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Fisioterapia em Todas As Idades Da Sindrome de Down

Livro, onde mostra a trabalho da fisioterapia em todas as idades da síndrome de down.

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Fisioterapia em todas as idades

da Sindrome de Down
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A síndrome de Down (SD) é uma condição humana geneticamente
determinada pela presença de uma cromossomo 21 extra, que é responsável
pelas características físicas e fisiológicas as quais resultam em atraso do
desenvolvimento neuropsicomotor. Apesar disto, estas pessoas quando bem
atendidas e estimuladas tem potencial para uma plena inclusão social.

Descrita pela primeira vez por John Langdon Down em 1866, denominou-se
mongolóide as pessoas com baixa estatura, cabelos lisos, fendas palpebrais
oblíquas, base nasal achatada e com leve a moderado déficit intelectual.
Considerando ter sido esta a primeira descrição completa, tal conjunto de
sinais e sintomas passou a se chamar síndrome de Down, em
reconhecimento ao seu primeiro pesquisador.

Desde a sua descrição por Lagdon Down a literatura listou muitas alterações
estruturais e sistêmicas associadas a SD. Dentre as alterações
musculoesqueléticas, destacam-se a irregularidade da densidade óssea,
hipoplasia da cartilagem, hipotonia generalizada, baixa estatura e frouxidão
ligamentar.​2​ A presença destas alterações musculoesqueléticas tem impacto
sobre o desenvolvimento de habilidades motoras, como atraso nas aquisições
de marcos motores básicos, sendo esses adquiridos mais tardiamente em
relação à sujeitos saudáveis.​3​ No entanto, a estimulação adequada realizada
por profissionais qualificados, auxilia estas pessoas no seu processo de
desenvolvimento.

Desenvolvimento, funcionalidade e objetivos fisioterapêuticos

O padrão de desenvovimento da funcionalidade na infância tem início com a


aquisição de um amplo aspecto de habilidades motoras que irão possibilitar a
conquista do domínio do corpo em diferentes posturas, sejam elas estáticas
ou dinâmicas.​4 Os três primeiros anos de vida são marcados pelo
amadurecimento neurossensorial representado pelas aquisições motoras e
da linguagem. Dos três aos sete anos, as aquisições motoras tornam-se
menos intensas e perceptíveis para dar lugar ao desenvolvimento das
expressões cognitivas, aspectos sócio-emocionais e comunicação gráfica.​5 A
partir dos sete anos de idade ocorre o aprimoramento das habilidades
adquiridas motoras e cognitivas, como por exemplo: melhora do equilíbrio, da
psicomotricidade, aumento da interação, ampliação da visão do mundo e seu
entendimento.

Apesar do déficit intelectual e do atraso do desenvolvimento neuropsicomotor,


a criança com SD pode alcançar progressos consideráveis com boa
estimulação do meio, facilitada por profissionais capacitados e, sobretudo
pela família com a qual convive.

Tendo em vista as premissas supracitadas, a presença do fisioterapeuta no


programa de cuidado à pessoa com SD é fundamental na composição da
equipe multiprofissional, a qual também fazem parte o médico, terapeuta
ocupacional, enfermeiro, psicólogo, educador físico, fonoaudiólogo,
nutricionista e assistente social. A atuação fisioterapêutica compreende:
avaliação, elaboração do diagnóstico fisioterapêutico, construção do
diagnóstico situacional, do plano de cuidado individual e das metas
terapêuticas junto a equipe multiprofissional, seguido de intervenção e
reavaliação.
Nossos objetivos são:

a) Favorecer um bom posicionamento com a finalidade de evitar posturas


inadequadas no futuro (cifose, escoliose);
b) Estimular sensorialmente, induzindo a criança participar ativamente das terapias.

Com isso a criança vai adquirir força para controlar a cabeça, o tronco e aprender
rolar, arrastar, sentar, engatinhar, passar para a posição em pé e andar; alcançando
todas as etapas do seu desenvolvimento sensório motor.

