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Frabré e Barthem (2005) - o Manejo Da Pesca Da Piramutaba No Eixxo Solimões Amazonas

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© © All Rights Reserved
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O MANEJO DA PESCA DOS GRANDES BAGRES MIGRADORES PIRAMUTABA E DOURADA NO EIXO SOLIMÕES-AMAZONAS

BAGRES MIGRADORES
PESCA DOS GRANDES
O MANEJO DA
PIRAMUTABA E
DOURADA NO EIXO
SOLIMÕES-AMAZONAS
O MANEJO DA PESCA DOS GRANDES
BAGRES MIGRADORES
Piramutaba e Dourada no Eixo
Solimões-Amazonas
Ministério do Meio Ambiente
Marina Silva

Secretaria de Coordenação da Amazônia


Muriel Saragoussi

Programa-Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais do Brasil


Nazaré Lima Soares

Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis


Marcus Luiz Barroso Barros

Diretoria de Fauna e Recursos Pesqueiros


Rômulo José Fernandes Barreto Mello

Coordenação-Geral de Gestão de Recursos Pesqueiros


José Dias Neto

Projeto Manejo dos Recursos Naturais da Várzea


Coordenador: Mauro Luis Ruffino
Letícia Domingues Brandão
Gerente Executivo:
Gerente do Componente Estudos Estratégicos: Maria Clara Silva-Forsberg
Perito
Darren Andrew Evans (DFID)
Perito
Wolfram Maennling (GTZ)
Assessora de Comunicação
Marinês da Fonseca Ferreira

Equipe ProVárzea
Adriana Melo, Alexandre Voss, Alzenilson Santos Aquino, Antonia L.F. Barrosso, Anselmo de
Oliveira, Aubermaya Xabregas, César Teixeira, Cleilim Albert de Souza, Cleucilene da Silva Nery,
Emerson Soares, Evandro Leal Câmara, Flavio Bocarde, Joelcia Ribeiro de Figueiredo, Kate Anne de
Souza, Manuel da Silva Lima, Marcelo Derzi, Marcelo Parise, Marcelo B. Raseira, Márcio Magalhães
Aguiar, Maria Clara Silva-Forsberg, Mario José Fonseca, Thomé de Souza, Marinês Ferreira, Natália
Aparecida de Souza Lima, Núbia Gonzaga, Raimunda Queiroz de Mello, Rosilene Bezerra da Silva,
Simone Fonseca, Tatiane Patrícia dos Santos, Tatianna de Souza Silva e Tiago Viana da Costa.

Financiadores
O MANEJO DA PESCA DOS GRANDES
BAGRES MIGRADORES
Piramutaba e Dourada no Eixo
Solimões-Amazonas

Nídia Noemi Fabré e


Ronaldo Borges Barthem
(Coordenadores do Estudo)

MANAUS, AM
2005
Copyright © 2005 - ProVárzea/Ibama

Esta publicação faz parte da coleção Documentos Técnicos: Estudos Estratégicos - DT-EE,
produzida pelo Componente Estudos Estratégicos do ProVárzea/Ibama.

Coordenação Editorial
Mauro Luis Ruffino

Editoração - Gerência dos Estudos Estratégicos


Maria Clara Silva-Forsberg

Edição de Texto e Revisão


Tatiana Corrêa Veríssimo
Maria Clara Silva-Forsberg
Maria José Teixeira - Edições Ibama
Vitória Rodrigues - Edições Ibama

Editoração Eletrônica e Capa


Tito Fernandes

Edição
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
Projeto Manejo dos Recursos Naturais da Várzea - ProVárzea/Ibama
Rua Ministro João Gonçalves de Souza, s/n. Distrito Industrial – Manaus-AM – Brasil. 69075-830
Tel: (92) 3613-3083/ 6246/6754/ Fax: (92) 3237-5616/6124
Correio Eletrônico: [email protected]
Página na Internet: www.ibama.gov.br/provarzea.

Centro Nacional de Informação. Tecnologias Ambientais e Editoração


Edições Ibama
SCEN Trecho 2, Bloco B - Subsolo Ed. Sede do Ibama
70818-900 - Brasília, DF
Telefone (61) 316 1065
E-mail: [email protected]

Catalogação na Fonte
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

F123b Fabré, Nídia Noemi & Barthem, Ronaldo Borges


O manejo da pesca dos grandes bagres migradores: piramutaba e dourada no eixo Solimões-Amazonas /
Nídia Noemi Fabré; Ronaldo Borges Barthem, organizadores – Manaus: Ibama, ProVárzea, 2005.
p.114 il; 16x23 cm. (Coleção Documentos Técnicos: Estudos Estratégicos)I

ISBN 85-7300-201-8

1. Pesca. 2. Recursos pesqueiros. 3. Grandes bagres. 4. Manejo da pesca. 5. Amazônia. I. Nídia Noemi
Fabré. II. Ronaldo Borges Barthem. III. Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis. IV. Projeto Manejo dos Recursos Naturais da Várzea – ProVárzea. V. Título.

CDU (2.ed.) 639.2(811.3)

A reprodução do todo ou parte deste documento é permitida somente com a autorização prévia do ProVárzea/Ibama

Impresso no Brazil
Printed in Brazil
SUMÁRIO
Autores ............................................................................................... 6
Lista de Siglas .................................................................................... 9
Apresentação ...................................................................................... 11

PARTE I. Bioecologia - Dinâmica populacional dos bagres e dife-


renciação genética: implicações para o manejo e políticas públicas ...... 13
Capítulo 1. Variabilidade genética da dourada e da piramutaba
na bacia amazônica .................................................................. 15
Capítulo 2. Dinâmica populacional e estado atual da exploração de
piramutaba e de dourada .............................................................. 19
PARTE II. Relevância social e econômica da pesca de bagres no eixo
Solimões-Amazonas .............................................................. 27
Capítulo 3. Aspectos sociais e conhecimento ecológico tradicional
na pesca de bagres ................................................................. 31
Capítulo 4. A pesca e a economia de bagres no eixo
Solimões-Amazonas ................................................................ 47
PARTE III. Gestão e manejo da pesca de grandes bagres na
bacia amazônica: ações, diretrizes e políticas públicas para a
manutenção do setor e dos recursos ............................................ 67
Capítulo 5. Legislação e plano de manejo para a pesca de
bagres na bacia amazônica ..................................................... 69
Capítulo 6. Sistema integrado para o manejo dos
grandes bagres migradores ..................................................... 75

ANEXOS
Anexo 1. Caracterização das espécies de
grandes bagres da Amazônia .............................................. 102
Anexo 2. Índice de Desenvolvimento dos Pescadores
de Bagres - IDPB .................................................................... 104
Anexo 3. Características da pesca de bagres no eixo
Solimões-Amazonas ........................................................... 108
AUTORES

Adriana Rosa Carvalho: Bióloga, Mestre em Ciências da


Engenharia Ambiental pela Universidade de São Paulo, USP [S.Carlos],
Doutora em Ecologia de Ambientes Aquáticos Continentais pela
Universidade Estadual de Maringá, UEM. Professora da Universidade
Estadual de Goiás, Campus de Anápolis, Unidade de Ciências Exatas e
Tecnológicas.

Elisabeth Farias Vieira: Bióloga, Mestre e Doutora em Biologia de


Água Doce e Pesca Interior pelo Instituto Nacional de Pesquisas da
Amazônia, INPA. Integrante do Programa Integrado de Recursos
Aquáticos e da Várzea - Pyrá - Universidade Federal do Amazonas -
UFAM

Izeni Pires Farias: Bióloga, Mestre em Biologia de Água Doce e Pesca


Interior pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, INPA.
Doutora em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Pará,
UFPA. Professora Adjunta da Universidade Federal do Amazonas,
Instituto de Ciências Biológicas, Departamento de Biologia.

Jacqueline da Silva Batista: Bióloga, Mestre em Biologia de Água


Doce e Pesca Interior pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia,
INPA. Tecnologista do INPA, Laboratório Temático de Biologia
Molecular, Coordenação de Pesquisas em Biologia Aquática.

José Antonio Alves Gomes: Oceanógrafo, Especialista em


Biosegurança pela Associação Nacional de Biosegurança, Anbio.
Especialista em Taxonomia Molecular Para La Exporacion de La Biodi
pelo Centro Argentino Brasileiro de Biotecnologia, Cabbio. Doutor em
Biologia Marinha pela University Of California, San Diego - Scripps
Institution Of Oceanography, UCSD - SIO. Diretor do Instituto
Nacional de Pesquisas da Amazônia, INPA.

José Fernandes Barros: Sociólogo, Especialista em Gestão em


Etnodesenvolvimento e Mestre em Ciências do Ambiente e
Sustentabilidade na Amazônia pela Universidade Federal do Amazonas -
Ufam / Instituto de Ciências Humanas e Letras, Departamento de
Ciências Sociais. Integrante do Programa Integrado de Recursos
Aquáticos e da Várzea - Pyrá - Ufam

Juan Carlos Alonso Gonzalez: Biólogo Marinho, Mestre e Doutor


em Biologia de Água Doce e Pesca Interior pelo Instituto Nacional de
Pesquisas da Amazônia, INPA. Pesquisador do Instituto Amazônico de
Investigação Pesqueira - Sinchi.

Kyara Formiga de Aquino: Bióloga, Especialista e Mestre em


Biologia de Água Doce e Pesca Interior pelo Instituto Nacional de
Pesquisas da Amazônia, INPA. Tecnologista do Departamento de Biologia
Aquática e Limnologia, Divisão de Biologia e Ecologia de Peixes do INPA.

Lilianne Esther Mergulhão Pirker: Bióloga, Especialista em


Piscicultura pela Universidade Federal de Lavras, Ufla. Mestre em
Zoologia e Doutoranda em Recursos Pesqueiros pelo Museu Paraense
Emílio Goeldi, MPEG.

Maria Olívia de Albuquerque Ribeiro Simão: Bióloga, Mestre


em Entomologia pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia,
INPA. Integrante do Programa Integrado de Recursos Aquáticos e da
Várzea - Pyrá - Ufam

Nídia Noemi Fabré: Bióloga, Doutora em Ciências Biológicas pela


Universidad Nacional de Mar Del Plata, UNMDP. Professora da
Universidade do Amazonas, Ufam, Instituto de Ciências Biológicas,
Departamento de Biologia.

Ronaldo Borges Barthem: Biólogo Marinho, Mestre em Biologia de


Água Doce e Pesca Interior pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia,
INPA. Doutor em Ecologia pela Universidade Estadual de Campinas,
Unicamp. Pesquisador Titular do Museu Paraense Emílio Goeldi - MPEG,
Departamento de Zoologia.

Ronaldo Angelini: Ecólogo, Especialista em Estatística Aplicada pela


Universidade Estadual de Maringá, UEM. Mestre em Ciências da
Engenharia Ambiental pela Universidade de São Paulo, USP. Doutor em
Ecologia de Ambientes Aquáticos Continentais pela Universidade
Estadual de Maringá, UEM. Professor da Universidade Estadual de
Goiás, Campus de Anápolis, Unidade de Ciências Exatas e Tecnológicas.

Valdenei de Melo Parente: Economista, Mestre em


Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade pela Universidade Federal
Rural do Rio de Janeiro, UFRJ. Professora da Universidade Federal do
Amazonas - Ufam.
LISTA DE SIGLAS
Afeam - Agência de Fomento do Estado do Amazonas
Aipam - Associação das Indústrias de Pesca da Amazônia
Cepa/AM - Comissão Estadual de Planejamento Agrícola do Amazonas
Cepnor/Ibama - Centro de Pesquisa e Extensão Pesqueira do Norte do Brasil
CPP/PA - Conselho Pastoral da Pesca do Pará
Dipoa/AM - Diretoria de Pesca e Agricultura. Secretaria de Produção do
Amazonas
Emater/PA - Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Pará
Embrapa - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
FDPB - Fundo de Desenvolvimento dos Pescadores de Bagres
FNS - Fundação Nacional de Saúde
Fepa - Federação dos Pescadores do Pará
Iara - Instituto Amazônico de Manejo Sustentável dos Recursos Ambientais
Jica - Agência de Cooperação Técnica do Japão
Ibama - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
Idam - Instituto de Desenvolvimento Agropecuário do Estado do Amazonas
IDPB - Índice de Desenvolvimento da Pesca de Bagres
IDSM - Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá
Incra - Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
Inderena - Instituto Nacional de Recursos Naturales y Renovables Del Medio
Ambiente - Colombia
INPA - Instituto Nacional de Pesquisas do Amazonas
Ipaam - Instituto de Proteção Ambiental do Estado do Amazonas
MMA - Ministério do Meio Ambiente
Monape - Movimento Nacional dos Pescadores
Mopebam - Movimento das Colônias de Pescadores do Baixo Amazonas
Mopepa - Movimento dos Pescadores do Estado do Pará
OEA - Organização dos Estados Americanos
ProVárzea - Projeto Manejo dos Recursos Naturais da Várzea
Ufam - Universidade Federal do Amazonas
Snuc - Sistema Nacional de Unidades de Conservação
Sebrae - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
Sepra - Secretaria de Produção Rural
Sepror/AM - Secretaria de Estado da Produção Rural e Abastecimento
Setrab/AM - Secretaria Estadual do Trabalho do Amazonas
SIF - Serviço de Inspeção Federal
Sinchi - Instituto Colombiano de Investigaciones Científicas
Sinpesca - Sindicato da Indústria de Pesca dos Estados do Pará e do Amapá
Susam - Secretaria Estadual de Saúde do Amazonas
UHE - Usina Hidrelétrica
UEG - Universidade Estadual de Goiás
APRESENTAÇÃO
Durante a década 70, a abertura de novas rotas de transporte, a criação
de incentivos para a abertura de frigoríficos e a ampliação da frota pesqueira
intensificaram a captura dos bagres na região do estuário amazônico. Ao
mesmo tempo, inaugurou-se a exploração industrial desses peixes nos rios
amazônicos, com destaque para a exploração da piramutaba (Brachyplatystoma
vaillantii). Paulatinamente, os pescadores artesanais também passaram a
capturar bagres, e essa atividade passou a representar uma das principais
fontes de renda para as populações ribeirinhas na Amazônia Ocidental.
Apesar da importância atual da pesca dos bagres na região amazônica, o
conhecimento sobre a distribuição e características biogenéticas das principais
espécies exploradas (piramutaba e dourada), bem como sobre o estado atual
da pesca desses bagres no eixo Solimões-Amazonas é ainda insuficiente. Ao
considerar as lacunas existentes nesse conhecimento, o Provarzea/Ibama
decidiu incluir esses temas como objeto de um dos oito Estudos Estratégicos
que compõem o projeto.
O estudo “Bases para o Manejo dos Grandes Bagres Migradores”,
coordenados pela Dra. Nidia Fabré da Universidade Federal do Amazonas
(Ufam) e Dr. Ronaldo Barthen do Museu Paraense Emilio Goeldi (MPEG)
em colaboração com pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da
Amazônia (Inpa), Museu Paraense Emílio Goeldi (MPGE) e Instituto Sinchi
da Colômbia, é interdisciplinar e abrange a principal rota de migração da
dourada e piramutaba na calha do Solimões/Amazonas, uma vez que essa
calha sustenta os principais centros de produção e comercialização dessas
espécies. Este estudo aborda os componentes bioecológicos, sociais e
econômicos para explicar a dinâmica dessas espécies e caracterizar a pesca
dos bagres na região. O estudo, portanto, disponibiliza informações confiáveis
e atualizadas para a discussão e planejamento do manejo e administração da
pesca da dourada e piramutaba no eixo Solimões/Amazonas.
O conhecimento sistematizado sobre esses bagres, associado à articulação
político-institucional no Brasil e demais países amazônicos exploradores
dessas espécies, permitirá formular um programa integrado para o uso
sustentável desses recursos sobre bases ecológicas, econômicas e sociais que
promova a conservação dos recursos pesqueiros na Amazônia.
Assim, o objetivo deste Documento Técnico é disponibilizar o
conhecimento adquirido sobre a bioecologia das espécies piramutaba
(Brachyplatystoma vaillantii) e dourada (Brachyplatystoma rousseauxii), bem
como o estado atual da pesca dessas espécies e seus benefícios sociais e
econômicos para as populações ribeirinhas na bacia amazônica.
Este estudo serve como subsídio para a formulação de políticas públicas
que assegure o manejo sustentável do recurso pesqueiro na região. Portanto,
destina-se a um público de técnicos e tomadores de decisão na área de
recursos pesqueiros no âmbito federal e estadual, assim como aos responsáveis
pelas políticas de cooperação técnica entre os países da bacia amazônica.

Mauro Luis Ruffino Maria Clara Silva-Forsberg


Coordenador do ProVárzea/Ibama Gerente do Componente Estudos
Estratégicos do ProVárzea/Ibama

12 Coleção Estudos Estratégicos : Grandes Bagres Migradores


PARTE I

BIOECOLOGIA - DINÂMICA
POPULACIONAL DOS BAGRES E
DIFERENCIAÇÃO GENÉTICA:
IMPLICAÇÕES PARA O MANEJO E ÀS
POLÍTICAS PÚBLICAS
Capítulo I

VARIABILIDADE GENÉTICA DA
DOURADA E DA PIRAMUTABA
NA BACIA AMAZÔNICA
Jacqueline Batista
Kyara Formiga Aquino
Izeni Pires Farias
José Alves Gomes

Introdução
Entre a variedade de peixes existentes na Amazônia, a
piramutaba (Brachyplatystoma vaillantii) e a dourada
(Brachyplatystoma rousseauxii) são alvos preferenciais da pesca em
quase toda a área de distribuição. De acordo com estudos
científicos realizados e relatos de pescadores, essas espécies realizam
longas viagens (mais de 3.000 km) no eixo Solimões-Amazonas
para completar o seu ciclo de vida. Nascem e se reproduzem no
alto das cabeceiras de vários braços (afluentes) dos rios Solimões-
Amazonas, como os rios Juruá, Purus, Madeira, Içá, Japurá e
outros. Alimentam-se no estuário, em Belém, e crescem na
Amazônia Central (de Almeirim/Santarém, até Manaus). Para a
reprodução, migram numa viagem de volta aos afluentes onde
provavelmente nasceram (Figura 1).
Os estudos de genética, ciclo de vida, dinâmica de populações e estado
atual da exploração dos bagres migradores são essenciais para orientar o
manejo e a conservação dessas espécies. Além disso, a espacialização desses
estudos, ao longo do eixo Solimões-Amazonas, permite que as sugestões de
manejo e conservação sejam mais específicas em relação às macrorregiões
estudadas, a saber: Estuário, Santarém, Manaus, Tefé e Alto Solimões.

Figura 1. Áreas de criação, alimentação e desova de dourada e de


piramutaba no eixo Solimões-Amazonas (Barthem & Goulding, 1997).

Ciclo de vida da piramutada e da dourada


O estudo do DNA da piramutaba e da dourada revelou informações
sobre o seu comportamento e o ciclo de vida, confirmando algumas
informações já existentes na literatura. A Figura 2 mostra que o grupo de
piramutabas apresentou o maior número de indivíduos diferentes entre si,
em relação ao grupo de douradas. Nos mapas apresentados a seguir (Figuras
3 e 4), verifica-se que essas espécies nascem nos rios Madeira, Purus, Juruá,
Içá e Japurá. No entanto, não foram encontradas piramutabas no Purus e
no Juruá. Cada cor nesses mapas representa um grupo de indivíduos iguais
geneticamente.
Depois de nascidas nesses rios, as piramutabas e as douradas vão para o
Solimões e descem o Amazonas migrando rumo ao estuário, em Belém. No

16 Coleção Estudos Estratégicos : Grandes Bagres Migradores


Figura 2. Diferença dos níveis de variabilidade genética entre indivíduos de
dourada e de piramutaba.

estuário, alimentam-se de pequenos animais e permanecem na região até


atingirem 2 anos de idade. Em seguida, começam a subir os rios Amazonas-
Solimões numa viagem de volta, passando por Santarém, Manaus, Tefé e
Alto Solimões, até a região do Peru, perto da cordilheira dos Andes. Nesse
regresso, essas espécies se alimentam e crescem até estarem prontas para a
reprodução (Figura 3 e 4).

Figura 3. Representação e distribuição dos indivíduos de piramutaba ao


longo da calha dos rios Solimões-Amazonas e seus afluentes Madeira, Içá e
Japurá, evidenciando uma migração aleatória e os mesmos níveis de
variabilidade genética em todo o sistema (cores diferentes indicam a grande
variabilidade genética para a população de piramutaba).

Jacqueline Batista, Kyara Formiga Aquino, Izeni Pires Farias, José Alves Gomes 17
Figura 4. Representação e distribuição dos indivíduos de dourada ao longo da
calha dos rios Solimões-Amazonas e seus afluentes Madeira, Purus, Juruá, Içá
e Japurá, evidenciando um padrão que sugere uma migração preferencial
parcial pelos tributários (cores diferentes indicam a variabilidade genética
para a população de dourada).

