argumentação parte do princípio ético, religioso e filosófico de que a vida
é dotada intrinsecamente de valor. A partir dele, segue-se naturalmente a
oposição ao aborto.
Por fim, quando mencionei a história do aborto, especificamente a parte
“Com o avanço dos padrões éticos humanos em relação às populações
vulneráveis que o bebê começou a ser valorizado”, isso ocorreu em grande parte
graças à influência judaico-cristã. Praticamente nenhum povo pré cristão e
pagão via o bebê e a criança como seres intrinsicamente valiosos, muito pelo
contrário. Sobre esse tema, recomendo a leitura do livro Domínio: O
cristianismo e a criação da mentalidade ocidental (Tom Holland), especialmente
o capítulo V, falando da Macrina; também o primeiro capítulo – O Cristianismo
e os Problemas do Direito e do Estado – do livro Questões de Direito Público
(Miguel Reale).
Para saber mais sobre a interessante relação entre abolição da escravidão e
religião, recomendo três textos.[4] [5] [6]
[4] Richardson, David. “Agency, Ideology, and Violence in the History of Transatlantic
Slavery.” The Historical Journal, vol. 50, no. 4, 2007, pp. 971–89. JSTOR.
[5] Nurser, John. For all peoples and all nations: the ecumenical church and human rights.
Especialmente a indrotução e os capítulos I e XI.
[6] Stark, Rodney. For the Glory of God: How Monotheism Led to Reformations, Science,
36
Witch-Hunts, and the End of Slavery. Especialmente o capítulo IV.
Apêndice II
Este espaço foi reservado de última hora devido à dúvida que fiquei se seria
pertinente e apropriado inserir esta discussão. Inicialmente, o texto abaixo
estava no capítulo de argumentos sobre o aborto, mas resolvi colocá-lo
separado apenas para reflexão e ponderação do leitor.
Trata-se dos casos de estupro. Usar esses casos para defender o aborto per se
é uma grande falácia argumentativa ad passiones [apelo à emoção]. Nos países
onde é legalizado, a imensa maioria (mais de 90%) dos casos são, como o Lord
Steel relatou na Inglaterra: recorre-se ao aborto caso as “coisas correrem mal”,
ou seja, se engravidar depois do ato sexual praticado por livre e espontânea
vontade[1] [2]. Há dados mostrando que os casos de estupro, nos EUA,
correspondem a 0,4% dos abortos[3], sendo que 95,9% são por razões
eletivas[4].
Razões para buscar o aborto:
95,9%: razões eletivas;
2,2%: problemas de saúde
físicos do feto;
1,2%: anormalias fetais;
0,4%: estupro;
0,3%: risco de vida da
mãe.
[1] Biggs MA, Gould H, Foster DG. Understanding why women seek abortions in the US. BMC
Womens Health. 2013 Jul 5;13:29.
[2] Finer LB, Frohwirth LF, Dauphinee LA, Singh S, Moore AM. Reasons U.S. women have
abortions: quantitative and qualitative perspectives. Perspect Sex Reprod Health. 2005
Sep;37(3):110-8
[3] Dados de oito estados com 122.773 abortos totais (AZ, FL, LA, MN, NE, OK, SD, UT). As razões
de violência doméstica e abuso estão incluídas nestes totais.
[4] https://lozierinstitute.org/fact-sheet-reasons-for-abortion/
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Nos casos específicos de estupro: a legislação brasileira permite o aborto em
tais casos. Sobre esse ponto, cabe a seguinte reflexão: mesmo concebido sob um
crime horrendo, aquele bebê é inocente e não parece adequado “encerrar” um
crime [estupro] com um outro [aborto – assassinato], visto que a vítima no
aborto é inocente da mesma forma que a mãe. É claro que reconheço a gestação
advinda de um estupro como algo extremamente difícil para todos os
envolvidos, mas isso não necessariamente implica em ter que recorrer ao
aborto.
Vamos expandir o raciocínio nessa mesma linha: uma mulher estuprada
merece todo apoio e amparo possíveis e imagináveis. Mas, nem por isso ela
ganha uma carta branca para fazer o que quiser. Um exemplo simples: se roubar
doces em uma loja a fizesse melhor após o estupro, ela poderia prosseguir? Não.
