O Trigo e o Joio
E a parábola da rede de pesca
A Parábola do Trigo e do Joio, contada no Evangelho segundo Mateus.
Vejamos o que diz:
Propôs-lhes outra parábola, dizendo: “O reino dos céus é semelhante ao
homem que semeia boa semente no seu campo. Mas enquanto os
homens dormiam, veio o seu inimigo, semeou o joio no meio do trigo e
retirou-se. (Mateus 13:24-25)
No mundo antigo, quando havia rivalidades entre os agricultores,
alguns contaminavam o campo dos outros com ervas daninhas, apesar
de ser proibido pela lei romana. O joio, citado na passagem, é uma
planta venenosa muito parecida com o trigo, abundante na Síria e na
Palestina. Nos primeiros estágios de vida, ele se assemelha ao trigo,
mas conforme cresce, é fácil diferenciá-lo pois tem espigas menores
que as do trigo.
As Histórias que Jesus Contou
Quando a erva cresceu e frutificou, apareceu também o joio. Então, indo
ter com ele os servos do pai de família, lhe disseram: ‘Senhor, não
semeaste tu no teu campo boa semente? Como então está cheio de
joio?’ Respondeu-lhes ele: ‘Um inimigo é quem fez isso.’ (Mateus 13:26-
28)
O crime só foi notado meses após o plantio, quando a erva cresceu e
frutificou e apareceu também o joio. Até então, a contaminação não
havia sido percebida e os dois tipos de planta cresceram juntos.
Disseram-lhe os servos: ‘Queres que vamos arrancá-lo?’ Porém ele lhes
disse: ‘Não, para que ao colher o joio não arranqueis também o trigo com
ele. Deixai crescer ambos juntos até à ceifa. Por ocasião da ceifa, direi
aos ceifeiros: Colhei primeiro o joio, atai-o em molhos para o queimar;
então colhei o trigo e recolhei-o no meu celeiro.’” (Mateus 13:28-30)
O dono da propriedade reconhece que seu inimigo o havia prejudicado
ao espalhar sementes venenosas em sua cultura de trigo, mas sabe
que qualquer tentativa de entrar no campo para limpá-lo da praga
poderia prejudicar também o trigo, pois as raízes das duas espécies
estavam entrelaçadas. Em vez disso, o fazendeiro decide esperar a
colheita, quando os ceifeiros terão sua tarefa duplicada: arrancarão o
joio e depois colherão o trigo. As plantas prejudiciais serão atadas em
molhos e queimadas. O trigo será levado para o celeiro.
Jesus não explicou essa parábola para as multidões. Posteriormente,
porém, explicou aos Seus discípulos.
Então, tendo despedido a multidão, foi Jesus para casa. E chegaram ao
pé dEle os Seus discípulos, dizendo: “Explica-nos a parábola do joio do
campo.” E ele respondeu: “O que semeia a boa semente é o Filho do
Homem. O campo é o mundo, e a boa semente são os filhos do reino. O
joio são os filhos do maligno, e o inimigo que o semeou é o diabo. A
ceifa é o fim do mundo, e os ceifeiros são os anjos. Assim como o joio é
colhido e queimado no fogo, assim será na consumação deste mundo.
Mandará o Filho do homem os seus anjos, e eles colherão do seu reino
tudo o que causa pecado, e todos os que cometem iniquidade. E lançá-
los-ão na fornalha de fogo, onde haverá pranto e ranger de dentes. Então
os justos resplandecerão como o Sol, no reino de seu Pai. Quem tem
ouvidos para ouvir, ouça.” (Mateus 13:36-40)
A expressão “filhos de...” neste tipo de contexto é uma frase comum
em hebraico ou em aramaico, significando “alguém que pertence a”.
Vamos dar uma olhada nas diferenças estabelecidas na parábola
entre os filhos do reino e os filhos do maligno:
Os filhos do reino foram semeados pelo semeador (Jesus), Deus é
descrito como “o Pai”, eles são chamados “justos” e “brilharão como o
Sol no reino de seu Pai.” Em contraste, os filhos do maligno são
“semeados pelo inimigo” (o Diabo), ou, como vemos em outras
traduções, “aqueles que praticam o mal”, os quais serão “jogados em
uma fornalha ardente”, onde haverá “choro e ranger de dentes”.
Por esta parábola, Jesus estava lidando com um mistério do Reino.
Como poderia o reino coexistir com o mal? Embora o Reino estivesse
presente por causa do ministério de Jesus, apresentava-se de forma
diferente do que era esperado. A expectativa judaica era que o
Messias iria separar o trigo do joio para estabelecer uma comunidade
pura. Os escritos judeus de então falavam da expectativa de o
Messias livrar Jerusalém dos gentios, expulsar os pecadores, reunir
um povo santo e ser intolerante com os injustos. Nada disso se via no
ministério de Jesus, apesar de Ele estar proclamando a vinda do
Reino.
