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Resumo Jacques Delors - Educação Um Tesouro A Descobrir - Unesco

ESTUDO PARA CONCURSO

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Mariane Souza
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Delors Jacques et al

“ "Educação um tesouro a
descobrir,"
UNESCO 1996

A educação: utopia necessária


Prefácio
Educação como um triunfo indispensável para a construção de ideais de paz, da
liberdade e da justiça social
 Para que conduza o desenvolvimento humano mais harmonioso e recuar a pobreza, a
exclusão social, as incompreensões, as opressões e as guerras.

 O papel central da UNESCO, na linha das ideias que presidiram a sua fundação e que
assentam na esperança de um mundo melhor

 pratique a compreensão mútua, em que os progressos no conhecimento sirvam de


instrumentos, não de distinção, mas de promoção do gênero humano.

 A este propósito, referimos a necessidade de caminhar para “Uma sociedade educativa”. É


verdade que toda a vida pessoal e social oferece oportunidades de progredir no saber e no
saber fazer.

 É a idéia de educação permanente que deve ser repensada e ampliada. É que, além das
necessárias adaptações relacionadas com as alterações da vida profissional, ela deve ser
encarada como uma construção contínua da pessoa humana, dos seus saberes e
aptidões, da sua capacidade de discernir e agir. Deve levar cada um a tomar consciência
de si próprio e do meio ambiente que o rodeia, e a desempenhar o papel social que lhe
cabe enquanto trabalhador e cidadão.

 Mais, é desejável que a escola lhe transmita ainda mais o gosto e prazer de aprender, a
capacidade de ainda mais aprender a aprender, a curiosidade intelectual. Podemos, até,
imaginar uma sociedade em que cada um seja, alternadamente, professor e aluno.
Ampliar a cooperação internacional a toda a
aldeia global
 A Comissão observa que, nos domínios político e econômico, se recorre cada vez mais a
ações de nível internacional para tentar encontrar soluções satisfatórias para os problemas
mundiais, quanto mais não seja, devido ao fenômeno de crescente interdependência para
o qual já se chamou várias vezes a atenção. Lastima, igualmente, os fracos resultados
obtidos e a necessidade de reformar as instituições internacionais, para que se tornem
mais eficazes nas suas intervenções

Primeira parte: Horizontes


Um planeta cada vez mais povoado

 Hoje em dia, grande parte do destino de cada um de nós, quer o queiramos quer não, joga-
se num cenário em escala mundial. Imposta pela abertura das fronteiras econômicas e
financeiras, impelida por teorias de livre comércio, reforçada pelo desmembramento do
bloco soviético, instrumentalizada pelas novas tecnologias da informação a
interdependência planetária não cessa de aumentar, no plano econômico, científico,
cultural e político. Sentida de maneira confusa por cada indivíduo, tornou-se para os
dirigentes uma fonte de dificuldades. A conscientização generalizada desta
“globalização” das relações internacionais constitui, aliás, em si mesma, uma dimensão
do fenômeno. E, apesar das promessas que encerra, a emergência deste mundo novo,
difícil de decifrar e, ainda mais, de prever, cria um clima de incerteza e, até, de apreensão,
que torna ainda mais hesitante a busca de uma solução dos problemas realmente em
escala mundial.
 A extrema rapidez do crescimento demográfico, que constitui, de algum modo, o pano de
fundo desta problemática..
 Durante os últimos vinte e cinco anos, o fenômeno da globalização das atividades deu-se, em
primeiro lugar na área da economia. A desregulamentação e a descompartimentação dos
mercados financeiros, aceleradas pelo progresso da informática, depressa transmitiram a idéia
de que tais mercados deixavam de ser compartimentos estanques, no meio de um vasto mercado
mundial de capitais, dominado por algumas grandes praças financeiras.
 Esta nova situação tornou desfavorável a conjuntura de alguns países industrializados e,
correlativamente, a dos países em desenvolvimento que lhes fornecem matérias-primas. Ao
mesmo tempo, a expansão do comércio mundial, provocou efeitos benéficos em numerosos
países. De 1980 a 1993, o ritmo de crescimento das exportações mundiais foi, em média,
superior ao do crescimento do produto interno bruto (PIB) em 1,5 pontos percentuais. Para
alguns países, a diferença foi mais acentuada ainda, sobretudo se se considerar o período de 1990
a 1993: mais de 3 pontos percentuais na Coréia do Sul, ou mais de 7 pontos na Tailândia. Disso se
pode concluir que o crescimento mundial, especialmente nos países onde foi mais acentuado, foi
grandemente influenciado pelas exportações. A parte das exportações de bens e serviços no PIB
passou, de 1970 a 1993 e para o conjunto das economias, de 14% para 21%, e chamamos a
atenção para evoluções de 3% para 24% na China, de 13% para 28% na Indonésia, ou de 42%
para 80% na Malásia . Estes números provam bem o que é a interdependência mundial.
 No fim de contas, a globalização que obriga todos os países a arranjar trunfos específicos para
participarem no desenvolvimento das relações econômicas mundiais, torna mais escandalosa
ainda a separação entre os que ganham e os que perdem. Outra característica da globalização,
a constituição de redes científicas e tecnológicas que liguem entre si, os centros de pesquisa e as
grandes empresas do mundo inteiro, tende a agravar estas disparidades. Faz parte destas redes,
quem tiver qualquer coisa com que participar: informação ou financiamento; quem pertencer a
países mais pobres (pesquisadores ou empresários) arrisca-se a ser excluído. E deste modo se
aprofunda a diferença, em termos de conhecimentos, que faz com que aqueles que deles ficam
privados, permaneçam afastados dos pólos de dinamismo

