Estacio Estetica e História Da Arte Contemporânea
Estacio Estetica e História Da Arte Contemporânea
CONTEMPORÂNEA
APRESENTAÇÃO
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BEM VINDO(A) À DISCIPLNA ONLINE:
Essa disciplina trata do ponto de vista das imagens a nossa própria condição como ser que produz arte. Estuda
as variações, o que, como e sob quais condições consideramos algo como arte, ajudando a nos conhecermos
melhor. Estuda a História da criação artística: suas características, conceitos, imagens e seus personagens
fundamentais. Trata das artes e suas relações com as diferentes sociedades, períodos e realidades. Sob essa ótica
estuda a arte moderna e contemporânea e a arte no Brasil. Ainda pretende discutir a imagem hoje e sua relação
com a arte.
Ter noção da ligação da evolução histórica das sociedades e das suas transformações correspondentes nas artes.
Conhecer os agentes principais (filósofos) de cada corrente de pensamento que procurou compreender e
Ter noções de evolução histórica das sociedades e das suas transformações correspondentes nas artes,
Compreender o contexto histórico do final do século XIX, quando ocorreu o impressionismo em Paris, França.
Contrapor o impressionismo à invenção da fotografia, quando a máquina exigiu a definição de um “olhar puro”
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Determinar o contexto europeu histórico de começos do século XX, quando ocorreram as principais vanguardas
Compreender o contexto histórico europeu de começos do século XX, quando eclodiu o Cubismo influenciando
Determinar o contexto europeu histórico, social, político e econômico de começos do século vinte, quando
Contrapor o dadaísmo e o surrealismo a outros movimentos artísticos, percebendo suas relações histórico-
sociais.
Aula 7: O Construtivismo
Determinar o contexto histórico do final da primeira metade do século XX, quando eclodiu o expressionismo
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Ao final desta aula, você deverá ser capaz de:
Determinar o contexto histórico da arte brasileira e sua evolução na segunda metade do século vinte, quando
Determinar o contexto histórico da arte internacional e sua evolução da segunda metade do século vinte ao início
do século XIX.
Conhecer algumas tendências e alguns artistas internacionais, importantes para para a compreensão do cenário
artístico contemporâneos.
Avaliação
A avaliação é continua, integradora, com ênfase nos aspectos colaborativos, incluindo tarefas coletivas, e
A avaliação somativa da aprendizagem é realizada presencialmente pelo aluno no Polo de EAD da IES e segue a
normativa da Universidade. A(s) prova(s) presencial(is) segue(m) o calendário acadêmico divulgado para o
aluno.
Durante o Curso, os alunos realizam atividades propostas, compostas de questões objetivas e discursivas
Bibliografia
Fique atento aos livros que servirão de base para o conteúdo das aulas, bem como para sua consulta:
JANSON, Horst Woldemar; JANSON, Anthony F. A Iniciação à História da arte. 2ª Edição São Paulo: Martins
Fontes, 1996.
STANGOS, Nikos (org). Conceitos da arte moderna. Rio de Janeiro: J. Zahar, 2000.
SANTOS, Maria das Graças Vieira Proença. História da Arte.17ª Edição São Paulo: Editora Atica, 2008.
Bibliografia complementar
CHIPP, Herschel Browning. Teorias da Arte Moderna. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
ARGAN, Giulio Carlo. Arte moderna. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.
FERREIRA, Glória e COTRIM, Cecília (org.). Escrito de Artistas Anos 60/70. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor,
2006.
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A disciplina objetiva atualizar e diferenciar os profissionais que lidam com imagens. Considera a sociedade
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ESTÉTICA E HISTÓRIA DA ARTE
CONTEMPORÂNEA
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Olá!
Ao final desta aula, você será capaz de:
2. Explicar a evolução histórica das ideias estéticas, de seus principais pensadores e influências, desde a
3. Chegar ao surgimento dos conceitos necessários para a compreensão do cenário artístico atual.
1 Introdução
Olá! Seja bem vindo a nossa primeira aula!
Antes de mais nada, é bom registrar que o homem sempre produziu arte. A arte tomou formas, e foi
compreendida de maneiras diferentes ao longo do tempo. Porém, jamais o homem produziu tantas imagens
quanto produz hoje, que vivemos a “civilização da imagem”. Profissionais da imagem precisam estar sempre
No vídeo, você assiste a uma cena clássica de Picasso trabalhando em uma obra.
Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=ExCQZ940Rbw
Entender os mecanismos da arte de hoje, além de um diferencial, é uma ferramenta para o trabalho. Seu domínio
pode representar uma vantagem profissional, além de permitir acesso a uma fonte de ideias para trabalhos
relacionados.
Para compreender isso, vamos estudar como a arte chegou a ser o que é hoje. Antes de começarmos a estudar
essa história, vamos falar, de modo resumido, do pensamento que acompanha a arte. A estética é o ramo da
Os primeiros filósofos, chamados de físicos, por Aristóteles (hoje conhecidos por pré-socráticos.), fundaram
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Sócrates os criticou por sua falta de rigor e principalmente por usar a habilidade de raciocínio para confundir os
Livro: A república
Platão, discípulo de Socrátes, problematizou em seu livro A república, a existência e a finalidade das artes,
ligando-as ao problema mais geral da realidade e do conhecimento, do sentido da beleza e da vida psicológica e
Livro: Poética
Aristóteles, discípulo de Platão, desenvolveu em seu livro Poética ideias relativas à origem da poesia e à
Podemos dizer que a doutrina de Platão condensou a experiência do Belo, alcançada pela cultura antiga:
O princípio da imitação, para definir a natureza da arte (As artes imitam a realidade.), o estético para
estabelecer as condições necessárias de sua existência e o moral para julgar seu valor.
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Na Grécia em geral, as artes deviam representar o que é belo, tanto no sentido estético como moral, para que o
espírito, estimulado pelo prazer da contemplação do perfeito, sinta-se inclinado à prática dos conhecimentos e
da verdade.
Veremos como essas noções, pensadas por essas tribos gregas, foram influentes em nossa arte e ainda
Logo, nas épocas clássicas (Greco-romanas), a estética era definida como a “filosofia do belo”.
O belo era uma propriedade do objeto, que era captado e estudado, subdividindo-se entre o belo da arte e da
natureza.
Influenciada por Platão, a filosofia estabeleceu uma hierarquia entre esses dois belos, considerando que o belo
Observe:
Platão não foi capaz de julgar com equidade as artes plásticas, tendo-as identificado com as artes miméticas que
A filosofia platônica considerava que as artes de “imitação por cópia ou por simulacro” tendiam a duplicar
Por isso, na República (de Platão) ideal não eram bem vistas as artes de “imitação por cópia ou por simulacro”,
Para Platão, a obra de arte não devia pretender alcançar uma categoria mais elevada do que a da “imagem” por
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Para Platão:
• Idade Média
Com a queda do Império Romano e com a dispersão do pensamento, não se discutiu a questão estética.
O belo era considerado pertencente a Deus e não era considerado nas discussões sobre as artes, que
tinham por função transmitir a doutrina cristã para os que não sabiam ler.
• Renascimento
O Renascimento surgiu com o fim do período conhecido por “Idade Média” conjuntamente à filosofia
denominada Humanismo.
Nesse período, o belo retorna à esfera das artes por meio de outro conceito, o de natureza. Passa a ser
• Conceito de Estética
O conceito de estética surge como uma disciplina filosófica com A. G. Baumgarten, no século XVIII,
conceituada como ciência do belo e da arte, mas vai ganhar importância com a contribuição de Kant.
Logo, o belo converteu-se, depois de Kant, na questão da experiência estética, que passa a ser interpretada pelas
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Já Hegel, no século XVIII, elaborou um sistema filosófico (Ao qual a filosofia da Arte se submetia.) e contribuiu
para fazer dessa filosofia o que ela é hoje: uma reflexão que tem, como um de seus fins últimos, justificar a
1. Influencia Kantiana
Por influência de Kant, os pensadores subdividiram o campo estético. Kant cria um sistema focado, não na
definição do belo, mas no estabelecimento da “Crítica da capacidade de julgar”. A reflexão sobre a beleza assume
a forma de uma descrição da consciência estética, da impressão produzida pela obra. O entendimento estético
passa a ser considerado ligado à imaginação e contrasta agora o belo com o sublime.
Na verdade, este fato não era novo. Aristóteles havia considerado a comédia como associada à “arte da
A ideia do sublime funda uma estética nova, que supera a definição clássica do belo (A ordem, a harmonia, a
perfeição).
A obra de arte em vez de imitar a natureza, passa a tornar visível um mundo desconhecido.
O sentimento do sublime nasce do deleite, do arrebatamento ou êxtase misturada a certa dose de terror
originado pelo espetáculo do desconhecimento e do poder da natureza (É o sentido que experimentamos face
2. Pensamento pós-kantiano
O pensamento pós-kantiano, no entanto, começou a inquirir se era válido definir a estética como “filosofia do
belo”, já que o campo estético incluía categorias que nada tinham a ver com a beleza, como no caso do cômico.
Propuseram estes filósofos, então, a categorização da estética como uma ciência, substituindo a palavra
Da “filosofia do belo e da arte” surgiu a “ciência do estético”, passando a incluir todas as categorias pelas quais
os artistas e pensadores haviam refletido, assim como o trágico, o sublime, o gracioso, o risível e o humorístico,
reservando para a denominação de belo aquele modelo clássico definido pela harmonia e pelo senso de
proporção.
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3. Idealismo Hegeliano
No Idealismo Hegeliano, com seu pensamento de substrato platônico, o conceito de estética passou a considerar
Para o pensamento hegeliano, a beleza artística revelava uma maior dignidade do que a beleza natural, pois
enquanto a natureza era nascida uma vez do espírito, a arte nascia duas vezes do espírito. Considerava a beleza
da natureza uma coisa distinta e assim a estética passou a ser considerada uma “filosofia da arte”.
E, como consequência, a arte passou a ser percebida como uma forma de manifestação do pensamento visual
Para Hegel o belo não é mais um julgamento da origem subjetiva, mas uma ideia que existe na realidade. A arte
E o belo será a manifestação sensível, numa obra de arte histórica, desse espírito.
Logo, a “filosofia da beleza” clássica foi reformulada pelas observações da estética pós-kantiana sobre as obras
A estética, após Hegel, passou a ser um conceito capaz de compreender finalmente, o amargor e a aspereza das
obras de Rimbaud, Goya, Bosch, Brueghel, da arte africana, do Barroco, do gótico e do românico, do Cubismo, do
Dadaísmo e do Expressionismo.
Da arte moderna e contemporânea, com seus aspectos monstruosos e contraditórios. Na modernidade, a estética
passou a ser também identificada com o grotesco, representando uma reformulação da filosofia inteira ante a
beleza e a arte.
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Figura 2 - “O grito”, de Munch.
Este trabalho não é considerado “belo”, mas é valorizado por sua capacidade de traduzir em formas a expressão
Na modernidade os conceitos que eram empregados no passado, para categorizar as obras de arte, passaram a
Aos gêneros; Comédia, tragédia, drama ou romance, que se misturam nas obras modernas.
Às formas; Soneto, sonata, pintura, escultura, que por vezes também se misturam
A o s
estilos;
O u
Impressionista, simbolista, realista, naturalista.
movimentos.
Vários dos novos movimentos que surgiram então tinham as mesmas características dessas classificações e eram
evidentemente diferentes, não só formalmente, como oriundos de pensamentos e situações sociais diferentes.
Assim, as novas formas levaram críticos e historiadores a criar novas classificações (Expressionismo,
A expressão e a experiência da obra de arte passaram a não mais ser definidas pelo uso de simples pares de
adjetivos como belo e feio, requintado ou grosseiro, leve ou pesado. Isso representou motivo de confusão para o
espectador leigo e desavisado. Nesse contexto, na modernidade aumentou a importância do crítico de arte, que
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“explica” para os não especialistas os trabalhos aparentemente incompreensíveis e os classifica para facilitar sua
compreensão. Atua também como guia para os investidores que surgiram com o desenvolvimento do conceito
de modo diverso do passado (A renascença, por exemplo, existiu durante muito tempo na Itália apenas.).
Na atualidade a crítica utiliza, para elaborar suas teorias e propor classificações, conceitos filosóficos e estéticos,
tanto antigos (Como os pares referidos.) como novos, estreitando a relação entre arte e filosofia.
3 A estética e a modernidade
Segundo os críticos e historiadores, a afirmação consciente de um “olhar puro” surge com Manet, no domínio da
Esse olhar, definido pela mestria do artista sobre aquilo que lhe pertencia em particular, ou seja, a forma e a
técnica enquanto um fim exclusivo da arte e como uma espécie de retorno reflexivo e crítico dos produtores
sobre sua própria produção, era capaz de se aplicar a qualquer tipo de tema, confrontando-se com a tradição
Os antigos conceitos utilizados para classificar e criticar a arte secularmente deixaram de ser suficientes com o
Antes de Manet, o Realismo de Courbet passou a retratar temas sociais e pessoas simples. O Impressionismo
passou a pintar objetos “insignificantes” que se tornam pretexto para o artista criador exercer seu poder
“semidivino de transmutação”.
Figura 3 - "Quebradores de pedras" Uma das obras sobre temas sociais de Courbet.
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Figura 4 - Obra Impressionista "A estação de Saint-Lazare" por Monet.
No Modernismo foi superada a concepção acadêmica de que havia temas dignos de serem representados. A
atenção volta-se para o modo como foi representado e, posteriormente, para como foi pintado (A partir do
O desenvolvimento desse caminho (E dessa ideia.) resultou em uma arte não mimética (Ou não
representacional.) ou na arte abstrata moderna, que atingiu o seu ápice no Expressionismo abstrato norte-
Mas a pintura continua existindo hoje, tanto figurativa como abstrata, como uma espécie de geradora de
significados novos que refletem por sua vez as novas formas geradas na sociedade contemporânea.
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Figura 7 - “O espelho falso”, Magritte.
Artista surrealista que deu aos objetos ordinários uma torção irracional com a justaposição de elementos do
absurdo.
Embora cronologicamente pertencendo ao moderno, o trabalho de Duchamp abre possibilidades que continuam
4 A estética e a pós-modernidade
Ainda no século XX, a atitude modernista de Marcel Duchamp no dadaismo e contemporânea de Andy Warhol na
pop arte, de exporem “objetos do mundo” como obras de arte, representou um tratamento de choque que
indicou uma onipotência da atitude “criadora pura” do artista, retratando o vulgar, o mediocre e o cotidiano.
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Mas o mictório de Duchamp e as latas de sopa Campbell de Warhol deviam suas estruturas formais e seu valor
estético somente à estrutura do campo intelectual onde se situam muitos trabalhos da arte conceitual e da arte
contemporânea também. Cada um com suas implicações estéticas próprias, relacionadas a condições históricas,
Na atualidade, todos esses desenvolvimentos relacionam-se entre si, somados aos desenvolvimentos da pintura,
da escultura, da fotografia e de outras formas de arte. Assim a arte assume hoje, e continuará assumindo, formas
muito variáveis na chamada “Civilização da Imagem”. Para compreendê-la é fundamental o conhecimento dos
caracterizavam por rupturas históricas com a tradição artística clássica, tendem, no entanto, a se tornar também
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Andy Warhol usou ícones da cultura popular desenvolvida no pós-guerra, para produzir uma arte inovadora em
oposição ao predomínio que havia da arte abstrata do período. Rompeu assim com a separação entre Alta
Esta disciplina pretende mostrar o processo histórico refletindo uma percepção diacrítica da obra de arte, ou
seja, uma postura atenta às relações estabelecidas com outras obras modernas, contemporâneas e também do
passado.
Isso vai permitir a você o acesso a uma análise das manifestações das artes visuais modernas e contemporâneas
CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• Compreender as diversas transformações ocorridas com o conceito de arte e de estética;
• Ter noção da ligação da evolução histórica das sociedades e das suas transformações correspondentes
nas artes;
• Identificar noções do pensamento estético de diferentes épocas;
• Conhecer os agentes principais (filósofos) de cada corrente de pensamento que procuraram
compreender e explicar a arte de seu tempo.
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ESTÉTICA E HISTÓRIA DA ARTE
CONTEMPORÂNEA
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Olá!
Ao final desta aula, você será capaz de:
2. Demonstrar a evolução da arte desde os primórdios do homem até o surgimento da fotografia no século XIX.
1 Introdução
Olá! Seja bem vindo a nossa aula!
Provavelmente um baile funk está mais próximo da ideia do que poderíamos chamar de arte na “Idade da Pedra
Lascada” (Paleolítico superior) do que as pinturas que decoram os lares modernos. Isso porque as imagens que
conhecemos hoje eram feitas em locais aonde os grupos humanos iam para uma espécie de ritual, as cavernas,
Assim como falamos em “tribos” quando nos referimos aos grupos que promovem suas identidades por meio de
roupas, códigos e símbolos (Caveiras, dragões, fadas, instrumentos musicais, armas, escudos e outros motivos
tatuados ou estampados em roupas, bandeiras e automóveis.), esses grupos promoviam sua identidade nesses
encontros, com rituais que incluíam músicas (Ou ao menos, sons.), danças e bebidas.
O que é salientado aqui é a proximidade que temos com esses nossos ancestrais.
Ela ajuda-nos a compreender as dificuldades que homens e mulheres têm para se adaptar às novas funções que a
sociedade moderna, que está sempre em transformação, nos atribui e exige. Nesse sentido, todos estão
convidados a pensar do ponto de vista das imagens a nossa própria condição, por meio de uma característica
Estudar suas variações, o que, como e em quais condições consideramos algo como arte pode nos ajudar a
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Figura 1 - Pintura do homem do período Neolitíco
Esse homem primitivo, do período Paleolítico1, produzia essas imagens não com o intuito de decorar suas
O objetivo seria o sucesso nas caçadas ou, talvez, para que a caça surgisse novamente2 com o fim da Era Glacial.
2
Há uma teoria que sugere que os desenhos foram feitos com esse propósito, já que essa produção coincide com
O fato é que ao observarmos essas imagens hoje percebemos que aquele homem que desenhava conhecia muito
Provavelmente dedicava parte de seu tempo à coleta de terras e vegetais e à produção de pigmentos, gorduras e
instrumentos.
Daí a suposição de que esse “artista” foi provavelmente muitas vezes o feiticeiro e também talvez o chefe da sua
tribo.
A primeira revolução que temos notícia na evolução do homem moderno teve início com a transição para o
O homem do neolítico aprendeu a cultivar o solo, a domesticar os animais e assim abandonou a vida nômade e
passou a se fixar em locais mais propícios. Logo desenvolveu as primeiras indústrias: cerâmica, pesca - anzol -,
tecelagem – agulha -, construção de habitações e armas. Com a agricultura esses homens começaram a prever o
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tempo (A esperar a estação de chuvas para plantar e estocar para o inverno) e, com isso, desenvolveram a
capacidade de abstração.
Surgiram então os primeiros indícios da maior abstração criada pelo homem: a crença em uma vida após a
morte.
Pouco nos restou dessa arte produzida em aldeias, que não ficou protegida nas cavernas como a do período
histórico anterior.