O grupo de piramutabas diminui quando os indivíduos migram do


estuário até o Alto Solimões, uma vez que alguns entram nos rios Madeira,
Içá e Japurá. No entanto, o grau de diferença genética entre as piramutabas
não diminui - isso sugere que a piramutaba não tem preferência na escolha
do rio para reproduzir (Figura 3).
O grupo de douradas diminui quando sai do estuário em direção a
Santarém. Vários indivíduos provavelmente entram nos rios Xingu e Tapajós,
segundo o relato de alguns pescadores. O grupo diminui muito ao chegar a
Manaus, porque, provavelmente, muitos indivíduos entram no rio Madeira
para fazer a desova. E, menor, continua sua jornada, diminuindo cada vez
mais até chegar aos Andes. Isso porque alguns indivíduos entram no rio
Japurá-Caquetá, Içá-Putumayo, Purus e Juruá, para também desovarem.
Assim, com a redução do grupo distribuído nos tributários dos rios Solimões-
Amazonas, pouquíssimas douradas foram encontradas no Alto Solimões,
em Tabatinga (Figura 4).

18 Coleção Estudos Estratégicos : Grandes Bagres Migradores


Provavelmente, boa parcela do grupo de douradas retorna para o rio onde
nasceu, o que acaba gerando douradas geneticamente diferentes entre os
afluentes dos rios Solimões-Amazonas, ou seja, o grau de parentesco entre
as várias douradas, de cada afluente, é distante (Figura 4).

Conclusão para o manejo


Os resultados das análises genético-populacionais para as duas espécies
de bagres sugerem que há uma única população com grande padrão de
migração, ao longo de toda a calha e tributários do rio Amazonas. Ou seja,
os indivíduos amostrados nos tributários e na calha não comportam
populações geneticamente diferentes.
Os afluentes devem ser vistos como verdadeiros berçários para a dourada
e a piramutaba, por serem os locais de desova e também por contribuírem
com uma boa parcela da diversidade genética para todo o grupo, a ser formado
na calha, que migra rumo ao estuário amazônico. Os tributários contribuem
para a manutenção de todo o sistema dinâmico de migração. Dessa forma,
as medidas de manejo aplicadas no Alto Solimões e seus afluentes afetarão o
sistema como um todo, uma vez que estamos lidando com um único estoque
de grandes bagres.

Jacqueline Batista, Kyara Formiga Aquino, Izeni Pires Farias, José Alves Gomes 19
Capítulo 2

Dinâmica populacional e
estado atual da exploração de
piramutaba e de dourada
Juan Carlos Alonso
Lilianne Esther Mergulhão Pirker

Introdução
A dinâmica de populações estuda as mudanças no tamanho
das populações, ao longo do tempo, e os fatores que causam essas
mudanças. Também verifica o ciclo de vida dos indivíduos. O
levantamento de informações sobre o ciclo de vida, padrões de
migração dos indivíduos, crescimento individual e mortalidade, é
fundamental para entender como as populações de piramutaba e
de dourada respondem à explotação pesqueira. Tal compreensão,
por sua vez, permite avaliar o estado atual de explotação e a relação
entre o esforço de pesca e o rendimento do recurso. Com base
nesses dados, é possível propor políticas de manejo em todo o
sistema Solimões-Amazonas para atender as necessidades das
populações humanas que dependem diretamente dessa atividade.
A descrição dos tamanhos e idades que compõem a população
que está sendo capturada permite verificar em que locais de sua
área de distribuição os peixes desovam, criam-se, alimentam-se e
crescem. O impacto da pesca sobre cada uma dessas parcelas da
população será diferenciado. Assim, se houver exploração predatória dos
adultos desovantes, os peixes não poderão gerar o número necessário de
filhos para renovar a população a cada ano. Nesse caso, ocorre a sobrepesca
de recrutamento. Do mesmo modo, se houver pesca de jovens e de pré-
adultos de forma desmedida, por exemplo, na área de criação da espécie,
não será possível que eles atinjam o tamanho no qual o rendimento em peso
seja máximo. Nesse caso, ocorre a sobrepesca de crescimento.

Piramutaba
Os dados de 6.686 piramutabas capturadas pela pesca comercial artesanal,
nos períodos de safra e entressafra, indicam que estão sendo capturados
peixes com tamanho entre 22 cm e 72 cm, com média de 42,70 cm. Mais
de 80% dos peixes amostrados tinham 3 e 4 anos de idade, e 58% tinham
5 anos. Com freqüência menor que 10%, as piramutabas são capturadas
com 1, 2, 6 e 7 anos de vida. O Estuário apresentou piramutabas com
tamanhos menores. Em Manaus, encontrou-se a menor média de
comprimento furcal, medida da ponta do focinho ao pedúnculo caudal,
(41,13cm ± 5,81), seguida pelo Estuário (41,48cm ± 8,30).
As maiores piramutabas foram encontradas no Alto Solimões (72 cm),
com média de 43,01 cm (± 5,41). A maior média de comprimento de
45,86 cm (± 9,05) foi encontrada em Santarém. Nas cinco macrorregiões
estudadas, a maior porcentagem de peixes tinha 3 anos, com maior freqüência
no Estuário (63%). Entre as macrorregiões, Santarém apresentou a maior
porcentagem de piramutabas com 6 e 7 anos, enquanto em Tefé a maior
porcentagem de peixes tinha de 4 e 5 anos. Observamos peixes com 7 anos
no Alto Solimões (0,11%) e 1 ano no Estuário (0,10%). Portanto, o Estuário
pode ser considerado representativo dos indivíduos de menores tamanhos e
idades (Figura 5).

DOURADA
Mediram-se 7.184 indivíduos na safra de 2002 (agosto a novembro) e
entressafra de 2003 (fevereiro a maio), indicando que a pesca comercial no
sistema Amazonas-Solimões captura douradas entre 14 cm e 156 cm, com
média de 71,11 cm (± 18,94). Cerca de 77% dos peixes tinham entre 1 e
2 anos; 43% tinham 2 anos; e 15%, 3 anos de vida. Menos freqüentes

22 Coleção Estudos Estratégicos : Grandes Bagres Migradores


Figura 5. Distribuição de
idade da piramutaba.

foram os peixes com 5, 4, e 1 ano de vida. As menores douradas são pescadas


no Estuário, com média de 57,41 cm (+/- 12,48). Peixes maiores foram
capturados entre Tefé (90,45 +/-18,31) e Alto Solimões (98,97 +/-12,02).
No Estuário, a maioria (65%) das douradas capturadas na pesca comercial

Juan Carlos Alonso, Lilianne Esther Mergulhão Pirker 23


tinha 1 ano. Em Santarém, 67% tinham 2 anos e, no Alto Solimões, 48%
tinham 3 anos de vida (Figura 6).

Figura 6. Distribuição de idade


da dourada.

24 Coleção Estudos Estratégicos : Grandes Bagres Migradores


Implicações para o manejo
Piramutabas jovens que não migram (menores de 20 cm) não foram
capturadas pela pesca comercial artesanal. Entretanto, os 56% dos peixes
com comprimento furcal entre 20 cm e 40 cm, que migram, estão sendo
capturados no Estuário, determinando a sobrepesca de crescimento.
A pesca comercial atua mais sobre os peixes pré-adultos maiores que 40
cm nas cinco macrorregiões estudadas, o que também provoca a sobrepesca
de crescimento. Com esses resultados, pode-se considerar duas áreas a serem
tratadas, de forma diferenciada, para o manejo e conservação: o Estuário do
Amazonas e a região entre Santarém e Tabatinga.
No Estuário, Santarém e Manaus, a pesca comercial está atuando com
maior intensidade na parcela da população das douradas jovens, que possuem
a capacidade de migrar, incluindo indivíduos entre 40 cm a 80 cm de
comprimento furcal. Douradas jovens não-migrantes (< 40 cm) foram
registradas no Estuário, Manaus e, em menor proporção, em Tefé. Embora
os peixes adultos (> 80 cm) tenham sido registrados em todas as
macrorregiões, em Tefé e no Alto Solimões eles são pescados com mais
freqüência. Portanto, três unidades de manejo diferenciadas para a dourada
são evidentes: Estuário, Santarém-Manaus e Tefé-Alto Solimões.
A taxa de crescimento indica que a dourada cresce mais do que a
piramutaba. A piramutaba pode alcançar até 110,5 cm, enquanto a dourada
pode atingir até 132 cm de comprimento. Peixes com esse comprimento
são freqüentes em Tabatinga (Figura 7 e 8).
As piramutabas e as douradas são capturadas pela pesca a partir de 2 anos
de vida. Nas macrorregiões do Estuário, Santarém e Manaus, um grande
número de indivíduos de dourada já está sendo capturado pela pesca
comercial, antes mesmo desses indivíduos iniciarem o seu ciclo reprodutivo.
As mortalidades por pesca ideal da piramutaba e da dourada (Fótimo = de
0,30 ano-1 e 1 ano-1) sugerem que a primeira encontra-se em estado de
sobrepesca de crescimento e a segunda está no limite de um estado estável
de explotação (Tabela 1).

Juan Carlos Alonso, Lilianne Esther Mergulhão Pirker 25


Tabela 1. Parâmetros populacionais de dourada e de piramutaba.
Piramutaba Dourada
Taxa de crescimento (K) 0,13 0,33
Comp. máximo esperado (L∞) 110,5cm 132cm
Idade comp. Zero (to) - 0,32 - 0,56
Idade de primeira captura (Tc) 2 anos 2 anos
Primeira maturidade sexual (T50) 3 anos 2 anos
Idade de recrutamento (Tr) 2 anos 1,6 anos
Esperança de vida (A95) 22 anos 8,5 anos
Mortalidade natural (M) 0,30 ano-1 0,35 ano-1
Mortalidade total (Z) 0,69 ano-1 1,25 ano-1
-1
Mortalidade por pesca (F) 0,39 ano 0,9 ano-1
Taxa de exploração 0,57 0,72
Rendimento máximo sustentável, por recruta (RMS) 630 g, por recruta 5,4 kg, por recruta
Mortalidade por pesca ideal (Fótimo) 0,30 ano-1 1,0 ano-1

Conclusão
Nossos resultados confirmam que o ciclo de vida da piramutaba e da
dourada implica no uso continuado de todo o eixo Solimões-Amazonas.
Ano após ano, os jovens oriundos de todos os afluentes de água branca da
bacia amazônica chegam ao Estuário. A fartura de alimento e a
disponibilidade de espaço nessa região favorecem o crescimento rápido dessas
espécies nos primeiros anos de vida. Portanto, o Estuário pode ser
caracterizado como um berçário onde esses bagres permanecem até
aproximadamente os 2 anos de idade. A partir desse momento, começam a
migrar rio acima, empreendendo uma viagem de mais de 3.000 km. Durante
a migração, alimentam-se vorazmente dos caraciformes (peixes de escama),
aproveitando a fartura das áreas de várzea. Por essa razão, os grandes lagos
de várzea, como o Arari (Figura 7), o Coari e o Tefé, no eixo Solimões-
Amazonas, são detentores de uma alta proporção de jovens de dourada, que
são capturados pelos pescadores de mapará entre os meses de maio e junho.
Finalmente, as cabeceiras dos grandes rios de água branca, afluentes do
Solimões–Amazonas (dos quais se dispõe de poucos dados sobre a ecologia
das populações de dourada e de piramutaba) seriam as áreas de desova desses
migradores. Os seus filhotes são carregados pela correnteza rio abaixo, durante
a época de entressafra, para mais uma vez reiniciarem um longo e cansativo

26 Coleção Estudos Estratégicos : Grandes Bagres Migradores


Figura 7. Distribuição de tamanhos de douradas do lago Arari, no município
de Itacoatiara.

ciclo de vida. Este estudo recomenda algumas medidas para o uso sustentável
dos grandes bagres migradores (dourada e piramutaba) distribuídos na bacia
amazônica que estão apresentadas no Quadro 1 a seguir:

Juan Carlos Alonso, Lilianne Esther Mergulhão Pirker 27


Quadro 1. Propostas de manejo de dourada e de piramutaba.

Piramutaba Dourada

No Estuário, considerado área de Sensibilizar os pescadores do Estuário


criação da piramutaba, sugere-se sobre o efeito negativo da pesca de
manter por todos os anos o período douradas menores que 40 cm.
de defeso dessa espécie durante a Implementar de forma participativa
época de seca (outubro a dezembro) medidas que restrinjam as capturas de
pela pesca industrial. jovens na área de criação.

Estipular tamanho mínimo da Criar medidas em conjunto com a frota


malha das redes de pesca, para não industrial, indústrias pesqueiras e
capturar os peixes jovens que ainda mercados locais para que não sejam
não conseguiram se reproduzir pela aceitos nos desembarques os peixes
primeira vez na vida. menores que 75 cm.

Manter a ligação entre essas Criar medidas de conservação dos


diferentes regiões, pois a ambientes em que a dourada conclui
piramutaba é migradora e utiliza seu ciclo reprodutivo, nos trechos altos
toda a calha Estuário-Amazonas- dos rios da região mais ocidental da
Solimões no seu ciclo de vida. Seria Amazônia e nos países que fazem limite
uma ameaça para essa espécie a com o Brasil (Bolívia, Colômbia,
construção de usinas hidrelétricas Equador e Peru) e nas áreas de criação
nas regiões dos tributários do da macrorregião do Estuário.
sistema.

Criar um sistema de cotas de captura


para as macrorregiões Estuário,
Santarém-Manaus e Tefé-Alto
Solimões, restritas a períodos de tempo
específicos para cada área.

Manter a ligação entre essas diferentes


regiões, pois a dourada é migradora e
utiliza toda a calha Estuário-
Amazonas-Solimões no seu ciclo de
vida. Seria uma ameaça para essa
espécie a construção de usinas
hidrelétricas ao longo desse sistema.

28 Coleção Estudos Estratégicos : Grandes Bagres Migradores


PARTE II

RELEVÂNCIA SOCIAL E ECONÔMICA


DA PESCA DE BAGRES NO EIXO
SOLIMÕES-AMAZONAS
Capítulo 3

Aspectos sociais e conhecimento ecológico


tradicional na pesca de bagres
José Fernandes Barros
Maria Olívia de Albuquerque Ribeiro

Introdução
A pesca dos bagres na Amazônia como atividade produtiva e
social apresenta-se cada vez mais em crise. O início das relações
de mercado no interior dos grupos pesqueiros tradicionais e as
situações conflituosas em que essas populações humanas usuárias
dos recursos estão envolvidas têm gerado mudanças significativas
no modelo de organização socioprodutiva da região.
Os impactos sociais e ecológicos causados por uma nova
conjuntura são visíveis e precisam ser investigados. Para isso, é
necessário um entendimento maior sobre os aspectos
organizacionais e o conhecimento tradicional dos pescadores de
bagres. Este capítulo traz informações sobre o perfil social e a
organização político-institucional do pescador de bagres e descreve
o conhecimento ecológico tradicional desses pescadores sobre as
espécies estudadas. Essas informações podem orientar o manejo
das espécies piramutaba (Brachyplatystoma vaillantii) e dourada
(Brachplatystoma rousseauxii) no eixo Solimões-Amazonas e
contribuir para a concepção de políticas públicas voltadas ao setor pesqueiro.
A incorporação do conhecimento ecológico tradicional à concepção do
manejo é importante pelas informações locais e específicas sobre a biologia
e ecologia das espécies e porque permite verificar a percepção dos pescadores
de bagres sobre a dinâmica do recurso pesqueiro e o grau de vulnerabilidade
da atividade.

Perfil social do pescador de bagres


A pesca artesanal de bagres está presente tanto entre as populações
indígenas, caboclas e/ou ribeirinhas quanto em algumas parcelas dos
moradores urbanos. Estes últimos, utilizando instrumentos simples ou
tecnologias mais sofisticadas, avançam desde a orla marítima até as margens
de rios e lagos interiores.
A dinâmica social dos pescadores de bagres é bastante variável, ou seja,
eles estão distribuídos em grupamentos com organização social própria e
modos de produção relativamente diferenciados. No interior dessas unidades
sociais existem vários tipos de pescadores que vão desde os possuidores de
instrumentos de trabalho àqueles que pescam em forma de parceria. Esse
cenário contribui para a configuração de duas categorias distintas de
pescadores artesanais: o pescador-lavrador, polivalente (Furtado, 1990) ou
ribeirinho, que combina diferentes atividades como a agricultura, o
extrativismo, a criação de gado, a coleta e a prestação de serviços; e o pescador
semiprofissional, monovalente (Furtado, 1990), que ocupa o seu tempo
quase que exclusivamente com as atividades de pesca, durante todo o ano,
sem o incremento de outras atividades.
Nas localidades tratadas neste estudo, a pesca de bagres não é a única
atividade econômica dos pescadores. A agricultura aparece com grande
destaque entre as atividades complementares, principalmente no período
da entressafra. Além disso, a pesca de outras espécies de peixes, o comércio
e a prestação de serviços representam alternativas de renda no decorrer do
ano (Figura 8).
O Estuário chama a atenção pela freqüência de pescadores dedicados a
atividades ligadas ao comércio e à prestação de serviços (60%). Essa situação
parece estar relacionada ao fato de a macrorregião abrigar grande parcela
dos maiores centros de comércio e desembarque do pescado, estando presente
aí o pescador citadino que nos períodos de menor esforço da pesca passa a
prestar serviços no comércio e na construção civil.

32 Coleção Estudos Estratégicos : Grandes Bagres Migradores


Figura 8. Outras atividades e ocupações dos pescadores, além da pesca de
bagres, por macrorregião.

Quanto ao grau de instrução, a grande maioria dos pescadores possui o


1º grau incompleto (1ª a 4ª série) e, em alguns casos, o 2º grau completo.
Embora em menor proporção, o analfabetismo e o semi-analfabetismo
continuam presentes no interior dos grupos de pesca (Figura 9).

Figura 9. Grau de instrução dos pescadores.

José Fernandes Barros, Maria Olívia de Albuquerque Ribeiro 33


Nas localidades pesquisadas, os grupos domésticos estão organizados em
torno da família nuclear, patriarcal e monogâmica que varia de seis a sete
pessoas, com uma média de dois a três filhos por família1 (Tabela 2). A
média de pescadores, por residência, apresentou-se numa relação de seis
moradores para dois pescadores.
No âmbito das relações sociais ou dos grupos, a pesca não é um trabalho
tradicionalmente masculino. Embora seja praticada e reconhecida como
atividade típica de homens, as mulheres também a praticam ou colaboram
na limpeza, evisceração do pescado, manutenção dos equipamentos e
confecção de artefatos.

Tabela 2. Características das famílias dos pescadores de bagres, por


macrorregião.
Macrorregião No. Médio No. Média No. Médio No.Médio de No. Médio
de moradores filhos filhos >12 anos familiares que de pescadores
contribuem
com a renda
ALTO SOLIMÕES 7,0 3,0 1,5 2,0 2,0
TEFÉ 6,0 3,0 2,0 2,0 1,5
MANAUS 6,0 2,0 1,5 2,0 2,0
SANTARÉM 7,0 2,0 1,5 2,0 2,0
ESTUÁRIO 6,0 2,0 1,5 2,0 1,5

Na explotação dos recursos pesqueiros, homens, mulheres e crianças


exercitam uma complexa teia de relações de gênero; os homens atuam na
pesca, as mulheres realizam as tarefas de casa e auxiliam os homens na
atividade pesqueira, as meninas acompanham as mães nas tarefas domésticas,
enquanto os meninos seguem a linha paterna.
A relação entre pais e filhos é marcada por uma espécie de reafirmação
constante da autoridade paterna. Assim, quem se encarrega de encaminhar
os filhos (sexo masculino) na pesca é o patriarca. Em idade precoce, as
crianças são iniciadas na atividade pesqueira, acompanhando o pai na canoa
(como remadores), observando e aprendendo sobre os locais, métodos e
técnicas de pesca. As mães julgam ser melhor para o filho estar na lida com
o pai, exercendo uma atividade que possa contribuir para a subsistência do
grupo doméstico.

1
A família é uma instituição social de grande importância nos grupos de pescadores de bagres. A organização do parentesco está
construída com bases em laços biológicos e culturais. No âmbito da economia doméstica, base econômica dos pescadores artesanais
de bagres, o tamanho da família define a unidade de produção e a intensidade das atividades econômicas. Quanto maior o número de
membros, maior será o montante de trabalho e a capacidade de exploração do recurso.

34 Coleção Estudos Estratégicos : Grandes Bagres Migradores


Organização político-institucional
O processo organizativo dos pescadores artesanais desenvolve-se como
uma estratégia coletiva para enfrentar as dificuldades de acesso a bens e
serviços sociais, via políticas públicas. Embora extensa parcela dos pescadores
desconheça seus direitos sociais, sofra retaliações por parte de diversas
instituições e seja vítima de estratégias “politiqueiras” que se aproveitam da
condição de pobreza, a grande maioria possui documentação identificando-
os como “cidadãos” (Tabela 3). No entanto, os pescadores de bagres estão
ausentes de suas entidades representativas. Em geral, a maioria dos pescadores
não está associada a colônias e associações de pesca. As exceções são o Estuário
e Santarém, onde existem os maiores índices de filiação dos pescadores às
Colônias, provavelmente pela atuação dos movimentos sociais ligados à pesca,
no Estado do Pará (Figura 10).