A comunicação universal
 As novas tecnologias fizeram a humanidade entrar na era da comunicação universal;
abolindo as distâncias, concorrem muitíssimo para moldar a sociedade do futuro, que não
corresponderá, por isso mesmo, a nenhum modelo do passado, Em breve, a interatividade
permitirá não só emitir e receber informações, mas também dialogar, discutir e transmitir
informações e conhecimentos, sem limite de distância ou de tempo. Não podemos nos esquecer,
contudo, que numerosas populações carentes vivem ainda afastadas desta evolução,
principalmente em zonas desprovidas de eletricidade. Recordemos, também, que mais da metade
da população mundial não tem acesso aos diversos serviços oferecidos pela rede
telefônica.
 Tem, contudo, contrapartidas negativas. Os sistemas de informação são ainda
relativamente caros, e de difícil acesso para muitos países. O seu domínio confere às
grandes potências, ou aos interesses particulares que o detêm, um verdadeiro poder
cultural e político, principalmente sobre as populações que não foram preparadas, através
de uma educação adequada, a hierarquizar, a interpretar e a criticar as informações
recebidas. O quase monopólio das indústrias culturais, por parte de uma minoria de
países, e a difusão de sua produção pelo mundo inteiro, junto de um público vastíssimo,
constituem poderosos fatores de erosão das especificidades culturais. Se bem que
uniforme e, muitas vezes, de grande pobreza de conteúdo, esta falsa “cultura
mundial” não deixa, por isso, de trazer consigo normas implícitas e pode induzir,
nos que lhe sofrem o impacto, um sentimento de espoliação e de perda de
identidade
 Fazendo-se primeiro notar ao nível da atividade econômica e tecnológica, a inter-relação
mundial das decisões e das ações públicas e privadas vai invadindo progressivamente
muitas outras áreas da atividade humana. As suas conseqüências sobre o meio
ambiente, por exemplo, ultrapassam em muito as fronteiras — e pode-se verificar que a
distribuição dos efeitos negativos da industrialização é muito injusta, pois são suportados,
muitas vezes, pelos países menos desenvolvidos..
 Outras manifestações desta “globalização” dos problemas têm repercussões na vida das
sociedades, através da maneira como afetam, diretamente, os sistemas educativos. É o
que se passa com as migrações internacionais. Remontando a épocas históricas já
muito distantes, e assumindo formas muito variáveis, segundo as épocas e as regiões,
estes grandes movimentos de população persistem na era moderna e irão, certamente,
intensificar-se
Um mundo multirrisco
 A queda, em 1989, do bloco soviético virou uma página da história mas, paradoxalmente, o
fim da guerra fria, que marcara os decênios precedentes, deu origem a um mundo mais
complexo e inseguro, e sem dúvida mais perigoso. Talvez a guerra fria encobrisse, há muito
tempo já, as tensões latentes que existiam entre nações, etnias, comunidades religiosas, que agora
surgem à luz do dia, constituindo outros tantos focos de agitação, ou causas de conflitos
declarados. A entrada neste mundo “multirriscos”, ou pressentido como tal, constituído por
elementos ainda por decifrar, é uma das características dos finais do século XX, que perturba e
inquieta profundamente a consciência mundial
 É correto, sem dúvida, considerar a queda de alguns regimes totalitários como um avanço da
liberdade e da democracia. Mas há muito caminho a percorrer ainda, e a revelação da
multiplicidade de riscos que pesam sobre o futuro do mundo coloca o observador perante
numerosos paradoxos: o poder totalitário revela-se frágil, mas os seus efeitos persistem; assiste-
se, simultaneamente, ao declínio da idéia de Estado nacional e ao aumento dos nacionalismos; a
paz parece, agora, menos impossível que durante a guerra fria, mas a guerra surge, também,
como menos improvável.
 A incerteza quanto ao destino comum da humanidade assume novas e variadas formas. A
acumulação de armas, mesmo de armas nucleares, não tem o mesmo significado simples de
dissuasão nem de segurança contra o risco de uma guerra entre dois blocos; é fruto de uma
competição generalizada, para ver quem detém as armas mais sofisticadas.7 Ora, esta corrida aos
armamentos não diz respeito apenas a alguns Estados; implica entidades não-institucionais, como
associações políticas ou grupos terroristas

O local e o global
 O mal-estar causado pela falta de visão clara do futuro, conjuga-se com a consciência cada vez
maior das diferenças existentes no mundo, e das múltiplas tensões que daí resultam, entre o “local”
e o “global”.
O desenvolvimento das interdependências veio revelar vários desequilíbrios: desequilíbrio entre
países ricos e países pobres; fratura social entre os mais favorecidos e os excluídos, no interior de
cada país; uso descontrolado dos recursos naturais, provocando a rápida degradação do meio
ambiente. As desigualdades de desenvolvimento agravaram-se, em muitos casos, como é referido
pela maior parte dos relatórios internacionais, e observa-se um verdadeiro descontrole dos países
mais pobres..

Compreender o mundo, compreender o outro.


 Para podermos compreender a crescente complexidade dos fenômenos mundiais, e dominar o
sentimento de incerteza que suscita, precisamos, antes, adquirir um conjunto de conhecimentos e,
em seguida, aprender a relativizar os fatos e a revelar sentido crítico perante o fluxo de
informações. A educação manifesta aqui, mais do que nunca, o seu caráter insubstituível na
formação da capacidade de julgar. Facilita uma compreensão verdadeira dos acontecimentos, para
lá da visão simplificadora ou deformada transmitida, muitas vezes, pelos meios de comunicação
social
 A compreensão deste mundo passa, evidentemente, pela compreensão das relações que ligam o
ser humano ao seu meio ambiente. Não se trata de acrescentar uma nova disciplina a programas
escolares já sobrecarregados, mas de reorganizar os ensinamentos de acordo com uma visão de
conjunto dos laços que unem homens e mulheres ao meio ambiente, recorrendo às ciências da
natureza e às ciências sociais
 A exigência de uma solidariedade em escala mundial supõe, por outro lado, que todos
ultrapassem a tendência de se fecharem sobre si mesmos, de modo a abrir-se à
compreensão dos outros, baseada no respeito pela diversidade.
 A educação deve, pois, procurar tornar o indivíduo mais consciente de suas raízes, a fim de dispor
de referências que lhe permitam situar-se no mundo, e deve ensinar-lhe o respeito pelas outras
culturas.
 Pelo contrário, a exigência de verdade, que leva ao reconhecimento de que “os grupos humanos,
povos, nações, continentes, não são todos iguais”, por isso mesmo, “obriga-nos a olhar para além
da experiência imediata, a aceitar e reconhecer a diferença, e a descobrir que os outros povos têm
uma história, também ela, rica e instrutiva . O conhecimento das outras culturas torna-nos, pois,
conscientes da singularidade da nossa própria cultura mas também da existência de um patrimônio
comum ao conjunto da humanidade..

