Frabré e Barthem (2005) - o Manejo Da Pesca Da Piramutaba No Eixxo Solimões Amazonas
Frabré e Barthem (2005) - o Manejo Da Pesca Da Piramutaba No Eixxo Solimões Amazonas
BAGRES MIGRADORES
PESCA DOS GRANDES
O MANEJO DA
PIRAMUTABA E
DOURADA NO EIXO
SOLIMÕES-AMAZONAS
O MANEJO DA PESCA DOS GRANDES
BAGRES MIGRADORES
Piramutaba e Dourada no Eixo
Solimões-Amazonas
Ministério do Meio Ambiente
Marina Silva
Equipe ProVárzea
Adriana Melo, Alexandre Voss, Alzenilson Santos Aquino, Antonia L.F. Barrosso, Anselmo de
Oliveira, Aubermaya Xabregas, César Teixeira, Cleilim Albert de Souza, Cleucilene da Silva Nery,
Emerson Soares, Evandro Leal Câmara, Flavio Bocarde, Joelcia Ribeiro de Figueiredo, Kate Anne de
Souza, Manuel da Silva Lima, Marcelo Derzi, Marcelo Parise, Marcelo B. Raseira, Márcio Magalhães
Aguiar, Maria Clara Silva-Forsberg, Mario José Fonseca, Thomé de Souza, Marinês Ferreira, Natália
Aparecida de Souza Lima, Núbia Gonzaga, Raimunda Queiroz de Mello, Rosilene Bezerra da Silva,
Simone Fonseca, Tatiane Patrícia dos Santos, Tatianna de Souza Silva e Tiago Viana da Costa.
Financiadores
O MANEJO DA PESCA DOS GRANDES
BAGRES MIGRADORES
Piramutaba e Dourada no Eixo
Solimões-Amazonas
MANAUS, AM
2005
Copyright © 2005 - ProVárzea/Ibama
Esta publicação faz parte da coleção Documentos Técnicos: Estudos Estratégicos - DT-EE,
produzida pelo Componente Estudos Estratégicos do ProVárzea/Ibama.
Coordenação Editorial
Mauro Luis Ruffino
Edição
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
Projeto Manejo dos Recursos Naturais da Várzea - ProVárzea/Ibama
Rua Ministro João Gonçalves de Souza, s/n. Distrito Industrial – Manaus-AM – Brasil. 69075-830
Tel: (92) 3613-3083/ 6246/6754/ Fax: (92) 3237-5616/6124
Correio Eletrônico: [email protected]
Página na Internet: www.ibama.gov.br/provarzea.
Catalogação na Fonte
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
ISBN 85-7300-201-8
1. Pesca. 2. Recursos pesqueiros. 3. Grandes bagres. 4. Manejo da pesca. 5. Amazônia. I. Nídia Noemi
Fabré. II. Ronaldo Borges Barthem. III. Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis. IV. Projeto Manejo dos Recursos Naturais da Várzea – ProVárzea. V. Título.
A reprodução do todo ou parte deste documento é permitida somente com a autorização prévia do ProVárzea/Ibama
Impresso no Brazil
Printed in Brazil
SUMÁRIO
Autores ............................................................................................... 6
Lista de Siglas .................................................................................... 9
Apresentação ...................................................................................... 11
ANEXOS
Anexo 1. Caracterização das espécies de
grandes bagres da Amazônia .............................................. 102
Anexo 2. Índice de Desenvolvimento dos Pescadores
de Bagres - IDPB .................................................................... 104
Anexo 3. Características da pesca de bagres no eixo
Solimões-Amazonas ........................................................... 108
AUTORES
BIOECOLOGIA - DINÂMICA
POPULACIONAL DOS BAGRES E
DIFERENCIAÇÃO GENÉTICA:
IMPLICAÇÕES PARA O MANEJO E ÀS
POLÍTICAS PÚBLICAS
Capítulo I
VARIABILIDADE GENÉTICA DA
DOURADA E DA PIRAMUTABA
NA BACIA AMAZÔNICA
Jacqueline Batista
Kyara Formiga Aquino
Izeni Pires Farias
José Alves Gomes
Introdução
Entre a variedade de peixes existentes na Amazônia, a
piramutaba (Brachyplatystoma vaillantii) e a dourada
(Brachyplatystoma rousseauxii) são alvos preferenciais da pesca em
quase toda a área de distribuição. De acordo com estudos
científicos realizados e relatos de pescadores, essas espécies realizam
longas viagens (mais de 3.000 km) no eixo Solimões-Amazonas
para completar o seu ciclo de vida. Nascem e se reproduzem no
alto das cabeceiras de vários braços (afluentes) dos rios Solimões-
Amazonas, como os rios Juruá, Purus, Madeira, Içá, Japurá e
outros. Alimentam-se no estuário, em Belém, e crescem na
Amazônia Central (de Almeirim/Santarém, até Manaus). Para a
reprodução, migram numa viagem de volta aos afluentes onde
provavelmente nasceram (Figura 1).
Os estudos de genética, ciclo de vida, dinâmica de populações e estado
atual da exploração dos bagres migradores são essenciais para orientar o
manejo e a conservação dessas espécies. Além disso, a espacialização desses
estudos, ao longo do eixo Solimões-Amazonas, permite que as sugestões de
manejo e conservação sejam mais específicas em relação às macrorregiões
estudadas, a saber: Estuário, Santarém, Manaus, Tefé e Alto Solimões.
Jacqueline Batista, Kyara Formiga Aquino, Izeni Pires Farias, José Alves Gomes 17
Figura 4. Representação e distribuição dos indivíduos de dourada ao longo da
calha dos rios Solimões-Amazonas e seus afluentes Madeira, Purus, Juruá, Içá
e Japurá, evidenciando um padrão que sugere uma migração preferencial
parcial pelos tributários (cores diferentes indicam a variabilidade genética
para a população de dourada).
Jacqueline Batista, Kyara Formiga Aquino, Izeni Pires Farias, José Alves Gomes 19
Capítulo 2
Dinâmica populacional e
estado atual da exploração de
piramutaba e de dourada
Juan Carlos Alonso
Lilianne Esther Mergulhão Pirker
Introdução
A dinâmica de populações estuda as mudanças no tamanho
das populações, ao longo do tempo, e os fatores que causam essas
mudanças. Também verifica o ciclo de vida dos indivíduos. O
levantamento de informações sobre o ciclo de vida, padrões de
migração dos indivíduos, crescimento individual e mortalidade, é
fundamental para entender como as populações de piramutaba e
de dourada respondem à explotação pesqueira. Tal compreensão,
por sua vez, permite avaliar o estado atual de explotação e a relação
entre o esforço de pesca e o rendimento do recurso. Com base
nesses dados, é possível propor políticas de manejo em todo o
sistema Solimões-Amazonas para atender as necessidades das
populações humanas que dependem diretamente dessa atividade.
A descrição dos tamanhos e idades que compõem a população
que está sendo capturada permite verificar em que locais de sua
área de distribuição os peixes desovam, criam-se, alimentam-se e
crescem. O impacto da pesca sobre cada uma dessas parcelas da
população será diferenciado. Assim, se houver exploração predatória dos
adultos desovantes, os peixes não poderão gerar o número necessário de
filhos para renovar a população a cada ano. Nesse caso, ocorre a sobrepesca
de recrutamento. Do mesmo modo, se houver pesca de jovens e de pré-
adultos de forma desmedida, por exemplo, na área de criação da espécie,
não será possível que eles atinjam o tamanho no qual o rendimento em peso
seja máximo. Nesse caso, ocorre a sobrepesca de crescimento.
Piramutaba
Os dados de 6.686 piramutabas capturadas pela pesca comercial artesanal,
nos períodos de safra e entressafra, indicam que estão sendo capturados
peixes com tamanho entre 22 cm e 72 cm, com média de 42,70 cm. Mais
de 80% dos peixes amostrados tinham 3 e 4 anos de idade, e 58% tinham
5 anos. Com freqüência menor que 10%, as piramutabas são capturadas
com 1, 2, 6 e 7 anos de vida. O Estuário apresentou piramutabas com
tamanhos menores. Em Manaus, encontrou-se a menor média de
comprimento furcal, medida da ponta do focinho ao pedúnculo caudal,
(41,13cm ± 5,81), seguida pelo Estuário (41,48cm ± 8,30).
As maiores piramutabas foram encontradas no Alto Solimões (72 cm),
com média de 43,01 cm (± 5,41). A maior média de comprimento de
45,86 cm (± 9,05) foi encontrada em Santarém. Nas cinco macrorregiões
estudadas, a maior porcentagem de peixes tinha 3 anos, com maior freqüência
no Estuário (63%). Entre as macrorregiões, Santarém apresentou a maior
porcentagem de piramutabas com 6 e 7 anos, enquanto em Tefé a maior
porcentagem de peixes tinha de 4 e 5 anos. Observamos peixes com 7 anos
no Alto Solimões (0,11%) e 1 ano no Estuário (0,10%). Portanto, o Estuário
pode ser considerado representativo dos indivíduos de menores tamanhos e
idades (Figura 5).
DOURADA
Mediram-se 7.184 indivíduos na safra de 2002 (agosto a novembro) e
entressafra de 2003 (fevereiro a maio), indicando que a pesca comercial no
sistema Amazonas-Solimões captura douradas entre 14 cm e 156 cm, com
média de 71,11 cm (± 18,94). Cerca de 77% dos peixes tinham entre 1 e
2 anos; 43% tinham 2 anos; e 15%, 3 anos de vida. Menos freqüentes
Conclusão
Nossos resultados confirmam que o ciclo de vida da piramutaba e da
dourada implica no uso continuado de todo o eixo Solimões-Amazonas.