Tabela 3. Porcentagem de documentação dos pescadores de bagres, por


macrorregião.
Tipo documento ESTUÁRIO SANTARÉM MANAUS TEFÉ ALTO SOLIMÕES
Batistério 62% 64% 33% 49% 50%
Certidão casamento 37% 52% 37% 32% 32%
CPF 79% 85% 76% 54% 65%
Carteira identidade 91% 91% 88% 73% 75%
Carteira do Ministério da Agricultura 41% 57% 29% 20% 29%
Certidão nascimento 91% 93% 90% 90% 83%
Outro 18% 22% 3% 3% 14%
Pis/Pasep 34% 47% 32% 15% 21%
Certificado reservista 64% 49% 52% 37% 38%
Título Eleitoral 86% 91% 88% 82% 81%
Carteira trabalho 81% 87% 72% 54% 72%

Este estudo mostrou que a grande maioria dos pescadores de bagres não
está filiada a seus órgãos de classe. Esse distanciamento reflete a fragilidade
política pela qual o setor vem passando, sobretudo pela heterogeneidade de
interesses pessoais dos dirigentes e pelos antagonismos internos, que se
sobrepõem aos anseios e necessidades do setor. Os índices positivos de filiação
nas macrorregiões do Estuário e de Santarém podem estar relacionados à
atuação dos movimentos sociais ligados à pesca (Monape, Mopepa,
Mopebam e CPP), os quais têm demonstrado atuação e representatividade

José Fernandes Barros, Maria Olívia de Albuquerque Ribeiro 35


Figura 10. Número de pescadores de bagres filiados à Colônia de Pesca.

relevantes junto aos pescadores nessas macrorregiões. Algumas colônias, em


parceria com esses movimentos sociais que atuam no Pará, têm-se preocupado
em desenvolver trabalhos voltados para a capacitação e conscientização do
pescador sobre direitos sociais, cidadania e conservação do meio ambiente,
com o objetivo de disseminar princípios éticos e sociais para o fortalecimento
político do setor.
Embora os benefícios previdenciários sejam os agentes motivadores de
filiação às colônias e de participação no processo de escolha das representações
políticas do setor, a maioria dos pescadores ainda não tem acesso a esses
benefícios públicos (Figura 11). Como mencionado anteriormente, esses

Figura 11. Porcentagem de benefícios públicos recebidos pelos pescadores de


bagres, por macrorregião.

36 Coleção Estudos Estratégicos : Grandes Bagres Migradores


índices podem ser o reflexo do atual estado de organização política do setor
pesqueiro, no qual grande parte dos pescadores distancia-se de suas entidades
representativas por falta de informação ou mesmo de esclarecimentos acerca
da estrutura e funcionamento do aparato burocrático. Outro fator importante
que deve estar influenciando esse cenário é o tempo de filiação de no mínimo
três anos, estipulado para o recebimento dos benefícios.

Conhecimento ecológico tradicional e o manejo da pesca


de bagres
Comunidades que exercem atividades tradicionais de estreita relação de
uso e dependência de recursos naturais incorporam conhecimentos dos
processos do ambiente natural, que são conhecidos como conhecimento
ecológico tradicional (Johannes, 1989).
O estado atual dos estudos etnoictiológicos2 demonstra que os pescadores
da região amazônica acumularam, ao longo de gerações, um sofisticado
conhecimento sobre os peixes, o qual inclui aspectos ecológicos e da biologia
das diversas espécies. Além disso, a atividade pesqueira artesanal requer dos
pescadores um conhecimento etnoecológico que possibilite o acesso às espécies
de interesse e garanta a sustentabilidade dessa prática. O conjunto de
informações teórico-práticas que os pescadores apresentam sobre a migração,
variação morfológica, alimentação, medidas de ordenamento informal da
pesca e conservação dos bagres oferece uma rica e desconhecida fonte de
informações sobre como manejar e conservar os recursos naturais de maneira
mais sustentável. Esse conhecimento está baseado na prática cotidiana da
pesca e seu registro é mnemônico3. Compartilhar o conhecimento com
pescadores, pesquisadores e gestores do setor pesqueiro é importante para
subsidiar a exploração sustentada desses recursos.

Migração
Os relatos de pescadores residentes ou dos que pescam em determinada
área há muito tempo demonstram um conhecimento bastante detalhado
sobre a rota migratória dos cardumes de dourada e de piramutaba,
informando sobre o local de travessia e as rotas preferenciais desses peixes.
Os pescadores ribeirinhos, principalmente aqueles que pescam na frente

2
Conhecimento popular dos pescadores sobre a biologia e distribuição das espécies de peixes.
3
Mnemônico: relativo à memória; que ajuda a memória; recurso mnemônico.

José Fernandes Barros, Maria Olívia de Albuquerque Ribeiro 37


das comunidades, relatam que esses bagres usam a rota do “meio do rio”
para o deslocamento e a proteção e a “margem do rio” para a alimentação.
A piramutaba e a dourada migram anualmente no sentido Estuário/Alto
Solimões, momento em que ocorre a pesca intensiva das espécies ao longo
de todo o eixo. Os pescadores relatam que tanto a dourada quanto a
piramutaba sobem não somente a calha do Amazonas-Solimões, mas também
o Tapajós, o Paru-Almeirim, o Içá-Putumayo, o Japurá-Caquetá, o Madeira-
Beni e o Purus. Quanto à descida dos cardumes, temos somente dois relatos
de pescadores do Alto Solimões que citam a descida desses peixes em direção
ao Estuário. Esses pescadores relatam que a descida ocorre pela parte mais
profunda do rio (canal) e por isso passa despercebida pela maioria dos
pescadores.
Os pescadores reconhecem a migração da dourada e da piramutaba e
atribuem esse fenômeno ao período de reprodução e ao acompanhamento
dos cardumes de peixe de escama, para a alimentação. No Estuário, a
mudança na salinidade da água também foi citada como responsável pela
fuga dessas espécies daquela região numa determinada época do ano. No
caso da dourada, parte dos pescadores atribui a sua migração à subida para
a reprodução. Na região do Solimões, a variação no nível da água é citada
como responsável pela migração dessas espécies na época da seca do rio.
Para os pescadores das macrorregiões de Santarém a Tabatinga, uma das
principais causas da migração da piramutaba é a alimentação. Os pescadores
de Manaus e Tefé também atribuem a migração da dourada à alimentação;
eles declaram que tanto a piramutaba quanto a dourada migram,
alimentando-se de peixes de escama (Figura 12).
Quanto à reprodução, há relatos de desova de dourada somente no Alto
Solimões, a partir das comunidades de Prosperidade e Terezina III. O Alto
Juruá e o Alto Madeira também foram citados como locais de desova da
dourada. Tanto nas entrevistas quanto nos relatos orais, há registros da
ocorrência de dourada ovada, com ova madura, somente a partir de Santo
Antônio do Içá. Alguns ambientes foram citados como estratégicos para a
desova dessas espécies (principalmente da dourada) como, por exemplo, as
áreas rochosas e os trechos encachoeirados (os pedrais) das cabeceiras dos
grandes rios, tal como o Madeira-Beni, o Japurá-Caquetá e o Içá-Putumayo.
Essa informação também aparece na literatura científica e fortalece a
necessidade de um manejo transfronteiriço, uma vez que as cabeceiras de
muitos rios da bacia amazônica não se encontram em território brasileiro.

38 Coleção Estudos Estratégicos : Grandes Bagres Migradores


Figura 12. Porcentagem de respostas dos pescadores sobre a razão da
migração da dourada e da piramutaba.

No Estuário, os pescadores relatam a presença de muitas piramutabas e


douradas bem pequenas, com aproximadamente 5 cm a 7 cm, na época de
abril a maio.

“Porque aí pra fora numa época de abril, maio ele dá muito


essa, ele desse tamainho assim, a piramutaba e a dourada...
Elas cravam no pé que chega incha.”
(Pescador do lago Mamiá, Coari, AM, julho de 2002)

José Fernandes Barros, Maria Olívia de Albuquerque Ribeiro 39


“Piaba ... a gente nem vê, ele fica bem pretinho no meio da
rede, se tu não souber ele, tu agarra ele mermo, agarra mermo
e a ferroada é segura.”
(Pescador de Porto do Cajueiro, Mosqueiro, PA, agosto de 2002)

Os pescadores do Estuário relatam que essas douradinhas pequenas


também mudam de lugar:

“É só uma época, tem tempo que ela tá lá, como aqui, assim a
nossa pescaria, tem tempo que ela tá pra cá, tem tempo que
ela tá pro lado de Vigia, tem tempo que ela tá pro lado de
Soure, tem tempo que ela tá pro Pacoval... tá mais pra fora...
No verão (junho, julho, agosto), ela tá aqui (fazendo referência
a Mosqueiro) ... No inverno, ela vai pra Pacoval, Soure e Vigia...
O lugar mais longe que ela vai é o canal.... dois dia de viagem
daqui (Mosqueiro), aí vai embora pra lá, né? Até pro Oiapoque
ela vai... Aí, fica sempre do Oiapoque pra cá... e essa viagem
que ela faz pra lá é sempre assim, do verão pro inverno...elas
vão pra lá, vem pra cá, vão pro Amazonas também, que lá
também tem, né? ....que tem barco daqui que pesca pra lá... O
pessoal pescam pro Amazonas; daqui o pessoal tem barco grande
que pesca pra lá....”
(Pescador de Mosqueiro, PA, agosto de 2003)

Os pescadores das macrorregiões de Manaus e Tefé também relatam a


presença de douradas pequenas juvenis nos lagos com saídas em “cano”
(lagos dentríticos4) e afirmam que elas são capturadas nas malhas das redes
de mica dos pescadores de mapará ou jaraqui. Na macrorregião de Manaus,
no lago do Arari, em Itacoatiara, verificaram-se douradas bem pequenas
durante as coletas de material biológico. O relato de douradas juvenis em
lagos e de adultos que permanecem na área (ou seja, que não seguem os
cardumes migrantes e, portanto, podem ser pescados durante todo o ano)
tem sido freqüente entre os pescadores de Manaus, Tefé e do Alto Solimões.
Apesar de observar o fenômeno de migração, a grande maioria dos
pescadores não tem noção de que ela se faz da foz (Estuário) até o Alto

4
Lagos característicos da Amazônia Central que foram rios e se originaram pelo afogamento de sua desembocadura e acúmulo de
sedimentos. Possuem aspecto ramificado no qual não é possível definir um eixo principal. Por exemplo, lago Janaucá, Manaquiri, entre
outros.

40 Coleção Estudos Estratégicos : Grandes Bagres Migradores


Solimões. Em todo o levantamento temos apenas duas declarações que fazem
citação da migração total na calha. No Estuário, os pescadores afirmam que
essas espécies vão “pras bandas do Amazonas”, fazendo referência ao rio em
seu trecho até Santarém. Na macrorregião de Santarém, alguns relatam que
esses peixes chegam até Manaus. Nas macrorregiões de Manaus e Tefé, essas
espécies migram até o Alto Solimões e de lá elas vão para o Peru,
principalmente a dourada.
Os pescadores têm uma visão fragmentada do fenômeno, pois a maioria
deles atua nos arredores das comunidades onde mora. Mas mesmo possuindo
essa visão fragmentada, eles entendem o encadeamento da migração e
reconhecem que a pesca afeta diretamente a produtividade na área
subseqüente. Assim, muitos pescadores atribuem a diminuição nos estoques
da sua área ao início ou intensificação da pesca de peixe liso em comunidades
que se encontram localizadas à jusante.

“...Vem de muito longe, né? Eu acho que vem do Pará...é de


dentro do Pará que vem juntando as pirabutão nessas beira de
rio. Que eles vêm acompanhando o cardume, tem muito
paraense desses barcos grandes que vem, vem barco de Manaus,
né? Vem tudo atrás da piracema e barco grande desses de pegar
três, quatro toneladas de peixe, tem vezes que em um lance
enche o frigorífico e solta o resto...então esse cardume de peixe,
é que hoje chega aqui por cardume, todo estraçalhado... passa
um pouco hoje, passa um pouco amanhã. Porque já vem todo,
todo cortado, né? Todo retalhado...”

(Quando indagado sobre até onde vai o peixe) “ ...Olha eu não


tenho idéia, eu não sei até onde vai esse peixe porque a minha
idéia é a seguinte: é que ele sobe e baixa, né? Eles tão subindo
e descendo, tão num jogo, eu digo. Porque esse peixe o tempo
todo só passa subindo aqui, que quantidade de peixe não teria
lá? Ou esse mundo dá volta, claro!...porque aqui só passa peixe
subindo, ninguém pega o peixe passeando. Todo mundo “rapaz
tá subindo, tá subindo em piracema”e pra onde esse peixe vai
aí pra cima, do jeito que pega aqui muito peixe, pegam ali pro
Peru, pegam lá pra cima, do mermo jeito...sempre subindo...
Não se vê descer, nem do grande nem do pequeno...nem por
cima nem por baixo...é um mistério. Nisso aí que eu bato as

José Fernandes Barros, Maria Olívia de Albuquerque Ribeiro 41


minhas teclas e digo assim: Deus é poderoso, né? Como fazer
as coisas que até hoje todos os estudos, a gente morre e não
chega à conclusão de como ele se livra e como a natureza faz,
quantos se criarão em cada um peixe desse que desovou, né? E
o pior é que um come os do outro, né? Às vezes eu digo: ‘ rapaz
esse mundo é horrível de se pensar, porque um come o do
outro’.
(I.B., 62 anos, Tabatinga, AM)

Além de conhecerem a rota migratória dos bagres, os pescadores também


percebem o efeito em cadeia da pesca ao longo da calha. Essa percepção é
importante para a concepção do manejo do sistema, uma vez que a
quantidade explotada e a forma de explotação em um determinado trecho
afetam os demais compartimentos.

Variação morfológica
A partir das informações coletadas entre os pescadores, identificou-se nas
douradas uma variação morfológica. Segundo os pescadores, existem duas
“variedades” de dourada: dourada-branca e dourada-amarela. Essa variação
é relatada pelos pescadores desde o Estuário até o Alto Solimões e consiste
nas características apresentadas no Quadro 2. Com base nesses relatos e na
observação de indivíduos, indicou-se ao grupo de genética deste estudo
uma coleta de indivíduos das duas “variedades”, a fim de constatar essa
variação. No Estuário, há relatos de douradas do salgado que são mais
esbranquiçadas e piramutabas que têm o dorso escuro. A dourada de água
doce é mais amarela.

“E a piramutaba também quando tinha muito, tinha no salgado


e tinha no doce, e a gente já conhecia a piramutaba do salgado,
a gente já conhecia a que era do salgado e a que era do doce...a
divisão no lombo dela... a piramutaba, ela tem uma divisa bem
no centro da parte do corpo dela.... E quando ela é do salgado,
esse lombo daqui pro espinhaço é preto, bem escuro mermo e
quando ela é do doce é tudo branco... aí, a gente já decifrava
por causa disso... Agora que tem pouca piramutaba é mais
difícil de ver a diferença...a dourada ainda se vê a diferença...
ainda tem umas douradas aqui... a dourada do salgado ...ela é
mais branquicenta e a do doce mermo, ela é bem amarela

42 Coleção Estudos Estratégicos : Grandes Bagres Migradores


mermo, às vezes, até a carne dela é bem amarela mermo
assim...do doce é mais amarela.”
(Pescador de Vigia, PA, agosto de 2003)

Quadro 2. Características das variedades de douradas.

Variedade Características
Dourada amarela Robusta, de dorso amarelo, indivíduos menores e mais gordos.
Dourada branca Delgada, mais clara (branca), indivíduos mais compridos e mais magros.

Alimentação
Quanto às declarações sobre a alimentação, registrou-se que a dourada e
a piramutaba se alimentam de amuré (Gobioides sp.), de sardinha e camarão,
no Estuário; de sardinha e camarão, em Santarém e Almeirim; e de sardinha
e branquinha na região de Tefé.

“As pequenas só comem o camarão... os pequeno também


comem o amuré... na barriga de dourada o senhor já viu o
amuré, sardinha ... na piramutaba é amuré também ... Esse
amuré que ela come em poucas horas a barriga dela estraga... é
porque a gente puxa a rede de manhã, de manhã cedo assim,
se a gente não tirar logo o bucho dela, se a gente deixar passar
horas, ela já tá estragada...”
(Pescador de Vigia, PA, agosto de 2002)

“Ela come outros peixe sarda; as sardinhas pequena.”


(Pescador de Mosqueiro, PA, agosto de 2002)

“Come sardinha, branquinha.”


(Pescador de Tefé, AM, maio de 2003)

“Come todo peixe miúdo de escama.”


(Pescador de Tabatinga, Alto Solimões, AM, novembro de 2002)

Há também relatos de canibalismo para a dourada. Além disso, os


pescadores de toda a região relatam que existe um período em que esses
peixes não se alimentam (variando de região para região) para “lavar o bucho”,

José Fernandes Barros, Maria Olívia de Albuquerque Ribeiro 43


ou seja, evertem o trato digestivo, para o meio externo, por meio da boca.
Nessa fase, não é possível pescar essas espécies com espinhel.

“... dourada come douradinha ..., que eu já vi.”


(Pescador de Tefé, AM, novembro de 2002)

Medidas de ordenamento informal da pesca


Na área estudada, verificou-se a existência de acordos de pesca formais e
informais. Por exemplo, o acordo firmado entre os pescadores de Almeirim
e as geleiras de Belém. Em 1996, numa reunião entre a Associação de
Pescadores e os encarregados das geleiras, firmou-se que as geleiras deixariam
de trazer pescadores embarcados de Belém e que seria contratada mão-de-
obra local. Assim, muitas geleiras passaram a atuar somente como
compradores de peixe dos pescadores locais.
Durante a pesca, a “espera da vez”, por ordem de chegada, baseada no
princípio da respeitabilidade, é uma forma de ordenamento adotada em
toda a região:

“... É assim: um lança com seis braças, outro lança com cinco,
se não combinar a gente encosta uma na outra... cada um espera
sua vez.”
(Pescador de bagres, Mosqueiro, PA, agosto de 2002)

“...cada um espera a sua vez de lançar... um vai descendo o


outro espera e depois lança e assim vai...”
(Pescador de Manacapuru, AM, setembro de 2003)

Há também a instituição de zonas de pesca (situadas na frente das


comunidades) como território de uso exclusivo dos pescadores. Essa forma
de ordenamento foi encontrada a partir da macrorregião de Santarém. Na
ilha de Comandaí (Almeirim, PA), existe uma reserva de pesqueiro para as
comunidades de parte da ilha. Nesse caso, os barcos das geleiras de Belém,
quando se deslocam pela calha do rio, na região abaixo de Almeirim,
comunicam aos pescadores (por meio de um sistema de radiofonia) a
aproximação dos cardumes. O objetivo dessa interação é melhorar a captura
e combinar a compra do peixe capturado. Além disso, algumas áreas de
pesca são consideradas “pesqueiros particulares”, pertencentes ao pescador

44 Coleção Estudos Estratégicos : Grandes Bagres Migradores


ou grupo que limpou a área, responsável pela manutenção do pesqueiro
com o rateamento dos custos.
Esses acordos de pesca podem estar integrados ao plano de manejo. O
importante é usar como base as relações existentes, sem alterar formas
eficientes de ordenamento da atividade, já praticadas pelos pescadores locais.