 e a Comissão pensa que as políticas de educação devem deixar transparecer, de modo


bem claro, essa responsabilidade. É, de algum modo, um novo humanismo que a
educação deve ajudar a nascer, com um componente ético essencial,

Pistas e recomendações
 A interdependência planetária e a globalização são os fenômenos mais importantes do nosso
tempo. Já estão em marcha e caracterizarão fortemente o século XXI. Exigem, desde já, uma
reflexão conjunta que ultrapasse em muito os campos da educação e da cultura sobre o papel e as
estruturas das organizações internacionais.
 O maior risco é provocar uma ruptura entre uma minoria apta a movimentar-se neste mundo
novo em formação e uma maioria que começa a sentir-se um joguete dos acontecimentos,
impotente para influenciar o destino coletivo, com o risco de um recuo democrático e múltiplas
revoltas.
 Devemos cultivar, como utopia orientadora, o propósito de encaminhar o mundo para uma maior
compreensão mútua, mais sentido de responsabilidade e mais solidariedade, na aceitação das
nossas diferenças espirituais e culturais. A educação, permitindo o acesso de todos ao
conhecimento, tem um papel bem concreto a desempenhar no cumprimento desta tarefa universal:
ajudar a compreender o mundo e o outro, a fim de que cada um se compreenda melhor a si mesmo

Capítulo 2
da coesão social à participação
democrática
 Qualquer sociedade humana retira a sua coesão de um conjunto de atividades e projetos comuns,
mas também, de valores partilhados, que constituem outros tantos aspectos da vontade de viver
juntos. Com o decorrer do tempo, estes laços materiais e espirituais enriquecem-se e tornam-se,
na memória individual e coletiva, uma herança cultural, no sentido mais lato do termo, que serve de
base aos sentimentos de pertencer àquela comunidade, e de solidariedade.
 Os meios utilizados abrangem as culturas e as circunstâncias mais diversas; em todos os casos, a
educação tem como objetivo essencial o desenvolvimento do ser humano na sua dimensão
social.
 os diferentes modos de socialização estão sujeitos a duras provas, em sociedades ameaçadas
pela desorganização e a ruptura dos laços sociais. Os sistemas educativos encontram-se, assim,
submetidos a um conjunto de tensões, dado que se trata, concretamente, de respeitar a
diversidade dos indivíduos e dos grupos humanos, mantendo, contudo, o princípio da
homogeneidade que implica a necessidade de observar regras comuns. Neste aspecto, a
educação enfrenta enormes desafios, e depara com uma contradição quase impossível de
resolver: por um lado, é acusada de estar na origem de muitas exclusões sociais e de agravar o
desmantelamento do tecido social, mas por outro, é a ela que se faz apelo, quando se pretende
restabelecer algumas das “semellhanças essenciais à vida coletiva”, de que falava o sociólogo
francês Emile Durkheim, no início deste século..

 Confrontada com a crise das relações sociais, a educação deve, pois, assumir a difícil
tarefa que consiste em fazer da diversidade um fator positivo de compreensão mútua
entre indivíduos e grupos humanos. A sua maior ambição passa a ser dar a todos os
meios necessários a uma cidadania consciente e ativa, que só pode realizar-se,
plenamente, num contexto de sociedades democráticas.

Uma educação à prova da crise das relações sociais


 Uma primeira verificação relaciona-se com o agravamento das desigualdades, ligado ao
aumento dos fenômenos de pobreza e de exclusão. Não se trata, apenas, das
disparidades já mencionadas entre países ou regiões do mundo, mas sim de fraturas
profundas entre grupos sociais, tanto no interior dos países desenvolvidos como no dos
países em desenvolvimento (desemprego e subemprego).
 O desenraizamento ligado às migrações e ao êxodo rural, o desmembramento das
famílias, a urbanização desordenada, a ruptura das solidariedades tradicionais de
vizinhança, lançam muitos grupos e indivíduos no isolamento e na marginalização, tanto
nos países desenvolvidos como nos países em desenvolvimento. A crise social do
mundo atual conjuga-se com uma crise moral, e vem acompanhada do
desenvolvimento da violência e da criminalidade.
 O que parece particularmente grave é que esta atitude abrange dois conceitos, o de nação
e o de democracia, que podemos considerar como os fundamentos da coesão das
sociedades modernas., ANTIGA URSS LER A PÁGINA 53.
 Há pois que reinventar o ideal democrático ou, pelo menos, dar-lhe nova vida. Deve estar
na primeira linha das nossas prioridades, pois não há outro modo de organização, quer
política quer civil, que possa pretender substituir-se à democracia, e que permita levar a
bom termo uma ação comum pela liberdade, a paz, o pluralismo vivido com autenticidade e
a justiça social.
 Depois, é necessário que os próprios sistemas educativos não conduzam, por si mesmos,
a situações de exclusão. O princípio de emulação, propício em certos casos, ao
desenvolvimento intelectual pode, de fato, ser pervertido e traduzir-se numa prática
excessivamente seletiva, baseada nos resultados escolares. Então, o insucesso escolar
surge como irreversível, e dá origem, freqüentemente, à marginalização e à exclusão
sociail.
 Mesmo nos países que mais gastam com a educação, o insucesso e o abandono
escolares afetam um grande número de alunos. Dividem os jovens em duas categorias,
situação tanto mais grave quanto se prolonga pelo mundo do trabalho. Os não diplomados
se apresentam aos recrutadores das empresas com uma desvantagem quase
insuperável... p. 56