Através de nossa técnica, com a repetição ativa dos movimentos, melhoraremos o


tônus com atividades contra gravidade ganhando força muscular e dando a criança
oportunidade de se desenvolver com prazer conquistando sempre novos objetivos.

É importante mencionar que as crianças apresentam potenciais diferentes, portanto


as orientações prescritas para alguns casos não se aplicam a todos.

Cuidado fisioterapêutico

O cuidado às pessoas com SD no Ambulatório do IMREA-HCFMUSP é


organizado em modelos de acordo com a faixa etária:

Modelo de Estimulação Global: atende de zero a três anos;

Modelo de Desenvolvimento Infantil: atende dos quatro aos onze anos;

Modelo Adolescentes Down: atende dos doze aos dezoito anos;

Modelo Adulto Down: a partir de dezenove anos.

MODELO ESTIMULAÇÃO GLOBAL

Objetivo fisioterapêutico
Os objetivos da atuação fisioterapêutica na estimulação global são voltados a
aquisição dos marcos motores, essenciais para o desenvolvimento
neuropsicomotor. Denominamos estimulação global e não estimulação
precoce norteados pelo presuposto teórico de integralidade adimitido pela
equipe. Neste sentido, buscamos ampliar o olhar sobre as necessidades do
paciente de forma integral, apoiados pelos diferentes saberes dos membros
da equipe. Também optamos por não utilizar o termo "precoce", por entender
que a terapêutica ofertada é uma demanda do momento de vida da pessoa,
não sendo neste caso precoce, mas bem indicada. Por fim a estimualção não
é precoce porque não tem por objetivo adiantar etapas do processo evolutivo,
mas sim estimular o desenvolvimento neuropsicomotor destas pessoas.

Os principais objetivos do programa de estimulação global no serviço de


fisioterapia são:

Estimulação motora para aquisição de controles posturais;

Estimulação motora para trocas posturais e manutenção das mesmas


com facilidade e estabilidade;

Facilitação postural para conquista de atividades manuais, com uso de


acessórios que poderão ser confeccionados e/ou providenciados pelos
pais ou responsáveis para uso doméstico;

Auxílio para o desenvolvimento de reações de proteção e equilíbrio;

Utilização de estratégias para aceleração de alcance dos principais


marcos motores (sedestação com e sem apoio, engatinhar e/ou
arrastar-se, ortostatismo com e sem apoio e aquisição de marcha);

Orientação dos pais para atuarem como co-responsáveis pelas metas


fisioterapêuticas em domicílio.

Avaliação fisioterapêutica
O primeiro contato do fisioterapeuta com a criança é na avaliação, a qual
traça-se o diagnóstico situacional do seu desenvolvimento motor, que
possibilita prescrever o processo e condutas de estimulação global.

A primeira de quatro partes da avaliação consiste da coleta de dados


pessoais, como idade da criança, se já realizou e/ou realiza algum programa
de estimulação em outra instituição, histórico de internação, queixas álgicas
e/ou possíveis lesões ortopédicas.

A segunda parte do processo de avaliação é o exame físico, verificando as


amplitudes de movimentos que podem estar preservadas, reduzidas ou
hipermóveis. Para a avaliação de tônus muscular utilizamos a observação
postural e dos sinais do Xale e de Lefèvre.​6

A terceira parte consiste na aplicação da Alberta Infant Motor Scale (AIMS),


uma escala padronizada, desenvolvida por Piper & Darrah, que se propõe a
avaliar e monitorar o desenvolvimento amplo de lactentes através da
observação da atividade motora espontânea desde o nascimento até os 18
meses de vida ou até a aquisição da marcha independente.​7​ Foi elaborada
para avaliar lactentes com risco de desenvolver disfunções neuromotoras
devido a prematuridade. É uma escala observacional, de fácil aplicabilidade e
baixo custo, além de não exigir manuseio excessivo da criança e ser validada
para aplicação no Brasil.​8​ Deve ser aplicada por um profissional da área da
saúde da criança que seja conhecedor do desenvolvimento motor infantil.​7​ A
AIMS quantifica a atividade motora ampla através de um escore bruto,
levando em consideração três critérios relacionados á qualidade do
movimento: distribuição de peso, postura e movimentos antigravitacionais. No
Brasil, esta escala tem sido muito utilizada em protocolos de pesquisas, por
ser prática na avaliação do desenvolvimento de lactentes e crianças inseridas
em programas de seguimento da rede pública de saúde brasileira. Apesar de
não ser uma escala específica para crianças com SD, possui aplicabilidade
para este grupo.​9​ Por fim a última parte da avaliação consta das medidas
antropométricas.

