Resumo Jacques Delors - Educação Um Tesouro A Descobrir - Unesco
Resumo Jacques Delors - Educação Um Tesouro A Descobrir - Unesco
“ "Educação um tesouro a
descobrir,"
UNESCO 1996
O papel central da UNESCO, na linha das ideias que presidiram a sua fundação e que
assentam na esperança de um mundo melhor
É a idéia de educação permanente que deve ser repensada e ampliada. É que, além das
necessárias adaptações relacionadas com as alterações da vida profissional, ela deve ser
encarada como uma construção contínua da pessoa humana, dos seus saberes e
aptidões, da sua capacidade de discernir e agir. Deve levar cada um a tomar consciência
de si próprio e do meio ambiente que o rodeia, e a desempenhar o papel social que lhe
cabe enquanto trabalhador e cidadão.
Mais, é desejável que a escola lhe transmita ainda mais o gosto e prazer de aprender, a
capacidade de ainda mais aprender a aprender, a curiosidade intelectual. Podemos, até,
imaginar uma sociedade em que cada um seja, alternadamente, professor e aluno.
Ampliar a cooperação internacional a toda a
aldeia global
A Comissão observa que, nos domínios político e econômico, se recorre cada vez mais a
ações de nível internacional para tentar encontrar soluções satisfatórias para os problemas
mundiais, quanto mais não seja, devido ao fenômeno de crescente interdependência para
o qual já se chamou várias vezes a atenção. Lastima, igualmente, os fracos resultados
obtidos e a necessidade de reformar as instituições internacionais, para que se tornem
mais eficazes nas suas intervenções
Hoje em dia, grande parte do destino de cada um de nós, quer o queiramos quer não, joga-
se num cenário em escala mundial. Imposta pela abertura das fronteiras econômicas e
financeiras, impelida por teorias de livre comércio, reforçada pelo desmembramento do
bloco soviético, instrumentalizada pelas novas tecnologias da informação a
interdependência planetária não cessa de aumentar, no plano econômico, científico,
cultural e político. Sentida de maneira confusa por cada indivíduo, tornou-se para os
dirigentes uma fonte de dificuldades. A conscientização generalizada desta
“globalização” das relações internacionais constitui, aliás, em si mesma, uma dimensão
do fenômeno. E, apesar das promessas que encerra, a emergência deste mundo novo,
difícil de decifrar e, ainda mais, de prever, cria um clima de incerteza e, até, de apreensão,
que torna ainda mais hesitante a busca de uma solução dos problemas realmente em
escala mundial.
A extrema rapidez do crescimento demográfico, que constitui, de algum modo, o pano de
fundo desta problemática..
Durante os últimos vinte e cinco anos, o fenômeno da globalização das atividades deu-se, em
primeiro lugar na área da economia. A desregulamentação e a descompartimentação dos
mercados financeiros, aceleradas pelo progresso da informática, depressa transmitiram a idéia
de que tais mercados deixavam de ser compartimentos estanques, no meio de um vasto mercado
mundial de capitais, dominado por algumas grandes praças financeiras.
Esta nova situação tornou desfavorável a conjuntura de alguns países industrializados e,
correlativamente, a dos países em desenvolvimento que lhes fornecem matérias-primas. Ao
mesmo tempo, a expansão do comércio mundial, provocou efeitos benéficos em numerosos
países. De 1980 a 1993, o ritmo de crescimento das exportações mundiais foi, em média,
superior ao do crescimento do produto interno bruto (PIB) em 1,5 pontos percentuais. Para
alguns países, a diferença foi mais acentuada ainda, sobretudo se se considerar o período de 1990
a 1993: mais de 3 pontos percentuais na Coréia do Sul, ou mais de 7 pontos na Tailândia. Disso se
pode concluir que o crescimento mundial, especialmente nos países onde foi mais acentuado, foi
grandemente influenciado pelas exportações. A parte das exportações de bens e serviços no PIB
passou, de 1970 a 1993 e para o conjunto das economias, de 14% para 21%, e chamamos a
atenção para evoluções de 3% para 24% na China, de 13% para 28% na Indonésia, ou de 42%
para 80% na Malásia . Estes números provam bem o que é a interdependência mundial.