A educação e a luta contra as exclusões


 O ensino deve, também, ser personalizado: esforçar-se por valorizar a originalidade,
apresentando opções de iniciação às diversas disciplinas, atividades ou artes, confiando
esta iniciação a especialistas, que possam comunicar aos jovens o seu entusiasmo e
explicar-lhes as suas próprias opções de vida. Para criar modalidades de reconhecimento
de aptidões e conhecimentos tácitos e, portanto, para haver reconhecimento social, é bom,
sempre que possível, diversificar os sistemas de ensino e envolver nas parcerias
educativas as famílias e os diversos atores sociais
 Por outro lado, há que assumir a diversidade e o múltiplo pertencer como uma
riqueza. A educação para o pluralismo é, não só, uma barreira contra a violência, mas
um princípio ativo de enriquecimento cultural e cívico das sociedades contemporâneas.
 Neste contexto, a definição de uma educação adaptada aos diferentes grupos minoritários
surge como uma prioridade. Tem como finalidade levar as diferentes minorias a tomar nas
mãos o seu próprio destino. Além deste princípio, que teve a unanimidade da Comissão,
colocam-se contudo problemas muito complexos, especialmente quanto à questão da
língua de ensino. Reunidas as necessárias condições é de preconizar uma educação
bilingüe, começando, nos primeiros níveis do sistema escolar
 A educação para a tolerância e para o respeito do outro, condição necessária à
democracia, deve ser considerada como uma tarefa geral e permanente. É que os valores
e, em particular, a tolerância não podem ser objeto de ensino, no estrito sentido do
termo: querer impor valores previamente definidos, pouco interiorizados, leva no fim de
contas à sua negação, porque só têm sentido se forem livremente escolhidos pela
pessoa
 Além destas recomendações que visam, sobretudo, as práticas escolares, é ao longo de
toda a vida que a educação deve valorizar o pluralismo cultural apresentando-o como
uma fonte de riqueza humana: os preconceitos raciais, fatores de violência e de exclusão
devem ser combatidos por uma informação mútua sobre a história e os valores das
diferentes culturas. O espírito democrático não pode, contudo, contentar-se com uma
forma de tolerância minimalista que consista, apenas, em acomodar-se à alteridade.
 Convém pois ultrapassar a simples noção de tolerância em favor de uma educação para a
pluralismo fundada sobre o respeito e o apreço das outras culturas

Participação democrática
 O sistema educativo tem, pois, por missão explícita ou implícita, preparar cada um
para este papel social. Nas sociedades complexas atuais, a participação em projetos
comuns ultrapassa em muito a ordem do político em sentido estrito. É de fato no dia-a-dia,
na sua atividade profissional, cultural, associativa, de consumidor, que cada membro da
coletividade deve assumir as suas responsabilidades em relação aos outros...
 É a escola básica que cabe assumir a responsabilidade desta tarefa: o objetivo é a
instrução cívica concebida como uma “alfabetização política” elementar. Não se trata,
com efeito, de ensinar preceitos ou códigos rígidos, acabando por cair na doutrinação.
Trata-se sim, de fazer da escola um modelo de prática democrática que leve as
crianças a compreender, a partir de problemas concretos, quais são os seus direitos
e deveres, e como o exercício da sua liberdade é limitado pelo exercício dos direitos
e da liberdade dos outros. Um conjunto de práticas já experimentadas poderá reforçar
esta aprendizagem da democracia na escola: elaboração de regulamentos da
comunidade escolar, criação de parlamentos de alunos, jogos de simulação do
funcionamento de instituições democráticas, jornais de escola, exercícios de
resolução não-violenta de conflitos. Por outro lado, sendo a educação para a
cidadania e democracia.
 Para que esta permaneça independente, a educação em geral, desde a infância e ao longo
de toda a vida deve forjar, também, no aluno a capacidade crítica que lhe permita ter um
pensamento livre, e uma ação autônoma. Quando o aluno se tornar cidadão, a educação
será o guia permanente, num caminho difícil, em que terá de conciliar o exercício dos
direitos individuais, fundados nas liberdades públicas, e a prática dos deveres e da
responsabilidade em relação aos outros e às comunidades a que pertencem.
 Sociedades de informação e sociedades educativas

 Aprendizagens eletrônicas
 As tecnologias da informação e da comunicação poderão constituir, de imediato, para
todos, um verdadeiro meio de abertura aos campos da educação não formal, tornando-se
um dos vetores privilegiados de uma sociedade educativa, na qual os diferentes tempos de
aprendizagem sejam repensados radicalmente. Em particular, o desenvolvimento destas
tecnologias, cujo domínio permite um enriquecimento contínuo dos saberes, deveria levar
a reconsiderar o lugar e a função dos sistemas educativos, na perspectiva de uma
educação prolongada pela vida afora. A comunicação e a troca de saberes já não serão
apenas um dos pólos principais do crescimento das atividades humanas, mas um fator de
desenvollvimento pessoal, no contexto de novos modos de vida social.
Pistas e recomendações
• A política educativa deve ser suficientemente diversificada e concebida de modo a
não se tornar um fator suplementar de exclusão social...
• A socialização de cada indivíduo e o seu desenvolvimento pessoal não devem ser
coisas antagônicas. Deve se tender para um sistema que procure combinar as vantagens
da integração e o respeito pelos direitos individuais.
• A educação não pode, por si só, resolver os problemas postos pela ruptura (onde
for o caso) dos laços sociais. Espera-se, no entanto, que contribua para o
desenvolvimento do querer viver juntos, elemento básico da coesão social e da
identidade nacional.
• A escola só pode ter êxito nesta tarefa se contribuir para a promoção e integração dos
grupos minoritários, mobilizando os próprios interessados no respeito a sua personalidade
.• A democracia parece progredir, segundo formas e fases adaptadas a situação de cada
país. Mas a sua vitalidade é constantemente ameaçada. É na escola que deve começar a
educação para uma cidadania consciente e ativa.
• A participação democrática depende, de algum modo, das virtudes cívicas. Mas ela pode
ser encorajada ou estimulada pela instrução e por práticas adaptadas à sociedade dos
meios de comunicação social e da informação. Trata-se de fornecer referências e grades
de leitura a fim de reforçar as capacidades de compreensão e discernimento.
• Cabe à educação fornecer às crianças e aos adultos as bases culturais que lhes
permitam decifrar, na medida do possível, as mudanças em curso. O que supõe a
capacidade de operar uma triagem na massa de informações, a fim de melhor interpretá-
las, e de reconstituir os acontecimentos inseridos numa história de conjunto.
• Os sistemas educativos devem dar resposta aos múltiplos desafios das sociedades
da informação, na perspectiva de um enriquecimento contínuo dos saberes e do exercício
de uma cidadania adaptada às exigências do nosso tempo..