Conservação dos bagres


Do Estuário até Almeirim e no Alto Solimões, os pescadores relatam
uma diminuição da produção na pesca de dourada e da piramutaba. Essa
redução tem sido atribuída principalmente ao aumento no número de
pescadores em todo o eixo Solimões-Amazonas. A falta de alternativas de
renda e emprego e a ausência de alguns financiamentos para a aquisição de
insumos são as principais causas do aumento no número de pescadores e,
conseqüentemente, de barcos e redes em toda a calha. Cerca de 95% dos
pescadores entrevistados em todas as macrorregiões afirmam ser necessária a
adoção de uma medida para a conservação dessas espécies. Esses pescadores
sugerem medidas específicas para cada macrorregião.
No Estuário, os pescadores sugerem o controle da pesca industrial.
Segundo relatos, essa pesca invade as áreas reservadas à pesca artesanal, não
respeitando a legislação vigente. Em diversas áreas de pesca (Soure, Salvaterra,
Vigia, Mosqueiro), os pescadores declaram que a pesca industrial deveria
ser paralisada, ou pelo menos, sofrer uma fiscalização severa para que a
distância mínima da costa fosse respeitada. Os pescadores relatam o
desperdício excessivo provocado por essa frota. No arraste, a rede da pesca
industrial atinge o fundo do pesqueiro e causa danos a esse ambiente, pois
mistura todo o sedimento, comprometendo a fonte de alimento dos peixes.
Esse tipo de apetrecho também mata indivíduos de tamanhos variados,
pois os indivíduos juvenis capturados, cujo tamanho não interessa para a
indústria, são descartados. Além disso, o descarte é efetuado no rio, gerando
uma diminuição nos níveis de qualidade da água, provocada pelo material
em decomposição. Segundo alguns entrevistados, os pescadores da pesca
industrial ocultam essa ação predatória de duas formas: eles furam a bexiga
natatória do peixe descartado, para evitar que ele permaneça na superfície
da água, ou jogam um produto (“detergente”) sobre os peixes para evitar
que eles venham à tona.
“... Furam o pulmão do bicho (com o “bico-de-pato”) ... Eles
tão aplicando agora um ... detergente, eles usam uma espécie
de um detergente, de um veneno, eles põem em cima do convés,

José Fernandes Barros, Maria Olívia de Albuquerque Ribeiro 45


em cima do peixe, e o peixe não bóia mais... Pra ele não boiá,
é isso que eles tão botando agora... Com isso ficam envenenando
no fundo do barro, né? ... O peixe apodrece, envenena o barro,
envenena a água.... Quando a gente arrasta é só umas carcaça
do peixe que a gente pega. Aí, outro bicho, outro peixe come,
né? Aí fica só, não bóia e se isso destrói tudo, aí, fica só aquela
coisa pregada na rede... o Ibama poderia encontrar o seguinte:
se eles chegar na hora que elas tão colhendo aquele arrasto. Aí,
ele pode vê o peixe em cima do convés...”
(Reunião com pescadores de Jubim, Salvaterra, PA, agosto de 2002)

Os relatos de pescadores e as sugestões apresentadas nas reuniões realizadas


com grupos de pescadores, das diferentes macrorregiões, reforçam que a
paralisação da pesca (pelo menos por um período) é indicada principalmente
nas regiões de Santarém e Manaus. Para a piramutaba, foram indicados
períodos de até cinco anos no Estuário. Os pescadores sugeriram esse
mecanismo desde que fossem adotadas medidas compensatórias, tais como
o pagamento de seguro-desemprego e empréstimo a juros baixos para a
renovação da frota e dos apetrechos para a volta à atividade, após o período
de paralisação estipulado (Figura 13).
Os pescadores-lavradores sugeriram o estabelecimento de políticas de
incentivo para o cultivo de novas espécies, bem como condições para o
escoamento e a comercialização da produção agrícola, a fim de contribuir
para a redução da pressão da pesca sobre essas espécies.
No Alto Solimões, sugeriu-se a paralisação da pesca de peixes pequenos e
o estabelecimento de uma lei de defeso reprodutivo. Os pescadores relataram
a necessidade da adoção de período de defeso, associado ao pagamento de
seguro-desemprego, como já é adotado para outras espécies.
Em virtude da intensa pesca nas macrorregiões próximas ao município
de Tabatinga, a produtividade da pesca nessa área tem diminuído de forma
significativa. Os pescadores relatam que muitas pessoas de Prosperidade II
(Tabatinga), fundada na época do auge da pesca do peixe liso, migraram
para as comunidades do município Santo Antônio do Içá. Essa migração
vem ocorrendo devido à escassez de peixe e das dificuldades de captura
(cardumes desfeitos) dessas espécies, naquela área.

46 Coleção Estudos Estratégicos : Grandes Bagres Migradores


Figura 13. Medidas de ordenamento sugeridas pelos pescadores para a pesca
dos grandes bagres.

Conclusão
Os pescadores de bagres na bacia amazônica desenvolvem outras atividades
como alternativas de renda no decorrer do ano (principalmente a agricultura).
A maioria dos pescadores não está filiada às suas entidades representativas
como, por exemplo, as colônias. Portanto, é necessário dar condições físicas
e financeiras para ampliar os trabalhos das colônias, a fim de associar os
pescadores em suas entidades, bem como desenvolver ações voltadas para a
capacitação e a conscientização.
Os pescadores têm acumulado ao longo do tempo um conhecimento
sofisticado sobre a ecologia e a taxonomia de diversas espécies de peixes. Por
exemplo, eles identificam como causas da migração da dourada e da
piramutaba o período de reprodução; o acompanhamento dos cardumes de
peixe de escama para a alimentação; no caso do Estuário, a mudança na
salinidade da água; e, na região do Solimões, a variação do nível da água. Os
pescadores também reconhecem a variação morfológica das douradas
(dourada-branca e dourada-amarela), bem como identificam a fonte de
alimentação das douradas e das piramutabas. Além disso, possuem acordos
de pesca formais e informais, por exemplo, a “espera da vez”, as “zonas de
pesca” e o “pesqueiro particular” e uma compreensão da diminuição da
produção na pesca de dourada e de piramutaba. Para eles, é necessário tomar
medidas específicas para a conservação dessas espécies, entre as quais está o
controle da pesca industrial.
Um dos resultados importantes que deve ser considerado na
implementação do manejo é o conhecimento fragmentado que os pescadores

José Fernandes Barros, Maria Olívia de Albuquerque Ribeiro 47


possuem sobre a migração dessas espécies. Os pescadores atribuíram a
migração a trechos que não ultrapassam um ou dois municípios, ou seja,
não declararam uma visão de migração envolvendo o eixo Solimões-Amazonas
como um todo. Dessa forma, é preciso difundir essa informação para que
haja o engajamento dos pescadores na conservação das espécies, via manejo
integrado, pois este estudo indica que o eixo é ocupado por uma única
população. Considerar o conhecimento tradicional dos pescadores de bagres
é essencial para garantir o sucesso de qualquer medida de manejo e
ordenamento do setor, uma vez que esses pescadores já possuem acordos
informais de pesca e estabelecem critérios de uso desses recursos.

48 Coleção Estudos Estratégicos : Grandes Bagres Migradores


Capítulo 4

A pesca e a economia da pesca de bagres


no eixo Solimões-Amazonas
Valdenei de Melo Parente
Elizabeth Farias Vieira
Adriana Rosa Carvalho
Nídia Noemi Fabré

Introdução
O pescado é uma das principais fontes de abastecimento
alimentar na Amazônia. Embora a oferta desse recurso seja
historicamente abundante, em grande parte da região, mudanças
importantes vêm ocorrendo na relação entre a oferta e a demanda
de pescado oriundas da pesca extrativa nos últimos vinte anos.
No Pará, a pesca empresarial vem-se destacando ao longo dos
anos, embora a pesca comercial artesanal ainda seja a mais
importante. No Amazonas, há a predominância da pesca comercial
artesanal; contudo, com a implantação de frigoríficos no Estado,
principalmente em Manaus e cidades circunvizinhas, a pesca
empresarial começa a emergir para atender os mercados nacional
e internacional. De fato, o número de frigoríficos vem aumentando
gradativamente após a implantação da Zona Franca de Manaus,
provavelmente por causa dos incentivos fiscais concedidos a
investimentos realizados no Estado. Em 1977, a capacidade de
congelamento era de apenas 14 toneladas/dia e a de
armazenamento atingia 260 toneladas (Cepa-AM, 1980). Em 1994, a
capacidade de congelamento aumentou para 119 toneladas/dia e de
armazenamento, para 3.600 toneladas. Em 1997, a capacidade de
congelamento atingiu 230 toneladas/dia e a de armazenamento, 5.650
toneladas. E, finalmente, em 2002, a capacidade de armazenamento passou
para 5.866 toneladas (Aipam, 1978, Pesquisa de campo/2002).
Essa nova situação deu origem a uma categoria de pescadores especializada
na pesca de bagres. Muitos deles residem na zona rural e mantêm vínculos
com o frigorífico diretamente ou por meio de uma cadeia de comerciantes
intermediários, responsáveis pela compra e venda do pescado. A captura e a
comercialização do pescado são viabilizadas graças ao financiamento feito
pelos frigoríficos.
A captura de bagres em toda a calha dos rios Solimões-Amazonas é uma
atividade ligada principalmente aos frigoríficos, os quais funcionam numa
estrutura de mercado oligopsônica. Ou seja, os preços de compra são
praticamente uniformes e são estabelecidos pelos poucos frigoríficos, com
oscilações apenas em função dos períodos de abundância (safra) e escassez
(entressafra) do produto.
No período entre a safra de 2002 e a entressafra de 2003, a renda bruta
dos pescadores entrevistados (10% a 15% do total de pescadores de dourada
e de piramutaba do eixo Solimões-Amazonas) foi cerca de R$ 34,5 milhões,
ou US$ 12 milhões5. As longas distâncias e a dispersão dos pescadores são
fatores que dificultam o cálculo da renda bruta da pesca de bagres, em toda
a sua área de ocorrência.

A pesca de bagres
De acordo com a estatística pesqueira do Pará e do Amazonas, há no
mínimo 16 centros de comercialização de grandes bagres, dos quais 11
foram abrangidos por este estudo: Belém, Vigia, Soure, Colares, Salvaterra,
Santarém, Manaus, Itacoatiara, Manacapuru, Tefé e Tabatinga. Esses centros,
por sua vez, estão distribuídos no Estuário, Santarém, Manaus, Tefé e Alto
Solimões. Nessas cinco macrorregiões há 11.698 pescadores de bagres
registrados nas Associações de Pescadores (Tabela 4). A pesca de bagres
oferece mercado de trabalho para cerca de 16.000 pescadores nas áreas de
ocorrência dessas espécies. Esses pescadores estão divididos em três categorias:

5
Taxa de câmbio de novembro de 2003: US$ 1,00 = R$ 2,87.

50 Coleção Estudos Estratégicos : Grandes Bagres Migradores


(i) o pescador ribeirinho residente na área rural, que utiliza seus próprios
meios de produção (pequena embarcação, apetrechos de pesca) e mão-de-
obra familiar; (ii) o pescador citadino da capital, representado pelo barco
pesqueiro que reúne um grupo de pescadores com tarefas definidas e
remuneração, de acordo com a sua função, nas viagens de pesca; e (iii) o
pescador citadino do interior do Pará, o qual pratica a captura em barcos
pequenos ou bajaras, com uma equipe pequena de pescadores, geralmente
em torno de quatro pessoas.
Na comercialização do pescado, há uma complexa cadeia de agentes
intermediários que operam entre os pescadores e o consumidor final. Entre
esses agentes, existem os atravessadores, como o barco-geleira, que atua na
área rural comprando pescado dos pescadores ribeirinhos, e os caminhões-
frigoríficos, intermunicipais, que adquirem o produto dos pescadores
citadinos. Todos esses agentes vendem seus produtos ao “balanceiro”. Este
último faz a distribuição do pescado no mercado de Belém, no porto do
Ver-o-Peso, tanto para atacadistas (frigoríficos locais, caminhões-frigoríficos
de outros Estados e caminhões-frigoríficos que revendem o pescado em outras
cidades brasileiras) quanto para varejistas (feirantes, supermercados,
vendedores de bairros etc.). O “balanceiro” também participa no processo
de captura na medida em que financia, algumas vezes, as viagens de pesca.
Setenta por cento dos balanceiros têm ligação direta com o processo de
captura, seja como proprietários de barco ou como filhos de proprietários
de barco. Como agentes de comercialização, recebem uma comissão de 5%
a 6% pelos seus serviços.

Tabela 4. Número total de pescadores e número de pescadores de


bagres, por macrorregião.

Macrorregião Estimativa do nº Estimativa do nº


total de pescadores de pescadores de bagres
Estuário 11.779 5.657/1.855*
Santarém 5.434 1.934
Manaus 2.622 684
Tefé 4.698 1.698
Alto Solimões 1.751 1.725
Total 26.284 11.698

Fonte: Registros das Colônias de Pescadores e pesquisa de campo, 2002.


* Número de pescadores de dourada e piramutaba, respectivamente.

Valdenei de Melo Parente, Elizabeth Farias Vieira, Adriana Rosa Carvalho , Nídia Noemi Fabré 51
Há um gradiente no esforço de pesca de bagres entre as macrorregiões.
No Estuário, o esforço de pesca é de quatro pescadores por pescaria,
enquanto em Santarém e Manaus é de dois pescadores por pescaria. Em
Tefé e no Alto Solimões, o esforço de pesca aumenta na entressafra em relação
ao número de pescadores. Entretanto, em todas as macrorregiões, o número
de dias de pesca manteve-se igual na safra e na entressafra (Tabela 5). O
rendimento da pesca de dourada, por pescador, por dia de pesca, é maior
nas macrorregiões de Tefé e Estuário (28 kg e 29 kg, respectivamente). Nas
macrorregiões de Santarém e Manaus, o rendimento é menor, com 25 kg
por pescador, por dia, enquanto no Alto Solimões é de apenas 18 kg por
pescador, por dia (Figura 14).

Tabela 5. Esforço de Pesca e Captura por Unidade de Esforço (CPUE), da


dourada e da piramutaba, na safra de 2002 e na entressafra de 2003.
Macrorregião Número médio de Dias de pesca, Lances de CPUE Dourada CPUE Piramutaba
pescadores por semana pesca, por dia (kg/pescador/dia) (kg/pescador/dia)
Safra Entres Safra Entres Safra Entres Safra Entres Safra Entres
Estuário 4 4 7 7 2 2 29,43 27,81 34,61 11,71
Santarém 2 2 6 6 4 6 24,05 12,09 22,76 3,16
Manaus 2 2 6 6 4 4 24,75 9,42 84,88 1,06
Tefé 3 5 6 6 3 3 28,53 5,92 24,37 0,30
Alto Solimões 2 4 4 4 5 7 18,62 7,54 15,41 2,06

O rendimento da piramutaba varia tanto entre a safra e a entressafra


quanto entre as macrorregiões do estudo. Considerando a safra excepcional
de piramutaba (a maior dos últimos cinco anos, segundo relatos dos
pescadores), os dados de rendimento, por pescador, para essa espécie, foram
ajustados com base nos valores médios anuais dos últimos anos disponíveis
na literatura. Os resultados mostram uma captura alta na macrorregião de
Manaus (85 kg/pescador/dia) em relação às outras macrorregiões estudadas
durante a época de safra. Esse alto valor de captura pode estar relacionado à
presença na região de barcos de pesca “piramutabeiros” equipados com motor
de centro, os quais durante a época de safra concentram seus esforços na
captura de piramutaba. Destaca-se que o índice de captura da piramutaba
encontrado para a região do Estuário (35 kg/pescador/dia) é o padrão da
pesca artesanal, já que não foram considerados neste estudo os dados de
captura da pesca industrial. O cenário muda na entressafra: o índice de
captura é maior para o Estuário (11,7 kg/pescador/dia) seguido de Santarém

52 Coleção Estudos Estratégicos : Grandes Bagres Migradores


Figura 14. Captura por Unidade de Esforço “ CPUE “ de pesca da dourada e
da piramutaba, na safra de 2002 e entressafra de 2003.

(3,16 kg/pescador/dia). Nas macrorregiões de Manaus, Tefé e Alto Solimões,


cada pescador captura menos de 2 kg de piramutaba por dia (Tabela 5).
Nas macrorregiões pesquisadas, a pesca tem uma participação fundamental
na economia, representando em média 68,6% da renda familiar (amplitude
56% a 81%). A grande maioria da renda é proveniente da pesca de bagres.
Há um gradiente na renda familiar mensal líquida: de R$ 129,73, no Alto
Solimões, passando por Manaus (R$ 189,21), Santarém (R$ 247,4),
Estuário (R$ 323,58), até R$ 427,68 em Tefé. Esse maior valor em Tefé
decorre do equipamento mais econômico utilizado (motor de rabeta) nessa
região (Figura 15).

Valdenei de Melo Parente, Elizabeth Farias Vieira, Adriana Rosa Carvalho , Nídia Noemi Fabré 53
Figura 15. Renda familiar líquida mensal do pescador, por macrorregião.

A renda per capita mensal nas macrorregiões é insuficiente para suprir as


necessidades básicas do pescador. Ela varia de R$ 18,53, no Alto Solimões,
a R$ 71,30 em Tefé (Figura 16). Um dos fatores responsáveis por essa baixa
remuneração é a complexa rede de agentes de comercialização existente entre
os pescadores e o frigorífico, o principal agente comprador6. De fato, os
frigoríficos são responsáveis pela compra de 87,5% do pescado dos pescadores
artesanais (Quadro 3). Em Tabatinga, por exemplo, os preços pagos aos
pescadores, em novembro de 2002 foram R$ 0,50/kg, para a piramutaba,
e R$ 3,00/kg para a dourada de primeira (> 4 kg). Em Letícia (Colômbia),
os preços foram um pouco melhores: R$ 1,00, para a piramutaba, e R$
5,00/kg para a dourada de primeira.

Figura 16. Renda per capita mensal líquida do pescador, por macrorregião.

6
Quanto mais complexas forem essas cadeias de comercialização (cadeias produtivas da pesca de bagres) maiores serão as margens
de comercialização entre os preços pagos aos pescadores, pelos agentes intermediários, e os preços aplicados pelos frigoríficos.

54 Coleção Estudos Estratégicos : Grandes Bagres Migradores


Quadro 3. Quantidade de dourada e de piramutaba comprada
pelos frigoríficos, por macrorregião, em relação à oferta total.

Macrorregião Quantidade
Kg %
Tabatinga 458.967 13,7
Tefé 141.841 4,2
Manaus 2.019.265 60,3
Santarém 32.500 1,0
Estuário 276.490 8,3
Total comprado frigorífico 2.929.063 87,5
Total da oferta 3.347.412 100,0
Fonte: Pesquisa de campo, 2002/2003.

Centros de atividade pesqueira de bagres


Dois centros na Amazônia se destacam na atividade pesqueira de bagres:
o Estado do Pará e Letícia, na Colômbia. Há frigoríficos, embora em menor
proporção, em Santarém e Manaus. Em Santarém, a maioria dos frigoríficos
locais presta serviços a atravessadores vinculados a frigoríficos de outros
Estados. Em Manaus, o suprimento do pescado é feito largamente por
pescadores ribeirinhos ao longo da bacia do Solimões, arredores de Manaus
e municípios próximos.
Uma parte dos bagres comercializados pelos frigoríficos é destinada ao
mercado internacional. Em 2001, a grande maioria (85%) do peixe
comercializado em Letícia (Colômbia) era oriunda do Amazonas. Em 2002,
o Pará exportou US$ 10 milhões oriundos da pesca de bagres.

Pará
A indústria da pesca em Belém, representada pelos frigoríficos é bastante
desenvolvida quando comparada às outras áreas do estudo. A localização da
cidade (próxima ao estuário) é responsável pela oferta regular de pescado
durante o ano todo, uma vez que há a opção de captura de forma alternada
no rio Amazonas, na costa do Amapá, e no mar. Além disso, sua ligação por
rodovia ao restante do Brasil garante um mercado mais amplo para os seus
produtos pesqueiros. De fato, 27, de um total de 38 empresas pesqueiras
associadas ao Sinpesca estão localizadas em Belém (Tabela 6).

Valdenei de Melo Parente, Elizabeth Farias Vieira, Adriana Rosa Carvalho , Nídia Noemi Fabré 55
De acordo com o Ministério da Agricultura, há 20 frigoríficos com SIF
no Estado do Pará com capacidade de estocagem para 7.852 toneladas de
pescado e 6.832 toneladas de gelo. Esses frigoríficos trabalham com uma
variedade de espécies de bagres processados em forma de filés, postas, inteiros
eviscerados, entre outras.

Tabela 6. Número e localização de empresas de pesca associadas ao Sinpesca,


2002.
Finalidade Localização Total
Icoaraci São João Vigia Belém Tapanã Curuçá Santana
Pirabas
Captura e 3 1 1 1 1 1 8
industrialização
Captura 24 0 0 3 1 1 1 30
Total 27 1 1 4 1 2 2 38

Fonte: Sinpesca

Letícia (Colômbia)
No Alto Solimões, boa parte da comercialização de pescado e de gelo
ocorre em Letícia com o desembarque do pescado realizado no porto daquela
cidade. Em Letícia, há 20 frigoríficos com capacidade de estocagem para
1.613 toneladas de pescado e 20 silos para 1.263 toneladas de gelo (Quadro
4).
A indústria pesqueira de Letícia movimenta cerca de 10 mil toneladas de
pescado, por ano, destinadas em grande parte aos mercados de Bogotá, Cali
e Medelin. É importante registrar que a quase totalidade das bodegas de
Letícia não pratica o beneficiamento do pescado, restringindo-se no máximo
à evisceração, uma vez que o processamento é realizado em Bogotá. O
movimento de pescado nos frigoríficos de Letícia está resumido na Tabela 7.
A grande maioria (90%) do pescado comercializado pelos frigoríficos de
Letícia é oriunda do Amazonas, principalmente entre Tefé e Tabatinga.
Outros municípios do Amazonas como Itacoatiara, Iranduba e a cidade de
Manaus também participam desse comércio, embora em menor proporção.