Aferimos muito sobre esses povos a partir dos poucos objetos que encontramos (Em geral, cerâmicas, objetos
utilitários, armamentos, e esculturas femininas ligadas a ideia de fertilidade.) e pelos estudos realizados
principalmente no século XX por antropólogos que estudaram tribos ditas “primitivas” na América do Sul, na
Atenção
Acabamos de falar em período histórico. A história acontece hoje e sempre, mas ligamos o conceito de história
(Surgido na Grécia com Herótodo e Plínio.) à escrita, pois é quando os fatos se tornam memoráveis (eles são
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2 A antiguidade
As estátuas gregas do periodo de formação da cultura grega apresentam semelhanças com as estátuas egípcias,
mas como os gregos sentiam falta de expressão, criaram o “sorriso arcaico”, esse estranho sorriso nas estátuas
chamadas Corus.
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Figura 4 - Imagem de estátua grega do período arcaico.
A antiguidade clássica
Os gregos eram mercadores, já que o solo grego é montanhoso e pouco propício à agricultura. Assim, fizeram
uma espécie de inventário das culturas dos povos antigos. Depois a sintetizaram, adaptaram e desenvolveram
seus conhecimentos.
Mas até hoje permanece um tanto quanto inexplicável como essas tribos de jônicos, dóricos e coríntios
conseguiram atingir tão alto grau de desenvolvimento cultural, vários séculos antes de Cristo.
A Grécia clássica é considerada o berço da cultura ocidental. Havia conhecimento dos efeitos ópticos.
O Parthenon, por exemplo, possui linhas horizontais ligeiramente curvas - abauladas: chega a 6cm a mais no
meio da parte frontal (Que tem 30m.) e 10cm na lateral (Que tem 70m.). Assim parece ter linhas retas e não
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Figura 5 - Parthenon
• História
• Filosofia
• Arte
Somos todos gregos.
A Grécia produziu os conceitos de história, filosofia, arte e tentou explicar o da vida, por meio dos mitos e do
destino. No campo da arte surgiu o teatro (Nas festas dionisíacas.) e há um notável desenvolvimento técnico da
O escultor Fídias elevou o status do artista plástico (Considerados inferiores porque trabalhavam com as mãos,
como os escravos.) ao mesmo nível do poeta e do músico. Depois dele o escultor Policleto desenvolveu o cânone
das proporções humanas (Aperfeiçoados posteriormente por Praxístoles, outro escultor.), utilizado até hoje
nos cursos de artes, possibilitando criar esculturas com as proporções humanas consideradas ideais.
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Os gregos dominaram plenamente as relações de proporção anatômicas. Nessa escultura, um atleta ideal está
Posteriormente os romanos invadiram a Grécia e, se a conquistaram militarmente, são conquistados por ela
culturalmente. Adotaram seus hábitos e até seus deuses, criando a cultura greco-romana, que chegou até nós.
A Roma Imperial “importou” os artistas gregos e desenvolveu a arte dos retratos. Se na Grécia os deuses
recebiam a forma de homens ideais, em Roma os homens eram idealizados para se tornarem deuses na figura
dos governantes.
Se os egípcios representavam o que sabiam, os gregos reproduziam o que viam. Essa capacidade foi perdida
quando o Império Romano ruiu, e só foi reconquistada na Idade Moderna, no período conhecido como
Renascimento.
3 A idade média
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Gauguin foi um dos primeiros artistas do início do modernismo a revalorizar a arte produzida antes do
Renascimento, ou seja, a arte medieval, por sua expressão livre de convenções de representação. Mas,
Chamamos de Arte Cristã Primitiva a arte dos povos romanos convertidos ao cristianismo, junto com o
Imperador Constantino (Ele mudou a capital do Império de Roma para Bizâncio, que passou a se chamar
Constantinopla.).
No Ocidente, com a instabilidade dos novos reinos, envolvidos em conflitos e sem recursos para manter
artistas profissionais, ocorreu um declínio técnico com o desaparecimento da profissão do artista (Dada
Já em Bizâncio, com os artesãos da Corte, preservam-se os livros e as técnicas, mas um grupo iconoclasta
proclamou que as representações ficariam proibidas, para não serem confundidas com as
representações dos deuses pagãos (Na crença cristã, o Criador é onipresente e onisciente.).
Na parte ocidental do Império Romano essa orientação não era seguida quanto às pinturas, consideradas úteis
“A pintura pode fazer pelos analfabetos o que a escrita faz para os que sabem ler.” (Papa Gregório, o
Grande)
Ano 1000
Por volta do ano 1000, o mapa da Europa já começa a se parecer com o que conhecemos atualmente.
Como o cristianismo era a religião dominante, iniciou-se uma onda de construção de igrejas, que eram a maior
São aproveitadas muitas bases de antigas basílicas romanas e inicia-se uma recuperação dos conhecimentos
tecnológicos das construções. Há destaque para o Império Carolíngeo (De Carlos Magno, que, embora
analfabeto, fundou bibliotecas e valorizou a escrita.). Por esse tempo livros eram artigos caros e raros.
Ano 1150
Por volta de 1150, na Ille de France, uma inovação técnica funda o estilo chamado de gótico.
Tratou da descoberta de que se poderia jogar todo o peso do telhado sobre as colunas e da substituição do arco
Puderam assim fazer construções mais altas com menos peso e material.
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Figura 9 - Notre Dame, em Paris
Esse estilo desenvolveu-se pelos séculos seguintes e culminou na construção de igrejas altíssimas como a de
Notre Dame, em Paris. É cheia de arcobotantes3 e contrafortes, que caracterizam a arquitetura desse período.
3
Para sustentar suas altíssimas paredes e torres, Desenho ilustrativo do que são arcobantes e contrafortes:
Nos telhados dessas igrejas encontram-se as gárgulas4, que eram as saídas de água (Calhas). Eram figuras
monstruosas, utilizadas para simbolizar os demônios que infestavam o mundo e que não podiam entrar na
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Com essas encomendas e algumas outras que decoravam as igrejas, começaram a aparecer artesãos habilidosos
que viajavam vendendo seus serviços. Essa tradição acabou por despertar a carreira de artista profissional, que
Isso explica em parte o surgimento de tantos artistas quando as mudanças da transição do regime feudal para o
A escultura atingiu grande desenvolvimento, pois havia na Itália diversos exemplos (Como nas esculturas
4 A Renascença
O Renascimento - ou Renascença - é marcado por uma corrente de pensamento chamada de Humanismo, que
traz uma valorização do ser humano e da natureza, em oposição ao sobrenatural cultuado na Idade Média.
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Economia: agrária, artesanal e urbana.
Idade Média
Arte: formas góticas
P r é
Período em transição
Renascença
No período conhecido como Renascença, o escultor Donatello utilizou as estátuas para estudar as proporções e
criar novas estátuas equestres, o que não acontecia desde a Antiguidade clássica.
Sandro Botticelli destacou-se na transição da primeira fase para a alta Renascença, fazendo a ligação de temas
Idade Média
Basílica cristã primitiva foi adaptada dos tempos romanos e transfomada em complicado desenho octogonal em
Bizâncio.
Época românica
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Gótico
Renascimento
De posse de todos esses conhecimentos técnicos desenvolvidos, a ideia de arquitetos como Brunelleschi foi no
sentido de refinamento estético, retornando aos conceitos clássicos de equilíbrio, harmonia e mantendo a ideia
de proporção entre as partes, a partir de relações matemáticas e compreensíveis de todas as vistas das
construções.
Iniciou-se por volta do final do século XIV e durou até o início do século XVII, com muitas variações entre as
O espírito de interpretação científica do mundo levou - na pintura - ao surgimento de diversas inovações, como a
perspectiva, a composição piramidal, a pintura a óleo e o claro escuro (Chiaroscuro), que ajudaram a criar a
ilusão de volume no plano da tela e iniciou uma tendência à busca de um maior naturalismo na representação
das imagens.
Leonardo Da Vinci
No alto Renascimento conhecemos a obra de muitos grandes artistas que consolidam essas descobertas.
Em sua pintura a óleo mais conhecida, a Mona Lisa, podemos ver a composição piramidal, a maestria no uso do
sfumato.
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Figura 11 - Monalisa
Ele não terminou de desenhar os cantos dos olhos e a boca da figura. Deixa essas partes imersas em sombras
“esfumaçadas” e o observador completa a imagem. Esse recurso – de deixar para o observador a tarefa de
completar a imagem - foi compreendido somente no século XX pela teoria da Gestalt (Psicologia da forma).
Mas na arte foi “inventada” por Leonardo no Renascimento e desenvolvida depois no Barroco por Velasquez,
Observe a Monalisa pelos dois lados – direita e esquerda – e perceba como ela parece continuar olhando
pra você.
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Figura 12 - “Santa Ceia”, por Leonardo da Vinci
Os apóstolos são agrupados três a três formando triângulos e a própria imagem do Cristo parece um triângulo
Michelângelo
Michelângelo considerava que a tarefa do escultor era a de remover as partes que ficavam ao redor da imagem e
Atuou como pintor no teto da Capela Sistina no Vaticano (a imagem de Deus ainda hoje presente na infância).
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“Agonia e Extâse”
Você Sabia?
Que as “Tartarugas Ninjas” receberam seus nomes como uma homenagem do desenhista aos artistas
renascentistas:
Na Antiguidade Fídias tornou-se célebre ao dominar com maestria a arte de esculpir em formas proporcionais
A ele se seguiram muitos outros, como Praxístoles, Míron, Policleto, Lisipo e Escopas, que também se destacaram
por seu talento. Somente no Renascimento voltamos a ter artistas cuja fama conquistada fez com que seus
Raphael
Raphael ficou famoso não só pelo domínio das técnicas como também por sua capacidade de criar arranjos
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Já Ticiano, em Veneza, inovou equilibrando os arranjos com cores e objetos.
O Maneirismo tem sido reexaminado, mas tende a ser visto como uma fase de transição e do surgimento de
novas pesquisas. El Greco, Tintoretto, Parmigianino, Holbein (pintores) e Celinni (escultor) são alguns exemplos
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5 O Barroco
“Penso, logo existo.”
René Descartes
No século XVII inicia-se o período conhecido como Barroco. Ocorreram então grandes mudanças na estrutura do
pensamento ocidental com a revolução científica.O mais influente filósofo foi René Descartes.
Com esse espírito os pensadores deixaram de acreditar em dogmas e passaram a aceitar apenas aquilo que podia
defendida pela Igreja - de um mundo ordenado, limitado e imóvel, para a de um mundo em constante
(Um processo iniciado pelo Maneirismo que parece um período de transição entre esses períodos.), de maneira
completamente diferente das formas estáveis, da composição equilibrada e muitas vezes estática (Em geral
em forma de triângulo.), utilizada pelos mestres renascentistas, mais racionais e menos emocionais que os
barrocos.
É caracterizada por suntuosidades, exageros ornamentais, efeitos de claro/escuro (Luzes por vezes teatrais,
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A origem da palavra “barroco” é irregular, contorcido, grotesco.
É o resultado na arte dos diversos acontecimentos do período, como restabelecimento de um catolicismo forte
em desacordo com o novo papel da ciência, como resultado da Contra- Reforma e o Estado Absolutista.
Na Holanda, com a Reforma desapareceu o principal cliente, a Igreja. Os artistas começaram a fazer seus quadros
sem encomendas e os levar para vender nas feiras, de modo semelhante ao que ocorre hoje.
Surgiram então os pintores de gênero, entre os quais “Veemeer Van Delf”, mestre da luz, que acaba com os
últimos vestígios de ilustrações bem humoradas e de cenas anedóticas (Que tinham sido muito comuns nos
períodos anteriores.), pintando mulheres em afazeres diários simples, porém cheios de dignidade. Com as
naturezas mortas produzidas pelos artistas holandeses, começou-se a demonstrar que o tema de uma pintura é
Na escultura do período há destaque para Lorenso Bernine, que criou efeitos extremamente emocionais para
despertar sentimentos e desenvolveu tratamentos das roupagens para aumentar o efeito de excitação e
movimento.
Em arquitetura, as regras de bom gosto – introduzidas por Andréas Palladio em seu livro Os quatro livros da
Havia o ideal de dignidade e simplicidade em Igrejas protestantes – salas de reunião para meditação, em
oposição às Igrejas barrocas, que, para impressionar, dominar e exibir seu poderio, eram suntuosamente
decoradas.
No Brasil, guardadas as proporções com a Europa, também havia o contraste entre as casas simples e as Igrejas,
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Figura 14 - “Lição de Anatomia”, de Rembrandt. Exemplo de arte barroca.
Pouco mais de um século antes, Leonardo da Vinci quase foi queimado como bruxo por dissecar cadáveres.
No período barroco, o aprendizado é sistematizado em universidades e essa se torna uma prática usual, que
O Barroco no Brasil
A arte populariza-se por meio das Igrejas, principalmente em Minas Gerais, com destaque para Antonio
Francisco Lisboa, o “Aleijadinho”, que sofreu de doença que levou gradativamente à amputação de seus dedos e
mãos.
Em sua fase final, consta que seus auxiliares amarravam as ferramentas para que ele pudesse trabalhar.
Em oposição ao estilo oficial que seria trazido pela Corte para a fundação da Real Academia de Artes e Ofícios,
Com a despreocupação das relações de proporções corretas das obras neoclássicas, criam-se trabalhos de forte
apelo emocional e de grande expressão. É possível a comparação, em termos de história, com o período que se
seguiu à decadência da cultura greco-romana e da expansão do cristianismo, quando a arte se caracterizou pela
perda do conhecimento das proporções do desenho “correto” e pela maior transmissão das emoções e dos
É a primeira manifestação representativa de uma contribuição brasileira para a história da arte, e traz os
Trabalhos de Aleijadinho
Isolado da Europa, o Brasil desenvolveu um barroco tardio, próprio, muito expressivo e livre das regras de
proporção acadêmicas. O barroco brasileiro foi revalorizado principalmente a partir da década de 1920, quando
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Figura 15 - “Os doze profetas”, de Aleijadinho
6 O Rococó
Com a decadência do mundo aristocrático, os pintores passaram a observar a vida de homens e mulheres
comuns de seu tempo, Chardin foi o mais notável dentre esses J.H. Fragonard produziu temas de aspectos
Já Watteau pintou o gosto da aristocracia francesa do começo do século XVIII e o que é mais caracterizado como
período Rococó: a predileção por cores e decorações delicadas que sucederam ao gosto mais robusto do período
7 A arte neoclássica
O Neoclássico será consolidado 100 anos depois na França, com as descobertas arqueológicas de Herculano e
Pompéia, somadas a um maior poder de reprodução e difusão de descobertas e de ideias. Foi o estilo oficial do
Revolução Industrial
Destruiu a tradição do artesanato e progressivamente vai transformando a vida, principalmente nas grandes
cidades.
Revolução Francesa
Independência Americana
Serviu como modelo para as independências das colônias da Europa e para o fim da escravidão.
O iluminismo
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A era da razão: desenvolve-se na França uma série de ideias que tem como objetivo combater a ignorância e o
Há uma inerente ideia de progresso, e foi um movimento intelectual do século XVIII, com base nas ideias de
8 O Romantismo
O escritor Goethe proclamou:
“O sentido é tudo”
Foi uma reação contra a Idade da Razão e uma reação contra a industrialização gerada pelas primeiras
máquinas (vapor).
As novas fábricas geraram operários miseráveis nas cidades, próximos do convívio com os artistas e escritores e
Eugène Delacroix
- 22 -
Eugène Delacroix tornou-se o líder do movimento romântico depois da morte de Géricault. Pintava temas de
literatura e eventos comoventes, carregados de violência, em oposição à calma das pinturas neoclássicas.
Caracteriza-se por cores voluptuosas, curvas exuberantes, tons intensos, contrastes vívidos, formas turbulentas
e amplas pinceladas
Theodore Gericault
Na pintura, Theodore Géricault pintava corpos em luta e realidades contemporâneas suas, mas sua ênfase na
Willian Turner
Willian Turner pinta tempestades saídas de sua imaginação. Elimina os detalhes para concentrar-se no essencial,
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O romantismo liberta a pintura da ideia de cor aplicada sobre um desenho.
A cor passa a ser modeladora de formas, ideia desenvolvida no moderno. Desafiou a tradição e pintou buscando
não reproduzir a realidade com precisão, mas captar sua essência. O caminho abriu-se à arte moderna, à
expressão e à abstração.
- 24 -
Pintou paisagens serenas e suaves que traduzem o conceito de pictórico (Belas paisagens, que se opunham às
Esses dois pintores ingleses estabeleceram a pintura de paisagens como gênero de primeira grandeza no
romântico. Observe que foi então que o homem começou a deixar o campo para ir trabalhar nas indústrias e
Começou a perder então o contato direto com a natureza, que passa a “entrar nas casas como paisagens
idealizadas”.
Ainda na Inglaterra, Willian Blake, outro artista de destaque, é anticlássico e mostra as primeiras inclinações ao
simbolismo. Pintor e poeta, faz da intuição das forças eternas e sobre-humanas da criação o tema de sua arte.
O escultor François Rude, cujos relevos podemos encontrar no Arco do Triunfo de Paris, alterou a composição
neoclássica e imprimiu movimento às esculturas. Rompeu assim com a frieza e o intelectualismo neoclássico em
Pintor espanhol que não se limita às classificações dos estilos, revelando as contradições e limitações das
classificações da história da arte. Embora tenha alguns aspectos românticos, sendo considerado um dos
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Retratista sem compaixão, Goya representava feições que revelavam a fealdade e o vazio de seus modelos. Suas
ilustrações não são de temas habituais, mas de visões fantasmagóricas e sobrenaturais. Algumas pinturas
mostram a guerra não como espetáculo glorioso, mas como opressora, cruel e injusta.
Figura 18 - Rude
No relevo de Rude também vemos figuras vestidas como soldados clássicos, porém apresentam o movimento e a
expressividade da arte romântica, mostrando como essas tendências se misturaram nas obras dos períodos.
- 26 -
Por Diego Velásquez, óleo sobre tela, 318 x 276 cm. Museu do Prado, Madri.
O jogo de espelhos revelado pela pintura “As meninas”, de Velásquez (Do período barroco.), fez com que o
quadro como um todo olhasse a cena para a qual ele representava. Uma cena com a pura reciprocidade do
espelho que olha e que é olhado já indicava o olhar da pintura sobre ela mesma. Esse caminho levou ao
desaparecimento da questão da representação clássica que permitia, por fim, a libertação da arte da tarefa de
Velásquez potencializou a lição de Leonardo de apenas sugerir (Usada nos cantos da boca e dos olhos da Mona
Lisa.), estendendo-a também às próprias mãos (Que são apenas manchas.). Estas apenas dão a impressão de
mãos. Essa ousadia fará dele uma referência para os pintores impressionistas.
CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• Compreender as diversas transformações ocorridas com o conceito de arte;
• Ter noções de evolução histórica das sociedades e das suas transformações correspondentes nas artes,
percebendo que há uma ligação entre as duas;
• Identificar noções de história da arte;
• Conhecer os agentes principais (artistas) de cada corrente de pensamento (estilo);
• Familiarizar-se com nomes representativos da história da arte.
- 27 -
ESTÉTICA E HISTÓRIA DA ARTE
CONTEMPORÂNEA
-1-
Olá!
Ao final desta aula, você será capaz de:
2. Promover a compreensão e análise da diferença entre arte realista ou naturalista clássica e arte moderna, pela
1 Introdução
Olá! Seja bem vindo à nossa aula!
A invenção da fotografia delimitou o campo de conhecimento da modernidade. Essa história vai ser vista em
nosso estudo por meio de alguns marcos conceituais estéticos. Na história da arte esses primeiros momentos são
Hoje a fotografia é mais uma forma de arte, como a instalação, a arte digital, a pintura, o objeto, a escultura, a arte
pública etc. A compreensão dessa evolução da arte é fundamental para a atualização do profissional que trabalha
com a imagem. Vamos começar a estudar essas mudanças, ocorridas no final do século XIX e na virada do século
XX.