Capítulo 3
Do crescimento econômico ao
desenvolvimento humano
 A Comissão gostaria de recordar que, em sua perspectiva, estes avanços se devem, antes
de mais nada, à capacidade dos seres humanos de dominar e organizar o meio ambiente
em função das suas necessidades, isto é, à ciência e à educação, motores principais do
progresso econômico. Tendo, porém, consciência de que o modelo de crescimento atual
depara-se com limites evidentes, devido às desigualdades que induz e aos custos
humanos e ecológicos que comporta.

Um crescimento econômico mundial profundamente


desigual
 A riqueza mundial cresceu consideravelmente a partir de 1950 sob os efeitos conjugados
da segunda revolução industrial, do aumento da produtividade e do progresso
tecnológico. O produto interno bruto mundial passou de quatro trilhões para vinte e
três trilhões de dólares e o rendimento médio por habitante mais do que triplicou durante
este período..
 Contudo, o modelo de desenvolvimento baseado apenas no crescimento econômico
revelou-se profundamente desigual e os ritmos de progressos são muito diferentes
segundo os países e as regiões do mundo.
 realçam a importância do capital humano e, portanto, do investimento educativo para a
produtividade . A relação entre o ritmo do progresso técnico e a qualidade da intervenção
humana torna-se, então, cada vez mais evidente, assim como a necessidade de formar
agentes econômicos aptos a utilizar as novas tecnologias e que revelem um
comportamento inovador. Requerem-se novas aptidões e os sistemas educativos devem
dar resposta a esta necessidade, não só assegurando os anos de escolarização ou de
formação profissional estritamente necessários, mas formando cientistas, inovadores e
quadros técnicos de alto nível.
 A rapidez das alterações tecnológicas fez, de fato, surgir em nível das empresas e
dos países, a necessidade de flexibilidade qualitativa da mão-de-obra. Acompanhar
e, até, antecipar-se às transformações tecnológicas que afetam permanentemente a
natureza e a organização do trabalho, tornou-se primordial.
 Já não é possível pedir aos sistemas educativos que formem mão-de-obra para
empregos industriais estáveis. Trata-se, antes, de formar para a inovação pessoas
capazes de evoluir, de se adaptar a um mundo em rápida mudança e capazes de
dominar essas transformações...

A fuga de cérebros para os países ricos


 Os países em desenvolvimento perdem todos os anos milhares de especialistas,
engenheiros, médicos, cientistas, técnicos. Frustrados pelo baixo nível de salários e pelas
possibilidades limitadas que se lhes oferecem nos países de origem, emigram para os
países ricos onde as suas competências podem ser mais bem utilizadas e remuneradas..
 Ler os comparativos da África subssariana- alfabetização, mulheres, doenças (Aids), fome.
desnutrição, taxa de mortalidade de crianças..
O desenvolvimento humano atual
 Contudo, em qualquer nível de desenvolvimento, as três principais, do ponto de vista das
pessoas, são ter uma vida longa e com saúde, adquirir conhecimentos e ter acesso
aos recursos necessários a um nível de vida decente. Na falta destas possibilidades
fundamentais, muitas outras oportunidades permanecerão inacessíveis
 Há outras potencialidades às quais as pessoas atribuem grande valor e que vão desde a
liberdade política, econômica e social, à possibilidade de exprimir a sua criatividade ou a
sua capacidade de produzir, passando pela dignidade pessoal e o respeito pelos direitos
humanos. O conceito de desenvolvimento humano é, pois, muito mais vasto do que as
teorias clássicas do desenvolvimento econômico.
 Educar para o desenvolvimento humano- “passaporte para a vida”

Pista e recomendações
• Prosseguir a reflexão sobre a idéia de um novo modelo de desenvolvimento mais
respeitador da natureza e dos ritmos da pessoa
.• Uma prospectiva do lugar ocupado pelo trabalho na sociedade do futuro, tendo em conta
as conseqüências do progresso técnico e as alterações nos modos de vida privada e
coletiva.
• Uma avaliação mais exaustiva do desenvolvimento humano, tendo em conta todas as
suas dimensões, segundo o espírito dos trabalhos do PNUD.
• Estabelecer novas relações entre política educativa e política de desenvolvimento a fim
de reforçar as bases do saber e do saber-fazer nos países em causa: estimular a iniciativa,
o trabalho em equipe, as sinergias realistas, tendo em conta os recursos locais, o auto-
emprego e o espírito empreendedor.
• Enriquecimento e generalização indispensáveis da educação básica (importância da
Declaração de Jomtien)..

Segunda parte princípios


capítulo 4
Os quatro pilares da educação.
 A educação deve transmitir, de fato, de forma maciça e eficaz, cada vez mais saberes e
saber-fazer evolutivos, adaptados à civilização cognitiva, pois são as bases das
competências do futuro. Simultaneamente, compete-lhe encontrar e assinalar as
referências que impeçam as pessoas de ficar submergidas nas ondas de informações,
mais ou menos efêmeras, que invadem os espaços públicos e privados e as levem a
orientar-se para projetos de desenvolvimento individuais e coletivos..
 Para poder dar resposta ao conjunto das suas missões, a educação deve organizar-se
em torno de quatro APRENDIZAGENS FUNDAMENTAIS que, ao longo de toda a vida,
serão de algum modo para cada indivíduo, OS PILARES DO CONHECIMENTO.
 Aprender a conhecer, isto é adquirir os instrumentos da compreensão;
 Aprender a fazer, para poder agir sobre o meio envolvente;
 Aprender a viver juntos, a fim de participar e cooperar com os outros em todas as
atividades humanas;

 Aprender a ser
 Mas, em regra geral, o ensino formal orienta-se, essencialmente, se não exclusivamente, para o aprender a
conhecer e, em menor escala, para o aprender a fazer. As duas outras aprendizagens dependem, a maior
parte das vezes, de circunstâncias aleatórias quando não são tidas
 Comissão pensa que cada um dos “quatro pilares do conhecimento” deve ser objeto de atenção igual por
parte do ensino estruturado, a fim de que a educação apareça como uma experiência global a levar a cabo ao
longo de toda a vida, no plano cognitivo como no prático, para o indivíduo enquanto pessoa e membro da
sociedade.