Intervenção fisioterapêutica

As sessões de estimulação acontecem com frequência mínima de 1 (uma)


vez por semana com duração de 30 minutos cada. Durante as sessões o
fisioterapeuta é responsavel pelo processo de estimulação da criança, além
de orientar os pais e/ou responsáveis a respeito de como promover a
estimulação em domicílio, já que são eles que passam a maior parte do
tempo com a criança.

Na nossa experiência as sessões de 30 minutos de duração demonstraram


melhor aproveitamento da criança quando comparadas às sessões de 60
minutos, uma vez que não expõem a criança a altos níveis de fadiga, além da
desatenção que pode ocorrer em um atendimento prolongado.

Até os três anos de vida a estimulação intensiva e focada da criança com SD


é determinante para o desenvolvimento de nervos e grupamentos nervosos.
Isso não apenas aceleraria o desenvolvimento e aprendizagem, como
também teriam um efeito a longo prazo, reduzindo limitações no sistema
nervoso destas crianças.​10

Para promoção de estimulação global, a sala de atendimento, é equipada


com bolas Bobath, prancha proprioceptiva, brinquedos para estimulação com
luzes, cores e sons, balanço, dynadisc, espelho, bancos com alturas
diferentes, espumas de diferentes densidades, rolos de espuma para
posicionamento, além de uma grande variedade de outros objetos que podem
se tornar terapêutico dependendo do seu uso (Figura 1). O ambiente de
estimulação também é preparado de forma que hajam elementos que
despertem a curiosidade da criança e ao mesmo tempo que não a disperse. A
utilização de enfeites, figuras e brinquedos espalhados pela sala pode, na
maioria das vezes, dificultar o foco de atenção da criança durante uma
determinada estimulação e/ou atividade.
Figura 1. Estimulação de conexões cerebelares e tronco encefálico com bola

Um dos fatores mais relevantes que devemos levar em conta em um


processo de estimulação global da criança com SD, é o fato de que estas não
apresentam distúrbios do movimento e sim um atraso no seu
desenvolvimento motor normal. Sendo assim, não deve ser tratada com
técnicas para limitações ou contenções de movimentos "anormais", pois elas
não os apresentam, salvo exceções com diagnósticos diferenciais tais como
hemiplegia ou doenças neuromusculares.

Estimulação sensorial

Utilizada para criar o primeiro vínculo com a criança, é abordado com fixação
do olhar, estimulação somestésica com texturas diferentes, estimulação
cinestésica em balanços com lençol, e proprioceptiva com coaptações
articulares.

Desenvolvimento de marcos motores

No início do seu desenvolvimento motor crianças com SD assumem posturas


estáticas e simétricas por conta de seu controle postural pobre. Isto prejudica
a aquisição de habilidades motoras dinâmicas tais como transferências
posturais e locomoção. Assim sendo, as habilidades motoras em cada uma
das posturas são adquiridas somente quando as habilidades estáticas estão
bem aprimoradas.​11

A proposta de estimulação dos marcos motores visa apontar ao Sistema


Nervoso Central da criança a primeira experiência do movimento ainda não
realizado de forma ativa. Em nosso serviço, tomamos como base o padrão de
desenvolvimento motor padrão de uma criança típica (CT), com o único
objetivo de nortear o processo de estimulação e não com propósito
classificatório.

Os principais marcos motores trabalhados no programa de estimulação global


em nosso serviço são:

Fixação de olhar e movimentação ativa de cabeça (CT: 2 - 3 meses).