Na aula 1, vimos que a afirmação consciente de um “olhar puro1” surge com Manet, no domínio da pintura
impressionista.
1
O termo designa a onipotência do olhar criador do artista sobre aquilo que lhe pertencia em particular, ou seja,
a forma e a técnica enquanto um fim exclusivo da arte, e como uma espécie de retorno reflexivo e crítico dos
-2-
Figura 1 - ‘Un ba raux folies Bergère’, por Manet.
Essa ideia da forma e a técnica enquanto um fim exclusivo da arte significou uma espécie de retorno reflexivo e
crítico dos produtores sobre sua própria produção - e já era pressentido por Velasquez em As meninas.
Esse foi o caminho que caracterizou a arte moderna, principalmente na interpretação do principal crítico do
século XX: Clement Greenberg. Ele foi também o principal teórico do Expressionismo abstrato norte-americano,
Vamos iniciar vendo como foi a história do nascimento da arte moderna, quando ela superou as concepções
-3-
Ainda na primeira metade do século XIX, Gustave Coubert passou a retratar temas sociais e pessoas simples,
contrapondo-se à concepção acadêmica tradicional dominante nos salões de arte até então, de haver “temas
O sucesso nesses salões era o caminho para que um artista conseguisse estabelecer uma carreira. Esse tinha se
tornado o sistema, desde que o ensino e a formação do artista "passaram a ser feitos nas academias",
inicialmente mantidas pelas monarquias (Que as criaram) e, depois, pelo poder oficial das novas repúblicas.
Você sabia?
Que o aprendizado do artista no tempo de Leonardo da Vinci - antes da instituição das academias de arte - era
com um “mestre”, iniciando-se na juventude no preparo de tintas e telas e evoluindo sob a tutela do mesmo. O
-4-
Figura 5 - “O Batismo de Cristo de Verrocchio” é o primeiro trabalho importante de Leonardo da Vinci como
aprendiz. A pintura foi feita junto com seu mestre Verrocchio.
Ao se recusar a pintar os temas aceitos pela academia, Coubert assinalou uma tendência social - ele era
comunista -, que já se fazia notar, por exemplo, nos trabalhos de Millet, Corot, Daumier, dentre outros artistas
Essa primeira revolução, ainda que basicamente temática, recebeu o nome de Realismo. Ela irá se aprofundar
com Manet, que foi amigo e admirou Coubert e continuou o desenvolvimento dessa ideia, porém em sentido
técnico.
Fotografia
Técnica
Ciência
(Na definição da estética impressionista.)
2 O impressionismo
O movimento impressionista surgiu em Paris, entre 1860 e 1870.
A primeira apresentação ao público incluiu artistas “independentes” em 1874, no estúdio do fotógrafo Nadar.
-5-
Berthe Morisot (1841-1895)
Necessidade de redefinir a essência pictórica diante da fotografia como novo modo de apreensão da realidade. A
tecnologia e a ciência ofereciam novas possibilidade, enquanto mudavam os rumos da arte e da pintura.
Principalmente porque a fotografia era, até então, uma das formas privilegiadas para se reproduzir (captar) a
Deriva de um comentário irônico de um crítico de arte sobre um quadro de Claude Monet intitulado Impression,
Soleil, Lévant (Impressão, Sol, Nascente, 1872, oléo sobre tela, 50x62 cm, Museu Marmottan, Paris), o qual foi
Com a difusão da fotografia, as serviços sociais passaram do pintor para o fotógrafo. A crise atingiu os pintores
de oficio, deslocando a pintura para o nível de atividade de elite, com público restrito e alcance social Limitado. A
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fotografia permitiu um rápido progresso técnico que permitiu a redução dos tempos de exposição das
imagens (Pela primeira vez, os modelos não precisavam pousar por horas e dias para o pintor.) e permitiu
A fotografia "artística" levantou a questão se a pintura como arte era "superior" à fotografia. O Impressionismo,
mesmo estando estreitamente vinculado à divulgação social da fotografia, tendeu a competir com ela em três
aspectos:
Na instantaneidade da imagem
Na vantagem da cor
Os simbolistas, ao contrário, recusaram qualquer relação com a fotografia, reconhecendo que esta superava a
pintura quanto à apreensão e representação das aparências da realidade. Procuraram apelar para a imaginação,
argumentando que o pintor podia imaginar e criar o que a câmara fotográfica não poderia registrar.
Descobriu-se que a fotografia, que era mais exata na reprodução da imagem, não utilizava a linha, base de toda a
arte desde o Renascimento. Os impressionistas passaram a formar suas imagens através de manchas e, nesse
sentido, retomaram a Velasquez que explorara essa técnica e desenvolveram as ideias de Coubert e Manet.
Observe no quadro “As meninas” - a última imagem da aula passada -, como esse artista apenas “deu a
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Figura 7 - “As Damas de Honra ou As Meninas”, por Diego Velásquez, óleo sobre tela, 318 x 276 cm. Museu do
Prado, Madri.
O fotógrafo manifesta inclinações estético-psicológicas na escolha dos temas. Daí não haver um olho imparcial na
fotografia.
A fotografia permite ver um grande número de imagens que escapam, não só à percepção, como à atenção visual
Exemplo
Movimentos das pernas de uma dançarina, um cavalo a galope, os universos do infinitamente pequeno e
-8-
Como exemplos de manifestações artísticas do período (fim do século XIX), temos o realismo simbólico do Pós-
Impressionista Henri de Toulouse-Lautrec e o impressionismo de Edgar Degas que lançaram mão de materiais
fotográficos para expressar seu interesse pelo espetáculo social. Outros pintores tornaram-se fotógrafos.
No entanto, só surgiu uma fotografia modernista de alto nível técnico quando os fotógrafos deixaram de se
3 A arte no Brasil
No Brasil, D João VI criou no início do século XIX a Real Academia de Belas Artes, a partir de um grupo de artistas
franceses.
A Missão Francesa implementou no Brasil o estilo Neoclássico, que se tornou oficial. Logo, foi criado o Salão
Nacional, cujo primeiro prêmio era uma viagem à Europa. Assim se reproduziu aqui, ao longo do século XIX, o
modelo acadêmico.
Somente no final desse século, surgem as influências do Romantismo e do Realismo. O Impressionismo só vai
aparecer por aqui, bem mais tarde, no início do século XX, como tendência (influência) à exceção de alguns
poucos artistas como Eliseu Visconti. Esse artista será uma referência importante para o surgimento tardio do
Modernismo no Brasil.
-9-
4 O pós-impressionismo
O Pós-Impressionismo é o nome dado hoje às diversas tendências que buscaram superar o Impressionismo, ou
seja, encontrar outros caminhos possíveis para o desenvolvimento da arte, após a compreensão e aceitação do
Impressionismo.
- 10 -
Figura 10 - “Montanha Santa Victoria”, Paul Cézanne.
/cursos/DIS025/doc/01EH_aula03_O_pos-impressionismo.pdf
Pontilhismo
Esta técnica foi desenvolvida por Serrat e buscava estrutura e forma. Fragmentou a pincelada impressionista em
intensidade graduada para criar profundidade, assim buscando a mistura de cores pelo cérebro. Substituiu os
Os verdes desta pintura são formados por pequenos pontos azuis e amarelos que se somam em nossa visão,
criando a visão dessa cor (verde) por mistura ótica. Esse efeito também é usado para produzir outras cores.
A corrente do simbolismo (Que se apresentava como alternativa ao Pontilhismo.) queria superar a pura
- 11 -
sobrevivência da pintura. Os simbolistas queriam trazer à realidade (Em forma de pintura.) algo que pertence
ao espírito, valorizando a imaginação, pintando o sensível, sem ter necessariamente uma correspondência com o
real.
Os simbolistas buscavam representar o que não podia ser fotografado, mas imaginado, sonhado.
Alguns outros artistas fizeram pesquisas individuais que se tornaram muito importantes porque lançaram a base
Gauguin
Inicialmente era um simbolista (Mas sua influência vai além deste movimento.). Defendia que se pintasse de
memória, com isso, favorecendo a sensação, a dimensão da imaginação. Acreditava que o homem tinha perdido a
força e a intensidade do sentimento e o modo de expressá-lo, propondo assim, um regresso ao primitivo, mas
- 12 -
Cézanne
Deu importância à estrutura, à essência. Modulou pela cor pura e expôs com os impressionistas.
Van Gogh
Por influência de Gauguin alguns dos seus quadros do início da carreira tinham cores lisas.
Posteriormente foi assumindo suas pinceladas que foram ficando mais marcadas, densas e vibrantes, tornando-
- 13 -
O que vem na próxima aula
Nesta aula você teve a oportunidade de perceber o surgimento do realismo, do impressionismo, do pós-
CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• Compreender o contexto histórico do final do século XIX, quando ocorreu o Impressionismo em Paris,
França;
• Contrapor o Impressionismo à invenção da fotografia, quando a máquina exigiu a definição de um “olhar
puro” por parte dos artistas modernistas;
• Perceber qual a imagética própria do movimento impressionista.
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ESTÉTICA E HISTÓRIA DA ARTE
CONTEMPORÂNEA
PÓS-IMPRESSIONISMO E EXPRESSIONISMO
-1-
1 Introdução
Olá! Seja bem vindo à nossa aula!
(Como na Art Nouveau e nas pesquisas de Munch, Van Gogh, Gauguin e Toulouse-Lautrec.) vai se desenvolver
Como consequência da deformação formal e da descoberta de seu poder expressivo, Kandinsky vai abandonar a
O trabalho de Rodin é inicialmente influenciado pelas tendências realistas e impressionistas, mas vai evoluindo e
passa a destacar as emoções e significados que transcendem a pura representação, revelando as diversas
-2-
Figura 2 - “Cinco mulheres na rua”, Ernest L. Kirchner
Como vimos na aula anterior, os artistas pós-impressionistas não queriam destruir os efeitos impressionistas,
mas sim levá-los mais adiante, no sentido de uma intervenção estético-política na realidade burguesa.
No início do século XX, a tendência a valorizar a expressividade vai dominar com o desenvolvimento dos
Um gesto é uma ação intencionalmente expressiva. Toda arte é expressiva (De seu autor e da situação em que
ele trabalha), mas certa corrente artística pretende nos impressionar através de gestos visuais que transmitem, e
-3-
Figura 3 - “Amantes com gatos”, Oskar Kokoscha, uma das obras expressionistas
Uma considerável parcela da arte de século XX foi desse gÊnero, especialmente na Europa Central, e o rótulo
“Expressionismo” foi-lhe aplicado – assim como as tendências comparáveis na literatura, arquitetura e música.
Atenção
Nunca houve um movimento chamado Expressionismo, embora se possa aplicar essa intensificação do poder
Na verdade, existe uma discussão sobre tal afirmação de que o Expressionismo nunca tenha sido um movimento
de arte. Ocorre que o Expressionismo foi muito além disso, consistindo num movimento cultural e na mudança
de comportamento e atitude dos artistas, logo não poderia ser classificado apenas como um movimento artístico.
-4-
2 O Fauvismo
O movimentp fauve – ou fauvismo – começou em Paris, associando Henri Matisse, André Derain, Maurice de
Vlaminck e outros, que expuseram juntos pela primeira vez em 1905. O Fauvismo é, sob muitos aspectos, uma
manifestação artística moderna e, provavelmente, teve mais influência sobre os alemães do que eles mesmos
admitiram.
Este trabalho chamou a atenção de artistas e críticos e se tornou uma espécie de manifesto do Fauvismo.
O nome fauve - fera em francês - foi utilizado como referência ao modo como esses artistas liderados por Matisse
“atiravam” (Pintavam, dispunham.) as cores sobre as telas. Ou seja, como feras, como selvagens. Gauguin (Que
tinhe proposto anteriormente retornar ao modo de pintura dos primitivos, ou da pintura anterior ao
Renascimento, como alternativa à arte acadêmica que ele considerara convencionada e sem sentimentos.), vai
O próprio Gauguin abandonou a Europa e foi viver no Taiti, em busca de uma vida mais livre em contato com os
povos “primitivos” e não contaminados pela cultura europeia. Sua ideia de cores não convencionadas (Ele
representava, por exemplo, árvores vermelhas com troncos azuis.) vai ser desenvolvida por esse grupo que faz
Atenção
-5-
O Fauvismo nunca foi um movimento com objetivos que pudessem ser realizados como foi o Cubismo, mas um
No trabalho de Matisse os motivos (coisas) representados são menos importantes do que o modo como são
representadas.
-6-
Henry Matisse, André Derain, Maurice Vlaminck e alguns artistas estiveram estudando, desenvolvendo e
expondo um estilo de pintura que lhes deu o apelido de “Les Fauves” (Em francês, As Feras.).
A partir de 1907
Suas pesquisas tornaram-se independentes demais para serem tratadas conjuntamente em suas buscas pessoais
-7-
Figura 8 - “As árvores roxas”, por Maurice Vlaminck, 1906.
Seus trabalhos caracterizavam-se, de maneira geral, pela liberdade de expressão, através do uso de cores puras e
Apenas expunham juntos por afinidades. Tinham convicções e ideias firmes e pessoais que foram
Quando expuseram nas duas principais exposições de arte moderna de Paris (o Salão dos Independentes e o
Salão de Outono), causaram grande impacto, deixando perplexos aqueles que viram os trabalhos pela primeira
vez.
3 O Expressionismo
O Expressionismo está principalmente associado a dois grupos informais de artistas da Alemanha:
Outros artistas são geralmente agrupados a esses, como Oskar Kokoscha de Viena e Lyonnel Feininger
Os artistas de Munique, que expunham sib a égide de um almanaque intitulado DER BLAUE REITER (O Cavaleiro
-8-
Composição #8, 1923, 140 x 201 cm, óleo sobre tela, Museu Guggenheim, Nova York.
-9-
A distorção progressiva da forma do expressionismo levou Kandinsky à conclusão de que o poder expressivo das
de.), foram movimentos realistas que exigiam a dedicação total do artista à questão da realidade.
Expressionismo
Do interior para o exterior. É o sujeito que, por si, se imprime ao objetivo. Precursor: Vincent Van Gogh. Atitude
volitiva/agressiva.
Impressionismo
Do exterior para o interior. É a realidade (objeto) que se imprime na consciência (sujeito). Precursor: Édouard
- 10 -
Excluiu-se, a partir daí, a hipótese simbolista de uma realidade vislumbrada no símbolo e no sonho (Arte
hermética ou subordinada ao símbolo ou código.) e se esboçou, então, a oposição entre arte engajada (Que
incide sobre a situação histórica.) e uma arte de evasão (Que se considera alheia e superior à história.).
Impressionismo e Expressionismo:
• Solução dialética e conclusiva da contradição histórica entre clássico e romântico, constantes estéticas
das culturas latina mediterrânea e germânico-nórdica.
• Ao ser excluída a referência à herança do passado, os dois movimentos tinham como objetivo enfrentar a
situação histórica presente com plena consciência.
• Ocorreu, então, uma agudização da divergência entre cultura latina e cultura germânica, com a disputa
para a conquista da hegemonia político-econômica da Europa.
• Desse conflito, observado na arte, eclodiram a Primeira Guerra Mundial de 1918 e a Segunda
Guerra Mundial de 1939. Com profundas consequências na arte.
Também apresentamos como surgiu o movimento das primeiras vanguardas do século XX, uma característica
CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• Determinar o contexto europeu histórico de começos do século XX, quando ocorreram as principais
vanguardas expressionistas: O Fauvismo e o Expressionismo;
• Contrapor o Expressionismo ao Impressionismo, percebendo suas injunções histórico-sociais;
• Perceber qual a imagética própria dos movimentos expressionistas.
- 11 -
ESTÉTICA E HISTÓRIA DA ARTE
CONTEMPORÂNEA
-1-
Olá!
Ao final desta aula, você será capaz de:
1 Introdução
Olá! Seja bem vindo à nossa aula!
A linguagem modernista, criada a partir da óptica impressionista, é definitivamente afirmada pelo geometrismo
e pelo alto nível de abstração que atingiu a imagética do cubismo, embora essa escola tenha evitado a abstração
pura.
O cubismo vai ser a mais influente das chamadas vanguardas históricas do modernismo, influenciando e sendo
Paralelamente, vamos olhar o desenvolvimento do modernismo no Brasil, a partir da “luta” dos nossos primeiros
modernistas para vencer a defasagem de informação, responsável por nossas limitações artísticas e culturais no
período.
Pablo Picasso
-2-
Pablo Picasso, pintor e escultor espanhol, é considerado um dos artistas mais importantes do século XX. Artista
Inventor de formas;
Artista gráfico;
Escultor.
-3-
2 O Cubismo
O movimento foi introduzido por “As Senhoritas de Avignon” em 1907, que desconcertou a todos por ser uma
Resumia as realizações de Picasso e, sua técnica expressionista e emocional, era estranha ao Cubismo. Mas esse
quadro suscitou problemas que o Cubismo iria resolver e abriu as possibilidades para seu desenvolvimento.
Esse quadro criou novos cânones de beleza estética, destruindo as distinções tradicionais entre o belo e o feio.
Também atraiu Braque, pintor jovem e talentoso que alterou todo o desenvolvimento de sua arte, aproximando-
se de Picasso.
O Cubismo era uma arte formalista preocupada com a reavaliação e reinvenção de procedimentos e valores
pictóricos. Era uma arte de conteúdo intelectual elevado e, em geral, calmo e reflexivo.
-4-
Figura 3 - “Natureza morta”, Georges Braque. Exemplo de obra do cubismo.
1907
1914
Termina o cubismo, como movimento, com a eclosão da 1ª Guerra Mundial, tendo boa parte dos artistas sido
1925
-5-
Você percebe a influência da arte africana nesta escultura?
Seus principais focos de resistência foram as artes decorativas e a arquitetura do século XX.
Considerado como um ato de percepção individual, o movimento inspirou-se na arte africana e na geometrização
das figuras iniciada por Cézanne, que resultou em uma arte intuitiva e bastante abstrata, derivada da experiência
O Cubismo rompeu com o conceito de arte como “imitação da natureza”, que vinha desde o Renascimento, bem
1 - A perspectiva, consistindo na ilusão de profundidade em uma superfície plana, base da pintura européia por
2 - O chiaroscuro (Claro- escuro) ou luz-e-sombra, indicando uma nova técnica criada no Renascimento para
3 - A pirâmide ou configuração piramidal e tridimensional do espaço da tela, tendo como clímax uma imagem
central que substituiu os retratos em perfil e o agrupamento de figuras em grade horizontal típicas das artes
bizantina e medieval.
“Uma arte que trata de formas, e quando uma forma é realizada, ela aí está para viver sua própria vida.”
Apesar da identificação imediata do movimento cubista à figura de Pablo Picasso, vários outros artistas deram
-6-
Figura 6 - “Casas de L´Estaque”, de Georges Braque.
-7-
Figura 9 - Robert Daleunay (1885-1941)
-8-
Figura 12 - “Vista da Baía”, Juan Gris.
-9-
Figura 15 - e Piet Mondrian (1872-1944).
Figura 16 - “Composição 10”, de Piet Mondrian. No período anterior ao desenvolvimento de sua arte de
abstração geométrica pura: o neoplasticismo ou De Stijl – O Estilo.
e outros artistas que se destacaram com o dadaísmo, como Francis Picabia (1879-1953) e Marcel Duchamp
Fase 1
Protocubismo:
Em que a influência da escultura africana revela-se através da pesquisa contínua das deformações expressivas
do corpo humano.