56 Coleção Estudos Estratégicos : Grandes Bagres Migradores


Quadro 4. Frigoríficos, capacidade de estocagem e fábricas de gelo, em
Letícia, 2002.
Nome-Fantasia Capacidade Fábricas de Gelo
estocagem(t) NO NO
MAC 150 1 40
Cenpez 2 60 0 0
JMPez 26 0 0
La Esperanza 70 0 0
Vitapez 130 0 0
Dispez Amazonas 122 0 0
Edgar M. 6 0 0
Salamina 20 0 0
Amapez 85 0 0
Diz-Pez-Mar 37 1 40
Distri. M&S 110 2 169
Copezmar 40 1 120
Pesquera Amazonas 30 1 48
Pirarucu 18 1 70
Eufrates 530 9 530
Los Pescadores 20 0 0
B. Lucho 15 0 0
El Defin 24 0 0
La Ceiba 18 0 0
Cenpez 1 56 4 246
Tiburón 46 0 0
TOTAL 1.613 20 1.263

Fonte: Inpa – Instituto Nacional de Pesca y Aqüicultura da Colômbia.

No Amazonas, a produção de pescado ocorre praticamente durante todo


o ano, com exceção de abril. O pico da oferta, no entanto, ocorre nos meses
de fevereiro e março e de julho a novembro. A dourada e o pintado
(Pseudoplatystoma fasciatum) são as espécies mais importantes compradas
pelos frigoríficos de Letícia. A piramutaba tem uma pequena participação
no contexto do mercado de peixe (Tabela 8). Vale ressaltar que as bodegas
compram também peixes salgados secos, o que propicia ao pescador
ribeirinho, principalmente para aqueles que residem em locais distantes,

Valdenei de Melo Parente, Elizabeth Farias Vieira, Adriana Rosa Carvalho , Nídia Noemi Fabré 57
melhores condições de aproveitamento do pescado e, conseqüentemente,
melhoria na renda familiar.

Tabela 7. Volume (kg) de pescado comercializado em Letícia, no período de


1996 a 2001.
Meses 1996 1997 1998 1999 2000 2001
Janeiro 397.130 473.338 629.071 704.150 581.250 748.430
Fevereiro 489.117 446.703 591.990 1.011.490 768.406 801.227
Março 548.264 843.920 678.453 1.191.938 929.718 1.088.264
Abril 219.462 299.996 482.503 310.735 819.000 358.522
Maio 268.826 374.658 405.771 550.377 406.830 450.619
Junho 347.166 413.839 599.265 777.042 453.070 545.304
Julho 636.090 1.069.192 778.884 1.035.487 424.740 631.081
Agosto 672.990 1.125.842 1.097.265 840.319 954.940 908.761
Setembro 591.050 1.170.841 938.782 1.132.223 919.413 839.272
Outubro 935.102 1.296.149 966.006 1.075.780 755.569 789.969
Novembro 852.290 910.393 738.320 810.035 758.609 1.165.114
Dezembro 525.510 680.447 799.111 719.908 674.365 796.804
TOTAL 6.482.997 9.105.318 8.705.421 10.159.484 8.445.910 9.123.367

Fonte: Instituto Nacional de Pesca y Aqüicultura da Colômbia.

Tabela 8. Quantidade de pescado (kg) comercializada em Letícia, por espécie


(1996 a 2001).
Espécies Quantidade - em kg
1996 1997 1998 1999 2000 2001
Dourada 1.816.951 2.105.757 2.171.078 2.293.184 1.846.785 2.191.478
Piramutaba 633.139 622.771 464.592 970.331 6.750 266.419
Pintado 1.236.672 1.511.191 1.393.020 2.005.896 1.867.810 2.381.687
Outras espécies 2.796.235 4.865.599 4.676.731 4.890.051 4.724.565 4.283.783
TOTAL 6.482.997 9.105.318 8.705.421 10.159.462 8.445.910 9.123.367

Fonte: Instituto Nacional de Pesca y Aqüicultura da Colômbia.

Em Letícia, foram estudados 7 dos 21 frigoríficos existentes (Quadro 5).


No levantamento, observa-se algumas características do perfil da organização
da atividade pesqueira na região. Os frigoríficos, como representantes do
capital industrial, são responsáveis em última instância pela estrutura de
organização da produção (captura), transporte, acondicionamento e
comercialização do pescado. Isso porque financiam direta ou indiretamente
todos os insumos - do gelo, combustível, bens duráveis e de capital

58 Coleção Estudos Estratégicos : Grandes Bagres Migradores


(apetrechos de pesca, pequenas embarcações e motor) até o capital de giro
para os barcos compradores. O financiamento é concedido diretamente para
o pescador, comerciante local da zona rural, comprador rural fixo ou para o
comprador ambulante. De fato, as bodegas possuem, em geral, fábricas de
gelo, barcos próprios ou fretados para a compra do pescado nas localidades
mais distantes. Os fornecedores das bodegas são, em geral, pescadores que
utilizam canoa.
Quadro 5. Características dos frigoríficos estudados em Letícia.
Frigoríficos Ano de Capacidade Destino da Média compra Origem do
implan- de armaze- produção de pescado/ pescado
tação namento (t) mês (t)
Dizpez 1987 122 Bogotá 80 75% do Brasil
Amazonas (Belém, Manaus,
Coari, Tefé, Sto.
Antonio do Içá, S.
Paulo de Olivença),
15% do Peru e 10%
da Colômbia
Arca de Noé ,,, 100 Bogotá 30 70% do Brasil
(Belém, Tupi, Sto.
Antonio, Jutaí) e
30% do Peru e da
Colômbia
Dizpezmar ,,, 30 (peixe fresco), Bogotá 30 (atual) 80% do Brasil, 20%
25 (peixe seco do Peru e Colômbia
com frio), 30 a
40 (peixe seco
sem frio)
Cenpez 1992 40 (peixe fresco), Bogotá 40 (entressafra) 90% do Brasil (desde
40 (peixe seco) e 60 (safra) Tefé), 8% do Peru e
2% da Colômbia
Distribuidora 1982 150 Bogotá, 80 90% do Brasil (Tefé
M&S Medelin, Cali, até São Paulo de
Giradot e outras Olivença) e 10% do
cidades Peru
pequenas
Redpez 1999 70 Bogotá, 40 50% do Brasil
Mendelin e (Amazonas, São
outras cidades Paulo de Olivença,
Sto. Antonio do Içá),
25% da Colômbia e
25% do Peru
La Esperanza ,,, 80 Bogotá 40 (verão); 20 30% do Amazonas e
(nov.-abr.) 70% do Peru
Fonte: Pesquisa de campo, 2002/2003.

Valdenei de Melo Parente, Elizabeth Farias Vieira, Adriana Rosa Carvalho , Nídia Noemi Fabré 59
Santarém e Manaus
Em Santarém existem três frigoríficos envolvidos na atividade pesqueira.
Apenas um deles realiza o processamento do pescado, os outros dois têm
como atividade principal a prestação de serviços a terceiros, geralmente
atravessadores vinculados a frigoríficos de outros Estados, os quais necessitam
legalizar o produto junto ao SIF. As características desses frigoríficos estão
descritas no Quadro 6.
Quadro 6. Frigoríficos com SIF, em Santarém, 2002.

Nome Capacidade Espécies Produtos Destino da Nº fun-


fantasia de rmazena- elaborados produção cionários
mento (t) safra entres-
safra
Filhotão 350 Dourada, Surubim, peixe inteiro Filhotão
Filhote, Mapará, congelado, peixe
Jandiá, Pirarara, Jaú, eviscerado, peixe
Tambaqui, Tucunaré, em postas, filé de
Pirarucu, Pacu peixe, pedaços de
peixe, lombo de
peixe 64 20
Peixão 250 Piramutaba, Dourada, peixe inteiro Pará - 25%
Pescada, Pirarucu, congelado, peixe Outros
Surubim, Mapará, eviscerado, peixe Estados -
Filhote, Pirarara, em mantas, filé de 75%
Jaú, outras peixe 92 ...
Edifrigo 600 Dourada, Surubim, filé de peixe, São Paulo -
Filhote, Piraíba, peixe em posta, 100%
Piramutaba, Barbado, lombos de peixe,
Jaú, Pirarara, Bacu, ventrecha de peixe,
Tambaqui, Pirarucu, cubinho de peixe,
Pescada, Tucunaré, tirinhas de peixe,
Apapá, Pirapitinga, pedaços de peixe
Mapará, Mandira,
Cascudo, Douradinha,
Cujuba, Dourada
Pequena 181 20
Total 1.200 - - -

Fonte: Pesquisa de campo, 2002/2003.

60 Coleção Estudos Estratégicos : Grandes Bagres Migradores


Quanto à cadeia produtiva em Santarém, observa-se uma organização
formada por duas categorias de pescadores: o pescador ribeirinho e o barco-
geleira que é, ao mesmo tempo, pescador e comprador de peixes do pescador
ribeirinho. Há também a presença de atravessadores de outros Estados
brasileiros que atuam, via serviços terceirizados disponíveis, nos frigoríficos
Filhotão e Peixão. Esses atravessadores têm contrato com frigoríficos de outros
Estados de fora da região amazônica. Os serviços terceirizados compreendem
beneficiamento, congelamento, ensacamento e armazenamento. Para o
beneficiamento, as taxas cobradas variam de R$ 0,40/kg, para evisceração, e
R$ 0,52/kg para filetagem. Essas taxas podem variar de acordo com o
tamanho, por exemplo, taxa de R$ 0,40/kg para peixes grandes (4 kg e
maior) e R$ 0,23/kg para peixes pequenos (abaixo de 4 kg).
Em Manaus, muitos dos frigoríficos implantados no Estado com o
objetivo de atender aos mercados nacional e internacional não se mantiveram.
Atualmente, existem implantados nessa macrorregião, oito frigoríficos sifados,
com uma capacidade de armazenamento para 5.866 toneladas. O
fornecimento de peixe para esses frigoríficos é feito basicamente por
pescadores ribeirinhos, dispersos ao longo do rio Solimões e seus tributários,
nos arredores de Manaus e nas cidades circunvizinhas.

A produção pesqueira de dourada e de piramutaba


Existem várias estimativas para a produção pesqueira na Amazônia,
principalmente no Amazonas-Solimões. Neste estudo, estimou-se o
montante capturado e o seu significado tanto para a economia regional
quanto para o pescador de bagres. Para isso, usou-se a estimativa de
pescadores, o rendimento por pescador e o número de dias que os pescadores
pescam no período de safra. Dessa forma, obteve-se para a área de estudo
uma produção de quase 18.600 toneladas de dourada e 14.100 toneladas
de piramutaba.
Analisando de forma comparativa as estatísticas de desembarque,
disponíveis para os últimos anos, e a produção pesqueira estimada neste
estudo, pode-se observar que os volumes de produção apresentados superam
amplamente os registros existentes nos locais de desembarque. Por exemplo,
de acordo com os dados disponíveis, a produção do Estuário, com base
apenas no desembarque do Ver-o-Peso, seria de 1.258 toneladas. Entretanto,
se outros pontos importantes de desembarque como Mosqueiro, Salvaterra,

Valdenei de Melo Parente, Elizabeth Farias Vieira, Adriana Rosa Carvalho , Nídia Noemi Fabré 61
Soure e principalmente Vigia forem incluídos, a produção estimada sobe
para 9.989 toneladas (Tabela 9).

Tabela 9. Produção e capacidade de estocagem da dourada, por


macrorregião.

Produção/ Ibama/Cepnor Ibama/Cepnor Produção total Capacidade Produção


Fonte 2000* 2001** por tipo de de estocagem por pescador
(toneladas) (toneladas) embarcação*** frigorífica**** na safra*****
Macrorregião (toneladas) (toneladas) (toneladas)
Estuário 6116* 1.258 3.530 7.852 9.989
Santarém 530 753 1.200 2.791
Manaus 295 331 4.253 1.016
Tefé 128 784 2.906
Alto Solimões 81** 412 852 1.613 1.927
Total 2.623 6.250 14.918 18.629

*Dados cedidos pelo Cepnor, correspondentes à estatística de desembarque de 2000.


** Dados cedidos pelo Ibama/Tabatinga, correspondentes à estatística de desembarque de 2001.
***Pesquisa de campo 2002-2003: produção total capturada, por tipo de embarcação, considerando o
total de pescadores entrevistados no presente estudo.
**** Pesquisa de campo 2002: dados cedidos pelos frigoríficos, com SIF, em cada macrorregião do
presente estudo.
***** Pesquisa de campo 2002-2003: produção, por pescador, ponderado pelo esforço de pesca.

Quanto às estatísticas de Manaus e de Tefé, deve-se ressaltar que nesses


centros de desembarque praticamente não há a comercialização de peixe
liso, justificando a baixa produção apresentada por essas estatísticas. Nesses
centros, ocorre principalmente o desembarque de peixes de escamas
(caraciformes). Outro exercício importante é verificar a produção do Alto
Solimões. De acordo com Bayley (1981), nessa região comercializam-se
entre 9.000 a 10.800 toneladas, por ano. No final da década de 1990,
Fabré e Alonso estimaram para essa mesma região um total de 12.737
toneladas anuais. O desembarque de dourada em Letícia, registrado pelo
Sinchi para 2000 e 2001, variou entre 1.800 e 2.100 toneladas, valores
muito próximos aos estimados no presente estudo (Tabela 10).
Os altos valores de produção de piramutaba, sem dúvida, não refletem os
níveis produzidos, pelo menos nos últimos três anos, já que, como
anteriormente mencionada, a safra de 2002 dessa espécie foi
excepcionalmente alta. No caso de Manaus, a atuação dos piramutabeiros
elevou significativamente os valores de captura por pescador.

62 Coleção Estudos Estratégicos : Grandes Bagres Migradores


Tabela 10. Produção e capacidade de estocagem da piramutaba, por
macrorregião.

Produção/ Ibama/Cepnor Ibama/Cepnor Produção total, Capacidade Produção,


Fonte 2002* 2001** por tipo de de estocagem por pescador,
(toneladas) (toneladas) embarcação*** frigorífica**** na safra*****
Macrorregião (toneladas) (toneladas) (toneladas)
Estuário 3.473 2.871 2.007 7.852 3.915
Santarém 494 603 1.200 2.641
Manaus 756 350 4.253 3.484
Tefé 180 518 2.483
Alto Solimões 125 539 714 1.613 1.595
Total 4.840 4.192 14.918 14.118

*Dados cedidos pelo Cepnor, correspondentes à estatística de desembarque de 2000.


** Dados cedidos pelo Ibama/Tabatinga, correspondentes à estatística de desembarque de 2001.
***Pesquisa de campo 2002-2003: produção total capturada, por tipo de embarcação, considerando o
total de pescadores entrevistados neste estudo.
**** Pesquisa de campo 2002: dados cedidos pelos frigoríficos, com SIF, em cada macrorregião do
presente estudo.
***** Pesquisa de campo 2002-2003: produção, por pescador, ponderado pelo esforço de pesca.

Se considerarmos o preço de compra da dourada e da piramutaba, por


macrorregião, e os níveis de produção pesqueira estimados neste estudo,
podemos concluir que a explotação dessas espécies gera em torno de R$ 37
milhões por ano (Tabela 11). Desse total, 60% estariam associados às
comunidades pesqueiras que ocupam as áreas de várzea do eixo Solimões-
Amazonas.

Tabela 11. Preços de compra e venda da dourada e da piramutaba,


praticados nas diferentes macrorregiões pesquisadas em 2002 e 2003.

Macrorregião Preço de compra – R$ Preço de venda – R$


dourada piramutaba Dourada piramutaba

Alto Solimões 2,41 0,64 3,21 1,56


Estuário 1,32 0,71 2,86 1,46
Manaus 2,02 0,65 2,32 1,30
Santarém 1,82 0,39 2,28 0,59
Tefé 2,29 0,83 2,81 1,17

Fonte: Pesquisa de campo, 2002/2003.

Valdenei de Melo Parente, Elizabeth Farias Vieira, Adriana Rosa Carvalho , Nídia Noemi Fabré 63
Índice de Desenvolvimento dos Pescadores de Bagres -
IDPB
Para obter uma rápida caracterização dos aspectos econômicos e da
qualidade de vida nas macrorregiões estudadas, foi elaborado um índice
específico para os pescadores de bagres com base no IDH7. Esse índice foi
denominado Índice de Desenvolvimento dos Pescadores de Bagres - IDPB.
O IDPB sofreu algumas adaptações, a saber: no componente social, a
incorporação da organização político-institucional dos pescadores. Nos
aspectos econômicos, foi adicionada a renda de subsistência (Anexo 2).
O IDPB foi maior em Santarém (0,47), Estuário (0,46) e Alto Solimões
(0,45), refletindo o maior nível de organização político-institucional dos
pescadores nessas macrorregiões. Por outro lado, o IDPB foi ligeiramente
menor em Manaus (0,41) e em Tefé (0,35). De modo geral, verifica-se que
o IDPB foi baixo, com índices inferiores a 0,50, o que revela a condição
precária dos pescadores de bagres no eixo Amazonas-Solimões (Tabela 12).

Tabela 12. Indicadores social, econômico e político-institucional e o IDPB final


para cada macrorregião.

Macrorregião Social Econômico Político-institucional IDPB


Estuário 0,61 0,19 0,58 0,46
Santarém 0,59 0,19 0,63 0,47
Manaus 0,58 0,29 0,36 0,41
Tefé 0,57 0,18 0,31 0,35
Alto Solimões 0,58 0,36 0,43 0,45

Essa síntese de informações apresentadas como IDPB, para as cinco


macrorregiões, tem o potencial de ser um marco a partir do qual intervenções
em características específicas da área social, econômica e político-institucional
podem ser definidas e acompanhadas. Dessa forma, no futuro, pode-se avaliar
a melhora do índice, como um indicativo de desenvolvimento local para as
populações envolvidas na pesca de bagres.

7
O IDH foi estabelecido pelas Nações Unidas. Esse índice é composto por (i) expectativa de vida; (ii) educação expressa pela alfabetização
de adultos e pela taxa de escolaridade e renda. O IDH varia de 0 a 1.

64 Coleção Estudos Estratégicos : Grandes Bagres Migradores


Conclusão
A captura de bagres em toda a calha dos rios Solimões-Amazonas é uma
atividade ligada principalmente à indústria pesqueira, representada pelos
frigoríficos. No período da safra de 2002 e entressafra de 2003, a renda
bruta da pesca de bagres na Amazônia foi cerca de R$ 121,9 milhões. Essa
atividade oferece mercado de trabalho para cerca de 16.000 pescadores na
região. Em 2003, a produção anual estimada de dourada foi de cerca de
17.000 toneladas, enquanto que a de piramutaba foi de 14.600 toneladas.
Dois centros na Amazônia se destacam na atividade pesqueira de bagres:
o Estado do Pará e Letícia, na Colômbia. No Pará, há 38 empresas pesqueiras
associadas ao Sindicato das Indústrias de Pesca do Pará e Amapá - Sindipesca
e 20 frigoríficos sifados. Essas indústrias possuem uma capacidade de
estocagem para 7.852 toneladas de pescado e 6.832 toneladas de gelo. No
caso de Letícia (Colômbia), cerca de 10 mil toneladas de pescado por ano
são movimentados. Essa produção é destinada, em grande parte, ao mercado
de Bogotá, Cali e Medelin. A grande maioria do pescado comercializado
pelos frigoríficos de Letícia (20) é oriunda do Estado do Amazonas, de uma
área que abrange desde Tefé até Tabatinga.

Valdenei de Melo Parente, Elizabeth Farias Vieira, Adriana Rosa Carvalho , Nídia Noemi Fabré 65
PARTE III

GESTÃO E MANEJO DA PESCA DE


GRANDES BAGRES NA BACIA
AMAZÔNICA: AÇÕES, DIRETRIZES E
POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A
MANUTENÇÃO DO SETOR E DOS
RECURSOS
Capítulo 5

Legislação e plano de manejo para a pesca


de bagres na bacia amazônica
Elizabeth Vieira

Introdução
Na década de 1960, o governo estabeleceu políticas públicas
para modernizar o setor pesqueiro na Amazônia. Uma dessas
políticas foi o Decreto-Lei nº 221, de 28/1/1967, que criou
incentivos ao desenvolvimento da pesca industrial e a implantação
de unidades de beneficiamento do pescado 8. A meta dessa
modernização era aumentar a produtividade das embarcações para
atender o mercado nacional e internacional. Para isso, houve
investimentos na instalação de indústrias de processamento de
pescado e na equipação da frota pesqueira com modernos
instrumentos de pesca.
Entretanto, ao longo das últimas décadas, a expansão do mercado
tem estimulado o aumento da produção de pescado e,
conseqüentemente, cada vez mais, o uso irracional dos recursos

8
Por exemplo, dedução do Imposto de Renda devido pelas pessoas jurídicas interessadas em investir em projetos de
atividades pesqueiras; isenção do Imposto de Importação e do Imposto sobre Produtos Industrializados, bem como de
taxas aduaneiras e quaisquer outras taxas federais para a importação de embarcações de pesca, equipamentos,
máquinas, aparelhos e apetrechos de pesca, entre outros.
pesqueiros. A piramutaba (Brachyplatystoma vaillantii) e dourada
(Brachyplatystoma rousseauxii), conhecidas como os grandes bagres da
Amazônia, são alvos preferenciais da pesca em quase toda a sua área de
ocorrência. De fato, nas macrorregiões do Estuário, Santarém e Manaus,
grande número de indivíduos de dourada é capturado pela pesca comercial
antes de esses indivíduos iniciarem o seu ciclo reprodutivo. As mortalidades
por pesca da piramutaba e dourada (Fótimo = de 0,30 ano-1 e 1,0 ano-1)
sugerem que a primeira encontra-se em estado de sobrepesca de crescimento
e que a segunda está no limite de um estado estável de explotação.
Com base nos resultados obtidos e nas informações sobre a legislação da
pesca na bacia amazônica, envolvendo o Brasil, a Colômbia e o Peru, este
estudo sugere estratégias para a elaboração de um plano integrado de manejo
da pesca de piramutaba e dourada no eixo Solimões-Amazonas.