Ano após ano, os jovens oriundos de todos os afluentes de água branca da
bacia amazônica chegam ao Estuário. A fartura de alimento e a
disponibilidade de espaço nessa região favorecem o crescimento rápido dessas
espécies nos primeiros anos de vida. Portanto, o Estuário pode ser
caracterizado como um berçário onde esses bagres permanecem até
aproximadamente os 2 anos de idade. A partir desse momento, começam a
migrar rio acima, empreendendo uma viagem de mais de 3.000 km. Durante
a migração, alimentam-se vorazmente dos caraciformes (peixes de escama),
aproveitando a fartura das áreas de várzea. Por essa razão, os grandes lagos
de várzea, como o Arari (Figura 7), o Coari e o Tefé, no eixo Solimões-
Amazonas, são detentores de uma alta proporção de jovens de dourada, que
são capturados pelos pescadores de mapará entre os meses de maio e junho.
Finalmente, as cabeceiras dos grandes rios de água branca, afluentes do
Solimões–Amazonas (dos quais se dispõe de poucos dados sobre a ecologia
das populações de dourada e de piramutaba) seriam as áreas de desova desses
migradores. Os seus filhotes são carregados pela correnteza rio abaixo, durante
a época de entressafra, para mais uma vez reiniciarem um longo e cansativo
ciclo de vida. Este estudo recomenda algumas medidas para o uso sustentável
dos grandes bagres migradores (dourada e piramutaba) distribuídos na bacia
amazônica que estão apresentadas no Quadro 1 a seguir:
Piramutaba Dourada
Introdução
A pesca dos bagres na Amazônia como atividade produtiva e
social apresenta-se cada vez mais em crise. O início das relações
de mercado no interior dos grupos pesqueiros tradicionais e as
situações conflituosas em que essas populações humanas usuárias
dos recursos estão envolvidas têm gerado mudanças significativas
no modelo de organização socioprodutiva da região.
Os impactos sociais e ecológicos causados por uma nova
conjuntura são visíveis e precisam ser investigados. Para isso, é
necessário um entendimento maior sobre os aspectos
organizacionais e o conhecimento tradicional dos pescadores de
bagres. Este capítulo traz informações sobre o perfil social e a
organização político-institucional do pescador de bagres e descreve
o conhecimento ecológico tradicional desses pescadores sobre as
espécies estudadas. Essas informações podem orientar o manejo
das espécies piramutaba (Brachyplatystoma vaillantii) e dourada
(Brachplatystoma rousseauxii) no eixo Solimões-Amazonas e
contribuir para a concepção de políticas públicas voltadas ao setor pesqueiro.
A incorporação do conhecimento ecológico tradicional à concepção do
manejo é importante pelas informações locais e específicas sobre a biologia
e ecologia das espécies e porque permite verificar a percepção dos pescadores
de bagres sobre a dinâmica do recurso pesqueiro e o grau de vulnerabilidade
da atividade.
1
A família é uma instituição social de grande importância nos grupos de pescadores de bagres. A organização do parentesco está
construída com bases em laços biológicos e culturais. No âmbito da economia doméstica, base econômica dos pescadores artesanais
de bagres, o tamanho da família define a unidade de produção e a intensidade das atividades econômicas. Quanto maior o número de
membros, maior será o montante de trabalho e a capacidade de exploração do recurso.
Este estudo mostrou que a grande maioria dos pescadores de bagres não
está filiada a seus órgãos de classe. Esse distanciamento reflete a fragilidade
política pela qual o setor vem passando, sobretudo pela heterogeneidade de
interesses pessoais dos dirigentes e pelos antagonismos internos, que se
sobrepõem aos anseios e necessidades do setor. Os índices positivos de filiação
nas macrorregiões do Estuário e de Santarém podem estar relacionados à
atuação dos movimentos sociais ligados à pesca (Monape, Mopepa,
Mopebam e CPP), os quais têm demonstrado atuação e representatividade
Migração
Os relatos de pescadores residentes ou dos que pescam em determinada
área há muito tempo demonstram um conhecimento bastante detalhado
sobre a rota migratória dos cardumes de dourada e de piramutaba,
informando sobre o local de travessia e as rotas preferenciais desses peixes.
Os pescadores ribeirinhos, principalmente aqueles que pescam na frente
2
Conhecimento popular dos pescadores sobre a biologia e distribuição das espécies de peixes.
3
Mnemônico: relativo à memória; que ajuda a memória; recurso mnemônico.
“É só uma época, tem tempo que ela tá lá, como aqui, assim a
nossa pescaria, tem tempo que ela tá pra cá, tem tempo que
ela tá pro lado de Vigia, tem tempo que ela tá pro lado de
Soure, tem tempo que ela tá pro Pacoval... tá mais pra fora...
No verão (junho, julho, agosto), ela tá aqui (fazendo referência
a Mosqueiro) ... No inverno, ela vai pra Pacoval, Soure e Vigia...
O lugar mais longe que ela vai é o canal.... dois dia de viagem
daqui (Mosqueiro), aí vai embora pra lá, né? Até pro Oiapoque
ela vai... Aí, fica sempre do Oiapoque pra cá... e essa viagem
que ela faz pra lá é sempre assim, do verão pro inverno...elas
vão pra lá, vem pra cá, vão pro Amazonas também, que lá
também tem, né? ....que tem barco daqui que pesca pra lá... O
pessoal pescam pro Amazonas; daqui o pessoal tem barco grande
que pesca pra lá....”
(Pescador de Mosqueiro, PA, agosto de 2003)
4
Lagos característicos da Amazônia Central que foram rios e se originaram pelo afogamento de sua desembocadura e acúmulo de
sedimentos. Possuem aspecto ramificado no qual não é possível definir um eixo principal. Por exemplo, lago Janaucá, Manaquiri, entre
outros.
Variação morfológica
A partir das informações coletadas entre os pescadores, identificou-se nas
douradas uma variação morfológica. Segundo os pescadores, existem duas
“variedades” de dourada: dourada-branca e dourada-amarela. Essa variação
é relatada pelos pescadores desde o Estuário até o Alto Solimões e consiste
nas características apresentadas no Quadro 2. Com base nesses relatos e na
observação de indivíduos, indicou-se ao grupo de genética deste estudo
uma coleta de indivíduos das duas “variedades”, a fim de constatar essa
variação. No Estuário, há relatos de douradas do salgado que são mais
esbranquiçadas e piramutabas que têm o dorso escuro. A dourada de água
doce é mais amarela.
Variedade Características
Dourada amarela Robusta, de dorso amarelo, indivíduos menores e mais gordos.
Dourada branca Delgada, mais clara (branca), indivíduos mais compridos e mais magros.
Alimentação
Quanto às declarações sobre a alimentação, registrou-se que a dourada e
a piramutaba se alimentam de amuré (Gobioides sp.), de sardinha e camarão,
no Estuário; de sardinha e camarão, em Santarém e Almeirim; e de sardinha
e branquinha na região de Tefé.
“... É assim: um lança com seis braças, outro lança com cinco,
se não combinar a gente encosta uma na outra... cada um espera
sua vez.”
(Pescador de bagres, Mosqueiro, PA, agosto de 2002)
Conclusão
Os pescadores de bagres na bacia amazônica desenvolvem outras atividades
como alternativas de renda no decorrer do ano (principalmente a agricultura).
A maioria dos pescadores não está filiada às suas entidades representativas
como, por exemplo, as colônias. Portanto, é necessário dar condições físicas
e financeiras para ampliar os trabalhos das colônias, a fim de associar os
pescadores em suas entidades, bem como desenvolver ações voltadas para a
capacitação e a conscientização.
Os pescadores têm acumulado ao longo do tempo um conhecimento
sofisticado sobre a ecologia e a taxonomia de diversas espécies de peixes. Por
exemplo, eles identificam como causas da migração da dourada e da
piramutaba o período de reprodução; o acompanhamento dos cardumes de
peixe de escama para a alimentação; no caso do Estuário, a mudança na
salinidade da água; e, na região do Solimões, a variação do nível da água. Os
pescadores também reconhecem a variação morfológica das douradas
(dourada-branca e dourada-amarela), bem como identificam a fonte de
alimentação das douradas e das piramutabas. Além disso, possuem acordos
de pesca formais e informais, por exemplo, a “espera da vez”, as “zonas de
pesca” e o “pesqueiro particular” e uma compreensão da diminuição da
produção na pesca de dourada e de piramutaba. Para eles, é necessário tomar
medidas específicas para a conservação dessas espécies, entre as quais está o
controle da pesca industrial.
Um dos resultados importantes que deve ser considerado na
implementação do manejo é o conhecimento fragmentado que os pescadores
Introdução
O pescado é uma das principais fontes de abastecimento
alimentar na Amazônia. Embora a oferta desse recurso seja
historicamente abundante, em grande parte da região, mudanças
importantes vêm ocorrendo na relação entre a oferta e a demanda
de pescado oriundas da pesca extrativa nos últimos vinte anos.
No Pará, a pesca empresarial vem-se destacando ao longo dos
anos, embora a pesca comercial artesanal ainda seja a mais
importante. No Amazonas, há a predominância da pesca comercial
artesanal; contudo, com a implantação de frigoríficos no Estado,
principalmente em Manaus e cidades circunvizinhas, a pesca
empresarial começa a emergir para atender os mercados nacional
e internacional. De fato, o número de frigoríficos vem aumentando
gradativamente após a implantação da Zona Franca de Manaus,
provavelmente por causa dos incentivos fiscais concedidos a
investimentos realizados no Estado. Em 1977, a capacidade de
congelamento era de apenas 14 toneladas/dia e a de
armazenamento atingia 260 toneladas (Cepa-AM, 1980). Em 1994, a
capacidade de congelamento aumentou para 119 toneladas/dia e de
armazenamento, para 3.600 toneladas. Em 1997, a capacidade de
congelamento atingiu 230 toneladas/dia e a de armazenamento, 5.650
toneladas. E, finalmente, em 2002, a capacidade de armazenamento passou
para 5.866 toneladas (Aipam, 1978, Pesquisa de campo/2002).
Essa nova situação deu origem a uma categoria de pescadores especializada
na pesca de bagres. Muitos deles residem na zona rural e mantêm vínculos
com o frigorífico diretamente ou por meio de uma cadeia de comerciantes
intermediários, responsáveis pela compra e venda do pescado. A captura e a
comercialização do pescado são viabilizadas graças ao financiamento feito
pelos frigoríficos.