Fase 2
- 10 -
Cubismo Analítico:
Fase 3
Cubismo Sintético:
colagens.
- 11 -
Atenção
O Cubismo pode ser identificado com o espírito da arte moderna ao buscar deformar, efetivamente, um rosto
picassiano, não deixou de ser, na deformação da imagem ou da figura, uma arte da representação, enquanto na
arte tribal o que era deformado era uma imagem dada ou a própria realidade.
Abandono da iluminação “naturalista” de suas telas e das relações moduladas entre elementos formais.
Ênfase no contexto de uma composição, que permite a leitura de um espaço consistente ou fechado.
Ênfase no espaço inteiramente ocupado por formas e planos- como, principalmente, em Gris e Léger.
Ênfase em um espaço real semelhante a uma caixa - como em Picasso, Gris ou Braque.
Ênfase em um espaço identificado com a própria superfície da tela, através da aplicação de uma base
completamente pintada, suave e/ou opaca. (como em Picasso, também presente na pintura de Matisse (mais
3 O Futurismo
O Futurismo1 foi influenciado e retroalimentou (influenciou de volta.) o Cubismo. Vamos agora saber um
- 12 -
Figura 17 - “Estados de alma nº1. Os adeuses”, Umberto Boccioni
inicialmente em palavras. Logo, partiu de uma ideia geral, em vez de algum descontentamento com idiomas de
arte herdados e da ambição de criar novo idioma. Rejeitou todas as tradições, instituições e os valores
consagrados pelo tempo. Propagou suas ideias muito rapidamente pela Europa e embora tenha durado pouco,
- 13 -
O fim do Futurismo
A guerra precipitou o fim do Futurismo. A “Única Higiene do mundo” (Segundo o seu manifesto primeiro.)
eliminou Sant’Elia e Boccioni em 1916. Os outros passaram para estilos e atitudes mais tradicionais. Marinetti
O Futurismo teve importância fundamental e duradoura e como esteve envolvido profundamente com o
Sem o futurismo o Cubismo não teria desempenhado um papel tão grande na arte moderna. Sua influência chega
opostas.) e a arte (Principalmente a arquitetura.) revolucionária russa, é uma concretização do que os futuristas
tinham tentado.
Somente com o desenvolvimento do Modernismo, o trabalho de artista do barroco brasileiro voltaram a ser
valorizados.
Apesar da relativamente intensa atividade pictórica no Brasil colonial - principalmente no Rio, Bahia, Minas e
Pernambuco, os artistas, com raras exceções, não eram profissionais e sim homens de fé e engenho ou talento,
provenientes de diversos países. Foram, em geral, feitas para adornar igrejas, eventualmente palácios e
raramente residências.
- 14 -
Não há grandes nomes a destacar e muitas obras são anônimas.
No período barroco que surgem alguns dos mais belos monumentos religiosos do Brasil. A pintura colonial (Em
toda américa latina.), vincula-se a tendências e estilos europeus, com natural defasagem cronológica e limitados
recursos técnicos.
Em Minas, Aleijadinho nos dá algumas das igrejas rococós mais belas do mundo. Com ele se inicia uma fase
Além de riquezas, proveniente do ouro e das pedras preciosas, havia as irmandades, às quais se ligavam as
corporações de ofício - separadas pela cor: brancos negros e mulatos - e essas por sua vez competiam entre si.
No século XIX, a arte no Brasil seguia uma orientação basicamente acadêmica, dependente do
Estado que patrocinava as poucas viagens ao exterior (Dado ao vencedor do primeiro prêmio do salão
nacional) e das poucas escolas (Principalmente a Escola Nacional de Belas Artes fundada por Debret e pela
Missão Francesa) e instituições culturais como a Academia Brasileira de Letras. O intercâmbio dava-se sem
renovação - os artistas iam sempre estudar nas mesmas academias da Europa. Tudo isso levava nossa arte no
início do século XX a manifestar, no máximo traços dos movimentos anteriores ao Impressionismo e somente em
alguns pintores.
Embora haja traços impressionistas em trabalhos de Eliseu Visconti, só foi haver verdadeiramente uma ruptura
entre a arte moderna e acadêmica a partir dos acontecimentos marcados pela semana de arte moderna2 de
22.
2
Esses marcam a luta do Modernismo para impor na arte nacional a compreensão de linguagens, que desde o
Antes da semana, a exposição de Anita Malfatti, apoiada por Di Cavalcanti, só não foi ignorada como a do
expressionista alemão Lazar Segal (Que depois se naturalizou e adotou o Brasil), em 1913, graças a um artigo
de Monteiro Lobato.
Ele chega a contar uma anedota, na qual a pintura produzida pela cauda de um burro chegou a ser confundida e
admirada como uma novidade do Cubismo, na critica para depreciar o Modernismo que se apresentava nos
- 15 -
Figura 19 - Anita Malfatti
Algumas obras expressionistas de Anita Malfatti: artista foi apoiada por Monteiro Lobato.
Esses acontecimentos dão-se em São Paulo, então já com seu aspecto de cidade do século XX.
Prospera economicamente com bondes, automóveis, indústrias, ferrovias e mais distante das influencias da arte
oficial.
Como antecedente houve também o artigo de Mário de Andrade (“escrito com vontade de botar uma bomba no
centro do mundo”), Paulicéia Desvairada, produzida sobre o impacto de uma obra de Victor Brecheret.
A missão francesa
Com a vinda da família imperial para o Brasil, importou-se o modelo oficial europeu, com a criação de uma
Academia Real no país. A Missão Francesa chegou ao Brasil em 1816, após a queda de Napoleão (1814/5).
1816
O chefe da delegação era Lebreton e o principal artista foi Jean Baptiste Debret, que documentou a vida na
colônia com espírito crítico e humor. Ele escreveu e ilustrou inclusive A Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil,
retratando a vida de índios, escravos, crianças e outros excluídos que não interessavam aos artistas ligados à
corte.
1817
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Foi fundada a Escola Real das Ciências, Artes e Ofícios, sendo que Debret organizou ainda as duas primeiras
exposições de 1829 e 1830 da Academia Imperial. Nicolas Taunay, o mais talentoso pintor irritou-se com a
nomeação de um pintor português medíocre para diretor da academia e retornou a França. Foi substituído por
Após o retorno da missão, a sólida tradição artística de inspiração europeia havia sido plantada.
Sem a tutela dos mestres franceses os alunos da academia estavam mais livres e começaram a firmar raízes
Vitor Meirelelles.
Esse trabalho, bastante presente nos livros de história, pode ser apontado como um exemplo da arte acadêmica
No Segundo Império o Brasil tornou-se mais soberano. Em 1845, a academia instituiu o Prêmio de Viagem, que
As encomendas eram feitas pela igreja (ordens) ou pelo estado e não havia incentivo à originalidade.
Por isso em 1854, Araújo Porto Alegre assumiu a academia com a missão de modernizá-la e libertá-la da
condição de escola da Corte. Começam a ser criados os Liceus de Artes e Ofícios, para preencher a lacuna
A tradição neoclássica e romântica pedia temas históricos e grandiloquentes e para tal serviu a Guerra do
Paraguai. A situação manteve-se sem alteração após a proclamação da república, tornando-se mais e mais
Nas exposições da Semana de Arte Moderna, além dos trabalhos de Anita Malfatti, de Vitor Brecheret, de Di
Cavalcanti e de Rego Monteiro, pouca coisa havia de moderno no Saguão de entrada do Teatro Municipal de São
Paulo.
Contudo, a polêmica pública predominou, principalmente pela publicação de manifestos que se seguiram: o
Tarsila do Amaral, filha de fazendeiros, não estava no país durante a semana, mas apoiara o movimento.
Ela conhecera os manifestos futuristas, que no Brasil influenciaram Osvald de Andrade e também o crítico Mario
de Andrade.
Estes se uniram a Anita e a Menotti del Picchia, que formavam o Grupo dos Cinco: “Grupo de doidos em
disparada por toda parte, no Cadillac verde de Osvald”. Queriam abalar as artes em geral; literatura, música etc.
- 17 -
Vale lembrar que Marinetti, o poeta autor do primeiro manifesto futurista, com a intenção de divulgar suas ideias
esteve no Rio e em São Paulo, em 1926, e, durante um período, o Futurismo virou sinônimo de arte moderna por
aqui.
O Manifesto Pau Brasil apoiava-se na pintura de Tarsila. Ela viajou pelo interior de Minas Gerais e ao Rio de
Janeiro em grupo, em companhia do poeta francês Blaise Cendrars e de Olívia Penteado entre outros artistas e
intelectuais.
Encantaram-se com a descoberta da obra do Aleijadinho. Essa influência ajuda na reformulação de sua pintura.
“... encontrei em Minas as cores que adorava em criança. Ensinaram-me depois que eram feias e caipiras. Segui o
ramerrão do gosto apurado. Mas depois vinguei-me da opressão, passando-as para minhas telas...
Tarsila do Amaral
- 18 -
O segundo manifesto, chamado Antropofágico, foi publicado na primeira Revista de Antropofagia, datado de
“Piratininga, Ano 374 da deglutição do Bispo Sardinha”. Irônico, provocativo, destruidor e cheio de novas
Se entre 1917 e 1922, a preocupação modernista era afirmar a arte moderna no Brasil, a partir de 1923 a
preocupação passa a ser uma postura nacionalista. Na visão antropofágica, será devorado o pai Totêmico –a
cultura europeia – para incorporar suas virtudes reforçando o próprio organismo – a cultura brasileira.
Emiliano Di Cavalcanti foi um pintor carioca e um dos idealizadores da Semana de 22. Sua arte foi influenciada
inicialmente pela Art Nouveau, bastante presente no Brasil então, representando os ventos de mudanças do Pós-
Viajou em 1923 para Paris para ser correspondente de imprensa e sua pintura passou a ser então influenciada
pelo pós-Cubismo e pelo muralismo mexicano. Assumiu caráter expressionista e de crítica de costumes, que
- 19 -
CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• Compreender noções de história da arte relativas ao surgimento do Cubismo e do Futurismo;
• Compreender o contexto histórico europeu de começos do século XX, quando eclodiu o Cubismo
influenciando diversos outros movimentos;
• Contrapor o Cubismo a outros movimentos artísticos, percebendo suas relações político-sociais;
• Perceber qual a imagética própria do movimento cubista e do movimento futurista;
• Identificar a situação da arte no Brasil no período equivalente.
- 20 -
ESTÉTICA E HISTÓRIA DA ARTE
CONTEMPORÂNEA
-1-
Olá!
Ao final desta aula, você será capaz de:
3. Determinar o contexto europeu histórico, social, político e econômico de começos do século XX, quando
4. Contrapor o Dadaísmo e o Surrealismo a outros movimentos artísticos, percebendo suas relações histórico-
sociais.
No vídeo você assiste à versão original da obra Dadascope (1961), dirigida por Hans Richter, na qual há 2
1 Introdução
Olá! Seja bem vindo à nossa aula!
óleo sobre tela de Marcel Duchamp, 147 cm X 89,2 cm - Philadelphia Museum of Art - Philadelphia - United
States.
-2-
2 Marcel Duchamp
Haroldo de Campos chama Marcel Duchamp de “pré-dadaísta”, afirmando seu aspecto precursor e não
Por meio de seus ready-mades, Duchamp pretendeu iniciar o debate em torno da relação obra/artista, ao
enfatizar um repúdio à “criação artística”, ao afirmar não acreditar na função criativa do artista. Para ele, o
artista é um homem como qualquer outro e seu trabalho consiste em fazer certas coisas, porém o homem de
Duchamp interessou-se pelo significado da palavra “arte”, vinda do sânscrito fazer: “hoje em dia todo mundo faz
alguma coisa, e aqueles que fazem coisas em uma tela, com uma moldura, são chamados de artistas”.
Antigamente, eles eram chamados de artesãos, um termo que Marcel Duchamp parece preferir: “Todos somos
Sânscrito é a língua erudita da Índia, a língua da História, da Religião, da Filosofia, bem como da Literatura e da
Ciência clássica.
-3-
“Hoje em dia, todo mundo faz alguma coisa, e aqueles que fazem coisas em uma tela, com uma moldura, são
Antigamente, artistas eram chamados de artesões, um termo que Duchamp parece preferir.
-4-
Figura 1 - “A noiva despida pelos seus celibatários, mesmo (O grande vidro)”,
Marcel Duchamp,
1915-23, óleo, verniz, folha de chumbo, arame de chumbo e pó sobre dois painéis de vidro (rachados) montados
em molduras de alumínio, madeira e aço, 272,5 x 175,8 cm. Museu de Arte da Filadélfia.
Duchamp trabalhou nessa obra por oito anos, após haver rejeitado as molduras e as telas (considerava que esse
não era o meio de ele próprio expressar: quando se pinta, mesmo que seja uma pintura abstrata, sempre se
Marcel Duchamp como “Rrose Sélavy”, Man Ray 1920-21, 21,6 x 17,3 cm. Coleção particular.
-5-
Figura 2 - “Viúva Fresca”
“Viúva Fresca”,
janela em miniatura: madeira pintada de azul e oito retângulos de couro polido, 77,5 x 45 cm. MoMA, Nova
Iorque.
Outro trabalho seu, “Viúva Fresca” (“Fresh widow”) significa “esperta” para Duchamp (ou “Merry widow –
“Viúva alegre”), carregando ainda uma referência a “French window”, tipo de janela com venezianas de madeira.
Para Duchamp, todas essas “coisas” tinham o mesmo espírito e eram muito agradáveis como fórmula.
-6-
Naquele momento, Duchamp parecia haver alcançado o limite do não estético e do injustificável
O essencial de sua obra reside na responsabilidade assumida pelo artista ao pôr sua assinatura sobre um objeto,
executado por ele ou não ou produzido em série, mas do qual ele se apropria, atribuindo ao objeto um status de
obra de arte.
Com isso, torná-lo capaz de provocar a mesma emoção artística de um quadro de um mestre, além de lograr
entrar no mercado de arte, podendo ser exposto em um museu ou galeria e, portanto, ser comercializado e
3 A vertente Dadá
Já o Dadaísmo e o Surrealismo representam respostas culturais, articuladas de modos diversos, mas tendo em
vista uma mesma situação: a falência de valores estéticos, filosóficos, morais do século XIX e o confronto com a
nova realidade que superou os limites do racionalismo no século XX, evidenciada com a guerra.
A vertente crítica da arte moderna, constituída pelo Surrealismo e pelo Dadaísmo, representa o “outro” do
projeto formal construtivo e do Cubismo, no sentido de que essas linguagens operaram uma transformação no
interior das linguagens, mas não refletiram criticamente sobre o estatuto social dessas mesmas linguagens como
prática na sociedade.
A vertente Dadá é crítica quanto à própria arte moderna e procurou revelar os limites do pensamento
racionalista clássico, que afirmava que tanto o conhecimento teórico quanto a sua fundamentação prática eram
O paradigma da “arte pela arte” expressava o pensamento racionalista que propunha que a arte devia encontrar
O Dadaísmo:
Contestava
O conceito do que seja obra-prima, expressando que o objetivo da atividade artística não era a arte, mas a
“antiarte” como postura revolucionária contra um esteticismo gasto, propondo atividades de “destruição” das
-7-
Destacava
O papel do sujeito-artista como crítico, como sujeito que reflete sobre a experiência do mundo e expõe, pela sua
ação crítica, o sentido de crise e de falência dos valores estéticos, filosóficos e morais. A arte, para Duchamp, não
representava a cultura pelo objeto-símbolo, porém sua preocupação não residia, igualmente, em negar a cultura.
Para ele, não existia apenas uma verdade, “não há uma solução porque não existe um problema”, a vida era
Duchamp
Juízos de valoração não eram absolutos e não havia apenas uma ética. Havia sim uma não ética ou metaética,
Nesse sentido, sua norma ética não estava interligada a uma norma de hierarquia de bens morais a que o homem
aspirasse, mas se aproximava da ética dos cínicos como em seu desprezo às convenções, postulando sobre a
Ready-mades duchampianos
Destaca-se, principalmente, uma indiferença que foi analisada por Otávio Paz, comparando sua filosofia à
Os chineses escolhiam pedras que lhes parecessem interessantes e atribuíam-lhes nomes ou pintavam o seu
nome nelas, transformando-as em obras. Enquanto o chinês afirmava sua identidade com a natureza, Duchamp
Em 1913, teve ele a ideia de montar a roda de uma bicicleta sobre um banquinho de cozinha e de observá-la
girando. De acordo com seu decreto, os ready-mades tornavam-se obras de arte na medida em que Duchamp
-8-
Figura 3 - “Roda de Bicicleta”
“Roda de Bicicleta”, Marcel Duchamp, 1913 (réplica de 1964), ready-made, roda de bicicleta montada sobre um
Escolhendo uma pá ou um urinol, por exemplo, assinando e datando essa pá ou esse urinol, eles eram retirados
do mundo morto das coisas insignificantes e colocado no mundo vivo das obras de arte: o olhar fazia, então, com
Para Duchamp, a escolha do ready-made baseava-se numa reação de indiferença visual que independia do bom
ou mau gosto, mas podia ser definida como um estado de anestesia total, de ausência de consciência.
Atribuído a uma pá de neve numa loja de ferramentas, com o objetivo de conduzir o pensamento do espectador
para outras regiões mais literárias, ou ainda algum detalhe gráfico como “ready-made fabricado”.
-9-
Em outros momentos, ele inventava um “ready-made recíproco” como um Rembrandt na forma de tábua de
“Prevenindo contra um braço quebrado”, Marcel Duchamp, 1915, ready-made: pá de neve, madeira e aço
De forma que evitasse o perigo de uma repetição indiscriminada dessas formas de expressão – pois a arte
consistia em um meio de induzir ao vício, como o ópio, Duchamp reduziu a produção de ready-mades a uma
Outro aspecto constitutivo do ready-made era a sua falta de originalidade, pois a reprodução de um ready-made
- 10 -
Duchamp concluiu que, se todos os tubos de tinta usados pelos artistas eram produtos industriais ready-made,
podia-se concluir que todos os quadros existentes no mundo eram ready-mades confeccionados. Duchamp
concretizou, dessa forma, finalmente, a iminente crise do objeto de arte tradicional, o quadro, substituindo-o por
uma “coisa”.
A arte foi pensada até o fim e dissolveu-se no nada da “a-arte”, ou da experiência intelectual e não
sensorial.
Como niilista da arte, Marcel Duchamp deu expressão e forma a uma esperança ao buscar o maravilhoso não no
Em sua obra, a máquina adquiriu um aspecto inteiramente novo, em que operava um espírito científico com
recursos artísticos, o estabelecimento de um eros artístico em comunhão com a ciência, ou simplesmente uma
Niilista significa a expressão exacerbada do materialismo e do positivismo, negando toda autoridade ao estado, à
igreja e à família. O Niilismo (do latim nihil, "nada") é uma doutrina filosófica e política baseada na
negação seja da ordem social estabelecida, seja de todas as formas de esteticismo, assim como na defesa do
EXEMPLO
Como exemplo surgem os temas daquelas “máquinas de vidro” criadas em 1925 e 1936, na qual giram
segmentos circulares isolados, que criam a ilusão óptica de circulos e espirais tridimensionais. Os primeiros
foram utilizados, em 1926, em seu filme Cinema-anêmico e, em 1936, Duchamp denominou uma série de
experimentos semelhantes de Rota-relevos, os quais mostravam círculos simples, dispostos ao redor de vários
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Figura 5 - “Discos de rota-relevos”
Duchamp acreditava, portanto, que o sentido da obra não se realizava segundo uma intenção do artista, nem está
contido na obra em si, mas que tal objetivo só era encontrado em sua fruição.