Segundo Jesus, a expectativa dos judeus era incorreta. O bem e o mal
coexistiriam lado a lado no mundo. A maldade não seria retirada da
humanidade até o fim do mundo, ou desta era, o Dia do Juízo. No
simbolismo que Jesus usa, as ervas daninhas são jogadas em uma
fornalha ardente onde haverá choro e ranger de dentes. Essa visão do
inferno vem da palavra hebraica Geena, que era originalmente o Vale
de Hinom, ao sul de Jerusalém, onde a sujeira e os animais mortos da
cidade eram lançados e queimados. O lugar era usado para
representar os ímpios e sua futura destruição.
Por outro lado, as imagens descrevem o destino glorioso do trigo que é
recolhido no celeiro do fazendeiro. A linguagem remete a Daniel 12:3:
Os que forem sábios resplandecerão como o fulgor do firmamento, e os
que a muitos ensinam a justiça refulgirão como as estrelas sempre e
eternamente.
Esta parábola nos ensina que os filhos do reino e do maligno viverão
lado a lado neste mundo até o Dia do Juízo. Apesar de o reino ter
chegado ao mundo pelo ministério de Jesus, não existe em sua
plenitude. Tanto o bem quanto o mal coabitam neste mundo, mas, no
futuro, os que são malignos e causam o mal serão lançados fora,
depois do que o reino de Deus se fará presente em sua plenitude.
Uma mensagem similar é encontrada na parábola da rede de pesca,
recontada por Mateus poucos versículos depois.
Igualmente, o reino dos céus é semelhante a uma rede lançada ao mar,
a qual apanha toda espécie de peixes. Estando ela cheia, puxam-na para
a praia e, assentando-se, escolhem os bons para os cestos; os ruins,
porém, lançam fora. Assim será na consumação do século. Virão os
anjos e separarão os maus dentre os justos, e os lançarão na fornalha
de fogo, onde haverá pranto e ranger de dentes. (Mateus 13:47-50)
Jesus Se referia à modalidade de pesca hoje chamada rede de arrasto,
em que a rede pode ser lançada de um barco ou das margens. Possui
flutuadores na borda superior e pesos na inferior. Pode ser estendida
entre dois barcos ou espalhada por uma embarcação para ser
posteriormente puxada desde a margem. Tudo no seu caminho é
capturado e arrastado para o barco ou para a terra.
Esse tipo de rede não
distingue os peixes, de
forma que qualquer uma
das vinte e quatro espécies
encontradas no Mar da
Galileia poderia ser
capturada. Na praia, os
pescados eram
selecionados. De um modo
geral, os pescadores
separam os peixes
comestíveis dos demais,
mas os judeus precisavam
ir além para reter somente
os que atendessem às
exigências previstas em
suas leis, as quais proíbem
o consumo de certos
animais marinhos.
Dos animais que vivem na água, podereis comer todos os que têm
barbatanas e escamas. Mas tudo o que não tiver barbatanas nem
escamas não o comereis; será imundo para vós. (Deuteronômio 14:9–
10)
Os bons peixes, os considerados limpos, eram postos em vasilhas,
talvez cestas ou engradados; os ruins, ou considerados impuros, eram
jogados fora.
Enquanto a parábola do trigo e do joio descreve os justos brilhando
como o sol e o castigo dos desobedientes, a da rede fala somente da
punição dos maus ou iníquos. Ao contar esta parábola, Jesus falou de
um processo de separação de um julgamento futuro. Nesse tempo
específico, no fim da era, o mal será removido do reino de Deus.
No juízo não é um tópico popular e
costuma ser erroneamente usado, no
passado e no presente, para gerar
medo. Contudo, por mais que não
gostemos do conceito, o julgamento
futuro é uma realidade e é justamente
por isso que Jesus veio à Terra e
sacrificou Sua vida por todos nós.
Todo ser humano merece o julgamento
por causa do pecado, que nos separa
de Deus. Ele não quer essa separação,
mas por ser completamente santo,
nada impuro pode estar na Sua
presença. Entretanto, movido por Seu
amor pela humanidade, criou uma
maneira de nos redimirmos e sermos
pronunciados puros, a saber, pela
morte de Jesus na cruz, pela qual
podemos ser perdoados de nossos
pecados.
As imagens de uma fornalha
ardente e de um lugar de pranto e
ranger de dentes usadas nas duas
parábolas não passam de
símbolos. Não devem ser
interpretadas literalmente nem se
deve entender que após morrerem
os que rejeitarem a mensagem do
Evangelho viverão em chamas.
Entretanto, quaisquer que sejam as
circunstâncias, estarão separados
de Deus e dos que O amam.
Quando pensamos em tudo que
Deus é: amor, beleza, bondade,
misericórdia, santidade, justiça,
integridade e muito mais, a ideia de
viver em um lugar em que Deus não
esteja presente é terrível.
As pessoas precisam de Deus e Ele
não quer que ninguém pereça, mas
que, como escreveu o apóstolo
Pedro, todos se arrependam. (2
Pedro 3:9) A nós, que vivenciamos
o amor e a misericórdia de Deus, é
pedido que levemos aos demais a
oportunidade de estar na
companhia com os que viverão
eternamente em um lugar que está
repleto do que Deus é. Façamos o
melhor ao nosso alcance para levar
aos outros o amor e a mensagem
de Deus.
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Text Adapted from “The Stories Jesus Told”
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