Legislação
Os grandes bagres, principalmente a dourada e a piramutaba, utilizam
ao longo de sua vida os principais rios de água branca da bacia amazônica,
ultrapassando fronteiras estaduais e internacionais. Portanto, é muito
importante definir um plano de manejo interestadual e transnacional para
essas espécies, envolvendo os diversos Estados brasileiros e os países do Alto
Solimões (Peru, Colômbia, Bolívia e Equador). Para elaborar uma proposta
de manejo e conservação dos bagres, é essencial conhecer as disposições
legais vigentes nos principais Estados que exploram essas espécies (Pará e
Amazonas), assim como as normas estabelecidas pela União, de
responsabilidade do Ibama, e as promulgadas pelos países amazônicos
limítrofes com o Brasil que explotam esse recurso pesqueiro.
Apesar da importância comercial da dourada e piramutaba na Amazônia,
poucas normas específicas para a administração e manejo de suas pescarias
têm sido feitas, principalmente no Brasil. Além disso, existem poucos
trabalhos de levantamento sobre essas normas de regulação. Para subsidiar
o manejo dos grandes bagres migradores no eixo Solimões-Amazonas, em
2003, o ProVárzea/Ibama fez um levantamento da legislação vigente para a
pesca dos grandes bagres praticada, principalmente no Brasil, Peru e
Colômbia9.

9
O Equador e a Bolívia não possuem regulamentações direcionadas para a pesca de bagres, porém estão participando em conjunto
com o Brasil, Colômbia e Peru de reuniões que discutem a implementação de um plano de manejo para essas espécies na bacia
amazônica.

70 Coleção Estudos Estratégicos : Grandes Bagres Migradores


Na bacia amazônica, cada país conta com seu marco legal, que regulamenta
as atividades pesqueiras de forma ampla, envolvendo tanto as pescarias
marinhas como as continentais. No entanto, verifica-se que ainda não existe
uma legislação específica aplicável ao manejo da pesca de bagres, exceto
para o estuário do rio Amazonas e mais especificamente para a pesca industrial
da piramutaba. No Brasil, as informações biológicas geradas nas instituições
de pesquisa geralmente não são repassadas às autoridades de administração
para serem consideradas nas estratégias de manejo dos recursos. Existem
apenas casos isolados como a efetiva ação do Grupo Permanente de Estudos
sobre a Piramutaba que, provavelmente pelo seu canal direto com o Ibama
por meio do Cepnor, tem promovido interferências diretas que subsidiaram
a única legislação específica para piramutaba que há na Amazônia brasileira.
Informalmente, na área de fronteira do Brasil com a Colômbia e Peru, os
pescadores dos três países estão organizados. Por exemplo, eles regulam o
número de embarcações por zona de pesca, comprimento de malhas das
redes e turnos de pesca em áreas compartilhadas. No Baixo Solimões, há
presença de turnos de pesca, nos quais grupos de dois a três pescadores
lançam a rede à deriva de forma continuada, ou seja, quando um grupo
recolhe outra lança. Dessa forma, contribuem para o manejo da pesca de
bagres.

Brasil
A regulamentação da pesca de bagres amazônicos no Brasil foi iniciada
há duas décadas com a tentativa de ordenar a pescaria industrial da
piramutaba no Estuário por meio da Portaria nº N-9 de 9 de março de
1983. Essa portaria definiu uma zona de operações obrigatórias para a frota
(entre 0 005’N e 48 000’W), limitou o número de unidades de pesca,
restringiu as capturas a uma cota máxima e regulamentou o tamanho da
malha das redes de arrasto no saco do túnel. Contudo, essas medidas têm
sido avaliadas e modificadas ao longo dos anos por meio de instruções
normativas publicadas pelo Ibama.
No período entre 1996 e 1998, o MPEG e Cepnor, com a cooperação
técnica da Jica, realizaram um estudo sobre bagres na foz dos rios Amazonas
e Pará. Esse estudo resultou numa série de recomendações publicadas pelo
Ibama (Séries Estudos de Pesca, 26). Por resistência do setor produtivo,
essas recomendações não foram implementadas até meados de 2002, quando
a Instrução Normativa nº. 6 foi editada em 10 de julho de 2002. Essa

Elizabeth Vieira 71
mesma IN determinava que as normas deveriam ser revistas em dois anos. A
revisão ocorreu em maio de 2004 na Reunião Técnica e de Ordenamento
da Pesca da Piramutaba no Norte do Brasil, na qual medidas de ordenamento
para a pesca industrial foram discutidas e negociadas com o setor produtivo.
Assim, determinou-se que a trilheira continuaria sendo o sistema de pesca
da frota, que o tamanho da malha do saco túnel da rede de arrasto seria de
100 mm e que o período de defeso para a frota industrial duraria 75 dias,
de 15 de setembro a 30 de novembro, conforme publicado na IN No. 6 de
7 de junho de 2004.

Colômbia
Na Colômbia, embora não haja regulamentação para o esforço pesqueiro,
tem-se estabelecido comprimentos mínimos de captura para algumas espécies
de bagres (Tabela 13). Para a pesca de consumo, a atividade também está
regulamentada por meio do Acordo 015/Inderena/1987 e 075/Inderena/
1989, os quais restringem áreas de pesca, estabelecem áreas de reserva e
regulamentam as artes de pesca. Essa legislação ainda apresenta as medidas
de conservação para as espécies (Quadro 7). Na categoria nacional de espécies
ameaçadas, tanto a dourada como a piramutaba encontram-se em perigo de
extinção (Libro Rojo de Peces Dulceacuícolas)10.
Tabela 13. Tamanhos mínimos de captura de bagres estabelecidos na
Amazônia colombiana.
Nome vulgar Nome científico Tamanho
mínimo comprimento furcal(cm)
Lechero, pirahíba Brachyplatystoma filamentosum 100
Dorado, plateado Brachpylatystoma rousseauxii 85
Pirabuton Brachyplatystoma vaillantii 40
Bagresapo, pejenegro, pacamú, amarillo Zungaro zungaro 80
Baboso, salibroso Goslinea platynema 70
Musico, guacamaio, pirarara Phractocephalus hemioliopterus 70
Pintadillo Pseudoplatystoma tigrinum 80
Simi Callophysus macropterus 32
Camiseto Brachyplatystoma juruense 50
Barba chato Pirinampus pinirampu 40
Peje leño Sorubimichthys planiceps 95

10
Mojica, J.I.; Castellanos, C.; Usma, J.S. y Álvarez, R. (eds.). 2002. Libro rojo de peces dulceacuícolas de Colombia. Serie Libros Rojos
de Espécies Amenazadas de Colômbia. Instituto de Ciências Naturales – Universidad Nacional de Colômbia y Ministério del Médio
Ambiente. Bogotá, Colômbia.

72 Coleção Estudos Estratégicos : Grandes Bagres Migradores


Quadro 7. Medidas de Conservação apresentada no Acordo 015/Inderena/
1987 (e do Acordo 075/Inderena/1989).
Espécie Medidas de conservação tomadas Medidas de conservação propostas
Dourada -Tamanho mínimo – 85 cm de - Torna-se necessário penalizar o não
comprimento furcal na bacia do rio cumprimento das normas pesqueiras.
Orinoco – Resolução 1087/81. Tamanho Embora a regulamentação exista, não há
mínimo – 85 cm de comprimento sanções drásticas para que seja
furcal nas bacias dos rios Caquetá/ cumprida.
Japurá e Amazonas/Solimões – Acordo
75/1989.
Piramutaba - Tamanho mínimo – 40 cm de - Medidas drásticas para que a norma
comprimento furcal – Resolução 1087/ vigente seja cumprida, visto que as
1981. sanções são somente administrativas e
não existem formas de serem aplicadas.
Recomendações de continuação dos
estudos básicos sobre a biologia e
avaliação dos estoques.

Peru
No Peru, os trabalhos recentes sobre os tamanhos de primeira maturação
de algumas espécies de bagres, entre as quais se destaca a dourada, têm
levado as instituições envolvidas no manejo da pesca a iniciar os trabalhos
para regular o tamanho de captura (Tabela 14). As medidas de ordenamento
aplicáveis à pescaria de grandes bagres amazônicos estão referidas nas
disposições da Lei Geral de Pesca aprovada mediante o Decreto Lei nº.
25.977 e seu regulamento aprovado por Decreto Supremo nº. 1- 94-PE.
Atualmente, essas leis foram atualizadas por meio da Resolução Ministerial
Nº 147-2001-PE.
Nas pescarias comerciais não é permitido usar redes com malha menor
que duas polegadas para peixes de escama e redes menores que oito polegadas
(1 pol = 2,5 cm) para os grandes bagres e pirarucu. Além disso, na pesca, é
proibida qualquer modalidade de artes e procedimentos que atentem contra
o recurso e meio ambiente como: tapagem de bocas de lagos, destruição de
refúgios, agito da água, substâncias tóxicas e explosivos (é proibido até mesmo
levá-los nas embarcações).

Elizabeth Vieira 73
Tabela 14. Espécies com tamanhos mínimos de captura, transporte e
comercialização no Peru.
Nome Vulgar Nome Científico Tamanho. (cm)
Dorado Brachyplatystoma flavicans 115 (total)
Tigre zúngaro Pseudoplatystoma tigrinum 100 (furcal)
Doncella Pseudoplatystoma fasciatum 86 (furcal)

No Peru, por lei, não se pode pescar nem vender com fins ornamentais os
alevinos e juvenis de várias espécies (Quadro 8).

Quadro 8. Lista de espécies que possuem alevinos e jovens protegidos por lei,
Peru.
Nome vulgar Nome científico
Lechero, pirahíba, saltón Brachyplatystoma filamentosum
Dorado, plateado Brachyplatystoma rousseauxii
Zúngaro alianza Pseudoplatystoma juruense
Tigre zúngaro ou pintado Pseudoplatystoma tigrinum
Pintadillo ou doncela Pseudoplatystoma fasciatum
Acha cubo ou peje leño Sorubimichthys planiceps
Pacamú ou amarillo Zungaro zungaro
Maparate Hypophthalmus sp.
Mota pintada e branca Callophysus macropterus
Manitoa ou toa Brachyplatystoma vaillantii

74 Coleção Estudos Estratégicos : Grandes Bagres Migradores


Capítulo 6

Sistema integrado para o manejo dos


grandes bagres migradores
Nidia Noemi Fabré
Ronaldo Barthem
Adriana Carvalho
Ronaldo Angelim

Introdução
As estratégias que compõem a proposta de manejo dos grandes
bagres migradores exposta neste capítulo, denominada Sistema
de Manejo Integrado Inderena - Sismi, resultaram de minuciosa
análise transdisciplinar da equipe do estudo, a partir das bases
técnicas e científicas descritas nas partes I e II deste documento.
Nessas seções, ponderou-se e discutiu-se o componente biológico,
o estado atual dos estoques de piramutaba (Brachyplatystoma
vaillantii) e dourada (Brachyplatystoma rousseauxii) e os aspectos
socioeconômicos da pesca, com ênfase nos mecanismos locais de
organização para produção e conhecimento ecológico tradicional
dos pescadores.
O Sismi tem como pressuposto o envolvimento das populações
ribeirinhas de várzea e a compatibilidade das ações propostas com
a legislação de pesca existente no Brasil e nos países limítrofes da
bacia amazônica.
Para discutir o Sismi, realizou-se um fórum com a participação de 74
pessoas representando os diversos atores relacionados com o setor pesqueiro
(dedicados à exploração de bagres) e órgãos governamentais e não-
governamentais do Brasil e da Colômbia. O objetivo desse encontro foi o de
fomentar um processo de divulgação, transferência e análise crítica do material
para elaborar a proposta final de manejo. O fórum, organizado pelo
ProVárzea, ocorreu em dezembro de 2003, em Manaus.
O Sismi representa uma série de estratégias de manejo e monitoramento
definidas para cada uma das unidades de gestão - delimitadas a partir dos
resultados técnico-científicos e etnográficos das dimensões ecológicas e
socioeconômicas levantadas, analisadas e sistematizadas pela coordenação
do estudo. Dessa forma, propõe-se um sistema de monitoramento de
informações relevantes dos componentes biológico (estatística pesqueira),
socioeconômico e político-institucional. Nesse caso, o Índice de
Desenvolvimento de Pescadores de Bagres é uma ferramenta para medir a
resposta do setor pesqueiro de bagres ao sistema de manejo proposto.

Subsídios para a definição das unidades de manejo


Os resultados da modelagem ecossistêmica realizada neste estudo
comprovam a dependência da produtividade biológica, a manutenção da
integridade dos ecossistemas de várzea e a interdependência entre as espécies
de peixes estabelecidas pelas suas relações tróficas. Esses fatos somados às
características do ciclo de vida das espécies dourada e piramutaba tornam
necessária uma abordagem ecossistêmica para seu manejo e conservação.
As quatro unidades de manejo do Sismi foram definidas em uma escala
mesorregional, com base no ciclo de vida das espécies dourada e piramutaba:

1. Área de criação: região do estuário do rio Amazonas.


2. Área de crescimento: região entre Almeirim e Tefé.
3. Área de reprodutores: região do Alto Solimões.
4. Áreas de reprodução: região dos tributários de água branca: rios Madeira,
Purus, Juruá, Içá e Japurá (Figura 18).
Deve-se destacar que as cabeceiras desses rios não foram amostradas neste
estudo, contudo os resultados obtidos pelas pesquisas sobre biologia
molecular de ambas as espécies verificam a importância desses ambientes
no ciclo de vida da piramutaba e dourada.

76 Coleção Estudos Estratégicos : Grandes Bagres Migradores


Figura 18. Esquema da área de distribuição das espécies dourada e
piramutaba na bacia amazônica mostrando as unidades de manejo e as áreas
de criação, crescimento e de reprodutores.

Para evitar os riscos de sobrepesca, propõe-se a suspensão da pesca para


indivíduos inferiores a 40 cm, no caso da piramutaba, e 80 cm no caso da
dourada. Esses valores estão de acordo com os estudos de dinâmica
populacional, os quais indicam que esses tamanhos são os que sustentam a
pesca na calha inteira. Não é possível parar completamente com a pesca de
grandes bagres migradores, dada a sua importância para a economia do
pequeno produtor que ocupa as áreas de várzea ao longo do eixo Solimões-
Amazonas.

Nidia Noemi Fabré, Ronaldo Barthem, Adriana Carvalho, Ronaldo Angelim 77


A aplicação do IDPB (ver Anexo 2) permite analisar os componentes do
tripé socioeconômico-político-institucional que podem ser somados ao
componente biológico pesqueiro em um instrumento de decisão para os
gestores: o polígono de gestão, que evidência, mediante análise da forma, as
diferenças e semelhanças entres as unidades de manejo (Figura 19).

Figura 19. Esquema da área de distribuição das espécies dourada e


piramutaba na bacia amazônica mostrando as unidades de manejo e os
polígonos de gestão no eixo Solimões-Amazonas.

Uma análise espacial e comparativa dos polígonos serve para estabelecer


relações com as unidades de manejo predefinidas. A seguir, algumas
considerações gerais sobre os polígonos:
• Na área de criação, as condições sociais e político-institucionais são
relativamente melhores quando comparadas com as outras áreas ou unidades
de manejo. Entretanto, o capital natural, medido pela proporção de adultos
nos estoques explorados é muito baixo.
• As condições socioeconômicas dos pescadores de bagres são críticas ao
longo do eixo Solimões-Amazonas. Já o capital natural aumenta em direção
à fronteira.

78 Coleção Estudos Estratégicos : Grandes Bagres Migradores


A unidade de manejo denominada área de reprodução não teve avaliação
socioeconômica, no entanto foi considerada na proposta de manejo por
causa da sua importância no ciclo biológico das espécies.
A seguir, as diretrizes das políticas públicas para a conservação e manejo
racional dos bagres:
1. Obtenção, análise e sistematização de dados biológico-pesqueiros,
sociais, econômicos e político-institucionais como base para o planejamento,
monitoramento e avaliação do estado atual do sistema.
2. Definição de medidas para conservar os bagres e o ecossistema de
várzea, bem como para o seu manejo integrado.
3. Ações para estimular o desenvolvimento econômico e social dos atores
envolvidos na atividade.
4. Fortalecimento das organizações-chave envolvidas com o setor pesqueiro
(ONGs, órgãos públicos) e valorização da co-gestão desse setor.
5. Valorização do conhecimento tradicional.
6. Equilíbrio entre os interesses dos diversos grupos de interventores
ambientais e atores da cadeia produtiva da pesca de bagres para consolidar
acordos, promovendo a diminuição dos conflitos e a sustentabilidade do
sistema.
7. O Sismi trabalhou de forma matricial a partir das unidades de manejo
e seguintes componentes:
a. Problemas/Situações: destacaram-se do processo de coleta e análise as
informações sobre genética molecular, ciclo de vida, estado atual de
exploração dos estoques, propostas de manejo dos pescadores, características
da atividade (local, regional e macroescala), situação social, político-
institucional e economia local, política macroeconômica e legislação vigente.
b. Ação-Proposta: representam as medidas e diretrizes propostas com o
intuito de conservar as espécies de bagres e os ecossistemas de várzea, bem
como promover o desenvolvimento social e econômico.
c. Impactos: Analisaram-se os efeitos positivos e negativos esperados das
ações propostas e diretrizes.
d. Riscos e dificuldades: inerentes às propostas ou ações para o manejo e
conservação dos bagres.
e. Monitoramento e avaliação da exploração de bagres na Amazônia e do
seu ciclo de vida de acordo com as escalas local, meso e macrorregional.
f. Por último, propõe-se um organograma de co-gestão para a
administração participativa do sistema proposto.

Nidia Noemi Fabré, Ronaldo Barthem, Adriana Carvalho, Ronaldo Angelim 79


80
Impacto negativo da Impacto positivo da
Problema / Situação Ação/Proposta Riscos e dificuldades
ação ação

Jovens menores que 25 Legitimar e fiscalizar a Aumento de conflitos Diminuição da pesca Perda de credibilidade
cm (piramutaba) e 40 restrição da pesca entre a pesca industrial dos indivíduos jovens. dos atores envolvidos
cm (dourada) pescados industrial (arrasto) na x artesanal pelo uso da Prevenção da nas instituições
pela frota artesanal. área de criadouro área/território de pesca. sobrepesca de fiscalizadoras e
Frota industrial estabelecida pelo Artigo Redução da renda crescimento. normatizadoras caso a
capturando 1º da Portaria 009/83. familiar e das Diminuição dos ação não seja efetivada.
acidentalmente jovens Definir de forma alternativas para confrontos (industrial x Não cumprimento pelos
menores que 20 cm participativa a restrição reprodução social dos artesanal) a partir do atores envolvidos.
(piramutaba) e 40 cm da pesca artesanal de ribeirinhos, em curto respeito à delimitação
(dourada). dourada em áreas de prazo. da área de ação da
Conflito entre frotas criadouro (zona e Redução, em curto frota industrial.
(industrial x artesanal) época). prazo, do faturamento Aumento da renda
ÁREA DE CRIAÇÃO por territórios de pesca. Consolidar o defeso da da indústria pesqueira. familiar dos ribeirinhos
Estuário Alteração do fundo pesca industrial durante no médio e longo
(arrasto) com efeitos a época de seca prazo.

Coleção Estudos Estratégicos : Grandes Bagres Migradores


sobre as presas dos (outubro-dezembro) Sustentabilidade do
bagres (gobiídeos) - (piramutaba). setor pesqueiro pela
industrial. Avaliar os impactos da manutenção do
Variabilidade genética pesca industrial por estoque.
da dourada é inferior a trilheiras e quadrilheiras Aumento -manutenção
da piramutaba. no Estuário. da variabilidade
Determinar as causas da genética.
baixa variabilidade
genética da dourada em
relação à piramutaba.