Considerando por muitos críticos “o pai da arte contemporânea”, Duchamp parece ser o mais influente artista
A crítica duchampiana contra o racionalismo não se converteu em irracionalismo, mas antes em uma tendência
presente na arte de hoje a buscar a racionalidade para refletir criticamente, investindo contra modelos,
afirmando o poder criativo do sujeito e sua liberdade para questionar a cultura pela própria ação artística.
- 12 -
Figura 6 - Tábua com ovos - Hans Arp
O movimento criticou ideias convencionais de emprego de suportes artísticos convencionais como a tela e a
escultura, ao utilizar produtos pré-fabricados, os quais foram ligeiramente alterados, de forma que se obtivesse
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Figura 7 - “Fountain”
A obra de Marcel Duchamp “Fonte” representa um mictório de porcelana, no qual o artista escreveu “R. Mutt” -
“R. Mudo”, tendo-a submetido à Sociedade de Artistas Independentes, (o objeto foi recusado e Duchamp, que
era da comissão julgadora, demitiu-se do Júri em protesto contra a “censura” ao Sr. Mutt – ele mesmo) em 1917,
Esse gesto Dadá - que passou meio desapercebido na época – foi considerado depois, pelos críticos e artistas
conceituais, como o início da arte conceitual, na qual a ideia da obra é mais importante que o produto final.
Esse tipo de arte que virá a se desenvolver nos anos de 1960 levará novos artistas a “descobrir” Marcel
Duchamp, que passou a assumir, então, um lugar central na história da arte do século XX.
- 15 -
4 Imagem de trabalho de Joan Miró – surrealismo
Miró tornou-se o mais influente dos surrealistas. Os expressionistas abstratos norte-americanos viram em sua
Após o fim da Primeira Guerra, quando a sociedade ocidental começou a se reestruturar, a estética crítica-
destrutiva do Dadá começou a não fazer mais sentido. Foi uma época de esperança em um novo recomeço e no
Nesse contexto surgiu uma arte que se apresentou como uma saída, uma possibilidade para os artistas que
haviam participando do Dadá, porque se baseava no inconsciente, ou seja, além dos limites racionais do ser
humano.
Surrealismo
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Aboliu o veto que o Dadá havia aplicado à arte e eliminou a necessidade da posição irônica dadaísta
Devolveu ao artista a sua razão de ser sem impor, ao mesmo tempo, um novo conjunto de regras estéticas.
Além de Max Ernst (1891-1976), Luis Buñuel (1900-1983), André Masson (1896-1987), Jean Arp (1886-1966),
Yves Tanguy (1900-1955), René Magritte (1898-1967), Paul Delvaux (1897-1994), Man Ray (1890-1976), Paul
Klee (1879-1940), Marc Chagall (1887-1985), Kurt Schitters (1887-1948) e Wilfredo Lam (1902-1982).
O Surrealismo foi definido pelo seu próprio criador, o escritor André Breton (1896-1966), como constituindo
um:
“puro automatismo psíquico, através do qual se deseja exprimir, por escrito ou verbalmente, a
verdadeira função do pensamento; pensamento ditado pela ausência de qualquer controle exercido
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- 18 -
5 Contexto histórico do Surrealismo
O tema do sonho foi representado, pelos surrealistas, por obras de natureza simbólica obtidas pelo método do
Seus líderes filiaram-se ao Partido Comunista, vinculando a arte surrealista a uma postura estético-ideológica de
vanguarda.
- 19 -
O Surrealismo expandiu-se internacionalmente com grupos de surrealistas, tendo mesmo se formado no Brasil.
O surrealista Man Ray fez experimentos para transcender o realismo superficial e criou esse espirituoso
6 Histórico do Surrealismo
Em outubro de 1924, André Breton lançou o MANIFESTO SURREALISTA defendeu a ideia de que os artistas e
escritores deveriam expressar seu pensamento de maneira totalmente livre, espontânea e irracional, sem
qualquer controle de ordem estética, racional ou moral. Dessa maneira, o Surrealismo visou subverter a
realidade fragmentária apresentada pela lógica, moral e estética vigente nas primeiras décadas do século XX,
Para isso, o artista surrealista necessitava abandonar o lado convencional e lograr surgir o lado que nunca se
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• Fotomontagem
• Jogos de criação coletiva
• Assemblagem
• Colagem
Automatismo Técnica posteriormente apropriada pelo expressionismo abstrato.
As excentricidades e declarações provocadoras fizeram de Salvador Dali uma das mais polêmicas figuras da arte
contemporânea, mas não impediram que sua obra fosse reconhecida como uma das mais audaciosas e apuradas
da pintura surrealista.
Salvador Dali, “A persistência da memória” (Relógios moles), 1931, óleo sobre tela, 24 x 33 cm. Coleção
Uma de suas telas mais famosas é “A persistência da Memória”, sobre a qual Dali afirmou que “Relógios moles
não são mais do que camemberts paranoico-críticos, suaves e extravagantes, fora do tempo e do espaço”.
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Figura 11 - “O jogo lúgubre”
Dali criou paisagens que recordam as ruas e cidades despovoadas e vazias de De Chirico. A figura central dessa
obra foi explodida em fragmentos. A soma das partes fragmentadas revela uma técnina semelhante à colagem
Antonio Gaudí foi um arquiteto catalão de novas concepções plásticas, ligado ao Modernismo catalão (a variante
local da art nouveau). Foi um dos símbolos da cidade de Barcelona, onde foi educado e passou grande parte da
vida.
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Figura 12 - “Sonho provocado pelo voo de uma abelha em torno de uma romã, um segundo antes de despertar”
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Salvador Dali, “Sonho provocado pelo voo de uma abelha em torno de uma romã, um segundo antes de
O envolvimento do psicanalista Lacan com o grupo surrealista, nos anos de 1930, introduziu a paranoia no
vocabulário visual de Salvador Dali, para quem “as imagens paranoicas são devidas ao delírio de interpretação”.
Elas podiam também se proliferar infinitamente: “O fenômeno paranoico”, escreveu Dali, são “imagens comuns,
tendo uma dupla figuração; a figuração pode ser teórica e praticamente multiplicada”.
Lacan, formado em medicina, passou da neurologia à psiquiatria. Teve contato com a psicanálise pelo
Surrealismo, a partir de 1951, e, afirmando que os pós-freudianos haviam se desviado do sentido da obra
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Figura 13 - “Subúrbio da cidade crítico-paranoica; Tarde nos Arredores da História Europeia”
Salvador Dali, “Subúrbio da cidade crítico-paranoica; Tarde nos Arredores da História Europeia”, 1936,
Seu quadro “Subúrbio da cidade crítico-paranoica” lembra as imagens de De Chirico, da menina solitária,
correndo em ruas vazias. A ideia da cidade como um sítio arqueológico de sonhos e memórias, assim como o
Em vez de empregar imagens de Paris, Dali utilizava vistas panorâmicas de cidades espanholas e as
No mesmo ano em que pintou “Subúrbio da cidade crítico-paranoica”, Dali participou de uma “Exposição de
Objetos Surrealistas” promovida por uma galeria de arte em Paris, a qual procurou exibir uma ideia da variedade
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Figura 14 - “Objeto xícara de chá forrada de pele”
Meret Oppenheim,
1936, colher, pires e xícara de chá forrada de pele, xícara 10, 9 cm, pires 23,7 cm, colher 20,2 cm, altura: 7,3 cm.
O famoso “Objeto xícara de chá forrada de pele”, de Meret Oppenheim, provocou concomitante atração,
repugnância, erotismo oral e rejeição durante a mostra de 1938, evocando um fetichismo freudiano na
conotação sexual da pele da xícara, do pires e da colher, e evocando também o espírito ambivalente surrealista
O “objeto surrealista” representou uma contribuição específica do Surrealismo para a escultura. Enquanto os
ready-mades de Duchamp recusaram a emoção, a assinatura do artista e sua autobiografia, evitando a sua
intervenção estética, o objeto surrealista optou por uma abordagem muito diferente de sondar o inconsciente ao
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Figura 15 - “Telefone-lagosta”
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9 O desfecho e a proximidade da Segunda Guerra
“A Condição Humana”
Magritte questiona o próprio quadro: para ele a representação não é menos real, mas uma outra coisa diferente
do que é representado.
Manifesto Surrealista
Anunciou o Surrealismo como um movimento literário - contou com a participação de escritores como Paul
Eluard, Aragon e Antonin Artaud - do qual a pintura era uma nota de rodapé. Afirmava, entretanto, abranger
todo o espectro da atividade humana. Mas foi pelas artes visuais que se tornou conhecido e foram elas que
atraíram para o âmbito do Surrealismo a arte das crianças, dos médiuns, lunáticos, naifs e a arte primitiva. Miró
Os artistas surrealistas buscavam a imaginação em seu estado primitivo, que consideravam uma expressão pura
e “maravilhosa”.
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Ernst e Dali, por exemplo, enfatizam sua passividade diante da obra, deixando fluir coisas além das fronteiras da
realidade imediata, reveladas pelo nosso inconsciente ou pelos nossos sentidos quando num estado de extrema
sensibilidade.
- 29 -
Mais transgressoras são as telas de Magritte, que questionam os nossos pressupostos acerca do mundo e acerca
do objeto pintado e um objeto real, estabelecendo analogias imprevistas ou a justaposição de coisas desconexas
em um estilo deliberadamente inexpressivo. Trabalha a ambiguidade entre uma imagem da realidade (o quadro)
O objeto surrealista dominou a exposição internacional do Surrealismo em Paris em 1938, que marcou o seu
apogeu. Com a decoração organizada por Duchamp, propunha-se a criar um ambiente total. O resultado foi
esplendidamente desorientador.
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A Segunda Guerra dispersou os surrealistas de Paris. Breton, Ernest e Masson foram para Nova York e ajudaram
a plantar as sementes de movimentos americanos do pós-guerra, como o Expressionismo abstrato e a arte pop,
CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• Foi apresentado ao Dadaísmo, movimento que conduziu à antiarte, tendo sido iniciador de um impulso
anárquico de destruição típico das vanguardas contemporâneas;
• Foi apresentado ao Surrealismo, a última das vanguardas “utópicas” européias do século XX.
- 31 -
ESTÉTICA E HISTÓRIA DA ARTE
CONTEMPORÂNEA
O CONSTRUTIVISMO
-1-
Olá!
Ao final desta aula, você será capaz de:
1. Definir o conceito de Construtivismo, base do desenvolvimento das tendências abstratas geométricas (e,
2. Identificar grandes artistas das diversas correntes do Construtivismo (receber noções de história da arte).
No vídeo acima você assiste a uma apresentação sobre o construtivismo russo (fonte: //www.youtube.com
/watch?v=zApi8bkGsZk ).
1 Introdução
Olá! Seja bem vindo à nossa aula!
A Primeira Guerra levou a arte a duas respostas principais quanto às possibilidades da arte na sociedade do
século XX:
Produzindo a ideia de antiarte e consequentemente questionando o que pode ser chamado ou não de arte
humanidade. Um erro do projeto racionalista. E que o processo precisava de uma revolução radical.
-2-
“Modelo do monumento para a terceira internacional”, Tatlin, 1920. Museu de arte moderna de
Estocolmo. Tatlin projetou essa torre como um símbolo dos ideais e do “ilimitado potencial da União
Soviética”.
A ideia de que a pintura podia ser uma entidade absoluta, sem qualquer relação com o mundo visível e composta
por formas totalmente abstratas com origem na mente, foi uma das sementes que o Cubismo fez germinar.
Em um sentido oposto ao do Cubismo analítico, que criara um vocabulário decompondo formas de objetos
tinham ligações com os objetos originais, esse tipo de pintura referia-se mais ao universal que ao particular e
Na sociedade russa, na segunda década do século XX, uma evolução radical acontecia...
2 Arte e política
Até o surgimento do Construtivismo, nenhum movimento na evolução da arte moderna tinha tido uma expressão
tão completa da ideologia (Marxista) ou estivera tão ligado a um organismo revolucionário (comunismo).
Isso levou a uma reação que, durante algum tempo, rotulou de anarquista e comunista toda a arte moderna,
incluindo o Futurismo (que, por meio de Marinetti, se ligou ao Fascismo) e o Cubismo. Ajudando a criar
resistências à sua propagação e difusão, inclusive no Brasil, onde era olhada com desconfiança.
O Construtivismo
-3-
O Construtivismo não pretendia nem ser um estilo abstrato nem uma arte, por si. Era a expressão de uma
convicção profundamente motivada de que o artista podia contribuir para suprir as necessidades físicas e
intelectuais da sociedade como um todo, relacionando-se diretamente com a produção de máquinas, com a
arquitetura, com os meios gráficos e fotográficos de comunicação. Não a arte política, mas a socialização da arte,
do proletariado revolucionário.
3 Arte e propaganda
Figura 1 - El Lissitzky
El Lissitzky,
-4-
Por vezes essa arte era de natureza propagandística.
4 O construtivismo e a estética
Os artistas construtivistas russos acreditavam que os edifícios e objetos deviam libertar-se dos excessos
ornamentais e das algemas da arte do passado, que o artista, ou melhor, o designer criativo, devia ocupar o seu
Já havia sido proposto por vários arquitetos famosos que o engenheiro, e não mais o artista plástico é que estava
Advogavam o edifício nu e a pureza inerente das formas elementares. Os novos materiais industriais e a máquina
continham para eles uma beleza própria, assim como as formas geométricas (áreas uniformes de cores puras)
tinham uma aura de ordem racional, a ordem que eles queriam impor à sociedade.
-5-
5 Arte e história
Lissitzky acolheu ideias suprematistas, mas seu modo de trabalhar e seus escritos são construtivistas. Seu
princípio condutor era que o espaço era feito para as pessoas, não as pessoas para o espaço.
Lissitzky foi um dos idealizadores do programa PROUN, que era a abreviação de uma frase russa, que significa
algo como “novos objetos de arte”. Era um método de trabalho, em total harmonia com os modernos recursos
tecnológicos. Através desse processo de formação, todos os elementos essenciais da forma – massa, plano
horizontal, espaço, proporção, ritmo, as propriedades naturais de certos materiais usados, mais as exigências
feitas pela função básica do objeto – devem ter sua consecução no objeto final.
-6-
Monumento à Terceira Internacional
Um complexo projetado para ser construído na forma de uma espiral maciça que transmitia eficazmente o
Deveria ter 380 metros de altura no mínimo, contando com um cilindro, um cubo e uma esfera com salas de
reunião e escritórios e no topo um centro de informações – cada um girando em diferentes velocidades: um dos
mais antigos exemplos de arte cinética (ou arquitetura cinética). Era prevista a utilização de todos os meios
técnicos de comunicação conhecidos, incluindo um projetor para lançar imagens nas nuvens, para divulgar
notícias, palavras de ordem e proclamações governamentais. Era uma declaração de fé numa sociedade
comunista.
Os planos para novas estruturas arquitetônicas construtivistas excederam em muito os edifícios construídos de
fato.
Entre os projetos realizados (clubes de trabalhadores, habitações populares, escolas, fábricas e pavilhões de
exposição), o mais conhecido é o Mausoléu de Lênin. Além das limitações econômicas, havia um atraso muito
grande industrial e tecnológico da Rússia, inviabilizando as execuções. Lissitzky admitiu que os alicerces da nova
arquitetura foram estabelecidos pela revolução técnica da Europa e da América e não refletiram nem a ciência
-7-
Para suprir essa carência iniciaram um programa intensivo para o treinamento de artistas projetistas chamados
VKhUTEMAS.
-8-
Naum Gabo
Descreveu que as discussões ideológicas eram parte importante do treinamento. Ele colaborou com Kandinsky,
que organizou o programa baseado em suas ideias expostas no seu livro Do espiritual em arte aplicadas contra
Esse programa tornou-se o protótipo para partes do curso da Bauhaus alemã, para onde Kandinsky e Gabo
migraram quando o projeto foi reorganizado com a ênfase sobre as técnicas de produção e não no projeto
artístico (as análises metafísicas da cor e da forma de Kandinsky caíram em descrédito e foram proscritas assim
Houve ainda batalhas ideológicas entre os adeptos do Suprematismo e os fiéis aos princípios construtivistas
(principalmente entre Malevich e Rodchenko). Mas em 1921, com a nova política econômica de Lênin (NEP), o
Construtivismo passou a ser seriamente questionado e o poder e a influência dos artistas que ficaram foi
declinando.
Os artistas da antiga academia de artes de Moscou, que foi suprimida com a revolução, conseguiram convencer
-9-
Naum Gabo Monumento do Bijenkorf (1954-7) em Rotterdam
6 O conceito de construtivismo
CONSTRUTIVISMO
• O Construtivismo repudia o conceito de gênio - intuição, inspiração e autoexpressão.
• É didático, dirigia-se mais para a fisiologia que para a psicologia, tem intimidade com a ciência e a
tecnologia, é concreto.
• A ideia construtiva não pretende unir arte e ciência, explorar as condições do mundo físico, mas captar
sua verdade.
Principais artistas construtivistas russos:
- 10 -
7 Suprematismo
O Suprematismo praticamente se resume à atuação de um só homem.
O movimento surgiu na Rússia por volta de 1913. A intenção de Malevich era expressar “a cultura metálica do
nosso tempo”; não por imitação, mas por criação. Ele desdenhava a iconografia tradicional da arte
representacional.
Kasimir Malevich
Kasimir Malevich
- 11 -
Ele nunca concordou com a doutrina de que a arte devia servir a um propósito utilitário, orientada para a
máquina, para as ideologias sociais e políticas. Logo divergiu dos colegas construtivistas.
Opôs-se à subserviência do artista ao estado, da mesma forma que rejeitou a obediência às aparências naturais.
A ideia que ganhou raízes na Europa nas primeiras décadas do século XX e foi ampliada pelas necessidades da
Revolução Russa.
8 De Stijl
O movimento De Stijl ou neoplástico durou de 1917 a 1931 e pode ser caracterizado pelo trabalho de três
homens:
Este último juntou-se depois ao grupo original de nove artistas, substituindo Bart van der Leck, um ano após a
fundação do movimento.
Primeiro a filosofia neoplatônica do matemático Dr. Shoenmaekers, que formulou os princípios plásticos e
filosóficos do movimento. Seu livro A nova imagem do mundo trazia a base para a utilização apenas das linhas
- 12 -
• “polegadas de altura adquirem tremenda força”.
Também evocou um mundo totalmente homogêneo feito pelo homem:
• “É inteiramente impossível considerar o edifício uma coisa e seu mobiliário uma outra coisa...” e, “Assim,
fazer de um lugar de moradia uma completa obra de arte em si mesma, tão bela e expressiva e mais
intimamente relacionada com a vida do que qualquer escultura ou pintura”...
Eis a moderna oportunidade americana.
9 O desenvolvimento do neoplasticismo
Foi Mondrian quem forjou o envolvimento entre as ideias do matemático Shoenmaekers, seu amigo, e o
movimento incipiente.