A captura de bagres em toda a calha dos rios Solimões-Amazonas é uma
atividade ligada principalmente aos frigoríficos, os quais funcionam numa
estrutura de mercado oligopsônica. Ou seja, os preços de compra são
praticamente uniformes e são estabelecidos pelos poucos frigoríficos, com
oscilações apenas em função dos períodos de abundância (safra) e escassez
(entressafra) do produto.
No período entre a safra de 2002 e a entressafra de 2003, a renda bruta
dos pescadores entrevistados (10% a 15% do total de pescadores de dourada
e de piramutaba do eixo Solimões-Amazonas) foi cerca de R$ 34,5 milhões,
ou US$ 12 milhões5. As longas distâncias e a dispersão dos pescadores são
fatores que dificultam o cálculo da renda bruta da pesca de bagres, em toda
a sua área de ocorrência.
A pesca de bagres
De acordo com a estatística pesqueira do Pará e do Amazonas, há no
mínimo 16 centros de comercialização de grandes bagres, dos quais 11
foram abrangidos por este estudo: Belém, Vigia, Soure, Colares, Salvaterra,
Santarém, Manaus, Itacoatiara, Manacapuru, Tefé e Tabatinga. Esses centros,
por sua vez, estão distribuídos no Estuário, Santarém, Manaus, Tefé e Alto
Solimões. Nessas cinco macrorregiões há 11.698 pescadores de bagres
registrados nas Associações de Pescadores (Tabela 4). A pesca de bagres
oferece mercado de trabalho para cerca de 16.000 pescadores nas áreas de
ocorrência dessas espécies. Esses pescadores estão divididos em três categorias:
5
Taxa de câmbio de novembro de 2003: US$ 1,00 = R$ 2,87.
Valdenei de Melo Parente, Elizabeth Farias Vieira, Adriana Rosa Carvalho , Nídia Noemi Fabré 51
Há um gradiente no esforço de pesca de bagres entre as macrorregiões.
No Estuário, o esforço de pesca é de quatro pescadores por pescaria,
enquanto em Santarém e Manaus é de dois pescadores por pescaria. Em
Tefé e no Alto Solimões, o esforço de pesca aumenta na entressafra em relação
ao número de pescadores. Entretanto, em todas as macrorregiões, o número
de dias de pesca manteve-se igual na safra e na entressafra (Tabela 5). O
rendimento da pesca de dourada, por pescador, por dia de pesca, é maior
nas macrorregiões de Tefé e Estuário (28 kg e 29 kg, respectivamente). Nas
macrorregiões de Santarém e Manaus, o rendimento é menor, com 25 kg
por pescador, por dia, enquanto no Alto Solimões é de apenas 18 kg por
pescador, por dia (Figura 14).
Valdenei de Melo Parente, Elizabeth Farias Vieira, Adriana Rosa Carvalho , Nídia Noemi Fabré 53
Figura 15. Renda familiar líquida mensal do pescador, por macrorregião.
Figura 16. Renda per capita mensal líquida do pescador, por macrorregião.
6
Quanto mais complexas forem essas cadeias de comercialização (cadeias produtivas da pesca de bagres) maiores serão as margens
de comercialização entre os preços pagos aos pescadores, pelos agentes intermediários, e os preços aplicados pelos frigoríficos.
Macrorregião Quantidade
Kg %
Tabatinga 458.967 13,7
Tefé 141.841 4,2
Manaus 2.019.265 60,3
Santarém 32.500 1,0
Estuário 276.490 8,3
Total comprado frigorífico 2.929.063 87,5
Total da oferta 3.347.412 100,0
Fonte: Pesquisa de campo, 2002/2003.
Pará
A indústria da pesca em Belém, representada pelos frigoríficos é bastante
desenvolvida quando comparada às outras áreas do estudo. A localização da
cidade (próxima ao estuário) é responsável pela oferta regular de pescado
durante o ano todo, uma vez que há a opção de captura de forma alternada
no rio Amazonas, na costa do Amapá, e no mar. Além disso, sua ligação por
rodovia ao restante do Brasil garante um mercado mais amplo para os seus
produtos pesqueiros. De fato, 27, de um total de 38 empresas pesqueiras
associadas ao Sinpesca estão localizadas em Belém (Tabela 6).
Valdenei de Melo Parente, Elizabeth Farias Vieira, Adriana Rosa Carvalho , Nídia Noemi Fabré 55
De acordo com o Ministério da Agricultura, há 20 frigoríficos com SIF
no Estado do Pará com capacidade de estocagem para 7.852 toneladas de
pescado e 6.832 toneladas de gelo. Esses frigoríficos trabalham com uma
variedade de espécies de bagres processados em forma de filés, postas, inteiros
eviscerados, entre outras.
Fonte: Sinpesca
Letícia (Colômbia)
No Alto Solimões, boa parte da comercialização de pescado e de gelo
ocorre em Letícia com o desembarque do pescado realizado no porto daquela
cidade. Em Letícia, há 20 frigoríficos com capacidade de estocagem para
1.613 toneladas de pescado e 20 silos para 1.263 toneladas de gelo (Quadro
4).
A indústria pesqueira de Letícia movimenta cerca de 10 mil toneladas de
pescado, por ano, destinadas em grande parte aos mercados de Bogotá, Cali
e Medelin. É importante registrar que a quase totalidade das bodegas de
Letícia não pratica o beneficiamento do pescado, restringindo-se no máximo
à evisceração, uma vez que o processamento é realizado em Bogotá. O
movimento de pescado nos frigoríficos de Letícia está resumido na Tabela 7.
A grande maioria (90%) do pescado comercializado pelos frigoríficos de
Letícia é oriunda do Amazonas, principalmente entre Tefé e Tabatinga.
Outros municípios do Amazonas como Itacoatiara, Iranduba e a cidade de
Manaus também participam desse comércio, embora em menor proporção.
Valdenei de Melo Parente, Elizabeth Farias Vieira, Adriana Rosa Carvalho , Nídia Noemi Fabré 57
melhores condições de aproveitamento do pescado e, conseqüentemente,
melhoria na renda familiar.
Valdenei de Melo Parente, Elizabeth Farias Vieira, Adriana Rosa Carvalho , Nídia Noemi Fabré 59
Santarém e Manaus
Em Santarém existem três frigoríficos envolvidos na atividade pesqueira.
Apenas um deles realiza o processamento do pescado, os outros dois têm
como atividade principal a prestação de serviços a terceiros, geralmente
atravessadores vinculados a frigoríficos de outros Estados, os quais necessitam
legalizar o produto junto ao SIF. As características desses frigoríficos estão
descritas no Quadro 6.
Quadro 6. Frigoríficos com SIF, em Santarém, 2002.
Valdenei de Melo Parente, Elizabeth Farias Vieira, Adriana Rosa Carvalho , Nídia Noemi Fabré 61
Soure e principalmente Vigia forem incluídos, a produção estimada sobe
para 9.989 toneladas (Tabela 9).
Valdenei de Melo Parente, Elizabeth Farias Vieira, Adriana Rosa Carvalho , Nídia Noemi Fabré 63
Índice de Desenvolvimento dos Pescadores de Bagres -
IDPB
Para obter uma rápida caracterização dos aspectos econômicos e da
qualidade de vida nas macrorregiões estudadas, foi elaborado um índice
específico para os pescadores de bagres com base no IDH7. Esse índice foi
denominado Índice de Desenvolvimento dos Pescadores de Bagres - IDPB.
O IDPB sofreu algumas adaptações, a saber: no componente social, a
incorporação da organização político-institucional dos pescadores. Nos
aspectos econômicos, foi adicionada a renda de subsistência (Anexo 2).
O IDPB foi maior em Santarém (0,47), Estuário (0,46) e Alto Solimões
(0,45), refletindo o maior nível de organização político-institucional dos
pescadores nessas macrorregiões. Por outro lado, o IDPB foi ligeiramente
menor em Manaus (0,41) e em Tefé (0,35). De modo geral, verifica-se que
o IDPB foi baixo, com índices inferiores a 0,50, o que revela a condição
precária dos pescadores de bagres no eixo Amazonas-Solimões (Tabela 12).
7
O IDH foi estabelecido pelas Nações Unidas. Esse índice é composto por (i) expectativa de vida; (ii) educação expressa pela alfabetização
de adultos e pela taxa de escolaridade e renda. O IDH varia de 0 a 1.
Valdenei de Melo Parente, Elizabeth Farias Vieira, Adriana Rosa Carvalho , Nídia Noemi Fabré 65
PARTE III
Introdução
Na década de 1960, o governo estabeleceu políticas públicas
para modernizar o setor pesqueiro na Amazônia. Uma dessas
políticas foi o Decreto-Lei nº 221, de 28/1/1967, que criou
incentivos ao desenvolvimento da pesca industrial e a implantação
de unidades de beneficiamento do pescado 8. A meta dessa
modernização era aumentar a produtividade das embarcações para
atender o mercado nacional e internacional. Para isso, houve
investimentos na instalação de indústrias de processamento de
pescado e na equipação da frota pesqueira com modernos
instrumentos de pesca.
Entretanto, ao longo das últimas décadas, a expansão do mercado
tem estimulado o aumento da produção de pescado e,
conseqüentemente, cada vez mais, o uso irracional dos recursos
8
Por exemplo, dedução do Imposto de Renda devido pelas pessoas jurídicas interessadas em investir em projetos de
atividades pesqueiras; isenção do Imposto de Importação e do Imposto sobre Produtos Industrializados, bem como de
taxas aduaneiras e quaisquer outras taxas federais para a importação de embarcações de pesca, equipamentos,
máquinas, aparelhos e apetrechos de pesca, entre outros.
pesqueiros. A piramutaba (Brachyplatystoma vaillantii) e dourada
(Brachyplatystoma rousseauxii), conhecidas como os grandes bagres da
Amazônia, são alvos preferenciais da pesca em quase toda a sua área de
ocorrência. De fato, nas macrorregiões do Estuário, Santarém e Manaus,
grande número de indivíduos de dourada é capturado pela pesca comercial
antes de esses indivíduos iniciarem o seu ciclo reprodutivo. As mortalidades
por pesca da piramutaba e dourada (Fótimo = de 0,30 ano-1 e 1,0 ano-1)
sugerem que a primeira encontra-se em estado de sobrepesca de crescimento
e que a segunda está no limite de um estado estável de explotação.