Estimulação da medialização das mãos(CT: 2 - 4 meses).

Controle cervical (CT: 2 - 5 meses).

É importante salientar o cuidado para execução das atividades de


estimulação cervical em bebês e crianças com SD, levando-se em conta a
incidência de instabilidade Atlanto Axial (IAA). Sabe-se que esta instabilidade
ocorre em 15% nesta população, e na maioria das vezes é assintomática,
com estimativa de sintomas de compressão medular apenas em 1% a 2% dos
casos.​12,13​ A IAA na SD pode ser secundária a uma anormalidade óssea do
processo odontóide e/ou pode estar vinculada a uma falha do colágeno
intrínseco que provoca a frouxidão do ligamento transverso, levando a um
processo inflamatório crônico que enfraquece toda a estrutura ligamentar da
região. O diagnóstico radiológico só é possível ser realizado quando a criança
alcançar 3 anos de vida e se for sintomática.​14​ Os sintomas da IAA são
diretamente relacionados aos de uma mielopatia, são eles: dor cervical ou
radicular, fraqueza, espasticidade, alterações do tônus muscular e
hiperreflexia.​14​ O exame radiológico é realizado com a cabeça em flexão, e na
imagem, verifica-se a distância entre o processo odontóide e a base
súpero-posterior de C1. Esta medida não deve exceder 4,5 mm, caso ocorra
é diagnosticado IAA.​13

Sendo assim, é importante ressaltarmos as orientações quanto aos


movimentos bruscos de flexão e extensão cervicais. Estes movimentos
podem estar presentes em brincadeiras como "Serra-Serra Serrador",
cambalhotas, rodar a criança bruscamente, e quando em uma idade mais
avançada, certas atividades esportivas. Nestes casos, a atividade deve ser
bem orientada pelo fisioterapeuta, que associado ao médico e ao exame
radiológico, avaliará se a atividade é segura ou não para a criança (Figura 2).

Figura 2. Estimulação de extensão de tronco sobre a bola


Extensão de tronco (CT: 2 - 4 meses)

Rotações (CT: 3 - 7 meses).

Controle de tronco (CT: 5 - 7 meses).

Sedestação (CT: 6 - 7 meses).

Uma das propostas para estímulo da sedestação, está no uso da estratégia


do "pneu". Em nosso serviço utilizamos um pneu de carro, devidamente
higienizado. Forramos este com um tecido e posicionamos a criança dentro
dele. Sobre o pneu colocamos brinquedos que chamem a atenção da criança.
Desta forma ela encontra um bom apoio dorsal e lateral, enquanto busca
melhor estabilização de tronco. Também fazemos uso da calça de
posicionamento. Trata-se de uma calça jeans de adulto, com as bocas das
pernas e coz costurados nas suas extremidades e recheada com espuma.
Para posicionar a criança em sedestação nesta calça, apoiamos o "quadril"
da calça em uma parede, encostamos a criança sentada com apoio das
costas neste "quadril", enquanto transpassamos as "pernas da calça" na
frente da criança, como um cinto, favorecendo desta forma sua estabilidade
nesta posição (Figura 3).
Figura 3. Calça jeans de adulto adaptada

Posicionamento para engatinhar/arrastar-se (CT: 8 - 10 meses).


Um dos mais frequentes questionamentos dos pais quanto ao
desenvolvimento motor de suas crianças no nosso serviço, está relacionado
ao fato da criança precisar ou não engatinhar. A criança não precisa
necessariamente engatinhar, entretanto a postura de gatas (ou quatro apoios)
é essencial para a formação biomecânica dos quadris (Figura 4). Os quadris
na SD são rodados externamente e são mantidos em extensão, como em um
bloqueio biomecânico. Entre as crianças com SD, 5% desenvolvem luxação
ou displasia de quadris e isso pode ser justificado pela frouxidão ligamentar
e/ou pela hipotonia muscular.​11,15​ A formação acetabular é estabelecida de
forma adequada, conforme os primeiros movimentos e descargas de peso
sobre os quadris. Desse modo, quanto mais frequente for esta estimulação,
menores serão as chances de desenvolvimento de displasia acetabular ou
outras afecções que comprometem esta articulação e consequentemente
menores serão os risco de luxações.
Figura 4. Posicionamento de estimulação da postura de quatro apoios e
deslocamento para o engatinhar