Aprender a conhecer

 Este tipo de aprendizagem que visa NÃO TANTO A AQUISIÇÃO de um repertório


de saberes codificados.
 mas antes o domínio dos próprios instrumentos do conhecimento pode ser considerados simultaneamente,
como um meio e como uma finalidade da vida humana. Meio, porque se pretende que cada um aprenda a
compreender o mundo que o rodeia, pelo menos na medida em que isso lhe é necessário para viver
dignamente, para desenvolver as suas capacidades profissionais, para comunicar. . Finalidade, porque seu
fundamento é o prazer de compreender, de conhecer, de descobrir.

 Deveria levar os adultos a apreciar, cada vez mais,as alegrias do conhecimento e da


pesquisa individual. O aumento dos saberes, que permite compreender melhor o
ambiente sob os seus diversos aspectos, favorece o despertar da curiosidade
intelectual, estimula o sentido crítico e permite compreender o real, mediante a
aquisição de autonomia na capacidade de discernir.
 Deste ponto de vista, há que repeti-lo, é essencial que cada criança, esteja onde estiver, possa ter acesso, de
forma adequada, às METODOLOGIAS CIENTÍFICAS de modo a tornar-se para toda a vida “AMIGA
DA CIÊNCIA” . Em nível do ensino secundário e superior, a formação inicial deve fornecer a todos os
alunos instrumentos, conceitos e referências resultantes dos avanços das ciências e dos paradigmas do nosso
tempo.
 Como o conhecimento é múltiplo e evolui infinitamente, torna-se cada vez mais inútil tentar conhecer tudo
 Sobre os pesquisadores, “Um espírito verdadeiramente formado, hoje em dia, tem necessidade de uma cultura
geral vasta e da possibilidade de trabalhar em profundidade determinado número de assuntos. Deve-se, do
princípio ao fim do ensino, cultivar, simultaneamente, estas duas tendências” A cultura geral, e formação
cultural”
 Aprender para conhecer supõe, antes tudo, aprender a aprender, exercitando a atenção, a memória e o
pensamento. Desde a infância, sobretudo nas sociedades dominadas pela imagem televisiva, o jovem deve
aprender a prestar atenção às coisas e às pessoas.
 Esta aprendizagem da atenção pode revestir formas diversas e tirar partido de várias ocasiões da vida (jogos,
estágios em empresas, viagens, trabalhos práticos de ciências...)..
 Memorização - e. É preciso ser, sem dúvida, seletivo na escolha dos dados a aprender “de cor” mas,
propriamente, a faculdade humana de memorização associativa, que não é redutível a um automatismo,
deve ser cultivada cuidadosamente. Todos os especialistas concordam em que a memória deve ser treinada
desde a infância, e que é errado suprimir da prática escolar certos exercícios tradicionais, considerados como
fastidiosos.
 Finalmente, o exercício do pensamento ao qual a criança é iniciada, em primeiro lugar, pelos pais e depois
pelos professores, deve comportar avanços e recuos entre o concreto e o abstrato..... tanto no ensino como na
pesquisa, dois métodos apresentados, muitas vezes, como antagônicos: o método dedutivo por um lado e o
indutivo por outro.
 O processo de aprendizagem do conhecimento nunca está acabado, e pode enriquecer-se com qualquer
experiência. Neste sentido, liga-se cada vez mais à experiência do trabalho, à medida que este se torna menos
rotineiro. A educação primária pode ser considerada bem-sucedida se conseguir transmitir às pessoas o
impulso e as bases que façam com que continuem a aprender ao longo de toda a vida, no trabalho, mas
também fora dele..

Aprender a fazer
 Aprender a conhecer e aprender a fazer são, em larga medida, indissociáveis. Mas a segunda
aprendizagem está mais estreitamente ligada à questão da formação profissional: como ensinar o aluno a
pôr em prática os seus conhecimentos e, também, como adaptar a educação ao trabalho futuro quando não se
pode prever qual será a sua evolução?
 De fato, nas sociedades assalariadas que se desenvolveram ao longo do século XX, a partir do modelo
industrial, a substituição do trabalho humano pelas máquinas tornou-o cada vez mais imaterial e acentuou o
caráter cognitivo das tarefas
 Aprender a fazer não pode, pois, continuar a ter o significado simples de preparar alguém para uma tarefa
material bem determinada, para fazê-lo participar no fabrico de alguma coisa. Como conseqüência, as
aprendizagens devem evoluir e não podem mais ser consideradas como simples transmissão de práticas mais
ou menos rotineiras, embora estas continuem a ter um valor formativo que não é de desprezar.

Da noção de qualificação à noção de competência.


 Os empregadores substituem, cada vez mais, a exigência de uma qualificação ainda muito ligada, a seu ver, à
idéia de competência material, pela exigência de uma competência que se apresenta como uma espécie de
coquetel individual, combinando a qualificação, em sentido estrito, adquirida pela formação técnica e
profissional, o comportamento social, a aptidão para o trabalho em equipe, a capacidade de iniciativa, o
gosto pelo risco.
 Se juntarmos a estas novas exigências a busca de um compromisso pessoal do trabalhador, considerado como
agente de mudança, torna-se evidente que as qualidades muito subjetivas, inatas ou adquiridas, muitas
vezes denominadas “saber-ser” pelos dirigentes empresariais, se juntam ao saber e ao saber-fazer para
compor a competência exigida o que mostra bem a ligação que a educação deve manter, como aliás
sublinhou a Comissão, entre os diversos aspectos da aprendizagem. Qualidades como a capacidade
de comunicar, de trabalhar com os outros, de gerir e de resolver conflitos,
tornam-se cada vez mais importantes. E esta tendência torna-se ainda mais forte, devido ao
desenvolvimento do setor de serviços.