- 13 -
10 Principios gerais do neoplasticismo
Na arquitetura foram reconhecidos: arranjo assimétrico e dinâmico de elementos articulados; a explosão
espacial, tanto quanto possível, de todos os ângulos internos; o uso de áreas retangulares coloridas em baixo-
relevo para estruturar e modular espaços internos; e a adoção de cores primárias para fins de acentuação,
Casa de Schrölder
A casa Schröder, construída em 1924 em um planalto suburbano, foi a obra-prima do estilo e é um fruto dos 16
- 14 -
As formas e cores usadas pelo Neoplasticismo continuam influentes hoje. Essa cadeira objetivou o melhor
aproveitamento da madeira e a consequente redução de custos, de modo que pudesse ser acessível a todos.
- 15 -
Em 1930, o ideal neoplástico de um mundo de harmonia universal tinha sido corroído, em primeiro lugar, por
incoerências polêmicas e controvérsias internas e, mais tarde, pelo impacto da pressão cultural externa. Com
isso ficou reduzido ao seu ponto de partida; às suas origens no domínio da pintura abstrata, nos domínios da
arte concreta de Doesburg. Em seu “Manifesto sobre a Arte Concreta”, diz: ”se os meios de expressão estão
liberados de toda particularidade, estão em harmonia com o fim último da arte, que é realizar uma linguagem
universal”. Ele morreu em 1931 e do grupo original, somente Mondrian permaneceu ativo, para continuar
demonstrando sozinho, no domínio da pintura, o tenso equilíbrio de sua visão singular de extraordinária
riqueza. Este artista se tornou um marco de referência básica da arte abstrata formal.
Todos esses movimentos de caráter construtivo estão na base do desenvolvimento de um tipo de arte conhecida
como abstrata geométrica, que surgiu, principalmente na pintura, a partir da década de 1930 e tem
1940, até ir perdendo sua força com o surgimento de uma das novas correntes da arte contemporânea: a Pop
Art.
CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• Conheceu o desenvolvimento dos principais movimentos de caráter construtivista e sua importância
para o desenvolvimento da arte.
- 16 -
ESTÉTICA E HISTÓRIA DA ARTE
CONTEMPORÂNEA
-1-
Olá!
Ao final desta aula, você será capaz de:
de arte pop.
2. Reconhecer grandes artistas do Expressionismo abstrato e da arte pop (receber noções de história da arte).
3. Identificar novas tendências em pintura e arte experimental internacional (atualizar-se em estética moderna e
contemporânea).
Como vimos na aula 4, o conceito de expressionismo surgiu no início do século XX, quando surgiram na
Alemanha os grupos expressionistas (A Ponte e O Cavaleiro Azul) que baseavam seus trabalhos nas inovações
propostas pelos pós impressionistas (do século XIX) como Van Gogh e Munch. Já o EXPRESSIONISMO ABSTRATO
(ou ACTION PAINTING) foi um movimento acontecido Nos EUA, depois da Segunda Guerra.
Fonte: // www.youtube.com/watch?v=gmC_Dr2l9Ee.
1 Introdução
Olá! Seja bem vindo à nossa aula!
Após a Segunda Guerra Mundial, como vimos, os Estados Unidos assumiram a posição central no cenário
Por esse período pareceu que a abstração, como defendia a teoria do crítico norte-americano Clement
Segundo esse crítico, desde o surgimento da fotografia cada arte se direcionara para os problemas de suas
próprias condições. Assim, a pintura, a partir de Manet, caminhava para afirmar sua planaridade - assim como a
escultura sua espacialidade, seguindo inevitavelmente para a abstração, após deixar a tarefa de representação
para a fotografia.
Artistas de destaque
• Jackson Pollock (1912-1956),
• Willem De Kooning (1904-1997),
• Clyfford Still (1904-1980),
• Barnett Newman (1905-1970) e
• Mark Rothko (1903-1970)
São os mais estudados, mas muitos outros artistas são hoje habitualmente incluídos nos estudos do grupo, como
• Bradley Walker Tomlin (1899-1953),
-2-
• Adolph Gottlieb (1903-1974),
• Robert Motherwell (1915-1991),
• Franz Kline (1910-1962) e
• Philip Guston (1913-1980).
Conceituado pelos críticos de arte como “pintura tipo americano”, “action painting” ou “gesture painting”.
Aplicação da noção de automatismo (que compatibilizava várias fontes de influência diversas, indo desde o
último cubismo de Picasso ao surrealismo de Miró (entre outras) sobre o espaço pictórico.
Atração pela concepção junguiana (Carl Jung, psicanalista alemão contemporâneo de Freud e inicialmente seu
discípulo), mais do que para a concepção freudiana de imagens “inconscientes”, “subconscientes” ou “pré-
Abandono da tela no cavalete ou da parede, colocando uma tela muito maior no chão – mudança essa que foi
motivada por considerações práticas e ideológicas, como a necessidade de “mais espaço” físico e de participação
política do artista.
quatro cantos da tela. Tal pesquisa se originou na superfície da tela e na origem do movimento que o pincel tinha
A adoção da técnica de tinta respingada e jogada, e de pincéis completamente secos, varetas e colheres de
pedreiro como ferramentas, com o pintor mantendo uma posição relativamente vertical, distanciada do chão e
O ponto de equilíbrio para esse pintor expressionista, a partir de então, passou a ser os quadris, e não, como
antes, os ombros. O ritmo natural tornou-se inevitavelmente mais expansivo, envolveu movimentos mais amplos
A noção de “ação no caos” impregna a ideologia abstrato-expressionista, com vívidas pinturas a óleo e pastel com
motivos mais orgânicos e largamente “genéticos”, sistematicamente mais “generalizados” e mais “arquetípicos”
na forma, mais extremos em sua não figuração e mais expressivos e individuais na cor, baseando-se em formas
-3-
3 Definição do expressionismo abstrato
Definição do Expressionismo abstrato:
Movimento de pintura norte-americana afirmado no final da década de 1940, em Nova York, influenciado pelos
primeiros desenvolvimentos da arte europeia do século XX, como o Cubismo e o Surrealismo, consistindo em
uma das mais extraordinárias conjunções de radicalismo técnico (“action painting” e automatismo na pintura) e
O mais reconhecido pintor desse período, Jackson Pollock, afirmava que não queria ilustrar sentimentos, mas
sim expressá-los, de modo espontâneo e imediato, sem uma técnica ofuscante, o que faz lembrar Van Gogh, que
também queria “esquecer” a técnica e fazer com que “as pessoas se amontoassem e jurassem por tudo o que é
mais sagrado que não temos técnica”. As pinturas de Pollock, em que confluem acaso e princípio, não são
-4-
4 Interpretação histórica do Expressionismo Abstrato
Se o figurativismo e a representação tornaram-se antíteses da vanguarda modernista nas artes visuais, o
Expressionismo abstrato ou formalismo foi apregoado por Clement Greenberg como representando o “triunfo da
arte americana”.
Após 1945, Greenberg elaborou uma teoria da prática modernista na defesa de um grupo de artistas de Nova
York nos anos de 1940 e 1950, a qual foi denominada “Escola de Nova York”, que incluía, particularmente,
Pollock, Rothko, Newman e De Konning. O chamado “triunfo” da arte americana refere-se ao fato de Greenberg
considerar a arte que estava sendo produzida nos Estados Unidos superior àquela realizada na Europa no
mesmo período, indicando a supremacia econômica e política norte-americana após a Segunda Guerra Mundial.
Tal “triunfo” estético da arte americana na Europa se manifestou, em 1958 e 1959, com a exibição, em oito
capitais europeias, da mostra “Nova Pintura Americana”, organizada pelo Museu de Arte Moderna americano
Durante boa parte da década de 1940, De Kooning e Pollock pareciam ter sido, entre os expressionistas
abstratos, as figuras em torno das quais a maioria dos críticos e dos artistas mais jovens se orientou. A geração
de De Kooning e Pollock incorporou, em sua linguagem visual, o emprego de uma palheta agressiva, conjugando
aos traços geométricos e aleatórios da “pintura automática” um empaste pesado e grosseiro de pigmentos
superpostos.
-5-
O “modo de pintar” americano podia ser definido como aquele que rompeu definitivamente com a pintura de
cavalete e elegeu como suporte a parede ou o chão, levando o artista a estar literalmente “na” ou dentro dos
quatro lados da pintura. Assemelhando-se ao método empregado por pintores de areia – principalmente pelos
índios Navajo do oeste norte-americano –, tal pintura se afastou de seus instrumentos habituais e exclusivos
como o cavalete, a palheta, os pincéis, e se aproximou do emprego de novos pigmentos, como o pesado empaste
Jackson Pollock parece ter se entusiasmado pela arte de matizes vivos dos índios americanos e pela sua pintura-
escrita, depois pela expressividade monumental dos muralistas e revolucionários mexicanos Rivera, Orozco e
Siqueiros.
Ocasionando um imenso descrédito dos artistas em relação aos ideais utópicos de que
Eclosão da 2º
partilhava a arte revolucionária da primeira metade do século XX.
guerra mundial
Em consequência, a liberdade da prática artística tornou-se a principal doutrina.
Estabelecimento Pela evolução dos métodos de impressão e de reprodução, o que passou a permitir a
do consumo de produção de obras de arte em série, com museus e exposições tendo passado a atrair
-6-
Baseado no consumo artístico, em nível elevado, por parte de colecionadores,
mercado de arte por parte de governos, Igrejas e comunidades e de bancos e empresas que se
Afirmação de Que se contrapunha à arte europeia até então preponderante, com a afirmação de
uma nova arte Nova York como capital da arte moderna e contemporânea, a partir de 1940-1950, e
Richard Hamilton
“O que exatamente torna os lares de hoje tão diferentes, tão atraentes?” de 1956.
-7-
6 Contexto histórico e antecedentes da pop art
A arte pop colocou em questão a importância crescente no período pós-Guerra dos meios de comunicação de
massa e sua influência nas categorias mais elevadas da cultura ocidental, que pareciam questionar as distinções
culturais tradicionais (entre “alta” e “baixa” cultura, entre elitista e democrático, único e múltiplo) que
Esses artistas pop usaram anúncios em contextos diferentes do habitual, por perceberem que o acesso do
público à cultura visual não se dava pelos museus e pelas galerias, mas por meio das revistas.
O crítico britânico Lawrence Alloway defendia que uma área de cultura visual nova estava mudando o mundo
moderno e desafiava as hierarquias tradicionais da expressão artística. As artes visuais precisavam então
responder aos gostos do público ou se tornariam irrelevantes. A mudança tecnológica moldava diretamente a
sensibilidade visual moderna. Surgia uma estética do descartável, baseada no interesse em estimular o consumo
por meio da mudança estilística e da obsolescência planejada. A arte moderna ligava-se então a complexas
Depois de anos de racionamento (durante a Guerra e prolongada por muitos anos em diversos países)o apelo
dos novos produtos, suas promessas de abundância e facilidades, pareciam exóticos e atraentes, principalmente
-8-
Assim, o ambiente da cultura popular e dos meios de comunicação, antes negligenciados pela principal corrente
da arte modernista, representada até então principalmente pelo Expressionismo abstrato, se tornou fonte para a
arte.
o Independent Group. Lá essa arte foi teorizada e discutida desde seus primórdios.
Além do já citado Richard Hamilton - “O que exatamente torna os lares de hoje tão diferentes, tão atraentes”,
destacaram-se Peter Blake, cujas pinturas revelam uma certa nostalgia (que acompanha a sociedade pop, que
descarta rapidamente suas próprias imagens). Ele desenhou capas de discos para bandas como The Beatles.
David Hockney mostra a mitificação europeia dos Estados Unidos como local de liberdade. Outros artistas
importantes são Peter Phillips, R. B. Kitaj e Allen Jones (entre outros). De um modo geral, criam hinos românticos
a uma civilização meio real e meio imaginada, um paraíso de pin-ups e máquinas caça-níqueis.
Blake fez a capa de “Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band”, de 1967, e Hamilton a de “Branco”.
distanciamento frio e aparentemente implacável com que retratou, com base fotográfica, figuras da alta
sociedade e produtos de consumo cotidiano do cidadão comum utilizando uma linguagem quase publicitária,
-9-
Figura 1 - Andy Warhol - à direita
- 10 -
Artistas pop nos Estados Unidos
• Andy Warhol
• Roy Lichtenstein
• George Segal
• Allen Jones
• Tom Wesselmann
• Larry Rivers
• Jim Dime
• Claes Oldenburg
• Robert Indiana
• Robert Rosenquist
Pinta ampliações de coisas em uma linguagem tomada das histórias em quadrinhos. Reproduz meticulosamente
as retículas do processo de impressão. Faz ver pela primeira vez as rígidas convenções do estilo quadrinhos.
- 11 -
Andy Warhol elimina totalmente a ideia de arte manual. “A razão por que estou pintando assim é porque quero
ser uma máquina. Tudo o que eu faço, e faço como máquina, é porque é isso que eu quero fazer. Penso que seria
estupendo se todo mundo fosse igual.” Apresentava um exame minucioso do banal, em uma linguagem de
estereótipos. Transferia para tela imagens fotográficas por meio de estênceis. Segundo Eduard Lucy Smith,
“olhamos como se fosse pela primeira vez coisas que nos são familiares, mas que foram separadas de seus
contextos correntes, e refletimos sobre os significados da existência contemporânea”. Realizou filmes que criam
Andy Warhol, “Lata Grande de Sopa Campbell, Rasgada”, 1962, acrílico sobre tela,183 x 137 cm.
Considerado o “pai da arte em vídeo”, suas capacidades técnicas em eletrônica e seu conhecimento sobre a
produção de imagens televisivas abstratas levaram-no a produzir uma arte que incomodou e chocou, ao mesmo
tempo incorporando os princípios da arte conceitual, da performance e da arte em vídeo, em suas obras.
- 12 -
Nam June Paik, “Voltaire”, 1989, escultura em vídeo, 300 x 200 x 55 cm. Galerie Beaubourg, Paris.
Japão) tinham uso mais frio no sequestro e na manipulação de imagens do que o modo como alguns artistas
brasileiros trabalhavam. A “frieza modular” (usada pelas repetições de Warhol e também pelos artistas
minimalistas) não foi muito utilizada aqui. Mas artistas como Nelson Leirner, Wesley Duke Lee, Cláudio Tozzi,
Rubens Gerchman, Maurício Nogueira Lima e Antônio Dias, entre outros, investiram em uma aproximação
“barroca”, quente, do cotidiano das metrópoles (incluindo por vezes alegorias de sua situação política).
- 13 -
Trabalho de Nelson Leirner
CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• Acompanhou o desenvolvimento do Expressionismo abstrato e a persistência da pintura expressionista
até a contemporaneidade, ao lado da Pop Art e da análise de manifestações artísticas específicas.
- 14 -
ESTÉTICA E HISTÓRIA DA ARTE
CONTEMPORÂNEA
-1-
Olá!
Ao final desta aula, você será capaz de:
arte).
Fonte: // www.youtube.com/watch?v=fT-RTteXFd0
1 Introdução
Olá! Seja bem vindo à nossa aula!
A ideia de constituição de uma arte brasileira, que captasse e refletisse o ambiente local, começou com o
romantismo acadêmico da primeira metade do século XIX e manifestou-se nas artes visuais, por meio da
produção dos artistas ligados à Academia Imperial de Belas-Artes. Contudo, como vimos anteriormente na aula
05, esses artistas reproduziram uma imagem idealizada do Brasil que ignorava as marcas do passado colonial e
os estigmas da escravização de indígenas e africanos pelos portugueses. Somente a partir da virada do século
XX é que um grupo de produtores artísticos se insurgiu contra os interesses ideológicos e políticos do poder
imperial. Esses artistas passaram a não mais idealizar a história e o Estado para criar uma arte nacional, a partir
da estética naturalista que falava da luz, das cores, da flora e da topografia próprias do país.
Após um hiato durante o período de Proclamação e estabelecimento da República, quando a arte brasileira, com
Por essa época, o objeto antigo possuía um estatuto particular que o fazia existir na forma de um retrato de
família. Dentro dessa concepção dominante no pensamento da época, os objetos antigos simbolizavam uma
legitimação estética e uma afirmação cultural. No interior do campo artístico brasileiro isso era representado
pelas belas-artes, às quais se contrapôs o conceito de modernismo impresso nas artes visuais a partir da década
de 1920. Esse novo conceito começou a ser afirmado com toda a pujança na década de 1930 pelo Estado Novo.
Contudo, esse novo pensamento confrontou-se com as estruturas antigas e enfrentou muitas resistências.
-2-
Havia uma marcante oposição entre belas-artes e modernismo, reflexo de uma escola de arte em “moldes
imperiais”, montada para formar artistas acadêmicos (que dominassem as tendências neoclássicas) e um
Figura 1 - Da esquerda para a direita: Cândido Portinari, Antônio Bento, Mário de Andrade e Rodrigo Melo
Franco. Palace Hotel, Rio de Janeiro, 1936
Da esquerda para a direita: Cândido Portinari, Antônio Bento, Mário de Andrade e Rodrigo Melo Franco. Palace
Modernismo dominava - com escândalos formais, como o Cubismo - o cenário artístico e o debate crítico
internacional do qual o Brasil ficava excluído. Um dos intelectuais modernistas que percebiam essa defasagem
de informação - sobre arte e crítica - no período do país, tornou-se um dos mais atuantes no campo social: Mário
de Andrade. Ele exerceu um verdadeiro apostolado cultural durante o Estado Novo, com a defesa do patrimônio
histórico e artístico e da criação do Serviço do Patrimônio Artístico Nacional (SPAN), que tomou forma através
-3-
2 A arte nacional
A criação do SPAN - hoje SPHAN – Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - representou um esforço
no sentido da restauração de nossas tradições, no mesmo momento em que se construía um sentido moderno de
nação. Procurava, através da cultura, inculcar na população um sentido de patriotismo, lealdade e dever. Para
Mário de Andrade, a tradição não se podia importar, mas cultura importava-se, ressalvando que se devia
importar aqueles elementos em que a cultura estrangeira não fosse estragar a cultura nacional, e sim, ajudar no
reprodutibilidade técnica do trabalho artístico, Mário de Andrade foi defensor da “dearistocratização” da obra-
A função didática dos museus foi enfatizada por sua visão. Esses passaram a ser apresentados como locais em
que não se ensinava mais somente a repetir o passado, mas sim a tirar proveito dele para criar uma cultura
-4-
dinâmica, que lograsse contribuir no sentido do progresso social. Os museus de belas-artes simbolizavam, então
como agora, um passadismo com seus espaços recobertos de quadros verdadeiros, realizados em sua maioria
Mario de Andrade propôs substituir esses museus antiquados – entre os quais se incluía a Pinacoteca da Escola
Nacional de Belas-Artes – por museus populares, compostos por econômicas reproduções feitas por meios
mecânicos. Denominando tais museus populares como “Museus claros. Museus francos. Museus leais” que
pudessem oferecer ao público visitas guiadas, conferências, concursos e revistas de críticas de arte que
Como foi dito, a arte nacional era composta, no final do século XIX e primeira metade do século XX, por
manifestações artísticas inerentes aos poderes públicos, ou ainda por artistas de mérito apenas nacional. Para
fazer jus a esse mérito, ao artista era requerido que passasse necessariamente pelo crivo do Estado, ou seja,
tinha ele de ser premiado em exposições públicas organizadas pelos poderes públicos ou de ter conquistado o
título por votação majoritária do Conselho Consultivo do Serviço do Patrimônio Artístico Nacional.