Reações de equilíbrio (CT: 6 - 8 meses)

Ortostatismo (CT: 9 - 13 meses): O período de estimulação para o


ortostatismo pode ser longo e certas vezes mais trabalhoso comparado a
estimulação de outras posturas. Iniciamos a estimulação ortostática
primeiramente com apoios e gradualmente permitimos que a criança
mantenha-se na postura de forma independente. A primeira estratégia para
estimulação do ortostatismo é o de colocar a criança nesta posição e
oferecer-lhe apoio nas costelas. É importante salientar o cuidado para que
este apoio seja oferecido exclusivamente em costelas, evitando que o mesmo
seja feito pelas axilas, visto a frouxidão ligamentar que pode provocar luxação
de ombros. Quando notamos que a criança apresenta um bom controle de
tronco superior e inferior, podemos então posicionar nossas mãos em suas
coxas, segurando-as com firmeza. O investimento nesta postura deve ser
intensivo, visto que nesta posição as reações posturais de quadris são muito
solicitadas. Sucessivamente ao controle postural de quadris vamos
posicionando as mãos cada vez mais distalmente, até que alcance as pernas.

Marcha (CT: 14 a 18 meses): Para iniciarmos o processo de estimulação da


marcha ofertamos a princípio um mecanismo de suporte para tal. Podemos
utilizar um brinquedo que o auxilie neste apoio como um carrinho alto que
possa empurrar, ou mesmo fazendo uso de uma toalha ou um espaguete de
piscina posicionados nas axilas e contornando o tórax da criança. Sendo a
criança, capaz de realizar marcha de forma mais estável, podemos adotar a
estratégia do apoio na parede, que consiste em posicioná-la em ortostatismo
apoiada em uma parede. O terapeuta permanece alguns centímetros à sua
frente e mostra um brinquedo que chame sua atenção solicitando para que vá
apanhá-lo. Ela desencostará da parede, buscará certa estabilidade e irá em
direção do brinquedo.

MODELO DE DESENVOLVIMENTO INFANTIL


Objetivos fisioterapêuticos

Neste grupo os objetivos estão focados no desenvolvimento de habilidades


motoras mais avançadas, força, estruturação postural, aprimoramento da
motricidade, equilíbrio e propriocepção para otimização da atividade cerebelar
e consequente melhora do equilíbrio estático e dinâmico. Além de orientações
de promoção e prevenção da saúde.

Avaliação fisioterapêutica

Esta consta da mesma coleta de dados realizada na avaliação da


estimulação global, entretanto, ao invés de aplicar a AIMS, utilizamos a
Escala de Desenvolvimento Motor de Rosa Neto (EDMRN).

Trata-se de um instrumento composto por diversas baterias de testes para


avaliar o desenvolvimento motor de crianças de dois a 11 anos de idade.​16,17
O Manual da EDMRN é bastante didático, ilustrado e pode ser facilmente
aplicado.

A escala completa é composta pela examinação dos seguintes testes:

Motricidade fina (óculo manual)

Motricidade global (coordenação)

Equilíbrio (postura estática)

Esquema corporal (imitação de postura e rapidez)

Organização espacial (percepção do espaço)

Organização temporal (linguagem, estruturas temporais)

Lateralidade (mãos, olhos e pés)

As baterias de testes consistem em 10 tarefas motoras cada, distribuídas


entre dois e 11 anos, organizadas progressivamente em grau de
complexidade, sendo atribuído para cada tarefa, em caso de êxito, um valor
correspondente a idade motora (IM), expressa em meses. Ao final da
aplicação, dependendo do desempenho individual em cada bateria, é
atribuída à criança uma determinada IM, em cada uma das áreas, sendo
após, calculada a idade motora geral (IMG) e a idade negativa (IN) da
criança. A idade motora geral é obtida pela soma das IM de todas as baterias
aplicadas divididas pelo número de baterias. Já a idade negativa é calculada
pela diferença entre a idade cronológica (em meses) e a IMG.​16​ Em nosso
serviço adotamos que IN de até 24 meses encontra-se dentro dos padrões
para crianças com SD, levando-se em conta todas as alterações
biomecânicas e fisiológicas já discutidas anteriormente.