ESTRATÉGIA DE MONITORAMENTO PARA O ESTUÁRIO:


Gestão: Para a manutenção do sistema de monitoramento de desembarque deve ser criada uma unidade de co-gestão resultante de
uma parceria entre instituições governamentais e instituições da sociedade civil organizada em nível municipal, estadual e federal.
ÁREA DE CRIAÇÃO Esta unidade acompanhará o IDPB e o índice de seus indicadores social, econômico e político-institucional, bem como os indicadores
Estuário genéticos e biológico-pesqueiros. O objetivo é manter o monitoramento integrado entre os dois componentes e fazer os ajustes
Monitoramento necessários nas estratégias de manejo de forma dinâmica.
Integrado Componentes do monitoramento:
Biológico Pesqueiro: manutenção da estatística pesqueira e disponibilização sistemática por meio de divulgação anual nos meios
de comunicação acessíveis aos pescadores, comerciantes, empresários da pesca, gestores e tomadores de decisão.
Socioeconômico: acompanhamento do IDPB - Índice de Desenvolvimento do Pescador de Bagre.
Impacto
Problema/ Impacto positivo da Riscos e
Ação/Proposta negativo da
Situação ação dificuldades
ação

A pesca de Escala local: Criar um Sistema de Organização da Pesca Aumento do Ordenamento do Os atores podem
dourada é Ribeirinha de Bagres, utilizando como modelo as áreas de conflito entre setor pesqueiro por rejeitar ou
composta de pesca (pesqueiros) e as cadeias produtivas existentes entre o pescadores meio do sistema já desrespeitar as
80% de jovens pescador-produtor, os intermediários e os frigoríficos ribeirinhos x estabelecido medidas
(40-80 cm) até (principal agente de comercialização). barcos localmente. adotadas, por
Manaus. Promover o cadastramento da comunidade, do pesqueiro, piramutabeiros. Comportamento nas interpretá-las
Conflitos por dos pescadores, seus intermediários e frigoríficos associados, Redução no comunidades como uma
pesqueiros na definindo as interações entre os envolvidos na curto prazo do ribeirinhas de estratégia de
calha do rio produção/comercialização. faturamento da proteção dos fiscalização e
entre Criar um Fundo de Desenvolvimento da Pesca de Bagres - indústria recursos de seus controle.
comunidades de FDPB - mantido com o repasse da União de 2% do imposto pesqueira. pesqueiros. O sistema
pescadores pago pelos frigoríficos, garantindo investimentos na área Redução da Retorno de 2% do proposto pode
ribeirinhos de socioambiental, em especial em saneamento e educação renda familiar imposto pago pelos não ser
bagres x barcos (usando como referência o IDPB), e na recuperação de áreas dos ribeirinhos empresários da implementado
de pesca 'de degradadas e do estoque pesqueiro, além da viabilização de no curto prazo. pesca, para devido à falta de
fora'. capacitação do trabalhador da pesca e suas lideranças etc. investimento na articulação e
Pesca de jovens Estabelecer cota de captura para o pescador ribeirinho de sustentabilidade organização
ÁREA DE
de dourada, em bagres, a partir dos valores de captura por semana por socioambiental da político-instituci-
RESCIMENTO
possíveis áreas pescador, calculada: pesca de bagres. onal fraca das
Almeirim -
de criação nos Dourada: Almeirim-Santarém- Manaus: 35 indiv.; Tefé: 20 Aumento da renda entidades
Tefé
grandes lagos de indiv.; Esses valores são restritos a períodos de safra. familiar dos representativas
várzea, associada Incentivar a criação de fábricas de gelo de propriedade de ribeirinhos e do do setor.
à pesca de Instituições de Pescadores. frigorífico no médio
mapará e Implantar linhas de microcrédito específico para o pescador e longo prazo.
jaraqui. ribeirinho integrado ao sistema de ordenamento da pesca Sustentabilidade do
de bagres, com agências itinerantes. setor pela
Capacitar os pescadores em gerência administrativa e manutenção do
financeira. estoque.
Estabelecer um preço mínimo pago ao pescador ribeirinho Manutenção da
pela dourada e piramutaba. variabilidade
Determinar as possíveis causas da alta variabilidade genética.
genética na macrorregião de Tefé e monitorar suas A certificação agrega
mudanças. valor ao produto e
Determinar a importância de grandes lagos de várzea da permite acesso a
área de crescimento no ciclo de vida da dourada. novos mercados

Nidia Noemi Fabré, Ronaldo Barthem, Adriana Carvalho, Ronaldo Angelim


Criar um mecanismo de certificação ambiental, social e de consumidores.

81
qualidade para os produtos das áreas manejadas.
82
ESTRATÉGIA DE MONITORAMENTO PARA ALMEIRIM-TEFÉ:
Gestão na escala regional: Para a manutenção do sistema de monitoramento de desembarque deve ser criada uma unidade de co-gestão
resultante de uma parceria entre instituições governamentais e instituições da sociedade civil organizada em nível municipal, estadual e federal.
Esta unidade acompanhará o IDPB e o índice de seus indicadores social, econômico e político-institucional, bem como os indicadores biológico-
pesqueiros. O objetivo é manter o monitoramento integrado entre os componentes e fazer os ajustes necessários nas estratégias de manejo de
forma dinâmica.
Gestão na escala local: Deverá ser criado um sistema de monitoramento local das cotas de captura que poderá funcionar nas unidades fixas
ÁREA DE de intermediação da comercialização (flutuantes ou frigoríficos), as quais registrarão as capturas diárias de cada pescador cadastrado. O
CRESCIMENTO pescador deverá receber no momento do cadastramento a Caderneta Local de Pesca de Bagres, para o registro das capturas. O frigorífico
Almeirim - Tefé registrará as cotas de captura do seu Raio de Captação de Produção. Esses registros deverão ser recolhidos e verificados pela unidade de co-
Monitoramento gestão responsável pelo monitoramento. Nos frigoríficos também serão registrados os tamanhos dos peixes comercializados, que servirão como
Integrado um dos indicadores necessários para certificação do produto comercializado.
Componentes do monitoramento:
Biológico-pesqueiro na escala : Implementação da coleta de dados para monitoramento do desembarque nos frigoríficos e disponibilização
sistemática desses dados por meio de divulgação anual nos meios de comunicação acessíveis aos pescadores, comerciantes, empresários da
pesca, gestores e tomadores de decisão (com exceção de Santarém, Parintins, Itacoatiara, Manacapuru e Tefé).
Socioeconômico: acompanhamento do Índice de Desenvolvimento do Pescador de Bagre.

Coleção Estudos Estratégicos : Grandes Bagres Migradores


Impacto negativo Impacto positivo da Riscos e
Problema / Situação Ação/Proposta
da ação ação dificuldades

Na entressafra (de Escala local: Criar um Sistema de Organização Redução no curto Aumento da renda Rejeição ou
fevereiro a abril), da Pesca Ribeirinha de bagres, utilizando como prazo do familiar e do desrespeito pelos
50% das fêmeas de modelo as áreas de pesca (pesqueiros) e as faturamento da faturamento do envolvidos às
dourada capturadas cadeias produtivas existentes entre o pescador- indústria frigorífico no medidas de
estão aptas para produtor, os intermediários e os frigoríficos pesqueira, médio e longo cotas, por
reprodução, com (principal agente de comercialização). devido à redução prazo. interpretá-las
ovas bem Promover o cadastramento da comunidade, do das capturas e à Sustentabilidade como uma
desenvolvidas. pesqueiro, dos pescadores, seus intermediários perda do do setor pela estratégia de
As bodegas (fábrica e frigoríficos associados, definindo as interações monopólio do manutenção do fiscalização e
de gelo e frigorífico) entre os envolvidos na gelo. estoque. controle.
são a única fonte de produção/comercialização. Redução da Concorrência no De os pescadores
crédito aos Criar um Fundo de Desenvolvimento da Pesca renda familiar fornecimento do não possuírem
pescadores, criando de Bagres mantido com o repasse da União de dos ribeirinhos gelo, possibilitando experiência na
monopólio e 2% do imposto pago pelos frigoríficos, no curto prazo. ao pescador a gerência
ÁREA DE dependência. garantindo investimentos na área Perda de negociação no administrativa e
REPRODUTORES Baixos preços pagos socioambiental, em especial em saneamento e garantia das preço e liberdade financeira.
Alto Solimões aos pescadores pela educação (usando como referência o IDPB), e na bodegas no na escolha do Falta de
dourada e recuperação de áreas degradadas e do estoque fornecimento da comprador. organização das
piramutaba. pesqueiro, além da viabilização de capacitação matéria-prima Organização dos instituições de
Sistema de crédito do trabalhador da pesca e suas lideranças etc. (peixe). pescadores e pesca para
rural existente não é Estabelecer cota de captura para o pescador Conflito de participação efetiva realização dos
específico, ribeirinho de bagres, a partir dos valores de interesses na tomada de cursos de
atendendo as várias captura por semana por pescador, calculada: (pescador x decisões referentes capacitação.
atividades. Dourada: Alto Solimões: 15 indivíduos. Esses agricultor) na ao setor.
valores são restritos a períodos de safra. implantação do Aumento no médio
Incentivar a criação de fábricas de gelo de crédito específico prazo do tamanho
propriedade de Instituições de Pescadores. à pesca. do pescado e,
Implantar linhas de microcrédito para o Aumento dos portanto, de seu
pescador ribeirinho integrado ao sistema de preços ao valor.
ordenamento da pesca de bagres, com agências consumidor final.
itinerantes.

Nidia Noemi Fabré, Ronaldo Barthem, Adriana Carvalho, Ronaldo Angelim


83
84
Impacto negativo Impacto positivo da Riscos e
Problema / Situação Ação/Proposta
da ação ação dificuldades

Dificuldade de Capacitar os pescadores em gerência Perda do poder Maior participação Ausência de


acesso ao sistema de administrativa e financeira. concentrado em dos setores representantes
crédito rural devido Estabelecer um preço mínimo pago ao pescador um único grupo envolvidos no dos vários
à burocracia (exige ribeirinho pela dourada e piramutaba. (tanto referentes processo de setores para
avalista, Definir com os diferentes setores envolvidos na ao sistema de tomada de decisão, resolver sobre
deslocamento até o atividade (instituições de pescadores, ordenamento gerando formas de
ÁREA DE
centro de representantes do setor empresarial e governo) quanto ao FDPB). responsabilidade gerenciamento
REPRODUTORES
atendimento e, por as formas de gerenciamento do Sismi e do social. do SOPB e FDPB.
Alto Solimões
vezes, libera FDPB.
financiamento fora Incentivar o fortalecimento político-institucional
da safra). estimulando a criação de movimentos de
Desarticulação do organização de base para articulação do setor.
setor produtivo de

Coleção Estudos Estratégicos : Grandes Bagres Migradores


base (pescador).

ESTRATÉGIA DE MONITORAMENTO PARA ALTO SOLIMÕES:


Gestão na escala regional: Para a manutenção do sistema de monitoramento de desembarque deve ser criada uma unidade de co-
gestão resultante de uma parceria entre instituições governamentais e instituições da sociedade civil organizada em nível municipal,
estadual e federal. Esta unidade acompanhará o IDPB e o índice de seus indicadores social, econômico e político-institucional, bem
como os indicadores biológico-pesqueiros. O objetivo é manter o monitoramento integrado entre os componentes e fazer os ajustes
necessários nas estratégias de manejo de forma dinâmica.
ÁREA DE Gestão na escala local: Criar um sistema de monitoramento local das cotas de captura que poderá funcionar nas unidades fixas de
REPRODUTORES intermediação da comercialização (flutuantes ou frigoríficos), as quais registrarão as capturas diárias de cada pescador cadastrado. O
Alto Solimões pescador deverá receber no momento do cadastramento a Caderneta Local de Pesca de Bagres, para registros das capturas. O
Monitoramento frigorífico registrará as cotas de captura do seu Raio de Captação de Produção. Esses registros deverão ser recolhidos e verificados pela
Integrado unidade de co-gestão responsável pelo monitoramento. Nos frigoríficos também serão registrados os tamanhos dos peixes
comercializados, que servirão como um dos indicadores necessários para certificação do produto comercializado.
Componentes do monitoramento:
Biológico-pesqueiro: Implementação da coleta de dados para monitoramento do desembarque nos frigoríficos e disponibiliz ação
sistemática desses dados por meio de divulgação anual nos meios de comunicação acessíveis aos pescadores, comerciantes, empresários
da pesca, gestores e tomadores de decisão (com exceção de Tabatinga).
Socioeconômico: acompanhamento do IDPB - Índice de Desenvolvimento do Pescador de Bagre.
Impacto negativo Impacto positivo da Riscos e
Problema / Situação Ação/Proposta
da ação ação dificuldades

Quebra da conectividade Manter a conexão entre o eixo Solimões- Limite ao uso do Manutenção da rota Pressão
entre as cabeceiras e o Amazonas e os tributários de água potencial migratória dos bagres. econômica para a
eixo central do rio. branca, limitando a construção de usinas hidrelétrico local. Manutenção da construção de
Limite ao acesso às hidrelétricas nas regiões dos tributários Custo resultante variabilidade genética. usinas
ÁREA DE
cabeceiras por do sistema, pois a piramutaba e a da operação de Aquisição de hidrelétricas.
REPRODUTORES
empreendimentos dourada são migradoras e utilizam toda monitoramento. informações que Pressão e
Tributários de
hidrelétricos. a calha Estuário-Amazonas-Solimões ao permitam a mitigação descontrole das
água branca
Alteração da qualidade longo do seu ciclo de vida. dos efeitos antrópicos atividades de
(Madeira, Purus,
ambiental das áreas Monitorar o efeito dos eventos sobre as rotas de garimpo,
Juruá, Içá,
relacionadas à rota de antrópicos nas áreas relacionadas à rota migração. desmatamento e
Japurá): rotas
migração promovida pelo de migração. Sustentabilidade do monocultura.
migratórias dos
garimpo, desmatamento Buscar mecanismos de integração com os setor pesqueiro pela Problemas
reprodutores
e cultivo da soja. países fronteiriços para a manutenção manutenção do orçamentários
conjunta das rotas migratórias. estoque. para manutenção
do
monitoramento.

ESTRATÉGIA DE MONITORAMENTO PARA OS TRIBUTÁRIOS DE ÁGUA BRANCA:


ÁREA DE Gestão: Deve ser criado um mecanismo de integração com os países fronteiriços para acompanhamento dos indicadores da variabilidade
REPRODUTORES genética e situação ambiental.
Tributários de Componentes do monitoramento:
água branca Biológico-pesqueiro: continuidade de pesquisas das rotas migratórias, da variabilidade genética da piramutaba e dourada.
(Madeira, Purus, Componente Ambiental: uso de bancos de dados SIG (Sistema de Informação Geográfica) existentes de instituições governamentais e
Juruá, Içá, não- governamentais para monitorar as atividades antrópicas que geram impacto ambiental.
Japurá): rotas
migratórias dos
reprodutores
Monitoramento
Integrado

Nidia Noemi Fabré, Ronaldo Barthem, Adriana Carvalho, Ronaldo Angelim


85
Sistema de Organização Local da Pesca Ribeirinha de
Bagres – Proposta de Gestão e Monitoramento para as
áreas de crescimento e de reprodutores: Almeirim-Tefé e
Alto Solimões
O sistema local de gestão proposto tem como base os arranjos produtivos
locais e informais observados ao longo da área de estudo. Além disso, há os
sistemas de zoneamento informal, os quais funcionam como um mecanismo
de apropriação dos recursos pesqueiros nas áreas da calha pelas comunidades
de pescadores de bagres. Esses mecanismos de manejo local são gerenciados
pelos próprios pescadores. Por sua vez, esse sistema está atrelado à cadeia de
comercialização local denominado Raio de Captação da Produção (ver
esquema Sismi - Local).

Objetivo da ação
Implementar um Sistema de Organização Local Auto-Sustentável da Pesca
Ribeirinha de Bagres como um componente do Sismi, utilizando como
base as áreas de pesca (pesqueiros) e as cadeias produtivas estabelecidas
entre o pescador-produtor, os intermediários e os frigoríficos em toda a
calha Solimões-Amazonas.

Implantação e funcionamento
A implantação do sistema de organização local da pesca ribeirinha de
bagres deverá ocorrer por meio do estabelecimento de um Conselho
Permanente da Pesca. Esse conselho será formado por representantes dos
pescadores, intermediários da comercialização, empresas de pesca,
pesquisadores e instituições da sociedade civil organizada. Além disso, deverão
ser instituídos os conselhos estaduais, municipais e comunitários descritos
no item “organização” do Sismi.
O esquema a seguir permite visualizar a organização e estruturação
vislumbrada para a escala local do plano, destacando a representação da
organização da base produtiva e a cadeia de comercialização local, observada
com algumas variações locais na calha principal entre Almeirim e o Alto
Solimões.

86 Coleção Estudos Estratégicos : Grandes Bagres Migradores


Figura 20. Esquema do Sistema de Organização da Pesca Ribeirinha de
Bagres, na escala local.

Para implementar o sistema, recomenda-se:


1. Promover o cadastramento da comunidade, do pesqueiro, dos
pescadores, seus intermediários e frigoríficos associados, definindo as
interações entre os envolvidos na produção/comercialização, formalizando
assim o Raio de Captação da Produção de Bagres.
2. Criar um Fundo de Desenvolvimento da Pesca de Bagres, mantido com:
• Repasse da União de 2% do imposto sobre os lucros das empresas que
se beneficiam direta ou indiretamente do uso dos recursos pesqueiros.
• Recursos financeiros da União, dos Estados e dos municípios, a eles
destinados.
• Parte da compensação financeira que o Estado receber pela exploração
de petróleo, gás natural e recursos minerais em seu território, principalmente
os relacionados ao uso da calha Solimões-Amazonas. Esses recursos deverão
ser destinados para aplicação exclusiva em levantamentos, estudos e programas
de interesse para o gerenciamento dos recursos pesqueiros.
• Empréstimos nacionais e internacionais e recursos provenientes da ajuda
e cooperação internacional e de acordos intergovernamentais.

Nidia Noemi Fabré, Ronaldo Barthem, Adriana Carvalho, Ronaldo Angelim 87


• Rendas provenientes da aplicação de seus recursos.
• Multas previstas na Lei de crimes ambientais e outros instrumentos
legais que regulamentem o uso dos recursos pesqueiros.
• Doações de pessoas físicas ou jurídicas, públicas ou privadas, nacionais
ou estrangeiras.
• Outros recursos que lhe forem destinados.
3. Os recursos do Fundo deverão garantir investimentos na área
socioambiental, tais como:
• Fortalecer a organização político-institucional do setor da pesca de bagres
para que ele possa ter participação efetiva nos processos de elaboração de
políticas públicas e tomadas de decisão na sociedade.
• Apoio às atividades de conservação e recomposição de pesqueiros e de
áreas de várzeas.
• Certificação do produto, garantindo sua procedência (área manejada)
para inserção em mercados justos.
• Incentivo a iniciativas de melhoria na oferta dos serviços de educação
(capacitação de pescadores e suas lideranças) e saúde (saneamento básico)
para as comunidades ribeirinhas e capacitação para o trabalho por meio do
financiamento de treinamentos, intercâmbio e atualização técnica.
• Apoio/financiamento às iniciativas de desenvolvimento local das
associações comunitárias.
• Apoio/financiamento à formação de Agentes de Fiscalização do Ambiente
nas comunidades.
• Apoio/financiamento de estudos científicos sobre: a) os bagres e seu
ambiente; b) a comunidade de pescadores; c) o processamento e
beneficiamento do pescado; e d) cadeias produtivas.
4. Considerando que são impraticáveis períodos de defeso para a pesca, já
que esta atividade está praticamente restrita ao período de safra (contudo
havendo necessidade de estabelecer medidas para a conservação dos
estoques), propõe-se o estabelecimento de cota de captura durante o período
de safra para o pescador ribeirinho de bagres relativo à dourada. Os valores
abaixo indicados foram estabelecidos a partir dos resultados das pesquisas
conduzidas pela equipe que levantou, ao longo da calha, a captura por
pescador por semana (rendimento por pescador). Esses valores foram
transformados com a relação peso comprimento em número de indivíduos.
Isso se reflete nos valores das cotas como uma diminuição da quantidade de
peixes na medida em que nos aproximamos da fronteira, já que nessa área se
encontram os peixes de maior tamanho, como demonstrado pelos estudos
de dinâmica populacional da dourada e piramutaba.