Ao avaliar o estado de conservação das instituições museológicas em seu projeto de organização do Serviço do
Patrimônio Artístico Nacional, bem como ao buscar inserir um caráter eminentemente didático aos museus, o
-5-
Tal cultura era aquela já referida, representada pela produção artística acadêmica e neoclássica dos artistas
influenciados pela Academia Imperial de Belas-Artes, os quais constituíam a maioria dos nossos produtores
culturais.
cultura indígena representou um dos temas caros ao Modernismo brasileiro, retomando o mesmo índio que já
havia sido idealizado pelo romantismo nacional e que predomina no país quando o Modernismo se consolidava
na Europa.
Um exemplo foi Macunaíma, romance de Mário de Andrade, de 1928, que abordou lendas da região amazônica,
-6-
Logo, esse índio apropriado pelo Modernismo dos anos de 1920, embora em nova abordagem, deu continuidade
à tradição do indígena como símbolo romântico do século XIX, onde ele aparecia retratado no escudo
O Brasil tem sido visto, pelos romancistas do século XIX e pelos escritores contemporâneos, como uma fusão dos
povos indígenas com o elemento europeu, ocasionando o surgimento de uma nova entidade denominada o
brasileiro. O que foi enfatizado nessas obras artísticas, desde o século XIX, consistiu exatamente na miscigenação
Enquanto na Europa o Modernismo do Dada representou o abandono de qualquer referência aos estilos
históricos – o Dadaísmo chegou mesmo a abolir a separação entre vida e obra através dos ready-mades de
Marcel Duchamp (questão presente na arte atual) – no Brasil ele foi simbolizado pela difusão do nosso mais
autêntico revival. O neocolonial, o Barroco mineiro, os azulejos mouriscos, as telhas canal e as esculturas de
Aleijadinho foram resgatados como expressões da verdadeira cultura e civilização, considerando que essas
tendências haviam sido subvalorizadas ou mesmo reprimidas durante o período imperial (que adotara o
neoclássico como todas as monarquias). A tendência modernizante considerou que essa cultura deveria ser
A questão da implantação de uma arte moderna no Brasil – a qual devia estar totalmente comprometida com a
autonomia da arte, independente de quaisquer outros fatores ideológicos – esbarrou, desde o início, com a
necessidade de tematização da realidade física e social do país como forma de afirmação da própria identidade
nacional, a qual havia sido renegada pelos brasileiros devido ao seu passado colonial e escravagista.
-7-
Movimentos artísticos do século XX, como a antropofagia modernista dos anos de 1920 e o Tropicalismo do final
dos anos de 1960, abordaram criticamente a questão nacional refletida pela mestiçagem. O canibalismo cultural
modernista buscou uma síntese entre a nossa cultura regional e a cultura de vanguarda europeia, invocando a
necessidade de uma devoração antropofágica da tecnologia e da informação dos países superdesenvolvidos, com
Para Mário de Andrade e Oswald de Andrade, assim como os tupinambás devoravam seus inimigos para se
apropriar de sua força espiritual, os artistas e intelectuais nacionais deviam digerir os produtos culturais
importados e explorá-los como material bruto para uma nova síntese, vomitando a cultura importada de volta,
retransformada para o “colonizador”. O problema crucial do Modernismo era, então, o de integrar a realidade
física e humana nacional às linguagens de vanguarda europeias. Tarsila do Amaral logrou alcançar a tão
apregoada “síntese” oswaldiana entre o regionalismo “primitivo” do indígena nacional com o internacionalismo
“tecnológico” do europeu estrangeiro, ao criar imagens bem acabadas de inspiração cubista e expressionista,
-8-
Figura 3 - Oswald de Andrade
liberdade do selvagem. O nativo havia sido descrito por diversos autores do período como não tendo nenhuma
repressão, polícia, doença nervosa, vergonha de sua nudez, luta de classes nem escravidão.
Nas artes visuais, o quadro Abaporu, da “fase pau-brasil”, de Tarsila do Amaral (1886-1973) – pintado em 1928
sob influência direta das concepções racionais e objetivas do cubismo de Fernand Léger (1881-1995), com quem
-9-
a artista brasileira estudara em Paris, do surrealismo de René Magritte (1898-1967) ou dos grandes nus
A imagem positiva do índio, na literatura do século XIX, expressou, igualmente, a marcante desigualdade entre os
dois pólos, identificados em um único conceito ideal de aristocracia: a população indígena e a elite imperial de
origem europeia.
Mas essa cultura da monarquia (século XIX) procurou evitar a questão social da escravidão e dos negros no
Brasil, mascarando o conflito entre europeus e nativos, através dessa romantização indianista.
A elite brasileira do período preferiu abordar o indígena distante, miticamente conotado e percebido como uma
metáfora da sua diferença do português (rejeitado), como uma estratégia da afirmação da sua própria
nacionalidade, do que enfocar a rebelião dos africanos contra a dolorosa (e já então vergonhosa) escravização.
O cinema novo dos anos de 1960 tratou de temas como o indianismo por uma ótica tropicalista, fundindo o
nacionalismo político com o internacionalismo estético. A antropofagia foi reciclada pelos cinemas-novistas,
implicando uma transcendência maniqueísta entre o autêntico cinema brasileiro e a alienação holywoodiana.
Inspirando-se em uma postura que contrapunha o folclórico e o industrial, o nativo e o estrangeiro, cineastas
como Gláuber Rocha e Rogério Sganzerla criaram uma estratégia de resistência, baseada em uma estética do lixo
de baixo custo.
- 10 -
O filme Macunaíma, de Joaquim Pedro de Andrade, reinterpretou o romance de Mário de Andrade do ponto de
vista tropicalista, como uma falta de caráter nacional desse herói sem nenhum caráter, mesclando a tradição da
arte de elite com a cultura de massa para criticar o regime militarista repressivo e o modelo capitalista
Já o filme Terra em Transe, de Gláuber Rocha, fala em 1967 de uma alegoria sobre a política brasileira,
reinventando satiricamente a chegada de Pedro Álvares Cabral, o Colombo brasileiro, nas praias da Bahia, em
1500.
Outro fato demarcador da modernidade nas belas-artes, durante o Estado Novo, refere-se à realização do Salão
de 1931. O Salão de 31 foi um marco do Modernismo no Rio de Janeiro. Representou uma das inovações
implantadas durante o governo de Getúlio Vargas na área das artes plásticas, através da nomeação de Lúcio
Costa para dirigir a escola, com o objetivo de reformular o ensino artístico (que, como vimos, teve sua base na
implementação do ensino acadêmico). Ao assumir seu cargo como diretor, o jovem arquiteto de 28 anos
pretendeu proporcionar, aos alunos, uma opção entre o ensino acadêmico e o ensino atualizado, ministrado por
- 11 -
Em setembro de 1931, Costa organizou na Escola Nacional de Belas-Artes uma exposição, que simbolizava a
atividade do poder do Estado em relação às artes visuais da década de 1930. Nos salões anteriores, as
manifestações artísticas de cunho moderno haviam sido sempre recusadas, devido aos moldes acadêmicos
O intenso clima de tensão entre modernistas e acadêmicos, gerado pela realização do Salão de 31, pôde revelar
muito sobre o olhar moderno no Brasil, representando a época áurea de centralização do poder das artes
plásticas. O poder tradicionalista da Escola de Belas-Artes, reduto oficial dos acadêmicos desde a criação da
Academia Imperial, acabou preponderando com a demissão de Lúcio Costa da direção dessa escola de arte.
Ao se observar as relações sociais da elite produtora e consumidora de arte brasileira no século XIX e nos anos
de 1920, pode-se perceber a questão da identidade nacional nas artes visuais como a afirmação do nacionalismo
como política de Estado, marcando o surgimento de instituições e normas de controle dos espaços e das pessoas,
características do Estado Novo. Ocorreu no Brasil moderno a persistência de uma concepção aristocrática de
cultura advinda do Império, em que ideias e crenças originais foram consideradas, por definição, produto das
classes superiores.
Sua difusão entre as classes inferiores era encarada como uma deterioração ou deformação sofrida durante o
processo de transmissão. Nesse sentido, a cultura popular era vista negativamente, como uma cultura não oficial,
- 12 -
como a cultura da não elite ou das classes subalternas. A concepção aristocrática de cultura poderia ser definida
como o poder civilizador da arte, um pulo da natureza para a cultura, do animal para o humano. Esse processo de
civilização ou promoção ontológica afirma-se, no entanto, somente com uma natureza contrastante: tudo que é
“popular, baixo, vulgar e comum”. Contudo podendo ser definido por conceitos como nome, renome, prestígio,
honra, glória, autoridade, enfim, por tudo que constituía um poder simbólico como poder reconhecido, sempre
Por todas essas decorrências históricas, a arte mais valorizada no Brasil dos anos de 1930 foi aquela que se
preocupava em enfatizar as características locais ou regionais, com artistas baseados em valores realistas ou
No período, houve também alguns artistas como Ismael Nery, que usou concepções cubistas e surrealistas, ao
lado do Expressionismo, de antecedentes em Anita Malfatti, manifesto em Portinari e Di Cavalcanti, e que ganha
força nas gravuras de Oswaldo Goeldi e nas telas e desenhos de Flávio de Carvalho (primeiro artista a realizar
performances no país). Ainda Alberto da Veiga Guignard (1896-1962) realiza sua pintura ímpar, que não se
preocupa com a profundidade do espaço, nem se atém às exigências da perspectiva renascentista. Destaca-se
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uma forte produção de pintura naif (ingênua), com destaque para a pintura Djanira da Mota e Silva, Heitor dos
Contudo, somente a partir dos anos de 1950, com a afirmação da arquitetura de Oscar Niemeyer, uma parcela
considerável do público brasileiro passou a estar interessada no ingresso definitivo do país na modernidade do
século XX. As bienais internacionais de São Paulo, a partir de 1951, passaram a colocar o artista local em contato
direto com as produções dos mais relevantes artistas internacionais. Mário Pedrosa afirmou-se como crítico de
O Neoconcretismo, através da aproximação entre arte e vida e da incorporação da sensualidade das nossas
manifestações artísticas populares – principalmente nas obras de Hélio Oiticica (1937-1980), Lygia Clark (1920-
experimentalismo nas nossas artes visuais. Somou-se à expressividade tropicalista que emergiu nos anos
seguintes (1960-1970) como enfrentamento da repressão estética e política causada pela ditadura militar que
assolou o país. O próprio termo “tropicalista” decorreu da influência de uma instalação de Hélio Oiticica
denominada Tropicália, a qual foi montada no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, pela primeira vez, em
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Hélio Oiticica, Instalação de Tropicália, 1967.
Parangolé, trabalho-síntese de sua obra. Tropicália (1967), Apocalipopótese (1967), Crelazer (1968) e Éden
(1969) lidaram com uma reformulação do conceito de arte. Exploraram vivências que libertavam o indivíduo
Nesse sentido, a Tropicália foi um emblema do questionamento de referências artísticas e culturais por meio da
explosão do óbvio. Trata-se de um “penetrável” circundado por plantas, areia, brita, araras, que tem no final um
aparelho de televisão ligado; aqui “é a imagem que devora o participador, pois ela é mais ativa que o seu criar
sensorial. Aliás, este penetrável deu-me a sensação de estar sendo devorado, é a meu ver a obra mais
antropofágica da arte brasileira”, afirmou o próprio artista, em uma clara intenção de objetivar uma linguagem
Hélio Oiticica não pretendia, contudo, criar um mito do tropicalismo por meio de araras e bananeiras, como foi
inequivocamente interpretado. A intenção não era a de superar, mas sim a de explicitar as contradições do
processo cultural brasileiro: “Anular a condição colonialista é assumir e deglutir os valores positivos dados por
essa condição, e não evitá-los como se fossem miragem”, porém viver essa ambivalência que era a experiência
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Experimentalismo e desintegração da pintura
Foi o experimentalismo que a produção de Oiticica assumiu no final da década de 1960 que a distinguiu de sua
fase anterior. Seu desenvolvimento até os Núcleos inseriu-se em um processo de desintegração do suporte
Esse processo lidava com conceitos que se relacionavam ainda com discussões da modernidade. Tratava-se de
uma concepção espacial homogênea, que implicava virtualidades e uma autonomia do campo artístico.
A experiência visual da cor, na arte moderna, correspondia a uma expectativa que supunha uma situação
campos de cor, percorria espaços virtuais previstos pelo jogo estético, seguindo ainda preceitos modernistas.
Nas séries dos “Bólides”, “Penetráveis” e “Parangolés”, Oiticica operou uma ruptura que o situava em um cenário
de questões mais contemporâneas. A cor passou a relacionar-se com sensações corporais e emoções que
supunham, muitas vezes, uma vivência desestabilizadora, pois questionava certezas e posturas racionais. A
esfera estética tradicional era aqui claramente esgarçada em um espaço descontínuo e heterogêneo, fruto de
experiências nem sempre previsíveis, uma vez que os trabalhos eram “receptáculos abertos às significações”.
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Estetizar o espaço e a experiência cotidiana implicava “desestetizar” o domínio artístico, e foi por meio dessa
busca experimental que Oiticica afirmou sua opção incondicional pela liberdade.
Apropriação
Os trabalhos de Hélio Oiticica tornaram evidente uma outra matriz da arte moderna, que teve importância
A apropriação de objetos apresenta uma relação direta com o ready-made de Duchamp. Contudo, as
apropriações de Oiticica têm um caráter mais amplo: não visam somente a descontextualização do objeto, mas,
sobretudo, a incorporação de sua estrutura a uma ideia estética. Ocorre uma fusão que impossibilita a separação
entre o objeto preexistente e a obra. Eles não são escolhidos ao acaso, nem são eleitos pelo que simbolizam.
Antiarte
Essa atitude é a referência fundamental para a constituição da antiarte: amplia o sentido de apropriação para as
coisas do mundo, situações cotidianas que, realçadas pelo artista, questionam a concepção de exposição, galeria
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Ambiente ou arte ambiental, criada por sensações visuais – luz, cor e espaço –, táteis, rítmicas, sonoras, olfativas
e palativas. Toca questões relativas a concepções de espaço que são abordadas também pela Minimal Art, pelo
conceito mais geral de instalação, muito utilizado durante os anos de predomínio internacional da arte
conceitual.
O Parangolé (1964) é a proposta que afirma o programa ambiental na obra de Oiticica. O Brasil já mostrava
então, por essa época, estar finalmente inserido na discussão e pesquisa artística internacional.
Arte corporal É uma manifestação que tem como base capas, estandartes, bandeiras para serem vestidas ou
carregadas pelo indivíduo. As capas são feitas com panos (com reprodução de palavras e fotografias)
Uso da cor A cor ganha um dinamismo no espaço por meio da associação com a dança e a música: os
desdobramentos das capas produzem um ambiente-luz. A cor assume um caráter literal de vivência, reunindo
Participação corporal A “obra”, transitória e efêmera, só se realiza pela participação corporal: a estrutura
depende da ação.
Aquela fruição, já presente nos “Bólides”, adquire aqui uma sensualidade que radicaliza a relação experimental
com o corpo. Ocorre um reconhecimento de um espaço intercorporal, criado pela obra ao ser desdobrada: “é a
Vivência coletiva Ao vestir soma-se o assistir, as experiências simultâneas criam a totalidade obra-ambiente,
possibilitando a vivência de uma participação coletiva Parangolé. Das capas e estandartes iniciais, o termo
Parangolé assume um sentido mais amplo de “arte ambiental”. Define a procura na realidade de objetos ou
a seu projeto; a escola de samba e o jogo de futebol são exemplos da cultura popular que, cifrados pelo artista,
criam uma nova relação entre os participantes. O programa ambiental, ou Parangolé, é a criação de uma nova
vitalidade na experiência humana criativa. Seu objetivo é dar ao público a chance de deixar de ser público para
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Hélio Oiticica, Mosquito da Mangueira, 1964.
Concretis
Designação dada pelo suíço Max Bill (1908-1994) à escola que apresentava obras partindo da realização de uma
imagem autônoma, não originada de modelo natural, e que utilizava elementos visuais ou táteis, geralmente de
caráter abstrato. A introdução da arte abstrata no Brasil provocou críticas e resistências entre artistas e
intelectuais adeptos de um Modernismo destituído de contestação formal e identificado com uma brasilidade
passadista. Uma espécie de Modernismo instituído, a partir do Estado Novo, que reagiu e não compreendeu as
O projeto construtivo ou concretista no Brasil fez parte do segundo movimento modernista caracterizado por
modernidade das vanguardas, já histórica na Europa, foi aqui reativada em sua plenitude utópica no Rio de
A questão principal da arte moderna brasileira, a partir do Manifesto Antropófago de 1928 de Oswald de
Andrade, residia em articular o novo importado e recém-chegado com o velho igualmente alienígena, já
assimilado. Os principais artistas concretistas foram Waldemar Cordeiro, Abraham Palatnik, Décio Vieira, Décio
Pignatari, Haroldo e Augusto de Campos, Lygia Clark, Lygia Pape e Ferreira Gullar.
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Neooncretis
A divergência entre os grupos concretistas do Rio de Janeiro e São Paulo veio à tona após a 1ª Exposição
Neoconcretismo, cujo manifesto apareceu no catálogo da 1ª Exposição Neoconcreta de 1959, representou uma
tomada de posição frente à arte não figurativa geométrica e frente à arte concreta levada a uma exacerbação
racionalista, principalmente pelo grupo paulista. O entendimento desse binômio concreto-neoconcreto revelava
um avanço crítico das vanguardas no Brasil, simbolizando uma adaptação dos conceitos concretistas importados
da Europa à realidade político-cultural nacional. Os principais artistas neoconcretos foram Amílcar de Castro,
Ferreira Gullar, Franz Weissmann, Lygia Clark, Lygia Pape, Reinaldo Jardim, Theo Spanudis e Hélio Oiticica.
Esse movimento procurou, principalmente com a obra de Lygia Clark e Hélio Oiticica, uma saída não
convencional para o esgotamento do projeto concretista do final dos anos de 1950, recusando o confinamento da
atividade artística a uma esfera elitista, a monotonia da repetição de formas transplantadas em fórmulas e
tentando romper com a inexpressividade da presença da arte na cultura de massa por meio de uma aproximação
à vida (arte-vida). Clark radicalizou os pressupostos construtivos, abandonando a pintura pelo objeto
antiarte. Oiticica incorporou a criatividade lúdica e a improvisação do samba brasileiro em obras como Tropicália
neoexpressionismo dos anos de 1980 e pela arte digital dos anos 1990 e 2000. Entre inúmeros artistas de grande
significação para a história da arte, pode-se citar nomes como Antonio Dias, Anna Maria Maiolino, Nelson
Leirner, Marcelo Nitsche, Iole de Freitas, Arthur Alípio Barrio, Sérgio Camargo, Cildo Meirelles, Luiz Alphonsus,
Rubem Gerchman, Waltércio Caldas, Annabella Geiger, Ivens Machado, Antonio Manoel, José Rezende, Leda
Catunda, Paulo Pasta, Chico Cunha, Beatriz Milhazes, Tunga, Jac Leirner, Regina Silveira, Julio Plaza, Eduardo Kac,
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Cildo Meirelles, Volátil, 1980-1994, cinza, vela, cheiro de gás.
contemporânea, como a Minimal Art e a Arte Conceitual, chegando à diversidade das manifestações
CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• Viu como o movimento neoconcreto absorveu a influência dadaísta que, somada à antropofagia cultural
de Oswald de Andrade nos anos de 1920, estabeleceu uma arte experimental nacional de dimensões
internacionais.