No fim de contas, a globalização que obriga todos os países a arranjar trunfos específicos para
participarem no desenvolvimento das relações econômicas mundiais, torna mais escandalosa
ainda a separação entre os que ganham e os que perdem. Outra característica da globalização,
a constituição de redes científicas e tecnológicas que liguem entre si, os centros de pesquisa e as
grandes empresas do mundo inteiro, tende a agravar estas disparidades. Faz parte destas redes,
quem tiver qualquer coisa com que participar: informação ou financiamento; quem pertencer a
países mais pobres (pesquisadores ou empresários) arrisca-se a ser excluído. E deste modo se
aprofunda a diferença, em termos de conhecimentos, que faz com que aqueles que deles ficam
privados, permaneçam afastados dos pólos de dinamismo
A comunicação universal
As novas tecnologias fizeram a humanidade entrar na era da comunicação universal;
abolindo as distâncias, concorrem muitíssimo para moldar a sociedade do futuro, que não
corresponderá, por isso mesmo, a nenhum modelo do passado, Em breve, a interatividade
permitirá não só emitir e receber informações, mas também dialogar, discutir e transmitir
informações e conhecimentos, sem limite de distância ou de tempo. Não podemos nos esquecer,
contudo, que numerosas populações carentes vivem ainda afastadas desta evolução,
principalmente em zonas desprovidas de eletricidade. Recordemos, também, que mais da metade
da população mundial não tem acesso aos diversos serviços oferecidos pela rede
telefônica.
Tem, contudo, contrapartidas negativas. Os sistemas de informação são ainda
relativamente caros, e de difícil acesso para muitos países. O seu domínio confere às
grandes potências, ou aos interesses particulares que o detêm, um verdadeiro poder
cultural e político, principalmente sobre as populações que não foram preparadas, através
de uma educação adequada, a hierarquizar, a interpretar e a criticar as informações
recebidas. O quase monopólio das indústrias culturais, por parte de uma minoria de
países, e a difusão de sua produção pelo mundo inteiro, junto de um público vastíssimo,
constituem poderosos fatores de erosão das especificidades culturais. Se bem que
uniforme e, muitas vezes, de grande pobreza de conteúdo, esta falsa “cultura
mundial” não deixa, por isso, de trazer consigo normas implícitas e pode induzir,
nos que lhe sofrem o impacto, um sentimento de espoliação e de perda de
identidade
Fazendo-se primeiro notar ao nível da atividade econômica e tecnológica, a inter-relação
mundial das decisões e das ações públicas e privadas vai invadindo progressivamente
muitas outras áreas da atividade humana. As suas conseqüências sobre o meio
ambiente, por exemplo, ultrapassam em muito as fronteiras — e pode-se verificar que a
distribuição dos efeitos negativos da industrialização é muito injusta, pois são suportados,
muitas vezes, pelos países menos desenvolvidos..
Outras manifestações desta “globalização” dos problemas têm repercussões na vida das
sociedades, através da maneira como afetam, diretamente, os sistemas educativos. É o
que se passa com as migrações internacionais. Remontando a épocas históricas já
muito distantes, e assumindo formas muito variáveis, segundo as épocas e as regiões,
estes grandes movimentos de população persistem na era moderna e irão, certamente,
intensificar-se
Um mundo multirrisco
A queda, em 1989, do bloco soviético virou uma página da história mas, paradoxalmente, o
fim da guerra fria, que marcara os decênios precedentes, deu origem a um mundo mais
complexo e inseguro, e sem dúvida mais perigoso. Talvez a guerra fria encobrisse, há muito
tempo já, as tensões latentes que existiam entre nações, etnias, comunidades religiosas, que agora
surgem à luz do dia, constituindo outros tantos focos de agitação, ou causas de conflitos
declarados. A entrada neste mundo “multirriscos”, ou pressentido como tal, constituído por
elementos ainda por decifrar, é uma das características dos finais do século XX, que perturba e
inquieta profundamente a consciência mundial
É correto, sem dúvida, considerar a queda de alguns regimes totalitários como um avanço da
liberdade e da democracia. Mas há muito caminho a percorrer ainda, e a revelação da
multiplicidade de riscos que pesam sobre o futuro do mundo coloca o observador perante
numerosos paradoxos: o poder totalitário revela-se frágil, mas os seus efeitos persistem; assiste-
se, simultaneamente, ao declínio da idéia de Estado nacional e ao aumento dos nacionalismos; a
paz parece, agora, menos impossível que durante a guerra fria, mas a guerra surge, também,
como menos improvável.