Com base nos resultados obtidos e nas informações sobre a legislação da
pesca na bacia amazônica, envolvendo o Brasil, a Colômbia e o Peru, este
estudo sugere estratégias para a elaboração de um plano integrado de manejo
da pesca de piramutaba e dourada no eixo Solimões-Amazonas.
Legislação
Os grandes bagres, principalmente a dourada e a piramutaba, utilizam
ao longo de sua vida os principais rios de água branca da bacia amazônica,
ultrapassando fronteiras estaduais e internacionais. Portanto, é muito
importante definir um plano de manejo interestadual e transnacional para
essas espécies, envolvendo os diversos Estados brasileiros e os países do Alto
Solimões (Peru, Colômbia, Bolívia e Equador). Para elaborar uma proposta
de manejo e conservação dos bagres, é essencial conhecer as disposições
legais vigentes nos principais Estados que exploram essas espécies (Pará e
Amazonas), assim como as normas estabelecidas pela União, de
responsabilidade do Ibama, e as promulgadas pelos países amazônicos
limítrofes com o Brasil que explotam esse recurso pesqueiro.
Apesar da importância comercial da dourada e piramutaba na Amazônia,
poucas normas específicas para a administração e manejo de suas pescarias
têm sido feitas, principalmente no Brasil. Além disso, existem poucos
trabalhos de levantamento sobre essas normas de regulação. Para subsidiar
o manejo dos grandes bagres migradores no eixo Solimões-Amazonas, em
2003, o ProVárzea/Ibama fez um levantamento da legislação vigente para a
pesca dos grandes bagres praticada, principalmente no Brasil, Peru e
Colômbia9.
9
O Equador e a Bolívia não possuem regulamentações direcionadas para a pesca de bagres, porém estão participando em conjunto
com o Brasil, Colômbia e Peru de reuniões que discutem a implementação de um plano de manejo para essas espécies na bacia
amazônica.
Brasil
A regulamentação da pesca de bagres amazônicos no Brasil foi iniciada
há duas décadas com a tentativa de ordenar a pescaria industrial da
piramutaba no Estuário por meio da Portaria nº N-9 de 9 de março de
1983. Essa portaria definiu uma zona de operações obrigatórias para a frota
(entre 0 005’N e 48 000’W), limitou o número de unidades de pesca,
restringiu as capturas a uma cota máxima e regulamentou o tamanho da
malha das redes de arrasto no saco do túnel. Contudo, essas medidas têm
sido avaliadas e modificadas ao longo dos anos por meio de instruções
normativas publicadas pelo Ibama.
No período entre 1996 e 1998, o MPEG e Cepnor, com a cooperação
técnica da Jica, realizaram um estudo sobre bagres na foz dos rios Amazonas
e Pará. Esse estudo resultou numa série de recomendações publicadas pelo
Ibama (Séries Estudos de Pesca, 26). Por resistência do setor produtivo,
essas recomendações não foram implementadas até meados de 2002, quando
a Instrução Normativa nº. 6 foi editada em 10 de julho de 2002. Essa
Elizabeth Vieira 71
mesma IN determinava que as normas deveriam ser revistas em dois anos. A
revisão ocorreu em maio de 2004 na Reunião Técnica e de Ordenamento
da Pesca da Piramutaba no Norte do Brasil, na qual medidas de ordenamento
para a pesca industrial foram discutidas e negociadas com o setor produtivo.
Assim, determinou-se que a trilheira continuaria sendo o sistema de pesca
da frota, que o tamanho da malha do saco túnel da rede de arrasto seria de
100 mm e que o período de defeso para a frota industrial duraria 75 dias,
de 15 de setembro a 30 de novembro, conforme publicado na IN No. 6 de
7 de junho de 2004.
Colômbia
Na Colômbia, embora não haja regulamentação para o esforço pesqueiro,
tem-se estabelecido comprimentos mínimos de captura para algumas espécies
de bagres (Tabela 13). Para a pesca de consumo, a atividade também está
regulamentada por meio do Acordo 015/Inderena/1987 e 075/Inderena/
1989, os quais restringem áreas de pesca, estabelecem áreas de reserva e
regulamentam as artes de pesca. Essa legislação ainda apresenta as medidas
de conservação para as espécies (Quadro 7). Na categoria nacional de espécies
ameaçadas, tanto a dourada como a piramutaba encontram-se em perigo de
extinção (Libro Rojo de Peces Dulceacuícolas)10.
Tabela 13. Tamanhos mínimos de captura de bagres estabelecidos na
Amazônia colombiana.
Nome vulgar Nome científico Tamanho
mínimo comprimento furcal(cm)
Lechero, pirahíba Brachyplatystoma filamentosum 100
Dorado, plateado Brachpylatystoma rousseauxii 85
Pirabuton Brachyplatystoma vaillantii 40
Bagresapo, pejenegro, pacamú, amarillo Zungaro zungaro 80
Baboso, salibroso Goslinea platynema 70
Musico, guacamaio, pirarara Phractocephalus hemioliopterus 70
Pintadillo Pseudoplatystoma tigrinum 80
Simi Callophysus macropterus 32
Camiseto Brachyplatystoma juruense 50
Barba chato Pirinampus pinirampu 40
Peje leño Sorubimichthys planiceps 95
10
Mojica, J.I.; Castellanos, C.; Usma, J.S. y Álvarez, R. (eds.). 2002. Libro rojo de peces dulceacuícolas de Colombia. Serie Libros Rojos
de Espécies Amenazadas de Colômbia. Instituto de Ciências Naturales – Universidad Nacional de Colômbia y Ministério del Médio
Ambiente. Bogotá, Colômbia.
Peru
No Peru, os trabalhos recentes sobre os tamanhos de primeira maturação
de algumas espécies de bagres, entre as quais se destaca a dourada, têm
levado as instituições envolvidas no manejo da pesca a iniciar os trabalhos
para regular o tamanho de captura (Tabela 14). As medidas de ordenamento
aplicáveis à pescaria de grandes bagres amazônicos estão referidas nas
disposições da Lei Geral de Pesca aprovada mediante o Decreto Lei nº.
25.977 e seu regulamento aprovado por Decreto Supremo nº. 1- 94-PE.
Atualmente, essas leis foram atualizadas por meio da Resolução Ministerial
Nº 147-2001-PE.
Nas pescarias comerciais não é permitido usar redes com malha menor
que duas polegadas para peixes de escama e redes menores que oito polegadas
(1 pol = 2,5 cm) para os grandes bagres e pirarucu. Além disso, na pesca, é
proibida qualquer modalidade de artes e procedimentos que atentem contra
o recurso e meio ambiente como: tapagem de bocas de lagos, destruição de
refúgios, agito da água, substâncias tóxicas e explosivos (é proibido até mesmo
levá-los nas embarcações).
Elizabeth Vieira 73
Tabela 14. Espécies com tamanhos mínimos de captura, transporte e
comercialização no Peru.
Nome Vulgar Nome Científico Tamanho. (cm)
Dorado Brachyplatystoma flavicans 115 (total)
Tigre zúngaro Pseudoplatystoma tigrinum 100 (furcal)
Doncella Pseudoplatystoma fasciatum 86 (furcal)
No Peru, por lei, não se pode pescar nem vender com fins ornamentais os
alevinos e juvenis de várias espécies (Quadro 8).
Quadro 8. Lista de espécies que possuem alevinos e jovens protegidos por lei,
Peru.
Nome vulgar Nome científico
Lechero, pirahíba, saltón Brachyplatystoma filamentosum
Dorado, plateado Brachyplatystoma rousseauxii
Zúngaro alianza Pseudoplatystoma juruense
Tigre zúngaro ou pintado Pseudoplatystoma tigrinum
Pintadillo ou doncela Pseudoplatystoma fasciatum
Acha cubo ou peje leño Sorubimichthys planiceps
Pacamú ou amarillo Zungaro zungaro
Maparate Hypophthalmus sp.
Mota pintada e branca Callophysus macropterus
Manitoa ou toa Brachyplatystoma vaillantii
Introdução
As estratégias que compõem a proposta de manejo dos grandes
bagres migradores exposta neste capítulo, denominada Sistema
de Manejo Integrado Inderena - Sismi, resultaram de minuciosa
análise transdisciplinar da equipe do estudo, a partir das bases
técnicas e científicas descritas nas partes I e II deste documento.
Nessas seções, ponderou-se e discutiu-se o componente biológico,
o estado atual dos estoques de piramutaba (Brachyplatystoma
vaillantii) e dourada (Brachyplatystoma rousseauxii) e os aspectos
socioeconômicos da pesca, com ênfase nos mecanismos locais de
organização para produção e conhecimento ecológico tradicional
dos pescadores.
O Sismi tem como pressuposto o envolvimento das populações
ribeirinhas de várzea e a compatibilidade das ações propostas com
a legislação de pesca existente no Brasil e nos países limítrofes da
bacia amazônica.
Para discutir o Sismi, realizou-se um fórum com a participação de 74
pessoas representando os diversos atores relacionados com o setor pesqueiro
(dedicados à exploração de bagres) e órgãos governamentais e não-
governamentais do Brasil e da Colômbia. O objetivo desse encontro foi o de
fomentar um processo de divulgação, transferência e análise crítica do material
para elaborar a proposta final de manejo. O fórum, organizado pelo
ProVárzea, ocorreu em dezembro de 2003, em Manaus.