A “desmaterialização” do trabalho e a importância dos


serviços entre as atividades assalariadas
O trabalho na economia informal
 Nas economias em desenvolvimento, onde a atividade assalariada não é dominante, a natureza do trabalho é
muito diferente. Em muitos países da África subsaariana e em alguns países da América Latina e da Ásia,
efetivamente, só uma pequena parte da população tem emprego e recebe salário, pois a grande maioria
participa na economia tradicional de subsistência
 Trata-se, freqüentemente, mais de uma qualificação social do que de uma qualificação profissional...
 um setor de economia ao mesmo tempo moderno e informal, por vezes bastante dinâmico, à base de
artesanato, de comércio e de finanças que revela a existência de uma capacidade empreendedora bem
adaptada às condições locais.
 Em ambos os casos, após numerosas pesquisas levadas a cabo em países em desenvolvimento, apercebemo-
nos que encaram o futuro como estando estreitamente ligado à aquisição da cultura científica que lhes dará
acesso à tecnologia moderna, sem negligenciar com isso as capacidades específicas de inovação e criação
ligadas ao contexto local.

Aprender a viver juntos


, aprender a viver com
outros. (aprender a
conviver)

 Sem dúvida, esta aprendizagem representa, hoje em dia, um dos maiores desafios da educação..
 A história humana sempre foi conflituosa, mas há elementos novos que acentuam o perigo e, especialmente, o
extraordinário potencial de autodestruição criado pela humanidade no decorrer do século XX

 Poderemos conceber uma educação capaz de evitar os conflitos, ou de os


resolver de maneira pacífica, desenvolvendo o conhecimento dos outros,
das suas culturas, da sua espiritualidade?
 É de louvar a ideia de ensinar a não-violência na escola, mesmo que apenas constitua
um instrumento, entre outros, para lutar contra os preconceitos geradores de conflitos..
 Por outro lado, o clima geral de concorrência que caracteriza, atualmente, a atividade econômica no interior de
cada país, e sobretudo em nível internacional, tem tendência de dar prioridade ao espírito de competição e ao
sucesso individual. De fato, esta competição resulta, atualmente, numa guerra econômica implacável e numa
tensão entre os mais favorecidos e os pobres, que divide as nações do mundo e exacerba as rivalidades
históricas. É de lamentar que a educação contribua, por vezes, para alimentar este clima, devido a uma má
interpretação da idéia de emulação..

para reduzir o risco, não basta pôr


 Que fazer para melhorar a situação? A experiência prova que,
em contato e em comunicação membros de grupos diferentes (através de escolas
comuns a várias etnias ou religiões, por exemplo). Se, no seu espaço comum, estes diferentes
grupos já entram em competição ou se o seu estatuto é desigual, um contato deste gênero pode, pelo contrário,
agravar ainda mais as tensões latentes e degenerar em conflitos . Pelo contrário, se este contato se
fizer num contexto igualitário, e se existirem objetivos e projetos comuns, os
preconceitos e a hostilidade latente podem desaparecer e dar lugar a uma
cooperação mais serena e até à amizade.
 Parece, pois, que a educação deve utilizar duas vias complementares. Num primeiro
nível, a descoberta progressiva do outro. Num segundo nível, e ao longo de toda a
vida, a participação em projetos comuns, que parece ser um método eficaz para
evitar ou resolver conflitos latentes.

A descoberta do outro
 A educação tem por missão, por um lado, transmitir conhecimentos sobre a diversidade da espécie humana e,
por outro, levar as pessoas a tomar consciência das semelhanças e da interdependência entre todos os seres
humanos do planeta. Desde idade a escola deve, pois, aproveitar todas as ocasiões para esta dupla
aprendizagem..

 Passando à descoberta do outro, necessariamente, pela descoberta


de si mesmo, e por dar à criança e ao adolescente uma visão ajustada do mundo, a educação, seja ela
dada pela família, pela comunidade ou pela escola, deve antes de mais ajudá-los a descobrir-se a si mesmos.
Só então poderão, verdadeiramente, pôr-se no lugar dos outros e
compreender as suas reações. Desenvolver esta atitude de empatia, na escola, é muito
útil para os comportamentos sociais ao longo de toda a vida...
 Assim, o ensino da história das religiões ou dos costumes pode servir de referência útil para futuros
comportamentos. Por fim, os métodos de ensino não devem ir contra este reconhecimento do outro. Os
professores que, por dogmatismo, matam a curiosidade ou o espírito crítico dos seus alunos, em vez de os
desenvolver, podem ser mais prejudiciais do que úteis.. Esquecendo que funcionam como modelos, com esta
sua atitude arriscam-se a enfraquecer por toda a vida nos alunos a capacidade de abertura à alteridade e de
enfrentar as inevitáveis tensões entre pessoas, grupos e nações. O confronto através do diálogo e da troca
de argumentos é um dos instrumentos indispensáveis à educação do século XXI.

Tender para objetivos comuns


 Quando se trabalha em conjunto sobre projetos motivadores e fora do habitual, as diferenças e até os conflitos
interindividuais tendem a reduzir-se
 Graças à prática do desporto, por exemplo, quantas tensões entre classes sociais ou nacionalidades se
transformaram, afinal, em solidariedade através da experiência e do prazer do esforço comum!
 A educação formal deve, pois, reservar tempo e ocasiões suficientes em seus programas para iniciar os jovens
em projetos de cooperação, logo desde a infância, no campo das atividades desportivas e culturais,
evidentemente, mas também estimulando a sua participação em atividades sociais: renovação de bairros, ajuda
aos mais desfavorecidos, ações humanitárias, serviços de solidariedade entre gerações... As outras
organizações educativas e associações devem, neste campo, continuar o trabalho iniciado pela escola. Por
outro lado, na prática letiva diária, a participação de professores e alunos em projetos comuns pode dar origem
à aprendizagem de métodos de resolução de conflitos e constituir uma referência para a vida futura dos
alunos, enriquecendo a relação professor/aluno.