A incerteza quanto ao destino comum da humanidade assume novas e variadas formas. A
acumulação de armas, mesmo de armas nucleares, não tem o mesmo significado simples de
dissuasão nem de segurança contra o risco de uma guerra entre dois blocos; é fruto de uma
competição generalizada, para ver quem detém as armas mais sofisticadas.7 Ora, esta corrida aos
armamentos não diz respeito apenas a alguns Estados; implica entidades não-institucionais, como
associações políticas ou grupos terroristas
O local e o global
O mal-estar causado pela falta de visão clara do futuro, conjuga-se com a consciência cada vez
maior das diferenças existentes no mundo, e das múltiplas tensões que daí resultam, entre o “local”
e o “global”.
O desenvolvimento das interdependências veio revelar vários desequilíbrios: desequilíbrio entre
países ricos e países pobres; fratura social entre os mais favorecidos e os excluídos, no interior de
cada país; uso descontrolado dos recursos naturais, provocando a rápida degradação do meio
ambiente. As desigualdades de desenvolvimento agravaram-se, em muitos casos, como é referido
pela maior parte dos relatórios internacionais, e observa-se um verdadeiro descontrole dos países
mais pobres..
Pistas e recomendações
A interdependência planetária e a globalização são os fenômenos mais importantes do nosso
tempo. Já estão em marcha e caracterizarão fortemente o século XXI. Exigem, desde já, uma
reflexão conjunta que ultrapasse em muito os campos da educação e da cultura sobre o papel e as
estruturas das organizações internacionais.
O maior risco é provocar uma ruptura entre uma minoria apta a movimentar-se neste mundo
novo em formação e uma maioria que começa a sentir-se um joguete dos acontecimentos,
impotente para influenciar o destino coletivo, com o risco de um recuo democrático e múltiplas
revoltas.
Devemos cultivar, como utopia orientadora, o propósito de encaminhar o mundo para uma maior
compreensão mútua, mais sentido de responsabilidade e mais solidariedade, na aceitação das
nossas diferenças espirituais e culturais. A educação, permitindo o acesso de todos ao
conhecimento, tem um papel bem concreto a desempenhar no cumprimento desta tarefa universal:
ajudar a compreender o mundo e o outro, a fim de que cada um se compreenda melhor a si mesmo
Capítulo 2
da coesão social à participação
democrática
Qualquer sociedade humana retira a sua coesão de um conjunto de atividades e projetos comuns,
mas também, de valores partilhados, que constituem outros tantos aspectos da vontade de viver
juntos. Com o decorrer do tempo, estes laços materiais e espirituais enriquecem-se e tornam-se,
na memória individual e coletiva, uma herança cultural, no sentido mais lato do termo, que serve de
base aos sentimentos de pertencer àquela comunidade, e de solidariedade.
Os meios utilizados abrangem as culturas e as circunstâncias mais diversas; em todos os casos, a
educação tem como objetivo essencial o desenvolvimento do ser humano na sua dimensão
social.
os diferentes modos de socialização estão sujeitos a duras provas, em sociedades ameaçadas
pela desorganização e a ruptura dos laços sociais. Os sistemas educativos encontram-se, assim,
submetidos a um conjunto de tensões, dado que se trata, concretamente, de respeitar a
diversidade dos indivíduos e dos grupos humanos, mantendo, contudo, o princípio da
homogeneidade que implica a necessidade de observar regras comuns. Neste aspecto, a
educação enfrenta enormes desafios, e depara com uma contradição quase impossível de
resolver: por um lado, é acusada de estar na origem de muitas exclusões sociais e de agravar o
desmantelamento do tecido social, mas por outro, é a ela que se faz apelo, quando se pretende
restabelecer algumas das “semellhanças essenciais à vida coletiva”, de que falava o sociólogo
francês Emile Durkheim, no início deste século..
Confrontada com a crise das relações sociais, a educação deve, pois, assumir a difícil
tarefa que consiste em fazer da diversidade um fator positivo de compreensão mútua
entre indivíduos e grupos humanos. A sua maior ambição passa a ser dar a todos os
meios necessários a uma cidadania consciente e ativa, que só pode realizar-se,
plenamente, num contexto de sociedades democráticas.
Participação democrática
O sistema educativo tem, pois, por missão explícita ou implícita, preparar cada um
para este papel social. Nas sociedades complexas atuais, a participação em projetos
comuns ultrapassa em muito a ordem do político em sentido estrito. É de fato no dia-a-dia,
na sua atividade profissional, cultural, associativa, de consumidor, que cada membro da
coletividade deve assumir as suas responsabilidades em relação aos outros...