O Sismi representa uma série de estratégias de manejo e monitoramento
definidas para cada uma das unidades de gestão - delimitadas a partir dos
resultados técnico-científicos e etnográficos das dimensões ecológicas e
socioeconômicas levantadas, analisadas e sistematizadas pela coordenação
do estudo. Dessa forma, propõe-se um sistema de monitoramento de
informações relevantes dos componentes biológico (estatística pesqueira),
socioeconômico e político-institucional. Nesse caso, o Índice de
Desenvolvimento de Pescadores de Bagres é uma ferramenta para medir a
resposta do setor pesqueiro de bagres ao sistema de manejo proposto.
Jovens menores que 25 Legitimar e fiscalizar a Aumento de conflitos Diminuição da pesca Perda de credibilidade
cm (piramutaba) e 40 restrição da pesca entre a pesca industrial dos indivíduos jovens. dos atores envolvidos
cm (dourada) pescados industrial (arrasto) na x artesanal pelo uso da Prevenção da nas instituições
pela frota artesanal. área de criadouro área/território de pesca. sobrepesca de fiscalizadoras e
Frota industrial estabelecida pelo Artigo Redução da renda crescimento. normatizadoras caso a
capturando 1º da Portaria 009/83. familiar e das Diminuição dos ação não seja efetivada.
acidentalmente jovens Definir de forma alternativas para confrontos (industrial x Não cumprimento pelos
menores que 20 cm participativa a restrição reprodução social dos artesanal) a partir do atores envolvidos.
(piramutaba) e 40 cm da pesca artesanal de ribeirinhos, em curto respeito à delimitação
(dourada). dourada em áreas de prazo. da área de ação da
Conflito entre frotas criadouro (zona e Redução, em curto frota industrial.
(industrial x artesanal) época). prazo, do faturamento Aumento da renda
ÁREA DE CRIAÇÃO por territórios de pesca. Consolidar o defeso da da indústria pesqueira. familiar dos ribeirinhos
Estuário Alteração do fundo pesca industrial durante no médio e longo
(arrasto) com efeitos a época de seca prazo.
A pesca de Escala local: Criar um Sistema de Organização da Pesca Aumento do Ordenamento do Os atores podem
dourada é Ribeirinha de Bagres, utilizando como modelo as áreas de conflito entre setor pesqueiro por rejeitar ou
composta de pesca (pesqueiros) e as cadeias produtivas existentes entre o pescadores meio do sistema já desrespeitar as
80% de jovens pescador-produtor, os intermediários e os frigoríficos ribeirinhos x estabelecido medidas
(40-80 cm) até (principal agente de comercialização). barcos localmente. adotadas, por
Manaus. Promover o cadastramento da comunidade, do pesqueiro, piramutabeiros. Comportamento nas interpretá-las
Conflitos por dos pescadores, seus intermediários e frigoríficos associados, Redução no comunidades como uma
pesqueiros na definindo as interações entre os envolvidos na curto prazo do ribeirinhas de estratégia de
calha do rio produção/comercialização. faturamento da proteção dos fiscalização e
entre Criar um Fundo de Desenvolvimento da Pesca de Bagres - indústria recursos de seus controle.
comunidades de FDPB - mantido com o repasse da União de 2% do imposto pesqueira. pesqueiros. O sistema
pescadores pago pelos frigoríficos, garantindo investimentos na área Redução da Retorno de 2% do proposto pode
ribeirinhos de socioambiental, em especial em saneamento e educação renda familiar imposto pago pelos não ser
bagres x barcos (usando como referência o IDPB), e na recuperação de áreas dos ribeirinhos empresários da implementado
de pesca 'de degradadas e do estoque pesqueiro, além da viabilização de no curto prazo. pesca, para devido à falta de
fora'. capacitação do trabalhador da pesca e suas lideranças etc. investimento na articulação e
Pesca de jovens Estabelecer cota de captura para o pescador ribeirinho de sustentabilidade organização
ÁREA DE
de dourada, em bagres, a partir dos valores de captura por semana por socioambiental da político-instituci-
RESCIMENTO
possíveis áreas pescador, calculada: pesca de bagres. onal fraca das
Almeirim -
de criação nos Dourada: Almeirim-Santarém- Manaus: 35 indiv.; Tefé: 20 Aumento da renda entidades
Tefé
grandes lagos de indiv.; Esses valores são restritos a períodos de safra. familiar dos representativas
várzea, associada Incentivar a criação de fábricas de gelo de propriedade de ribeirinhos e do do setor.
à pesca de Instituições de Pescadores. frigorífico no médio
mapará e Implantar linhas de microcrédito específico para o pescador e longo prazo.
jaraqui. ribeirinho integrado ao sistema de ordenamento da pesca Sustentabilidade do
de bagres, com agências itinerantes. setor pela
Capacitar os pescadores em gerência administrativa e manutenção do
financeira. estoque.
Estabelecer um preço mínimo pago ao pescador ribeirinho Manutenção da
pela dourada e piramutaba. variabilidade
Determinar as possíveis causas da alta variabilidade genética.
genética na macrorregião de Tefé e monitorar suas A certificação agrega
mudanças. valor ao produto e
Determinar a importância de grandes lagos de várzea da permite acesso a
área de crescimento no ciclo de vida da dourada. novos mercados
81
qualidade para os produtos das áreas manejadas.
82
ESTRATÉGIA DE MONITORAMENTO PARA ALMEIRIM-TEFÉ:
Gestão na escala regional: Para a manutenção do sistema de monitoramento de desembarque deve ser criada uma unidade de co-gestão
resultante de uma parceria entre instituições governamentais e instituições da sociedade civil organizada em nível municipal, estadual e federal.
Esta unidade acompanhará o IDPB e o índice de seus indicadores social, econômico e político-institucional, bem como os indicadores biológico-
pesqueiros. O objetivo é manter o monitoramento integrado entre os componentes e fazer os ajustes necessários nas estratégias de manejo de
forma dinâmica.
Gestão na escala local: Deverá ser criado um sistema de monitoramento local das cotas de captura que poderá funcionar nas unidades fixas
ÁREA DE de intermediação da comercialização (flutuantes ou frigoríficos), as quais registrarão as capturas diárias de cada pescador cadastrado. O
CRESCIMENTO pescador deverá receber no momento do cadastramento a Caderneta Local de Pesca de Bagres, para o registro das capturas. O frigorífico
Almeirim - Tefé registrará as cotas de captura do seu Raio de Captação de Produção. Esses registros deverão ser recolhidos e verificados pela unidade de co-
Monitoramento gestão responsável pelo monitoramento. Nos frigoríficos também serão registrados os tamanhos dos peixes comercializados, que servirão como
Integrado um dos indicadores necessários para certificação do produto comercializado.
Componentes do monitoramento:
Biológico-pesqueiro na escala : Implementação da coleta de dados para monitoramento do desembarque nos frigoríficos e disponibilização
sistemática desses dados por meio de divulgação anual nos meios de comunicação acessíveis aos pescadores, comerciantes, empresários da
pesca, gestores e tomadores de decisão (com exceção de Santarém, Parintins, Itacoatiara, Manacapuru e Tefé).
Socioeconômico: acompanhamento do Índice de Desenvolvimento do Pescador de Bagre.
Na entressafra (de Escala local: Criar um Sistema de Organização Redução no curto Aumento da renda Rejeição ou
fevereiro a abril), da Pesca Ribeirinha de bagres, utilizando como prazo do familiar e do desrespeito pelos
50% das fêmeas de modelo as áreas de pesca (pesqueiros) e as faturamento da faturamento do envolvidos às
dourada capturadas cadeias produtivas existentes entre o pescador- indústria frigorífico no medidas de
estão aptas para produtor, os intermediários e os frigoríficos pesqueira, médio e longo cotas, por
reprodução, com (principal agente de comercialização). devido à redução prazo. interpretá-las
ovas bem Promover o cadastramento da comunidade, do das capturas e à Sustentabilidade como uma
desenvolvidas. pesqueiro, dos pescadores, seus intermediários perda do do setor pela estratégia de
As bodegas (fábrica e frigoríficos associados, definindo as interações monopólio do manutenção do fiscalização e
de gelo e frigorífico) entre os envolvidos na gelo. estoque. controle.
são a única fonte de produção/comercialização. Redução da Concorrência no De os pescadores
crédito aos Criar um Fundo de Desenvolvimento da Pesca renda familiar fornecimento do não possuírem
pescadores, criando de Bagres mantido com o repasse da União de dos ribeirinhos gelo, possibilitando experiência na
monopólio e 2% do imposto pago pelos frigoríficos, no curto prazo. ao pescador a gerência
ÁREA DE dependência. garantindo investimentos na área Perda de negociação no administrativa e
REPRODUTORES Baixos preços pagos socioambiental, em especial em saneamento e garantia das preço e liberdade financeira.
Alto Solimões aos pescadores pela educação (usando como referência o IDPB), e na bodegas no na escolha do Falta de
dourada e recuperação de áreas degradadas e do estoque fornecimento da comprador. organização das
piramutaba. pesqueiro, além da viabilização de capacitação matéria-prima Organização dos instituições de
Sistema de crédito do trabalhador da pesca e suas lideranças etc. (peixe). pescadores e pesca para
rural existente não é Estabelecer cota de captura para o pescador Conflito de participação efetiva realização dos
específico, ribeirinho de bagres, a partir dos valores de interesses na tomada de cursos de
atendendo as várias captura por semana por pescador, calculada: (pescador x decisões referentes capacitação.
atividades. Dourada: Alto Solimões: 15 indivíduos. Esses agricultor) na ao setor.
valores são restritos a períodos de safra. implantação do Aumento no médio
Incentivar a criação de fábricas de gelo de crédito específico prazo do tamanho
propriedade de Instituições de Pescadores. à pesca. do pescado e,
Implantar linhas de microcrédito para o Aumento dos portanto, de seu
pescador ribeirinho integrado ao sistema de preços ao valor.
ordenamento da pesca de bagres, com agências consumidor final.
itinerantes.