Aprender a ser
 Desde a sua primeira reunião, a Comissão reafirmou, energicamente, um PRINCÍPIO FUNDAMENTAL: a
educação deve contribuir para o DESENVOLVIMENTO TOTAL DA PESSOA

 espírito e corpo,
 inteligência,
 sensibilidade,
 sentido estético,
 responsabilidade pessoal
 espiritualidade.
 para elaborar pensamentos autônomos e críticos e para formular os seus próprios juízos de valor, de modo a
poder decidir, por si mesmo, como agir nas diferentes circunstâncias da vida.
 O relatório Aprender a ser (1972) exprimia, no preâmbulo, o temor da desumanização do mundo relacionada
com a evolução técnica.
 Mais do que preparar as crianças para uma dada sociedade, o problema será, então, fornecer-lhes
constantemente forças e referências intelectuais que lhes permitam compreender o mundo que as rodeia e
comportar-se nele como atores responsáveis e justos. Mais do que nunca a educação parece ter, como
papel essencial, conferir a todos os seres humanos a liberdade de pensamento, discernimento,
sentimentos e imaginação de que necessitam para desenvolver os seus talentos e permanecerem, tanto
quanto possível, donos do seu próprio destino..
 A diversidade das personalidades, a autonomia e o espírito de iniciativa, até mesmo o gosto pela provocação,
são os suportes da criatividade e da inovação. Para reduzir a violência ou lutar contra os diferentes flagelos
que afetam a sociedade os métodos inéditos retirados de experiências no terreno já deram prova da sua
eficácia...
 Num mundo em mudança, de que um dos principais motores parece ser a inovação tanto social como
econômica, deve ser dada importância especial à imaginação e à criatividade; claras manifestações da
liberdade humana elas podem vir a ser ameaçadas por uma certa estandardização dos comportamentos
individuais. O século XXI necessita desta diversidade de talentos e de personalidades, mais ainda de
pessoas excepcionais, igualmente essenciais em qualquer civilização. Convém, pois, oferecer às crianças e aos
jovens todas as ocasiões possíveis de descoberta e de experimentação — estética, artística, desportiva,
científica, cultural e social —
 Na escola, a arte e a poesia deveriam ocupar um lugar mais importante do que aquele que lhes é
concedido, em muitos países, por um ensino tornado mais utilitarista do que cultural. A preocupação em
desenvolver a imaginação e a criatividade deveria, também, revalorizar a cultura oral e os
conhecimentos retirados da experiência da criança ou do adulto.
 Aprender a ser: “O desenvolvimento tem por objeto a realização completa do homem, em toda a sua riqueza e
na complexidade das suas expressões e dos seus compromissos: indivíduo, membro de uma família e de uma
coletividade, cidadão e produtor, inventor de técnicas e criador de sonhos”. Este desenvolvimento do ser
humano, que se desenrola desde o nascimento até à morte, é um processo dialético que começa pelo
conhecimento de si mesmo para se abrir, em seguida, à relação com o outro. Neste sentido, a educação é antes
demais nada uma viagem interior, cujas etapas correspondem às da maturação contínua da personalidade.
Na hipótese de uma experiência profissional de sucesso, a educação como meio para uma tal realização é, ao
mesmo tempo, um processo individualizado e uma construção social interativa.
 É escusado dizer que os quatro pilares da educação, acabados de descrever, não se apoiam, exclusivamente,
numa fase da vida ou num único lugar. Como se verá no capítulo seguinte, os tempos e as áreas da educação
devem ser repensados, completar-se e interpenetrar-se de maneira a que cada pessoa, ao longo de toda a sua
vida, possa tirar o melhor partido de um ambiente educativo em constante ampliação..

Pistas e recomendações
• A educação ao longo de toda a vida baseia-se em quatro pilares: aprender a conhecer, aprender a fazer,
aprender a viver juntos, aprender a ser.
• Aprender a conhecer, combinando uma cultura geral, suficientemente vasta, com a possibilidade de
trabalhar em profundidade um pequeno número de matérias. O que também significa: aprender a aprender,
para beneficiar-se das oportunidades oferecidas pela educação ao longo de toda a vida
. • Aprender a fazer, a fim de adquirir, não somente uma qualificação profissional mas, de uma maneira mais
ampla, competências que tornem a pessoa apta a enfrentar numerosas situações e a trabalhar em equipe. Mas
também aprender a fazer, no âmbito das diversas experiências sociais ou de trabalho que se oferecem aos
jovens e adolescentes, quer espontaneamente, fruto do contexto local ou nacional, quer formalmente, graças
ao desenvolvimento do ensino alternado com o trabalho.
• Aprender a viver juntos desenvolvendo a compreensão do outro e a percepção das interdependências —
realizar projetos comuns e preparar-se para gerir conflitos — no respeito pelos valores do pluralismo, da
compreensão mútua e da paz
. • Aprender a ser, para melhor desenvolver a sua personalidade e estar à altura de agir com cada vez maior
capacidade de autonomia, de discernimento e de responsabilidade pessoal. Para isso, não negligenciar na
educação nenhuma das potencialidades de cada indivíduo: memória, raciocínio, sentido estético, capacidades
físicas, aptidão para comunicar-se.
• Numa altura em que os sistemas educativos formais tendem a privilegiar o acesso ao conhecimento, em
detrimento de outras formas de aprendizagem, importa conceber a educação como um todo. Esta perspectiva
deve, no futuro, inspirar e orientar as reformas educativas, tanto em nível da elaboração de programas como
da definição de novas políticas pedagógicas.
Fazer um leitura dos capítulos 5 “ a educação ao longo de toda a vida” e capítulo 6 ”Da educação básica a
universidade”.

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