É a escola básica que cabe assumir a responsabilidade desta tarefa: o objetivo é a
instrução cívica concebida como uma “alfabetização política” elementar. Não se trata,
com efeito, de ensinar preceitos ou códigos rígidos, acabando por cair na doutrinação.
Trata-se sim, de fazer da escola um modelo de prática democrática que leve as
crianças a compreender, a partir de problemas concretos, quais são os seus direitos
e deveres, e como o exercício da sua liberdade é limitado pelo exercício dos direitos
e da liberdade dos outros. Um conjunto de práticas já experimentadas poderá reforçar
esta aprendizagem da democracia na escola: elaboração de regulamentos da
comunidade escolar, criação de parlamentos de alunos, jogos de simulação do
funcionamento de instituições democráticas, jornais de escola, exercícios de
resolução não-violenta de conflitos. Por outro lado, sendo a educação para a
cidadania e democracia.
Para que esta permaneça independente, a educação em geral, desde a infância e ao longo
de toda a vida deve forjar, também, no aluno a capacidade crítica que lhe permita ter um
pensamento livre, e uma ação autônoma. Quando o aluno se tornar cidadão, a educação
será o guia permanente, num caminho difícil, em que terá de conciliar o exercício dos
direitos individuais, fundados nas liberdades públicas, e a prática dos deveres e da
responsabilidade em relação aos outros e às comunidades a que pertencem.
Sociedades de informação e sociedades educativas
Aprendizagens eletrônicas
As tecnologias da informação e da comunicação poderão constituir, de imediato, para
todos, um verdadeiro meio de abertura aos campos da educação não formal, tornando-se
um dos vetores privilegiados de uma sociedade educativa, na qual os diferentes tempos de
aprendizagem sejam repensados radicalmente. Em particular, o desenvolvimento destas
tecnologias, cujo domínio permite um enriquecimento contínuo dos saberes, deveria levar
a reconsiderar o lugar e a função dos sistemas educativos, na perspectiva de uma
educação prolongada pela vida afora. A comunicação e a troca de saberes já não serão
apenas um dos pólos principais do crescimento das atividades humanas, mas um fator de
desenvollvimento pessoal, no contexto de novos modos de vida social.
Pistas e recomendações
• A política educativa deve ser suficientemente diversificada e concebida de modo a
não se tornar um fator suplementar de exclusão social...
• A socialização de cada indivíduo e o seu desenvolvimento pessoal não devem ser
coisas antagônicas. Deve se tender para um sistema que procure combinar as vantagens
da integração e o respeito pelos direitos individuais.
• A educação não pode, por si só, resolver os problemas postos pela ruptura (onde
for o caso) dos laços sociais. Espera-se, no entanto, que contribua para o
desenvolvimento do querer viver juntos, elemento básico da coesão social e da
identidade nacional.
• A escola só pode ter êxito nesta tarefa se contribuir para a promoção e integração dos
grupos minoritários, mobilizando os próprios interessados no respeito a sua personalidade
.• A democracia parece progredir, segundo formas e fases adaptadas a situação de cada
país. Mas a sua vitalidade é constantemente ameaçada. É na escola que deve começar a
educação para uma cidadania consciente e ativa.
• A participação democrática depende, de algum modo, das virtudes cívicas. Mas ela pode
ser encorajada ou estimulada pela instrução e por práticas adaptadas à sociedade dos
meios de comunicação social e da informação. Trata-se de fornecer referências e grades
de leitura a fim de reforçar as capacidades de compreensão e discernimento.
• Cabe à educação fornecer às crianças e aos adultos as bases culturais que lhes
permitam decifrar, na medida do possível, as mudanças em curso. O que supõe a
capacidade de operar uma triagem na massa de informações, a fim de melhor interpretá-
las, e de reconstituir os acontecimentos inseridos numa história de conjunto.
• Os sistemas educativos devem dar resposta aos múltiplos desafios das sociedades
da informação, na perspectiva de um enriquecimento contínuo dos saberes e do exercício
de uma cidadania adaptada às exigências do nosso tempo..
Capítulo 3
Do crescimento econômico ao
desenvolvimento humano
A Comissão gostaria de recordar que, em sua perspectiva, estes avanços se devem, antes
de mais nada, à capacidade dos seres humanos de dominar e organizar o meio ambiente
em função das suas necessidades, isto é, à ciência e à educação, motores principais do
progresso econômico. Tendo, porém, consciência de que o modelo de crescimento atual
depara-se com limites evidentes, devido às desigualdades que induz e aos custos
humanos e ecológicos que comporta.