Quebra da conectividade Manter a conexão entre o eixo Solimões- Limite ao uso do Manutenção da rota Pressão
entre as cabeceiras e o Amazonas e os tributários de água potencial migratória dos bagres. econômica para a
eixo central do rio. branca, limitando a construção de usinas hidrelétrico local. Manutenção da construção de
Limite ao acesso às hidrelétricas nas regiões dos tributários Custo resultante variabilidade genética. usinas
ÁREA DE
cabeceiras por do sistema, pois a piramutaba e a da operação de Aquisição de hidrelétricas.
REPRODUTORES
empreendimentos dourada são migradoras e utilizam toda monitoramento. informações que Pressão e
Tributários de
hidrelétricos. a calha Estuário-Amazonas-Solimões ao permitam a mitigação descontrole das
água branca
Alteração da qualidade longo do seu ciclo de vida. dos efeitos antrópicos atividades de
(Madeira, Purus,
ambiental das áreas Monitorar o efeito dos eventos sobre as rotas de garimpo,
Juruá, Içá,
relacionadas à rota de antrópicos nas áreas relacionadas à rota migração. desmatamento e
Japurá): rotas
migração promovida pelo de migração. Sustentabilidade do monocultura.
migratórias dos
garimpo, desmatamento Buscar mecanismos de integração com os setor pesqueiro pela Problemas
reprodutores
e cultivo da soja. países fronteiriços para a manutenção manutenção do orçamentários
conjunta das rotas migratórias. estoque. para manutenção
do
monitoramento.
Objetivo da ação
Implementar um Sistema de Organização Local Auto-Sustentável da Pesca
Ribeirinha de Bagres como um componente do Sismi, utilizando como
base as áreas de pesca (pesqueiros) e as cadeias produtivas estabelecidas
entre o pescador-produtor, os intermediários e os frigoríficos em toda a
calha Solimões-Amazonas.
Implantação e funcionamento
A implantação do sistema de organização local da pesca ribeirinha de
bagres deverá ocorrer por meio do estabelecimento de um Conselho
Permanente da Pesca. Esse conselho será formado por representantes dos
pescadores, intermediários da comercialização, empresas de pesca,
pesquisadores e instituições da sociedade civil organizada. Além disso, deverão
ser instituídos os conselhos estaduais, municipais e comunitários descritos
no item “organização” do Sismi.
O esquema a seguir permite visualizar a organização e estruturação
vislumbrada para a escala local do plano, destacando a representação da
organização da base produtiva e a cadeia de comercialização local, observada
com algumas variações locais na calha principal entre Almeirim e o Alto
Solimões.
95
BARTHEM, R.B. Ecologia e pesca da piramutaba (Brachyplatystoma vaillantii).
1990(a). 268 p. Tese (Doutorado) – Unicamp.
_____. Descrição da pesca da piramutaba (Brachyplatystoma vaillantii, Pimelodidae)
no estuário e na calha do rio Amazonas. Boletim do Museu Paraense Emilio Goeldi
(Antropologia) v. 6, n. 1, p. 119-131, 1990(b).
_____. Situação do manejo das pescarias dos grandes bagres amazônicos do Brasil. In:
Informe del Taller Regional sobre Manejo de las Pesquerias de Bagres Migratorios
del Amazonas. Programa de Cooperación Gubernamental FAO/Noruega. GCP/
INT/648/NOR. Informe de Campo F-5 (Es). p. 33-56, 2000.
_____. O desembarque na região de Belém e a pesca na foz amazônica. In: RUFFINO,
M. L. (Ed.). Biologia e diversidade dos recursos pesqueiros da Amazônia. Manaus:
ProVárzea, p. 137-167, 2003.
BARTHEM, R.B.; GOULDING, M. The catfish connection: ecology, migration, and
conservation of Amazon predators. Biology and Resource Management in the
Tropics Series. New York: Columbia Press., 1997. 144 p.
BARTHEM, R.B.; GUERRA, H.; VALDERRAMA, M. Diagnóstico de los recursos
hidrobiologicos de la Amazonia. Tratado de Cooperacion Amazonica. Secretaria Pro
Tempore. 2.ed. Iquitos, Peru. 1995. 162 p.
BARTHEM, R.B.; RIBEIRO, M.C.L.B.; PETRERE JÚNIOR, M. Life strategies of
some longdistance migratory catfish in relation to hydroelextric dams in the Amazon
Basin. Biological Conservation, n. 55, p. 339-345, 1991.
BATISTA, J. da S. Estimativa da variabilidade genética intra-específica da dourada -
Brachyplatystoma rosseauxii Castelnau 1855 (Pimelodidae - Siluriformes) - no
sistema Estuário-Amazonas-Solimões. Manaus, 2001. 197 p. Dissertação (Mestrado)
– Inpa.
BATISTA, V. S. Distribuição, dinâmica da frota e dos recursos pesqueiros da Amazônia
Central. Manaus, 1998. 282 p. Tese (Doutorado) – Inpa/FUA.
BAYLEY, P. B.; PETRERE JÚNIOR, M. Amazon fisheries: assessment methods,
current status and management options. Canadian Special Publication on Fisheries
and Aquatic Sciences, n. 106, p. 385-398, 1989.
_____. Amazon Fisheries: Assessment methods, current status and management
options. Canadian Special Publication on Fisheries and Aquatic Sciences, n. 106, p.
385-398, 1989.
BELL, S.; MORSE, S. Sustainability indicators – measuring the immeasurable.
London: Earthscan Publications Limited, 1999. 175 p.
BELTRAN, P. S. Captura acidental de Sotalia fluviatilis (Gervais, 1853) na pescaria
artesanal do Estuário Amazônico. Manaus, 1998. 100 p. Dissertação (Mestrado) –
PPG, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia-INPA.
96
BITTENCOURT, M. M.; COX-FERNANDEZ, C. Pesca comercial na Amazônia
Central: uma atividade sustentada por peixes migradores. Ciência Hoje, v. 11, n. 64,
p. 20-24, 1990.
CAÑAS, C.M. Evaluación de los recursos pesqueros em la Provincia de Tambopata,
Madre de Dios. Serie Técnica 1, CI-Peru ediciones, 2000. 66 p.
CASTRO, La pesca en la amazónia colombiana. In: ANDRADE, et al. (Ed.). Amazónia
Colombiana, diversidade y conflicto. Colciencias–CONIA-CEGA. Santafé de
Bogotá. p. 256-281, 1992.
CASTRO, D.M.; SANTAMARÍA, C.A. Informe final sobre el estado del stock
Pesquero de los grandes bagres comercializados en el sector de Araracuara durante
el año de 1991. Corporación Colombiana para la Amazónia, Araracuara. 1993. 78
p.
CELIS, J. Aspectos de la biología pesquera del dorado (Brachyplatystoma rosseauxii)
en el Bajo Río Caquetá (Amazonia colombiana). Cali, 1994. 132 p. Tesis (Biólogo) –
Univ. del Valle. Fac. Ciencias. Dpto. Biol.
CHAMBERS, R.; CONWAY, G. Sustainable Rural Livelihoods: pratical concepts for
the 21 st century. IDS. Discussion Paper 296. Brighton: IDS. 1992.
CHARLES, A. T. Sustentainable fishery system. Blackwell Science, 2001. 367 p.
FABRÉ, N.N.; DONATO, J.C.; ALONSO, J.C. (Ed.). Bagres de la Amazonia
Colombiana: un recurso sin fronteras. Instituto Amazónico de Investigaciones
Científicas SINCHI. Bogotá: Editoral Scripto, 2000. 253 p.
FABRÉ, N.N.; ALONSO, J.C. Recursos ícticos no Alto Amazonas: sua importância para
as populações ribeirinhas. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi, Série
Zoologia, v. 14, n. 1, p. 19-55, 1998.
FAO-COPESCAL. Informe del Taller Regional sobre el Manejo de las Pesquerías de
Bagres Migratorios del Amazonas (Iquitos-Perú). Informe de campo F-5: Comisión
de pesca continental para América Latina. FAO. Roma, 2000.103 p.
FURTADO, L. Pescadores do rio Amazonas: um estudo antropológico da pesca
ribeirinha numa área Amazônica. Coleção Eduardo Galvão. Belém: Museu Paraense
Emílio Goeldi, 1993.
GALLO, R.G. Situación del manejo de las pesquerias de grandes bagres migratórios
Amazónicos en el Perú. Taller sobre manejo de las pesquerias de bagres migratorios
del amazonas. COPESCAL. 4-9 de octubre, Iquitos, Peru. 2000.
GARCÍA, A.; RODRÍGUEZ, R.; MONTREUIL, F. Longuitud de primera
maduración y época de desove de dorado (Brachyplatystoma rosseauxii) en la
amazonia peruana. Instituto Nacional de Pesca y Acucultura-Inpa. Boletin
Científico, v. 4, p. 5-17, 1996.
97
GOELDI, E.A. A piraíba, gigantesco siluroideo do Amazonas. Boletim do Museu
Paraense, v. 3, p. 181-194, 1897.
GÓMEZ, J. Contribución al conocimiento de la biología reproductiva y hábitos
alimenticios de los bagres plateado (Brachyplatystoma rosseauxii), Castelnau, 1855
y Lechero (Brachyplatystoma filamentosum), Lichtenstein, 1819,
(Pisces:Pimelodidae), en la parte media del Río Caquetá, sector Araracuara. 1996.
102 p. Tesis (Biólogo Marino) - Univ. de Bogotá Jorge Tadeo Lozano, Bogotá.
GOULDING, M. Ecologia da pesca no Rio Madeira. Manaus: CNPq/Inpa, 1979.
172 p.
IBAMA. Camarão norte e piramutaba. Relatórios das reuniões dos grupos permanentes
de estudos – GPE’S, Piramutaba. Brasília: Ibama. 1994. 150 p. (Coleção Meio
Ambiente, Série Estudos de Pesca, 9).