Apesar da ampla abordagem que o teste permite, para avaliação


fisioterapêutica utilizamos apenas as baterias de Motricidade global e
Equilíbrio. Estas consistem num conjunto de 10 tarefas motoras cada uma,
com grau de dificuldade progressiva, divididas por faixa etária, conforme o
Quadro 1.

Após aplicação do teste colhe-se ainda o registro da pedigrafia com utilização


do pedígrafo e posterior análise da pisada para classificá-la como pé plano,
normal ou arqueado. Além de avaliação antropométrica.

Intervenção fisioterapêutica

As sessões no modelo de desenvolvimento infantil, assim como no de


estimulação global, acontecem com frequência de 1 (uma) vez por semana
com duração de 30 minutos cada. O fisioterapeuta participa de todo o
processo terapêutico com a criança, além de orientar os pais e/ou
responsáveis à respeito da continuidade deste trabalho em domicílio.

No modelo de desenvolvimento infantil a intervenção fisioterapêutica é


voltada para o reforço de algumas atividades que talvez ainda não estejam
plenamente estabelecidas, além do desenvolvimento da marcha e equilíbrio
estático e dinâmico, com as seguintes propostas:

Marcha (CT: 14 -18 meses): propõem-se que a criança caminhe sobre


diversas superfícies e circunstâncias. Sobre almofadas, linhas retas, com
muitas pessoas ao redor ou com imposição de obstáculos.

Equilíbrio dinâmico (CT: a partir dos 18 meses ate 4-5 anos): Após aquisição
da marcha, acrescentamos às intervenções os "circuitos". Estes circuitos
devem ser iniciados de forma simples, em superfícies estáveis e com poucas
barreiras arquitetônicas, sendo aos poucos incluidos novos desafios com
mais elementos. Todas as propostas de circuito devem ser acompanhadas de
contextualização lúdica, ou seja, propomos um desafio à criança para que
esta tenha motivação para concluir todo o circuito. Por exemplo, a superfície
do espaguete pode se transformar em uma ponte, a cama elástica em um
lago ou uma piscina, entre outras possibilidades imaginando-as em conjunto
com a criança, estimulando a sua criatividade e pensamento abstrato (Figura
5). Nossa experiência mostra que deste modo conseguimos maior atenção e
adesão à atividade.
Figura 5. Proposta de circuito com diversas tarefas, degraus e saltos

É vital, portanto, que os pais sejam conscientizados da importância da sua


presença e participação na sala de atendimento e sejam agentes ativos para
a continuidade desta fase de desenvolvimento do processo de
amadurecimento das funções motoras fora do ambiente terapêutico.
Acreditamos que o processo terapêutico não pode se limitar a 30 minutos
semanais, mas deve ser continuado em ambiente familiar para melhores
resultados. Muitas vezes, os pais interpretam o momento que a criança está
sob os cuidados do fisioterapeuta, como um momento que ele poderia
despreocupar-se quanto a atenção à criança, depositando a responsabilidade
pela criança ao fisioterapeuta. Considerando-se que a intervenção
fisioterapêutica neste modelo de atendimento, é apontar atividades as quais a
criança precise de mais atenção, é fundamental a participação e interação
dos pais, para que se sintam parte do processo. Tendo em vista o
pressuposto teórico de cuidado compartilhado admitido pela equipe
multiprofissional do IMREA-HCFMUSP.