Pista e recomendações
• Prosseguir a reflexão sobre a idéia de um novo modelo de desenvolvimento mais
respeitador da natureza e dos ritmos da pessoa
.• Uma prospectiva do lugar ocupado pelo trabalho na sociedade do futuro, tendo em conta
as conseqüências do progresso técnico e as alterações nos modos de vida privada e
coletiva.
• Uma avaliação mais exaustiva do desenvolvimento humano, tendo em conta todas as
suas dimensões, segundo o espírito dos trabalhos do PNUD.
• Estabelecer novas relações entre política educativa e política de desenvolvimento a fim
de reforçar as bases do saber e do saber-fazer nos países em causa: estimular a iniciativa,
o trabalho em equipe, as sinergias realistas, tendo em conta os recursos locais, o auto-
emprego e o espírito empreendedor.
• Enriquecimento e generalização indispensáveis da educação básica (importância da
Declaração de Jomtien)..
Aprender a ser
Mas, em regra geral, o ensino formal orienta-se, essencialmente, se não exclusivamente, para o aprender a
conhecer e, em menor escala, para o aprender a fazer. As duas outras aprendizagens dependem, a maior
parte das vezes, de circunstâncias aleatórias quando não são tidas
Comissão pensa que cada um dos “quatro pilares do conhecimento” deve ser objeto de atenção igual por
parte do ensino estruturado, a fim de que a educação apareça como uma experiência global a levar a cabo ao
longo de toda a vida, no plano cognitivo como no prático, para o indivíduo enquanto pessoa e membro da
sociedade.
Aprender a conhecer
Aprender a fazer
Aprender a conhecer e aprender a fazer são, em larga medida, indissociáveis. Mas a segunda
aprendizagem está mais estreitamente ligada à questão da formação profissional: como ensinar o aluno a
pôr em prática os seus conhecimentos e, também, como adaptar a educação ao trabalho futuro quando não se
pode prever qual será a sua evolução?
De fato, nas sociedades assalariadas que se desenvolveram ao longo do século XX, a partir do modelo
industrial, a substituição do trabalho humano pelas máquinas tornou-o cada vez mais imaterial e acentuou o
caráter cognitivo das tarefas
Aprender a fazer não pode, pois, continuar a ter o significado simples de preparar alguém para uma tarefa
material bem determinada, para fazê-lo participar no fabrico de alguma coisa. Como conseqüência, as
aprendizagens devem evoluir e não podem mais ser consideradas como simples transmissão de práticas mais
ou menos rotineiras, embora estas continuem a ter um valor formativo que não é de desprezar.
Sem dúvida, esta aprendizagem representa, hoje em dia, um dos maiores desafios da educação..
A história humana sempre foi conflituosa, mas há elementos novos que acentuam o perigo e, especialmente, o
extraordinário potencial de autodestruição criado pela humanidade no decorrer do século XX
A descoberta do outro
A educação tem por missão, por um lado, transmitir conhecimentos sobre a diversidade da espécie humana e,
por outro, levar as pessoas a tomar consciência das semelhanças e da interdependência entre todos os seres
humanos do planeta. Desde idade a escola deve, pois, aproveitar todas as ocasiões para esta dupla
aprendizagem..
Aprender a ser
Desde a sua primeira reunião, a Comissão reafirmou, energicamente, um PRINCÍPIO FUNDAMENTAL: a
educação deve contribuir para o DESENVOLVIMENTO TOTAL DA PESSOA
espírito e corpo,
inteligência,
sensibilidade,
sentido estético,
responsabilidade pessoal
espiritualidade.
para elaborar pensamentos autônomos e críticos e para formular os seus próprios juízos de valor, de modo a
poder decidir, por si mesmo, como agir nas diferentes circunstâncias da vida.
O relatório Aprender a ser (1972) exprimia, no preâmbulo, o temor da desumanização do mundo relacionada
com a evolução técnica.
Mais do que preparar as crianças para uma dada sociedade, o problema será, então, fornecer-lhes
constantemente forças e referências intelectuais que lhes permitam compreender o mundo que as rodeia e
comportar-se nele como atores responsáveis e justos. Mais do que nunca a educação parece ter, como
papel essencial, conferir a todos os seres humanos a liberdade de pensamento, discernimento,
sentimentos e imaginação de que necessitam para desenvolver os seus talentos e permanecerem, tanto
quanto possível, donos do seu próprio destino..