_____. V Reunião do Grupo Permanente de Estudos sobre a Piramutaba, Belém, 26 a
29 de agosto de 1997. Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis, Centro de Pesquisa e Extensão Pesqueira do Norte do Brasil.
Brasília: Ed. Ibama. 1999. 92 p.
INPA. Boletín Estadístico Pesquero: 1997-1998. Bogotá, D.C., 1999. 114 p.
_____. Documento de trabajo sobre la estadística pesquera del departamento del
Amazonas para el año 2001. Leticia, Colombia. 2002. 12 p.
ISAAC, V.J.; MILSTEIN, A.; RUFFINO, M.L. A pesca arsenal no Baixo Amazonas:
análise multivariada da captura por espécies. Acta Amazônica, v. 26, n. 3, p. 185-
208, 1996.
ISAAC, V.J.; RUFFINO, M.L. Informe estatístico do desembarque pesqueiro na cidade
de Santarém-PA: 1992-1993. Coleção Meio Ambiente, Série Estudos de Pesca, n.
22, p. 225-236, 2000.
ISAAC, V.J.; ROCHA, V.L.C.; MOTA, S. Considerações sobre a legislação da
“Piracema” e outras restrições da pesca da região do Médio Amazonas. In:
GONÇALVES FURTADO, L.; LEITÃO, W.; FIÚZA de MELLO, A. (Org.). Povos
das águas: realidade e perspectivas na Amazônia. Belém: Museu Paraense Emilio
Goeldi, p. 187-211, 1993.
LAUZANNE, L.; LOUBENS, G.; LE GUENNEC, B. Pesca y biologia pesquera en el
Mamoré medio (Region de Trinidad, Bolivia). Interciência, v. 15, p. 452-460,
1990.
LOUBENS, G.; PANFILI, J. Biologie de Pseudoplatystoma fasciatum et P. tigrinum
(Teleostei: Pimelodidae) dans le bassin du Mamoré (Amazonie Bolivienne). Ichthyol.
Explor. Freshwaters, v. 11, n. 1, p. 13-34, 2000.
LOUREIRO, V.R. Os parceiros do mar: natureza e conflito social na pesca da
Amazônia. Belém: Museu Paraense Emílio Goeldi, 1985.
98
MARQUES, J.G. Pescando pescadores: etnoecologia abrangente no Baixo São Fran-
cisco. São Paulo: Nupaub-USP, 1995.
MILLER, K.R. Em busca de um novo equilíbrio: diretrizes para aumentar as
oportunidades de conservação da biodiversidade por meio do manejo biorregional.
Brasília: Ibama, 1997.
MOJICA, J.I.; CASTELLANOS, C.; USMA, J.S.; ÁLVAREZ, R. (Ed.). Libro rojo de
peces dulceacuícolas de Colombia. Serie Libros Rojos de Especies Amenazadas de
Colombia. Bogotá, Colombia: Instituto de Ciencias Naturales - Universidad
Nacional de Colombia y Ministerio del Medio Ambiente, 2002.
MONTREUIL, V.H.; GARCÍA, A. Biología de tres especies de grandes bagres
(Dorado, Tigre Zúngaro y Doncella). Instituto de Investigaciones de la Amazonia
Peruana-IIAP, Relatório Final Programa de Ecosistemas Acuáticos. Iquitos, Peru,
2001. 27 p.
MUÑOZ-SOSA, D.L. Age structure and exploitation of giant catfish populations
(Brachyplatystoma spp.) in the Lower Caqueta River, Colombia. New York, 1996.
100 p. Thesis (Submitted in partial fulfillment of the requirements for the Master of
Science Degree) – State University of New York, Syracuse.
PARENTE, V de M. A economia da pesca em Manaus: organização da produção e da
comercialização. Rio de Janeiro, 1996. 178 p. Dissertação (Mestrado) –
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro/ Instituto de Ciências Humanas e
Sociais.
PETRERE JÚNIOR, M. Amazon fisheries: assessment methods, current status and
management options. Proceedings of the International Large River Symposium.
Canada Special Publication of Fisheries and Aquatic Sciences, v. 106, p. 385-398,
1989.
PIRKER, L.E.M. Determinação da idade e crescimento da piramutaba
Brachyplatystoma vaillantii (Valenciennes, 1840) (Siluriformes:Pimelodidae)
capturada no Estuário Amazônico. 2001. 85 p. Dissertação (Mestrado) – UFPA/
MPEG.
RAMÍREZ, H. Determinação preliminar de las épocas de reproducion de las
principales espécies ícticas comercializadas en la parte Alta del Río Meta.
Villavicencio. Informe Técnico Inderena, 1987. 23 p.
REZENDE, L.F.B. Aspectos biológicos e pesqueiros da dourada (Brachyplatystoma
rosseauxii) Pimelodidae - Siluroidei em um trecho da Amazônia Central. Manaus,
1999. 76 p. Dissertação (Mestrado) – PPG Instituto Nacional de Pesquisas da
Amazônia, Inpa/UA.
RODRÍGUEZ, C.A. Bagres, malleros y cuerderos en el bajo río caquetá (Amazonia
Colombiana). Comercial fisheries in the lower Caqueta river. Estudios de La
Amazonia Colombiana, vol. 2, Programa Tropenbos Colombia. Bogotá, 1991. 152
p.
99
RUFFINO, M.L.; BARTHEM, R.B.; FISHER, C.F. Perspectiva do manejo dos bagres
migradores na Amazônia. In: Recursos pesqueiros do Médio Amazonas: biologia e
estatística pesqueira. Coleção Meio Ambiente, Série Estudos de Pesca, 22, Brasília:
Edições Ibama, p.141-152, 2000.
RUFFINO, M.L.; BARTHEM, R.B. Perspectivas para el Manejo de los Bagres
Migradores de la Amazónia. Instituto Nacional de Pesca y Acucultura-Inpa. Boletin
Científico, v. 4, p. 19-28, 1996.
RUFFINO, M.L.; ISAAC, V.J. Life cycle and biological parameters of several Brazilian
Amazon fish species. The ICLARM Quartely, Fishbyte Section, v. 8, n. 4, p. 40-45,
1995.
_____. Dinâmica populacional do surubim-tigre Pseudoplatystoma tigrinum
(Valeciennes,1840) no Médio Amazonas (Siluriformes, Pimelodidae ). Acta
Amazônica, v. 29, n. 3, p. 463-476, 1999.
_____. Ciclo de vida e parâmetros biológicos de algumas espécies de peixes da
Amazônia brasileira. Coleção Meio Ambiente, Série Estudos da Pesca 22, Brasília:
Edições Ibama, p. 11-30, 2000.
SACHS, I. Que futuro espera a Amazônia? O Correio da UNESCO, v. 20, n. 1, 1992.
SALINAS, C. Aspectos de la biologia pesquera de las poblaciónes de los grandes bagres
(Ostariophysi: Siluriformes, Pimelodidae) en el sector colombiano del rio
Amazonas. 1994. 160 p. Thesis (Master’s) – Universidad Pedagogica Naciónal,
Santafé de Bogotá.
SANYO. The fishery resources study of the Amazon and Tocantins River Mouth Areas
in the Federative Republic of Brazil – Final Report. Sanyo Techno Marine, Inc.
1998. 332 p.
SMITH, N. H. A pesca no Rio Amazonas. Manaus: Inpa/CNPq., 1979. 154 p.
SPARDLEY, J.P.; McCURDY, D.W. The cultural experience: ethnography in complex
society. Tennessee: Kingsport Press of Kingsport, 1972.
TELLO, S.; GUERRA, H.; RODRIGUEZ, R.; GARCIA, A. La pesqueria de grandes
bagres en la region loreto, com enfasis en dorado (Brachyplatystoma rosseauxii).
Instituto de Investigaciones de la Amazónia Peruana. Iquitos-Peru, 1995. 28 p.
VALERUZ-RÊGO, H.; FABRÉ, N.N.; PÉREZ, L.A. Estruturas calcificadas de
dourada (Brachyplatystoma rosseauxii) para determinação da idade. Boletim do
Museu Paraense Emílio Goeldi, Série Zoologia, v. 14, n. 2, p. 25, 1998.
VERÍSSIMO, J. Estudos amazônicos. Belém: Universidade Federal do Pará, 1970.
WELCOMME, R.L. Pesca fluvial. FAO Documento Técnico de Pesca 262, Roma,
1992. 303 p.
100
ANEXOS
Anexo 1.
Caracterização das espécies de grandes bagres da
Amazônia
1. Brachyplatystoma rosseauxii
Família Pimelodidae
Nome vulgar: Dourada (Brasil); Zúngaro Dorado (Peru); Dorado ou
Plateado (Colômbia).
Tamanho máximo conhecido: 192 cm
Peso máximo conhecido: 20 kg
Hábitat: Canal de rios principais, tributários de água branca, preta e clara;
pode ser encontrado ocasionalmente em várzeas à noite para sua alimentação.
Ocorrência: Ampla distribuição na bacia amazônica, encontrado nas
cabeceiras de muitos tributários dos rios Negro e Madeira, por exemplo. É
comum nas águas doces e de baixa salinidade da foz amazônica.
2. Brachyplatystoma vaillantti
Família Pimelodidae
Nome Vulgar: Piramutaba, Pira-botão ou Mulher-Ingrata (Brasil); Pirabutón
(Colômbia); Manitoa (Peru).
Tamanho máximo conhecido: 105 cm
Peso máximo conhecido: 10 kg
Hábitat: Canal dos rios principais de água branca e área de água doce da foz
amazônica; ocasional em lagos de várzea e nos tributários de água preta e
clara.
Ocorrência: Aparece principalmente ao longo do rio Solimões-Amazonas e
em tributários de água branca.
102
Anexo 2.
Índice de desenvolvimento dos pescadores de bagres -
IDPB
Elaborou-se um indicador para fazer uma rápida caracterização
socioeconômica e determinação da qualidade de vida das populações de
várzea envolvidas na pesca de grandes bagres migradores. Dessa maneira, a
partir do IDH11 das Nações Unidas foi criado neste estudo o Índice de
Desenvolvimento dos Pescadores de Bagres - IDPB).