Da mesma forma há um limite ético sobre o feto que, mesmo concebido na pior
situação possível, é inocente.
O aborto não faz nada para dar à vítima do estupro o apoio, o cuidado que ela
necessita e merece. O aborto não apaga o estupro, nem desfaz a violência
sofrida, pelo contrário, ele adiciona mais um ato de violência que não pode ser
desfeito ao contexto – adiciona trauma ao trauma. Inclusive, há relatos muito
tocantes das mulheres [como o de Ashley Sigrest] dizendo que o aborto foi um
obstáculo ao seu processo de cura pós estupro.
Por que punir uma criança com a pena de morte para um crime que seu pai
cometeu? Nem para o estuprador nós temos pena de morte.
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Recomendações
Páginas no Instagram
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@kristanmercerhawkins
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The Silent Scream [O Grito Silencioso] Acesse pelo link.
Documentário que mostra com detalhes
o que um bebê sofre no útero materno
enquanto realizam seu aborto. Dirigido
pelo Dr. Bernard Nathanson, também
conhecido como “Rei do Aborto” (admitiu
ser responsável por mais 75.000 abortos),
mas que, depois de algum tempo,
realizando abortos com técnicas de
ultrassonografia, reviu sua posição,
deixando de apoiar tal prática
Gosnell: O Julgamento do Maior Assassino em Série da América
Condenado a prisão perpétua pelo assassinato
de três bebês que nasceram vivos após tentativas
frustradas de aborto, o ex-médico Kermit Gosnell
tornou-se conhecido por realizar a prática com
sucesso centenas de vezes, de forma ilegal. Devido
a raridade dos precedentes para este tipo de caso,
o júri do caso se dividiu, deixando a situação ainda
mais complicada.
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22 weeks [22 semana]
A história é de uma menina que muda de
ideia sobre o aborto. Enquanto está na
clínica, ela dá à luz seu bebê vivo, mas
todos se recusam a ajudá-la. A forma como
tudo se desenrola é quase inacreditável,
mas o filme é baseado em uma história
real.
40 dias: o milagre da vida
Uma assistente social que sempre
acreditou no direito da escolha pelo
aborto. Até o dia em que viu como era um
aborto - isso mudou tudo e ela se tornou
uma das principais vozes do movimento
pró-vida.
Blood Money - Aborto Legalizado Assista no link.
Uma investigação sobre a indústria do aborto nos EUA. O
documentário mostra que o aborto legalizado é sinônimo de
assassinato de bebês, que as mulheres sofrem traumas
irreparáveis com essa prática, e que a intenção por trás do
aborto é apenas a ganância e a vontade de diminuir a
quantidade de negros nos Estados Unidos, já que as
mulheres negras representam a maioria dos abortos no
país.
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Duas Vidas: do que estamos falando quando falamos de aborto
Um documentário que aborda o tema do
aborto de uma maneira ampla e geral.
Assista no link.
Bella
Após ser demitida, a garçonete Nina tem
o apoio de José, o chefe de cozinha. Nina
conta a ele que está grávida e pensa em
abortar. José vê que Nina está passando
por problemas, eles passam o dia juntos e
trocam segredos que mudam a vida da
moça.
One Child Nation
Depois de se tornar mãe, uma
cineasta descobre a história oculta da
política do filho único da China e as
gerações de pais e filhos moldados
para sempre por esse experimento
social.
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The Appointment – a mother’s choice
4 minutos que deixam uma reflexão para
sempre. E se o bebê tivesse voz?
Assista pelo link
Volition
Assista pelo link.
Este filme explora a esperança que está
por trás de cada decisão tomada diante da
adversidade; a esperança que está
enterrada no coração daqueles que olham
além de si mesmos e veem algo maior pelo
qual vale a pena lutar.
Testemunho de Gianna Jessen - sobrevivente de um aborto
O próprio nome já diz tudo.
Simplesmente assista.
Assista pelo link.
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