A diversidade das personalidades, a autonomia e o espírito de iniciativa, até mesmo o gosto pela provocação,
são os suportes da criatividade e da inovação. Para reduzir a violência ou lutar contra os diferentes flagelos
que afetam a sociedade os métodos inéditos retirados de experiências no terreno já deram prova da sua
eficácia...
Num mundo em mudança, de que um dos principais motores parece ser a inovação tanto social como
econômica, deve ser dada importância especial à imaginação e à criatividade; claras manifestações da
liberdade humana elas podem vir a ser ameaçadas por uma certa estandardização dos comportamentos
individuais. O século XXI necessita desta diversidade de talentos e de personalidades, mais ainda de
pessoas excepcionais, igualmente essenciais em qualquer civilização. Convém, pois, oferecer às crianças e aos
jovens todas as ocasiões possíveis de descoberta e de experimentação — estética, artística, desportiva,
científica, cultural e social —
Na escola, a arte e a poesia deveriam ocupar um lugar mais importante do que aquele que lhes é
concedido, em muitos países, por um ensino tornado mais utilitarista do que cultural. A preocupação em
desenvolver a imaginação e a criatividade deveria, também, revalorizar a cultura oral e os
conhecimentos retirados da experiência da criança ou do adulto.
Aprender a ser: “O desenvolvimento tem por objeto a realização completa do homem, em toda a sua riqueza e
na complexidade das suas expressões e dos seus compromissos: indivíduo, membro de uma família e de uma
coletividade, cidadão e produtor, inventor de técnicas e criador de sonhos”. Este desenvolvimento do ser
humano, que se desenrola desde o nascimento até à morte, é um processo dialético que começa pelo
conhecimento de si mesmo para se abrir, em seguida, à relação com o outro. Neste sentido, a educação é antes
demais nada uma viagem interior, cujas etapas correspondem às da maturação contínua da personalidade.
Na hipótese de uma experiência profissional de sucesso, a educação como meio para uma tal realização é, ao
mesmo tempo, um processo individualizado e uma construção social interativa.
É escusado dizer que os quatro pilares da educação, acabados de descrever, não se apoiam, exclusivamente,
numa fase da vida ou num único lugar. Como se verá no capítulo seguinte, os tempos e as áreas da educação
devem ser repensados, completar-se e interpenetrar-se de maneira a que cada pessoa, ao longo de toda a sua
vida, possa tirar o melhor partido de um ambiente educativo em constante ampliação..
Pistas e recomendações
• A educação ao longo de toda a vida baseia-se em quatro pilares: aprender a conhecer, aprender a fazer,
aprender a viver juntos, aprender a ser.
• Aprender a conhecer, combinando uma cultura geral, suficientemente vasta, com a possibilidade de
trabalhar em profundidade um pequeno número de matérias. O que também significa: aprender a aprender,
para beneficiar-se das oportunidades oferecidas pela educação ao longo de toda a vida
. • Aprender a fazer, a fim de adquirir, não somente uma qualificação profissional mas, de uma maneira mais
ampla, competências que tornem a pessoa apta a enfrentar numerosas situações e a trabalhar em equipe. Mas
também aprender a fazer, no âmbito das diversas experiências sociais ou de trabalho que se oferecem aos
jovens e adolescentes, quer espontaneamente, fruto do contexto local ou nacional, quer formalmente, graças
ao desenvolvimento do ensino alternado com o trabalho.
• Aprender a viver juntos desenvolvendo a compreensão do outro e a percepção das interdependências —
realizar projetos comuns e preparar-se para gerir conflitos — no respeito pelos valores do pluralismo, da
compreensão mútua e da paz
. • Aprender a ser, para melhor desenvolver a sua personalidade e estar à altura de agir com cada vez maior
capacidade de autonomia, de discernimento e de responsabilidade pessoal. Para isso, não negligenciar na
educação nenhuma das potencialidades de cada indivíduo: memória, raciocínio, sentido estético, capacidades
físicas, aptidão para comunicar-se.
• Numa altura em que os sistemas educativos formais tendem a privilegiar o acesso ao conhecimento, em
detrimento de outras formas de aprendizagem, importa conceber a educação como um todo. Esta perspectiva
deve, no futuro, inspirar e orientar as reformas educativas, tanto em nível da elaboração de programas como
da definição de novas políticas pedagógicas.
Fazer um leitura dos capítulos 5 “ a educação ao longo de toda a vida” e capítulo 6 ”Da educação básica a
universidade”.