O IDH foi usado como base para o IDPB sofrendo adaptações nas variáveis
para refletir a realidade do pescador de grandes bagres na bacia Solimões-
Amazonas. No componente social, além da educação e saúde, incorporou-
se a organização política e institucional. A medição foi feita com base na
posse de documentos pessoais do pescador, número de votantes na última
eleição, filiação à Colônia de Pesca, participação em gestão de instituições
locais, entre outras. No componente econômico, considerou-se não somente
a renda monetária per capita, mas também “renda de subsistência”, calculada
a partir da conversão da quantidade consumida de pescado e de farinha de
mandioca em valor de mercado (considerando o fato de o pescador ter de
comprar tais itens caso não tivesse disponibilidade desses recursos).
Verifica-se que as macrorregiões do Estuário, Santarém e Alto Solimões
têm IDPB médio, enquanto em Manaus e Tefé esse índice é baixo. Isso
provavelmente resulta dos baixos índices político-institucionais de Manaus
e Tefé em relação às outras macrorregiões. Em relação ao acesso a serviços
pelos pescadores de grandes bagres, verifica-se que os maiores problemas
estão associados à baixa qualidade dos serviços de saneamento básico
(disponibilidade de sanitários e de fossa) com redução de qualidade à medida
que se aproxima da área de fronteira (Figura A2.1). Os indicadores de saúde
são praticamente estáveis ao longo de todo o eixo, com exceção da incidência
de hepatite e malária que se agrava a partir de Tefé (Figura A2.2). O peso da
renda de subsistência tem destaque em todas as macrorregiões, porém perde
peso em Tefé e no Alto Solimões. Em Manaus e no Alto Solimões, os
indicadores econômicos dos pescadores de bagres em geral são mais elevados
11
O IDH foi estabelecido pelas Nações Unidas. Esse índice é composto por (i) expectativa de vida; (ii) educação expressa pela
alfabetização de adultos e pela taxa de escolaridade e renda. O IDH varia de 0 a 1.
103
em função do tipo de embarcação utilizada para a pesca (canoa a remo,
rabeta e motor, respectivamente) (Figuras A2.3, A2.4 e A2.5).
104
Figura A2.3. Econômia do pescador de canoa a remo.
105
Figura A2.5. Econômia do pescador com embarcação a motor.
106
Anexo 3.
Características da pesca de bagres no eixo Solimões-
Amazonas
As características da pesca de bagres são diferenciadas em cada uma das
cinco macrorregiões estudadas (Estuário, Santarém, Manaus, Tefé e Alto
Solimões) (Quadro 9), quanto a: tamanho médio, propriedade e capacidade
média de gelo das embarcações e tamanho dos apetrechos utilizados para a
pesca. No intuito de padronizar essa diversidade foram criadas quatro
categorias dentro da frota artesanal que explora piramutaba (Brachylatystoma
vaillanti) e dourada (Brachylatystoma rosseauxii): remo, vela, motor de centro
e rabeta.
Estuário. Os barcos da frota artesanal do Estuário têm dimensões maiores
que no restante da calha e uma das suas principais peculiaridades é o uso de
vela associada à motor (propulsão mista). A estrutura dos barcos é de madeira,
própria para a navegação em águas abertas. As embarcações à remo possuem
em média 11 m e capacidade de armazenamento de 270 kg. Já as embarcações
movidas à vela têm em média 18 m de comprimento e conseguem armazenar
até 5 toneladas (Figura A3.1 e A3.2). Barcos com motor de centro apresentam
tamanho médio de aproximadamente 17 m, força média de 120 HP e
capacidade de armazenamento de 10 toneladas. Esses barcos operam em
mais de 50% dos casos com malhadeiras de 1,5 km, em média (Figura
A3.4). Somente 30% dos pescadores entrevistados são proprietários de
embarcações com motor de centro. Essa porcentagem sobe para 70% no
caso da propriedade de embarcações movidas à vela e para a 100% da
propriedade das canoas a remo (Figura A3. 3). Essas embarcações pescam
tanto piramutaba quanto dourada, bem como outras espécies de bagres.
107
Figura A3.1. Tamanho médio das embarcações.
108
Santarém. De forma geral, a frota pesqueira de Santarém atua na pesca de
peixe liso, não havendo uma pescaria específica para piramutaba. Na região
de Santarém, a vela também é utilizada como forma de propulsão em
pequenas embarcações a remo. Destaca-se o uso de “bajaras”, ou seja, grandes
canoas de madeira, cobertas ou não, com propulsão de motor de centro.
Nesta região, os grandes barcos geleiros com motor de centro possuem em
média 11 m de comprimento, força de 40 HP e capacidade de
armazenamento de 4 toneladas (Figura A3.1 e A3.2). É comum o uso de
“campanhas”, onde cada embarcação leva, em média, cinco canoas e vários
pescadores. Na maioria dos casos (67%), esses pescadores utilizam
malhadeiras com tamanho médio de aproximadamente 300 m para a captura
dos bagres. Mais de 50% dos pescadores entrevistados se declararam donos
das embarcações com motor de centro.
Manaus. A macrorregião de Manaus é complexa e envolve vários
municípios circunvizinhos. Em Itacoatiara, é possível observar a influência
dos pescadores paraenses que introduziram na região a bajara” e a campanha
na pesca de bagres. Em Manaus e em Tefé, é notório na pesca de piramutaba
o uso de barcos de pesca com tamanho médio aproximado de 11 m -
conhecidos como geleiros, no Pará, e como “piramutabeiros” nas
macrorregiões de Tefé e Manaus. Os pescadores adaptaram as redes de pesca
com tamanho médio de aproximadamente 250 m utilizadas na época da
safra para a captura da piramutaba, quando os grandes cardumes passam
por essas regiões. Essas redes são conhecidas como jaraquizeiras ou
arrastadeiras. Em outros períodos do ano, essas redes têm como alvo a pesca
dos caraciformes migradores (por exemplo, o jaraqui e a curimatã). Nessas
macrorregiões, é possível observar o uso de rabetas, ou seja, canoas de madeira,
com pequenos motores de popa com propulsão média de 5 HP,
principalmente para a pesca de dourada e surubins (Figura A3.1). Em alguns
casos, as rabetas ou “rabetinhas” são apoiadas pelos barcos com urna de
gelo, que conservam e transportam sua produção para os centros
consumidores. Os pescadores são na maioria ribeirinhos das margens do
Solimões-Amazonas. Também é possível identificar pescadores embarcados
(em geral, moradores de áreas urbanas, contratados para atuar nas grandes
embarcações). Nessas macrorregiões, mais de 50% dos pescadores declararam
serem proprietários de embarcações com motor de centro. A porcentagem
de proprietários de embarcações a remo ou rabeta é de aproximadamente
65%.
109
Tefé. As características das embarcações na macrorregião de Tefé apresentam
várias semelhanças com a macrorregião de Manaus, visto que na época da
safra da piramutaba os barcos se deslocam até a altura de Santo Antônio de
Içá atrás dos cardumes. A pesca de bagres é realizada por pescadores vinculados
a embarcações de pesca artesanal com proveniência diversificada e pescadores
ribeirinhos. Os barcos com motor de centro possuem capacidade média de
carga de 4 toneladas (Figura A3.2) e tem uma equipe formada por 5 a 11
tripulantes, os quais exercem diferentes funções (encarregado, proeiro,
popeiro, gelador, descolador, motorista, cozinheiro e ajudante). Como
apetrecho de captura são usados: a rede de deriva, o espinhel e a malhadeira.
Em Tefé, a pesca com rede de deriva, em particular (segundo relatos de
ribeirinhos), foi introduzida na região há pouco mais de cinco anos, vinda
da Colômbia. Essa rede possui tamanho médio de 500 m de comprimento,
altura média de 3 m e é lançada de uma canoa (tamanho médio de 8 m)
motorizada (motor rabeta de 7 HP) por dois pescadores (podendo ser três),
ficando à deriva (rio abaixo) durante cerca de trinta minutos. O recolhimento
da rede de deriva até o final do lanço dura cerca de uma hora.
Alto Solimões. A macrorregião do Alto Solimões é, sem dúvida, bastante
diferenciada das outras áreas deste estudo. Primeiro porque é uma região
fronteiriça (Brasil-Peru-Colômbia). Segundo, o uso de canoas de madeira
motorizadas, com 8 m de tamanho médio, motor tipo “rabeta”, com potência
média de 6 HP é predominante nessa região (Figura A3.1). A capacidade
de armazenamento dessas canoas é de aproximadamente 360 kg (Figura
A3.2). A pesca é caracterizada pelo uso de redes malhadeiras à deriva com
tamanho médio de 260 m, sendo comum o uso de poita para a pesca de
peixes grandes. Os pescadores locais costumam pescar aos pares (dois em
cada canoa), podendo ou não haver revezamento entre eles de duas em duas
horas ou de três em três horas dependendo da quantidade de peixes em
cada lance.
110
Quadro 9 - Características da pesca de bagres em cada uma das cinco
macrorregiões (Estuário, Santarém, Manaus, Tefé e Alto Solimões).
111
Tamanho
Tamanho Altura média
Macrorregião Propulsão Tipo médio de
médio (m) (m)
malha (mm)
5
Malhadeira - 35 % 260 150
Espinhel - 40 % 60 -- --
4
Remo Malhadeira - 40 % 140 340
Poita - 20% 50 -- --
Vela -- -- -- --
112
Esta edição foi produzida no segundo
F r u t i g e r ( 9 ) , s o b r e p a p e l o f f -s e t 1 2 0 g / m 2 .
O MANEJO DA PESCA DOS GRANDES BAGRES MIGRADORES PIRAMUTABA E DOURADA NO EIXO SOLIMÕES-AMAZONAS
BAGRES MIGRADORES
PESCA DOS GRANDES
O MANEJO DA
PIRAMUTABA E
DOURADA NO EIXO
SOLIMÕES-AMAZONAS