MODELO DE ADOLESCENTES DOWN E ADULTO DOWN

Objetivo fisoterapêutico

Cerca de 20% das pessoas com SD apresentam desordens


musculoesqueléticas, muitas vezes sendo necessária uma intervenção
cirúrgica ortopédica a fim de melhorar a mobilidade e alívio da dor.​11

As desordens musculoesqueléticas são provocadas principalmente pela


hipotonia e sua consequente fraqueza muscular, que mostra-se mais
pronunciada com o transcorrer da adolescência e da fase adulta, já que neste
período estas pessoas tornam-se menos ativas.​18​ A força muscular de
membros superiores​19​ e de membros inferiores​20​ é 50% inferior em pessoas
com SD quando comparado a população geral. Este défict de força muscular
além de provocar alterações musculoesqueléticas também é responsável por
um impacto negativo na sua habilidade em realizar atividades de vida diária.
Dentre as desordens destacam-se a instabilidade cervical, escolioses,
patologias de quadril e instabilidade patelar e de ombro.​11​ Cerca de 20% das
pessoas com SD experenciaram instabilidade patelar e destes, 8,3% dos
pacientes institucionalizados e 4% dos não institucionalizados apresentam
subluxação de joelho.​21​ Estudos demonstraram 52% de escoliose em
pessoas com SD, estas são mais frequentes em coluna torácica e geralmente
são acompanhadas por alguma intervenção cirúrgica de cunho cardíaco.​22,23
Quase todos neste grupo, apresentaram uma média angular de 7 graus por
segmento, curiosamente esta incidência caiu para 4,2% na população que
recebeu cuidados fisioterapêuticos de forma precoce.​24

Com essas considerações a intervenção fisioterapêutica na população de


adolescentes e adultos com SD visa tratar do reestabelecimento ortopédico e
postural, além de fornecer orientações de promoção e prevenção em saúde.

Avaliação fisioterapêutica

Para a avaliação de adolescentes e adultos com SD utilizamos a avaliação


padrão musculoesquelética adotada no serviço de fisioterapia do
IMREA-HCFMUSP. Esta consta de dados de identificação, queixa principal,
história da moléstia atual, classificação da dor, verificação das amplitudes de
movimento e força muscular refente ao segmento comprometido e avaliação
postural observacional. A Avaliação Postural envolve a identificação e a
localização dos segmentos corpóreos relativos a linha de gravidade; e deve
determinar se um segmento corporal ou articulação desvia-se de um
alinhamento postural ideal. A partir dos dados colhidos traça-se os objetivos e
condutas terapêuticas. As reavaliações são realizadas mensalmente.

Intervenção fisioterapêutica

Para este grupo, a intervenção fisioterapêutica é traçada conforme a


necessidade individual. Fazem parte das condutas terapêuticas aplicações de
meios físicos térmicos tais como gelo ou calor úmido, ou meios
eletroterapêuticos como o TENS para casos de dor, ou mesmo ultrassom
terapêutico nos casos de processos inflamatórios. Porém a ênfase do
tratamento fundamenta-se principalmente na cinesioterapia, a fim de
favorecer o ganho de força muscular e o equilíbrio postural. As atividades
cinesioterápicas consistem em exercícios isotônicos com séries entre dez e
12 repetições com carga progressiva. Os grupos musculares trabalhados são
relacionados aos objetivos preestabelecidos na avaliação fisioterapêutica.

As orientações posturais são realizadas durante as sessões tanto para a


pessoa que está sendo tratada bem como para seu cuidador. Estas
orientações são focadas principalmente no equilíbrio das curvaturas
fisiológicas da coluna vertebral, para a rotação interna de joelhos e rotação
externa de ombros, que são os segmentos corpóreos mais frequentemente
envolvidos na população adolescente e adulta com SD.

O acompanhamento do cuidador durante as sessões é vital para que as


orientações sejam cobradas e lembradas constantemente, e não apenas no
momento do atendimento fisioterapêutico.

REFERÊNCIAS

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de Down; c2012 [citada 2012 ] Disponível em: ​http://www.projetodown.org.br/

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