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ESTÉTICA E HISTÓRIA DA ARTE
CONTEMPORÂNEA
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Olá!
Ao final desta aula, você será capaz de:
3. Ser introduzido a alguns grandes artistas da arte contemporânea (receber noções de história da arte).
Vídeo criado pela equipe do Itaú Cultural para abrir a exposição Trilhas do Desejo e aproximar o público da arte
1 Introdução
Olá! Seja bem vindo à nossa aula!
Na segunda metade do século passado surgiram duas tendências que continuam tendo importância por seus
Arte conceitual
Minimal art
A arte conceitual e a minimal art coexistiram e dividiram as atenções com a Pop Art e com as novas formas de
arte surgidas (como os Happenings e as performances), e substituíram o Expressionismo abstrato no foco das
discussões, depois de quase duas décadas de seu predomínio no campo da arte. Houve também uma mudança da
crítica de arte, com o declínio da influência de críticos como Clemente Greenberg e Michael Fried (chamados
de formalistas), que foram hegemônicos durante o predomínio do Expressionismo abstrato. Eles, então,
passaram a dividir espaço com toda uma legião de novos críticos (dos quais se destacam Rosalind Krauss, Hall
Foster, Thierry de Duve, entre outros), defensores de novas teorias ligadas à linguagem (comentadas por eles)
e ao pensamento contemporâneo e com os escritos dos próprios artistas, que se tornam frequentes influentes, a
partir da segunda metade do século XX. Todas essas transformações, tanto da crítica como das formas de arte
que passam a conviver em um mesmo período, caracterizam o início do período atual, chamado de pós-
modernidade.
abstrato como uma espécie de conclusão lógica da arte moderna. Em sua versão, o desenvolvimento da arte,
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iniciado a partir de Manet e dos impressionistas, caminhou, a partir das vanguardas em direção à arte abstrata.
Seu pensamento ficou identificado com a modernidade, com a noção de autonomia de cada tipo de arte e com a
Expressionismo
Fauvismo
Cubismo
Futuristas
Movimentos construtivistas
Surrealismo
Dimensão atitudinal
A partir da emergência das novas tendências, esse pensamento começa a não mais conseguir “explicar” os novos
“movimentos” (Pop, Minimal e Conceitual, principalmente) e começam a surgir referências críticas com o termo
pós-modernidade. Esses novos “movimentos” devem ser colocados entre aspas, por serem bem diferentes dos do
Minimalismo, por exemplo, os próprios artistas recusaram o rótulo e tinham divergências de pensamento entre
si.
Caracterizar o período após esses movimentos se tornou uma tarefa mais difícil, devido à coexistência de
diversos “estilos” ao mesmo tempo. Assim a tendência dominante é se referir ao período como pós-
abstrato, ainda apresentando desdobramentos e proporcionando assim, ao estudante, uma ferramenta para uma
maior compreensão da arte de hoje. A arte atual ainda é muito recente para ser “explicada” pela história da arte,
Como toda imagem artística tem sua árvore genealógica (avô, pai, mãe, tio, primo...), é na história das imagens
(história da arte)também que ela é constituída. Se não pudermos compreender imediatamente uma nova arte
(como já ocorreu com Van Gogh, Cézanne, e até com Duchamp)que surge, podemos identificar suas origens -
reconhecê-las - e assim nos tornarmos capazes de nos relacionarmos com essas novas formas, de modo a utilizá-
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Quando estudamos a mudança do foco principal do cenário artístico internacional, que passou da Europa para os
Estados Unidos no pós-guerra, com o surgimento do Expressionismo abstrato, vimos que o final do seu
Vamos estudar então as outras manifestações artísticas principais que surgiram logo a seguir: a Minimal Art e a
Arte Conceitual.
Os trabalhos de Judd caracterizam-se pela ordenação de formas cúbicas, quadradas ou retangulares. Um módulo
A Minimal Art surgiu nos Estados Unidos, na década de 1960, e consistiu no trabalho que teve a especificidade de
utilizar materiais reais, cores reais e espaço real, além de estetizar a tecnologia. Eram trabalhos que não eram
esculpidos, nem construídos pelo artista, tampouco pareciam significar algo além de afirmar sua existência.
A maioria dos artistas, usualmente chamados de minimalistas, nega o rótulo e o ensaio de 1965, de Richard
Wollheim, que batizou o movimento (foi o nome que pegou dentre vários). Curiosamente, o ensaio não
comenta o trabalho de nenhum dos artistas que ficaram conhecidos como minimalistas.
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Não há um consenso sobre o que essa arte foi ou representou, mas hoje, qualquer trabalho vagamente austero,
aproximadamente geométrico, mais ou menos monocromático e de aparência geral abstrata provavelmente será
São trabalhos soldados, parafusados, colados, clavilhados ou simplesmente empilhados. O traço autográfico do
Esses trabalhos caracterizam-se por “um compromisso com a clareza, com o rigor conceitual, com a literalidade e
a simplicidade”.
Transmitiam uma noção de perfeito equilíbrio e produziam uma simetria visual que nunca se desvia de seu
campo planejado, como um rio ou planetas seguindo seu curso, porém com unidades modulares cuja monotonia
Utilização de materiais industriais; Arranjos simétricos, regulares ou em grade; Uso e apresentação direta dos
retangulares e cúbicas, sem metáforas ou quaisquer outros significados; Unidades modulares – partes iguais,
repetição e superfícies neutras. Formas geométricas simples, unitárias, usadas como unidades independentes ou
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Na Minimal Art o todo era mais importante que as partes e a composição relacional era suprimida por uma
ordenação simples. Usaram materiais industriais (tijolos refratários, tubos fluorescentes, ferro galvanizado,
aço laminado, chapas de cobre, tinta industrial, etc) de maneira tão neutra quanto possível, sem prejuízo da
O trabalho representa mais do que um simples estilo de época, logo ultrapassado por outro na demanda cada vez
mais acelerada por uma arte com aparência nova, porque mudou o aspecto que a arte poderia ter, como poderia
Os materiais não são disfarçados ou manipulados para parecer o que não são. Nenhum desses trabalhos está
Alguns aspectos dos trabalhos de Flavin são referentes à pintura, outros à escultura.
Nas obras de Flavin, as esculturas em néon difundem uma iridescência impalpável nas paredes circundantes,
Iridescência é um fenômeno óptico que faz certos tipos de superfícies refletirem as cores do arco-íris, como
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Trabalho de Dan Flavin
Novamente o trabalho de Robert Rauschenberg aparece como predecessor, em suas combine paintings. Para o
crítico Leo Steinberg, as pinturas com objetos colados, opacas literais de Rauschenberg, refletiam um mundo em
que as coisas são mais feitas do que vistas, assentado mais na cultura urbana do que na natureza.
Embora pintor, Stella é considerado dentro da estética minimalista pelo predomínio do pensamento espacial que
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-8-
Principais artistas minimalistas:
• Donald Judd
• Dan Flavin
• Carl André
• Robert Morris
• Frank Stella
• Sol LeWitt
Alguns críticos ainda consideram minimalistas Tony Smith e Larry Bell.
Carl André diz que percebeu trabalhando em madeira que esta não melhorava com o corte, e percebeu que ele
“estava cortando o
próprio corte”. Passou então a usar o próprio material como corte no espaço. Ele elimina do processo de
produção de esculturas toda forma de entalhe, redução ou construção e adição de material. Suas coleções de
barrotes trazem um novo elemento ao seu trabalho: a horizontalidade. O artista não queria que seus trabalhos
parecessem estruturais e arquiteturais, por isso passou a dispor seus módulos sobre o solo. Afirmou certa vez
Por exemplo, 137 tijolos refratários enfileirados por 10,5 metros, sobre o qual afirmou:
“Tudo o que fiz foi por a coluna sem fim de Brancussi no chão, em vez de no ar... A posição assumida é rastejar
pela terra”.
-9-
3 A herança da arte conceitual
Os limites da Arte Conceitual não são claramente definidos. E identificar quem foram seus artistas e mesmo suas
Dos movimentos artísticos do século XX, talvez este tenha sido o mais genuinamente internacional e de mais
rápido crescimento.
Não pode ser reduzido a alguns artistas em determinados países. Entretanto, Joseph Kosuth, Robert Barry,
Douglas Huebler e Lawrence Weiner, que se apresentaram juntos em 1968 e 1969, são mencionados com maior
frequência, mas o movimento alastrou-se rapidamente. O termo foi inicialmente utilizado pelo artista
californiano Edward Kienholz no começo dos anos de 1960. Foi muito teorizado principalmente por Sol LeWitt
(em 1960, um dos primeiros a utilizar o termo), por Kosuth e mesmo Donald Judd.
Parece que o momento conceitual terminou por volta de 1975, mas persistiu uma atividade conceitual em meio a
um terreno povoado de pintura e escultura, em boa parte influenciada por ele. O período que se seguiu - anos de
1980 - viu um rejuvenescimento da pintura e uma ênfase renovada sobre os materiais trabalhados
manualmente, sobre a superfície espessa e áspera da pintura e da escultura e uma atração pelo tema.
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Arte como ideia ou arte conceitual
Já foi visto na aula 6 que a arte conceitual foi considerado como um vale-tudo em arte, com a valorização da ideia
ou conceito.
A Arte Conceitual foi a primeira brecha na infalibilidade abstrata. Ao lado de uma influência renovada da Pop Art,
a Arte Conceitual ajudou a revitalizar o uso do humor e da ironia na arte, das imagens fotográficas, da figura
humana, de temas e linguagem autobiográficos. Parece mais importante o sentimento de liberdade que ela gerou
O conceitualismo não democratizou a arte nem eliminou o objeto de arte único, tampouco suprimiu o mercado
da arte ou revolucionou a propriedade artística. O mercado ajustou-se e foi flexibilizado. Surgiu inclusive uma
Apesar do grande número de obras produzidas, poucas se tornaram obras primas de museus. Contudo, sua
4 Diversidade Conceitual
Sua manifestação mais característica foi a palavra impressa, com frequência combinada com a fotografia. Sua
natureza física real foi desde o pensamento puro - como na Peça Telepática de Robert Barry ou na coluna de ar
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de localização, área e altura não especificadas do grupo Art and Language - até a fisicalidade escondida de
Para alguns artistas a linguagem atingiu um status quase formal, existindo como material e tema e sua obra
concentrou-se na questão de definir a arte. Kosuth apresentou tautologias como “Uma e três cadeiras”, uma
progressão do real para o ideal que cobre as possibilidades básicas do “ser cadeira”.
"Uma e três cadeiras", de 1965, de Joseph Kosuth: o significado da obra como parte dela.
Já Mel Bochner se interessa tanto pela experiência espacial quanto pela intelectual do observador. Huebler e
Haacke usaram a linguagem para transmitir ou reunir informações, para expor complexas questões não visuais
de natureza frequentemente política e social ou para descrever a matriz da existência humana. Huebler pediu
aos visitantes de museus que escrevessem um “autêntico segredo”, obtendo 1.800 documentos e produzindo um
livro.
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Haacke apresentou fotos de um vasto grupo de construções de uma favela de Nova York, todas de propriedade
de uma só firma, revelando um holding de companhias através de hipotecas, impostos e valores imobiliários.
Quando o Guggenhein cancelou sua exposição, ele mostrou em uma obra os laços de família e de negócios entre
os curadores do museu.
Para outros artistas como Vito Acconti, Cris Burden e a equipe inglesa Gilbert e George, a linguagem é usada em
conjunto com seus corpos ou vidas. Acconti estabelece uma intimidade incômoda e forçada com o público,
intensificada pelo uso repetitivo e obsessivo de palavras. Burden ficou famoso por uma performance em 1971,
que consistiu em dar um tiro no próprio braço. Foi também crucificado em um automóvel e arrastou-se sobre
estilhaços de vidro, além de raptar uma apresentadora de TV. Gilbert e George designam-se esculturas vivas e
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Outros artistas registram a passagem do tempo, como On Kawara que trabalhou uma pequena tela a cada dia
com a data em letras brancas - até hoje. Ou o holandês Jan Dibbets, que fotografa a transição da luz do dia para a
noite. Ou ainda o artista polonês Roman Opalka, que tem trabalhado desde 1965 a sua série de um ao infinito
enchendo telas com uma quantidade infindável de números e recitando cada número para um gravador em
tempo real (a medida que é pintado). O que lembra o trabalho de Robert Morris Caixa Com Som de Sua Própria
Produção, uma caixa contendo uma fita com os ruídos de serrar e martelar.
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Há ainda muitos outros artistas importantes como Daniel Buren, que reduziu seu trabalho a uma série de listras
impressas e, assim como três outros colegas franceses que chegaram a configurações similares, concordaram
No Brasil, podemos encontrar artistas citados em livros sobre a Arte Conceitual internacional, como Hélio
Oiticica, Ligia Clark e Ligia Pape , Artur Barrio, Cildo Meirelles, Antônio Manuel, Antônio Dias entre outros. Na
nossa produção atual temos diversos artistas consagrados que usam estratégias da Arte Conceitual como
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5 Recordando: do predomínio da pintura expressionista ao
surgimento das novas tendências
A pintura moderna viu-se ameaçada pela iminência de seu desaparecimento com o surgimento do ready-made
duchampiano, nas primeiras décadas do século XX, ao lado das diversas correntes experimentais que se lhe
seguiram (arte Conceitual, Happening, performance, instalação, body arte, videoarte, arte digital).
Os expressionistas abstratos, representados por Jackson Pollock, imprimiram à pintura um caráter “heróico”
determinado pelo clima dominante do pós-guerra. A partir de 1950, os pintores começaram a aplicar a
fenomenologia, ao enfatizar os materiais como fonte primeira de sua inspiração criativa. Cortes e furos na tela,
expandiram os limites da pintura, como se podia ver nas obras no Brasil dos neoconcretistas Lygia Clark e Hélio
Oiticica (bem como naquela de artistas contemporâneos como Yole de Freitas e Nuno Ramos). Surgem nos anos
de 1960 as artes Pop, Minimal e Conceitual, no limite (surgimento) do que chamamos Pós-Modernismo.
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Figura 2 - Nuno Ramos, Sem título, 2005, técnica mista. Coleção do artista.
6 Pós Modernismo
O Pós-Modernismo é avesso à definição. Um termo criado para descrever fenômenos diversos em diversas áreas
Pode ser entendido como uma reação aos ideais do Modernismo, como um retorno ao estado que precedeu o
Modernismo, ou mesmo como uma continuação e conclusão de várias tendências. É uma espécie de filho
Parece só poder ser definido com negação de outra coisa. A guerra do Golfo exibida na TV como um videogame
ou as réplicas das cavernas pré-históricas para a visitação de turistas ou os distritos da Disney (que propõe um
retorno a um tempo que só existiu – existe – no cinema e nas nossas mentea), são situações consideradas pós-
modernas. Caracterizam-se pela remoção de uma realidade, cuja ausência, não é mais sentida. Sustenta-se o
dogma de que nossa compreensão do mundo é baseada em imagens mediadas pela mídia, pelo cinema, pela
publicidade. Em filosofia a noção é associada a descobertas científicas (como a relatividade de Einstein que
derruba a ideia newtoniana do referencial estável) e à deposição das ideias de progresso do Iluminismo, ao tema
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São ideias que dão uma sensação de instabilidade inerente à realidade. De uma história como ruptura, de
verdade e conhecimento como relativos e dependentes de sistemas. Significados que se relacionam com outros
Em arte investe-se contra o dogma greenbergiano de que a arte moderna constituía um campo autônomo,
Na Europa Joseph Beuys canalizou as atenções e apresentou propostas no período (anos de 1960 e 1970) que
ainda hoje apresentam continuidade nas obras de diversos artistas que foram seus alunos.
Começou a surgir na década de 1960, com tendências como as artes Pop, Minimal e Conceitual. Hoje há, por
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Multiculturalismo, completando uma revolução contra a fé modernista na universalidade, no progresso artístico,
7 O neoexpressionismo
O Neoexpressionismo foi um agrupamento de artistas internacionais, com principais integrantes na Alemanha,
mercado reanimou-se com o ressurgimento da pintura - a partir dos anos de 1980, após o seu declínio durante
Pareceu que as artes não eram mais motivadas pelas questões filosóficas profundas do Modernismo, mas pelas
necessidades banais das instituições que haviam surgido para alimentar a arte. Era o pluralismo, que permitiu a
convivência de todo tipo de arte. O Neoexpressionismo parece ser apenas um novo compromisso com a história
e uma celebração da criatividade individual. Deu origem a debates sobre autenticidade, originalidade e
sinceridade.
Na Alemanha foi o início da atuação de uma geração que não teve nenhum envolvimento pessoal com os
horrores da guerra e que se sentia coagida pela proibição tácita de certos tipos de debate. Joseph Beuys foi o
mestre de Jorg Immendorff e Anselm Kiefer além de ser uma referência internacional para outros artistas de
destaque como Georg Baselitz. Como é uma arte de significados históricos e de imagens, incentiva o debate sobre
Na Itália, os artistas também relembram a pintura italiana da época do surrealismo (principalmente De Chirico e
Magritte), a arte clássica e o futurismo, misturadas com outras referências diversas, como sexuais e filosóficas.
Nos Estados Unidos, o surgimento do Neoexpressionismo coincidiu com o início da era Reagan. O debate foi
alimentado entre simpatizantes partidários da hipótese de uma resposta a fome de sentimento atribuído ao
alimentavam uma aura de sentimento espontâneo e expressão desenfreada, de olho no mercado. Julian Schnabel
foi o símbolo para o público em geral. Ele trazia referências múltiplas e rivalizava a imagem com os materiais.
Outro artista é Jean-Michel Basquiat, que foi originalmente um grafiteiro de rua, que revelou uma percepção
sagaz da política e do mundo da arte. Já Erich Fischl revela a corrupção e a decadência do modo de vida
suburbano da classe média alta, que ilustrava o sonho americano. Seus quadros trazem sugestões de incesto,
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Embora a pintura expressionista tenha sido declarada morta e enterrada durante os anos de 1970, na década de
1980, o expressionismo novamente aflorou como estética popular, inclusive na arte do grafite, em que se destaca
8 O grafite
A volta à figura, empreendida pelo Neoexpressionismo, pelo grafite e por parte da arte pública a partir dos anos
1980, diferencia-se da Pop Art e se contrapõe a movimentos intelectualistas da arte americana, como a Arte
Conceitual e o Minimalismo. Os grafites representam uma das mais importantes contribuições dos
O pintor expressionista Jean Dubuffet (1901-1958) foi um dos primeiros a recolher e adaptar as figuras e as
inscrições com as quais marginais, crianças e doentes mentais encontraram uma forma para se expressar. Mas
foi somente nos anos 1980 que o grafite passou a representar uma crítica contundente à civilização e à cultura,
principalmente na obra do artista hispânico-americano Jean-Michel Basquiat, que transferiu para suas telas,
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Começou ele como pintor de grafites, em Nova York, até ser descoberto por Andy Warhol, de quem se tornou
Jean-Michel Basquiat, Nariz de vidro, 1987, acrílico, lápis de óleo e lápis de cera sobre tela, 175 x 132cm. Coleção
particular.
CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• Teve a oportunidade de acompanhar o desenvolvimento da Pop Art, da Minimal Art e da Arte Conceitual,
marcando o limiar do Modernismo e dando as diretrizes para o Pós-Modernismo. Nele, meios mais
tradicionais como a pintura e a escultura persistem até a contemporaneidade, ao lado das novas formas
de arte como o objeto e o grafite, entre outras.
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