88 Coleção Estudos Estratégicos : Grandes Bagres Migradores


Dourada: Almeirim-Santarém-Manaus: 35 indivíduos; Tefé: 20
indivíduos; Alto Solimões: 15 indivíduos.
4.1 As medidas de conservação devem estar associadas a medidas de
desenvolvimento econômico que possam criar mecanismos de auto-
sustentabilidade no sistema. Assim, propõem-se incentivos à criação de
fábricas de gelo de propriedade pelas instituições de pescadores.
4.2 Implantar linhas de microcrédito específico para o pescador ribeirinho
integrado ao sistema de ordenamento da pesca de bagres, com agências
itinerantes. Essa integração deve estar controlada pelo sistema de
cadastramento e monitoramento das diferentes unidades de captação da
produção pesqueira.
4.3 Capacitar os pescadores em gerência administrativa e financeira, já
que uma das maiores dificuldades observadas em empreendimentos dessa
natureza é a falta de experiência e visão empreendedora dos pequenos
produtores, inclusive dos gerentes de fábricas de gelo ou frigoríficos.
4.4 Estabelecer um preço mínimo pago ao pescador ribeirinho pela
dourada e piramutaba oriundas de áreas manejadas.
4.5 Incentivar o fortalecimento político-institucional, estimulando a
criação de movimentos de organização de base para articulação do setor.
Essa ação é fundamental e transversal a todas as ações propostas,
principalmente ao gerenciamento das cotas, controle, monitoramento e
comercialização.
4.6 Implantar o monitoramento do sistema de organização da pesca
ribeirinha de bagres coletando e sistematizando as informações sobre a
atividade de pesca de dourada e piramutaba, com amostragem de dados na
comercialização (peso, comprimento, locais de captura, esforço pesqueiro)
e socioeconômico (IDPB) que permitam avaliações adequadas da pesca e de
seus atores. Além disso, o monitoramento proporá, se necessário, ajustes no
sistema.

Estrutura organizacional para a gestão integrada e participativa do Sismi


A estrutura organizacional proposta considera a existência de uma política
pública favorável à articulação intra e intergovernamental e à co-gestão.
Dessa forma, deve-se promover a co-responsabilidade entre as esferas do
governo e associações representativas dos usuários e beneficiários da
exploração pesqueira de bagres. Esses setores devem participar do
planejamento e gestão tendo como princípio a parceria com a sociedade
civil organizada.

Nidia Noemi Fabré, Ronaldo Barthem, Adriana Carvalho, Ronaldo Angelim 89


A política de descentralização é fundamental no processo de co-gestão,
isto porque o manejo dos recursos naturais é uma questão social que não
pode ser resolvida unicamente pelo Estado. A ação do governo é
imprescindível, porém não é suficiente. Assim, a co-responsabilidade deve
ser o princípio norteador da gestão. Para isso, o pescador, por meio de suas
entidades de classe, deve ter garantia de participação com direito à voz e
voto. Por outro lado, a política de descentralização pode viabilizar o princípio
do manejo integrado. Muitos gestores ou tomadores de decisão acreditam
que ações concatenadas que lidem simultaneamente com questões ecológicas,
sociais e econômicas são complexas e impraticáveis. O primeiro qualificativo
é real, o segundo pode ser substituído por falta de prática, já que na maioria
das vezes as propostas são reducionistas e pouco criativas. Dessa forma, se
não houver uma diretriz governamental concreta de interação entre os setores
que cuidam da produção, do serviço social, da economia e dos recursos
naturais, é eminente o fracasso de qualquer esforço para a manutenção da
atividade pesqueira e dos recursos naturais alvo da exploração.
Sob essas considerações a estrutura de gestão proposta deve compor um
órgão de gestão participativa que tenha como objetivo principal conciliar os
interesses dos diversos atores do setor, aumentando a possibilidade de sucesso
do plano.
A Câmara de Assessoramento Técnico-Científico atuará nos níveis local,
municipal, estadual e internacional, fornecendo informações técnicas e
científicas sobre os recursos-alvo da atividade pesqueira e todos os aspectos
ecológicos e biológicos relacionados com a manutenção das populações e
comunidades bióticas associadas aos recursos explotados. Também poderá
fornecer assessoramento para a montagem do sistema de monitoramento
nas diversas escalas.
O esquema abaixo representa o organograma de gestão nos níveis federal,
estadual, municipal e local. As caixas indicam a composição dos conselhos a
cada nível.

90 Coleção Estudos Estratégicos : Grandes Bagres Migradores


Figura 21. Organograma de gestão nos níveis federal, estadual, municipal e
local. As caixas indicam a composição dos conselhos a cada nível.

Resultados esperados e considerações finais


• Sustentabilidade do setor pesqueiro pela manutenção do estoque de bagres.
As populações ou estoques pesqueiros crescem em número e biomassa, mas
esse crescimento tem um limite, o qual depende do tamanho das populações
e do ambiente em que vivem. Para que seja possível manter os estoques em
níveis desejáveis, como os demonstrados pelos estudos de avaliação do estado
atual da piramutaba e dourada, são necessários: a manutenção da parcela de
adultos reprodutores da população, a diminuição da pesca dos pré-adultos
e a manutenção da integridade dos ecossistemas de várzea, principalmente
da floresta de várzea, assim como das rotas migratórias dos reprodutores e
dos locais de desova nas cabeceiras dos rios de águas brancas. Em virtude da
complexidade temporal e espacial do ciclo dos grandes bagres migradores,
medidas tradicionais como controle do tamanho mínimo e estabelecimento
de épocas de defeso na calha do Amazonas-Solimões são impraticáveis. A
proposta de cotas é uma alternativa de controle da pesca de pré-adultos, já
que indiretamente controla o esforço de pesca, o que contribui para o manejo

Nidia Noemi Fabré, Ronaldo Barthem, Adriana Carvalho, Ronaldo Angelim 91


integrado e estabelece um sistema de ordenamento do setor, aproveitando
as práticas tradicionais já estabelecidas pelos arranjos informais das cadeias
produtivas locais.
• Prática da pesca responsável pelo autocontrole e monitoramento. Este
resultado somente será alcançado se o sistema de ordenamento for
estabelecido, principalmente o proposto para a escala local, já que com a
experiência dos acordos de pesca - delimitação de territórios de pesca
(pesqueiros) para a pesca de bagres, alocação de uso desses pesqueiros por
pescadores já definidos e sistema de turnos de pesca para a organização do
uso desses pesqueiros - determinam as bases para uma pesca ordenada e
responsável, monitorada pelos próprios usuários, agentes ambientais e as
demais instâncias previstas no esquema de organização do Sismi.
• Abertura de novos mercados mais exigentes por meio da certificação dos
produtos manejados. O sistema de ordenamento e monitoramento não pode
existir de forma isolada. Incentivos envolvendo toda a cadeia produtiva são
elementos essenciais para o êxito e viabilidade da proposta. Dessa forma, o
sistema proposto deve incluir empresas de pesca certificadas no Sismi,
expandindo novos mercados.
• Maior rentabilidade para os principais atores envolvidos: pescadores,
intermediários (flutuante, armadores) e frigoríficos. O aumento da renda e da
rentabilidade em todos as instâncias da produção permite o incentivo e a
multiplicação da idéia. A manutenção dos recursos não pode ser vista apenas
como um problema ecológico ou biológico, ou seja, os interesses econômicos
devem estar sempre aliados ao manejo e gestão dos recursos.
• Conservação dos pesqueiros e das matas de várzea pela atuação dos agentes
fiscalizadores e os próprios incentivos gerados pela pesca às comunidades em forma
de desenvolvimento socioambiental. Para isso, a implementação e o
gerenciamento do Fundo tornam-se elementos-chave para a auto-
sustentabilidade do sistema, podendo ser estendidos a outras espécies de
peixes (como proposto pela plenária do fórum).
• Aumento da qualidade de vida nas comunidades (benefícios sociais, de saúde
e educação). O funcionamento do sistema proposto é um catalisador para a
melhoria da qualidade de vida, pelo apoio às questões socioambientais e
pelo incremento de renda esperado com a organização das cadeias produtivas.
• Fortalecimento do setor da pesca de bagres, que passa a ter participação
efetiva nos processos de elaboração de políticas públicas e tomadas de decisão. O
estudo claramente demonstrou o destaque da pesca de bagres na economia
do ribeirinho na várzea amazônica, já que há mercado para essas espécies

92 Coleção Estudos Estratégicos : Grandes Bagres Migradores


consideradas nobres dentro do cardápio nacional e internacional. Dessa
forma, a pesca de bagres administrada por um sistema integrado e
participativo abre a possibilidade para que essa atividade seja contemplada
nas políticas púbicas.
• Incremento do conhecimento científico sobre as questões relacionadas aos
bagres (biologia, pesca e socioeconomia). A realização deste primeiro estudo,
cujo caráter transdisciplinar abriu novas perspectivas para a ciência local,
regional e internacional, representa somente o início do que deve ser praticado
para manter a riqueza e diversidade dos recursos naturais da Amazônia. O
conhecimento científico desempenha um papel fundamental na resolução
das questões sobre manejo e sustentabilidade.

Nidia Noemi Fabré, Ronaldo Barthem, Adriana Carvalho, Ronaldo Angelim 93


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100
ANEXOS
Anexo 1.
Caracterização das espécies de grandes bagres da
Amazônia

1. Brachyplatystoma rosseauxii

Família Pimelodidae
Nome vulgar: Dourada (Brasil); Zúngaro Dorado (Peru); Dorado ou
Plateado (Colômbia).
Tamanho máximo conhecido: 192 cm
Peso máximo conhecido: 20 kg
Hábitat: Canal de rios principais, tributários de água branca, preta e clara;
pode ser encontrado ocasionalmente em várzeas à noite para sua alimentação.
Ocorrência: Ampla distribuição na bacia amazônica, encontrado nas
cabeceiras de muitos tributários dos rios Negro e Madeira, por exemplo. É
comum nas águas doces e de baixa salinidade da foz amazônica.

2. Brachyplatystoma vaillantti

Família Pimelodidae
Nome Vulgar: Piramutaba, Pira-botão ou Mulher-Ingrata (Brasil); Pirabutón
(Colômbia); Manitoa (Peru).
Tamanho máximo conhecido: 105 cm
Peso máximo conhecido: 10 kg
Hábitat: Canal dos rios principais de água branca e área de água doce da foz
amazônica; ocasional em lagos de várzea e nos tributários de água preta e
clara.
Ocorrência: Aparece principalmente ao longo do rio Solimões-Amazonas e
em tributários de água branca.

102
Anexo 2.
Índice de desenvolvimento dos pescadores de bagres -
IDPB
Elaborou-se um indicador para fazer uma rápida caracterização
socioeconômica e determinação da qualidade de vida das populações de
várzea envolvidas na pesca de grandes bagres migradores. Dessa maneira, a
partir do IDH11 das Nações Unidas foi criado neste estudo o Índice de
Desenvolvimento dos Pescadores de Bagres - IDPB).
O IDH foi usado como base para o IDPB sofrendo adaptações nas variáveis
para refletir a realidade do pescador de grandes bagres na bacia Solimões-
Amazonas. No componente social, além da educação e saúde, incorporou-
se a organização política e institucional. A medição foi feita com base na
posse de documentos pessoais do pescador, número de votantes na última
eleição, filiação à Colônia de Pesca, participação em gestão de instituições
locais, entre outras. No componente econômico, considerou-se não somente
a renda monetária per capita, mas também “renda de subsistência”, calculada
a partir da conversão da quantidade consumida de pescado e de farinha de
mandioca em valor de mercado (considerando o fato de o pescador ter de
comprar tais itens caso não tivesse disponibilidade desses recursos).
Verifica-se que as macrorregiões do Estuário, Santarém e Alto Solimões
têm IDPB médio, enquanto em Manaus e Tefé esse índice é baixo. Isso
provavelmente resulta dos baixos índices político-institucionais de Manaus
e Tefé em relação às outras macrorregiões. Em relação ao acesso a serviços
pelos pescadores de grandes bagres, verifica-se que os maiores problemas
estão associados à baixa qualidade dos serviços de saneamento básico
(disponibilidade de sanitários e de fossa) com redução de qualidade à medida
que se aproxima da área de fronteira (Figura A2.1). Os indicadores de saúde
são praticamente estáveis ao longo de todo o eixo, com exceção da incidência
de hepatite e malária que se agrava a partir de Tefé (Figura A2.2). O peso da
renda de subsistência tem destaque em todas as macrorregiões, porém perde
peso em Tefé e no Alto Solimões. Em Manaus e no Alto Solimões, os
indicadores econômicos dos pescadores de bagres em geral são mais elevados

11
O IDH foi estabelecido pelas Nações Unidas. Esse índice é composto por (i) expectativa de vida; (ii) educação expressa pela
alfabetização de adultos e pela taxa de escolaridade e renda. O IDH varia de 0 a 1.

103
em função do tipo de embarcação utilizada para a pesca (canoa a remo,
rabeta e motor, respectivamente) (Figuras A2.3, A2.4 e A2.5).

Figura A2.1. Acesso a serviços.

Figura A2.2. Saúde.

104
Figura A2.3. Econômia do pescador de canoa a remo.

Figura A2.4. Econômia do pescador de rabeta.

105
Figura A2.5. Econômia do pescador com embarcação a motor.

106
Anexo 3.
Características da pesca de bagres no eixo Solimões-
Amazonas
As características da pesca de bagres são diferenciadas em cada uma das
cinco macrorregiões estudadas (Estuário, Santarém, Manaus, Tefé e Alto
Solimões) (Quadro 9), quanto a: tamanho médio, propriedade e capacidade
média de gelo das embarcações e tamanho dos apetrechos utilizados para a
pesca. No intuito de padronizar essa diversidade foram criadas quatro
categorias dentro da frota artesanal que explora piramutaba (Brachylatystoma
vaillanti) e dourada (Brachylatystoma rosseauxii): remo, vela, motor de centro
e rabeta.
Estuário. Os barcos da frota artesanal do Estuário têm dimensões maiores
que no restante da calha e uma das suas principais peculiaridades é o uso de
vela associada à motor (propulsão mista). A estrutura dos barcos é de madeira,
própria para a navegação em águas abertas. As embarcações à remo possuem
em média 11 m e capacidade de armazenamento de 270 kg. Já as embarcações
movidas à vela têm em média 18 m de comprimento e conseguem armazenar
até 5 toneladas (Figura A3.1 e A3.2). Barcos com motor de centro apresentam
tamanho médio de aproximadamente 17 m, força média de 120 HP e
capacidade de armazenamento de 10 toneladas. Esses barcos operam em
mais de 50% dos casos com malhadeiras de 1,5 km, em média (Figura
A3.4). Somente 30% dos pescadores entrevistados são proprietários de
embarcações com motor de centro. Essa porcentagem sobe para 70% no
caso da propriedade de embarcações movidas à vela e para a 100% da
propriedade das canoas a remo (Figura A3. 3). Essas embarcações pescam
tanto piramutaba quanto dourada, bem como outras espécies de bagres.

107
Figura A3.1. Tamanho médio das embarcações.

Figura A3.2. Capacidade média de gelo.

108
Santarém. De forma geral, a frota pesqueira de Santarém atua na pesca de
peixe liso, não havendo uma pescaria específica para piramutaba. Na região
de Santarém, a vela também é utilizada como forma de propulsão em
pequenas embarcações a remo. Destaca-se o uso de “bajaras”, ou seja, grandes
canoas de madeira, cobertas ou não, com propulsão de motor de centro.
Nesta região, os grandes barcos geleiros com motor de centro possuem em
média 11 m de comprimento, força de 40 HP e capacidade de
armazenamento de 4 toneladas (Figura A3.1 e A3.2). É comum o uso de
“campanhas”, onde cada embarcação leva, em média, cinco canoas e vários
pescadores. Na maioria dos casos (67%), esses pescadores utilizam
malhadeiras com tamanho médio de aproximadamente 300 m para a captura
dos bagres. Mais de 50% dos pescadores entrevistados se declararam donos
das embarcações com motor de centro.
Manaus. A macrorregião de Manaus é complexa e envolve vários
municípios circunvizinhos. Em Itacoatiara, é possível observar a influência
dos pescadores paraenses que introduziram na região a bajara” e a campanha
na pesca de bagres. Em Manaus e em Tefé, é notório na pesca de piramutaba
o uso de barcos de pesca com tamanho médio aproximado de 11 m -
conhecidos como geleiros, no Pará, e como “piramutabeiros” nas
macrorregiões de Tefé e Manaus. Os pescadores adaptaram as redes de pesca
com tamanho médio de aproximadamente 250 m utilizadas na época da
safra para a captura da piramutaba, quando os grandes cardumes passam
por essas regiões. Essas redes são conhecidas como jaraquizeiras ou
arrastadeiras. Em outros períodos do ano, essas redes têm como alvo a pesca
dos caraciformes migradores (por exemplo, o jaraqui e a curimatã). Nessas
macrorregiões, é possível observar o uso de rabetas, ou seja, canoas de madeira,
com pequenos motores de popa com propulsão média de 5 HP,
principalmente para a pesca de dourada e surubins (Figura A3.1). Em alguns
casos, as rabetas ou “rabetinhas” são apoiadas pelos barcos com urna de
gelo, que conservam e transportam sua produção para os centros
consumidores. Os pescadores são na maioria ribeirinhos das margens do
Solimões-Amazonas. Também é possível identificar pescadores embarcados
(em geral, moradores de áreas urbanas, contratados para atuar nas grandes
embarcações). Nessas macrorregiões, mais de 50% dos pescadores declararam
serem proprietários de embarcações com motor de centro. A porcentagem
de proprietários de embarcações a remo ou rabeta é de aproximadamente
65%.

109
Tefé. As características das embarcações na macrorregião de Tefé apresentam
várias semelhanças com a macrorregião de Manaus, visto que na época da
safra da piramutaba os barcos se deslocam até a altura de Santo Antônio de
Içá atrás dos cardumes. A pesca de bagres é realizada por pescadores vinculados
a embarcações de pesca artesanal com proveniência diversificada e pescadores
ribeirinhos. Os barcos com motor de centro possuem capacidade média de
carga de 4 toneladas (Figura A3.2) e tem uma equipe formada por 5 a 11
tripulantes, os quais exercem diferentes funções (encarregado, proeiro,
popeiro, gelador, descolador, motorista, cozinheiro e ajudante). Como
apetrecho de captura são usados: a rede de deriva, o espinhel e a malhadeira.
Em Tefé, a pesca com rede de deriva, em particular (segundo relatos de
ribeirinhos), foi introduzida na região há pouco mais de cinco anos, vinda
da Colômbia. Essa rede possui tamanho médio de 500 m de comprimento,
altura média de 3 m e é lançada de uma canoa (tamanho médio de 8 m)
motorizada (motor rabeta de 7 HP) por dois pescadores (podendo ser três),
ficando à deriva (rio abaixo) durante cerca de trinta minutos. O recolhimento
da rede de deriva até o final do lanço dura cerca de uma hora.
Alto Solimões. A macrorregião do Alto Solimões é, sem dúvida, bastante
diferenciada das outras áreas deste estudo. Primeiro porque é uma região
fronteiriça (Brasil-Peru-Colômbia). Segundo, o uso de canoas de madeira
motorizadas, com 8 m de tamanho médio, motor tipo “rabeta”, com potência
média de 6 HP é predominante nessa região (Figura A3.1). A capacidade
de armazenamento dessas canoas é de aproximadamente 360 kg (Figura
A3.2). A pesca é caracterizada pelo uso de redes malhadeiras à deriva com
tamanho médio de 260 m, sendo comum o uso de poita para a pesca de
peixes grandes. Os pescadores locais costumam pescar aos pares (dois em
cada canoa), podendo ou não haver revezamento entre eles de duas em duas
horas ou de três em três horas dependendo da quantidade de peixes em
cada lance.

110
Quadro 9 - Características da pesca de bagres em cada uma das cinco
macrorregiões (Estuário, Santarém, Manaus, Tefé e Alto Solimões).

111
Tamanho
Tamanho Altura média
Macrorregião Propulsão Tipo médio de
médio (m) (m)
malha (mm)

Motor de Arrastão - 55 % 520 85 3


centro Malhadeira - 45 % 550 50 4,5
Arrastão - 35 % 340 76 10
Rabeta Malhadeira - 35 % 290 77 5
Tefé Espinhel - 30 % 40 -- --
4
Malhadeira - 55 % 80 75
Remo
Espinhel - 45 % 90 -- --
Vela -- -- -- --
Motor de
-- -- -- --
centro

5
Malhadeira - 35 % 260 150

Rabeta Espinhel - 45 % 105 -- --

Alto Solimões Poita - 25 % 55

Espinhel - 40 % 60 -- --
4
Remo Malhadeira - 40 % 140 340

Poita - 20% 50 -- --
Vela -- -- -- --

112
Esta edição foi produzida no segundo

semestre de 2005, em Manaus, utilizando as

fontes DIN (20, 18, 14), Garamond (11) e

F r u t i g e r ( 9 ) , s o b r e p a p e l o f f -s e t 1 2 0 g / m 2 .
O MANEJO DA PESCA DOS GRANDES BAGRES MIGRADORES PIRAMUTABA E DOURADA NO EIXO SOLIMÕES-AMAZONAS
BAGRES MIGRADORES
PESCA DOS GRANDES
O MANEJO DA
PIRAMUTABA E
DOURADA NO EIXO
SOLIMÕES-AMAZONAS

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